MICROVERDES
TendĂŞncia na horticultura
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ISSN 2359-5310 - Edição 180 - Junho 2020
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Editora: Miriam Lins Oliveira - MTb 10.165MG miriam@revistacampoenegocios.com.br
Jornalista: Adrielle Teodoro - MTb 15.406MG adrielle@revistacampoenegocios.com.br Amanda Caroline Souza Ferreira
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or suas peculiaridades distintas, os microverdes representam uma rica fonte de alimento para categorias de consumidores particularmente exigentes, como vegetarianos e veganos, os quais podem diversificar e enriquecer sua dieta usando uma grande variedade de microverdes disponíveis. Além disso, como os microverdes são geralmente consumidos crus, eles também podem satisfazer as necessidades específicas de nichos como os consumidores considerados raw foods (alimentos crus). Em nossa matéria de capa, estarão em destaque os microverdes mais populares no Brasil, como: alface, agrião, beterraba, cebola, cenoura, coentro, couve, ervilha, girassol, manjericão, mostarda, rabanetes, repolho, rúcula e salsa. Entretanto, você vai saber que existem muitas espécies potenciais, como acelga, aipo, alho-poró, almeirão, amaranto, beldroega, brócolis, cebolinha, cerefólio, chia, caruru, couve-chinesa, couve-rábano, crisântemos, endívia, endro, erva-doce, escarola, espinafre, funcho, hortelã, melissa, mostarda, nabo e pak choi. Mas, atenção! Antes de dar início à produção, é preciso entender que o cultivo de microverdes é uma inovação e ainda não possui muitas indicações técnicas, por isso, nossa intenção foi reunir nesta reportagem o máximo de conhecimentos com especialistas e produtores, para ajuda-lo a iniciar sua empreitada. Para este e outros desafios, firmamos nosso compromisso com você e sua lavoura. Tenha uma excelente leitura! Miriam Lins Oliveira Editora
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A Revista Campo & Negócios Hortifrúti é imparcial em relação ao seu conteúdo agronômico. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.
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NESTA EDIÇÃO
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Mulching protege batata de plantas daninhas
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Enraizadores garantem melhores mudas de tomate
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Algas aumentam tempo de prateleira do tomate
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Poder destrutivo da septoriose no tomateiro
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Microverdes
TENDÊNCIA NA HORTICULTURA
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Produtores aprovam variedades de pepinos
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Organominerais estimulam proliferação de microrganismos
51 Silício melhora firmeza da melancia 54 Embalagens de papelão - maior
higiene para HF
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Novidades em manejo nutricional da alface
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29 Tropical Estufas lança Spanish 30 Boro via foliar no
Qual o manejo correto de água para o tomate?
desenvolvimento do repolho
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Detalhes do cultivo de acerola no Brasil
58 Principais porta-enxertos para as
uvas
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Cultivo de beterraba orgânica – por onde começar?
Como produzir shimeji?
Manejo da água no cultivo de agrião hidropônico
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Vantagens do cultivo de pepino em calhas
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Estufa - alternativa para produtividade do pimentão
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Manejo nutricional do limoeiro
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Jaracatiá - fruta famosa para compotas
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Erros mais comuns na pulverização do morango
DANINHAS
MÉTODOS DE CONTROLE PROTEGEM BATATA DE PLANTAS DANINHAS Fotos Shutterstock
Antonio Santana Batista de Oliveira Filho Mestrando em Produção Vegetal FCAV/UNESP a15santanafilho@gmail.com Adriana Araujo Diniz Professora adjunta II - Universidade Estadual do Maranhão (UEMA/ CESBA) adrisolos2016@gmail.com
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Myrelly Nazaré Costa Noleto Graduanda em Engenharia Agronômica - UEMA/CESBA myrellynoleto11@gmail.com
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s plantas daninhas são consideradas quaisquer plantas que estejam na lavoura que não fazem parte da cultura principal, consequentemente competem por água, nutrientes, espaço e também luz, portanto, se não controladas, podem causar prejuízos expressivos de crescimento e desenvolvimento da cultura, frisando o fato de que as mesmas também causam efeitos alelopáticos, dificultam a colheita, diminuem a qualidade do produto e aumentam o custo da produção. Os efeitos com danos mais expressivos na produção da batata, oriundos da
presença de plantas daninhas, são verificados principalmente na primeira metade do desenvolvimento da cultura, pois nessa fase a parte vegetativa ainda não conseguiu cobrir suficientemente a superfície. Desse modo, a presença das daninhas com rápido crescimento e desenvolvimento pode se sobressair ao crescimento da cultura, levando à interferência na produção. Indiretamente, algumas ervas daninhas podem ser local de propagação de nematoides ou abrigo para doenças e pragas.
Sintomas e regiões mais afetadas A presença de plantas daninhas pode influenciar principalmente na qualidade dos tubérculos, tornando-os menores e alterando sua densidade, portanto, diminuem seu valor no mercado. Ou seja, por meio do espaço ocupado, a presença das daninhas pode causar um menor desenvolvimento do tamanho dos tubérculos, já que competem com as raízes da planta tanto por espaço como por água. Como as plantas invasoras compe-
tem por nutrientes, água, espaço e luz solar, alguns sintomas podem aparecer nas folhas como consequência da deficiência nutricional, dentre estes, clorose, necrose e murchamento das folhas. O amarelecimento também pode aparecer, devido à falta da luz solar causada pela presença da parte aérea das ervas daninhas que sobrepõem a cultura principal, provocando dificuldade na realização do processo fotossintético das plantas. Os principais fatores que causam o surgimento de daninhas são as condições favoráveis de crescimento e desenvolvimento que as mesmas encontram no ambiente em que está implantada a cultura da batata, fatores estes que vão desde a nutrição, disponibilidade de água, até a luz solar. O aparecimento das plantas daninhas também é condicionado ao banco de sementes existentes no solo. Estas sementes possuem capacidade de dormência e adequação às condições do ambiente, com elevado poder germinativo quando expostas às condições favoráveis. Outro fator responsável pelo apare-
DANINHAS
Formas de controle As plantas daninhas podem ser controladas por métodos preventivos e curativos, sendo os principais: químicos, físicos, mecânicos e culturais. O método preventivo é aquele em que se tomam decisões a fim de evitar a presença/entrada de plantas que não sejam a cultura principal, onde se introduzem tratos culturais, ou seja, medidas para evitar a presença de daninhas no local. No caso da batata, é comum a aquisição de tubérculos-sementes para o plantio, cultivadas em diferentes locais. A partir disso, pode haver a contaminação por meio do transporte por maquinários, portanto, necessita-se da lavagem dos tratores e implementos agrícolas com o intuito de retirar o solo aderido aos mesmos, evitando assim a contaminação. Outra maneira de controle preventivo se faz com o uso de sementes certificadas, de procedência fitossanitária e limpas, evitando assim a presença de sementes de plantas invasoras no plantio (Blanco, 2008). O método cultural é considerado aquele em que se altera o manejo na lavoura, de modo que desfavoreça a presença de daninhas. Na batata, é realizado o preparo prévio do solo, de modo que favoreça o primeiro fluxo de germinação das sementes, e a partir daí realiza-se a gradagem e aração, eliminando as plantas. Também são adotados espaçamentos menores no plantio da batata e cultivares mais precoces. Assim, há um sombreamento rápido das linhas de cultivo, desfavorecendo a germinação das daninhas (Embrapa, 2018). Os métodos mecânicos com o uso de capinas, tanto manual quanto mecanizada, também podem ser utilizados para controle das ervas, bem como o amontoamento de terra ao redor da planta. Quanto aos métodos físicos, a utilização do sistema de mulching orgânico vem sendo adotado atualmente com eficaz proteção. Essa técnica envolve a cobertura do solo a fim de proteger o culti-
vo e, consequentemente, prevenindo as ervas daninhas, controle de temperatura e umidade do solo, já que evita grande perda de água por evaporação. O método químico é um dos mais utilizados, pela sua praticidade e eficiência, porém, utilizá-lo somente como controle pode ser um erro, prejudicando sua eficiência e sendo necessária a aplicação de doses maiores, portanto, é recomendável a utilização deste método de controle atrelado a outras estratégias.
Erros mais frequentes no combate Os erros mais frequentes no combate às plantas daninhas se dão principalmente pela eliminação parcial delas, haja vista que as mesmas possuem diversos mecanismos de propagação. A retirada incompleta de partes reprodutivas pode fazer com que estolões, rizomas, entre outras partes reprodutivas, voltem a se propagar rapidamente na área.
O uso de maquinários contaminados com partes vegetativas e sementes/ propágulos de plantas daninhas também é outro problema que propicia a disseminação rápida das ervas por toda a área de cultivo. A utilização excessiva de produtos químicos é outro erro comum, em virtude da adaptação da planta daninha com consequente resistência, o que faz com que o produto perca sua eficiência rapidamente. Os erros podem ser evitados com a adoção dos métodos de controle adequados, utilizando-os de forma correta. É necessária a utilização de controle cultural para impedir a entrada de propágulos na área, utilizando tubérculos-sementes certificados e maquinários limpos e livres de propágulos. Quando já notada a presença das ervas na área, é necessário adotar métodos para impedir a germinação das sementes com a utilização de técnicas como o sistema mulching orgânico e de produtos químicos.
Técnicas e produtos inovadores Uma das técnicas mais inovadoras utilizadas no controle de daninhas na cultura da batata se faz pela cobertura do solo pelo sistema mulching orgânico, evitando o crescimento e desenvolvimento das mesmas, principalmente por desfavorecer as condições ambientais para germinação, impedindo que as sementes de daninhas recebam luz para emergir. Atualmente, também tem se utilizado produtos como os adjuvantes, que melhoram a eficiência dos produtos químicos no controle das plantas daninhas, com maior cobertura e uniformidade. Atualmente, o manejo integrado de plantas daninhas (MIPD) também é essencial para o desenvolvimento agrícola sustentável, pois reduz os impactos ambientais e contribui para a eficiência do controle.
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cimento das daninhas é o rápido crescimento e desenvolvimento destas, que levam a disseminação em todo o ambiente em curto espaço de tempo.
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TOMATICULTURA
MUDAS DE TOMATE ENRAIZADORES BENEFICIAM O SISTEMA PRODUTIVO Iuri Gabriel Rodrigues Técnico em Química Industrial e graduando em Engenharia Agronômica iurigabriel080@gmail.com
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Manejo
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Existem diversos tipos de aplicação dos produtos enraizadores e a forma de aplicação dependerá de qual processo de sua produção irá utilizar o hormônio, por exemplo: Agregar o enraizador junto ao substrato na produção de mudas; Tratamento de sementes: utilizar, preferencialmente, máquinas específicas para tratamento de sementes, cujas instruções de uso são fornecidas pelos seus fabricantes. Se não houver disponibilidade dessas máquinas, poderão ser usados também: tambores rotativos excêntricos ou betoneiras. Após tratadas, as sementes deverão ser armazenadas à sombra até o momento do plantio. No sulco de plantio: aplicar o produto, diluído em água, por meio de pulverização no sulco de plantio, utilizando-se pulverizadores com bicos tipo leque
Vivati
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nraizadores de plantas são hormônios naturais ou sintéticos que estimulam o crescimento radicular das plantas. Está disponível comercialmente na forma sólida (em pó) e líquida. Os enraizadores garantem melhores mudas de tomate devido aos benefícios como o aumento do desenvolvimento do sistema radicular, maior crescimento inicial das mudas, mais rápida recuperação frente a situações de estresse, tais como escassez de água, altas temperaturas e fitotoxidades causadas por defensivos agrícolas e a melhor germinação das sementes.
ângulo de 80° ou menor, fixados nas linhas de plantio das semeadoras ou das cobridoras e/ou plantadoras. O volume de calda a ser utilizado dependerá da vazão dos bicos e da velocidade do trator.
Pulverização foliar Aplicação terrestre: utilizar pulverizadores manuais ou tratorizados dotados de bicos tipo leque ou cônicos, munidos de pistolas ou turbo-pulverizadores. O volume de calda a ser utilizado dependerá do índice de enfolhamento e da altura das plantas no momento da aplicação, bem como da vazão dos bicos e velocidade de trabalho. Aplicação aérea: por meio de aeronaves agrícolas equipadas com atomizadores de tela rotativa (“Micronair”) ou com barras dotadas de bicos adequados
à cultura-alvo e/ou às condições climáticas no momento da pulverização. Sempre seguir as orientações técnicas da bula e do engenheiro agrônomo responsável, que podem mudar algumas formas no modo de aplicação de acordo com o produto.
O começo Para implantar a técnica, é necessário o auxílio de um engenheiro agrônomo responsável que tenha especialidade e de empresas com características idôneas para que não ocorra nenhum resultado sem satisfação por parte do investidor, pois a prática tem uma diversidade de benefícios, desde que seja usado corretamente o produto. Existem trabalhos em mudas de tomate que comprovam a eficiência do produto no aumento do sistema radicular, sanida-
TECNOLOGIA
Em campo Empresas especializadas nesta prática e que oferecem enraizadores em seu portfólio de produtos, bem como instituições de pesquisa, realizam trabalhos em campo de pesquisa e desenvolvimento, e conseguem comprovar com testes de áreas tratadas x não tratadas a eficiência do hormônio em relação aos benefícios declarados em fichas técnicas e bula. Existem alguns erros que fazem com que os enraizadores percam sua eficiência. Devem ser levados em consideração todos os detalhes especificados pelo fornecedor do produto em bula e fichas técnicas referentes ao tempo de aplicação, dosagens do produto para cada cultura, armazenagem do produto em estoque e das sementes tratadas com o mesmo. Estes são pontos essenciais a serem observados para ter um aproveitamento satisfatório do produto, e com isso gerar aumento na produção.
Atenção redobrada Existe uma grande probabilidade de algo dar errado e acontecer redução de eficiência do produto, impactando na produtividade. Para que isso não aconteça é necessário, da parte dos profissionais envolvidos no negócio, realizar um bom planejamento da safra em relação ao manejo e buscar todas as informações pertinentes ao processo. Profissionais qualificados terão sempre a orientação correta para contribuir e fazer com que estes erros não passem nem perto da sua propriedade de produção. Assim, é necessário que haja um manejo nutricional com adubos/fertilizantes, fornecendo nutrientes essenciais e uma boa proteção de cultivo com defensivos agrícolas para controle de pragas, doenças, bactérias e plantas daninhas. Este controle, em sinergismo, agrega de forma exuberante ao manejo, gerando grandes resultados.
RURAL DIRETO AJUDA PRODUTORES A AMPLIAREM SUAS VENDAS
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tecnologia cada vez mais é uma grande aliada dos produtores rurais, principalmente neste atual momento de pandemia. Com o objetivo de ajudar os produtores de FLV a ampliarem consideravelmente as vendas, a Tropical Estufas acaba de lançar uma solução inovadora: a Rural Direto. A plataforma é 100% online e contribui para que todo o ecossistema FLV esteja conectado, aproximando produtores rurais e compradores. “A ideia surgiu justamente para facilitar o esco-
amento dos produtos por meio da inovação e a plataforma digital contempla todos os produtores e compradores do País”, destaca Luis Gustavo Rios, gerente comercial da Tropical Estufas. A Rural Direto (www.ruraldireto. com.br) já teve uma ótima aceitação do mercado e conta com mais de 100 cadastrados, dos quais 60% produtores e 40% compradores. “A plataforma irá conectar, cada vez mais, os produtores rurais a supermercados, mercados, varejões, quitandas, hotéis, pousadas, restaurantes e a dona de casa”, observa o gerente comercial da Tropical Estufas. A grande vantagem da Rural Direto é que não há taxas nem intermediários, o que permite ao comprador escolher uma vasta gama de produtos em um único local. “Tudo é realizado de forma simples e prática, sem complicações”, finaliza Luis Gustavo Rios.
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de e redução de até 10 dias no tempo de produção das mudas. Em aplicação foliar existem estudos que comprovam o aumento da produtividade em até 20%, quando aplicado nas primeiras fases do tomateiro.
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PÓS-COLHEITA
ALGAS Fotos Shutterstock
MAIS TEMPO DE PRATELEIRA PARA O TOMATE Aline Mendes de Sousa Gouveia Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura e professora - Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio) aline_mendes@fio.edu.br
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Veridiana Zocoler de Mendonça Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Energia na Agricultura UNESP/FCA veridianazm@yahoo.com.br
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ara melhorar o rendimento das culturas, sem impactar negativamente o meio ambiente em diversas regiões do mundo, produtos à base de algas marinhas têm sido cada vez mais aplicados na agricultura. O uso de extratos concentrados de algas marinhas (ECAM), como biofertilizantes e/ou bioestimulantes, mostra-se uma alternativa na produção de alimento livre de resíduos químicos. Apresentam em sua composição os macro (N, P, K, Ca, Mg, S) e micronutrientes (Cu,
Zn, Mn, B e Co), além de aminoácidos, vitaminas (B1, B2, C e E) e fitohormônios, como as citocininas, auxinas, giberelinas, betaínas e laminarinas. Seu uso revela um potencial muito interessante, uma vez que promove o aumento na produção de fitoalexinas, compostos com propriedades antimicrobianas em plantas hortícolas e frutíferas. Outros efeitos benéficos relacionam-se à assimilação de nutrientes, por ajudar no transporte de micronutrientes e vitaminas que melhoram os processos fotossintéticos. Dessa forma, podem alterar o crescimento das plantas, estimulando a expansão celular e aumentando o conteúdo de clorofila, na síntese de proteína, como a melhora da germinação, crescimento e rendimento em plantas cultivadas.
Maior tempo de prateleira do tomate Pesquisas sobre a utilização de extratos de algas no processo pós-colheita de
tomate estão em fase incipiente. Entretanto, alguns estudos revelaram que o uso de extratos de algas melhora a qualidade dos frutos de tomate, por ter em sua composição potássio (K) e cálcio (Ca), macronutrientes indispensáveis para a produção de frutos. Estes são frutos de tamanho uniforme, cores mais intensas, mais resistentes ao transporte, por serem mais firmes, com altos teores de sólidos solúveis (°Brix) e maior durabilidade pós-colheita, em torno de 30%.
Manejo Dos três grupos principais de macroalgas, a Ascophyllum nodosum e Ecklonia maxima são as mais comumente usadas na agricultura. Tradicionalmente, os produtores utilizam algas marinhas, frescas ou secas, como adubo ou composto. Mais recentemente, os produtores começaram a usar produtos comerciais de extrato de algas marinhas como sprays foliares e/ou aplicados ao solo em concentrações que variam de 0,2 a 0,5%, de
PÓS-COLHEITA
Recomendações Os extratos de algas não devem ser utilizados sozinhos. O uso não exclui o manejo de adubação tradicional, pois irá potencializar a adubação organomineral, especialmente nas práticas de cultivo moderno. A concentração do extrato de algas varia entre os fabricantes. Desse modo, é preciso seguir uma orientação técnica de acordo com a proposta pelo fabricante. Por ser um produto de ação diferenciada, que varia entre
as produções de tomate segundo as diversas condições edafoclimáticas, a experiência e os testes a campo servirão para estabelecer a recomendação (dosagem) mais adequada para o produto.
Relação direta com a produtividade De acordo com a literatura, observou-se que, em relação ao cultivo do tomate, houve aumento significativo de produtividade em torno de 50%. Também foram obtidos aumentos significativos nos atributos de qualidade dos frutos, incluindo tamanho, cor, firmeza, sólidos solúveis totais, níveis de ácido ascórbico e minerais. Os produtores que utilizam extratos de algas mencionam uniformização e aumento da germinação de sementes e emergência de plântulas, melhor desenvolvimento do sistema radicular, maior aproveitamento de nutrientes, obtenção de flores e frutos de tamanho uniforme e com cores mais intensas, além de sensível melhora da resistência da planta contra fitopatógenos. A ação bioestimulante do extrato de algas sobre estas características reflete de forma indireta no estímulo à atividade microbiana do solo, potencializando a absorção de NPK e, consequentemente, le-
vando ao aumento da produtividade do tomateiro em torno de 11 toneladas por hectare. Ainda, melhora o aspecto nutricional das plantas, garantindo maior capacidade de suportar o estresse hídrico, pois influencia processos fisiológicos e metabólicos desde o processo de germinação de sementes até o período pós-colheita do tomate.
Como agregar à técnica A condução de trabalhos em campo e, principalmente, sob condições tropicais, é de grande valia para a obtenção de resultados mais próximos da realidade dos produtores brasileiros, uma vez que os efeitos da aplicação do extrato de alga são dependentes de vários fatores. Entre os exemplos estão: dose, época, modo e frequência de aplicação do produto; espécie e estação de coleta da alga (primavera, verão, outono ou inverno), assim como o modo de obtenção do extrato (compostos utilizados para extração); estado nutricional, idade da planta, espécie e cultivares em que o produto é aplicado. Assim, estudos a campo e pesquisa científica embasarão o uso eficiente e agregação desta tecnologia nas culturas agrícolas.
Custo Felizmente, os extratos de algas estão ficando mais acessíveis ao produtor. A utilização está vinculada às épocas de preços valorizados dos frutos. No entanto, o uso dos extratos de algas é realmente eficiente quando faz parte do manejo de adubação do produtor. O emprego do extrato de algas não é apenas uma tendência, é o caminho para o futuro da horticultura sustentável. Produzir mais com menos custo, aumentar a produtividade, qualidade e durabilidade dos frutos destinados à mesa e ao processamento industrial, e reduzir o uso de fertilizantes químicos na lavoura são os objetivos principais no desenvolvimento de produtos à base das algas marinhas.
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acordo com o fabricante do produto. De forma geral, a época de aplicação varia com a destinação do produto. Para tomate de mesa pode-se trabalhar da seguinte forma: no transplantio da muda, fazer uma solução de 1:2.000 ppm de extrato de alga e imergi-la por 10 minutos, com posterior plantio no canteiro. Outra forma seriam as aplicações foliares na pré-florada; no pegamento do fruto; 14 dias após o pegamento; 30 dias após o pegamento; entre dois e três dias de cada colheita. Para processamento industrial de tomate, aplicações foliares com a planta entre 15 a 20 cm de altura; na primeira pré-florada; no primeiro pegamento do fruto e opcional 14 dias depois do pegamento do fruto.
