Campo & Negócios Florestas - Jul/Ago-2020

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Ano VIII nยบ 49 - Julho/Agosto 2020 - R$ 16,90 - ISSN 2316-6312

NANOCELULOSE DE PINUS E EUCALIPTO

ร LCOOL = EM GEL




EDITORIAL Diretora Administrativa

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ISSN 2316-6312 - Edição 49 - Julho/Agosto 2020

Joana D’ark Olímpio

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Jornalista: Adrielle Teodoro - MTb 15.406MG adrielle@revistacampoenegocios.com.br Assistente Comercial

Amanda Caroline Souza Ferreira

amanda.ferreira@revistacampoenegocios.com.br Raymara Barros de Souza

raymara@revistacampoenegocios.com.br

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egundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), com a pandemia do coronavírus, a demanda global por álcool em gel cresceu dez vezes em relação ao registrado em 2019. Isso resultou na falta do principal espessante usado na sua fabricação: o carbopol. O problema levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a flexibilizar as normas para a fabricação de álcool em gel e diversas instituições têm atuado na produção e disponibilização do produto. O Laboratório de Tecnologia da Madeira da Embrapa Florestas, em parceria com a Klabin, tem trabalhado em diferentes formulações para elaboração do álcool 70% usando nanocelulose de pinus e de eucalipto como espessante, em substituição ao carbopol. O produto já é usado por fiscais do Ministério da Agricultura em postos de fronteira, mostrando grande eficiência. Em paralelo, o trabalho continua com a definição de outras ‘formulações’ para fabricação de álcool em gel, utilizando diferentes nanoceluloses. A novidade é destaque em nossa matéria de capa, que vai te surpreender pelas inovações que estão emergindo a partir da crise trazida pela pandemia da Covid-19. Vamos juntos? Tenha uma excelente leitura! Miriam Lins Oliveira Editora

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A Revista Campo & Negócios Florestas é imparcial em relação ao seu conteúdo agronômico. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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NESTA EDIÇÃO

Seringueira - versátil e rentável

09 Escolha do sistema de sangria

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29 Clone ideal de eucalipto

Planejamento dos aceiros da floresta

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Vespa-da-galha-vermelha ameaça florestas

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Alerta para os incêndios

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Controle biológico de pragas do eucalipto

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Os caminhos da evolução da mecanização

Doenças de viveiros preocupam produtores

17 Nutrição dos porta-enxertos

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NANOCELULOSE DE PINUS E DE EUCALIPTO = ÁLCOOL EM GEL

Café e cedro australiano: opção para maior renda

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Antônio de Pádua Alvarenga Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia, pesquisador da Epamig e professor colaborador - Universidade Federal de Viçosa (UFV) padua.alvarenga@gmail.com

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á certa dificuldade no Brasil em se obter dados mais precisos de algumas culturas, e a seringueira não foge à regra. O Brasil possui hoje, aproximadamente, 180 mil hectares de seringueira plantada. Muito dessas áreas são plantios recentes, ainda em crescimento, somadas ainda às áreas no final do ciclo, de baixa produtividade e precisando de renovação, bem como aquelas em estado de abandono. O Brasil produz cerca de 220 mil toneladas de borracha natural, dados aproximados. Nas regiões produtoras onde a atividade é considerada como de cultivo, ou seja, plantada, e a atividade é bem tecnificada, a produção está em torno de 7,0 kg/árvore/ano = 3.500 kg de coágulo/ha. Nossa produtividade é superior à dos maiores produtores do mundo. Na região Amazônica, cuja atividade é apenas de extrativismo, a produtividade é muito baixa, reduzindo em muito a média nacional.

Oferta e demanda Vale lembrar que o Brasil importa quase 70% do que consome de borracha natural. Sendo que somos o país com o 6

Fotos Shutterstoc

LUCRO E VERSATILIDADE NO CULTIVO DA SERINGUEIRA

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RENTABILIDADE

maior potencial de produção do mundo, seríamos capazes de ofertar toda a borracha natural consumida globalmente. Apenas a título de exemplo, somente Minas Gerais possui uma área de 23 milhões de hectares aptos ao plantio de seringueiras - no mundo há cerca de 14 milhões de hectares plantados -, do mesmo modo, poderíamos citar Mato Grosso do Sul, Goiás, dentre outros.

Principais regiões produtoras Considerando seringais instalados ou de cultivo, seriam: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Rio de Janeiro. O Estado com maior área plantada e maior produtor é São Paulo, seguido da Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais empatados, Espírito Santo, Mato Grosso e Tocantins.

Possibilidades de rentabilidade com essa espécie Nesta questão há um pouco do lado pessoal da resposta, por acreditar, em muito, na atividade. Mas terei diversos adeptos a essa minha resposta. Provavelmente seja a atividade agrícola de maior rentabilidade e, mesmo passando por momentos de preços baixos, ainda é uma atividade rentável. A cultura da seringueira tem impactos econômicos e sociais extremamente positivos para o agronegócio brasileiro. Além de ser uma cultura renovável, sua produção proporciona rentabili-


RENTABILIDADE

dade atrativa ao agricultor, adequada à pequena produção e à agricultura familiar, fixando populações no meio rural. O que não se pode esquecer nunca é de adequar um bom manejo para a atividade. A gestão do seu seringal é fundamental para o melhor desempenho e melhor retorno econômico, principalmente em momentos de crise.

Planejamento Considerando que a seringueira tem vida útil bastante prolongada, chegando aos 50 anos, a implantação e a condução do seringal requerem um planejamento criterioso, uma vez que qualquer erro ou omissão, durante o seu período de imaturidade, acarreta redução da produção e da produtividade da cultura. Assim, quando se pretender instalar e explorar um seringal com resultados compensadores, deve-se atentar para práticas de manejos adequadas, pois um eventual insucesso pode ser percebido só num estádio avançado da cultura, quando os prejuízos já forem irreversíveis. Vários são os aspectos a serem considerados, um deles, por exemplo, é o climático, mas que pode perfeitamente ser atenuado se a seringueira for implantada em solos profundos, permeáveis, arenosos e de textura média a argilosa, evitando solos que inibem a expansão do seu sistema radicular.

Importância do solo No tocante ao solo, ele é importante componente edáfico, que influencia o estabelecimento e o desenvolvimento da seringueira. O solo deve ser capaz de reter e suprir umidade e nutrientes, além de apresentar porosidade, permeabilidade e adequado armazenamento de água. Outro aspecto é o nutricional, lembrando que a seringueira é normalmente estabelecida em área de solos pobres. Sendo assim, na fase de desenvolvimento da seringueira, é muito importante o aporte de fertilizantes estimulando seu rápido crescimento para encurtar o período de imaturidade.

Eu diria que a seringueira não é uma cultura complementar. Eu a classificaria como principal. Complementares seriam as demais culturas que entrariam em consórcio com a cultura da seringueira para fazer frente aos períodos de baixa ou de nenhuma extração do látex. No Estado de São Paulo há propriedades onde a cultura possui uma rentabilidade superior à do gado de corte. É uma cultura que produz praticamente o ano todo. Dependendo do manejo, consegue-se extrair o látex durante 11 meses do ano, quiçá 12 meses.

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Seringueira como cultura complementar

Subprodutos Há tempos encontramos em diferentes textos de jornais, revistas, livros, dentre outros, que a “borracha natural é uma matéria estratégica utilizada na manufatura de mais de 50 mil produtos, que incluem materiais médico-hospitalares, preservativos, calçados, roupas, pneus, peças automotivas, pisos, man7


RENTABILIDADE

ta asfáltica, utensílios domésticos, brinquedos, móveis, material bélico, além de outros. Isso acontece em função das características que a tornam insubstituível, como elasticidade, flexibilidade, resistência à abrasão e à corrosão, impermeabilidade e fácil adesão a tecidos e ao aço”. Porém, mais de 80% da produção mundial está direcionada aos pneumáticos. O mercado está mais do que preparado para absorver toda a produção de borracha. São produtos essenciais e imprescindíveis ao nosso dia a dia. Poderíamos afirmar que o mercado mundial e as grandes economias giram em torno dessa ‘commodity’, que é a borracha natural.

Custo de produção x retorno O custo de implantação de um seringal vai variar muito de região para região, em função do tipo de terreno e sua inclinação, tipos de preparo do solo (plantio direto ou preparo total da área), custo de mão de obra, de mudas e insumos. Na implantação de um seringal podemos considerar uma variação de R$ 8.000,00 a R$ 10.000,00 por hectare. Já o custo de manutenção, até o início de produção, de R$ 6.000,00 a R$ 10.000,00 por hectare, considerando que um seringal entra em produção aos seis anos de idade. Este início de produção tem sido também muito variado entre produtores e regiões. Alguns textos têm informado que o retorno econômico pode acontecer entre o 10º e o 12º ano de plantio. Porém, um manejo correto da cultura tem trazido produtividades excelentes que podem reduzir esse tempo de retorno econômico. Além do que, pode-se considerar, ainda, os consórcios com culturas de ciclo curto nos primeiros anos de implantação, que podem amenizar os custos iniciais trazidos pela cultura.

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Viabilidade

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A meu ver, a heveicultura é uma atividade viável e altamente sustentável. Ela começa a produzir aos seis ou sete anos de idade, mas admite a associação de culturas intercalares, como o café, cacau, mamão, abacaxi, arroz, feijão, soja, hortaliças, entre diversas outras, como alternativa de renda. Seguindo um manejo correto um seringal tem uma vida útil que ultrapassa os 50 anos. A seringueira também propicia elevados ganhos ambientais, uma vez que se trata de uma planta altamente eficiente no controle do efeito estufa. Sua capacidade de armazenar carbono é comparada às espécies mais eficientes do nosso sistema. Estudos demonstram a eficiência da seringueira em estocar carbono atmosférico em quantidades equivalentes à de uma floresta natural, além do grande potencial para a preservação de mananciais e para a recuperação de solos degradados, permitindo, ainda, a manutenção da vegetação natural entre linhas de plantio. O desenvolvimento da seringueira é muito satisfatório quando cultivada em áreas degradadas e de relevo fortemente ondulado, desde que se utilize o manejo adequado.


SERINGUEIRA

ESCOLHA DO SISTEMA DE SANGRIA REDUÇÃO DE CUSTOS E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE Juliano Quarteroli Silva Engenheiro agrônomo, doutor e assistente agropecuário do Escritório de Desenvolvimento Rural de Limeira – Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável - Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo quarteroli@cdrs.sp.gov.br

Resumidamente, a produção de látex depende do fluxo e da regeneração do material celular entre duas sangrias e, segundo

Juliano Quarteroli Silva

Como funciona

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operação de colheita do látex da seringueira, conhecida popularmente como sangria, é uma das práticas mais importantes da cultura, pois além determinar a longevidade do seringal e a produtividade, pode representar mais de 60% dos custos totais da produção. A expansão de plantio da seringueira para outros locais com fatores climáticos bem diferenciados da região de origem faz alterar o comportamento fisiológico da cultura. Na avaliação dos processos fisiológicos associados à produção do látex devem ser considerados os fatores inerentes à planta (genótipo) e ao ambiente, incluindo o sistema de sangria. Diversos pesquisadores relatam que a resposta de cada clone varia bastante e que devem ser consideradas as interações genótipo-ambientais na escolha do sistema de sangria.

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SERINGUEIRA

a literatura, são necessários quatro dias para que o conteúdo dos vasos laticíferos se reconstitua satisfatoriamente. Portanto, a sangria causa perda de constituintes das células dos vasos laticíferos e a regeneração do látex envolve intensa atividade metabólica, principalmente em sistemas de alta frequência de sangria. Dados de pesquisa mostram, por exemplo, que a sangria cria uma significante queda do conteúdo de sacarose na região do painel de sangria devido ao consumo para a regeneração do látex e drena aproximadamente metade do cálcio e magnésio absorvido pela planta. As árvores submetidas aos sistemas de menor frequência de sangria, em tese necessitam de um metabolismo menos intenso para a regeneração de látex. Isto reforça que é fundamental conhecer a resposta dos diferentes clones quando submetidos a diferentes sistemas de sangria, nos diferentes ambientes. Alguns estudos demonstram maiores produtividades com o aumento da frequência de sangria para os clones IAN 873 e RRIM 600.

Demanda

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Porém, os sistemas de alta frequência de sangria apresentam o problema de maior demanda por mão de obra. Desta forma, sistemas de baixa frequência de sangria podem ser utilizados principalmente como forma de otimizar a mão de obra no seringal, com significativa redução nos custos de produção. Porém, este tipo de sistema pode não drenar o volume potencial de látex da árvore, devido ao menor número de sangrias no ano. Uma das formas de superar esta limitação de menor produtividade nos sistemas de baixa frequência de sangria é o uso combinado destes com estimulantes da produção, como o ethephon. Este estimulante, quando aplicado no painel de sangria, desencadeia o hormônio vegetal gasoso denominado etileno. Pesquisas mostram que o etileno liberado possui a capacidade de manter os vasos laticíferos com paredes mais rígidas e espessas, de evitar a oclusão dos vasos rompidos no corte de sangria, de inibir a coagulação do látex e de promover a ativação de enzimas que desempenham papel importante na biossíntese da borracha.

Juliano Quarteroli Silva

Fique atento

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Conforme já exposto, existem diferenças no metabolismo de produção de látex dos diferentes clones e, de uma forma geral, a resposta à estimulação é baixa em clones considerados de alta produção, enquanto que em clones de baixa produção são observados aumentos significativos de produção. Vários pesquisadores e técnicos citam que alguns clones, dentre eles o PB 235, produzem muito bem sem estimulação e não respondem a ela, porque possuem um metabolismo muito ativo. A característica de boa produtividade do clone PB 235 provavelmente é devido ao bom fluxo e ao eficiente mecanismo de regeneração do látex. Diversos autores também observaram uma resposta não muito acentuada do clone GT 1 à estimulação. Desta forma, há necessidade do desenvolvimento e adap-


tação de novas tecnologias de produção, incluindo o sistema de sangria. Os estudos locais sobre o comportamento de cada clone em função dos sistemas de sangria com a utilização de estimulante são fundamentais e permitem alcançar recomendações mais precisas e obter vantagens no seringal sob o ponto de vista fisiológico e econômico. Na Tabela 1 é apresentada uma sugestão de sistemas de sangria para a região do planalto paulista e, embora não seja uma recomendação oficial, é baseada em resultados de pesquisas recentes.

