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2020
8. Rute Concepção Seus nomes dizem muito! Rute e Orfa – destinos distintos
Rute e os gentios Boaz e o Remidor presente Fulano e o remidor ausente A linhagem tripla de Boaz
1. Concepção O livro de Rute é um parêntesis entre toda a sequência desastrosa de Juízes e o próximo livro – o último juiz e profeta e ‘sacerdote’ Samuel. O livro insere um belo tipo da figura de Jesus e seu parentesco hábil para trazer os desterrados de Israel e agregar os gentios à família de Deus. É uma bela e triste história – com uma provisão final graciosa – de uma família que sai para peregrinar para fora de sua terra, em território estranho, com deuses e costumes estranhos. A morte de todos os homens desta família trará a oportunidade de revelar o íntimo de duas mulheres estrangeiras – Rute e Orfa.
Mais uma vez, como frisamos no livro anterior, os homens saem do cenário, restando às mulheres tomar decisões desafiadoras. Finalmente, dois homens surgem, um bem disposto a remir, outro mais preocupado com seus negócios. E nossa vida não é assim? A quem queremos servir? Aos outros ou a nós mesmos? Quem prezamos mais? A lei graciosa de Deus ou a lei mesquinha dos homens? Um terá seu nome registrado para sempre, outro será esquecido para sempre.
O livro gira em torno de três pessoas – Noemi, Rute e Boaz – e suas responsabilidades acrescidas pela morte de três outras. Interessante também notar que este é o oitavo livro, número que representa na Escritura as coisas novas. Um livro curto, porém de dimensões tipicamente incalculáveis e que vamos tentar trazer ao leitor e leitora em nossas próximas notas.
2. Seus nomes dizem muito! Há uma brincadeira – O que é, o que é? – que pergunta assim: ‘O que é, o que é que é seu mas é mais utilizado pelos outros?’ ‘Nossos nomes’ é a resposta. Todos os nomes da Escritura têm muito a dizer. Não quer dizer propriamente que todos os nomes que damos ou recebemos influenciarão no resultado de nossas vidas. Mas nas “escrituras que não podem errar”, seus nomes sinalizam toda uma situação, uma relação, uma atuação. Em Rute podemos exemplificar. “E era o nome deste homem Elimeleque, e o de sua mulher Noemi, e os de seus dois filhos Malom e Quiliom, efr ateus, de Belém de Judá” (1.2). Elimeleque significa ‘Deus é rei’ e Noemi, ‘Agradável’. Israel começou sua história muito bem representado por estes nomes – fez uma aliança eterna com seu rei divino e se tornou agradável a Ele. Moisés entoou a condição do primeiro nome logo que saíram do Egito.
“Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó Senhor, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram. O Senhor reinará eterna e perpetuamente” (Ex 15.17-18). A segunda condição fica registrada em Deuteronômio, relembrando todo o ocorrido entre Moisés e seu povo antes de adentrarem à sua terra prometida.
“Tão-somente o Senhor se agradou de teus pais para os amar; e a vós, descendência deles, escolheu, depois deles, de todos os povos como neste dia se vê” (Dt 10.15). Mas se este casal representa o estado do que era, ou do que esperava Deus de seu povo, seus filhos Malom (Doente) e Quiliom (Tristeza) revelam o estado de coisas a que chegou este povo sem a direção divina e sua graça salvadora. Lembre-se de que comentamos em Juízes que cada um fazia o que bem entendia, e esta triste história se passa neste momento sombrio. “E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; por isso um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele e sua mulher, e seus dois filhos” (1.1). A fome apareceu pois a verdadeira comida havia sido desprezada. Assim como desprezaram o maná no passado, agora desprezaram suas leis eternas. O resultado não poderia ser outro a não ser a doença e a tristeza. Não nos fala muito dos dias de hoje? Doenças sociais, morais, mentais, espirituais que refletem um estado de profunda depressão como nunca visto antes. A depressão é a doença da vez. A resposta se encontra em Rute – Amizade. “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). Os frutos certos da associação com o mundo são para o pecado e a tristeza, os frutos certos da associação com Deus são para a santidade e a plenitude. Passaremos em seguida às duas esposas tomadas em terra estrangeira.
