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Tudo à flor da pele

Tudo à flor da pele

ar rabalhar com a rapaziada do Borel e de outras comunidades, fazendo teatro, cantando, dançando, foi muito bonito. São rapazes e moças que - vão aos poucos recuperando a auto-estima. Basta subir no palco, alar uma história, cantar, fazer algo bem e ser aplaudido. O resultado vem em cadeia.

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Começam a dizer "sou capaz, sou bonito..." E isso modifica a maneira de falar, de andar, de se vestir e de ser alguém. Ao mesmo tempo que se tomam pessás mais doces, começam a querer mais, a exigir um espaço que antes não imaginavam possível. Alguns vivem a vida inteira lá em dma. A partir do teatro, da música, vislumbram a possibilidade de descer e competir. A arte modifica tanto do ponto de vista psicológico quanto espiritual. É mui o gratificante para eles e para nós. Não realizamos oficinas com idéias prontas. Tudo acontece a partir da realidade que eles apresentam. Isso desperta a consciência de que os problemas não são só do morro e provoca a vontade de trocar experiências e se abrir para outros universos. Essa confiança que eles passam a ter neles e nos outros derruba muros e defesas. Surgem seres humanos maravilhosos, inteligentes e sensíveis. O índice de analfabetismo é enorme, mas a maioria é poeta. Foram aprendera ler só para escrever rap. Quando começamos a produzir "A mãe de pedra" no Borel, ópera funk, escrita por Lídia Salles, moradora da comunidade, sobre o assassinato das crianças de rua na Cinelândia, eles correram para aprender a ler. Foi uma das coisas mais bonitas qué vivi lá. Um pedia ao outro para ensinar. Aquele que sabia pouco ensinava àquele que não sabia nada. A maioria voltou a estudar. Os pequenos mais que os maiores. Fizemos um concurso para selecionar as músicas da peça e muitos talentos se revelaram, inclusive a dupla William e Duda, que chegou tímida, mas com músicas muito boas. Fizeram tanto sucesso que acabaram se transformando em atores e hoje são ídolos nacionais. São praticamente os pioneiros do funk no Rio e ainda moram no Borel. . Já levamos a Ópera Funk para o Teatro Carlos Gomes, Universidades, hospitais e até para o Resumo da ópera, na Zona Sul do Rio. Foi muito emocionante quando aquele universo tão distante do cotidiano do Borel parou para prestar atenção à história daqueles meninos. Foi muito bonito para eles também, que têm um enorme orgulho de ser artista e morar no Borel. Posso garantir que nenhum deles sai a mesma pessoa depois de viver a possibilidade de produzir qualquer tipo de arte, principalmente quando estabelecem relações de confiança. E conquistar essa confiança não é simples. Estão mas do que acostumados com promessas e pessoas que se aproximam, como se eles fossem objetos de estudo. Eles sabem ler como ninguém a verdade e a mentira.

Quando confiam, crescem, aprendem e ensinam. Foi isso que fez a Ópera Funk ficar tão bonita e emocionada.

ale mar Nunes Dramaturgo, Diretor Teatral e Educador, responsável pelas oficinas do Proje o Rio Funk, da Secretaria de Municipal de Desenvolvimento Social da Prefeitura do Rio, no Morro do Borel, na Tijuca.

Esse preconceito é muito forte. Tanto empresas públicas quanto privadas contratam serviços de firmas de limpeza e manutenção, e nunca ouvimos alguém questionar a origem da faxineira da sua sala, onde mora, de onde vem. Mas o endereço da empresa interfere na assinatura do contrato. Quando se faz uma cooperativa que atua na mesma área e informa-se que é em Vigário Geral, ela passa a ser uma empresa de risco, com frases do tipo "olha bem o tipo de gente que vocês estão botando aqui dentro". Ou ainda, "se essas mulheres não sabem limpar a sua casa como é que elas vão limpar a universidade". A empresa é questionada na medida em que se apresenta com o nome do seu bairro e de sua favela. Ela jamais foi questionada antes quando era formada pelo mesmo quadro de pessoal. O conceito de tecnologia está muito atrelado à mecanização e à minimização de custos. A tecnologia ligada à organização do trabalho e eficiência ou de inserção social ainda encontra muitas barreiras para ser vista como tal.

Que Deus dê saúde a todos nós, a todos que colaboram para nosso apoio e para que a gente possa contribuir cada vez mais e ter um ritmo de trabalho bom. Que daqui por diante apareçam muito mais serviços para a gente ganhar sempre mais, trabalhando até Deus querer. Nadir de Almeida Cruz cooperativada

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