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Concepção O segredo de toda vitória Limites e alcances
Jordão, Circuncisão e Páscoa A novidade da terra O pecado de um só homem A graça de um só homem
10 2019
1. Concepção Vimos em nossa última nota (ao abordarmos o livro de Deuteronômio) a partida de Moisés, o doador da lei, e somos informados logo no início deste livro de Josué que ele já está à frente deste povo para introduzi-los em Canaã. Este livro trata basicamente das principais campanhas de Josué, como chefe de Israel, na tomada e conquista de Canaã. Antes, porém, devem passar pelo Jordão, rio célebre que liga o Mar de Quinerete (nos tempos de Jesus chamado Lago de Genesaré) e o Mar Morto. Assim como a travessia do Mar Vermelho teve um significado espiritual, também este rio tem sua simbologia, e que vamos tratar aqui. E transposta esta última fronteira que os coloca em sua terra prometida, seu primeiro e maior desafio – Jericó e suas frondosas e afrontosas muralhas. E em meio à total destruição desta cidade, uma pequena e desprezada família será salva, sempre no rastro gracioso da fé. A Páscoa será celebrada quase juntamente com o ritual da circuncisão pouco antes desta batalha inusitada, alertando muitos símbolos espirituais. O maná deixará de ser fornecido, porque algo novo se interpõe – a novidade da terra, repetindo as dádivas dos despojos do Egito. Mas nem tudo será glorioso e livre de percalços. Mal vencida a primeira batalha, o pecado de um homem condena toda a nação, e um castigo terrível recai sobre todos, indistintamente, coisas estas que deveríamos bem atentar.
As batalhas se seguirão em todas as direções, norte, sul, leste e oeste. E todas as tribos deixarão algum remanescente não conquistado. Mesmo assim, a terra é dividida entre as tribos, cada uma com sua sorte. E Josué vai lembrá-los da necessidade de continuar a seguir ao Senhor e aos mandados de Moisés, obediência esta que será a chave para o sucesso ocupacional de Canaã. Após relativa paz entre os inimigos, cidades de refúgio serão escolhidas, para onde poderiam se abrigar os homicidas sem intenção, seis cidades ao todo. Ao final da vida de Josué, ele falará ao povo nos mesmos moldes de Moisés, dispensando bênçãos no caso de obediência, e maldição pela desobediência. Mas uma nota sombria será profetizada, na certeza da falha do povo.
“Quando transgredirdes a aliança do Senhor vosso Deus, que vos tem ordenado, e fordes e servirdes a outros deuses, e a eles vos inclinardes, então a ira do Senhor sobre vós se acenderá, e logo perecereis de sobre a boa terra que vos deu” (23.16). O término do livro confirma tristemente sua profecia ao restringir a obediência de Israel aos dias de Josué e dos anciãos que conheciam ao Senhor e suas obras. “Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram muito tempo depois de Josué, e que sabiam todas as obras que o Senhor tinha feito a Israel” (24.31). Dias sombrios viriam, o que confirmaremos quando analisarmos o livro de Juízes.
2. O segredo de toda vitória Não é para estranhar – e falo para nós nos tempos de hoje – que antes de Josué assumir seu posto de luta, uma admoestação é trazida pelo próprio Deus aos seus ouvidos. “Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria” (1.6). Pareceria que a simples atitude positiva de Josué seria o suficiente para todo o seu sucesso. Mas algo mais elevado estava atrelado a esta vitória proposta e profetizada. “Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares. Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido” (v.7-8). Eles tinham até aquele momento tão somente as palavras de Moisés. Hoje temos toda a Escritura, com regras e doutrinas ainda mais elevadas, já que um padrão celestial foi implantado com a morte de Jesus. Mas a ordem ainda continua a mesma – OBEDIÊNCIA. De posse do entendimento da vontade de Deus para sua vida, ditado pelo livro sagrado de Deus, a fé trará a convicção; a obediência
trará sua verdade ao plano da realização. Não adianta a fé certa de algo, sem a contrapartida da ação. A Palavra de Deus será sempre nossa regra áurea. A fé – a concordância de que Deus propôs e exigiu algo. A obediência – o elo prático que liga a verdade escrita à fé teórica. Um grande profeta dirá mais a frente: ‘melhor é obedecer que sacrificar’. Podemos e devemos buscar e depender das energias de Deus pelo seu Espírito em nós, mas sempre restará algo que será da nossa responsabilidade. Há que se buscar direção incessante, há que se ler constantemente, há que se orar sem cessar, há que se jejuar, se esta for a vontade de Deus e conforme as disposições da alma. Não há vitória sem luta, determinação, sofrimento, fé, paciência, esperança! A Palavra de Deus deve ser lida e meditada constantemente, como pedido a Josué, muito além daquilo que ouvimos em nossos cultos regulares. É tarefa para toda vida, pois a vida propões novos desafios a cada dia, e deveríamos ter maturidade suficiente em cada fase de nossa vida física e espiritual. Satanás lançará sempre novos ardis, ciladas, tentações, que nada mais são que recursos para atrair as misérias da carne. A solução será sempre a mesma – busca do padrão divino ditado pela Palavra escrita e intimidade espiritual crescente.
