CRIAÇÃO DE CAMARÃO EM ESTUFAS
CRIAÇÃO DE CAMARÃO EM ESTUFAS
CRIAÇÃO DE CAMARÃO EM ESTUFAS
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m tempos de se recriar, vamos falar de coisas boas? Que tal comida, que é o que mais tem se sobressaído neste período? O camarão marinho (muito apreciado por grande parte da população) será nosso foco na capa desta edição. Ele, sozinho ou combinado com outros pratos, não deixa dúvidas de que é sempre uma delícia. Porém, para produzi-lo é preciso estar atento aos critérios que melhoram sua qualidade e produtividade, como por exemplo, o uso de estufas. Segundo fabricantes, no Brasil a atividade teve seu auge entre 2002 e 2003, com cerca de 90 mil toneladas de camarão produzidas. De lá pra cá a instabilidade na produção foi marcada pelos surtos de doenças, principalmente pelo vírus da mancha branca, que atingiu a região sul do Brasil e também a região nordeste, onde é cultivado mais de 90% do camarão nacional. Até esse período era quase inimaginável o uso de estufas para o cultivo de camarões no País, principalmente no Nordeste. Contudo, o cultivo em sistema fechado oferece inúmeras vantagens e atualmente é uma ótima opção para quem pretende investir na atividade e para aqueles que já produzem. Ao invés de usar grandes áreas, como é feito no cultivo tradicional, o uso de estufas vem para complementar e possibilitar os sistemas intensivos de produção, em especial o de bioflocos, que utiliza uma área muito menor, porém, com uma densidade de camarões por metro quadrado muito elevada, podendo chegar a mais de 100% do que é usado no modelo tradicional. Pareceu interessante? E é, posso garantir, e para confirmar, não deixe de ler as próximas páginas. Você vai se surpreender. Deixo com você o melhor de nós. Tenhamos todos calma, sabedoria e muito foco. E conte conosco para o que vier. Miriam Lins Oliveira Editora
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Jornalista: Adrielle Teodoro - MTb 15.406MG
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A Revista Campo & Negócios Hortifrúti é imparcial em relação ao seu conteúdo agronômico. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.
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NESTA EDIÇÃO
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Novo método contra viroses do tomateiro
08 Alta tecnologia eleva produção de
tomates
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Organominerais otimizam nutrientes do solo
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CRIAÇÃO DE CAMARÃO EM ESTUFAS 58 Prejuízos do ácaro da leprose em
citros
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Impactos do coronavírus no setor hortifrúti
18 Estande ideal - mais desempenho
para a cebola
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Ácidos húmicos - enraizamento garantido na cebola
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Análises de solo e folha no cultivo da beterraba
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Alerta - patógeno de solo na batateira
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Organominerais e os benefícios para HF
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Novidades em mudas de banana nanica
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50 Nova semente da alface orgânica 51 Potássio - nutrição da goiabeira
O que você ainda não sabe sobre a maçã
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em produção
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Manejo de produção da couve-manteiga
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Como produzir berinjela orgânica?
Melão – manejo cultural exige critérios
Embalagem pode prolongar durabilidade do caqui
PESQUISA
NOVIDADE VACINA CONTRA VIROSES DO TOMATEIRO O RNAi é um mecanismo natural de defesa dos organismos eucariontes, aqueles cujas células possuem estruturas mais complexas, com o núcleo separado do citoplasma por uma membrana (carioteca) que, por sua vez, funciona como uma proteção para o material genético dentro do núcleo. Fungos, plantas e animais são exemplos de organismos eucariontes. Os primeiros experimentos, iniciados há três anos, foram realizados com um tobamovírus (em inglês, Tomato mosaic virus - ToMV), que infecta as plantas e causa a virose denominada mosaico-do-tomateiro. Em linhas gerais, o mecanismo funciona assim: o ToMV é um vírus de sRNA (do inglês, single-stranded RNA), ou seja, um vírus que possui material genético constituído por RNA de fita simples. Ao aplicar no tomateiro uma solução aquosa formulada a partir de moléculas de RNA de fita dupla (do inglês, double-stranded RNA - dsRNA) homóloga ao vírus, as células da planta vão detectar esse corpo invasor em seu citoplasma e acionar uma resposta natural de defesa. Assim que a planta compreende que há algo errado no seu metabolismo, ela ativa o mecanismo de RNAi e desenca-
deia uma série de reações para conter a invasão do vírus. Primeiro, enzimas conhecidas como “Dicer” fragmentam a molécula de dsRNA em partes muito pequenas chamadas de siRNA (do inglês, small interfering RNA). Na sequência, esses fragmentos são incorporados em um complexo de proteínas chamado RISC, que vai atuar na degradação das fitas de RNA e inibir o processo de replicação do vírus. “O silenciamento gênico é um mecanismo de defesa que atua na degradação altamente específica de RNA”, ressalta a pesquisadora Alice Nagata, da área de Virologia da Embrapa Hortaliças, ao esclarecer que a técnica de aplicação de dsRNA na planta – correspondente a uma porção do genoma viral – incita e amplifica o processo de degradação de RNA homólogo, no caso, o RNA do vírus invasor.
Aplicação tópica de dsRNA em folha de tomateiro
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O que é RNAi?
Camila Machado
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esquisadores da Embrapa Hortaliças (DF) estão avaliando novos métodos para controle de viroses em tomateiro a partir da utilização de mecanismos de Biologia Molecular, como o RNA de interferência, ou RNAi. Os primeiros resultados mostram a viabilidade desse novo método de controle, que funciona como uma vacina na planta. Entre as vantagens da técnica está a adaptação para o controle de diferentes vírus, sem envolver transgenia. Doenças causadas por vírus representam um dos principais problemas no cultivo de tomateiro, especialmente porque há carência de produtos curativos que possam ser utilizados nas plantas após a infecção pelos vírus. Além disso, a aplicação de inseticidas para combater os insetos-vetores e o uso de cultivares com resistência não têm resultado em um controle satisfatório das viroses. Os cientistas têm estudado diferentes métodos de aplicação de moléculas de RNA correspondentes ao vírus-alvo com a finalidade de ativar o “sistema imunológico” da planta, neste caso, o mecanismo de RNAi. Por analogia, os especialistas consideram que é basicamente como aplicar uma vacina na planta.
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PESQUISA
Logo, para cada ação há uma reação. Seguindo o fluxo evolutivo, o vírus constrói um mecanismo de ataque, para o qual a planta elabora outro de defesa e assim sucessivamente. Os vírus, por exemplo, podem utilizar proteínas para suprimir o silenciamento gênico e inibir a via de RNAi para, assim, ter sucesso no processo de infecção da planta. Por isso, toda ajuda da pesquisa é bem-vinda para pender a balança a favor do tomateiro.
Proteção específica
Métodos Nos experimentos com o tomateiro contra o vírus ToMV, foram testados quatro métodos de aplicação da solução aquosa, bem como diferentes concentrações de dsRNA, desde zero até 400 microgramas (µg) por planta. “Quanto mais alta a concentração de dsRNA, menor foi a incidência da doença”, explica a bióloga Camila de Moraes Rêgo Machado, bolsista da Embrapa Hortaliças e doutoranda em Fitopatologia pela Universidade de Brasília (UnB). Foram testados diferentes métodos: mecânico - esfregaço da solução juntamente com um pó abrasivo nas folhas; pulverização nas folhas sem pó abrasivo; pulverização nas folhas com pó abrasivo e absorção pelas raízes. “Comprovamos que a solução com moléculas de RNA de fita dupla (dsRNA) induz resistência no tomateiro contra infecção viral por ToMV. Os ensaios
Plantas de tomateiro infectadas com virose, tratadas sem e com dsRNA 6
Camila Machado
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O método de controle de viroses em tomateiro com base na ativação do mecanismo de RNAi garante a especificidade da proteção, isto é, a planta irá acionar sua defesa natural apenas para combater o vírus que é alvo da ação. Isso é uma vantagem porque, no caso de inseticidas, por exemplo, o efeito atinge um amplo espectro de microrganismos, sejam maléficos ou benéficos. Já a “vacina de dsRNA” torna a planta resistente à virose de forma específica, ou seja, atinge apenas o alvo determinado. O mecanismo de RNAi vem sendo estudado por grupos de pesquisas em todo o mundo, especialmente para controle de doenças de plantas causadas por vírus, fungos ou nematoides. Geralmente, os cientistas têm buscado o desenvolvimento de plantas transgênicas para o controle desses microrganismos.
A pesquisa conduzida pela Embrapa segue uma estratégia nova: a ativação da via de RNAi por meio da aplicação tópica de uma solução aquosa composta por moléculas de dsRNA específicas do vírus que se pretende combater. Dessa forma, não se altera o genoma do tomateiro e, logo, não há transgenia. Os especialistas vêm chamando essa aplicação de vacina porque, quando o vírus atinge a planta, ela já está protegida.
têm demonstrado que conseguimos, em média, 60% de plantas resistentes ao se aplicar o produto antes da inoculação do vírus”, ressalta Nagata. Os melhores índices de redução dos sintomas da doença foram alcançados a partir dos métodos com o pó abrasivo, que causa microferimentos na folha, como um tipo de esfoliante, e favorece a entrada da solução com dsRNA. O resultado mais promissor foi obtido pelo método mecânico, seguido da pulverização com abrasivo e da pulverização sem abrasivo. Já a absorção da solução com dsRNA pelas raízes não surtiu efeito para ativar o mecanismo de defesa da planta via RNAi. As plantas infectadas com ToMV apresentam mosaico, deformação das folhas e manchas nos frutos, que prejudicam o desenvolvimento normal. Os cientistas explicam que a severidade dos sintomas e as perdas dependem da época da infecção. A transmissão desse vírus ocorre por meio de sementes infectadas ou de forma mecânica, pelo contato direto entre plantas e implementos contaminados com o vírus.
A pesquisa “Por se tratar de uma pesquisa exploratória, iniciamos os estudos com o ToMV que, por ser um vírus mais simples de manipular e expressar os sintomas, poderia demonstrar mais rapidamente a viabilidade da metodologia”, enfatiza Camila Machado. Antes de fazer os experimentos em tomateiros, a equipe do projeto utilizou outras espécies de plantas hospedeiras do tobamovírus como, por exemplo, a planta Nicotiana glutinosa, que pertence à mesma família botânica do tomateiro, as solanáceas. As espécies escolhidas respondem à infecção viral com a produção de lesões locais nas folhas, ou seja, para conter a multiplicação do vírus, a própria planta reage com a morte das células ao redor do ponto de infecção inicial para evitar que o vírus se espalhe por toda a folha. Assim, o vírus fica confinado e a planta não é infectada.
Premiação Em julho do ano passado, o trabalho “Novo método para controle de viro-
semelhante ao da virose por ToMV. “Nós alcançamos resultados expressivos com os vírus avaliados até aqui e, a partir do ano que vem, vamos trabalhar com um vírus ainda mais desafiador, o tospovírus Groundnut ringspot virus (GRSV), um vírus de RNA transmitido por um inseto conhecido como tripes. Os tospovírus são responsáveis pelo desenvolvimento da doença conhecida como vira-cabeça do tomateiro”, registra Erich Nakasu, biólogo da Embrapa Hortaliças. Outra frente da pesquisa será a análise da duração do efeito protetivo da solução aquosa com dsRNA do vírus-alvo. Na fase atual, os pesquisadores estimam que a resistência dure poucos dias e, para prolongar esse tempo, eles estão estudando novas técnicas de aplicação do produto na planta para viabilizar sua introdução dentro das células com o uso de nanotecnologia. Segundo a pesquisadora da Embrapa, Lucimeire Pilon, a nanoencapsulação do dsRNA pode contribuir para aumentar a resistência do dsRNA aplicado no ambiente agrícola e entregar com maior eficiência o dsRNA na planta. A equipe também se dedica a estratégias para viabilizar o método em maior escala de produção. A pulverização do produto com o pó abrasivo, por exem-
plo, resultou em bons índices de proteção contra os vírus e pode ser uma técnica mais viável de ser adotada pelos produtores rurais do que a aplicação mecânica. “Ainda temos várias etapas de pesquisa e anos pela frente, mas nosso ponto de chegada é um produto que tenha um valor acessível e seja simples de aplicar nas lavouras de tomateiro”, conclui Machado.
Técnica de biologia molecular atua como vacina na planta
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Nova fase avalia outros vírus e duração da proteção Após os resultados positivos com os experimentos de ToMV em tomateiro, a equipe do projeto ampliou a pesquisa para outros vírus, como o potyvírus (PVY), também um vírus de RNA. O intuito foi testar a hipótese de que um vírus menos agressivo poderia apresentar índices ainda melhores de redução da taxa de infecção. Contudo, o percentual de redução da incidência da virose causada por PVY foi
Tomateiro com sintomas de infecção por ToMV
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ses em tomateiro baseado no mecanismo de RNA de interferência”, apresentado pela bolsista Camila Machado, foi contemplado com o primeiro lugar na categoria “Doenças de Plantas”, durante o 2º Scientific Day, promovido pela empresa Monsanto, em Santa Cruz das Palmeiras (SP). O estudo concorreu com outros 180 trabalhos de pesquisa de pós-graduação de todo o País. Segundo a bióloga, os testes iniciais nas espécies hospedeiras de ToMV comprovaram que as plantas que receberam o tratamento apresentavam um menor número de lesões, muito possivelmente por conta do fenômeno de silenciamento gênico na planta, isto é, houve a destruição do RNA viral a partir da ativação do mecanismo de defesa do RNAi. Os ensaios foram realizados em câmaras de crescimento vegetal para que fosse possível garantir condições ambientais uniformes de temperatura, umidade e luminosidade ao longo de toda a avaliação. A próxima etapa, então, foi avaliar a metodologia com as plantas de tomate, já que o objetivo final da pesquisa é desenvolver um produto que possa ser utilizado pelo setor produtivo para o controle das principais viroses do tomateiro. Por isso, os cientistas buscam estimular a ativação desse mecanismo de defesa na planta, via RNAi, para que ela possa se proteger da ação de vírus que prejudicam seu desenvolvimento e reduzem sua produtividade. Entre as principais vantagens da utilização de métodos alternativos para o controle de viroses no cultivo de tomateiro destaca-se a redução da dependência de defensivos químicos, o que contribui para melhorar a sustentabilidade do sistema de produção.
Camila Machado
PESQUISA
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TECNOLOGIA
TOMATE GRAPE ALTA TECNOLOGIA LEVA VANTAGENS À PRODUÇÃO
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Laércio Boratto de Paula Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e professor - IF Sudeste MG, campus Barbacena laercio.boratto@ifsudestemg.edu.br
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‘tomate grape’ se destaca pelo sabor adocicado, coloração intensa, formato e tamanho semelhantes à uva. Somado à possibilidade destes tomates serem comercializados em cachos, eles caíram no gosto do consumidor. A crescente demanda por esse tipo de produto gourmet, associada aos preços de venda altamente atrativos, tem motivado o desenvolvimento de inúmeras tecnologias que auxiliam o produtor desde a semente até a embalagem desses tomates.
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Tecnologias a favor da tomaticultura Concisamente, o uso de tecnologias (desde que bem utilizadas) eleva a produção, via aumento da produtividade ou, em outras palavras, pela maior eficiência produtiva alcançada. A dimensão que podemos dar à alta tecnologia abrange vários aspectos: cultivo em ambiente protegido, manejo nutricional e fitotécnico diferenciado, uso de práticas modernas de monitoramento, como sensores, drones, ‘big data’ (obtenção de grande volume de dados), aplicativos, sistemas integrados de produção, uso de fertirrigação, substratos inertes,
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rastreabilidade, melhoramento genético e outros. Com relação à produção do tomate grape, estas tecnologias podem, de maneira resumida, proteger o cultivo das intempéries climáticas e da ação de agentes bióticos; nutrir as plantas de forma mais equilibrada, permitindo que elas tenham plena condição de expressar seu potencial produtivo; realizar práticas que permitam a exploração mais racional e duradoura da cultura; fazer a medição mais precisa de variáveis que interferem grandemente na produção, como temperatura e umidade do solo; detectar precocemente focos de pragas, doenças, estresses hídricos e nutricionais, favorecendo uma resposta mais rápida e efetiva; obtenção de informações mais rápidas e abrangentes sobre a produção, o que permite um planejamento e correções eventuais mais precisas; a aplicação de técnicas de controle de pragas, doenças e plantas espontâneas mais eficientes e sustentáveis; o uso mais racional da água; a menor probabilidade de contaminação por patógenos do solo; a possibilidade de, facilmente, acessar dados sobre a cadeia produtiva da hortaliça e a obtenção de cultivares e híbridos mais produtivos e adaptados às diferentes condições.
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Benefícios Em linhas gerais, a adoção de tecnologias irá permitir, além do óbvio aumento na produção/produtividade, a obtenção de um produto de melhor qualidade, pela nutrição mais equilibrada da planta e também, a princípio, pela racionalização na utilização de agroquímicos, evitando o seu uso abusivo e desnecessário. Ademais, visto a crescente demanda de alimentos pelo aumento populacional, será por meio da maior eficiência produtiva, obtida principalmente pelo uso de novas e apropriadas tecnologias, que se permitirá a disponibilidade regular e crescente de alimentos, garantindo assim a segurança alimentar global. Também é por meio da tecnologia que a sustentabilidade será assegurada, visto que novas formas de produção têm se atentado para o uso mais racional de nossas fontes e meios de produção, condições absolutamente necessárias para a sobrevivência futura.
Como implantar a técnica Na verdade, são várias as possíveis técnicas a serem adotadas, cada uma delas com suas especificidades. No tocante ao tomate “grape”, algumas tecnologias
são quase unânimes de serem utilizadas, como é o caso do ambiente protegido. É inviável produzir este tipo de tomate no sistema a campo aberto. Existem vários tipos de ambiente protegido, com diversos modelos disponíveis de estufas e casas de vegetação, que serão ajustáveis a cada tipo de situação, região e capacidade de investimento. Uma vez implantado o ambiente protegido, a condução do tomate poderá ser feita no solo, em ‘slabs’ (tipos de sacos) ou em vasos, estes dois preenchidos com substrato próprio. Na região de Barbacena (MG), a opção pelos slabs tem predominado. A nível mundial, o uso de vasos é majoritário. Com relação ao manejo, dependerá do tipo de crescimento do híbrido ou cultivar usado. Normalmente, será necessário o tutoramento, que poderá ser feito de diversas formas, e eventualmente podas, que irão garantir uma produção sustentável a médio/longo prazos. Também, o espaçamento adotado irá
Vladimir Landiva
TECNOLOGIA
depender do tipo de crescimento da planta. Assim, estes aspectos irão variar de acordo com a avaliação do profissional responsável.
Nutrição Outro detalhe de suma importância é o manejo nutricional. Existe atualmente no mercado uma ampla gama de fertilizantes, reguladores de crescimento e
aditivos. É sabido que solanáceas, como é o caso do tomate, têm elevado nível de exigência em nutrientes. A montagem de um plano nutricional que atenda estas exigências é um dos fatores mais limitantes para o sucesso deste cultivo. Não devemos adubar nem a mais nem a menos, mas sim de acordo com a exigência da cultura, de forma precisa e racional, aliando a época certa, a dose correta, a fonte adequada e na forma melhor aproveitável pela planta.
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Nesta ótica, a prática da fertirrigação localizada tem sido adotada pela maioria dos produtores.
Como em toda espécie da família, o tomate grape está sujeito a diversas doenças e pragas. O monitoramento constante e as intervenções precisas e, se possível, antecipadas, irão minimizar os danos decorrentes destes agentes. Neste sentido, o uso de ambientes que forneçam proteção física (como é o caso do cultivo protegido), o uso de instrumentos automatizados, a adoção das premissas do manejo integrado, de agentes de controle biológico e outros, favorece o controle mais efetivo, duradouro e sustentável do ambiente de produção. É praticamente impossível detalhar todas as técnicas passíveis de serem utilizadas na produção do tomate grape. Porém, deve-se enfatizar que cada situação tem suas especificidades. O conhecimento técnico, aliado ao bom senso e à capacidade de investimento de cada um serão fundamentais para a escolha do pacote tecnológico mais adequado.
Cícero Araújo
Controle fitossanitário
Produtividade - como alcançar o teto O uso de tecnologias mais modernas tem proporcionado um aumento em produtividade de até 300%. Porém, este aumento irá variar muito de acordo a tipo de pacote tecnológico adotado. Em linhas gerais, a produtividade es-
perada, por planta de tomate grape, é de 8,0 a 10 kg. Em outros países, e mesmo em alguns cultivos no Brasil, esta produtividade tem excedido esse índice, podendo chegar a 20 kg de frutos por planta, o que é extraordinário. Para isso, há um somatório de fatores, entre eles as tecnologias adotadas no processo produtivo.
A realidade do campo de produção A realidade, hoje, na produção de tomate grape, é o uso do ambiente protegido. A escolha deste sistema possibilita a exploração da cultura de uma forma mais duradoura, racional e vantajosa
em termos de produção, embora os resultados sejam muito variáveis de acordo com o modelo tecnológico adotado. Na região de Barbacena (MG), os resultados na exploração do tomate grape, em ambiente protegido e usando o chamado sistema semi-hidropônico (slabs) têm sido satisfatórios para os produtores, se nos ativermos apenas à produtividade. Obviamente, os preços obtidos no mercado por vezes têm sido insatisfatórios, mas o modelo de produção, em si, tem se mostrado altamente produtivo. Em termos de Brasil, o cultivo do tomate grape tem aumentado, o que leva a crer que esta tem sido uma opção interessante para o produtor.
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Fique atento
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O produtor deve se cercar de profissionais qualificados, que entendam de fato o assunto. A informação e a experiência serão fundamentais para que os erros sejam minimizados. Cada situação tem suas peculiaridades, e as mesmas devem ser avaliadas e pesadas devidamente. Estudos têm comprovado a viabilidade econômica no cultivo de tomate grape. Porém, a maior ou menor viabilidade dependerá da região, do período do ano, do pacote tecnológico adotado, entre outros fatores. Em função disto, é difícil precisar uma relação custo x benefício.
