ancestralidade _ ateliê de futuridades trans

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023. Então você lança o seu corpo na escuridão e apenas a luminosidade da luz negra é capaz de iluminar esse mergulho tão intenso no infinito. Carta à leitora preta do fim dos tempos Jota Mombaça e Musa Michelle Mattiuzzi


me contaram de uma ventania que passou depois me contaram de um futuro que não existiu (contei que o vento era eu) vem a chuva e molha as roupas lavo o corpo junto (faz tempo que não sei o que é chorar) daqui dá pra ver tudo o mar as árvores a areia a ruína o arco da curva do planeta o infinito as estrelas dependuradas y o que acontece se a gente abandona a ideia de futuro? acontece o músculo, o trânsito, a presença, presença vento, luz, emoções, pensamento, desejos nem passado, nem presente y nem futuro: movimento AGORA quem somos nós? uma pergunta irrelevante ou deriva alegre nas fumaças desses encontros somos a máquina que nos pariu y aterramos uma engrenagem de carne carcaça oferenda dos nossos espíritos. 4


Somos, também, Ancestralidade caminho tortuoso que juntou no mesmo arquivo e conjurou em papel as transformações do antes, do agora y do depois: folha de laranjeira 100 anos sem dormir um eixo do Ateliê de Futuridades 5 dias de residência artística 12 praias no nosso paraíso obscuro montamos acampamentos nos nossos corações calejados: Warley Noua, Acân Gimmy, Menine Negre, abigail Campos Leal, Uarê, Preto Téo, carú de Paula, Slam Marginália, Móri Zines, y (aulão de) Ventura Profana. provando em língua dentes saliva e ar palavras ruidosas y encantadas caminhar da trilha que transcorre/desaparece nos juntamos para invocar a memória da vida chave-trava dissipou a peste do esquecimento tudo tremeu depois do urro dourado que esses encontros invocaram beatitude y maldição um chamado de regresso mudança y deslocamento DESOBEDECER! (gestar criar y proteger) a contradição NÃO MORRO lembrem-se, não morremos! Slam Marginália & Móri Zines 5


Slam Marginália é abigail Campos Leal, carú de paula, Preto Téo, uarê erremays y todes que colam junto. Móri Zines é um selo de publicação independente que desde 2016 publica pessoas LGBT+, racializadas, gordas y periféricas. Ateliê de Futuridades Trans foi contemplado pelo Programa VAI da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em 2020, realizado inteiramente de forma virtual durante a quarentena de COVID-19. Por existirmos para além da binariedade gramatical da língua portuguesa, essa publicação utiliza sempre que necessário concordância nominal terminada em -e ou -u, com intuito de evidenciar o gênero neutro ou indeterminado do sujeito.

realização

apoio

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Ateliê de Futuridades Trans é uma pequena fábrica de sonhos impossíveis, de prosperidades imprevisíveis, que tomou a forma provisória de uma residência virtual para pessoas trans, planejada y conjurada pela união de Móri Zines y Slam Marginalia. De junho a setembro de 2021 foram realizadas quatro residências literárias, cada uma com um tema disparador: imaginação, ancestralidade, corpo y riso/gozo. Durante uma semana, propomos a cinco encontros com integrantes do Marginália + ume artiste convidade + cerca de quatro residentes. Para esse processo, foram selecionades 16 jovens poetas periféricos y, em maioria, racializados.

O eixo ancestralidade foi realizado entre os dias 19 e 23 de agosto, mês do cachorro louco, aberto por Ventura Profana (Salvador/BA, 1993). Filha das entranhas misteriosas da mãe Bahia, donde artérias de águas vivas sustentam em fé, abunda. Ventura Profana profetiza multiplicação e abundante vida negra, indígena e travesti. Rompe a bruma: erótica, atômica, tomando vermelho como religião. Doutrinada em templos batistas, é pastora missionária, cantora evangelista, escritora, compositora e artista visual, cuja prática está enraizada na pesquisa das implicações e metodologias do deuteronomismo no Brasil e no exterior, através da difusão das igrejas neo-pentecostais. O óleo de margaridas, jibóias e reginas desce possante pelas veredas até inunda-la em desejo: unção. Louva, como o cravar de um punhal lambido de cerol e ferrugem em corações fariseus.