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ALERTA
SEPTORIOSE Mariane Gonçalves Ferreira Copati marianegonferreira@gmail.com
Françoise Dalprá Dariva fran_dariva@hotmail.com Doutorandas em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV) Francielle de Matos Feitosa Doutoranda em Genética e Melhoramento – UFV franciellefeitosa@gmail.com
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as doenças que incidem sobre a cultura do tomateiro, a septoriose, ou mancha-de-septória, vem ganhando destaque, principalmente pelo seu alto poder destrutivo, que pode gerar perdas de até 100% à produção. Ademais, essa doença apresenta ampla distribuição geográfica, com relatos de ocorrência na maioria das regiões produtoras do Brasil e do mundo. O fungo Septoria lycopersici, agente causal da septoriose, coloniza as folhas da planta, tendo os estômatos como principal porta de entrada. Os sintomas iniciais da doença incluem a presença de inúmeras manchas de formato circular a elíptico, medindo de 2,0 a 3,0 mm de diâmetro, e com pontuações negras, que são as estruturas de reprodução do patógeno observadas nas folhas mais velhas, logo após a formação do primeiro cacho. Com o progresso da doença, as man-
TODO CUIDADO É POUCO NO TOMATEIRO
chas adquirem coloração marrom-acinzentada no centro, com bordas escuras e um halo amarelo ao redor, que pode atingir até 5 mm de diâmetro se as condições forem favoráveis ao desenvolvimento da doença. Em estágios mais avançados, as manchas coalescem e provocam crestamento (ou queima intensa), com posterior desfolha da planta e exposição dos frutos à queimadura pelo sol. Como o patógeno destrói inicialmente as folhas baixeiras, a “queima da saia” é tida como sintoma chave da doença. Apesar de afetar predominantemente a folhagem, ataques severos causam lesões, geralmente menores e mais escuras, nas hastes, pedúnculo e cálice. Epidemias da doença são comuns em condições de temperaturas amenas, em torno de 20 a 25ºC, alta umidade relativa do ar e chuvas constantes, observadas no cultivo de verão na maioria das regiões produtoras de tomate estaqueado. Nos cultivos de inverno, a septoriose é problemática em sistemas de cultivos irrigados via aspersão. Nos últimos anos, esta doença também tem se tornado bastante destrutiva para as lavouras de tomate industrial irrigadas via pivô central, na região centro-oeste do País. Um levantamento das doenças do tomateiro publicado pela Embrapa em 2013 apontou a septoriose como a doença fúngica de maior ocorrência, tanto
no segmento de tomate de mesa como tomate indústria, com ocorrência registrada em cultivos comerciais nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo, Minas Gerais, Ceará, Goiás e Distrito Federal.
Estratégias de manejo No mercado sementeiro, ainda não existem cultivares de tomate resistentes à doença disponíveis para comercialização. Dessa forma, o tomaticultor pode utilizar múltiplas estratégias de controle antes e durante o plantio a fim de garantir o controle eficiente nas lavouras. Antes do plantio, pode-se utilizar o controle preventivo, o qual tem a finalidade de reduzir as fontes de inóculo inicial na cultura. Dentre as principais formas de controle preventivo, podemos destacar a rotação de culturas com plantas de outras famílias; destruição ou remoção dos restos culturais da cultura ou plantas daninhas hospedeiras logo após a colheita da área; plantio de sementes e mudas livres do patógeno e evitar plantios próximos de lavouras mais velhas ou infectadas. No viveiro, recomenda-se a eliminação das mudas contaminadas logo após a identificação do patógeno. No manejo da cultura, deve-se evitar o sistema de irrigação por aspersão, que promove o molhamento foliar e cria um
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Foto Daniel Lage
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ALERTA
Sintomas da septoriose no tomateiro Fotos Ricardo Pereira
microclima favorável para a infecção do patógeno. A adubação deve ser equilibrada para possibilitar o pleno desenvolvimento da cultura e, consequentemente, maior resistência em suportar a doença.
Controle Quando forem identificados focos da doença no campo, deve-se proceder o controle químico, que ainda é o método mais empregado para tal. No tomateiro, para combater essa doença pode-se aplicar fungicidas foliares de contato ou sistêmicos. No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) existem cerca de 89 produtos registrados para seu controle, como cúpricos, triazóis, isoftalonitrila, ditiocarbamatos, estrubilurinas e inorgânicos. No entanto, vários erros são cometidos durante o controle, os quais comprometem a eficiência no con-
trole do patógeno. Os erros mais comuns cometidos pelos tomaticultores são a utilização do controle químico quando a doença já se encontra amplamente instalada em plantio de cultivares suscetíveis e a utilização de fungicidas de contato em lavouras com sistema de irrigação por aspersão e/ ou em épocas chuvosas. Esses erros podem ser evitados por meio de aplicação preventiva de fungicidas protetores quando observadas condições climáticas favoráveis ao patógeno e aplicação de fungicidas sistêmicos em lavouras que utilizam a irrigação por aspersão. Ademais, para maximizar o controle é necessário evitar irrigações frequentes e realizá-las pela manhã, para permitir a secagem das folhas antes do anoitecer.
Novidades O sistema de previsão da doença
também tem sido utilizado para o controle da septoriose nas lavouras de tomate, o qual visa o uso racional de agrotóxicos, reduzindo o número de aplicações e aumentando a eficiência no controle. Com a utilização desse sistema, o produtor saberá qual é o momento exato da aplicação do fungicida na lavoura por meio do monitoramento da temperatura e umidade. Atualmente, o controle por meio da utilização de softwares que quantificam a área foliar da planta afetada por meio de imagens digitais vem ganhando espaço dentre as técnicas de controle da doença, uma vez que proporciona maior precisão na identificação e quantificação da doença no campo. Utilizar o controle integrado da septoriose nas lavouras de tomateiro é a melhor estratégia de manejo, uma vez que proporcionará melhores resultados no controle, sem onerar o custo de produção para o produtor.
IRRIGAÇÃO
MANEJO CORRETO DE ÁGUA PARA O TOMATEIRO Waldir Marouelli
Jéssica E. R. Gorri gorrijer@gmail.com
Maria Clezia dos Santos mariaclezia.stos@gmail.com Flávia Galvan Tedesco flaviagtedesco@gmail.com Rodrigo Donizete Faria rdfaria13@gmail.com
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Roque de Carvalho Dias roquediasagro@gmail.com Doutorandos em Proteção de Plantas – UNESP/Botucatu
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objetivo do produtor de tomate é aumentar a produtividade da sua lavoura, visando a qualidade, sustentabilidade do negócio e satisfação do cliente. Dentre os vários fatores que podem influenciar uma boa lavoura de tomate, destaca-se o manejo da água. Durante o estágio inicial da planta, a falta de água, sobretudo após o transplantio, pode proporcionar a morte das mudas e diminuir o desenvolvimento das plantas. Por outro lado, o excesso de água ocasiona maior incidência de doenças e
podridões de raízes. Para conduzir um bom estande da cultura, recomenda-se realizar o transplante das mudas em solo previamente irrigado com irrigações diárias, procurando-se manter a umidade na camada superficial do solo até o total estabelecimento das mudas. Após o pegamento das mudas e antes da maturação, o tomateiro exige a máxima demanda de água. Já no estádio de maturação há a necessidade de uma considerável redução do uso de água pelas plantas.
Alerta Irrigações em excesso prejudicam a coloração do fruto, reduzem o teor de sólidos solúveis e a acidez dos frutos. Para contornar esses problemas, as irrigações devem ser realizadas adotando-se um turno de rega mais espaçado do que durante o estádio de frutificação e serem paralisadas vários dias antes da colheita. É prática comum cessar a irrigação do tomateiro entre duas e quatro semanas antes da colheita, com o objetivo de
maximizar os teores de matéria seca no fruto e minimizar a compactação do solo durante a colheita.
Equilíbrio No estádio vegetativo (antes da formação dos frutos), a deficiência moderada de água, principalmente no início, favorece o aprofundamento do sistema radicular, permitindo maior eficiência futura na absorção de água e de nutrientes pelas raízes. Essa estratégia resulta em menor crescimento das plantas, mas tal característica tem pequeno efeito na produção de tomate, desde que o suprimento de água no estádio de frutificação seja adequado. De forma a submeter o tomateiro a condições de déficit hídrico moderado, as irrigações, durante o estádio vegetativo, podem ser realizadas considerando uma tensão-crítica de água no solo entre 100 - 200 kPa, nos casos da irrigação por aspersão e por sulco. No caso do gotejamento, irrigar considerando uma tensão-crítica entre 30 - 70 kPa.
IRRIGAÇÃO
Gotejo O sistema de gotejo é composto por tubos gotejadores com espaçamento dimensionado e vazão controlada. É adotado tanto para o cultivo do tomate de mesa como industrial. Possui alta eficiência de distribuição de água, sendo possível também realizar a aplicação de fertilizantes. É uma técnica de grande custo, porém, exige pouca mão de obra e vai muito bem no tomate tutorado.
Irrigação por sulcos
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Muito empregada no cultivo do tomate de mesa, pois a água corre lentamente entre as fileiras das plantas. Em-
bora este sistema tenha um custo de implantação pequeno, ocorre desperdício de água e exige muita mão de obra.
Irrigação por aspersão Pode ser adotada tanto para o cultivo do tomate de mesa (geralmente feito por aspersores convencionais) quanto para o tomate com fins industriais, que também pode ser feito por pivô central. Para o tomateiro tutorado, os métodos de irrigação que têm sido mais empregados são por sulco e a microirrigação (microaspersão), sendo que a cultura rasteira se adapta à aspersão, principalmente em regiões onde a umidade relativa do ar é baixa.
Produtividade O manejo adequado de água é um dos aspectos responsáveis por influenciar diretamente no plantio e na produção dos tomates. Tanto a falta quanto o excesso de água podem ser prejudiciais à produtividade e qualidade dos frutos. A irrigação por déficit (DI) tem sido usada como uma técnica de irrigação para economia de água na produção. O DI implica em dar menos água a toda a zona de raiz das plantas do que a evapotranspiração predominante. Dependendo da extensão do déficit hídrico, o DI reduz o status da água nas plantas juntamente com uma redução das trocas gasosas, levando a um fraco rendimento comercializável, como observado em tomateiro. A irrigação parcial da zona de raiz (PRD) é uma técnica relativamente nova
de economia de água, em que a cada irrigação apenas uma parte da rizosfera é umedecida com a parte restante deixada para secar até um nível pré-determinado de teor de água no solo. Espera-se que o estado da água da planta se equilibre com a parte mais úmida da rizosfera e, portanto, mantenha um alto potencial hídrico foliar semelhante ao das plantas bem regadas. Ao contrário do DI, o PRD poderia manter um status semelhante da água da planta em comparação com as plantas totalmente irrigadas, sem efeitos deletérios no rendimento.
Pesquisas Estudos mostram que as plantas em curso de irrigação parcial da zona da raiz (PRD) tinham uma folha semelhante à das plantas com irrigação convencional. Portanto, não houve efeitos adversos no crescimento das plantas, no peso fresco total dos frutos, no peso seco total dos frutos e no índice de colheita nas plantas de PRD. Assim, o PRD não apenas melhorou a eficiência do uso da água de irrigação em 83%, mas também economizou água em 50%. O PRD pode ser uma estratégia de irrigação mais viável do que a irrigação por déficit na produção de tomates processados. Pode ser implementado em áreas secas onde a irrigação é necessária para atender a produção comercial de tomate.
Orientações O manejo da água por irrigação é re-
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Para executar essa estratégia, vários equipamentos podem ser utilizados para a medição da tensão de água no solo (tensão-crítica) por agricultores, com destaque para o tensiômetro, blocos de resistência elétrica ou sistemas relacionados. Dessa maneira, para colocar a estratégia de redução de água no início do estádio vegetativo em prática, será necessário o acompanhamento de equipamentos e profissionais da área de manejo de água no solo capacitados, para não conduzi-la de maneira incorreta. Muitos produtores que utilizam o sistema por gotejamento têm seguido o critério de manejo recomendado para tomateiro irrigado por aspersão. Adotam a estratégia de promover déficit hídrico durante o estádio vegetativo, com turnos de rega de sete a 12 dias, com o objetivo de obter maiores rendimentos.
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alizado de forma inadequada por grande parte dos produtores por ignorarem parâmetros da cultura, clima, solo e o sistema empregado. Os erros frequentes são: Sistema de irrigação mal dimensionado; Não utilizar medidores para avaliação da umidade do solo. Não adotar turno de rega; Água em excesso/escassez; Irrigação por déficit ou parcial sem acompanhamento técnico; Falta de manutenção do sistema de irrigação.
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Para realizar o manejo correto da água na cultura do tomateiro é fundamental saber o momento certo de irrigar e a quantidade de água a fornecer. O produtor deve procurar assistência técnica especializada para a escolha correta do sistema e o seu dimensionamento. A quantidade de água necessária para a irrigação do tomateiro depende das condições climáticas, sistema de produção e irrigação. Os métodos de verificação da tensão da água do solo e balanço hídrico permitem o controle preciso da irrigação, evitando o excesso e a falta de água para as plantas. No entanto, recomendações para o manejo de água com base em turno de rega devem ser determinadas para condições específicas, com base na necessi-
dade hídrica para cada estádio da cultura. Para manter o bom funcionamento da irrigação e a distribuição de água de forma correta, é importante a manutenção adequada que visa manter o sistema de irrigação operando com eficiência máxima durante todo o ciclo da cultura. Cultivos que utilizam fertirrigação exigem maiores cuidados, pois os fertilizantes podem causar problemas de entupimento de gotejadores, desgaste de tubos e conexões.
Resultados práticos As grandes regiões produtivas de tomates para as indústrias apresentam solos profundos, bem drenados e topografia plana, facilitando a implantação do cultivo mecanizado e instalação de sistemas de irrigação. Entretanto, são escassos estudos nessas regiões quanto às necessidades hídricas e aos efeitos do déficit hídrico na produção do tomateiro, tendo em vista a otimização da produtividade e o teor de sólidos solúveis, a redução de doenças, lixiviação de nutrientes no solo e eficiência no uso da água. Em estudos conduzidos em ambiente protegido, foi observado que as plantas de tomate submetidas ao déficit hídrico aumentam os níveis de massa seca e fresca, caule e raízes para algumas cultivares.
Em outros estudos, foi constatado que a redução no intervalo de irrigação da cultura favoreceu o aumento de sólidos solúveis totais e melhorou a qualidade nos frutos.
Custo Possíveis investimentos a serem feitos: Aquisição de tensiômetro e/ ou instalação de um tanque classe A para leitura e conhecimento de quando se deve irrigar; Mão de obra especializada para implantar o sistema, exemplo: profissionais qualificados da área de manejo de água no solo e/ou irrigação; Caso a resposta à estratégia não seja favorável, haverá queda na produtividade e qualidade de frutos, ocorrendo possivelmente prejuízo e investimentos para reverter os danos. Possível retorno: Economia de energia; Economia na utilização de água e custos relacionados; Incrementos de produtividade e melhoria da qualidade dos frutos.
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CULTIVO DE BETERRABA ORGÂNICA
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Leticia Rodrigues de Oliveira leticiaoliveira.agro@gmail.com
Yanco Luan Lopes Ribeiro yanco_luan@hotmail.com Graduandos em Agronomia - Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio) Adilson Pimentel Junior Engenheiro agrônomo, mestre em Agronomia e professor - Unifio adilson_pimentel@outlook.com Aline Mendes de Sousa Gouveia Engenheira agrônoma, doutora e professora - Unifio aline_mendes@fio.edu.br
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beterraba (Beta vulgaris L.) é uma hortaliça anual herbácea, pertencente à família Chenopodiaceae, de origem provável do Mediterrâneo. É mais cultivada em países com clima temperado, e no Brasil sua produção orgânica se concentra na região sul, seguida das regiões sudeste e nordeste. As raízes de beterraba são de grande importância econômica, decorrente de seu alto valor nutricional, destacando-se os nutrientes ferro, cálcio, sódio, potássio e vitaminas A, B e C. A população tem buscado melhora na qualidade de vida, preferindo alimentos mais saudáveis e frescos. Por isso, a
agricultura orgânica vem ganhando mercado, já que preserva a qualidade nutricional dos alimentos e proporciona grande segurança alimentar. O cultivo proporciona bom retorno econômico ao produtor rural, uma vez que é de fácil condução e baixo custo de implantação. O custo total para cultivar um hectare de beterraba orgânica, incluindo insumos adquiridos e mão de obra, é em média R$ 16.000,00.
Importância econômica Em 2017 o volume mundial de vendas de produtos orgânicos no varejo atin-
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Mercado interno e externo Tanto no Brasil quanto no exterior, é crescente a busca por alimentos orgânicos. A crescente demanda tem atraído mais produtores e investidores ao setor. Além disso, embora o maior volume de venda seja feito por meio de compra direta em hipermercados, supermercados e lojas, também tem crescido
a demanda por restaurantes que querem servir produtos orgânicos aos seus clientes. A aproximação de consumidores e produtores de orgânicos tem possibilitado a oferta de alimentos de alta qualidade, mais frescos e a preços mais acessíveis; em contrapartida, maiores ganhos aos produtores, já que esses estabelecem o valor de seus produtos.
Manejo A beterraba é típica de clima temperado, exigindo, dessa forma, temperaturas mais amenas e frias para alcançar boa produção - sua faixa de temperatura ideal é de 10 a 20°C, porém, tolera geadas leves. Temperaturas altas depreciam o produto, uma vez que induzem a formação de anéis claros nas raízes. Além disso, favorece o aparecimento de doenças fúngicas na parte aérea. Por isso, recomenda-se realizar o plantio de mudas ou semeadura direta no outono, inverno e primavera. Para iniciar o cultivo, primeiramente deve-se fazer a escolha correta da área, evitando terrenos sombreados e úmidos. A beterraba produz bem em solos leves
e soltos, profundos, bem drenados e ricos em matéria orgânica. É sensível à acidez e exigente em nitrogênio e potássio.
Cultivo Existem dois sistemas de cultivo, via semeadura direta ou plantio por mudas. Por se adaptar bem ao transplante e plantio por mudas, é o mais empregado no Brasil. Na semeadura direta deve-se depositar dois glomérulos (sementes) em sulcos em profundidade de 1,5 a 2,5 cm a cada 5,0 cm. Fazer a imersão dos glomérulos em água por 12 horas, o que melhora a emergência das plântulas. Realizar o desbaste quando as plantas apresentarem de cinco a seis folhas, deixando as plantas espaçadas de 10 a 15 cm. Necessita-se em torno de 10 kg de semente comercial por hectare. No sistema de plantio por mudas, pode-se fazer em canteiros ou em bandejas de isopor. No sistema em canteiros faz-se o transplantio das mudas de 20 a 30 dias após a semeadura ou quando as plantas apresentarem cinco a seis folhas e 15 cm de altura. Já para as mudas formadas em ban-
O custo da beterraba orgânica gira em torno de R$ 16.000,00
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giu € 92,1 bilhões, representando um acréscimo anual de 11% desde 2000. Desse volume, os EUA movimentaram € 40,0 bilhões. Frutas e vegetais compõem a maior categoria de alimentos orgânicos nos EUA, representado 14,1% de todas as vendas de vegetais e frutas no País, o que rendeu € 16,5 bilhões. Além do cenário externo favorável, existe tendência positiva no mercado consumidor brasileiro. Produtos orgânicos in natura, como verduras, legumes e frutas, são os mais consumidos no Brasil. Em 2016, as vendas no varejo renderam € 778 milhões e as exportações alcançaram € 126 milhões. Em 2018 o faturamento do setor de alimentos orgânicos no País foi de R$ 4 bilhões, com crescimento de 25% ao ano.
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dejas, o transplante pode ser feito 20 dias após a semeadura. No transplante das mudas, deixa-las espaçadas de 10 a 15 cm umas das outras. É necessário de 1,0 a 2,0 kg de mudas por hectare no sistema de bandeja e na formação das mudas em canteiros, 4,0 kg por hectare.
Solo equilibrado Realizar análise de solo para correção e adubação de plantio e de cobertura. A beterraba produz melhor em pH entre 6,0 e 6,5. Caso o solo esteja ácido, pode-se fazer a correção com o uso de calcário de 30 a 90 dias antes do plantio. O teor de matéria orgânica deve es-
tar entre 2 e 3%. Para tanto, fazer a aplicação de 5,0 kg/m² de composto orgânico, 1,5 kg/m² de esterco de aves ou 3,0 kg/m² de esterco de gado, todos bem curtidos, de sete a dez dias, antes do plantio. Se houver deficiência de boro, aplicar boráx. Realizar a construção dos canteiros com dimensões de 1,0 a 1,2 m de largura e 30 - 40 cm de altura. Se necessário, recomenda-se a adubação anterior ao plantio, baseada na análise de solo com o uso de cinzas de madeira (potássio) e fosfato natural (fósforo). Deve-se realizar irrigações leves e frequentes durante todo o ciclo, sempre no período da manhã, para que a cultu-
A demanda tem permitido a oferta de alimentos de alta qualidade
ra não permaneça molhada durante a noite, o que favorecerá o aparecimento de doenças.
Manejo fitossanitário O controle das ervas daninhas no manejo orgânico é realizado por meio de capinas manuais ou com a utilização de pequenas enxadas. As principais pragas da cultura são as lagartas, vaquinhas e nematoides. As lagartas atacam as folhas, causando a desfolha e diminuindo a taxa fotossintética da planta. Em infestações severas, podem atacar o caule e raiz. O controle pode ser feito utilizando pulverizações do ingrediente ativo Bacillus thuringiensis (inseticida microbiológico). As vaquinhas (Diabrotica speciosa) também atacam a cultura. As larvas do inseto atacam as raízes, prejudicando a absorção de água e nutrientes, enquanto os adultos atacam a parte aérea da planta e podem ser vetores de viroses. O controle do inseto pode ser feito de forma biológica, utilizando os inimigos naturais Celatoria bosqi, Centistes gasseni, e os fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae. Os nematoides atacam as raízes, impedindo a absorção de água e nutrientes, e inviabilizam a comercialização do vegetal. Pode-se fazer o controle por meio de medidas preventivas, como arações de 20 a 30 dias durante três meses antes do plantio, eliminação de plantas daninhas e realizar rotação de cultura, evitando o monocultivo.
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Doenças em destaque
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As principais doenças são: mancha de cercóspora, damping off por Fusarium spp. e mancha de alternaria. A mancha de cercóspora, causada pelo fungo Cercospora beticola, é a principal doença da cultura. Os sintomas são observados nas folhas mais velhas, por serem mais suscetíveis. Inicialmente são pontuações que evoluem e tendem a alcançar de 4 a 5 mm, de formato mais ou menos arredondado, centro claro e bordas com perímetro de coloração vermelho-púrpura. À medida que as lesões aumentam, se tornam com tonalidade acinzentada, causando a necrose. O tecido lesionado
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escoamento da água e permite um melhor desenvolvimento das raízes tuberosas. O manejo feito com fungicidas e inseticidas microbiológicos mostra boa eficiência no controle de pragas e doenças, desde que sejam respeitadas as recomendações técnicas fornecidas pelo fabricante.
Colheita A colheita da beterraba orgânica varia de acordo com a cultivar, porém, em geral as raízes são colhidas por volta de 80 dias após a semeadura. Já no cultivo por mudas transplantadas, de 90 a 100 dias após o plantio, sendo importante verificar se as raízes atingiram de 6,0 a 8,0 cm de diâmetro, não deixando passar do tempo, para não ficarem duras. Em média, a produtividade fica em torno de 15 a 30 toneladas por hectare.
Comercialização A comercialização normalmente é feita em caixas tipo K, de 20 kg, ou em maços com 12 beterrabas com peso de 3,0 a 4,0 kg. Para seu transporte, normalmente são alocadas em engradados de 20 kg.
Damping off O damping off é causado pelo fungo Fusarium spp., que ataca o sistema radicular. Os principais sintomas são o amarelecimento progressivo das folhas na forma ascendente, com senescência prematura. Para o controle, deve-se evitar áreas sujeitas ao encharcamento, compactadas e com acidez elevada. É recomendado usar sementes sadias, calagem e adubações balanceadas. Pesquisas mostram que o uso de óleo essencial de Aloysia citriodora no tratamento de sementes apresenta resultados
positivos no controle do fungo.