Para se ter uma ideia da complexidade disto, o custo de se implantar um cultivo protegido pode variar de R$ 25,00 a R$ 70,00/m2, o que irá impactar no retorno mais precoce ou demorado do capital investido. Associado a isto, a implantação de diferentes tecnologias pode exigir um grau muito variado de investimentos. É fato, porém, que o valor de mercado do quilo de frutos do tomate grape é bem superior à maioria dos outros grupos de tomate, o que tem levado ao aumento contínuo de produtores que optam por este nicho de mercado.
SOLO
ORGANOMINERAIS
ELEVAM OS NUTRIENTES DO SOLO Rhaiana Oliveira de Aviz Mestranda em Produção Vegetal - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE-UAST) rhaianaoliveiradeaviz@gmail.com
Luana Keslley Nascimento Casais Engenheira agrônoma - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) luana.casais@gmail.com
Luciana da Silva Borges Doutora e professora – UFRA, Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Horticultura da Amazônia (Hortizon) e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (NEA) luciana.borges@ufra.edu.br
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o cenário agrícola atual, o uso do solo se torna cada vez mais intenso, demandando formas de manejo que possam conservar e contribuir para a melhoria das características físicas, biológicas e químicas do solo. Uma alternativa sustentável de fertilização do solo é o uso dos fertilizantes organominerais.
rados ao solo mais lentamente, evitando perdas por lixiviação ou volatilização, e também aumentando a eficiência do consumo pela planta (Isah, 2014). Nesses fertilizantes há maior acúmulo de nutrientes, em relação aos demais tipos de adubos, e também devido à característica de liberação gradual dos nutrientes, os fertilizantes organominerais podem ser utilizados em menores quantidades sem perder sua eficiência. Isso barateia os custos de produção e de transporte.
presas que comercializam esse produto, apresentando-o em várias versões para o campo. A base do fertilizante é a compostagem, que é a mistura e processo de decomposição de resíduos orgânicos vegetais e estercos, como exemplo a palha de arroz, serragem, resíduo de soja, cama de aviário, entre outros.
Quem pode usar? O fertilizante organomineral pode ser usado tanto pelo pequeno quanto pelo médio e grande produtor. Existem em-
Os fertilizantes organominerais são gerados a partir da combinação de composto orgânico e adubos minerais. Essa categoria de fertilizante foi enquadrada na legislação em 1982, e de acordo com a Instrução Normativa nº 25, de 23 de junho de 2009, os fertilizantes organominerais devem ter, em sua composição, no mínimo 8% de carbono orgânico, CTC de 80 mmolc.kg-1, 10% de macronutrientes isolados (N, P, K) ou em mistura (NP, NK, PK, NPK), 5% de macronutrientes secundários e 30% de umidade (Rabelo, 2015). Os adubos orgânicos, ou compostos orgânicos, apresentam baixos níveis de macronutrientes primários (N, P, K), e a complementação desses nutrientes auxilia na melhora da qualidade desse adubo. Além disso, quando misturados à matéria orgânica, esses nutrientes são libe-
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Composição
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SOLO
Com a obtenção da compostagem, a adição dos nutrientes minerais deve obedecer a necessidade da cultura e análise química do solo (Royo, 2010).
Benefícios proporcionados Os benefícios que o organomineral proporciona ao solo, relacionados à melhoria das características físicas, químicas e biológicas, tem impacto no bom desenvolvimento do sistema radicular, pois cria condições adequadas, como boa aeração, melhorando a circulação de ar e água, por exemplo, fazendo com que esse órgão consiga ter uma maior exploração do solo, absorvendo mais nutrientes e água. Esses fatores têm influência direta no desenvolvimento da parte aérea. Além disso, também a presença de matéria orgânica proporciona maior estabilidade em relação à temperatura e umidade, e ela também funciona como condicionador de solo, favorecendo a alta capacidade de troca de cátions (Ferreira et al, 2013).
Como implantar a técnica
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No mercado, esse fertilizante está disponível tanto na forma sólida e granulada quanto líquida (concentrada). O uso do fertilizante na forma sólida para aplicação em culturas já estabelecidas deve ser realizado em sulcos abertos na projeção da copa da planta, que é o local onde há maior absorção pelas raízes. Após aplicação é necessário realizar irrigação no local. Já o produto na forma líquida pode ser aplicado por pulverização ou fertirri-
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gação. Dependendo da cultura que será cultivada, se o plantio for por meio de sementes, esse fertilizante também pode ser aplicado na linha de plantio durante a semeadura, ou incorporado ao solo por gradagem antes dessa etapa. Caso o plantio seja por mudas, o fertilizante deve ser distribuído em toda a área útil e incorporado ao solo por gradagem, 15 dias antes do transplante, ou também pode ser feita a aplicação na cova, durante o transplante das mudas (Oliveira Filho, 2014)
Produtividade As boas produções relacionadas ao uso dos fertilizantes organominerais estão relacionadas ao melhor aproveitamento dos nutrientes em detrimento dos adubos apenas minerais, que fazem a liberação gradativa dos elementos essenciais, deixando-os menos suscetíveis a perdas e proporcionando adequado aproveitamento pela cultura. Os organominerais para o cultivo de grãos e hortaliças podem substituir o uso de fertilizantes minerais sem haver prejuízos, pois promovem a mesma produtividade e, dependendo da fonte orgânica, a produtividade pode elevar acima de 20% do habitual.
Em campo Em trabalho realizado no município de Uberlândia (MG), avaliando a influência da utilização de fertilizantes organominerais durante o ciclo da cultura do algodão, foi constatado que a adubação mineral pode ser substituída pelo fertili-
Experimentos comprovam a viabilidade destes adubos
zante organomineral sem quaisquer prejuízos para a cultura. Das fontes de fertilizante organomineral utilizadas, o lodo de esgoto tem um desempenho superior para o desenvolvimento da cultura. (Leite, 2020) Também foi realizado um trabalho avaliando a eficiência da adubação organomineral e mineral, em cobertura, na produção de tomate industrial, na cidade de Anápolis (GO). Com os resultados, foi possível verificar que o adubo organomineral, em cobertura, proporciona aumento do número de frutos comercializáveis por planta, peso médio de frutos, massa fresca, massa seca de frutos por planta, diâmetro equatorial e da produtividade média da cultura, em relação à adubação somente mineral. (Peres; Terra; Rezende, 2020)
Erros mais frequentes A qualidade do fertilizante organomineral está diretamente ligada ao material orgânico que deu origem à parte orgânica, ao manejo empregado para a sua produção, ademais pela fonte mineral que fará parte da composição do mesmo. Um preparo do adubo com materiais apresentando relação C/N inadequada pode fazer com que a matéria orgânica não permaneça no sistema por um período apropriado, ou que a mesma fique indisponível a curto prazo, causando um prejuízo para a cultura implantada, mesmo que tenha a fração mineral na composição.
Como evitar erros Conhecer a procedência dos componentes que formarão o organomineral é importante para evitar contaminações que refletirão na qualidade e produtividade da cultura. O uso de cobertura no solo também influencia na eficiência do organomineral. Esse trato cultural proporciona melhorias nas condições do solo, fazendo com que se tenha os espaços porosos com suas concentrações de água e ar mais próximos do ideal, e controle de temperatura, o que acaba por proporcionar a atividade dos microrganismos que têm a função de mineralizar os nutrientes presentes na matéria orgânica.
SOLO
Conhecer as exigências nutricionais da cultura a ser utilizada é de extrema importância, pois isso evita gastos desnecessários com aplicação de quantidades acima do necessário, o que reflete no custo, e evita que se aplique quantidades inferiores ao requerimento da cultura, o que terá impacto na produção. Além disso, ter em mãos os dados relacionados à fertilidade do solo resultará em um manejo do adubo mais eficiente.
Custo Já existem empresas que fabricam esse produto, alguns até formulados com as quantidades exigidas por culturas específicas. O fertilizante na forma sólida pode ser encontrado a partir de R$ 600,00/ton no mercado, enquanto em forma líquida está disponível a partir de R$ 30,00/L de organomineral concentrado. Na adubação mineral, em sua maioria, a aplicação é realizada de forma parcelada, conforme a eficiência de absorção do nutriente pela cultura. Entretanto, a aplicação de fertilizantes organominerais pode ser realizada apenas uma vez, isso porque os nutrientes que estão na forma mineral serão de imediato absorvidos pelas raízes, enquanto o nitrogênio que está presente na maté-
O organomineral melhora a qualidade do solo
ria orgânica será disponibilizado gradualmente, aumentando a eficiência de consumo pela planta, e com isso reduzindo custos de adição complementar de nutrientes (Fernandes, 2001). De acordo com o BNDES (2017), em 2015 a aplicação de macronutrientes primários no campo foi de 13,7 milhões de toneladas. Contudo, foi realizado um levantamento que estimou a quantidade de nutrientes gerados a partir de compostos orgânicos advindos da avicultura, suinocultura e bovinocultura, e esses setores produziram cerca de 5,3 milhões de toneladas de macronutrientes, correspondendo a 38% da demanda nacional
de adubação mineral, que poderia ser aproveitado durante o cultivo de diversas culturas. Em épocas de crise financeira, a utilização fertilizante organomineral também é favorável. Devido à matéria-prima desse fertilizante ser os compostos orgânicos, que são gerados a partir de resíduos de indústrias, há uma redução dos custos de fabricação do produto, o que torna o seu preço mais estável, enquanto que os preços de adubos minerais se elevam mais. Usando essa tecnologia, o produtor consegue economizar quase 50%, sem comprometer a sua produtividade (Royo, 2010).
REALIDADE
CORONAVÍRUS
COMO FICA O MERCADO HF? Fabio Olivieri de Nobile Doutor e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (Unifeb) fabio.nobile@unifeb.edu.br
Maria Gabriela Anunciação Graduanda em Engenharia Agronômica – Unifeb
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om o avanço do novo coronavírus pelo mundo, as preocupações quanto aos impactos na economia global se elevam por parte de investidores e dos governos, principalmente devido à possibilidade de uma recessão. Embora os reflexos ainda sejam indefinidos, várias instituições têm reduzido as perspectivas de crescimento mundial. Não é surpresa que uma pandemia mundial e as medidas de segurança impostas pelos governos causem iminente impacto no mercado financeiro e no consumo. Apesar das atividades essenciais, principalmente aquelas que se referem ao abastecimento de alimentos, seguirem em operação, é natural que a demanda seja reduzida e que problemas de escoamento de produção, por exemplo, possam assombrar os produtores.
Avaliações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) demonstram que as consequências do novo coronavírus irão impactar diretamente na economia. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, por exemplo, sofrerá uma retração de 1,18%, dessa maneira, há de se esperar os impactos em diversos setores do agronegócio. Os ajustes econômicos e sanitários para frear a disseminação do vírus impactam diretamente nos setores agrícolas, especialmente quando pensamos em produtos menos resistentes ao armazenamento. É o caso, por exemplo, das hortaliças folhosas e frutas, pois as medidas de restrição de circulação acabam por impactar o escoamento e diminuir a demanda geral, visto que feiras, restaurantes e centros comerciais foram pilares das medidas de quarentena.
O que esperar Para alguns economistas, o cenário é de depressão nos preços das commodities, o que pode comprometer os valores da safra 2020/21. “Dizem que as pessoas pelo mundo continuam comendo, e estão, mas não têm dinheiro para continuar pagando os preços que achamos
justo”, comenta. O produtor precisa rever suas estratégias de comercialização e seus custos neste momento. A situação do pequeno produtor no período da crise é preocupante, pois, além da diminuição de demanda, o mesmo irá encontrar problemas com frete para escoar seus produtos para regiões vizinhas. Outros setores agropecuários que sentirão com mais força os efeitos da pandemia, além do hortifrutícola, ainda segundo o CEPEA, são da bovinocultura de leite, floricultura, biocombustíveis e têxtil. No entanto, independente do setor, os produtores de pequeno e médio portes sentirão com maior agressividade os efeitos do vírus.
Exportações Segundo informações da Associação Brasileira de Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), a redução da exportação de frutas depende, especialmente, da relação com a comunidade europeia. A intensidade dos casos de contágio em algumas regiões acabou fechando fronteiras - é em função disso, por exemplo, que a exportação de manga peruana
REALIDADE
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Insumos agrícolas
para a China foi paralisada. Importante salientar também que o período de maior concentração de exportação de frutas do Brasil se dá no segundo semestre, sendo a diminuição do volume exportado incerta. Atualmente, no entanto, já é possível notar diminuições na demanda de lima ácida tahiti e manga, frutas cuja exportação se dá no primeiro semestre do ano.
No entanto, há outro fator que devemos levar em consideração: os insumos agrícolas. Vamos considerar que uma parcela considerável de insumos é proveniente da China, país de origem do novo coronavírus, onde grande parte das atividades industriais, comerciais e de serviços estão paralisadas, devido à quarentena. A paralisação da China pode influenciar o fluxo econômico e comercial de diversos países, visto que tal fato, atrelado à alta do dólar, irá causar aumento no preço dos insumos agropecuários e, consequentemente, no produto final. Por outro lado, os insumos podem ficar baratos, já que os preços internacionais do petróleo recuaram 20% desde o início deste ano e podem cair ainda mais com o avanço do novo coronavírus pelo mundo. Com isso, é esperado que insumos e outras commodities também se desvalorizem. Não só derivados, como fertilizantes que têm como matéria-prima o petróleo, mas também defensivos, produtos agrícolas e metais.
Custos x preços Outro efeito de médio prazo decorrente da pandemia seria o aumento dos preços. Para o caso de insumos que são importados da China, por exemplo, a paralisação das atividades, caso se prolongue, pode impactar os fluxos comerciais
entre praticamente todos os países. Isso, atrelado à expressiva alta do dólar, pode resultar em aumento dos custos de produção e, consequentemente, dos preços dos produtos. Contudo, há de se considerar que os eventos climáticos adversos têm sido frequentes no País e podem afetar a oferta de HF’s ao longo ano, sustentando os preços no mercado. As medidas de controle para essa crise devem prover de subsídios governamentais e ajustes flexíveis nos bancos que contam com financiamentos por parte de agricultores. O Banco do Brasil prorrogou, para produtores hortifrutícolas e de plantas ornamenteis, o pagamento das operações de custeio e investimento. Além disso, as linhas de créditos para o agronegócio foram reforçadas. Os brasileiros não precisam estocar alimentos em decorrência da pandemia do novo coronavírus. A afirmação foi feita no dia 30 de março, pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina. Isso porque o setor agropecuário do Brasil segue produzindo normalmente os produtos que vão para as mesas da população. “O Brasil é um grande celeiro, produtor de alimentos, e não precisamos ter nenhuma expectativa negativa de que não teremos alimentos para nosso povo”, afirmou Tereza Cristina, referindo-se às mudanças na rotina dos brasileiros, impostas pela pandemia do novo coronavírus.
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Ceagesp
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Bejo
PREVISIBILIDADE É O DESAFIO DA INDÚSTRIA DE FLORES, FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS
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Análise macro
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Folhosas: produtores em dificuldade. Boas vendas para quem atende o varejo e registros de forte redução nas vendas para quem atende restaurantes e bares. Neste momento não há nenhum auxílio ou socorro financeiro ao produtor que amarga perdas. Existem relatos de redução de semeadura de até 35% em folhosas no principal cinturão verde de São Paulo. Com isso, surgem campanhas privadas de crownfunding (vaquinhas virtuais) em apoio aos agricultores para garantir que continuem produzindo e os alimentos sejam doados para comunidades e Bancos de Alimentos. Flores: o segmento de flores foi muito prejudicado pela falta de consumo – queda de mais de 70%. Em apoio ao setor, entidades vêm incentivando o consumo e algumas redes varejistas iniciaram campanhas de vendas de flores e plantas em
suas lojas. A ação surte resultados, mas enquanto gardens centers e floriculturas não puderem operar (claro, seguindo as novas regras de restrição dos órgãos de saúde), essa retomada será mais lenta. Exportação/importação: as exportações se mantêm estáveis, mas reduções do transporte aéreo podem prejudicar futuramente os resultados. Também há relatos de dificuldades de transporte e inspeção nos carregamentos no Chile e Argentina, que têm operação padrão em suas aduanas. A demanda por frutas importadas (maçãs, pêras, kiwis, ameixas, citros, etc.) tiveram redução, mas mantêm giro básico. Como já comentado, o desafio é entender o comportamento do consumidor e a taxa de câmbio. Varejo: as vendas desaceleraram na última semana do mês de março, porque os consumidores estavam abastecidos. O mês de abril já demonstrou resultados mais positivos. A população está mais segura sobre o abastecimento, e o número de visitas às lojas tem sido menor, elevando o ticket médio de compra. Apesar de seguir com boas vendas, algumas redes do varejo relatam um aumento nos custos operacionais e isso, naturalmente, tem sido motivo de grande preocupação. A indústria e varejo relatam que houve um aumento da prática de solicitação de antecipação de recebíveis. As taxas de juros para créditos bancários aumentou, inviabilizando a operação. O canal atacarejo perdeu parte da clientela de restaurantes, bares e pequenos empreendedores, que estão com seus comércios fechados. Food Service: continua estagnado.
Paulo Christians, diretor geral da Bejo
Israel: a maioria das empresas está em home office e a indústria só pode funcionar com 30% de sua capacidade e aumento do número de turnos. EUA: o varejo americano ainda continua com consumo alto. O varejo está pedindo para produtores não estocarem batatas (importante produto da cesta básica americana). Os produtos essenciais estão em alta. As redes supermercadistas, em geral, estão procurando segmentar, com concentração nas unidades de manutenção de estoque, que são mais importantes. Surgem oportunidades de aumento das exportações de grãos do Brasil. Agristar
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PMA Brasil, entidade que representa a indústria de flores, frutas, legumes e verduras, acredita que prever o que o consumidor deseja é o grande desafio, daqui para frente: “a imprevisibilidade das últimas semanas exigiu um esforço e mudanças de estratégia de gestão de pessoas, logística e comercial de todas as empresas para atender todo o País e garantir o abastecimento. A primeira etapa foi vencida, “a duras penas”, por todos os lados. A pergunta agora é: quais são os produtos que os consumidores continuarão consumindo? Prever esse comportamento será o diferencial para que a indústria de frutas, flores, legumes e verduras possa se organizar e passar por essa fase difícil”, expõe em documento sobre a conjuntura do setor. Em resumo, o cenário do setor mostra que as frutas, legumes e diversos (batata, alho, cebola e ovos) continuam sendo os produtos mais procurados. O produtor vê com preocupação o aumento do custo do frete, principalmente para o Sul e Nordeste.
Giro pelo mundo Em muitos países, não há mão de obra para realizar a colheita. Portugal tem dificuldade de mão de obra para os packing houses, por exemplo. No Sul do Chile está proibida a saída das pessoas e há controle policial. O mesmo ocorre em Santiago.
Marcos Vieira, gerente de marketing da Agristar
REALIDADE
Palavra da indústria sementeira
Ceagesp
PROTAGONISMO DOS ALIMENTOS NOS MOMENTOS DE CRISE Johnni Hunter Nogueira, presidente da Ceagesp
Na maior cidade do País, São Paulo, a maior central de abastecimento de frutas, hortaliças, flores e pescados da América Latina não parou. No Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) circulam diariamente cerca de 50 mil pessoas e 12 mil veículos, comercializando produtos vindos de 1.500 municípios de 22 Estados brasileiros e também de 19 países, uma comercialização média mensal de 283 mil toneladas. O governo do Estado de São Paulo decretou quarentena, iniciada em 23 de março de 2020 para evitar a possível contaminação ou propagação do novo coronavírus. O Entreposto Atacadista é considerado serviço essencial, e devido a isto, as atividades de rotina foram mantidas, com algumas adequações necessárias. Devido às medidas restritivas no Estado de São Paulo para funcionamento de bares e restaurantes da capital, foi verificada mudança no perfil do comprador e de volume de produtos adquiridos. Os dias da semana de maior movimento se mantiveram (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira). Com a diminuição do volume de compras por restaurantes, distribuidores, feirantes e
demais segmentos afetados, os supermercados e lojas de hortifrutigranjeiros aumentaram o seu volume de compras. A população está preferindo, nas poucas saídas, ir a um local onde consiga encontrar um mix de produtos, ao invés de ir a uma feira livre ou lojas voltadas para a venda de hortifrútis. O setor de hortaliças folhosas foi o que mais sofreu, pois os maiores clientes são restaurantes e feirantes, cujas atividades estão parcialmente suspensas. Os preços no atacado não mostraram mudanças significativas, apenas as decorrentes da sazonalidade, clima, variação cambial e procura. Verificou-se também uma tendência de redução de preços em razão da retração gradativa da demanda. Todas as ações realizadas no entreposto da capital também estão sendo aplicadas nos entrepostos da Ceagesp do interior de São Paulo. “Nossa missão primordial é prover o abastecimento alimentar com regularidade e não deixar que nada falte na mesa do brasileiro, principalmente nesse período de pandemia em virtude de Covid-19. Nosso trabalho está e sempre estará relacionado a vidas”, finaliza o presidente da Ceagesp, Johnni Hunter Nogueira.
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Para Paulo Christians, diretor geral da Bejo Brasil, importante empresa de sementes de HF, em época de isolamento social a alimentação não pode parar: “Temos que cuidar para que nossas sementes cheguem na hora certa, no lugar certo. Mas também temos que cuidar de nossa equipe, o que vem antes de tudo. Desde o dia 23 de março implantamos o trabalho remoto para quase toda a equipe. Na sede da empresa estamos com uma equipe reduzida e nossa expedição está operando quase normalmente, com as devidas adaptações. Entretanto, o atendimento ao cliente e fornecedores está funcionando sem problemas, apoiado na tecnologia”, diz. O desenvolvimento de produtos não pode parar, então, com muita criatividade e as devidas medidas de segurança, a Bejo tem utilizado ainda mais sua estação em Bragança Paulista (SP). “Alguns trabalhos que normalmente faríamos com os produtores rurais, agora estamos fazendo em nossa casa. Nosso pessoal de marketing tem tentado se reinventar todos os dias, mantendo a informação e a comunicação com o mercado. Resumindo, embora não estejamos nos vendo todos os dias e nada seja tão fácil como nos dias normais, o agro não parou, e nós, da Bejo Sementes, também não”. A Agristar, outra empresa de renome no mercado sementeiro de HF, continua funcionando para atender ao mercado hortifruticultor, considerado essencial para a alimentação básica da população. “A empresa tem tomado todos os cuidados, seguindo as orientações das entidades governamentais de saúde, com parte da equipe em home office, higienização constante de equipamentos, cuidados de distanciamento mínimo, com o objetivo de manter o funcionamento da empresa, mas preservando o bem-estar de clientes, parceiros comerciais, fornecedores e equipe. Nosso atendimento ao produtor, revendas e demais consumidores continua pelos meios digitais, de forma a garantir o mínimo de assistência e informação sobre nossas sementes e serviços", afirma Marcos Vieira, gerente de marketing da Agristar do Brasil.