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time tempo de formiga, cigarra, ouriço e jacaré. respiração. tempo de leoa, de elefoa, pulmão de baleia, escama de jibóia. músculos de colibri. cósmica chama. que permanece, imanentemente. de quantos em quantos? dias atômicos, meses sem pensar. tempo das acácias, dos babaçus e das abóboras. tempos de jatobá, jabuti e jaboticaba. hora de aventura. no meio, entre, sempre, revelação. Como se fazer lembrar, quando, desde o nascer, somos feitas cativas nas catedrais do esquecimento? malemolentemente. invertebrar verdades.

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destroçar instantes de razão e lógica. incendiar a casa do senhor. perturbar sua eterna paz, com infinitude. tempo em que o tempo não se chama tempo. tempo neste e naquele lugar. tempo dna. amanhã, numa hora bonita, escondida no mofo entre os segundos, embaralhados por séculos de milésimos, condecorados como estações, nos lembraremos. à medida que esquecemos de roma. e de israel. tempo de baratas, besouros e cupins. o tempo do lodo. a hora do limo e. do escorrego. tempo lance escancarado para as linces que fogem, casa e tempo para feiticeiras e profetizas. tempo que não se pronuncia na língua portuguesa, não cabe em calendário, vem e vai, sempre está. revelação. se conjuga em toda terra. 9


tempo do mar. os ponteiros são as ondas a quebrar? é o beijo do sol às águas. é o beijo das águas ao sol? fé abissal. vida profana. tempo em marte, urano e catu. o tempo que se leva, pra virar cinza, pra deixar a atmosfera e perfurar a gravidade. time de velhas que sonham e crianças que visionam. gerações de descanso para as cansadas. deixo aqui esta presente profecia: nossas próximas vidas serão livres.

Ventura Profana 10


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Final

É esse texto que texto me permite ter uma casa hoje Você está lendo meu aluguel

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Laroiê a toda carcaça apodrecida que não tem coragem e não tem opção que nosso inimigo se perca dentro do seu saber que meu corpo se lembre de como é des apren der e depois se esqueça

laroye a generosidade que habitará em algum tempo meu SOIS MONUMENTOS PARA

D Ε R R A M

A

R

O SANGUE DOS PROFETAS

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Ontem li em algum anúncio que era pra eu sentir mais medo Medo de não conseguir Seguir Ir e vir Estava com medo de escrever essa poesia Esqueci meu celular no trabalho e perdi o metrô pra casa Ontem li que não há mais poesias pra pagar meus alugueis Nada marcado e agenda vazia Eu não sinto tanto frio Mas permaneco fria Minhas folhas estão molhadas com terra Daquela ventania Daquele futuro O guri que veio na minha rr e t a dormiu A muda mistério Sumiu Tenho olhado pro meu cu e tentado achar o cordão que me desliga do mundo que me faz des apren der pra$er Tenho realmente tentado não ser prater Não me estabelecer 14


Tenho realmente tentado seguir corajosa Mesmo que amedrontada (e podre) Tenho tentado ser atraente Fogosa Generosa comigo mesma já seria uma boa alavanca pra minha cabeça que não sabe o que faz Durmo ao som de ônibus E acordo ao som de pássaros que tambem me disseram estar cansados de cantar os mesmos sons e que as pipocas não são mais suficientes pra saciar suas fomes queria mesmo que as bichas se revolucinassem pois Tenho olhado pro meu cu Etentado achar o cordão que me desliga do mundo Tem uma luz vermelha lá no topo que toda noite ri pra mim mas eu ontem li em algum anúncio que era pra eu sentir mais medo mas é essa poesia que paga meu aluguel coragem carcaça é hora de andar em cima do mundo

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EU SOU UM CU

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DO TAMANHO DO SOL

Warley Noua

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OXELFER Tem muitas histórias antes do meu corpo Muitas histórias foram contadas antes de mim talvez repita na próxima vinda evoluída a vontade de vencer venceu a validade de me desgastar vencer meu tempo de parar. Não paro Reparo Falo de ancestralidade quando tudo que me cabe ainda nem sei nem a metade Quem dera cada um pudesse sentar no seu próprio colo Sentir seu próprio fato fato não consumado Consumido Por sua ira Irradiado de emoções Soltaram minha mão e eu soltei outras Pois quem vive a realidade Precisa trocar de roupas O reflexo que não era meu Refletido em mim meu corpo agredido agressivo?