Miriam Lins

SERINGUEIRA

Tabela 1. Sugestões de sistemas de sangria para quatro clones de seringueira, na região do planalto paulista Periodicidade de estimulação

Época da sangria

Meia espiral (½S)

A cada 3 dias, com descanso 11 meses por aos domingos ano (11 m/y) (d/3 6d/7)

1 ml do produto comercial; sobre Ethephon a o painel (Pa) e 6 vezes por ano 2,5% (6/y) sobre a canaleta (ET 2,5%) com cernambi (La)

A partir de 6 anos de sangria

IAN 873

Meia espiral (½S)

A cada 3 dias, com descanso 11 meses por aos domingos ano (11 m/y) (d/3 6d/7)

1 ml do produto comercial; sobre Ethephon a o painel (Pa) e 6 vezes por ano 2,5% (6/y) sobre a canaleta (ET 2,5%) com cernambi (La)

A partir de 6 anos de sangria

PB 235

Meia espiral (½S)

A cada 3 dias, com descanso 10 meses por aos domingos ano (11 m/y) (d/3 6d/7)

Sem estimulação

Meia espiral (½S)

A cada 3 dias, com descanso 10 meses por aos domingos ano (11 m/y) (d/3 6d/7)

1 ml do produto comercial; sobre Ethephon a o painel (Pa) e 6 vezes por ano 2,5% sobre a canaleta (6/y) (ET 2,5%) com cernambi (La)

Meia espiral (½S)

A cada 3 dias, com descanso 11 meses por aos domingos ano (11 m/y) (d/3 6d/7)

1 ml do produto comercial; sobre Ethephon a o painel (Pa) e 8 vezes por ano Primeiros 5 anos 2,5% de sangria (8/y) sobre a canaleta (ET 2,5%) com cernambi (La)

Meia espiral (½S)

A cada 3 dias, com descanso 11 meses por aos domingos ano (11 m/y) (d/3 6d/7)

1 ml do produto comercial; sobre Ethephon a o painel (Pa) e 8 vezes por ano Primeiros 5 anos 2,5% de sangria (8/y) sobre a canaleta (ET 2,5%) com cernambi (La)

Meia espiral (½S)

A cada 3 dias, com descanso 11 meses por aos domingos ano (11 m/y) (d/3 6d/7)

1 ml do produto comercial; sobre Ethephon a o painel (Pa) e 8 vezes por ano Primeiros 5 anos 2,5% de sangria (8/y) sobre a canaleta (ET 2,5%) com cernambi (La)

Meia espiral (½S)

A cada 3 dias, com descanso 11 meses por aos domingos ano (11 m/y) (d/3 6d/7)

1 ml do produto comercial; sobre Ethephon a o painel (Pa) e 8 vezes por ano Primeiros 5 anos 2,5% de sangria (8/y) sobre a canaleta (ET 2,5%) com cernambi (La)

Clones

GT 1

Comprimento do corte

Frequência de sangria

Periodicidade de sangria

Bernardes et al. (2000)

RRIM 600

GT 1

IAN 873 Silva (2008) PB 235

RRIM 600

Estimulação

Método de aplicação do estimulante

-

-

Primeiros 5 anos de sangria

Após 1 ano de sangria

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Autores

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FITOSSANIDADE

DOENÇAS EM VIVEIROS PREOCUPAÇÃO DE PRODUTORES DE EUCALIPTO E SERINGUEIRA

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Fernando Cezar Juliatti Professor - Instituto de Ciências Agrárias - Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador 1D – CNPq juliatti@ufu.br

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A

s principais doenças de viveiros de mudas são o oídio (Erysiphe) (eucalipto clonado), a mancha foliar de Cylindrocladium pteridis e outras espécies, como: Cylindrocladium candelabrum, C. ilicicola, C. parasiticum, e C. quinqueseptatum, Eucaliptus urophylla, E. citriodora, E. cloeziana e E. grandis (algumas procedências) as mais suscetíveis. Existem outras espécies associadas aos principais gêneros e espécies de eucalipto e também mogno. Em seringueira a ocorrência da podridão do caule causada por Fusarium solani e Fusarium semitectum causa mortalidade de plantas durante a fase de estaquia e enraizamento. Ambos fitopatógenos podem estar associados ao substrato contaminado, ou serem introduzidos pela água de irrigação. Também é notório que o fungo Colletotrichum gloesporioides afeta o desenvolvimento inicial das mudas (doença conhecida como antracnose), principalmente no caso da seringueira e sendo responsável posteriormente pela seca do painel em plantas adultas.

O fungo Botrytis cinerea também pode ocorrer em regiões mais frias ou na produção de mudas durante o inverno. O oídio está associado ao clima mais seco intercalado com a irrigação do viveiro e o Fusarium basicamente está associado à semente sem tratamento ou substrato de mudas contaminado. No caso da seringueira, é notório comentar a presença do mal-das-folhas causado por Microcyclus ulei (anamorfo: Fusicladium ou Pseudocercospora), que causa desfolha no viveiro na região de Frutal e Prata, no interior mineiro, onde a cultura da seringueira está se expandindo. Nematoides de galhas (Melodogyne exigua) estão associados a seringais da região, quando se usa solo contaminado nos canteiros de enxertia ou se transplanta a muda para solo com a presença do mesmo. Uma saída seria a utilização de viveiros suspensos, como no caso do eucalipto. Bacterioses do gênero Xanthomonas ou Pseudomonas spp, não são comuns em viveiros de mudas. Caso ocorram, deve-se fazer o controle preventivo das mesmas com produtos adequados.

Prejuízos De forma geral, o prejuízo visualizado nessa fase é a des-


FITOSSANIDADE

folha, atrofia das plantas, morte de plantas e replantio. No eucalipto podem levar ao replantio e, consequentemente, ao aumento dos gastos dos produtores. Na fase adulta o Colletotrichum gloesporioides e outros podem reduzir a produção de látex (painel doente) e suspender a sangria do painel da seringueira, conforme o diâmetro do caule. Nessa fase deve-se fazer o manejo da doença e seu agente etiológico, por meio da aplicação de fungicidas no painel. Infelizmente, não temos muitos fungicidas registrados no Ministério da Agricultura (MAPA) para controle das principais doenças, o que dificulta o Receituário Agronômico. No caso das manchas de Cylindrocladium spp, o controle químico pode ser realizado. O controle das manchas foliares causadas por Cylindrocladium sp. normalmente não é exigido no viveiro, quando as mudas são mantidas sob condições de bom arejamento, evitando-se o adensamento das mesmas. Pulverizações preventivas em viveiros de maior risco ou curativas em caso de ocorrência epidêmica da doença poderão ser efetuadas, empregando-se fungicidas cúpricos ou ditiocarbamatos. Na fase de mudas, pode-se fazer o controle preventivo com a pulverização de fungicidas nas mudas semanalmente. Podridão por fungos como Lasiodiplodia e Botryodiplodia também podem ocorrer em plantas jovens na fase de viveiro.

A antracnose e mal-das-folhas, que são comuns na seringueira na fase de viveiro, causam a morte ou necrose das partes jovens da planta, levando à perda do vigor e qualidade das mudas. O fungo Fusarium causa a morte da planta jovem, devido à necrose no caule do colo das plantas, levando ao tombamento das mesmas e/ou necrose até a inserção das primeiras folhas (infecção vascular). A fotos a seguir apresentam os sintomas descritos, para cada fitopatógeno.

Regiões mais afetadas Não existe uma delimitação geográfica para a ocorrência desses fitopatógenos. Eles ocorrem em qualquer região ou clima que estiver presente o viveiro, principalmente onde se pratica a irrigação por aspersão. O molhamento foliar e temperaturas entre 20-30ºC é fundamental para a infecção e formação de ciclos secundários e a consequente disseminação dos patógenos no dossel de mudas. Havendo inóculo primário, os fitopatógenos se disseminam pelo arraste de esporos (conídios), nas gotas da água de irrigação, contaminando as plantas vizinhas ou próximas. Após a introdução do inóculo é difícil a erradicação dos agentes etiológicos por qualquer meio.

Causas Toda doença em plantas está associada ao tripé ou triângulo da doença: a) Como patógeno; b) Hospedeiro suscetível e C) Ambiente favorável (temperatura e umidade alta ou baixa nas folhas – molhamento).

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Fotos Fernando Cezar Juliatti

Fernando Juliatti, professor da UFU e pesquisador do CNPq

Patógeno

Sintomas Os sintomas de oídio são visualizados pela presença de um crescimento branco nas folhas (micélio ou hifa), enquanto a mancha de Cylindrocladium, pelas manchas necróticas no limbo foliar de vários tamanhos, podem levar à perda das folhas na planta jovem e definhamento da mesma.

Doença Ambiente

Hospedeiro 13


FITOSSANIDADE

Com esse trinômio, e havendo inóculo no viveiro de mudas, fechando o ciclo de favorabilidade, as doenças ocorrerão. Conforme já comentado, temperaturas entre 20 - 30ºC favorecem a ocorrência e infecção da maioria dos fungos e bactérias na fase de produção de mudas, tanto da seringueira quanto do eucalipto. O maior fator complicador é o inóculo presente nas sementes de seringueira (coletadas no solo) para produção do porta-enxerto (o mais usado é o RRIM 600), e no caso do eucalipto a qualidade do substrato na produção das mudas. Assim como na seringueira, esse sempre deve ser tratado com produtos que erradicam o inóculo inicial. Para nematoides, deve-se também tratar o substrato com bons nematicidas químicos e biológicos. A irrigação das mudas por microaspersão ou aspersão é fator de disseminação de fungos e bactérias no viveiro de mudas, a partir de um inóculo primário ou inicial, principalmente para mancha ou queima de Cilindrocladium. Botrytis cinerea ou mofo cinzento, em regiões mais frias ou no inverno, podem causar queima das brotações jovens, que pode ser observada após a irrigação, por uma semana, mesmo utilizando turno de rega do sistema de aspersão a cada dois ou três dias, conforme a evapotranspiração local.

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Formas de controle preventiva e curativa A melhor forma de controle é combinar o manejo cultural, biológico, como o químico. Como não existem variedades ou genótipos resistentes (clones), deve-se usar a prevenção: Controlando o turno de rega; Uso de agentes de controle biológico em pulverização (Trichoderma spp e Bacillus spp.), indutores de resistência (fosfitos e fontes de silicato de K e Ca), quando as plantas estiverem emitindo as folhas novas, ou ainda o uso de indutores de resistência que estimulam as defesas das plantas, como a SAR ou RSA (resistência sistêmica adquirida), por acil benzolar-S-Metil e outros produtos em doses baixas (10 - 20 g por 100 L de calda). Esses produtos melhoram o sistema de defesa das plantas, com a síntese de fitoalexinas ou substâncias fenólicas de defesa da planta, mas precisam de pulverizações sequenciais ou semanais de forma consecutiva. A forma correta do uso de fungicidas seria via foliar, com aqueles à base de cobre, enxofre, triazóis, estrobilurinas, suas as-

sociações e também clorotalonil e mancozeb, que são como o enxofre e cúpricos chamados de multissítios (não existe risco de resistência). A amônia quartenária também pode ser utilizada na presença de infecção inicial bacteriana ou inóculo inicial de fungos. Vale lembrar ao produtor que fungicidas benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas, se forem registrados no MAPA, apresentam ação sistêmica, mas com maior risco ou chances de desenvolverem resistência nos fungos pelo uso contínuo e sem rotação.

Controle eficiente

Esporo de uma ferrugem germinando e penetrando na folha jovem. A proteção da planta tem que ser antes do patógeno entrar. Controle preventivo, seja com agente químico ou biológico. 14

Sintoma de antracnose em muda de seringueira

Para a correta aplicação dos defensivos agrícolas, o mais importante é atentar para a qualidade da aplicação, como volume de calda, sistema de pulverização sem vazamentos e entupimentos, além da correta deposição no alvo por pontas adequadas. O uso de adjuvante de origem mineral ou vegetal, ou mesmo siliconados, deve acontecer conforme a recomendação do fabricante. O importante é a cobertura do alvo ou a presença das gotas de pulverização em todas as partes das plantas. Não aplicar nas horas mais quentes do dia, o que pode ocasionar fitotoxidade ou queima das plantas. O usuário deve estar sempre protegido por EPIs (equipamento completo de proteção individual). A mistura de tanque (vários produtos químicos de forma simultânea, incluindo fer-


FITOSSANIDADE

Inovações A técnica de clonagem das mudas de eucalipto permitiu a uniformização dos plantios e a melhoria da qualidade da madeira, seja para uso energético ou confecção de móveis, mourões e cercas. Na seringueira existe a enxertia por borbulhia, que permite a uniformização ou utilização do painel para um determinado clone ou enxerto mais precoce. Ambos sistemas de produção exigem a proteção biológica ou química adequada. A proteção de plantas cresceu muito no Brasil e permitiu o avanço de empresas de produtos biológicos à base de fungos e bactérias para enriquecer o substrato e a pulverização foliar. Hoje, já existe compatibilidade de químicos com agentes biológicos de controle, e isso deve ser observado pelo produtor.

O uso de ectomicorrizas e até endomicorrizas (fungos superiores associados às raízes de plantas), no substrato de produção da mudas, assim como rizobactérias promotoras de crescimento, auxilia os processos de defesa da planta como a antibiose de nematoides e o hiper parasitismo dos mesmos. Na realidade, o agricultor deve estar atento às inovações de mercado e participar de eventos de atualização e formação técnica e científica. Informação adequada e atualizada vale muito dinheiro e redução de custos, além da qualidade do sistema de produção como um todo.

Erros Os erros mais frequentes no combate ou controle de pragas e doenças partem da falta da diagnose correta por um especialista ou técnico capacitado. Na dúvida, é imprescindível buscar um especialista conhecedor do assunto, ou laboratório especializado. O intervalo nas aplicações deve ser regiamente respeitado - a maioria dos fungicidas não permite intervalos maiores que 10 dias, principalmente se houver muito molhamento foliar. Após pulverizar as mudas, deve-se esperar pelo menos uma

Sintomas de mancha foliar por Microcyclus ulei

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tilizantes foliares, fungicidas e até inseticidas), embora permitida por lei sobre a tutela do receituário agronômico, deve ser utilizada nos casos em que exista uma recomendação oficial. Na mistura, pode ser gerado um novo produto por reação química e alteração de pH. Os fungicidas, em sua maioria, funcionam em pH na faixa de 5 - 6.

