Revista Fólio - 2020/1

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EXPEDIENTE Diretor Geral Robson Ramos de Aguiar CONSAD – Conselho Superior de Administração Titulares: Valdecir Barreros (Presidente); Aires Ademir Leal Clavel (Vice-Presidente); Esther Lopes (Secretária); Marcos Gomes Torres; José Erasmo Alves de Melo; Renato Wanderley de Souza Lima; Jorge Pereira da Silva; Andrea Rodrigues da Motta Sampaio; Cassiano Kuchenbecker Rosing; Luciana Campos de Oliveira Dias Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão; Josué Gonzaga de Menezes Reitor Marcos Wesley da Silva Coordenador de Pesquisa e PósGraduação Stricto Sensu Edgar Zanini Timm Conselho Editorial Presidente: Marcos Wesley da Silva Vice-Presidente: Edgar Zanini Timm Conselho: Caroline Dani; Jose Clovis de Azevedo; Marlis Morosini Polidori Assistente Editorial: Ágata Cristina Silveira Pamplona Editor Executivo: Sergio Marcus Nogueira Tavares Conselho Editorial Revista Fólio Editoras: Profa.Dra. Claudia Tacques Profa. Dra. Valéria Deluca Soares Coordenador Escola de Comunicação e Hospitalidade: Profa. Dra. Valéria Deluca Soares Editora Universitária Metodista IPA Rua Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80 Prédio A – Sala A001 – Rio Branco Capa e Projeto Gráfico: Alessandro Davila Diagramação: Juliane Lucca Multiverso Comunicação Integrada Rua Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80, Sala 13, Praça de Alimentação - Rio Branco multiverso@ipa.metodista.br multiversoipa.metodistadosul.edu.br

E d it o r ia l “Tempo estranhos”, chamou a era que vivemos, o ministro do STF, Marco Aurélio de Mello. Quando imaginaríamos uma pandemia? E se fosse somente isso... Quando pensaríamos em ver a educação no Brasil vivendo uma crise de tamanha proporção. E não se trata das consequências avassaladoras que a Covid-19 trouxe. Trata-se do descaso. E a ciência? Tão necessária, mas atacada na mesma medida. Cortes seguidos de cortes. O conhecimento não parece ser algo importante para muitos neste país. Mas, quem tem a pesquisa e a ciência como norte, não se abate. Já está acostumado a sofrer e a seguir lutando, pois são inúmeros combates e muitas vitórias. Batalhas são frequentes para quem tem como ofício estudar, ensinar e contribuir com a construção do conhecimento. Em um tempo tão complexo, manter uma revista científica viva e pulsando, é uma demanda e tanto, mas possível de ser vencida, pois são muitos o que acreditam que a pesquisa é o caminho para uma vida melhor. A Revista Fólio não fugiu do seu desafio de buscar textos que reflitam sobre o momento atual, com destaque para a perspectiva da Comunicação e do Turismo e Hospitalidade. Áreas atingidas em cheio pela pandemia e pelo descaso. A entrevista apresentada e os textos selecionados para a 25ª edição desta publicação são complementares. Discutem sobre temas tensos como o posicionamento do governo frente aos números desenhados pelo novo coronavírus e sobre os aspectos que envolvem a elaboração das fake news. Refletem sobre negócios e o ensino da Comunicação em meio à pandemia. Também, convidam para reflexões que envolvem o cinema, o esporte, a gastronomia e o turismo em territórios rurais, em bases comunitárias e a partir da percepção de autóctones sobre espaços públicos. Reúne um grupo de pesquisadores que acredita que pesquisa, ciência, conhecimento e uma sociedade com mais qualidade e igualdade são elementos indissociáveis. Entendemos que estamos do lado certo da história. Ou seria História, com H maiúsculo? Seguimos perseverantes e fortes naquilo que nos mantém unidos: a universalização do pensar e do saber. Boa leitura! As editoras


S UMÁ R IO 5

OPACIDADE E OBSCURATISMO: A TRAGÉDIA DA MORTE SEM CONTAGEM E SEM EXPLICAÇÃO

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APONTAMENTOS INICIAIS PARA A IDENTIFICAÇÃO DE ELEMENTOS DO JORNALISMO PARA A ELABORAÇÃO DE “NOTÍCIAS FALSAS”

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ELEMENTOS HIPERMIDIÁTICOS NA COBERTURA DA COVID-19: APONTAMENTOS DE UM EXERCÍCIO PEDAGÓGICO

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O FUTEBOL PÓS-MODERNO NA MÍDIA BRASILEIRA: UM EVENTO HIPER-REAL E A ESPETACULARIZAÇÃO DA ANÁLISE

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A FÓRMULA 1 COMO FENÔMENO MIDIÁTICO ESPORTIVO: ANÁLISE SOBRE O CANAL SKY SPORTS F1

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CULTURA, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

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PEQUENA MISS SUNSHINE: UMA ILUSTRAÇÃO SOBRE IDENTIDADE SOCIAL À LUZ DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA

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O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO QUILOMBO DA FAZENDA: UMA ANÁLISE À LUZ DO MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO

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PERCEPÇÃO DOS AUTÓCTONES SOBRE A OFERTA DE ESPAÇOS PÚBLICOS ENQUANTO PRODUTOS TURÍSTICOS

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A CULTURA E A GASTRONOMIA PERUANA FOMENTADAS PELO CENTRO PERUANO EM PORTO ALEGRE – RS

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VIABILIDADE TURÍSTICA EM TERRITÓRIOS RURAIS: REVISÃO DA LITERATURA EM FACE DO CENÁRIO DE PANDEMIA DE 2020



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OPACIDADE E OBSCURATISMO: A TRAGÉDIA DA MORTE SEM CONTAGEM E SEM EXPLICAÇÃO Entrevista com a Doutora Marlise Brenol, professora da Universidade de Brasília (UnB). Por Sandra Bitencourt¹

A

ocultação do governo federal brasileiro na divulgação dos números da pandemia de Covid 19 no primeiro semestre de 2020, levou a um embate importante no campo do jornalismo, acionando especialmente o conceito e a aplicação da ideia de transparência, um preceito constitucional e um princípio normativo a ser alcançado pelo ofício jornalístico. O percurso de ocultação teve início com a eliminação das entrevistas coletivas diárias, para atualização dos dados e explicação de estratégias, no Ministério da Saúde. Depois, os boletins com os números consolidados passaram a ser distribuídos em horários cada vez mais tarde, pós noticiários e o fechamento dos jornais. O portal do governo chegou a ser reformulado, mas por determinação judicial teve que retomar a metodologia de contagem e registro das mortes. O apagão de dados patrocinado pelo governo repercutiu dentro e fora do país. Há diferentes ações de jornalistas realizando a coleta independente, individual ou consorciada, dos dados, buscando diferentes tipos de visualização e plataformas que permitam o download de dados desagregados e a atualização. Contudo, seguem as dificuldades para obter respostas satisfatórias sobre um tema de interesse público. Na verdade, um tema de vida ou morte. Em razão disso, e buscando atualizar o debate em sala de aula, fomos encontrar resposta pelo olhar de uma especialista, que vem pesquisando os aspectos conceituais, jurídicos e legais da transparência, vinculando à reflexão sobre Liberdade de expressão, jornalismo e desordem informacional. Nesta entrevista, a Drª Marlise Brenol sintetiza, em 10 questões, palestra feita online para o curso de jornalismo do IPA. Doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS, Marlise Brenol atua como professora substituta na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Brasilia (UnB). Tem experiência docente nas áreas de jornalismo digital, redes e mídias sociais, editoração em novas mídias, narrativas transmídia e laboratório de multimeios. Como pesquisadora, participa dos grupos de pesquisa em Jornalismo Digital (JorDi) e do Núcleo Comunicação Pública e Política (Nucop) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

1 Jornalista, Doutora em Comunicação, Professora do Centro Universitário Metodista IPA.

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Sandra: Drª Marlise, podemos começar conceituando transparência e revelando sua aplicação e seu percurso no Brasil? Marlise: A transparência é um valor democrático, assim como as liberdades, o pluralismo, a igualdade, garantido por meio da legalidade no Estado de Direito. Nessa perspectiva, a transparência é estudada como a propriedade capaz de prover acessibilidade e publicidade à coisa pública, como antítese ao poder invisível. Nos governos autocráticos, o preceito do segredo se sobrepõe, ou seja, o governante exerce o poder por meio da ocultação da informação. Deter a informação é sinônimo de ter o poder de divulgar ou não aquela informação que convenha. Ao contrário, na democracia a norma é o poder visível do Estado. No Brasil, nós temos uma constituição federal e um processo de democratização bastante recentes. A nossa carta Magna chegou a ser chamada de constituição cidadão justamente por estabelecer os princípios dos direitos fundamentais, garantias e deveres do cidadão para capacitá-lo a participar da coisa pública. A Constituição em si é norteadora de regulamentações, leis e outras normas legais. No caso, a transparência está diretamente vinculada ao acesso a informações de Estado como um direito previsto no artigo 5º, dos direitos e deveres fundamentais, que num dos parágrafos explicita que todos têm o direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse individual ou coletivo, salvo casos de classificação de sigilo. Depois, o artigo 37, sobre a administração pública, prevê a publicidade dos atos de governo como um princípio a ser observado pelo servidor público. Ainda, no artigo 216, tem a previsão de que cabe à administração a gestão dos documentos para que eles possam ser consultados pelo cidadão. Essas previsões constitucionais guiaram a redação da lei mais importante em relação à transparência que é a Lei de Acesso à Informação, lei 12.527, em vigor desde maio de 2012. Tivemos a lei de responsabilidade fiscal que previa publicização de dados orçamentários, complementada pela lei de transparência, e outras leis revogadas pela LAI, porém as condições foram efetivamente criadas a partir da aprovação da lei de acesso. Mas aí vocês podem perguntar, por que o Brasil levou mais de 20 anos para regulamentar esse direito fundamental. O país não é um organismo apartado do contexto social, político e econômico no qual está inserido. Portanto, as condições para que essa regulamentação pudesse ser debatida na esfera pública política e da sociedade se estabeleceu quando organismos internacionais colocaram na pauta as premissas de transparência para que relações de poder e troca institucional e comercial pudessem se estabelecer. Na esteira, o desenvolvimento de tecnologias de informação criava o ambiente no qual esse direito pudesse ser operacionalizado. Assim, as condições e prazos para implementação do serviço de acesso a informações tornou o direito tangível e obrigou a operacionalização nas três instâncias do Estado – federal, estadual e municipal. Sandra: Na sua opinião, qual é hoje o cenário do ponto de vista do acesso ao direito à informação e da transparência aos atos do governo? Há, de fato, retrocesso? Marlise: São oito anos de vigência da LAI no Brasil, nesse período tivemos mais avanços do que retrocessos. Os primeiros anos de LAI foram os anos de adaptação, no qual cada governo teve de criar o serviço de acesso à informação pública, seja

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na modalidade digital, seja na forma de atendimento presencial. Havia uma série de impasses em relação a documentos que não estavam digitalizados, a prazos que não eram cumpridos e a classificações de sigilo. Os tribunais de contas da União e dos Estados, bem como organizações civis não governamentais atuaram firmemente no suporte e vigilância para o cumprimento da norma, inclusive com a elaboração de rankings de transparência e outros recursos de monitoramento e publicização. Ou seja, os quatro primeiros anos forjaram um ambiente pró-transparência pressionando os governos e trazendo o debate à luz. A adaptação e a implementação de qualquer regulamentação nos âmbitos de governos dependem de vontade política, portanto há nuances a serem observadas nesses oito anos. Há avanços e retrocessos, a cada eleição, com alternância de poder, pode haver um direcionamento diferente ou mesmo um apagão de esforços efetivados na gestão anterior. Portanto, eu diria que há uma vontade política, em especial no âmbito do Executivo federal, nos últimos dois anos, para que os avanços conquistados pela LAI retrocedam. Ao mesmo tempo, há na democracia os sistemas de vigilância e controle social no qual a sociedade organizada e os demais poderes, bem como a imprensa, têm atuado como agentes de contenção dos ímpetos de antitransparência. O judiciário tem sido imprescindível na manutenção da garantia dos direitos fundamentais e contribuído para frear as tentativas de modificações nos preceitos da LAI. Porém, se não estamos retrocedendo em relação à LAI, certamente estamos estagnados na sua implementação, ou seja, estamos evoluindo muito pouco na racionalização da transparência. Porque antes de estar acessível, os dados precisam de um competente gerenciamento, o que não é realidade no Brasil. Vide o caso Covid-19 que trataremos mais adiante. Sandra: Pelos seus levantamentos, como o jornalismo se comporta nessa relação de “vigia” do poder nos temas de interesse público? Marlise: A minha pesquisa de tese, defendida em 2019 na UFRGS, evidenciou que o jornalismo no Brasil atua na investigação de temas de interesse público por meio do acesso a dados públicos, pelo menos desde meados dos anos 1990, ou seja, desde que constitucionalmente criamos as condições para a atuação da imprensa livre na redemocratização. Os primeiros registros ilustrados na tese remetem para reportagens investigativas de cunho moral referentes a desvios de financiamento de campanha eleitoral e nepotismo, contrariando os princípios da gestão pública. Fica evidente também o tanto que a normatização e normalização da publicidade de governos instrumentalizou o bom jornalismo e permitiu que temas de cunho iminentemente político (eleições, impostos, políticas públicas), sensíveis (gênero, costumes e comportamento) e vitais (segurança pública, educação e saúde pública) viessem a debate público por meio dos trabalhos de jornalistas nos espaços dos veículos para os quais trabalham. A pesquisa recortou esse trabalho pelo uso e apropriação de dados pelos jornalistas que se consideram praticantes de jornalismo de dados, pois essa prática impulsionada pelo ambiente digital tem fortalecido as investigações jornalísticas e as dinâmicas de vigilância do poder. O que une veículos tradicionais e aqueles de iniciativa digital é justamente o ethos, a conduta que norteia e justifica o papel social do jornalismo na democracia. Mas o que eu tenho observado é que uma das consequências positivas do jornalista se apresentar como competente para acessar instrumentos de transparência como vigilante em

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relação ao poder público é ele também admitir – uma mudança cultural – para si o controle e a transparência, ou seja, se deixar ver tanto pela visibilidade do método de trabalho e rastros de hiperlinks de origem como pelos instrumentos de media accountability. Então, se o ethos é uma construção social e cultural, entendo que os jornalistas, independente do veículo de atuação, estão incorporando a conduta de transparência para com o público. Sandra: O jornalismo guiado por dados tem maiores facilidades de revelar, investigar e distribuir informações que os poderes tentam ocultar? Marlise: O jornalismo guiado por dados (JGD) é aquele por meio do qual o jornalista acessa bancos de dados brutos, se apropria dele, trata os dados por meio de softwares, aplicando ou não equações matemáticas para análise e cruzamento das informações e transforma os dados brutos em informações lapidadas em forma de conhecimento. São conhecimentos que permitem que o jornalista se liberte das amarras do jornalismo declaratório ou jornalismo de afirmação baseado em frases proferidas por fontes. Essa autonomia é conformada em métodos objetivos de alcançar uma informação e traz à tona uma revelação de interesse público. Ou seja, a técnica como normatividade é o meio através do qual o jornalismo pode praticar uma vigilância de Estado transformando dados e documentos acessíveis, antes invisíveis, em insumos de debate público. O problema que eu vejo no JGD é que a prática é bem diferente da teoria normativa. Há limitações importantes para essa prática ser efetiva, como a (falha na) formação do jornalista, o (ineficiente) gerenciamento de dados brutos pelos governos, a (falta de) vontade organizacional dos grupos de mídia para investir nesse tipo de pauta, entre outros. Mesmo assim, não vejo terra arrasada, pois temos bons exemplos no país, como eu mesma pude demonstrar na minha pesquisa de tese. Sandra: Como lidar, no entanto, com um ambiente de desordem informacional, com muita informação falsa circulando nas plataformas? Marlise: Pois é, a internet é esse paradoxo, ao mesmo tempo em que possibilita a ampliação de espaços e vozes para potencializar temas para o debate público, também possibilita visibilidade para interesses obscuros e até criminosos. Ao mesmo tempo em que dilui fronteiras e amplia territórios, sobe muros e cria bolhas. É o espaço do excesso de informação, onde tudo pode ser dito, porém pouco é compreendido – e discutido - racionalmente. Os discursos argumentativos

são abafados pelos discursos de persuasão que apelam para emoções e crenças primárias, no que se convencionou chamar de pós-verdade. Importa

menos o raciocínio argumentativo objetivo e mais a identificação pessoal com aquela afirmação, mesmo que ela não tenha bases estruturadas na lógica ou em dados de realidade. E então as plataformas de mídias sociais potencializaram esse comportamento humano, direcionando e amplificando a desinformação. Falo do comportamento humano porque a desinformação não é um fenômeno da internet, os boatos, as fofocas e as mentiras são narrativas sociais. O problema atual se estabelece quando essas narrativas são propagadas com a intenção de afrontar as regras do jogo democrático ou mesmo colocar uma população inteira em risco de