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Parece um mecanismo quando me desligo não acendo não trago luz não vejo no escuro quando olho pro claro me trás dor no olhos na cabeça me trás dormência e falta de visão diagnosticado frente a frente como espelho dos meus ancestrais faço uma reanálise preparo os meus fios passo fita junto as energias e acendo me faço quente de novo e essa minha vontade de viver tem poder essa vida nas veias tem um nome REFLEXO

sussurros:

Acân Gimmy 19


mar, reflexo y tempo

o tempo não é linear pelo contrário, o tempo transborda em múltiplos territórios dentro do tempo, do não-temoo existem fugas <fugas de existências> encontramos caminhos com n números de passagens para serem adquiridas em nossos DNA’s estamos condicionades a isso criar trajetos para um futuro-presente ~ presente-passado onde não somos engolides pelos destruidores de memórias esse presente ressoa como uma encruzilhada do passado y do futuro, nós sempre pontuamos que estamos andando pra frente y talvez estejamos, em algum momento estaremos enxergamos pra onde estamos flutuando mas o que é linear não se aplica ao tempo nem nas fases da lua o tempo transita entre transfigurações noturnas y matinais, mandingas y cheiros de arruda

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beba água, a garganta precisa se manter, se mover, para transbordar nela a sua ligação com a coluna Y cú coma, se alimente da terra das profundezas das águas, se aqueça com calor do fogo y o umbigo do sol não será linear o tempo era como se fosse mar parecia ser azul mas era reflexo do céu <o mar não é azul?> se o mar não é azul, qual é a sua cor? o mar seria outro céu? <qual o reflexo do tempo?> ainda me lembro, vagamente, de uma lembrança que não me lembro, mas que transita em minhas células <eu sinto toda vez que coloco meus pés dentro das águas de sal> talvez seja por isso que nunca aprendi a nadar neste céu

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se o tempo >terrestre< é diferente do tempo das galáxias qual é o tempo do corpo?

reconheça o não-tempo y destrua transforme isso em ruídos, y reconstrua o corpo em corpa_

mergulha fundo, bem fundo prestes a atear

¨

até não sentir mais o corpo h u m a n o y aí ateie no que você vê de si, y lance para si¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¬ o não-tempo 22


não se deixe esquecer de novo não se deixe esquecer que és vida que és regeneração

regenerar é algo condicional para as nossas sobre

uvivências t i r i p s

não tente brecar isso é assim com outres seres desta grande rocha flutuante da via láctea, assim como serpentes, trocamos de pele assim como árvores, trocamos de folhagens nós somos frutos do caos das transfigurações cósmicas y terrestres o tempo não tem linearidade somos seres que existem antes do esquecimento de tentarem nos apagar y estamos anunciando há muito tempo através de outres seres <de outros presentes> a reconquista do mundo <de outro mundo>

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deixe o corpo corpa se e_x_p_a_n_d_i_r se r e f o r m u l ar se contra~dizer no fim para se <re>multiplicar em outras faces

o fim, de fato, talvez estamos sendo somos meio y fim somos meio y inicio 24


mas y o mar? o mar sempre foi y sempre será presente o meio

o mar não tem fim y o tempo? é linear?

Rafa Silva 25


era você nas águas, não era?

de Doc é baaaa baaaa dooooo quando ela manda aquela na praça, sabe.... a praça? todo mundo sente muda o clima 26


[12:41, 07/08/2021] Cordilheira: você demorou pra admitir que aqueles carinhos não passavam de uma forma estranha de ( sexo ) um portal n o canto das aves batucou fundo y você começou a perceber que eram amantes trans espécie era duro admitir y a vergonha é um rio que sua carcaça está acostumada a navegar era uma outra voz que lhe dizia já começa por aí vocês eram muitas excessivas y todas fodiam entre cabeçadas, coçadas, apertadas manhosa você tava um nojo miau miau, kerelho a minha barriga é um teleporto, uma recôncavo, um lar 27