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FITOSSANIDADE

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Sintomas de mal-das-folhas em muda de seringueira

hora para irrigar. Aplicações curativas ou erradicativas dos fungicidas podem levar à perda do controle ou da eficácia, principalmente dos fungicidas. Atentar-se para fungicidas de ação conhecida e registro no Ministério da Agricultura. A maioria das empresas de agroquímicos não tem interesse em desenvolver ou registrar fungicidas e outros produtos para culturas ou sistemas de menor importância ou “minor crops”. Os sistemas de registro são caros, sendo que no Brasil têm que passar por três Ministérios (Saúde, Meio Ambiente e Agricultura) e são etapas longas e de alto custo. A legislação brasileira é uma das mais demoradas e caras do mundo para ser atendida. Recentemente se liberou o uso de produtos biológicos “on farming”, ou seja, a fermentação na fazenda de fungos e bactérias que promovem a proteção de plantas e o controle de doenças de solo e da parte aérea, principalmente contra fungos nocivos, bactérias e nematoides.

O caminho Os erros devem ser evitados atentando-se para informações técnicas corretas e recomendações confiáveis de profissionais da agricultura bem informados. Deve-se evitar profissionais sem formação e oportunistas de mercado de baixo custo e até despreparados. Os profissionais que têm habilidade para fazer prescri16

ção e receituário agronômico são o engenheiro agrônomo e o engenheiro florestal. Mesmo técnicos agrícolas de nível médio não apresentam a formação adequada nos seus currículos. Quanto ao sistema regulatório brasileiro ou Secretarias de Estado da Agricultura, a legislação para viveiros e mudas deve estar atualizada e em conformidade com as resoluções do Ministério da Agricultura, principalmente para auxiliar na proteção de plantas.

Investimento O preço dos indutores de resistências, fungicidas biológicos e químicos são indexados ao dólar. Nos dias atuais, com a pandemia de coronavírus e o dólar acima de R$ 5,00 e em ascensão, fica difícil estimar os custos, que dependem muito do número de pulverizações e intervalo das mesmas. Além dos produtos que são escolhidos ou comprados, todo o processo influencia no custo final. Como viveiros são áreas pequenas ou de no máximo poucos hectares, o custo é reduzido. Lembrar que qualquer sistema de produção de mudas busca a qualidade da mesma, e nesse caso o custo é reduzido para o agricultor, uma vez que o volume de fungicidas gasto é pequeno em função da área usada e volume de uso. Existem inúmeras vantagens para o agricultor em relação à proteção adequada das plantas, e no final das contas, não vale a pena correr o risco de ter doenças e/ou pragas na lavoura.


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VIVEIRO SUSPENSO NUTRIÇÃO DOS PORTA-ENXERTOS DE SERINGUEIRA José Geraldo Mageste Engenheiro florestal, Ph.D e professor - Universidade Federal de Uberlândia (ICIAG/UFU) jgmageste@ufu.br Vinícius Evangelista da Silva Engenheiro florestal e doutor em Solos e Nutrição de Plantas viniciusesilva@yahoo.com.br

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produção de porta-enxertos de seringueira em viveiro suspenso passou a ser uma exigência legal para evitar a contaminação das áreas plantadas por nematoides. Esta exigência iniciou no Estado de São Paulo e hoje já é comum em quase todos os Estados da Federação. Se, por um lado, esta exigência mostrou-se eficiente para o controle deste patógeno que tantos prejuízos tem trazido aos seringais de cultivo, por outro, veio exigir uma mudança na tecnologia de produção de mudas para obtenção de resultados satisfatórios. Continuam as exigências para uma seleção de sementes de porta-enxertos de alta qualidade, com vigor e, preferencialmente, advindas de plantios monoclonais. Esta uniformização das sementes facilita o manejo e os tratos silviculturais no futuro viveiro suspenso.

Nutrição dos porta-enxertos Primeiramente, deve ser lembrado que, apesar de o viveiro

ser suspenso, continua a exigência de uma sementeira no solo para germinação das sementes. Esta sementeira facilita a seleção inicial das plantículas, selecionando aquelas de crescimento inicial mais vigoroso, que produzirão os porta-enxertos em menor tempo de cultivo. Deve haver uma seleção na sementeira de pelo menos quatro grupos de plantas pela ordem de germinação. Isto facilitará os tratos silviculturais no futuro viveiro suspenso. A sementeira pode ser feita com serragem curtida ou areia lavada de textura média. Não existem preocupações com a nutrição das plantículas, já que elas serão transplantadas, seja na fase de paliteira ou pata de aranha. O que não pode faltar é a água. A irrigação da sementeira deve ser diária ou até duas vezes ao dia se a UR (Umidade Relativa do Ar) estiver abaixo de 30%. A preocupação com a nutrição adequada dos porta-enxertos inicia no viveiro (suspenso). Assim, tem que ser levado em consideração a composição do substrato a ser usado. Muitas vezes existe uma preocupação com a textura e a capacidade de umidificação do mesmo, esquecendo-se do seu papel na nutrição das plantas.

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Fotos Paulo Brito

Importância do magnésio De maneira geral, sabe-se que a seringueira é muito exigente em magnésio (Mg), tanto que as formulações de adubações são compostas de NPK Mg. Inicialmente, se diz que 17


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a plantícula de seringueira está “mamando”, pois a semente a acompanha por meio de dois sustentáculos, e realmente tem a função de fornecer nutrientes e carboidrato até a formação dos primeiros pares de folhas. Nesta fase a disponibilidade de nitrogênio pode ser satisfeita quase exclusivamente pelo substrato no tubete. O uso de uma fonte de esterco de gado ou de aves (5 a 10% do volume) no substrato cumprirá adequadamente esta função. Em muitos viveiros têm-se utilizado fontes de fósforo lentamente disponível, como os fosfatos naturais, na composição do substrato. Assim, com o crescimento das mudas o fósforo também vai se tornando disponível. Existem muitos estudos sobre elementos protegidos ou de liberação lenta que podem ser consultados na literatura ou esclarecidos por um engenheiro florestal experiente. A quantidade de fosfato natural no substrato não deve passar de 2% em volume.

Manejo

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Então, a nutrição das mudas (porta-enxertos) no futuro viveiro suspenso já se inicia com a preparação do substrato. Além das características de textura, porosidade e umidificação, deve

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ser levado em consideração a capacidade de fornecer adequadamente alguns nutrientes, como nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio. Conforme dito anteriormente, ao invés de se recomendar o uso de formulados (NPK Mg) com fontes prontamente solúveis, uma boa medida é usar parte do fósforo fornecido por fosfatos parcialmente acidulados ou protegidos. A mistura de até 1,5% em volume de fosfato natural tem facilitado o crescimento das plântulas nas fases inicial e posterior, antecipando o ponto de enxertia. Assim, recomenda-se o uso deste tipo de fonte de fósforo, complementado com outras fontes prontamente disponíveis, como superfosfato simples, triplo ou termofosfatos.

Próximo passo A preocupação com o nitrogênio, potássio, magnésio e micronutrientes aparece após a plântula se desmamar (geralmente após a emissão do segundo lançamento ou até três meses após o transplante da sementeira. Normalmente são usados tubetes de até 450 ml de volume (já existem viveiros com embalagens de até 1.200 ml), fa-


cilitando o desenvolvimento inicial das plântulas em termos de parte aérea e sistema radicular. Observações constantes sobre o desempenho do substrato no quesito conservação da umidade são muito importantes para acompanhamento do estado nutricional das plântulas. Substratos que facilitam o escoamento da água de irrigação devem ser evitados e necessitam ser complementados com soluções nutritivas com nitrogênio e magnésio (nunca ultrapassando 2,5% em volume). As cloroses, ou “espinha de peixe” com amarelecimento entre as nervuras, demonstram a necessidade imediata de adubação com magnésio. Ele deve ser feito por meio da irrigação com sulfato de magnésio (sem outro sal qualquer), em até 3% do volume de água, distribuído regularmente sobre as plântulas, sem preocupação com o “molhamento” das folhas. Na região centro-sul do Brasil, na chamada região de escape (por causa do mal-das-folhas), o desenvolvimento inicial das plântulas de seringueira coincide com a ocorrência de temperaturas amenas ou baixas. Nesta condição, existe uma redução considerável do metabolismo das plântulas e os nutrientes da água de irrigação conseguem satisfazer as exigências iniciais (principalmente o nitrogênio). Observações constantes do aspecto do limbo foliar e o ganho em crescimento em diâmetro do coleto indicarão a necessidade de adubações complementares com micronutrientes. Mas, com a chegada da primavera e, principalmente do verão, as plântulas devem ser nutridas com formulados NPK Mg, a exemplo do 10-10-10-06. Esta observação e ação devem ser maiores para os lotes de plântulas (porta-enxertos) que serão enxertados e transplantados até o final do verão, ou até janeiro do próximo ano.

Fontes nutricionais alternativas Constantemente se pergunta sobre uso de ácido húmico ou fontes alternativas de nitrogênio em viveiros em suspensão. A resposta é que não existe nenhum impedimento, principalmente em se pensando na quase inexistência da possibilidade de toxidez das plantas. Os fertilizantes solúveis devem ser preferencialmente usados nos viveiros suspensos, dada a sua facilidade de obtenção como a resposta quase imediata da aplicação. Mas, lembra-se, novamente, que plântulas fertilizadas somente devem ser enxertadas após 30 dias. É a mesma regra para os viveiros conduzidos no solo. O “pegamento” de enxertos será melhor em porta-enxertos sadios e bem nutridos.

Mais produtividade A técnica em nada difere dos viveiros conduzidos no chão. Os viveiros suspensos são eficientes para o controle da disseminação de nematoides. Um substrato de qualidade possibilita às plantas um bom desenvolvimento inicial e ganhos em diâmetros que facilitam a enxertia em curto espaço de tempo. O uso de sulfato de magnésio, junto com micronutrientes como ferro, cobre, zinco e manganês, em soluções (de até 3% em volume) aplicadas a cada 25 dias, proporcionou a enxertia em viveiros suspensos com cinco meses de idade, na região

do Triângulo Mineiro. É lógico que este desempenho se deu também pelas condições climáticas adequadas. A escolha do substrato é fundamental para o viveiro suspenso. Em alguns casos, notou-se a perda total do mesmo após três meses de existência. Isto resultou na perda de quase todas as plântulas sem haver enxertia ainda. O mais frequente é se assustar com os sintomas de deficiências de nutrientes, principalmente magnésio, potássio e micronutrientes e aplicar doses ‘cavalares’ de nutrientes, pensando que a deficiência será corrigida da ‘noite para o dia’. É necessário ter paciência, acertar a dosagem mínima, não causar salinização do substrato e entender que se trata de um viveiro suspenso, logo, com limitações de volume para receber toda a fertilização fornecida por meio da irrigação. Observações diárias do estado nutricional dos porta-enxertos são a melhor maneira de se evitar erros nutricionais. Procure estudar e qualificar com precisão os sintomas apresentados. Eles podem gerar confusões. Troque experiência com engenheiros florestais qualificados. Lembrando que a qualidade da muda é fundamental para a formação de um bom seringal. Pense nisto.

Custo x benefício O custo da fertilização adequada do porta-enxerto é muito pequeno em relação ao preço da muda. Ele não chega a 4% do valor final. Mudas vigorosas são resistentes a intempéries climáticas. Lembrando que a fertilização do porta-enxerto vai reduzir o tempo da muda no viveiro suspenso. Viveiros suspensos possuem custo de irrigação superior àqueles no solo, mas quanto mais rápido as mudas forem produzidas, menor será o custo de energia, mão de obra e, principalmente, com a manutenção do viveiro.

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COMO AUMENTAR A RENDA COM ILPF Ricardo Steinmetz Vilela

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CAFÉ E CEDRO AUSTRALIANO

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Ricardo Steinmetz Vilela Sócio-diretor da Bela Vista Florestal e presidente da ProCedro – Associação Brasileira dos Produtores de Cedro Australiano ricardovilela@belavistaflorestal.com.br

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á anos os órgãos de pesquisa vêm apontando as vantagens da integração entre culturas florestais, agrícolas e a pecuária, sendo o principal a Embrapa, que há anos estuda o tema. As vantagens dos sistemas agroflorestais já são bastante conhecidas e se traduzem em benefícios ecológicos, agronômicos e financeiros. Neste artigo quero focar o consórcio entre o café e o componente arbóreo cedro australiano (Toona ciliata), um modelo que adotamos há mais de oito anos na Bela Vista Florestal. As duas espécies têm ganhos significativos quando cultivadas conjuntamente.

Vantagens Os benefícios ecológicos são relacionados ao aumento da biodiversidade e uso eficiente e racional dos recursos naturais, como solo, luz, água e nutrientes. Os benefícios agronômicos devem contemplar as duas culturas, e estão relacionados à melhora na fertilidade do solo, à redução das variações microclimáticas e, consequentemente, à redução de riscos de perda de produção. Também há melhor distribuição da mão de obra ao longo do ano e diminuição do controle de plantas invasoras. As maiores vantagens específicas para o café são a diminuição da amplitude térmica, com dias menos quentes e noites menos frias, proteção contra ventos, granizo e veranicos. Tudo isso, somado, acaba reduzindo a bianualidade característica da cultura.


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O cedro encontra como vantagens diretas uma enorme compatibilidade nutricional com o café. Tanto os tratos culturais quanto fitossanitários e controle de mato-competição proporcionam, com baixo custo, uma altíssima produtividade por árvore. Por fim, entre os benefícios econômicos temos a diluição de riscos por exposição ao preço de uma única comodity, a maturação mais lenta e homogênea dos grãos, que têm menor exposição ao sol e, consequentemente, a melhora na qualidade da bebida e no preço do produto. Não menos importante, há a possibilidade de certificação e diferenciação do café produzido no empreendimento, que vem se tornando uma necessidade frente a um mercado cada vez mais exigente.