Mancha de alternaria A mancha de alternaria é causada pelo fungo Alternaria tenuis. Os sintomas são pequenas lesões circulares de cor marrom, com aspecto aquoso, começando pelas folhas mais velhas, podendo atingir toda a parte aérea da planta. Para o controle da doença, deve-se utilizar sementes sadias, evitar o adensamento de plantas e o excesso de adubação nitrogenada.
Novidades Os produtos que se destacam na produção orgânica são os inseticidas e fungicidas microbiológicos, que possuem boa eficiência no controle e não são prejudiciais ao meio ambiente. No manejo, as novidades partem da mecanização do plantio e colheita, que atende médios e grandes produtores devido ao alto valor de aquisição dos implementos.
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cai e a folha torna-se perfurada. Para o controle do patógeno recomenda-se evitar o plantio em áreas sujeitas ao encharcamento, realizar rotações de cultura e evitar plantio em áreas já cultivadas com o vegetal. O uso de pulverizações de calda viçosa é eficiente para o controle.
Sem errar Os erros cometidos na produção são o plantio em áreas sujeitas ao encharcamento, solos compactados, plantio sequencial no mesmo local e dificuldades no controle de pragas e doenças, pois não é permitido o uso de defensivos químicos. O plantio em canteiros auxilia no 21
FUNGOS
COGUMELO SHIMEJI
COMO PLANTAR E CONDUZIR
Fotos Daniel Gomes
Adilson Júnior Soares Alves Graduando em Agronomia Universidade Federal de Lavras (UFLA) adilsonjralves13@gmail.com
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Ricardo Alex Figueiredo Russo de Sá Engenheiro agrônomo - UFLA ricardo.alex.sa@hotmail.com
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tualmente, o mercado de fungos movimenta cerca de US$ 35 bilhões no mundo ao ano e a expectativa é de que este ramo deva crescer até 9% em 2021. Dados da Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos (ANPC) mostram que o País possui uma produção média de 12 toneladas de cogumelos no geral, sendo duas toneladas de shimeji. Para se ter uma base, uma bandeja de 200 g de shimeji é vendida ao preço médio de R$ 15,00. A China lidera o mercado mundial de exportação, seguida pela Itália, Estados Unidos e Holanda. O consumo per capita no país asiático chega a oito quilos, sendo também o que mais consome o produto.
No Brasil, a média anual de consumo per capita é de apenas 160 gramas, e se comparado com a Itália, que possui uma média de 1,3 kg de consumo per capita, nota-se que o País está bem abaixo da média. No atual momento, a demanda nacional é maior que a oferta, e por esse motivo o Brasil necessita importar de outros países, como a China. Um fato interessante é que, apesar de ser transportado de um país geograficamente distante, o produto chega ao Brasil com preço inferior ao do cultivado em território nacional.
A produção O shimeji é cultivado em substratos como serragem de pinheiro ou eucalipto, que são contidos em pacotes de polipropileno (PP) ou polietileno de alta densidade (PEAD). Seu período de crescimento, que corresponde da semeadura à colheita, pode variar de 45 a 180 dias. São necessários alguns cuidados es-
pecíficos na cultura, como um galpão de câmara de cultivo contendo equipamentos de controle da luminosidade e umidade do local. Alguns fatores que também devem ser levados em consideração no planejamento são: custos de construção, espaço de maquinário, tamanho da estrutura que será montada dentro da câmara e também o espaçamento entre bandejas e/ou pacotes que serão utilizados no cultivo. O cultivo axênico de cogumelos shimeji refere-se ao processo em que o substrato é esterilizado e enriquecido com nutrientes, permitindo que o fungo cresça sem competição e obtenha maior produtividade. Esse sistema permite o aproveitamento de diversos resíduos agrícolas propícios para a elaboração de substratos para cogumelos. A técnica consiste em usar serragem de eucalipto misturada com outros ingredientes, como farelo de cereais (normalmente soja) e calcário, permitindo que o pH esteja ideal e com nutrientes que irão alimentar o fungo. Deve-se prensar esta mistura em for-
FUNGOS
Sementes A produção das “sementes” ocorre por meio de processos biotecnológicos em laboratórios de sementes. No laboratório ocorre a multiplicação do material genético já selecionado por meio do processo de clonagem. É necessário um ambiente totalmente estéril para que não haja nenhum contaminante - para isso se utiliza autoclave, câmara de fluxo laminar e álcool 70º. O bloco, depois de inoculado, deve ser colocado em um saco plástico com filtro para permitir a respiração do micélio e evitar a contaminação. Depois destes processos, o bloco deve ser deixado por 90 dias em um local escuro, em temperatura média de 21 a 24ºC, e umidade entre 70 - 75%. Após esse tempo, deve-se realizar a lavagem dos blocos com água corrente e então colocá-los em uma sala separada, na qual a temperatura deve variar de 14 a 20ºC, e umidade sempre mantida acima dos 90%. Além disso, não é recomendado que os níveis de CO2 atinjam taxas superiores a 1.500 ppm (parte por milhão). Dentre nove a 10 dias eles começam a ser colhidos e embalados.
Os blocos continuam produzindo, desde que sejam submetidos ao choque térmico. Eles são inundados em água gelada por cerca de seis horas, e assim o processo é iniciado novamente. Esse processo pode ser repetido por três a quatro vezes, e vale ressaltar que deve ser realizado de modo totalmente asséptico, sempre com equipamentos esterilizados, máscaras, luvas, toucas, etc.
Novidades As formas de produção vêm evoluindo bastante. O cultivo no Brasil começou em toras de eucalipto, que além de ser um sistema que demandava grande mão de obra, demorava cerca de um ano para realizar a primeira colheita. Atualmente, em algumas empresas a estrutura é toda feita de material chamado EPS, o qual permite bom isolamento térmico e grande facilidade de limpeza. Além disso, são utilizados condensadores, evaporadores e umidificadores que são controlados digitalmente para manter as condições ideais.
Fitossanidade Nessa cultura, as principais pragas são moscas e roedores. Para que haja bom controle, deve-se manter as salas sempre fechadas, exaustores com filtros, telas anti-moscas e armadilhas para insetos, se possível. As principais doenças são de origem fúngica e bacteriológica. Muitas espécies são contaminantes e a intensidade destes depende do ma-
nejo preventivo durante o ciclo. Dentre os fungos, destacam-se os chamados fungos verdes, como o Trichoderma spp., Penicillium spp., Aspergillus spp., e a bactéria mais comum é a Pseudomonas spp. As vias de dispersão dos contaminantes são insetos, pelo ar, manipuladores, utensílios e equipamentos. Algumas medidas de controle são: limpeza e desinfecção adequada do ambiente, instalações, aparelhos e tudo que entra em contato com o bloco, higienização correta das mãos e uso de EPI’s. Para que as perdas sejam mínimas na produção, é necessário reconhecer e tratar o fungo contaminante no estágio inicial, com raspagem e aplicação de álcool 70º, isolar os cogumelos contaminados, retirar partes que tiveram crescimento abortado e cortar os talos rentes durante a colheita.
Erros Os erros mais comuns nesse tipo de cultura são contaminação do substrato, da “semente”, temperatura e umidade fora do padrão e erros de manejo (que vão desde a implementação e colheita até vazão do produto final). As melhores formas de sanar esses entraves são: realizar treinamento dos colaboradores a fim de prepará-los para lidar com os desafios que o shimeji impõe, vistoria diária dos painéis de controle de umidade e temperatura; higienização adequada do ambiente, dentre outros.
Investimento x retorno Em uma reportagem do portal de notícias G1, produtores do Rio Grande do Sul disseram que em um galpão com aproximadamente 200 metros quadrados foi possível produzir até 300 kg de cogumelos frescos semanalmente e, ainda, segundo eles, o volume pode representar renda de até R$ 4.000,00 por semana. Tendo em vista a alta procura no mercado interno, o cultivo do shimeji é uma excelente alternativa para pequenos produtores que visam aumentar sua renda.
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ma de blocos e autoclavá-las para eliminar quaisquer microrganismos que possam interferir na produção. Em seguida, são inoculados os micélios do cogumelo, popularmente chamados de “sementes”.
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GENÉTICA
PRODUTORES APROVAM VARIEDADES DE PEPINOS Pepino Tikara Fotos Agristar
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calendário de produção do pepino no Brasil varia conforme a região, por conta do clima predominante e, apesar de ser bem adaptável a diversas estações, a produção mais expressiva é no verão, uma vez que o frio limita o desenvolvimento e reduz o tempo de colheita. Diante dessa realidade, a linha Superseed desenvolveu um portfólio de pepinos híbridos diversificado, procurando cada vez mais incorporar e melhorar os pacotes de resistências de acordo com o que cada região necessita. Hoje, a Superseed possui três híbri-
Pepino Zebu
Pepino Vectra
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dos de pepino: Tikara, Zebu e Vectra, variedades que têm conquistado bons resultados entre os produtores. Dentre os exemplos está o produtor Márcio Ferreira Pereira, que planta pepinos há 22 anos em Campo Leal, distrito de Sumidouro (RJ). Em média, ele planta meio hectare por vez, ou sete mil plantas, três vezes ao ano. “Estou muito satisfeito com o pepino Tikara. Há seis anos trabalho com o material e minha lavoura é toda dele. A beleza do produto é muito importante e isso ele tem muito, além da produtividade, que esse ano foi especialmente alta. Ele tem tudo o que eu procuro em um pepino japonês e nessa região, na minha opinião, ele não tem concorrência, é o melhor!” O especialista em cucurbitáceas da Agristar do Brasil, Rafael Zamboni, explica que o Tikara é um pepino japonês, partenocárpico, com uma planta vigorosa e boa adaptabilidade, principalmente nas regiões em que se planta em campo aberto. “Apresenta internódios curtos, pouca flor macho, na maioria cada internódio apresenta um fruto, que se destaca pelo padrão de mercado, excelente brilho e pós-colheita”. Em Goianápolis (GO) o produtor Rodrigo Cardoso já plantou seis mil pés do pepino Zebu nesse ano. “A planta se destaca bastante pelo seu vigor, pegamento de fruto bem diferenciado e menos abortamento. Além disso, o fruto é muito bem aceito na Ceasa de Anápolis, o povo elogiou demais o padrão e a beleza”, explica. Outro produtor que apostou na variedade é Francisco Aldeisio Ferreira Souza, que está em sua primeira lavoura de pepino Zebu, na cidade de Guaraciaba
do Norte, região da Serra da Ibiapaba, no Ceará. “Já plantei muitas variedades de pepino, mas nunca tinha encontrado uma com qualidade e produtividade incríveis como do pepino Zebu. São 17 mil plantas em que observei frutos grandes e uniformes, com muita resistência às chuvas e doenças e sem amarelar as bordas. Também está tendo uma ótima aceitação na Ceasa, por isso estou muito satisfeito com esse material e irei plantar em mais áreas”, diz Francisco Souza. O Zebu é do segmento American Slicer, mais conhecido no Brasil como aodai, pepino comum e até pepino preto. “Ele tem um pegamento de frutos muito acentuado, com excelente pacote de resistências, coloração verde bem escuro, frutos com ótimo padrão e excelente pós-colheita”, detalha Rafael Zamboni. Na região produtora de Paranapuã, no Noroeste Paulista, está a roça de Laércio Chiaradia, já no quarto ano de produção com a semente Vectra. Ele conta que os pontos fortes do pepino Vectra são a resistência às principais doenças da cultura, a sanidade de planta, além da padronização e a coloração escura “muito atraente”, segundo ele. O Vectra é um pepino do tipo caipira escuro e se destaca pelo alto pegamento de frutos e padrão de coloração. Segundo Zamboni, vem se destacando nas principais regiões produtoras. “Para a comercialização dos frutos é importante que sejam de coloração verde bem escuro e uniforme, características apresentadas pelo Vectra, além de ter um ótimo pacote de resistências às principais doenças que atacam a cultura”, comenta o especialista.
SOLO
ESTIMULAM PROLIFERAÇÃO DE MICRORGANISMOS
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s fertilizantes organominerais são adubos orgânicos enriquecidos com nutrientes minerais. Nesse sentido, a associação de fertilizantes orgânicos e minerais é vantajosa, pois a parte orgânica do adubo pode reter certos nutrientes do fertilizante mineral contra a lavagem pelas águas das chuvas, principalmente em solos arenosos, e a fixação pelas argilas em solos argilosos, reduzindo significativamente as perdas. Em longo prazo, o produtor também reduz custos, uma vez que o adubo organomineral estimula a proliferação de microrganismos benéficos que irão atuar na solubilização dos fertilizantes minerais e aumentarão a taxa de mineralização, sobretudo de nitrogênio, fósforo e potássio do fertilizante orgânico, liberando mais nutrientes para as plantas.
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Proliferação de microrganismos Os fertilizantes organominerais são uma mistura formada por fertilizantes de fração orgânica e mineral. De acordo com sua legislação, estes materiais devem conter um mínimo de 8% de carbono orgânico; CTC mínima de 80 mmolc kg-1; 10% de macronutrientes primários isolados (N, P, K) ou em mistura (NK, NP, PK, NPK); 5% de macronutrientes secundários; 1% de micronutrientes e 30% de umidade máxima (Brasil, 2009). Nessa composição, a parte orgânica pode ser obtida a partir de fontes de origem animal ou vegetal, que na sua constituição apresentam determinada concentração de nutrientes.
Karolyna Silva de Resende karolynasresende@gmail.com Graduandas em Agronomia – UNA Uberlândia
José Celson Braga Fernandes Engenheiro agrônomo, doutorando em Biocombustíveis UFU/UFVJM e Fundador da Agro+ celsonbraga@yahoo.com.br
Os organominerais, por apresentarem material de origem orgânica, como os ácidos húmicos e fúlvicos, têm contribuído para o desenvolvimento de microrganismos benéficos para os vegetais.
Benefícios Sua aplicação pode trazer vários benefícios para a produção agrícola. Ao nível de solo, consegue-se alinhar melhoria nas propriedades física, química e biológica do solo, e suas ações fazem com que se obtenha resultados surpreendentes. Na biologia do solo os organominerais são de extrema importância, por conterem matéria orgânica que acaba se tornando o combustível para a microbiota do solo se manter viva. Os microrganismos do solo, para sua permanência e atividade, necessitam de algum material energético, e para isso utilizam a matéria orgânica fornecida e incorporada ao solo, junto à água e oxigênio, favorecendo a sua proliferação/ multiplicação. A sua aplicação na agricultura tem apresentado diversos benefícios, além de disponibilizar nutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio, entre outros. Esse tipo de insumo tem atuado na capacidade de retenção de água, aumento da porosidade e redução de erosão. Por conter material de origem orgânica, os organominerais têm apresentado micelas húmicas coloidais que favorecem o aumento da capacidade de troca catiônica, contribuindo para a redução de lixiviação de nutrientes.
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ORGANOMINERAIS
Lorena Vitoria Ferreira Alves lorevitoria1212@gmail.com
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SOLO
Além desses benefícios, os organominerais têm contribuído para a ativação enzimática vegetal, logo, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos que encontram condições ideais para seu desenvolvimento. Ainda, seu uso tem caráter sustentável, sendo que resíduos que antes eram vetores de pragas e doenças passam a ser incorporados a formulações de adubos e, consequentemente, ocorre a diminuição de uso de materiais de processos químicos que trazem grandes impactos ambientais.
Culturas beneficiadas pelos organominerais
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Atualmente, há diversos estudos com os organominerais mostrando os benefícios de sua adoção, logo, não existe uma cultura mais ou menos beneficiada com o uso do fertilizante organomineral, pois o benefício se agrega a todas elas. Conforme estudos realizados com estes materiais, as culturas agrícolas apresentaram excelentes índices de produtividades quando comparado com métodos convencionais.
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Manejo
Em campo
Para que seu uso seja implantado e tenha uma excelente eficiência, o primeiro passo é contar com a orientação de um profissional que tenha domínio no assunto. Em seguida, adquirir o produto de empresas que tenham padrões rigorosos de qualidade. Depois, é preciso fazer um bom armazenamento do produto para que não tenha contato com substâncias que possam prejudicar a integridade do mesmo e não ocorram alterações físicas, químicas ou biológicas. Os cálculos de adubação devem ser feitos conforme análise de solo para fornecer o necessário para a cultura, pois esse fator reflete diretamente no custo final da produção. Segundo Fernandes 2019, em trabalhos realizados foi verificado que FOMs apresentaram efeitos graduais, obtendo melhor resultado no terceiro ano, quando foram aplicados consecutivamente, embora no primeiro ano já tenha mostrado efeitos satisfatórios nas lavouras.
Atualmente, há diversas pesquisas que relatam a ação benéfica dos FOMs. Duarte, 2014, ao fazer o comparativo entre adubação mineral e organomineral, constatou que ao usar os FOMs houve um acréscimo na produção, sendo satisfatórios seus resultados. Segundo trabalhos realizados por Branco (2012), os FOMs apresentam a capacidade de recuperação da flora microbiana, a redução da acidificação do solo e a liberação gradativa de nutrientes, consequentemente, a planta recebe apenas o necessário. Nesse processo, é importante evitar a lixiviação e volatilização do material aplicado ao solo. Segundo Sousa (2014), o uso dos FOMs resultará na diminuição de custo operacional da lavoura, por diminuir operações de calagem e pela aplicação conjunta de fertilizantes mineral e orgânico ao longo dos cultivos. Cardoso 2015 verificou que todas as variáveis estudadas em experimento com batata foram satisfatórias, ao comparar a adubação com FOMs com
SOLO
No alvo Os erros estão ligados diretamente à falta de conhecimento. Para isto, é recomendado um profissional que tenha conhecimento. Além disso, é primordial que se faça um planejamento de toda prática que será executada em qualquer propriedade rural. Caso contrário, há ocorrências de impactos negativos que podem acarretar em culpa de que o fertilizante organomineral não tenha a devida eficiência. Os erros mais comuns que levam os FOMs a apresentarem resultados não satisfatórios são: má interpretação de análise de solo, não regulagem corretamente dos implementos de aplicação, não fazer as aplicações preventivas de fungicida, inseticida e herbicida na data certa
ou reduzir a aplicação, falta de monitoramento da lavoura conforme o ciclo fisiológico da lavoura e comprar produtos sem certificações de eficiência comprovada, dentre outros que estão dentro do manejo agronômico. Esses erros podem ser evitados quando se tem um ciclo de profissionais idôneos e comprometidos com a sustentabilidade da agricultura. Logo, o produtor deve sempre procurar responsáveis técnicos e empresas que forneçam serviços de qualidade, sempre observando se estes produtos contêm certificações de órgãos de fiscalizações.
Custo O custo dos organominerais varia muito e geralmente é confundido com seus resultados. De primeira mão, são vistos como mais caros do que os usados geralmente, porém, são os mais eficientes pela quantidade de benefícios que proporcionam. Portanto, esses fatores dependerão da qualidade do organomineral e do posicionamento técnico comercial no campo. Visto os diversos benefícios que os organominerais têm apresentado para a agricultura, seu custo torna-se baixo, equiparado com métodos convencionais.
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a adubação mineral. A adubação com FOMs tem apresentado efeitos positivos em algumas propriedades que são monitoradas por empresas que fornecem esses fertilizantes. Foi constatado, em análise de solo, na pós-colheita, que o solo que recebeu o uso do fertilizante organomineral estava com a fertilidade mais estruturada em relação ao tratamento químico, e com isso foi observada uma redução de mais de 50% em kg/ha de adubação para a safrinha.
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ADUBAÇÃO
ALFACE
NOVIDADES NO MANEJO NUTRICIONAL DA CULTURA Raíra Andrade Pelvine Engenheira agrônoma e doutoranda em Agronomia/Horticultura - UnespBotucatu raira_andpelvine@hotmail.com
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Mais produtividade Com o manejo nutricional, e dependendo também de um conjunto de medidas adotadas, pode-se elevar a pro28
Shutterstock
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á diversas empresas que estão investindo em kits nutricionais prontos para uso e sistemas adequados de irrigação para evitar problemas de entupir os bicos de saída de água, o que acaba prejudicando a planta. As novidades ficam por conta dos adubos que possuem baixo teor de liberação do nutriente, para que durante todo o ciclo a cultura receba o mineral, e ainda as diversas tecnologias que otimizam o manejo, como bioestimulantes que auxiliam no desenvolvimento da cultura. A técnica deve ser implantada antes de iniciar o plantio, pois muitas vezes, e dependendo do método de cultura, o início da instalação é primordial para o sucesso ao final do ciclo. Como dito, existem diversas “receitas” para as mais diversas condições, necessitando, muitas vezes, de um profissional para auxiliar no melhor manejo nutricional para o produtor. Deve-se levar em consideração a adubação de base inicial, para quando não houve plantios anteriores de hortaliças folhosas, que deve ser bem-feita. Quando já houve outros plantios, é preciso cuidado com a adubação de plantio, e muitas vezes acaba sendo necessário também a adubação de cobertura.
dutividade da hortaliça, gerando principalmente mais folhas por planta e mais acúmulo de nutrientes, pois ela provavelmente se encontrará em situação adequada para a necessidade de desenvolvimento. Muitas vezes pode ser observado no campo, após a introdução do manejo nutricional, o desenvolvimento mais uniforme da hortaliça, com maior formação de cabeça e de folhas, e também a diminuição do ciclo. Quando as plantas estão equilibradas nutricionalmente, pode até ocorrer diminuição do ataque de patógenos.
Sem receita pronta Normalmente, quando se utiliza uma “receita” pronta, como a maioria dos produtores, eles esquecem de observar dois fatores: se o novo manejo a ser implantado é adequado ao tipo de cultivo que ele se encontra, e principalmente para a sua região, e ainda a disponibilidade periódica de encontrar os produtos ao longo do ano. Um exemplo é o uso de material orgânico, sempre disponível e na quantidade desejada, para produzir a hortaliça, que muitas vezes exige que se adapte
NOVIDADE
outros produtos para substituição. Em sistema hidropônico, dependendo da região, acaba sendo difícil encontrar nutrientes sempre disponíveis, sendo necessário, muitas vezes, comprar e deixar em estoque esse material. Nestes dois exemplos, ocorre algo indesejado: aumento no custo de produção, pois muitas vezes acaba sendo necessário sair da “receita base”, e adaptação. Com o intuito de diminuir os erros, o produtor deve sempre procurar a orientação de um especialista.
Investimento x retorno
Recomendações Atualmente, no mercado, existem diversas “receitas” para obter um bom manejo nutricional na alface, pois elas se adequarão de acordo com o manejo em que se está cultivando a alface, podendo ser hidropônico, orgânico, sistema de plantio direto ou convencional. Deve-se sempre levar em consideração, ao investir em manejo nutricional, o custo x benefício desse novo manejo, sendo característica importante para o produtor, além dele conhecer a cultura e o local que cultiva, pois este último é um fator muito importante para um manejo nutricional ser considerado adequado. Em relação à observação prática, deve-se levar em conta também a questão da cultivar e da região, pois são fatores importantes e determinantes para um bom resultado de produção.