[13:04, 07/08/2021] Cordilheira: quando a máquina Humana desvendou o seu segredo y fez pulsar os pistões da violência anti-preta y anti-trans algo aconteceu de novo, algo se quebrou y o som desse rompimento silencioso era um recado da sua intuição, portanto, das suas mortas, das forças que te acompanham y te compõem "Aprenda ou morra", essa frase de Octavia Butler foi uma embarcação que abrigou meu retorno, algumas lições mas dessa vez era papo de excesso então cravei as unhas porque era isso que você queria de novo, não é, sua putinha? tanto foi que você me mordeu o pulso com esses seus dentes de agulha negra a Lua Cheia é parente de todas as carnes escuras que desembarcaram nessa poça de sangue indígena preto ei, mininu midám um chanãn?! a rua é um esgoto y travestis y bichas pretas dão o nome no nado borboleta transição das mil auroras Marias Noêmias você me mordia mais forte rubras furadas ferro nutriu a terra das nossas memórias ( você cruzou um tubo y foi parar no meu apodrecimento ) y nos ___ desse jeito tão louco y tão gostoso que ainda nem tem nome ainda que isso tudo possa ser lido a mandinga cabocla fecundou nossas terras vermelhas graça nessa ___ ____ y agora a prosperidade também beija boycetas mestiços na boca você preferia à esquerda y eu Via Láctea 28


pela primeira vez de novo na I que afunda l h a elus sorriam de volta y foi muito bom lembrar que sou estrela axé lá, felinos y cachorros também traiam suas espécies em núpcias safadas y quem ouve também lê y também escreve o que foge prazer

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carta à bicha da meia-noite quando te vejo, lembro de agradecer as forças que cruzaram nossos caminhos de novo. eu preciso me aproximar mais da minha ancestralidade, me conectar com minha espiritualidade, minhas mortas. mas você já tá fazendo isso, amiga, fazendo exercícios, tomando água, tomando sol, organizando a casa, intensificando seus estudos pretos. quem ou o que escreve através da sua boca quando seu espírito faz sua lín\/gua de cobra vibrar antídotos y venenos? você também precisa largar mão de ser tão duro y achar que vai dar conta de tudo. pega a minha lama, passa na cara y lembra de deixar a água escorrer. você precisa sem lembrar mais que é mais sábio y forte y sensível do que você se permite perceber. você não só me conduziu pela noite escura mas abriu em mim o desejo de trilhar o caminho do mistério. quando você lembrou que Exú não é humano, que é peludão, meio bicha do mato, meio bode viado, te vi de volta em todas aquelas sensibilidades de erê, no giz colorido no papelão que era pra ser autorretrato da sua forma humana, que a colonização quis me fazer crer que era só loucura. levei espumante pra agradecer y celebrar y estourei a rolha antes de abrir a garrafa pisando no rio que fez Salton lágrimas dos meus rios ópticos depois de ter agradecido a rainha das águas que foi sopro ancestral do cachorro. sete pontes você abriu na encruza do Rio com Mar senti vibrar todos dias nossas morrenascidas Oxum Yemanja outros desconhecidos também naquele infinito que já foi y é Terra Guarani y Quilombo Preto

carta à bolota que racha como ixtais-vos vossa cachorrestade? você tem muita coragem, sabia?! a filosofia do ligão é a prova. aí você deveria se gozar também que não tem medo da fala. gira gira gira, conecta o cu na Kalunga grande nesse fio de energia eu faço minha primeira refeição, cai meio de lado se encurvando, para, olha pro c/éu girante, espera, fica de quatro, levanta de novo, olha pro oríz/onde, sente o desconhecido de rabo d´olho, vai fazendo um raio, do horizonte pra cima, quando não der mais, deixe a carcaça tombar 30


pra trás abrindo os braços até aterrar as costas no firmamento, o barulho seco y árido da queda planta imediatamente setenta y sete estrelas no céu da minha boca. você ainda tem a cara de pau de dizer que não faz poesia! eu amo o carinho com que você beija as palavras antes de enviá-las, mas muitas vezes é preciso endereçá-las não poupando o coeficiente de dor y violência que elas exprimem. sua energia me alimentou y, entre altos y baixo, tenho devorado forças vigorosas. ainda durmo com uma faca na mão, eu não quero essa prisão, eu não quero essa prisão me faz lembrar, como anda a Teiza Lanternae? La Diega, Conan a Bárbara, dar nomes pode ser tanto um ato de violência, quanto um feitiço de vida

