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ynundem - se d’ykor pratykay vida|transmutação|vida putaria çacoaimbeguira nossa de cada dia socaivos hoje
ynundem u corpo ayê (h)(a)(n)(g)(o)(r)(o)(m)(e)(i)(a) corpo inteiro: parte | todo agbaye ha’evete
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o riso depois da queda * *
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são quatro as estações do ano (y apesar dos fascistas a primavera explode por entre os dentes) também são quatro as luas penduradas no firmamento tal qual as quatro patas dum cachorro atrás do rabo y assim foram os quatro eixos do ateliê de futuridades trans. ~~~~~~~~~~~~~~~~~ por quatro meses navegamos do centro da terra até o sol marcamos pé-ante-pé as trilhas que se fazem apagam em presença virtual palavra enunciada feitiço lançado para conjurar prazerosos agoras: des-frutar existir nessa corpa nessa terra, caminhar porque o destino se encontra com a sola dos pés na borda do mundo a cabeça nas nuvens (y fogo no cu)
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riso, sim de deleite em viver, de saber nossas existcias preciosas mesmo quando nos riem: a mulher barbada, a frutinha, o escárnio que mastiga nossa carne sagrada. gozo, sim porque somos poeira de estrela ainda que o devorador desejo cis que nos enquadra pague para ejacular sobre nossa pele sagrada com o dinheiro roubado desse chão colonizado. ~~ com as profecias rasgadas em atos de de-leite y des-ague (em ti) de Azul Marinha, Formigão, Mamba Negro e Yaga, bem como de abigail Campos Leal, carú de paula, Preto Téo e uarê erremays que se gozem os infinitos buracos poros de nossas corpas suadas e sedentas nas quais 70% é água, líquido, fluido y os outros 30% carne de oferenda ao universo, tratada a banhos de cheiro e manjares finos, preparada para gozar a queda e, depois do fim, se infiltrar nas frestas das ruínas e polinizar os futuros. sobrevivemos y vicejamos
Slam Marginália & Móri Zines 5
Slam Marginália é abigail Campos Leal, Preto Téo, uarê erremays, ynymagyney carú y todes que colam junto. Móri Zines é um selo de publicação independente que desde 2016 publica pessoas LGBT+, racializadas, gordas y periféricas. Ateliê de Futuridades Trans foi contemplado pelo Programa VAI da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em 2020, realizado inteiramente de forma virtual durante a quarentena de COVID-19. Por existirmos para além da binariedade gramatical da língua portuguesa, essa publicação utiliza sempre que necessário concordância nominal terminada em -e ou -u, com intuito de evidenciar o gênero neutro ou indeterminado do sujeito.
Capa
Kelton Campos Fausto. Ouvir. Técnica mista, 2021.
realização
apoio
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Ateliê de Futuridades Trans é uma pequena fábrica de sonhos impossíveis, de prosperidades imprevisíveis, que tomou a forma provisória de uma residência virtual para pessoas trans, planejada y conjurada pela união de Móri Zines y Slam Marginalia. De junho a setembro de 2021 foram realizadas quatro residências literárias, cada uma com um tema disparador: imaginação, ancestralidade, corpo y riso/gozo. Durante uma semana, propomos a cinco encontros com integrantes do Marginália + ume artiste convidade + cerca de quatro residentes. Para esse processo, foram selecionades 16 jovens poetas periféricos y, em maioria, racializados.
O eixo riso/gozo foi realizado entre os dias 20 e 24 de setembro, fim do inverno, aberto por Ana Raylander Mártis dos Anjos. Nascida no cafundó do mundo (1995, Minas Gerais), atualmente vive em São Paulo. Em sua prática procura estabelecer um diálogo entre a história coletiva e a sua própria história, o que tem chamado de prática em coralidade, envolvendo grupos de pessoas para colaborações e experiências de aquilombamento. Com formação em palhaçaria, bacharelado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) e Arte e Multimédia pela Escola Superior Gallaecia (Portugal), entende sua atuação como um fazer interdisciplinar e transversal. Vem recorrendo com frequência aos saberes da educação, escrita, performance e brincadeira como forma de compor um maquinário verbal, corporal e ético para discutir suas urgências em projetos de longa duração. Essa revista é fruto da produção coletiva durante o período da residência. 7
Rir e se arriscar de corpo todo
O brincante pergunta: – Prondé que foi ocê que não sinto mais, cera do ouvido? Porque andas tão quebradiça, unhas dos pé? Porque começou a se enrrugá tanto, pele da virilha? Porque sente um gosto tão amargo, meio da língua? Por onde andas tu que deixou de gargalhar comigo, bacia? Onde estão ocês que nunca aprenderam a se divertir, células adiposas? Pra que todo esse ressabiamento, cotovelo? E se, ao invés de rir com a boca, em um monólogo da boca consigo mesma, passássemos a rir com a boca, em um diálogo com o corpo todo? Seria possível reaprender as delícias de uma gargalhada? Dá pra aprender a não mais submeter o corpo à boca, mas convidar, em sua totalidade, o corpo para gargalhar com ela?