3. Rute e Orfa – destinos distintos Estas duas mulheres se ligaram aos dois filhos de Noemi quando estes “chegaram aos campos de Moabe, e ficaram ali” (1.2). As duas mulheres eram moabitas. Moabe e seu ir mão Amom er am filhos de Ló (sobr inho de Abraão) por um ato sexual ilícito com suas duas filhas depois do julgamento de Sodoma e Gomorra. Não eram um povo inimigo de Israel, já que tinham certa parentela, mas tinham uma triste sentença sobre eles. “Nenhum amonita nem moabita entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na congregação do Senhor eternamente... Não lhes procurarás nem paz nem bem em todos os teus dias para sempre” (Dt 23.3,6). Mesmo assim, eles se casam com elas porque Deus tem certos planos que não conseguimos compreender. “E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido. Então se levantou ela com as suas noras, e voltou dos campos de Moabe, porquanto na terra de Moabe ouviu que o Senhor tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão” (1.5-6). Dez anos se refugiaram por aquela terra estrangeira, como diz o texto sagrado. Fugiram por causa da fome, e voltaram porque certamente um juiz havia libertado o povo e o Senhor tornou a abençoá-los. Então entra em cena a escolha direcionada pelo amor.
“Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela” (1.14). Podemos chorar e beijar, mas poucos estão dispostos a abandonar sua comodidade para servir alguém que nada tem a oferecer materialmente. Orfa se foi, preferiu a comodidade, o certo, o costume. Rute se apegou ao destino daquela pobre mulher. Ouçamos suas palavras, ainda valem para hoje. “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti” (1.16-17). Uma pecadora estrangeira se dispôs a se juntar eternamente ao destino de uma pobre mulher que nada tinha a oferecer. Invertendo a figura, Deus se junta eternamente a pecadores que nada podem oferecer. Ele, no entanto, tem algo de supremo valor a oferecer – perdão e vida eterna. E fico profundamente irritado quando alguém levanta a suspeita de que um cristão verdadeiro, que se juntou a Cristo pela fé em Sua obra salvadora, pode perder sua salvação. Esta fala não é de Deus. É daquele que odeia nossas almas. Não é de alguém que amou o mundo de tal maneira... Que se despiu da divindade, vestiu-se da fraqueza humana e morreu por aqueles que não valem nada. Sua salvação é eterna, como seu caráter é perfeito e eterno. É um Deus imutável em suas decisões. É um Deus justo e fiel que não quebra sua promessa. Uma vez salvos, salvos para sempre, SIM! Rute jurou fidelidade, quanto mais o Eterno! Orfa não saberá de nada destas coisas, ainda que chore ou beije sua sogra. Estas coisas só podem ser aquilatadas por aqueles que estiverem próximos na vida e na morte, no muito ou no pouco. Como bem escreveu Paulo. “Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a
ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” Fp 4.12-13). Rute terá um destino certo e gracioso, Orfa retornará ao seu destino comum e mortal. Em nossas relações com Deus, com nosso cônjuge, com nossos irmãos da carne e do corpo de Cristo, a quem temos nos assemelhado mais? Às meras lágrimas de Orfa ou à decisão imutável de Rute? Possamos nós também tomar decisões que não envolvam só o material, mas que busque o bem daqueles que nos cercam e atenda aos conselhos inabaláveis de nosso Deus. A seguir acompanharemos Rute e o destino dos gentios.
4. Rute e os gentios Pincelamos em nota anterior que, se os moabitas não eram inimigos de Israel, também não eram amigos. Foi ordenado a Israel a respeito deles que não procurassem “nem paz nem bem em todos os teus dias para sempre” (Dt 23.6). No entanto Boaz se compadeceu daquela pobre mulher, chegando a declarar: “Bem se me contou quanto fizeste à tua sogra, depois da morte de teu marido; e deixaste a teu pai e a tua mãe, e a terra onde nasceste, e vieste para um povo que antes não conheceste. O Senhor retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar” (2.1112). Vimos que Noemi e seu marido peregrinavam desterrados pela fome em terra estranha. Seus filhos se misturaram com aquelas moabitas que não eram para eles. Creio que esta tipologia nos ensine sobre a posição dos gentios, durante o período de exercício de Israel. A lei tinha sido dada a eles, e os gentios estavam afastados de toda esta realidade, como bem declara Paulo. “Que naquele tempo estáveis [vós gentios] sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estr anhos às alianças da pr omessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Ef 2.12). Mas como “para com Deus, não há acepção de pessoas” (Rm 2.11), havia sempre a esperança, ditada pela própria lei de Moisés, de acolhimento do estrangeiro.
