Campo & Negócios Grãos - Junho/2020

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Grãos

EVOLUÇÃO DIGITAL PARA O

AGRO PÓS-CRISE



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ISSN 2359-5329 - Ano XVIII - Edição 207 - Junho 2020

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stá feito! O futuro do agronegócio, que se desenvolvia analogicamente, agora será digital. Desafios certamente virão, mas cada um deles trazendo consigo uma oportunidade sem precedentes, especialmente para o Brasil, onde o setor é um dos protagonistas da economia. Em 2019, o agronegócio representou 21,4% do PIB nacional, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, somando uma cifra de cerca de R$ 1,5 trilhão. Portanto, a tendência é que, depois que isso tudo passar, o agronegócio também sofra transformações profundas que devem acelerar a digitalização da cadeia e a construção de um novo modo de gerir o setor. Em nossa matéria de capa, você poderá conferir que a transformação digital envolve a aceleração da adoção de uma série de tecnologias de ponta, como a Big Data, que é capaz de otimizar a informação sobre insumos, condições climáticas e maquinário a ponto de baixar custos e aumentar a produtividade. O blockchain permite o rastreamento do ciclo de vida do produto, desde o plantio até a prateleira, garantindo certificações de qualidade. E rótulos com QR Code vão levar essas informações aos consumidores. De outro lado, os marketplaces assumem um papel importante nesta evolução do setor, agregando e conectando os players do setor entre eles e com os consumidores. Deu vontade de ler mais, né? E valerá cada linha. Corre lá! Miriam Lins Oliveira Editora

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Projeto Gráfico/Diagramação

A Revista Campo & Negócios Grãos é imparcial em relação ao seu conteúdo agronômico. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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NESTA EDIÇÃO

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Manejo do solo é determinante para a produtividade

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Alerta para as sementes de soja esverdeadas

12 66% da semente de soja é tratada

na indústria

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Pirataria de sementes – todo cuidado é pouco

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Alerta - pragas que atacam as raízes do milho

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TRANSFORMAÇÃO ESTRATÉGICA DIGITAL PARA O AGRO PÓS-CRISE

44Fertilizantes de quarta geração o futuro da nutrição

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Manejo sustentável da cana com Azospirillum

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Maturação do canavial - etapa merece mais eficiência

Ubyfol obtém certificação de Sistemas da Gestão Ambiental

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Entendendo o papel dos aminoácidos

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Estratégias eficientes no controle de nematoides

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Micronutrientes estimulam enchimento do feijoeiro

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O fosfito no controle da podridão radicular do feijoeiro

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Solução inovadora para cultivo do cafeeiro

66 É hora da colheita de café

Organominerais – do surgimento às possibilidades

68 42 4

Clones de café resistentes a pragas

Inseticidas de duplo mecanismo de ação em trigo

54

Bandejas rígidas para canade-açúcar

70

Cuidados na colheita de grãos

Perspectivas sobre a produção de café sustentável


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SOLO

PRODUTIVIDADE MANEJO DO SOLO COMO FATOR DETERMINANTE

Antonio Santana Batista de Oliveira Filho Mestrando em Produção Vegetal FCAV/UNESP a15santanafilho@gmail.com Adriana Araujo Diniz Professora adjunta II - Universidade Estadual do Maranhão (UEMA/ CESBA) adrisolos2016@gmail.com

Myrelly Nazaré Costa Noleto Graduanda em Engenharia Agronômica - UEMA/CESBA myrellynoleto11@gmail.com

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erante a grande demanda de alimentos como consequência do crescente aumento da população, medidas que fizessem com que a produção agrícola tivesse um maior retorno produtivo foram aperfeiçoadas no decorrer dos anos, desde os primórdios da utilização das terras agricultáveis até o presente momento. Assim, formas de manejo surgiram com o intuito de viabilizar grandes produções das mais variadas culturas em menores extensões territoriais, tudo isso a partir de diversas pesquisas e processos experimentais, que trouxeram à tona a importância de um manejo adequado a fim de garantir, a curto e longo prazos, uma rentabilidade mais alta.

Fotos Shutterstock

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Agricultura em foco

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Uma das maiores prioridades da agricultura, atualmente, é a garantia da grande produtividade de grãos, sem que haja a abertura de novas áreas, apenas aperfeiçoando as que já estão abertas. Para isso, há a necessidade de práticas que minimizem a degradação do solo como um todo. Um desses avanços surgidos ao longo dos anos, de extrema importância para que haja uma produtividade alta, é o manejo do solo, visto ser ele a base de sustentação, habitat de organismos e nutrição


SOLO

das culturas agrícolas. Essa prática é considerada como o conjunto das mais variadas atividades desenvolvidas nesse ambiente, que vão desde as técnicas de cultivo e tratos culturais, aplicação de fertilizantes e/ou corretivos e formas de conservação, se baseando, principalmente, no potencial produtivo e aptidão do solo. Portanto, leva-se em consideração suas propriedades físicas, químicas e biológicas.

Culturas mais beneficiadas pelo manejo do solo A forma correta de manejo do solo é responsável pela grande parte dos ganhos de produtividade que são obtidos pelo uso de técnicas desenvolvidas para as mais variadas culturas. Portanto, esse manejo desempenhado de forma errônea, quando aliado a uma baixa fertilidade, é considerado um dos fatores mais limitantes de produção, em que diversas práticas indevidas às quais o solo é submetido comprometem o desenvolvimento das culturas. A produtividade de diversas plantações é definida pela cultivar, ambiente e o manejo aplicado a ela. Dentre elas, as que mais se beneficiam são as culturas agrícolas (grandes culturas), como soja, milho, trigo, feijão, cana-de-açúcar, apresentando resultados positivos também na olericultura e fruticultura.

cional da planta. Destaca-se, também, a importância de pesquisas regionais.

Na dose certa O processo de calagem, se aplicado ao solo nas dosagens corretas, garante aumentos significativos na produtividade. Alguns dos benefícios da calagem, além da diminuição da acidez e aumento do pH, são: neutralização do alumínio, fornecimento de cálcio e magnésio para as culturas, diminuição da compactação, maior disponibilização de fósforo e outros nutrientes, favorecendo também a fixação do nitrogênio (Embrapa, 2010). Para a aplicação de calagem, necessita-se realizar a análise de solo com coleta em diferentes locais, definir o tipo de calcário a ser utilizado, isto com base na necessidade do solo, definir a dose, realizar a compra e aplicação do produto, podendo ser feita na superfície ou incorporado ao solo, dependendo da necessidade. O processo de adubação é fundamental em solos pobres quimicamente, com baixa quantidade de matéria orgânica, baixa fertilidade e capacidade de trocas catiônicas (CTC). A aplicação de fertilizantes depende da necessidade nutri-

cional do solo, sendo esta constatada pela análise química e também pelas exigências da cultura a ser implantada. O momento de aplicação, a dosagem, a época, a cultivar, clima e tipo do solo são fatores de extrema importância para a garantia da eficiência dos adubos. Doses aplicadas abaixo das recomendadas causam deficiência e, consequentemente, menor desenvolvimento e rendimento da planta.

Opções Há três tipos de adubações, sendo elas: orgânica, mineral e organomineral. Os adubos orgânicos contribuem fielmente com a atividade microbiana, atuando principalmente como condicionadores de solo. Já adubos minerais são absorvidos pela planta com mais facilidade, porém, sua aplicação excessiva pode causar danos ambientais (Fogaça, 2015). Quanto às formas de aplicação dos adubos, três são utilizadas: adubação de correção, de plantio e adubação de manutenção, baseadas principalmente em análises químicas e físicas do solo e análise foliar das plantas. O sistema de plantio direto vem sendo adotado atualmente como umas das principais formas de manejo conserva-

Dentre as variadas formas de manejo de solo, as mais comuns utilizadas são: corretivos e fertilizantes, e atualmente o sistema de plantio direto. A utilização de corretivos e fertilizantes é comprovadamente uma grande estratégia para o aumento da produtividade de diversas culturas, pois quando ofertada em dosagens corretas, de acordo com a necessidade do solo e da cultura, contribui com as propriedades químicas e físicas, favorecendo o fornecimento de nutrientes essenciais para as plantas, sendo de grande importância para que as necessidades nutricionais sejam supridas e, consequentemente, garanta uma alta rentabilidade. Frisa-se a necessidade de análises de solo, para que sejam identificadas todas as deficiências químicas presentes e, com base nisso, recomendar o manejo nutri-

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Como implantar a técnica

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SOLO

cionista do solo, tendo como características principais: o mínimo revolvimento do solo, a utilização de palhadas de culturas anteriores e a rotação de culturas, técnicas, que trazem consigo inúmeras vantagens que vão desde a melhoria da germinação de sementes, redução da compactação até a proteção contra perda de água por evaporação e aumento na ciclagem de nutrientes, que consequentemente garantem uma maior rentabilidade. Para que haja sua implantação, necessita-se basicamente da eliminação das camadas compactadas do solo, nivelamento do solo com sulcos e valetas, correção tanto da camada superficial quanto subsuperficial, controle das plantas daninhas, esparramar os restos culturais e a rotação de culturas com espécies que gerem maior biomassa. Frisa-se que diversas culturas utilizadas como palhadas também contribuem para uma melhor estrutura do solo, além do controle de daninhas e nematoides, problemas frequentes enfrentados por agricultores.

Produtividade Em termos de produtividade, o ma8

nejo adequado do solo pode levar a aumentos significativos de produção, chegando a atingir valores superiores a 50% de acréscimo em relação a sistemas convencionais não manejados. Custos com manejo são supridos e beneficiados com a produtividade, já que um solo fértil e manejado de forma correta garante grande porcentagem de uma boa produção e, consequentemente, rentabilidade.

Erros frequentes Há incidência de erros no manejo do perfil, dentre eles a coleta de solo realizada erroneamente, que coloca em risco a produtividade, já que a interpretação e recomendação serão feitas por bases erradas. Outro erro frequente é quanto à dosagem de fertilizantes e corretivos, acarretando em resultados gravíssimos e de difícil reversão. Doses elevadas podem causar intoxicação às plantas, enquanto doses abaixo do recomendado podem causar deficiência nutricional. A utilização excessiva, de forma errônea e a falta de manutenção e de cuidados com os solos é outro erro frequente, podendo acarretar degradação dos

solos e, consequentemente, inutilização para fins agrícolas. Solos em que ocorre o processo de erosão decorrente de práticas agrícolas inadequadas necessitam de maiores custos para produzir, já que há a necessidade de constantes reposições nutricionais, o que se torna um problema para a produção.

Como os erros devem ser evitados Para que erros sejam evitados, é necessário, primeiramente, planejamento agrícola da área a ser trabalhada, levando em consideração a aptidão e uso do solo para que assim se possa definir as melhores práticas a serem utilizadas, assim como as culturas a serem implantadas. É necessário, saber o tipo de solo por meio de amostras coletadas de forma correta e criteriosa, fazer a análise química do solo, recolhendo diversas amostras em áreas específicas e seguir à risca as recomendações de dosagens de corretivos e fertilizantes, feitas com base nas análises de solo. Resumindo, é preciso manter recomendação técnica para todas as fases de preparo do solo.


SOLO

Custo envolvido O manejo de solo é uma prática que pode incialmente gerar custos significativos para o produtor, principalmente pelos valores de corretivos e fertilizantes que variam anualmente, dependendo da marca, composição e tipo de formulação, da exportação, ou seja, valorização de moedas internacionais e do setor de transportes. Porém, ao longo dos anos a adoção de técnicas como o plantio direto levou à redução da aplicação desses insumos, o que, consequentemente, reduz os custos de produção. É necessário, então, que o produtor, ao adotar um sistema de manejo de solo, trabalhe pensando em resultados em longo prazo, construindo, dessa forma, um perfil de solo eficiente na disponibilidade de nutrientes às plantas.

Investimento x retorno É notório que a relação custo-benefício é satisfatória para o produtor, principalmente em longo prazo. A partir da adoção de práticas agrícolas de conservação de palhada em áreas de plantio, constatou-se por Sarcinelli; Marques; Romeiro (2009), que houve uma redução na perda de solos de 86,6% ao ano, ou seja, uma consequente redução na perda de nutrientes, matéria orgânica e água, refletindo assim em uma redução de 74,6% no custo de reposição de nutrientes. Portanto, o investimento em manejo e fertilidade do solo é feito visando o aumento da produtividade em solos já degradados, mas também em solos férteis, para que continue também este produtivo.


FISIOLOGIA

SEMENTE DE SOJA ESVERDEADA EFEITOS SOBRE A SUA QUALIDADE FISIOLÓGICA

Fotos José B. França-Neto

José de Barros França-Neto

Fernando Augusto Henning

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Francisco Carlos Krzyzanowski Pesquisadores da Embrapa Soja

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roduzir semente de soja de elevada qualidade é um desafio para o setor sementeiro, principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Nessas regiões, a produção desse insumo só é possível mediante a adoção de técnicas especiais. A não utilização dessas técnicas poderá resultar na produção de semente com qualidade inferior que, caso seja semeada, resultará em severos problemas com a implementação da lavoura e em possíveis reduções de produtividade. Produzir semente de soja de elevada qualidade tem sido restringido pelas condições climáticas desfavoráveis nessas regiões. Na safra 2019/20, em diversas regiões brasileiras, principalmente no Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Cata-

rina e do Paraná, Sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, tem sido relatada a ocorrência de elevados índices de sementes de soja esverdeadas, em alguns casos superiores a 50%. Esse fato deveu-se à ocorrência de seca associada a elevadas temperaturas nas fases de enchimento de grãos e em pré-colheita, que resultaram na morte prematura das plantas e na maturação forçada das sementes. Com isso, as duas principais enzimas associadas à degradação da clorofila, magnésio quelatase e clorofilase foram desativadas, culminando na produção de altos níveis de sementes esverdeadas.

Mais causas Além de seca, outros fatores contribuem para a produção de sementes esverdeadas em soja. Diversas doenças, quando mal manejadas, podem resultar nesse problema. Como por exemplo, pode-se mencionar a fusariose (causa-

da pelo fungo Fusarium solani f. sp. glycines/Fusarium tucumaniae), a podridão radicular causada por macrofomina (Macrophomina phaseolina), doenças do colmo, como o cancro da haste (Phomopsis phaseoli f. sp. meridionalis.) e doenças foliares, como a ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachurhizi). O intenso ataque de insetos, principalmente de percevejos sugadores, pode resultar no aparecimento desse problema. O manejo inadequado de lavouras de soja também pode resultar na produção de semente esverdeada. A distribuição inadequada de calcário ou de fertilizantes pode ocasionar problemas de maturação desuniforme, o que, por sua vez, resultará na colheita de semente imatura e esverdeada, mesclada com semente amarela e madura. Outra prática que pode resultar nesse problema é a dessecação em pré-colheita. A semente esverdeada também poderá ocorrer caso o dessecante seja aplicado


FISIOLOGIA

antes do estádio ideal (ponto de maturidade fisiológica – R7), ou quando a sua aplicação é realizada para corrigir situações em que exista desuniformidade de maturação de plantas.

Genética

Pesquisas Dados de pesquisa da Embrapa Soja em conjunto com a UFLA (Universidade Federal de Lavras) sugerem que em pré-colheita, níveis de até 9,0% de sementes esverdeadas poderão ser tolerados; logicamente, o ideal seria ter 0,0% do problema. A remoção de sementes esverdeadas de um lote pode ser realizada por equipamentos selecionadores de cores que, apesar de caros, removem grande parte dessas sementes esverdeadas. Existem no mercado diversas marcas e modelos desses equipamentos, que fazem a separação com base em uma, duas ou três cores e têm a capacidade de produção variando de 60 kg.h-1 a 5,0 t.h-1. Além disso, por serem menores, a classificação por tamanho das sementes pode resultar em melhoria da qualidade fisiológica do lote de semente,

Sementes esverdeadas, à esquerda, e saudáveis, à direita

pois a maior concentração de sementes esverdeadas ocorrerá nas menores classes de tamanho, que poderão ser descartadas. As sementes das classes maiores, por terem um menor percentual desse problema, tenderão a apresentar melhor germinação e vigor. A separadora em espiral também pode auxiliar na remoção de sementes esverdeadas do lote de sementes, uma vez que muitas dessas sementes apresentam-se deformadas ou alongadas. Entretanto, a utilização da mesa de gravidade não é

eficaz na remoção de semente esverdeada dos lotes de semente.

Armazenagem Em situações em que o produtor de sementes se vê forçado a armazenar lotes de sementes com esse tipo de problema (logicamente em baixos níveis), sugere-se armazená-las em condições climatizadas (10 - 15ºC, 60% UR), pois isso preservará a qualidade das mesmas durante o armazenamento.

Prejuízos Em suma, foi relatado que a ocorrência do esverdeamento da semente de soja prejudica a sua qualidade fisiológica, e que a sua presença interfere negativamente na germinação e no vigor do lote. Diversos estresses bióticos e abióticos que ocorrem durante a fase final de maturação e pré-colheita das sementes são responsáveis pela expressão do problema. A intensidade de ocorrência de semente verde é afetada tanto pelo genótipo como por condições climáticas desfavoráveis. Plantas de soja submetidas a condições de estresse hídrico e térmico, nas fases fi-

nais de maturação e pré-colheita, produzem altos índices de sementes verdes, menores e mais leves. A morte prematura de plantas causada por doenças como a fusariose e macrofomina, como resultado do mau manejo do solo, também resulta em sementes esverdeadas. Informações adicionais podem ser obtidas na Circular Técnica 91 “Semente esverdeada de soja: causas e efeitos sobre o desempenho fisiológico”, que pode ser baixada diretamente do site da Embrapa Soja (www.embrapa.br/soja/publicações).

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Além desses fatores, deve-se levar em consideração a suscetibilidade genética dos genótipos de soja utilizados, uma vez que existem cultivares de soja que são mais suscetíveis que outros à expressão do problema. A expressão do problema de sementes esverdeadas estará condicionada à ocorrência desses tipos de estresses bióticos ou abióticos e será mais intensa, caso associada com elevadas temperaturas. Sementes com coloração intensa da cor verde ou mesmo esverdeadas geralmente apresentam elevados índices de deterioração, o que pode levar à redução da germinação e do vigor em lotes de sementes de soja: quanto maior o índice de sementes esverdeadas, menores serão a sua germinação e o vigor. Sementes esverdeadas recém-colhidas podem até germinar, mas têm o seu vigor significativamente reduzido. Após três a quatro meses de armazenagem em condições não climatizadas, a germinação das sementes esverdeadas será próxima de zero.

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SEMENTE

Momesso

66% DA SEMENTE DE SOJA É TRATADA NA INDÚSTRIA

Daniele Brandstetter Rodrigues Engenheira agrônoma e doutora em Ciência e Tecnologia de Sementes ufpelbrandstetter@hotmail.com

Erica Camila Zielinski Engenheira agrônoma e mestranda em Produção Vegetal – Universidade Federal do Paraná (UFPR) ericacamilazielinski@gmail.com

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Daniela Andrade Engenheira agrônoma e mestra em Fitotecnia daniela.agronomia@hotmail.com

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O

sucesso na implantação de uma lavoura está associado à qualidade da semente utilizada, bem como à proteção que ela recebe. Dessa forma, para um bom estabelecimento e desenvolvimento da semente é necessário que esta seja protegida de microrganismos e insetos que possam danificá-la. Por isso o tratamento de sementes é um dos fatores essenciais para a obtenção de uma lavoura uniforme e, consequentemente, de alta produtividade. Primeiramente, é importante destacar que o tratamento de sementes de soja ocorre em duas modalidades atualmente, que são o chamado on farm, realizado di-

retamente na fazenda, e o tratamento industrial de sementes (TSI).

Entre um e outro Existem diferenças significativas no tratamento entre estas duas modalidades. No tratamento de sementes on farm o nível de precisão e tecnologia, a priopri, é inferior ao TSI, devido à dificuldade de realizar a dosagem correta dos produtos e uma cobertura uniforme da semente, além de oferecer maiores riscos à saúde. No entanto, esse tipo de tratamento oferece ao produtor o critério de escolha dos produtos a serem utilizados. Já o tipo TSI tem a grande vantagem ter um nível de tecnologia agregado, podendo ser realizado no pré-ensaque, antes do armazenamento ou no momento da entrega das sementes ao produtor. A maioria da comercialização de sementes de soja é feita com TSI incluso, possivelmente pelos seguintes benefícios: proteção às sementes e plântulas contra fungos de solo, evitar o desenvolvimento de epidemias no campo, maior precisão do volume de calda e na dose de produtos por unidade de semente, melhor cobertura da semente com o produto químico (uniformização), menor risco

de intoxicação dos operadores e maiores rendimentos por hora. Além do mais, alguns produtores preferem adquirir as sementes já tratadas (TSI), por agregar maior praticidade ao sistema produtivo, afirmando-se o porquê da maior quantidade de sementes tratadas serem oriundas do tratamento industrial ao invés do on farm.

Benefícios do tratamento de sementes O tratamento de sementes, atualmente, é de vital importância para o controle de doenças e insetos que tanto acometem as plantas no seu desenvolvimento inicial. Alguns produtos, inclusive, expressam efeitos aditivos benéficos na garantia da expressão do vigor no estabelecimento das culturas. Ainda, o tratamento inúmeras vezes contribui para que o produtor postergue pulverizações, então, o TSI acaba sendo, de fato, efetuado por parte dos agricultores em virtude da sua eficácia sistêmica e efeito residual após semeadura.

Culturas beneficiadas As culturas que atualmente utilizam o tratamento químico de sementes no


SEMENTE

Brasil são: mais de 90% de soja, milho e algodão, mais de 70% de trigo e mais de 50% de arroz (Peske e Platzen, 2019).

Para a implantação do tratamento de sementes industrial, é necessário ter uma estrutura específica, com máquinas especializadas para realização do tratamento. O processo consiste na utilização de sementes testadas, dentro dos padrões de qualidade estabelecidos, nas quais são adicionados os produtos do tratamento, como fungicida e inseticida diluídos em água, acrescidos de corante e polímero. Caso sejam utilizados organismos biológicos no processo, os mesmos são adicionados separadamente da calda, quase na hora do plantio. Para a aplicação do TSI, as sementes passam por uma esteira que realiza a correção do peso com a dosagem que deve ser aplicada e os produtos são adicionados por meio de jatos dirigidos,

Momesso

Manejo

permitindo uniformidade de distribuição do produto. Após esse processo, pode ser realizada adição de pó secante, com o intuito de deixar a semente mais uniforme e lisa para a etapa de plantio. Após o tratamento, outra etapa de testes é realizada nos lotes tratados, visando verificar se o processo e os produtos utilizados não afetaram a qualidade da semente.

Caso aprovado, a semente estará pronta para a comercialização.

Produtividade Considerando a produtividade da propriedade, o TSI possibilita maior agilidade para o produtor no momento do plantio, visto que as sementes já chegam prontas, tornando o processo mais rá-


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SEMENTE

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pido e produtivo, sendo necessário menor dispêndio de tempo e equipamentos, possibilitando maior assertividade na janela produtiva.

ticas conjuntas necessárias à obtenção de uma lavoura sadia.

Em campo

Deve-se tomar cuidado com os pacotes de tratamento de sementes, quanto ao TSI ou on farm, porque pode ser utilizada uma grande quantidade de produtos na mesma semente, como a combinação de fungicidas, inseticidas, inoculantes, micronutrientes, nematicidas, reguladores de crescimento e polímeros, que podem provocar fitotoxicidade às sementes devido ao excesso de produtos que talvez nem sejam necessários à realidade daquele produtor. O efeito fitotóxico do tratamento pode afetar a qualidade fisiológica das sementes, diminuir a germinação e a emergência de plântulas, por provocar engrossamento, encurtamento, rigidez e fissuras longitudinais em hipocótilos, retardamento do desenvolvimento vegetativo da parte aérea das plantas, e em algumas situações a presença de multibrotamento no nó cotiledonar, reduzindo assim o estabelecimento e a produtividade da cultura. Uma maneira de evitar esses efeitos seria a compra de sementes tratadas com certificado de garantia de qualidade pela empresa que oferta o produto. E, caso o produtor opte pelo tratamento on farm, deve procurar auxílio e suporte de um agrônomo para a operação ser realizada com qualidade e sem excessos.