Tropical Estufas
TROPICAL ESTUFAS LANÇA SPANISH
Spanish é indicada para qualquer tipo de cultivo e é a estufa com melhor custo-benefício do mercado. O produto oferece ótima resistência, baixa manutenção e propicia elevada ventilação, além de largura livre para o trabalho
A
estufa tem um importante papel na produção agrícola, uma vez que contribui diretamente para que o ambiente tenha as melhores condições para o desenvolvimento da planta. Umidade, temperatura, incidência do sol. Tudo é controlado de forma precisa e eficaz. Como resultado, temos uma alta proteção do cultivo e uma consequente elevada produtividade. Estes resultados, no entanto, dependem de diversos elementos de uma estufa, como o material, a resistência e a manutenção. Com o objetivo de unir todos estes pontos em um único produto e também ajudar o produtor rural a obter altos desempenhos agrícolas, a Tropical Estufas, empresa líder neste segmento, acaba de lançar a Spanish, moderna estufa que tem alta tecnologia e já apresenta resultados comprovados em diversos cultivos. De acordo com Luis Gustavo Rios, gerente comercial da Tropical Estufas, a Spanish tem alta qualidade e exige
baixo valor de investimento do produtor rural. “O produto foi lançado para se tornar a estufa com melhor custo-benefício do mercado”, destaca.
Benefícios Desenvolvida em seis meses, com investimento de aproximadamente R$ 150 mil, a Spanish é indicada para qualquer tipo de cultivo, tais como abobrinha, pimentão, pepino mini e tomate, entre vários outros. “A Spanish é uma excelente opção para pequeno e médio produtor que quer fazer a transição de campo aberto para ambiente protegido. O produto oferece ótima resistência, baixa manutenção e propicia elevada ventilação, além de largura livre para o trabalho. Enfim, são muitos os diferenciais, quando comparamos a Spanish com a estufa tipo Londrina ou com o campo aberto”, finaliza o gerente comercial da Tropical Estufas. Para saber mais sobre a Spanish, acesse: https://tropicalestufas.com.br
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Normalmente, quando se adapta ao manejo nutricional, dependendo também do sistema de cultivo da hortaliça, há um aumento no custo de produção, porém, pode ocorrer o inverso, pois muitas vezes o produtor aduba além do que a planta necessita, sendo então desejado o manejo nutricional, que acaba barateando o custo de produção. Lembrando que é difícil computar o investimento e o retorno, sendo algo particular a cada região e método de cultivo adotado.
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NUTRIÇÃO
BORO VIA FOLIAR
NO DESENVOLVIMENTO DO REPOLHO
Fotos Shutterstock
Antonio Santana Batista de Oliveira Filho Mestrando em Produção Vegetal FCAV/UNESP a15santanafilho@gmail.com Adriana Araujo Diniz Professora adjunta II - Universidade Estadual do Maranhão (UEMA/ CESBA) adrisolos2016@gmail.com
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Myrelly Nazaré Costa Noleto Graduanda em Engenharia Agronômica - UEMA/CESBA myrellynoleto11@gmail.com
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boro (B) é considerado um micronutriente que pode limitar a produção das brássicas, principalmente devido à baixa disponibilidade do elemento em determinados tipos de solos. Este elemento contribui para a incorporação de cálcio na parede celular e diretamente no processo de expansão celular, tendo atuação também direta no crescimento e desenvolvimento dessas hortaliças (Alves et al., 2006). A deficiência de boro induz sintomas visíveis na planta, como redução da expansão foliar, inibição da parte aérea e das raízes e até a morte das gemas ter-
minais, encurtamento das folhas e frutos pequenos e folhas quebradiças, entre outros. A aplicação de fertilizantes foliares (micronutrientes) tem aumentado em decorrência da sua eficiência e com o intuito de buscar produtividades cada vez maiores. Dentre suas vantagens está a utilização de dosagens menores do que as usadas via solo, distribuição fácil e uniforme e respostas mais rápidas das plantas (Calonego et al., 2010). A eficiência das aplicações foliares tem dependência da solubilidade e da fonte de B utilizada e do íon acompanhante, em que fertilizantes com baixa solubilidade mantêm o suporte de nutriente nas plantas por mais tempo e evitam a toxicidade pós-aplicação (Macedo et al., 2016).
que haja controle dos fatores que limitam a sua produção. Dentre eles está a disponibilidade nutricional, de forma a atender as exigências dessa cultura. O repolho é uma das culturas que mais esgota os solos, por ter uma exigência nutricional elevada e também um sistema radicular robusto que possui alta capacidade de extração de nutrientes, havendo assim a necessidade de adubações frequentes. Durante o ciclo de cultivo, adubações foliar são eficazes para suprir as necessidades nutricionais da planta, exigidas ao longo do desenvolvimento, possibilitando a disponibilidade do elemento em deficiência de forma rápida. Desse modo, a aplicação de boro via foliar em repolho demonstra ser eficaz no suprimento do nutriente.
As brássicas
Benefícios proporcionados pelo boro
O repolho (Brassica oleracea) é uma herbácea cultivada principalmente na agricultura familiar brasileira. O clima mais adequado de cultivo é o temperado e úmido, podendo estas plantas serem classificadas como verdes ou roxas e terem textura lisa ou crespa. Para que haja um aumento significativo na sua produtividade, é necessário
A aplicação de boro via foliar propicia uma rápida resposta da planta, o que confere o restabelecimento do equilíbrio nutricional sem que sejam acarretados danos à produtividade, ao contrário da aplicação via solo, que em condições de deficiência pode não mais reverter os danos causados à produção.
NUTRIÇÃO
Como implantar a técnica Primeiramente, necessitam-se de avaliações cuidadosas, para definir se existe deficiência e a necessidade de aplicação, estabelecendo a dose e o produto a ser utilizado, sempre salientando a importância de planejamento, recomendado por um engenheiro agrônomo. Durante a aplicação, deve-se utilizar pulverizadores de qualidade de forma a prevenir a formação de gotas na folha, contribuindo para a maximização da quantidade de gotículas que grudarão nas folhas de forma homogênea e assim serão absorvidas. O maquinário de aplicação, independentemente da tecnologia utilizada, deve ser devidamente limpo e isento de impurezas que possam entupir ou dificultar a chegada das gotas até a fo-
lha, comprometendo assim a eficácia na aplicação do produto. Tomar cuidado com maquinário contaminado com resíduos de aplicações de outros produtos, o que poderá gerar resultados insatisfatórios na aplicação. Aplicações muito grosseiras, que causam gotejamento, consequentemente desperdício e diminuição dos resultados esperados, devem ser evitadas. Misturar bem o produto na água e aplicar o mais vaporizado possível também contribui para uma melhor absorção. A aplicação deve ser feita quando as folhas da planta estiverem túrgidas, levando em consideração condições ambientais de clima, como temperatura e umidade.
Produtividade A adubação foliar de boro é um propulsor da produção, sendo o elemento essencial para o desenvolvimento vegetal, mesmo que exigido em pequenas quantidades. A adubação foliar com boro no repolho pode garantir diversos benefícios, como os já citados anteriormente, consequentemente garantindo maior produtividade, já que as plantas terão cabeças bem desenvolvidas e de aparência favorável ao consumidor, garantindo um maior benefício. Silva et al. (2014), ao avaliarem a aplicação de ácido bórico em repolho, cons-
tataram que na dose de 6,8 kg ha-1 houve um acréscimo de aproximadamente 40% de produtividade da cultura. Silva et al. (2012), ao avaliarem a produtividade e desenvolvimento de cultivares de repolho em função de doses de boro, perceberam que a cultivar, aos 60 dias, apresentou maiores valores nos componentes de produção e, consequentemente, maior produtividade. A aplicação de boro influenciou o número de folhas da cabeça do repolho e as doses de boro interferiram na produtividade. O repolho responde significativamente à adubação foliar de boro, obtendo melhor produtividade (Pizzeta et al., 2005), e a adubação com o micronutriente é fundamental para a formação e fechamento da cabeça (Basilio; Benett, 2014).
Erros mais frequentes Os erros mais frequentes que podem afetar a eficiência da adubação foliar são: a escolha errada do fertilizante a ser aplicado, quantidade indevida do fertilizante e aplicação no momento e hora errada, ou seja, não se preocupar com as diferentes fases da cultura, que possuem necessidades diferentes, por isso, não obtêm a melhor resposta em eficiência a esse tipo na adubação. E, ainda, aplicar em momentos com condições climáticas inadequadas e utilizar equipamento contaminado com outros produtos. Outros erros frequentes são: dissolver adubos comuns e aplicá-los via foliar, não solicitar ajuda de um profissional da área, achar que os fertilizantes possuem composição química igual e não ler o rótulo dos fertilizantes. Os erros podem ser evitados adotando as seguintes medidas: Análise foliar e diagnóstico preciso da necessidade de aplicação; Aplicar em condições climáticas adequadas; Utilizar equipamento de aplicação limpo e inseto de contaminantes; Ter auxílio de um profissional para recomendação.
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O suprimento de boro via foliar para o repolho confere qualidade ao produto, resultando em cabeças compactadas e grandes. A deficiência do elemento poderá resultar em cabeças frouxas, conferindo menor qualidade ao produto e, consequentemente, uma menor rentabilidade à produção. Portanto, a aplicação desse micronutriente na cultura pode proporcionar aumento significativo nas variáveis de crescimento, refletindo na produtividade final.
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HIDROPONIA
MANEJO DA ÁGUA NO CULTIVO DE
AGRIÃO HIDROPÔNICO
Weber Velho
Júlia Letícia Martins Galdino julialeticia.galdino@gmail.com
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Amanda Carolina de Moraes amoraes445@gmail.com Graduandas em Engenharia Agronômica - IFSULDEMINAS, campus Muzambinho
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hidroponia é empregada de modo a eliminar o impacto de pragas de solo e reduzir problemas como contaminações ambientais geradas pelos sistemas de cultivo tradicionais. Embora os sistemas de cultivo hidropônicos sejam mais caros e exigentes em manejo e manutenção, se feitos corretamente apresentam maiores e melhores resultados quando se trata de produtividade, qualidade e segurança alimentar, em comparação à forma usual de produção, tendo em vista que se tem total controle sobre o que está atuando no meio em que as plantas estão inseridas (Silva; Melo, 2003). Com a busca cada vez maior por ali-
mentos saudáveis, aumenta também a demanda pela produção de hortaliças, como o agrião (Nasturtium officinale L.). Além de ser rico em vitaminas do complexo B, A, C, K e minerais como potássio, ferro, cálcio e fósforo, substâncias essenciais para o funcionamento do nosso corpo, o agrião também atua como antioxidante, aumentando a imunidade, combatendo infecções e facilitando o processo digestivo (Salgado, 2012).
Vantagens para o agrião Como toda hortaliça cultivada em sistema hidropônico, o cultivo do agrião nesse método requer atenção constante em diversos aspectos. Dentre eles, o equilíbrio e concentração da solução nutritiva e a necessidade de reposição de água no sistema ao longo do desenvolvimento da cultura. De acordo com Lira et al. (2018), o cálculo para reposição do volume de
água evapotranspirada do sistema hidropônico pode ser realizado pela seguinte fórmula:
Onde: VETC = Volume evapotranspirado em mL por cada planta no dia; Lf = leitura final do nível da água no depósito de abastecimento automático, em metros; Li = leitura inicial do nível da água no depósito de abastecimento automático, em metros; D = diâmetro interno do depósito de abastecimento automático, em metros; ∆T = intervalo de tempo entre as leituras, em dias; π = 3,141592 (aproximadamente); n = número de plantas sendo cultivadas no intervalo de tempo ∆T entre as medições. Logo, o volume de água a ser repos-
HIDROPONIA
O manejo para reposição da água evapotranspirada no sistema hidropônico consiste também na manutenção da solução nutritiva. Segundo Furlani et al. (2009), o volume de água no reservatório deve ser completado quantas vezes forem necessárias durante o dia para evitar elevação muito grande na concentração salina da solução nutritiva e também manter o volume do reservatório sempre no nível. A manutenção da solução nutritiva pode ser realizada por meio da condutividade, o método mais fácil e simples (Silva; Melo, 2003). Mas, vale lembrar também que, quando se adiciona água para repor o volume evapotranspirado, acrescenta-se também nutrientes que estão presentes na água. Com o tempo, as adições para repor as perdas por evapotranspiração poderão causar um desequilíbrio na solução nutritiva, afetando a absorção da mesma pelas plantas. Para corrigir este desequilíbrio, recomenda-se análise química da solução e realização de correções necessárias dos níveis de nutrientes dissolvidos, ou até mesmo renovação da solução nutritiva quando os níveis dos nutrientes forem superiores aos iniciais (Furlani et al., 2009; Silva; Melo, 2003). A renovação da solução nutritiva também é importante para evitar o acúmulo de matéria orgânica (restos de plantas, exsudados de raízes e crescimento de algas), que pode contribuir para o crescimento de microrganismos indesejáveis (Furlan et al., 2009; Silva; Melo, 2003).
Desafios Dentre os erros mais frequentes, podemos citar a má e/ou incorreta utiliza-
ção das técnicas de verificação da necessidade de reposição de água. Com isso, o produtor acredita estar adicionando a quantidade correta de água ao sistema, sendo que, na verdade, pode estar prejudicando o desenvolvimento de suas plantas e as tornando menos produtivas e mais suscetíveis a pragas e doenças, devido ao desequilíbrio gerado na solução nutritiva. Para evitar que esse problema ocorra, recomenda-se sempre conferir qualquer cálculo realizado, manter os equipamentos de medição calibrados, utilizar balança de precisão para pesar os fertilizantes que serão adicionados à solução e, ainda, procurar um engenheiro agrônomo quando houver mais dúvidas, evitando, assim, maiores prejuízos à produção.
Custo-benefício A implantação de um sistema hidropônico demanda grande investimento inicial, porém, se manejado corretamente, seu retorno é rápido e satisfatório. Têm-se, na literatura, poucos estudos acerca do custo-benefício da produção de agrião em sistema hidropônico, devido talvez a seu não tão expressivo consumo, quando comparado a outras hortaliças, como alface e rúcula. Como a rúcula e o agrião estão inseridos na mesma família Brassicaceae, pode-se deduzir que seus comportamentos seriam semelhantes, quando
cultivados neste sistema de cultivo. Sendo assim, Dal’Sotto (2013) verificou que o cultivo de alface e rúcula em sistema hidropônico apresentou boa viabilidade econômica na agricultura familiar, com retorno de investimento rápido e boa renda. Ainda assim, antes de optar pela produção do agrião, recomenda-se que o produtor observe a demanda de mercado pela folhosa e as possibilidades de escoamento de sua produção, buscando também diversificar seus cultivos, evitando assim a perda de hortaliças e, consequentemente, de investimento e lucro.
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Manejo
pender de diversos fatores, como manutenção da solução nutritiva, reposição de água evapotranspirada e eficiência do sistema hidropônico empregado. Segundo Santos et al. (2004) e Morais et al. (2006), o espaçamento e densidade de plantas no sistema também interferem na produtividade, já que esses influenciam na competição por água, luz e nutrientes. O cultivo com espaçamento ideal, correta manutenção da solução nutritiva e reposição da água evapotranspirada pode apresentar grande produtividade no cultivo de agrião hidropônico.
Adriano Mendes
to no sistema será igual ao volume evapotranspirado, não deixando de lado a verificação de pH e condutividade, assim como a concentração dos nutrientes da solução nutritiva, de modo que se reponha corretamente a água faltante, mantendo a plenitude do sistema e das plantas por ele cultivadas.
Na prática O sistema de cultivo hidropônico, comparado ao cultivo convencional, proporciona bom desenvolvimento às plantas, bom estado fitossanitário e altas produtividades (Silva; Melo, 2003). A produtividade da hortaliça irá de33
CALHAS
PEPINOS
Hidrogood
O QUE AS CALHAS PODEM FAZER POR ESSA CULTURA? Glaucio da Cruz Genuncio Doutor e professor - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) glauciogenuncio@gmail.com
Elisamara Caldeira do Nascimento
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Talita de Santana Matos Doutoras em Agronomia - Ciência do Solo
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o se cultivar pepinos em calhas com substrato (cultivo hidropônico em substrato ou semi-hidroponia) há algumas vantagens, tais como: redução significativa de ataque de patógenos, como nematoides, fungos, bactérias, além de um maior controle nutricional e de irrigação, aumentando significativamente a eficiência do manejo destas variáveis agronômicas. Por outro lado, discute-se muito o reaproveitamento do substrato, por este gerar custo à produção, quando não for reutilizável. Preconiza-se o reuso em, no máximo, três vezes, dada a possibilidade de salinização do substrato. A maioria dos produtores utiliza a fibra de coco
como substrato base, ou misturada com casca de arroz carbonizada e outros materiais disponíveis. Ressalta-se, ainda, a importância de o produtor atentar-se quanto ao manejo nutricional e de irrigação para o cultivo de pepino em substrato, uma vez que ele é sensível à salinidade (EC altas) e ao excesso de água, com baixa drenagem e, consequentemente, baixa oxigenação do sistema. Estas variáveis são fundamentais para se manejar de forma eficiente este sistema de calhas. Assim, os produtores devem ser extremamente criteriosos quando se trata do cultivo do pepino em sistema de calhas com substrato. Por conseguinte, o sistema caracteriza-se por sua alta exigência de conhecimento técnico para a garantia de elevadas produções, produtividades e qualidade da cultura.
Classificação As calhas hidropônicas utilizadas
para o cultivo do pepino podem ser classificadas como de sistema aberto, na qual a solução nutritiva não recircula, e admite-se um volume drenado entre 20 a 30%, e a calha de circuito fechado, na qual a solução nutritiva é completamente reaproveitada, não havendo volume drenado. O mercado vem avançando na produção e comercialização do sistema fechado de calhas, com possíveis novidades para 2020/21.
Ação e reação A calha, fundamentalmente, é um sistema que serve de suporte para o substrato (parte inerte/física do sistema, para plantas de pepino e para a fertirrigação. A junção entre calha, substrato e pepino servirá, a priori, para o crescimento e desenvolvimento das plantas de forma eficiente do ponto de vista agronômico, por possibilitar um maior controle das condições de crescimento da rizosfera e de respostas fisiológicas e nutricionais do pepineiro.
A importância do controle nas aplicações de água e nutrientes no cultivo do pepino em calhas está em função dos estádios fisiológicos que a cultura demanda. Assim, no período vegetativo, as plantas de pepino necessitarão de maiores quantidades de N, P e micronutrientes. Já no estádio reprodutivo de floração e frutificação, ocorre o aumento da necessidade fisiológica de certos nutrientes, tais como o K, Mg e Ca , assim como de Mn e B. Em função disto, o produtor deve buscar informações técnicas ou assessoria para um melhor manejo nutricional da cultura, pois, diferenciando a regulação das relações nutricionais contidas na solução nutritiva a partir da avaliação dos estádios de desenvolvimento da cultura do pepino, a possibilidade de aumento de produção, produtividade e qualidade de frutos é significativamente aumentada. Outro fator que favorece a queda significativa de produção do pepino condu-
zido em calhas hidropônicas é o manejo errôneo da aplicação de água (irrigação), em que tanto o excesso quanto a falta afetarão o crescimento e desenvolvimento dos frutos. Assim, sistemas de controle por tensiometria ou pressão positiva são recomendados para o uso da calha. Além do mais, o sistema de aplicação, tanto de água como de nutrientes (fertirrigação), deve ser o de gotejamento, com especificidade em termos de espaçamento entre gotejadores e distância entre linhas de cultivo.
excesso. Este excesso pode causar a morte do sistema radicular por falta de oxigenação no substrato, assim como pela maior possibilidade do surgimento de doenças bacterianas. Por outro lado, a falta ou a variação na aplicação de água é um dos principais fatores que levam à salinização do substrato, além da deficiência de Ca e B nas plantas, causando o comprometimento da produção e produtividade do pepino.
Planejamento
Acompanhando de perto
A necessidade de um projeto executivo é real e de fundamental importância, uma vez que erros de cálculo podem afetar diretamente o crescimento e desenvolvimento do cultivo. Ressalta-se, ainda, um benefício do uso de calhas recirculantes comparativamente às calhas abertas, devido à facilidade do manejo de irrigação, com uma menor possibilidade de erros quanto ao
Quanto ao processo de monitoração da fertirrigação, o controle do pH e da condutividade elétrica (EC) da solução drenada são os mais recomendáveis. Pode-se, além disso, utilizar um extrator de solução, que é uma ferramenta inserida no substrato e responsável por amostrar a solução. Nesta, o produtor avalia o pH e a EC. Isto é importante, pois gerará da-
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CALHAS
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CALHAS
dos fundamentais para tomadas de decisões, tais como: lavagem do substrato, aumento da EC, controle efetivo do pH, uso de mulching para redução da evapotranspiração, dentre outros manejos. Uma informação importante ao produtor que deseja iniciar o plantio de pepino em estufa é a busca de plantas partenocárpicas (que produzem frutos sem fecundação), pois este fator reduz perdas por deformação dos frutos, quando conduzidos em estufas.
Como agregar à técnica
Benefícios das calhas As calhas hidropônicas destacam-se como ferramentas que auxiliam no melhor controle nutricional e no uso eficiente de água (um bem precioso, atualmente), assim como garantem ao produtor uma reduzida probabilidade do ataque de pragas e doenças presentes no solo. Este manejo torna-se fundamental para a obtenção de qualidade de fru-
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Os principais tipos de pepino são: caipira, holandês e japonês. Ressalta-se, ainda, que a enxertia com abóbora ou com híbridos de pepino específicos para porta-enxerto é importante, principalmente nas regiões norte e centro-oeste do Brasil, devido à iminente prevalecência de doenças radiculares no
sistema. Por ser tratar de uma planta tolerante a faixas amplas de temperaturas, de 20 a 35ºC, a condução se dá em várias regiões do Brasil. Por outro lado, a planta não tolera frio, e o produtor deverá ter atenção a regiões de umidade relativa baixa, devido à severidade do ataque de oídio no cultivo. Para mais informações, recomendamos a consulta à Circular Técnica 113 da Embrapa, que trata dos aspectos gerais da cultura do pepino.
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tos e produtividades elevadas. Neste tipo de sistema, alguns produtores garantem produções superiores ao campo entre 20 a 50%, além da possibilidade de cultivos sucessivos no decorrer do ano agrícola, sendo este um excelente resultado obtido nas produções nestes sistemas.
Mão no bolso O investimento em calhas recirculantes (com ou sem vasos) pode ser de 20 a 30% superior ao sistema NFT (sendo a base comparativa com o custo de R$ 70,00/m2), sem considerar a estufa. Por outro lado, o sistema de calha aberta pode ser menor, porém, com as desvantagens supracitadas. Para análise de investimento na implantação do sistema tipo calhas para o pepino, recomendamos ao produtor o levantamento do custo do substrato (principalmente com o frete na avaliação) e sua reutilização em cultivos sucessivos em termos nutricionais e fitossanitários. Este custo é um dos fatores determinantes na escolha deste tipo de sistema hidropônico para o cultivo do pepino. Vale ressaltar que, para o sistema em substrato, o produtor tende a prolongar o ciclo de cultivo visando uma melhor depreciação do substrato. Porém, este tipo de reaproveitamento é algo mais difícil para o pepino, por possuir resposta fotoperiódica (com prevalecência de flores masculinas em fotoperíodos específicos), por possibilitar uma maior incidência de doenças e da salinização do mesmo.