“Como um natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-ás como a ti mesmo, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19.34). Lembre-se de que a própria Rute decidiu pelo povo de Israel e pelo seu Deus. Era um tipo da misericórdia estendida aos gentios, tanto no exercício da lei em Moisés quanto na graça em Jesus. Assim como Israel, representado pela família de Elimeleque, peregrinava em terra estrangeira, Israel também agora [embora indevidamente em sua terra] vive distante de seu Deus, e a oportunidade de salvação é estendida aos gentios. “Para que a bênção de Abraão [relacionada somente a Israel pela Lei] chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós [gentios] recebamos a promessa do Espírito” (Gl 3.14). Havia esperança para um estrangeiro que quisesse peregrinar e crer no Deus de Israel, assim como há esperança hoje para os gentios de participarem de tantas promessas dadas unicamente àquele povo, “a saber, que os gentios são coerdeiros [herdeiros juntamente com Israel debaixo deste período da graça sem as obras da lei], e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho” (Ef 3.6). “Mas agora em Cristo Jesus, vós [gentios], que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” (Ef 2.13). É desta extensão graciosa que Rute ensina, mas que só pode ser validada pela obra de remissão de um homem – Boaz.
É dele que falaremos em nosso próximo encontro.
5. Boaz e o Remidor presente Todos os símbolos e tipos que a Escritura proporciona são precisos e detalhados em inúmeros aspectos. O problema está sempre na nossa falta de intimidade com a Palavra para não alcançar sua extensão espiritual. Temos tentado esboçar estes muitos sinais mas não é uma tarefa fácil. Falamos há pouco sobre a oportunidade dada aos gentios de alcançar as promessas a Abrão na pessoa de Rute. Agora tentaremos buscar os sinais correspondentes em Boaz. O nome Boaz, numa rápida busca pela internet, é interpretado como ‘rapidez’ ou ‘força’. E talvez estas duas virtudes formem o caráter deste exemplar israelita. A sua rapidez se nota na fala de Noemi a Rute.
“Espera, minha filha, até que saibas como irá o caso, porque aquele homem não descansará até que conclua hoje este negócio” (3.18). Sua força se vê no fato da própria Bíblia descrevê-lo como “homem valente e poderoso” (2.1). E aqui nós devemos entrar na simbologia que temos insistido há algumas notas atrás. Ninguém duvida que Boaz seja tipo perfeito de Jesus, o verdadeiro remidor das almas. Eles tinham que cumprir duas condições: tinham que ser um parente próximo e deveriam ter condições de pagamento para poder resgatar. Há duas seguranças de resgate para Israel em sua lei – o resgate da propriedade (leia Levítico 25) e o resgate do nome do herdeiro (leia Deuteronômio 25). O primeiro resgate traria os bens do falecido para a família novamente, não se passaria no caso da venda para um judeu de outra tribo ou pior ainda, para as mãos de um estrangeiro rico. O segundo resgate dará um herdeiro para que haja “sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o seu nome não se apague em Israel” (Dt 25.6).
Noemi estava nesta dupla situação. Seu marido e seus dois filhos morreram já em terra estranha e precisava agora vender suas posses, portanto um remidor traria a terra de volta à sua família, como ela mesmo lamentou – “Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez tornar” (1.21). E também não haveria um herdeiro para prosseguir a linhagem daquela família. Tudo seria muito mais fácil, se aquela esposa que resolveu voltar com ela não fosse gentia.
Boaz tinha tanto condições de comprar aquela terra de volta para a família de Noemi quanto era de parentesco próximo, como ela mesma garante. “Então Noemi disse à sua nora: Bendito seja ele do Senhor, que ainda não tem deixado a sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disse-lhe mais Noemi: Este homem é nosso parente chegado, e um dentre os nossos remidores” (2.20). Boaz vai usar de certa astúcia santa para resgatar as duas obrigações, tanto a terra como a esposa. Oferece primeiro a terra ao ‘fulano’ que tinha direito maior que ele, e depois atrela esta obrigação ao resgate também do herdeiro. “Ó fulano, vem cá, assenta-te aqui... Então disse ao remidor: Aquela parte da terra que foi de Elimeleque, nosso irmão, Noemi, que tornou da terra dos moabitas, está vendendo. E eu resolvi informar-te disso e dizer-te: Compra-a diante dos habitantes, e diante dos anciãos do meu povo; se a hás de redimir, redime-a, e se não a houveres de redimir, declara-mo, para que o saiba, pois outro não há senão tu que a redima, e eu depois de ti. Então disse ele: Eu a redimirei. Disse porém Boaz: No dia em que comprares a terra da mão de Noemi, também a comprarás da mão de Rute, a moabita, mulher do falecido, para suscitar o nome do falecido sobre a sua herança. Então disse o remidor: Para mim não a poderei redimir, para que não prejudique a minha herança; toma para ti o meu direito de remissão, porque eu não a poderei redimir” (4.1-6).