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Eu poderia começar esse texto abrindo levemente os meus lábios, sussurrando baixinho pro meu canto esquerdo dar um leve sorriso. Mas eu me atrevo começar esse texto de uma outra maneira: convocando todas as minhas partes, sejam elas moles ou duras, líquidas ou sólidas, tocáveis ou intocáveis, para uma grande risada. Eu me atrevo porque nasci assim: brincante e atrevida. Rir com o corpo todo nunca me pareceu tão perigoso como agora. É um risco se atrever a rir com as mãos, rir com os pés, rir com o bumbum, rir com a cabeça… rir, na verdade, por inteiro. Talvez devêssemos, como um gesto de traição à modernidade, ou tudo aquilo que vem de lá para cá, numa verticalidade que nos achata o sensível, convocar o nosso núcleo para um grande hahaha em profundo. E para que o corpo não se esqueça de como produz alegramento pelas bandas de cá do cafundó, apropriar-se de cada detalhe e pequenina parte de seu exterior e de seu interior. Aprender a dar cambalhota como um brincante, quando entra no folguedo de noite. E saber reconhecer a si mesmo no coletivo, entendendo o momento certo de entrar e de sair da arena. Porque divertir-se é também saber hora de passar o chapéu da brincadeira. Ana Raylander Mártis dos Anjos
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Arauto Pueril Para tocar os céus... Não adianta chorar pelo leite derramado, mas esse teu leite é amargo, coalhado, gorduroso, escorre pelo rosto como azeite, gruda na pele igual óleo de motor, falta algo que lhe desperte sabor, escuta o que eu falo, as vezes você só é um falo, fraco e apoiado em um pedestal, se achando o tal, você é tudo que acabou, lhe falta sentimento, vem com o sente tudo lá dentro, mas lhe faltou amor, trava a língua, nem mesmo abacaxi adoça tal leite, nem mesmo o melhor perfume adoça teu leito, sou mais o meu, uma mistura de querosene com mel, fazendo vibrar igual pinga de jambu, despertando um sorriso, sou meu próprio arauto, sou minha própria fé, sou meu próprio divino, se pintasse o anjo caído hoje se pareceria comigo, recusando beber seu leite alcalino, seu corpo salino, estou acostumado com doce, acostumado a lamber meu próprio recheio, independente de tudo, se reconstruindo no meio de mini surtos, igual big bang, reconstruindo tudo então se deleite, sou o grande fervo então jogue confete, te faço suar igual carnaval então vem e confere, sou saborosa igual um bacanal que você se diverte, tradicional igual na sexta santa comer peixe, sou caldo de piranha que você não esquece, dentro desses complexos, silenciosos tumultos, eu mesmo me amamento, se estou quebrado não me concerte, não preciso de choro, eu crio meu próprio riso, mas se quiser venha e observe. O que acontece com deuses sem arauto? sem sacerDOTE sem prece sem aDORação que o conserve sem orAÇÃO em seu nome para alegrar seu epiteto.
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Tão perigoso o deixei cair em tentação, mas deixei cair em esquecimento, sobre blasfêmia o riso na igreja mas o chorar é com aval completo, por isso quero caçar Anhangá, não pra matar, caçar no sentido de procurar, quero papear, reconectar, quero mapear, quero que meus olhos de guaraná pare de chorar, e só ria, quero esquentar que estou fria, pique boitatá, com os olhos de fogo, oritimbó afoguear, quem diria, que estou criacionista, mas estou criando fora das linhas. Quero desaguar, quero transbordar e se for parar chorar que seja de tanto rir e ai eu quero me afogar, ensopar, mergulhar, quero ser tsunami, maremoto, ser um pandemônio ou aquele BO LO LO LO de moto, cansei de ser raso, derrama esse óleo sobre mim que hoje eu quero ser vaso, não no sentido cristão, de unção e salvação, pregação quero pegação, quero ser vaso grego com aquela lambesão, chupação e fudelancia, quero fuder com a etimologia, quero orar pra devassidão, talvez devastar com a baixaria, numa miscelânea de luxuria quero escrever com meu gozo na parede das academias, numa bela orgia com o conhecimento com erudição, esporrei nesse teu traquejo, quero escurecer cansei de ser claro, quero servir igual 1,99, 1 em 69, cansei de ser caro e pra ser contraditório vou te dar cada centavo, cada sentada, vou te dar o troco em bala, BANG! BANG! BANG!