Custo-benefício Dadas as vantagens agronômicas do uso da calha no cultivo de pepineiro, o sistema apresenta um excelente custo-benefício, cabendo ao produtor a busca de informações que gerem conhecimento prático quanto aos manejos nutricional e de irrigação. Além disso, é importante a escolha de híbridos, a condução via tutoramento, podas e enxertia, visando a minimização de erros e a garantia de maiores produções, produtividade e qualidade de frutos.
COBERTURA
PULVERIZAÇÕES FMC
USO DE ADJUVANTES AUMENTA GANHO DE COBERTURA
Ana Elisa Lyra Brumat Engenheira agrônoma, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências do Solo – UFPR anaelisalbrumat@gmail.com
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adjuvante é uma substância química adicionada à calda de pulverização de defensivos agrícolas e herbicidas, com o objetivo de aumentar a eficiência da aplicação do produto pulverizado ou modificar determinadas propriedades da solução, promovendo melhoria na aplicação e/ou redução de possíveis problemas decorrentes desta. A eficiência da aplicação do produto ocorre em razão da diminuição do volume da calda, redução da deriva, aumento da taxa de absorção e cobertura do produto no alvo.
Atuação Existem inúmeras substâncias utilizadas como adjuvantes, que atuam de forma diversas: Adjuvantes ativos: melhoram a eficácia biológica e química do produto aplicado, diminuem a tensão superficial de gotas, retardam a evaporação da água, aumentam a aderência do produto na superfície do alvo, reduzem a força de coesão, evitando a aglomeração de partí-
culas e removem a sujeira na superfície do alvo. Adjuvantes úteis: modificam a qualidade física da calda, ajudam na adesão do produto no alvo, aumentam a absorção e favorecem a entrada do produto, devido ao rompimento da cutícula. Já o ganho de aumento de cobertura na aplicação de um defensivo agrícola proporcionado pelos adjuvantes é dado por diferentes tipos de uso: Dispersantes: evitam a aglomeração das partículas por meio da redução das forças de coesão. Muito utilizados em conjunto com formulações de pó molhável, pois além de evitarem a aglomeração de partículas, evitam que ocorra precipitação dentro do tanque de armazenamento. Emulsificantes: reduzem a tensão interfacial entre os líquidos imiscíveis, formando a emulsão de um líquido em outro, aumentando significativamente a cobertura do produto pulverizado. Espalhantes: são os mais comuns, responsáveis por diminuir a tensão superficial de gotículas da calda, reduzindo o ângulo de contato da gota na superfície do alvo. Adjuvantes molhantes: responsáveis pela diminuição da evaporação da água na calda de aplicação, proporcionando assim que a gota permaneça por mais tempo na superfície do alvo, evitando a cristalização de moléculas do ingrediente ativo do defensivo agrícola. É muito utilizado quando as condições ambientais no momento de aplicação estão desfavoráveis, com baixa umidade relativa do ar
e alta temperatura. Aderentes: aumentam a aderência e diminuem o escorrimento da calda na superfície da folha, evitando que o produto seja lavado pela chuva ou irrigação, após a sua aplicação. Detergentes: ajudam na remoção da sujeira da superfície do alvo, aumentando a superfície de contato na folha.
Direto ao alvo Para o uso de adjuvante em pulverizações, deve-se levar em consideração alguns aspectos importantes, para que tenha eficácia na sua utilização, destacando o alvo de aplicação, sendo a espécie de planta e seu estágio fenológico; fatores ambientais no momento da aplicação; forma de aplicação; e alvo biológico, sendo a planta daninha, doença ou praga. O principal erro cometido é a má escolha do tipo de adjuvante, não levando em consideração a forma de aplicação, a planta, condições ambientais e o alvo biológico. Outro erro é a dosagem do adjuvante, pois ela interfere nas propriedades físico-químicas da calda, e a escolha errada pode ocasionar mudanças negativas no pH, espectro de gotas, tensão superficial e viscosidade da calda, diminuindo drasticamente a sua eficácia. A leitura do rótulo dos adjuvantes e do defensivo agrícola, bem como a qualidade dos produtos utilizados na aplicação são sempre necessários para o sucesso da aplicação.
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Ana Carolina Lyra Brumat Engenheira agrônoma, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal - Universidade Federal do Paraná (UPPR) anacarolinalb08@hotmail.com
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MICROVERDES TENDÊNCIA NA HORTICULTURA
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Os microverdes são definidos como hortaliças imaturas, colhidas quando os cotilédones e primeiras folhas verdadeiras estão totalmente expandidas, sendo consumida a sua parte aérea (logo acima das raízes), incluindo o caule.
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Rafael Rosa Rocha Mestrando em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) rafaelrochaagro@outlook.com
Mónica Paola Flores Ramírez Doutoranda em Nutrição e Alimentos Universidade do Chile (Santiago - Chile) monicalforesr@ug.uchile.cl Daiane Andréia Trento Mestre em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola – Unemat daiatrento@gmail.com
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Marla Silvia Diamante Doutora em Agronomia/Horticultura – UNESP marlasdiamante@gmail.com
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Santino Seabra Junior Doutor em Agronomia/Horticultura e professor – Unemat santinoseabra@hotmail.com
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ma nova tendência na horticultura são os microverdes, vegetais ultrajovens, superatrativos e coloridos, ricos em sabor e nutrientes, que estão em evidência na gastronomia e mercados no Brasil e no mundo. Além desses benefícios, os microgreens, como também são conhecidos, apresentam vantagens por terem um ciclo de cultivo muito curto. Podem ser cultivadas várias espécies herbáceas (alface), cereais (giras-
sol), condimentos (manjericão) e até flores (crisântemos), comercialmente ou até mesmo em casa, com luz natural ou artificial. Esta é uma nova classe de culturas especializadas, com características peculiares que as tornam um novo ingrediente para o mercado gourmet, utilizadas especialmente em saladas, sopas e sanduíches. Apesar do tamanho reduzido, essas hortaliças possuem grandes benefícios, são superatrativos, coloridos e ricos em sabor e nutrientes. Existem diferentes produtos de hortaliças jovens. Além dos microverdes, encontramos os brotos e as baby leafs. A diferença entre microverdes e os brotos é que este segundo são sementes germinadas ou parcialmente germinadas, consumidas com as raízes intactas. A densidade de sementes é alta em brotos e é cultivada em alta umidade, temperatura ideal e condições de pouca luz que aumentam as chances de crescimento microbiano. No entanto, nos microverdes as raízes não são consumidas, e diferentemente dos brotos, requerem luz solar para seu crescimento eficiente. A baby leaf, por sua vez, é um cultivo de hortaliças em um estádio mais tardio que o microverde, e são consumidas as suas folhas verdadeiras ainda jovens, porém, iniciando sua expansão, enquanto os microverdes são mais suculentos e
as folhas cotiledonares são bem proeminentes e seus caules suculentos tornam a iguaria muito palatável.
Mercado Algumas empresas se especializaram em ofertar sementes para a produção de microverdes e oferecem sementes de muitas espécies de hortaliças convencionais ou exóticas, cereais, condimentos e até flores, desde que suas plântulas sejam comestíveis. As espécies mais exploradas são as pertencentes às famílias Brassicaceae, Asteraceae, Chenopodiaceae, Lamiaceae, Apiaceae e Amaranthaceae. Dentre os microverdes mais populares no Brasil, encontramos: alface, agrião, beterraba, cebola, cenoura, couve, ervilha, girassol, mostarda, rabanetes, repolho, rúcula e salsa. Entretanto, existem muitas espécies potenciais, como acelga, aipo, alho-poró, almeirão, amaranto, beldroega, brócolis, cebolinha, cerefólio, chia, caruru, coentro, couve-chinesa, couve-rábano, crisântemos, endívia, endro, erva-doce, escarola, espinafre, funcho, hortelã, manjericão, melissa, mostarda, nabo e pak choi. Há uma variabilidade de cultivares que apresentam características de cores e tons de verde, vermelho e roxo, ou morfologias diferenciadas, como formato das folhas e texturas. Além dos sabores
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e aromas marcantes das diferentes espécies pertencentes ao gênero Ocimum (alfavacas, manjericões, atroveran, tulsi, entre outros), ou do frescor das espécies do gênero Mentha (hortelãs e menthas) ou ainda do picante das Brássicas (agriões, rúculas e rabanetes), possibilitando experiências gastronômicas únicas. A comercialização em forma de mix de espécies é também uma tendência do setor, existindo já alguns mix de espécies popularizados, como: salada básica: rúcula, brócolis, couve, couve-rábano, couve roxa, couve-flor; salada picante: rúcula, brócolis, couve, repolho roxo, mostarda; mistura asiática: repolho, pak choi, rabanete, rúcula; e mistura picante: rabanete, mostarda, rúcula.
Tabela 1. Quantidade de sementes, tempo de empilhamento das bandejas e número de dias para a colheita de diferentes espécies para produção de microverdes
Espécies Sementes (g)* Tempo de empilhamento (dias) Colheita (DAS) Acelga 56,7 4 a 7 10 a 14 Alho-poró 56,7 3 a 5 12 a 14 Amaranto 28,35 3 a 6 8 a 14 Beterraba 56,7 6 a 8 10 a 14 Brócolis 28,35 2 a 3 10 a 14 Chia 28,35 2 a 3 8 a 12 Coentro 56,7 6 a 7 21 a 28 Couve 28,35 2 a 4 8 a 14 Couve-rábano 20,00 2 a 4 8 a 14 Ervilhas 340,19 3 a 5 8 a 14 Folha de aipo 21,26 6 a 8 18 a 21 Funcho 28,35 3 a 5 mais de 14 Girassol 255 2 a 4 8 a 14 Manjericão 28,35 4 a 7 14 a 18 Mostarda 20,00 2 a 4 8 a 12 Repolho 28,35 2 a 4 8 a 12 Rúcula 20,00 1 a 3 8 a 14
Como produzir microverdes
Fonte. CropKing Incorporated® *quantidade de sementes (g) baseada em uma área de 0,13 m2
lo de segurança do uso do agrotóxico e o consumo do produto. As sementes orgânicas também são uma boa opção para uso na produção de microverdes, pois não recebem tratamentos com agrotóxicos.
Sementes Ter uma boa qualidade de sementes é fundamental, pois o custo mais alto para o produtor é referente às sementes. O produto final é vendido por peso
e muitas sementes são necessárias para produzir alguns gramas. É por isso que é recomendável que elas tenham uma alta porcentagem de germinação (>85%), sejam armazenadas em local fresco e seco para garantir sua qualidade, e uma prática importante é avaliar o tempo de germinação e colheita de cada espécie e cultivar para planejar os cultivos. A recomendação da densidade de semeadura é dependente das características das espécies, porcentagem de germi-
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Microverde de beterraba
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Antes de dar início à produção desse segmento, é preciso entender que o cultivo de microverdes é uma inovação, e ainda não possui muitas indicações técnicas. Estudos e tentativas são conduzidos para ver o que melhor se adapta. Mas, uma das questões principais é a escolha do local de produção, a limpeza e a manutenção do sistema de cultivo, sendo um processo constante. Isso é essencial para produzir qualquer alimento, ainda mais quando se produz objetivando o consumo in natura. O manuseio adequado durante cada etapa do processo de plantio, germinação e crescimento é essencial para a entrega do produto final. Os principais fatores de pré-colheita dos microverdes, como seleção de espécies, densidade de semeadura, fertilização, biofortificação, iluminação e estágio de crescimento na colheita são abordados com relação à fisiologia e qualidade da colheita, bem como manuseio e aplicações pós-colheita, temperatura, composição atmosférica, tecnologia de iluminação e embalagem que podem influenciar o prazo de validade e a segurança microbiana. As sementes utilizadas para a produção de microverdes devem ser livres de contaminações químicas, biológicas e baixa percentagem de matéria estranha, i.e., não devem ser tratadas com fungicidas ou outros produtos químicos e devem ser limpas, pois o tempo entre a germinação e o consumo é muito pequeno, e não se tem informações entre o interva-
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substratos. Há, também, a possibilidade de cultivo indoor com iluminação artificial.
Adubação A maioria das culturas exige pouco ou nenhum fertilizante, pois as sementes fornecem nutrição adequada para as culturas jovens. Algumas culturas microverdes de crescimento mais longo, como microcenouras, endro e aipo, podem se beneficiar da fertilização, i.e., adubos diluídos na água de irrigação. Espécies de crescimento rápido, como o agrião de mostarda e a acelga, também se beneficiam da fertilização, pois germinam rapidamente e esgotam rapidamente seu suprimento autônomo de nutrientes. A fertilização pode ser realizada também, colocando a bandeja preenchida de substrato por 30 segundos em uma solução nutritiva.
Sob controle Para o preparo da solução, existem alguns fatores que devem ser controlados para o completo e perfeito desenvolvimento das microverdes, aproveitando ao máximo a solução nutritiva. A temperatura da solução não deve ultrapassar os 30ºC, sendo que o ideal é a faixa de 18 a 24ºC em períodos quentes (verão), e 10 a 16ºC em períodos frios (inverno). Durante o processo de absorção de nutrientes as raízes das plantas vão alterando o pH da solução nutritiva, as plantas têm o seu desenvolvimento máximo entre pH 5,5 a
Microverde de coentro
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nação e tamanho das sementes. Os produtores utilizam semeadura mais adensada possível para maximizar a produção, porém, este superadensamento estimula caules alongados e aumenta o risco de doenças. Para bandejas de 25,4 cm de largura por 50,8 cm de comprimento (0,13 m2) a quantidade de sementes pode variar de 20 a 340 g, para rúcula e ervilha, respectivamente (Tabela 1) e o tempo para a colheita pode variar de oito a 28 dias após a semeadura (DAS). Os microverdes hidropônicos têm uma vantagem distinta sobre aqueles cultivados em bandejas de substratos ou misturas de solo, pois nenhum meio de crescimento granular precisa ser usado. A alta taxa de semeadura e a densidade dos microverdes significa que pequenas partículas de substrato podem acabar na folhagem e, como geralmente não são lavados após a colheita, isso representa um risco de que impurezas acabem no prato final. Por esse motivo, os microverdes hidropônicos são produzidos sobre tapete fino de fibra de coco, placas de espuma fenólica que mantêm a semente no lugar e retêm um pouco de umidade para germinação. Toalhas de papel, lençóis, cubos ou lençóis de lã de rocha, panos de cozinha finos e almofadas hidropônicas de microverdes podem ser usados para uma colheita limpa e de alta qualidade, com pouco custo. Porém, existem outros sistemas que são utilizados para a produção de microverdes, como o cultivo sobre
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6,5, e à medida que elas crescem, elas alteram esse pH da solução nutritiva. Por essa razão, diariamente, após completar o volume da solução com água, o pH da solução deve ser verificado. Já o cultivo indoor ou cultivo dentro de um ambiente fechado é um método, assim como o nome diz, de cultivo de plantas em ambientes fechados, com uso de iluminação artificial, usando lâmpadas, exigindo assim um investimento em equipamentos de iluminação, ventilação e exaustão, que lhe darão controle na hora de cultivar. Deste modo, em um cultivo indoor é possível induzir a planta, pelo fato de estar bastante controlado o tempo de exposição à luz.
Colheita e pós-colheita de microverdes O tempo de plantio à colheita diversifica de acordo com a espécie, variando entre sete e 28 dias. Os microverdes estão prontos para a colheita quando atingirem o verdadeiro status de primeira folha, geralmente quando tiverem 5,0 cm de altura. A colheita dessa produção geralmente é feita cortando o microverde (caule e folhas, deixando a raiz) de forma manual, usando um material de corte higienizado, levando em consideração que o corte não seja tão baixo que arrisque a contaminação com o meio de cultivo. Fato importante na colheita é a altura do corte, pois microverdes de qualidade precisam de uma porção boa e limpa do caule abaixo das folhas.
Microverde de girassol
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MICROVERDES SAUDÁVEIS E RENTÁVEIS
A Fazenda Urbana comercializa microverdes vivos em supermercados
Júlio César Ribeiro Engenheiro agrônomo, doutor em Ciência do Solo - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) jcragronomo@gmail.com Amanda Santana Chales Engenheira agrônoma, mestranda em Ciência do Solo - Universidade Federal de Lavras (UFLA) amandaachales@gmail.com
Carlos Antônio dos Santos Engenheiro agrônomo e doutorando em Produção Vegetal - UFRRJ carlosantoniods@ufrrj.br
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procura por uma alimentação saudável, considerando a preocupação com a saúde e o meio ambiente, tem impulsionado os consumidores a buscar alimentos produzidos com menor impacto ambiental e livres de agrotóxicos, preconizando a sustentabilidade. Nesse contexto, a produção de microverdes, também conhecidos como microgreens, vem ao encontro deste novo conceito de alimentação e saúde. Os microverdes são vegetais ultrajovens, entre
a baby leaf, e caracterizam-se como alimentos totalmente naturais. Por apresentarem tamanhos, texturas e cores variadas, despertam o interesse tanto de adultos quanto das crianças, público mais resistente em consumir verduras e legumes. Além de possuírem um aspecto atraente para a composição de pratos e drinks mais sofisticados, os microgreens têm sabor mais acentuado do que os similares maduros, agradando diversos paladares, principalmente os mais exigentes. Os microverdes possuem diversas vitaminas, lipídios, carboidratos e proteínas, proporcionando uma alta qualidade nutricional para quem os consome, além de apresentar um baixo teor calórico, o que tem sido buscado nas mais variadas dietas da atualidade. Estudos recentes têm apontado que algumas espécies de plantas, como por exemplo, a rúcula, aipo, manjericão e repolho roxo, cultivados e colhidos como microverdes, apresentam até 40 vezes mais valor nutricional que essas mesmas plantas em sua fase adulta. Essas características se dão em função das maiores
quantidades de bioativos como antioxidantes, vitaminas e minerais presentes na fase jovem desses vegetais. De modo geral, a produção dos microgreens é realizada de forma simples e sem muitas restrições, sendo o uso de defensivos agrícolas dispensados nesse tipo de cultivo, visto que as plantas são produzidas e consumidas em curto espaço de tempo. Os microgreens apresentam crescimento muito rápido, com ciclo variando de sete a 21 dias, a depender da espécie cultivada, proporcionando uma produção de alimento fresco e saudável.
Oferta e demanda
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Thomas Oberlin
A produção e consumo de microverdes é uma prática que vem sendo desenvolvida em algumas regiões do mundo, sendo os Países orientais China e Japão os pioneiros no cultivo e consumo. Na América do Norte, atualmente os Estados Unidos apresentam elevada produção e consumo desse alimento. Na América do Sul, o Brasil vem ganhando destaque na produção de mi43
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Thomas Oberlin
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crogreens. Apesar de ser considerada uma atividade nova no País, vem crescendo a cada ano, principalmente em decorrência do aumento no interesse do mercado consumidor por esse tipo de alimento nutritivo e saudável. Produtores que não possuem espaço adequado para um cultivo convencional de culturas em grande escala têm se interessado pelo cultivo de microverdes, assim como aqueles que querem diversificar sua produção, ou ainda aqueles que buscam um mercado crescente e com boas possibilidades de retorno rápido sobre o capital investido. O pequeno espaço necessário à produção, aliado ao ciclo curto e ao alto valor agregado do produto, possibilitam maior rentabilidade por área. Segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), existem ótimas oportunidades a nível nacional para pequenos negócios que queiram investir na produção e oferta de alimentos saudáveis e diferenciados, visto que apenas 6% dos micro e pequenos empreendimentos apostam nesse segmento, reforçando a oportunidade de investimento nesse novo nicho de mercado. A região sudeste é uma das principais produtoras de microverdes do País, destacando-se os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Por serem considerados alimentos gourmets, os microgreens são muito requeridos pelas principais redes de supermercados e restaurantes desses Estados. Os produtores, principalmente
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desta região, estão desenvolvendo tecnologias de agricultura adaptada para pequenos espaços, visando à produção desse alimento o mais próximo possível dos centros consumidores, que são as regiões metropolitanas. Reduz-se, assim, a perecibilidade do produto, custos com transporte, além de poder fornecer o produto fresco ao consumidor. No entanto, os microgreens podem ser produzidos em qualquer região, desde que as condições ambientais favoreçam o seu desenvolvimento.
Lucratividade Ambientes de cultivo mais tecnificados que possibilitem maior uniformidade e qualidade na produção, apesar de apresentarem maior custo de implantação, podem gerar um excelente retorno financeiro em curto prazo. Como por exemplo, a aquisição e adaptação de um contêiner de 20 pés (seis metros) apresenta custo aproximado de R$ 80.000,00, tendo capacidade produtiva de 20.000 bandejas de microverdes por mês, com peso entre 40 e 60 g cada, e um preço médio de venda de R$ 12,00 a bandeja, gerando uma renda bruta de aproximadamente R$ 240.000,00 por mês. Gastos, como aquisição de sementes, substratos, recipientes (bandejas) e energia elétrica, assim como mão de obra, encargos trabalhistas e demais impostos devem ser computados. No entanto, com um mercado consumidor bem estabelecido, que absorva toda a produção, a atividade é uma boa opção de investimento, com uma excelente relação custo-benefício. De modo geral, a produção de microverdes deve ser sempre pautada no planejamento da atividade, desde a análise de mercado, escolha das espécies, obtenção de sementes isentas de pesticidas e com elevada qualidade, assim como o conhecimento técnico das exigências de cultivo, visando sempre um satisfatório e rápido retorno financeiro ao produtor. Vale ainda destacar que, por ser um tipo de cultivo totalmente diferente, exige que o produtor esteja receptivo a aprender, se atualizar e experimentar o novo, o que certamente proporcionará sucesso na atividade.
QUANDO A TEORIA ENTRA NA PRÁTICA
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Fazenda Urbana foi fundada em 2016, a primeira empresa de agricultura em Ambiente Controlado (CEA) operando comercialmente na América do Sul. Sob marca registrada MightyGreens, a empresa está localizada no Rio de Janeiro (RJ) e tem, atualmente, 16 m² (áreas de germinação e cultivo). “Somos, provavelmente, a fazenda com maior eficiência em terra e água do Brasil. Com as tecnologias de cultivo desenvolvidas por nós, usamos até 99,7% menos água que uma fazenda tradicional (eliminamos, literalmente, 100% de nosso sistema hidráulico dentro da área de cultivo) e basicamente 100% menos água na unidade de produção de cogumelos (usamos exclusivamente água retirada da condensação do ar condicionado, que é depois filtrada e reutilizada na produção)”, relatam Thomas Oberlin e Rodrigo Meyer, dois dos cofundadores da empresa. Atualmente, são produzidas até 6.000 caixas/unidades de microverdes por mês nos 8,0 m² de produção. Com as novas tecnologias e processos desenvolvidos, a Fazenda Urbana espera chegar a cerca
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Rentabilidade Usando seu sistema e processo, a empresa gera até R$ 500.000 mensais em um ambiente de produção de 30 m2, com outros 30 m2 para preparo de substrato, semeadura e germinação. “Não conhecemos nenhuma fazenda que tenha esse tipo de rentabilidade por metro quadrado”, pontuam os proprietários. A Fazenda Urbana vende microverdes sob a marca registrada MightyGreens, produzidos em seu sistema de agricultura em ambiente controlado desde junho de 2017. A empresa investiu cerca de R$ 2 milhões em pesquisa e desenvolvimento, testando e desenvolvendo vários substratos, plantas, lâmpadas, automação, sistemas de cultivo e germinação. A Fazenda Urbana vende microverdes vivos em supermercados e até desenvolveu sua própria embalagem para manter uma vida útil prolongada. Quanto ao retorno, Thomas Oberlin e Rodrigo Meyer dizem que depen-
de muito do tamanho do mercado, sistemas e tecnologias escolhidas, além do nível de conhecimento em ambientes controlados.