Bom para todos Quando comparado ao plantio florestal tradicional, o consórcio traz antecipação de receita, variedade de produtos e redução dos custos da implantação florestal. O sistema traz ganhos financeiros para ambas as culturas. O café apresenta aumento de qualidade e preço do produto, sem ter sua produtividade reduzida. O cedro atinge, com baixo custo e menos tempo, um diâmetro médio acima de 50 cm, proporcionando um mix de madeira produzida com maior porcentagem de classe A e B. Essas classes são comercializadas com mais facilidade e alto valor.

te é feita para evitar formação de nós na madeira e diminuir a conicidade dos troncos, aqui também serve para dosar o sombreamento na lavoura. Em experimentos onde o café ficou muito sombreado, a produtividade foi comprometida. É importante ressaltar que no espaçamento adequado, para não sombrear excessivamente o café, são plantadas cerca de 100 árvores por hectare. Nesse caso, não haverá competição entre elas. Isso é uma vantagem em termos de aceleração de ganho diamétrico, mas a falta de competição não pode prejudicar a forma das árvores. No caso do cedro australiano, a forma florestal (fuste reto) era constantemente afetada antes do desenvolvimento dos materiais genéticos adequados. Hoje há, no mercado, clones de cedro australiano que mantêm forma excepcional para serraria, mesmo em espaçamentos amplos.

Diversificação O consórcio de café com cedro australiano é uma excelente alternativa para o produtor que visa diversificar suas atividades dentro da propriedade, principalmente dentro da silvicultura. Apesar do cedro australiano ser uma cultura recente no Brasil (introduzido em 1975) em comparação ao café,

Por onde começar

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A implantação do consórcio pode ser feita junto com a implantação da lavoura de café, ou em fase posterior, com a lavoura já adulta, quando se retira o pé de café que vai dar lugar à muda de cedro. Em ambos os casos, é importante levar em consideração o espaçamento das duas culturas, para que o componente florestal não prejudique o café. O espaçamento utilizado na Bela Vista Florestal é de 20 x 5,0 m para o cedro, com 100 plantas por hectare, e de 4,0 m x 0,5 m para o café, com 5.000 plantas por hectare. A cada quatro linhas de café puro, seguimos com uma linha de café com uma planta de cedro a cada cinco metros. No passado outros testes foram feitos, e esse espaçamento foi adotado por não prejudicar os tratos culturais do cafeeiro e manter o sombreamento moderado sem comprometer a produção do mesmo. A colheita mecanizada é uma necessidade cada vez mais premente, frente às dificuldades de se obter mão de obra no campo. Nesse formato, apenas 20% da lavoura deve ser colhida a mão. A cada cinco linhas de plantio, quatro são colhidas de forma mecanizada.

Os tratos culturais e manejo do cafeeiro não são diferentes por causa do consórcio, a não ser no detalhe da colheita, explicado anteriormente. Já os tratos culturais do cedro são drasticamente reduzidos, pois este se beneficia dos fertilizantes e defensivos necessários para a cafeicultura. A poda de galhos, ou desrama do cedro, que normalmen-

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é um dos modelos de consórcio que conta com boa produção técnica e científica, atraindo a atenção de pesquisadores e interessados. Isto é muito importante quando se leva em conta a segurança tecnológica por trás do investimento, seja na parte de cultivo do cedro, na produção de madeira, mercado e de materiais genéticos testados.

Pesquisas

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São várias instituições que já desenvolveram trabalhos com o consórcio. A UFV e o Pró-Café desenvolvem pesquisas há pelo menos uma década e os resultados estão disponíveis na internet. A Embrapa Florestas lançou recentemente um importante documento sobre o tema. O trabalho chamado “Estudo da rentabilidade econômica do cedro australiano em plantios puros e consorciados com café” foi conduzido em parceria com pesquisadores da Embrapa, Instituto Ipê e Caeté Florestal, empresa agroflorestal que aposta na consorciação. Desenvolvido em um campo experimental implantado em uma fazenda da Caeté Florestal, no município de Nepomuceno (MG), o trabalho comparou a produtividade e rentabilidade do consórcio com o cedro australiano seminal. A pesquisa também testou diferentes materiais genéticos de alta produtividade da linha de clones de cedro BV 1000, desenvolvidos pela Bela Vista Florestal. A possibilidade de utilizar materiais genéticos superiores de cedro australiano otimiza muito o consórcio entre as espécies, facilita o manejo florestal, aumenta a produtividade da madeira, uniformizando a madeira produzida e o sombreamento do cafezal dentro de uma mesma área. Isto representa um enorme ganho tecnológico dentro do consórcio. A oportunidade de se produzir madeira junto com o café dentro de uma mesma área, sem aumento significativo dos custos ou redução da produtividade e rentabilidade do café, é um importante fator a ser considerado na geração de renda em propriedades rurais, independentemente de seu tamanho. A madeira serrada de cedro australiano já está disponível no mercado, com bom valor agregado e com difusão em diversos segmentos industriais. Sua utilização junto à movelaria e à produção de esquadrias tem mostrado que a espécie tem um excelente nicho frente à exaustão de outras madeiras consagradas utilizadas no Brasil, como o cedro brasileiro, especialmente devido a sua enorme similaridade.

Bela Vista Florestal

Custos

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Quando comparado com o cultivo convencional de café, o aumento dos custos ocorre basicamente pela aquisição das mudas de cedro, pelo manejo de desrama até o quinto ano e aumento no rigor com controle de formigas. O custo tende a aumentar também pela colheita manual nas linhas de café com cedro. Tirando a colheita de ambas as espécies, o custo de se implantar o cedro é simbólico e representa apenas 3% do custo necessário para produzir o café desde a implantação durante o período de 15 anos. Como são implantadas entre 100 e 120 plantas de cedro/ ha nas lavouras de café, o custo de plantio do cedro gira em


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Rodrigo Lima

Mais produtividade madeireira Lavouras de café bem conduzidas também irão proporcionar grande produtividade de madeira. É possível esperar produtividades em torno de 15 m³/ha/ano. Para fins de cálculos, esta produtividade conservadora está sendo assumida para clones como o BV 1110 e o BV 1120, apesar de inventários realizados em plantios consorciados com 7,5 anos mostrarem DAP médio de 39 cm e volume por hectare de 199 m3 de madeira, portanto, muito superiores às premissas utilizadas para cálculos de rentabilidade, taxa de retorno e valor presente do investimento. Aos 15 anos é possível ter um aproveitamento útil de cerca de 80% do volume de toras produzidas para serraria. Plantas com diâmetro de 50 cm de DAP, em média, irão proporcionar cerca de 50% de conversão na serraria (2,0 m³ de tora para 1,0 m³ serrado). O cedro australiano tem sido comercializado, atualmente, pelo valor médio de R$ 2.500,00 o m³ de madeira serrada. Dessa forma, é possível obter a produção de cerca de 90 m³ de madeira serrada/ha após o período de 15 anos. Importante ressaltar que a produtividade do cedro dependerá do empenho do produtor para alcançar os valores citados e que, mesmo que no futuro a realidade seja diferente da expectativa (valendo para melhores ou piores cenários), o investimento do produtor no consórcio é considerado baixo, perto dos ganhos possíveis.

Mais lucro para o café Já em relação ao café, foi considerada uma produtividade média de 29 sacas/ha/ano, com um preço médio da saca em torno de R$ 470,00. A substituição de cerca de 120 plantas no cafezal implicará na redução de uma saca/ha em média durante o consórcio, impactando pouco na margem de lucro, redução já contabilizada na produtividade média citada anteriormente. Não consideramos aqui a possibilidade de aumento no preço da saca pela maior qualidade do café produzido, como vem acontecendo com produtores que adotaram esse sistema. O retorno do investimento depende diretamente do sucesso do produtor na cafeicultura, pois é dela que sairá a receita anual dentro do consórcio até a colheita da madeira. Com todo o investimento e despesas feitas na cultura do café, o cedro não apresenta impacto direto no fluxo de caixa do empreendimento. Como é habitual na cafeicultura, as lavouras começam a produzir a partir do 3º ano e o retorno do investimento ocorrerá a partir do 8º ano na atividade.

Atenção! Uma boa gestão é fundamental durante o processo, pois visa reduzir os custos na produção do café, assim como obter bons valores para venda. O bom controle das pragas e doenças do cafeeiro impactam nos custos e produtividade, aumentando a margem de lucro na atividade. O manejo nutricional que garante produtividade e sanidade para ambas as espécies deve ser feito com rigor. O conhecimento necessário para o consórcio pesa muito mais para a gestão do café do que do cedro australiano, que tem manejo e custos simplificados nesta atividade. Ou seja, de nada adianta ser um mau cafeicultor, acumulando prejuízos por 15 anos, esperando consertar tudo com a venda da madeira no fim do ciclo.

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torno de R$ 1.000,00/ha, já considerando o coveamento, insumos e plantio das mudas. Os custos com a colheita do cedro giram em torno de 10% da rentabilidade esperada com a madeira. Em relação à adaptação na colheita do café, o custo da colheita manual é aproximadamente o dobro do custo da colheita mecanizada e será necessário em 1/5 da lavoura, nas linhas onde as plantas de cedro estão presentes. Este é o maior impacto de custo para a cafeicultura, mas se justifica pela rentabilidade obtida com a madeira dentro do consórcio.

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NANOCELULOSE DE PINUS E EUCALIPTO NOVO ESPESSANTE PARA FABRICAÇÃO DE ÁLCOOL EM GEL

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A nanocelulose do tipo microfibrilada (conhecida como MFC) de pinus e de eucalipto pode atuar como espessante e emulsificante eficaz no preparo de álcool antisséptico e álcool em gel

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Fotos Embrapa Florestas

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esquisadores da Embrapa Florestas (PR) demonstraram que a nanocelulose do tipo microfibrilada (conhecida como MFC) de pinus e de eucalipto pode atuar como espessante e emulsificante eficaz no preparo de álcool antisséptico e álcool em gel, produtos utilizados na linha de frente dos cuidados para evitar a contaminação pelo coronavírus e com grande procura pelo mercado consumidor. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), com a pandemia do coronavírus, a demanda global por álcool em gel cresceu dez vezes em relação ao registrado em 2019. Isso resultou na falta do principal espessante usado na sua fabricação: o carbopol. O problema levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a flexibilizar as normas para a fabricação de álcool em gel e diversas instituições têm atuado na produção e disponibilização do produto. Washington Magalhães, pesquisador da Embrapa Florestas, explica que o grupo da Tecnologia da Madeira da Embrapa Florestas trabalha com a produção e aplicação de nanocelulose há muito tempo, sempre focando nos três pilares da sustentabilidade: o social, ambiental e econômico. “Felizmente, quando o problema da falta de espessante surgiu, já tínhamos expertise suficiente para propor esta inovação. Foi algo natural para o grupo, mas respaldado em muitos anos de trabalho prévio. Uma das aplicações promissoras para a nanocelulose é relacionada à modificação de propriedades de gelificação de substâncias e facilidade de aspersão por spray”, relata.

A tecnologia O Laboratório da Tecnologia da Madeira da Embrapa Florestas tem trabalhado em diferentes formulações para elaboração do álcool 70% usando nanocelulose de pinus e de eucalipto como espessante, em substituição ao carbopol. A celulose branqueada passa por um processo de desfibrilação mecânica, que resulta na suspensão aquosa de nanocelulose, que tem propriedades de um gel e é capaz de substituir o carbopol na emulsificação. “Começamos com a polpa branqueada de pinus porque ela dá origem a uma suspensão de nanocelulose com maior viscosidade que a de eucalipto. Mas, logo em seguida testamos a polpa de eucalipto e adaptamos formulações”, conta Washington Magalhães. A formulação desenvolvida foi publicada em um comunicado técnico. A MFC foi produzida com a colaboração da área de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa Klabin, que conta com uma planta-piloto de produção de MFC capaz de obter um grau de desfibrilação adequado à produção do álcool em gel. “Essa equipe está focada no desenvolvimento de novos produtos e processos”, conta Carlos Augusto Santos, gerente corporativo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Klabin.

Entenda melhor A madeira e qualquer outro vegetal é formado por três grupos principais de moléculas, que são chamadas de celulo-


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O álcool em gel O álcool em gel foi desenvolvido para ter uma evaporação mais lenta, quando espalhado em superfícies, e aumentar a segurança contra acidentes. A evaporação mais lenta significa que os microrganismos de uma superfície sejam inativados com maior eficiência - é preciso um tempo mínimo de contato do álcool com os patógenos que se quer evitar. E se o álcool for gelificado, Washington Magalhães ressalta que também evitamos que em um acidente ele se espalhe em demasia, levando a uma eventual chama de maneira descontrolada. “Ocorre que, durante períodos de epidemia, ou como agora, de pandemia, a procura por álcool em gel aumentou em proporção muito maior do que as indústrias po-

deriam fabricar, um fenômeno mundial, não apenas nacional”. O gelificante chamado de carbômero ou carbopol é o que a ANVISA já tinha autorização de uso atendendo a todos os requisitos exigidos - uma pena que este produto não seja ainda fabricado no Brasil e que seja de origem fóssil. Assim, com a falta do gelificante convencional, temos a oportunidade de desenvolver uma tecnologia sustentável, a celulose em substituição ao produto importado. “Os primeiros produtos que fizemos, adicionamos a mesma quantidade de celulose que se empregava normalmente com o gelificante convencional, concentração em torno de 0,5% em peso no álcool 70% (o melhor usa o ‘grau’). Mas, estamos mudando a formulação, modificando a nanocelulose e propondo um aumento nessa concentração. É um desenvolvimento em andamento para melhorar ainda mais o que já atingimos”, acrescenta o pesquisador.

Produto usado por fiscais em postos de fronteira Na primeira fase, 100 litros de álcool antisséptico 70% foram enviados à Vigilância Sanitária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para uso especialmente em postos de fronteira do Paraná e de Santa Catarina. “Nossa equipe já testou a formulação em relação à efetividade e estamos seguros da qualidade do produto, pois todos os ingredientes fazem parte do Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira”, esclarece Magalhães. O pesquisador ressalta que o álcool usado é o 92,8 GL, proveniente de fabricantes tradicionais, e que o trabalho consistiu em transformá-lo em gel antisséptico 70%. Em paralelo, o trabalho continua com a definição de outras “formulações” para fabricação de álcool em gel, utilizando diferentes nanoceluloses. “A parceria com a Klabin vai ampliar nossa capacidade de produção e de distribuição neste momento de pandemia, além de fortalecer a contribuição técnica entre os times”, explica o cientista da Embrapa. “Ainda é feito em peque-

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se (componente majoritário), lignina e hemicelulose. No Brasil, as fábricas de celulose têm uma das melhores tecnologias para a produção de celulose a partir de plantios florestais. “E os plantios que usamos são de pinus e eucalipto”, detalha o pesquisador da Embrapa. “O Brasil é muito eficiente nesse plantio, e dominamos com maestria toda a silvicultura envolvida, assim como aproveitamos a melhor tecnologia industrial para o cozimento da madeira e remoção da celulose. O processo que usamos chama-se kraft, e é o que apresenta melhores resultados econômicos. Temos no País um enorme investimento, com muitas fábricas instaladas. Estamos entre os três maiores produtores mundiais de polpa de celulose e exportamos um bom volume”, esclarece Washington Magalhães. Esta celulose é a principal matéria-prima para a fabricação do papel e papelão. Mas não apenas isso, a celulose também pode ser usada na produção de celofane, fios para produção de tecidos, tintas, etc. Uma das atividades desenvolvidas pela equipe da Embrapa é aumentar o campo de aplicação de produtos florestais visando melhorar a lucratividade da área de maneira sustentável.

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Principal espessante do mercado usado para o álcool, carbopol está ficando escasso devido ao aumento da demanda

Feito em parceria entre a Embrapa e a Klabin, novo espessante está sendo produzido em escala de laboratório

Produto já é usado por fiscais do MAPA em postos de fronteira

Aperfeiçoamento se dará nas Unidades de pesquisa da Embrapa

na escala, pois nossos laboratórios não estão preparados para grandes produções.”

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Aperfeiçoamento coletivo na rede da Embrapa Para isso, a MFC será distribuída para outras unidades da Embrapa em todo o Brasil, com instruções para a preparação de álcool antisséptico em gel, de forma que cada uma delas possa manipular o produto e usá-lo no seu dia a dia. Uma vantagem é que esse repasse permitirá que outros laboratórios experimentem e sugiram aperfeiçoamentos de formulação. Como se trata de uso experimental, neste momento os produtos terão distribuição dirigida e controlada, seguindo normas e protocolos de segurança. “Entendemos que a agilidade é imperativa neste momento, mas precisamos fazer com segurança”, pondera o cientista. A nanocelulose utilizada na pesquisa provém de polpa de celulose branqueada, que também é matéria-prima na fabricação de papel, papelão ondulado e fraldas descartáveis, por exemplo. “Esse é mais um uso para a matéria-prima de plantios florestais”, declara Magalhães. “São produtos presentes no dia a dia, que a população em geral nem faz ideia que vêm de árvores plantadas com fins produtivos, de forma renovável e sustentável”.

A MFC A MFC é um dos produtos que se pode obter, dependendo do processo usado de nanoestruturação da celulose. A ce28

lulose nanoestruturada pode ser obtida de diversas maneiras: por meio de processos químicos, como a hidrólise ácida controlada, que produz cristais de nanocelulose (CNC, “cellulose nanocrystals”); ou por processos mecânicos de desfibrilação da celulose. Os processos mecânicos podem ser feitos após ou simultaneamente a tratamentos químicos, que originam a chamada celulose nanofibrilada (NFC, “nanofibrillated cellulose”). Também podem ser realizados sem uso de nenhum reagente, apenas água, que originam a celulose microfibrilada, também chamada de MFC (“microfibrillated cellulose”) e utilizada nesse processo desenvolvido pela Embrapa.

Material versátil para múltiplos usos A nanocelulose tem potencial de uso em diversos setores: cosméticos, fármacos e alimentos, com a função de controlar a viscosidade e estabilizar a suspensão de óleos. Na área de alimentação é empregada em revestimentos comestíveis e embalagens. Existem canetas japonesas com tintas contendo NFC. Pode-se fazer, ainda, membranas para curativos ou para ultra e nanofiltração; aditivos em cimentos, entre outros. A maior aplicação em volume, possivelmente, será no reforço em papelão e papel-cartão dentro das próprias indústrias de papel e celulose. O segundo mercado consumidor da MFC, em volume, poderá ser o agronegócio, com o desenvolvimento de fertilizantes de liberação lenta e agroquímicos, como agente antideriva, e também no revestimento de frutas.


OPÇÕES

QUAL CLONE DE EUCALIPTO PLANTAR? Pollyane da Silva Hermenegildo Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Fitopatologia – Universidade de Brasília (UnB) hermenegildo.pollyane@gmail.com

Rodrigo Galvão de Freitas Engenheiro florestal, mestre e doutorando em Fitopatologia – Universidade Federal de Viçosa (UFV) rodrigogalvaof@gmail.com

E

xistem vários tipos de clones de eucalipto disponíveis no mercado, sendo que para a escolha do “clone ideal” é necessário determinar a finalidade antecipada que se deseja instalar o plantio (serraria, carvão, celulose ou outros) e, além disso, o produtor deve considerar materiais mais adaptáveis para a região, levando em consideração clima, solo e histórico de pragas e doenças do local onde será realizado o plantio. Por exemplo, o clone I144 (híbrido Eucalyptus urophyla x E. grandis) é indicado para produção de móveis e de carvão. Este material é capaz de expressar seu potencial máximo nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás. No entanto, se plantado em outras regiões, como no Estado do Espírito Santo ou Bahia, pode ter sua produção drasticamente afetada pela doença conhecida por ferrugem das mirtáceas, causada pelo fungo Austropuccinia psidii. Portanto, levando em consideração os fatores expostos, é sempre importante contar com a informação de um profissional para auxiliar nas informações sobre quais são os melhores clones para determinado produto e região.

Vantagens O plantio de mudas clonais, comparativamente ao plantio de mudas oriundas de sementes, apresenta maior produtividade por formar florestas totalmente uniformes, eliminan-

do a heterogeneidade e variações no produto final. Na década de 70 a produtividade estava em torno de 20 m3/ha/ano, e hoje a média nacional está em torno de 36 m3, com regiões que ultrapassam os 45 m3/ha/ano, graças à clonagem. Além disso, determinado clone pode ser escolhido por possuir características de interesse que sobrepõem em relação aos demais materiais genéticos, como por exemplo: resistência às doenças, tolerância a temperaturas extremas ou estresse hídrico, densidade da madeira, rendimento de celulose, entre outras. A aquisição das mudas para implementação de uma floresta representa um pequeno percentual em relação ao custo total para a implementação. Portanto, não vale a pena economizar na aquisição de mudas de boa qualidade, de origem idônea e de material genético mais indicado para a finalidade desejada e local de plantio. O milheiro de mudas clonais ainda possui um valor um pouco mais elevado, quando comparado com mudas seminais, no entanto, os ganhos proporcionados pelo plantio do material clonal correto se sobressaem devido à maior produção, resultado da genética embarcada.

Manejo Quanto ao manejo, a escolha de um material genético adaptado às condições edafoclimáticas da região é fundamental para o produtor florestal tomar decisões sobre o número de rotações ou ciclos de uma produção. O produtor deve atentar-se em investir em mudas de qualidade, isentas de pragas e doenças, adquirindo as mesmas de viveiros idôneos, além de realizar o preparo do solo adequadamente e seguir o espaçamento proposto para o clone adquirido. Também é de extrema importância para o eucaliptocultor contar com acompanhamento para o controle da matocompetição, monitoramento de pragas e doenças e recomendação de adubação.

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Cláudio Roberto Ribeiro

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PRAGA

VESPA-DA-GALHA-VERMELHA

NOVA AMEAÇA AOS EUCALIPTOS NO BRASIL Pedro Guilherme Lemes Professor de Entomologia Florestal - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pedroglemes@ufmg.br

O

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aumento do fluxo de pessoas e do comércio mundial, combinado com a “globalização” das culturas agrícolas e florestais, têm resultado na introdução e estabelecimento de insetos e doenças exóticas. Isso é observado no Brasil, incluindo plantios de eucalipto e pinus, com aumento na taxa de introdução de insetos herbívoros exóticos. O setor florestal brasileiro sofre grandes perdas financeiras por conta desses insetos. Em apenas cinco anos (2003-08), quatro espécies de insetos nativas da Austrália e associadas aos eucaliptos foram detectadas pela primeira vez no Brasil: o psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei) (Hemiptera: Aphalaridae), o percevejo-bronzeado (Thaumastocoris peregrinus) (Hemitpera: Thaumastocoridae) e duas vespas galhadoras, a vespa-da-galha-do-citriodora (Ephichrysocharis burwelli) (Hymenoptera: Eulophidae) e a vespa-da-galha (Leptocybe invasa) se disseminaram por todo o País e causaram prejuízos estimados superiores a R$ 1 bilhão. Em abril de 2020, folhas de híbridos de Eucalyptus grandis x E. camaldulensis (clone 3025), e de E. punctata, E. tereticornis e E. saligna demonstrando galhas espalhadas em grande número pelo limbo foliar, de maneira diferente das provocadas por L. invasa (colocadas na nervura central e pecíolos), foram encontradas no viveiro de pesquisa florestal do IPEF, em Piracicaba (SP). Esse material foi levado e identificado pelo professor Carlos Wilcken, da Unesp de Botucatu, que após minuciosa análise dos adultos emergidos em laboratório, identificou o galhador como sendo Ophelimus maskelli (Ashmead) (Hymenoptera: Eulophidae). Essa espécie era considerada praga quarentenária A1 para o Brasil, mas sua detecção em território nacional demonstrou que o País não está apto a detectar pragas florestais exóticas, que podem adentrar de forma direta (nos portos e aeroportos) como de forma indireta, pelas fronteiras com países vizinhos, como a Argentina, que já tinha essa vespa desde 2014. No entanto, ainda não se sabe qual foi a rota de entrada dessa praga no Brasil.

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Vespa-da-galha-vermelha

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A vespa-da-galha-vermelha, ou Ophelimus maskelli, é uma espécie nativa da Austrália e foi registrada pela primeira vez como praga na Itália em 1999. Em seguida, essa vespa se espalhou para outros países banhados pelo Mediterrâneo, como


PRAGA

Ana Maria Diniz

Fases Essa vespa passa por três fases de larva dentro da galha, uma fase de pupa que não se alimenta e o adulto, que emerge cortando um orifício redondo na parede da galha próximo

à superfície da folha. Essa praga é exclusiva dos eucaliptos e já foi registrada em Eucalyptus bridgesiana, E. botyoides, E. camaldulensis, E. cinerea, E. globulus, E. grandis, E. gunii, E. nicholii, E. pulverulenta, E. robusta, E. rudis, E. saligna, E. tereticornis e E. viminalis, além de E. punctata e híbrido E. grandis x E. camaldulensis, registrados pela primeira vez no Brasil.

Prejuízos Quando o ataque de O. maskelli é intenso, ou seja, quando há um número muito grande de galhas nas folhas, ocorre a queda prematura das folhas, logo após a emergência das vespas adultas. Em Israel, folhas que sofreram ataques intensos dessa praga sobreviveram apenas 70 dias, enquanto folhas normais duram, em média, 243 dias. Em condições favoráveis à vespa, as populações dessa vespa podem atingir níveis altíssimos. Nessas ocasiões, árvores fortemente atacadas ficam com boa parte da copa ressecada ou desfolhada. O ataque, se não controlado, pode ocasionar total desfolhamento e, consequentemente, a morte de árvores jovens ou recém-plantadas. Ophelimus maskelli é conhecido pelos grandes prejuízos causados às plantações de eucalipto, principalmente em E. camaldulensis no Mediterrâneo e Oriente Médio.

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Israel, Portugal e Turquia. Hoje, também se encontra distribuída na Argentina, África do Sul, Estados Unidos, Norte da África, Oriente Médio e Nova Zelândia. O adulto dessa vespa é um inseto muito pequeno (em torno de 1 mm de comprimento) e se reproduz por partenogênese, ou seja, uma fêmea pode dar origem a novos insetos (nesse caso, fêmeas) sem a necessidade de copular. A fêmea coloca o ovo nas folhas de eucalipto, induzindo a formação de galha, uma espécie de tumor em formato de grão arredondado, onde apenas uma larva irá se desenvolver. Cada fêmea pode colocar em torno de 100 ovos, preferindo folhas jovens, principalmente, na região próxima ao pecíolo, mas em surtos pode cobrir toda a superfície da folha. A parte de baixo da copa costuma ser a primeira a ser afetada. A galha, inicialmente, tem cor esverdeada-amarelada mas se exposta ao sol, fica avermelhada, o que deu origem ao seu nome popular, escolhido pelo professor Carlos e pesquisadores da UNESP. Em Israel, essa espécie tem três gerações por ano e, numa infestação intermediária podem ocorrer 130 galhas por folha.

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PRAGA

Esses insetos, quando em altas infestações, podem causar incômodo às pessoas, além dos danos às árvores. Houve casos no Oriente Médio de que havia tantas vespinhas no pico de emergência da praga que as atividades humanas nas indústrias ou culturas agrícolas próximas às plantações de eucalipto tiveram que ser interrompidas, pelo tamanho incômodo causado aos trabalhadores.

Sintomas Como citado anteriormente, os sintomas são a formação de galhas redondas e avermelhadas na lâmina foliar, ao contrário da vespa-da-galha que as fazem nas nervuras e pecíolos. As árvores, quando muito atacadas, apresentam parte da copa ressecada ou desfolhada. Também é possível observar as vespas adultas sobre as folhas, quando em altas infestações, já que são muito pequenas.

Regiões mais afetadas O inseto foi detectado em Piracicaba (SP), e acredita-se que ainda esteja restrito a essa região de Campinas e arredores no Estado de São Paulo. Por isso, técnicas de manejo que evitem sua disseminação são muito importantes e devem ser adotadas o quanto antes, para que não ocorra o que aconteceu com a vespa-da-galha.

Monitoramento

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O monitoramento da vespa-da-galha-vermelha é muito importante nesse momento para detectar sua presença e eliminar materiais infestados, além de determinar sua distribuição atual no País. Estudos demonstraram que o uso de armadilhas adesivas, de cor verde, é o mais indicado no monitoramento, já que essa vespa é mais atraída por essa cor do que as outras. No entanto, armadilhas amarelas também podem ser usadas, já que muitos produtores já as usam no monitoramento do percevejo-bronzeado e o psilídeo-de-concha. Árvores armadilhas, com material suscetível, como E. camaldulensis, também podem ajudar na rápida detecção desse inseto. A vistoria das plantas no campo também é muito importante, pois até o momento em que foi escrito esse texto, não foi detectada a presença dessa praga em condições de plantio no Brasil. Deve-se olhar, principalmente, por materiais mais suscetíveis. Caso seja detectada, deve-se comunicar imediatamente às autoridades (Embrapa, MAPA ou pesquisadores da área). Quanto mais a distribuição dessa praga for restrita, maiores serão nossas chances de ter sucesso no controle.