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PLANTIO
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ESTANDE GARANTE MELHOR DESEMPENHO DA LAVOURA Lucas Alexandre Batista lukasp01@hotmail.com
Carlos Eduardo Silva Santos c.sanntos@hotmail.com
Adilson Júnior Soares Alves adilsonjralves13@gmail.com Graduandos em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA)
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sucesso na produção de cebola depende de vários fatores, a começar pela escolha da variedade, do local e da época de plantio, passando pela correção e adubação do solo, pelo manejo cultural (adubações complementares, controle de plantas infestantes, irrigação) e controle de pragas e doenças, chegando a questões relacionadas à colheita, pós-colheita e à comercialização. Entretanto, o estabelecimento de um bom estande é, provavelmente, o fator mais importante para o sucesso de uma lavoura. Em outras palavras, se uma lavoura de cebola está com estande pleno aos 30 dias, é bem provável que ela renderá uma boa produtividade, inclusive conseguindo-se estimar a produção com relativo grau de precisão.
Como implantar a técnica No Brasil, o método indireto (semeadura + transplantio) tem sido o mais utilizado. Ele abrange a semeadura em canteiros especiais, chamados sementeiras, até o transplante de mudas para o local definitivo. A sementeira deve ser instalada em solos bem drenados, arejados, com boa luminosidade e que não tenham sido cultivados com cebola anteriormente. Se for utilizar sistema de irrigação por aspersão, pode-se preparar canteiros com dimensões de 1,0 m de largura por 5,0 a 10 m de comprimento e altura de 10 a 15 cm. A adubação deve ser feita com 5,0 a 10 L/m² de esterco mais 25 g/m² da mistura 6-24-12, incorporada ao solo, antes da semeadura. É necessário complementar com uma adubação nitrogenada em cobertura, aos 15-20 dias após a semeadura, utilizando 10 g de sulfato de amônia/m², ou 5,0 g de ureia/m². A semeadura deve ser feita com densidade de, aproximadamente, 7,0 a 10 g de sementes/m², em sulcos transversais ao comprimento do canteiro, com profundidade em torno de 1,0 cm, distanciados 10 cm, sendo necessários 3,0 kg de sementes/ha.
Logo após, faz-se a cobertura das sementes com terra fina misturada com esterco peneirado, na proporção de 1:1. Em seguida, é feita uma cobertura morta, utilizando-se palha seca de arroz ou capim, retirando de seis a sete dias após a semeadura, quando ocorre a emergência das plântulas. A irrigação deve ser feita preferencialmente por aspersão, com a frequência que permita manter o solo sempre úmido.
Relação direta A densidade de plantas está associada diretamente com a produtividade da cebola. Alguns pesquisadores já desenvolveram trabalhos relacionados ao tema, e mostraram que a produtividade da cultura aumenta linearmente conforme o aumento na densidade de plantas. A população de plantas de cebola por hectare tem sido definida pela tolerância da cultivar ao adensamento. Os bulbos de cebola possuem a característica de arranjo espacial em pequenos espaçamentos nas linhas de plantio. Estandes bem estabelecidos aos 30 dias após o plantio favorecerão uma boa produtividade, sendo possível estimá-la com um relativo grau de acurácia.
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ÁCIDOS HÚMICOS CEBOLA AGRADECE COM MAIS ENRAIZAMENTO Saulo Strazeio Cardoso Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Produção Vegetal – FCAV/ UNESP e professor - Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU) saulo.cardoso@fazu.br Marcela Caetano Lopes Bióloga e doutoranda em Agronomia/ Horticultura – FCA/UNESP macaetano20@hotmail.com
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t rs tte hu S s oto
tualmente, a agricultura vem exigindo adoções de práticas racionais ao meio ambiente, visando atender à crescente demanda por alimentos tanto em quantidade como em qualidade. Neste cenário, o uso de ácidos húmicos, que são resultantes da decomposição da matéria orgânica, tem se tornado uma alternativa viável para as plantas. Suas propriedades físicas, químicas e microbiológicas são capazes de proporcionar incrementos na produtividade em função dos benefícios promovidos não só na estrutura física e química dos solos, como também no metabolismo das plantas. Devido à natureza complexa ainda pouco conhecida dos ácidos húmicos, seus efeitos não são fáceis de serem explicados, uma vez que existem substâncias húmicas muito diferentes, seja em função da origem do material, métodos de extrações e/ou pelas diferentes concentrações de ácidos húmicos contidos. Cada espécie vegetal pode reagir de forma diferente à aplicação dos ácidos húmicos, bem como apresentar respostas diferenciadas à medida em que for se desenvolvendo. Nesse contexto, novos estudos devem ser realizados visando explicar questionamentos sobre recomendação (dose e épocas de aplicação) em função dos diferentes tipos de solos, condições
ambientais, tipos de plantas e fontes de ácidos húmicos.
Mais enraizamento para a cebola Os ácidos húmicos presentes nos solos agem de forma semelhante à auxina, ou seja, proporcionando a expansão e elongação das células e, consequentemente, o crescimento das raízes. Esse fenômeno ocorre devido ao estímulo na atividade da H+-ATPase (bombas de H+) de membrana plasmática, em função das substâncias húmicas que apresentam baixo peso molecular favorecerem a emissão de pelos radiculares e raízes laterais finas, tendo assim um aumento das raízes das plantas. As H+-ATPases são enzimas transmembranares eficientes para hidrolisar ATP, possibilitando energia e gradiente eletroquímico, os quais apresentam interação direta com os mecanismos responsáveis por proporcionar o desenvolvimento e crescimento dos vegetais, isto é, concedem maior plasticidade na parede celular, favorecendo o crescimento e divisão celular. Sendo assim, pode-se dizer que os ácidos húmicos alteram diretamente o metabolismo bioquímico das plantas e, por consequência, influenciam no seu crescimento e desenvolvimento.
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Possibilidades Existe, no mercado, uma diversidade de produtos contendo ácidos húmicos, cuja fonte mais utilizada para a fabricação é a leonardita. Porém, é possível obter ácido húmico de outras fontes, como carvão, turfas, estercos, resíduos humificados e vermicomposto. Os ácidos húmicos, quando empregados, proporcionam benefícios às propriedades físicas e químicas dos solos, favorecem o aumento das raízes e a absorção de nutrientes pelas plantas.
Manejo A aplicação de ácidos húmicos pode ocorrer desde o início do ciclo da cultura, podendo ser aplicado via solo ou foliar. Tem-se também a opção de realizar a aplicação no solo e complementar com a aplicação via foliar. Com relação às doses, número e época de aplicação, deve-se levar em consideração a fertilidade do solo em questão, o material genético cultivado, as condições climáticas da região e as recomendações do produto comercial estabelecido pelo fabricante.
Benefícios à cebola Uma diversidade de culturas pode ser beneficiada com a aplicação de áci-
Os ácidos húmicos proporcionam maior crescimento das raízes
dos húmicos. Resultados já foram relatados com as culturas da alface, cebola, tomate, beterraba, melancia, citros, milho, abacaxi, banana, dentre outras. Os resultados obtidos para a cultura da cebola com o uso de ácido húmico são bastantes variáveis e dependem das substâncias húmicas utilizadas, concentração, grau de purificação do material e das condições em que foram realizados os experimentos. Informações na literatura indicam que o emprego de ácidos húmicos e fúlvicos na cultura tem proporcionado aumentos em sua produção. Estudos avaliando diferentes produtos comerciais ricos em ácidos húmicos obtiveram um aumento de 17% na produtividade comercial da cebola, comparados à testemunha (sem aplicação de fontes de ácidos húmicos). Outros estudos reportam que a aplicação de 2,0 kg ha-1 em sulco de plantio aumentou a disponibilidade de nutrien-
tes para as plantas e, consequentemente, sua produção. Foi observado também que a aplicação via foliar aos 60 e 80 dias após o transplantio das mudas, com o uso de um produto comercial contendo 18,5% de ácido húmico, proporcionou aumentos no crescimento vegetativo, na produção de bulbos e qualidade da colheita.
Erros mais frequentes Quando se tratam de erros, pode-se dizer que os mais frequentes são a falta de conhecimento das fontes e produtos comerciais disponíveis no mercado. Para minimizar esses erros, deve-se ter conhecimento dos produtos comerciais disponíveis, a recomendação (dose e épocas de aplicação) para a cultura em específico, bem como sobre a análise química do solo para possíveis tomadas de decisões.
COUVE
Luize Hess
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MANEJO DE PRODUÇÃO DA COUVE-MANTEIGA
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Denilze Santos Soares Graduanda em Agronomia Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), campus Paragominas denilzesoares@gmail.com Luana Keslley Nascimento Casais Engenheira agrônoma – UFRA luana.casais@gmail.com
Luciana da Silva Borges Doutora e professora – UFRA e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Horticultura da Amazônia (Hortizon) e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (NEA) luciana.borges@ufra.edu.br
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couve é uma hortaliça típica de outono-inverno, apresentando uma amplitude de temperatura que varia entre 16 e 22°C, com temperaturas mínimas de 5 a 10°C e máxima de 28°C. Temperaturas acima das recomendadas podem provocar prejuízos no desenvolvimento das plantas. Sua propagação pode ser realizada por sementes ou mudas. No método de propagação vegetativa recomenda-se colocar os brotos, após a retirada das folhas adultas, em saquinhos de plástico com 5,0 a 6,0 cm de diâmetro e 10 a 15 cm de altura, ou em bandejas, para que haja o enraizamento. Destaca-se que esse método é pouco utilizado atualmente, uma vez que as sementes de cultivares comerciais de couve
não produzem brotos.
Propagação Na propagação via sementes recomenda-se a utilização de bandejas de poliestireno expandido de 128 células, na qual as mudas estarão adequadas para transplante quando estiverem com quatro a seis pares de folhas definitivas, ou com 8,0 a 10 cm de altura. Após o preparo das mudas, as mesmas devem ser levadas a campo, sendo que o espaçamento recomendado para plantios comerciais é de 80 a 100 cm entrelinhas, e 50 a 70 cm entre plantas. O sistema de plantio em linhas simples é o mais utilizado, entretanto, alguns produtores optam pelo uso do sistema em
linhas duplas, no qual se utiliza o espaçamento de 80 a 100 cm entrelinhas duplas, e 40 a 50 cm entre plantas.
Recomendações Para que se tenha uma boa produção, recomenda-se a implantação de faixas de proteção com bananeiras, pupunheiras e outros palmitos, os quais, além de impedir ou minimizar a passagem de ventos, proporcionam uma renda extra ao produtor (Trani et al., 2015). Deve-se observar sempre as condições climáticas, pois o déficit hídrico pode provocar o murchamento das plantas, além de queimaduras nas folhas e brotos, podendo ocasionar até a morte das plantas. Em contrapartida, o excesso de umidade pode causar podridão nas raízes e o surgimento de doenças. Para a realização da adubação, recomenda-se a análise de solo, para que, com base nesta, seja prescrita a quantidade necessária de fertilizantes, levando sempre em consideração a necessidade da planta e o que já existe no solo. Pode-se utilizar a adubação orgânica. No caso de esterco bovino, é indicada a aplicação de 20 a 40 toneladas por hectare, ou 5,0 a 10 toneladas por hectare de cama de frango. Ambos devem ser bem preparados e aplicados cerca de 30 dias antes do plantio, para que assim seja possível garantir que os mesmos estarão bem compostados. Para o uso da adubação mineral, é importante o auxílio da análise de solo, e a mesma pode ser dividida em adubação de plantio e de cobertura. A de cobertura deve ser realizada a cada 15 ou 20 dias aplicando de 20 a 40 kg ha-1 de nitrogênio, 5,0 a 10 kg ha-1 de fósforo e 10 a 20 kg ha-1 de potássio, que devem ser fornecidos próximo às plantas. Além destes, é necessário a aplicação de micronutrientes, pois a couve é uma hortaliça exigente em boro e molibdênio. Os mesmos devem ser fornecidos juntamente com os fertilizantes de plantio, na dose de 1,0 a 2,5 kg ha-1, e é importante observar a quantidade já existente no solo e assim se fazer a complementação, pois doses altas podem ocasionar sérios problemas para a cultura, visto que são micronutrientes e as plantas necessitam dos mesmos em menores quantidades.
Visto de perto É importante, durante o cultivo, realizar o monitoramento nutricional das plantas por meio da análise foliar, e em seguida o controle de pragas e doenças e manejo de plantas daninhas, pois estes são fatores que, se não forem bem manejados, podem acarretar prejuízos à produção final.
importante realizar um bom preparo do terreno que será utilizado, para proporcionar o melhor ambiente para o desenvolvimento das plantas. O controle de plantas daninhas deve ser realizado sempre que necessário, pois em muitos solos há uma grande incidência destas plantas invasoras, que podem competir com o cultivo principal, diminuindo assim a produtividade.
Controle de pragas e doenças
Produtividade
Dentre os principais cuidados a serem tomados durante o cultivo da couve, destaca-se o controle de pragas e doenças, pois este é o fator que mais gera perdas durante o ciclo da cultura. Dentre as principais pragas que atacam a espécie, podemos destacar o pulgão, lagarta curuquerê, lagarta-mede-palmo, traça-das-crucíferas, mosca-branca, lesmas e caramujos, entre outros. Os mesmos podem causar severos danos, que acarretarão em uma grande perda econômica. Sendo assim, é preciso ficar atento e fazer o controle na hora certa, quando a praga ainda estiver no início e em baixa quantidade, sendo sempre recomendado o uso de inseticidas naturais. Porém, ao se atingir um nível alto de insetos, é necessário fazer o uso de produtos químicos para garantir o controle e a produção. Em relação às doenças, as que mais se destacam são a podridão negra, que provoca o amarelecimento do limbo foliar e o surgimento de manchas necróticas, e a podridão mole, que apresenta uma podridão úmida e mole na haste, a qual acaba destruindo o caule e levando à morte da planta. Ambas são causadas por bactérias e influenciadas pelas altas temperaturas e umidade do ar. Além destes problemas, podem haver danos causados por doenças fúngicas de solo e bacterioses. Sendo assim, é
O cultivo de espécies como a couve pode melhorar a produtividade da propriedade, principalmente se cultivada em consórcio com outras culturas, visto que haverá uma diversificação da produção e produtos diferentes para serem fornecidos durante o ano, garantindo assim uma maior rentabilidade. É uma espécie que tem ganhado destaque devido à grande procura dos consumidores pela mesma, pois é uma das hortaliças mais ricas em diversos nutrientes, além de apresentar ações anticancerígenas. A produtividade média da couve é de 3,0 a 5,0 kg de folhas por planta durante o ciclo de seis a oito meses (Trani et al., 2015). Sendo assim, a produtividade estimada é de 8.000 kg/ha.
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COUVE
Custo O custo de produção da couve é de aproximadamente R$ 8.000,00 por hectare, sendo a maior parte direcionada à mão de obra, com cerca de 27,5% do valor. O segundo maior valor é com os insumos agrícolas, em que se concentra cerca de 23,3% deste montante total. O preparo da área e tratos culturais correspondem a 20% deste total, e os 29,2% restantes são com custos com formação de mudas, arrendamento, caso tenha, entre outros.
Colheita A colheita da couve se inicia de dois a três meses após o transplante das mudas, sendo realizada a cada sete a 10 dias, quando são retiradas as folhas que estão bem desenvolvidas e com o tamanho exigido pelo mercado, que varia de 20 30 cm de comprimento. Após serem colhidas, juntam-se as folhas em maços com oito a 12 unidades.
Miriam Lins
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Investimento x retorno
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Os preços das hortaliças são muito variáveis durante o ano, pois são influenciados pela época de produção e pelo período chuvoso da região, entretanto, a couve possui um consumo estável dentro de grande parte das famílias e assim consegue ter seu valor estabilizado. A couve de folha é uma hortaliça muito consumida e bem aceita pelos consumidores brasileiros, logo, sua produção se torna de fácil escoamento no mercado local. Porém, por se tratar de um produto perecível, a logística acaba influenciando, pois se o transporte for a longas distâncias esta produção acaba ficando comprometida. Entretanto, é uma cultura que possui uma boa margem de lucro, em torno de 15%, podendo ser até maior, dependendo da forma e da época em que é comercializada. Atualmente, a comercialização predominante é em maços, com oito a 12 folhas, e seu preço pode variar de R$ 2,00 a R$ 4,00.
ORGÂNICOS
PRODUÇÃO DE BERINJELA ORGÂNICA Luana Keslley Nascimento Casais Engenheira agrônoma - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) luana.casais@gmail.com
Luciana da Silva Borges Doutora e professora – UFRA, Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Horticultura da Amazônia (Hortizon) e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (NEA) luciana.borges@ufra.edu.br
Por onde começar O plantio deve ser feito em locais com declividade de até 4% no terreno. Devem ser construídos canteiros de 1,0 m de largura com 0,2 m de altura. A distância entre os canteiros deve ficar entre 0,4 a 0,6 m. A forma mais cultivada é em fileiras simples, obedecendo um espaçamento que pode variar de 1,2 a 1,5 m entrelinhas e 0,6 a 1,0 m entre plantas, porém, deve-se atentar às condições do local de plantio. Pode ser feito o uso de mulching em associação com o cultivo protegido, evitando a proliferação de plantas dani-
nhas, além de obedecer a legislação vigente para produtos orgânicos.
Produção de mudas É importante que as mudas sejam feitas em bandejas em ambiente protegido, como viveiros ou casa de vegetação. O uso de bandejas de poliestireno expandido com 128 células é adequado. O substrato deve ser aerado e a nutrição balanceada para um bom desempenho das plantas em campo. Substratos alternativos, como a junção de terra preta (70%) e casca de arroz (30%), são adequados para produção de mudas de boa qua-
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mercado consumidor brasileiro tem, a cada dia, se tornado mais exigente quanto à qualidade do produto e preço de hortaliças como a berinjela, segundo afirma Antonini et al. (2002). Produtores vêm se modernizando e investindo em tecnologias que visem um melhor aproveitamento da cultura, a fim de obter cada vez mais uma produtividade elevada. Assim, investir no manejo orgânico tem se tornado tendência em meio aos produtores de diversos segmentos, por atrair um nicho de mercado cada dia mais crescente em todo o Brasil. Os Estados que mais produzem berinjela são Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, sendo São Paulo o maior produtor, com 46 mil toneladas e produtividade de 30 a 65 t ha-1 em cultivo no campo e 60 a 95 t ha-1 em cultivo protegido, tendo demanda crescente devidos às propriedades medicinais dos frutos, como redução do nível de colesterol e como fonte de sais minerais e vitaminas (Sfalcin, 2009; Bilibio et al., 2010; Zonta et al., 2010). Minas Gerais chega a uma produtividade de 25 a 70 t ha-1, quando é obedecida a exigência de adubação e manejo adequado na região, seguida do Estado do Rio de Janeiro, com uma produtividade de 20 a 30 t ha-1.
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ORGÂNICOS
lidade (Casais et al, 2019). Plantas de berinjela se adaptam melhor a temperaturas entre 18 e 30ºC e 80% de umidade relativa do ar. A irrigação deve ser regular e adequada. Não pode haver encharcamento ou seca nas mudas, pois essa fase é de suma importância para que haja plantas vigorosas. Devem ser realizadas duas vezes em dias mais frios até quatro vezes em dias quentes, nos horários amenos do dia, como início da manhã e fim de tarde. O transplante é feito quando as mudas apresentam quatro folhas definitivas para os canteiros, onde deve ser feito um procedimento de tutoramento dessas plantas, podendo ser com fitilhos, fio de arame ou estacas de bambu. No decorrer do crescimento das plantas é realizada a amarração dos ramos aos tutores.
Nutrição A adubação deve ser feita preferencialmente com resíduos orgânicos e substratos alternativos, como no caso do uso de coberturas mortas sob toda a área do
canteiro. Isso mantém certa umidade na planta e favorece o crescimento das raízes, melhorando o desempenho das plantas. Entretanto, é importante que o produtor se certifique que tais materiais utilizados são de procedência orgânica, sem que tenham exposição a produtos químicos.
Colheita O monitoramento da temperatura dentro da área de produção ajuda a evitar problemas como o abortamento de flores e frutos. A colheita inicia quando os frutos apresentam o tamanho de 15 a 20 cm de comprimento, no período de 45 a 60 dias após o transplante, conforme as condições ambientais do local de cultivo. O ponto de colheita é observado pelas características visuais da variedade e depende do tipo de fruto e coloração da cultivar. Os frutos devem estar com a coloração brilhante e polpa macia, e devem ser colhidos antes de completarem o seu ciclo de maturação.
Benefícios do cultivo orgânico Segundo dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006), o Brasil apresenta cerca de 90.497 produtores orgânicos. A Embrapa (2017) diz que em regiões com condições climáticas adversas, tais como chuvas, frio intenso e ventos, a proteção no cultivo de berinjela permite que se cultive praticamente o ano todo, principalmente quando aliado ao uso do mulching e adubação com resíduos alternativos. Este tipo de cultivo geralmente reduz o ataque de doenças e pragas, propiciando economia de insumos. Além disso, os frutos apresentaram uma aparência melhor e boa qualidade. O período da colheita é prolongado por mais tempo. O clima favorável ao desenvolvimento da berinjela é tipicamente tropical, favorecido pelo calor (Filgueira, 2000). A maior limitação para o cultivo é a umidade no solo inadequada durante seu ciclo, como ocorre na maioria das hortaliças (Marouelli et al., 1996). A sua produção em estufa permite o controle mais eficaz, principalmente quanto à deriva de produtos químicos pulverizados em lavouras que porventura possam estar próximas ao plantio das berinjelas. Quando há a utilização de fertirrigação, que pode ser feita com a utilização de esterco bovino ou cama de aviário, a produtividade é elevada.