O fulano só via a terra, Boaz via a mulher. Eu não preciso dizer, certo da fidelidade de Deus, que este casal foi superiormente feliz. Quando um casamento está baseado na vontade do Senhor, com lei ou sem lei, ele é ditoso. Poderão aparecer problemas, mas eles serão superados todos pela fidelidade e bondade divinas. Mas vamos ao tipo, e vou ser bem direto. Israel só terá a posse de sua terra novamente depois que nosso Boaz celeste desposar sua esposa gentia – a Igreja comprada com sangue. O sangue misturado do judeu Boaz ao sangue da moabita derruba toda inimizade, toda separação religiosa que Paulo adverte. “Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe [gentios], já pelo sangue de Cristo chegastes perto [judeus]. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos [gentios e judeus] fez um [a Igr eja]; e, der r ubando a par ede de separ ação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz” (Ef 2.13-15).
Ainda vamos comentar sobre as distinções da Igreja e de Israel. Deus tem plano bem definido para os dois. Podemos adiantar que, na presente era da formação da Igreja ou corpo de Cristo, nenhuma distinção há entre um gentio individual e um judeu individual – ambos se salvam na oferta do Evangelho da morte e ressurreição de Jesus pela fé unicamente. No entanto, a nação de Israel como um todo está como que ‘congelada’ no plano divino. Agem segundo os rumos de Juízes, fazendo o que bem entendem. Mas quando a Igreja for chamada aos céus em breve para seu casamento celestial com nosso Boaz, Israel entrará em cena novamente. Voltando ao nosso tipo, não é por acaso que da união de Boaz e Rute descenda o rei Davi, e mais adiante o Rei dos Reis. Mas se Boaz aceitou sua dupla obrigação, aquele fulano rejeitou uma delas. É dele que falaremos a seguir. Pois não pode faltar um til ou um jota em todos os aspectos da Palavra de Deus.
6. Fulano e o remidor ausente Vimos na nota anterior que Boaz se prontificou a resgatar tanto a terra quanto a suscitar descendência à família de Elimeleque, pois se seu nome bem significa ‘Deus é rei’, este rei precisaria de um príncipe. Vimos também que Noemi tinha um remidor ainda mais próximo, que a Escritura resolveu chamá-lo simplesmente de ‘fulano’.
Então perguntamos – Se Boaz que aceitou o encargo da dupla remissão representa nosso remidor Jesus, e ninguém questiona o contrário, quem representaria este fulano? Sei que vou entrar numa conversa perigosa, mas não posso deixar de seguir a tipologia bíblica. Não podemos ter medo de buscar a verdade. Vou ser claro e direto – representa Lúcifer quando ainda ministrava nas regiões celestiais.
Na tríade de anjos nomeados e autorizados pela Escritura – Miguel, Gabriel e Lúcifer, coube o exercício triplo ministerial – Governo, Profecia e Sacerdócio respectivamente. Esta mesma ordem tem seu paralelo divino no Pai, Espírito Santo e Filho. Há todo um embasamento doutrinário, com farta demonstração de casos, tipos, símbolos, inúmeras passagens que fortalecem estes paralelos mas que não posso adentrar neste espaço. Vou tocar algumas vezes neste assunto conforme o andamento das notas pelos livros seguintes. Mas você pode ter um bom início sobre o tema lendo outro livro deste autor – ‘O princípio da substituição dos mordomos desde a esfera celeste’ – exposto livremente em https://issuu.com/ ministerioescrito/docs/do_verdadeiro_-_substitui____o O texto em Rute garante que não havia nenhuma dificuldade para o fulano em comprar a terra, o problema estava em se associar a uma estrangeira.
“Para mim não a poderei redimir, para que não prejudique a minha herança; toma para ti o meu direito de remissão, porque eu não a poderei redimir” (4.6). Ele só enxergava a terra, a mulher seria um empecilho. Mas o que me parece demonstrar bem o caráter dos dois remidores era a pena ou sinal imposto ao desertor. “Havia, pois, já de muito tempo este costume em Israel, quanto a remissão e permuta, para confirmar todo o negócio; o homem descalçava o sapato e o dava ao seu próximo; e isto er a por testemunho em Israel. Disse, pois, o remidor a Boaz: Toma-a para ti. E descalçou o sapato” (4.7-8). Há uma bela descrição das armas do cristão na figura guerreira usada por Paulo. “Portanto, tomai toda a armadura de Deus... Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; e calçados os pés na preparação do evangelho da paz... Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6.13-17). O fulano não estava preparado para testemunhar da paz, para garantir graciosamente vida àquela pobre estrangeira. Se fosse uma israelita seria diferente. Seu sapato é removido e entregue a Boaz “porque ao que tem, ser-lhe-á dado; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mc 4.25).