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7BELO! Halls! Freegells! vou te dar cada moeda, vou te dar tudo.
Menos O que Você ESPERA!! Pra voltar para casa com aquela cara de quem foi... Esqueci a palavra. S-U-R-P-R-E-N-D-I-L-D-O. Eu quero aprender com os antigos como é ser deus, QUEM SOU EU? Cai no esquecimento, sem culto, meu corpo não causou um tumulto, Ficarias estapafúrdio meno, com tamanha abstraimento, tão de caozada mentecapto, vou te passar a ideia, não vou rememorar normas cultas, quando vim não sabia dessa linguagem cheia de coisinha, letrinha, essa palavrinha ai, bagulho é o seguinte, quer ideia fonética, vou te passar a visão usando essa sua alfabética, eu mesmo rezo por mim, gozando em linguagem de libras, o milagre que eu faço é causar o teu fim. 13
Mamba Negro
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EU TÔ rINDO VOCÊ vINDO ME TRANSBORDA
A memóRIA de mim eis a bússola Norte, Sul, Leste ou cu ?
eu não existo no papel
Sempre na captura, na rua Convivência misteriosa Eterna retórica E
N
F
I
M
Há \\ qualquer movimento Força é vital Formando no espaço|céu A tragédia ATUAL
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A gente se acendeu Tota EnSÃO A escrita de minha digital:::::: eles não terão
EU SÓ rio VOCÊ Que causa tremor Boba de mim
Quantos qua qua qua cabem aqui?
C
H
E
G
A
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para QUERO RIR COM de
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Yaga Goya
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achei loko o rolê
segundona na humildade sem maldade kom a gatona Ana Raylander mandando muito nas ideia sobre riso/gozo eu plateia meu povo mina ke ensina noiz a rir kom o kor-po todo ser brio brinkante amante lembrando kultura popular é diversão subversão preta mil letra é eskritura nos nossos poros y ossos pela ancestralidade ke guia fia oralitura minha kerida ke pulsa na disciplina do malokeiro zombeteiro ó dizem ke noiz é digno de dó gargalhadas de eskárnio é lógiko ke deixa o psikológiko só o pó kambalhota reviravolta na chakota 20
Juninho Play só se for na hora do pey rir komigo é eskema kai cistema Formigão satisfação nome poétiko sigo antiestétiko não me engano sapatão aki é mano um salve a todo favelado sobrevivente de enkuadro sempre lembrando dos nossos finado morte prematura sentença das viatura olhar tem malícia atiça y aki se grita justiça em prantos por Luana Barbosa dos Reis Santos, vulgo Luan se pan um preto kulto y formado insulto o fardado armado kom o koração peço proteção na oração de São Jorge durante a vadiação pela rua iê luz da lua licença Laroyê minha deklaração de amor devia ser lampejo festejo 21
de algo bom na minha vida minha kerida é a bike dyke céu azul na zona sul eu y a magrela kerendo koletividade mas pra isso é preciso invokar o espírito da amizade partilhar as habilidades kom a komunidade eu mexo kai meu keixo kuando me centro no meu eixo dentro tão fértil ke fantasias gera poesia dizem míti-ku mas é kente eu sou krente ke há uma deusa nu rio do riso dá alegria ke kontagia in-kor-porada é dama de paus rainha das mata pode pá fluente em pajubá sua língua afiada tem navalha abigail Campos Leal delatou bases do kolonial mente branka é tranka vigente mas a gente ainda temos uma trilha 22