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Orgânico + plantio direto Associado à produção orgânica de alimentos, o uso do plantio direto tem recebido especial atenção em função do seu alto potencial de recuperação das propriedades físicas do solo relacionadas à sua capacidade de armazenamento de água (Obalum & Obi, 2010). Também as berinjelas híbridas vêm sendo amplamente utilizadas, principalmente por possuírem capacidade de resistência genética tanto na proliferação de doenças fúngicas quanto pelo seu maior vigor (Ribeiro et al., 1998).
Produtividade + rentabilidade Rocha et al. (2018) verificaram uma produtividade média de 55 ton/ha-1 durante os três primeiros meses produtivos. Tal produtividade se mostrou acima 26
ORGÂNICOS
da média, quando comparada com dados da Emater. Calculando-se uma lucratividade de 49% no primeiro ciclo de cultivo e de 89% no segundo ciclo, a menor lucratividade observada no primeiro ciclo se deu devido ao alto custo de implantação da cultura irrigada. Esta, entretanto, pode ser recuperada rapidamente ao longo dos próximos ciclos, sendo a condução da berinjela orgânica em plantio direto muito rentável, podendo vir a ser fonte de renda para pequenos agricultores.
Como nesta prática a utilização de agrotóxicos e adubação química sintética não é permitida, a produção orgânica apresenta grandes desafios em relação ao cultivo convencional. Raigón et al. (2010) afirmam que a cultura da berinjela se adapta bem a esse tipo de manejo, por apresentar tolerância e resistência a muitas pragas e doenças que afetam outras hortaliças da mesma família (Solanaceae). Não admitidos pela legislação federal Lei nº 10.831 de 2003, o uso de aditivos químicos, como adubos nitrogenados sintéticos e agrotóxicos, podem revelar uma grande dor de cabeça ao produtor iniciante na prática da agricultura orgânica, porém, que pode ser remediada com a sua adequação a algumas medidas preventivas. Outro erro bem frequente cometido por alguns produtores é não se atentarem quanto à legislação, pois a mesma dá aos produtores todas as diretrizes de cultivo para uma produção correta e aceitável, a fim de serem considerados produtos orgânicos. Deve-se considerar uma boa margem de distância entre o local de produção do produto aspirante a orgânico de outras plantações que fazem uso de insumos agroquímicos, pois a partir da deriva desses produtos pelo vento pode haver contaminação do cultivo das berinjelas, o que põe em risco a veracidade do produto orgânico. Além disso, todos os produtores orgânicos devem elaborar um Plano de Manejo Orgânico, que deve ser aprovado pela Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC), ou Organização de Controle Social (OCS) ao qual esteja vinculado,
onde devem constar de forma detalhada os insumos e práticas adotados em sua(s) unidade(s) de produção.
Custo Como se trata de uma técnica simples, não há altos gastos, e o produtor pode fazer uso de insumos alternativos encontrados na própria propriedade. O produtor também pode fazer uso de compostagens na adubação do plantio, utilizando todos os restos vegetais de culturas produzidas na área em união a outros elementos, como palha de arroz, caroço de açaí, terra preta e resíduos alimentícios. Isso pode gerar bons frutos, que mais tarde podem ser revendidos em mercados, supermercados e feiras, atraindo boa rentabilidade. No município de Tocantins, no ano de 2013 uma caixa com 12 quilos de be-
rinjela chegou a ser vendida por R$ 3,00, mas hoje chega a valer R$ 18,00, visto que em cultivo protegido podemos obter produtividade de até 55 ton/ha-1, gerando uma grande rentabilidade para o produtor, que gastará muito pouco com insumos. O cultivo de berinjela gera uma rentabilidade positiva aos produtores, sendo ela uma das maiores receitas com vendas registradas nas Ceasas no território nacional entre os anos de 2016 e 2018. Os custos de produção não são elevados, sendo alto apenas o investimento inicial quando há a utilização de estufas, no entanto, o cultivo em solo sob esta técnica é relativamente baixa. Quanto ao uso da técnica, aliado ao cultivo em estufa, grande parte dos problemas ocasionados pelo manejo são resolvidos elevando a produtividade e resultado em mais qualidade ao produto final.
Vantagens
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Desafios
Existem várias vantagens relacionadas à utilização da agricultura orgânica, como maior redução de custos com defensivos e fertilizantes, além da obtenção de grande produtividade, quando bem manejado, além de apresentar boa proteção do solo contra lixiviação. É uma técnica que apresenta um baixo custo inicial de implantação, e o produtor consegue obter um retorno rápido na intensificação da produção. O cultivo torna o produto com melhor aparência, segundo os consumidores, e de boa qualidade, além de reduzir drasticamente o gasto com produtos agroquímicos, resultando em um policiamento da economia nos insumos utilizados. 27
BETERRABA
ANÁLISES DE SOLO E FOLHA
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O CAMINHO PARA O CULTIVO DE BETERRABA Júlio César Ribeiro Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Ciência do Solo Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) jcragronomo@gmail.com Cyndi dos Santos Ferreira Graduanda em Agronomia - UFRRJ cyndiferreira@hotmail.com
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nálises de solo e folhas são fundamentais para o acompanhamento do desenvolvimento e manutenção da beterraba, pois tendo o conhecimento da qualidade do solo e da planta é possível estimar o desenvolvimento da cultura à quantidade de nutrientes e corretivos a serem empregados, de forma a atingir o máximo de produ28
tividade sem desperdícios de insumos. Para isso, é essencial conhecer os teores de nutrientes no tecido vegetal, assim como os teores disponíveis de nutrientes no solo que poderão ser extraídos pelas plantas sem que ocorram aplicações excessivas, que possam causar problemas nutricionais à cultura, afetando, consequentemente, a qualidade do produto, ou ainda, causando contaminação do solo e da água.
Detalhes que fazem a diferença A coleta de amostras de solo deve ser realizada de forma correta, de modo que representem as características químicas de cada área. Para isso, a área a ser
amostrada deve ser dividida em glebas homogêneas. Na divisão destas glebas, algumas características devem ser observadas, como o tipo de cobertura vegetal, mudanças na forma de relevo e drenagem do solo, diferença nas características do solo, destacando-se a cor e a textura, o histórico de uso da área, principalmente no que se refere ao uso de corretivos e adubos, além da finalidade agrícola da gleba. A partir da divisão das glebas, devem ser coletadas de 10 a 20 amostras simples por hectare numa profundidade de 0 - 20 cm, para formar uma amostra composta. Para que se tenha a máxima representatividade da área, os pontos de coleta devem ser estabelecidos por meio do caminhamento aleatório ou em zigue-zague
BETERRABA
o desenvolvimento das plantas, no período de 40 a 60 dias após plantio. Esta análise é essencial na avaliação do estado nutricional das plantas, pois apesar de possivelmente as plantas apresentarem bom aspecto visual, a deficiência de algum nutriente detectada pela análise química em laboratório pode afetar o desenvolvimento da cultura, não permitindo que as plantas expressem seu máximo potencial produtivo.
pela gleba. Após coletadas, as amostras de solo deverão ser identificadas de acordo com as glebas e enviadas a laboratório idôneo para realização das análises químicas. Contudo, para uma maior segurança em relação a uma produção de qualidade, vale destacar a diagnose foliar, que pode ser realizada de forma visual, a qual consiste em se comparar visualmente o aspecto de plantas com sintomas de deficiência nutricional às plantas nutricionalmente sadias; ou por meio de uma análise química laboratorial, que determina os teores de macro e micronutrientes no tecido vegetal, correspondendo a uma análise mais precisa. Para realizar a análise foliar laboratorial, é necessário que amostras de folhas (soma do pecíolo mais o limbo foliar) recém-maduras centrais, sejam coletadas da lavoura de forma representativa durante
A beterraba é uma espécie olerícola de grande importância, sendo as raízes o produto comercial de maior destaque. Em decorrência disso, é essencial a escolha da área de produção, visto que o desenvolvimento ideal da planta ocorre em solos de textura arenosa, dado que solos muito argilosos tendem a proporcionar maior ocorrência de raízes deformadas. Esta cultura é altamente exigente em relação à acidez do solo, sendo a faixa ideal de pH em torno de 6,0. Portanto, a prática de correção do solo com calagem (uso de calcário) deve ser realizada, se necessário, eliminando o alumínio tóxico, e melhorando a disponibilidade dos nutrientes no solo. A correção do solo deve ser realizada preferencialmente 60 dias antes do plantio, sendo a quantidade de calcário a ser aplicada relacionada à qualidade do produto e a necessidade conforme o resultado da análise de solo.
Produtividade - como alcançar o limite A beterraba pode ser produzida durante o ano todo em regiões com clima mais ameno, devendo-se evitar épocas mais quentes e chuvosas. Melhores produtividades geralmente são verificadas em épocas com temperaturas abaixo de 20°C e boa luminosidade, além de solos férteis, ricos em matéria orgânica, com boa drenagem e disponibilidade de água durante todo o seu ciclo. O plantio pode ser realizado por meio de sementes diretamente no campo ou por mudas com cinco a seis folhas, tendo a duração do ciclo de cultivo entre 60 e 70 dias, dependendo da cultivar utilizada. Após a implantação da cultura, alguns
Equilíbrio é essencial A adubação equilibrada é fundamental para o desenvolvimento adequado da cultura, possibilitando produtividades satisfatórias. Dentre os nutrientes mais exigidos, pode-se destacar o nitrogênio, elemento relacionado à expansão foliar e acúmulo de massa de folhas e raízes. A adubação nitrogenada no cultivo da beterraba deve ser realizada durante o plantio, e em cobertura. Para adubação em cobertura, é recomendável a aplicação do adubo de forma parcelada, sendo a primeira dose aplicada após o plantio das mudas, e a segunda dose 30 dias depois. Caso seja observado algum sintoma
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Orientações
visual de deficiência de nitrogênio, pode-se, ainda, aplicar mais uma dose do nutriente. De acordo com os resultados da análise de solo, se necessária a aplicação de fósforo, esta deve ser realizada toda durante o plantio das mudas, enquanto para o potássio, as doses devem ser parceladas, e realizadas juntamente com a aplicação do nitrogênio.
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cuidados devem ser atendidos, como manutenção da umidade por meio de irrigação, controle de pragas e doenças, e controle de plantas invasoras, visto que a convivência com elas pode resultar em redução da produtividade de até 80%, se presentes durante todo o ciclo da cultura. Com destaque e grande relevância no cenário mundial, a beterraba é atualmente uma das principais olerícolas cultivadas, sendo a análise foliar um importante parâmetro de avaliação nutricional das plantas, visando garantir seu pleno desenvolvimento e boa produção. No Brasil, estima-se que a área plantada de beterraba seja de aproximadamente 100.000 hectares, sendo cultivada principalmente nas regiões sudeste e sul, com uma produtividade esperada de 30 a 40 toneladas por hectare. Para uma melhor produtividade, outro aspecto a considerar, além das práticas citadas anteriormente, é o espaçamento ideal de plantio, podendo variar de 20 a 30 cm entre linhas e 5,0 a 10 cm entre plantas. Altas densidades de cultivo podem gerar competição por água e nutrientes, causando problemas no desenvolvimento das plantas e, consequentemente, na qualidade da produção.
Erros Os erros mais frequentes durante a produção de beterraba podem iniciar na coleta das amostras de solo e folhas. No que se refere à coleta das amostras de folhas, os erros geralmente estão associados ao alcance da representatividade das plantas, devendo a coleta ser realizada de forma aleatória na área cultivada. Com relação aos erros mais frequen-
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tes quanto à coleta de amostras de solo, estão associados ao alcance da representatividade da área, não atingindo um número suficiente de pontos coletados, e a distribuição dos pontos em toda área, sendo fundamental a divisão das glebas de forma representativa. Aliado a isso, é fundamental que o produtor limpe a superfície do solo nos pontos escolhidos para coleta, não utilizando, ainda, recipientes sujos para misturar e acondicionar as amostras, evitando, assim, possíveis contaminações que possam levar a interpretações equivocadas. Vale atentar à identificação do recipiente onde as amostras serão armazenadas, sendo importante apresentar algumas informações necessárias, como local coletado, propriedade, produtor e cidade, para assim evitar problemas de identificação das amostras.
Sem errar Erros como a escolha da cultivar e a época de plantio são ocorrentes, devendo-se optar por cultivares adaptadas às condições climáticas locais. No entanto, épocas do ano com temperaturas e pluviosidade elevadas podem proporcionar desenvolvimento insatisfatório da cultura, além de uma maior incidência de pragas e doenças. A escolha do espaçamento a ser adotado também é um fator importante, em virtude de um espaçamento maior influenciar no aumento de plantas invasoras, que consequentemente competem por água e nutrientes com a cultura da beterraba. Contudo, o espaçamento muito adensado pode gerar uma superpopulação de plantas, prejudicando o desenvolvimento
das raízes, indicando-se, de forma geral, espaçamentos entre 5,0 a 10 cm entre plantas e de 20 a 30 cm entre linhas, como já mencionado anteriormente. Como citado há pouco, o controle de plantas invasoras também é um erro frequente, sendo indispensável seu controle, principalmente entre 15 e 35 dias após o plantio das mudas de beterraba. O excesso de água no solo também pode afetar o desenvolvimento das plantas e a formação das raízes, devendo a irrigação ser realizada com parcimônia.
Investimento x retorno O cultivo de beterraba pode ser favorecido pelo conhecimento prévio das condições de fertilidade do solo e teores de nutrientes nas plantas. O investimento em análises de solo e folhas proporciona não só uma melhoria na produtividade, mas também um menor impacto ambiental, visto que possibilita a utilização racional dos insumos. Considerada uma prática simples, barata e de grande importância, essas análises representam o primeiro passo para o sucesso no cultivo de beterraba. A partir do resultado de análises de solo e folhas, o produtor pode realizar a aplicação de corretivos e fertilizantes nas quantidades necessárias e no momento adequado, o que, associado ao controle de plantas invasoras, pragas e doenças, possibilita o aumento da produtividade e retornos financeiros satisfatórios.
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VALOR AGREGADO GARANTIDO
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CRIAÇÃO DE CAMARÃO EM ESTUFAS
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Volnei Lanfredi Diretor operacional da Zanatta Estufas Agrícolas volnei@zanatta.com.br
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ma novidade que vem sendo adotada pelos produtores é o cultivo de camarão em sistema de bioflocos, ou seja, sistema intensivo de cultivo em estufas agrícolas. O método em cativeiro é responsável pela produção de 90 mil toneladas por ano do produto, enquanto a extrativa fica com 10 mil toneladas. Esse sistema economiza água e reduz o custo de produção em 30%.
Despesca do camarão marinho
O uso de estufas para a criação de camarões é uma realidade relativamente recente. Ela tem início com a chegada do vírus da mancha branca ao Brasil, o que obrigou os produtores de camarão em cativeiro a fazer investimentos e mudar a técnica de cultivo, visando o encurtamento dos ciclos nos cultivos extensivos, por meio do uso de berçários e raceways. Em paralelo, o cultivo em biofloco e o cultivo em ambiente protegido durante o ciclo todo passou a ser desenvolvido. O controle do ambiente poderia dar segurança ao produtor sobre o resultado dos seus esforços, ao mesmo tempo em que permitiria um adensamento da produção, reduzindo a área necessária, economizando água, melhorando o atendimento às exigências ambientais e possibilitaria uma regularidade no fornecimento durante o ano todo. Aos poucos essa realidade foi se consolidando, e hoje ela já pode ser vista na maioria das fazendas produtoras de camarão do Brasil.
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Aceitação
Mariana Holanda
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A técnica
Assim que se identificou a necessidade do uso de estufas para a cobertura de berçários, raceways e viveiros para produção de camarão no Brasil, a Zanatta, tradicional fornecedora de estufas com unidades distribuídas em todo o Brasil, passou a ser demandada de tais produtos. Vale salientar que essa demanda era por projetos um tanto diferentes daque-
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vezes mais do que as densidades aplicadas nos cultivos extensivos em cativeiro. Como consequência, a técnica permite economia de água porque não gera efluentes, ou gera um volume muito menor desses efluentes, o que também melhorou a técnica do ponto de vista ambiental. Por fim, o uso de estufas na produção de camarão também tem permitido o cultivo em regiões frias. Nesse caso, a produção pode ser feita mais perto do público consumidor, fornecendo assim um produto de melhor qualidade, muito embora os custos de produção possam ser mais elevados e por isso precisarem ser compensados pelo público consumidor em troca de um produto mais fresco.
dos. No entanto, algumas perguntas foram sendo respondidas com o passar do tempo, entre elas: Qual seria o melhor plástico para a cobertura das estufas? Quanta luz deveria passar por este plástico? Como controlar o ganho de temperatura da água de forma que ela não fique fria e nem ultrapasse os limites desejados pela técnica? Como balancear o controle de temperatura e de luz do ambiente? As estufas para água marinha e para água não marinha (muitas vezes doce) devem ser iguais? Todas eram perguntas que não tinham resposta, e vêm sendo obtidas de forma empírica pelo uso da técnica, que atualmente está em um bom estágio de desenvolvimento, mas que ainda pode e será melhorada.
O projeto
Investimento x retorno
Benefícios do sistema
O desenvolvimento de projetos de estufas para cultivo de camarão ainda está em movimento. Até pouco tempo não existia nenhuma experiência nesse sentido. Sendo assim, para que os projetos fossem iniciados, foi necessária a realização de benchmarking em outros países, onde algumas experiências já estavam sendo realizadas e a adaptação dessas experiências à realidade climática do nosso país. Foi somado a isso a experiência em fabricação de estufas para outros nichos de mercado e então, os primeiros projetos passaram a ser produzidos e instala-
O cultivo de camarão em estufas exige investimento, contudo, a segurança da produção é o que garante o retorno. Boa parte desses investimentos, principalmente a estufa, pode ser financiadascom taxas acessíveis e com prazos de pagamento de até 10 anos. A vida útil das boas estruturas é maior que isso, o que deixa o produtor em certo conforto para realizar o investimento. O camarão tem um ciclo curto, principalmente depois do uso dessas técnicas, o que garante um fluxo de entradas de caixa mais frequente e também significa mais segurança financeira para o produtor.
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Uma grande vantagem para o produtor de camarão que usa estufas em seu cultivo é a segurança. Com o uso dessa técnica o produtor passou a ter mais certeza dos resultados dos seus cultivos. Com ela foi possível produzir camarões maiores com melhor preço, além de o produtor não ficar tão exposto a uma possível necessidade de venda emergencial do produto, quando normalmente fica refém de pressão dos compradores que, sabendo da vulnerabilidade do produtor, pagam menos pelo produto. A criação de camarão em estufas também aumentou a produtividade, porque permitiu o encurtamento dos ciclos nos cultivos extensivos em cativeiro. Isso porque uma parte do ciclo pode ser desenvolvido em berçários e ou raceways (pequenas áreas cobertas com ambiente controlado), reduzindo assim o tempo que os camarões permanecem nos viveiros abertos, até que estejam prontos para comercialização. Isso aumentou o índice de sobrevivência após a chegada do vírus da mancha branca, aumentando o número de ciclos por ano, compensando a redução na densidade dos cultivos, que se tornou obrigatória diante dessa nova realidade. Além disso, nos cultivos intensivos durante o ciclo todo foi possível um forte adensamento da produção. Hoje se tem notícias no Brasil de cultivos com até 600 a 700 animais/m2 nas melhores fazendas, o que é dezenas de
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les já comercializados pela empresa para uso em outro nichos do mercado agrícola, o que obrigou a empresa a se aproximar dos produtores, entender suas necessidades e desenvolver novos projetos, visando atender da melhor maneira possível as necessidades dos produtores, não deixando de observar, no entanto, os cuidados e as necessidades técnicas construtivas para estufas, conhecidas pela empresa ao longo dos seus mais de 30 anos no mercado. Desde então, a Zanatta desenvolveu projetos e vem produzindo e comercializando estufas que lhe colocaram na vanguarda no fornecimento para a carcinicultura brasileira, contando hoje, em seu portfólio, com estruturas circulares e retangulares para cobertura de berçários, raceways e viveiros para produção nos mais diversos tamanhos.
Estufas montadas para cultivo de camarões 35
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INVESTIMENTO ATRAI OLHARES ATENTOS Diego Maia Rocha Biólogo e sócio-diretor da SynbiAqua Cultivos Aquáticos Ltda
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criação de camarão em estufas consiste na cobertura aérea do viveiro de engorda de camarão com o objetivo de proporcionar um aumento de temperatura na água do viveiro e amenizar as variações ocasionadas pelo ambiente natural (chuvas, variações bruscas de temperaturas e etc.). Ela se torna importante por trazer uma melhor ambiência para o meio de cultivo. A criação de camarão em estufas também se torna interessante pela maior possibilidade de êxito no cultivo. Nos últimos anos, por meio de trabalhos científicos, se identificou que com o aumento da temperatura da água os camarões tinham uma melhor resposta imunológica para enfrentar os desafios, especialmente ocasionados pelo vírus da mancha branca, que não prejudica a qualidade do camarão para o consumidor final, mas que vinha sendo responsável por grandes perdas nos últimos anos. Um dos principais benefícios da téc-
nica é a estabilidade do cultivo, com isso, é possível aumentar as concentrações de estocagens e, consequentemente, trazer um aumento de produtividade para o ciclo, pois com a elevação da temperatura a resposta de crescimento do camarão é mais rápida e o ciclo termina sendo mais curto.
Produtividade Em termos de produtividade, para avaliarmos o benefício do controle do sistema, podemos comparar com os viveiros que são abertos (sem cobertura aérea) e que sofrem mais variações. Atualmente, eles atingem 800 – 1.000 kg/ha/ciclo, enquanto os viveiros com coberturas, e que permitem sua produção mais intensiva, podem atingir entre 15.000 a 20.000 kg/ha/ciclo.
Erros e acertos Um dos erros mais comuns relacionados à criação de camarões em estufas está no mal dimensionamento das estruturas. É importante ter temperaturas até no máximo 32°C, mas comumente entre 29
- 31°C. Quando as estruturas são mal dimensionadas e ficam acima disso, é possível que outros problemas comecem a aparecer. É importante salientar que a cobertura é parte importante do projeto, mas tem que se avaliar o todo para que se possa atingir a melhor regularidade de resultados. O pacote tecnológico para cobertura de viveiros de camarões no Brasil é relativamente novo. Pode-se dizer que hoje, um dos erros mais comuns ainda começam na execução dos projetos.