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morrer. Portanto vivemos hoje, com a Covid-19, uma situação na qual a desinformação se transformou em um grave problema de saúde pública. Sobre a desinformação temos muitos pesquisadores dedicados a compreender as especificidades deste fenômeno na contemporaneidade. Interessa especificamente ao jornalismo que o fenômeno da desinformação fez reavivar e transparecer uma até então ocultada prática de verificação de fatos, materializada num fenômeno também bastante estudado chamado de fact-checking. Ou seja, as técnicas jornalísticas passaram a ser amplamente aplicadas no combate à desinformação por órgãos de Estado, por veículos de mídia tradicionais, por agências de verificação, entre outros. Não entendo que o jornalismo seja o ator social responsável por desmentir fake news, ainda que competente para fazê-lo. Entendo que boa parte da desinformação circulante com ampla visibilidade serve a interesses de grupos políticos e econômicos, então em vez de desmentir, penso que o jornalismo deveria se dedicar a pautar reportagens investigativas sobre que grupos são esses, a que interesses estão servindo e a que fins eles servem. O desmentido, pesquisas já comprovaram, não tem o mesmo efeito nem alcance da mentira. Já a discussão provocada por uma boa apuração sobre intenções por trás das fake news tem grande potencial de constrangimento dos atores envolvidos, de tematizar o debate público e, como consequência, de impactar os poderes aptos a legislar, criminalizar e punir. Sandra: Nesse contexto, o jornalismo reassume um papel relevante de verificador da verdade ou esse é um discurso e um lugar do campo, que advoga para si esse papel? Marlise: Pois é, o jornalismo tem assumido para si nos textos editoriais o

papel de desmentir as fake news, é um erro na minha opinião, simplesmente porque o jornalismo nesse lugar fica refém de interesses obscuros e escusos que originam a desinformação. O jornalismo entra na roda da desinformação de

arrasto, perde o protagonismo da tematização, em vez de ganhar. Então o discurso true news versus fake news fica simplório, caricato. O jornalismo pode e deve explicar o fenômeno das fake news, seu contexto e consequências para além do conteúdo duvidoso, colocando em discussão a partir disso as questões relacionadas à mediação algorítmica, à privacidade, às tecnologias de anonimização ou identificação dos autores e dos públicos afetados. Penso que esse investimento tende a valorizar o produto da apuração jornalística, o trabalho do repórter, a relevância para o bom debate público e político. Eu defendo mais reportagem e menos etiquetagem. Reportagem dá visibilidade para argumentações, etiquetagem provê uma valoração de falso ou verdadeiro – também questionada em estudos do campo. Não é uma crítica às agências de verificação, pelo contrário, confio que elas desempenham um papel relevante no cenário de desinformação. Só defendo que a reportagem é uma contribuição mais qualificada do jornalismo para combater a desinformação. Sandra: Especificamente com relação ao tema Coronavírus: qual a conduta do governo e qual a resposta dos meios jornalísticos? Marlise: Aqui no meu lugar de temor e medo em relação a uma pandemia que afeta o Brasil de sobremaneira, tenho enxergado a conduta do governo federal como desoladora em relação à comunicação governamental em situação de crise. O

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governo em termos político minimiza a doença que hoje significa a morte de milhares de pessoas, debocha da ciência e da medicina e se omite de responsabilidades. Nesse sentido, a comunicação de Estado tem sido um desastre porque o cidadão, na ausência de uma coerência discursiva, fica refém de discursos contraditórios, opiniáticos e dogmáticos. A boa comunicação para a sociedade em emergência é aquela que forma e informa para o exercício da cidadania. Eu observo que a cobertura de imprensa tem tido uma postura de alertar para os desvios da gestão pública de ordem técnica, moral, legal, outras. Os veículos de imprensa dão visibilidade para a desordem política, porém com efeitos limitados. À imprensa cabe dar visibilidade, trazer à tona, dar pluralismo aos argumentos, tematizar o debate, mas a imprensa não substitui a gestão nem a comunicação dos governos, e nem deve. O caso dos dados epidemiológicos evidencia esse disparate. Sandra: Estás trabalhando em uma nova pesquisa, com meios de referência, sobre a cobertura da Covid 19. O que os resultados prévios apontam? Marlise: Justamente o meu foco de estudo atual está na observação dos veículos de maior circulação do país em relação ao tratamento dos dados epidemiológicos. Folha de S. Paulo, o Estadão e o Globo têm refletido nos seus textos expressos em diferentes modalidades comunicativas as falhas e limitações governamentais em relação ao gerenciamento desses dados. Os jornalistas são submetidos a restrição de acesso a dados públicos, por conta da mudança de metodologia de levantamento de dados, ou do redesenho dos portais de transparência, ou ainda nas leituras enviesadas dos métodos, entre outros constrangimentos imputados à apuração. O que podemos evidenciar preliminarmente no estudo pelo método de análise de conteúdo é que: 1) a imprensa ficou refém da agenda pública oficial e perdeu a chance de tematizar o debate público no início do ano. O estudo evidencia que a cobertura da pandemia cresceu após a primeira morte em 17 de março quando o poder público priorizou o tema; 2) os jornais mais usam do que se apropriam de dados epidemiológicos da Covid-19. Os textos atribuem a terceiros a análise dos dados ou reproduzem os dados divulgados por fontes oficiais. Em maio, apenas 7 de 193 unidades da amostra trabalharam com cruzamento próprio de dados; 3) a cobertura reflete o pluralismo de fonte. Diferentes redes e atores sociais são acionados dando diversidade para discussão de dados epidemiológicos; 4) os sites reproduzem padrões de visualização dos textos majoritariamente em formatos estáticos, desenvolvendo poucas reportagens em modalidades interativas e multimídia; 5) os veículos se autolegitimam como fiadores dos valores democráticos em textos nos quais se posicionam como atores sociais discursivos em defesa da transparência dos dados públicos. Portanto, a imprensa tem sido vítima e algoz, pois ao mesmo tempo em que critica a conduta governamental e recorre aos valores democráticos para autolegitimar o seu papel social, também empreende poucos esforços em investigações próprias, pelo menos no recorte observado nesta pesquisa. Sandra: Na sua análise, as dificuldades de acesso a dados, a relação hostil do governo que não obedece a preceitos da Comunicação Pública, o ataque de setores da extrema direita ao jornalismo profissional, a falta de credibilidade da narrativa

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jornalística, os interesses corporativos e mercadológicos dos grandes meios, qual o fator (se é que podemos elencar apenas estes) é mais prejudicial para o cidadão e a cidadania? Marlise: Vivemos tempos muito complexos, são muitas as variáveis que

afetam a comunicação pública e impedem a circulação de informação de qualidade para formar uma cidadania consciente. O fenômeno da

desinformação me parece o maior agravante porque cria uma nuvem de fumaça para o cidadão, mesmo para aquele interessado que procura se informar. Porém, eu entendo que as instituições democráticas têm funcionado no intuito de zelar pela coisa pública em meio a essa pandemia, apesar da incongruência de dados e de políticas públicas. O prejuízo me parece ser a estagnação. Enquanto empreendermos mais esforços para frear os desvios e os malfeitos do que para focar no combate à doença, todos perdemos. Sandra: Haverá, na sua opinião, com base nas suas pesquisas, um novo jornalismo e novos tipos de cobertura pós-pandemia? Elementos do jornalismo online, como instantaneidade, ubiquidade, personalização, serão mais valorizados? Marlise: Há muitas promessas para o novo normal pós-pandemia. Eu entendo

que a crise tem sido uma oportunidade de re-acreditação no jornalismo por uma parcela importante da sociedade, uma janela por meio da qual a sociedade tem se permitido enxergar o funcionamento da imprensa e a imprensa tem se deixado ver nas suas vulnerabilidades, fraquezas e fortalezas. A dificuldade de adotar o ethos multimídia e multicultural já foi estudada

por pesquisadores da área e confirmada em diversas pesquisas, como a minha tese, por exemplo. Mas gosto de pensar que o pós-pandemia terá ganhos em relação à aculturação digital. A implementação das características de multimidialidade e de interatividade tende a avançar com os novos processos de trabalho descentralizados, pois são características naturais a esse novo modo de fazer. Já a personalização me parece ainda distante no horizonte da produção. As modalidades comunicativas personalizadas no jornalismo envolvem investimento em desenvolvimento de programação para design de produtos, elaboração de método próprio, compreensão das lógicas algorítmicas de circulação e predição, análise do comportamento de consumo, participação e interação, para atribuir resultados. Temos exemplos associados a interesses do mercado do tipo “decida qual o melhor bairro para você morar ou alugar”, considerando cruzamento de informações fornecidas pelo leitor, dados demográficos e dados da construção civil e mercado imobiliário, por exemplo. Mas falta avançar em temas de interesse público. A cobertura de eleições seria uma ótima oportunidade para esse exercício, em diálogo com os poderes legislativo e judiciário. Esse novo passo depende de um amadurecimento do entendimento do jornalismo de prestação de serviço para o cidadão em uma democracia. E, para encerrar, o elemento da hipertextualidade, manifestado por hiperlinks na web, cada vez mais adotado pelos jornalistas na composição dos textos e narrativas, me permite vislumbrar um jornalismo fortalecido nos seus valores e condutas por meio de práticas mais transparentes e rastreáveis. Acredito que teremos avanços no futuro, mas se, por ora, no pós-pandemia, essas características do jornalismo

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online forem conhecidas e reconhecidas pelo campo e consideradas em pautas para o debate público já teremos avançado. Então, em resumo, esses elementos citados são importantes e vêm ajudando na adaptação à era digital e no alcance de públicos, porém serão ainda mais efetivos na medida em que impulsionarem o jornalismo - como ator social de expressão dos valores democráticos - a influenciar e impactar para além da esfera midiática, ou seja, a se tornar consequente também para a esfera da discussão pública e da decisão política.

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APONTAMENTOS INICIAIS PARA A IDENTIFICAÇÃO DE ELEMENTOS DO JORNALISMO PARA A ELABORAÇÃO DE “NOTÍCIAS FALSAS” INITIAL NOTES TO IDENTIFY ELEMENTS OF JOURNALISM FOR THE PREPARATION OF “FAKE NEWS”

Luiz Ricardo Goulart Hüttner1

RESUMO: O jornalismo, desde a sua criação, passando pela profissionalização, passou por diversas mudanças, em muitas dessas mudanças a tecnologia foi um fator determinante, mas não só. Com isso, o produto do jornalismo, a notícia, modificou-se e continua a se modificar. Tendo isso em mente, este artigo busca analisar notícias que são veiculadas em sites que buscam semelhanças com veículos de comunicação que já estão inseridos no que chamaremos de webjornalismo e que tendem a divulgar notícias falsas ou polarizadas. Para isso, buscamos definir o que é notícia, o fenômeno das desordens informativas e uma breve análise de classificação de um site selecionado. Palavras-chave: Desinformação. Fake News. Jornalismo. Notícia. Tecnologia. ABSTRACT: Journalism, since its creation, through professionalization, has undergone several changes, in many of these changes technology was a determining factor, but not only. With that, the product of journalism, the news, changed. With this in mind, this article seeks to classify news that is published on websites that look for similarities with media outlets that are already inserted in what we will call webjournalism and that tend to spread false or polarized news. For this, we seek to define what is news, the phenomenon of informational disorders and a brief classification analysis of a selected site. Keywords: Disinformation. Fake News. Journalism. News. Technology.

1 Jornalista, mestre em comunicação e informação e doutorando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsista Capes. Email: luizricardohuttner@gmail.com

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INTRODUÇÃO

O

jornalismo sempre se viu confrontado com as mais diversas mudanças que tecnológicas que afetaram toda a sociedade ao longo do tempo. Pavlik (2005) acredita que a mudança que o jornalismo sofreu com a chegada da internet foi a mais radical que já ocorreu nos meios de comunicação. Segundo o autor, essa nova tecnologia possibilitou uma nova forma de se fazer jornalismo, como notícias onipresentes, acesso global à informação, cobertura instantânea, interatividade, conteúdo multimídia e a personalização. Essa mudança se intensificou com a Web 2.0 (O’Reilly, 2005), quando a web passa a servir de plataforma, um modelo de projetar, desenvolver e implantar um processo de desenvolvimento interativo. E com todas essas mudanças tecnológicas, definir o que é o jornalismo se tornou mais difícil, num ambiente que o público além de questionar o trabalho do jornalista, pode ele próprio ser o seu jornalista. Porém a notícia, o produto principal do jornalismo, permanece em constante mudança e definir ela se torna importante para termos um ponto de partida.

acontecimentos começa a aumentar (TRAQUINA, 2018). Quando nos referimos ao acontecimento, podemos definir ele como sendo o referente do que se fala, o efeito de realidade na cadeia dos signos, uma espécie de ponto zero da significação. Por isso, uma das regras da prática jornalística consiste em afirmar que a opinião é livre mas que os fatos são soberanos” (RODRIGUES, 1993, p. 27). Ainda sim, o acontecimento pode ser considerado como um fenômeno de percepção do sistema (ALSINA, 2009, p. 45).

São diversos autores que tentam explicar o que é a notícia (PARK, 2008; ALSINA, 2009; HERRAIZ, 1996; SOUSA, 2002; TUCHMAN, 1983; FONTCUBERTA, 1999; dentre outros), sendo também algo que se torna complexo quando temos uma constante mudança dos meios e da sociedade. Passamos dos jornais impressos até a chegado do webjornalismo (MIELNICZUK, 2003) e as mudanças não param de chegar. A possibilidade de personalização e muitas pessoas terem a possibilidade de publicar na internet, fez com que estivéssemos cada vez mais cercados de informações, mas talvez não Tendo como base a ordem cronológica de notícias (ao menos não aquelas que feita por Lage (1987), da história da conhecíamos até então). Nesse cenário, de notícia, percebemos que na Idade Média muita informação, surgem as desordens a população se informava por meio de informativas, surgem grupos de interesse, decretos e sermões da Igreja, por exemplo, surgem os algoritmos, surgem o que se sendo que a circulação do conhecimento convencionou a chamarmos de “fake news”. Para este artigo, será utilizada a ficava retida nas mãos de poucos. Avançando no tempo, o autor informa que nos Estados definição, baseada nos autores aqui já Unidos, em 1890, já existiam 1662 jornais citados, sendo a notícia, um relato noticioso diários. Mas o que era noticiado na época escrito por jornalista ou assinadas por eram conteúdos mais voltados as espectro agências de notícias ou “redação”, que político e aqueles que trariam mais lucro tenha um lead (ou paragrafo inicial que para esses jornais, surgindo também aquele contenha as principais informações do jornalismo conhecido como sensacional. É relato), podendo conter algum tipo de a chamada “penny press” que surge como imagem, fotografia ou gráfico que ilustre sendo um novo jornalismo, onde o custo a matéria. Ser um texto escrito em terceira é reduzido e o poder de circulação dos pessoa, fugindo dos relatos pessoais, que

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caracterizariam um texto opinativo e ser estruturado em, no mínimo, três parágrafos definidos, sendo ela a informação de um acontecimento. Ainda sim, a notícia passa por processos de seleção (WHITE, 1950; BRUNS, 2013; SINGER, 2013; CANAVILHAS, 2010), dos valores-notícias (TRAQUINA, 2018) e de noticiabilidade (WOLF, 2012). É FAKE OU É NEWS? ALGUMAS FORMAS DE DESINFORMAR Se tornou popular falar em “fake news”, especialmente depois das eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, onde o termo ganhou repercussão em todo o mundo. Segundo CUNHA et al. (2018), o termo explode de pesquisas entre 11 e 20 de novembro de 2016 e desde então passa a ser constante e a partir de então o termo passa a ser mais relacionado com fatores políticos e partidários. Podemos citar a facilidade de criar conteúdo (incluindo a possibilidade de retorno financeiro com publicações), as mídias sociais como um mecanismo de fácil disseminação de possíveis notícias e a queda da confiabilidade na mídia de massa (nos Estados Unidos) (ALLCOTT & GENTZKOW, 2017). Há também a confusão de termos que não são “fake news”, como erros de comunicação, rumores, teorias da conspiração, sátiras, declarações falsas, relatórios enganosos, por exemplo. Uma das motivações para as “fake news”, além do possível retorno financeiro, são as motivações políticas ou de lados ideológicos. Zuckerman2, assim como outros autores, rejeita o termo Fake News. Para ele, o termo adotado e popularizado nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, em 2016, é um termo vago e ambíguo que abrange 2 Disponível em: <http://www.ethanzuckerman. com/blog/2017/01/30/stop-saying-fake-news-its-not-helping/> Acesso em: 29 jul. 2019.

tudo: falsos equilíbrios (notícias reais, mas que não merecem a atenção), propaganda (discurso armado para apoiar um partido) e disinformatzya (informação destinada a semear dúvidas e aumentar a desconfiança do leitor). Existem outros termos (e tantos outros surgindo) para definir as notícias falsas feitas e compartilhadas na internet. Wardle & Derakhshan (2018), atentam para o uso de outros termos para se referir a notícias falsas. Os autores, no capítulo dois, recomendam a utilização dos termos “misinformation” e “disinformation” (WARDLE & DERAKHSHAN, 2018, p. 43). Segundo os autores, o primeiro termo está ligado a notícias falsas que são divulgadas por pessoas que acreditam que aquilo é verdade, enquanto que o segundo termo é a informação falsa e a pessoa que divulga sabe que é falsa, sendo uma mentira intencional. Um terceiro termo pode ser definido como “mal-information”, aquela informação que é baseada em uma verdade, porém é usada para causar dano a uma pessoa, organização ou país. Existe, ainda, uma classificação de sete tipos de desinformação, proposta pelos autores: • Sátira ou paródia: cada vez mais as pessoas recebem notícias em seus feeds de notícias em mídias sociais e pode acontecer a confusão quando uma informação não é bem compreendida (no Brasil, por exemplo, o Sensacionalista3); • Conexão falsa: acontece quando um título, imagem ou legenda não condizem com o conteúdo, são os chamados clickbait, feitos para atrair leitores, especialmente quando compartilhados em mídias sociais, usando elementos visuais e legendas que não são apoiadas pelo texto em si; • Conteúdo enganoso: quando há o uso enganoso de informações para 3 Site disponível em: https://www.sensacionalista. com.br/

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• enquadrar determinados problemas ou indivíduos de alguma forma. Exemplos podem ser mostrados como montagem ou corte de imagens; • Contexto falso: nisso determinada informação é retirada de contexto, circulando fora do seu contexto original. Um exemplo disso são fotos de desastres naturais ou tragédias humanas; • Conteúdo impostor: quando um conteúdo circula com logotipo de algum veículo de comunicação ou assinatura de alguma pessoa, quando nenhuma dessas fez, realmente, o conteúdo; • Conteúdo manipulado: quando um conteúdo que é genuíno é manipulado para enganar; • Conteúdo fabricado: geralmente em formato de texto, um conteúdo é falso. Exemplos são os “sites de notícias”, mas pode ser refletida em gráficos criados com dados incorretos.

apresenta a apresentar textos em que o leitor passa compreendê-lo de forma rápida e eficaz, para alcançar esse objetivo a notícia utiliza formatos para buscar informar. O primeiro elemento da notícia que surgiu para informar com precisão foi o lead, que pode ser definido como o primeiro parágrafo de uma notícia, para responder as questões: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê? (não necessariamente nesta ordem) (Manual da Redação da Folha, 2018, p. 73). Os títulos de uma notícia podem indicar o sentido que ela busca ter, tornando mais importante nos tempos em que o compartilhamento de links em mídias sociais. Podemos citar alguns tipos de títulos, como: expressivos, apelativos, temáticos ou simplificadores, informativos (FONTCUBERTA, 1999, p. 97). Assim, um título faz parte do contexto de uma notícia, não é escrito isolado ou mesmo sem pensar na sua repercussão. Depois de entendermos a construção de um título e do lead nos mais diversos meios, é preciso situar que a notícia depende, em todos esses meios, da linguagem que é empregada. Os valores-notícia também devem ser considerados para este trabalho.