não há hierarquia entre presença y ausência elas vive junto y misturado tá ligado no relento no mesmo tempo a “eskrita é maior ke a eskrita” puta ke pariu um deus no eskuro do vazio vadio eus ligeiro rueiro zueiro prazenteiro amém Big Ben é né zé pretinho “preto velho novinho” pode krer diz uarê erremays tem uns verso manda mais ouvindo disko nem pisko emocionado me sentindo alado kor-ação um tambor em ação muita fé no próprio axé pela amor força interior é lembrar de nossas raízes diretrizes de repente as rima do repente é destreza 23
tipo freestyle certeza úniko baile possível Noite dos Tambores impossível amores ainda agonia pandemia kontente por ser sobrevivente alimentado amado vacinado não só desvantagem né Sabotage não diria malandragem na kapoeira é akilo sou menino brinkadeira dança ke não kança alkança angola só na ginga ébrio sem pinga não ao léu Preto Téo nos rememorou nossa herança saudação as kriança meu kuarto guardo meu deskanso sem deskaso memo bagunçado trabalho aki meus livro meus rabisko kabeça sã de manhã tem leitura 24
fugindo da loukura as planta kura eu me farto y preparo o fausto no imaginário povoado de modo vário ó só fechar o olho ke me molho na memória tecendo estória de teu kouro tesouro macio eu cio de kão ponho dedos dildo y mão no sonho de um virago ae viado assim ke diz aprendiz de batukeiro delírio é seu pandeiro kaçada achada pelo cheiro olívia passiva lascívia konviva nada bamba mas “louko por samba” neguim aki não kamba direito universal a saúde mental amiúde né não carú de Paula Seabra resistência tem kara de felino da floresta em festa Aláfia lançou um hino Yaga Azul Marinha Mamba nessa altura partilham sua fartura 25
de palavras nos juntamo y konjuramo um feitiço da minha parte é isso amaria putaria çacoaimbeguira mais gíria uns giro pras gira agradar agradecer agraciar nessa kaminhada litera-eskura di kebrada ora verborrágika ora tátika ora mágika sempre sáfika é poétiko é polítiko meu eu-líriko transgredir progredir eskreviver transkrever transpareceu no breu transe transatlântiko rimas são kântikos lição transmissão no korre transkorre trânsito transcendental intimidade radikal tem dendê no ateliê transversalidades a transbordar futuridades
Formigão 26
Florays y CORAYS Cu+ltivados
Nu centru da ymersãu das energyas, tays reflexus sy encontram em fundyçãu; tornam/sy fluxu da putarya. Sy/penetram noyte|madrugada|dya. Tornam seus fluydos transytoryus; mapeyam nas constelações estrelas guyas, dyrecões conjutyvas dy rayses hybrydas.
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Nessy hideograma celesty, a vesty da transmutaçãu, que sy/encontra suspensa no varal, quyntal du unyversu; ynstanty, passado y futuru.
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A chuva du agora expandy essy tecydu conectyvo pely; pedy, conjura, ynsynua condensaçãu mancha que yncharca a calha cavernosa .
Prosa y ymprovyso, ryso y gozu expansyvu. Coa na vesty yntyma a ynundaçãu gota, que umydecy y decy, fogu, chama sonhu; trovãu, relâmpagu y curyscu. É nu corteju que logu exystu; pulu da gata y dentada de cachorru nu frutu proybydu.
Umbygo, umbygada, sou, serei, poesya y feytyçarya malcryada.
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Trylha/sy na yncruzylhada u mapa sensoryal, memórya y camynhus palmas vybram asas em batuquy vôu;
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Sua Lynguada é a escryta dy vyvêncyas faladas; costuradas, enrayzadas y trazydas au burracu ocultu;
olhu energetycu quy costura no umbygu u pingu friu ryu.
Sextu sentydu du pulsar vyvu; gemydu profecya nus pés dus ouvydus. 32
Na suruba chãu sy estendy a vysãu termyca, Infra|azul, fé guyandu quem presa está; precysa gozar, dar mensagem codyfycada, codygu morsy: Uma gemyda ynsynuada, yndyca chuva a cygarra; prepara/se a crysalyda.