Grande número de microrganismos fitopatogênicos podem ser transmitidos pelas sementes e, como consequência dessas implicações, ocorre redução da produtividade e aumento do custo de produção para o controle dessas doenças. Vários exemplos podem corroborar a importância do emprego de sementes sadias e os riscos advindos do emprego de sementes portadoras de agentes patogênicos. No caso específico da soja, de acordo com posicionamento da Embrapa, as doenças mais relevantes de transmissão e introdução via sementes na propriedade são o cancro-da-haste (Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis) e o mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), podendo ser causado pela ausência e/ ou inadequação de tratamentos de sementes. Considerando os princípios de controle de doenças, o tratamento de sementes com defensivos se enquadra em dois deles: a erradicação e a proteção/prevenção. O tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas pode prevenir ou retardar a disseminação desses patógenos. Entretanto, o manejo integrado das doenças da soja consiste em aplicar prá-

Erros

Shutterstock

Investimento x retorno Segundo dados de Richetti e Goulart (2018), o custo do tratamento de sementes de soja gira em torno de R$ 46,53/ha, atualmente representando 1,48% do custo total da produção de soja. O TS caracteriza-se como um ‘seguro barato’ que o agricultor faz previamente à implantação de sua lavoura. Com vistas à possível necessidade de ressemeadura, por exemplo, a segurança que as sementes tratadas agregam é determinante, já que a necessidade de semear novamente uma mesma área pode custar 11,34% a mais. O custo-benefício se traduz também no fato de que o retorno benéfico é verificado em curto prazo, ou seja, no bom estabelecimento inicial, que tanto contribui para altas produtividades na colheita, e durante a condução das lavouras, na ausência da necessidade de aplicações pulverizadas.


FALSIFICAÇÃO

PIRATARIA DE SEMENTES O QUE O FUTURO NOS RESERVA?

Giovana Cândida Marques

Juliano Henrique Alves de Sousa Carvalho Eliseu de Sousa Graduandos em Agronomia – IF Goiano - Campus Morrinhos Brenda Ventura de Lima Mestra em Agronomia - IF Goiano Campus Morrinhos

Rodrigo Vieira da Silva Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor – IF Goiano Campus Morrinhos rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br

A

semente constitui-se o principal insumo agrícola adquirido pelo produtor rural, onde encontra-se todo o potencial genético de uma determinada espécie vegetal. A máxima produtividade agrícola é determinada pela carga genética contida no material propagativo. A semente comercial é produzida dentro de padrões rigorosos de qualidade que garantem o melhor desempenho no campo, otimizando os benefícios de outros insumos e táticas de manejo. A qualidade e vigor podem ser vistos nas denominadas sementes certificadas, em que a certificação tem por fundamento preservar a identidade genética das cultivares, garantindo que a semente comprada é realmente aquela que consta na embalagem. Portanto, o produtor não deve arris-

car o seu negócio comprando sementes pirateadas no mercado paralelo, que são de qualidade duvidosa e ilegais, deixando-o sujeito a penalidades jurídicas. A certificação de mudas e sementes no mercado nacional é um processo trabalhoso, delicado e muito criterioso. Este é realizado e coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que exige e impõe que as entidades interessadas atendam uma série de requisitos para o registro de uma semente legal, visando a garantia de qualidade das mudas e sementes no mercado brasileiro.

Não confunda Para uma melhor compreensão sobre este tema, é importante explicar alguns conceitos básicos, tal qual a diferença entre sementes piratas e salvas. Existe uma prática assegurada pela legislação federal, a qual permite que o produtor reserve parte da produção de sua safra para destinar à semeadura de suas próprias e próximas lavouras, denominada técnica de “sementes salvas”. Contudo, para que o produtor possa realizar a técnica de “salvar sementes”, também é necessário seguir certas normas impostas pelo MAPA. Para assegurar a técnica, o agricultor deve, ao comprar as sementes, solicitar a nota fiscal e o certificado de sementes e mudas. Em seguida, as áreas desti-

nadas a “salvar sementes” devem ser inscritas e declaradas junto ao Ministério da Agricultura. Sementes ilegais, ou mais conhecidas como sementes pirateadas, não possuem quaisquer garantias de procedência e qualidade do material propagativo, pois não atendem os requisitos e nem os padrões de qualidade estabelecidos durante a produção. Vale ressaltar que a prática de comercialização de sementes sem registro é crime e está sujeita a penalidades legais. A pirataria de sementes é um mal para os diferentes segmentos do cenário brasileiro de agricultura, pois a falta do devido recolhimento dos royalties prejudica de forma direta o incentivo a pesquisas de instituições públicas e privadas. Os prejuízos decorrentes do comércio de sementes piratas vão além dos rombos fiscais, pois o registro de sementes também garante o controle fitossanitário de determinadas doenças que causam grandes prejuízos aos agricultores e ao País.

junho 2020

Fernando Gomes

Vantagens de uma semente certificada Sementes certificadas asseguram ao produtor muito mais que alta taxa de germinação e vigor, pois garantem a sanidade das plantas, além de uma população adequada de plantas por unidade de área de produção. 15


FALSIFICAÇÃO

Regiões mais afetadas O problema com a pirataria de sementes é um mal nacional, de modo que não se restringe a uma região, pois atinge todos os Estados da Federação. A ouvidoria da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (Abrasem) recebe ao menos uma denúncia de pirataria

de sementes por semana. E o responsável por aplicar sanções a quem realiza o comércio irregular de sementes é o MAPA. Outro perigo associado é a movimentação de pragas entre regiões, países e até continentes, elevando o risco de entrada de pragas quarentenárias no País. A título de exemplo, a figura a seguir apresenta as estatísticas de oito principais espécies cultivadas no território brasileiro. Destaca-se o problema mais crítico na cultura do feijoeiro, onde estima-se que apenas 20% das sementes possuem certificação. Dentre os principais motivos, cita-se a dificuldade de produção de suas sementes em grande escala, a demanda imprevisível e ausência de uma cadeia produtiva estruturada, fatos que são entraves à produção de sementes certificadas de feijão no Brasil.

Riscos da pirataria O produtor, quando utiliza uma semente pirateada, coloca em risco a sua produção, pois pode disseminar pragas, doenças e plantas daninhas. Além disso, as sementes comercializadas ilegalmente não possuem nenhum tipo de controle de qualidade, e muitas vezes não apresentam atributos básicos para serem comercializadas conforme a lei estabelece. Podem apresentar também baixa germinação, comprometendo o estabelecimento da cultura, e ao comprar uma se-

Taxa de utilização de sementes certificadas (/ )

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Figura 1. Taxa de emprego de sementes de algumas culturas de importância agrícola no Brasil durante cinco safras Algodão Feijão Sorgo

100

Arroz irrigado Soja

mente sem garantia de procedência quem mais perde é o próprio produtor. Vale ressaltar que geralmente a semente é um dos insumos mais baratos dentro dos custos de produção, não ultrapassando 5%, de modo que não vale a pena se arriscar com sementes piratas. Muitas vezes o produtor faz uso destas sementes por falta de conhecimento.

Prejuízos

80 60 40 20 0 2009/10

Fonte. Santana, V. C. (2015) 16

Arroz sequeiro Milho Trigo

Miriam Lins

Atualmente, sabe-se que existem microrganismos causadores de importantes doenças de plantas que podem ser disseminados por meio de sementes, a saber: fungos, bactérias, vírus e nematoides. A série de exigências no registro de sementes para comércio legal garante, pelos rigorosos processos de fiscalização, um produto de qualidade. Assegura ao produtor que a cultivar semeada será a mesma que lhe foi garantida na venda e que a semeadura estará livre de doenças e patógenos disseminados via sementes. A principal consequência desta prática ilegal é a redução na produtividade e qualidade da produção, o que acarreta em sérios prejuízos ao produtor rural. Ademais, as sementes pirateadas são veículos de disseminação de fungos, nematoides e outros agentes causadores de doenças de plantas. Assim, aumentam as chances de problemas fitossanitários e o custo de produção. Todo este transtorno pode ser evitado com o emprego de sementes certificadas adquiridas de empresas idôneas.

2010/11

2011/12 Safra avaliada

2012/13

2013/14

Na pirataria, pode conter no lote misturas de cultivares, o que prejudica o manejo, por causa da diferença de ciclos vegetativos entre as cultivares. Este fator provoca uma diminuição na produção, tanto quantitativa quanto qualitativamente. Além disso, pode ocorrer a disseminação de sementes de plantas daninhas entre as lavouras, dificultando o controle e aumentando o uso de agrotóxicos, o que eleva os custos de produção.


A presença de partículas de solo causa a disseminação de patógenos, inclusive nematoides, podendo causar a condenação do campo. Geralmente, ocorrem falhas no estabelecimento da cultura e perda de produtividade, sem contar a necessidade de mais aplicações de agroquímicos. Sementes com baixa germinação e vigor podem não emergir no campo. Quando isso ocorre, o produtor pode se deparar com falha no estabelecimento da cultura, tendo perda na produção. Sementes piratas não contêm as tecnologias garantidas por sementes registradas e certificadas conforme a lei, podendo ocorrer misturas e comprometer toda a produção.

Vale a pena? Ressalta-se a adoção de sementes piratas com ênfase no ditado popular “o barato sai caro”, pois os produtores que

adquirem sementes ilegais, além de colocarem em risco a própria produção, o fazem também com seu sustento. Quem realiza esta prática infringe leis de âmbito nacional, a Lei de Proteção de Cultivares e de Sementes e Mudas, podendo ser indiciado e condenado a pagar multas que chegam a 125% do valor do produto apreendido.

Certificação como garantia A semente certificada é fruto de tecnologia, portanto, o melhoramento genético e a pesquisa são colocados em vulnerabilidade. As instituições de pesquisa que desenvolvem variedades melhoradas, adaptadas a diferentes regiões, solos ou épocas de plantio e que garantem ótimas produtividades ficam no prejuízo quando o produtor adquire sementes ilegais, pois não pagam os royalties a quem de direito.

Além disso, o País deixa de arrecadar impostos que geram receitas para o governo investir em melhorias para a nação. A produtividade e, consequentemente, a produção das culturas agronômicas crescem a cada ano no Brasil e grande parte deste sucesso deve-se à qualidade das sementes melhoradas geneticamente, de modo que a semente certificada se torna um insumo básico em qualquer produção agrícola e uma das soluções para alimentar a crescente população mundial. Uma semente sadia e com alto potencial genético é uma importante ferramenta no manejo integrado de doenças de plantas, visando a produção de grãos de alta qualidade fitossanitária, essencial para a sustentabilidade da agricultura moderna. Portanto, o produtor rural não deve arriscar o seu negócio adquirindo sementes pirateadas.

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FALSIFICAÇÃO

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ALERTA

PRAGAS QUE ATACAM AS RAÍZES DO MILHO Hercules Diniz Campos

Jéssica E. R. Gorri1 gorrijer@gmail.com

Maria Clezia dos Santos mariaclezia.stos@gmail.com Rodrigo Donizete Faria rdfaria13@gmail.com

Flávia Galvan Tedesco flaviagtedesco@gmail.com

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Roque de Carvalho Dias roquediasagro@gmail.com Doutorando em Proteção de Plantas – UNESP/Botucatu

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O

s insetos-praga podem atacar as sementes e as raízes do milho após a semeadura, e como consequência, reduzir o número de plantas na área cultivada e o potencial produtivo da lavoura. Como parte do ciclo de vida desses insetos é no solo, a detecção e o emprego de medidas são dificultados. As principais pragas que atacam as sementes e raízes do milho são: corós (Eutheola humilis, Dyscinetus dubius, Stenocrates sp, Liogenys sp., Diloboderus abderus (Coleoptera)); percevejo castanho-

-da-raiz (Scaptocoris castaneum, Atarsocoris brachiariae (Hemiptera)); larva-alfinete (Diabrotica spp. (Coleoptera)); larva-arame (Conoderus spp., Melanotus spp. (Coleoptera)) e o cupim-rizófago (Procornitermes triacife (Isoptera)). Apesar de serem encontrados durante todo o ciclo da cultura, os danos mais severos são na fase inicial de desenvolvimento. Essas pragas são polífagas, ou seja, se alimentam de várias espécies de plantas, sejam elas cultivadas ou não. No entanto, vale ressaltar que a importância desses insetos varia de acordo com o local, ano e sistema de cultivo. Para reduzir as perdas econômicas causadas pelas pragas, o monitoramento é uma ferramenta fundamental para a tomada de decisão e deve ser realizado desde o início ao final do cultivo.

Prejuízos Em decorrência da alimentação, os insetos-praga que atacam as sementes e raízes afetam diretamente a germinação e o desenvolvimento das plantas.

O prejuízo é resultado de altas infestações, uma vez que o estande final de plantas é comprometido. As perdas causadas pela larva-alfinete variam entre 10 e 13%, e podem atingir 20% pelo ataque do coró. Para a larva-arame e o cupim-rizófago, as perdas são acentuadas (não estimadas). No geral, os sintomas causados pelos insetos-praga que atacam sementes e raízes se assemelham e são visualizados na fase inicial da cultura, em reboleiras.

Corós As larvas se alimentam das raízes das plantas e ocasionam redução no desenvolvimento, amarelecimento das folhas e murcha, e em ocasiões severas, a morte.

Percevejo castanho-da-raiz Os sintomas são decorrentes da sucção contínua da seiva nas raízes, provocados por ninfas e adultos. As plantas atacadas apresentam desenvolvimento inferior ao restante das


ALERTA

plantas, amarelecimento das folhas e murcha.

Ataque de percevejo ao milho

Larva-alfinete As larvas se alimentam das raízes adventícias e ocasionam redução na absorção de água, nutrientes e tombamento das plantas, conhecido como “pescoço de ganso”.

Pioneer Sementes

Larva-arame As larvas atacam sementes e raízes e ocasionam sintomas de deficiência nutricional e falta de sustentação das plantas.

Cupim-rizófago Os insetos podem atacar as sementes, impedindo a germinação. Nas raízes causam descortiçamento das camadas externas e as plantas ficam amareladas, murcham e morrem.

Controle e inovações A utilização de inseticidas sintéticos para o controle dos percevejos é uma tática comprovadamente eficaz. Pode-se empregar como prevenção a aplicação de inseticidas antes da implantação da cultura, principalmente em sistemas de adoção do plantio direto e uso do tratamento de sementes industrial (TSI) com inseticidas sistêmicos. Também destaca-se a pulverização terrestre de inseticidas em pós-emergência da cultura. Os principais princípios ativos para o controle de percevejos-fitófagos em milho são: cipermitrina, tia-

ARAXÁ - MG (34) 3664-5959

SÃO GOTARDO - MG (34) 3671-6655

metoxam, acetamiprido, fenpropaprina, lambda-cialotrina, clotianidida, bifentrina, dinotefuram e acefato. O controle da larva-alfinete, larva-arame, corós; percevejos-castanhos e cupins é realizado principalmente de forma preventiva, utilizando-se a aplicação de inseticidas sintéticos granulados e líquidos nas linhas de plantio, especialmente em áreas de plantio direto. O tratamento de sementes industrial (TSI) é eficiente para controlar os corós e cupins, mas para larva-alfinete e percevejo-castanho apresenta-se ineficiente, pois o período residual é baixo, durando de 15 a 25 dias. Em adição à utilização de cultivares transgênicas que expressam a proteína Cry3Bb, é uma alternativa eficaz para o controle da larva-alfinete, sendo que a pulverização de formulados do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae apresenta eficiência no controle do percevejo-castanho.

PATROCÍNIO - MG (34) 3831-9094

Rodovia MG 235, KM 89, 693 Zona Rural - CEP: 38800-000

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SANTA JULIANA - MG (34) 3354-1688

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Para o controle dos cupins, uma técnica recentemente implantada é o uso de iscas-armadilhas de papelão, em que a estratégia está relacionada à transmissão de compostos químicos e/ou microbianos das armadilhas.

Falhas As falhas no controle dos insetos subterrâneos acontecem antes da implantação da cultura. As técnicas de controle para os principais insetos-praga que atacam as sementes e raízes do milho são semelhantes, entretanto, há algumas exceções que fazem diferença para o controle ser efetivo. A seguir, listamos alguns dos principais erros e sugestões de como não cometê-los: Não realizar monitoramento da área: o monitoramento é realizado para identificar as pragas que estão presentes e podem ocasionar danos futuros. Para um


ALERTA

Fundação Chapadão

Corós, atacando raiz do milho

correto monitoramento focando pragas subterrâneas é necessário fazer amostragens de solo de 20 a 30 cm de profundidade, além de ter um bom conhecimento de todas as fases da praga. Esta prática é recomendada para corós, percevejos e vaquinha. Preparo inadequado do solo: em propriedades que não estabeleçam o plantio direto, o preparo do solo é fundamental para reduzir as populações de pragas que atacam as raízes do milho. O uso de aração e gradagem pode exercer contro-

le cultural, pois esmaga e expõe as pragas aos inimigos naturais. Esta prática é recomendada para corós, percevejos e vaquinha. Escolha incorreta do tratamento de semente com inseticidas: o tratamento de sementes só será efetivo com o grupo certo de inseticidas, como citado no tópico. Antes de fazer a escolha e compra do tratamento de sementes, é necessário realizar um monitoramento prévio na área e conhecer os insetos-praga que estão presentes.

Estimativas para controlar

Estimativas para prevenir

1) Controle biológico Fungos entomopatogênico para o percevejocastanho.

1) Controle químico: a) Grupo químico dos principais inseticidas sintéticos para tratamento industrial de sementes (TSI) registrados para a praga: - Fipronil - Imidacloprid - Thiamethoxam - Thiodicarb - Clorthianidin

Custos envolvidos

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Metarhizium anisopliae (produto comercial) 2 L p.c./ha, volume de calda de 50L para tratamento no sulco e 200 L para pulverização aérea.

A primeira aplicação é realizada no sulco de semeadura e complementar de sete a 14 dias após a emergência da cultura. *Custo de controle = em torno de R$ 450,00/ha 2) Controle químico: Grupo químico dos principais inseticidas sintéticos para tratamento via aplicação no sulco de semeadura. - Clorpirifós - Thiamethoxam - Fipronil As aplicações dos ingredientes ativos são direcionadas ao sulco de semeadura, antes ou durante o plantio. As formulações devem seguir especificamente a bula de cada produto. *Custo de controle = média em torno de R$ 150,00/ha

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Escolha incorreta de variedades Bt com proteína específica: em conjunto com o tratamento de sementes, focando estender a proteção das plantas por mais de 25 dias após o plantio, a escolha correta da variedade de milho transgênico (Bt) é essencial, pois é necessário escolher variedades específicas não apenas para lagartas, mas também para coleópteros (coró e larva-alfinete), como é o caso das variedades com proteínas Cry3Bb. Não adoção da pulverização de inseticidas em sulco: o tratamento de sementes com inseticida é promissor e muito utilizado em sistemas conservacionistas, entretanto, para a larva-alfinete e percevejos não tem se mostrado uma tática eficiente. Nestes casos, a pulverização em sulcos tem auxiliado os produtores. Para saber se é conveniente utilizar a pulverização em sulco, o produtor deverá proceder o monitoramento e acompanhamento da área. Isso determinará se é necessário a aplicação preventiva ou até mesmo uma pulverização de controle, o que ocorre quando se encontra percevejos próximo à raiz da planta.

Os produtos são para tratamento de sementes. As aplicações devem serem realizadas antes da iniciação do plantio na área, seguindo todas as recomendações descritas na bula. *Custo de controle = em torno de R$ 60,00/ha b) Grupo químico dos principais inseticidas sintéticos para tratamento via aplicação no sulco de semeadura. - Clorpirifós - Thiamethoxam - Fipronil As aplicações dos ingredientes ativos são direcionadas ao sulco de semeadura, antes ou durante o plantio. As formulações devem seguir especificamente a bula de cada produto. *Custo de controle = média em torno de R$ 150,00/ha. 2) Variedade resistente (tecnologia VT PRO 3): Saco 15 kg (60 mil sementes) = R$ 450,00


CERTIFICAÇÃO

M

UBYFOL OBTÉM CERTIFICAÇÃO DE SISTEMAS DA GESTÃO AMBIENTAL

uitas empresas do agronegócio brasileiro a cada dia se preocupam mais com as questões ligadas ao meio ambiente. Estar antenada com essa tendência mundial é fundamental para as marcas, principalmente frente aos clientes e o setor. A Ubyfol, multinacional especializada em desenvolvimento de produtos especiais com macro e micronutrientes, deu um importante passo nesse sentido, e acaba de conquistar a importante certificação da ISO 14001:2015 - Sistemas da Gestão Ambiental. A coordenadora de laboratório, Letícia Alberto, responsável por todo andamento do processo, conta que esta é uma conquista que consolida o trabalho que vem sendo realizado na Ubyfol, de estruturação do seu sistema de gestão, que agora, com essa certificação se estende também ao meio ambiente, além de seu compromisso com a qualidade. “Temos apresentado um crescimento significativo e a certificação contribui diretamente para isso, fazendo parte das estratégias da empresa e incorporando o conceito de sustentabilidade ao seu escopo”, destaca a profissional.

Resultados na prática A nova certificação gerou melhorias nos processos internos da Ubyfol, sendo

observadas ações para redução de aspectos e resíduos gerados. “Muitos resultados já foram obtidos no processo de implementação da ISO 14001:2015, como redução de utilização de 12% da energia elétrica, redução de 50% de papel gerado e de 53% de copos descartáveis consumidos até março de 2020”, explica Letícia. Outros projetos foram iniciados e os resultados serão validados ao longo de 2020, que trarão novos resultados de redução de desperdícios e de custos operacionais.

Confiança Além disso, a certificação permite que haja um aumento de credibilidade da Ubyfol perante o cliente, de forma que este será capaz de ampliar a sua percepção das responsabilidades da empresa não só no que tange os seus produtos e a qualidade dos mesmos, mas no impacto que estes possam gerar ao meio ambiente e para a sociedade. “A certificação representa, ainda, além de todas as vantagens citadas diretamente relacionadas ao meio ambiente e estruturação da empresa, um destaque da Ubyfol perante seus concorrentes de mercado”, aponta a coordenadora de laboratório. O processo de certificação exige tempo e dedicação. A empresa deu início ao

trabalho em julho de 2019 e em abril deste ano foi realizada a auditoria certificadora. “Foi uma experiência incomparável poder liderar mais um processo de certificação da Ubyfol, que valida o comprometimento que a empresa tem e a consciência de que o crescimento contínuo só é possível quando é respaldado por uma estrutura de gestão bem consolidada”, finaliza Letícia.

Ubyfol Multinacional brasileira com sede em Uberaba (MG), a Ubyfol, desde 1985, desenvolve produtos especiais, com macro e micronutrientes, para todas as culturas agrícolas. Possui um portfólio completo, com produtos de alta concentração, não sendo nocivos ao meio ambiente, oferecendo ao mercado uma nutrição foliar de máxima performance e garantia de altas produtividades. Com profissionais especializados, possui assistência técnica de qualidade, com processos de vendas consultivos e bem estruturados, além de um relacionamento diferenciado. Consulte www.ubyfol.com.

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Ubyfol

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AMINOÁCIDOS

O PAPEL DOS AMINOÁCIDOS E SUA IMPORTÂNCIA PARA A AGRICULTURA

Shutterstock

Conhecer a cultura, suas demandas fisiológicas e energéticas a cada estágio fenológico é estratégia eficiente para se alcançar a máxima expressão do potencial produtivo Bruno Neves Ribeiro Engenheiro agrônomo, mestre e coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento - Kimberlit Agrociências Willian Batista-Silva DSc., engenheiro agrônomo, analista de Pesquisa & Desenvolvimento - Kimberlit Agrociências

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A

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s plantas são consideradas organismos sésseis e, portanto, não podem se mover, e como estratégia de sobrevivência, desenvolveram complexos mecanismos capazes de lidar com as mudanças impostas ao longo de seu ciclo. Oscilações nas condições ambientais, tais como temperaturas extremas, deficiência hídrica, alagamento e salinidade afetam consideravelmente a produtividade. Adicionalmente, a presença de pragas e doenças contribui negativamente para o aumento dos danos e, consequentemente, influenciam negativamente na expressão do potencial produtivo das culturas. Esses efeitos passam a ser mais agravados em sucessões de safras, estando sujeitos ao desequilíbrio nutricional e suscetíveis às pressões impostas por pragas e doenças advindas do cultivo anterior. Diante de um cenário desafiador, o

conhecimento e entendimento da fisiologia vegetal passaram a ser considerados uma nova estratégia para auxiliar na busca do aumento de produtividade. A tecnologia em melhoramento genético e os avanços no cenário da biologia molecular, associados à pesquisa e desenvolvimento de produtos que visam o estímulo fisiológico de plantas, proporcionam aos agricultores melhores rendimentos em produtividade. Por isso, é vital conhecer as etapas do desenvolvimento das culturas, bem como dos mecanismos fisiológicos associados às respostas das plantas aos estímulos exógenos, de modo a potencializar a máxima capacidade produtiva das culturas de interesse econômico.

Aminoácidos x desenvolvimento das plantas Os aminoácidos são substâncias orgânicas usadas principalmente para a síntese de proteínas. Entretanto, essas substâncias orgânicas também são fontes de nutrientes, ativadores do metabolismo das plantas, bem como fornecedores de esqueletos de carbono para inúmeras vias metabólicas, incluindo o metabolismo secundário e hormonal. Também são usados como substratos respiratórios sob deficiência de car-

bono (queda da fotossíntese), contribuindo para a produção de energia para as plantas na forma de Adenosina Trifosfato (ATP) (Figura 1, Batista-Silva et al., 2019). Os aminoácidos estão diretamente envolvidos em diferentes processos celulares e seus níveis endógenos são regulados por vias complexas de síntese e catabolismo, influenciados também pela síntese e degradação das proteínas. Embora as plantas sejam capazes de sintetizar os aminoácidos para atender as mais diversas funções fisiológicas, a suplementação exógena em áreas agrícolas é considerada uma estratégia inteligente para estimular o incremento da produtividade, bem como fonte de alívio ao estresse hídrico, salino, térmico ou a altas intensidades luminosas, uma vez que a energia previamente direcionada para a manutenção do ‘turnover’ dessas moléculas orgânicas pode, agora, ser utilizada para manutenção celular e de crescimento (Figura 1). Vale salientar que as plantas requerem quantidades específicas de aminoácidos ao longo de seu ciclo. Portanto, o conhecimento de suas funções é de suma importância para que se possa obter a melhor performance. Além disso, vale ressaltar que os aminoácidos são substâncias orgânicas ca-


AMINOÁCIDOS

Figura 1. Representação esquemática do papel dos aminoácidos em diversos efeitos fisiológicos nas plantas

Aminoácidos Glu

- BCAA -

Gln

Metabolismo do N

- Aromáticos -

Pro Leu Iso Val

Met Cys Lys

Tyr Phe Trp

mCTE/TCA

Absorção de água e sais minerais

ATP

Metabolismo secundário

Crescimento/ manutenção

Defesa vegetal

pazes de quelatizar cátions, bem como aumentar a absorção e o transporte de diferentes nutrientes em todas as partes das plantas. Isto ocorre baseado na velocidade de penetração via cutícula, o que favorece a penetração desses nutrientes, uma vez que a carga iônica do metal está neutralizada, suprindo a planta desses nutrientes eficientemente.

Absorção Assim como na absorção de macro e micronutrientes, os aminoácidos podem ser absorvidos pelo sistema radicular e pelas folhas, caules e ramos. No sistema radicular, a absorção para o interior das células acontece via transportadores específicos que estão associados ao gasto de energia para o carregamento para o interior das células (Tegeder and Rentsch, 2010). Já a penetração dessas moléculas via folhas, caules e ramos ocorre após serem rompidas as duas barreiras na lâmina foliar, como a cutícula e posteriormente via membrana. Desse modo, cerca de 25% dos aminoácidos aplicados às plantas, após um dia, já estão incorporados ao metabolismo vegetal como se fossem sintetizados pela planta e já contribuem para o processo de crescimento e desenvolvimento (Stiegler et al., 2008; Tegeder and Rentsh, 2010). Os aminoácidos como aliviadores do estresse são explicados pelo fato de grupos específicos de aminoácidos serem usados

IAA

Clorofila/ fotossíntese

Raiz

diretamente na mitocôndria durante o processo respiratório (Figura 1).

Pesquisas Aminoácidos como os de cadeia ramificada (Leucina, Isoleucina e Valina), assim como os aromáticos (Tirosina, Triptofano e Fenilalanina), lisina e os sulfurosos, como cistina e metionina, são completamente oxidados, liberando elétrons diretamente na cadeia transportadora de elétrons, contribuindo para a síntese de energia na forma de ATP - molécula de adenosina trifosfato e fontes de nutrientes como o enxofre (Figura1, Araújo et al., 2011; Hildebrandt, 2018). Esses processos são comumente acionados quando estresses induzem uma limitação fotossintética e reduções nos níveis de carboidratos, fonte energética, afetando diretamente o crescimento e acúmulo de biomassa na forma de folhas ou órgãos reprodutivos, como os grãos, frutos, raízes, etc. Além disso, estudos têm mostrado que a aplicação exógena de aminoácidos aumenta a tolerância das plantas a diversos estresses abióticos (hídrico, térmico, luz e outros) e, no seu conjunto de funções, os aminoácidos garantem a excelência nos processos fisiológicos (Figura 1). Também, estas aplicações modulam os níveis hormonais celulares, uma vez que o triptofano e metionina são precursores dos hormônios auxina e etileno, respectivamente (Taiz & Zeiger, 2010). Deste modo, a absorção desses hor-

mônios irá induzir a formação de raízes e melhorar o estabelecimento das plantas. Adicionalmente, a auxina aumenta a manutenção do meristema apical caulinar, gerando novas estruturas vegetativas e reprodutivas (Figura 1). A aplicação de aminoácidos aumenta a entrada de carbono no sistema das plantas, acelerando a recuperação dos efeitos deletérios provocados pelo uso de herbicidas (glifosato), por viabilizar a conversão de fotoassimilados e estruturas funcionais. Já a classe dos aminoácidos aromáticos confere proteção contra ataques de pragas e patógenos, uma vez que também fazem parte da via de síntese de diversos compostos presentes no metabolismo secundário, como grupos fenólicos (ácido cinâmico, ácido cafeico, flavonas e ácidas cumárico) e que são utilizados muitas das vezes como compostos de defesa das plantas (Figura 1). Além disso, são importantes em respostas físicas pós-formados, como a participação de síntese das ligninas nos vegetais. Os aminoácidos, portanto, proporcionam sistemas produtivos mais equilibrados, uma vez que estão intimamente relacionados à excelência do metabolismo das plantas cultivadas. Nesse cenário, a Kimberlit Agrociências tangibiliza o uso de aminoácidos na agricultura por meio do fornecimento de fertilizantes líquidos e sólidos de alto padrão de qualidade e que são aditivados com exclusiva composição de aminoácidos.

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Osmoprotetor

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PRAGAS

NEMATOIDES Rosângela Silva

ESTRATÉGIAS EFETIVAS DE CONTROLE Vanessa Alves Gomes Engenheira agrônoma, mestre em Fitopatologia e doutoranda em Proteção de Plantas - UNESP/Botucatu vavvgomes@gmail.com

Carolina Alves Gomes Graduanda em Agronomia - UFV/CRP carol.agomes11@gmail.com

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A

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tualmente, problemas com nematoides estão cada vez mais frequentes. Cada nematoide apresenta condições específicas para o desenvolvimento de seu ciclo de vida, e a depender disto pode se tornar importante em uma dada região a partir destas características. Existem inúmeros gêneros de nematoides fitoparasitas causando problemas em diversas culturas de interesse econômico. No entanto, os nematoides do gênero Meloidogyne e Pratylenchus são os mais encontrados. Os nematoides das galhas (Meloidogyne spp.) apresentam sintomas bem característicos nas raízes, as galhas. Quando esses nematoides penetram nas raízes, percorrem um caminho até as células da região do parênquima, onde estabelecem sítios de alimentação. Nematoides deste gênero são endo-

parasitas sedentários, penetram todo o seu corpo dentro do hospedeiro e após o estabelecimento do sítio de alimentação as fêmeas adquirem um formado globoso e se tornam sedentárias. Em seguida, os nematoides fazem uma alteração nas células do seu hospedeiro, transformando-as em células gigantes, de maior tamanho (hipertrofia) e multinucleadas (hiperplasia). Todas essas alterações nas células resultam na presença das galhas que podem ser vistas a olho nu em raízes atingidas por este patógeno.

Nematoides das lesões radiculares Os nematoides das lesões radiculares (Pratylenchus spp.) apresentam sintomas bem diferentes dos nematoides das galhas. Nesse caso, é possível serem observadas lesões necróticas e escuras nas raízes. Esses nematoides penetram nas raízes e se alimentam das células do córtex. Aqui temos um exemplo de nematoides endoparasitas migradores, que penetram todo o corpo do hospedeiro e se locomovem enquanto se alimentam. Todo o caminho que o nematoide percorre se alimentando causa lesões nas raízes, pontuações escuras e necrosadas,

sintomas típicos que podem ser vistos a olho nu.

Agressividade O nematoide mais agressivo é o das galhas (Meloidogyne spp.), devido ao seu ciclo de vida ser mais curto, em torno de 28 - 30 dias e a fêmea realizar a postura de mais ovos, podendo ultrapassar 1.000 ovos por fêmea, a depender da cultivar. Enquanto isso, o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus spp.) tem um ciclo maior, entre 45 - 60 dias, e a fêmea tem capacidade de colocar cerca de 100 - 200 ovos. Além disso, os ovos de Meloidogyne são depositados em uma massa mucilaginosa, onde ficam protegidos em casos de condições desfavoráveis.

Como controlar É importante ressaltar que a erradicação deste patógeno é dada como impossível a partir do momento que ele entra na área. O controle de nematoides requer um manejo envolvendo duas ou mais medidas de controle visando a redução da população dos nematoides. Os nematoides são patógenos de solo e atingem as raízes das plantas, por isso,


PRAGAS

é preciso realizar um monitoramento da área e análises nematológicas periódicas (coletar solo e raiz para análise sempre que possível no período de florescimento). Como sintomas diretos, observam-se alterações nas raízes, consequentemente, surgem os sintomas reflexos na parte aérea, tais como amarelecimento, plantas de menor porte, murcha em horas mais quentes do dia e todos esses sintomas podem ser observados em reboleiras no campo. A detecção dos nematoides na área pelos sintomas vai acontecer apenas quando a população já estiver muito alta, o que dificulta o controle.

Prevenção Em caso de áreas sem a presença de nematoides, alguns cuidados não podem ser negligenciados. O controle preventivo para estas áreas é extremamente importante, tais como realizar a limpeza de máquinas e implementos, sempre higienizar as máquinas alugadas antes de entrar com elas em sua propriedade, conduzir a água de chuva de estradas para fora da propriedade por meio de carreadores, fazer uso de material propagativo sempre certificado e livre de nematoides. Medidas preventivas precisam ganhar mais espaço e importância nas propriedades, devido a serem de baixo custo e eficazes.

Estratégias para áreas infestadas com nematoides No caso de áreas que já estão com nematoide, o controle se torna mais delicado. É preciso fazer uso de um manejo utilizando várias medidas de controle. Existem poucos produtos químicos disponíveis no mercado e que conseguem baixar a população de nematoides rapidamente, de forma eficiente. Os produtos biológicos apresentam grande importância no controle de nematoides, no entanto, devem ser utilizados quando a população do patógeno já está baixa, visando manter esse cenário por um período maior. Os biológicos não atuam diretamente nos nematoides realizando o controle, mas sim, auxiliam na microbiota do solo e todo este conjunto mantém a população

Meloidogyne spp. Raízes de Soja

Pratylenchus brachyurus Raízes de algodão

baixa por um tempo maior. Outra medida importante é o uso de rotação de culturas. Para isso, é preciso conhecer, em nível de espécies, qual nematoide está presente na área e, a partir dessa informação, procurar culturas não hospedeiras e de interesse econômico para serem utilizadas na rotação. É possível, também, após saber qual é a espécie presente na área, fazer uso de cultivar resistente. Algumas culturas apresentam materiais geneticamente modificados resistentes a nematoides que apresentam boas características agronômicas e que podem ser utilizadas sem nenhuma perda econômica. Uma novidade no controle de nematoides que está ganhando cada vez mais espaço é o controle fazendo uso de plantas. Esta prática tem se mostrado muito eficiente, além de ser sustentável. Existem diversos órgãos vegetativos que podem ser utilizados no controle dos

nematoides. Esse controle pode ser realizado por meio de extratos vegetais, aplicação de tortas, ou ainda pela incorporação do material vegetal no solo (biofumigação). Como exemplo de plantas, temos as brássicas, mas podem ser utilizados outros órgãos vegetativos de outras espécies, como as sementes de mamão. Ambos podem ser incorporados ao solo devido à presença do isotiocianato, um composto tóxico para os nematoides. Muitas espécies de plantas, a depender dos seus compostos, podem ser cultivadas na área e no final do ciclo, incorporadas no solo. Esta medida atua na redução da população de nematoides auxiliando na implantação da cultura subsequente. Deste modo, fica evidente a necessidade de medidas conjuntas em áreas com nematoides. Fique atento às medidas preventivas e evite nematoides em sua área!


NUTRIÇÃO

FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS DO SURGIMENTO ATÉ AS NOVAS POSSIBILIDADES Reginaldo de Camargo Professor de Gestão Ambiental na Agricultura – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Regina Maria Quintão Lana Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas - UFU Mara Lúcia Martins Magela Doutoranda em Fitotecnia - UFU

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Miguel Henrique Rosa Franco Pós-doutorando em Agronomia - UFU

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m observador mais atento do mercado de fertilizantes no Brasil certamente concordaria com a afirmação de que há alguns anos estamos vivenciando uma nova fase na disponibilidade de novas tecnologias no segmento de nutrição de plantas. Apesar da quase inexistência de incentivos ou políticas públicas específicas para fertilizantes que se utilizam de resíduos ou subprodutos em sua composição, o mercado de fertilizantes orgânicos, organominerais, condicionadores de solo e resíduos para as culturas responde por quase 1/3 do faturamento em fertilizantes no Brasil (Abisolo, 2019). Estamos nos referindo a uma ampla gama de insumos agrícolas que apresen-

tam fontes orgânicas ou elementos dela extraídos em sua composição, com tecnologia incorporada e potencial para promover benefícios aos solos e às plantas, sem deixar de lado a preservação do meio ambiente e o manejo sustentável das lavouras. Atendidas as legislações específicas, ao longo dos anos o próprio mercado tem se encarregado de selecionar e eleger os produtos mais eficientes e de alta qualidade para nutrição das culturas. Inúmeras pesquisas realizadas no Brasil e no mundo, ao longo de décadas, comprovaram os benefícios que a adubação com base orgânica proporciona aos aspectos químicos, físicos, biológicos e ambientais do solo, bem como às plantas.

Expansão de cultivos O que se observa na agricultura moderna de sistemas altamente integrados e tecnificados de semeio é a acelerada expansão das áreas de cultivo, especialmente no Cerrado. A utilização de materiais genéticos cada vez mais produtivos, exigentes e exportadores de nutrientes do solo; altos custos ao produtor com fretes de adubos orgânicos e a reduzida jane-

la de tempo entre cultivos numa mesma área acabaram por limitar a adubação orgânica convencional a poucas espécies e condições de manejo. Todavia, esse cenário não impediu que fontes orgânicas e seus derivados fossem pesquisados e utilizados no desenvolvimento de novas tecnologias. Atualmente, fertilizante orgânico pode ser definido como adubo de natureza orgânica, de origem natural ou obtido por processos de tratamento de subprodutos agroindustriais, rurais ou urbanos, que além de aportar nutrientes para as plantas, contribui para a melhoria das características químicas, físicas e biológicas do solo. Podem ser fluidos ou sólidos e serem aplicados de diferentes formas, como no solo, folha, fertirrigação, hidroponia e nas sementes.

Realidade brasileira Ao se destacar a urgência no desenvolvimento de política de Estado que proteja, estimule e torne cada vez mais viável a indústria dos resíduos orgânicos em alta escala, de modo sustentável, leva-se em consideração o cenário dos fertilizantes no Brasil.


NUTRIÇÃO

Por outro lado, ainda de acordo com o BNDES, a abundante produção de resíduos por alguns setores do agronegócio possibilita que os nutrientes presentes nesses rejeitos possam ser reaproveitados, reduzindo assim a destinação ambientalmente incorreta e atribuindo maior retorno econômico ao agronegócio brasileiro. A produção de resíduos dos setores sucroalcooleiro, bovino, suíno e avícola poderia suprir, aproximadamente, metade da demanda de macronutrientes no Brasil, em um cenário hipotético de aproveitamento de todos os resíduos gerados por esses segmentos. Apenas a conversão dos nutrientes presentes nos segmentos que apresentam menos desafios logísticos (sucroalcooleiro, suíno e avícola de corte) representaria um mercado potencial superior a US$ 1 bilhão anuais. Levantamento como este, capaz de impressionar qualquer gestor na atualidade, provavelmente foi percebido há décadas por países como Alemanha, Japão e Austrália, cujos projetos, políticas e investimentos mantiveram-se por sucessivos governos que conduziram estas nações a um status muito além da modesta realidade brasileira no tocante à gestão econômica e ambiental de resí-

A base de tudo Num passado não muito distante, o modelo de adubação que se consolidou no Brasil há mais de meio século e perdura até os dias atuais se baseia em fertilizantes minerais de alta concentração e solubilidade, como aqueles adotados em países de clima temperado. Este sistema é defendido por alguns técnicos e pesquisadores, mas também é alvo de inúmeros questionamentos, em especial sob a alegação de que este modelo importado não atende com a mesma eficiência às peculiaridades das nossas condições de clima e solo. Este solo, predominantemente, passou por processos de intemperismo e é considerado ácido, pobre em nutrientes e em teores de matéria orgânica. Em condições brasileiras, os fertilizantes exclusivamente minerais apresentam índices de aproveitamento dos nutrientes baixos. De maneira geral, tem-se que a taxa

de eficiência do nitrogênio (N) é de aproximadamente 50%. Isso ocorre porque o N aplicado via fertilizante mineral apresenta muitas perdas, que incluem processos de volatilização (como na forma de amônia, N2 ou óxido de nitrogênio, no caso de desnitrificação), ou até mesmo por carreamento superficial, lixiviação e imobilização no solo. As taxas de aproveitamento do fósforo são ainda mais baixas, uma vez que o fator de eficiência deste nutriente é de aproximadamente 20 a 35%. O fósforo é pouco móvel no solo, sendo fortemente adsorvido nas cargas do mesmo. Além disso, é facilmente perdido por processos de erosão, quando ocorrem perdas de matéria orgânica e das partículas coloidais. Fertilizantes fosfatados sob a forma de fosfato solúvel em água, quando em contato com a solução do solo, solubiliza o fósforo tornando-o disponível. Parte deste nutriente fica diluído na solução do solo e parte fica adsorvida ao complexo coloidal (argilas). Em solos ácidos que apresentam elevados teores de ferro e alumínio, parte do fósforo disponível é fixado, formando compostos de ferro e alumínio, indisponíveis para as plantas. Quanto ao potássio, a eficiência da adubação é de aproximadamente 70%. Isso porque os fertilizantes potássicos são altamente solúveis e perdem-se facilmente ao longo do perfil do solo. Em solos de textura média a arenosa, essas perdas são ainda mais expressivas devido à

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De resíduos a fertilizantes

duos industriais. Dentro desses setores, e incluindo outros segmentos agroindustriais e urbanos, diversos resíduos orgânicos com grande potencial de serem usados na agricultura podem ser apontados como fontes eficientes para compor a produção de fertilizantes, como a torta de filtro, bagaço de cana, composto de barn, cascas de café, cama de frango, turfas, resíduos de árvores, resíduos de batata, lodo de esgoto e etc.

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A cadeia da reciclagem como um todo no País demanda ações planejadas, detalhadas e integradas para as próximas décadas e, na medida do possível, mais protegida de visões equivocadas ou sugestionadas de gestores de políticas públicas. Segundo um amplo levantamento apresentado no Setorial 45 do BNDES de 2017, o déficit estrutural na demanda por macronutrientes no mercado brasileiro é decorrente da força e competitividade do agronegócio e das restrições estruturais da indústria de produção de fertilizantes. Basta observar que o Brasil tem uma produção relevante de fertilizantes fosfatados e nitrogenados que representaram, em 2014, 42 e 26% do consumo nacional, respectivamente, segundo apontamentos da FIESP em 2016. Todavia, nos fertilizantes potássicos, a produção nacional representou apenas 2% do total consumido.

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baixa capacidade de troca catiônica. Se, por um lado, em nossas condições edafoclimáticas a adubação exclusivamente via fontes minerais concentradas está sujeita a elevadas taxas de perdas e apresentam potencial para contaminação do solo, de águas subterrâneas e superficiais, a adubação exclusivamente orgânica também apresenta limitações sob inúmeros aspectos, razão pela qual seu uso exclusivo está restrito a poucas culturas e áreas de menor tamanho. Dessa forma, a mistura de fontes orgânicas e minerais permitiu combinar as qualidades dessas fontes, originando os fertilizantes denominados organominerais.

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Quem são eles

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Por definição, o fertilizante organomineral é formulado com nutrientes minerais naturais ou sintéticos em mistura com fontes de material orgânico de origem natural ou obtidos a partir de processos de tratamento de subprodutos agroindustriais, rurais ou urbanos, que além de aportar nutrientes para as plantas, contribui para a melhoria do condicionamento do sistema solo-planta. Os fertilizantes organominerais reúnem uma série de vantagens quando comparados a qualquer fonte aplicada de forma isolada, seja de um fertilizante mineral ou orgânico exclusivamente. Isso ocorre porque o organomineral apresenta as características ótimas das duas fontes, que não poderiam ser alcançadas individualmente pelas mesmas (Barros, 2019). Uma das caraterísticas responsáveis pela maior eficiência do organomineral em relação a outras fontes de fertilizantes é a proteção que a matéria orgâ-

nica exerce sobre os nutrientes minerais. Como consequência desta proteção, ocorre liberação gradual dos nutrientes na solução do solo (slow release); diminuição dos processos de perdas, o que aumenta a eficiência de aproveitamento pelas culturas; não ocorre segregação porque os macronutrientes (N, P e K) e micronutrientes estão em um mesmo grânulo ou pellet; quelatiza os micronutrientes, aumentando a sua disponibilização no solo; aporta substâncias húmicas, não húmicas e aminoácidos; aumenta a atividade biológica e protege as raízes do excesso de salinidade causado pela adubação mineral.

Origem As primeiras fábricas de fertilizantes organominerais no Brasil surgiram há mais de 20 anos, principalmente nas regiões sul e sudeste, em função da abundância de matérias-primas nestas localidades. Essas empresas trabalhavam com fertilizantes orgânicos simples, principalmente estercos, e passaram a misturá-los com fertilizantes inorgânicos. Já o setor de fertilizantes minerais é mais antigo, sendo que as primeiras fábricas de fertilizantes no Brasil surgiram nos anos 1940 e dedicavam-se exclusivamente à mistura NPK com base em fertilizantes simples importados. A indústria de tecnologia em nutrição vegetal no Brasil apresenta números expressivos, com faturamento de R$ 7,6 bilhões em 2018, com um crescimento de 19,3% em relação ao ano anterior. A cadeia da soja, milho e hortifrúti absorvem aproximadamente 69% de sua produção para estes ramos do agronegócio (Abisolo, 2019). Entretanto, os

desafios da indústria brasileira de fertilizantes são grandes e sem previsão de mudança a curto e médio prazos, uma vez que a matéria-prima representa 50% dos gastos, no qual 41% é importado. O segmento de fertilizantes organominerais representa atualmente 12% do faturamento anual, todavia, diferentes fatores apontam para uma grande expansão desse fertilizante nos próximos anos.

