5 minute read

Adote uma cooperativa

Adote uma cooperativa

1

Advertisement

Um dia, em uma visita a Casa das Palmeiras, o grupo musical osI Paralamas do Sucesso descobriu o trabalho artístico do "Bispo" como é mais conhecido o pintor Artur Bispo do Rosário. Se sensibiliztm com a "beleza do Bispo" e realizaram o disco/CD "Severino" com fotos d seus trabalhos - todos encorajados pela psiquiatra Nise da Silveira. Para os integraiites da banda, "Bispo" era mais um Severino que, mesmo isolado em um manicômio, arrebatava todo o mundo com sua obra. A partir daí, se estabeleceu uma relação entre os músicos e os usuários dos manicômios. Em troca da utilização da sua obra, em fotos, os Paralamas pagaram o trabalho para apagar as marcas deixada pelos cupins e pelo descaso com a saúde mental dos brasileiros. Daí em diante também se comprometeram com a luta contra o estigma a loucura, que leva os que o carregam à exclusão e desemprego. "Um exemplo é bem concreto. Um desses usuários não conseguiu a vaga em um emprego porque a sua letra estava trêmula devido à falta de ajuste da medicação. Com medo de perdera emprego, caso contasse a verdade, ele apenas disse que há muito tempo não escrevia. Perdeu a vaga assim mesmo", conta a psicóloga Denise Correia. Quando a Cooperativa da Praia Vermelha precisou de recursos para sua legalização eles não titubearam: depositaram o dinheiro e a adotaram para ajudar no que estiver ao alcance. Formada por cerca de 40 pessoas, entre as quais 20 técnicos e usuários do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, do Hospital Philipe Pi el, do Hospital Psiquiátrico Estadual de Jurujuba - a partir do qual foi criada a Associação Cabeça Firme - e a ADDOM, de São Gonçalo, a cooperativ enfrenta muitos problemasAlguns usuários deixam a cooperativa por dific Idades - de locomoção.Aprevidência também atrapalha: como são licenciados pelo INSS estão proibidos de receber dinheiro pelo seu próprio trabalho. Mas ninguém desiste. Nem os técnicos de saúde mental empenhados na luta nem os usuários do sistema de saúde mental. E é com essa paciênda que eles beneficiam a castanha daAmazônia, transformando-as em deliciosos bombons e em salgadinhos. Agora, partem para novos horizontes, através da cartonagem.

Rosane de Souza Jorrialista

identificar quais as que estão, do ponto de vista gerencial, maduras o suficiente para disputar contratos maiores. É evidente que muitas práticas já tão consubstanciadas, mas a consolidação efetiva ocorrerá quando sentirmos que começam a ousar novos vôos e a subir outros degraus no mercado. Seria uma prática sistemática tendo em vista a sua complexidade. Estaremos efetivamente com esse processo amadurecido quando aquilo que para nós ainda é uma grande surpresa e ainda traz uma certa insegurança, tanto do ponto de vista das pessoas quanto do ponto de vista estrutural, Rir . executado com total segurança. Queremos crescer mantendo a dinâmica e a riqueza que hoje perpassa todos os momentos da nossa história. Eliminar suas principais

No dia de fazer bombom, fazemos bombom, o dia que não tem, produzimos pastas. É um trabalho terapêutico mexer com artesanato. Eu já trabalhava com artesanato. Cada um tem o seu "eu" de trabalhar Cada erro nosso é prejuízo para nós, é a gente que está perdendo.. Tem que ter o máximo de calma possível no mundo.

Walter Rosa cooperativado

características em nome de uma lógica burocrática, adininistrativa ou de uma lógica de financiamento seria imperdoável. Não sabémos se numa grande estrutura será possível conseguir responder às pessoas que nos procuram na mesma intensidade de hoje. São pessLas que já não têm mais esperança, que leram no jornal, ouviram falar, perguntaram aos amigos, procuraram a associação até chegar à Incubadora com uma sede enorme e uma vontade maior ainda de que algo de bom aconteça.

E quando acontece, por menor que seja o salto de qualidade, é sempre mais uma vitória. São pessoas que nunca participaram cIL trajetória semelhante, jamais ouviram falar de assembléia geral e hoje chegam aqui, como uma cooperativada punida pela comissão de ética 'da cooperativa por faltar constantemente ao trabalho. Foi suspensa por urn mês e colocada na lista de espera. Vem com o estatuto nas mãos e reivindica: 'o estatuto diz que eu tenho que ser ouvida." Chegou um zero à esquerda aprendeu, entendeu que temos regras que nos balizam. Há uma mudança muito grande de qualidade nas suas vidas, e também de mentalidade, quando se sentem parte de uma empresa que disputa mercado.

Também aí equipe e cooperativados se identificam Estamos todos aprendendo e construindo o futuro. Alguns técnicos chegam de "salto alto", mas o embate com o cotidiano é muito duro. A ¡maioria tem que reaprender o que aprendeu e tem a humildadé de reco l nhecer que o que aprendeu na faculdade não se encaixa nesse universo e que terá que buscar caminhos diferentes, compatíveis com a nossa realidade. Todos aprendemos e nos forjamos na construção da Incubadora. É pré-requisisto para a permanência na equipe a disponibilidade de aprender. E isso ocorre por uma única razão: as cooperativas têm uma realidade extremamente dinâmica. Todos fizemos cursos na Incubadora. Aprendembs o que é uma cooperativa participando de um curso de cooperativisino, dos casos, junto com as próprias cooperativas. O universidade é para as cooperativas, mas as cooperativas a maioria saber da não são o

saber acadêmico. Em função disso, grande parte dos que chegam acaba colocando em cheque o saber acadêmico. Todos têm uma grande disponibilidade para aprender, para disputar, para problematizar. Somos desafiados a todo momento a nos adequarmos a essa dinâmica e aprendemos, assim, a não ter respostas prontas.

Capacitação é uma palavra-chave e critério básico para participar. A qualificação do cooperativado é o que define seu futuro e o da própria cooperativa. Há um investimento forte da Incubadora nessa área. Estamos travando internamente uma ampla discussão sobre metodologia, em função da postura imediatista de nosso público-alvo. Eles não estão ali por diletantismo. Precisam comer e dar de comer aos filhos. Temos que adequar o processo de capacitação a essa realidade. Também estamos revendo nossas cartilhas, identificando erros e acertos. Essas avaliações criticas são permanentes. Existe muito pouco saber acumulado em relação àqueles que não têm nada a perder. No início, era possível ouvir nas reuniões de equipe a frase "nós somos o projeto". O tempo se encarregou de desmentir o que parecia ser apenas um sentimento. Estamos construindo essa história e é muito importante estarmos aqui, mas a trajetória do projeto está passando por nossas vidas. Se muitos de nós "abandonarmos o barco" o projeto continua, simplesmente porque a Incubadora acabou sendo apropriada, não só pela universidade, mas pelas dezenas de grupos, pelas inúmeras pessoas que, diariamente, nos procuram querendo montar suas cooperativas.

This article is from: