8 minute read

Entrevista: "Vou acreditar sempre"

do emprego, buscando novas oportunidades de geração de renda. É um dos caminhos para estimular o setor empresarial a investir na qualificação e na capacitação dos seus trabalhadores, entendida como uma forma mais evoluída de estimular a relação capital/trabalho.

Criamos com o Codefat convênios de apoio a micro e pequenas empresas além de outros, sempre tendo como norte a questão do emprego. Nossa maior preocupação é buscar o complemento técnico-cien- tífico, criando alternativas fortes e claras para enfrentar o crescente fechamento de postos de trabalho, buscando alternativas que se contraponham a essa tendência mundial. Os quadros nacional e internacional corifirmam a necessidade de olhar para o futuro. Mais que saber ver à frente é preciso apostar no futuro. E, neste contexto, as mudanças nas relações de trabalho são vitais. É preciso buscar um tratamento diferente na relação patrão e empregado. Algumas empresas com visão de vanguarda, e até por sobrevivência, já incorporaram isso, enquanto a maior parte ainda segue a reboque divisões ultrapassadas e não acompanha os novos tempos. Mas é importante apostar. Por isso estamos atentos a toda e qualquer outra atividade que contribua para encontrar caminhos alternativos de geração de renda e manutenção do emprego. O programa que a Firtep criou em cooperação com a Anteag -Associação Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Auto Gestão também surgiu dentro desse contexto de integração produtiva. São empresas que ficaram em situação pré-falimentar e, em alguns casos, os trabalhadores chegaram a assumir a direção buscando as maneiras de não deixar a empresa falir. Além do capital de giro, precisavam de apoio para desenvolver os níveis técnico e tecnológico. Em conjunto com iniciativas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES e do Banco do Brasil somamos forças no sentido de permitir que os trabalhadores tivessem meios de impedir que as empresas fechassem as suas portas. A Finep tem ainda uma ação muito significativa no enfrentamento das dificuldades encontradas no mercado quando as empresas têm que oferecer garantias para obter financiamento. Assumimos uma postura pioneira ao criarmos o Fundo de Garantia de Crédito, junto como Sebrae, que propicia que as empresas sem condições I/ suficientes de garantia possam utilizar os recursos desse fundo como complemento. Com a Fundação Unitrabalho surgiu a oportunidade de 1 apoiar a sua criação visando, por um lado, monitorar o processo de reestruturação produtiva, e por outro, recuperar as pesquisas já produzidas no país. Apoiamos a implantação e a organização Id e sua

Advertisement

base de dados, fundamental para facilitar o desenvolvimento das pesquisas e o fluxo das informações. Finalmente, como integrantes do COEP, participamos, junto com outras instituições, da discussão de novas propostas nesta área, entre elas, a da criação da Incubadora Tecnológica /7 de Cooperativas Populares, projeto que, além de representar mais uma alternativa de trabalho e renda, precisava reunir as condições necessárias para ser testado de maneira mais consistente. 7" - integra Parad a Findep havia ainda a fodrtedmodtivtraçãod de articular ta ção emia com a e uma da instituição de apoio às universidades. E a Incubadora é um modelo que a universidade se dispõe a levar como experiência, o que a Coppe/ UFRJ vem fazendo de maneira muito promissora. Hoje, nossa proposta é criar incubadoras e dotá-las de recursos de forma que as universidades possam absorver essa tecnologia e servir de agentes multiplicadores. É importante ressaltar que a Finep não é uma instituição com responsabilidade direta na ampliação de programas. Trabalhamos na escala de projetos pilotos, estruturando-os e organizando-os junto com a universidade, que repassará o conhecimento para as comunidades. A partir do momento que esse projeto se consolide, outras instituições irão apoiá-lo e, com certeza, multiplicarão esse modelo. Ao patrocinarmos esta publicação, procuramos reunir todas as condições necessárias no sentido de garantir que essa experiência fique registrada em todos os níveis, para subsidiar a discussão sobre sua aplicabilidade, disseminação e ampliação. É muito importante sistematizar e o que vem ocorrendo neste projeto • eritro de um padrão de qualidade que preserve sua credibilidade e confiabilidade enquanto uma experiência que tem sido conduzida tecnicamente da melhor maneira possível. É preciso preservá-lo de qualquer outro interesse que não seja a busca de alternativas visando exclusivamente o benefício da população excluída que vem sendo atingida por todo esse processo. O relato de todos os momentos da implantação e desenvolvimento da tecnologia que a Incubadora transfere hoje para outras universidades é também uma forma de evitar manipulações, já que a discussão em torno do cooperativismo envolve uma série de deturpações bastante conhecidas. Esse livro tem para a Finep o papel fundamental de preservar a história de um projeto inovador e, quem sabe, garantir que sua ampliação para outras regiões do país se dê da maneira mais confiável e correta possível.

