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Derrubar muros. Construir cidadania

SI

O Homem como agente do seu desenvolvimento

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(9 trabalho da Fundação Banco do Brasil orienta-se para alternativas que ofereçam aos brasileiros, especialmente aos mais carentes, as condições necessárias ao seu crescimento e bem-estar pessoal. Isso significa investir não apenas no mero assistencialismo - que normalmente se esgota com facilidade e rapidez - ,mas dotar o cidadão de voz e projetos capazes de tomá-lo o principal agente do próprio desenvolvimento. Nesse sentido, o cooperativismo tem-se mostrado uma das formas mais mobilizadoras e solidárias para o trabalho. A conjugação de esforços propicia otimização da mão-de-obra e a democratização do aprendizado e das oportunidades. É, sem dúvida, um horizonte dos mais promissores no momento em que se buscam opções no combate ao desemprego e suas conseqüências.

O exemplo da Incubadora de Cooperativas Populares -projeto nascido no' Rio de Janeiro e que começa a ganhar todo o Pais-, é uma das mais importantes ações já apoiadas pela Fundação Banco do Brasil. Não só pelas soluções concretas que se pode oferecer para um dos mais graves problemas sociais atualmente enfrentados pela população, mas também por permitir a inúmeros brasileiros vislumbrar um futuro com mais confiança e otimismo no Brasil.

João Pinto Rabelo Diretor Executivo da Fundação Banco do Brasil

Cooperativa dos Trabalhadores de Vigário Geral - COOTRAVIGE Favela de Vigário Geral, Municipio do Rio de Janeiro.

Fase: Fundada, legalizada, em operação acompanhamento no mercadà

Formação:Curso Básico de Cooperativismo: 00/96 -32 horas. Assessoria antes d horas, administração - 120 horas, formação -300 horas

Cursos: Contabilidade de Cooperativas I, Rotinas Administrativas I, Metodologia . Geral e Laboratorial.

Setores: Limpeza ^Geral é Laboratorial e Construção Civil. mercado -92 horas, projeto -90 ara Confecção de Atas I, Limpeza

abrir mercado? Através da Gerência de Cooperativismo do Banco do Brasil, foi feito um contato com a Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que já tinha um trabalho histórico com cooperativismo. Pioneiros nessa relação universidade/cooperativismo, com metodologias desenvolvidas ao longo de muitos anos de experiência, eles vêm para o Rio com total disponibilidade. Contam, Thclusive, entusiasmados, com a possibilidade de divulgar nacionalmente o trabalho que realizavam em Santa Maria. Concluem as duas tarefas com êxito absoluto. Convivem com a comunidade, são ameaçados pelo tráfico, disputam e ganham espaço mais a confiança da comunidade e montam a cooperativa, com estatuto e todo o desgastante processo de legalização. Começam a trabalhar com cerca de 20 pessoas na favela.

Não seria exagero afirmar que, de certa forma, tudo o que hoje está em pauta começou com essa riquíssima experiência da Fiocruz, grande aliada no trabalho que estamos desenvolvendo e refèrência forte na reunião do dia 5 de janeiro de 1995, quando debatíamos a abertura de mercado através da UFRJ, até surgir uma proposta inversa: usar o potencial da escola como um fomentador e não só como mercado. Várias articulações foram imprescindíveis, particularmente as do Coep, que reuniu naquele momento, em torno

Histórico: Contato inicial da Casa da Paz em meados de 96. Curso de Cooperativismo em agosto 96. Fundada em setembro 96. Primeiros trabalhos foram pequenas obras. Em Agosto 97: Limpeza geral na Praia Vermelha e CAP.