Evolução Além do aumento no número de indústrias de fertilizantes organominerais na região sul, sudeste e centro-oeste, a qualidade dos fertilizantes organominerais também evoluiu consideravelmente em aspectos químicos e físicos. O aumento na utilização dos fertilizantes organominerais tem ocorrido em virtude dos resultados positivos obtidos nos segmentos de grãos (soja, milho, sorgo, feijão, café), hortaliças, frutíferas, cana-de-açúcar e pastagens. Um dos fatores decisivos e responsáveis pelo expressivo avanço na qualidade dos fertilizantes organominerais é a pesquisa científica aliada à prática em campo, que validam os produtos ou novas opções de manejo de adubação. A disponibilidade de publicações científicas de alta qualidade com organominerais nos últimos anos apresentou um grande crescimento, com trabalhos abordando diferentes aspectos de qualidade e eficiência desses fertilizantes. Diversos estudos científicos já comprovaram a eficiência dos fertilizantes organominerais para inúmeras espécies, incluindo as principais culturas plantadas em condições brasileiras, como


NUTRIÇÃO

soja (Almeida Júnior, 2017; Duarte et al., 2013; Alane, 2015;); milho (Franco, 2019; Nunes et al.,2015; Magela et al., 2019), café (Costa et al., 2015; Carmo et al., 2014; Acra, 2015); cana-de-açúcar (Sousa, 2014; Teixeira, 2013; Ramos 2013; Gonçalves, 2018); tomate (Almeida, 2017; Caixeta; 2015); batata (Cardoso et al., 2017); alho ( Justino Neto; 2018); cebola (Luz et al.; 2018); alface (Zandonadi et al., 2018); capim-marandu (Resende Júnior et al., 2016).

Sustentabilidade

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O mercado de fertilizantes no Brasil tem demandado o uso de produtos mais sustentáveis; redução da dependência de matéria-prima importada como estratégia de proteção da agricultura e da economia nacional; bem como a elaboração de uma política de estado integrada e de longo prazo para a destinação de subprodutos e resíduos urbanos industriais e agropecuários com foco na fabricação de fertilizantes. Nesse cenário, o fertilizante organomineral já é um segmento consolidado e uma excelente tecnologia para o manejo mais eficiente das culturas. O que se tem de perspectiva para os próximos anos é a inclusão de novas tecnologias e processos industriais, como incorporação de microrganismos ao grânulo ou pellet para controle de doenças e pragas, como nematoides; adição de reguladores de crescimento ou mesmo de outros insumos agrícolas ao fertilizante organomineral, abrindo infinitas possibilidades para esse setor que está em grande expansão.

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UMA PAUSA NO MUNDO AÇÕES DE RECUPERAÇÃO PARA O PÓS-CRISE DO AGRONEGÓCIO

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Djalma Teixeira de Lima Filho CEO | Partner da Agsus djalma@agsus.com.br José Fratari COO | Partner da Agsus fratari@agsus.com.br

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mbora inicialmente não sendo a principal preocupação, muito mais enfocada no aspecto de contágio epidemiológico, a consequente crise financeira poderá adquirir características sistêmicas de abrangência global. Mais de um terço da população mundial está vivenciando algum tipo de quarentena, e segundo a ONU, a pandemia da Covid-19 é a pior crise global desde a Segunda Guerra Mundial. Milhares de pessoas tiveram que paralisar seus comércios, fechar as portas de lojas, fábricas e escritórios para ficarem em casa, a fim de evitar o risco de contágio. Se para as grandes empresas, pausar o trabalho é uma situação caótica e desafiadora, para as pequenas e médias organizações e empreendedores autônomos foi a concretização de um pesadelo temido. Infelizmente, já foram milhões de demissões e muitos estabelecimentos e famílias com dificuldades para cumprir com seus compromissos. Essa é uma triste combinação, de uma doença que é uma ameaça para todos no mundo, e um colapso econômico que trará uma recessão sem precedentes na história recente. Governos em todo o mundo estão priorizando medidas que limitem a pro-

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pagação da doença e salvem vidas, porém, o desafio maior está por vir, com a busca do melhor modelo de retomada paulatina das atividades laborais e de soluções que mitiguem o risco de um colapso econômico em vários países do mundo, buscando uma adaptação a essa nova normalidade que vai se instaurar no pós-crise.

Desta vez é realmente diferente A Covid-19 mudou a vida das pessoas. Não somente pela alteração da rotina nesses dias de isolamento, mas por mudanças mais profundas e transformações que devem moldar a realidade à qual todos estavam habituados. Mas, como será depois que tudo voltar ao “normal”? Que cenários prováveis já começam a emergir e devem se impor no mundo pós-pandemia? Existe uma forma de prever ou mensurar os prejuízos? Embora as pandemias sejam comparativamente raras e as mais graves mais raras ainda, não há um episódio histórico que possa fornecer qualquer insight sobre as prováveis consequências econômicas da crise global do coronavírus. O mundo pós-pandemia será diferente, e devemos estar preparados para encará-lo. Mas, como isso poderá ocorrer? Nessa realidade de grandes incertezas e complexidade, o certo é que a Covid-19 perturbou a ordem mundial como a conhecemos até agora. Os efeitos mundiais incluíram a ins-

tabilidade social e econômica, corridas às compras, pânico com a disseminação de informações falsas e teorias da conspiração sobre o vírus, fechamento de escolas e universidades, além de paralisação de fábricas e do comércio em geral, afetando importantes canais de consumo. O Fundo Monetário Internacional projeta que, como resultado da pandemia, a economia mundial se contrairá 3% em 2020, a maior desde 1930. O impacto será maior nas economias avançadas (-6,1%) do que nas economias em desenvolvimento (-1%). A Ásia emergente é a única região para a qual o fundo espera um crescimento positivo de 1%, embora ainda seja cinco pontos abaixo da sua média na última década. Os países mais afetados serão Itália (-9,1%), Espanha (-8%), Grécia (-10%), Portugal (-8%), França (-7,2%), Alemanha (-7%), Reino Unido (-6,5%) e Estados Unidos (-5,9%). No Brasil, a contração estimada até esse momento é entre -5 a -6%, com uma taxa de desemprego na ordem de 15%. No entanto, todas estas previsões apontadas pelo FMI, assim como de outros especialistas pelo mundo, estão fortemente carregadas por uma grande carga de imprevisibilidade, já que dependem da interação de vários fatores, como a eficácia das medidas de controle e a evolução da pandemia, avanço nas pesquisas de medicamentos, mudança de comportamento das pessoas e até de articulações políticas.


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têineres. As indústrias de máquinas e implementos agrícolas sofreram reduções e paralisações de suas atividades, já que dependem também da China para o fornecimento de peças e componentes eletrônicos para seguirem produzindo. O setor de flores e plantas ornamentais projetam prejuízos gigantescos, devido à grande redução da demanda com o fechamento do comércio e cancelamento dos eventos sociais. No setor cafeeiro, a preocupação está voltada à disponibilidade de mão de obra e às medidas de controle de contágio, já que grande parte destes trabalhadores migram de outras regiões para as áreas produtoras. Em linhas gerais, estes são apenas alguns reflexos imediatos causados pela doença, e embora não tenhamos muito claro todos os impactos que esta pandemia pode gerar para o setor, a tendência, segundo a maioria dos especialistas, é de que o agronegócio deverá sofrer menores perdas do que os outros setores, tendo, inclusive, quem acredite que será o único a crescer em 2020.

A recuperação na nova normalidade A nova condição de normalidade, provavelmente nunca vista antes, será composta de mudanças profundas no comportamento de consumidores, na gestão da cadeia de suprimentos em praticamente todos os setores da economia, em temas regulatórios relacionados à saúde pública, nas relações trabalhistas e sindicais, no comércio internacional, entre outros, e finalmente na configuração das atividades empresariais, desde protocolos e procedimentos internos ao

modelo de contratação, passando pelo ambiente físico de trabalho. Diante de uma situação tão catastrófica, a preocupação, além do controle e prevenção do contágio, passou a ser também a definição de quando e como poderemos vislumbrar a flexibilização do isolamento social e uma retomada dos diversos setores da economia. De acordo com a consultoria internacional McKinsey, pesquisas e experiências mostram que aqueles que agem com uma mentalidade de ciclo longo estarão mais bem posicionados para acelerar a crise. Nas recessões de 2007/08, que afetaram severamente alguns setores da economia, 20% das empresas de melhor performance estavam à frente de seus pares em cerca de 20 pontos percentuais, à medida que avançavam na recuperação em termos de retorno total acumulado aos acionistas (TRS). Oito anos depois, sua liderança havia crescido para mais de 150 pontos percentuais. Uma das principais lições dessa experiência é que as empresas em geral, de todas as magnitudes, que se movem cedo e decisivamente em uma crise, se saem melhor.

Aceleração da era digital Dentro desses movimentos, não importa se estamos nos referindo a uma propriedade rural, uma agroindústria ou a um distribuidor ou varejista do agribusiness, a transformação digital e estratégica terá um papel de protagonismo no processo de recuperação econômica no pós-crise. De igual maneira, acreditamos que a crise da Covid-19 provavelmente ace-

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Enquanto a grande paralisação, como está sendo chamada a pandemia, aterroriza as cidades, no campo a situação é um pouco diferente. O campo não parou e segue trabalhando intensamente, embora com alguns canais de consumo de produtos do agro paralisados nas cidades, prejudicando principalmente pequenos produtores. A safra de grãos, em fase final de colheita, promete atingir uma produção de 251,8 milhões de toneladas, 4% superior à obtida na safra anterior, segundo dados do 7º levantamento de safra da CONAB. As exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 21,39 bilhões no primeiro trimestre, com destaque para a soja, que mesmo com os preços em baixa no mercado futuro, os valores em reais seguiram em alta, com a forte valorização do dólar, alcançando, somente no mês de março, 11,6 milhões de toneladas exportadas, segundo dados do Ministério da Agricultura. Além disso, as demandas por produtos agrícolas brasileiros estão crescendo, com vários países preocupados com possíveis desabastecimentos pós-pandemia, como China e Egito, entre outros. Soja, carne bovina, frango e algodão são os mais demandados, com a carne bovina batendo novo recorde de exportação no mês de abril. Mas nem tudo é otimismo. As fortes quedas nos preços mundiais do petróleo geraram impactos negativos no setor sucroalcooleiro, obrigando a uma alteração no mix de produção em favor do açúcar em detrimento ao etanol, o que levará a um aumento de oferta mundial, pressionando para baixo os preços internacionais do açúcar e comprometendo as margens e fluxo de caixa das usinas. Problemas de logística para coleta de leite, aliado a uma redução no consumo de lácteos e derivados, afetaram as indústrias de laticínios e produtores de leite. Considerando ainda aspectos logísticos, tiveram grandes perdas os exportadores de frutas, devido à redução e suspensão de voos, já que grande volume destas exportações se dá por via aérea. Outros produtos também tiveram perdas na exportação por falta de con-

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Impactos no agronegócio brasileiro

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lere significativamente a mudança para o digital e agite fundamentalmente o cenário dos negócios. Mesmo antes da Covid-19 chegar, segundo a consultoria McKinsey, 92% das empresas pensavam que seus modelos de negócios precisariam mudar com a digitalização, o que seguramente no novo cenário se torna mandatório. Para isso, algumas capacidades e competências serão fundamentais nessa nova modalidade, cabendo aos executivos e empresários uma análise de seu ambiente de trabalho e de seu entorno empresarial, procurando criar ou aprimorar os seguintes aspectos: Agilidade: a velocidade com que a mudança nos atingiu pegou a todos desprevenidos. Tornou-se óbvio que especialistas técnicos que detinham a exclusividade da informação e sistemas entrincheirados que suportam negócios há anos – tecnologias e sistemas isolados, pilhas de relatórios desconectados e processos altamente complexos - não são páreo para a fluidez dinâmica da crise atual. A tomada de decisão descentralizada, baseada em desenvolvimento de competências e delegação de autoridade clara, deverá ser o novo padrão. Agilida-

de não significa necessariamente velocidade, mas sim a conjugação de adaptabilidade e assertividade. Ações ousadas, apoiadas por um sólido entendimento de risco: a escalada da crise precisa ser acompanhada de ousadia em resposta. É improvável que mudanças incrementais e meias medidas ofereçam às empresas a potência econômica necessária para enfrentar a tempestade e sair da crise em uma posição forte. A ousadia da ação deve ser temperada com uma apreciação completa do risco, buscando, com essa reflexão, a geração de cenários e de suas respectivas ações de mitigação. Compromisso com uma abordagem holística: a crise expôs as fraquezas sistêmicas e organizacionais. Essas debilidades impõem a necessidade de garantir que as iniciativas de gestão, em um primeiro momento, promovam a geração de resiliência no curto prazo, suportada por ações de impacto na preservação do caixa e na revisão dos processos de comercialização, complementadas posteriormente por movimentos de transformação estratégica e digital que levem em conta a gama completa de dependências das ferramentas e mecanismos multifun-

cionais que integram sistemas, pessoas e processos nos negócios.

Hora de agir Apesar dos imensos desafios que os líderes e empresários rurais estão enfrentando hoje, agora é a hora de agir. Dada a rapidez com que as mudanças estão acontecendo, esperar até que você veja sinais de recuperação poderá ser tarde demais. Não há qualquer dúvida que o principal movimento na continuidade operacional é a proteção da vida e da saúde dos colaboradores, principal ativo de todas as organizações, desde uma pequena propriedade rural até uma grande multinacional do agribusiness global. Cumpridos os protocolos recomendados pela Organização Mundial da Saúde e os critérios específicos definidos pelas respectivas autoridades nacionais e regionais, cuja análise não é objeto deste texto, vemos assim, neste cenário, duas grandes linhas de ação, distribuídas entre o curto e o médio prazo, que terão um papel protagonista no processo de recuperação de resultados, que trataremos a seguir.


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Em empresas bem geridas, se observa como regra geral que a área financeira e a gestão de caixa, seja em uma agroindústria, uma cooperativa, uma empresa ou propriedade rural, sempre tiveram um papel de grande importância, pois são responsáveis pelo controle de todos os recursos monetários do negócio, fornecendo uma análise bastante precisa sobre sua saúde financeira, sua rentabilidade e estabilidade. Porém, com o advento da pandemia da Covid-19, mais do que nunca o controle financeiro se faz necessário. Segundo a PwC, há vários problemas provocados por esta situação de pandemia, que podem afetar consideravelmente a área financeira e gestão de caixa de uma empresa: Diminuição da receita: desafios para manter o fluxo de caixa, capital de giro e problemas contratuais; impacto nas estratégias de cobertura e classificação de crédito e incerteza junto a clientes, fornecedores, acionistas e demais stakeholders (públicos de interesse) sobre a capacidade de resposta da organização. Força de trabalho: problemas de disponibilidade de funcionários para lidar com as atividades de negócios; dificuldade organizacional em se adaptar ao teletrabalho e garantir acesso remoto aos sistemas. Operações e cadeia de suprimentos: circunstâncias de demanda descontinuadas e possível inatividade comercial; falhas na cadeia de suprimentos e quebras de estoque; impedimentos e dificuldades em manter a continuidade operacional dos processos e do modelo organizacional. Regulamentação e outros riscos: violação dos termos de acordos, levando a dificuldades como acesso ao financiamento; suspensão ou rescisão antecipada de contratos; respostas regulatórias que impactam em questões trabalhistas ou tributárias. Portanto, ações imediatas de preservação do caixa, como um forte e estruturado programa de gestão de custos e despesas, gestão de carteira e de riscos e captura de mercados de maior valor agregado serão fundamentais em qualquer modelo de gestão dentro do cenário

da nova normalidade econômica e empresarial.

Transformação estratégica e digital Nesse aspecto, chegou a hora de tirar do papel os planos para um uso mais estratégico de modelos e plataformas digitais para tomada de decisões rápidas e precisas, revisão de modelos e canais de compras, que tendem a um uso intensivo de marketplaces do agronegócio, acesso mais direto aos diferentes mercados potenciais suportado por conceitos de gestão de riscos e utilização de novos conceitos de gestão relacionados à indústria e agricultura 4.0. Todos estes temas serão determinantes no sucesso do plano de recuperação econômica pós-Covid-19. Essa visão poderia ser consolidada em quatro grandes tendências pragmáticas no agronegócio, em relação à transformação digital: a) Inovação e agilidade como fatores de rentabilidade: a aplicação de tecnologias convergentes, segundo especialistas do agronegócio, tem um potencial de incremento de até 30% em produtividade, pela utilização massiva de informações geradas em campo (big data), por meio dos sistemas de agricultura de precisão, monitoramento em tempo real e pela análise de sistemas preditivos, não apenas na produção em campo, mas também na logística interna e externa de transporte e armazenamento. Também a rastreabilidade adquire relevância à medida em que cada dia mais os clientes querem ter uma garantia de origem, conceito que pode aplicar-

-se para garantir que a soja foi produzida fora de áreas de preservação ou que a uva utilizada na produção de um vinho ou o grão de café sendo processado provêm de um terroir específico, agregando, com isso, valor ao produto final e à sua cadeia produtiva. Finalmente, não podemos deixar de citar os sistemas integrados de gestão ou ERPs, os quais já se tornaram mandatórios em grandes empresas, porém, ainda necessitam de versões simplificadas que possam atender necessidades específicas de propriedades rurais e empresas de pequeno e médio porte. As informações transacionais geradas nesses sistemas devem alimentar os dashboards, interface de informação e gestão customizável e em tempo real que resume todas as métricas essenciais no processo de tomada de decisão. Mais que gerar a informação, o mais importante é fazer com que a informação gerada promova ações e decisões mais assertivas e que gerem valor aos diferentes participantes da cadeia. b) Reconexão com o cliente: este tópico trata do tradicional conceito do marketing contextualizado ao atual momento das tecnologias digitais, aplicativos e marketplaces, referindo-se, em última instância, ao processo de geração de valor aos clientes. É importante o entendimento de que marketing não é só publicidade, e especialmente no agronegócio a geração de valor pode estar concentrada na prestação de serviços, na solução de problemas, na oferta de conteúdo, na conveniência ou na experiência do cliente (CX – customer experience). O suporte pós-venda é também uma

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Área financeira e gestão do caixa voltam a ser o centro das atenções

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das importantes estratégias utilizadas quando se compreende que a satisfação do cliente vai muito além do processo de compra do produto/serviço, sendo intensificada por um suporte técnico, uma ação de relacionamento ou ainda um treinamento específico para otimizar o nível de aproveitamento. Portanto, produtos e serviços são apenas os veículos da proposta de valor sendo adquirida, que nesse cenário de intensa volatilidade necessita estar otimizada por meio do conceito de proatividade, ou seja, desenhada para antecipar as mudanças de mercado, não apenas para suprir expectativas, desejos e necessidades declarados. Este será o grande desafio.

Novos modelos de negócios O modelo de negócio define a forma com a qual a empresa ou empresário geram valor a seus clientes e são reconhecidos por este fato. Em períodos de turbulência e como resultado da mudança de hábitos e do contexto de mercado onde está inserida a empresa, torna-se necessária uma contínua revisão e aprimoramento do modelo de negócio inicialmente definido. Essa ação pode se dar por meio de

produtos e serviços complementares, estabelecimento de novas parcerias dentro do setor de atuação, geração de experiências agregadas a produtos ou serviços, ou ainda da venda de produtos, como serviços, entre outros, sempre buscando o resultado final esperado na entrega da proposta de valor. A palavra de ordem é a disrupção, buscando continuamente o que é valioso ao seu cliente e o que pode diferenciar uma empresa de seus concorrentes.

Mindset de flexibilidade e inovação As novas gerações de empresários rurais e executivos, que já iniciam a vida profissional em um ambiente de negócios baseado na tecnologia e na internet, promovem as mudanças com mais facilidade em relação às anteriores gerações. A cultura organizacional é um pré-requisito para qualquer tipo de transformação em qualquer negócio, incluindo a transformação digital, sendo definida como o conjunto de crenças e valores, aplicado tanto a uma grande multinacional quanto a uma pequena empresa rural.

A mudança para um novo modelo mental (mindset) é importante no processo de aceitação de conceitos inovadores, entre os quais o de Ativos Alavancados e Staff sob Demanda, definidos por Salim Ismail no livro Organizações Exponenciais. O primeiro é definido como a crescente tendência à terceirização, não somente de atividades e equipamentos de baixa criticidade, mas também de equipamentos estratégicos, exceto em situações de baixa disponibilidade de mercado. A tecnologia permite que as organizações e produtores rurais, por exemplo, facilmente compartilhem em base local e inclusive em maior amplitude geográfica, os ativos necessários às suas atividades produtivas. O conceito de staff sob demanda é uma característica necessária à funcionalidade e velocidade em um mundo em constante transformação. Conhecimentos e habilidades já não necessitam ser exclusivos ou proprietários, especialmente em situações nas quais não sejam necessários em tempo integral ou que possam ser com certa facilidade obsoletados. Nesse conceito, também está mudando o formato de remuneração, cada dia mais vinculado a resultados em substituição a horas dispendidas. Estas visões estão muito vinculadas às startups do agronegócio (agritechs), que contribuirão decisivamente no processo de recuperação da economia no pós-crise.

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Desafios do Agro

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O grande desafio para os produtores rurais, empresários e executivos das agroindústrias e da cadeia de distribuição e comercialização do agronegócio reside em como identificar o seu atual estágio evolutivo em termos de estratégias digitais, definir prioridades conforme as características e necessidades de sua atividade e conectar as diversas tecnologias, de maneira a permitir uma visão holística dos diversos fatores que impactam em seus resultados de caixa e econômico, traduzidos em indicadores de rentabilidade facilmente compreensíveis, que em última instância é o que efetivamente importa. Adicionalmente, é importante administrar a avalanche de dados e em-


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Conforme define Brian Solis, um futurista americano, “transformação digital é uma história de pessoas”. Um fator de fundamental importância neste contexto é a independência, de maneira que a empresa ou produtor rural possam desenvolver e implementar o conceito com uma abordagem holística e integrada, adaptado às suas reais necessidades e prioridades, sem vincular-se exclusivamente para isso com um único fabricante, desenvolvedor ou marketplace, o que poderia gerar futuramente uma excessiva dependência e, consequentemente, maiores riscos ao seu negócio. O modelo de trabalho que sugerimos, baseado em conceitos da Organização Exponencial, considera os seguintes passos:

Fonte. Agsus Agrifunding baseado em Driving Digital Strategy

Conclusão Não é novidade que o agronegócio brasileiro vem sendo, nos últimos anos, uma referência global em produtividade e inovação em diversas cadeias produtivas do setor, assim como é certo que o mundo estabeleceu o coronavírus como uma nova referência de tempo e um marco para importantes transformações que marcarão o século XXI. Se antes já tínhamos caracterizado um mundo VUCA, sigla que representa as características de intensa volatilidade, incertezas, complexidade e ambiguidade, a crise global vai intensificar este processo de mudanças, onde a transformação digital já não será uma tendência ou expectativa futura, mas sim uma realidade imprescindível ao processo de recuperação e otimização de resultados. As empresas e propriedades rurais de sucesso no futuro próximo serão aquelas que conseguirem conciliar os fundamentos de gestão que caracterizam as melhores práticas de mercado com a agilidade, decisão rápida e inovação das startups. Esteja atento também você, empresário, executivo ou proprietário rural, conectando-se com esse novo mundo de soluções disruptivas e fantásticas oportunidades.

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presas de tecnologia, que quase em base diária batem à porta oferecendo um diferente sistema ou aplicativo que pode, em teoria, resolver um problema pontual. A Agsus trabalha dentro de um conceito que permite uma avaliação diagnóstica de maneira transparente e independente, composta de processos sequenciais que em primeira instância buscam reforçar os fundamentos e resultados do negócio atual, gerando as condições necessárias em termos de recursos financeiros e de tempo, para promover o processo de transformação da propriedade ou da empresa, o que, mais do que um processo tecnológico, tem a ver com estratégias claras e com pessoas.