Azul Marinha 33
arremate para fechar o que arregaçamos peço licença à loucura. porque não há de ser outra coisa - senão loucura sustentar nossos corpos des | trans | extra _ viados empobrecidos y roubados desterrados y adoecidos pelo brasil arranjar pão e cariri com mel e poesia sobreviver aos dias que a loucura desdobre a língua em verbo e profecia em realização e instauração dos melhores agoras possíveis que possamos enunciar em palavra e viver na carne a destituição desse território a retomada dessa terra pra semear riso e colher gozo estancar sangrias e expelir jorros imaginar conjurar f(r)iccionar maneiras de atravessar a grande noite sem acender a luz, - nosso cortejo de bagunça y chacota na intereza desse breve instante uma zona autônoma temporária sopro que instiga o ímpeto de continuar até irromper de manhãs y fins de mundos peço licença para sincronizar com o tempo vegetal que ignora calendários e relógios e atrasos corpo que entoca quando chove 34
y se abre quando vem o sol agradeço aos dias de aprender na pele a enlouquecer e a sanar (e saber que em tempos futuros atravessaremos angústia e melancolia) agradeço aos pares que caminharam lado a lado pelos vales das sombras, do ribeira, dos homossexuais y também pelos montes regaços, nascentes e braços de mar aos que pisaram o chão antes de mim e me possibilitaram trilhar suas pegadas a tantas terras desconhecidas y frutíferas agradeço às estrelas que nos suspenderam no infinito às cordas vocais que, vibráteis y aeradas, gargalharam aos deuses do wi-fi que nos carregaram em ondas virtuais às tristezas mais profundas às quais sobrevivemos às carnes que se romperam y se costuraram em vida agradeço o emaranhar de vocabulário quando sua língua me acudiu ao faltar palavra em mergulhos de intimidade radical tornamos a superfície terreno de sanidade que possamos respirar em segurança y traçar em verbo os limites que saibamos andar juntes y separades agradeço a coragem e a generosidade y à loucura peço licença pra fechar o que arregaçamos.
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uarê erremays
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vulgo Formigão pele parda nascido y kriado no fundão do Jardim Ângela zs sp 31 (out/1990) ano kontrariando as estatístika. boy di favela. nerd de kebrada. um sapatão oníriko. poeta y fanzineiro nas Edições Formigueiro minha distro diy fanzines toskos piratas y marginais, onde vendo pó... esia mas não só tem hq, relato, ensaio, teoria lésbika, história tbm. desde menor kultivo in silêncio palavra herança dos mais velho aí aos 14 veio as letra klássika na eskola y as letra da rua aos 16 nos sarau da sul. maior inspiração pra eskrever é o punk, o rap nacional, a literatura negra y a oralidade periférika. publikei em uma pá de revista, antologia y blog tipo Resistência dos Vagalumes antologia brasileira escrita por LGBTQs (2019)y etc. alguns dos trampo solo ke lancei em formato de zine: Eu-sapatão: eskrevivência sobre maskulinidade y desafio ao poder (relato) de 2019 (Edições Formigueiro), meu primeiro livro de poesia é artesanal kapa de papelão tinta spray chama Afro Latina de 2018 (Padê Editorial).
Gruta|sub|aquátyca. My veju nu reflexu|espelhu maré|ryu. Fluxu em crescymentu, rysoma; rayz|sementy y u surgymentu du meu ser, bycha Trans|besty|alada. Evapora, ynunda, enrayza y queyma, as diversas formas dy na arty manyfestar: Pynturas hyeróglyfadas, roteiros cyne|mytyfycadas, poesyas yncantadas; Conjurações de uma hybryo|nãu|bynarya sobre vynty y duas Luas em noytys yntrelaçadas|estreladas. Em cada ynycyu, u sextu|sygno sentydu unyfycadu pelas gêmyas celestys; u sol|sou quy my revesty astral. Casa|casca|vêu nordestina, ory|gem que my ynsyna. Nascyda entre us espynhus dy Lymoeyru Du Norty; morada “Aondy Nascem Us Fortys”. Mergulha ynundaçãu|gota|chuvisco, umbygo ancestral com a “Azul” maré|ryu; É nu olhu d’água quy pynga conta lagrymas, sementys, serpentys rayzys nu chãu. Ymprovysação: Sou obra artystyca hydryda da natureza em expansãu|vybraçãu|unyfycaçãu. Azul Marinha; muito prazer até a próxima trans|borda|mutaçãu (...) 38
Amaria ficar deitado dentro da sua caixinha da mesmice, mas como rata maldita que sou, comecei a roer os restos das minhas dores e agora beirando a obesidade do meu ser, não me cabe mais estar dentro de tão retrógrada caixa. Nascido, crescida, amargurade, dentro de uma metrópoles acinzentada, angústia se tornou parte do nome Mamba, tornei-me escritor de dores coloridas para evitar a grangrena branca nas feridas pretas. O tal nome que se referia uma temida cobra, hoje devora o próprio rabo, saboreia do próprio veneno e dentro dos meus 21 ciclos infernais, produzindo uma arte monstruosa, provocativa, pornografica e repleta de anseios, pronuncio minha sonora poesia, beirando o analfabetismo da escolaridade pública precária ou apenas recriando sua própria dialética neo paganica, não colonial, suspirando e flertando entre a ritualista trans pueril e o âmago controverso e dilacerado de quem mastigou falas, cuspiu falos e hoje vomita arte. (Se tem medo do seu nome na boca do sapo, porque ainda não viu seu nome na minha boca) 39
Multiartista, Brasileira Y Trans nãobinária, Yaga Goya (27), que assina alguns trabalhos com o pseudônimo de “Umabixa”, é de família pernambucana, nasceu no carnaval de 94 y cresceu em Guaianazes, periferia da Zona Leste de São Paulo. Em sua independência artística, se desenvolve através da pintura, poesia, música, teatro, dança y produções culturais. Nas artes visuais, possui em seu histórico 9 exposições feitas, ocupando lugares como "Museu da Diversidade Sexual", "Instituto Goethe" , "Oficinas Culturais de SP" y a Rua! com graffitis y lambes.