Custo O custo ainda é relativamente alto, há uma variação de opções em modelos e qualidade que podem interferir nisso, mas falando por cima, algo que possa girar entre R$ 500.000 – R$ 800.000/ ha, apenas falando em compra e instalação de estrutura. Quanto ao custo-benefício, sem dúvidas que quando todos os fatores de implementação e produção estiverem bem alinhados, pela própria perspectiva de produtividade a relação de custo-benefício, aumenta bastante.
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APOSTA QUE DEU CERTO
Sistema de produção O sistema de produção adotado é dividido entre o semi-intensivo, em seis berçários e seis viveiros de engorda, carac-
terizados pela densidade de estocagem em torno de 40 cam/m2, e o super intensivo, em dois berçários e dois viveiros de engorda, com densidade de estocagem em torno de 200 cam/m2, ambos bifásicos, sendo a primeira fase em viveiros berçários de 500 m2 e a segunda em viveiros de engorda de 4.000 m2.
Manejo operacional As pós-larvas são adquiridas de larviculturas comerciais especializadas, estocadas e alimentadas com rações micro-extrusadas nos viveiros berçários por
aproximadamente 30 dias, quando são transferidas para os viveiros de engorda, com aproximadamente 1,0 g, onde continuarão a ser alimentadas com rações extrusadas por mais aproximadamente 90 dias, quando serão despescados com aproximadamente 15 gramas. Durante todo o tempo de cultivo são monitorados diariamente, e corrigidos, quando necessário, diversos parâmetros físico-químicos da água, como oxigênio dissolvido, temperatura, salinidade, pH, alcalinidade, amônia, nitrito, nitrato, cálcio, magnésio, potássio, fosfato e sílica.
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uiz Paulo Sampaio Henriques é diretor operacional da Expopesca Aquicultura, em Cascavel, no interior cearense. A área produtiva é de 5,6 ha, dividida em oito viveiros berçários de 500 m2, oito viveiros de engorda de 4.000 m2, duas bacias de recirculação de 7.000 m2 e duas bacias de tratamento de água, em uma área total de 52,9 ha.
Estufas Agrícolas Coberturas para Tanques de Aquicultura Filmes e Telas Agrícolas Sistemas de Automação, Climatização e Irrigação para estufas
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Expopesca
Expopesca
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Na Expopesca Aquicultura a área produtiva é de 5,6 ha, dividida em oito viveiros berçários de 500 m2, oito de engorda de 4.000 m2, duas bacias de recirculação de 7.000 m2 e duas de tratamento de água
Ainda, é quantificado semanalmente o número de cada espécie de algas e bactérias patogênicas para nortear os protocolos de fertilizações e/ou inoculações na água, visando fomentar a supressão do que é ruim pelo que é bom, para manter um ambiente saudável e o bem-estar dos animais, avaliados também semanalmente por um protocolo de análise de desempenho zootécnico e sanidade.
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Resultados zootécnicos A produtividade média nos viveiros do sistema semi-intensivo é em torno de 4,0 ton/ha/ciclo, resultado de uma densidade de estocagem em torno de 40 cam/m2, sobrevivência final em torno de 65%, peso médio final em torno de 15 gramas e nos viveiros super intensivos é em torno de 20 ton/ha/ciclo, resultado de uma densidade de estocagem em torno de 200 cam/m2, sobrevivência final em torno de 65%, peso médio final em torno de 15 gramas. O fator de conversão alimentar (FCA) gira em torno de 1,5:1 em ambos os sistemas.
Espécie cultivada A espécie cultivada é o Litopenaeus vannamei, originária no Pacífico, e a mais cultivada atualmente em todo o mundo pela rusticidade, bom desempenho em 38
ganho de peso e adaptação a qualquer sistema de cultivo, com baixa demanda nutricional por proteína de origem animal, quando comparada às outras espécies.
Incrementos tecnológicos Em ambos os sistemas de cultivo são utilizados aeradores mecânicos do tipo paddle wheel de 2,0 cv de potência, diferenciados apenas na quantidade e tempo de funcionamento. Nos berçários e viveiros de engordas semi-intensivos são utilizados dois e oito aeradores, respectivamente, das 20h30 às 06h30. Já nos berçários e viveiros de engordas super intensivos dois e 12 aeradores são utilizados, por 24 horas, todos dispostos lateralmente, cumprindo, além do objetivo de dissolver oxigênio na água, a criação de uma correnteza circular, carreando toda a matéria orgânica provinda dos restos de rações, fezes, algas mortas e etc. para o centro do viveiro de formato cônico, onde um dreno central os retira por meio de até 12 purgas de dois a cinco minutos por dia. Quanto mais avançado o cultivo, maior a necessidade de retirar os excessos de matéria orgânica produzidos pelo sistema. Ainda como forma de facilitar essa retirada de matéria orgânica, bem como possibilitar uma limpeza e desinfecção perfeita entre os ciclos de cultivos, os fundos e paredes dos tanques são
cobertos com uma geomembrana do tipo PEAD de 1,0 mm de espessura. Os berçários e viveiros super intensivos são ainda cobertos por estufas de filme plástico, do tipo green house, com o objetivo de manter a temperatura acima de 29ºC e um gradiente de variação não maior que 10, quesito indispensável e extremamente eficiente para a viabilização de uma estocagem nessa grandeza de densidade, frente a uma enfermidade que nos assola desde 2014, conhecida popularmente como vírus da mancha branca.
Comercialização A comercialização é feita da mesma forma que pela maioria dos produtores do produto fresco, negociando antecipadamente a despesca para um comprador que leva o gelo, as basquetas e um caminhão frigorífico para acondicionamento do produto para o transporte, que na maior parte se destina aos mercados atacadistas de pescados frescos ou indústrias de processamento do Sul e Sudeste do País. O sucesso depende de muita dedicação na busca pelo equilíbrio do tripé genética, nutrição e manejo e muito controle em todos os processos da produção. Lembrando que não existe um momento mais ou menos crítico - todos são importantes e decisivos para o resultado final.
CAPA
VANTAGENS DA PRODUÇÃO DE CAMARÕES EM ESTUFA
450 CAMARÕES/M2
BARREIRA FÍSICA CONTRA ANIMAIS E DOENÇAS
BIOFLOCOS FONTE SUPLEMENTAR DE ALIMENTAÇÃO
SAFRAS MAIS DE UM CICLO POR ANO
ECONOMIA DE ÁGUA SEM NECESSIDADE DE RENOVAÇÕES OU TROCAS CONSTANTES
CLIMA TEMPERATURA CONSTANTE
PODE SER CULTIVADO EM CLIMAS FRIOS
EVITA SURTOS DE MANCHA BRANCA
MEIO AMBIENTE PRODUTIVIDADE ATÉ 20 VEZES SUPERIOR À CONVENCIONAL
MENOR ÁREA E PERDAS MAIS ANIMAIS/M2, COM BONS NÚMEROS DE PRODUÇÃO
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BIOFLOCOS MANTÊM A QUALIDADE DA ÁGUA DO SISTEMA
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Os bioflocos vistos no microscópio
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BIOFLOCOS
Fotos Bioflocos
COMO FUNCIONA A TÉCNICA
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Mariana Holanda Bióloga, doutora em Aquicultura e pós-doutoranda - Estação Marinha de Aquacultura, Universidade Federal do Rio Grande - EMA/FURG mariana.holandalima@gmail.com Gabriele Lara Bióloga, doutora em Aquicultura e professora da Pontifícia Universidad Católica de Valparaíso - Chile gabilara@gmail.com
Wilson Wasielesky Jr. Oceanólogo, doutor em Oceanografia biológica e professor - EMA/FURG manow@mikrus.com.br
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Brasil produz de 60 a 90 mil toneladas de camarão/ano em cerca de 20.000 hectares de viveiros de terra no sistema de cultivo tradicional, com três safras por ano. Considerando que houvesse a migração do sistema de cultivo tradicional para o sistema de bioflocos, seria possível al-
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cançar uma produtividade média, em estimativas conservadoras, de 30 ton/ha/ ano, ou seja, 600 mil ton/ano. O Brasil produziria mais de 100 vezes o que produz atualmente, elevando o patamar do País no cenário mundial da produção aquícola.
Entenda a viabilidade O Sistema de bioflocos, ou BFT System (Biofloc Technology - BFT) reduz em mais de 90% as trocas de água nos sistemas aquícolas, sem comprometer a qualidade da água. O princípio básico de um sistema de bioflocos é reciclar a amônia, principal composto nitrogenado excretado pelos peixes e camarões, por meio do estímulo a uma comunidade bacteriana, com a adição de uma fonte de carbono orgânico (como o melaço, por exemplo) ou ainda, mediante a transformação da amônia em um composto nitrogenado
menos tóxico para os organismos produzidos, o nitrato. Os bioflocos são constituídos, além de bactérias, por microalgas, fezes, exoesqueletos, restos de organismos mortos, protozoários, invertebrados, entre outros organismos, e uma vez formados, eles servem de suplemento alimentar para camarões.
Vantagens Há inúmeras vantagens em se produzir no sistema de bioflocos. Com a pouca ou nula renovação de água proporcionada pela reciclagem da amônia pelas bactérias, há diminuição das despesas de bombeamento de água na ordem de 30%, além de gerar menor impacto ambiental pelo menor uso de água e menor descarte de efluentes. As densidades de estocagem neste tipo de cultivo são mais elevadas, fazendo com que seja possível o cultivo em meno-
CAPA
Alimento constante Como pode ser um suplemento alimentar, uma outra vantagem do sistema de bioflocos é a disponibilidade de alimento natural aos animais cultivados 24 horas por dia, podendo diminuir a quantidade de proteína da ração dos camarões, bem como a quantidade total de alimento a ser oferecida. A comunidade microbiana presente nos bioflocos também pode atuar como um probiótico para o sistema, uma vez que, se um patógeno tentar se instalar no cultivo, os microrganismos presentes no sistema agirão como uma barreira biológica. Apesar de todas as vantagens, o sistema de bioflocos ainda não é uma realidade no Brasil. Algumas das desvantagens deste sistema contribuem para isso: os custos de instalação e produção em torno deste sistema ainda são elevados e tem-se um maior gasto de energia elétrica para manter um sistema de aeração que atenda os elevados níveis de oxigênio dissolvido que as elevadas densidades de estocagem demandam.
não é o único gargalo do sistema: a soma das equações que fazem o sistema funcionar perfeitamente, como manejo dos parâmetros físicos e químicos de qualidade da água, o controle dos níveis de compostos nitrogenados altamente tóxicos para os camarões, como o nitrito, os cálculos de taxas de arraçoamento, controle de sólidos suspensos no sistema, entre outros, não chegam nem perto de serem uma receita pronta. Por isso, o sistema de bioflocos exige mão de obra mais especializada contando com profissionais qualificados para manejar este sistema de produção.
Pesquisas Além de realizar pesquisas relevantes no âmbito nacional e internacional, o Projeto Camarão ministra o “Curso de cultivo de camarões marinhos em sistema de bioflocos”, que já está em sua 19ª edição. Este curso recebe profissionais, produtores, empresários e investidores de todo o Brasil e de vários outros países (como Uruguai, Argentina, Equador, Chile, Venezuela, Estados Unidos, Espanha), que têm o intuito de conhecer um pouco mais sobre o sistema, ou mesmo aprofundar seus conhecimentos.
Na ponta do lápis O cultivo de camarões em sistema de bioflocos em estufas requer maiores investimentos quando comparado ao siste-
ma de cultivo tradicional, porém, as análises econômicas indicam a viabilidade da adoção desta nova tecnologia. Os maiores custos relacionados ao cultivo super intensivo (cerca de 400 camarões/m³, com quatro ciclos/ano, por exemplo) no sistema de bioflocos, é a ração, que corresponde a cerca de 46% dos custos totais de produção. Já a energia elétrica, o segundo maior custo de produção, corresponde a aproximadamente 21% dos custos, mão de obra qualificada cerca de 8%, mão de obra geral cerca de 12%, e o restante dos valores corresponde a insumos gerais, como compra das pós-larvas, entre outros. Esses valores são uma média, que vão variar de região para região e podem ser adaptados para a realidade de cada produtor. As elevadas produtividades geradas neste sistema permitem retorno do investimento em poucos meses e um percentual de retorno próximo a 90%, o que é bastante atrativo. Além disso, o sistema é mais biosseguro, com risco de desenvolvimento de doenças menor, o que dá uma maior estabilidade ao produtor, visto que a mancha branca, uma doença viral que já dizimou e ainda dizima viveiros de camarões em todo o Brasil, é um gargalo para o desenvolvimento da carcinicultura no País. Além disso, o aproveitamento da água é maior e o aporte de efluente para o meio ambiente é significativamente menor, quando comparado ao sistema de cultivo tradicional.
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res áreas, com produtividades que podem chegar a até 10 kg/m³, ou seja, até 10 vezes a produtividade dos sistemas tradicionais. A diminuição dos tanques de cultivo possibilita sua cobertura por estufas agrícolas, o que viabiliza o aumento do número de safras em regiões de clima subtropical, como é o caso da região sul do Brasil, onde as temperaturas são baixas em grande parte do ano. Além de manter a temperatura mais estável no seu interior, o uso de estufas agrícolas contribui para o aumento da biossegurança nos cultivos em sistema de bioflocos, por impedir o acesso direto de predadores, como aves, por exemplo, aos tanques de cultivo. A combinação do reuso da água por alguns ciclos de produção possibilita o cultivo de camarões em regiões afastadas da costa, difundindo ainda mais a carcinicultura em áreas com menor especulação imobiliária, por exemplo, com terrenos mais baratos.
O uso de tecnologias que encarecem a produção no sistema de bioflocos ainda
Zanatta
Obstáculo
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DOENÇAS
ALERTA Fotos Jesus Tofoli
PATÓGENOS DE SOLO NA BATATEIRA
Maria Idaline Pessoa Cavalcanti Engenheira agrônoma e doutoranda em Ciência do Solo – Universidade Federal da Paraíba (UFPB) idalinepessoa@hotmail.com José Celson Braga Fernandes Engenheiro agrônomo, doutorando em Biocombustíveis UFU/UFVJM e Fundador da Agro+ celsonbraga@yahoo.com.br
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batateira é acometida por diversas doenças, sendo aquelas causadas por patógenos de solo as mais difíceis de serem manejadas. Entre elas, o cancro de rhizoctonia, ou rizoctoniose, causada pelo fungo de solo Rhizoctonia solani, está entre as mais comuns e que causam maiores prejuízos à lavoura. Este patógeno ocorre com frequência nas principais regiões produtoras de batata do mundo. Sua presença é mais comum em solos cultivados intensivamente e onde não se pratica a rotação de culturas com espécies não hospedeiras (Souza-Dias e Iamauti, 2005).
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Sintomas Como principais sintomas, tem-se a clorose e o enrolamento das folhas, normalmente mais severos na parte apical da planta, podendo confundir com os sintomas do vírus do enrolamento das folhas (PLRV). Outros sintomas reflexos são a formação de tubérculos aéreos, enfezamento geral da planta e murcha (Frank, 1990; Souza-Dias e Iamauti, 2005, Wale et al., 2008). Em algumas cultivares, pode ocorrer pigmentação de cor púrpura nas fo-
lhas, devido ao acúmulo de antocianina (Souza-Dias; Iamauti, 2005), sendo que este tipo de sintoma também pode ser causado pelo ataque de fitoplasma (Wale et al., 2008).
Regiões mais afetadas Devido à alta severidade do patógeno, ele pode atacar todos os órgãos da planta, inclusive sua parte aérea, quando em condições de alta umidade do ar. Entretanto, o ataque é mais comum nos órgãos subterrâneos da planta ou naqueles próximos ao solo. Quando o fungo ataca as brotações do tubérculo, pode causar o retardamento da emergência e/ou morte dos brotos; resultando em menor estande, desenvolvimento irregular das plantas e consequente redução na produção. Os brotos atacados podem emergir, apresentar cancros, que podem crescer, levando-os à morte (Wale et al., 2008; Zambolim et al, 2011). Nos tubérculos, este pode apresentar uma crosta preta, também chamada de mancha asfalto, que é resultante da formação de escleródios do patógeno na sua superfície. Tubérculos infectados podem ainda apresentar sintomas de rachaduras, malformação e necrose (Frank, 1990; Souza-Dias e Iamauti, 2005; Wale et al., 2008).
Formas de controle Por se tratar de doença causada por patógeno de solo e não existirem variedades de batata resistentes, seu controle
deve ser feito preferencialmente de modo preventivo. O controle de rizoctoniose em batata é muito difícil, pois o patógeno sobrevive no solo, em tubérculos e restos culturais sob a forma de hifas ou escleródios, possui ampla gama de plantas hospedeiras, elevada agressividade e grande diversidade genética (Tsror, 2010; Muzhinji et al., 2015). Além disso, cultivares de batata com níveis aceitáveis de resistência à doença não estão disponíveis (Tsror 2010) e a eficácia dos fungicidas disponíveis é variável (Campion et al., 2003; Lehtonen et al., 2008; Özer; Bayraktar, 2015) São recomendados o plantio em áreas isentas do patógeno ou sem histórico de ocorrência do mesmo, a rotação de cultura, o enterrio ou destruição de restos de cultura e o plantio raso (para favorecer a rápida emergência dos brotos). Como o patógeno é transmitido pelo tubérculo-semente, recomenda-se o uso de sementes sadias ou o seu tratamento com fungicidas (Frank, 1990; Nazareno; Jaccould FilHO, 2003; Souza-DiaS; Iamauti, 2005, Zambolin et al., 2011). Entretanto, o uso de semente sadia ou tratada não será eficiente se o plantio for feito em solo infestado (Nazareno; Jaccoud Filho, 2003, Frank, 1990).
Fique atento No Ministério da Agricultura existem dez fungicidas registrados para o controle da doença. Entretanto, o controle químico desta doença nem sempre é viável técnica e/ou economicamente (Zambolim et al., 2011). Produtos químicos para o controle
DOENÇAS
de doenças de plantas ainda são muito utilizados. No entanto, a sua limitação quanto à eficiência e à quantidade a ser utilizada para essa finalidade dificulta o controle. Isso porque a maioria dos produtos são eficientes apenas quando aplicados de forma preventiva. Além disso, produtos químicos, pelo seu alto poder residual, podem causar danos ambientais, podendo contaminar os solos e mananciais hídricos (Michereff et al., 2005). Os óleos essenciais atualmente apresentam uma grande importância devido à atividade antifúngica que é atribuída aos seus componentes, como carvacrol, acetato alfa-terpineol, cimene, timol, pinene e linalol, dos quais a atividade antimicrobiana é bem conhecida (Andrés et al., 2012; El-Mohamedy, 2017). Na busca por medidas de controle mais eficientes, a obtenção de óleos essenciais pode representar uma potencial ferramenta de proteção fitossanitária.
Sintomas de amarelecimento na lavoura de batata
Rizoctoniose nas hastes da batateira
NUTRIÇÃO
FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS MICRONUTRIENTES ESSENCIAIS E BENÉFICOS ÀS CULTURAS
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Regina Maria Quintão Lana Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Dayane Salinas Nagib Guimarães Mara Lúcia Martins Magela Doutorandas em Agronomia - UFU
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Luciana Nunes Gontijo Doutoranda em Produção Vegetal - UFU
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s micronutrientes são fundamentais para o crescimento das plantas, desempenhando papel importante nos processos bioquímicos, enzimáticos e fisiológicos. Atuam como constituintes das paredes celulares (B); das membranas celulares (B, Zn); de enzimas (Fe, Mn, Cu, Ni); ativadores de enzimas (Mn, Zn) e na fotossíntese (Fe, Cu, Mn, Cl). Também conferem resistência a estresses bióticos e abióticos, incluindo pragas e doenças (Mn, Zn e Mo); estão envolvidos na fase reprodutiva do crescimento das plantas; na determinação da produtividade e da qualidade das culturas (Cu, Mn, Zn e Bo) (KIRKBY; Römheld, 2007). Os micronutrientes são exigidos pe-
las plantas em concentrações muito baixas para adequado crescimento, aumento de produtividade e qualidade do produto. Entretanto, apresentam a mesma importância de essencialidade dos macronutrientes na nutrição das plantas. Os micronutrientes podem ser fornecidos para as culturas via solo ou foliar. Quando fornecidos via solo são colocados juntamente com a adubação NPK no plantio. O teor inadequado desses micronutrientes, além de reduzir o crescimento e produtividade das culturas, diminui a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes contendo macronutrientes.
Demanda As necessidades das culturas são supridas via rizosfera a partir das frações solúveis em água e trocáveis. A absorção ótima torna-se crítica em solos que apresentam condições adversas para a solubilização dos nutrientes (disponibilidade química) e para o crescimento vigoroso das raízes (disponibilidade espacial das plantas). Diante disso, torna-se necessário estabelecer estratégias para melhorar a absor-
ção dos micronutrientes pela rizosfera. Assim, a tecnologia dos fertilizantes organominerais pode melhorar a eficiência do manejo devido à fração orgânica ser rica em micronutrientes que são fornecidos em quantidades suficientes para promover efeitos positivos sobre o desenvolvimento das culturas. Além de disponibilizar micronutrientes, a matriz orgânica do organomineral possui em sua composição um alto teor de carbono, substâncias húmicas (ácido húmico, fúlvico e huminas), substâncias não húmicas (lipídeos, ácidos orgânicos de baixo peso molecular, carboidratos, proteínas e pigmentos), aminoácidos e equilíbrio no balanço hormonal auxina/citocinina.
Benefícios O fertilizante organomineral, por meio da sua fração orgânica bioestabilizada, promove melhorias nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Nas propriedades físicas, observam-se melhorias na estrutura do solo; aumento na agregação das partículas; diminui a densidade; aumenta a aeração, bem como a capacidade de infiltração e ar-
NUTRIÇÃO
Variações As concentrações dos micronutrientes podem variar em função do tipo de matéria orgânica (animal e vegetal) e do pH do solo. A maior disponibilidade destes encontra-se na faixa de pH de 5,5 a 7,0.