Com o exposto até então, percebemos que existe a possibilidade, hoje, de muitos poderem informar. Porém a notícia ainda permanece com sua estrutura, sua linguagem e inerente ao trabalho jornalístico. Mas a internet faz com que muitas pessoas possam entender que estão buscando informações em sites (que geralmente usam Os valores-notícia de seleção – os cores, endereços e elementos semelhantes ao de veículos já reconhecidos) que na critérios substantivos, podem ser eles: verdade buscam desinformar ou polarizar morte, notoriedade, proximidade, tempo, notabilidade, inesperado, infração, um determinado acontecimento. escândalo. Pelo valor-notícia da morte, Traquina afirma que onde há morte, há OS ELEMENTOS DO JORNALISMO jornalista (TRAQUINA, 2018, p. 76) e explica Neste momento, apontaremos alguns o negativismo do mundo jornalístico que pontos importantes que são inerentes do é relatado nos telejornais, nas páginas dos jornalismo e são utilizados para a análise jornais, entre outros meios. A notoriedade neste trabalho. Iremos, brevemente, definir do ator principal de um acontecimento pontos importantes na estrutura do texto é também um valor-notícia. Todo nós e dos valores-notícias que podem estar morreremos, porém poucos ganharam presentes na construção da notícia. Segundo espaço e serão notícia, por conta da Fontcuberta (1999), o texto jornalístico se notoriedade de cada ator.

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O autor considera a proximidade como mais um valor-notícia fundamental da cultura jornalística. Pela proximidade, Traquina (2018) entende esse valor-notícia como aquele acontecimento que pode ser importante para uma determinada região pode não ser assim para outras, assim como também para diferentes tipos de cultura. A novidade, como valor-notícia, é aquilo que há de novo. O jornalismo se interessa muito pela primeira vez, mas novos elementos de um acontecimento podem voltar a tona se for relevante para ser divulgado pelos jornalistas.

um valor-notícia. Este é o valor-notícia que surpreende a expectativa de toda comunidade jornalística. O conflito é aquele valor-notícia é a violência física ou simbólica. Por infração, mais um valor-notícia, se refere a violação, transgressão das regras, como os casos de violência e crimes. A este último valor-notícia está ligado ao tipo de acontecimento conhecido como escândalo.

Já sobre o valor-notícia de tempo, Traquina (2018) relata que ele pode ser entendido de maneiras diferentes. Primeiro este valor-notícia é na forma da atualidade, ou seja, um acontecimento que já é notícia pode servir de gancho para outro acontecimento. Depois, esse próprio gancho pode justificar a noticiabilidade de um acontecimento que já teve lugar no passado, porém no mesmo dia. Como exemplo de tempo, o autor cita a morte de um presidente, por exemplo, que é rememorada depois de anos de sua morte e serve como gancho para falar de algum aspecto da referida pessoa. Há um terceiro ponto neste valor-notícia de tempo que é a sua duração ao longo do tempo, onde um determinado assunto fica por um tempo mais dilatado sendo falado.

A disponibilidade é o valor-notícia em que determinado acontecimento é fácil de ser coberto pelo jornalismo, porém essa disponibilidade depende da empresa de comunicação, visto que não é possível estar em todos os lugares e o custo para isso também deve ser levado em consideração. Devido ao valor-notícia do equilíbrio, o jornalista ou empresa jornalística pode decidir não publicar algo por já ter publicado durante o dia ou muito recentemente. A visibilidade é um valor-notícia mais ligado a televisão, quando o jornalista ou empresa deve questionar se há imagens para ilustrar determinado acontecimento. O valornotícia de concorrência, como o nome diz, a concorrência entre veículos, a busca pelo furo, pelo inédito.

Por notabilidade, podemos dizer que é o valor-notícia daquilo que é visível e tangível. Esse valor está mais direcionado para um acontecimento do que para suas causas, ou seja, para as suas problemáticas. Uma forma de medir a notabilidade é a quantidade de pessoas que determinado acontecimento envolve, uma forma de medir a sua relevância para ser notícia. A inversão é um dos registros da notabilidade, quando algo inverso ao mundo “comum” ganha destaque. O inesperado é também

Já sobre os valores-notícia de seleção – os critérios contextuais, aqueles que tentam entender o contexto dos acontecimentos. Traquina nos traz os seguintes valoresnotícia:

O último valor-notícia deste subgrupo, definido por Traquina, é o dia noticioso. Como o mundo é dinâmico, há dias repletos de valores-notícia para se fazer a seleção do que será notícia. Porém há outros que há poucas notícias, ou seja, cada dia se torna um novo dia na rotina jornalística. Porém existem eventos pré-definidos, como datas importantes, entrevistas coletivas e lançamentos de obras, por exemplo. Já os valores-notícia de construção, aqueles critérios de seleção que são dignos

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Para um primeiro caso de análise, de incluir na elaboração da notícia, são com a intenção de explicitar o que classificados como: A simplificação, “quanto mais um pretendemos analisar, analisamos uma acontecimento é desprovido de ambiguidade notícia sobre a Copa América. A Copa e de complexidade, mais possibilidades tem América de futebol de campo, realizada a notícia de ser notada e compreendida” no Brasil e promovida pela Conmebol, (TRAQUINA, 2018, p. 88). Ou seja, o entre os meses de junho e julho de 2019, jornalista é aquele responsável por eliminar foi um momento em que, dentro de fora ambiguidades, deixando um texto fácil de dos estádios, pode-se perceber o clima ser entendido. Pela amplificação, outro de polarização também política, visto que valor-notícia deste grupo, refere-se aquele o Presidente da República, Ministros de acontecimento quanto mais amplificado, Estado e políticos (com e sem mandato) se mais possibilidade de uma notícia ser notada. fizeram presentes em algumas ocasiões, Por relevância o autor refere-se que quanto inclusive rompendo com o protocolo, mais sentido a notícia dá a um determinado como o ocorrido em4 Belo Horizonte, no acontecimento, mais essa notícia tende a ser estádio do Mineirão . Este será o caso percebida. Personalizar um acontecimento, tratado para este exame de qualificação.

mais um valor-notícia desse grupo, faz com A final da competição, realizada no que ao valorizar as pessoas envolvidas em dia 7 de julho, no estádio do Maracanã, um acontecimento, um acontecimento na cidade do Rio de Janeiro, acirrou os possa ser mais notado. ânimos em sites com o pensamento ideológico distintos, visto que um mesmo acontecimento foi relatado de METODOLOGIA E APONTAMENTOS formas diferentes entre alguns sites. Para este trabalho, acreditamos que Com esse exemplo, podemos analisar os a notícia a ser analisada é aquela com o elementos que tornam o relato noticioso, objetivo de informar, ou seja, um texto “fake” ou desinformação de um único informativo. Na internet, em especial em acontecimento. Para isso coletamos sites que publicam conteúdo com o mínimo a notícia publicada pela Folha de São de texto, as regras para um texto informativo Paulo e como esta notícia foi veiculada devem permanecer as mesmas, visto que o no Jornal da Cidade Online5. Os sites rigor, que a exatidão e os outros elementos foram escolhidos por trazerem, logo ao que foram trazidos até então são inerentes do jornalismo em qualquer meio em que ele estiver. Porém com a facilidade de publicar, 4 Presidente Jair Bolsonaro (PSL) desce para o na internet, por vezes apenas um elemento gramado do Mineirão e causa “climão”. Disponíé usado para legitimar determinado texto vel em: https://www.terra.com.br/esportes/brasil/ bolsonaro-cria-climao-no-intervalo-de-brasil-xcomo sendo informativo, quando na -argentina,c9ab871add6a24e8b0e6d9a1e8c734fverdade este texto é polarizado, utiliza mais 3di2x1lgd.html elementos de outros gêneros, buscando uma 5 O site Jornal da Cidade Online, informa que tem falsa ideia de legitimidade e de credibilidade uma tradição de mais de 40 anos, tendo início em 1978, em Campo Grande (MS), porém com sede perante a um público que pode ser mais atual localizada no estado do Rio Grande do Sul. inocente e desprovido de informações e por Se declara comprometido com a análise dos fatos, esses motivos acreditar em textos subjetivos material opinativo, pluralidade e compromisso com a verdade, além de contar com um jornalista como sendo textos informativos. responsável (sendo identificado pelo número de registro), segundo o site.

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final da competição, postarem notícias diferentes de um mesmo acontecimento. Mesmo sendo um jogo de futebol, o fator político, com a presença do presidente Jair Bolsonaro, torna-se válida a divulgação, por todos os sites, a participação dele neste momento.

tem a sua principal editoria destinada a assuntos políticos, especialmente por ser, neste momento no Brasil, um assunto que divide o País em, especialmente, dois lados. Assim, neste trabalho, o levantamento feito pela Associação dos Especialistas em políticas Públicas de São Paulo, com base O site que vamos analisar neste de um grupo de pesquisa da Universidade trabalho foi criado (como a grande de São Paulo, será considerado para elencar maioria), com uma estrutura semelhante alguns sites que estão, segundo a pesquisa, a de jornais e veículos de comunicação mais propensos a produção de informações 6 que mantém sites ativos há mais de falsas, não-checadas e de boatos . uma década e já construíram em torno O jornal Folha de São Paulo, ao noticiar de si reputação e credibilidade, assim “Bolsonaro tira foto com taça e ouve ‘mito’ de também como o uso de endereço de jogadores do Brasil”7, detalha para as vaias e sites semelhantes ou relacionados com aplausos destinados ao presidente quando os termos “notícias”, “site”, “jornal” ou é anunciado para entregar as premiações política, na maioria dos casos. Sendo aos jogadores de futebol: assim, os sites escolhidos são aqueles que

Figura 1. Parte da notícia da Folha de São Paulo.

Utilizando como base uma notícia produzida por um veículo de comunicação que já atingiu credibilidade, que conta com equipe de jornalistas, redação fixa e também construiu sua credibilidade enquanto jornal impresso de grande circulação no Brasil. Conforme a matéria, que conta com uma estrutura de notícia, com dez parágrafos, uso de fotos, gráficos e espaço para comentários. Podemos classificar nossas matérias segundo os valores-notícias presentes em cada notícia selecionada, além dos elementos de um texto que tem a sua função informativa (que é inerente do jornalismo). Realizando a pré-análise desse site, notamos importantes categorias que

podem ser separadas quanto a estrutura do site onde a notícia está hospedada e quanto a estrutura e a linguagem do texto. • • • •

Quanto a estrutura do site: Cabeçalho: uso de editorias, notícias, entre outros; Cores utilizadas; Opções para o compartilhamento de textos; Uso de Google AdSense, propagandas, doações ou assinatura do site.

6 Conforme notícia publicada em 2017: https://www. issoenoticia.com.br/artigo/projeto-da-usp-lista-10-maiores-sites-de-falsas-noticias-no-brasil 7 Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2019/07/bolsonaro-tira-foto-com-taca-e-ouve-mito-de-jogadores-do-brasil.shtml

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Nesta parte, os elementos propostos a serem analisados remetem ao uso da linguagem não-verbal, ou seja, o uso de cores, a estrutura para hiperlinks, mecanismos de recomendação e de compartilhamento da notícia, assim como elementos que possam ser especifícos de determinado site, como o uso de propagandas ou pop-ups. Esses elementos podem servir para um site lembrar sites noticiosos já reconhecidos.

considerados (ou parecerem) como sites jornalísticos, esses sites podem buscar o uso de assinatura de possíveis jornalistas para a notícia agregar para si determinada credibilidade. O site Jornal da Cidade online traz a matéria sobre o mesmo acontecimento com o título “O show do Bolsonaro no Maracanã (Veja o Vídeo)”:

Quanto a estrutura e linguagem do texto: • Uso de lead ou retranca; • Situar o leitor da situação; • Uso de fontes; • Linguagem em terceira pessoa; • Tamanho de parágrafos; • Não adjetivação; • Buscar fugir do texto opinativo; • Matérias assinadas ou não; • Uso de hiperlinks para ligações externas; • Uso de imagens ou material gráfico próprio; • Uso de imagens, vídeos ou outra forma em outras plataformas. Relacionada com a linguagem, tornase importante ver o uso do lead, para analisar se os elementos conseguem ser utilizados com o intuito de situar o leitor, analisar o uso do título e de que forma ele é estrutura. É preciso verificar a objetividade através do uso de fontes (assim como também indicar fontes de outros sites) ou testemunhas oculares que estavam no local do acontecimento. O uso de hiperlinks (para a confirmação e mais informações), imagens próprias ou de outras formas podem servir para confirmar o acontecimento. A linguagem não-verbal, caracterizada neste momento por uso de imagens, materiais gráficos, vídeos e outras formas, também servem para dar sentido a linguagem e para Figura 2. Captura de tela da notícia do Jornal quem ler determinada notícia. Por serem Cidade Online

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A matéria divulgada pelo Jornal da Cidade Online não conta sequer com um parágrafo estruturado como notícia, assim como não conta com lead e nem mesmo retranca. O maior parágrafo da notícia conta apenas com uma frase e duas linhas. Sem nenhum dos elementos que pudesse situar o leitor, em nenhum momento da matéria fala o local (apenas referencia ao “Maracanã”). O texto ainda faz referência ao fato do presidente estar “visivelmente emocionado”, ao entrar em campo para entregar a premiação aos jogadores. Relata também ao fato do presidente ser anunciado e mostrado no telão, algo que faz parte do protocolo da maioria das competições dentro do futebol. O texto faz uso de uma imagem, na qual descreve no texto que “uma imagem vale mais que mil palavras”, quando mostra uma foto da comemoração de um título, um ambiente natural de comemoração, independente de governantes presentes nas fotos. Por fim, o texto dessa notícia é assinado por uma suposta jornalista e também faz o uso de uma ligação externa, desta vez com o Instagram oficial do Presidente da República. Usando a cor predominante em azul e também com o nome “Jornal” em seu endereço, busca assim se aproximar (ao menos graficamente) de outros veículos de comunicação, inclusive o cabeçalho assemelhando-se ao proposto pelo Jornal O Globo em uma de suas atualizações mais recentes, tendo no cabeçalho editorias como Política, Economia, Polícia e outros. Assim como no exemplo anterior, percebemos o recurso do Google AdSense presente em grande quantidade ao decorrer da página, assim como também espaço para os leitores realizarem doações para o site.

matéria em mídias sociais, inclusive para o WhatsApp, assim como existe a contagem de compartilhamento de cada matéria que é veiculada pelo site, além do convite para seguir o perfil do site no Twitter e Facebook. Ambos os sites têm espaço para comentários, possíveis através do perfil individual no Facebook. Com os sistemas de verificação e mecanismos para o impedimento de notícias falsas, as vezes ações feitas pelos mecanismos de buscas, serem buscadas, o corpus deste projeto de qualificação buscou sites que buscaram a legitimidade antes da internet, mas com ela mantém sites onde as matérias tentam, seja na forma ou na estrutura, aparentarem com sites verdadeiramente noticiosos. Os dois recortes selecionados podem não se encaixarem no termo “fake news”, pois ambos relatam dois fatos que, segundo a Folha de São Paulo, que verdadeiramente aconteceram no estádio do Maracanã. Porém percebemos a polarização e a parcialidade de ambos casos. Os pontos apontados acima remetem para diversas formas que um site pode utilizar para espalhar uma notícia com um ponto de vista particular. Ao identificar esses termos é possível saber, ou ao menos apontarmos para quando uma notícia não se aproxima do relato noticioso. Todos os elementos citados acima são importantes de serem observados para ao menos se aproximar do relato. Uma notícia não precisa, necessariamente, ter todos os elementos para ser o relato mais próximo da realidade, mas especialmente a linguagem (começando já pelo título de uma “notícia”) pode significar o caminho, o lado ou indicar que uma notícia não é aquela mais próxima do acontecimento que deveria ser relatado.

Assim, estruturando conforme a proposta do método deste capítulo, teremos Diferente da Revista Fórum, neste os seguintes aspectos, quanto a estrutura caso é fácil o compartilhamento da do site:

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Jornal Cidade Online O site, que traz em seu endereço o .com.br, faz o uso de Cabeçalho: uso de editorias, diversas editorias, como: blogs e colunas; política, economia, notícias, entre outros direito e justiça e outros. A cor predominante é o azul em diversos tons, assim como Cores utilizadas sites de veículos e comunicação como Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo. Logo após o título, existe espaço para o compartilhamento no Fcebook, Twitter, WhatsApp e Telegram, além de ter Opções para o uma contagem do número de pessoas que compartilharam compartilhamento de textos a informação. Mecanismo presente no final da página também. Uso de Google AdSense, Faz o uso de diversas propagandas do Google AdSense, propagandas, doações ou além de um banner para doar ao site, para um “jornalismo assinatura do site em que você confia depende de você”. Quadro 1. Análise de estrutura do Jornal da Cidade Online

Quanto a estrutura do texto/linguagem:

Uso de lead ou retranca

Jornal Cidade Online Não faz uso.