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O ROMPANTE DIGITAL DO CAMPO Cintia Leitão Head de agronegócio da Sênior Sistemas

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ste é um momento ímpar da história da humanidade. Não temos precedentes que nos facilitem tomar um rumo certeiro para o futuro, já que são algumas as incertezas que nos norteiam. Completamente diferente de outras crises existentes, esta trouxe proporções globais, afetou e interditou fronteiras, se proliferou em uma velocidade avassaladora e ainda não possui nenhum horizonte de controle, vacina ou cura. Vivemos apreensivos esperando o desenrolar dos próximos capítulos. Entretanto, no meio dessas dúvidas há algo certo: o mundo não será mais o mesmo. E este não é um clichê. As crises sempre foram as responsáveis por impulsionar grandes movimentos da humanidade, alguns deles disruptivos, outros que ainda engatinhavam e que pegaram carona e aproveitam o efeito catalisador destas mudanças. Neste caso, é unânime afirmar que o mundo se tornou digital. Quem tinha receio desta mudança viu-se engolido por uma onda que não deixou escolhas

e que só se fortalecerá daqui para frente.

O caminho Para começar a falar sobre a transformação digital no agronegócio, precisamos entender como o agronegócio brasileiro tem se comportado entre o analógico e o digital ao longo dos anos. É preciso desmistificar algumas crenças. Em primeiro lugar, para se considerar a adoção de qualquer tipo de tecnologia, e isso vale para qualquer segmento, é necessário que se avalie as condições de infraestrutura e conectividade, fundamentais para conexão, trânsito e armazenamento de dados. Este ainda é um desafio para a maioria dos agricultores e empresários do segmento. Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE (2017), no Brasil existem mais de cinco milhões de estabelecimentos agropecuários e mais de 15 milhões de pessoas que trabalham no segmento. A faixa etária varia, predominantemente entre 35 a 74 anos, de um público em sua maioria masculino (81%). Apenas 5,58% destes têm formação superior. Grande parte dos negócios ainda é de

origem familiar (73% das pessoas têm parentesco entre si) e, sobre a conectividade nas propriedades rurais, 41% têm acesso à internet. Dos produtores entrevistados, 63% afirmam se conectar via celular, porém, 21% deles afirmam que não se conectam em virtude da indisponibilidade de redes. A falta de infraestrutura e conectividade têm os mesmos impactos negativos que a falta de infraestrutura logística proporciona ao País. Em um novo mundo de relações digitais, a conectividade de qualidade é fator-chave para que a transformação digital funcione efetivamente. Quase metade (41%) das propriedades rurais ainda não possui conexão. Se não houver investimento na infraestrutura tecnológica para essas conexões, não passaremos do discurso da vanguarda da transformação digital.

Uma luz no fim do túnel Neste campo, parece que há luz no fim do túnel. Em agosto do ano passado o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e o


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Obstáculos São muitas as ofertas e o “techniquês”. Muitas vezes essa enxurrada de ofertas e informações pode gerar certa resistência ou intolerância sobre a necessidade ou não do ingresso no mundo digital. Segundo o resultado do estudo Radar AgTech, realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e divulgado no ano passado, o País tem 1.125 empresas de tecnologia ligadas ao agronegócio. Imagino o quanto você, leitor do segmento, não é bombardeado com informações e deve ficar desnorteado com tantas opções. Ainda sobre o acordo de cooperação firmado acima, criou-se também a Câmara do Agro 4.0, órgão que tem como objetivo a promoção de debates sobre o tema de fazendas conectadas e interativas com entidades do governo e setor privado. Outra ação que teve uma diretriz similar foi a aprovação do PLC 79, texto que modernizou a Lei Geral de Telecomunicações e preconiza a massificação da internet de banda larga no País, um importante marco para a evolução da conectividade nas áreas rurais. Alguns passos foram dados, mas há, ainda, um longo caminho a ser percorrido. Infraestrutura e conexões são fundamentais, mas não menos importante que elas são as crenças arraigadas no agrone-

gócio brasileiro, que permitem ou não, aos empreendedores, tomarem decisões sobre tecnologias. Segundo a visão do jornalista Jorge Caldeira, no livro “História da Riqueza do Brasil”, o agronegócio foi desde sempre a principal economia no País. Um embrião oriundo das relações de troca entre os colonizadores europeus com os nativos brasileiros. Negócios que, historicamente, foram sendo passados de geração em geração. Das velhas cadernetas de nota, das compras fiadas feitas nos armazéns, às cadernetas que controlavam (e ainda controlam) as despesas dos insumos agrícolas adquiridos de uma safra para outra. Foi lá, naquela época, que nasceu o escambo, que até hoje predomina como forte moeda de troca no agronegócio, agora, em uma roupagem mais moderna e americanizada, batizado de barter.

De lá para cá A gestão, de geração em geração, criou tradições e receitas que, por anos, só eram rompidas com o espiar curioso sobre a qualidade e performance da safra do vizinho. Mesmo assim, as receitas das cadernetas eram quase que imaculadas, até serem assoladas pelo advento das tecnologias modernas de produção: a biotecnologia. Fortemente balizadas na qualidade da produção e no aumento da produtividade por hectare, não demorou muito para que a biotecnologia caísse nas graças dos agricultores brasileiros e os fizessem alcançar 81% da área plantada do País (Fonte USDA, 2018). Com a adoção destas tecnologias, o Brasil chegou ao topo da produção de vários cultivos, como soja, café, açúcar e algodão.

Receita de sucesso É fato, e já se sabe, que biotecnologia e agricultura de precisão trazem resultados precisos na correção, nutrição do solo e desenvolvimento das plantas; que os pivôs de irrigação podem ser controlados à distância; que as máquinas inteligentes podem operar sozinhas; que ferramentas tecnológicas permitem o monitoramento remoto do desempenho das máquinas e que, todas estas tecnologias reunidas, trazem maior produtivi-

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MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) assinaram um acordo de cooperação técnica com o objetivo de promover ações para expansão da internet no campo incentivando o fomento e a adoção de novas tecnologias e serviços inovadores. Ambos têm a ambição de posicionar o Brasil como um exportador de soluções de IoT (internet das coisas) para a agricultura. Descomplicando o termo IoT, nada mais é do que conectar objetos do cotidiano, sejam das fazendas ou empresas. Por exemplo, conectar máquinas agrícolas, pivôs de irrigação, colocar sensores em silos para monitorar volume e umidade, e unir todos estes dados, transformando-os em informação. Este é o outro ponto que trataremos adiante: a necessidade de descomplicar o que são e para que servem as tecnologias para o campo ou negócios agropecuários.

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dade, eficiência e, por consequência, rentabilidade. O agronegócio virou um negócio de desempenho, onde a competitividade é altíssima e qualquer centavo ganho pode se transformar em milhões. Errar, em contrapartida, pode custar uma safra. Quais seriam, então, as dicas que poderiam ser compartilhadas com quem ainda não decidiu por qual caminho seguir ou que deseja iniciar um planejamento estratégico de seu negócio agropecuário? Em primeiro lugar, não há mais escolha! É preciso ter consciência, como falamos anteriormente, que o digital é o novo meio e veículo das relações. Mas, calma, porque esta é uma boa notícia!

Ecossistema

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Dicas

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Uma dica importante para iniciar esse processo de transformação digital é investir em um bom sistema de ERP. Este nome é dado ao sistema de gestão (software) que conectará todos os dados de um negócio e propiciará a gestão de backoffice. Para uma fazenda, a recomendação é a mesma: ter um bom ERP e outro software que se integre a ele e que seja capaz de colher os dados do campo e gerar a integração de todas essas informações. Esta integração dará acesso a todas as informações do negócio e permitirá que o produtor extraia relatórios de custos e de receita para

a tomada de decisão de forma clara e eficiente. Quem tem funcionários também pode adotar um sistema que faça a gestão de todo o seu pessoal, desde o controle da folha de pagamento, gestão do ponto e desempenho deles frente às metas traçadas. Há sistemas para controlar tudo. Basta entender as necessidades e utilizar a tecnologia em benefício. A transformação digital é uma jornada. Será experimentando que será possível saber qual solução é a ideal. Acredite no poder transformador de decisões digitais para o agronegócio.

Foi falado aqui sobre os vários benefícios das tecnologias dentro das fazendas, mas é preciso pensar no agronegócio como um todo, um ecossistema. Seja o seu negócio uma fazenda, loja de insumos, armazém, agroindústria ou prestação de serviços, para qualquer negócio é necessário mapear todos os processos de condução do trabalho, desde a negociação com fornecedores, o recebimento das notas fiscais, dos produtos químicos, sementes, EPIs e assim por diante. De que forma hoje você faz registro de dados e transações do seu negócio? Como planeja pagamentos e recebimentos? Como paga os impostos e tributos? Ainda em planilhas de Excel? Não há problema. Vá mapeando cada passo. Se você é comerciante, mapeie toda a cadeia do seu relacionamento com seus clientes. Dentro das fazendas, o processo é similar. Escreva o passo a passo do controle dos insumos, das aplicações, os registros das datas, os contratos de vendas de grãos, a previsibilidade de produção e assim por diante. Uma possibilidade para quem tenha dificuldade é contar com o auxílio de um consultor especialista. Com estes processos claramente definidos, será possível enxergar o que de fato é necessário para seguir adiante com tudo o que a tecnologia tem a oferecer e como performar o negócio da forma mais produtiva e sustentável possível.


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Lucas Alexandre Batista Engenheiro agrônomo - Universidade Federal de Lavras (UFLA) lucaslabatista@gmail.com

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Guilherme de Sousa Ferreira Graduando em Agronomia - UFLA guilheme.ferreiramb@hotmail.com

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trigo na América do Sul é cultivado principalmente na região do sul, composta pela Argentina, na região dos Pampas, Sul do Brasil, Centro do Chile e partes do Paraguai e Uruguai. No Brasil, há uma tendência de explorar a cultura do trigo no Cerrado, onde vem se investindo em cultivares adaptadas para a região. Milhares de insetos são descritos na cultura do trigo ao redor do mundo onde são cultivados. A maioria dos insetos não causa grandes danos à produção do trigo, embora alguns sejam relatados como responsáveis por perdas expressivas na produtividade.

Alguns desses problemas, como pragas, estão diretamente ligados ao sistema agrícola intensivo de monocultura empregado em uma área específica, enquanto outros são herbívoros oportunistas ou generalistas que não têm como alvo o trigo especificamente como hospedeiro. Algumas dessas pragas são adaptadas ao trigo e ao conjunto de condições ambientais e fisiográficas nas quais ele é cultivado. Como a agricultura se expandiu para áreas que não são tradicionalmente plantadas com trigo, e como essas práticas agrícolas eliminam ou impedem as forças reguladoras naturais que normalmente controlariam suas populações, muitas pragas surgiram em surtos graves, causando destruição quase total nas culturas que infestam.

Pragas mais comuns As pragas mais comuns na cultura do trigo são os pulgões, as lagartas, os perce-

vejos e os corós, que podem reduzir a qualidade dos grãos e a produtividade. Os pulgões (Rhopalosiphum padi, Metopolophium dirhodum, Sitobion avenae e Schizaphis graminum) podem ser encontrados nas folhas, no colmo e nas espigas. Eles são responsáveis por infectar a planta com o Barley Yellow Dwarf Virus (BYDV ) ou virose do nanismo amarelo da cevada (VNAC). Há, no mercado, cultivares tolerantes ao vírus, embora lavouras afetadas possam diminuir a produção em até 20%, podendo chegar a 80%, dependendo do nível de suscetibilidade da cultivar ao vírus. A incidência do BYDV depende da presença de pulgões nas lavouras, que são influenciados pelas condições climáticas do ambiente. Anos quentes e secos influenciam no aumento da incidência de pulgões. Uma forma de prevenir e proteger as plantas contra o ataque de pulgões é o tratamento de sementes, que proporciona uma segurança inicial para


Alerta As lagartas de maior influência na cultura são as lagartas do trigo (Pseudaletia adultera) e a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda), que se alimentam das folhas e atacam as lavouras a partir do mês de setembro. Para controlar as lagartas recomenda-se a aplicação logo nos primeiros focos de infestação, já que os produtos mais eficientes agem por meio da ingestão (Informações Técnicas para Trigo e Triticale 2019 - Embrapa). Os percevejos-barriga-verde (Dichelops furcatus) podem ser encontrados desde o plantio da cultura do trigo até a fase de espigamento, sendo que a fase de maior suscetibilidade ao ataque é entre o emborrachamento/espigamento. As plantas atacadas por percevejos apresentam folhas com perfurações e necrose. Assim, os prejuízos causados pelos danos do percevejo barriga-verde podem variar desde a perda total da planta até perdas de 30% da produção nas plantas sobreviventes. O controle pode ser realizado de forma preventiva usando inseticidas no período de desenvolvimento da cultura, não deixando a população dessas pragas se elevarem a níveis críticos ou ao ponto de apresentarem danos e até perdas significativas na cultura (Informações Técnicas para Trigo e Triticale 2019 - Embrapa). Os corós-das-pastagens (Diloboderus abderus) e o coró-do-trigo (Phyllophaga Triticophaga) atacam a cultura somente quando ainda estão em estádio de larvas. A incidência dos corós nas lavouras varia de ano para ano e ocorre em manchas nas áreas plantadas. Rotação de culturas e a própria palhada do trigo ajudam no controle dessas pragas (Informações Técnicas para Trigo e Triticale 2019 - Embrapa).

Duplo mecanismo de ação Um inseticida com duplo mecanismo de ação faz o controle de pragas das plantas cultivadas, agindo nos insetos por contato e ingestão. Contendo dois ingredientes ativos distintos, com funções diversificadas, seja para controle por inges-

tão ou contato, é recomendado para o manejo da resistência das pragas de difícil controle. Produtos com mais de um mecanismo atuam rapidamente nos insetos por apresentarem alternativas diferentes para diminuir ou eliminar as pragas das lavouras. A utilização de dois mecanismos de ação em inseticidas traz alguns benefícios, dentre eles, diminuir a necessidade de fazer mistura de tanques, pois em um único produto já estão presentes dois ingredientes ativos com mecanismos de ação distintos; diminuir a chance do alvo desenvolver resistência; aumentar o espectro de controle, maior taxa de controle e diminuição do custo de produção. O controle de insetos pragas na cultura do trigo, assim como em outras culturas, deve seguir alguns critérios para que seja eficiente, seguro e economicamente viável. O primeiro passo para um bom manejo de insetos é a realização de monitoramentos periódicos com o intuito de identificar a real necessidade de controle. Estes monitoramentos devem ser realizados semanalmente, por meio da retirada de amostras ao acaso, mas que possuam uma boa representatividade do talhão, lembrando que cada inseto-praga possui uma metodologia específica para sua amostragem. Feito isto e com dados em mãos, deve-se tomar a decisão de entrar com o controle ou não, sendo que cada um deles apresenta determinado nível de dano econômico. Quando o mesmo estiver acima do limite aceitável, este que foi estabelecido com base em estudos técnicos científicos, deve-se entrar com o controle.

Preventivo ou curativo? O controle feito quando ocorre nível de dano econômico é chamado de curativo, mas há também o preventivo, que tem por objetivo cuidar para que não tenha infestação na lavoura. Um bom exemplo de medida preventiva é o tratamento de sementes, pois não deixa que ocorra a infestação nos estádios iniciais da lavoura. No caso do trigo, o tratamento de sementes pode ser usado como estratégia de prevenção ao ataque de pulgões, lagartas e corós.

Sintomas de ataque de pragas em trigo

Custo envolvido O custo com inseticidas varia em função de vários fatores, dentre eles: suscetibilidade da cultivar, condições ambientais da área (há anos que as condições são mais propícias para o aparecimento dos insetos), histórico do talhão (algumas pragas são polífagas, ou seja, atacam mais de uma cultura) e sistema de produção. Todos estes fatores influenciam direta ou indiretamente na população dos insetos e, como já dito, para um manejo correto e economicamente viável, as aplicações só são feitas quando há um dano igual ou superior ao econômico. Segundo levantamento feito pela Embrapa, o gasto com inseticidas é em torno de R$ 17,00/ha para uma produtividade esperada igual a 30 sacas por hectare (estimativa do custo de produção de trigo, safra 2011, para Mato Grosso do Sul Embrapa).

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o desenvolvimento das plantas (Informações Técnicas para Trigo e Triticale 2019 - Embrapa).

Flávio Martins Santana

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FERTILIZANTES DE QUARTA GERAÇÃO Fotos Shutterstock

O FUTURO DA NUTRIÇÃO Éder Jr de Oliveira Zampar Engenheiro agrônomo e mestrando em Solos e Nutrição de Plantas – Universidade Estadual de Maringá (UEM) Bruna Cristina de Andrade Priscila Angelotti Zampar

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Lucas Pereira da Silva Engenheiros agrônomos e mestrandos em Proteção de Plantas-UEM

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Vítor Rodrigues Cordioli Graduando em Agronomia – UEM e estagiário em Solos e Nutrição de Plantas

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aumento da população mundial exige que a produção de alimentos seja cada vez maior e cabe ao setor agrícola se responsabilizar pela segurança alimentar do planeta. A alternativa para suprir essa crescente demanda é o aumento da produtividade dentro de uma mesma área, e não apenas visar a expansão de territórios agrícolas. A utilização de cultivares cada vez mais adaptadas e tecnológicas oriundas do melhoramento genético requerem

manejos mais eficientes. Além da adubação mineral realizada no momento da implantação da cultura, pode-se utilizar a adubação foliar como uma ferramenta visando complementar ou suplementar as necessidades nutricionais das plantas, em que os nutrientes são aplicados diretamente na parte aérea da planta, incluindo folhas e caules. Essa prática agrícola pode ser essencial para que os produtores consigam atingir altos tetos produtivos (Fernández & Brown,2013). O mercado de adubos foliares avançou consideravelmente com o surgimento dos fertilizantes de quarta geração, principalmente no que se refere às formulações, as quais utilizam a adição de aminoácidos como agentes complexantes e “agente quelante” de macro e micronutrientes, buscando aumentar a absorção e a eficiência da adubação foliar.

Nutrição de plantas A nutrição de plantas é conhecida

pela utilização de elementos químicos necessários para que a cultura complete seu ciclo. A nutrição da cultura da soja se torna essencial para o bom desenvolvimento das plantas e consequente produção pelo fornecimento dos macronutrientes essenciais nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) e os micronutrientes zinco (Zn), manganês (Mn), cobre (Cu), ferro (Fe), molibdênio (Mo), cobalto (Co) e boro (B) para o desenvolvimento da cultura. As aplicações foliares de fertilizantes devem ser utilizadas na complementação nutricional das culturas, como um manejo preventivo de deficiências ou visando minimizar algum tipo de estresse que a planta possa sofrer no decorrer do seu desenvolvimento, lembrando que o manejo via foliar nunca deve ter o intuito de substituir a adubação de base. Com o avanço das pesquisas na parte de nutrição foliar, notou-se a necessidade de transformar os elementos aplicados em fertilizantes mais eficientes, que não


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apresentem reação no tanque de aplicação, que não gerem nenhum tipo de fitotoxidez e que tenham uma melhor absorção na planta quando comparado a formulações com sulfato, cloreto, nitrato, óxidos, hidróxidos, oxisulfato, carbonato e fosfitos. Nesse contexto, surgiram os quelatos, produtos de alta estabilidade capazes de manter os íons metálicos cercados por uma molécula orgânica (agente quelatizador) para que sejam protegidos do ambiente que favoreceria sua precipitação na forma de hidróxido insolúvel e não disponíveis para a planta (Chen & Barak, 1982, Lucena, 2006).

Disponibilidade Segundo Wallace (1996), as culturas necessitam receber de cinco a 10 vezes Zn quando se opta por um sal inorgânico em lugar de um quelato, ou seja, os quelatos de Zn são muito mais disponíveis e absorvidos por unidade aplicada do que as formas inorgânicas. Se, por um lado, os quelatos usados em fertilizantes foliares precisam ter uma ligação química suficientemente forte para protegê-los de inesperadas reações químicas, por outro, devem permitir a liberação de forma facilitada, quando absorvidos pelas plantas.

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Desta forma, quelatos incorporam íons de metal numa forma solúvel e facilmente disponível às plantas, pois são altamente solúveis em água.

Fertilizantes foliares à base de aminoácidos A aplicação foliar de produtos contendo aminoácidos é uma técnica que está sendo utilizada nos últimos anos, melhorando a forma de dispor os nutrientes para as plantas e agregando mais aos fertilizantes, reformulando-os como uma nova geração de produtos, a quarta geração.


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transportado através da membrana das células de forma simples, sem gasto energético. Eles apresentam cargas neutras, não atraindo nem repelindo cargas negativas da superfície das folhas, consequentemente, tendo passagem livre através das barreiras. O complexo formado entre o aminoácido e o nutriente penetra mais rápido e de forma mais eficiente nas células, pois são reconhecidos pelos mecanismos de absorção como uma fonte de nitrogênio orgânico (Ashmead, 1986).

Funções

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Cada nutriente tem uma função dentro da planta, de formar um novo composto ou participar de alguma rota metabólica ou ser precursor de aminoácidos. Aminoácidos são formados por um grupo amina e (NH2) e um grupo funcional carboxílico (COOH). Do ponto de vista bioquímico, aminoácido é uma estrutura orgânica que tem como função a produção de proteínas e é coadjuvante na síntese de hormônios. Porém, ainda existem aminoácidos que desempenham funções como suprimento de energia e fornecimento de parte da estrutura de hormônios e enzimas (Zobiole et al., 2010). O fornecimento de aminoácidos por meio de aplicações foliares propor-

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A partir dos aminoácidos são formadas as proteínas e fitormônios indispensáveis para o desenvolvimento dos vegetais. Assim, aminoácidos promovem uma maior eficiência nas atividades metabólicas da planta e, consequentemente, resultam em um aumento da produtividade (Braga, 2016). Os “quelatos”, complexos compostos por aminoácidos, possuem vantagens, pois os ligantes não são sintéticos como a maioria dos quelantes disponíveis. Os aminoácidos são metabolizados pela planta sem deixar resíduos que possam ser lixiviados pela água, como alguns agentes quelantes. As plantas têm afinidade natural para metabolizar os aminoácidos ligantes. Segundo Payne (1972), quando um íon estiver ligado quimicamente ao aminoácido, o resultado é um complexo que é

ciona uma resposta rápida, pois sua incorporação na planta pode passar de 25% de produto aplicado em 24 horas. A importância dos aminoácidos para as plantas está ligada aos metabolismos primário e secundário. Os aminoácidos complexados com nutrientes têm sido utilizados muitas vezes no manejo de situações de estresses abióticos, como déficit hídrico, altas temperaturas, salinidade, entre outros, com a finalidade de mitigar os efeitos desses estresses. A aplicação de aminoácidos em plantas também é realizada para melhorar o crescimento e o nível nutricional das plantas, tornando-as mais tolerantes a danos por doenças (EL-Ghamry et al., 2009). Em plantas submetidas ao estresse, ocorre acúmulo de prolina e outros aminoácidos. Os aminoácidos têm papel que varia na regulação osmótica, regulação de transporte de íons, modulação na abertura de estômatos e desintoxicação de metais pesados. Os aminoácidos também afetam a síntese e atividade de algumas enzimas, na expressão gênica e homeostase-redox (Rai, 2002). Os aminoácidos melhoraram o crescimento e a produção de plantas submetidas a condições salinas. Neeraja et al. (2005) verificaram que o uso de aminoácidos proporcionou o aumento no número de flores e no rendimento de frutos.

Aminoácidos nas plantas A utilização de aminoácidos em aplicações foliares pode ser realizada em diversas culturas, como cereais, olerícolas e hortifrúti. As empresas, de forma geral, fazem recomendações de aplicações em diferentes estádios fenológicos, muitas vezes baseando essas aplicações nas altas demandas nutricionais dos nutrientes complexados com os aminoácidos. De forma resumida, as vantagens da utilização desses fertilizantes estão numa melhor e mais rápida absorção, melhor qualidade da calda de aplicação, sem interações químicas, com benefícios para o solo, com o escorrimento desses complexos para a rizosfera.

Mesmo as plantas podendo conter mais de 300 aminoácidos diferentes, apenas 20 são necessários para a síntese de proteína, sendo eles: fenilalanina, tirosina, triptofano, hidroxiprolina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, ornitina, valina, alanina, arginina, aspartato, asparagina, cisteína, glutamato, glutamina, glicina, prolina e serina. Existem aminoácidos que são muito importantes na composição das proteínas vegetais, como metionina, lisina, glicina e ácido glutâmico (Rodrigues, 2008). Os aminoácidos são considerados aditivos pelo MAPA e têm seu uso aprovado em fertilizantes, em geral como estabilizantes da formulação.