Boro Na planta, o boro é importante para os processos de divisão e alongamento celular; síntese de ácidos nucléicos; regulação hormonal; funcionamento de membranas; interfere na absorção e metabolismo de cálcio e na absorção de água (Brown et al., 2002; Reguera et al., 2009). Outras funções do B incluem o transporte de açúcar; a lignificação da parede celular; participa do metabolismo de carboidrato, do RNA, do ácido indolacético (AIA) e dos fenois; está relacionado à respiração, fixação de N2 e à diminuição da toxidade de Al (Kirkby; Römheld, 2007). De acordo com Malavolta (2006), o boro aumenta o pegamento de flores, granação e propicia menor esterilidade masculina e menor chochamento de grãos.
Os papéis do B na germinação do pólen e no crescimento do tubo polínico são particularmente importantes para a produção; também melhora a qualidade e aumenta a produtividade das culturas (Kirkby; Römheld, 2007). A deficiência de boro acarreta necrose preta de folhas jovens e gemas terminais. Os caules podem apresentar-se rígidos e quebradiços, com crescimento reduzido das raízes, abortamento floral e enrolamento dos folíolos (Kirkby; Römheld, 2007). Os fertilizantes organominerais possuem pequenas quantidades de B que podem minimizar esses efeitos negativos, o que reflete em aumento na produtividade. Silva et al. (1982), estudando a aplicação de boro em diferentes doses (0,5 a 2,0 kg ha-1 de B) no sulco de semeadura, obtiveram aumento médio de produtividade de aproximadamente 670 kg ha-1 de algodão em caroço. O nível de boro no solo considerado bom é de 0,61 - 0,90 mg dm-3 (Ribeiro at al., 1999).
Cobre O cobre desempenha papel fundamental na fotossíntese, respiração, desintoxicação de radicais superóxidos e lignificação. A deficiência de Cu diminui a atividade de enzimas importantes para a fotossíntese e reduz a taxa de fixação de CO2, de forma que o teor de amido e de carboidratos solúveis é diminuído, especialmente a sacarose.
A falta de suprimento de carboidratos para os nódulos das leguminosas causa crescimento restrito e deficiência de N na planta hospedeira (Kirkby; Römheld, 2007; Yruela, 2009). A deficiência de cobre no solo também acarreta atraso no florescimento e na senescência; afeta o crescimento reprodutivo (formação de grãos, sementes e frutos) muito mais que o crescimento vegetativo. A insuficiência de Cu leva ao acúmulo de fenóis e à diminuição da lignificação e de substâncias melanóticas. A formação da lignina significa uma barreira mecânica contra a entrada de organismos, assim como a produção de substâncias melanóticas que inibem a germinação de esporos e o crescimento fúngico, conferindo às plantas resistência às doenças (Kirkby; Römheld, 2007). Sintomas típicos de deficiência de Cu são clorose, manchas necróticas, distorção foliar e “dieback” (seca de ponteiro). Os sintomas ocorrem preferencialmente nas partes jovens das plantas. A presença excessiva de íons metálicos, como Fe, Mn e Al, reduz a disponibilidade de Cu para as plantas. Em solos arenosos, com baixos teores de matéria orgânica, pode-se observar deficiência de Cu em decorrência de perdas por lixiviação (Novais et al., 2007). A matéria orgânica presente nos organominerais complexa os íons tóxicos, garantindo uma maior disponibilidade dos nutrientes. O nível de cobre no solo considerado bom é de 1,3 - 1,8 mg dm-3 (Ribeiro at al., 1999).
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mazenamento da água. Nas características químicas, aumenta a superfície específica e capacidade de troca catiônica e aniônica do solo, ou seja, aumenta a “caixa” dos solos; o poder tampão, complexa substâncias tóxicas e metais pesados; quelatiza micronutrientes; reduz perdas por volatilização da ureia, lixiviação do N e K e fixação do P, além de diminuir a salinização por nutrientes. Nas propriedades biológicas, proporciona maior diversidade e proliferação de microrganismos benéficos. A matéria orgânica é um bioativador de solo, uma vez que fornece energia para os microrganismos já existentes. Sabe-se que aumentando os microrganismos benéficos do solo diminui a presença dos microrganismos fitopatogênicos, inclusive os nematoides. Essas melhorias no condicionamento do solo impulsionam o maior desenvolvimento das raízes e assim, aumenta a absorção de água e o aproveitamento dos macro e micronutrientes pelas culturas.
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NUTRIÇÃO
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Manganês
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O manganês é responsável por ativar várias enzimas nas células vegetais. Dentre elas, as descarboxilases e desidrogenases envolvidas no ciclo do ácido cítrico. Sua função mais bem definida está sua participação no transporte de elétrons e na quebra da molécula de água na fotossíntese (Armstrong, 2008). O principal sintoma da deficiência de manganês é a clorose entre as nervuras nas folhas novas. Esse sintoma se assemelha ao de Mg, entretanto, os sintomas da deficiência de Mg aparecem primeiro nas folhas velhas. Outra consequência importante decorrente da deficiência de manganês é a diminuição da viabilidade do pólen (Kirkby; Römheld, 2007). O nível de Mn no solo considerado bom varia de 9 a 12 mg dm-3 (Ribeiro at al., 1999).
O zinco é exigido para a biossíntese de clorofila por atuar como cofator enzimático, sendo fundamental para a atividade de regulação e estabilização da estrutura proteica (Broadley, et al., 2007). Também faz parte de várias enzimas, como as relacionadas com a síntese do aminoácido triptofano (Santos, 2004). Devido ao Zn manter a estrutura, a integridade e permeabilidade da membrana, também protege a planta contra vários patógenos. Os sintomas da deficiência de Zn são caracterizados pela redução do crescimento dos internódios e ocorrência de plantas enfezadas. As plantas apresentam um hábito de crescimento rosetado, no qual as folhas mostram diminuição da expansão foliar (folhas pequenas), ficam retorcidas
e com margens enrugadas, formando um agrupamento circular. A falta de Zn inclui efeitos negativos sobre a produção de carboidratos, proteínas, auxinas e compromete a integridade das membranas. Também diminui a fotossíntese devido ao aumento da oxidação de lipídios nas folhas, que leva à destruição da clorofila, necrose e crescimento atrofiado (Kirkby; Römheld, 2007). A deficiência de Zn está intimamente relacionada com o metabolismo de N. Observa-se, também, que a concentração de proteínas é diminuída e a de aminoácidos é aumentada (Kirkby; Römheld, 2007). Os fertilizantes organominerais contêm Zn em sua formulação. Além de aumentar a eficiência do fertilizante mineral, a matriz orgânica pode suprir as necessidades de Zn da cultura durante todo o
NUTRIÇÃO
seu ciclo de desenvolvimento, evitando os prejuízos causados pela sua ausência. Concentrações críticas de deficiência para Zn nos tecidos encontram-se entre 15 mg kg-1 e 30 mg kg-1 e podem ser maiores em plantas com alto teor de P. Isso porque a interação entre P/Zn é antagônica, e a alta concentração de um inibe a absorção do outro. Segundo Inocêncio et al. (2012), o fornecimento de Zn às plantas de soja por meio da aplicação à lanço no solo, via tratamento de sementes e/ou via foliar, proporcionam resultados positivos para o rendimento de grãos. O nível de Zn no solo considerado bom é de 1,6 a 2,2 mg dm-3 (Ribeiro at al., 1999).
Os fertilizantes organominerais contêm Zn em sua formulação
Este micronutriente está relacionado ao crescimento e desenvolvimento das plantas, influenciando no metabolismo do N por participar como cofator das enzimas nitrogenase e redutase do nitrato, tornando-se indispensável ao desenvolvimento das leguminosas (Gupta; Lipsett, 1981). O que se observa é que há uma relação estreita entre o suprimento de Mo, atividade da nitrato redutase e o crescimento das plantas. O fornecimento de molibdênio está intimamente associado com a utilização e metabolismo de N. A enzima nitrogenase (que contém molibdênio) é fundamental para a fixação biológica de N2. Esta função do Mo na fixação de N2 significa que a necessidade deste micronutriente nos nódulos das leguminosas e das não-leguminosas é muito alta (Kirkby; Römheld, 2007). As plantas com deficiência de Mo mostram aumento de compostos solúveis de N, apresentando sintomas de clorose, enrolamento das folhas para cima e manchas necróticas. Em milho, a deficiência de Mo causa o atraso no estádio de pendoamento, uma grande proporção de flores não se abre e a formação de pólen, tanto em termos de tamanho do grão quanto de viabilidade, é grandemente reduzida (Agarwala et al., 1979). Quando ocorre deficiência de Mo em grãos de milho, o risco de brotação prematura aumenta e este efeito é acentuado pela aplicação de N (Tanner, 1978).
Pereira et al. (1999) verificaram que a adubação com molibdênio no milho resultou em aumento de 6,7% no teor de proteína nos grãos.
Cobalto O Co é essencial para fixação simbiótica de N2 em soja, bem como para não leguminosas fixadoras de N2. Este micronutriente está presente nos nódulos na forma da co-enzima cobalamina (vitamina B12) e é de necessidade absoluta para Rhizobium e outros organismos fixadores de N2 (Kirkby; Römheld, 2007). O cobalto também é responsável pela síntese da enzima leghemoglobina, que participa da atividade dos nódulos em leguminosas (Faquin, 2005) e ativa diversas outras enzimas.
Sua deficiência pode ocasionar diminuição de N nas leguminosas devido à baixa fixação do N, resultando em baixo teor de proteína nos grãos, seguida de clorose total e de necrose nas folhas mais velhas (Sfredo; Oliveira 2010). Atualmente, a cultura da soja, em simbiose com as bactérias do gênero Bradyrhizobium sp. tem o nitrogênio suprido pela fixação biológica de N. Entretanto, para que esse processo seja eficiente, é necessário o fornecimento adequado de cobalto e molibdênio. Lana et al. (2009) observaram incremento no rendimento de grãos de soja com a aplicação de Co no tratamento de sementes, obtendo aumento de 32% com a dose de 1,08 g ha-1, aplicada em formulação de suspensão concentrada; e de 19% na dose de 4,13g ha-1, aplicada em formulação de solução líquida.
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Molibdênio
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Níquel
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O níquel é um elemento constituinte da urease e participa do processo de fixação biológica de nitrogênio como constituinte também da enzima hidrogenase. Está relacionado com a produção de etileno, resistência das plantas às doenças, germinação de sementes e na conservação pós-colheita de frutos (Reis et al., 2014). Ureta et al. (2005) demonstraram que o baixo nível de níquel nos solos agrícolas pode limitar a atividade da hidrogenase na simbiose de Rhizobium versus leguminosas. Os sintomas de deficiência de Ni se assemelham a folhas pequenas em forma de concha (“orelha-de-rato”) e madeira quebradiça (Kirkby; Römheld, 2007). Moraes et al. (2010), observaram, na cultura da soja, um incremento de 6,2 sc ha-1 na produtividade com o fornecimento de 50 g ha-1 de Ni. Esse aumento foi atribuído ao controle de doenças fúngicas exercido por esse nutriente. Brown et al. (1987); Checkai et al. (1986); Shimada et al. (1980) e Welch
(1981) verificaram resultados positivos do fornecimento de Ni no crescimento de diferentes culturas, tais como aveia, trigo e tomate. Trabalhos de Eskew et al. (1984) e Brown et al. (1987), com feijão (Vigna unguiculata L.) e cevada (Hordeum vulgare L.) confirmaram a essencialidade do Ni como micronutriente, após verificarem que as sementes das plantas de cevada cultivadas em solução nutritiva com ausência em Ni, após três gerações, eram inviáveis e não germinavam adequadamente (Reis et al., 2014).
Silício O silício proporciona efeitos benéficos relacionados principalmente à redução de estresses abióticos, como toxicidade por alumínio, por sais ou metais pesados, e bióticos, como doenças e pragas. Nas folhas, o Si acumula-se abaixo da cutícula formando uma camada de sílica que contribui para fortalecer a estrutura das plantas, reduzindo a perda de água e aumentando a resistência a pragas e doenças. O Si também mantém as folhas mais
eretas, propiciando melhor aproveitamento de luz solar e, consequentemente, maior aproveitamento fotossintético (Korndörfer, 2002). Em cana-de-açúcar, a deficiência de Si reduz o crescimento e proporciona sardas nas folhas; e em arroz diminui a produtividade (Kirkby; Römheld, 2007). Datnoff et al. (1991) observaram diminuição significativa na incidência da brusone (Pyricularia grisea) em arroz cultivado em solo orgânico com a aplicação das doses de 5, 10 e 15 t ha-1 de silicato de cálcio. A adubação silicatada na cana-de-açúcar aumentou a produtividade, com resultados positivos observados também em cana soca, o que sugere a inclusão do Si na adubação dessa cultura visando garantir maior produtividade (Camargo, 2014.; Korndörfer et al., 2002). Santos (2017) observou que a produção de colmo de cana-de-açúcar (TCH) aumentou linearmente com o aumento da dose de Si. Estudos conduzidos por Seebold et al. (2004) revelaram que a dose de 100 kg ha-1 de Si foi tão efetiva quanto as doses cheias de fungicidas no controle da brusone na folha e na paní-
NUTRIÇÃO
cula de arroz. Outros pesquisadores (Moraes et al., 2004, 2005; Kvendaras et al. 2007b; Kvendaras e Keeping, 2007a; Reynolds et al., 2009) demonstraram o aumento de resistência em plantas a insetos herbívoros e outros artrópodes com o uso de Si na adubação. Munaro e Simonetti (2016) observaram acréscimos de produtividade do milho na dose de 2,25 L ha-1 de K2SiO3, alcançando 3,7 t ha-1. O fornecimento de silício na cultura da batata, por meio de silicato, proporcionou maior altura de plantas, menor acamamento das hastes e maior produção de tubérculos comercializáveis (Pulz, 2008).
Selênio O selênio (Se) auxilia na proteção antioxidante das plantas, como observado por Cartes et al. (2005) em gramíneas, que constataram melhorias na qualidade da forragem devido à diminuição na senescência e maior persistência dos pastos. Segundo Turakainem et al. (2005), o selênio tem a propriedade de reforçar a capacidade das plantas de combater o estresse oxidativo causado por radicais livres de oxigênio. O Se pode ativar algumas enzimas, como a dismutase de superóxido, catalase, redutase da glutationa, peroxidase de guaiacol e peroxidase de ascorbato. Na presença de Se, essas enzimas reduzem a taxa de peroxidação lipídica e formação de peróxido de hidrogênio nas células de tecido vegetal, ou seja, ocorre a redução da senescência (Nardeli et al., 2015).
Titânio O titânio (Ti) influencia positivamente na germinação, rendimento da produção de biomassa, síntese de proteínas, absorção de nutrientes, ativação de enzimas antioxidantes, na fotossíntese e na qualidade de frutos (Bacilieri, 2015). Após a adição de Ti em trigo, milho e pimenta, observou-se aumento da atividade das enzimas catalase, peroxidase e nitrato redutase (Pais, 1983; Carvajal et al., 1994a). Nesse mesmo sentido, Lu et al. (2002) demonstraram que a combinação de nanopartículas de SiO2 e TiO2 aumentou a atividade de enzimas e do sistema antioxidante em plantas de soja, além de aumentar a absorção e utilização de água e nutrientes. Na cultura da aveia, a absorção de Ti, por meio de uma solução nutritiva, foi mais eficaz que a aplicação sobre as folhas, beneficiando parâmetros fisiológicos das plantas, como a maior produção de biomassa e teor de clorofila (Kuzel et al., 2003). Diante dos benefícios e essencialidade dos micronutrientes para o crescimento adequado das plantas, faz-se necessário melhorar a disponibilidade destes na nutrição. Nesse sentido, a tecnologia do fertilizante organomineral, além de agregar maior eficiência aos fertilizantes minerais, contribui com a sua rica composição para o suprimento destes micronutrientes. Assim, propicia redução de estresses bióticos e abióticos, maior sanidade das culturas, maior aproveitamento dos macro e micronutrientes, e consequentemente, maior produtividade e qualidade dos produtos agrícolas.
ORGÂNICOS
CHEGAM AO MERCADO SEMENTES DA ALFACE LITORÂNEA A BASE DA AGRICULTURA
J
á estão disponíveis no mercado as sementes da alface SCS374 Litorânea, desenvolvida pela Estação Experimental da Epagri em Itajaí (EEI) para cultivo orgânico. As sementes da hortaliça foram multiplicadas e serão distribuídas pela Isla Sementes, empresa campeã da chamada pública realizada pela Epagri no início do ano. Os interessados em cultivar a alface Litorânea podem comprar as sementes em casas agropecuárias ou no site da empresa: www.islasementes.com.br
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Fotos Epagri
Origem
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A cultivar é resultante de um extenso trabalho de seleção de plantas de alface, realizado dentro do sistema orgânico de cultivo, iniciado em 2008. O objetivo foi obter plantas mais produtivas, pendoamento tardio e menor suscetibilidade às doenças foliares, conforme explica Rafael Morales, pesquisador em Olericultura da Epagri, que liderou o projeto de de-
senvolvimento da hortaliça. “Como resultado dessa pesquisa foi obtida uma cultivar muito promissora, selecionada para o sistema orgânico, mas que serve para o produtor de alface convencional igualmente”, ressalta Morales. A produção da cultivar geralmente apresenta crescimento semiereto, peso médio de cabeça de 300 g no momento da colheita, diâmetro de cabeça de 40 cm e número médio de 44 folhas por planta. Seu ciclo tem em torno de 50 dias no verão e 60 no inverno. “Ao visitar lavouras de alface litorânea e ver a satisfação do agricultor com o aumento de produtividade, confirmo as expectativas iniciais e vislumbro um futuro muito promissor para a alface Litorânea. Fico seguro de saber que o produtor estará levando para casa uma cultivar que não deixa a desejar em nada quando comparada com outras cultivares disponíveis no mercado”, finaliza o pesquisador.
POTÁSSIO
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GOIABA
NUTRIÇÃO DA GOIABEIRA EM PRODUÇÃO
Marcelo de Souza Silva Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura e professor de Agronomia - FAEF – Garça – SP mrcsouza18@gmail.com
O
potássio é considerado um macronutriente essencial para as plantas cultivadas, sendo responsável por inúmeras funções no tecido vegetal, como a manutenção da organização celular, no que se refere à hidratação e permeabilidade, a participação no processo de fotossíntese e na fosforilação oxidativa. Ainda, auxilia na translocação de carboidratos, na abertura e fechamento dos estômatos, assim como no desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Pode-se destacar, ainda, a melhoria na resposta ao fósforo, na resistência a algu-
mas doenças e fortalecimento da parede celular com lignina. O potássio é um dos nutrientes mais requeridos pela cultura da goiabeira, pois está diretamente ligado ao crescimento da planta e melhoria dos frutos, auxiliando no aumento de peso do fruto, intensificação do sabor e aroma, além de ajudar a melhorar o tempo de armazenamento pós-colheita.
Equilíbrio A disponibilidade em níveis corretos desse nutriente no solo fará com que a planta aumente sua absorção de forma equilibrada, proporcionando assim menor suscetibilidade ao ataque de pragas e doenças, tolerância maior a variações hídricas, entre outros estresses. Porém, o excesso causa impacto negativo na qualidade dos frutos. Vale destacar que a cultura da goiabeira é muito exigente em potássio, sendo este nutriente o mais exportado pelos frutos. A disponibilidade em níveis corre-
tos desse nutriente no solo fará com que a planta aumente sua absorção de forma equilibrada, proporcionando assim maior tolerância ao ataque de pragas e doenças, além de contribuir com a maior resistência das goiabeiras a variações hídricas, entre outros estresses.
Benefícios proporcionados Os benefícios desse nutriente, juntamente com o nitrogênio, começam nas plantas ainda em desenvolvimento vegetativo, proporcionando aumento foliar e, por consequência, maior atividade fotossintética, ocasionando crescimento vegetativo mais acelerado. No que se refere ao fornecimento deste nutriente, deve ser dada atenção especial durante o estádio final de crescimento da planta (fase produtiva), quando as goiabeiras necessitam de maiores quantidades de potássio, porque nessa fase há maior translocação de carboidratos. O potássio tem grande participação
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Alexandre Dutra Villas Boas Graduando em Agronomia - Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral (FAEF, Garça - SP) fisicahoje@hotmail.com
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GOIABA
na ativação de algumas enzimas que são responsáveis pela manutenção da parede celular, diminuindo assim a perda de firmeza do fruto no período de amadurecimento e aumentando o tempo de armazenamento pós-colheita. É importante mencionar, também, que uma maior disponibilidade de potássio para as plantas promove mudanças metabólicas que implicam em maior produção do amido, celulose e proteínas, e menor concentração de nitrato, açúcares e aminoácidos nas plantas, que levam à lavoura uma maior tolerância a patógenos. Outros benefícios do potássio são a melhoria dos atributos de qualidade dos frutos; aumento nas propriedades organolépticas (conteúdo de aminoácidos, compostos aromáticos; coloração e sabor); aumento no conteúdo de compostos funcionais (vitamina C e outros antioxidantes), além das melhorias na conservação pós-colheita (maior tempo de vida dos produtos nas prateleiras). Além dessas, cito exemplos da melhor eficiência no uso de nitrogênio pelas plantas quando há adubação balancea-
da com potássio, incluindo efeitos sobre o ambiente, com menores perdas de nitrato por lixiviação.