Situar o leitor da situação Uso de fontes

Não situa o leitor.

Não utiliza nenhuma fonte ocular e de nenhum outro tipo.

Linguagem em terceira pessoa

O texto faz uso de jargões, como “Uma imagem vale mais que mil palavras”, fugindo do uso em terceira pessoa.

Tamanho de parágrafos

O maior parágrafo do texto contém apenas duas linhas, sendo o inicial e mesmo assim não caracterizado como lead.

Não adjetivação

O título do texto, com “show” e no texto expressões como “sem pudor na cara de todo mundo”, mostra o uso de adjetivos para tentar descrever a situação.

Buscar fugir do texto opinativo

Existem elementos como “confira se tem alguém triste na foto”, questionando e não informando o leitor.

Matérias assinadas ou não

Matéria assinada por uma possível jornalista.

Uso de hiperlinks para ligações externas

Faz o uso de um vídeo da cota oficial do presidente da República no Instagram.

Uso de imagens ou material gráfico próprio Não faz uso.

Uso de imagens, vídeos ou outra forma em Compartilhamento de vídeo do perfil do outras plataformas presidente no Instagram. Quadro 2. Análise de texto/linguagem do Jornal da Cidade Online

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A notícia pode ser classificada como “hot news” (por se tratar de um acontecimento) e “spot news” (mesmo sendo um acontecimento recente, se torna imprevisível a reação das pessoas). É uma notícia simples, pois além de relatar só um acontecimento, não há a presença de um lead estruturado, ou seja, não contando com várias ideias. Não há a presença do lead estruturado. Os títulos sempre foram importantes na notícia e se tornaram mais importantes quando acontece o compartilhamento de uma notícia em mídias sociais, visto que essa informação ganha destaque, seja em uma timeline ou em aplicativo de trocas de mensagens. Com a quantidade grande de informações que circulam nesses ambientes, por vezes o leitor pode nem mesmo ler a notícia, o conteúdo, compartilhando uma notícia pelo simples fato do seu título concordar com uma opinião pré-existente daquele que repassa a notícia. O Jornal da Cidade Online, usa o termo “show”, apoiado de um suposto vídeo que confirma essa informação inicial, dando para aqueles que apoiam o presidente, subsídios para dizer que foi aplaudido e que há vídeo para essa confirmação. Pode ser considerado um título subjetivo, pois procura chamar a atenção do leitor e instigar ao compartilhamento. Dentre os valores-notícia de seleção, podemos classificar a matéria analisada tendo elementos os valores de: notoriedade (onde o ator principal, no caso o presidente da República, é um valor-notícia), tempo (pela atualidade), notoriedade (quando há alguma surpresa ou inversão, no caso as vais ou aplausos direcionados ao presidente da República). Já relacionando as notícias ao valores-notícia de seleção – aqueles ligados aos critérios contextuais, podemos observar que a notícia seguiu os seguintes valores: disponibilidade (com os recursos de transmissão ao vivo pela maior

TV aberta do Brasil e a postagens de vídeos pode o acontecimento ter cobertura mesmo sem repórteres no local) e o dia noticioso ( já que o acontecimento inicial era previsto na rotina de produção). Quanto aos valoresnotícia de construção, percebemos que não há a simplificação, quando o acontecimento ainda é ambíguo quanto a sua veracidade de informações. Já quanto a seleção do que vai se tornar notícia, percebemos que o site, pelo espaço quem tem para a publicação, noticiaram o acontecimento por se tratar de um acontecimento que teve um viés político. Neste caso, e como não há referência a princípios editoriais no site analisado, as possibilidades de seleção podem estar ligadas ao jornalista responsável. Porém, essa seleção está mais ligada ao lado do acontecimento que seria notícia no site. Essa escolha de que lado do acontecimento noticiar influi também na hora do usuário decidir compartilhar uma dessas notícias em suas mídias sociais, visto que ao concordar com o lado em que quer, estará repassando aos seus pares o acontecimento conforme o relato que melhor se identificar. Percebemos que o texto não busca a objetividade, pois: não apresenta uma visão de conflito, as provas auxiliares são de fonte oficial ou de recorte de vídeos, sem o uso de aspas e a informação não é estruturada segundo nenhuma das pirâmides ou diamante do jornalismo. Percebemos que no site Jornal Cidade Online existe até mesmo convite ao leitor “tirar suas próprias conclusões” e “o resto é narrativa”, mostrando a presença de uma pessoa por trás da notícia. Mesmo sendo um acontecimento ligado ao esporte, a presença do presidente do País, deve também um viés político, e por isso sendo um acontecimento para ser brevemente analisado. Foi possível perceber, com esta notícia, que não

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estava “certa”, ao mesmo tempo que não pode ser considerada “errada”, levando em consideração que existiram vaias e aplausos, mas o direcionamento que o site teve a intenção de polarizar o discurso e fazer com que o leitor de determinado site compartilhe a notícia, fortaleça sua câmara de eco (SUNSTEIN, 2001), faço com que seu clique leve cada vez mais para a sua bolha de filtros (PARISER, 2011) ou mesmo que possa ir comentar no espaço destinado a isso no site contra ou a favor do que pensa o site em questão.

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ELEMENTOS HIPERMIDIÁTICOS NA COBERTURA DA COVID-19: APONTAMENTOS DE UM EXERCÍCIO PEDAGÓGICO

Sandra Bitencourt 1 Thiery Fonseca Berneleau Yuri Bratti de Lima

RESUMO: Este relato pedagógico tem o propósito de partilhar um exercício de aplicação de conceitos e interpretação de práticas jornalísticas diante da maior cobertura mundial em tempo real já empreendida na história da humanidade, a pandemia do novo Coronavírus, no primeiro semestre de 2020. O propósito foi observar como alguns elementos que caracterizam o webjornalismo, como a instantaneidade, a ubiquidade e a personalização, foram acionados e se destacaram nos modos, linguagens e plataformas utilizadas para cobrir dados, informações e personagens atingidos pela Covid 19. Assim como na prática em sala de aula, neste texto, em um primeiro momento, serão apresentadas as bases teóricas adotadas e discutidas por meio de leitura, resenhas e discussão em classe. Em um segundo momento, será apresentada a realização do exercício prático: criar um espaço online, um blog agregador que reunisse/evidenciasse exemplos (links) de coberturas, formatos, infográficos, que privilegiasse os aspectos conceituais estudados, adotando uma linguagem própria e uma descrição reflexiva dos exemplos escolhidos. Toda essa dinâmica foi construída para a disciplina de Hipermídia, que foi realizada também pelos meios digitais, em aulas online, não presenciais, adicionando ao experimento a necessidade, compreensão e domínio das ferramentas em estudo. Palavras-chave: Hipermídia. Webjornalismo. Covid 19. ABSTRACT: This pedagogical report has the purpose of presenting an exercise of application of concepts and interpretations of journalist practices facing the biggest worldwide coverage in real time in the history of humanity, the Coronavirus outbreak, in the first semester of 2020. The purpose was the observation of elements regarding digital journalism, such as instantaneity, ubiquity and personalization, included and highlighted on the language and platforms used on the coverage of COVID-19 pandemic. As in the classroom, at first, the theoretical bases adopted and discussed through reading, reviews and class discussion will be introduced. The second step is to present the carry 1 Sandra Bitencourt é doutora em Comunicação e Informação, jornalista, professora dos cursos de Publicidade e Propaganda e de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA. Thiery Berneleau e Yuri Bratti são alunos formandos do curso de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda.

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out of a practical exercise: the creation of an online blog, gathering examples of the conceptual aspects studied, adopting an own language and a reflective description of the chosen examples. The whole dynamic was built for the discipline of Hypermedia, also performed by digital means, in online classes, adding to the experiment the need, understanding and mastery of the tools under study.

transformações tecnológicas permitem novas interações e demandam linguagens e dinâmicas distintas.

No momento em que de modo inédito uma única pauta dominou os noticiários do mundo inteiro e a necessidade de informação passou a ser um elemento vital para determinar condutas, comportamentos, tomada de decisões governamentais, adesão a medidas, alteração de crenças, Keywords: Hypermedia. Digital journalism. mudanças de hábitos, enfim, a constituição emergencial de uma nova cultura, sob novos Covid 19. valores, caberia ver com quais códigos, sinais, símbolos, formatos e suportes o jornalismo INTRODUÇÃO corporificou a informação coletiva. E mais, comunicação relaciona-se com o entender no que a tecnologia determinou conceito de comum, que tem “a esses desenhos disponíveis para a veiculação ver com a ideia de pertencer ao mesmo de notícias que esclarecessem e pudessem tempo a vários sujeitos” ou comunhão que ter o status de verdade sobre as dúvidas, o diz respeito “à semelhança de sentimentos, medo e as desconfianças generalizadas. de ideias, de crenças entre duas ou mais As linguagens, isto é, as formas de pessoas que têm consciência desta apresentação, de organização dos signos semelhança”. Em síntese, a comunicação nos diferentes suportes oportunizados pelas designa “a experiência imediata da tecnologias se tornaram mais múltiplas e consciência, do outro”. É o “cimento complexas. social [...] é a cola do mundo” (Mafessoli, Por meio da Web, o ciberespaço 2006). A comunicação é a interação de pôde ser vivenciado em telas coloridas, interlocutores, um processo semiótico por meio da ação dos signos, das mensagens acessíveis, simples, múltiplas, tornando-se formatadas que ganham o mundo e, em a ferramenta definitiva para a popularização seguida, ganham a consciência dos outros da comunicação digital. interlocutores, em processos de semiose, Permitiu uma interface amigável, movimento de se colocar no mundo, de entendendo-se por interface o design dos se dar forma uma determinada ideia, signos na tela, “o design do suporte [...] que pensamento, sentimento. Na medida em permite simular as percepções humanas”. que se alteram os signos e os modos de As interfaces usam, como “condutores” da produzi-los, difundi-los e consumi-los, a leitura, signos que são metáforas dos objetos, comunicação muda. Como o jornalismo das situações e dos ambientes do “mundo é parte fundamental da história das real”, aquele que o usuário experiencia no estratégias de comunicação desenvolvidas seu dia-a-dia. (Canavilsas,2014 ). Nosso pela humanidade e a informação, matéria- exercício buscou observar, identificar e prima do jornalismo, é uma das peças refletir sobre o acionamento de todas essas fundamentais para a formação do homem possibilidades em um momento de intensa como ser social, para a organização da conexão e imensa desordem informacional. cultura da sociedade, é de fundamental Essas primeiras impressões exercitadas em importância compreender como as sala de aula são compartilhadas neste artigo.

A

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BASES TEÓRICAS

por diferentes meios. O jornalismo A bibliografia básica adotada para as multimídia combina e integra diferentes reflexões pretendidas na disciplina foi o recursos, como o vídeo, áudio e texto, livro “Webjornalismo: 7 características que agregando e facilitando a forma como marcam a diferença”, organizado por João a noticia é apresentada. Apesar das Canavilhas em 2014, oferecendo olhares diferentes possibilidades de mídias plurais sobre as principais características e oferecidas pela Multimedialidade, o texto diferenças do jornalismo online. Sete autores continua sendo um ponto chave dentro de diferentes nacionalidades destacam do jornalismo, ele sustenta as demais sete atributos, apresentam os conceitos e informações apresentadas, é um elemento discorrem sobre estes diferentes pontos de contextualização e auxilia com dados em cada capitulo. A leitura se seguiu de complementares. O capítulo seguinte, do argentino elaboração de resenha e debate em sala de aula, com apresentação e aprofundamento Alejandro Rost, aborda a interatividade e de três elementos elencados para nortear como ela é um dos pilares da internet. Ao a observação das práticas jornalísticas na inserir a interatividade no webjornalismo, cobertura da Covid 19, a instantaneidade (era possibilita-se uma maior participação do preciso atualizar dados de modo imediato leitor. O grau de interatividade pode, até e confiável), a personalização (distintas mesmo, neutralizar o protagonista, dando formas de busca, diferentes necessidades) certo grau de poder ao usuário e sendo e ubiquidade (interessava comparar e ver uma opção. Um ponto importante sobre como a doença se comportava no mundo a interatividade ligada ao jornalismo é a distribuição multiplataforma e as redes todo em diferentes linguagens suportes). No capitulo inicial, o autor sociais, dispositivos móveis e as inúmeras português João Canavilhas descreve a redes sociais disponíveis facilitaram o Hipertextualidade, citando a forma na acesso e a rapidez de acesso as notícias. qual o texto segue sendo o conteúdo mais utilizado no webjornalismo. É explicado o contexto histórico do texto, que ganhou destaque na web devido a facilidade de acesso no período em que o acesso a uma internet veloz era extremamente limitado. O hipertexto é definido como um texto que agrega um conjunto de informações, uma forma de escrita e leitura não linear, pois permite seguir diferentes caminhos e mídias em um determinado texto. O texto tornase interativo e recebe um potencial para agregar novas informações.

A memória e como ela se aplica no webjornalismo é tópico do capítulo 4, do brasileiro Marcos Palacios. Narrativas são construídas a partir da memória, ela pode ser usada como ponto de comparação de eventos, presentes ou passados, como analogias, nostalgia e como forma de desconstrução e construção. A internet também permitiu capacidade quase ilimitada de armazenamento, tornando a informação em uma posição de fácil acesso para ser produzida e recuperada.

O inglês Paul Bradshaw aborda a Escrito pelo espanhol Ramón Salaverría, Instantaneidade e como o meio digital o capitulo 2 destaca a Multimedialidade e aumentou ainda mais velocidade de como a internet permitiu um jornalismo disseminação das informações. Tal multifacetado, que explora diferentes velocidade aumentou o desejo de “ser percepções sensoriais e explora o uso de o primeiro” no âmbito jornalístico e ferramentas para apresentar a informação online tornou dinâmico o modo de

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publicar, consumir e distribuir. Foi possível identificar a maneira e o meio na qual o conteúdo jornalístico é consumido e foi demonstrando a importância dos dispositivos móveis. Quanto a publicação, a maior mudança foi a independência de impressão e programas de radio e TV. Antes da internet, uma noticia poderia levar um dia para ser publicada, e a questão de espaço físico do papel também dificultava. Com redes sociais como Twitter e a disseminação de celulares, é possível publicar noticias em tempo real. Além disso, a notícia passou a ser disseminada de diferentes formas no ambiente digital, minimizando a dependência dos meios de comunicação tradicionais para o consumo de informação. Analisando a personalização, o alemão Mirko Lorenz ressalta a importância de oferecer conteúdos personalizados, que filtrem e reúnam o conteúdo disponível para atrair a atenção do usuário. O webjornalismo trouxe uma maneira fácil e pratica para os leitores escolherem os materiais mais relevantes, a personalização permitiu aos produtores buscar melhores formas para atrair o leitor e possibilitou novas formas de engajamento. Um maior consumo de noticias através de aparelhos moveis e redes sociais por público altamente interativo reforça a ideia de que é importante repensar a forma na qual a experiência do usuário acontece.

compartilhamento de conteúdo. A internet tornou consumo e a produção de conteúdo em escala global rápido e dinâmico. Nela, o jornalista pode estar em muitos lugares ao mesmo tempo, basta estar conectado com seu celular. O livro “Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença” busca conceituar e refletir sobre os pontos-chave do jornalismo no meio digital. A revolução que a internet proporcionou para o jornalismo é evidente, foram criados novos desafios para os meios tradicionais, entretanto, novas possibilidades surgiram e alterouse o modo de consumo. A web impactou de maneira positiva o acesso a notícias e a velocidade na qual se pode consumir a vasta quantidade de informação disponível. EXERCÍCIOS PRÁTICOS

O primeiro mapeamento realizado foi a partir do elemento instantaneidade. A urgência em atualizar dados passou a ser imperativa. Pela primeira vez na história, a agenda pública do mundo inteiro possui uma pauta principal: a pandemia do coronavírus. A maioria das enfermidades ficava restrita a uma específica área geográfica e, devido ao pouco alcance dos meios de comunicação, as pessoas dificilmente tomavam conhecimento sobre surtos e epidemias ocorridos em outros lugares. No entanto, tudo mudou com a chegada do coronavírus. Em decorrência do O capítulo final, do norte americano grande fluxo de pessoas em âmbito global, John V. Pavlik, analisa a ubiquidade e como o vírus rapidamente extrapolou as fronteiras o webjornalismo tornou-se capaz de estar chinesas e se espalhou pelo mundo. presente em vários lugares ao mesmo A comunicação instantânea permitiu, tempo. No contexto da comunicação e então, que qualquer indivíduo tivesse do jornalismo, a ubiquidade implica que o devido conhecimento sobre os riscos qualquer pessoa tem potencial acesso causados pela pandemia do vírus. A doença a uma rede de comunicação interativa Covid-19 foi considerada a maior crise em tempo real. Tornou-se viável não contemporânea da humanidade, todos os somente acessar notícias, mas também meios de comunicação passaram a falar do fornecer e participar do processo de assunto.

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Por ter uma dimensão global, as plataformas de comunicação têm uma responsabilidade enorme não só de informar, como fazer um serviço público de prevenção à doença e combater as informações falsas, evitando causar pânico na população, mas sempre ressaltando a seriedade do assunto. Mas como vem sendo feita a cobertura de um problema mundial tão grande? A aluna Thiery Berneleau deu uma ênfase aos conteúdos informativos produzidos pelas instituições.

Alguns fragmentos do trabalho são destacados aqui, como ilustração. A ONU Brasil criou uma página2 dentro do seu site oficial onde atualizam e divulgam as últimas notícias sobre o COVID-19 juntamente com os últimos dados do vírus. Mais informações podem ser acessadas no site oficial das Nações Unidas em un.org/coronavirus.