Lúcifer, como sacerdote que era, também teve a oportunidade no passado remoto de oferecer seus dons a uma humanidade que ainda cairia. Mas ele não poderia se rebaixar, como o Filho fez, ao ponto de descer à esfera humana para salvar seres que não eram de sua ordem, de sua categoria, de sua glória. Uma conversa no tempo mais distante conclama alguém que tives-
se coragem, humildade e amor suficientes para remir uma humanidade que viria a se perder. “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim. Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis” (Is 6.8-9). A resposta vai muito além do envio de Isaías, mas fala das palavras que o próprio Senhor Jesus pronunciou em seu ministério terreno. Portanto, um dia o Pai perguntou ao seu santo séquito quem se habilitaria a ir no caminho do homem que se perderia bem à frente. Lúcifer calou-se, o Filho bradou. “E outra vez: Porei nele [em Jesus] a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu” (Hb 2.13). Eu não tenho dúvida alguma de que naquele momento o anjo perdeu muito, espiritualmente falando, e que vai refletir em todo seu ministério, no mesmo sentido do texto que citamos acima de Mc 4.25. A partir daqui começa sua queda espiritual, de abismo em abismo, até que seu coração se eleva ao ponto de cobiçar o próprio trono de Deus e que comentaremos em breve quando analisarmos Absalão, filho dileto de Davi. Interessante notarmos, quando da tentação de Jesus no deserto por este insistente inimigo, que ele só tem a oferecer terra, glória, honra, mas nada relacionado a salvação, humildade, perdão. Ele não só perdeu seu sapato, primeiro degrau da perdição, mas perdeu todas as suas armas espirituais. Todo alto privilégio encerra em si mesmo grande responsabilidade, e quando o primeiro é desprezado o segundo é trazido à memória. Um privilégio desprezado é caminho certo para perdermos não só o privilégio, mas todas as coisas que a acompanham. O fulano perdeu o privilégio de possuir uma mulher sem igual, então perdeu também seu direito à terra. Boaz terá tudo, porque se submeteu à vontade de Deus além da lei em si mesma. A lei é dura e sem misericórdia, a graça é leve e transformadora.
Se há dificuldade em aceitar o que falamos acima, não podemos contudo desprezar todo seu conteúdo. A Escritura e o Espírito Santo, aliados à perseverança no estudo, devem ser nosso norte nas questões de difícil interpretação. Virar o rosto não iluminará nossas dúvidas íntimas, nossa perplexidade em questões de cunho eterno e invisível. E assim como as sementes do Fulano e Lúcifer ficaram desconhecidas e perdidas, as de Boaz e Jesus gritarão para sempre. É o que veremos em nossa próxima nota.
7. A linhagem tripla de Boaz Como comentamos em nossa segunda nota a respeito da importância moral e espiritual dos nomes bíblicos, também aqui a semente tripla de Boaz dirá muito da última. “Boaz gerou a Obede, e Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi” (Rt 4.21-22).
Vimos que o nome Boaz está relacionado tanto à rapidez quanto força. Sua determinação espiritual levou a uma sequência genética admirável de filhos e nomes que produzem o caráter precioso de Davi ao final. Obede significa ‘o que serve’ e também possivelmente ‘o que adora’.
Davi que viria desta linhagem foi servo perfeito tanto quanto pastoreava as ovelhas de seu pai bem como servia o rei Saul. Adorava ao Senhor dos Exércitos de forma exemplar com um cuidado extremado. Jessé significa "Deus existe" ou "presente de Deus".
Jessé mostra um Deus presente na vida de Davi, como bem atestam as Escrituras, e do ponto de vista de Israel, foi um presente divino para a nação como um rei sem igual, tanto em determinação na conquista de espaço na Palestina de então, como no zelo em cumprir a vontade do Senhor. Graças a Boaz, tanto uma linha piedosa é preservada em meio à confusão dos juízes, como vimos nas anotações do livro anterior, como um rei conforme o coração do Senhor será provisionado à futura nação. Desnecessário dizer que todas as características descritas acima falam sumamente do Filho de Deus – Ele veio para servir ao Pai e aos homens, adorar seu Pai na beleza da Sua santidade, revelar o Deus invisível e presentear a humanidade caída com a maior das graças, seu sacrifício na cruz. Também desnecessário dizer que o cristão – hoje – não poderia ser diferente do caráter daquele que ele diz que crê e serve.
Boaz e Rute são luz na escuridão do período de Juízes, abrindo caminho para o próximo livro que vamos analisar a seguir – Samuel. Até lá pela graça de Deus em Cristo Jesus!