Manejo Para ter aumento na produtividade e na qualidade dos frutos, é necessário um programa de adubação durante a fase de produção, no entanto, plantas com alta produtividade requerem bom estado nutricional desde a fase de formação do pomar. Dessa maneira, torna-se fundamental saber quais as fontes, concentrações e a melhor forma de aplicação do potássio para se obter os melhores resultados no campo. Um parâmetro de grande importância para a determinação correta da adubação é a fertilidade do solo. A concentração de K na solução do solo é pequena em relação à quantidade absorvida pela planta, tornando-se necessário uma transferência contínua entre as diferentes formas para suprir a demanda de K pela planta. Assim, as adubações realizadas devem ser compatíveis com a remoção pela
planta. É o caso do fornecimento da adubação potássica, que deve levar em conta alguns fatores, como a CTC do solo, quantidade de K disponível, forma predominante do K no solo (solúvel, trocável, não trocável e fixado), a temperatura, a umidade e manejo do solo. Para as variedades Rica e Paluma, o pesquisador William Natale sugere, no segundo ano de cultivo, a dose de 120 e 100 g planta-1 de K2O, respectivamente, se o solo apresentar teor entre 1,6 - 3,0 mmolc dm-3, enquanto a recomendação do Boletim 100 do IAC é de 60 g/planta de K2O. A aplicação prévia de matéria orgânica é interessante porque, além de favorecer com o aumento do K, eleva a CTC do solo, o que contribui para reduzir as perdas deste nutriente por lixiviação. O parcelamento da adubação potássica é recomendado devido à alta lixiviação do elemento e ainda devido ao índice salino do cloreto de potássio (KCl), que é de 116,3. O excesso de aplicação de KCl pode provocar a queima de raízes e o ferimento pode servir de porta de entrada para patógenos do solo.
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Adubação x produtividade A adequada adubação mineral da goiabeira é uma prática indispensável para garantir produtividades elevadas, sobretudo quanto ao fornecimento de K, dada a grande exigência das plantas por este nutriente. Já é do conhecimento de todos que a adubação potássica contribui para aumentar a produtividade da cultura e melhora a qualidade dos frutos, mas muito desses efeitos só é conseguido quando os níveis dos demais nutrientes também estão em equilíbrio, sobretudo os de nitrogênio.
Porteira adentro Os resultados de alguns estudos sugerem, para a adubação de pomares de goiabeiras, não especificando as cultivares, a faixa de 0,32 a 0,65 kg de K2O planta-1, em função das concentrações de K no solo e da produtividade esperada. Por outro lado, Natale et al. (1996) sugere, especificamente para a cultivar Pa-
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GOIABA
luma, a faixa de 0,15 a 1,5 kg de K2O planta-1, em função das concentrações de K no solo, da idade das plantas e da produtividade esperada do pomar. Esses mesmos pesquisadores relatam que os níveis de adubações potássicas podem ser recomendados para produtividades superiores a 100 t ha-1 ano-1. Avaliando os resultados práticos em campo, estudos indicam o uso de adubações de 0,30 kg de K2O planta-1, quando o solo se encontra com concentrações médias de K, para pomares de goiabeira ‘Paluma’, visando produtividades de até 60 t ha-1 ano-1, manejados no sistema de sequeiro, com uma colheita por ano. Neste mesmo sentido, existem pesquisas que já sugerem adubações de 0,64 a 0,78 kg de K2O planta-1, em função do espaçamento entre plantas, para pomares de goiaba para indústria, visando produtividades acima de 50 t ha-1.
Sem errar
Em lavouras já instaladas de goiabeira, o parcelamento de potássio deve ocorrer após a realização da poda de produção, sendo a primeira aplicação 20 a 30 dias da poda, a segunda no pleno florescimento, a terceira quando os frutos apresentarem tamanho médio de 1,5 cm e a quarta e última aplicação de potássio quando os frutos estiverem com tamanho médio de 2,0 a 3,0 cm de diâmetro, o que equivale a 150 dias da poda de produção. Deve-se ter atenção também com as concentrações elevadas de potássio no solo, que podem aumentar os riscos do efeito salino nos solos. Além disso, ele pode inibir a absorção de Ca e Mg, comprometendo funções fisiológicas das plantas.
Como evitar
Custo envolvido
Para evitar erros quanto às doses corretas de aplicação de potássio em cobertura na cultura da goiabeira, faz-se necessário a análise periódica da fertilidade do solo e diagnose nutricional das plantas, mediante análise foliar em laboratórios confiáveis.
Outra avaliação importante que auxilia na eficiência do manejo da adubação é a análise econômica. Vale destacar que, no caso dos fertilizantes potássicos, as importações desses adubos representam mais de 90% do volume total consumido no País, logo, inúmeros fatores
podem impactar o preço deste adubo no mercado nacional, e, consequentemente, no custo final de produção das culturas. Uma das fontes potássicas mais utilizadas é o KCl, adubo que teve um registro de aumento no seu valor de 49% entre março de 2018 e março de 2019, passando de R$ 1.321,50/ton para R$ 1.962,98/ton, o que impacta diretamente na sustentabilidade do agronegócio da goiaba.
Investimento x retorno É importante destacar que, a depender do destino de produção dos frutos de goiabeira, o preço pago pelo quilo da fruta é diferente, ou seja, o investimento em fontes de nutrientes deve levar em conta este contexto, uma vez que as goiabas no mercado in natura (fruta de mesa) são comercializadas ao preço médio de R$ 4,18, enquanto que o quilo da fruta destinada ao processamento varia de R$ 0,20 a R$ 0,50.
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Os fertilizantes potássicos são altamente solúveis e sua dinâmica no solo varia em função do tipo de solo e da sua CTC. Em solos argilosos, por exemplo, o potássio permanece relativamente próximo do ponto de aplicação. A lixiviação ocorre com maior intensidade nos solos de textura média a arenosa, os quais geralmente possuem CTC mais baixa. Quando as quantidades demandas de potássio excedem a 50 kg ha-1 de K2O, recomenda-se parcelar a adubação. Lembre-se, o potássio pode se perder facilmente por lixiviação, sobretudo em solos de textura mais leve, dessa forma, o parcelamento das doses aplicadas garante maior absorção pelas plantas. Vale destacar que muitos produtores não consideram, no momento do fornecimento do potássio, as perdas por lixiviação e por erosão, o que pode limitar a melhor resposta das plantas.
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TÉCNICAS
MELÃO
MANEJO CULTURAL EXIGE CRITÉRIOS Fotos Ludmila Brasil
Dyeme Antonio Vieira Bento Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas e pesquisador dyeme.bento@gmail.com Ludmila Oliveira Medeiros Brasil Graduanda em Engenharia Agronômica - Centro Universitário UNA ludmila.medeirosbrasil@gmail.com
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lgumas informações são necessárias antes de detalhar o manejo cultural do melão. As principais regiões produtoras no Brasil estão na região nordeste e são elas: a região de Mossoró, no Rio Grande do Norte, abrangendo ainda parte do Ceará, e a região do Vale do São Francisco, abrangendo parte dos Estados da Bahia e de Pernambuco. As diferentes condições, características de mercado e nível tecnológico empregado em cada uma dessas regiões irão influenciar o manejo da cultura. A distribuição da área cultivada se dá conforme o quadro a seguir: Área (ha) Local/safra 2018/19 Rio Grande do Norte/Ceará 12.300 (89%) Vale do São Francisco (BA/PE) 1.450 (11%) Total 13.750
Especialistas em melão No polo de Mossoró (RN), princi54
pal região produtora do País, o foco é o mercado externo, especialmente o europeu. Nesta região estão concentradas as principais empresas exportadoras da fruta, que possuem alto investimento e nível de tecnologia. Nessa região utilizam-se somente híbridos e os principais tipos de melão cultivado são o Gália, Pele de Sapo, Cantaloupe, Amarelo e Honey Dew. No Vale do São Francisco o foco é o mercado interno e o investimento em tecnologia é inferior. A utilização de sementes de híbridos vem crescendo, mas ainda se utilizam variedades de polinização aberta. O principal tipo de melão cultivado é o Amarelo, que possui maior aceitação no mercado brasileiro. O manejo cultural descrito a seguir terá como referência aquele que se emprega na região de Mossoró (RN), devido à sua maior expressão para a cultura do melão no Brasil. Na região mencionada o cultivo é realizado durante todo o ano, tanto por pequenos produtores quanto grandes empresas exportadoras. No período chuvoso (dezembro-maio) a área semeada é menor, devido à maior incidência de doenças. Na época seca (junho-novembro) a semeadura é intensificada e é quando se dá a maior produção, aproveitando a principal janela de exportação, que ocorre durante o inverno europeu.
Em detalhes O melão é cultivado em canteiros, sendo o campo organizado de forma padrão em talhões de oito linhas de 200 m, com 2,0 m entrelinhas; o espaçamento entre plantas dependerá do tipo a ser cultivado. É utilizado o mulching (plástico), de forma a favorecer a manutenção da umidade no solo e auxiliar no controle de plantas invasoras. É mais comum a realização do transplante de mudas, o que favorece o estabelecimento do número de plantas desejado, sendo possível, porém menos utilizada, a semeadura direta, cuja principal desvantagem é o ataque de roedores, que se alimentam das sementes. Desde o transplante até o florescimento os canteiros são recobertos por manta de TNT (tecido não tecido), protegendo as plantas do ataque de insetos, principalmente da mosca-minadora (Liriomyza trifolii) e da mosca-branca (Bemisia tabaci) inseto vetor do vírus do amarelão. Após a abertura das flores femininas, a cobertura de TNT é retirada para que ocorra a polinização, que é realizada por abelhas. O sistema de irrigação empregado é o de gotejamento, sendo as mangueiras (com gotejadores) instaladas sobre os canteiros, e em seguida cobertas com o mulching. A fertilização é realizada juntamente com a irrigação (fertirrigação).
TÉCNICAS
Tratos culturais Os tratos culturais, já mencionados anteriormente, podem ser resumidos no esquema a seguir: preparo do solo (aração, gradagem) – encanteiramento – instalação das mangueiras para fertirrigação – aplicação mecânica do mulching – transplante – controle químico (inseticida) – cobertura com TNT – controle químico de invasoras – retirada do TNT – monitoramento da polinização por abelhas – controle químico (inseticida) – controle manual de invasoras - colheita No preparo do solo para o cultivo do melão, a aração em profundidade de aproximadamente 30 cm é suficiente para o adequado desenvolvimento do sistema radicular. Em seguida, a gradagem deve ser realizada para o destorroamento, de forma a permitir a formação adequada do canteiro, que deve ter altura de aproximadamente 20 cm. Em seguida é instalado o sistema de irrigação, em que as mangueiras com gotejadores são colocadas sobre os canteiros. De forma geral, utilizam-se mangueiras com gotejadores espaçados a 30 cm, com vazão de 1,5 Lh-1. Conforme já mencionado, as áreas para cultivo do melão são organizadas em talhões com oito linhas de 200 m, com 2,0 m entrelinhas e diferentes espaçamentos en-
tre plantas, dependendo do tipo: 0,50 m para o Pele de Sapo, que é um melão de maior calibre (10.000 plantas ha-1) e 0,40 m (12.500 plantas ha-1) para os demais tipos. Para melões de calibre menor, como os Gálias e alguns Cantaloupes, pode-se adensar a 0,35 ou 0,30 m entre plantas. A irrigação é realizada em dois ou três turnos diários, sendo os valores de referência: 15,0 L m-2 antes do transplante, para garantir a adequada umidade do solo nessa operação, seguindo-se 2,0 L m-2 dia-1 até o início do florescimento; 4,0 L m-2 durante o florescimento e vingamento de frutos; 7,5 L m-2 durante o crescimento de frutos e 4,0 L m-2 na fase de maturação.
Transplante O transplante é realizado em média após 10 dias da semeadura, entretanto, pode variar de oito a 12 dias. A semeadura é feita em geral em bandejas de 200 células, com substrato fino de fibra de coco. Nos quatro primeiros dias após a semeadura, as bandejas são mantidas em ambiente com ausência de luz e com umidade acima dos 90%, para a emergência das plântulas. Após a emergência as bandejas são levadas à estufa ou telado, recebendo irrigação por aspersão até a emissão das duas primeiras folhas verdadeiras. No transplante, são feitas covas perfurando-se o mulching ao longo do canteiro no espaçamento desejado, com profundidade de aproximadamente 3,0 cm.
Polinização e fertilização A polinização do melão é realizada por abelhas, sendo necessárias em média cinco colmeias por hectare. Cerca de 25 dias após o transplante tem início a abertura das flores femininas, quando se retira a cobertura de TNT e inicia-se o monitoramento da atividade das abelhas, que é mais intensa no período da manhã. A fertilização é realizada durante os
turnos de irrigação, distribuída conforme mencionado, em dois ou três turnos diários, e varia conforme a fase da planta. Os valores de referência para os principais nutrientes (NPK) são mostrados na tabela 1.
Importante saber O controle químico de plantas invasoras deve ser realizado até a cobertura da área pela rama, durante a fase de crescimento de frutos; a partir daí o controle pode ser feito de forma manual, quando necessário. O ciclo da cultura depende do tipo de melão cultivado: 65 dias para Cantaloupes precoces e Gálias, 75 dias para Cantaloupes tardios, Amarelos e Honey Dews e 80 dias para Peles de Sapo, já incluindo-se o período médio de 10 dias para a produção da muda.
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O tipo e quantidade do fertilizante irão variar dependendo da fase da planta: crescimento inicial, florescimento, vingamento de fruto, crescimento de fruto e maturação. Até a etapa de vingamento de fruto é feito o controle químico de plantas invasoras; durante as etapas de crescimento de fruto e maturação, a rama já recobre praticamente toda a superfície do talhão e o controle pode ser feito de forma manual, se necessário. A colheita é realizada de forma manual ou semimecanizada e o ciclo, incluindo o período médio de 10 dias para a produção da muda, pode variar de 65 a 80 dias.
Tabela 1
NUTR/FASE N (kg ha-1 dia-1) P2O5 (kg ha-1 dia-1) K2O (kg ha-1 dia-1)
INICIAL 2,0 2,0 1,5
FLORESCIMENTO 2,0 3,0 2,5
VINGAMENTO 2,0 3,0 2,5
CRESC. DE FRUTO 4,0 2,0 4,0
MATURAÇÃO 1,0 1,0 6,5 55
TÉCNICAS
A polinização do melão é realizada por abelhas, sendo necessárias, em média, cinco colmeias por hectare
Tamanho x produtividade Inicialmente, é importante destacar que no mercado de melão a produtividade está ligada ao tamanho adequado do fruto por tipo, isto é, o que determinará a produtividade será o número total de caixas por hectare. Frutos muito acima ou abaixo do padrão para serem embalados em caixas para a exportação, para cada tipo, são considerados descartes. A avaliação da produtividade, portanto, deve considerar o tamanho ideal do fruto por tipo. De forma bastante generalizada, a tabela a seguir mostra a quanti-
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A principal região produtora de melão é o polo de Mossoró (RN)
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dade de frutos por planta e a variação em termos de kg/fruto que é aceita para exportação. Tipo Fruto/planta Amarelo 1-2 Cantaloupe 1-3 Gália 3-5 Honey Dew 1-2 Pele de Sapo 1-2
Kg/fruto 1,0-2,5 0,8-2,0 0,8-1,5 1,0-2,5 1,5-1,0
Na prática Os resultados práticos em campo referem-se à produção de frutos de alta
qualidade para o mercado, cumprindo os requisitos do exigente mercado externo em termos de produção, Brix (teor de açúcar) acima de 12, mas podendo chegar a 16 para os híbridos de mais alta performance, tamanho ideal para a exportação, que é realizada em caixas e requer o calibre adequado de fruto, bem como excelente pós-colheita, que deve ser de no mínimo 25 dias, para a chegada do fruto em boas condições de consumo na Europa. Há hoje, no mercado, sementes de híbridos de Gálias e Cantaloupes com excelente resistência à minadora e ao vírus do amarelão, bem como alguns híbridos de Pele de Sapo com boa resistência ao mesmo vírus. Esses materiais são fruto do melhoramento genético realizado por diversas empresas produtoras de sementes que desenvolvem atividades de pesquisa na região.
Custo x rentabilidade Dados de uma pesquisa de produção de melão no RN visando alta tecnologia mostram custo de produção inicial de R$ 16.700, considerando todo investimento necessário para a área de 1,0 hectare (10.000 m2), desde custos operacionais, insumos e mão de obra, visando colher frutos em aproximadamente 60 dias com peso médio de 1,6 kg, obtendo uma produção média de 30 toneladas por hectare.
TÉCNICAS
Com o valor de R$ 0,80 kg para o mercado interno, alcança-se um faturamento bruto de R$ 24.000/ha. Os valores apresentados podem variar em suas condições locais, tecnologia utilizada, custo de insumos e preço de mercado. O valor médio de venda foi baseado no mercado local de (RN), sem a inserção de atravessador.
Em evolução Os produtores de melão na região de Mossoró trabalham hoje com alto nível de profissionalismo, em um mercado de alto valor e risco, o que minimiza a existência de erros recorrentes. Fatores adversos geralmente ocorrem devido a falhas no monitoramento da lavoura, que deve ser diário. Como o ciclo do melão é curto, com desenvolvimento bastante rápido, problemas relacionados ao controle adequado da mosca minadora e mosca-branca devem ser identificados no início e imediatamente corrigidos, assim como deve ser rigoroso o monitoramento da atividade das abelhas e da ocorrência de deficiência ou excesso de nutrientes devido a falhas na fertirrigação. Todos os erros podem ser evitados com o acompanhamento diário do desenvolvimento das plantas no campo.
CITROS
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ALERTA PARA A PRODUÇÃO CITRÍCOLA
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Renato Bassanezi Pesquisador do Fundecitrus renato.bassanezi@fundecitrus.com.br
Marcelo Scapin Engenheiro agrônomo do Fundecitrus marcelo.scapin@fundecitrus.com.br
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ácaro Brevipalpus yothersi é responsável pela transmissão do vírus da leprose dos citros (CiLV-C), que causa a doença conhecida como leprose dos citros em laranjeiras. O vírus afeta ramos, folhas e frutos. Nas folhas, os sintomas se caracterizam por lesões cloróticas, lisas e arredondadas, de até três centímetros de diâmetro, geralmente próximas às nervuras, podendo apresentar anéis concêntricos de goma. Os sintomas aparecem nas duas faces da folha, reduzindo sua capacidade fotossintética e causando sua queda prematura. Nos ramos, as lesões assumem a cor marrom-avermelhada, se tornam irregulares e salientes. Em estágio mais avançado, as lesões secam e causam a ruptura da casca, podendo levar à seca e morte do ramo. Nos frutos verdes, observam-se lesões necróticas marrons, lisas ou ligeiramente
deprimidas, mais ou menos circulares, de cinco a 12 milímetros de diâmetro, com presença ocasional de rachaduras no centro e rodeadas por um halo amarelo. À medida que o fruto amadurece, as lesões se tornam mais escuras e deprimidas e podem ser rodeadas por um halo verde. São distribuídas por toda a superfície do fruto. A presença de várias delas, principalmente próximas ao pedúnculo, provocam a queda prematura dos frutos. A presença de lesões nos frutos também acarreta em depreciação do mesmo para a venda no mercado de fruta fresca. Plantas bem afetadas têm sua longevidade produtiva reduzida e a queda de frutos pode chegar a 100%. O custo para o controle do ácaro da leprose representa em torno de 5% do custo total com tratamentos fitossanitários em um pomar de laranja em produ-
ção. Geralmente, são realizadas de uma a três aplicações de acaricidas específicos para o controle por ano a um custo entre R$ 250,00 a R$ 500,00 por hectare por aplicação, considerando acaricida, maquinário e mão de obra.
Controle – como era feito Como o ácaro da leprose é bem pequeno (0,3 x 0,18 mm) e se encontra abrigado/escondido próximo às nervuras das folhas, em ranhuras nos ramos e em lesões próximas ao pedúnculo dos frutos, distribuídos tanto na parte externa como no interior da copa das plantas, é necessário que a calda acaricida pulverizada atinja toda a superfície dos órgãos da planta. Com o uso dos turbopulverizadores a partir da década de 90, usava-se um volume muito alto de calda, em torno de oito a 10 mil litros por hectare (média de 400
CITROS
Evolução do processo No início dos anos 2000, o Fundecitrus, em parceria com o pesquisador Hamilton Humberto Ramos, do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico de Campinas, iniciou as primeiras pesquisas para adequar um volume de calda para o controle do ácaro da leprose sem tanto desperdício. Para isso, foram desenvolvidos os turbopulverizadores com ramais especiais nos quais era possível colocar um número maior de pontas de pulverização que produzissem gotas finas (DMV entre 100 e 200 micrômetros) para permitir um bom molhamento do interior da copa da planta com um volume de calda menor. Os resultados de pesquisas mostraram que volumes entre 100 e 180 ml de calda por metro cúbico de copa, mesmo sem a necessidade de concentração do acaricida, apresentaram períodos de controle iguais aos volumes maiores.
Os resultados Sustentabilidade econômica e ambiental. É o que representou a adequação do volume de calda de oito a 10 mil para 2 a 3,5 mil litros por hectare, com um ganho de rendimento operacional significativo, pois reduziu de três a quatro vezes a necessidade de reabastecimento e economizou o uso de água e acaricida por hectare em até 70%, sem perder a eficiência de controle do ácaro da leprose. Além do uso adequado da tecnologia de aplicação de acaricidas para permitir uma boa deposição e cobertura em
toda planta, deve-se atentar para outros fatores que podem comprometer o sucesso do controle, como: clima quente e seco prolongado, amostragens do nível populacional do ácaro com intervalos acima de 14 dias e com menos unidades amostradas, atraso no controle após a detecção do nível de ação, tomada de ação de controle com níveis altos de infestação (>5% de órgãos com a presença do ácaro), adensamento exagerado entre as linhas de plantio, mistura de acaricida com outros produtos incompatíveis no tanque de pulverização e o uso frequente de inseticidas e fungicidas para o controle de outras pragas e doenças que estimulem a reprodução e sobrevivência do ácaro da leprose e reduzam a população dos seus inimigos naturais.
Manejo Além dos fatores biológicos, químicos, máquina, momento de aplicação e condições ambientais que influenciam diretamente na eficácia da pulverização, deve-se levar também em consideração, para determinar o volume de aplicação, as características das copas das plantas. Portanto, o volume de aplicação nunca deve ser um fator pré-definido. O volume de copa das plantas pode ser calcula-
do em função da altura, largura (diâmetro da copa no sentido da entrelinha) e profundidade (espaçamento entre plantas na linha) da copa. O volume de copa é obtido pela multiplicação dessas três médias. Em função do volume de uma árvore e número de plantas por hectare se obtém o volume de copa por hectare. Para o controle do ácaro da leprose dos citros, o volume de cada referência é de 100 a 150 ml/m³ de copa e de acordo com os resultados dos últimos estudos pode-se estender este limite para 180 ml. Essas referências não são regras, portanto, o citricultor deverá observar o resultado da adequação de volume por meio da avaliação de cobertura em papéis hidrossensíveis. Para o controle deste ácaro, a cobertura em papéis hidrossensíveis deve ser igual/superior a 40% na parte interna da copa das plantas. Detalhes do processo de regulagem e mais informações podem ser consultadas no Manual de Tecnologia de Aplicação do Fundecitrus, disponível no site www.fundecitrus.com.br, ou fazer o uso da ferramenta digital SPIF – Sistema de Pulverização Integrado do Fundecitrus, disponível no site e nas lojas de aplicativos.