Figura 1. ONU

Figura 2. Ministério da Saúde 2 https://nacoesunidas.org/tema/coronavirus/amp/

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No Brasil, um painel3 de casos de Saúde. Nele, pode-se consultar em tempo doença pelo COVID-19 no Brasil com quase real casos confirmados, óbitos e os dados divulgados pelo Ministério da percentual de letalidade.

Figura 3. Ministério da Saúde: sintomas

O Ministério da Saúde lançou também um • Mapa indicando unidades de saúde aplicativo em parceria com o SUS, com o próximas; intuito de conscientizar a população sobre • Em caso de suspeita de infecção, o o COVID-19. Para isso, o app conta com cidadão pode conferir se os sintomas diversas funcionalidades: são compatíveis com o do Corona, e caso • Tópicos como os sintomas, prevenção, seja será instruído e encaminhado para a o que fazer em caso de suspeita e unidade de saúde básica mais próxima. infecção;

Figura 4. App do Ministério da Saúde 3 https://covid.saude.gov.br/

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Dados globais atualizados podem ser informativos sobre a doença, a prevenção, consultados em covid19.who.int. O canal4 do entre outras informações. Youtube da ONU também tem feito vídeos

Figura 5. Dados da ONU e OMS

Todos esses dados são atualizados em tempo real e inseridos em diferentes formatos e plataformas. A estudante/autora Thiery faz a seguinte reflexão a respeito da importância da instantaneidade:

com a mídia - não fazem parte do meio da comunicação - divulgam notícias falsas sem checar as fontes e sem saber que estão fazendo um desserviço”.

“A instantaneidade das informações claramente tem suas vantagens e desvantagens. A facilidade de adquirirmos informação hoje em dia é uma coisa maravilhosa, mas ao mesmo tempo é preciso lembrar que vivemos na era das fake news. Demorou algum tempo para a imprensa revelar a verdadeira gravidade da doença causada pelo coronavírus, em função de não causar pânico na população. Ainda assim, é preciso ter muito cuidado com o que é compartilhado, tendo em vista que muitas pessoas que não tem o comprometimento

Ambos alunos e co-autores deste texto elaboraram blogs5 agregadores para disponibilizar exemplos de coberturas e produzir reflexão crítica quanto às características da cobertura.

4 https://youtu.be/7wrnSF6aWyU via YouTube

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5 https://medium.com/@yuribratti01_18771/covid-19-e-a-instantaneidade-do-webjornalismo-a624ec79fa88 e https://medium.com/covarde-19


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Figura 6. Blog Covarde19

O aluno e co-autor Yuri Bratti grandes meios e portais, além de buscadores privilegiou o olhar sobre a cobertura dos como o Google e Bing.

Figura 7. Covid 19 e a instantaneidade do Webjornalismo

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O blog mostra coberturas especiais e CONSIDERAÇÕES FINAIS notícias diárias feitos por grandes portais Diz a letra da música de Gilberto Gil, de noticias, como G1, New York Times e The Parabolicamará: Sun, com compilados de noticias, fatos e Antes mundo era pequeno atualizações em partes especificas de seus Porque Terra era grande sites vêm sendo feitas. Além disso, refere o Hoje mundo é muito grande autor, foram criados sites que disponibilizam Porque Terra é pequena mapas em tempo real da evolução do Do tamanho da antena vírus, utilizando dados fornecidos por parabolicamará organizações de saúde e governos mundiais. Ê, volta do mundo, camará Ferramentas de pesquisa como o Ê-ê, mundo dá volta, camará Google e o Bing criaram áreas em seus Antes longe era distante respectivos sites com o propósito de unir Perto, só quando dava notícias e mostrar os dados e casos globais Quando muito, ali defronte de Corona. Diversos governos disponibilizam E o horizonte acabava números através de sites e redes sociais. A Hoje lá trás dos montes, den de casa, Organização Mundial da Saúde também camará adicionou uma sessão exclusiva sobre Ê, volta do mundo, camará o COVID-19 em seu site, com dados, Ê-ê, mundo dá volta, camará recomendações, conferências e uma vasta quantidade de informações educacionais.

Assim reflete, Yuri Bratti sobre a cobertura por ele observada. Ao olhar para o passado e analisar outras pandemias vivenciadas pela humanidade, nota-se a importância da comunicação e da informação durante um período tão critico. Assim como o avanço da tecnologia permitiu inovações e novas descobertas no campo da saúde, o jornalismo e a capacidade de se comunicar rapidamente com o mundo todo tornou possível espalhar a informação de maneira instantânea. A internet transformou-se em uma ferramenta capaz de informar grande parte do mundo sobre um evento tão relevante, ressaltando a importância do webjornalismo para comunicar, noticiando dados científicos e educando os leitores sobre como agir em um momento tão delicado como esse.

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Não raro, a arte e a cultura têm as melhores respostas e as sínteses mais precisas. Se em termos de ciência, ambiente e saúde sentimos que o mundo ficou pequeno, que o tempo e a distância são curtos demais para o vírus e grandes demais para a pesquisa e a cura, os meios, os fluxos da comunicação também nos causam essa sensação. A ideia de instantâneo e de presença ubíqua e permanente se materializou na tentativa de abarcar todo o fenômeno em acontecimento planetário. O papel do jornalismo se faz ainda mais desafiador e necessário. E a reflexão em sala de aula sobre as práticas que devem ser orientadas por um sistema normativo ético e técnico também torna-se imprescindível. Este breve exercício teve este caráter: experimentar, compreender, partilhar.


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REFERÊNCIAS CANAVILHAS, João (org). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Livros LabCom Covilhã, UBI, LabCom, 2014. MAFFESOLI M. Comunidade de destino. Horizontes Antropológicos, 25, 273-283, 2006. MARTINS, Francisco Menezes; SILVA, Juremir Machado da. A Genealogia do virtual - Comunicação, cultura e tecnologias do imaginário. Editora Sulina, Porto Alegre, 2006.

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O FUTEBOL PÓS-MODERNO NA MÍDIA BRASILEIRA: UM EVENTO HIPER-REAL E A ESPETACULARIZAÇÃO DA ANÁLISE POST-MODERN FOOTBALL IN BRAZILIAN MEDIA: A HYPER-REAL EVENT AND THE SPECTACULARIZATION OF ANALYSIS

Carlos Gustavo Soeiro Guimarães1

RESUMO: O artigo pretende mostrar como o futebol se transforma em um evento hiper-real através de três pontos: o futebol europeu como um simulacro de imagens, o videogame como um simulacro eletrônico e a espetacularização de uma nova análise esportiva que surge com a pós-modernidade. A partir dos conceitos de hiper-realidade (BAUDRILLARD, 1981; ECO, 1984) e espetacularização (DEBORD, 2017), parte-se da hipótese de que o modo com que se consome o esporte possui características que contemplam o significado de hiper-realidade. Com isso, o modo de se analisar o jogo opera através de aspectos que transformam os acontecimentos da partida em simulações, resultando na possibilidade de uma análise espetacularizada. Palavras-chave: Comentário esportivo. Jornalismo Esportivo. Redes Sociais. HiperRealidade. Sociedade do Espetáculo. ABSTRACT: The article aims to show how football becomes a hyper-real event through three points: european football as a simulacrum of images, the video game as an electronic simulacrum and the spectacularization of a new sports analysis that emerges with postmodernity . Based on the concepts of hyper-reality (BAUDRILLARD, 1981; ECO, 1984) and spectacularization (DEBORD, 2017), it is assumed that the way in which sport is consumed has characteristics that contemplate the meaning of hyper-reality. Thus, the way of analyzing how the game operates through aspects that transform its events into simulations, resulting in the possibility of a spectacular analysis. Keywords: Sports commentary. Sports Journalism. Social Networks. Hyper-Reality. Spectacle Society. 1 Doutorando em comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS, com especialização em Jornalismo Esportivo. E-mail: csguimaraes@gmail.com.

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INTRODUÇÃO

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o dia 1º de junho de 2019, o Liverpool Football Club e o Tottenham Hotspur Football Club, ambos clubes de futebol da Inglaterra, disputaram no Estádio Wanda Metropolitano, em Madrid, a final da UEFA Champions League2, a mais rica competição de clubes do planeta. Em Porto Alegre, distante mais de 9 mil quilômetros da capital espanhola, diversos eventos foram realizados para acompanhar um jogo que não envolvia sequer um representante próximo dos brasileiros. A transmissão pela televisão, feita por exclusividade pelo canal TNT3, mobilizou profissionais com um formato de megaevento. Com os mais modernos aparatos tecnológicos, o que se viu na televisão foram imagens em alta definição, capturando detalhes da partida, realçando um espetáculo que por si só já é grandioso. A cor do gramado, a limpeza dos uniformes, a fisionomia dos atletas na hora de entrar em campo, a coreografia da torcida, o figurino dos jornalistas: tudo ali beirava a perfeição, uma irretocável demonstração do mais puro futebol idealizado, imaginário, sem ressalvas. A partida terminou com a vitória do Liverpool por 2 a 0, com um gol marcado de pênalti – com a utilização do VAR4 2 Competição surgida em 1992, sucessora da Copa dos Campeões da Europa. Reúne os melhores classificados de países europeus, mediante índices estabelecidos pela própria Liga. 3 Os direitos televisivos pertencem ao canal Esporte Interativo, descontinuado em 2017. Entretanto, como há contrato em vigência para transmitir os jogos, o grupo TNT, de propriedade do magnata norte-americano Ted Turner, que comandava o Esporte Interativo, passou a realizar o televisionamento dos jogos. 4 Video Assistant Referee, o VAR, é um dispositivo que passou a vigorar no futebol efetivamente a partir de 2014, ainda em forma de teste, e hoje é colocado à disposição da arbitragem em todos os jogos oficiais. Trata-se de utilizar o vídeo como recurso para solucionar lances de dúvida da

- e outro marcado na parte final do jogo. O jogo não foi tão emocionante quanto à expectativa gerada pelos torcedores e pela imprensa. Entretanto, o que se observou foi uma manifestação de como se analisa hoje as partidas disputadas na Europa. As grandes ligas europeias – Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França – e, em especial, os clubes que detêm um maior poder de investimento, concentram os melhores jogadores do mundo. Com isso, também organizam os melhores campeonatos do planeta, desde o nível técnico mostrado em campo até à promoção do espetáculo, que ganha uma moldura de megaevento, como uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada. Mesmo que o jogo não tenha sido tão bom, o que se viu naquela tarde de 1º de junho foi uma demonstração de como a imagem [grifo nosso] do jogo promove um espetáculo que transcende aos fatos do jogo em si. O artigo pretende apontar evidências para a hipótese de que o consumo de futebol na atualidade se apoia em diversos elementos de hiper-realidade, como o videogame, o futebol europeu e a idealização que se faz sobre o jogador de futebol. O sentido hiper-real é tão grande que ultrapassa o imaginário do torcedor. Ela também produz uma análise hiper-real, com novos jornalistas que são influenciados por essa espetacularização do futebol europeu e de como os jogos na Europa produzem imagens que transcendem a realidade dos acontecimentos, transformando-se em grandes eventos de hiper-realidade. A espetacularização perpassa o evento em si e chega até à análise. O futebol fica por ser um pano de fundo em um ambiente onde importa mais a simbologia de uma imagem perfeita, excedente ao real, colocada no plano da idealização e da mais absoluta perfeição do seu significado. Um grande simulacro do futebol perfeito. arbitragem, como marcação de impedimento, de pênalti ou de aplicação de cartões vermelhos.

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O IMAGINÁRIO DO FUTEBOL: DESDE CEDO, UM EVENTO HIPER-REAL Baudrillard (1981), quando explica o que é a hiper-realidade, não diz o que é o real. É possível aferir que real é tudo aquilo que se dispõe de concretude, de explicação, de materialidade. Silva (2017, p.25) acrescenta que o real é o existente sem a significação atribuída pelo imaginário: “o imaginário é o sentido que redimensiona o fato sem que se possa anulá-lo por iluminação”. Ou seja, não é uma oposição, é um sentido que tem no real sua origem e que é uma transmutação da própria ideia de real: Trata-se de uma substituição no real dos signos do real, isto é, de uma operação de dissuasão de todo o processo real pelo seu duplo operatório, máquina sinal ética metaestável, programática, impecável, que oferece todos os signos do real e lhes curto-circuita todas as peripécias. O real nunca mais terá oportunidade de se produzir – tal é a função vital do modelo num sistema de morte, ou antes de ressureição antecipada que não deixa já qualquer hipótese ao acontecimento de morte. Hiper-real, doravante ao abrigo do imaginário, não deixando lugar senão à recorrência orbital dos modelos e à geração simulada das diferenças. (BAUDRILLARD, 1981, p.9)

operou durante a modernidade. Desfazse o rigor científico, a explicação e o método pela reflexão sobre os sujeitos e os objetos. Tira-se a verdade e não se faz outra verdade, mas se fazem outras verdades, no plural. A pós-modernidade, segundo Baudrillard, é onde se lança o terreno para se instalar a hiper-realidade: a era da simulação inicia-se, pois, com uma liquidação de todos os referenciais (BAUDRILLARD, 1981, p.9). O real já não é mais o que era: há a sobrevalorização dos mitos de origem e dos signos de realidade; a sobrevalorização de verdade, de objetividade e de autenticidade de segundo plano; a ressureição do figurativo (BAUDRILLARD, 1981, p.14).

Desta forma, as operações que representam o real não são mais concretas, tornam-se simulacros do que é o concreto: cópias que representam elementos, mas não existem. Os procedimentos não são mais concretos: são simulações, imitações de processos existentes no mundo real. Umberto Eco (1984), em uma viagem pelos Estados Unidos entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1980, escreveu diversos artigos sobre a obsessão estadunidense em representar as coisas, em produzir uma nova realidade onde a mesma seria já impossível de materializar: “nós lhe damos a reprodução a fim de que não sintam mais a necessidade do original” (ECO, 1984, p.26), isto é, a imagem e a produção programada para Uma das características mais marcantes explorar as sensações superam um sentido da pós-modernidade, segundo Lyotard de realidade no objeto explorado. Eco (1979) é o fim das referências, isto é, a enumera diversos fenômenos de hiperextinção das grandes narrativas históricas realidade, como a Disneylândia, o museu concebidas como verdades absolutas. Aquilo de cera e os hologramas. Embora o tema onde não há possibilidade de se refutar, não seja o que prepondera no seu artigo refuta-se, questiona-se, desconstrói-se e, em sobre a “falação esportiva” (ECO, 1984, último ato, liquida-se. É a construção de um p.220-227), é possível associar aquilo que novo sistema de narrativas e de referenciais, ele coloca sobre este assunto para que onde se constituem novas significações identifique, talvez como tendência, como que desarticulam o cartesianismo que se enxerga o futebol nos dias de hoje.

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O futebol é, por si só, um estímulo ao imaginário. Ele começa, via de regra, como uma brincadeira, como o lúdico, o recreativo. A criança, quando joga futebol, imediatamente pretende encarnar o seu atleta favorito, comprando a camisa do jogador, tentando reproduzir no pátio da escola o drible do atacante ou a defesa do goleiro. A criança começa a jogar futebol pensando em ser o seu ídolo. Já é a primeira manifestação de hiper-realidade que vem da própria consciência, contraditoriamente, um processo profundamente referencial. Baseia-se numa referência para adquirir o gosto, o hábito, a prática. A realidade, o original, o concreto é ver o menino ou a menina aprendendo os fundamentos do esporte, lutando contra as dificuldades de chutar uma bola com força ou de executar com precisão um drible desconcertante. Mas há, no íntimo, uma transcendência natural, em que, no imaginário, o chute foi igual ao do Cristiano Ronaldo, o drible semelhante ao do Neymar e a corrida tal como a do Messi. Essa experiência sensorial é fascinante para a criança e já estabelece, de bate e pronto, um significado que transcende o simples ato de chutar uma bola. É a encenação do ato, o primeiro simulacro: jogar futebol não é mais só uma atividade física; é o ato de produzir uma simulação daquilo que a criança julga como real, mas que é só aquilo que aparece na era da espetacularização do esporte. O futebol já nasce como hiper-real.

ganham menos de R$ 1 mil por mês. Apenas 0,4% ganham mais de R$ 100 mil mensalmente, salários que são compatíveis aos das grandes equipes do futebol brasileiro6. Isso significa que a realidade, o concreto, o factível é bem diferente daquilo que é idealizado. No plano de dimensionar o jogador como um estereótipo de fama, dinheiro e vida fácil, estabelece-se o contrassenso que lhe atribui um sentido de aproximação com boa parte da sociedade e lhe confere uma caricatura bem menos nobre do que se pensa. A realidade do jogador de futebol é bem mais a de um trabalhador como qualquer outro do que a de um Neymar. À despeito de todo talento que lhe garante uma condição especial, ele se torna uma exceção no universo dos atletas de futebol profissionais. Só que o hiper-real e a espetacularização não se manifestam na regra. Ninguém recorre a uma simulação do cotidiano, porque o cotidiano é real, ele existe e, em geral, é entediante, conhecido e desestimulante. A simulação precisa ser do modelo mais perfeito possível, daquilo que é concebido como excedente ao real. É quando se faz presente aquilo que Baudrillard chama de estratégia de dissuasão, a dissuasão do real: Quando o real já não é o que era, a nostalgia assume todo o seu sentido. Sobrevalorização dos mitos de origem e dos signos de realidade. De verdade, de objetividade e de autenticidade de segundo plano. Escalado do verdadeiro, do vivido. Ressurreição do figurativo onde o objeto e a substância desapareceram. Produção desenfreada de real e

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apresentou, em 2016, um relatório apresentando dados sobre a remuneração dos atletas de futebol no Brasil5. De acordo com o documento, 82,4% dos atletas profissionais registrados na entidade 6 O relatório faz a ressalva de que não contabilizou 5 Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/ futebol/noticia/2016/02/em-relatorio-cbf-aponta-que-96-dos-atletas-ganham-menos.>. Acessado em 18.jun.2019

contratos de imagem neste relatório, modalidade que aumenta os salários dos jogadores. É preciso salientar, porém, que esse tipo de contrato é feito apenas com jogadores da primeira linha, isto é, os mais famosos e reconhecidos e que não são regra entre os atletas profissionais de futebol no país.

