banheiro
testo y capa carú de paula projeto gráfico uarê
lembranças padêmicas quarentena 2020
são nove da noite, sexta feira, entre a pinga com mel e o próximo da roda, eu vejo de canto de olho ela chegando, desce a ligeira ladeira como quem desfila impiedosa e firmando as botas, parece até que flutua, três tiros dados, metade da roda demorou alguns segundos para proferir o boa noite. venho aprendendo o valor do silêncio na chegada de pessoas que são presença. são dez e meia da noite, alterados, os corpos já não se contém, o amigo já fez a piada ruim, a ex já foi embora, a atual da amiga já deu o close errado, o dono da intera ficou de fora da roda, a amiga da crush perdeu o celular, são onze da noite já estamos a caminho de casa.
com a geladeira abastecida, eu não podia imaginar que a veria em minha sala, pouca luz, muita gente, já não consigo mais um papo bom, o teor de loucura me faz querer pular no seu pescoço ,encher as mandíbulas de mordidas, beijos, ver minha mão segurando sua nuca enquanto me olha procurando o melhor lugar na minha cintura para que suas mãos possam prender meu corpo em um curto espaço entre o nosso calor. me cutucam perguntando sobre o gelo para o próximo drink e sou tirado abruptamente da imagem do meu desejo. do outro lado do sofá, me olha como quem me come o juízo, e que na cama me fode sem causar prejuízos, apenas bom presságio vem desse ensejo entre o teu corpo e o meu desejo. descubro mais tarde que ela pensava em meter de quatro, quando eu sobre ela, escuto ao pé do ouvido, o que ela sussurra: o que já desejava quando me olhava. --
o que ela sussurra: o que já desejava quando me olhava. o espaço apertado no sofá, em segundos buscou outra cerveja na cozinha, voltou viu meu colo e meu sorriso esbanjando simpatia e sentou. e no vai e vem do passa e repassa a cerveja, nossos corpos não faziam muita questão da distância, e o rebolado já ficava intenso, em um rítimo como quem se acomoda no espaço, te seguro pela cintura, como quem garante a presença da bunda no meu colo. não haviam mais motivos para não trazer seu corpo de encontro ao meu, sorri, me olha de canto e trás minha cabeça na altura de sua boca, nossas línguas pareciam já saber o caminho, a pegada era forte, intensa, era como se os nossos corpos estivessem se engolindo, minha mão se escorrega para o meio de suas pernas e sua bunda rebola grudada no meu colo. embora a loucura, a gente passa do limite,
mandam a gente para um quarto, o riso é coletivo, mas sem pudor, estava anunciado, a gente queria se comer, se ver gemer, sentir o gozo no beijo, no corpo. depois de uma certa idade, a gente passa a não negar que o desejo é mesmo: foder. se seguem os carinhos, o toque leve e macio que sobe até a divisa entre seu vestido e a virilha, volto rápido com o dedo como menino travesso, mlk sem limites, você me sorri e me grita com o olho de vontade, enquanto me aperta firme a coxa. levanta, e faço cara de espanto, me chama e levanto como quem nem havia imaginado outra coisa, o banheiro é perto, você me convida pro canto enquanto na cozinha a gente inventa estar apenas esticando as pernas. aceito o convite.
banheiro
sentada na tampa do vaso, sento no seu colo e seguro sua nuca para que me olhe bem nos olhos, rebolo como quem quer que me foda devagar, forte, como quem segura a tensão e suga tudo o que tiver de sugar. suas mãos seguram forte minha cintura, me pressiona contra você, minha mão desce até o meio de suas pernas, está tudo tão molhado, rígido, assim como eu, molhado, rígido, ensopados. a gente levanta, de costas pra mim sua bunda encaixa no meu quadril, já estou semi nu, abaixo sua calcinha sentindo cada parte sua molhada, e enquanto passo o dedo por cada parte, segura firme no batente da janela e eu passo a te foder, devagar como você me pede, enquanto você rebola, bate uma, bate duas, bate três, bate quatro vezes sua bunda no meu quadril, e você segura mais forte agora as alavancas da janela. batem na porta, alguém bêbado precisa usar o banheiro.
não nos recompomos, abraço de costas aquele corpo vestido em bordô e mostarda, beijo sua nuca e nos olhamos como quem sente prazer em cada segundo do flerte entre minha mão e sua cintura, ignoramos a porta, se levanta e me agarra pela camiseta, eu não podia imaginar que me sentiria tão submetido a ela, primeiro me beija e passa suas mãos pelas minhas costas com força e precisão, eu não escaparia, e por isso me coloca de costas e me pressiona devagar contra parede, beijando cada parte possível do meu pescoço, ombros, eu me arrepio, meu corpo pede que me foda, meu quadril não se contenta e eu rebolo a cada toque, um pouco mais. ensopados, começa a me foder devagar, não me preenche, me faz pedir para que me foda com mais força, em pé, para que seja possível ver no reflexo do espelho nossas caras de prazer a cada rebolada mais forte, para engolir e se deixar engolir.
no vai e vem da intensidade. sentados, me fode enquanto rebolo de costas, não deixando escapar cada parte de contato possível entre as peles, me puxa pelo pescoço juntando um rosto ao outro enquanto geme no meu ouvido, me conta como quem já havia sonhado, a gente gozava junto, era o que tinha imaginado, enquanto descia a ligeira ladeira e me via em frente ao bar.
sorrio, eu gozaria com ela, eu gozei com ela, enquanto me diz ao pé do ouvido que me quer rebolando, e eu arrepio, gemo baixinho e cento com vontade, ela me segura pelo pescoço, e o movimento intenso, num rítimo único, a cada volta uma pressão, sinto escorrer, ela me segura firme, não solta - eu gemo baixinho - te aperto. a gente gozaaaaaaaaaa. ah ah ah
a gente se abraça, os corpos quentes, era só uma foda, uma boa foda, a energia do corpo não mente, é a presença, o corpo sente. saímos do banheiro, na noite prosseguimos nos beijos, na manhã seguinte seria talvez só mais um buxixo, ou o próximo romance da rodinha. futuro incerto, quem sabe, pelo menos mais uma foda para ver os rumos dessa prosa. pode ser na sala.
testo/atos/ty/casos/rona não cabe no vão entre o caos y a casa, entre o vírus y a máscara, toda a energia que atravessa essa corpa. com anúncio já em outras páginas, as paredes amareladas da casa já não tinham mais espaço para serem marcadas com gozo, soco, beijo, amasso, abraço, traço y recentemente, eventuais traças. sem perspectiva de caber nas paredes amareladas, abri uma fenda por intermédio da luz branca da máquina que flagra cada palavra que construo sob a lei da força, quando TEC… tec… TEC TEC tec em letras supostamente aleatórias, é que fui até o vizinho y voltei y nem sai do canto no qual meu teclado canta.
em tempos de energia vazando pelos buracos y poros, é preciso gozar em algum canto, ou recanto. em tempos de contato severo y contínuo consigo, enquanto desmorona o mundo, vem se fazendo crescente o desejo: flagrar o que não se captura. o que se quer na vida: gozo, prazer, bem viver.
obs: a testosterona deixa rastro, no gosto amargo, e o tesão sem fundo.
Móri Zines é um selo de publicações independentes que desde 2016 valoriza produções LBT+, corpos gordos, negros e periféricos.
O Selinho Putaria é pra quem senta.