Variedades plantadas indoor Na Fazenda Urbana, foi testado o cultivo de mais de 30 tipos de plantas (e cerca de oito variedades de cogumelos). “Começamos a vender para restaurantes, mas hoje nos concentramos em supermercados. Nosso portfólio de produtos para supermercados inclui: rúcula, rabanete, mostarda, alho-poró, couve-manteiga, coentro, brócolis e repolho roxo. Outras plantas estão disponíveis com compromisso para volumes mínimos”, contam os produtores. O ciclo de produção normal é de sete dias, mas algumas plantas demoram 10 dias, tudo graças ao sistema e metodologia adotado. “Produzimos o ano inteiro, usando um sistema de agricultura em ambiente controlado. Com cada unidade de produção (estante/sistema), temos cerca de 104 colheitas por ano. Nunca temos sazonalidade. Desenvolvemos nos-
sos próprios protocolos, equipamentos e ferramentas para plantio e germinação, bem como um sistema de cultivo totalmente automático”, revelam Thomas Oberlin e Rodrigo Meyer.
De onde vem o sucesso Ao serem questionados sobre a receita de seu sucesso, os sócios são unânimes: “Usando nosso sistema e tecnologia, claro! Um grande problema com os microverdes é a vida útil. Depois de cortados, eles se tornam "suco verde" em cerca de 4-5 dias. Nossos MightyGreens são cultivados usando apenas água filtrada, e disponibilizados ainda vivos, plantados em um substrato biodegradável (sem terra) e com prazo de validade de 10 a 14 dias na loja. Isso é um grande negócio, e uma grande diferença”, detalham os empresários. Além disso, mais uma das razões para comer microverdes é o seu alto valor nutricional. Microverdes cortados começam a se deteriorar e a perder esse benefício rapidamente, e quando chegam à mesa do consumidor, boa parte do seu valor nutricional já foi perdido. As plantas da
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de 1.300 unidades/m² por mês.
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Arquivo pessoal
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Thomas Oberlin e Rodrigo Meyer, cofundadores da Fazenda Urbana
Fazenda Urbana são vendidas in natura, vivas. Assim, o consumidor obtém todos os benefícios de seu valor nutricional. “Além disso, nunca usamos solo. Portanto, nossas plantas estão prontas para serem consumidas”, acrescentam.
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Dicas importantes
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Um dos fatores mais importantes: limpeza do sistema e ambiente. Na produção de alimentos, hoje, mais do que nunca, a limpeza é fundamental para manter a segurança e a confiança do cliente. Na Fazenda Urbana, sempre começa com uma limpeza completa do sistema e das ferramentas. Preparação de sementes: como os MightyGreens são vendidos vivos e prontos para consumo, são usadas apenas sementes sem defensivos ou modificação genética, normalmente adquiridas da ISLA. Como as sementes não têm defensivos, foram desenvolvidos vários métodos de limpeza de patógenos nas sementes, sem deixar resíduos nocivos. De fato, hoje a empresa adota métodos de tratamento úmido e seco. E esses métodos não têm impacto negativo nas taxas de germinação. Preparo do substrato: após muitos testes, decidimos usar mantas de fibra de coco como substrato de cultivo. A Fazenda Urbana trabalhou em colaboração com a Coquim para desenvolver uma manta com a densidade certa para produzir consistentemente em seu sistema. Mas, essa manta, depois de recebida, precisa ser cortada e esterilizada antes da
semeadura. Ambos os processos podem ser trabalhosos e demorados. Foram desenvolvidos equipamentos para ajudar a acelerar os dois. O plantio também é um processo muito trabalhoso, e os empresários testaram todos os tipos de abordagens. Em seguida, desenvolveram uma máquina de semeadura que reduz os custos de mão de obra em mais de 80%. Germinação: a germinação é o ponto de maior risco no processo de cultivo. A Fazenda Urbana desenvolveu um sistema de germinação que resultou em altas e consistentes taxas de germinação, mesmo com uma densidade de sementes muito alta. Nos últimos três anos, identificou o melhor tamanho de gotículas de água, a melhor frequência e intensidade de umidificação para cada cultivo (elas não são todas iguais), a melhor temperatura e o melhor tempo. Ao criar um ambiente de germinação separado e ajustar para cada tipo de planta, otimizou seus resultados. Transplante: como mencionado, a Fazenda Urbana tem um ambiente para germinação e outro para cultivo, este sob luz. Então, migrou as plantas de um para o outro em cada etapa do processo. Depois da migração, baseado em muitos testes, Thomas e Rodrigo descobriram que um período de aclimatação antes de acender as luzes é importante para dar tempo para os microverdes recém-germinados se adaptarem ao novo clima. Cultivo em câmara totalmente automatizada e com controle climático, sob luzes: é utilizada iluminação artificial durante os três dias finais de culti-
vo. Desde 2017, foi testada uma grande variedade de luzes, de fluorescente a vários LEDs, importadas e nacionais. Thomas e Rodrigo também construíram seus próprios LEDs em 2017, mas viram que construir LEDs seria um outro negócio e acabaram abandonando o projeto. “Quando começamos, as luzes de LED para o cultivo de plantas custavam quase R$ 4.000 por unidade. Hoje, os preços caíram ao ponto em que vale a pena considerá-las. Ao trabalhar com LEDs, a mistura de comprimentos de onda e diferentes espectros pode ter um grande impacto de altura, cor, sabor e até densidade nutricional. O que funciona melhor para alface adulta não é necessariamente bom para os microverdes. Além disso, é necessário conhecer o PPFD das luzes que você está usando para garantir que esteja recebendo a quantidade adequada de fótons nos espectros apropriados em toda a superfície crescente. Mas você tem que fazer seu próprio cálculo. As luzes fluorescentes são igualmente eficazes em microverdes em crescimento (três dias), e ainda têm um custo de capital substancialmente mais baixo, mas uma maior produção de calor. Portanto, você deve avaliar a diferença no total de energia gasta versus o investimento adicional para decidir qual é o melhor para o seu negócio (depende de volume do espaço, equipamento de refrigeração escolhido, proteção térmica das paredes, etc.)”, expõem Thomas e Rodrigo. Depois de instalar suas luzes, você deve descobrir qual é o fotoperíodo ideal para suas plantas, a melhor temperatura e umidade. E se você estiver usando um sistema com automação de água, qual é a frequência e a duração ideais de cada ciclo da água. Qual é a temperatura adequada da água? O melhor PH e CE? Depois que aprenderam essas coisas, Thomas e Rodrigo criaram seu próprio sistema de controle de automação para fornecer essas características a cada período de cultivo. “Chamamos esse conjunto de configurações (água, temperatura, umidade, luz, qualidade do ar) de receitas de crescimento. Temos algumas receitas, baseadas em grupos de plantas com características parecidas (descobrimos após centenas de testes) e outras receitas que mudam características, como cor, sabor e textura das plantas, dependendo da demanda local, usando única e exclusivamente a combinação destas
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configurações”, lembram. Finalmente, colhem, inspecionam e embalam os produtos para venda. “No nosso caso, isso é feito em uma sala limpa, usando os protocolos adequados de EPI e limpeza. Além de vender in natura e pronto para o consumo, inspecionamos o produto quanto à existência de doenças nas plantas e confirmamos que em cada unidade há a densidade e a altura padrão da MightyGreens. Também inspecionamos para garantir que as raízes estejam saudáveis, pois essas plantas devem continuar a viver por 10 a 14 dias, no mínimo, antes do consumo. Para garantir o máximo de tempo de prateleira, investimos mais de um ano trabalhando com a Plastilab para produzir nossas embalagens proprietárias especificamente para os microverdes MightyGreens.
PRODUÇÃO SOB CONTROLE
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aulo Bressiani é proprietário da Fazenda Cubo, localizada em São Paulo (SP), com área produzida de 60 m2. “Vendemos o mix de microgreens a R$ 10,00/30 g. As opções são couve, beterraba, rabanete, mostarda, repolho roxo e coentro, uma produção que acontece o ano todo, devido ao ambiente ser controlado, com irrigação automatizada por inundação, ventilação forçada e iluminação por LED”, relata. Para o produtor, o sucesso neste empreendimento depende de usar semente de qualidade, substrato limpo e ter um espaço protegido, com bastante ventilação.
Manejo Paulo utiliza bandejas de 20 x 50 cm, com cerca de 5,0 cm de profundidade apenas e com furos no fundo. Para a semeadura, ele espalha uma fina camada de fibra de coco pela bandeja e, em seguida, coloca as sementes ali. “Algumas sementes devem ficar de molho cerca de seis horas antes da semeadura, mas o ideal é verificar com
o seu fornecedor. Após a semeadura, as bandejas ficam empilhadas por cerca de dois dias, até a germinação, e em seguida são colocadas em prateleiras com iluminação LED para o crescimento final, que varia de quatro a 10 dias, dependendo da espécie. O rabanete, por exemplo, é a cultura mais rápida que cultivamos e a beterraba a mais lenta. Fazemos a rega por inundação para molhar o substrato sem molhar a parte aérea”, justifica.
Desafios Os problemas mais comuns nesta produção são fungos do tipo mofo branco e dumping off. O segredo para prevenir a ocorrência deles é usar sementes de qualidade, regular bem o manejo da irrigação, sem excesso, e ter uma boa ventilação, segundo o produtor. “Outro ponto importante é a ventilação, um aspecto essencial para este tipo de cultivo, devido ao seu alto adensamento. Ainda, consideramos imprescindível o uso de sementes sem tratamento químico para produção de microgreens”, finaliza Paulo.
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A Fazenda Urbana trabalha em um ambiente controlado e fechado. Portanto, não tem problemas com pragas. Limpeza constante e completa, preparação adequada das sementes, água altamente filtrada e ambientes de germinação e produção controlados ajudam a reduzir substancialmente o risco de doenças da planta. Thomas Oberlin e Rodrigo recomendam que, quem está começando agora, comece pequeno. “Jamais invista ou inicie sua produção em um galpão, ou espaços muito grandes. Lembre sempre da sua sustentabilidade e dos gastos de energia, manutenção e limpeza do local, além da ergonomia. A não ser que você seja muito grande, evite ao máximo utilizar equipamentos como plataformas elevadiças, que são caras de comprar, de manter e limpar, e geralmente são elementos propagadores de fungos e doenças, além de serem muito lentas e diminuírem sua produtividade”. E se você é um grande produtor ou distribuidor, e está pensando em adicionar microverdes (e cogumelos e outros produtos) de alto valor à sua linha de produtos, eles indicam trabalhar em parceria com a Fazenda Urbana. “Temos o know how, os sistemas e metodologias, e o conhecimento da marca que, em conjunto, podem ajudá-lo a aumentar sua receita e lucratividade”, concluem os empresários.
Arquivo pessoal
Pragas e doenças
Paulo Bressiani, proprietário da Fazenda Cubo
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PIMENTÃO
Arrigoni
CULTIVO PROTEGIDO GARANTIA DE MAIS PRODUTIVIDADE AO PIMENTÃO Júlio César Ribeiro Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Ciência do Solo Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) jcragronomo@gmail.com
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Amanda Santana Chales Engenheira agrônoma e mestranda em Ciência do Solo - Universidade Federal de Lavras (UFLA) amandaachales@gmail.com Cyndi dos Santos Ferreira Graduanda em Agronomia - UFRRJ cyndiferreira@hotmail.com
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pimentão (Capsicum annuum L.) possui grande importância no mercado brasileiro, destacando-se por sua boa adaptação ao clima tropical, sendo, no entanto, sensível a baixas temperaturas e geadas. O seu cultivo requer, ainda, fertilidade, umidade e luminosidade apropriados para um adequado desenvolvimento das plantas e conse-
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quentemente, obtenção de frutos com qualidade. Com isso, o uso de estufas para produção de pimentão vem se tornando uma alternativa altamente atrativa, apresentando grande vantagem, por possibilitar o cultivo durante o ano todo, principalmente em épocas de entressafra, quando a oferta do produto é menor e os preços são melhores.
Benefícios O cultivo em ambientes protegidos proporciona diversos benefícios ao pimentão, desde que seja conduzido de forma adequada. O maior controle das condições ambientais, como temperatura, umidade e radiação solar influenciam positivamente o cultivo, com maior estabilidade da produção, proporcionando maior ampliação do período de colheita, proteção contra ventos e chuvas, e redução da incidência de pragas e doenças, o que vem impulsionando o cul-
tivo de pimentão em ambientes protegidos, visto a melhoria na qualidade do produto final.
Como implantar a técnica É fundamental, antes da construção da estufa, realizar um planejamento e detalhamento de toda a produção, desde a escolha da cultivar de pimentão até a colheita e comercialização do produto. Outro aspecto importante a ser estabelecido é a escolha do local onde a estufa será construída, devendo-se optar por locais sem encharcamento e ventos fortes, posicionamento em relação ao caminhamento do sol, disposição de água de qualidade para a irrigação, dentre outros fatores que influenciarão no desempenho produtivo da cultura. O modelo da estufa a ser implantada e o material utilizado em sua construção, como o tipo de estrutura, de plástico e de telado também são aspectos que devem ser cuidadosamente avaliados, ten-
Do plantio à colheita A produção de pimentão em ambiente protegido requer alguns cuidados, desde a implantação até o momento de colheita. A escolha de sementes com alto vigor é fundamental para o desenvolvimento e uniformidade da produção. Outro fator essencial à produção é o espaçamento a ser adotado, visto que a densidade de plantio tem grande influência na produtividade, associando-se a maior competição por água e nutrientes. Antes da implantação da cultura é fundamental a realização da análise de solo, uma vez que a fertilidade possui papel essencial no desempenho das plan-
tas de pimentão, sendo importante o preparo adequado do solo, efetuando sua correção e adubação em doses apropriadas, se necessário. Outra prática importante a ser considerada na produção de pimentão em estufas é a irrigação, visto que a cultura possui grande exigência em água durante todo seu ciclo, principalmente durante o período de floração e frutificação, no entanto, não tolera encharcamento, o que pode causar doenças nas plantas, sendo importante evitar solos com baixa drenagem. O fornecimento de nutrientes em quantidades adequadas às plantas de pimentão cultivadas em estufas pode ser realizado por meio da técnica de fertirrigação, possibilitando um desenvolvimento e produtividade satisfatórios. No entanto, é necessário que seja realizado de acordo com os resultados verificados na análise de solo e das plantas (tecido vegetal), de modo que as exigências nutricionais sejam supridas
de forma eficiente. O controle de plantas invasoras também tem grande importância durante o cultivo, pois pode ocasionar redução no desenvolvimento da cultura de pimentão e, consequentemente, menor produtividade. Sendo assim, é necessário evitar a competição com as plantas indesejáveis principalmente até 60 dias após o plantio. Durante o cultivo, o tutoramento e condução das plantas de pimentão são essenciais, de modo a garantir que as folhas e frutos não fiquem em contato com o solo, evitando o aparecimento de doenças.
Relação com a produtividade O cultivo de pimentão em estufas proporciona uma melhor produtividade e qualidade dos frutos, além da possibilidade de produção o ano todo, favorecendo o fornecimento do produto em épocas em que a produção a campo não
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do em vista que para o pleno desenvolvimento da cultura essas escolhas são importantes. Outros cuidados essenciais a serem tomados, ainda durante a construção, estão relacionados à ventilação do ambiente de cultivo, o que é fundamental para o desenvolvimento das plantas. Para isso, deve-se atentar à dimensão ideal do pé direto de acordo com a região do País, em decorrência das temperaturas mais amenas ou mais elevadas, evitando aquecimento excessivo da estufa. Da mesma forma, de acordo com a região do País, a maior ou menor presença de luminosidade indicará quais os melhores materiais (plásticos e telas de sombreamento) a serem utilizados no revestimento das estufas, visto que a luminosidade influencia diretamente no desenvolvimento das plantas de pimentão.
Shutterstock
PIMENTÃO
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seria possível. De modo geral, a produtividade das plantas de pimentão cultivadas em ambientes protegidos pode chegar a 170 toneladas por hectare, sendo possível ter uma produção de aproximadamente 200 caixas por mês. Em algumas regiões do Brasil, a produtividade média de pimentão cultivado em campo aberto varia entre 35 e 40 toneladas por hectare, enquanto em ambientes protegidos a produtividade pode até quadruplicar, sendo evidente o retorno que o cultivo em estufa pode proporcionar ao agricultor. Contudo, alguns cuidados durante o cultivo de pimentão em ambientes protegidos devem ser tomados a fim de evitar possíveis problemas. Atenção especial deve ser dada para a temperatura e umidade relativa do ar na estufa durante o ciclo de cultivo de pimentão, visto que essas condições podem favorecer a incidência de doenças como, por exemplo, a murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum). Temperaturas ideais ao cultivo não devem exceder 27°C, principalmente durante o florescimento das plantas de pimentão, e a umidade relativa do ar deve permanecer entre 50 e 70%. Em regiões com temperaturas elevadas, a escolha do local para a construção da estufa é um fator relevante, devendo-se efetuar a instalação em locais bem ventilados, ou ainda optar pela instalação de ventiladores apropriados, prática que ajuda a minimizar o risco de superaquecimento do ambiente de cultivo.
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Cuidado!
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A utilização de fertilizantes de forma inapropriada pode causar problemas de fertilidade do solo a médio e longo prazos, como por exemplo, a salinização, gerando desequilíbrios de nutrientes e incapacidade de produção. Para evitar esse problema, é essencial que seja efetuada a análise de solo previamente à adubação, podendo, a partir dos resultados, realizar o fornecimento de nutrientes de forma adequada, de acordo com a necessidade da cultura. O possível desequilíbrio nutricional das plantas de pimentão pode ainda ser suprido por adubações foliares realizadas a partir de resultados de análise do tecido vegetal.
Agrocultivo
PIMENTÃO
Outro cuidado importante no cultivo de pimentão em estufas está relacionado à irrigação, devendo a mesma ser realizada com água isenta de contaminantes e em quantidades adequadas, especialmente durante o período de floração das plantas, apesar da cultura possuir necessidade de água durante todo seu ciclo. O déficit ou excesso de água na fase de floração pode causar abortamento
das flores e frutos, ocasionando acentuada redução na produção. O espaçamento de plantio e o tutoramento das plantas são cuidados a serem tomados no cultivo de pimentões, sendo recomendado o espaçamento de 25 a 45 cm entre plantas, e o tutoramento das plantas com fitilhos plásticos, de forma a evitar o contato dos frutos com o solo, minimizando danos ao produto.
Investimento x retorno O investimento inicial no cultivo do pimentão em estufas é muito variável, estando diretamente relacionado à região e tecnologia empregadas na estrutura. Estruturas de cultivo mais simples apresentam custo por metro quadrado bem menor quando comparadas às estruturas automatizadas, que podem custar milhares de reais. Entretanto, a maior facilidade no manejo da cultura proporcionado pelo ambiente protegido (seja ele mais simples ou abarcado de maior tecnologia), associado a uma produção padroniza-
da em menores áreas, e a possibilidade de cultivo durante o ano todo, permitem um produto com melhor valor, e o retorno do investimento em pequeno e médio prazos. Contudo, é fundamental o planejamento e acompanhamento por profissionais qualificados, desde a escolha do local para a construção da estrutura, plantio, manejo, colheita e comercialização da produção, levando sempre em conta os recursos financeiros disponíveis para que se tenha sucesso na atividade.
MELANCIA
SILÍCIO MELHORA FIRMEZA DA MELANCIA Fotos Shutterstock
e qualidade do produto vegetal e maior produtividade, aumento da resistência à seca, pragas e doenças. Os efeitos benéficos do Si para as plantas são devido a mecanismos físicos e bioquímicos em diferentes rotas metabólicas.
Gabriela Araújo Martins gabrielaaraujo506@gmail.com Graduandas em Agronomia - IF Goiano – Campus Morrinhos
Mais firmeza para a melancia
Ana Paula Gonçalves Ferreira ganapaula61@gmail.com
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melancia é uma hortaliça do tipo fruto, amplamente apreciada e cultivada no território brasileiro. Para atender a grande demanda do fruto, existem inúmeras variedades e híbridos adaptados às mais diversas condições de produção do País. No entanto, uma das maiores dificuldades encontradas para uma melhor qualidade no produto final se dá na suculência e consistência do fruto. Dessa forma, o silício (Si) tem se apresentado como grande aliado para o manejo nutricional da cultura, uma vez que possui a capacidade de reduzir as perdas pós-colheita e melhorar a firmeza do fruto. O manejo com o Si na nutrição mineral das plantas proporciona diversos benefícios, a saber: melhor crescimento
A melancia apresenta elevada importância no mercado de fruta in natura no Brasil, fato este reforçado por seu valor nutricional e sabor doce e refrescante. Um dos grandes desafios para seu cultivo em nosso País é encontrar soluções que sejam capazes de reduzir danos econômicos na produtividade causados por insetos-pragas e microrganismos e aumentar a vida de prateleira. Neste cenário, os elementos minerais, com destaque para o Si, vêm sendo utilizados por muitos produtores para obtenção de frutos de melhor qualidade e maior vida de prateleira. O Si desempenha um papel importante na rigidez estrutural das paredes celulares. De maneira geral, as formas de Si no solo não são facilmente assimiladas pelas plantas e apenas uma pequena proporção é absorvida na forma de ácido monosilícico. Este polimeriza quando desidrata e se concentra nas células da epiderme como silício amorfo.
Algumas pesquisas demonstram que o uso do silício propicia a formação de uma dupla camada na parede celular de folhas, colmos e casca, estabelecendo uma condição de melhor consistência e firmeza do fruto, que adicionalmente se torna uma eficiente barreira para prevenir o ataque de pragas e microrganismos causadores de doenças.
Absorção O Si é absorvido pelas plantas como ácido monossilícico, transformado em formas amorfas de Si que se ligam à pectina e ao cálcio, e concentrado depositado após a evaporação da água na epiderme fina. A maior parte do silício permanece no apoplasto, principalmente nas paredes externas das células epidérmicas dos dois lados das folhas. Dessa maneira, o silício fortalece a epiderme (cutícula), que atua como uma barreira. Além disso, sua aplicação proporciona melhoria na estrutura das plantas, favorecendo a fotossíntese e aumentando ainda a resistência às mudanças de temperatura e déficit hídrico. Estas vantagens advêm do acúmulo da dupla camada de sílica na cutícula de folhas, caules e frutos e da produção de lignina e compostos fenólicos que estão envolvidos na resistência de plantas.
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Rodrigo Vieira da Silva Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor do IF Goiano – Campus Morrinhos rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
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MELANCIA
Nutrição com o silício Geralmente, a aplicação do Si na forma de silicatos no solo tem proporcionado os melhores resultados. O manejo da aplicação com silicatos não encontra dificuldades, pois é similar a outros métodos empregados na lavoura pelo produtor rural durante a nutrição das plantas. Portanto, não há restrições ou dificuldades em sua utilização na área de cultivo. Uma das estratégias para facilitar seu emprego é aplicar junto com os fertilizantes ou corretivos de solo, de modo a maximizar as práticas agrícolas e reduzir custos.