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de referencial paralela e superior ao desenfreamento da produção material. Assim surge a simulação na fase que nos interessa: uma estratégia de real, de neo-real e de hiper-real. Que faz por todo o lado a dobragem de uma estratégia de dissuasão. (BAUDRILLARD, 1981, p.14).

A mídia tem uma grande influência neste sentido de produzir uma imagem que faz do futebol um grande evento hiper-real. Os números apresentados pela CBF, que geraram algumas matérias em grandes veículos de imprensa nacionais, seriam relevantes por si para apontar que o futebol não é um grande negócio para a maioria dos seus praticantes. Entretanto, vende-se a imagem de que, graças ao futebol, existe a narrativa da superação da criança pobre que se torna um astro da bola graças ao talento. É a mitologia do craque brasileiro, em que, menino que joga na rua é visto pelo olheiro de um grande clube, desenvolve seus fundamentos na escolinha, transforma-se em jogador profissional, chega à seleção, transfere-se para a Europa e passa a fornecer para sua família uma vida que ela não tinha antes. A espetacularização midiática é o combustível que aciona a consciência da criança ainda jovem e que atribui – para ela e para sua família – um sentido de esperança graças àquilo que a mídia vende. Ao invés da informação que, estatisticamente, as chances da criança se tornar um dos 82% que ganham menos de mil reais por mês, ela vende a ideia de que, se tudo der certo, ela pode ser um dos 0,4% que recebem mais de 100 mil reais mensais. Não há nenhum sentido real nisto, senão o de energizar o sonho com doses conscientes de hiper-realidade: porque o espetáculo se apresenta como uma enorme positividade, indiscutível e inacessível. Não diz nada além de “o que aparece é bom, o que é bom, aparece” (DEBORD, 2017, p.40).

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O VIDEOGAME E A PREMIER LEAGUE: SIMULACROS A SERVIÇO DA FANTASIA Debord (2017) mapeia a sociedade do espetáculo como uma relação social entre pessoas mediada por imagens. Isto é, uma produção de imagens se materializa sobre o real: aquilo que se vê é de fato o que acontece. Aquilo que se vê ao longe, ou seja, foge da experiência real, só pode ser descrito ou classificado através de duas perspectivas: de forma mitológica, que busca nas grandes narrativas uma forma de legitimar a verdade, que no futebol seria, por exemplo, falar sobre Domingos da Guia ou Leônidas da Silva, craques que não possuem registros suficientes para que hoje tenhamos uma real noção do que eram, a não ser por fidelidade à narrativa construída; ou de forma idealizadora, ou seja, de fidelidade às imagens construídas sobre o objeto. O primeiro plano remete a um saudosismo, algo que Baudrillard (1981) coloca como um dos catalisadores fundamentais para se criar a hiperrealidade: a nostalgia, a ressureição do real. Já o segundo aspecto é puramente simbólico e parte da formação de uma imagem constituída que supera o plano real. Um exemplo clássico, que mencionei na introdução recorrendo a uma descrição imagética do que se vê pela televisão, é a Premier League7. O contraste com jogos antigos do campeonato inglês e que ajudou a estereotipar o futebol do Reino Unido é facilmente acessível pelo YouTube, por exemplo. Historicamente, o futebol inglês foi marcado por virilidade, campos em condições ruins por causa do clima, um estilo de jogo truculento que abusava de jogadas de força, com 7 Liga fundada em 1992 pelos clubes ingleses e que hoje se constitui no campeonato nacional de futebol da Inglaterra.


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pouca habilidade, muitos gols de cabeça invertido, o hiper-real assume seu papel e escassos recursos técnicos dos atletas. protagonista e o carro-chefe é tão somente A partir dos anos 1990, impulsionada pela a imagem: crise inglesa que culminou nos anos 1980 O espetáculo que inverte o real é com acontecimentos como a Tragédia produzido de forma que a realidade de Heysel8, os clubes de futebol do país vivida acaba materialmente resolveram fundar uma Liga independente. invadida pela contemplação do A Premier League hoje é um dos exemplos espetáculo, refazendo em si mesma mais bem-sucedidos de organização de a ordem espetacular pela adesão um campeonato no mundo. Movimenta positiva. O alvo é passar para o bilhões de euros em suas transações e, lado oposto: a realidade surge bem estruturados, seus clubes contratam no espetáculo, e o espetáculo no boa parte dos grandes jogadores e real. Esta alienação recíproca é a treinadores do planeta. essência e o sustento da sociedade existente. (DEBORD, 2017, p.10) A Premier League mudou o jeito de se pensar futebol como organização e como A Premier League estabelece um laço espetáculo. Para desfazer uma imagem social entre o fã de futebol e a expressão negativa – o futebol inglês é feio e violento máxima de como o seu objeto de devoção -, o principal investimento, sobretudo, foi é praticado. Alcança-se o significado na promoção do espetáculo. Embora seja de perfeição, da ausência do erro, da um terreno valioso para a montagem de desqualificação do que é falível. A Premier superclubes com proprietários milionários League, real enquanto competição, opera – como o Chelsea e o Manchester City como um simulacro do jogo em si, como -, a liga inglesa busca justamente na um espetáculo da simulação. Ele não é mais idealização do esporte a inspiração para somente um jogo; ele é, também, o jogo. O um objetivo que, ao menos em termos ideal. O perfeito. O acima de qualquer crítica. de percepção do público, é alcançado: O mais difícil, o que gera tendência, o que produzir um campeonato perfeito. se impõe como verdade definitiva de como A força das imagens da Premier League vai ao encontro do que foi mencionado. Os estádios estão lotados, a moldura é perfeita, o gramado é verde, os jogadores são bons e o árbitro não falha. Evidentemente, fica no plano da imagem, mas é somente dessa forma que a percepção precisa acontecer. Se houver um detalhamento de como são as partidas, é possível observar jogos entediantes, jogadores sofríveis, arbitragens polêmicas e torcida frustrada. Mas, na era da espetacularização, o real é 8 Confronto entre os hooligans, os violentos torcedores ingleses que marcou a final da Copa dos Campeões da Europa de 1985, entre Juventus e Liverpool, resultando em 39 mortos e milhares de feridos.

o futebol alcançou seu ápice. O espetáculo dos espetáculos.

Outro fenômeno que se manifesta como um simulacro é o videogame. E-sports é um termo recentemente criado para designar jogos virtuais que contam com competições organizadas (CAMPEDELLI; CARVALHO, 2018). É uma modalidade já profissional, em que seus praticantes reivindicam como uma modalidade esportiva, como um esporte como qualquer outro: Muitos dos traços do esporte tradicional podem ser observados nos e-sports, especialmente após a incorporação do conceito de espetáculo. Seja pelo formato

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por uma perspectiva real. Se no futebol é possível incorporar o seu craque favorito, em jogos de guerra há uma perfeita simulação da investida à Normandia na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, em que o jogador – ou player, ou gamer – atua efetivamente como um combatente aguerrido. Em simuladores de Fórmula 1, é possível sentir as vibrações do carro, seguir as orientações do chefe de equipe e ter a sensação de guiar em alta velocidade por um famoso circuito automobilístico da Europa. No jogo de futebol, todas as sensações descritas que operam como simulacro transcendem o simples fato de ser um craque por algumas horas. O alto nível de fidelidade nos atributos de um atleta desenvolve, em certos momentos, até um sentido pedagógico de conhecer Os esportes eletrônicos se organizam os jogadores antes pelo videogame do hoje em forma de ligas, algumas com um que pela vida real. bom aporte financeiro e com a contratação O Football Manager funciona como de profissionais que se destacam nessas um simulacro em que o usuário é um práticas. Um dos games mais concorridos treinador de futebol. Ele monta a equipe, é o FIFA, criação da empresa EA Sports. A organiza a tática, gerencia os treinamentos série existe desde o final dos anos 1980, e contrata reforços para o elenco. Os inicialmente nas versões de videogames dos jogadores são simulacros de atletas reais, anos 1990, como o Mega Drive e o Super ou seja, é possível – basta ter dinheiro, Nintendo. Com o desenvolvimento das obviamente – contratar o Cristiano plataformas, o FIFA passou por alterações Ronaldo, por exemplo. Funciona também significativas e hoje opera como um como um gerenciador de pesquisa sobre verdadeiro simulacro que tem a intenção os jogadores disponíveis pelo mundo. Criade reproduzir fielmente os movimentos se um mundo à parte, em que é possível dos principais jogadores do mundo, da conhecer detalhes do ala sul-coreano de execução de um chute ao semblante 19 anos que existe na vida real sem ter característico do atleta. É possível treinar visto uma partida de verdade do jogador. uma equipe, contratar jogadores, disputar O videogame constitui-se, portanto, as competições, reproduzir o drible do ídolo, no mais bem programado evento de hiperpersonificar um atleta em busca de ascensão realidade que o mundo do futebol produz. e disputar concorridos campeonatos contra Se a Premier League embala os sonhos outros praticantes. de um futebol ideal com a produção de O ambiente virtual é por si só um imagens, o videogame o faz com uma simulacro. A tecnologia foi incrementada distinção clara de que aquilo que se tem ao ponto de fazer dos games simulacros é uma transcendência da realidade, uma perfeitos de realidades que são inalcançáveis ficção real. É como Baudrillard exemplifica midiático, pela estrutura dos campeonatos, o sistema de pontuação, narrativas produzidas, composição dos profissionais. Essa construção simbólica reorientada aos e-sports é importante para a legitimação como uma modalidade esportiva. Ainda que existam traços dos esportes tradicionais, é importante identificar as particularidades desse universo. Os e-sports, portanto, têm aplicado a concepção de “modernizar a própria modernidade” (LIPOVETSKY, 2004, p.56) do ponto de vista dos esportes-espetáculo na sociedade hipermoderna. Utilizando de signos modernos e adaptando-os ao seu tempo. (CAMPEDELLI; CARVALHO, 2018, f.2).

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com as obras de ficção científica e que seu compatriota José Mourinho observou classifica como uma antecipação do real seu talento para reconhecer valores a partir [grifo nosso]: de um banco de dados criado por ele através Não há real, não há imaginário do Football Manager. É possível identificar senão a uma certa distância. O que que o simulacro – o game – tem funcionado acontece quando esta distância, cada vez mais como uma ferramenta de inclusive a distância entre o real conhecimento a ser aplicada no real – o e o imaginário, tende a abolir- jogo. Em 2014, a Premier League anunciou se, a reabsorver-se em benefício que passaria a utilizar a base de dados para encontrar exclusivo do modelo? Ora, de uma disponível no videogame 9 categoria de simulacros a outra, a jogadores e treinadores . tendência é bem de uma reabsorção desta distância [...]. Ela é máxima em sua utopia, onde se desenha uma esfera transcendente; ela reduz-se de maneira considerável na ficção científica, que é uma projeção desmedida do mundo real da produção. [...] Os modelos já não constituem uma transcendência ou uma projeção, já não constituem um imaginário relativamente ao real, são eles próprios antecipação do real. O campo aberto é o da simulação no sentido cibernético, isto e, o da manipulação em todos os sentidos destes modelos (cenários, realização de situações simuladas etc.) mas então nada distingue esta operação da gestão e da própria operação do real: já não há mais ficção. (BAUDRILLARD, 1981, p.152-153).

Ficasse apenas no plano da diversão, sabendo que o que existe no videogame é uma simulação, um jogo, teríamos apenas um objeto influente para que se potencialize esse efeito de espetacularização do futebol. A questão é quando o simulacro se torna parte do que se tem como realidade efetiva. O caso do treinador português André Villas-Boas é emblemático. Atualmente no comando do Olympique de Marseille, a história de Villas-Boas no futebol começou quando

O videogame deixou de ser um mero simulacro que objetiva diversão e passatempo. No futebol, que hoje é uma expressão clara de como funciona a sociedade do espetáculo, ele assume um papel de evento hiper-real. Excede o plano da idealização, de produção de imaginário. A realidade busca na hiper-realidade novos elementos para si. É a dissuasão completa do real. Nem mesmo o que deve se dedicar a uma racionalização, como por exemplo, o jornalismo, tem escapado desse deslumbramento. O real já não responde mais à análise: ela também já é um simulacro. A ANÁLISE ESPETACULARIZADA: A ROUPA DO REI QUE SÓ OS INTELIGENTES PODEM VER

O jornalismo esportivo brasileiro, desde os primórdios, sempre esteve associado ao entretenimento, à literatura e à produção de imagens mitológicas. Mas também tinha, em suar origens, uma análise que se dispunha a ser mais racional, atenta aos fatos da partida. A crônica surge como modelo dominante somente a partir dos anos 1950, especialmente após a derrota do Brasil para o Uruguai na final do Mundial disputado no país. Ela aparece de forma metafórica, alegórica e de modo a prender 9 Disponivel em <https://link.estadao.com.br/blogs/ que-mario/premier-league-usara-base-de-dados-de-game-para-encontrar-talentos/>. Acessado em 22.jun.2019.

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o leitor de esportes relacionando o que é factível – o real – com elementos que puxam para a ficção ou a figura de linguagem – o imaginário. Diversos manuais de jornalismo esportivo relatam que a editoria de esportes sempre foi menos rigorosa e, pelo fato do futebol ser, essencialmente, um lazer, também voltada ao entretenimento. Amaral (1969, p.98), por exemplo, defende que, pela natureza e finalidade do jogo, “esporte é, sobretudo, entretenimento e, por isto, editorias especializadas no assunto gozam com bom grau de independência”. Neste período, o brasileiro que mais se notabilizou por escrever sobre futebol foi Nelson Rodrigues. A clássica explicação da derrota de 1950 atribuída ao complexo de vira-latas entrou para a história não só pela criação, mas pelo termo que se transformou em complexo de inferioridade brasileiro perante os estrangeiros: Eis a verdade, amigos: - desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios [...] Quero aludir ao que eu poderia chamar de "complexo de vira-latas". Estou a imaginar o espanto do leitor: - "O que vem a ser isso?". Eu explico. Por "complexo de vira-latas" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade... Eu vos digo: o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender (RODRIGUES, 1993, p.52).

É possível tomar a crônica de Nelson Rodrigues a partir de dois aspectos: o

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primeiro, que ela nada explica sob o ponto de vista jornalístico o que aconteceu com o Brasil contra o Uruguai; o segundo, é que se trata de uma espetacularização do fato. A criação que argumenta um complexo de inferioridade brasileiro como fator preponderante para uma derrota em campo é induzir o leitor para uma análise puramente espetacularizada, para uma criação, uma fantasia, uma alegoria em forma de crônica. Já há mais de meio século, o torcedor de futebol brasileiro convive com a espetacularização da análise, que se transformou naquilo que amplamente refuta o que pretendia Nelson Rodrigues em suas crônicas. Ou seja, a análise não deixou de se espetacularizar; ela só trocou a literatura por um suposto rigor em que o hiper-real da fantasia e da ficção dá lugar ao hiper-real da produção supostamente científica. Eco (1984) fala em falsos absolutos para descrever como as verdades podem ser produzidas e reproduzidas através de artefatos que simulam uma suposta verdade anterior. Quando o jornalismo efetivamente entra no campo do comentário esportivo, a crônica é deixada de lado. Passa-se a tratar o acontecimento esportivo com uma métrica jornalística, com a descrição dos fatos e a racionalidade do método. Entretanto, o campo da opinião é subjetivo10. Neste período, o juízo de valor emitido em 10 Aqui, não entro no mérito da objetividade jornalística, já que considero uma utopia. O que refiro, mais especialmente, é sobre o que o senso comum sempre atribuiu ao campo da opinião (subjetivo), distinguindo-se do campo da informação (pretensamente objetivo). As questões referentes à objetividade jornalística, à imparcialidade e à neutralidade geram uma discussão que foge do escopo do trabalho, embora seja relevante assinalar que, em termos de pensamento do autor, elas funcionam mais como rituais e tabus do que propriamente uma prática que opera na realidade.