Bruna Souto

Controle silvicultural/físico

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Todas técnicas de controle disponíveis para o manejo dessa praga são, até o momento, de caráter preventivo, já que depois que ela se alastra não existem muitas opções curativas disponíveis e efetivas. É muito importante limitar o acesso de visitantes a viveiros de mudas de eucalipto e restringir o comércio e transpor-


PRAGA

te de mudas de áreas que possam estar infectadas para outras regiões ou Estados ainda sem a presença da mesma. A vespa L. invasa se disseminou por todo o Brasil dessa maneira, através da permuta de mudas entre empresas florestais, algo muito corriqueiro entre elas. Caso a vespa-da-galha-vermelha seja detectada em viveiros, todo material vegetal que tenha alguma suspeita de sua presença deve ser coletado e incinerado. Isso evita que ela complete seu ciclo e se dissemine ainda mais. A mesma coisa deve ser feita com mudas e árvores em campo.

Uso de plantas resistentes Uma forma de controle que estará disponível a médio e longo prazo é o uso de material genético resistente a essa praga. Em estudo com 84 espécies, 14 demonstraram ser hospedeiras (citadas anteriormente) e as mais suscetíveis a essa praga foram E. camaldulensis e E. tereticornis. No Brasil, E. camaldulensis e híbridos de E. grandis x E. camaldulensis foram os mais atacados. Já E. saligna e E. punctata tiveram uma infestação considerada média.

eleon. Selitrichodes neseri (parasitoide usado hoje no Brasil no controle de L. invasa) já foi relatado parasitando O. maskelli na África do Sul, e pode ser mais uma ferramenta no manejo dessa praga no futuro.

Controle químico O controle químico de O. maskelli ainda é limitado. Em estudos com árvores jovens e pequenas, a aplicação de neonicotinoides sistêmicos mostrou alguma proteção. Inseticidas utilizados no controle de L. invasa podem ser usados, em caráter excepcional, em mudas antes de sair do viveiro, para prevenção. Os inseticidas registrados para L. invasa são a base de bifentrina, imidacloprido e tiametoxam. No entanto, não há produto registrado para O. maskelli no Brasil, já que é uma praga muito recente. Em um estudo, a aplicação de caulim, produto de argila poroso e branco, em mudas de viveiro reduziu a oviposição dessa vespa, por tornar a folha menos adequada para isso. Entretanto, essa técnica pode não ser viável em grandes áreas.

Controle biológico Quase sempre que uma praga exótica é introduzida em um país, seus inimigos naturais não a acompanham. Logo, uma das primeiras estratégias de manejo utilizada é o controle biológico clássico, isto é, ir ao local de origem da praga e buscar seus inimigos naturais. Por nossa sorte, um dos inimigos naturais de O. maskelli foi introduzido acidentalmente, junto com a praga, poupando o nosso trabalho de introduzi-lo. Trata-se de uma vespa parasitoide do gênero Closterocerus, possivelmente Closterocerus chamaeleon (Hymenoptra: Eulophidae). Closterocerus chamaeleon é de origem australiana e foi introduzido em Israel e posteriormente na Itália para controle biológico da vespa-da-galha-vermelha e é eficiente na redução populacional. Na Argentina, também foi introduzido acidentalmente junto com a vespa. Esse parasitoide se reproduz por partenogênese e somente fêmeas são produzidas. Outros parasitoides foram descritos para essa vespa e introduzidos em Israel, mas sem o mesmo sucesso de C. chama-

Considerações finais O Brasil tem recebido muitas novas pragas da silvicultura nas últimas décadas, e essas têm entrado com uma certa facilidade, demonstrando que devemos melhorar o monitoraramento e a detecção em nossos aeroportos, portos, rodovias e fronteiras. Após a entrada de um inseto exótico é quase impossível erradicá-lo e, ao contrário da agricultura, o melhoramento e seleção de genótipos resistentes de árvores demoram vários anos. Logo, um inseto exótico que adentra o País não afetará a atividade por um ou dois anos, mas sim por décadas, como ocorreu com o psilídeo-de-concha e o percevejo-bronzeado. Ophelimus maskelli é uma praga séria dos eucaliptos no mundo e evitar sua dispersão dentro do Brasil agora é essencial para que os prejuízos sejam reduzidos.


FITOSSANIDADE

PRAGAS DO EUCALIPTO

EXISTE CONTROLE BIOLÓGICO?

Painel Florestal

Bianca Gailoti Rezende Graduanda em Engenharia Florestal - Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral (FAEF - Garça (SP)) bianca.gailote@hotmail.com

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Marcelo de Souza Silva Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura e professor - FAEF – Garça (SP) mrcsouza18@gmail.com

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N

o Brasil, há uma grande incidência de pragas em eucalipto, tanto espécies nativas como exóticas, para as quais está sendo usado o controle biológico como saída para os químicos, já que os mesmos causam vários impactos ao meio ambiente. Controle biológico de pragas do eucalipto é um fenômeno natural que consiste na regulação do número de insetos por inimigos naturais, os quais se constituem nos agentes de mortalidade biótica. Assim, todas as espécies de insetos considerados pragas para esta cultura têm inimigos naturais que os atacam em alguns de seus vários estágios de vida. Dentre tais inimigos naturais existem grupos bastante diversificados, como outros insetos (predadores e/ou parasitoides), vírus, fungos e bactérias, com maior aplicação comercial, além de outros indivíduos, como nematoides, protozoários, ácaros, aranhas, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.

Trata-se de um método de controle racional e sadio, que tem como objetivo final utilizar esses inimigos naturais que são inofensivos ao meio ambiente e à saúde da população, visando a regulação da população de pragas nos ambientes de cultivo de eucalipto para níveis inferiores aos de dano econômico.

Contra pragas exóticas Vale destacar que o controle biológico é uma prática muito utilizada para pragas exóticas, isto é, que não são de origem brasileira. Em sua maioria os controladores são do país de origem da própria praga, porém, as pragas nativas já possuem seu próprio inimigo natural onde vivem e já temos um manejo de controle, pois é uma espécie conhecida por nós, como o exemplo das formigas cortadeiras. As pragas podem ser controladas/reguladas de três formas: por meio de parasitoides, ou seja, organismos que, para completar seu desenvolvimento, necessitam de um hospedeiro. Esses parasitoides são menores que suas presas. Os predadores, para completarem seu desenvolvimento e sobreviverem, necessitam se alimentar de mais de um indivíduo, e em geral são maiores que as presas. Por último, os patógenos, que são um grupo de microrganismos que sobrevive internamente ou externamente ao hospe-


FITOSSANIDADE

o gorgulho do eucalipto (Gonipterus platensis), psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), vespa-da-galha (Leptocybe invasa) e percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus). O ataque do gorgulho do eucalipto caracteriza-se pelo desfolhamento do ponteiro e ramos novos, redução de crescimento, provoca bifurcação/desvio do fuste, atacando as plantas desde plantios com oito meses até os seis anos e pode reduzir de 10 a 30% o volume de madeira produzida. O controle biológico desta praga é realizado com o uso do parasitoide de ovos Anaphes nitens, que foi importado pela África do Sul em 1924 e levado para toda a África, América do Sul, Europa e Estados Unidos. O parasitismo deste inimigo natural é de 80 a 100%, levando a um controle efetivo da praga após dois a três anos de uso regular. O controle do gorgulho também pode ser realizado com uso do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, mas até o presente momento a eficiência deste método de controle biológico se restringe aos testes em laboratório, havendo a necessidade da aplicação comercial em grandes áreas de cultivo de eucalipto. O psilídeo-de-concha pode causar redução de 10 a 15% na produtividade pelo desfolhamento, causando uma alta mortalidade na espécie de Eucalipto camaldulensis. O controle biológico é realizado mediante o uso de um parasitoide de ninfas Psyllaephagus bliteus, cujo controle varia de 0,2 a 11% das ninfas em campo. A grande eficiência e especificidade deste parasitoide têm sido listados como um grande aliado dos programas de controle biológico clássico do psilídeo-de-concha, com relatos de sucesso em áreas de produção de eucalipto na Califórnia, México e Ilhas Britânicas.

Vespa-da-galha deiro. Diferente do parasitoide e predador, que em sua maioria é um inseto que faz o controle, no controle biológico com uso de patógenos, os agentes de controle são fungos, vírus ou bactérias.

Pragas em destaque De todas as pragas-chave da cultura do eucalipto, existem quatro principais que já utilizam o controle biológico. São elas

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É importante destacar para os profissionais que trabalham com controle biológico de pragas na cultura do eucalipto ou outras espécies de grande importância econômica, que para garantir o sucesso de aplicação desta técnica, primeiro temos que identificar a praga e em que estágio ela causa danos às plantas. Para isso, deve-se fazer o monitoramento periódico da área afetada e identificar a praga causadora dos danos. Depois de identificada, é feita a análise do controle biológico ideal e, por fim, realizado o manejo adequado para cada um dos controles (com predador, parasitoide ou organismo patogênico), lembrando que para cada praga pode existir um método de controle biológico específico.

De todas as pragas citadas, o percevejo é o que vem causando mais danos à produção de eucalipto

Leonardo Rodrigues Barbosa

Premissas

A vespa-da-galha é uma praga responsável pela deformação

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FITOSSANIDADE

Ataque de vespa da galha

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Arquivo

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das folhas, das brotações novas e redução de crescimento e vigor da planta, podendo até mesmo levá-la à morte. Além disso, deixa a planta suscetível ao ataque de outras pragas. Existe um parasitoide que já está sendo estudado para o controle biológico desta praga. Para tal, foi realizada a importação do parasitoide Selitrichodes neseri, que vem sendo estudado em diferentes condições de cultivos para sua liberação e estabelecimento em campo.

Percevejo bronzeado De todas as pragas citadas, o percevejo bronzeado é o que vem causando mais danos à produção de eucalipto. Como as outras, é uma praga exótica de origem australiana, mas está presente em todo o território brasileiro, causando problemas especialmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Os plantios afetados podem apresentar sintomas de prateamento, amarelecimento ou bronzeamento das folhas, seguidos de desfolhamento total das árvores que, além de aumentar o risco de incêndios florestais, pode matar as árvores. Depois de oito anos de pesquisa, o parasitoide Clerucoides noackae, que é uma pequena vespa de aproximadamente 0,5 mm de comprimento, foi escolhido como agente para uso

em controle biológico clássico. Esse tipo de controle utiliza inimigos naturais da mesma região de origem da praga, oferecendo baixo risco ambiental, algo que é característico do controle biológico. O controle biológico do percevejo bronzeado é realizado no estágio de ovos, uma vez que o parasitoide C. noackae se desenvolve dentro dos ovos do percevejo, desde o estágio inicial até o inseto adulto, alimentando-se de seu conteúdo. Possui ciclo biológico de 15 a 17 dias e, logo após a emergência do inseto, as fêmeas são copuladas e saem em busca de novos ovos de percevejo-bronzeado para depositar os seus ovos.

Monitoramento A melhor forma de fazer um monitoramento da praga é usando armadilhas adesivas amarelas colocadas no tronco de árvores, que devem ser retiradas aproximadamente 30 dias após a identificação da praga. A partir daí é iniciado o manejo de controle, adquirindo o parasitoide e realizando a soltura dele em campo, que deve ser realizada da seguinte forma: ao receber os ovos parasitados por C. noackae, mantê-los nos recipientes de envio em temperatura de aproximadamente 24°C até o momento da emergência dos parasitoides. Após a emergência dos parasitoides, proceder à alimenta-


FITOSSANIDADE

ção com solução de mel a 50%, utilizando tiras de papel filtro. Essa data de emergência corresponde a aproximadamente 15 dias após a data identificada nos frascos de criação recebidos (data correspondente à montagem).

A melhor forma de fazer um monitoramento da praga é usando armadilhas adesivas

Desafios O principal empecilho para a implementação efetiva do controle biológico ainda é o custo. Considerado alto no passado, atualmente a relação custo-benefício é vantajosa, pois há mais empresas produtoras de inimigos naturais no mercado, o que reduz preços pela competição. Por outro lado, os inseticidas químicos modernos são mais caros que antes, devido às exigências das agências reguladoras quanto aos testes toxicológicos e de segurança ambiental. Com base nesse contexto, pode-se afirmar que os métodos de controle biológico de pragas florestais, sobretudo na cultura do eucalipto, tendem a crescer nos próximos anos. Mas, é importante recordarmos que há vários relatos de fracassos no controle biológico no mundo. Dessa forma, o controle biológico só será bem-sucedido se a fundamentação científica for rigorosamente mantida durante seu desenvolvimento e implementação, o que reforça a importância das parcerias entre instituições de pesquisa e empresas e produtores florestais no Brasil.

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A liberação poderá ocorrer em um ou mais pontos do talhão. O ponto será representado por uma árvore de eucalipto, que deverá ter uma maior quantidade de adultos e ovos do percevejo bronzeado. A presença de ninfas é um indicativo de que os ovos são velhos e inadequados ao parasitoide. Para a liberação em dois ou mais pontos de um mesmo talhão deve ser considerada uma distância de 100 a 200 m entre os pontos de liberação e da borda. Os pontos de liberação devem ser marcados com fitas zebradas, tinta spray ou outra marcação, para facilitar as avaliações de pós-liberação. As coordenadas geográficas também devem ser registradas. Após a alimentação dos adultos de C. noackae e escolha dos pontos de liberação, deve-se seguir as seguintes orientações: a liberação deve ser feita preferencialmente no início da manhã ou final da tarde, com temperaturas amenas. A liberação pode ser feita no mesmo recipiente de recebimento dos insetos ou outro semelhante. Antes de os frascos serem levados a campo, esses podem ser cobertos com fita isolante ou cartolina preta, o que posteriormente auxiliará a saída dos parasitoides dos frascos no sentido da luz. Além disso, esses frascos devem receber uma cobertura para protegê-los de chuvas, como por exemplo plástico, calha, etc. Os frascos contendo os parasitoides devem ser fixados com arame ou barbante, o mais próximo possível da copa da árvore. Após a fixação desses frascos, preferencialmente na posição horizontal, os mesmos deverão ser abertos para a saída dos parasitoides. Dez dias após a liberação dos parasitoides no campo, os frascos que foram fixados devem ser retirados e lavados, para posterior utilização. Uma avaliação da presença do parasitoide no campo é recomendada para verificar sua eficiência. Essa avaliação pode ser realizada 30 dias após a liberação, por meio da coleta de 10 folhas de eucalipto contendo posturas de T. peregrinus das quatro árvores localizadas ao lado do ponto de liberação e correspondentes às coordenadas, norte, sul, leste e oeste. As avaliações também poderão ser realizadas em árvores com diferentes distâncias do ponto de liberação, devendo-se, neste caso, registrar a distância entre a árvore de avaliação e o ponto de liberação. Após a coleta das folhas de eucalipto, os ovos de T. peregrinus nessas folhas deverão ser recortados com o auxílio de tesoura, acondicionados em frascos de poliestireno e mantidos sob condições de temperatura próximas a 24°C e umidade relativa de 60%, para aguardar a emergência dos parasitoides e/ ou eclosão das ninfas, procedendo-se, em seguida, à contagem do número de insetos emergidos. A porcentagem de ovos do percevejo bronzeado, parasitados por C. noackae em laboratório e locais de sua liberação, é de aproximadamente 50%. É importante destacar que, se não controlado, o percevejo bronzeado pode provocar perdas de até 15% do volume de madeira do eucalipto.

Luize Hess

Liberação dos parasitoides

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ACEIROS

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PLANEJAMENTO DOS ACEIROS EM PLANTAÇÕES DE EUCALIPTO

Kyvia Pontes Teixeira das Chagas Thiago Cardoso Silva

Emmanoella Costa Guaraná Araujo Tarcila Rosa da Silva Lins

Gabriel Mendes Santana Doutorandos em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR) César Henrique Alves Borges Doutorando em Ciências Florestais - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Ernandes Macedo da Cunha Neto Mestrando em Engenharia Florestal - UFPR

Márcio Pereira da Rocha Professor Titular do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal - UFPR 38

A

ocorrência de incêndios em plantios florestais é responsável por grandes prejuízos que podem ser financeiros e/ou ambientais, resultando em perda da produção e risco de morte para a população e os animais inseridos na área, além de contribuir para a liberação de carbono (Rocha et al., 2013). Os métodos de prevenção e proteção envolvem diferentes ações, que em conjunto ajudam a prevenir e proteger o plantio contra a ação do fogo. Uma dessas ações amplamente utilizada nos plantios florestais é a construção de aceiros, com o principal objetivo de retardar a trajetória do fogo (Rodríguez-Martínez; Vitoriano, 2020).

Entenda melhor Aceiros são faixas de obstáculo à propagação do fogo, e po-


ACEIROS

Técnicas A construção dos aceiros pode ser feita de diversos modos, sendo as técnicas mais comuns realizadas por meio de motoniveladoras, roçadoras mecânicas e grades de disco, ou de forma manual, com foice e enxada, dependendo das condições de acesso desses equipamentos ao local (Soares, 1971). Quando a construção se dá por meio de maquinário, aumenta a chance de ocorrer compactação do solo, o que desencadeia o grave problema da erosão e dificulta a implantação de novos plantios. Com o aumento da erosão, se torna necessária a realização de manutenções de conservação do solo mais frequentes, o que irá depender do local onde o plantio está localizado. Nesta etapa de manutenção, que consiste na movimentação da camada do solo para correção dos desníveis da erosão e remoção de plantas regenerantes, é onde podem ocorrer danos ao plantio, pois com um maior número de manutenções de aceiros as árvores plantadas na borda ficam mais suscetíveis à ocorrência danos aos troncos e às raízes devido a falhas de execução (Nascimento et al., 2010). Outra forma de construção de aceiros é por meio de uma queima controlada. Essa é uma forma barata, rápida e muito eficiente. No entanto, existe o risco de perda de controle do fogo, derivado de erros frequentes relacionados ao esquecimento de medidas de prevenção, como: toda a área adjacente deve ser isolada; a queima deve ser contra o vento; feita sob condições climáticas favoráveis, como: alta umidade e baixa temperatura; e deve estar de prontidão uma equipe para combater, caso o fogo saia do controle (Fiedler et al., 2004). Quando realizado da forma correta, esse procedimento tem um bom desempenho, porém, ainda causa danos ao local, pois deve ser feito anualmente (Rocha et al, 2013).

Fibria

dem ser de três tipos: os verdes ou cortinas de segurança, em que são utilizadas espécies vegetais de menor inflamabilidade; os químicos ou retardantes, onde se utilizam produtos químicos que alteram a inflamabilidade do material combustível; e os secos, estabelecidos pela remoção da vegetação, deixando o solo exposto (Batista; Biondi, 2009; Ribeiro, et al., 2006). Os aceiros secos são os mais comuns, representados por faixas de terreno livre de vegetação que funciona como barreira para dificultar a passagem do fogo, pois a presença da vegetação contribui para que o fogo se espalhe, principalmente se houver uma grande quantidade de galhos e folhas secas no solo (Soares; Batista; Tetto, 2017). Estes podem servir ainda como estradas, facilitando o acesso à área de plantio, bem como o tráfego de caminhões e tratores que auxiliam no processo de colheita, otimizando o tempo de percurso (Scott et al., 2012).

A construção dos aceiros deve ser levada em consideração desde a etapa do planejamento do plantio, onde serão delimitadas as áreas dos talhões e a abertura de estradas para a passagem dos equipamentos e veículos, para que esta área seja distribuída de maneira adequada. As características do local deverão ser observadas para o planejamento do aceiro, sendo considerados fatores como o tipo de material inflamável, a situação da área quanto ao relevo e às condições meteorológicas, bem como a disponibilidade financeira (Ribeiro et al., 2006; Rocha et al., 2013; Soares; Batista; Tetto, 2017). O estudo prévio do local é de grande importância para a construção dos aceiros, pois caso sejam dimensionados de forma inadequada, eles podem ser ineficientes. Um dos problemas mais frequentes é saber a largura mínima necessária para a construção de um aceiro seguro, assunto pouco abordado na literatura e que demostra a necessidade de incorporação de um princípio estatístico para elucidar esse questionamento. Apesar de sua importância, poucos estudos físicos foram realizados com o intuito de avaliar a eficiência de aceiros até o presente momento.

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Cuidados

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ACEIROS

Pesquisas

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Em uma simulação realizada para avaliar o alcance do fogo e determinar a largura adequada, Morvan (2015) encontrou resultados de que acima de 15 m de largura, o fogo não possui energia suficiente para inflamar outros materiais para sustentar a sua propagação. Em relação à propagação de incêndios, foi verificado que a largura do aceiro e a presença de árvores possuem efeitos no combate ao fogo, reduzindo a intensidade e altura da chama na maior distância testada no experimento (20 m) (Wilson, 1988). De maneira geral, é necessário que a largura dos aceiros não seja inferior a cinco metros (Soares; Batista; Tetto, 2017). Além disso, as ações que envolvem a manutenção de aceiros precisam ser levadas à risca para que cumpra a sua função de maneira efetiva. Os aceiros devem ser mantidos limpos, principalmente durante os períodos em que há o maior risco de incêndios, sendo necessária a manutenção constante destas faixas. Para isso, a limpeza deve ser realizada periodicamente por roçada manual, mecânica ou por gradagem para remoção do material combustível das faixas (Mendes Junior; Pontes, 2016). Para locais com maior incidência de incêndios, é fundamental ter um planejamento quanto à construção eficiente de aceiros e demais práticas preventivas, além de uma logística bem elaborada para o acesso rápido ao combate quando for necessário (Tagliarini et al. 2020). O combate ao fogo é um assunto de suma importância em todo o mundo, sendo a China o principal país a desenvolver

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estratégias de implementação de aceiros e técnicas para o controle de incêndios florestais, além de pesquisas sobre a eficácia e gerenciamento de incêndio (Cui et al., 2019). No geral, as pesquisas e técnicas não apresentam um grande avanço ou inovação, o que torna esse ramo uma área com carência de informações e com uma ampla possibilidade de crescimento.

Prevenção Além de garantir sua efetividade, o planejamento e a manutenção adequada dos aceiros ajudam a prevenir outros impactos negativos, como: a propagação de pragas e doenças de plantas; problemas para espécies ameaçadas de extinção; danos ao patrimônio natural, histórico e indígena; e erosão pela água e pelo vento (Dfes, n.d.). A construção de aceiros, especialmente dos secos, promove uma modificação no solo, em curto ou longo prazos, com efeitos significativos nas propriedades químicas e físicas, além das concentrações de nutrientes foliares (Scott et al., 2012). Em um estudo numa área de eucaliptocultura aos dois anos de idade, Scott et al. (2012) observaram que as mudas de eucalipto que cresciam nas proximidades dos aceiros tinham cerca de 40 a 60% do tamanho das mudas que foram plantadas no interior, indicando que o efeito do aceiro se estende para parte do plantio. Também foi observado que a condutividade elétrica e o pH tiveram valores menores nas zonas dos aceiros, além de o solo demonstrar alta resistência à penetração das raízes, sendo este o principal problema para a implantação de povoamentos floresFibria


ACEIROS

A construção dos aceiros deve ser levada em consideração desde a etapa do planejamento do plantio Painel Florestal

Causas e consequências Os aceiros podem influenciar no crescimento do plantio, causando efeitos de borda e induzindo à competição (Scott et al., 2012). Pillar et al. (2002) verificaram que houve diferenças consideráveis no grau de sombreamento, na área foliar e desenvolvimento do eucalipto em áreas próximas ou distantes de aceiros. De acordo com os mesmos autores, foi verificado um padrão de distribuição espacial associado à exposição da borda e à distância do aceiro. Além disso, Magistrali e Anjos (2011), estudando formigueiros em um plantio florestal de eucalipto, observaram que existe uma grande intensidade de formigueiros de saúva nas linhas de aceiros. Dessa maneira, fica clara a necessidade de realizar o combate periódico a formigas não só no plantio, mas em todo o entorno, o que resulta em maior demanda de tempo e recursos.

Alternativas Alguns métodos vêm sendo aprimorados, visando principalmente menor custo e otimização de serviço, dentre eles as técnicas indiretas de combate a incêndios florestais. Uma alternativa de técnica indireta é a construção de aceiros químicos, que consiste na criação de faixas úmidas, uma associação da água e retardantes do fogo, que promovem o aumento da umidade dos materiais combustíveis com a finalidade de reduzir a sua inflamabilidade (Canzian et al., 2016; Plucinski et al., 2017). Ao promover o aumento da umidade, ocorre a minimização da intensidade do fogo e a entrada dos brigadistas para o combate é facilitada (Mccarthy et al., 2012; Lima et al., 2020). A construção de aceiros pode ocorrer de outras formas, não necessariamente pela remoção da vegetação, porém, com a mesma finalidade (Souza; Vale, 2019). Nem sempre é possível remover toda a vegetação existente na área do aceiro e manter

esse local sem regeneração, que em muitos casos se torna inviável devido ao tempo de rotação. Desse modo, uma alternativa é a construção de aceiros verdes, onde é realizada a substituição da vegetação suscetível por espécies que possam funcionar como barreiras verdes, mudando o comportamento do fogo na transição com a vegetação e servindo como suporte para ações de combate e queima controlada, além de manter uma maior umidade no local (Batista; Biondi, 2009; Canzian et al., 2016; Ribeiro et al., 2006; Souza; Vale, 2019). No entanto, ainda existe uma carência de estudos voltados à identificação e caracterização das propriedades das espécies que podem ser utilizadas para esta finalidade (Souza; Vale, 2019).

Custos De modo geral, a construção dos aceiros para o combate aos incêndios florestais atua de forma preventiva. No entanto, os custos referentes à construção dos aceiros vão além da mão de obra para o serviço, uma vez que utilizam uma parte da área que seria destinada à produção vegetal, sem contar que podem ser necessárias áreas de cortinas de segurança e aceiros verdes, com a implantação de culturas menos inflamáveis. Além disso, são necessárias manutenções periódicas que elevam o custo do produtor na área, bem como a construção de postos de observação para o monitoramento, que são fundamentais para avaliar a eficácia dos aceiros existentes. Aceiros mais aprimorados têm valor inicial maior, porém, também possuem mais eficácia. Apesar de onerosos, percebe-se que o investimento no planejamento e construção de aceiros adequados para a floresta promove vários benefícios, além de evitar prejuízos futuros para o produtor. Sendo assim, é uma técnica bastante eficiente, se executada corretamente, entretanto, ainda requer pesquisas para trazer mais informações para os produtores.

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tais causada pela compactação. Neste sentido, os mesmos autores propõem que sejam feitos estudos que analisem a magnitude e a persistência desses efeitos em longo prazo.

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FOGO

ALERTA PARA OS INCÊNDIOS Fotos Nelson Sanches Bezerra Junior

Antonio Santana Batista de Oliveira Filho Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal - FCAV/UNESP a15santanafilho@gmail.com Adriana Araujo Diniz Professora – Universidade Estadual do Maranhão (UEMA/ CESBA) adrisolos2016@gmail.com

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Myrelly Nazaré Costa Noleto Graduanda em Engenharia Agronômica - UEMA/CESBA myrellynoleto11@gmail.com

I

ncêndio é todo e qualquer fogo sem controle que incide em áreas florestais e plantações, e que causam prejuízos visíveis. Normalmente, estes ocorrem frequentemente e com maior intensidade nos períodos de estiagem e estão intrinsecamente relacionados com a redução da umidade ambiental. Incêndios são acontecimentos recorrentes em diversas partes do Brasil e do mundo, acarretando danos visíveis para vários biomas e colocando em risco a diversidade da fauna e flora de diversos locais, principalmente quando ocorre em áreas preservadas e florestais, podendo acarretar também riscos e prejuízos financeiros para empresas que visam lucratividade no comércio de madeira florestal.

Controle Incêndios nas florestas são difíceis de combater, principalmente pela rápida disseminação por toda área de cultivo, portanto, deve-se, sobretudo, preveni-los, sendo que todo incên42

dio, logo, ao se observar o foco é mais fácil de ser combatido, quando comparado ao fogo que já se alastrou. Os incêndios se tornam algo comum, principalmente em épocas de seca, em que causas naturais são passíveis de acarretarem queimadas, porém, estas acometem geralmente áreas de biomas que não geram grandes prejuízos para a biodiversidade, como fogos em regiões de cerrado nativo. Porém, o principal efeito danoso, tanto ao meio ambiente quanto às empresas que visam lucratividade com a produção de madeira, está quando os incêndios são acometidos por condições artificiais, geralmente produzidos pelo ser humano, onde qualquer foco de incêndio ativo pode se tornar extremamente perigoso, variando de região para região e, principalmente, entre países. O uso irresponsável do fogo nas atividades do homem o faz ser o maior causador de danos. O comportamento do fogo é imprevisível, e o processo de combustão pode, em segundos, dominar áreas completas e ser irreversível o seu efeito.