Como implantar a técnica
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O silício pode ser aplicado em sua forma sólida (pó ou granulado) no solo, ou em forma líquida, via solo ou foliar. É indicada a incorporação em área total quando aplicados os silicatos em pó. Em oposição, os silicatos granulados são empregados nas linhas de plantio e geralmente podem ser aplicados junto a outros fertilizantes, como por exemplo a formulação NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). Pesquisas afirmam obter resultados favoráveis quando utilizadas doses de silicato de cálcio entre 1,5 a 2,0 t ha-1 aplicados a lanço. Neste caso, é recomendado, para solos que tiverem sua acidez corrigida, não exceder 800 kg ha-1 da dose. Em contrapartida, há estudos que sugerem os silicatos granulados em doses entre 0,5 a 0,8 t ha-1 inseridos na linha de plantio. Também pode ser re-
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alizada a aplicação por pulverização mecânica, recomendando-se aplicação parcelada a cada 30 dias utilizando o silicato de potássio nas doses entre 1,0 a 8,0 L ha-1. Em síntese, o produtor deve ter algumas precauções no momento da aplicação, de modo a obter um melhor rendimento do silício. Dessa maneira, recomenda-se realizar uma aplicação do silicato de 30 a 60 dias antes do plantio. Para isso, é preciso se atentar à solubilidade da fonte de Si e também das condições do solo para receber o produto, tais como: umidade de solo adequada e capacidade de campo variando entre 60 a 80%.
Produtividade O silício aumenta a produtividade da melancia porque disponibiliza uma melhor interação entre planta-ambiente, permitindo que a planta resista às condições de estresse do ambiente, além das pragas e doenças. Vale ressaltar o benefício da pre-
sença do silício na parede celular, que impede a perda excessiva de água pelo fruto, deixando-o mais tenro e vigoroso, por tornar a planta mais resistente a pragas e doenças, diminuindo os custos do produtor com defensivos químicos sintéticos, que são caros e geralmente muito tóxicos. A deficiência de Si na planta pode acarretar em inflorescência anormal, levando à produção de frutos deformados e diminuindo a lucratividade final. Estudos informam que a barreira mecânica fornecida por este elemento deixa o fruto mais resistente ao transporte, aumentando também a sua conservação pós-colheita, ou seja, aumenta a sua vida de prateleira. Portanto, o emprego do Si é benéfico, pois aumenta o desenvolvimento qualitativo e produtivo da cultura e fornece uma agricultura rentável, sustentável e ambientalmente correta. Pesquisas realizadas demonstraram que a adição do Si no cultivo da melancia aumentou em até 20% a produtividade e cerca de 30% a espessura da parede do fruto.
MELANCIA
Em campo
Erros frequentes O manejo de aplicação do Si nas áreas de cultivo de melancia não apresenta dificuldades, uma vez que o mesmo apresenta similaridades a outros métodos de nutrição de plantas.
No entanto, o produtor deve estar atento às fontes de Si disponíveis para uso na agricultura. Dessa forma, o mineral escolhido deve apresentar facilidade de aplicação, estar prontamente disponível às plantas, ter boa relação entre cálcio e magnésio, além de baixo custo ao produtor. Um erro frequente por parte dos produtores é a aplicação do produto não recomendado e em condições ambientais inapropriadas, de modo que se faz importante procurar as orientações de um agrônomo especialista em nutrição com bons conhecimentos na fertilização com o Si.
Custo-benefício Indiscutivelmente, a aplicação de Si melhora a qualidade do produto final a ser comercializado nos cultivos de melancia. Sua acumulação nas folhas faz com que se tenha a formação de uma dupla camada de sílica e, por conseguinte, ocasiona a diminuição da abertura estomática. Essa alteração fisiológica, além de causar maior resistência ao ataque de patógenos, faz com que a transpiração da planta seja reduzida. Dessa forma, a aplicação de Si no ci-
clo da cultura faz com que haja a diminuição do uso de agroquímicos, o que reduziria os custos de produção da cultura. Além disso, o nutriente considerado apenas como benéfico tem a capacidade de aumentar o pH do solo, diminuir o alumínio tóxico, aumentar o teor e saturação de bases, otimizando, desta forma, as operações de preparo do solo.
Tendências A sustentabilidade futura da agricultura tropical envolve manter a rentabilidade da propriedade rural, considerando o aumento dos custos de materiais, levando em consideração as questões ambientais e as formas de produção mais seguras e saudáveis. Na agricultura moderna, o desenvolvimento de tecnologias menos agressivas ao homem e ao meio ambiente são bem-vindas. A utilização do silício na nutrição mineral da melancia se apresenta como uma excelente opção, de baixo custo e sem impacto ambiental.
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Resultados positivos da adição do Si no solo beneficiando diversas culturas agronômicas ocorrem em várias partes do mundo, fato este que fez aumentar o interesse agronômico neste mineral. Um importante exemplo de sucesso do uso do Si é no manejo da principal doença da cultura, causada pelo fungo Didymella bryoniae, o qual induz sintomas no fruto como cancro no caule, queima-das-folhas e apodrecimento de frutos, sendo responsável por causar sérios prejuízos. Devido à importância econômica do crestamento na melancia, pesquisadores resolveram utilizar o silício em seu manejo e controle. A adição de Si ao solo no cultivo da melancia, em pesquisa realizada na Europa, reduziu a severidade do crestamento gomoso, além de aumentar a produtividade. A formulação em pó na dose de 2.000 kg por hectare proporcionou os melhores resultados. Também foi evidenciado o efeito positivo do Si na qualidade de frutos da melancia, como aumento da concentração de sólidos solúveis (açúcares), maior firmeza da polpa e espessura da casca. Observou-se que a adição do Si proporcionou um aumento acima de 10% na espessura da parede celular da planta, o que a torna mais resistente ao ataque de fungos e insetos-pragas e aumenta o tempo de conservação pós-colheita. Corrobora com este resultado o fato de diversos experimentos demonstrarem que o Si, quando aplicado tanto via solo como foliar, em sua forma de pó ou granulado, reduziu a severidade da doença e levou ao aumento da produtividade. Além disso, devido à melhor estruturação e resistência da parede celular, o uso do silício na cultura da melancia impede ainda o ataque de outros patógenos, como os nematoides e bactérias, que têm a capacidade de causar danos à cultura.
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PÓS-COLHEITA
Ana Maria Diniz
EMBALAGENS DE PAPELÃO MAIOR HIGIENE PARA HORTALIÇAS E FRUTAS
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Bárbara Teruel Doutora e professora - Faculdade de Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) barbara.teruel@feagri.unicamp.br
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rutas e hortaliças frescas são produtos vivos que, além de respirar, contêm elevado conteúdo de água, o que os torna frágeis. Logo após as operações de colheita e beneficiamento, o acondicionamento em embalagens é a operação seguinte. Ela deve conter o produto protegendo-o de cortes, rachaduras e amassamentos durante as operações de armazenamento, transporte e comercialização. Uma boa embalagem de papel ondulado deve ter dimensões paletizáveis; resistência estrutural para suportar os esforços de compressão na paletização, sem que afete o produto; facilitar o processo de resfriamento, com aberturas suficientes e bem posicionadas, além de ser ergonomicamente adequada para a ma-
nipulação. Quando não há um projeto adequado da embalagem, ela se torna responsável por até 30% do total de perdas de hortifrutícolas, que chega a ser de 50% no Brasil.
Opções Há uma diversidade de opções de embalagens para produtos hortifrutícolas, com dimensões e formatos diferentes. Não há obrigatoriedade de utilização de uma embalagem específica para esses produtos. Uma embalagem, para que seja adequada e atenda as funções de contenção e proteção, deve seguir os critérios: geométricos (dimensões paletizáveis e, de preferência, com no máximo duas camadas de produto); estruturais (espessura do papelão de acordo com fatores de empilhamento, umidade do ar, tempo de armazenamento); térmicos (área e posicionamento aquedado dos orifícios para facilitar os processos de resfriamen-
to) e ergonômicos (peso da embalagem contendo os produtos e alças adequadas à manipulação). É comum encontrar embalagens que não atendem os requisitos acima descritos, contribuindo para a perda de qualidade e vida útil dos produtos, prejudicando tanto o produtor como o consumidor.
Benefícios As embalagens de papelão reúnem características importantes. Por serem descartáveis, inibem a propagação de doenças e fungos, tornando-as higiênicas. São recicláveis e produzidas com fibras naturais originárias de florestas plantadas, contribuindo com a sustentabilidade. São menos agressivas para o acondicionamento das frutas e hortaliças, além de serem menos pesadas, quando comparadas com embalagens de madeira ou plástico, chegando a pesar mais de 2,0 kg.
PÓS-COLHEITA
Rastreabilidade A rastreabilidade é vantajosa, tanto para o produtor como para o consumidor. Para o primeiro, ela contribui com a transparência na cadeia produtiva, inovação por meio do rastreio de cargas e a otimização de processos. Na outra ponta, o consumidor tem acesso a produtos de melhor qualidade, sentindo segurança na compra, o que contribui para a fidelização do cliente. O rastreamento é feito por meio de um sistema integrado de softwares e os códigos aplicados na embalagem, informando, por exemplo, a origem, destino e outras informações e precisas sobre o produto. A embalagem de papelão poderia estar dotada de códigos de barra e QR Code, por exemplo, porém, deve-se atentar ao custo que estas opções adicionam ao produto, para que haja uma relação custo-benefício equilibrada.
Citrus Killer
Já a de papelão ondulado pesa menos de 900 g. Outra questão em pauta é a sustentabilidade, podendo ser até 100% reciclável. Outro benefício das embalagens de papelão ondulado é a quantidade ilimitada de recortes e formatos em que pode ser apresentada. Permite a impressão em diferentes cores e relevos, essencial para aplicação da marca, da identidade visual e de estratégias de marketing e venda.
nal of Medicine, sobre a permanência do vírus em vários tipos de materiais, indicou que em superfícies de papelão pode haver a permanência por até 24 horas, e quase três dias em materiais de plástico. Higienizar o grande volume de embalagens de papelão ondulado para comercialização das frutas e hortaliças frescas não é uma tarefa possível. Porém, nos supermercados não deveriam ser utilizadas estas embalagens para uso nos balcões, devendo ser descartadas na área de recebimento, uma vez que os produtos são retirados dela. Quando consumidores usam estas embalagens para carregar os produtos até as residências, deveria haver o descarte delas logo em seguida à retirada dos pro-
dutos, procedendo à higienização destes. Em geral, recomenda-se seguir as recomendações pautadas pela Organização Mundial da Saúde. Lembrando que o impacto ao meio ambiente com o uso de papel ondulado para a fabricação de embalagens para produtos hortifrutícolas é muito menor que o impacto causado pelas embalagens de plástico. Uma função que a embalagem de papel ondulado para frutas e hortaliças frescas vem ganhando, e que pode crescer muito, é a de comunicação com o cliente. A identidade visual na embalagem é um meio de fortalecer a presença e a lembrança da marca.
Higiene
Resultados de estudos divulgados pela revista científica New England Jour-
Citrus Killer
Cuidados necessários nesta época de Covid
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Durante as operações de corte, empacotamento, distribuição e montagem das embalagens, devem ser aplicadas as normas de higiene e segurança do trabalho, evitando que as superfícies de papel ondulado estejam expostas à contaminação por diversas fontes. As frutas e hortaliças, antes de serem acondicionadas na embalagem, devem ter sido higienizadas, para que não contenham possíveis focos de contaminação. Uma vez que a embalagem chega ao destino final, e são retirados os produtos, estas deverão ser descartadas.
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ACEROLA Fotos Shutterstock
DETALHES DO CULTIVO NO BRASIL Gustavo Cesar Dias Silveira Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) gcsagro@gmail.com Maíra Ferreira de Melo Rossi Engenheira agrônoma e mestranda em Botânica Aplicada – UFLA rossimaira@hotmail.com
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Pedro Maranha Peche Engenheiro agrônomo, mestre e pósdoutorando em Fitotecnia – UFLA pedmpeche@gmail.com
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acerola (Malpighia emarginata DC.) é nativa da América Central e do Norte da América do Sul, produz frutos excepcionalmente ricos em vitamina C e A, é fonte de ferro e cálcio, além de conter outras vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina e niacina). São poucos os países que cultivam comercialmente a acerola e o Brasil se sobressai nesse contexto, sendo atualmente o maior produtor, exportador e consumidor. Adaptada às diferentes condições climáticas, hoje em dia os plantios se es-
palharam por quase todas as regiões do País, sendo a região nordeste a maior produtora, responsável por 64% da produção nacional. Dados mais recentes mostraram que no ano de 2017 a área colhida de acerola foi de 5.753 hectares, valor referente a 6.646 propriedades rurais com mais de 50 pés plantados. Nesse ano foram produzidas quase 70 mil toneladas de frutas e o valor de produção atingido foi de R$ 91.642.000. O Estado de Pernambuco é o maior produtor, com 21.351 toneladas produzidas, seguido do Ceará, com 7.578 toneladas, e em terceiro lugar Sergipe, com 5.427 toneladas de frutas produzidas (IBGE, 2017). Parte da produção brasileira é exportada para Europa, Estados Unidos e Japão, na forma de frutos ou polpa congelada e suco integral. Entretanto, o consumo nacional é crescente, trazendo boas expectativas ao mercado interno dessa fruta. Esse crescimento se deve, basicamente, a seu elevado teor de ácido ascórbico (vitamina C), que chega a ser 100 vezes superior ao da laranja, ou dez
vezes ao da goiaba. A acerola pode ser consumida sob a forma de sucos, compotas, geleias, utilizada no enriquecimento de sucos e de alimentos dietéticos, na forma de alimentos nutracêuticos, como comprimidos ou cápsulas empregados como suplemento alimentar, chás, bebidas para esportistas, barras nutritivas e iogurtes. A acerola também tem mostrado potencial de uso na indústria farmacêutica e cosmética.
Variedades A produtividade da aceroleira por hectare é crescente como em qualquer outra frutífera, passando de 6,5 toneladas no segundo ano de cultivo para 40 ou mais toneladas do quinto até o décimo ano. As variedades de acerola são classificadas em doces ou ácidas. As ácidas são mais ricas em vitamina C e são indicadas para a industrialização, enquanto as variedades de frutos doces são mais indicadas para o consumo “in natura”. Deste modo, os clones disponíveis
MANEJO
de uma variedade de acerola no mesmo pomar, pode ocorrer a polinização cruzada, o que beneficia ainda mais o pegamento dos frutos.
Plantio
Colheita e comercialização
Antes do plantio, deve-se realizar amostragem do solo para analisar a necessidade de correção e para que se saiba o nível de nutrientes já presentes no solo. O plantio das mudas deve ser realizado, preferencialmente, no início do período chuvoso. Se houver disponibilidade de irrigação no cultivo da fruteira, o plantio pode ser feito em qualquer época do ano, exceto no inverno. O espaçamento pode variar entre 4 x 4 metros, 5 x 5 metros, 6 x 4 metros e 5 x 4 metros, que é o mais utilizado nos plantios em propriedades instaladas no Sudeste, com 500 árvores por hectare. Como a polinização da aceroleira também depende da ação de insetos, com destaque para as abelhas nativas do gênero Centris spp., é preciso contar com elas nas proximidades do pomar cultivado. No entanto, quando se planta mais
Durante o processo de colheita, seleção e embalagem, é preciso evitar que os frutos sofram pancadas ou ferimentos, o que acelera sua deteriorização. Colha os frutos a cada dois ou três
Adubação, pragas e doenças A adubação contribui para que os frutos fiquem maiores, com mais qualidade e a aceroleira mais produtiva. Para que o produtor de acerola possa fornecer os nutrientes necessários e fazer o uso racional de fertilizantes, terá necessariamente que adotar algumas técnicas básicas e essenciais: análise de solo, análise foliar, observação dos sintomas de deficiência de nutrientes e conhecimento dos fatores que afetam a disponibilidade de nutrientes. Em conjunto, devem-se realizar as práticas culturais usuais, como controle de plantas daninhas, adubações de reposição a cada ciclo produtivo, podas de formação e de limpeza e irrigação (se necessário). Nematoides, pulgões, formigas cortadeiras, cigarrinhas e mosca-das-frutas são algumas das pragas que atacam a fruteira, enquanto entre as doenças se incluem antracnose, cercosporiose, seca descendente de ramos e podridão de frutos.
dias, retirando todos os maduros e os que estão mudando de coloração. Evite deixar as acerolas expostas ao sol depois da colheita - de preferência, deixá-las em ambiente refrigerado e comercializá-las o mais rápido possível, no caso de venda de frutas frescas. Dependendo das condições climáticas locais e da condução do plantio, a partir de oito meses surgem os primeiros frutos da aceroleira. A planta pode registrar anualmente três ou mais safras concentradas, principalmente na primavera e verão. Após o terceiro ou quarto ano do plantio, as fruteiras adultas chegam a produzir de 40 a 50 quilos de acerolas por planta ao ano, o que corresponde a uma produtividade média de 20 a 25 toneladas por hectare. Já está mais que provado que o consumo de frutas e hortaliças é benéfico para a saúde e isso contribui para a difusão do consumo da acerola. Com isso, a acerola tornou-se um produto agrícola gerador de lucro para o agricultor brasileiro, em especial para donos de pequenas propriedades e empregadores de mão de obra familiar. Atualmente, a cotação no atacado da acerola fresca está em torno de R$ 8,50/ kg (Ceagesp, 2020), o que garantiria, para um produtor que alcançasse uma produtividade média de 25 ton/ha, um faturamento de R$ 212,5 mil/ha/ano. Lembrando que se o produtor quiser vender sua produção para a indústria, esse preço será menor e deve-se pensar sempre em trabalhar com um maior volume da fruta.
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para plantio foram selecionados levando-se em consideração o teor vitamínico. Nesta classificação, os frutos que produzem mais que 1.000 mg de ácido ascórbico (vitamina C) por 100 g de suco é que são considerados satisfatórios. As variedades mais cultivadas no Sudeste são ‘Olivier’ e ‘Waldy-Cati’, mas existem outras, como ‘Cabocla’, ‘Sertaneja’, ‘Flor-Branca’, ‘Okinawa’ e outras selecionadas pela Embrapa e pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Exemplos de variedades doces: ‘Manoa Sweet’, ‘Tropical’ e ‘Hawaiian Queen’. Por outro lado, entre as variedades de acerolas do grupo ácido estão: ‘J. H. Beaumont’, ‘C. F. Rehnborg’, ‘F. Haley’, ‘Red Jumbo’ e ‘Maunawili’. A desuniformidade das plantas acarreta em perdas de produtividade do pomar e de qualidade dos frutos. Por isso, é extremamente importante que os pomares sejam formados a partir de variedades bem definidas, portadoras de características agronômicas e tecnológicas adequadas à finalidade a que se destinam. É muito importante também o produtor se resguardar e procurar adquirir mudas de viveiristas idôneos e confiáveis.
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TÉCNICA
UVAS
QUAL O PORTAENXERTO IDEAL?
Fotos Adilson Pimentel Junior
Adilson Pimentel Junior Engenheiro agrônomo, mestre e professor - Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio) adilson_pimentel@outlook.com Aline Mendes de Sousa Gouveia Engenheira agrônoma, doutora e professora - Unifio alinemendesgouveia@gmail.com
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Matheus Giugni Graduando em Agronomia - Unifio matheusgiugni@outlook.com
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s porta-enxertos da videira, conhecidos como cavalos, não produzem frutos, no entanto, são vigorosos e apresentam sistema radicular resistente às pragas e situações adversas do solo, transmitindo seu vigor e resistência para variedades-copa enxertadas. Na viticultura nacional, os porta-enxertos são obrigatórios e representam uma tecnologia simples, com resultados significativos para o desenvolvimento e crescimento das parreiras.
Principais porta-enxertos para as uvas Entre as variedades de espécies ame58
ricanas de Vitis, destacam-se a Rupestris du Lot (Vitis rupestris, var. du lot), a Riparia Gloire (Vitis riparia, var. Gloire de Montpellier), a Berlandieri Resseguier (Vitis berlandieri, var. Resseguier) e a Solonis (Vitis longii, var. Solonis). Quanto aos híbridos, que são originários do cruzamento entre espécies distintas, temos: Ripária do Traviú (Vitis riparia x Vitis cordifolia – Vitis rupestris), 101-14 (Vitis riparia x Vitis rupestris), Kober 5 BB (Vitis berlandieri x Vitis riparia), 420 A (Vitis berlandieri x Vitis riparia), Richter 99 (Vitis berlandieri x Vitis rupestris), SO4 (Vitis berlandieri x Vitis riparia) e Golia (Vitis rupestris x Vitis riparia – Vitis vinifera). Visando a expansão no cultivo de videiras em regiões de clima tropical, o Instituto Agronômico (IAC) teve importante contribuição para a viticultura nacional, com o lançamento de porta-enxertos híbridos denominados “tropicais”, sendo os mais utilizados o ‘IAC 766 Campinas’ (Ripária do Traviú x Vitis caribaea), ‘IAC 572 Jales’ (Vitis caribaea x 101-14) e o ‘IAC 313 Tropical’ (Golia x Vitis cinerea). Estes materiais apresentam alto vigor, compatibilidade com diversas variedades-
-copa e adaptabilidade a diversos tipos de solos, especialmente a solos ácidos.
A seleção Os principais critérios a serem observados na seleção do porta-enxerto da videira são: resistência a filoxera; nematoides; adaptação aos solos ácidos, calcários ou salinos; à seca ou umidade excessiva do solo; resistência a doenças fúngicas da folhagem; tolerância à deficiência nutricional; boa afinidade com a variedade produtora; compatibilidade na enxertia; facilidade de enraizamento e de pegamento na enxertia. Cada variedade deve ser selecionada atentamente para que o produtor seja atendido em suas exigências.
Manejo A técnica de produção de mudas de videiras enxertadas é dividida em três etapas. Inicialmente, o viveiro deve seguir rigorosamente o esquema de certificação de mudas, com o registro das cultivares e a absoluta pureza genética e sanitária do material. A primeira etapa é a produção de es-
TÉCNICA
caso contrário, as perdas são grandes.
Investimento x retorno No campo, observam-se diversas interferências do porta-enxerto junto à variedade copa. O êxito da enxertia se dá pela compatibilidade ou afinidade entre o porta-enxerto e a variedade enxertada, que imprime maior vigor e rusticidade às parreiras, melhorando sua produtividade. As características agronômicas e fisiológicas das cultivares-copa, tais como vigor, produção, tamanho de cachos e bagas, repartição de fotoassimilados, teor de açúcares e acidez dos frutos e outros compostos importantes para a qualidade das uvas podem ser influenciados pelo porta-enxerto. As inúmeras espécies e variedades de porta-enxertos permite o aproveitamento de vários tipos de solos e climas, o que possibilitou a expansão da viticultura na região nordeste do País, devido ao uso dos porta-enxertos tropicais. Alguns ainda são tolerantes aos nematoides, e seu uso viabiliza uma produtividade rentável das plantas em regiões infestadas. O custo-benefício é grande ao se utilizar plantas enxertadas, possibilitando aumento na qualidade e produção de frutas, em especial das uvas, bem como a utilização de áreas antes não recomendadas para o cultivo comercial de plantas.