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uma partida de futebol passou a ser visto como uma realidade operacional do que a partida mostrava. Em outras palavras, se o comentarista dizia que o jogo era bom, é porque ali existia uma verdade. Só que não existe uma verdade quando se relata uma impressão que não é objetiva. Ela pode ser refutada, discutida, divergida. E é justamente na busca por achar a verdade do jogo que a nova análise constitui seu ethos. O falso absoluto da nova análise tem, em sua base, os números como provas irrefutáveis de que um jogo de futebol tomou determinado caminho. Em um primeiro momento, é preciso salientar o que significa esta nova análise. Guimarães (2018) identificou que há um novo modelo de comentário esportivo, usando como recorte comentaristas das quatro grandes emissoras de rádio de Porto Alegre11. O resultado da pesquisa apresentou um modelo que surge a partir da presença de interações nas redes sociais, da utilização de números, estatísticas e dispositivos para ilustrar os acontecimentos do jogo e de uma nova linguagem utilizada na análise. Debord (2017, p.40) coloca que “ao analisar o espetáculo, fala-se de certa forma a própria linguagem do espetacular, ou seja, passa-se para o terreno metodológico dessa sociedade que se expressa pelo espetáculo”. Desta forma, assume-se que a nova análise, em um primeiro momento, pretende desmitificar a “antiga análise” e criar para si uma linguagem que produz a intenção de tê-la como verdade absoluta. Um falso absoluto. A nova análise se aporta em termos específicos do futebol. Utiliza questões 11 O resultado da pesquisa foi apresentado na dissertação “O comentário esportivo contemporâneo no rádio de Porto Alegre: uma análise das novas práticas profissionais no rádio de Porto Alegre”, que gerou o livro “O comentarista esportivo contemporâneo: novas práticas no rádio de Porto Alegre” (2018).

técnicas e dá relevância a números e conceitos que antes não eram importantes. Surgem elementos como o “mapa de calor” de um jogador – área preferencial em que o atleta esteve dentro de campo - , o índice de posse de bola de cada equipe, a média de chances que uma equipe tem até uma finalização que termina em gol ou o percentual de passes certos de cada atleta. Com isso, renova-se o vocabulário, com a inclusão de termos como “amplitude”12, “profundidade”13, 14 “terço final” e “basculação”15. A linguagem, neste caso, funciona como um sentido de autoridade por parte do interlocutor. A mediação entre o que acontece em campo e aquilo que é repassado para o espectador é feita desta forma. Argumenta-se que, para existir uma nova análise, é preciso referenciá-la com ciência. O “complexo de vira-latas” de Nelson Rodrigues é mera figura de linguagem. Estas observações são provas científicas que explicam – quase que – com precisão tudo que acontece em uma partida. O futebol europeu é a base para esta nova análise. Quando o objeto é um jogo de futebol da Premier League, por exemplo, há uma pretensa ideia de que tudo é explicável, planejado e pensado. O argumento principal é de que todos os movimentos realizados dentro de campo têm objetivos que foram treinados, metodicamente estudados e que não há acaso ou intuição. No dia 31 de janeiro de 2018, o jornalista Renato Rodrigues, da ESPN, um dos principais novos 12 Dar amplitude significa o mesmo que “abrir o time”, ou seja, posicionar um ou mais jogadores quase à linha lateral, por um ou pelos dois lados do campo. 13 Dar profundidade significa posicionar um ou mais jogadores mais próximos do gol do adversário. 14 Divide-se o campo em três blocos (defesa, meiode-campo e ataque). O bloco mais adiantado é o terço final. Terço final nada mais é do que setor de ataque de uma equipe. 15 Movimento de sincronia defensiva em que os zagueiros se movimentam simultaneamente para fechar uma jogada adversária.

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analistas da imprensa brasileira, postou em sua conta no Twitter uma consideração sobre uma partida da Premier League: “Gol do Tottenham mostra a diferença entre bola longa e chutão. Não é simplesmente quebrar a bola pra frente. É planejar isso para levar vantagem. [...] Não é aleatório”16.

escreveu -, há um sentido de espetacularizar a análise através da suposta ciência. O carro-chefe dos novos analistas é a parte tática. Hoje, diversos portais e podcasts se dedicam a este tipo de análise. Em todos eles, a premissa é de que o jogo precisa ser explicado pela ciência. O que é ciência? É o conjunto de conhecimentos sistematizados relativos a um determinado objeto de estudo (HOUAISS, 2015, p.211). O rigor científico requer hipótese e procedimentos que comprovem ou não a hipótese. Nos casos descritos, não há, de fato, uma aplicação científica que possa comprovar que aquele movimento de jogo é reprodução fiel de uma determinada intenção e não há nenhuma comprovação de que a única escolha possível para substituir um jogador contundido é a reprodução de movimentos que ambos fazem.

Como é possível analisar, de forma justa e correta, a intenção de um chute longo que sai do goleiro visando o campo de ataque? Como isso pode ser medido, dimensionado, classificado sem que seja, em uma suposição simples, um mero palpite? Ao contrário do que Nelson Rodrigues pretendia, que era de fazer uma alegoria para explicar a eliminação brasileira na Copa de 1950, sem qualquer explicação técnica ou tática sobre a partida, a postagem do jornalista Renato Rodrigues faz o oposto: argumenta que, mesmo para lances aparentemente – ou não – fortuitos, como um chute do goleiro para longe, há uma explicação que foi treinada Nisto, há uma abstração tão grande exaustivamente para que isso acontecesse. na nova análise que a faz dialogar com Tudo é explicado pelo planejamento. Pela Nelson Rodrigues. O pensamento é o ciência. mesmo: prende-se o leitor por uma Evidentemente, Renato Rodrigues espetacularização vestida de ficcional ou imaginou esta análise. É uma suposição. Não de científica. É elevar a análise ao campo há sentido concreto para que, neste lance, da literatura ou ao campo explicativo, o que ocorreu foi exatamente [grifo nosso] sendo que, em boa parte das vezes, o algo fruto de treinamento, planejamento e futebol se manifesta como um fenômeno previsão. Atribui-se à espetacularização no de imprevisibilidades. A nova análise se futebol geralmente aspectos relacionados à disfarça de científica, quando na verdade vida de celebridade dos jogadores, à fofoca, o figurino é de hiper-realidade, como a àquilo que tergiversa a finalidade do jogo, fábula da nova roupa do rei: "Nas terras o campo e a bola. Entretanto, quando se distantes de onde vim, inventei uma forma pretende explicar absolutamente tudo que de tecer a melhor de todas as roupas! acontece em campo, desconsiderando Consigo tecer uma roupa que somente os os fatores humanos inerentes à atividade inteligentes conseguem ver!"17. A análise praticada e sem todas as informações do hiper-real é a roupa do rei. Como não é mundo disponíveis para se fazer uma análise real, o rei está nu. – no caso, por exemplo, é impossível saber se o que aconteceu foi exatamente o que ele 16 Disponível em < https://twitter.com/rnato_ rodrigues/status/958792887138967553>. Acessado em 3.jul.2019.

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17 Fábula que Hans Christian Andersen escreveu em 1837 no conto “A nova roupa do imperador”, traduzido para diversas línguas e adaptada para diversas versões.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

afastam daquele esporte que ele observa na Eco (1984, p.58) escreve que o prazer sua proximidade, o futebol real. Com a espetacularização destas imagens da imitação é um dos mais inatos da vida humana, mas que na hiper-realidade, e destes simulacros, há, ainda um terceiro desfruta-se a persuasão de que a imitação ponto que a mídia passa a explorar, que é o tenha atingido o próprio auge e que daqui da análise. O comentário esportivo sempre em diante a realidade lhe será sempre investiu pelo caminho da espetacularização. inferior. O futebol do cotidiano do brasileiro Mas, diferente do que se via nos anos é a paixão do clube. Mas também é o 1950 ou 1960, por exemplo, em que a craque saindo cedo para jogar na Europa, espetacularização era uma espécie de licença também é o esporte em que a entidade poética para romantizar o esporte, nos anos que o gerencia enfrentou escândalos de 2010 a análise ocorre de forma diferente. corrupção, também é o esporte do ingresso Pela validação do hiper-espetáculo, recorrecaro, da briga entre torcidas, da cultura de se ao tecnicismo, à frieza tecnológica, ao não manter treinador e dos famigerados espírito da cibercultura, à pretensa ciência e campeonatos estaduais com estruturas à falácia da análise perfeita. ultrapassadas. O cotidiano acentua os Após um amistoso da seleção problemas. A distância os atenua. Criou- brasileira, o treinador Tite falou em externos se a ideia de que o futebol jogado na desequilibrantes e em performar o resultado. Europa é embalsamado em perfeição: O espetáculo está em todos os lugares, apenas craques entram em campo, não da redação à casamata. Espetacularizar há corrupção, o ingresso é acessível, as o vocabulário, adotar neologismos e torcidas são pacíficas e a organização dos determinar autoridades para analisar o campeonatos é irrepreensível. jogo destroem a gênese que fez do futebol O futebol europeu, sobretudo, a mais pura expressão identitária do povo transformou-se em produto para a mídia. brasileiro: sua facilidade em entender os Com a realidade – e, neste caso, bem real – significados, as regras e as dinâmicas do jogo. de ligas compradoras, que vão em centros O futebol não se vincula à dureza da ciência; produtores, como América do Sul e África, ele deve ser entendido pela hermenêutica, buscar os melhores jogadores, tem-se lá, pela interpretação de seus signos, pelo de fato, os melhores jogadores atuando. subjetivismo de seus acontecimentos. O futebol alcançou um status de negócio em um patamar nunca visto antes. É muito dinheiro investido. É preciso ter retorno. Em troca, a mídia encanta o futebol europeu com este fascínio de conto de fadas. Essa exploração fantasiosa amplifica o que é real e transforma o esporte em puramente um espetáculo de hiper-realidade. A percepção do público desperta seu lado fantástico, imaginário, sonhador. Assim, criam-se simulacros, como a Premier League e o jogo de videogame, eventos de ilusão para um público predisposto a consumir pílulas de perfeição que se

É possível que cada vez mais o hiperreal do videogame invada cada vez mais o esporte. É possível que o hiper-real da Premier League seja cada vez mais fantástico para o espectador. É possível que cada vez mais a análise seja um objeto de espetacularização para poucos que enxergaram a roupa nova do rei. Mas, contrariando o que se pode imaginar como tendência, os tempos deveriam ser outros: em uma era em que a audiência tem mais acesso à informação, a análise deveria ser mais democrática, menos aberta e menos sujeita a falsas erudições que visam, além de atribuir significado de

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autoridade, estabelecer uma nova diretriz para aquilo que o brasileiro sabe fazer desde cedo: falar de futebol. REFERÊNCIAS AMARAL, L. Técnica de jornal e periódico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969. ANDERSEN, H.C. A roupa nova do imperador e outros contos. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2013. BAUDRILLARD, J. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D’Água Editora, 1981. CAMPEDELLI, G.; CARVALHO, L.F.T. E-sports: uma análise sobre a sua legitimação e as novas configurações do esporte-espetáculo. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 41, 2018, Joinville. Anais… São Paulo: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2017. ECO, U. Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. ESTADO DE S.PAULO. Premier League usará base de dados de game para encontrar talentos. Disponível em: < https://link. estadao.com.br/blogs/que-mario/premierleague-usara-base-de-dados-de-gamepara-encontrar-talentos/>. 11.ago.2014. GUIMARÃES, C. O comentarista esportivo contemporâneo: novas práticas no rádio de Porto Alegre. Curitiba: Appris Editora, 2018. GLOBOESPORTE.COM. Em relatório CBF aponta que 96% dos atletas ganham menos de R$5 mil. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/futebol/ noticia/2016/02/em-relatorio-cbf-apontaque-96-dos-atletas-ganham-menos.> 23.fev.2016.

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A FÓRMULA 1 COMO FENÔMENO MIDIÁTICO ESPORTIVO ANÁLISE SOBRE O CANAL SKY SPORTS F1 FORMULA 1 AS SPORTING MEDIA PHENOMENON SKY SPORTS F1 CHANNEL REVIEW Flavio Bandeira de Oliveira1

RESUMO: Escolhemos a Fórmula 1, a maior categoria do automobilismo no mundo como referência para a compreensão de um fenômeno crescente de mídia para o automobilismo no continente europeu. Para isto através de um estudo de caso, nosso objetivo é compreender como um canal de televisão recém-criado conseguiu inovar as transmissões das corridas, levando o publico fiel do esporte para cada vez mais perto do contato com a pista, equipe e pilotos. Com a análise, percebemos que o Brasil, país tradicional na categoria, detentor de oito títulos, ainda não consegue fazer uma transmissão televisiva que podemos considerar à altura de uma nação que tem no automobilismo uma história vencedora. Atualmente, o Brasil fica apenas atrás da Alemanha e do Reino Unido no número de títulos mundiais na categoria. Palavras-chave: Jornalismo Esportivo; Automobilismo; Fórmula 1 ABSTRACT: We chose Formula 1, the largest category of motorsport in the world as a reference for understanding a growing media phenomenon for motorsport on the European continent. For this, through a case study, our goal is to understand how a newly created television channel managed to innovate the racing broadcasts, bringing the loyal audience of the sport closer and closer to contact with the track, team and drivers. With the analysis, we realized that Brazil, a traditional country in the category, holder of eight titles, still does not manage to make a television broadcast that we can consider equal to a nation that has a winning history in motorsport. Currently, Brazil is only behind Germany and the United Kingdom in the number of world titles in the category. Keywords: Sports Journalism; Motor racing; Formula 1

1 Jornalista graduado pelo Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista (IPA). Pós Graduado em Jornalismo Esportivo e Mestrando em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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INTRODUÇÃO

atualidade. Por fim, escolhemos três etapas presente artigo, faz um breve do campeonato mundial de Fórmula 1, na recorte acerca da cobertura temporada de 2012, ano de surgimento televisiva campeonato mundial de Fórmula da Sky Sports F1, para fazer o comparativo 1. O trabalho é um comparativo entre com a Rede Globo de Televisão. a emissora detentora dos direitos de JORNALISMO ESPORTIVO transmissão para o Brasil, a Rede Globo De acordo Fonseca (1997), a história de Televisão em comparativo com Sky Sports F1. Uma emissora do Reino Unido, do jornalismo esportivo no mundo tem criada especificamente para a modalidade. pouco mais de cem anos. Os primeiros Para a construção do trabalho proposto, registros são do Le Sport (1854), que permeamos por um resgate histórico, sobre publicava crônicas sobre haras, turfe e o Jornalismo Esportivo com autores como caça, além de sessões de canoagem, Fonseca (1997), que traz a cena uma parte natação, pesca, boxe, bilhar e outros da comunicação jornalística que teve os esportes. Por ser praticado pelas classes seus primeiros registros em 1854, com o menos afortunadas, o esporte era periódico Le Sport, que publicava crônicas considerado um tema inferior [grifo sobre diversas modalidades esportivas. nosso], e só poderia mudar esse conceito Na sequencia, como foi o surgimento do se patrocinado ou praticado pela elite. jornalismo esportivo no Brasil, que no seu Isso ocorreu quando o Barão Pierre inicio estava intimamente ligado as camadas de Coubertin, membro da aristocracia superiores da sociedade. Autores como francesa, fez ressurgir os ideais olímpicos, Maluly (2004) e Camargo (2001), trazem de união entre os povos. No início, a ao estudo, como foi o surgimento e a sua imprensa esportiva oferecia informações importância para o desenvolvimento de e explicações sobre como praticar os mais inúmeras modalidades esportivas no Brasil. variados esportes. Assim que o esporte começou a se tornar importante, as Entre objetivos, o artigo propõe um colunas esportivas começaram a ganhar comparativo da transmissão televisiva novo status, pois pessoas influentes e de entre as duas emissoras de televisão que classe alta começaram a se interessar pelos são detentoras dos direitos de transmissão esportes, e eram estas que apareciam da Fórmula 1. Uma para o Reino Unido e nessas reportagens. Assim, o esporte a outra para o Brasil, e como esse produto ficava em segundo plano: esportivo é tratado para o grande público. Antes de 1939, havia a crônica Para fazer a análise das transmissões, é esportiva, e não um jornalismo importante ressaltar a força que a Fórmula 1 organizado de cobertura de tem enquanto produto midiático esportivo, eventos. O primeiro órgão se compararmos com o futebol, onde as esportivo teria sido Bell´s Life, cifras são milionárias, a Fórmula 1, também inglês, depois chamado de por conta dos seus valores televisivos atinge Sporting Life. E, nos Estados valores significativos para as emissoras Unidos, a imprensa esportiva só de televisão que cobrem a categoria por começou a destacar-se nos anos vinte e dois finais de semana no ano. Desta 20 deste século (FONSECA, 1997). forma, também contaremos a história das Baseado em Camargo (1998), transmissões televisivas de Fórmula 1 no Brasil, desde o seu surgimento, chegando a as primeiras transmissões esportivas

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televisivas aconteceram na década de 30, em diversos países: nos Estados Unidos, uma partida de beisebol, em 1935; na Alemanha, os Jogos Olímpicos de Berlim, no contexto nazista em que Hitler queria mostrar a soberania ariana (há um vídeo de divulgação dessa olimpíada chamado Olímpia, que traz um resgate dos ideais Olímpicos); a BBC, da Inglaterra, mostrou a primeira jornada de Wimbledon para o público britânico, em 1937; na França, em 1948, ocorreu a primeira transmissão da Copa Mundial de Futebol, na íntegra. JORNALISMO ESPORTIVO NO BRASIL

do jornalismo, visto que reunia, ao mesmo tempo, personalidades e notícia. A Copa do Mundo de 1938, na França, teve a primeira partida transmitida pelo rádio em Copas do Mundo, com o jogo Brasil 6 x 5 Polônia. Na Copa de 1958, na Suécia, com a invenção do videoteipe, era possível assistir aos jogos no cinema, cerca de três dias após a partida. Na Copa do Chile, 1962, foi possível assistir ao videoteipe um dia após a partida e os jornais começaram a sofrer com a forte concorrência da televisão. Nessa investigação, encontramos várias histórias interessantes, principalmente das primeiras transmissões de eventos esportivos através do rádio. Camargo (2001) conta que o jornalista-locutor Blota Júnior passou uma semana se preparando para a inauguração do estádio do Pacaembu, já que tinha que conhecer os esportes para depois transmiti-los, passou essa semana narrando sozinho todas as modalidades. Em outras situações, jornalistas se aventuravam em telhados de casas vizinhas aos estádios, visto que estes não possuíam lugares reservados à imprensa, e até subiam em galinheiros e tinham o cacarejo dos animais como pano de fundo de suas narrações.