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MATURAÇÃO DO CANAVIAL ETAPA MERECE MAIS EFICIÊNCIA NAS OPERAÇÕES

Miriam Lins

Camila de Andrade Carvalho Gualberto Engenheira agrônoma, mestre e sóciapesquisadora da KP Consultoria Ltda. camila_carvalho03@hotmail.com Gustavo Alves Santos Doutor e sócio-diretor-pesquisador da KP Consultoria Ltda. asgustavo@yahoo.com.br

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cana-de-açúcar é uma cultura de grande importância socioeconômica no Brasil, cuja produção de açúcar e etanol está diretamente relacionada ao acúmulo total de açúcares, de modo que, quanto mais açúcar presente nos colmos industrializáveis, maior será a rentabilidade econômica do processo industrial. Dessa forma, o planejamento estratégico da colheita da cana-de-açúcar busca maximizar o retorno econômico da cultura, realizando o corte no período de pico de maturação do canavial, no qual os colmos apresentam máxima concentração de sacarose e, consequentemente, maior qualidade da matéria-prima.

No início da fase de maturação da cana-de-açúcar, observa-se a redução do crescimento vegetativo da cultura e o acréscimo no acúmulo de sacarose no órgão de reserva da planta, que é o colmo. A maturação da cana-de-açúcar ocorre de baixo para cima, sendo que o entrenó que se forma primeiro acumula açúcar antes dos demais, até atingir o estado de maturação, quando estabiliza a concentração de sacarose. De modo geral, a maturação da cana-de-açúcar, vista pelo aspecto econômico da cultura, ocorre quando a planta atinge o teor mínimo de sacarose de 13% do peso do colmo, considerado viável industrialmente.

Influências Os fatores climáticos são os mais importantes para a fase de maturação, principalmente a temperatura e a umidade, sendo que, para atingir alta produção de sacarose, a planta precisa de temperatura e umidade adequadas para permitir o máximo crescimento na fase vegetativa, seguida de restrição hídrica ou térmica para favorecer o acúmulo de sacarose no colmo. De modo geral, o processo de ma-

turação da cana-de-açúcar ocorre naturalmente no início de maio na região sudeste do Brasil, devido às condições climáticas existentes, com gradativa queda da temperatura e a diminuição das precipitações pluviais. Entretanto, como a safra de cana-de-açúcar no Brasil ocorre em média de março/abril até meados de novembro, o índice pluviométrico e as condições de temperatura estão altas no início do ciclo, tornando-se necessária a utilização de maturadores (reguladores de crescimento), de modo a garantir que ocorra a máxima concentração de sacarose nos colmos.

Benefícios da aplicação de maturadores Na região sudeste, maior produtora de cana-de-açúcar do País, a maturação acontece normalmente de abril a outubro, período que varia de acordo com os ciclos dos materiais (precoce, médio e tardio). Assim, é economicamente viável antecipar a colheita da cana-de-açúcar de início de safra, para que ocorra antes de atingir o pico de maturação, bem como possibilitar a extensão da safra até novembro, sem, contudo, reduzir os teores

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Henrique Gualberto Vilela Penha Doutor e professor - Instituto Federal do Triângulo Mineiro, campus Uberlândia (MG) henriquegualberto@iftm.edu.br

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de açúcar da cana de final de safra. Dessa forma, na busca pela ampliação do período de moagem, aliada à obtenção de matéria-prima de elevada qualidade tecnológica à indústria, torna-se interessante o uso de maturadores na lavoura. Os maturadores retardam ou inibem o desenvolvimento vegetativo, o incremento no teor de sacarose, a maturação precoce, os aumentos em produtividade de açúcar e o máximo potencial de exploração genético das variedades quanto ao acúmulo de sacarose. Neste contexto, o uso de agentes maturadores no início da safra “forçam” a planta a acumular sacarose mais cedo, aumentando a janela de colheita. Além disso, os maturadores evitam a indução ao florescimento, pois paralisam o desenvolvimento da cultura e, consequentemente, promovem o aumento do teor de sacarose e a qualidade da matéria-prima. Esses produtos também apresentam potencial de uso no final da safra, pois após atingir o pico de maturação (junho e agosto), as plantas retomam o crescimento vegetativo, visto que há aumen-

to da temperatura e as chuvas retornam. Dessa forma, uma nova aplicação dos reguladores pode ser realizada para conservar o ponto máximo de saturação e, assim, potencializar o período útil de industrialização. Em síntese, o grande benefício do uso de maturadores é aumentar o teor de sacarose na cana-de-açúcar de início de safra e manter os teores mais altos na cana-de-açúcar de final de safra. Resultados de pesquisas demonstram que a utilização de alguns maturadores também pode promover uma melhor rebrota, com maior vigor e uniformidade, bem como o aumento no número e no peso de raízes da cana-de-açúcar. Além disso, estudos mostram que o “palmito” da cana cresce menos quando se aplica o maturador e, como esta parte é descartada na colheita (desponte), desperdiça-se menos material. Somado a isso, a maturação promove um maior acúmulo de sacarose na parte superior do colmo, possibilitando maior altura de corte e, assim, mais material para as moendas, considerando-se que os últimos nós terão aumento de rendimento. Por fim, é importante evidenciar que

esses produtos diminuem o crescimento da planta, mas não a produtividade, bem como aumentam o açúcar total recuperável (ATR) da matéria-prima.

Como implantar a técnica no campo A implementação desta técnica depende, inicialmente, de um adequado planejamento da colheita junto à unidade de processamento. Para se obter uma janela de colheita satisfatória, as operações de campo devem estar em consonância com a usinagem. A melhor época para a aplicação é no final do período de máximo desenvolvimento da cultura, ou seja, no final do período chuvoso, pois é a época que a matéria-prima está mais pobre em acúmulo de sacarose. Entretanto, aliada à época de aplicação, as doses recomendadas, a época de colheita e a variedade cultivada devem ser consideradas para a escolha do produto mais adequado e a aplicação no momento correto. Existem alguns produtos que podem ser utilizados como maturadores em ca-


CANA

Para obter o melhor manejo de utilização do maturador, deve-se atentar para as seguintes considerações: Aplicação em início de safra: a aplicação deve ser realizada antes da indução floral para reduzir o chochamento e isoporização (desidratação do tecido e perda de peso final). Para a região sudeste, observa-se que, de modo geral, os produtos devem ser aplicados entre meados de fevereiro até abril, aproximadamente 45 a 60 dias antes da colheita, realizando-se uma única aplicação por ciclo. Aplicação em meados da safra: essa aplicação costuma ser mais restrita às regiões chuvosas, o que permite explorar o máximo acúmulo de sacarose pela cultura. Aplicação em final de safra: visa a manutenção do teor de sacarose, evitando o declínio devido ao início das chuvas. Essas aplicações têm sido feitas, normalmente, entre 45 a 50 dias antes da colheita, a depender do produto utilizado, sendo que alguns podem ser aplicados até 15 dias antes da colheita. Ressalta-se, ainda, que os maturadores devem ser aplicados por meio de pulverização aérea, com um volume de aproximadamente 30 L ha-1, e as doses recomendadas variam de produto para produto e, portanto, devem ser respeitadas as recomendações dos fabricantes.

Mais produtividade

De modo geral, a utilização dos maturadores vegetais resulta em maiores ganhos em ATR e, consequentemente, em produtividade de açúcar, uma vez que os benefícios desses produtos estão relacionados às melhorias na qualidade da matéria-prima da cana-de-açúcar. Acréscimos ao peso dos colmos também têm sido observados com a utilização de maturadores, estando este fato associado à menor isoporização dos colmos. O preço da cana-de-açúcar é definido

Pesquisas Resultados de pesquisa têm demonstrado que a aplicação foliar de nutrientes em pré-colheita, antes ou em conjunto com a aplicação do maturador, pode potencializar a produção de sacarose. Dentre os nutrientes comumente aplicados na fase de maturação, destacam-se o zinco, magnésio e o boro. O Zn é um elemento constituinte de enzimas, o qual atua no metabolismo de carboidratos e proteínas e ajuda na fotossíntese. O Mg tem participação direta na fotossíntese e na atividade enzimática, enquanto que o B tem papel fundamental na estrutura da parede celular, na formação e no balanço de fitohormônios, bem como participa da síntese e transporte da sacarose, sendo, por isso, um dos principais nutrientes que ajudam na produção de açúcar. Em experimentos conduzidos no munícipio de Tupaciguara (MG) com o objetivo de avaliar a eficiência da aplicação de um maturador, cujo ingrediente ativo é o trinexapaque-etílico, na qualidade da matéria-prima da cana-de-açúcar de início de safra, acréscimos nos valores de ATR de até 26 kg por tonelada de colmos foram obtidos em relação ao tratamento que não recebeu o maturador. Em um outro estudo conduzido no município de Goianésia (GO), observou-se que a aplicação de um maturador, cujo ingrediente ativo é o etefon, resultou em acréscimos de 13% no peso de colmos (kg) devido, principalmente, à menor porcentagem de isoporização obtida nos tratamentos que receberam o maturador. Resultados positivos também têm sido observados com a aplicação de ácido bórico na pré-maturação da cana-de açúcar, obtendo-se acréscimos mé-

dios de 13,44 kg t-1 nos valores de ATR de sete áreas em que esta fonte foi utilizada, cujos melhores resultados foram obtidos com a aplicação aos 47 dias antes da colheita.

Investimento x retorno

O custo-benefício depende diretamente do ganho em ATR obtido com a utilização do maturador. Por exemplo, ao se investir no uso de maturador, o produtor gastará em média R$ 100,00 (produto + aplicação) por hectare. Se a aplicação resultar em ganhos de 5,0 kg de ATR por tonelada de colmo, observa-se que, para uma produtividade de 100 t ha-1, haveria um ganho de 500 kg de ATR. Dessa forma, um simples cálculo pode ser realizado: se o ATR estiver em torno de R$ 0,65 kg-1 (dados do Consecana-SP para o mês de março, com fechamento dia 17/04/20), o produtor teria um ganho bruto de R$ 325,00 e ganho líquido de R$ 225,00. Portanto, a relação de investimento/ retorno dependerá dos ganhos em ATR, que é consequência da eficiência do manejo do produto na lavoura, sobretudo no que diz respeito ao planejamento e à época de aplicação.

junho 2020

Recomendações

em função da quantidade e da qualidade da cana-de-açúcar colhida. Portanto, quanto maior o peso de cana-de-açúcar e a concentração de açúcar no material, maior o preço da matéria-prima. Dessa forma, aumentar o ATR da cana-de-açúcar resulta em aumentos na liquidez do produtor. A utilização de maturadores pode aumentar a produção de açúcar em até 25%, o que traria maiores rendimentos por hectare cultivado para o produtor.

Miriam Lins

na-de-açúcar, os quais estão divididos basicamente em inibidores de crescimento (ex: Glifosato; Sulfometuron methyl; Fluazifop-p-butil) e em retardantes do crescimento (ex: Etil-trinexapac; Etefon).

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FEIJÃO

MICRONUTRIENTES Ana Maria Diniz

IMPORTANTES PARA A PRODUÇÃO DO FEIJOEIRO Adria Suzane Del Vale Gaspar Carla Beatriz Silva

Camila Juliana Generoso

Dominique dos Santos Casagrande Isnar Borges Campos Neto

Júlia Letícia Martins Galdino Graduandos em Engenharia Agronômica - IFSuldeMinas, campus Muzambinho

junho 2020

Felipe Campos Figueiredo Doutor em Ciência do Solo e professor IFSuldeMinas felipe.figueiredo@ifsuldeminas.edu.br

50

P

or se tratar de uma leguminosa de ciclo curto e sistema radicular pequeno e pouco profundo, o feijão acaba por ser uma planta muito exigente nutricionalmente e sensível às variações climáticas e à falta de água. Como plantas bem nutridas apresentam maior resistência às pragas, doenças e adversidades climáticas, é importante que os nutrientes sejam colocados à disposição da planta em forma e quantidade suficientes, de modo que a mesma consiga completar seu ciclo e produzir de maneira satisfatória (IPNI, 1994). Segundo a Embrapa (1996), os efeitos dos micronutrientes no feijoeiro são

pouco observados, porém, existem inúmeros casos na literatura em que é demonstrado o efeito positivo da aplicação de zinco (Zn) e boro (B). Teixeira et al. (2003) apontam casos de resposta positiva para o zinco, boro e molibdênio (Mo). O molibdênio é essencial ao processo biológico da fixação de N, sendo requerido no sistema enzimático da nitrogenase, bem como em relação ao metabolismo de N nas plantas (Embrapa,1996). Segundo Ambrosano et al. (1996), a aplicação de micronutrientes, incluindo o Mo, pode contribuir efetivamente para o aumento de N nas folhas do feijoeiro, devido justamente ao fato de que esse micronutriente está intimamente relacionado à fixação de N pelas bactérias do gênero Rhizobium. Em um trabalho realizado por Lana et al. (2008), constatou-se que a aplicação do zinco diretamente no sulco de semeadura resulta em maior produtividade de grãos de feijão. Teixeira et al. (2003) afirma que o manganês, em concentrações adequadas, promove aumento nos teores de N.

Manejo de aplicação Para a correta aplicação de fertilizantes na cultura do feijoeiro, sejam eles ma-

cro ou micronutrientes, deve-se realizar análises de solo e folhas, para que assim sejam elaborados os melhores planos de adubação de acordo com dados de produtividade estimada e realidade de cada produtor. Sua aplicação pode ser feita em sulco de plantio, via tratamento de sementes ou ainda por pulverização foliar.

Pesquisa e em campo Em trabalho realizado por Lana et al. (2008), foi concluído que os maiores índices de produtividade de grãos de feijão estão ligados aos tratamentos com zinco na semeadura e tratamento de semente com cobalto e molibdênio. No trabalho de Silva Júnior et. al. (2015) com o feijoeiro Caupi, utilizaram-se diferentes doses de boro, concluindo que a produtividade da cultura foi influenciada até a dose de 2,57 kg/ha, não ocorrendo incremento expressivo adotando doses acima desse valor. Torres (2014) avaliou o efeito da aplicação foliar de doses de molibdênio (Mo) no feijoeiro inoculado associado a cobalto (Co), concluindo, nestas condições experimentais, que não houve interação entre estes dois micronutrientes. Porém, a aplicação de Mo gerou um aumento no


FEIJÃO

Atenção Deve-se atentar às adubações exces-

sivas de fósforo na área de cultivo, pois o P em excesso atua inibindo o zinco, tanto no solo quanto na planta (Lana et al., 2008). O zinco é um micronutriente muito importante para o feijão por garantir melhor enchimento de grãos do feijoeiro, quando adubado de forma correta. Quanto aos óxidos de Cu, Mn e Zn, é indicado que sejam aplicados em formas solúveis, pois, em grânulos com menos de 40% de solubilidade em água, a eficiência desses micronutrientes é reduzida (Embrapa, 2016). Os produtores devem ter em mente que a adubação e qualquer outra aplicação em sua lavoura deve ser realizada sempre com base em análises e, no caso de defensivos agrícolas, em dosagens pré-estabelecidas. Assim o sistema ficará em equilíbrio, bem nutrido, não havendo gastos desnecessários com produtos e/ou incrementos de doses que não trazem benefícios significativos, pelo contrário, que podem afetar negativamente sua produção.

Custo-benefício Como atualmente o mercado já vem proporcionando essa possibilidade, é recomendado que o produtor utilize sementes já tratadas com micronutrientes, favorecendo desde o início o processo de fixação biológica - vital para o feijoeiro, embora não se deva deixar a complementação de N com fertilizantes nitrogenados -, nisto o produtor economiza em número de aplicações e, consequentemente, em mão de obra, pagando um valor relativamente baixo para os benefícios proporcionados.

Miriam Lins

número de vagens da cultura, verificando-se também uma tendência a maiores produtividades médias com o aumento da dose de Mo aplicado. Em trabalho realizado pela Embrapa (2003), observou-se que os teores ideais de Mn e Fe, na folha de feijoeiro, são respectivamente de 30 a 300 mg/kg-1 e 100 a 450 mg/kg-1, sendo possível alcançar tais valores com adubações que levem em consideração dados de análises prévias de solo. Para Mn nessas condições experimentais, a testemunha já se encontrava em um nível razoável para esse micronutriente, ainda assim, complementou-se adicionando menor dose, que acabou por gerar aumento significativo na absorção deste nutriente e, provavelmente, maior eficiência na síntese de clorofila e reações enzimáticas, funções desempenhadas pelo Mn na planta (Embrapa, 2003). Teixeira (2002), estudando a interação de doses crescentes de Zn e Mn no feijoeiro via foliar, constatou que a dose de 315 g/ha de Mn associada a 280 g/ ha de Zn alcançou a máxima eficiência técnica em duas aplicações foliares, aos 25 e 35 DAE (dias após emergência), o que correspondeu a uma produção estimada de 2.275 kg/ha de grãos. Com o uso da fonte quelatada via solo, obteve-se incremento na absorção de manganês. Tal observação pode indicar que com o uso desta fonte pode ser reduzida a suplementação deste nutriente via foliar, mantendo-se a produtividade.


MANEJO

FEIJÃO

Epamig

FOSFITO NO MANEJO DA PODRIDÃO RADICULAR Aldeir Ronaldo Silva Engenheiro agrônomo e doutorando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas ESALQ/USP aldeironaldo@usp.br

junho 2020

A

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podridão radicular do feijão é comumente causada por fungos que estão presentes no solo, os quais afetam não somente esta cultura, mas também outras grandes variedades agrícolas. Os tipos mais comuns de podridão radicular na cultura do feijão são: podridão radicular de rhizoctonia, causada pelo fungo Rhizoctonia solani, que afeta também outras culturas, como algodão, soja, tomate, milho, batata, entre outras. Outro tipo bastante comum é a podridão radicular seca, causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. Phaseoli. Ambos os agentes afetam diretamente a capacidade produtiva no cultivo do feijão, e no caso da podridão radicular ocorre a infestação em sementes, resultando no apodrecimento antes da germinação. Em casos de ataques mais tardios, ocorre redução no desenvolvimento das plantas e despigmentação do caule. Já no caso da podridão radicular seca, ocorre a

destruição do sistema radicular, ocasionando redução do crescimento ou tombamento da planta.

Sintomas A podridão radicular provocada pela Rhizoctonia solani apresenta sintomas bem típicos da doença - surgindo logo após a semeadura no estágio de plântula, o fungo provoca lesões na base do caule, resultando no tombamento. Além disso, em outra fase do desenvolvimento vegetal ocorre necrose nos tecidos dos vasos vasculares (xilema e floema), coloração púrpura nas folhas e redução no crescimento da planta. Já no caso da podridão radicular seca, os principais sintomas são: presença de estrias de tonalidade avermelhada, que tardiamente passa para marrom em toda a superfície da raiz, significando a destruição das raízes. Em geral, esse sintoma é bastante frequente nas raízes primárias e secundárias. Nas raízes primárias, por sua vez, ocorre a formação de rachaduras com necrose nas células da região do córtex. Já nas raízes secundárias, são parcialmente destruídas. Em geral, os danos dessa doença na

cultura do feijão podem variar de 20 a 80%.

Regiões mais afetadas Alguns fatores favorecem o desenvolvimento dos agentes causadores da podridão. No caso da podridão radicular seca, há ocorrência de temperaturas baixas, agregado à alta umidade do solo e ao manejo inadequado do perfil, ocasionando compactação, que contribui diretamente para o aumento da incidência da doença no campo. Outro fator que dificulta o manejo da doença é que esse fungo sobrevive por vários anos no solo por meio dos clamidósporos e apresenta uma alta capacidade de disseminação por meio de estruturas como macro e o microconídios presentes no solo. As regiões mais afetadas por essa doença são Centro-Oeste, Sul e Sudeste. No caso da podridão radicular, é uma doença de extrema abrangência nacional, presente em todas as regiões do Brasil, na qual a ocorrência de temperaturas altas e umidade, solos compactados e alta densidade de plantas contribuem diretamente para o aumento da incidência da doença na lavoura. Todavia, em função das mudanças


MANEJO

climáticas, estudos científicos estimam uma futura variabilidade da ocorrência dessas doenças no Brasil no futuro, sendo importante a adoção de manejos eficientes por parte dos produtores de feijão a nível nacional.

Tal informação é confirmada pelo fato de que o fósforo oriundo do fosfito não participa das mesmas reações do fósforo convencional, pois o PO3 é menos instável que o PO4 sob condição ambiental.

Onde entra o fosfito

Manejo

Uma das ferramentas de controle dessas doenças radiculares na cultura do feijão é pelo manejo nutricional de adubação e calagem do solo. Esse manejo nutricional vai promover raízes mais desenvolvidas, provocando também maior tolerância aos danos ocasionados pelo patógenos. Nesse aspecto, o nutriente fósforo exerce importante função, em que a aplicação de fósforo reduziu as perdas causadas pela podridão em torno de 9,0 a 15% em plantas de cevada, no Canadá. Em outro estudo, a aplicação de fósforo reduziu de 42 para 21 a incidência da infecção em plantas de cevada. No Brasil, o fosfito é uma das fontes de fósforo disponível para o produtor. É oriundo do ácido fosforoso que, em associação com o hidróxido de potássio, ocasiona a neutralização e balanceamento entre ácido e base. Quando aplicado via solo, o fosfito é um fertilizante que dispõem para a planta o P na forma de fosfatos, processo realizado por reação de oxidação, todavia, de forma lenta. O fosfito está mais atuante na ação inibitória em infeções em comparação à parte nutricional. O uso de fosfito induz o aumento de produção de moléculas de defesa para a planta, denominado de fitoalexinas, que atuam nos mecanismos de defesa contra o ataque de fungos e bactérias, de maneira que produz um efeito preventivo. Além disso, a composição do fertilizante fosfito possui tanto macro como micronutrientes, permitindo uma suplementação mineral na planta. Um desses elementos é o potássio, que exerce função importante na biossíntese de hidratos de carbono, como por exemplo, amido e celulose, dificultando a incidência de ataque pelo patógeno. Todavia, o fosfito se diferencia das outras fontes de fósforo por se tratar de um ácido fosforoso e não um ácido fosfórico, no qual a atuação não está ligada diretamente à parte nutricional, e sim como um fungicida.

Na forma de controle preventivo, a aplicação do fosfito deve ser realizada durante a fase de formação do sistema radicular, podendo ser aplicado no intervalo de 15 dias durante o crescimento vegetativo do feijoeiro. Já no controle curativo, a aplicação com dose de 2,0 L/ha é mais efetiva. Uma das técnicas em estudo é o uso da engenharia genética de microrganismos associada ao uso de fosfito, como promotores de crescimento das plantas. Atualmente, a taxa de conversão do fosfito no solo varia de três a quatro meses. Todavia, o uso de microrganismo manipulado pode diminuir o tempo de conversão, aumentando assim a disponibilidade para a planta.

Erros

Ana Maria Diniz

junho 2020

A aplicação em solos com baixa concentração de fósforo acarreta em danos por toxicidade, na qual o fosfito não possui um papel expressivo como fertilizante. Dessa forma, a aplicação de fosfito

nesses solos pode acarretar no surgimento de clorose nas folhas e crescimento atrofiado, paralisação do crescimento radicular e amarelecimento da lâmina foliar, aumento na concentração de antocianinas, em destaque nas folhas mais velhas, representando um gasto energético. Outro erro bastante recorrente se trata da alta dosagem, que além de aumentar a concentração de fosfito no solo, também promove o aumento de sais, podendo levar a um desbalanceamento nutricional, pois grande parte dos produtos comerciais de fosfito leva em sua composição os sais alcalinos. Na aplicação do fosfito, deve ser levado em conta a concentração do fósforo no solo, pois ao invés de apresentar um efeito tóxico, em solos com adequados teores deste elemento o fosfito pode contribuir nutricionalmente por meio da interação com a atividade microbiana do solo. A dosagem e a forma de aplicação também são fatores a serem levados em conta, afim de evitar danos de toxidade ou aumento no custo financeiro da prática. Geralmente, a dosagem adotada para a cultura do feijão varia de 1,0 a 3,0 L/ ha. A aplicação, quando via foliar, deve evitar horários com temperaturas mais altas e luminosidade intensa. Também não se deve realizar a mistura com agrotóxicos.