Enxertia feita com sucesso na uva
Erros Hoje, com as informações cada vez mais apuradas, são poucos os erros na escolha de variedades de porta-enxertos, sendo que o sucesso na produção das plantas está mais relacionado ao tipo de enxertia, também dependente do manejo aplicado pelo viticultor, como irrigação, adubação, controle fitossanitário e escolha da variedade-copa.
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tacas de porta-enxertos, sendo que a coleta do material é realizada na ocasião da poda de inverno, quando as videiras estão em repouso vegetativo e com os sarmentos lignificados. As estacas dos porta-enxertos devem possuir de 07 a 12 mm de diâmetro e 28 a 30 cm de comprimento, contendo oito a 10 gemas por estaca. São formados feixes de 200 estacas, os quais são armazenados em câmara fria com temperatura entre 3,0 e 5°C e 95% de umidade relativa, o que possibilita a superação da dormência e estratificação das estacas em tempos distintos que variam de 15 a 20 dias. A segunda etapa é o plantio das estacas, sendo o porta-enxerto cortado no comprimento de 28 cm, removendo-se todas as gemas, deixando uma ou duas no topo para a brotação. Enterra-se 2/3 do comprimento da estaca no solo, no local de plantio, respeitando os espaçamentos previstos, sendo que após um ano de crescimento é realizada a terceira etapa, que consiste na enxertia da variedade-copa, que pode ser realizada por garfagem no topo em fenda cheia, com atenção aos diâmetros dos materiais que devem ser compatíveis. O enxerto deve apresentar de uma a duas gemas. A muda pode ser obtida pela enxertia de mesa ou chamada de muda de raiz nua. Por existirem várias etapas muito criteriosas, é produzida por viveiros registrados e por pessoas especializadas,
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NUTRIÇÃO
LIMÃO
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CORRETO MANEJO NUTRICIONAL Fernando Simoni Bacilieri ferbacilieri@zipmail.com.br
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Roberta Camargos de Oliveira Engenheiros agrônomos e doutores em Produção Vegetal - ICIAG-UFU robertacamargoss@gmail.com
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s necessidades nutricionais de qualquer planta são determinadas pela quantidade de nutrientes que ela extrai durante as diferentes fases fenológicas. Esta extração total dependerá do rendimento obtido e da concentração de nutrientes nos frutos e nas partes que compõem a planta, ou seja, raiz, caule, folhas, etc. O limoeiro é considerado exigente em nutrientes, assim como outras espécies cítricas comerciais, por isso, é fundamental que o nutriente seja colocado à disposição para a planta em tempo e lo-
cal adequados, por meio das adubações.
Grupos Os elementos essenciais para a nutrição vegetal são divididos em dois grandes grupos. Dependendo das quantidades exigidas, são considerados macronutrientes nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S), ou micronutrientes boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn), sendo eles indispensáveis no desenvolvimento das plantas em suas funções, pois o crescimento e a produção podem ser limitados. Além dos nutrientes, existem elementos que estimulam o crescimento das plantas, embora não essenciais ou então essenciais somente para algumas espécies de plantas, ou ainda, sob condições específicas, comumente chamados de ele-
mentos benéficos. Podem ser classificados como elementos benéficos o cobalto, selênio, silício, sódio e o titânio.
Manejo certo Manejar adequadamente a adubação consiste em efetuar um conjunto de decisões que envolvem a definição das doses e das fontes de nutrientes a serem utilizadas, bem como as épocas e as formas de aplicação de corretivos e adubos ao solo e à planta, visando à máxima eficiência técnica e econômica em relação às condições de solo e de cultivo. Desta forma, para o manejo nutricional do limoeiro é indispensável fazer a análise química de solo para conhecimento dos níveis de nutrientes e dos fatores que influenciam na disponibilidade dos mesmos às plantas, como teor de matéria orgânica, saturação de bases,
NUTRIÇÃO
Gessagem Outra prática corretiva de solo relevante para limoeiro é a gessagem, que possibilita a neutralização do alumínio tóxico e a melhor distribuição de nutrientes em profundidade, favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular, além de fornecer S, que é um dos elementos mais exigidos para boas produtividades da cultura. Quanto aos métodos de aplicação, os nutrientes podem ser fornecidos via solo e por meio da adubação foliar, com pulverizações na parte aérea das plantas. Para a adubação via solo, é possível utilizar os fertilizantes via fertirrigação, incorporados ou em cobertura, sendo as quantidades definidas considerando os níveis de nutrientes observados na análise química de solo, a idade das plantas e a produtividade desejada. Nessa modalidade de aplicação, tem-se uma atenção especial com os macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio. Atualmente, existem no mercado tecnologias que aumentam a eficiência dos nutrientes, como fertilizantes de liberação lenta, fertilizantes de liberação controlada, fertilizantes organominerais, entre outros.
Do plantio à colheita Antes do plantio, faz-se uma adubação com fontes de P, B e Zn nos sulcos que receberão as mudas com a quantidade definida de acordo com a análise de solo para todas as variedades de copas. Uma referência que pode ser utilizada
Tabela 1. Referência para adubação com fontes de P, B e Zn de acordo com a análise de solo para todas as variedades de copas
P resina mg/dm3 B (água quente) Zn (DTPA) 0-5 6 a 12 13-30 >30 0,0 -0,20 >0,20 0-1,2 >1,2 P2O5 B Zn 80 60 40 20 1 0 2 0 Fonte.: Quaggio et al (1997)
é a elaborada por Quaggio et al (1997) na Tabela 1. Na adubação de plantio também é recomendado aplicação de matéria orgânica. Para definição de fontes e quantidades os agricultores devem dar prioridade a materiais disponíveis mais próximos da propriedade, uma vez que o frete encarece os custos para utilização. Uma praticidade encontrada no mercado são os fertilizantes à base de ácidos húmicos e fúlvicos, que também funcionam como condicionadores de solos e podem complementar ou substituir as fontes convencionais.
Adubação de formação
Na etapa de formação do pomar, as doses de nutrientes indicadas serão de acordo com a análise de solo e idade das árvores, conforme tabela 2 de Quaggio et al (1997).
Empregar o P, de preferência em dose única, no período de julho-agosto. Parcelar N e K em quatro vezes, entre setembro e março. Em plantas com idade de 0-1 ano, localizar os adubos ao redor da coroa, num raio de 0,5 m. Em plantas com idade de um a dois anos, aumentar o raio para 1 ,5 m. Em plantas com idade superior a 2-3 anos, aplicar os fertilizantes nos dois lados da planta, em faixas, de largura igual ao raio da copa, sendo 2/3 dentro e 1/3 fora dela. A diagnose visual de deficiências nutricionais e análise química das folhas são excelentes ferramentas para determinação do estado nutricional dos pomares. No caso da diagnose visual, um dos problemas é o fato de que quando aparece um sintoma de deficiência, provavelmente a produtividade já foi prejudicada. A análise química das folhas deve ser realizada porque ela permite saber,
Tabela 2. Doses de nutrientes indicados de acordo com a análise de solo e idade das árvores na etapa de formação do pomar
Idade Nitrogênio Anos N g/planta 0-1 80 1-2 160 2-3 200 3-4 300 5-5 400
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capacidade de troca catiônica, teor de alumínio e pH. A correção do solo por meio da prática da calagem tem grande importância, uma vez que o limoeiro apresenta maiores produtividades na faixa de pH entre 6,0 e 7,0, com saturação de bases mínima de 70% e teor de Mg mínimo de 9 mmol/dm3. Antes da formação do pomar, o calcário deverá ser aplicado na área total com bastante antecedência ao plantio das mudas, procurando incorporá-lo o mais profundamente possível. Para pomares já instalados, o calcário deverá ser aplicado também na área total, e pode ser incorporado com grade.
P resina mg/dm3 K trocável mmol/dm3 0-5 6-12 13-30 >30 0-0,7 08-1,5 1,5,5-30 >3,0 P2O5 g/planta K2O g/planta 0 0 0 0 20 0 0 0 160 100 50 0 80 60 0 0 200 140 70 0 150 100 60 0 300 210 100 0 200 140 70 0 400 280 140 0 300 210 100 0
Fonte.: Quaggio et al (1997) 61
NUTRIÇÃO
Adubação foliar
com precisão, como está a situação nutricional das plantas e evitar gastar mais do que o necessário com fertilizantes.
Composição mineral das folhas
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Convém saber que diversos fatores são capazes de modificar a composição mineral das folhas de citros, como idade da planta, presença ou ausência de frutos próximos da folha, variedade da copa e do porta-enxerto, época do ano, clima, práticas culturais e processos fisiológicos. Para reduzir os erros na utilização da análise de folhas, recomenda-se: Coletar folhas apropriadas com quatro meses de idade, em ramos com frutos, e de quatro a sete meses nos ramos sem frutos, com tamanho médio e livres de pragas e doenças. Fazer a coleta em volta de toda a copa, a uma altura média entre a parte superior e a base. Não misturar amostras de folhas colhidas de ramos frutíferos com as de não frutíferos. Uma área de 2,5 ha é representada
por 100 folhas coletadas em quatro ou cinco ramos de 20 a 25 árvores. Em pomares maiores e uniformes, cada amostra pode corresponder a cinco ou até l0 hectares. Acondicionar as folhas coletadas de papel ou plástico e levar ao laboratório no mesmo dia. Caso não seja possível, guardá-las em geladeira sem congelar.
Fotossíntese Assim como as raízes, as folhas das plantas também possuem mecanismos de absorver os nutrientes em sua superfície e mobilizarem para o interior do vegetal, sendo utilizado nas funções fundamentais das plantas, em especial a fotossíntese. A velocidade de absorção via foliar varia conforme o nutriente (polaridade, raio iônico e concentração), a cultura (superfície da folha, polaridade e cerosidade) e o ambiente (temperatura, umidade e ventos). A aplicação segue os mesmos equipamentos utilizados pelos produtores na aplicação de outros produtos (herbicidas, inseticidas e fungicidas).
Existem diferentes objetivos para a prática da adubação foliar. Um deles é a adubação foliar corretiva, realizada quando deficiências nutricionais são constatadas para evitar maiores prejuízos. Já a adubação foliar preventiva é adotada em períodos de maior exigência nutricional da cultura, como no florescimento ou em condições ambientais que limitam a absorção via solo. Outra forma de adubação foliar é a complementar, que pode ser empregada fornecendo parte dos nutrientes para suplementar o que foi fornecido via solo. Por fim, o último tipo de adubação foliar é a estimulante, que utiliza biofertilizantes compostos por matérias-primas como aminoácidos, extratos de algas, substâncias húmicas, reguladores vegetais e microrganismos.
Adubação de produção
As quantidades a aplicar baseiam-se no teor total de N nas folhas, nos teores de P e K em solos e nas faixas de produtividades esperadas, conforme tabela 3 elaborada por Quaggio et al (1997). Recomenda-se parcelar os fertilizantes em três aplicações: 40% em setembro a outubro, 30% em dezembro a janeiro e 30% em março a abril. Opcionalmente, o P pode ser aplicado de uma só vez em setembro-outubro. Aplicar os adubos nos dois lados da planta, em faixas de largura igual ao raio da copa, sendo 2/3 dentro e 1/3 fora dela.
Erros Uma das falhas na definição das adu-
Tabela 3. As quantidades a aplicar baseiam-se no teor total de N nas folhas, nos teores de P e K em solos e nas faixas de produtividades esperadas
Produtividade N nas folhas g/kg P resina mg/dm3 K trocável mmol/dm3 <23 23-27 29-30 >30 0-0,5 06-12 13-30 >30 0-0,7 08-1,5 1,5,5-30 >3,0 t ha-1 Dose de N kg ha-1 Dose de P2O5 kg ha-1 Dose de K2O kg ha-1 <16 90 70 60 40 50 40 20 0 60 40 30 0 17-20 100 80 70 50 70 50 30 0 70 50 40 0 21-30 140 120 90 60 90 70 40 0 90 70 50 0 31-40 190 180 130 90 130 100 50 0 120 100 70 0 41-50 240 200 160 110 180 120 60 0 160 120 90 0 >50 280 220 180 130 180 140 70 0 180 140 100 0 Fonte. Quaggio et al (1997) 62
NUTRIÇÃO
bações é quando citricultor fica preso a questões de mercado, e em anos de baixo valor do limão reduz o investimento em fertilizantes, sem considerar que isso irá afetar a produtividade dos pomares nos anos seguintes e também irá causar desequilíbrio ou deficiências nutricionais que deixarão as plantas mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças, onerando o custo com tratamento fitossanitário. O modelo de agricultura atual exige aplicação de conhecimentos integrados acerca dos sistemas de produção para assegurar a obtenção de rendimentos compensadores e sustentáveis. Os ganhos obtidos com melhorias no manejo nutricional podem ser diretos e indiretos, ao considerar o aumento no desenvolvimento das plantas, crescimento acelerado e produtividade final, bem como a sanidade de plantas com aumento na capacidade de suportar ataque de pragas, doenças e estresses ambientais.
NATIVA
a comercialização de sementes.
JARACATIÁ
Internet
Oferta e demanda
FRUTA FAMOSA PARA COMPOTAS Givago Coutinho Doutor em Fruticultura e professor - Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado) givago_agro@hotmail.com
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entre as espécies pertencentes à família Caricaceae, que apresenta seis gêneros com 35 espécies (Badillo, 2000), o mamoeiro (Carica papaya L.) é a espécie de maior importância econômica. Contudo, outra espécie vem chamando atenção pelo seu potencial: o jaracatiá (Jaracatia spinosa (Aubl.) A.DC. sinonímia Jaracatia dodecaphylla (Vell.) A. DC.). Nativa do Brasil, especificamente do Cerrado brasileiro, o jaracatiá, também chamado de mamão-do-mato, é uma fruta tipicamente brasileira. Sua ocorrência em solo brasileiro se dá desde a região norte, nos Estados do Pará, Amazonas, Acre, Rondônia e Amapá, passando pelo Nordeste (Bahia, Maranhão, Ceará, Alagoas, Pernambuco e Paraíba), Centro-oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás), Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) e Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Assim, a espécie está presente nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Botanicamente, o fruto do jaracatiá é uma baga de formato alongado, atingindo até 10 cm de comprimento e 3,0 a 5,0 cm de largura, de coloração amarelo intenso a alaranjado, após o amadurecimento (Donadio, 2007), sendo seus frutos comestíveis. O aproveitamento dos frutos para consumo ao natural e, sobretudo na agroindústria, tem despertado o interesse de diversos fruticultores que veem na espécie grande potencial para cultivo. Assim, conhecer aspectos pertinentes ao comportamento fenológico e cultural são essenciais na exploração racional do jaracatiá em áreas comerciais.
Versatilidade De grande versatilidade, o jaracatiá tem diversas aplicações e utilidades. Na alimentação humana, os frutos comestíveis são consumidos em estágios mais avançados de maturação, ou mesmo assados. Já o fruto ainda verde pode ser utilizado na fabricação de doces. Segundo a Embrapa, utilizado popularmente como planta medicinal, o leite (latéx) do fruto verde é usado contra opilação, os frutos são antihelmínticos e usados no combate a infecções hepáticas e dores no corpo. Além disso, ocorre
Ainda não são relatados cultivos comerciais expressivos, sendo comumente encontradas algumas plantas em propriedades rurais, contudo, sem função comercial. O Brasil é rico em diversidade de espécies frutíferas que devem ser cultivadas em maior escala e melhoradas para o cultivo intensivo e aceitação do consumidor. Elas fornecem nutrientes, sabores acentuados, elevados teores de fibras, minerais, água e compostos antioxidantes, contribuindo de maneira benéfica com a saúde da população (Negri et al., 2016). No caso do jaracatiá, apresenta potencial para cultivo, pois permite a exploração do caule, frutos verdes e maduros, além do látex (Freitas et al., 2011).
Manejo da fruta Espécie heliófita, o crescimento do jaracatiá ocorre sob exposição direta à luz solar. Naturalmente, o jaracatiá é uma espécie zoocórica, ou seja, a dispersão de sementes é feita por animais. A planta apresenta crescimento rápido e copa pouco densa e caducifólia, sendo a ocorrência de sua floração concentrada entre os meses de dezembro a março. Com relação aos fatores edáficos, tem preferência por solos ricos em matéria orgânica e com pH variando entre 5,0 a 6,5. Com relação à propagação, é predominantemente feita por meio de sementes, conforme ressaltam Freitas et al. (2001), sendo que a presença da sarcotesta (material viscoso que protege a semente) pode prejudicar a germinação e desenvolvimento das plântulas. Na produção de mudas, Marana et al. (2015) observaram que mudas que se desenvolveram em condições de 60 dias em sombreamento, seguidos de 60 dias a pleno sol, demonstraram melhores resultados.
Cuidados Como espécie nativa, o jaracatiá se encontra em risco de extinção devido ao fato de partes do seu caule serem utili-
Fotos Adauto Assis
NATIVA
zadas pela indústria de doces caseiros em substituição à polpa do fruto de coco (Freitas et al., 2011). Assim, a adequação e desenvolvimento dos cultivos comerciais de jaracatiá são essenciais na preservação da espécie e expansão do consumo, de forma racional e responsável, tornando-a fonte de renda para diferentes perfis de produtores, sobretudo aqueles de base familiar, que já utilizam esta espécie ainda de forma extrativista.
Pós-colheita Importante ressaltar que os frutos devem ser consumidos bem maduros, devi-
do ao fato de que, quando ainda imaturos, apresentam látex cáustico que provoca irritação na boca ao serem consumidos crus. Um fato interessante é a utilização de partes tenras do caule do jaracatiá como fonte de alimento humano, tendo grande apreciação pela população na fabricação de doces (Aguiar et al., 2012). Além das partes tenras do caule, partes da raiz também são utilizadas na fabricação de massa para doces. Outra curiosidade sobre a espécie é o fato do nome científico do jaracatiá (Jaracatia spinosa) ter origem indígena e ser devido ao caule recoberto por espinhos.
PRODUTOR SE ESPECIALIZOU NA PRODUÇÃO DE DOCES
Adauto Augusto de Assis, produtor de jaracatiá no Sítio São Jorge
Atualmente, são poucas as árvores que dão frutas, em torno de 30%, produção que acontece de janeiro ao final de fevereiro. “Só colhemos as sementes das frutas entre janeiro e fevereiro. Elas são semelhantes às do mamão, e podem ser implantadas em viveiros em saquinhos e transplantadas depois de setembro, quando as chuvas são frequentes. Lembrando que a terra tem que ser boa, mas não precisa de tratos culturais, quando o cultivo é orgânico, facilitando o manejo”, pontua Adauto. Só no município ele já plantou, em oito anos, em torno de três mil mudas que fez nesse período. O tempo para colheita das frutas é de quatro anos, e o corte está na média de seis anos. “Já cortei árvores com sete anos que deram três mil quilos de doce do caule. Temos algumas árvores que produzem uma quantidade alta de frutas, uma média de 10 caixas por árvore”, calcula.
Consorciação Há oito anos Adauto vem produzindo o fruto consorciado com o café e outras culturas. Ele utiliza a fruta para fazer o doce, e diz que para colher é necessário derrubar o pé de jaracatiá. O doce já faz parte da culinária paulista hoje, revelado por meio da secretaria de cultura. Adauto ficou conhecido nessa região, e desde então envia doces para várias cidades via encomendas. Ele conta que uma árvore de jaracatiá rende, em média, mil vidros de doces.
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dauto Augusto de Assis é produtor de jaracatiá no Sítio São Jorge, no município de Santo Antônio da Alegria (SP). As mudas de jaracatiá são plantadas em vários pontos da propriedade sentido linear, na beira de cercas, de córregos, ao lado de reservas, sendo que o produtor tenta não plantar grande quantidade junto para evitar doenças.
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MORANGO
ERROS MAIS COMUNS NA PULVERIZAÇÃO DE MORANGO Shutterstock
Mário Calvino Palombini Engenheiro agrônomo e proprietário da Vermelho Natural vermelhonatural@hotmail.com
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maioria dos controles fitossanitários ocorrem por meio das pulverizações, com exceção de alguns tratamentos biológicos e sistemas alternativos. O primeiro cuidado em relação aos tratamentos é a utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI), de forma adequada e condizente com os tratamentos a serem utilizados. Na aplicação de fitoquímicos, deve-se levar em consideração os seguintes fatores: Serem adequados e dimensionados para permitir a correta vazão, pressão de funcionamento e possibilitar a aplicação em tempo hábil com a distribuição recomendada; Os equipamentos devem se encontrar em bom estado para assegurar o correto funcionamento e evitar vazamentos acidentais; Os equipamentos devem ser inspecionados antes de cada aplicação; Os equipamentos somente devem ser operados dentro dos limites de sua capacidade, especificações e das respectivas orientações técnicas; O armazém do fitoquímico deve estar em bom estado, com dimensões adequadas e com a manutenção adequa-
da para assegurar que evite vazamentos acidentais; Não se recomenda usar para outros fins os equipamentos e utensílios destinados para tratamento fitossanitário.
Recomendações As recomendações técnicas de diluição dos fitoquímicos em água podem ocorrer de duas formas: pode ser indicada a quantidade por hectare, neste caso calculando a diluição em água conforme a recomendação do volume de água a ser utilizado. Outra forma de recomendação é a quantidade de produtos a serem diluídos por quantidade de água. Este fator é importante porque determinados agentes de controle fitossanitários necessitam, para a sua eficiência, de uma diluição adequada, e em outros casos a água é apenas um meio de transporte até a lavoura. Alguns produtos podem ter recomendações vinculadas ao pH da calda, que pode alterar sua composição. O horário de aplicação também deve ser considerado, devido à questão da temperatura e umidade do ar, fatores necessários para a eficiência do agente fitossanitário ou devido a alguma fitotoxidade. Também se deve avaliar a intensidade do vento, que pode alterar o comportamento da gota durante a pulverização. O objetivo do tratamento é distribuir adequadamente e de forma eficien-
te os agentes fitossanitários na planta ou em partes específicas da lavoura. Para isso, é necessário uma boa distribuição dos produtos.
Influência direta É importante avaliar alguns fatores que influenciam nesta distribuição: A velocidade de deslocamento do operador ou equipamento, que pode influenciar a quantidade de calda a ser empregada e sua distribuição; A pressão de funcionamento que irá influenciar o tamanho da gota e quanto irá penetrar no interior na planta, bem como a intensidade de deriva; O tipo e quantidade de bicos, que irão variar as características do tratamento. É preciso levar em consideração se é do tipo leque ou cônico, o tamanho da gota que proporciona, o seu grau de deriva, o ângulo de atuação e a sua vazão; O volume da massa vegetativa: quanto maior o volume vegetativo, maior é a quantidade de calda utilizada e maior deve ser a sua penetração na planta; Os pontos na planta em que a calda possui maior dificuldade em atingir: caso necessário, é recomendado dirigir um bico específico para estes pontos; Deve-se observar o tipo e a exigência de distribuição dos fitoquímicos, levando em consideração a necessidade ou não de adicionar a calda espalhante adesiva.