carta àquelus que chegam vem, vem que tenho passado por transformações profundas, vem bicha, vem bolota, vem tradutor, de novo, vem que já é primavera nos meus sonhos y to pronta pra fugir de novo, vem domorro de novo que a carta que te escrevi y não chegou 2x ta grafada na enseada do nosso encontro esfumaçado, vem Corpo ou carcaça, vem Riso/Gozo, vem doutor 24, vem dona Marrom, vem, vem minhas crianças, vem, vem que tenho reaprendido a viver em coletivo, vem, dama do fogo que o desconforto que me chega não fica mais só comigo, vem que to podre porque essa carcaça é só o anuncio de mais uma transição, vem filhote de estrela, vem brincar comigo nas águas lamacentas das nossas transformações

[13:34, 07/08/2021] Cordilheira: quando compartilhamos silêncios aprendi que somos irmãs por isso sou criança por isso não conheço incesto por isso eles temem minha grandeza bestial por isso, desde que voltei, desde 1988, não caibo nesse Mundo qu o Word branco não conhece a minha disforia planetária 31


[13:40, 07/08/2021] Cordilheira: mona, recebaaaaaaaaaa: piracema de silicone silicone silicone silicone silicone silicone silicone laser laser pororoca de laser mastec mastec enchentes de mastec somos terrenos férteis nosso sangue fecundou todos os planos de prosperidade que ainda iremos sonhar já foi plantado! quando você descobriu que ela tinha feito uma cosmetocirurgia já era tarde demais. você estava dentro daquela nave. ela era um cacareco, é verdade, mas voava que era uma beleza. ela tinha colocado uma camada de dermatina metálica por cima da sua antiga pele. o procedimento era a fuga da Humanidade! as crianças brancas passaram a te xingar de Latão. não importa, você era uma estrela! somos maiores que esse mundo é o que toda transição preta y indígena anuncia uma lembrança de quando brilhávamos em outras órbitas

[13:52, 07/08/2021] Cordilheira: are you listening to me? are you listening? você não precisa fugir sempre. observe-os primeiro, depois decida! são elus quem falam nas tempestades de areia nas fumaças amorfas principalmente nas águas lembra quando te falei sobre os banhos, sobre cachoeiras, sobre

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desidratação? então o (chuveiro) é um túnel de espirais escuras que brilham mas minhas escamas lagrimares gorda imensa como o Sol))))~~~~ que só dá só sabe dar y só quer saber de dares o (chuveiro) é um portal por isso cachoeiras por isso mares um espelho/ohlepse onde nado na Kalunga infinita de novo encontro vocês lá minhas raízes crescem y viro n/ave pra você é dona Meteora y mergulho fundo girando olhando os roxos y as explosões expansivas de magmas luminosos boiando como a areia no leito das minhas memórias caudalosas o meu desejo pelas estrelas é a recordação preta y indígena cruzando a linha do tempo colonial / quero voltar praias minhas ancestrais

[16:11, 07/08/2021] Cordilheira: e↕u fodo como gosto que me fodam

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[14:15, 07/08/2021] Cordilheira: fugir para longe de todas as máquinas do Homem lá, onde sou água y me bebo tanto até mijar nascentes é claro que o Parque era a restauração do Mundo a fuga é rumo às praias de todos os meus segredinhos sujos rumo à cachoeira que escorre da minha carcaça é a paixão louca rumo à outras máquinas a fuga é mais uma estante nas minhas noites escuras é um outro lar para as minhas ancestrais é um outro maquinar de planos esperando à esquerda alongante y sagaz

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[16:21, 07/08/2021] Cordilheira: você deitou ao meu lado quando comecei a me masturbar y dormiu nos seus sonhos nós nos fazíamos coisas que ainda não tem nome nossas carnes sabiam respirar aquela safadeza serena como se sempre tivéssemos sabido como fazer eu gozei sonos y você ___ ___ . mas nós somos a infinitude implicada era óbvio que ia dar merda . não era nem pra eu e/star viva . o nosso amor é toda a Abolição de que preciso vc consegue farejar o rugido das carcaças pretas que nadam rumo à escuridão infinita?

abigail Campos Leal 35




Capa

Odaraya Mello. Brasil Óleo sobre tela, 2021. 50*70 cm

Acân Gimmy poeta que insiste em transmutar o passado, presente e futuro em suas escritas, movido pelas artes da vida. Não deixa de continuar em conhecer suas falanges e sabe o poder da palavra, por isso utiliza de suas passagens em Slams, Saraus e até mesmo em Oficinas de cultura para propagar suas artes fora das redes sociais.