Celso Cruz Diretor da Finep-Financiadora de Estudos e Projetos

"Vou acreditar Personagem histórica em todo o processo de implantação da sempre" Incubadora, Dona Divina simboliza o que o projeto tem de mais

Divina Teixeira forte: a simplicidade, a sede de crescer e a certeza de que é possível. Nasceu no Espírito Santo, mas foi criada na Baixada Fluminense, em Duque de Caxias. Ontem merendeira de um Ciep, hoje presidente da Cooperativa Novo Horizonte. Ontem tímida e insegura, hoje capaz de sentar-se frente a um plenário de doutores e fazer palestras. Ontem cheia de fé. Hoje com mais fé do que antes.

De onde a senhora vem? Fui criada numa terra que eu gosto muito. A minha infância foi de criança pobre, difícil! O lugar em que eu fui criada é uma lembrança boa da minha infância, chama-se São Bento, um bairro de Caxias. Era muito bonito. Hoje está bem diferente, pois o progresso chegou e modificou, mas ele era muito bonito. Simples, mas muito bom mesmo.

Como é que a senhora chegou à Incubadora?

Fomos alcançados por este projeto através do Gonçalo há dois anos. Ele levou até a nossa comunidade e aí eu ouvi, participei da reunião, me entusiasmei e estou aqui até hoje. Foi um início difícil porque tínhamos que acreditar nesse projeto, que ele iria dar certo. Não sabíamos em quanto tempo. E eu acreditei até a legalização. Consegui o primeiro trabalho. Na primeira reunião que eu fui, de repente, começou um temporal. E a primeira Cooperativa, a Novo Horizonte, nasceu aí. Dentro de um barraquinho, com umas 20 pessoas. Debaixo de chuva, ela nasceu.

Conte um pouco como as coisas foram acontecendo? Ninguém sabia nada de cooperativa. Sabia que a CCPL é uma cooperativa. Quando eles mostraram o projeto das cooperativas populares, a gente foi guardando. Todo mundo desempregado. Quem tinha emprego, como eu, tinha um salário mínimo. Ninguém podia fazer nada, foi uma luta para a gente poder se legalizar. Muitas dificuldades que a gente enfrentou, não são poucas não, são muitas. E a cooperativa quase fechando por descrença de muitos . Mas não fechou porque alguns acreditavam. Eu faço sempre questão de dizer que eu sou um desses alguns que sempre acreditaram e vou acreditar sempre.

O grupo de vocês começou com quantas pessoas? A Cooperativa Novo Horizonte foi fundada com 2j3pessoas. Dessas 28, devido à falta de paciência e confiança de que isso é o começo de uma revolução dentro do mercado de trabalho, as pessoas se afastaram e ficaram duas pessoas. Hoje nós somos 106 pessoas trabalhando. O Diretor Administrativo das cooperativas tira em tomo de 400 reais. Ganha mais que três salários mínimos. Por isso que eu digo que através dela eu estou conseguindo fazer aquilo que eu não tinha intenção de fazer. O que mais me atraiu, no inicio, foi o caráter do projeto porque se preocupa com o social, principalmente com aqueles mais simples, porque ele está entrando

no meio de favelas, bairros carentes onde as pessoas são afastadas, não tiveram aquela chance de estudar. Isso ai é uma das coisas que mais gosto nesse projeto. Aproximou muito, e fez com que a gente ficasse muito sensibilizado, e também que aderisse à luta de trabalhar e lutar pela cooperativa.

E quando a senhora não está na cooperativa? Quando não estou trabalhando, existe um lazer que para mim é fundamental, que é ficar com meus netos. Não existe para mirn final de semana. Sou aquela avó corujona. Brinco com meus netos, saio com eles. A gente vai a uma lanchonetezinha que tem perto, uma sorveteria, tomar sorvete. É o melhor lazer para mim. A gente tá todo fim de semana junto. Tenho 8 netos, e na comunidade que a gente mora tem uma lojinha com um freezer que é cheio de sorvete.

Quantos filhos? Tenho cinco já criados. Dois estão comigo na Cooperativa. São cooperativados comuns. A menina trabalha na limpeza e o rapaz ajuda na parte administrativa.

Como é a sua casa, seus amigos? A minha casa é muito importante. Moro ainda num barraco de madeira de uma ocupação. Lugar que foi invadido. Foi ocuPado por gente como eu , que não podia pagar um aluguel de verdade, não podia comprar um terreno, que é muito caro. Então, a minha casa hoje ainda é um barraco. Já começamos a fazer um alicerce para construir uma casa de alvenaria. Mas eu me sinto muito bem, porque eu tenho a minha força e a certeza de que o trabalho que estou fazendo já está me 'levando a ter uma casa de alvenaria, uma casa que me deram de presente a planta, feita por um arquiteto da Incubadora. E eu estou já corneçando a construir. É muito bom porque hoje é meu.

Quem mora com a senhora? Uma filha com 19 anos e um filho com 17 que estuda, faz 2° grau e está no Senai. Tem que estudar, tem que trabalhar para que um dia possa ter uma visão. Eu estou tendo agora, mas depois de uma certa idade. Quero que meu filho tenha essa consciência porque eu não tive condição de estudar, mas eu quero passar essa coisa para o meu fi ho, um conhecimento mais aprofundado.

This article is from: