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Viva o povo brasileiro

Viva o povo brasileiro!

Participei da construção da Incubadora em sua pré-história. Montamos a primeira equipe, assessoramos a Cootram, com muitas dificuldades, estruturando e dando as aulas do curso básico de cooperativismo, ria Fiocruz e no Femandes Filgueiras. Eram professores também o Cynamon e á JoséAugusto. Nosso trabalho era basicamente de motivação, com aulas em clima de total descontração.

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Embora isso não ocorra de forma organizada, tenho uma tradição de trabalho com a população nas minhas pesquisas. Essa experiência que hoje temo nome de "trabalho com comunidade". Minha participação nesse projeto se deve, especialmente, a esses trabalhos realizados anteriormente, em lavouras de cana e com o Sindicato dos Metalúrgicos.

Mas o que mais me enriqueceu no processo de estruturação da Incubadora foi a criação da Cooperativa dos Trabalhadores de Vigário Geral-Cootravige. No Curso, a equipe permanente era o Adão, o primeiro motorista da Incubadora, e eu. PÁssei com ele momentos belíssimos e outros de profundo medo. Descemos um dia para tomar uma Coca-Cola. Eu estava de costas para a passarela. De repente a cara do Adão ficou estranhíssima. Em tom baixo ele pediu: "olha pra trás". Em nossa i direção caminhava o batalhão de choque. Adão de negro ficou branco, e eu cOr de rosa. Passaram direto.

Adão segurava as crianças no colo para as mães assistirem aula e era com ele que, na volta para casa, eu discutia os fatos do dia e até alguns aspectos do projeto. Ele dava opinião, sugestão e até propunha caminhos. Na pior das hipóteses, Adão foi um competente assessor.

Nasceu a Cooperativa de Vigário Geral. Foi ela que promoveu, na entrada da favela, a primeira festa não televisiva para angariar recursos para o projeto, com um cozido e um bingo. Fui com minha filhas e posso afirmar com segurança absdluta que foi a primeira festa da comunidade sem a presença dos traficantes ou da jiolicia. Atribuo isso ao respeito que tinham àquele trabalho. Naquela época, eram vinte pessoas, hoje são 100 cooperados.

O diferencial deste projeto para os outros do qual participei é que antes as pessoas tinham emprego e nesse todos eram desempregados. É incrível ver 20 pessoas saírem do nada e criarem uma empresa. Fundaram uma cooperativa com assembléias, discussões e mulher na direção! Eu aprendi muito mais que elá.

Outro fator impressionante é o grau de caráter e a enorme força de vontaáe. A cada dia me convenço mais que é essa gente que segura esse país. Quem s iegura o Brasil é o povo brasileiro. 1

Miguel de Simoni Professor da Escola de Engenharia da UFRJ

a uma pequena parcela da população as portas de um país que pode ser viável e janelas para um futuro que pode lhes reservar espaço privilegiado no cenário nacional e, quem sabe, internacional.

Como quem diz "a casa é sua" a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares recebeu pessoas inseguras e sem perspectivas e detonou uma força potencial.

Esses cidadãos se formaram trabalhadores numa nova perspectiva. Hoje, tanto as relações de trabalho quanto os meios de produção são preocupações permanentes nas suas atividades. Sua função não se restringe a uma tarefa específica, fruto do conhecimento técnico, que faz parte do seu processo de formação. A gestão da cooperativa e a organização do trabalho estão definitivamente incorporadas ao seu processo. Com formação interdisciplinar, respondem simultaneamente às tarefas inerentes aos seus ofícios e à gestão de uma empresa. Com o fim da seguridade que o estado lhes garantia, também as responsabilidades sociais passam a ser preocupações desses trabalhadores. E tudo isso ocorre quando as relações tradicionais de trabalho estão ampliando os espaços para os serviços temporários, sem as garantias mínimas dos direitos trabalhistas, inclusive aqueles já conquistados.

A globalização da economia em curso, promove o trabalho desqualificado a um preço igual, em qualquer lugar do. mundo. Com a internacionalização das economias a disputa de postos de trabalho hoje se dá no âmbito do mercado das empresas terceirizadas. Vai longe o tempo em que essa disputa passava pelos departamentos de recursos humanos. Esse palco está montado agora nas salas de licitação. É ali que se briga por fatias desse mercado. No entanto, preparados de urna forma qualificada, após a inserção organizada no mercado, esses trabalhadores não disputam mais postos de trabalho, e sim o próprio mercado. São as relações internas das cooperativas que podem definir a qualidade da inserção desse

trabalhador no mercado. Concorrem agora como um contingente de trabalhadores capacitados. Geram um trabalho consciente e um produto de melhor qualidade. Oferecem consciência e responsabilidade

O nicho da economia que lhes cabe é ainda urna incógnita. Impossível afirmar se serão internacionais ou periféricos. Mas, certamente, serão parte desse mercado, viabilizando 'seu papel de atores na economia nacional de forma digna e competente.