Associados: 120 Postos de Trabalho: 100

Derrubar muros. Construir cidadania

aquela época a Fiocruz vivia urna situação critica: problemas com o tráfico de drogas, questões internas bastante delicadas, balas perdidas nas salas de aula, um funcionário nosso seqüestrado, e até hoje desaparecido, que gerou urna grande mobilização na cidade, com fortes reflexos na mídia, nos órgãos de segurança e no próprio tráfico, e urna série de desdobramentos que nos submetiam a uma pressão insuportável. O que fazer? Levantar muros ou trabalhar para mud r a situação econômica e social que está na base da sociedade?

A tendência de alguns foi "blindar a Fiocruz. A de outros, criar canais de acesso e maior aproximação com a comunidade. Já existia na instituição a Universidade Aberta levando, entre outras informações, conhecimentos na área de saúde pública para os moradores do Complexo de Manguinhos. Na época, eu era vice-presidente da Fiocruz e conseguimos, com o apoio dos demais membros da direção e funcionários, reunir um grupo muito amplo de moradores e presidentes de associações para encontrarmos juntos a porta de saída daquela situação. Em seguida, já num segundo movimento, realizamos o que chamamos de "estimativa rápida" da comunidade, quando constatamos o alto índice de desempregados.

Através da Universidade Aberta surgiu a idéia de estimular a criação de uma cooperativa de trabalho. Até por antecedentes históricos de vida, Cynamon (Szachna Cynamon, coordenador da Universidade Aberta) tínhamos uma fé: apostávamos na força da organização coletiva e do trabalho conjunto. Por convicção, acredito muito mais nas saídas coletivas do que nas opções individuais. Éramos dois sonhadores, confiantes na solidariedade como um valor inquestionável. Enfrentamos muitas resistências e visões preconceituosas. Era muito difícil—para muitos —entender a abertura das portas de uma instituição do porte da Fiocruz para o povo de Manguinhos.

Partimos para essa iniciativa e levamos a proposta para o Coep-Comitê de Entidades Públicas que levantava com o Betinho, a Comunidade Solidária e outras instituições as bandeiras da cidadania, da geração de postos de trabalho e das ações solidárias, contra a fome, a pobreza e a miséria. O apoio foi total, especialmente da Gerência de Cooperativismo do Banco do Brasil e da coordenação do Coep. Do Instituto Superior de Cooperativismo, de Santa

Cooperativa Mista dos Trabalhadores do Parque Royal - ROYAL FLASH Favela Parque Royal, Ilha do Govemador - Município do Rio de Janeiro.

Fase: Formada, legalizada, em operação — acompanhamento no mercado Formação: Curso Básico de Cooperativismo: 08/96 - 128 horas, 01/97 - 32 horas. Assessoria antes do mercado — 272 horas, projeto —228 horas, administração - 192 horas, formação —192 horas Cursos:Contabilidade de Cooperativas I, RotinasAdministrativas I, Metodologia para Confecção deAtas I, Limpeza Geral. Setores: Costura e Limpeza Geral.

Maria, minha terra natal, vieram mais dois visionários. Resultado: em seis meses a comunidade deu entrada com os papéis da Cootram-Cooperativa de Trabalho de Manguinhos na Junta Comercial.

O atropelo foi enorme. Tínhamos que correr para conseguirmos conciliar o final do contrato da empresa que prestava serviços de limpeza para a Fiocruz com a contrafação da cooperativa. Apesar das dificuldades, conseguimos firmar um convênio histórico, assinado pelos presidentes da Fiocruz e da Cootram, bem como pelo Betinho e D. Ruth Cardoso, responsável pela concretização do primeiro grande passo em todo esse processo. Acomunidade trabalhou muito bem. Sabia que estava jogando ali o futuro empresarial e, de certa forma, o destino de todos eles. Dos serviços de limpeza ampliamos o contrato para os serviços de jardinagem e, posteriormente, de manutenção de equipamentos em geral.