Assim, dada esta regra a Josué que não poderá ser desprezada, diminuída ou esquecida, Deus pode garantir: “Não te mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares” (v.9).
Esta lição de obediência na vida de Josué foi tão importante, que ao final de sua vida ele torna a declarar a todo o povo: “Esforçai-vos, pois, muito para guardardes e para fazerdes tudo quanto está escrito no livro da lei de Moisés; para que dele não vos aparteis, nem para a direita nem para a esquerda” (23.6). Se carregarmos o padrão divino em nossa mente e coração, não importa onde pisamos – o Senhor será conosco! Muito mais importante que o lugar, é a condição do coração, da mente e do espírito. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes [mesma fórmula de Josué], sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (1 Pe 15.58). A próxima nota complementará o que falamos até agora, tanto na vida prática daquele povo quanto por tabela a nós também.
Desde o deserto atĂŠ ao grande rio, o rio Eufrates
3. Limites e alcances Uma coisa é um limite demarcado, outra o alcance deste limite. Vamos desdobrar de forma prática o que havíamos falado na nota anterior. Primeiro o limite.
“Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o vosso termo” (1.4). Tomando como base a geografia mais conhecida, o rio Eufrates bem ao norte já em terras babilônicas, quem tiver um mínimo de conhecimento das Escrituras lembrará que Israel nunca chegou nem perto deste limite. Mas o limite não foi garantido por Deus?! – alguém pode questionar. Vejamos então o alcance. “Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu disse a Moisés” (v.3). Todo o enorme limite foi demarcado, havia respaldo ‘jurídico-divino’ para suas ações, mas a conquista desta área dependia do – Esforça-te, e tem bom ânimo – que dependia por sua vez da relação fé–ação. Nada era de mão beijada. Havia que se lutar, sangrar, arriscar, atrever-se... A promessa de Deus era certa como diz o verso 5: “Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei.”
Bastava fé, bastava ação advinda da fé, que os limites já estavam garantidos por Deus. Era ir e pisar! Mas não foi bem assim. Pois bastou Josué envelhecer, e a terra estava em relativo descanso, ele profetizará a respeito da negligência de seu povo: “Sabei certamente que o Senhor vosso Deus não continuará a expulsar estas nações de diante de vós, mas elas vos serão por laço e rede, e açoite às vossas ilhargas [no homem, cada um dos lados do corpo, dos quadris aos ombros], e espinhos aos vossos olhos; até que pereçais desta boa terra que vos deu o Senhor vosso Deus” (23.13). Repetimos – os limites estavam plenamente abertos, mas sem a contrapartida da obediência, o alcance ficaria muito aquém do limite. Josué vai interpelar. “E disse Josué aos filhos de Israel: Até quando sereis negligentes em chegardes para possuir a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos deu?” (18.3). Mas agora tenho que transportar o símbolo para nossos dias. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1.3). Não há mais nada da parte de Deus na entrega de todas as bênção espirituais. Os limites celestiais foram plenamente outorgados, entregues, garantidos. Mas temos vivido da posse diária destes limites? Temos lutado e garantido estas posses? Temos experimentado na prática todas estas vitórias?
O céu nos foi dado! Como disse Paulo – “tudo é vosso”! Devemos nos apropriar, devemos lutar, devemos insistir, devemos buscar, devemos ler, devemos orar, devemos jejuar – se não tivermos alcançado Seus limites. Israel tinha um território físico, geográfico, para conquistar e pisar por fé. Nós temos todo o lar celeste para pisar e viver por fé! “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hb 10.19-20). Ousadia é a característica ou particularidade do que é ousado; que possui valentia ou coragem; arrojo. É o que tem faltado na vida dos cristãos e no ministério de muitas igrejas. Que o Senhor reverta este quadro, incomodando todas as áreas da vida cristã! Em nossa próxima nota focaremos alguns símbolos interessantes que falam muito de nós mesmos.
4. Jordão, Circuncisão e Páscoa A abertura do Mar Vermelho é certamente o milagre mais conhecido e difundido entre os tantos milagres do Antigo Testamento. Mas também o rio Jordão teve que ser aberto para que o povo passasse. E quero agora propor uma simbologia para estes dois fatos históricos. Não há como duvidar que a abertura do Mar Vermelho é simbolicamente compatível com a libertação da escravidão de um povo físico no passado, e por extensão a nós neste período da Igreja de Cristo, com a libertação das garras de Satanás. Israel saiu redimido pelo sangue da Páscoa, como vimos em nota apropriada, mas a passagem pelo Mar representa a libertação das garras do tirano que os escravizava. O mar na Escritura representa bem as muitas nações revoltas e indecorosas (não à toa o símbolo se associa a uma prostituta em Ap 17.15), e assim como eles foram libertos da escravidão do Egito, nós – em Cristo – somos libertados da escravidão espiritual do mundo. E aqui entra o outro aspecto da libertação. Não basta libertar do mal (aspecto negativo) e não haver entrada no bem (aspecto positivo). Vejamos uma passagem muito elucidativa. “O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” (Cl 1.1314). Eles e nós fomos redimidos por sangue, tirados das trevas e colocados debaixo do poder transformador da luz. Se o Mar Vermelho fala da libertação do velho mundo condenado, o Rio
Jordão, por sua vez, fala do serviço, uma separação completa deste sistema (Egito e mundo) para uma permanência fiel e adequada em Seu reino para proclamar as virtudes do Senhor. Mas estas duas simbologias são vividas e experimentadas por fé. É algo mais divino que humano. O terceiro símbolo que vamos tratar, por sua vez, é mais humano que divino. “E sucedeu que, ouvindo todos os reis dos amorreus... que o SENHOR tinha secado as águas do Jordão... Naquele tempo disse o Senhor a Josué: Faze facas de pedra, e torna a circuncidar segunda vez aos filhos de Israel... E foi esta a causa por que Josué os circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egito, os homens, todos os homens de guerra, já haviam morrido no deserto, pelo caminho, depois que saíram do Egito. Porque todos os do povo que saíram estavam circuncidados, mas a nenhum dos que nasceram no deserto, pelo caminho, depois de terem saído do Egito, haviam circuncidado” (5.1-5). Mal o povo tinha atravessado o Jordão, Josué é direcionado a circuncidar os homens que tinham nascido no deserto. Seus pais foram circuncidados, mas não puderam entrar em Canaã por rebeldia. Esta geração entrou em Canaã e então foi circuncidada. Esta geração não temeu como aqueles. A circuncisão, segundo Paulo vai explicar, era muito mais que a rejeição da escravidão da carne, ou a parte negativa da libertação, mas também poder que nos reveste para uma vida santificada para Deus. “No qual também estais circuncidados com a circuncisão, não feita por mão [física para Israel] no despojo do corpo dos pecados da carne, mas pela circuncisão de Cristo [espiritual para
a Igreja]; sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.11-12). É óbvio que Israel praticamente nada entendia destas coisas, pois elas eram sombra que viriam a ser luz em Cristo. A circuncisão então fala de consagração, da auto entrega à vontade soberana de Deus, não só rejeitar as obras das trevas, mas abraçar os desígnios santos do Senhor. É estar pronto pro que der e vier! E a resposta de Deus será maravilhosa! “Disse mais o Senhor a Josué: Hoje retirei de sobre vós o opróbrio do Egito” (5.9). Aquele povo que peregrinou no deserto, como dissemos em outra nota, sem perspectiva e utilidade, carregou sua vergonha por 40 anos e morreram nela. Mas este que se consagrou, que aceitou o desafio de uma nova vida diante de Deus, que não quer só se salvar, mas fazer a vontade do seu Deus, está apto para enfrentar todos os seus inimigos, porque se consagrou e Deus assim o aceitou. Interessante também notar que, apesar desta geração ter sido circuncidada pela primeira vez, o Senhor conta como ‘segunda vez aos filhos de Israel’, pois Deus vê somente uma nação, assim como Deus só vê uma Igreja. E assim circuncidados, vão comemorar sua primeira Páscoa em solo prometido. “Estando, pois, os filhos de Israel acampados em Gilgal, celebraram a páscoa no dia catorze do mês, à tarde, nas campinas de Jericó” (5.10).
Aqueles saíram do Egito por causa da Páscoa [a original], estes entraram em Canaã para a Páscoa [memorial] com fundamento na original. Tudo dependia da primeira Páscoa, onde um cordeiro tinha sido morto para cada família, e por extensão, para cada família de Israel em todos os tempos, pois “de Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades” em tempo não muito distante. Volta, ó Senhor!
5. A novidade da terra Algo inusitado acontece logo após a comemoração da Páscoa por Israel, já em terra prometida. “Estando, pois, os filhos de Israel acampados em Gilgal, celebraram a páscoa no dia catorze do mês, à tarde, nas campinas de Jericó. E, ao outro dia depois da páscoa, nesse mesmo dia, comeram, do fruto da terra, pães ázimos e espigas tostadas. E cessou o maná no dia seguinte, depois que comeram do fruto da terra, e os filhos de Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano comeram dos frutos da terra de Canaã” (5.10-12). Primeiro vamos à questão física. Como puderam comer do fruto da terra em plena terra inimiga? O segredo está sempre com o Senhor. “E sucedeu que, ouvindo todos os reis dos amorreus, que habitavam deste lado do Jordão, ao ocidente, e todos os reis dos cananeus, que estavam ao pé do mar, que o SENHOR tinha secado as águas do Jordão, de diante dos filhos de Israel, até que passassem, desfaleceu-se-lhes o coração, e não houve mais ânimo neles, por causa dos filhos de Israel” (5.1). Um terror invadiu suas almas. A desesperança se instalou e se fecharam em seus quartos. “Ora Jericó estava rigorosamente fechada por causa dos filhos de Israel; ninguém saía nem entrava” (6.1). O fato em si não seria nada, se não houvesse outra condição orquestrada por Deus mesmo.
“E quando os que levavam a arca, chegaram ao Jordão, e os seus pés se molharam na beira das águas (porque o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da ceifa)” (3.15). Conforme o relato do momento em que atravessavam o Jordão, o texto bíblico em parêntesis lança o dado mais importante. Entravam na terra em pleno período da colheita. Somente uma coisa faria os inimigos deixarem seus campos cheios e se esconderem em suas muralhas – o temor do Senhor, o temor pela vida. Uma sentença de morte assombrava sua normal existência. Por isto o Senhor podia dizer com certo ar de cobrança através de Josué já velho. “E eu vos dei a terra em que não trabalhastes, e cidades que não edificastes, e habitais nelas e comeis das vinhas e dos olivais que não plantastes. Agora, pois, temei ao Senhor...” (24.1314). Passemos ao espiritual agora, em dois lances. Podemos seguramente interpretar o maná como sendo uma visão futura do Messias que viria. Está totalmente escorado pelas palavras do Senhor. “Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre” (Jo 6.58). E assim como rejeitaram o símbolo, seria óbvio concluir que também rejeitariam o verdadeiro. “E não quereis vir a mim para terdes vida... Mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais” (Jo 5.40-43).
Quanto ao motivo espiritual para a interrupção do maná, exatamente no momento em que comem dos frutos da terra, podemos encontrar alguns paralelos no Novo Testamento, e que deveriam falar bem alto a nós. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Cl 3.1-2).
O fruto da terra é antagônico ao fruto do céu, e ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). Mas aquele povo era da terra, com bênçãos terrenas e esperanças terrenas. A Igreja de Jesus Cristo não deveria, pelo seu alto chamado celestial, esperar nada do mundo. Esperar pelo fruto da terra é desprezar o maná divino, é pisar todo trabalho gracioso de Cristo, é afrontar todo zelo do Espírito Santo pelos filhos de Deus. Para o cristão espiritual, só vale uma regra. “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou” (Jo 17.15 -16). Comentaremos a seguir sobre o erro de um homem que condenou toda uma nação.
6. O pecado de um só homem Quero abordar agora a conhecida passagem do pecado de um homem de uma das tribos de Israel, o que faremos sob dois pontos de vista. “E transgrediram os filhos de Israel no anátema; porque Acã filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zerá, da tribo de Judá, tomou do anátema, e a ira do SENHOR se acendeu contra os filhos de Israel” (7.1). A ordem havia sido clara. Ninguém poderia pegar absolutamente nada dos despojos de Jericó. Mas um deles, nas palavras do próprio Acã – “vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro”. Foi o bastante para um desastre. Israel, como nação, recuou ante um inimigo mais fraco. “E os homens de Ai feriram deles uns trinta e seis, e os perseguiram desde a porta até Sebarim, e os feriram na descida; e o coração do povo se derreteu e se tornou como água” (7.5). Não importa o tamanho do pecado da desobediência cometido. Sempre haverá seus frutos amargos que se espalham como lepra para todos os envolvidos. Também não foi assim com Adão? “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). A desobediência de Adão contaminou e desgraçou toda a raça humana, nos mesmos moldes da desobediência de Acã que fez retroceder toda uma nação.
E agora podemos transportar este mesmo pensamento para o corpo de Cristo. Será que as transgressões constantes dos cristãos não têm, de alguma forma, impedido o bom desenvolvimento da Igreja de Cristo? Será que o aumento constante da incredulidade no mundo, e mesmo dentro de nossas igrejas, não se deve em muito às nossas próprias negligências espirituais? Será que nosso testemunho da Palavra de Deus não tem sido tão medíocre, exatamente porque temos cobiçado as mesmas capas, pratas e ouros que reluzem aos olhos de tantos? O bom conselho do Espírito para as igrejas continua válido nestes tempos de mornidão vergonhosa: “Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3.18). A seguir comentaremos sobre o fio vermelho que percorre toda a Escritura.
7. A graça de um só homem A nota anterior teve um tom sombrio – pecado e castigo. Mas graças a Deus mesmo, onde abundou o pecado superabundou Sua graça. E por isto nos vemos obrigados a comentar sobre algo bem conhecido, e espero não ser repetitivo, mas é necessário. Jericó estava para ser invadida. Vimos o medo se espalhando por todas as cidades. A desesperança era geral. Mas este é o momento de Deus agir. Raabe, uma prostituta – símbolo perfeito de nossas misérias espirituais – esconde os judeus que vão espiar a cidade. Ouça bem o tom de fé de suas palavras. “Bem sei que o Senhor vos deu esta terra e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desfalecidos diante de vós. Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Siom e a Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes” (2.9-10). Esta é sua confissão, sua certeza, sua convicção, sua fé. É como ‘Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade”. Então ela pede. “Agora, pois, jurai-me, vos peço, pelo Senhor, que, como usei de misericórdia convosco, vós também usareis de misericórdia para com a casa de meu pai, e dai-me um sinal seguro.
De que conservareis com a vida a meu pai e a minha mãe, como também a meus irmãos e a minhas irmãs, com tudo o que têm e de que livrareis as nossas vidas da morte” (2.12-13). Agora era como se dissesse: “E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.” Mas que diz a Escritura? “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17). A resposta dos espias é ao mesmo tempo graciosa e com um alerta crucial. “Eis que, quando nós entrarmos na terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e recolherás em casa contigo a teu pai, e a tua mãe, e a teus irmãos e a toda a família de teu pai.
Será, pois, que qualquer que sair fora da porta da tua casa o seu sangue será sobre a sua cabeça, e nós seremos inocentes; mas qualquer que estiver contigo, em casa, o seu sangue seja sobre a nossa cabeça, se alguém nele puser mão” (2.18-19). Este fio escarlate percorre toda a Escritura por todo tempo da humanidade. Fala-nos de Noé fechando a arca para salvar os de dentro, lembrando que a porta esteve aberta por muito tempo para qualquer um entrar. Fala do anjo destruidor no Egito – morte para os de fora, vida para os que se protegeram dentro de suas casas pelo sangue derramado de um cordeiro. E fala a nós também nestes tempos cruéis. Primeiro aos judeus e demais povos.
“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (Jo 10.9). E fala também com sua própria Igreja que anda mais ocupada com seus negócios do que com os negócios de Deus. “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap 3.20). Há salvação para todos os que quiserem. Basta entrar pela porta que Jesus abriu com sua morte e ressurreição. Por pior que alguém seja, a bondade e misericórdia de Deus são maiores. A salvação é plena EM JESUS e seu sacrifício em nosso lugar. E por mais distante que o cristão esteja dos ideais divinos, a confissão dos pecados ao Pai EM JESUS trará um laço de comunhão ainda mais forte. A porta ainda está aberta, aproveite! Pois ela logo se fechará, e os tempos se tornarão ainda mais terríveis. Termino aqui estas notas de Josué esperando que Deus seja gracioso para com o que lê e para com o que escreve. Nos encontramos em Juízes.