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Passou de branco, preto é. Eu sou negro

Passou de branco, preto é. Eu sou negro.

Na pesquisa que fiz entre 67 cooperativados, apenas uma pessoa declarou que não sabia escrever o nome. Um número expressivo de pessoas declarou não ter religião e a maioria dos evangélicos não se declara como tal, mas como cristãos. E possível que se houvesse candoMblé ou umbanda no lugar das religiões afro, provocaria uma certa dúvida, receio de dizer e ser questionado sobre sua opção. Levando-se em conta a evasão de fiéis na Igreja Católica, a grande maioria se assumiu como católica. Muito provavelMente dentre os católicos e os que disseram não ter nenhuma religião estão misturadas as religiões afro-brasileiras.

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A grande maioria se identificou como negro e moreno, mas alguns ' responderam: "na minha certidão está escrito cor parda". Muitos relutavam em responder e diziam "não sei", quase perguntando "o que é que você acha?" Um cooperafivado afirmou: "passou de branco, preto é. Eu sou negro." Interessante é observar o movimento de crescimento pessoal e político dos cooperafivados, sobretudo dos que estão em cargos de coordenação, diretoria ou comissão de ética. É muito forte a maneira como lidam com o seu espaço, seu fórum, discutindo, questionando e tomando decisões de igual para igual, sabendo exatamente o que fazem e o que dizem. São pessoas simples, de origem muito pobre, de quem a maioria das pessoas não espera muito. Mas os cooperativados, por mais pobres que sejam, por mais que não tenham estudado, possuem uma capacidade surpreendente, desenvolvem lideranças e outras características importantes nas quais se baseiam as cooperativas. Vale o registro de frases que ouvi e fatos que testemunhei. Você fez alguma melhoria em casa depois que entrou para a cooperativa? — Coloquei comida em casa.

Neste momento os outros cooperativados riram. Para ela a grande melhoria é poder levar comida para casa, é encher a geladeira. Outra cooperativada, que não sabia escrever seu nome e não podia p i ssinar a folha de pagamento temia não poder receber o salário no final do seu primeiro mês de trabalho, e explicava: Lá na minha terra eu assinava como dedo. i I

Helena Leila Wengorski Estagiária da lndubadora

para que consigam olhar além do horizonte. É importante estimular a integração de uma cooperativa com a outra através do Fórum de Cooperativas ou outras estruturas que darão aos diversos grupos vôo próprio. É a irttercooperação estrutural, tecnológica e administrativa,

a prática da troca de experiências e o exercício da solidariedade.

Casos como uma cooperativa que está trabalhando há um ano e não tem condições de subsistência nem consegue atingir a autonomia, mas tem pequenas reservas em caixa, credibilidade e "know how". Tem, apesar de tudo, mais que uma outra ciue está começando hoje e, nestes casos, é possível lançar mão de um sistema solidário, de ajuda mútua para garantir a sobrevivência.

O mesmo pode ocorrer em relação às exigências e às leis do mercado, perversas e de grande competitividade, estabelecendo quem tem condições de produzir e de reduzir custos. Muita einpresas que já têm mercado encontram sérias dificuldades no campo legal. O processo de legalização tem sido uma grande barreira para todas. Como uma pequena empresa, quase uma associação de pêssoas, vai disputar esse mercado, encarar um edital de concorrência que exige capital de giro, equipamentos e investimento? É necessário que essa voz se faça ouvir, caso contrário não terão capacidade de participar de debates nacionais como, por exemplo, nas mudanças da legislação hoje em questão, rijo kmporta se Federal, Estadual ou Municipal. Outro exemplo é. a necessidade de constituição de um fundo de cooperação. São muitas as exigências dos editais. Uma nova estrutura permite a junção dos pequenos capitais sociais de todas as cooperativas, com capacidade de participar da licitação. Nestas circunstâncias terão possibilidades de pleitear o crédito nas condições normais do mercado, além clé propor modificações nas linhas de crédito atual. Se esses são problemas comuns, a soma de esforços e a troca de experiências pode apontar, mais uma vez, saídas 'coletivas. Esse aprendizado tem sido a prática do cotidiano e o maior pa&imônio dos cooperativados.

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