Todos ganhamos. A Fiocruz reduziu em 15% os gastos previstos com a empresa que antes executava esse trabalho e cada trabalhador teve um acréscimo de 2,5 no seu salário— a remuneração subiu mais que o dobro. Um sistema semelhante ao FGTS garantia a devolução de sua cota na empresa caso optasse por se desligar do projeto; um Fundo de Apoio ao Desemprego e o Auxílio Doença garantiam a sobrevivência em momentos difíceis. Hoje, a Cootram é uma importante força econômica, com mil cooperados, um faturamento anual de oito milhões de reais, ampliando cada vez mais o seu mercado, e nossas relações são as mais favoráveis possíveis, harmônicas e de muito respeito.

Foi um processo muito rico. A partir dessa experiência nasceu a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, idéia proposta e desenvolvida pela Coppe, que apoia inúmeros projetos de desenvolvimento de alta tecnologia. Por que não começar também a desenvolver tecnologia para a população pobre? É o que eles vêm fazendo.

Paulo Buss Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública

Históriée: Inicio das atividades em janeiro 96. Fundação em agosto 96. Inicialmente a Royal Flash era uma cooperativa formada somente por costureiras, setor em crise interna constante, a avaliação por parte da Incubadora resultou na mudança do escopo da cooperativa, ampliando para a área de limpeza geral, sua inserção efetiva no mercado se deu em janeiro 98. O Setor de costura está passando por uma reorganização com assessoria de técnicas da área de confecção.

Associados: 50 Postos de Trabalho: 50

da proposta, a Gerência de Cooperativismo do Banco do árasil, a Fundação Banco do Brasil e a Finep-Financiadora de Estudos e Projetos. O Coep foi criado como espaço de articulação para trazer à tona a responsabilidade social das entidades públicas. Seu objetivo, pautado na Ação da Cidadania, liderada pelo Betinho, era mobilizar essas instituições para o combate à pobreza e fazer com que refletissem sobre seu papel enquanto empresas públicas. O Brasil tem uma longa história de empresas muito segmentadas, sem qualquer discussão sobre público. Quando começou, o Comitê era formado basicamente por empresas estatais, segmentadas e voltadas para suas missões especificas. O Coep então se dispôs a abrir o debate, estabelecer parcerias e mobilizar essas empresas em torno de projetos e ações comuns. E assim o fez. O Banco do Brasil e a Fundação Banco do Brasil atuaram no mesmo processo e em paralelo. A Fundação Banco do Bras 1, como um braço mais institucional de aplicação das políticas do Banco. A Finep foi outra instituição importante na implantação do projeto, com um histórico ímpar, aplicando fortemente recursos na área do trabalho. Existem, na prática, três tipos de relações institucionais: as que se estabelecem a partir de articulações e de apoios, as de financ amento e aquelas de prestação de serviços. No primeiro campo, nossa primeira grande articulação foi o Coep, que lançou na sua rede esse processo. Nas relações de apoios a Fiocruz é uma parceira constante, muito embora não tenhamos desenvolvido, fora a Cootram, nenhum outro trabalho prático. Mas em termos de articulação política nacional o apoio é total. Parceira para todos os momentos.

Temos ainda o apoio da Secretaria Executiva do Comunidade Solidária, que surge, no âmbito federal, para fortalecer relações e dar concretude a alguns acordos e convênios. A Secretaria Executiva criou, junto com o Coep, o Fórum de Cooperativismo, reunindo instituições

Cooperativa dos Trabalhadores do Caju - ARCO ÍRIS Favelas que compõe o complexo do Caju - Município do Rio de Janeiro.

Fase: Formada, legalizada, em operação — acompanhamento no mercado Formação: Curso Básico de Cooperativismo: 04/96 - 64 horas. Assessoria ante 312 horas, administração -200 horas, formação —344 horas Cursos: Contabilidade de Cooperativas, Rotinas Administrativas, Metodologia Hospitalar e Predial. Setores: Limpeza Hospitalar.

do mercado —352 horas, projeto — para Confecção de Atas I, Limpeza

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