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junho 2020

PUBLIEDITORIAL

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PUBLIEDITORIAL

Tecnologia e vantagens na utilização de muda de cana Na busca por eficiência, produtividade, fitossanidade, variedades resistentes a doenças e menor custo operacional,

• Sistema MPB: o sistema de mudas pré-brotadas (MPB) de cana é uma tecnologia de multiplicação de produção

o setor sucroenergético vem mudando a maneira de

rápida de mudas, a partir de “chips e/ou minirebolos”, extraídas do colmo de uma planta selecionada e sadia de cana. Após o tratamento adequado dos chips e/ou

plantar seus canaviais. No sistema convencional de plantio, os colmos da cana- de- açúcar são jogados no sulco de

minirebolos, planta-se em bandejas dentro de ambiente controlado (estufa).

plantio. Agora uma nova forma de plantio está sendo utilizada que é o plantio de mudas de cana- de- açúcar, produzidas em sistema protegido (estufa). Podemos produzir as mudas de cana-de-açúcar de três maneiras:

• Perfilhamento: é um processo de ramificação contínua dos colmos da cana, partindo de matrizes selecionadas. Nesse processo, retira-se os perfilhos laterais jovens que são plantados em bandejas dentro de ambiente controlado (estufa). Após o enraizamento, são direcionados para rustificação.

• Micropropagação In Vitro: consiste na produção rápida de milhares de clones de uma planta, a partir de uma única célula vegetal (explante). As pequenas mudas são plantadas em bandejas dentro de ambiente controlado (estufa).

Mudas de Cana CANA-DE-AÇÚCAR

MÉTODOS

1 POR EXPLANTE

CANA-DE-AÇÚCAR

2 POR PERFILHO

5

BANDEJAS

3 POR GEMA – “CHIP”

GEMA – 4 POR “MINIREBOLO”

3

2 • Inovação em uma das culturas mais tradicionais da agricultura brasileira; • Maior rapidez na renovação genética dos canaviais, podendo-se optar por variedades resistentes a pragas e doenças; • Uniformidade dos canaviais, devido a um stand mais homogêneo, proporcionando aumento de até 30% da produtividade e rendimento da lavoura; • Menor estrutura de mecanização necessária, proporcionando redução na compactação do solo;

4

5 • Redução na mão de obra na formação dos canaviais; • No sistema tradicional utiliza-se de 15/20 ton. por hectare de toletes de cana, já no sistema MPB a economia chega a 95% utilizando-se de 500 a 1000 kg; • Diminui-se as áreas destinadas a produção de mudas do sistema convencional. A “cana-semente” que seria plantada no sistema convencional para produzir um novo canavial, agora será processada na Usina, gerando receita adicional;

junho 2020

1

• Possibilidade de replantio/correção de falhas ocorridas na lavoura.

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PUBLIEDITORIAL

Bandeja

77/140 ML

Ideal para mudas produzidas por Minirebolo e também Explante, Perfilho ou Chip

CARACTERÍSTICAS • Formato das células: trapezoidal; • Bandeja plástica rígida para mini rebolo com 140 ml de substrato; • Adensamento de mudas adequado para o desenvolvimento das mudas de cana-de-açúcar; • Excelente espaçamento entre mudas, auxiliando nos tratos culturais, irrigações, fertirrigações, pulverizações de defensivos e podas; MEDIDAS

• A bandeja plástica rígida, garante automação na hora do transplantio das mudas para o campo, reduzindo mão de obra;

DADOS

Número de Células

77 mudas

Volume Células

140 ml

Comp. Bandeja

586 mm

Largura Bandeja

393 mm

Peso da Bandeja

1,65 Kg

Densidade m2

334 mudas

Cor

Preta

• 100% reciclável;

A = 86 mm | B = 50 mm | C = 49 mm | D = 8 mm | E = 33 mm

Tamanho de célula adequado, permitindo perfilamento das mudas ainda na bandeja

Bandeja

162/50 ML

Ideal para mudas produzidas por Explante, Perfilho ou Chip

CARACTERÍSTICAS • Formato das células: cilíndrico com guias radiculares;

junho 2020

• Bandeja plástica rígida com maior quantidade de mudas por m² do mercado – 715 plantas m²; • Facilita automação, manejo e transplantio no campo. • A bandeja plástica rígida, garante automação na hora do transplantio das mudas para o campo, reduzindo mão de obra; • 100% reciclável; MEDIDAS Número de Células Volume Células

50 ml

Comp. Bandeja

670 mm

Largura Bandeja

337 mm

Peso da Bandeja

1,74 Kg

Densidade m2

715 mudas

Cor

56

DADOS

B

C

162 mudas

Preta

E A

F D

A = 74 mm | B = 37 mm | C = 35 mm | D = 13 mm | E = 30 mm | F = 20 mm


PUBLIEDITORIAL

Bandeja

162/47 ML

Ideal para mudas produzidas por Explante, Perfilho ou Chip

CARACTERÍSTICAS • Formato das células: trapezoidal; • Adensamento populacional adequado para o desenvolvimento das mudas de cana-de-açúcar; • Excelente espaçamento entre mudas, auxiliando nos tratos culturais (irrigações, fertirrigações, pulverizações de defensivos e podas); • A bandeja plástica rígida, garante automação na hora do transplantio das mudas para o campo, reduzindo mão de obra; • 100% reciclável; MEDIDAS

DADOS

Número de Células

162 mudas

Volume Células

47 ml

Comp. Bandeja

670 mm

Largura Bandeja

337 mm

Peso da Bandeja

1,40 Kg

Densidade m2

715 mudas

Cor

Preta ou Branca

A = 50 mm | B = 37 mm | C = 36 mm | D = 13 mm | E = 28 mm

Alicate Manual Indicação:

Alicate:

Extração da gema de cana-de-açúcar, para produção de mudas pré-brotadas (MPB), utilizadas no desenvolvimento de mudas de cana-de-açúcar em cultivo protegido.

Fabricado em aço carbono SAE 1020, acabamento zincado, possui cabo emborrachado para melhor empunhadura, trava de segurança e mola de retorno.

junho 2020

EXTRATOR DE GEMA PARA CANA-DE-AÇÚCAR

Lâminas Anelares: São duas lâminas em aço inox nitretado, produzidas em máquinas CNC para um corte preciso da gema. As lâminas são intercambiáveis e pode-se trocar o lado do corte, dando maior durabilidade e tempo de usi nas lâminas ou substituí-las caso necessário.

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SP

07054-040

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AZOSPIRILLUM

CANA

Fotos Shutterstock

MANEJO SUSTENTÁVEL COM Azospirillum brasilense

Camila Abrahão Dell’Agostinho Assistente Técnica do Deptº Agronômico do Grupo Vittia

junho 2020

O

Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, sendo uma cultura de grande importância socioeconômica no Estado de São Paulo e Zona da Mata de Alagoas e Pernambuco. Recentemente, ocorreu uma grande expansão da cultura da cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Além da produção de açúcar, a cana é uma das melhores alternativas para a produção de biocombustíveis (etanol). Atualmente, as unidades de produção também atuam na geração de energia elétrica, aumentando a receita e contribuindo para a sustentabilidade da atividade econômica (Conab, 2017).

Nitrogênio na cana As quantidades de nitrogênio extraídas do solo pela cana-de-açúcar variam de acordo com os métodos de cultivo, variedade, tipo de solo e produtividade do canavial. O nitrogênio é o segundo nutriente mais absorvido pela cana-de-açúcar, superado apenas pelo potássio (Tabela 1).

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Funções do nitrogênio O nitrogênio está diretamente relacionado com a produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar. O nitrogênio

é responsável pelo desenvolvimento vegetativo da cana, entretanto, pode diminuir o teor de sacarose dos colmos. Tem função estrutural, participando de diversos compostos orgânicos nitrogenados – aminoácidos, proteínas, aminas, amidas, aminoaçúcares, dentre outros (Malavolta, 2006). Atua na produção da clorofila e está envolvido diretamente na fotossíntese da cana-de-açúcar (Prado, 2008).

Ciclo do nitrogênio O nitrogênio é um dos elementos químicos mais dinâmicos na natureza e as suas transformações são mediadas por microrganismos (Figura 1). Do ponto de vista agrícola, provavelmente, o ciclo do N seja o mais importante. Ao contrário dos demais nutrientes,

Tabela 1. Absorção e exportação de nutrientes pela cana-planta e soqueira (Orlando Filho, 1993). CANA PLANTA SOQUEIRA Nutrientes colmo-c folha-f c + f colmo-c folha-f c + f kg/100t Nitrogênio (N) 92 62 154 73 58 131 Fósforo (P) 10 8 18 13 8 21 Potássio (K) 64 89 153 71 102 173 Cálcio (Ca) 59 48 107 35 32 67 Magnésio (Mg) 34 17 51 31 14 45 Enxofre (S) 28 19 47 23 16 39 g/100t Boro (B) 195 116 311 102 55 157 Cobre (Cu) 194 93 287 273 116 389 Ferro (Fe) 2.378 6.512 8.890 1.207 4.538 5.745 Manganês (Mn) 1.188 1.651 2.839 916 1.189 2.105 Zinco (Zn) 440 282 722 298 163 461 MACRO

Viviane C. Martins Bordignon Gerente de Produtos Inoculantes

No Brasil, em média, são aplicados 45 kg/ha de N na cana-planta e 80 kg/ ha de N nas soqueiras. O acúmulo de N total nas folhas verdes e secas e nos colmos da cana-planta podem atingir 260 kg/ha de N (Vittia et al., 2011) e 120 kg/ha de N nas soqueiras (Baptista et al., 2014), valores superiores ao fornecimento via adubação nitrogenada. A complementação da necessidade do nitrogênio da cana é proveniente do solo – mineralização da matéria orgânica, aporte de nitrogênio via descargas elétricas e fixação biológica do nitrogênio.

MICRO

Renato Passos Brandão Gerente do Deptº Agronômico do Grupo Vittia

P2O5 = P x 2,291

K2O = K x 1,205


AZOSPIRILLUM

Figura 1. Ciclo do nitrogênio na natureza

Fonte. Biologiatotal

ário, pois é rapidamente oxidado a nitrato pela ação das bactérias do gênero Nitrobacter. 2NO2- + O2 → 2NO3O nitrato produzido na nitrificação pode ser absorvido pelas plantas, utilizado pelos microrganismos, perdido por lixiviação ou por desnitrificação via volatilização. A desnitrificação é a perda de nitrogênio por volatilização, por meio da redução microbiológica do nitrato às formas gasosas (N2O e N2) em ambientes anaeróbicos (solo com baixo teor de oxigênio). Os solos inundados cultivados com arroz são típicos ambientes anaeróbicos (redutores), ou seja, com pouco oxigênio. A desnitrificação não é um fenômeno exclusivo de solos inundados. A compactação do solo pode criar ambientes com baixa oxigenação, acelerando as perdas de N nas formas gasosas e reduzindo a eficiência da adubação nitrogenada (Cantarella, 2007).

Adubação nitrogenada A adubação nitrogenada é a forma mais usual para o fornecimento deste nutriente para a cana-de-açúcar. Porém, é o fertilizante que mais demanda energia

para a síntese e processamento, contribuindo para a elevação do custo de produção das culturas (Alves et al., 2016). A adubação nitrogenada apresenta baixa eficiência nas culturas, dentre as quais a cana-de-açúcar. As perdas de nitrogênio por lixiviação, desnitrificação e volatilização são expressivas. Além do aspecto econômico, o óxido nitroso (N2O) produzido em ambientes anaeróbicos é um dos gases de efeito estufa (GEE).

Estratégias de aumento da eficiência do nitrogênio Os sistemas agrícolas possuem baixa eficiência no aproveitamento dos fertilizantes nitrogenados. A taxa de recuperação do nitrogênio aplicado no solo pelos fertilizantes nitrogenados é baixa. Em média, estima-se que apenas 50% do nitrogênio aplicado no solo é absorvido pelas plantas (Fernandes, 2016). Dentre as práticas que aumentam a eficiência da adubação nitrogenada, destaca-se o parcelamento do nitrogênio, aplicando as maiores doses nas fases de maior demanda da cultura, evitar a utilização da ureia em sistemas de colheita com cana crua e o uso de fertilizantes de

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o nitrogênio praticamente não é fornecido ao solo pelas rochas de origem. A fonte de nitrogênio para as plantas é o nitrogênio atmosférico (N2), uma molécula estável que constitui 78% da atmosfera terrestre. É uma reserva inesgotável de nitrogênio para os seres vivos (Vale et al., 1995). Entretanto, em sua forma elementar não pode ser utilizado pela maioria dos microrganismos e pelas plantas. A reação do N2 a NH3 é realizada por poucos microrganismos (actinomicetos, cianobactérias e bactérias) que contêm a enzima nitrogenase e são conhecidos como fixadores de N2 ou diazotróficos (Cantarella, 2007). O N do solo está predominantemente na forma orgânica, representando cerca de 98% do N total. Embora represente importante reservatório de nitrogênio (2.000 a 20.000 kg/ha de N na camada arável do solo), o nitrogênio orgânico não é diretamente disponível às plantas (Vale et al., 1995). As frações inorgânicas, disponíveis às plantas, são compostas principalmente pelo nitrato (NO 3-) e amônio (NH4+). Pequenas proporções de N2 e outros gases NOx são encontrados na atmosfera e solução do solo (Cantarella, 2007). O processo pelo qual o nitrogênio orgânico é convertido em nitrogênio mineral ou inorgânico (NH4+ ou NO3-) é denominado mineralização. Essa transformação do nitrogênio ocorre na medida em que os microrganismos decompõem a matéria orgânica, aumentando a disponibilidade de nitrogênio às plantas (Vale, 1995). A imobilização do nitrogênio é um processo que ocorre concomitantemente com a mineralização, porém, em sentido inverso. É a transformação do nitrogênio inorgânico em orgânico, reduzindo a disponibilidade do nutriente às plantas (Cantarella, 2007). A nitrificação é a sequência da mineralização, ocorrendo a redução do íon amônio em nitrato. Ocorre em duas etapas no solo e é mediado por bactérias do gênero Nitrosomonas e Nitrobacter. As bactérias do gênero Nitrosomonas promovem a oxidação do amônio (NH4+) para nitrito (NO2-), conforme mostra a reação a seguir. NH4+ + 3O2 → 2NO2- + 2H2O + 4H+ O nitrito é um produto intermedi-

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liberação lenta ou controlada. O uso de inibidores de nitrificação melhora a eficiência dos fertilizantes nitrogenados, com o íon amônio reduzindo a velocidade de transformação para o nitrato, forma química mais facilmente lixiviada. As substâncias húmicas dos condicionadores e fertilizantes organominerais (Fertium®) aumentam a eficiência das adubações nitrogenadas, reduzindo a atividade das bactérias nitrificantes e da urease.

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Fixação biológica do nitrogênio

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A fixação biológica do nitrogênio, realizada por microrganismos fixadores de N2, é um processo que transforma o nitrogênio atmosférico (N2), uma molécula abundante na atmosfera e com alta estabilidade química, em uma forma assimilável pelas plantas – NH3. A simbiose rizóbio-leguminosa é o mais importante sistema simbiótico entre microrganismos e plantas, graças à eficiência do processo de fixação de N2 (Cantarella, 2007). Essa interação é determinada pelo genótipo da planta que proporciona um ambiente favorável para a bactéria, como proteção e nutrição. Em contrapartida, a bactéria fornece nitrogênio às plantas. O caso de maior sucesso no Brasil é a simbiose de bactérias do gênero Bradyrhizobium spp. com a cultura da soja. A quantidade de nitrogênio fixada pela soja varia de 80 a 200 kg/ha (Cantarella, 2007). O Brasil é campeão mundial na

utilização desta tecnologia, dispensando totalmente a adubação nitrogenada. Há, também, um grupo de bactérias diazotrópicas capazes de fixar o nitrogênio atmosférico. São bactérias de vida livre que colonizam a superfície das raízes, rizosferas das plantas, sem a formação de nódulos, podendo também colonizar os espaços intercelulares das raízes, dentre os quais o Azospirillum brasilense (Klopper et al., 1989) (Figuras 2 e 3). O Azospirillum brasilense é denominado de bactéria diazotrófica, pois consegue aproveitar os gases atmosféricos que penetram entre os espaços porosos do solo, fixando o nitrogênio atmosférico (Hungria et al., 2007). Segundo Urquiaga et al. (2012), a quantidade de nitrogênio fixado biologicamente em cana-de-açúcar é de aproximadamente 40 kg/ha. Além disso, o Azospirillum brasilense também é uma bactéria promotora de crescimento de plantas pela sua capacidade de estimular a atividade da redutase do nitrato, quando cresce endofiticamente nas plantas e sintetiza hormônios vegetais indispensáveis para o desenvolvimento das plantas, como auxinas, giberelinas, citocininas e ácido indolacético (Huergo et al., 2008). O maior volume de solo explorado pelas raízes das plantas estimulado pelo Azospirillum brasilense aumenta a absorção de água e nutrientes, tornando-a mais tolerante aos veranicos e melhorando o estado nutricional das plantas. Por possuir essas características, essas bactérias podem se associar a diversas espécies vegetais, como milho, trigo,

arroz, soja, feijão, cana-de-açúcar e pastagens. Shankariah e Hunsigi (2001), verificaram que a inoculação com o Azospirillum brasiliense aumentou a produção de cana-planta e cana-soca em aproximadamente 5,0 a 9,0 t/ha, respectivamente. Lino (2018) verificou que a aplicação de Azospirillum brasiliense com a menor dose de nitrogênio (60 kg/ha) em soqueira de cana-de-açúcar - variedade RB855156 -, aumentou a produção

Benefícios Fornecimento de nitrogênio adicional em complementação às adubações nitrogenadas; Maior desenvolvimento vegetativo e radicular da cana; Melhora o aproveitamento de água e nutrientes pela cana; Garante excelente relação investimento-benefício; Maior sustentabilidade do sistema de produção; Maior produtividade e rentabilidade das culturas, como a cana-de-açúcar. O Grupo Vittia tem desenvolvido vários trabalhos a campo, para melhor entendimento da resposta dessa bactéria na cultura da cana-de-açúcar e tem verificado incrementos significativos nos parâmetros biométricos dessa cultura, bem como na produtividade.


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Figura 2. Coifa radicular de planta inoculada com Azospirillum brasilense

de colmos em 12 t/ha e 2,1 t/ha de açúcar, apresentando resultados similares ao tratamento com a maior dose de nitrogênio (120 kg/ha). Portanto, é uma bactéria que pode contribuir significativamente para o desenvolvimento vegetativo e incremento da produtividade de cana-de-açúcar.

Biomax® Azum Figura 3. Azospirillum brasilense

Biomax® Azum é um inoculante líquido formulado com Azospirillum brasilense (AbV5) na concentração de 3 x 108 UFC/mL. Contém, na solução, estabilizantes do metabolismo das bactérias, permitindo maior viabilidade e efetividade da estirpe da bactéria fixadora de nitrogênio ao longo de todo o período de validade. A dose do Biomax® Azum na cobrição dos toletes em cana-planta é de 0,5 L/ha. O volume de calda varia de 50 a 100 L/ha.

Considerações finais O Biomax® Azum em cana-de-açúcar é uma alternativa viável economicamente para o setor sucroenergético. É uma tecnologia de baixo custo e sem impactos ambientais, proporcionando maior sustentabilidade do sistema de produção da cana. O Biomax® Azum promove uma série de benefícios à cultura da cana-de-açúcar, dentre os quais maior desenvolvimento vegetativo e radicular, melhor equilíbrio hormonal, aumento na produtividade, na produção de açúcar e na rentabilidade da atividade sucroalcooleira.

Quer saber mais? Para mais informações, consulte o site do Grupo Vittia – www.vittia.com. br, nossos representantes comerciais ou os profissionais do Departamento Agronô-


GENÉTICA

CLONES DE CAFÉ RESISTENTES AO BICHO-MINEIRO E FERRUGEM junho 2020

Marcelo André

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Luciane Gonçalves Torres lucianetorres21@hotmail.com

Jean dos Santos Silva santos.jean96@yahoo.com.br Engenheiros agrônomos e mestrandos em Fitotecnia - Universidade Federal de Lavras (UFLA)

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melhoramento genético do cafeeiro visa o lançamento de cultivares com boa produtividade e qualidade, atendendo assim à demanda dos cafeicultores. Essas características são aliadas a diversas outras que contribuem para o objetivo inicial. Uma das técnicas utilizadas no programa é a clonagem de cultivares que apresentem características de interesse. A prática de clonagem do cafeeiro trouxe a possibilidade de lançamento de cultivares resistentes às pragas e doenças primárias que atingem essa cultura, sendo elas, por exemplo e respectivamente,

o bicho-mineiro e a ferrugem. O bicho-mineiro é uma praga que afeta a cultura em qualquer estágio de maturação, penetrando no fruto e levando à depreciação ou até à perda do mesmo, enquanto a ferrugem é uma doença provocada por um fungo que leva à queda precoce das folhas e também dos ramos.

Genética a favor da cafeicultura Os clones de café vieram como uma alternativa eficiente para prevenir o ata-


GENÉTICA

A técnica de clonagem se inicia com a seleção das plantas matrizes. Uma das maneiras de realizar essa prática é selecionando plantas escolhidas em meio a uma lavoura atacada pela praga ou doença, mas que apresentam menor sinal de ataque, se mostrando capaz de resistir àquela situação. Exemplo de seleção foi o realizado pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), quando os pesquisadores observaram que algumas plantas de café arábica cruzadas com outra espécie estavam produzindo plantas resistentes ao bicho-mineiro. Após a seleção, são recolhidas as folhas e levadas ao laboratório, onde serão higienizadas para retirar fungos e bactérias que possam estar presentes. Em seguida, são cortados pequenos pedaços das folhas e colocados em uma espécie de gelatina que contém nutrientes necessários para o crescimento dos calos. Este material fica aproximadamente seis meses na ausência de luz e surgem os calos que darão origem às mudas. Durante um certo período, as mudas permanecem em casas de vegetação, com umidade e temperatura controladas para garantir a sobrevivência das mesmas, que serão posteriormente levadas ao campo.

Erros

O uso de clones resistentes a fatores que possam afetar a produtividade da lavoura, como a ferrugem e o bicho-mineiro, é uma alternativa para prevenir o ataque. As cultivares desenvolvidas para resistência, sejam elas para o bicho-mineiro e/ou ferrugem, possuem outras características importantes que contribuem para sua indicação, como boa capacidade produtiva, que é semelhante ou superior aos padrões suscetíveis, como Catuaí e Mundo Novo, o bom vigor das plantas, que garante sua recuperação pós-estresse por carga e a produção de frutos de boa qualidade. Sendo assim, o uso de cultivares resistentes contribuirá para garantir o potencial produtivo proposto pela cultivar.

Ao utilizar mudas clonadas de café, que apresentem resistência a pragas e doenças, pode ocorrer que os produtores negligenciem outras medidas preventivas, levando a lavoura a uma maior suscetibilidade a outros fatores que possam atingi-la. É preciso esclarecer que a resistência pode ser quebrada por novas raças de patógenos Ainda, recebendo menor atenção aos cuidados fitossanitários, a lavoura pode ficar exposta a outras pragas e doenças. É de suma importância que os cafeicultores mantenham os mesmos cuidados preventivos, mesmo utilizando mudas clonais com resistência a algum fator. Uma lavoura sadia e bem cuidada é capaz de manter sua produtividade e apresentar os resultados esperados. Para produzir um café de qualidade, todas as medidas e cuidados contribuirão para este fim.

Em campo Em estudo realizado por Carvalho et al. em 2013, avaliando o comportamento agronômico de clones com resistência ao bicho-mineiro e à ferrugem nas cidades de Varginha e Boa Esperança, ambas em Minas Gerais, os resultados evidenciaram que é possível obter produtividades superiores às de cultivares comerciais propagadas por sementes mediante a utilização de clones propagados por embriogênese somática. Foram avaliados sete clone com resistência ao bicho-mineiro e/ou ferrugem, e todos eles apresentaram alta resistência.

Investimento Segundo uma análise de custo realizada por Carvalho et al., o custo de produção de uma muda de café a partir de embriogênese somática foi de R$ 0,97 para uma produção anual de 400.000 mudas, utilizando-se o plantio de embriões diretamente em tubetes. Quando é realizada a etapa de produção de plântulas em potes in vitro, o custo de produção passa a ser de R$ 1,34.

Redução do custo O uso de cultivares resistentes ao bicho-mineiro e ferrugem contribui para a redução do uso de agrotóxicos e, consequentemente, do custo de produção. Ainda, são escassos os estudos comparativos entre o custo-benefício de se utilizar mudas clonais em substituição às mudas produzidas por sementes. Mudas produzidas por embriogênese somática ainda encontram como dificuldade o estabelecimento em campo e custo elevado, quando comparadas às demais técnicas de produção de mudas de café.

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Manejo

Relação com a produtividade

Viveiro Monte Alegre

que de pragas e doenças, uma vez que as mudas já apresentam o mecanismo necessário para resistir a elas, quando surgirem nas lavouras.

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NUTRIÇÃO

IMPLANTAÇÃO DE CAFEEIROS FERTILIZANTES DE EFICIÊNCIA AUMENTADA

Giovani Belutti Voltolini Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) giovanibelutti77@hotmail.com Ademilson de Oliveira Alecrim Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Fitotecnia – UFLA ademilsonagronomia@gmail.com

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Fotos Ana Maria Diniz

João Pedro Miranda Silvestre Graduando em Agronomia – UFLA joaopedromirandasilvestre@gmail.com

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utilização de novas tecnologias é cada vez mais crescente na cadeia produtiva do café, de modo que técnicas de manejo, como a adubação, colheita e aplicação de produtos fitossanitários estão cada vez mais práticas e fáceis de serem realizadas, isto devido à frequente contribuição das empresas do setor cafeeiro, com o lançamento de equipamentos cada vez mais aprimorados. Neste sentido, os avanços na produtividade do cafeeiro caminham de encontro ao lançamento destas tecnologias, de forma que os índices produtivos por

área plantada são incrementados ano a ano.

Eficiência nutricional No caso das tecnologias voltadas à adubação dos cafeeiros, têm-se os fertilizantes convencionais e os de eficiência aumentada. Dentre os fertilizantes mais eficientes, se destacam os estabilizados, os de liberação lenta e os de liberação controlada. Assim, atrelado a estas tecnologias, há uma maior segurança quanto à disponibilização dos nutrientes, assim como a libe-

ração ao longo do tempo, ou até mesmo a garantia de eficiência mesmo em condições inadequadas para a liberação do mesmo no solo, e consequente absorção pelas plantas. Desta forma, são características dos fertilizantes estabilizados a adição, nos grânulos dos fertilizantes nitrogenados, de inibidores de urease, fazendo com que a liberação destes seja mais lenta, quando comparada aos fertilizantes convencionais. Por outro lado, os fertilizantes de liberação lenta são aqueles adicionados de formaldeído na composição dos grâ-


NUTRIÇÃO

Vantagens Dentre as principais vantagens da utilização destes fertilizantes tem-se a maior eficiência na utilização dos nutrientes pelas plantas, isso porque, devido à liberação gradativa destes, menores índices de lixiviação, assim como de volatilização de nutrientes, são observados. Ainda, salienta-se a possibilidade de realização de apenas um parcelamento da adubação, facilitando o operacional das propriedades cafeeiras, assim como a redução da demanda de mão de obra para regiões montanhosas, que indispõem de mecanização em suas áreas.

Desvantagens Como algumas desvantagens, pode-se listar o maior custo atrelado à utiliza-

Lavoura nova de café com o manejo correto ção destes fertilizantes, assim como, em alguns casos, como os fertilizantes de liberação lenta, que quando submetidos a grandes índices pluviométricos podem ser liberados de modo rápido, que implica em possibilidade de lixiviação no perfil do solo e consequente falta deste nutriente até o final do ciclo de demanda deste pelas culturas.

Uso em cafeeiros em formação Em se tratando de lavouras de cafeeiro em formação, a utilização de mão

de obra se torna cada vez mais frequente, e estes fertilizantes de eficiência aumentada, com aplicação única durante o período chuvoso, fazem com que ocorra a redução de gastos com trabalhadores, impactando no custo de produção. Ainda, a garantia de liberação ao longo do tempo, atrelado às tecnologias inerentes a cada um deles, faz com que a marcha de liberação dos nutrientes seja equivalente à demanda nutricional da planta ao longo do tempo. No caso dos cafeeiros, existem fertilizantes com liberação por até seis meses após a aplicação.

Custo Geralmente, o custo associado à utilização destes fertilizantes é cerca de 40 - 50% superior aos fertilizantes convencionais. Entretanto, quando se comparam as perdas de nitrogênio, principalmente os fertilizantes convencionais chegam a até 40% em condições extremas, enquanto nos de eficiência aumentada, as perdas são muito reduzidas. Ainda, o custo inerente a 4-5 parcelamentos nos fertilizantes convencionais deve ser levado em conta, pois no caso dos fertilizantes especiais, há possibilidade de uma única aplicação no início do período chuvoso. Portanto, o posicionamento téc-

nico da utilização destes fertilizantes de eficiência aumentada deve ser feito de maneira muito categórica, de modo que cada cafeeiro possui características próprias ao seu local de cultivo. Características como a mecanização, ou também o regime pluviométrico, são fatores chaves para a tomada de decisão de se utilizar ou não estas tecnologias. O custo também deve ser analisado, visto que, devido ao maior investimento inicial associado a esta técnica, os parâmetros de custo-benefício devem ser estudados para que a viabilidade econômica destes seja atestada.

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nulos, fazendo com que, após esta associação, cadeias de carbono sejam formadas em torno do dado nutriente, e assim, a liberação do mesmo só aconteça quando estas cadeias de carbono são quebradas. Nesse sentido, a ação de microrganismos, assim como a presença de umidade no solo, ou em condições de ocorrência de chuvas, faz com que estas cadeias sejam quebradas e, consequentemente, ocorra a liberação do nutriente. Já os fertilizantes de liberação controlada são aqueles onde os grânulos de cada nutriente são submetidos à adição de polímeros, que atuam revestindo os grânulos de cada tipo de fertilizante. Assim, a liberação gradativa, atrelada a esta tecnologia, se dá por meio de diferentes espessuras utilizadas no revestimento destes grânulos, de modo que uma dada porcentagem de grânulos possui uma fina camada de revestimento, e outra dada porcentagem uma maior camada de revestimento. Portanto, por meio da ação do clima, principalmente no que diz respeito à umidade do solo, ocorre a liberação gradativa destes fertilizantes, por meio da degradação destas camadas de polímero. Por fim, ressalta-se que este recobrimento realizado nos grânulos pode ser feito com polímeros de diferentes origens, assim como ácidos orgânicos, entre outros elementos.

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ÉT EM PO

DE CO LH ER CA FÉ

COLHEITA

Fotos Jacto

Otávio Vitor Souza Andrade Graduando em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) otaviovsandrade@gmail.com Cássio Pereira Honda Filho Doutorando em Fitotecnia - UFLA cassiop.honda@gmail.com

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colheita é um dos momentos mais esperados pelos agricultores em todas as culturas, e é nessa fase que o produtor consegue reaver todo o investimento feito ao longo do ano agrícola. Na cafeicultura não é diferente, pois o valor da commodity está diretamente relacionado à qualidade e, quanto maior a qualidade, maior o valor agregado. O custo do processo de colheita pode representar até 30% do valor total do custo de produção. Pequenos erros nessa fase são comuns e podem acarretar perdas no valor da saca, causando prejuízos e muitas vezes tornando inviável a atividade. Durante o ciclo fenológico do cafeeiro podemos observar várias floradas que normalmente se iniciam no mês de

setembro. Esse grande número de floradas faz com que a maturação não ocorra de forma homogênea, sendo possível encontrar no início do período de colheita grãos do tipo verde, verde cana, cereja, passa e seco. O ideal para o posicionamento do início da atividade é fazer uma amostragem para avaliar a quantidade de frutos em cada um dos estágios citados anteriormente, devendo se iniciar a colheita quando a quantidade de grãos do tipo verde variar entre 5 a 20% do total. A velocidade de maturação pode variar de acordo com a altitude da propriedade. Propriedades que se encontram em altitudes mais elevadas, acima de 900 metros, por exemplo, tendem a ter uma maturação mais lenta, enquanto nas áreas mais baixas ocorre uma maturação mais rápida. Isso é devido à influência da temperatura no metabolismo do cafeeiro e no transporte de fotoassimilados que são responsáveis pela maturação. Detalhes como este são extremamente importantes para um bom escalonamento da colheita, diminuindo perdas e buscando

sempre alcançar uma maior rentabilidade.

Próximo passo Passadas as análises citadas anteriormente, chega a hora da colheita propriamente dita, podendo ser feita na forma de derriça completa ou de coleta seletiva. Na derriça completa são retirados todos os grãos, desde os verdes até os secos, enquanto na seletiva são retirados apenas frutos encontrados no estágio cereja, o que exige a realização de mais colheitas durante o período, por conta da maturação desuniforme. Além disso, a atividade pode ser realizada de forma manual, semimecanizada ou mecanizada. Um grande entrave das áreas de montanha que representam uma parte significativa do parque cafeeiro do Brasil é que a colheita mecanizada se torna inviável, sendo necessário que se faça a colheita manual ou semimecanizada. No caso da colheita manual, a atividade pode ser realizada de forma seletiva ou também na forma de derriça comple-


COLHEITA

Mecanização Na vertente da mecanização, alguns produtores optam por realizar apenas uma passada com o café em estágios mais avançados de maturação, pois a força de desprendimento do grão é menor, o que facilita a retirada do fruto da planta e diminui a necessidade da realização de mais entradas com a máquina na mesma área. Um problema relacionado a esse tipo de posicionamento é a questão da quantidade de frutos que acabam se soltando da planta antes da entrada da máquina, e também aqueles frutos que ficam retidos, normalmente os verdes, fazendo com que exista a necessidade de um repasse manual para a derrubada e posterior recolhimento. Isso faz com que a quantidade de ca-

fés de menor qualidade que se encontram no chão aumente, resultando, mais uma vez, em redução da rentabilidade final. Para reduzir essas perdas existe a opção da realização de mais entradas com a máquina para a realização da colheita, podendo chegar a até três passadas. Normalmente a opção se dá pela realização de duas passadas. Na primeira, comumente são retirados os colares com as varetas da parte inferior da máquina trabalhando com uma velocidade maior e vibração menor, colhendo apenas os ponteiros, onde normalmente, por conta da incidência direta de raios solares e novamente pela maior temperatura, os frutos amadurecem primeiro. Com o estresse sofrido pela planta devido à primeira passada com a colhedora, aspectos fisiológicos fazem com que os grãos que sobraram entrem em estágio de maturação mais acelerado e aproximadamente entre 20 a 30 dias após a primeira passada os frutos que restaram já estarão maduros. Então, a segunda passada poderá ser realizada, essa já com todos os colares acoplados, trabalhando a uma menor velocidade e com maior vibração visando a retirada completa dos frutos que restaram nos ponteiros, no terço médio e inferior do cafeeiro.

Regulagem das máquinas Um outro aspecto importante na colheita mecanizada é que uma regulagem bem-feita da colhedora pode dar a pos-

sibilidade de realização da coleta seletiva. A relação entre velocidade e vibração podem ser aspectos decisivos na obtenção de cafés de melhores qualidades, visto que velocidades maiores, com menores vibrações, acompanhadas de um menor peso aplicado nos rolos propiciam a coleta apenas dos grãos cerejas, passas e secos, que podem ser posteriormente separados nos lavadores, possibilitando a obtenção de cafés naturais em lotes maiores, quando comparado à coleta seletiva manual.

Pós-colheita Após a colheita, entra a fase de pós-colheita. Assim que o café chega à estrutura de secagem, em algumas situações existe a necessidade da passagem dos frutos por um sistema de pré-limpeza, que tem por finalidade retirar impurezas que não foram retiradas no campo. Esse tipo de atividade visa propiciar melhores condições para a secagem dos frutos. Elas podem ser realizadas em mesas vibratórias com abanadores mecânicos que, na maioria das vezes ficam entre as moegas de recepção e os lavadores-separadores.

Beneficiamento Atualmente, existem duas modalidades de preparo do café, chamadas via seca e via úmida. Na via seca, cafés naturais são separados em dois lotes, cereja e verde, e um outro lote do tipo boia. Para essa separação, o café que chega da lavoura é colocado em um lavador e a separação ocorre por densidade. Na via úmida, se adiciona o processo de despolpação, que consiste na retirada da casca, podendo ser ou não ser retirada também a mucilagem. Uma das grandes vantagens do preparo por via úmida está relacionado à velocidade de secagem e ao volume ocupado. A diminuição desses dois fatores, tanto o tempo quanto o volume, pode agilizar bastante o processo, facilitando a obtenção de cafés de melhor qualidade em menos tempo dentro da janela de colheita.

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ta. Um problema com a colheita manual é a grande necessidade da utilização de mão de obra, o que acaba onerando os custos e diminuindo a rentabilidade final do produtor. Na semimecanizada, fazendo a utilização de máquinas portáteis esse custo sofre uma diminuição de aproximadamente 41%, porém, a coleta seletiva se torna inviável. No caso das áreas onde é possível a realização da colheita mecanizada, esses custos são menores, podendo chegar a uma diminuição de até 69% do custo total da colheita, quando comparada à manual. Esse índice pode variar de acordo com o número de passadas que são realizadas.

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COLHEITA

COLHEITA DO CAFÉ PRODUTORES DEVEM REDOBRAR OS CUIDADOS Em tempos de pandemia pelo novo coronavírus (Covid-19), o cafeicultor precisa redobrar os cuidados para proteger os colaboradores

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colheita de café começou em todo o Brasil a partir da segunda quinzena de maio. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa da safra de café arábica e robusta no País deve variar de 57,15 e 62,02 milhões de sacas, o que representa um aumento de 25,8% em comparação ao volume colhido na temporada passada. Cerca de 35% do café consumido no mundo é produzido no Brasil. Temos mais de 350 torrefadoras. Em tempos de pandemia pelo novo coronavírus (Covid-19), o cafeicultor precisa redobrar os cuidados para proteger a vida de seus colaboradores e fazer a colheita deste importante produto para o agro do País e do exterior. A colheita do café é uma das atividades mais importantes na cafeicultura e normalmente demanda bastante mão de obra e equipamentos para ser realizada em tempo hábil.

Shutterstock

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Orientações

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A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo produziu um manual de orientação e boas práticas contra a Covid-19, com direcionamentos que podem ser adotados nas comunidades rurais, nas propriedades e no dia a dia da produção. Sendo a colheita do café uma atividade essencial, o produtor, de acordo com o manual, deve afastar os funcionários que apresentem sintomas, como febre, tosse ou dificuldade para respirar e evitar ao máximo a presença de pessoas acima de 60 anos nos locais de trabalho. O trabalhador deve manter as mãos limpas, as unhas cortadas e não fumar ou beber durante a atividade de colheita. Além disso, deve-se evitar compartilhar ferramentas de trabalho, como pás, enxadas, rastelos e peneiras, assim como garrafas de água e de café, e lavar com

desinfetante todos os utensílios e equipamentos com solução clorada (900 ml de água para 100 ml de água sanitária) e higienizar com álcool 70% as partes de contato direto com as mãos nas ferramentas de trabalho, antes do início e ao final da atividade. A recomendação é que ocorra o mais breve possível o recolhimento dos sacos com os frutos colhidos, que devem ser mantidos abertos na parte sombreada da planta. No transporte dos trabalhadores, também deve-se retirar toda a sujeira e borrifar antes e depois das viagens solução de água com 1% de água sanitária ou peróxido de hidrogênio, além de disponibilizar álcool 70% para limpeza das mãos dos trabalhadores, manter as janelas dos veículos abertas e a distância de 1,5 m entre os passageiros. As orientações têm sido seguidas por Diogo Dias Teixeira de Macedo, da fazenda Recreio, que fez algumas adaptações para garantir a colheita do produto e a saúde de seus colaboradores.

Na prática Entre as iniciativas destacadas pelo cafeicultor da montanhosa região de São Sebastião da Grama (SP) está a contratação de trabalhadores da própria cidade, em vez de pessoas do Norte de Minas Gerais, como vinha ocorrendo nos últimos anos, para evitar o trânsito e a aglomeração dos trabalhadores nos alojamentos da fazenda. “No ano passado contratamos 45 trabalhadores de Minas Gerais, que ficavam hospedados na fazenda. Optamos neste ano por contratar 30 pessoas, da própria cidade, para que eles durmam em suas casas, evitando assim a aglomeração na propriedade”, explica. Outra providência foi reforçar a instalação de pias para lavagem das mãos dentro do ônibus e da propriedade. Os


O pesquisador do Instituto Agronômico (IAC-APTA), Gerson Silva Giomo, explica que a colheita do café ocorre, normalmente, de maio a agosto, sendo que em algumas regiões paulistas, como na Alta Mogiana, há uma forte utilização de máquinas, e em outras, como na região de São Sebastião da Grama e Divinolândia, a utilização é menos frequente, devido às condições de topogra-

Planejamento Para Vegro, o momento é de planejamento e preparação, com a manutenção das máquinas e preparo do terreiro. “A Covid-19 traz uma importante mudança para os cinturões produtores paulistas”, afirma. Giomo lembra que o produtor também deve ter atenção no processamento pós-colheita do café, principalmente durante a secagem, para preservar a qualidade do produto, estando sempre atento quanto às recomendações que visam minimizar provável disseminação da Covid-19.

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Colheita do café

fia, que dificultam o uso de colheitadeiras. “O Estado de São Paulo tem migrado, nos últimos anos, para uma colheita mecânica do café, com aumento expressivo do uso de colheitadeiras em todas as regiões com topografia favorável à mecanização. Isso é bastante interessante, principalmente neste momento, para os produtores de algumas regiões paulistas, que acabam não sendo tão afetados por conta da pandemia”, afirma. A informação é confirmada pelo pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), Celso Vegro, que afirma não haver estatísticas sobre a mecanização do café em todos os Estados brasileiros. “Mas arrisco dizer que as lavouras submetidas à colheita mecânica atingem percentual majoritário em São Paulo, sendo que no Cerrado e na região da Mogiana, esse índice deva estar em praticamente 100% das propriedades”, analisa. Giomo explica que no mês de maio, nem todos os grãos de café estão prontos para serem colhidos, por isso, não deverá haver maiores problemas, do ponto de vista da maturação dos grãos, quanto ao atraso da colheita em algumas semanas, caso esta seja a estratégia adotada pelo cafeicultor. “O atraso curto pode ser até positivo em determinadas regiões, pois os grãos estarão em melhor grau de maturação e, consequentemente, terão mais qualidade. Ocorre que a colheita é demorada, por isso, ainda mais com a restrição de aglomeração, deve ser uma estratégia bastante pensada pelo produtor, para que o café não passe do ponto lá no final, caindo no chão, o que reduz o preço do produto”, explica. Segundo o pesquisador do IAC, em abril começou a preparação do cafezal para a colheita, por isso, as recomendações de higiene e segurança também devem ser respeitadas. “A partir de abril, o produtor que faz a colheita manual já começa o processo de “arruação” do cafezal, retirando o mato da lavoura, para que no momento da colheita não haja perda de café que caiu no chão. Essas atividades também contam com a mão de obra de trabalhadores, que devem seguir as recomendações da propriedade para evitar a contaminação e disseminação da Covid-19”, afirma Giomo.

Marcelo André

trabalhadores também recebem álcool gel 70%, além de máscaras. “Os orientamos também, quando acabarem o trabalho, irem direto para suas casas e permanecerem por lá”, conta o produtor, que realiza 100% da sua colheita de forma manual, devido às condições de topografia da região em que está localizada sua propriedade. A expectativa do produtor é que os 150 hectares de café plantados gerem 4.500 sacas de café. André Cunha, sócio proprietário da Fazenda Bela Época, situada em Ribeirão Corrente, na região da Alta Mogiana, também tem tomado alguns cuidados no planejamento da colheita do café. Apesar de 90% da colheita em sua propriedade ser feita de forma mecânica, o produtor tem realizado treinamento na área de segurança do trabalho e entregado cartilhas para os trabalhadores. Além disso, tem-se evitado o transporte coletivo dos funcionários. Os trabalhos na fazenda estão sendo executados de forma mais isolada possível e estão sendo disponibilizados frascos de álcool 70% para assepsia das mãos. Os veículos e tratores também estão sendo desinfetados e os trabalhadores que constam no grupo de risco foram colocados em férias. “Esperamos não ter grandes impactos na colheita que se aproxima, pelo fato da pequena necessidade de mão de obra em função do alto nível de mecanização na região da Alta Mogiana. Entretanto, podemos sim ter problemas no médio prazo, quanto à logística e comercialização de insumos e da própria produção, uma vez que muitos fertilizantes e defensivos agrícolas dependem de matérias-primas importadas e nosso maior volume da produção de café tem outros muitos países como destino final”, afirma.

O’ Coffee

COLHEITA

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SUSTENTABILIDADE

CAFÉ SUSTENTÁVEL Shutterstock

PERSPECTIVAS SOBRE A PRODUÇÃO NO CENÁRIO ATUAL Dalyse Toledo Castanheira Doutora e professora - Universidade Federal de Viçosa (UFV) dalysecastanheira@hotmail.com Daniel Soares Ferreira Doutorando em Fitotecnia - UFV

Breno da Silva Dias Graduando em Agronomia - UFV

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O

Brasil se destaca como maior produtor e exportador de café, além de ser o segundo maior consumidor, no entanto, no decorrer das décadas houve mudanças em relação às demandas dos consumidores. Tal comportamento ocorre como resposta às modificações que o mercado de café tem passado quanto à apreciação, negociação e filosofias de consumo. Cresce a busca por cafés que se destacam quanto ao sabor e aroma mais agradáveis, assim como pelas boas práticas agrícolas e o respeito ao meio ambiente.

Por onde começar? De maneira geral, o café sustentável pode ser caracterizado como o produto que possui alto valor agregado em virtude das práticas agrícolas emprega70

das, que se comprometem a respeitar o equilíbrio ambiental, social e econômico (considerados como os três pilares da sustentabilidade). Para que seja reconhecida legalmente e tenha seu devido valor, a cadeia produtiva do café sustentável deve seguir diversas exigências e estar enquadrada em determinados padrões. Os sistemas sustentáveis de produção cafeeira consideram o uso racional dos recursos naturais, a produção com segurança e qualidade, o ganho econômico, a integridade humana e o respeito ao ambiente como um todo.

Impactos É perceptível o impacto positivo que a produção de cafés especiais e sustentáveis tem no meio, haja vista o respeito ambiental, social e econômico, a julgar pela preservação dos recursos hídricos, da biodiversidade, da qualidade do solo e do ar e do cuidado com a valorização às pessoas ligadas diretamente à produção. Outro ponto a ser ressaltado é a alta capacidade da lavoura em se manter estável e com alta capacidade produtiva frente às variações climáticas, apresentando boa adaptação das mesmas às condições

adversas da região. Na cafeicultura sustentável a produtividade do sistema tende a ser maior e os grãos podem possuir alto valor agregado, devido aos cuidados/processos adotados e, sobretudo, da elevada qualidade de bebida que esses cafés podem apresentar.

Pesquisas Estudos têm apontado para o surgimento de um mercado consumidor de café que se dispõe a maximizar o valor pago pelo produto em virtude das condições sustentáveis empregadas na propriedade rural, valorizando a origem do café e a forma com que foi produzido. As técnicas de produção do café sustentável como um todo caracterizam o diferencial desse sistema de cultivo. Em síntese, priorizam-se práticas agronômicas que contribuem para obtenção de altas produtividades com qualidade e, ao mesmo tempo, maior eficiência no uso da água, na nutrição das plantas e no manejo de pragas, doenças e de plantas espontâneas na lavoura.



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