Indiscutivelmente, aos tomadores de serviço,' ao im's, por diversas razões, interessam essas novas relações de trabalho: pelo processo de produção, pelo padrão de qualidade, pelos produtos a preços acessíveis, pelo processo de distribuição de rend i a que também amplia mercado e pela minimização dos conflitos sociais, decorrentes da situação de extrema miséria nos grandes centros

Não temos dúvidas de que essa linha de formação do trabalho e o desenvolvimento de uma metodologia que cria traáhadores autogestores levanta uma rica discussão e propõe alternativas a partir de uma outra visão nas relações de trabalho. O Brasil precisa se preparar para esse momento. Inversamente ao processo que hoje traz o caos, essa a ternativa gera uma nova perspectiva de relações na sociedade. Iny 1 ersamente ao processo de exclusão, que aumenta o grau de violência e conflitos inviabilizando inclusive partes da cidade, a inserção social, a partir da inserção econômica, pode selar um forte acordo de tempos de paz. Não se trata de reinserção, e sim de uma nova forma de se inserir, quando os excluídos do consumo de ontem estabelecem hoje, a partir de suas práticas e de sua formação, uma nova relação na s ciedade.

Não estamos só formando trabalhadores. i I

Estamos formando cidadãos.

equipe da incubadora

Andréa Marques Bruno Aquino Bruno Milanez Carlos Alexandre dos Santos Carolina Cruz Claude Araripe Claudio Pacheco Elsa Parreira Ernesto Aguiar Fábio Lanzellotte Flávio Santos Gelson Martins Generosa Silva Gildênia Costa Gonçalo Guimarães Guaracy Constantino Jadeildo Silva Johny Kovalcik José Antonio de Paula Josiane Barros Josinaldo Aleixo de Sousa Leandro Mendes Lúcia Adriana Vieira Lúcia Tereza Romanholli Luiz Pinheiro da Guia Marcelo Correia Marcos Azevedo Maria da Glória Fortunato Maria de Jesus Maria de Lourdes Fonseca Maria José Barcelos Pereira Nilson Alves Pedro Donizetti Priscila Ferreira Regina Souza Renata Coelho Renê Mendonça Noronha Júnior Ricardo Baltazar Ricardo Besada Rosa Maria de Souza Rubens Espósito Sheila Nazaré Silvia Fernanda da Silva Sonia Sampaio Suzete Lima Tais Helena de Paula Tathiana Faria

Escritório de apoio às cooperativas supervisionado pela Incubadora

José Roberto Romão Jonildo Silva Carmem Bezerra

cooperativas incubadas

Cooperativa de Trabalho Novo Horizonte 1 NOVO HORIZONTE Cooperativa de Mecânica, Eletricidade e Inárumentação Civil - COMEICE Cooperativa de Trabalho, Montagem e Manutenção Industrial - MONTCOOP Cooperativa dos Trabalhadores de Vigário Geral - COO TRAVIGE Cooperativa Mista dos Trabalhadoreg do Prque Royal - ROYAL FLASH Cooperativa dos Trabalhadores do Ciju - PIRCO MIS Cooperativa Especial da Praia Vermelha - PRAIA VERMELHA Cooperativa dos Trabalhadores do Morro da Mangueira - COOPMANGA Cooperativa de Trabalho Artes de Novo Painares -NOVO PALMARES Cooperativa de Serviço de Eletricidact e Mânutenção - COOPLUZ Cooperativa das Costureiras de FernãO Cardim - FERNÃO CARDIM Cooperativa dos Trabalhadores do Morro do Vidigal- COOPVID Cooperativa dos Trabalhadores do Morro do Andará - COOPERAN Cooperativa dos Trabalhadores do MOrro cio Sossego - CAJCOOP Cooperativa dos Trabalhadores da Chácara de Del Castilho - COOPERDEL Cooperativa dos Trabalhadores do Caminho do Job Cooperativa dos Trabalhadores do MOrro 4o Grotão Cooperativa dos Trabalhadores do Morro da Caixa d'Agua Cooperativa dos Trabalhadores do Morro de anto Antonio Cooperativa dos Trabalhadores do Mono do Juramento Cooperativa dos Trabalhadores da Estrada dás Canoas Cooperativa dos Trabalhadores do Canal da Taxas Cooperativa dos Trabalhadores da Favela Nova Aliança Cooperativa dos Trabalhadores do Mono do Prazeres Cooperativa dos Trabalhadores do MOITO do Escondidinho

Expediente Edição e produção: Espalhafato Comunicação Programação Visual: Clarice Soter Fotos: JR. Ripper / DC. Júnior/Imagens da Terra Revisão: Dayse Tavares e Flávia Chapetta Transcrição das entrevistas: Helena Leila Wengorski, Patricia Sá, Cristiane Virgihio da Costa, Marina Pemetta e Guilherme Müller Fotolitos: Mergulhar Serviços Editoriais Impressão: Reproarte Rio de Janeiro, maio de 1998

Ossos do ofício Uma publicação da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de

Cooperativas Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em cena aberta Coordenação: Gonçalo Guimarães

Caixa Postal 68501 CEP: 21945-970 tel: (021) 260-4986 / 280-8853 fax: (021) 290-6626 / 260-4986

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