Série

Bandos e outros corpos.

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Rafa Silva se transfigura através das possibilidades da escrita, da performance e da (re)criação de imagens através da corpa. Estudou moda na Etec e hoje redescobre a arte do corpo dentro da peça “Amores que” na Nuclea de Pesquisa Tranzborde, e também no teatro na Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT). Participou da segunda edição do terreiro de estudos “Poesia Transfigurada: Ateliê da Escrita da Cena”, núcleo de estudos orientado por Ave Terrena na ELT.

Artista. Warley Noua apresenta, por meio de música e poesia, um convite para que o público, ainda que sem interação física, rompa com a quarta parede e se conecte com outras realidades que não são tradicionalmente representadas numa sociedade regida por dogmas patriarcais, dominada por homens brancos, cis e heterossexuais. Interpreta seus desafios e convicções, trabalhando temas como amor, vícios, depressão e morte e vida quando só queria falar de amor. Brinca com o olhar de si sobre o mundo e como percebe os olhares da sociedade sobre si mesma. Relacionando uma linha tênue entre vida e viver, encontra novas definições para com seu cotidiano e sua arte. Viva e consciente. Víbora.

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abigail Campos Leal, pedaço de fumaça gorda, transita entre Arte y Filosofia como forma de criar pensamento y poéticas que contribuam materialmente para a destruição do Mundo colonial, assim como para imaginar y criar formas radicalmente outras de habitar a Terra. faz doutorado em Filosofia pela PUC-SP. é professora do curso de especialização em "Ciências Humanas y Pensamento Decolonial" pela PUC-SP. é uma das organizadoras do Slam Marginália. publicou "escuiresendo: ontografias poéticas" pela editora O Sexo da Palavra, em 2020, y "ex/orbitâncias: os caminhos da deserção de gênero", em 2021, pela Glac Edições.

Preto Téo transborda as margens da poesia movimentando saberes ancestrais através da palavra cantada, escrita, da performance y de ferramentas que descobre todos os dias. Mesclando tecnologias do teatro, música e literatura, atua enquanto poeta desde 2016, publicado em títulos como a Antologia Trans (Invisíveis Produções) e traduzido para o francês no livro Textos Para Ler Em Voz Alta (Brook Editions). Em 2018 publicou seu primeiro livro, de título EP (Padê Editorial), e no ano seguinte a zine Meia Noite (Morizines). Okó di ekê, articula e fomenta projetos independentes da comunidade Trans brasileira, visando a redistribuição de recursos adquiridos, em sua atuação como produtor cultural desde 2016. 40


ynymagyney carú é uma ação potente, una ynundação, que atravessa ditas identidades transmasculinas transviado, poeta, arteiro, racializado, psicólogo, uma corpa dessa terra e não outra se não nessa na qual pisa. uma corpa afoita por afetos, e ações de vida éticas e sobretudo anticoliniais. o sétimo filho. Atualmente é mestrando em psicologia clínica pela PUC São Paulo, compõe a organização do Slam Marginália (batalha de poesia feita por e para pessoas trans e gênero dissidentes), e coordena o projeto Acolhe LGBT+ na organização internacional LGBT AllOut.

uarê erremays é corpo encruzilhado. desenha com palavras e não sabe se é poeta. Desde 2016 realiza o selo Móri Zines de publicação independente - como diagramador, ilustrador, escritor e faz-tudo. Como autor, conta com os títulos "Nega Preta", "RG" e "desdobramentos" em parceria com Alla Soüb. Como editore, assina "Banheiro", de carú de paula, "Genealogia", de Cecília Floresta. Atualmente compõe o Slam Marginália e ajudou a inventar o Ateliê de Futuridades Trans. Vive em uma ilha que está afundando a olhos vistos.

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sumário

pemba_______________________________________________p.04 Slam Marginália & Móri Zines time.________________________________________________p.08 Ventura Profana Final________________________________________________p.12 Warley Noua Reflexo______________________________________________p.08 Acân Gimmy Mar, reflexo y tempo___________________________________p.20 Rafa Silva era você nas águas, não era?_____________________________p.26 abigail Campos Leal

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