(...) Era mais como se não me ocorresse mesmo em posse de palavra, verbo y rasgo - anunciar-me poeta. Zineiro e desenhador, uarê erremays é artista por insistência, catador de planta, estacionador de naves batidas. Desde 2016 realiza o Selo Móri Zines de publicações independentes, que sonhou junto com o Slam Marginália a realização de uma revista de poesia (que é esta que você lê). Publica autores LGBT+, pessoas racializadas, gordas, poesia e putaria. De 2016 a 2018 realizou "Trajetos Celulares", projeto de escuta de idosas em parceria com Nu Abe y patrocínio do Programa VAI. Durante o Ateliê de Futuridades Trans viveu os maravilhosos atravessamentos da coletividade em tempos de isolamento e reaproximação, e finalmente saiu do armário: menino poeta.
Preto Téo transborda as margens da poesia movimentando saberes ancestrais através da palavra cantada, escrita, da performance y de ferramentas que descobre todos os dias. Mesclando tecnologias do teatro, música e literatura, atua enquanto poeta desde 2016, publicado em títulos como a Antologia Trans (Invisíveis Produções) e traduzido para o francês no livro Textos Para Ler Em Voz Alta (Brook Editions). Em 2018 publicou seu primeiro livro, de título EP (Padê Editorial), e no ano seguinte a zine Meia Noite (Morizines). Okó di ekê, articula e fomenta projetos independentes da comunidade Trans brasileira, visando a redistribuição de recursos adquiridos, em sua atuação como produtor cultural desde 2016.
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abigail Campos Leal, pedaço de fumaça gorda, transita entre Arte y Filosofia como forma de criar pensamento y poéticas que contribuam materialmente para a destruição do Mundo colonial, assim como para imaginar y criar formas radicalmente outras de habitar a Terra. faz doutorado em Filosofia pela PUC-SP. é professora do curso de especialização em "Ciências Humanas y Pensamento Decolonial" pela PUC-SP. é uma das organizadoras do Slam Marginália. publicou "escuiresendo: ontografias poéticas" pela editora O Sexo da Palavra, em 2020, y "ex/orbitâncias: os caminhos da deserção de gênero", em 2021, pela Glac Edições.
ynymagyney carú é uma ação potente, una ynundação, que atravessa ditas identidades transmasculinas transviado, poeta, arteiro, racializado, psicólogo, uma corpa dessa terra e não outra se não nessa na qual pisa. uma corpa afoita por afetos, e ações de vida éticas e sobretudo anticoliniais. o sétimo filho. Atualmente é mestrando em psicologia clínica pela PUC São Paulo, compõe a organização do Slam Marginália (batalha de poesia feita por e para pessoas trans e gênero dissidentes), e coordena o projeto Acolhe LGBT+ na organização internacional LGBT AllOut.
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sumário
o riso depois da queda________________________________p.04 Slam Marginália & Móri Zines Rir e se arriscar de corpo todo_________________________p.08 Ana Raylander Mártis dos Anjos Arauto Pueril______________________________________p.11 Mamba Negro coquetéis emergenciais para sorrir_______________________p.15 Yaga Goya achei loko o rolê____________________________________p.22 Formigão Florays y CORAYS Cu+ltivados________________________p.29 Azul Marinha arremate__________________________________________p.36 uarê erremays
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