Causas Dentre as principais causas dos incêndios, pode-se destacar os longos períodos de estiagem que acometem determinadas regiões do Brasil, e que consequentemente reduzem a umidade do ambiente, fazendo com que o fogo se propague rapidamente. As queimadas para limpeza, muitas vezes realizadas por pequenos produtores, também são focos de incêndio, podendo vir a serem incontroláveis e acabar atingindo áreas de produções maiores. Outras condições que podem causar incêndio


FOGO

Prevenir é sempre melhor Prevenir é a etapa de maior relevância para o combate de incêndios. Mesmo tendo conhecimento de como agir na hora do incêndio, o seu efeito muitas vezes é incontrolável, pois pequenos focos são difíceis de serem visualizados em grandes áreas, fazendo com que o controle seja tardio e irreversível. Os incêndios florestais são de difícil combate, pois são áreas onde o acesso de máquinas é restrito. A formação de barreira de combate também é de difícil implantação e a copa das árvores muitas vezes impede que a utilização de aeronaves seja eficiente no combate.

Conjunto de ações O combate ao incêndio florestal é dado como o conjunto de ações que tendem a controlar ou extinguir o incêndio florestal, sendo de notória importância, quando não se consegue prevenir a ocorrência do mesmo. Dividida nas fases de detecção, comunicação, mobilização, chegada no local, estudo de situação, combate propriamente dito e rescaldo (Soares, 2001), as ações são de extrema importância e um eficaz sistema de combate aos incêndios, já que rapidez e eficácia andam atreladas com este fato, fazendo assim com que o fogo não se alastre e cause danos cada vez maiores. Os incêndios acometem diferentes regiões e os agentes que podem causar ações danosas às florestas apresentam fielmente diferenças entre países, ou até mesmo entre regiões, sendo representadas principalmente pelo clima e pelas atividades antrópicas (Barbosa, 2010). No Brasil, várias regiões são acometidas por incêndios. Segundos dados do INPE, no ano de 2019 foram verificados 80.561 focos de incêndios ativos na região norte, 50.195 no centro-oeste, 44.157 no nordeste, 14.407 no sudeste e 2.905 no sul. Os dados revelam que os principais focos de incêndios estão em áreas da região norte, onde se encontram áreas da Amazônia e com imensas florestas. A região centro-oeste também é uma grande produtora de madeira, com grandes áreas florestais, assim como a região norte, fortemente acometida por queimadas. No nordeste a ocorrência de queimadas é maior em períodos onde as árvores tendem a perder as folhas, como forma de sobrevivência à seca.

venção e combate a incêndios florestais eficiente. Esse plano deve ser simples, apresentar as estatísticas e aspectos gerais da área, bem como conter algumas informações prioritárias, tais como: região de ocorrência, causa de incêndios anteriores caso já tenha ocorrido, período de ocorrência, classe do material combustível e zona prioritária de proteção (Oliveira 2017). As principais formas de prevenção e controle se dão principalmente pela educação ambiental em comunidades rurais, tanto para crianças quanto adultos, treinamento para funcionários quanto às formas de combate e prevenção, patrulhamento e vigilância de áreas com risco elevado de incêndio e a utilização de equipamentos para o combate de forma adequada, de maneira que também previna a vida dos que os manejam. As técnicas de combate devem ser realizadas principalmente por pessoal preparado para exercer tal fim. Os erros mais frequentes são o combate realizado por pessoal não preparado, o que aumenta o risco para com a preservação da vida destas pessoas, pois o efeito do fogo é muito rápido e imprevisível. Desse modo, nunca se deve tentar enfrentar um incêndio sem antes se ter conhecimento básico sobre como agir nesse momento. Outro erro é a falta de planejamento para combate a incêndios, o que faz com que no momento do incêndio não se consiga traçar rapidamente um planejamento de combate.

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ocorrem por atividade de fumantes que descartam as pontas dos cigarros em locais indevidos, e pelo tráfego de máquinas nas plantações florestais, que podem soltar faíscas causando incêndios.

Segurança e a eficiência As formas de controle de incêndios devem levar em consideração principalmente a segurança e a eficiência dos meios e das técnicas de combate, e dependem das condições ambientais e também naturais existentes, ou seja, a condição do incêndio, juntamente com as adaptações necessárias como medidas preventivas a fim de reduzir os riscos de propagação do fogo. Para isso, se faz necessário a elaboração de um plano de pre43


MECANIZAÇÃO

OS CAMINHOS DA EVOLUÇÃO DA MECANIZAÇÃO FLORESTAL Lucas Coutinho de Miranda

Kaoeni Schmid Pantoja Graduandos em Engenharia Florestal - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

Ernandes Macedo da Cunha Neto Mestrando em Engenharia Florestal - Universidade Federal do Paraná (UFPR) Kyvia Pontes Teixeira das Chagas Thiago Cardoso Silva

Emmanoela Costa Guaraná Araujo Tarcila Rosa da Silva Lins

Gabriel Mendes Santana Doutorandos em Engenharia Florestal – UFPR

César Henrique Alves Borges Doutorando em Ciências Florestais - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

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crescente demanda mundial por madeira, juntamente com os aspectos de clima e solo favoráveis, contribuem para que o Brasil tenha papel de destaque no cenário florestal mundial (Silva et al., 2014). O setor apresentou ascensão pelo terceiro ano consecutivo (IBGE, 2019), de tal maneira que em 2018 foram registrados 7,83 milhões de hectares de floresta plantada, dos quais os plantios de eucalipto ocupam 5,7 milhões de hectares (IBÁ, 2019), o que impulsionou a exigência sobre os silvicultores, a fim de otimizar a produtividade com sustentabilidade. O processo de mecanização do setor florestal possibilitou uma evolução significativa na produtividade, na redução de custos e na melhoria da qualidade das operações florestais (Sampietro et al., 2015). No caso das florestas plantadas, a utilização de máquinas pode ser um diferencial em etapas como o preparo do solo, desgalhamento, desbaste e colheita (Tonin et al., 2018), possibilitando a otimização dos tratos silviculturais. A combinação de fatores como tipo de solo, drenagem, densidade do plantio e finalidade do produto determinam as técnicas adequadas para a execução de qualquer atividade. E para tal, a escolha de máquinas e equipamentos a serem adotados constitui um dos grandes desafios para a redução dos custos finais da madeira (Burla et al., 2012).

Luize Hess

A colheita florestal A colheita florestal pode ser definida como um conjunto de operações realizadas no povoamento florestal, que compõem desde o preparo até a condução da madeira ao local de transporte, utilizando-se de técnicas e padrões preestabelecidos, com o intuito de transformá-la em produto final (Lima; Leite, 2014). A extração e o transporte da madeira são considerados as etapas mais importantes do setor florestal em termos econômicos, representando 50%, ou mais, dos custos totais da madeira posta na indústria (Machado, 2014). Os fatores que podem influenciar na colheita florestal são: densidade do talhão, topografia do local, tipo de solo, volume, distância do transporte e disponibilidade de capital (Machado, 2014). Dessa forma, planejar e optar pelo sistema de colheita adequado é essencial para diminuir os custos e promover o melhor aproveitamento da matéria-prima. Três tipos de técnicas de colheita ainda são utilizadas atualmente: manual; semimecanizada e mecanizada (Santos, 2016). A colheita manual é realizada com o machado, sendo a menos vantajosa, pois desperdiça grande parte da madeira, além de apresentar grande risco de acidentes e a saúde dos trabalhadores (Altoé, 2008).


MECANIZAÇÃO

Técnicas de colheita Em áreas de difícil acesso, é comum o emprego da colheita manual e semimecanizada, tais como: aclives, declives e regiões alagadas. No entanto, o desgaste físico e a baixa produtividade, além do maior risco de acidentes, inviabilizam a colheita manual. Um pouco menos desgastante e com maiores produtividades, o sistema semimecanizado substitui o uso de machados e serrotes na extração de madeira. No entanto, a exposição a vibrações oriundas das motosserras é um dos fatores que mais prejudica esse sistema, pois torna a condição de trabalho desfavorável, causando desconforto, aumentando o risco de acidentes e podendo ocasionar

danos consideráveis à saúde (Fiedler et al., 2013). No Brasil, a transição de máquinas e equipamentos de baixa tecnologia para modernos implementos de colheita florestal foi um processo rápido. Contudo, a falta de qualificação dos operadores gerou um gap tecnológico. Nos últimos anos, pôde-se observar grandes avanços pela introdução de maquinários destinados ao abate, baldeio e arraste das árvores, sendo estes adaptados ou importados de países, em sua maioria europeus (Carmo et al., 2015). Assim, Garbin et al. (2017) afirmam que a colheita florestal mecanizada, apesar dos impactos ambientais, pode ser considerada vantajosa, pois o processo ocorre em um curto período e envolve poucos funcionários. Vale ressaltar que é possível combinar diferentes maquinários de acordo com o sistema de colheita e da finalidade do produto. Existem cinco sistemas de colheita: sistema de árvores inteiras (sem a raiz), sistema de árvores completas (com raiz), sistema de cavaqueamento (trituração da tora), sistema de toras longas (peças > 7 metros) e sistema de toras curtas (toras com < 7 metros) (Malinovski; Malinovski, 1998). Cada uma dessas metodologias implica em finalidades diferentes para a madeira colhida. Luize Hess

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Na colheita semimecanizada as operações de corte são efetuadas com motosserras, envolvendo o operador de motosserra e dois ajudantes. Já no sistema de corte mecanizado, a extração é realizada por meio de diversos tipos e tamanhos de máquinas, que são capazes de executar todos os processos dentro do ciclo da madeira, otimizando o tempo e garantindo maior seguridade aos trabalhadores, porém, é mais oneroso (Santos, 2016).

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MECANIZAÇÃO

Principais maquinários utilizados A harvester é conhecida como trator de colheita florestal. O processo de colheita realizado pelo trator florestal harvester consiste em cortar, descascar, desgalhar e seccionar as toras no tamanho estipulado. Como um trator de alta tecnologia, é bem aceito pela capacidade de alta produtividade. No entanto, segundo Fernandes et al. (2013), esta máquina é ideal para áreas de aclive de 25° a declive de 30°.

Forwarders Enquanto o trator harvester faz o abate e o processamento primário do fuste, o forwarder executa a extração da madeira sob uma plataforma, com movimentos sistemáticos ao longo do talhão (Szymczak et al., 2014). Este é responsável por carregar as toras do interior do talhão até a beira da estrada, facilitando o carregamento dos caminhões.

Skidder O skidder realiza o arraste das árvores de uma área de corte até a margem da estrada ou para um pátio intermediário, sendo uma máquina versátil, pois permite grande mobilidade dentro da área de corte (Lima; Leite 2014). Diferente do trator forwarder, que faz o transporte das toras em uma plataforma suspensa, esta máquina faz o arraste das toras em contato direto com o solo. Sua utilização é mais comum nos sistemas de toras longas, árvores inteiras e árvores completas.

Feller e feller buncher Duas grandes máquinas, que podem pesar 40 toneladas, variam de acordo com a funcionalidade: enquanto o feller realiza somente o corte, o feller buncher corta e acumula as árvores. Este segundo é o mais utilizado, principalmente por sua maior produtividade e eficiência.

O rendimento de uma máquina de colheita florestal está relacionado com o volume, diâmetro, altura média, densidade da madeira, bem como o relevo, as condições climáticas (umidade e pluviosidade) e a distância de extração (Burla, et al., 2013). Por isso, conhecer o porte das máquinas para diferentes

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Desafios para a mecanização florestal O máximo aproveitamento das funções da máquina com o aperfeiçoamento das técnicas de operações de colheita resulta na maximização da utilização das funções dos fatores de produção e aumento do rendimento de forma contínua (Pereira et al., 2015). A ergonomia também é pauta recorrente no âmbito da operação de grandes máquinas, de tal maneira que as fabricantes têm investido cada vez mais no conforto e bem-estar durante a execução das atividades de campo. Além da mão de obra qualificada e da qualidade de vida dos operadores, outros desafios para a colheita florestal são: A compactação do solo ocasionada pelo tráfego dos maquinários; Otimização do uso dos combustíveis e lubrificantes; Geração e aproveitamento de resíduos orgânicos (restos de matéria vegetal) e sintéticos (óleos queimados, peças trocadas, borrachas, etc.).

Considerações finais

Fibria

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Produtividade em colheitas mecanizadas

condições de operação é importante na indicação e direcionamento dos equipamentos adequados para as atividades de mecanização (Schettino et al., 2015). O estudo de Pereira, Lopes e Dias (2015) com feller buncher e skidder atestou a influência de variáveis como volume total e distância de extração, pois obteve maiores valores de produtividade e menores valores de custos de produção para áreas com maior volume de madeira e menor distância. Os autores concluíram que o tempo médio gasto do skidder descarregado é cerca de 40% menor nas áreas de maior volume, quando comparadas com a de menor volume, além das diversas manobras adicionais para apanhar mais feixes para completar a carga máxima. Ao analisar a produtividade de um autocarregável, Carmo et al. (2015) constataram que aumentar a capacidade de carga até o limite recomendado pelo fabricante em áreas com menor volume de madeira pode reduzir custos ao demandar menos forwarders trabalhando. Costa et al. (2017) observou que a produtividade do plantio (volume por árvore) também afeta o rendimento dos tratores harvesters e acrescentou que a disponibilidade mecânica, bem como o tempo gasto com manutenção e reposição de peças influencia a eficiência e o custo operacional, de maneira que o aumento de 1% na eficiência ocasiona uma redução de R$ 0,65 no custo operacional.

Em qualquer setor, os avanços da tecnologia tendem a implicar diretamente na otimização da produtividade e uso mais racional dos recursos naturais. Além disso, a combinação de mão de obra qualificada com bem-estar na execução das atividades é imprescindível para incrementar o rendimento das atividades de colheita. O futuro da mecanização florestal será a automação dos processos de colheita, tornando o maquinário cada vez mais independente e sofisticado.




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