Lavoura com alta infestação de ácaro da leprose
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a 500 ml de calda por metro cúbico de copa). Isso permitia um bom controle do ácaro da leprose, mas também causava grande desperdício de água, acaricida e combustível. Este volume era necessário porque os pulverizadores tinham poucas pontas de pulverização no seu ramal e produziam gotas grossas com diâmetro mediano volumétrico (DMV) acima de 200 micrômetros. Gotas grossas, geralmente, não conseguem desviar de obstáculos e são, em sua maioria, retidas na parte externa da copa da planta. Para atingir a parte interna, seria preciso usar um volume maior.
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VARIEDADES
NOVIDADES EM MUDAS DE
BANANA NANICA Miriam Lins
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Evaldo Tadeu Melo Gestor de Agronegócio, mestre e doutor em Fitotecnia - Universidade Federal de Lavras (UFLA) e servidor público federal evaldo.melo@dag.ufla.br
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s bananas nanicas pertencem ao subgrupo Cavendish. Elas são mais doces comparadas às do grupo prata, as únicas exportadas pelo Brasil e as mais aceitas pelo mercado internacional. As principais cultivares plantadas deste subgrupo no Brasil são: Nanica, Nanicão, Grande Naine e Williams. Essas cultivares são resistentes às raças 1 e 2 do Fusarium oxysporum, patógeno que causa o mal-do-panamá. As cultivares Nanica, Nanicão, Grande Naine e Williams não são só resistentes ao mal-do-panamá, como têm menor porte. Em vista de suportarem plantios mais
adensados, são mais precoces e muito utilizadas nas regiões de maior ocorrência de chuva. No entanto, são muito exigentes em termos de nutrientes, disponibilidade de água e técnicas de cultivo, quando se objetiva maior produtividade e qualidade do produto. Seus frutos apresentam ponta ou ápice em forma de gargalo pouco acentuado e são delgados, longos, encurvados e, quando maduros, muito doces e verde-amarelados. Além de exportáveis, são bastante utilizados no processamento industrial.
Propagação A propagação das mudas de bananeira do sub grupo Cavendish não diferem do processo das demais variedades. Há duas formas mais comuns para a obtenção de mudas de bananeira: no campo e in vitro. A técnica de hidroponia também começou a ser utilizada em
mudas de bananeira, porém, só na fase de aclimatização. A propagação no campo consiste basicamente na retirada de perfilhos (brotações), conhecidos popularmente como chifre, chifrinho ou chifrão, dependendo do porte, variando de 0,20 a 1,50 m de altura. Essas mudas apresentam folhas lanceoladas e um grande rizoma, o que proporciona boa reserva para o início do desenvolvimento a campo. Também pode ser utilizado o rizoma de bananeiras adultas, que é fracionado em até seis partes, aumentando assim o número de mudas, visto que na base de cada folha existe uma gema dormente, que é estimulada a brotar quando se faz este fracionamento (Santos-Serejo et al., 2016). Entretanto, estas formas de propagação não produzem um grande número de mudas, sendo bastante utilizada apenas por pequenos produtores. Além
VARIEDADES
disto, se o bananal que fornece as mudas estiver com alguma praga ou doença, estas serão transmitidas ao novo plantio. Sendo assim, atualmente a maioria dos bananais têm sido implantados com mudas provenientes da propagação in vitro, ou micropropagação. Esta técnica possibilita a produção em larga escala, além de as mudas serem isentas de pragas e doenças. Neste sistema, as matrizes que fornecerão as mudas são indexadas, ou seja, testadas para garantir sua sanidade. Após este teste é retirada uma gema do rizoma e levada para o laboratório, onde após seu estabelecimento in vitro são utilizados fitorreguladores à base de citocinina para estimular uma superbrotação. Então, é feita a separação destes brotos e cada um será uma nova muda que voltará a se multiplicar, repetindo esse processo por até cinco ciclos. Em seguida, esses brotos são estimulados com fitorreguladores à base de auxina a emitirem raízes.
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Estas mudas inicialmente apresentam um custo maior para o produtor, em torno de R$ 2,10/muda, visto que as oriundas de perfilho podem ser produzidas na propriedade, praticamente sem custo. No entanto, em longo prazo as mudas micropropagadas apresentam um custo-benefício melhor, devido à uniformidade e sanidade que proporcionam ao bananal. As mudas são a base do plantio, carregando todo o potencial produtivo da lavoura, assim, todo esforço deve ser feito pelo produtor para adquirir mudas saudáveis e vigorosas, que possam garantir um bom retorno financeiro à sua atividade.
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Custo envolvido
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Após a multiplicação em laboratório, as mudas são transferidas para bandejas com substrato esterilizado para aclimatização, onde permanecem por aproximadamente 40 dias, até atingirem cerca de 30 cm, quando são enviadas aos produtores. Os laboratórios que produzem estas mudas, também chamados de “biofábricas”, devem possuir Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas) e são fiscalizados pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Com o intuito de reduzir o tempo de produção e o custo das mudas micropropagadas, novas tecnologias têm sido avaliadas na fase de aclimatização. O sistema hidropônico apresentou bons resultados, reduzindo o tempo de aclimatização para 18 dias, e com isso mais ciclos podem ser produzidos com a mesma estrutura, o que reduz o custo de produção. Neste sistema, a fertilização das mudas é feita via solução nutritiva, que é bombeada para as bancadas, circula pelas raízes e volta por gravidade para o reservatório, circulação que ocorre a cada 15 minutos (Toyosumi 2019).
Sebastião Silva
A próxima fase
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FRUTAS
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O QUE VOCÊ AINDA NÃO SABE SOBRE A ATIVIDADE Aike Anneliese Kretzschmar aike.kretzschmar@udesc.br
Leo Rufato Engenheiros agrônomos, doutores e professores de Fruticultura - CAV/ UDESC
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produção brasileira de maçãs na safra 2017/18 foi de 1.094.116 toneladas. Na safra 2018/19 este valor alcançou 1.258.000 toneladas. Nas unidades federativas, 603,29 mil toneladas foram produzidas no RS, 586,47 mil toneladas em Santa Catarina, 26,52 mil toneladas no Paraná e 7,03 mil toneladas nos demais Estados (LSPA/IBGE). Para a safra 2019/20, há indícios de que não irá ultrapassar a cifra de 1.100.000 ton, em virtude do baixo calibre da fruta. O Brasil participa com 1,34% da produção mundial de maçãs, situando-se entre os 10 maiores produtores da fruta no mundo, perdendo apenas para a China (que detém 52% da produção mundial), EUA, Turquia, Irã, Itália, França, Polônia, Rússia e Argentina. A produtividade varia muito em função de clima, sistema de produção e tec-
nologias utilizadas. A média brasileira fica em torno de 40 a 50 ton/ha, mas esta engloba pomares jovens, que ainda não produzem, bem como áreas velhas, em declínio de produção, ou menos tecnificadas. Desta forma, pode-se afirmar que as produtividades podem chegar a até 80 ton/ha nas principais regiões produtoras do Brasil.
Os principais Estados produtores são todos do Sul do Brasil. Santa Catarina lidera com 52,6%, seguida de perto pelo Rio Grande do Sul, com 44,8% e em terceiro o Paraná, com 2,6%. Este quadro foi alterado na safra 2019, sendo que o Rio Grande do Sul passou a ser o primeiro produtor nacional da fruta. A serra catarinense, onde despontam o município de São Joaquim e a variedade Fuji, segundo as últimas informações, continua a registrar crescimento na área cultivada com a fruta.
bilizada ao longo dos últimos anos, com pouca ampliação de área. Os novos plantios referem-se, em sua maioria, à reconversão de pomares, de forma que a produção tem pouca variação anual. Apesar disto, se considerarmos a América do Sul como um todo, o Brasil é o único país onde a produção continua se expandindo. Os três Estados produtores somam atualmente 33.000 hectares. O mercado de trabalho no segmento oferece oportunidades a mais de 49 mil pessoas, e outras 98 mil colocações indiretas, perfazendo 148 mil empregos gerados. Levantamentos feitos pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) mostram que a média de participação de cultivares na produção brasileira de maçã, nos últimos cinco anos, foi de 56% do grupo Gala; 39% de Fuji e 6% de outros. Esta proporção varia conforme a região, sendo que em São Joaquim as maçãs do grupo Fuji representam cerca de 60% da produção, contra 40% do grupo Gala.
Crescimento
Sazonalidade
Regiões produtoras
A produção encontra-se quase esta-
A maçã produz anualmente, e a sa-
FRUTAS
Exportação e importação O Brasil exportou 30,79 ton em 2016, 55,44 ton em 2017 e 71,0 toneladas de maçãs em 2018, para 66 países do mundo, entre os quais Bangladesh (mercado recente), Rússia, Irlanda, Portugal, Reino Unido, Índia, França, Países Baixos, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Omã e Suécia. Além da fruta “in natura”, exportou também o suco da fruta para 49 países, salientando-se Estados Unidos (com quase 63% do total), além de Japão e Alemanha, bem como África do Sul. Quanto às importações da fruta, registrou-se diminuição: 4,3% na quantidade e 7,6% nos valores pagos. O produto procedeu em especial do Chile e da Argentina.
Custo de produção O custo de produção varia muito em função do sistema de plantio, densidade, tecnologia empregada, mão de obra, cobertura anti-granizo, infraestrutura, equipamentos e benfeitorias, entre outros fatores. Atualmente, depen-
dendo do sistema de produção utilizado, os custos de implantação podem variar de R$ 49.995,50 até R$ 158.355,70 por hectare.
Rentabilidade A rentabilidade vai depender primeiramente da qualidade da fruta produzida. Mercados mais exigentes remuneram melhor frutas de alta qualidade. Um pomar produz, em média, 35% de maçãs Cat 1, 25% de maçãs Cat 2, 20% maçãs Cat 3 e 20% maçãs tipo indús-
tria. Este percentual também pode variar em função do sistema de produção escolhido, bem como das condições climáticas de cada ano. Se considerarmos um pomar que produza 80 ton/ha, com 35% de frutas Cat 1, (28 ton), com os valores pagos por quilo variando de R$ 1,48 a R$ 2,30, podemos obter de R$ 41.440,00 a R$ 64.400,00, somente com esta categoria (Lazzarotto, 2018). Entretanto, há que se considerar que estes percentuais variam, conforme dito, bem como a produtividade média por hectare.
Tendências A safra do ciclo 2018/19 foi menor, com uma redução de volume em torno de 10% em relação à temporada anterior, sendo esta redução mais intensa na cultivar Gala. Entretanto, a fruta manteve as características qualitativas, e houve um aumento do calibre, com frutas maiores e mais coloridas. Para a safra 2019/20, a indicação é de que haverá um aumento de produção, entretanto, a tendência é de que os frutos sejam de calibre menor. A região de São Joaquim, devido às condições de clima, continua com frutos de excelente qualidade, com bom calibre e coloração. Outra tendência no setor é a indicação geográfica das cultivares plantadas em diferentes regiões. A Epagri
vem trabalhando no sentido de obter a Denominação de Origem (DO) da maçã Fuji da região de São Joaquim (Fuji Serrana), junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Esse ‘selo’ é fornecido aos produtos encontrados em determinadas áreas, que por suas características naturais, cultura e história, se desenvolvem com excelência nestes locais, como é o caso da maçã Fuji na região de São Joaquim. Outra tendência que se verifica em algumas áreas é de que na renovação dos pomares está ocorrendo a substituição de porta-enxertos antigos pelos novos porta-enxertos da série G, principalmente o G 213, G202 e G 814.
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fra vai de meados de janeiro, nas cultivares mais precoces, até final de abril, nas mais tardias. No período de colheita normalmente a oferta é maior, mas devido à possibilidade de armazenamento, a oferta da fruta se estende ao longo de todo o ano. No final do período de armazenamento os preços aumentam, pela menor oferta do produto nacional.
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EMBALAGEM
CAQUI
EMBALAGENS PODEM PROLONGAR DURABILIDADE DA FRUTA
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Veridiana Zocoler de Mendonça Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Energia na Agricultura UNESP/FCA veridianazm@yahoo.com.br
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Aline Mendes de Sousa Gouveia Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura e professora - Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO), Ourinhos (SP) aline_mendes@fio.edu.br
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cultura do caquizeiro possui elevada importância econômica no Brasil, com cultivo centralizado nas regiões sul e sudeste. A área da cultura é de 8.133 ha e o Brasil é o sexto país em produção mundial, com 156.935 ton, segundo dados de 2018 (Faostat, 2020). Ainda de acordo com dados de 2018, o Estado de São Paulo é o maior produtor, responsável por 50% da produ-
ção nacional, com 79.960 ton em 3.093 ha, seguido pelo Estado do Rio Grande do Sul, com 33.686 ton em 2.603 ha (IBGE, 2020). É um fruto com características organolépticas essenciais à saúde, sendo rico em carotenoides, como o β-caroteno, β-criptoxantina, zeaxantina, luteína e licopeno, além de ser fonte de polifenóis como ácido gálico e ácido cumárico. Entretanto, perdas pós-colheita durante o armazenamento e comercialização do caqui se devem, em maior importância, ao excesso de maturação, perda de firmeza, podridões e à incidência de escurecimento da casca dos frutos. Dessa forma, tecnologias pós-colheita devem ser empregadas para estender a vida de prateleira, manter a qualidade e diminuir alguns problemas relacionados à adstringência que permanecem no fruto mesmo após colhido em condições ideais de maturação e/ou amadurecimento.
Solução Uma das tecnologias de aplicação pós-colheita é o uso de embalagem. Apesar de ser um fruto muito apreciado pelo sabor, o caqui apresenta permanência da adstringência após a colheita, quando sem sementes, mesmo amadurecido, necessitando de um processo artificial para a remoção desta, denominado destanização. Um dos métodos de remoção de adstringência de caqui, ainda pouco empregado, é a atmosfera modificada com a utilização de embalagens plásticas.
Como funciona A utilização de embalagens plásticas (exemplo de material, o polietileno) pode proporcionar a conservação dos frutos, por promover modificações na atmosfera, elevando a concentração de CO2 e diminuindo a de O2. A modificação da atmosfera pode
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Fotos Shutterstock
Manejo
se dar de forma passiva ou ativa. Na atmosfera modificada passiva não há alteração inicial do ar atmosférico na embalagem e de forma ativa é feito vácuo na embalagem e injetadas concentrações conhecidas de O2 e CO2. No entanto, as concentrações de O2 e CO2 são conhecidas no momento da injeção dos gases na embalagem, mas não são controladas posteriormente e variam em função da temperatura, tipo de embalagem, taxa respiratória do produto e tempo de armazenamento. Com o aumento do CO2 ocorre redução na síntese e na ação do etileno, hormônio responsável pelo amadurecimento nos frutos climatéricos, como o caqui. Outro ponto chave no uso das embalagens é a condição de anaerobiose que é formada, modificando o processo respiratório do fruto, promovendo acúmulo de acetaldeído, responsável por polimerizar as moléculas de taninos, destanizando-os. Dessa forma, combinações de tempo, temperatura de armazenamento, tipo de
O emprego desta tecnologia por meio de filmes plásticos permite reduzir o manuseio excessivo dos produtos entre produtor e consumidor. O polietileno de baixa densidade (PEBD), polipropileno e filme PVC têm sido os mais utilizados. Quando aplicados logo após a colheita minimizam a perda de água, suprimem o desenvolvimento de patógenos e aumentam o período de conservação. Este sistema é composto por modificações na atmosfera interna dos filmes, interação entre a respiração do produto e a transferência dos gases entre a atmosfera externa e interna. A permeabilidade do filme permite que os gases entrem em equilíbrio até atingir uma taxa de transferência de massa similar à taxa de respiração. Dessa forma, é importante a escolha e aplicação de um filme plástico adequado para caqui, o qual permita a manutenção da qualidade por meio de concentrações de gases favoráveis. Uma vez que os níveis de O2 e CO2 não são adequados, pode ocorrer maturação irregular, aparecimento de sabores e odores indesejáveis, distúrbios fisiológicos (mudanças cromáticas, texturais e degradação de compostos), levando à perda de seu valor de mercado. Embalagens de nylon-polietileno, que não permitem as trocas de gases com o meio externo, são utilizadas para aplicação da atmosfera modificada ati-
va. Neste caso, são utilizadas seladoras com função de vácuo e posterior injeção de gases em concentrações conhecidas, que normalmente variam de 3,0 a 8% de O2 e 3,0 a 10% de CO2, e o nitrogênio é utilizado para o balanço da composição por ser um gás inerte. Contudo, novos filmes com permeabilidade específica, capazes de criar atmosferas reguladas, vêm sendo testados, e logo estarão disponíveis no mercado nacional.
A produtividade A baixa qualidade pós-colheita dos frutos se deve, em parte, à embalagem inadequada, que não segue as instruções e requisitos de manuseio, proteção contra danos ou contaminação e distribuição adequada do produto. Considerando que a demanda por frutas de alta qualidade aumenta a cada ano, um dos principais desafios da agricultura brasileira é reduzir as perdas pós-colheita. Uma alternativa é a aplicação de medidas apropriadas e tecnologias para prevenir a deterioração de frutas frescas após a colheita, que afeta a preferência do consumidor. Portanto, atitudes do consumidor ao comprar frutas têm sido continuamente investigadas para melhor entender os atributos levados em consideração quando da escolha de um produto.
Em campo Resultados práticos de pesquisas a campo relataram que caquis ‘Giombo’ acondicionados em sacos de polietileno com espessura de 0,08 mm e mantidos à temperatura de 0°C foram conserva-
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embalagem, genótipo, entre outros fatores, podem ser úteis tanto na conservação quanto na destanização dos frutos de caqui após a colheita.
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dos durante um período de dois meses, enquanto os frutos sem embalagem toleraram somente seis semanas de armazenamento. Para frutos ‘Fuyu’, estes puderam ser armazenados durante cinco a seis meses a 0°C quando acondicionados individualmente em embalagem de polietileno com espessura de 0,06 mm. Foi constatada também melhor qualidade e menor ocorrência de desordens fisiológicas quando acondicionados em filme de polietileno de 0,05 mm de espessura durante 90 dias de armazenamento refrigerado. Há, também, relatos sobre o uso de embalagens de polietileno reciclado, composto de 10% de fibra forrageira associado a uma bandeja de polipropileno, termoformado, com design exclusivo para frutas de caqui. Essa embalagem visa reduzir perdas durante o transporte e manuseio, com o objetivo de manter a qualidade e o consequente valor agregado do produto. Além disso, este design inovador permite usar polímeros reciclados e fibras vegetais com um apelo ecológico, comparado às tradicionais caixas de madeira e papelão.
Erros Embalagens inadequadas e manuseio incorreto são responsáveis por perdas durante a comercialização, além de diminuir a qualidade dos frutos pós-colheita. A tradicional caixa K causa injúria mecânica que, de maneira geral, estressa o fruto, provocando aumento da produção de etileno e distúrbios referentes
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à compartimentalização celular, além de aumento na taxa respiratória, da velocidade de deterioração e consequente redução da vida útil durante a comercialização. As perdas compõem a parte física da produção que não é destinada ao consumo em razão de depreciação da qualidade dos produtos, devido à deterioração causada por amassamentos, cortes, podridões e outros fatores. Assim, a escolha de embalagens deve considerar a quantidade de produtos, número de camadas e tipo de material, visando acomodar o fruto sem causar danos mecânicos. O acondicionamento em embalagens adequadas às suas características atenua as perdas quali e quantitativas.
Como agregar à técnica Considerando a necessidade de regulamentar o acondicionamento, manuseio e comercialização dos produtos hortícolas in natura em embalagens próprias para a comercialização, visando a proteção, conservação e integridade dos mesmos e também a necessidade de assegurar a verificação das informações sobre a classificação dos produtos, as embalagens destinadas ao acondicionamento de produtos hortícolas in natura, no Brasil, devem atender aos requisitos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que aprovou, em 2005, as Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada de Caqui – Instrução Normativa nº4 (Brasil, 2005) com as seguintes especificações técnicas: “1. Utilizar embalagens limpas, resistentes ao transporte e ao armazenamento que não
promovam danos e contaminação nos frutos; 2. Proceder à identificação do produto conforme normas técnicas legais de rotulagem e embalagem, com destaque ao Sistema da PICaqui; 3. As embalagens, antes de serem utilizadas ou com os frutos, devem ser dispostas em local limpo e sobre estrados.” O Programa Paulista para a Melhoria dos Padrões Comerciais e Embalagens de Hortigranjeiros (uma parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA)), utiliza parâmetros para classificação e necessidade de rotulagem para comercialização. Dentre tais parâmetros tem-se a “Categoria”, que leva em consideração os defeitos graves e leves. Sendo assim, embalagens adequadas que prolonguem a vida útil do fruto e facilitem o manuseio acarretam em menos defeitos pós-colheita e, consequentemente, melhoria da rentabilidade da produção em função da redução de perdas.
Investimento x retorno O tipo de embalagem mais comum são as bandejas de poliestireno expandido (isopor®) revestidas por filme plástico de polietileno de baixa densidade (PVC), o que não necessita de nenhum equipamento específico para utilização desta técnica. Para aplicação de atmosfera modificada ativa é necessário possuir uma seladora e aquisição de cilindros com concentrações conhecidas de CO2 e O2. Tais técnicas são de baixo custo de implementação e ao utilizá-las é possível estender a vida de prateleira dos vegetais, podendo ser armazenados por períodos mais longos a fim de estender o período de comercialização e obter melhores preços de mercado fora do período da safra, no qual a oferta do produto supera sua demanda, além de agregar valor aos produtos por apresentarem melhor aparência e qualidade em função da redução de injúrias mecânicas devido ao manuseio.
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