A primeira reportagem filmada para a televisão ocorre em 1950, no jogo entre Portuguesa de Desportos e São Paulo, considerada o marco das transmissões esportivas na televisão brasileira. A história do jornalismo esportivo no Brasil ocorre praticamente da mesma maneira que o restante do mundo. A partir do interesse das classes mais altas, dos jornalistas e dos escritores mais respeitados é que a imprensa começou a se preocupar com o esporte, principalmente com o futebol. Embora hoje o futebol seja o esporte mais explorado pela mídia, quando foi trazido A presença do rádio no âmbito esportivo para o Brasil por Charles Muller, em 1894, foi tão forte que as transmissões esportivas não era muito valorizado pela imprensa. foram e são fortemente influenciadas por Em outras palavras, o jornalista ele. De acordo com Camargo (2001), os esportivo tinha pretensões literárias, ou mesmos jornalistas e locutores que eram então eram literatos que descreviam a do rádio foram para a televisão, levando partida, por ausência de um profissional consigo a mesma linha narrativa, ou seja, de comunicação especializado. Maluly descreviam a partida, embora as imagens (2004) relata que os periódicos esportivos falem por si só, e muitos telespectadores brasileiros preferiam abordar assuntos achavam maçantes as transmissões pela relativos às modalidades esportivas televisão, por isso, deixavam a TV ligada que estavam mais ligadas às camadas e ouviam a partida pelo rádio, porque era superiores da sociedade brasileira e mais emocionante. destacavam o público, deixando a partida Nos anos 60, como afirma Camargo em segundo plano. A partir da cobertura desses eventos, percebeu-se que o (2001), ocorre o declínio da rádio Panesporte poderia ser um grande aliado Americana, que era considerada A Emissora

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dos Esportes [grifo nosso], anunciando o declínio de outras rádios, por causa da televisão, o que direcionou as cotas de publicidade, patrocinadores e audiência para o novo tipo de veículo. Com isso, as rádios tiveram que passar por um processo de reformulação e encontrar saídas para cobrir esse espaço. Verificamos, ainda, que a profissão de jornalista esportivo, assim como o jornalista policial, era mal vista. Por sinal, qualquer pessoa realizava essa função, já que se entendia que de futebol qualquer pessoa sabia o suficiente para escrever para o jornal, existindo até mesmo preconceito em relação àquelas que desempenhavam esse papel. Encontramos em nosso estudo autores que afirmam que a transmissão e veiculação da informação esportiva eram muito utilizadas pelas forças políticas (classe dominante) para alienar o povo e manter a ordem. Exemplos clássicos são as olimpíadas e a Copa do Mundo, em que o governo brasileiro utiliza as imagens das conquistas de medalhas, principalmente as mais difíceis, para amenizar as crises econômicas e políticas no país; e o esporte é mais que um disfarce para essas crises, é uma catarse para alimentar a sociedade, ou como alguns autores chamavam o ópio da sociedade [grifo nosso]. Fonseca (2003, p. 58) confirma esse dado, ao investigar os jornais da época da ditadura brasileira e encontra no Jornal O Globo, em 4 de abril de 1964, o relato dos repórteres: A televisão foi um dos meios que o governo utilizou para manutenção da ordem, e o futebol foi instrumento para a televisão para essa unificação. Tanto que milhões de dólares foram investidos para que o Brasil tivesse transmissão a cores e ao vivo, via satélite, da Copa do Mundo de 1970, no México. Como verificamos em Marques (2004), foi justamente nessa Copa do Mundo que o rádio e o jornalismo

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impresso viram-se ameaçados. Em virtude disso, houve um esforço de parceria entre as emissoras de rádio e televisão, que durante as transmissões, revezavam-se a cada 30 minutos, incluindo os intervalos, para narrar às partidas. Nesse ano, o Brasil conquistou o tricampeonato e levava definitivamente a Taça Jules Rimet, e Pelé se consagrava como mito. A imprensa utilizava a imagem dos jogos como se a busca pela Taça fosse a busca pelo Santo Graal, para intensificar o valor obtido pelo título, e o governo militar estava sempre ao lado da seleção, como se, embora o país estivesse vivendo um período difícil, o símbolo mais importante do mundo pertencesse ao Brasil. Com o passar do tempo e das inovações tecnológicas, a presença da televisão foi cada vez maior no meio esportivo, como comprovamos em Marques (2004): E, com a onipresença da televisão na mediação das Copas do Mundo, a mídia impressa precisou reinventar seu trabalho diante do poderio da imagem centralizado nos monitores de TV. Um dos recursos utilizados com maior nitidez nesse processo foi à presença, também maciça, de escritores, jornalistas, cantores, esportistas e outras personalidades que passaram a assinar diversas crônicas e colunas nos principais diários brasileiros, como forma de compensar coberturas cada vez mais frias e objetivas dos fatos, as quais obliteravam o espaço da opinião que, antes, faziase presente de modo explícito nas matérias ou reportagens.

A verdade é que Copa do Mundo tinha de ser conquistada para que o regime pudesse alcançar seu status [grifo nosso]. Para isto, inúmeras propagandas


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exaltando o governo e a seleção eram veiculadas diariamente, para mobilizar e entreter o povo, que estava maravilhado, com mais uma novidade, a televisão a cores. Dois anos depois, em 1972, foi a vez de o automobilismo ganhar o seu espaço. Pilotando o Lotus 72 [grifo nosso], no dia 10 de Setembro, no Grande Prêmio da Itália, o piloto brasileiro Emerson Fittipaldi conquista o primeiro título mundial do país na categoria, fator que, segundo Giavoni (2008), foi o que abriu as portas para os demais pilotos brasileiros ingressarem na categoria, e aliou ao regime militar imposto no país à época uma imagem que tão logo foi capitalizada pela indústria automobilística e pelas lideranças políticas, com a finalidade de difundir o esporte pelo país afora. Isso inicialmente teve êxito, pois no ano seguinte, acontece o primeiro Grande Prêmio do Brasil, no autódromo de Interlagos em São Paulo, ainda de forma experimental, onde a corrida ainda não computava pontos para o mundial da categoria. TRANSMISSÕES DE FÓRMULA 1 NA TV BRASILEIRA

Grande Prêmio da Inglaterra, no trágico desastre do Boeing da Varig no aeroporto de Orly em Paris, em 1973. Durante este período, por um ano, a Rede Globo de Televisão, apenas na temporada de 1980, não transmitiu as corridas. Período em que poucos acreditavam nas possibilidades de bons resultados da equipe Copersucar2 dos irmãos Fittipaldi, que construíram o primeiro Fórmula 1 brasileiro, e nem em um novato chamado Nelson Piquet, que iria fazer a sua segunda temporada completa na categoria. Naquele ano, a Rede Bandeirantes, assumiu as transmissões com um narrador ainda desconhecido do público, Galvão Bueno. Vasconcellos (2008) ainda relata que a audiência naquele ano foi expressiva para a emissora, mas não o suficiente para manter a categoria na grade de programação para o ano seguinte, quando a Rede Globo de Televisão retornou a transmitir a categoria para todo o Brasil, com a maioria das corridas na parte da manhã, no horário de Brasília. Naquele ano, o esforço da emissora em ter novamente a categoria em sua grade de programação foi recompensado com o primeiro dos três títulos do piloto Brasileiro, Nélson Piquet.

Desde então, a Rede Globo, transmite, ininterruptamente, a temporada de Fórmula 1, onde o Brasil é o terceiro país com mais títulos na categoria, e atualmente conta com um piloto brasileiro na equipe de maior tradição na modalidade. Ao chegar o ano de 2012, a Globo comemorou 40 anos de transmissão com inovações em seu modo de transmitir as corridas, onde ao longo das 20 corridas disputadas ao longo do ano, Para Vasconcellos (2008), aliada ao deslocou seus profissionais para atuar in Regime Militar, ficou a cargo de iniciar as loco para todas as corridas da temporada. Tal transmissões ao vivo da Fórmula 1 a Rede fato que não acontecia desde a temporada Globo de Televisão, com o narrador Júlio de 2003, quando a emissora decidiu que não Delamare auxiliado pelo comentarista Antônio Scavone. O que a emissora não contava é que ambos morreriam 2 Copersucar ou Escuderia Fittipaldi foi a única equipe brasileira da história da Fórmula 1. Correu entre as quando viajavam para a cobertura do temporadas de 1975 e 1982. As transmissões das corridas de Fórmula 1 tiveram seu início em 1972, na época conhecida como “milagre econômico” do Governo Militar, e a grande conquista de Emerson Fittipaldi naquele ano, foi logo capitalizada pela indústria automobilística e pelas lideranças políticas, com a finalidade de difundir o esporte pelo país afora, conforme citado anteriormente.

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faria todas as corridas no local, sendo elas transmitidas diretamente de seus estúdios no Rio de Janeiro. Relata Vasconcellos (2008) que, durante este tempo, a Globo ficava apenas com um repórter no circuito onde ocorreria a etapa. A equipe completa deslocava-se do país apenas nas corridas tradicionais do calendário do campeonato mundial, como o os circuitos de Monte Carlo (Mônaco), Silverstone (Inglaterra) e Monza (Itália), isso sem mencionar o Grande Prêmio do Brasil, onde a emissora é a detentora dos direitos de transmissão do evento para todo o país. A FÓRMULA 1 COMO UM POTENCIAL DE MÍDIA

ao mesmo tempo, pouco explorada por estudos da comunicação e até mesmo da cultura. Uma vez apontada sua magnitude, seria demasiadamente superficial classificá-la como uma simples modalidade esportiva. Seria igualmente ingênuo encará-la meramente como um lucrativo negócio comercial ou então como somente um colorido e barulhento circo itinerante a entreter pessoas em alguns fins de semana. Ainda em Giavoni (2008) a categoria, que nasceu na Europa em 1950, traz consigo toda uma cultura e ideologia moldada pelo tempo, tornandose cada vez mais complexa em suas relações. Ao mencionarmos os aspectos comunicacionais, há de se reforçar que a Fórmula 1 possui um processo de profissionalização e expansão de público intimamente ligado à comunicação de massa. É nesse ponto que há a associação direta entre comunicação e cultura, quando encontramos afirmações como a do britânico John B. Thompson (1998), que vê na produção destes eventos que estão presentes no cotidiano das sociedades uma relação indissociável com as atividades das indústrias midiáticas:

A Fórmula 1 pode ser vista ao vivo ou em quase todos os países do mundo. Atrai uma das maiores audiências da televisão mundial. A temporada de 2008, por exemplo, conquistou uma audiência global de 600 milhões de pessoas por corrida. É um evento televisivo de massa, que no ano de 2010, por exemplo levou mais de 527 milhões de telespectadores em 187 países do mundo, os quais participam ativamente deste evento, que ocorre em 20 fins de semana por ano e reúne cerca de duzentas empresas globais Mesmo as formas de que, somadas em faturamento, alcançaram entretenimento que existem por em 2009 o montante de US$ 3,787 trilhões. muitos séculos, tais como a música Para Giavoni (2008), tal cifra representaria popular e a competição esportiva, o quarto maior Produto Interno Bruto (PIB) estão hoje entrelaçadas com os do planeta, atrás apenas de Estados Unidos, meios de comunicação de massa. Japão e China e à frente de potências como Música popular, esportes e outras Alemanha, França e Reino Unido. Como se atividades são em grande parte não bastasse ser o mais tecnológico esporte mantidas pelas indústrias da mídia, do mundo, possui uma tradição de mais de que estão envolvidas não apenas 60 anos formando ídolos e referências no na transmissão e apoio financeiro âmbito esportivo. Em termos anuais, é o de formas culturais preexistentes, evento esportivo mais assistido de todos, mas também na transformação.3 apenas superado em quantidade apenas pelos quadrienais Jogos Olímpicos e Copa 3 Thrilling 2010 season boosts Formula One TV do Mundo de futebol. audiences. Formula 1 - The Official F1 Website. Embora seja um fenômeno midiático Disponível em<http://www.formula1.com/news/ headlines/2011/1/11660.html>. Acesso em gigantesco tão amplo, a Fórmula 1 é, 27/08/2013

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Durante o início dos anos 2000, criada pelas equipes inglesas, a Associação a Fórmula 1 grupo criou uma série de dos Construtores da Fórmula 1 a FOCA. marcas, um logo e um site oficial para o A partir dessa criação de Ecclestone, o esporte, em uma tentativa de criar uma objetivo principal das equipes da categoria identidade corporativa à competição. era de negociar suas participações junto aos organizadores das competições. Na época, A FÓRMULA 1 COMO UM POTENCIAL era comum que os proprietários dos circuitos DE MÍDIA NA EUROPA obtivessem todas as vantagens comerciais Um anúncio feito em 12 de janeiro nas negociações, chegando a controlar a de 2011, no site oficial da Fórmula 1, receita das equipes e obtendo certo poder disse que a categoria seria transmitida político na comissão esportiva da Federação em formato de alta definição para a Internacional de Automobilismo, a FIA. Para temporada de 2011, oferecendo uma barrar os lucros dos donos dos circuitos alimentação mundial com uma taxa de mundo afora, Ecclestone unificou a Fórmula dados de 42 Megabits, onde a emissora 1 e criando condições para a realização das britânica BBC posteriormente anunciou competições que os proprietários de circuitos que sua cobertura da temporada de 2011 tiveram que aceitar, anulando o poder que seria transmitida em HD. A Sky Sports e a estes detinham até então. Fato que ajudou BBC juntaram-se a para mostrar as corridas Ecclestone em 1979 a ser o escolhido pela da F1 em 2012. Em março de 2012, a Sky FIA para negociar e administrar os direitos de (Europa) lançou um canal dedicado à F1, transmissão de TV, conforme o pensamento com uma contrapartida também em alta de Tremayne (1999): definição. O acordo atual garante Fórmula O controle do esporte estava 1 na Sky até 2018. nas mãos dos proprietários dos A BBC, por sua vez, em 2012, circuitos, que estabeleciam o continuou a mostrar a cobertura ao vivo calendário e negociavam com as da metade das corridas na temporada: equipes individualmente na base do China, Espanha, Mônaco, Europa, Grã“pegar ou largar”. Era uma espécie Bretanha, Bélgica, Cingapura, Coréia, Abu de dividir para dominar em seu Dhabi e no Brasil. Elas também mostram a nível mais grosseiro. Carente de cobertura ao vivo de treinos e sessões de recursos financeiros e patrocinada qualificação para as corridas. na maioria por um pequeno núcleo de fãs comparativamente ricos A entrada da britânica Sky Sports do automobilismo, as provas de pode ser considerada um marco nas Grand Prix precisavam de alguém transmissões daquela que é considerada com a visão e a persistência para a maior categoria do automobilismo promovê-la (TREMAYNE, 1999, p. 47). mundial. A fase comercial da categoria começou a tomar forma em meados de 1971, quando o atual manager [grifo nosso] da categoria, Bernard Charles Ecclestone, ou Bernie Ecclestone, adquire a equipe Brabham pela quantia aproximada de 100 mil euros. No ano seguinte, Ecclestone assume a direção de uma organização

O que e inegável ressaltar nos dias atuais que a categoria a mando de Ecclestone obteve um salto de qualidade com as suas transmissões ao redor do mundo. O crescimento também se deve ao fato da categoria se aliar as principais emissoras dos países por onde passa. Neste panorama,

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podemos citar a Rede Globo de Televisão, responsável pela geração das imagens do Grande Prêmio do Brasil para o mundo, assim como a inglesa BBC, no Grande Prêmio da Inglaterra, a italiana RAI, no Grande Prêmio da Itália, entre outras emissoras que levam as imagens da Fórmula 1 para outros países do mundo:

Grande Premio da Austrália, no circuito de rua Albert Park, em Melbourne, o qual abriu a temporada de 2012, foi o primeiro a ser transmitido exclusivamente pela Sky, e teve uma audiência média de 526 mil telespectadores em mais de 4h30min ininterruptas de transmissão.

O sucesso das transmissões ao longo das 20 corridas da temporada 2012 rendeu em dezembro “Best Award Transmissão de TV” no FIA Prize 2012, em cerimônia realizada em Mônaco. Alem disso, a temporada de estréia da Sky Sports F1 ainda rendeu à emissora outro prêmio para o programa apresentando, intitulado “Formula One”. Giavoni (2012) descreve com recisão o que é a Fórmula 1 para um A citação na obra de Bower (2011) espectador de TV: também demonstra certa falta de modéstia Podemos, sem necessidade de do comandante do circo da Fórmula 1 ao pesquisa de campo, descrever o comparar um final de semana de corrida com que é uma corrida de Fórmula 1 um mês de uma Copa do Mundo. Mesmo para o espectador de arquibancada que em termos comparativos os números e o espectador de TV. Sobre sejam próximos, a magnitude de uma Copa este último, a Introdução desta do Mundo segue insuperável, mesmo que pesquisa dá conta de explicar a este evento seja a cada quatro anos: maior parte das características Ecclestone criou um espetáculo que envolvem as transmissões anualmente assistido por 41 de provas da categoria. Imagens bilhões de pessoas, em 201 e sons são caprichosamente países no mundo. Cada uma das escolhidos pelo diretor de grandes equipes tem orçamento imagem, que possui uma miríade que ultrapassa os 400 milhões de câmeras e microfones para de dólares. Pilotos como Michael escolher os pontos do circuito mais Schumacher e Fernando Alonso interessantes de serem mostrados, alcançam salários de 50 milhões além das câmeras que vão dentro de dólares por ano (BOWER, 2011). dos carros – as conhecidas onboard. Narradores e comentaristas A emissora britânica Sky Sports traz um dão conta de contextualizar e realce a mais na marca Fórmula 1, que na “traduzir” os fatos acontecidos. sua temporada de estréia comandando as transmissões de TV para a Europa alcançou O êxito das transmissões abriu espaço números expressivos na sua audiência, também para a GP2, categoria que dá alem da aprovação dos telespectadores do acesso aos pilotos mais jovens a Formula 1. continente, por ser a primeira emissora com Isso aumenta o tempo de transmissão por um canal especifico para a modalidade, com parte da Sky F1 HD, sendo ela responsável o sistema de imagens em alta definição. O também por passar as corridas da GP2 Uma eu vez ouvi do próprio Bernie uma comparação do Mundial de Fórmula 1 com a Copa do Mundo, ele dizia que, em termos de organização, cobertura de televisão e mídia em geral, ele conseguia promover uma Copa a cada duas semanas (BOWER, 2011).

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para Europa e o resto do mundo, onde o canal de TV fechada no Brasil Sportv é a emissora responsável por transmitir a GP2 ao vivo, aos sábados e domingos. A seguir, faremos uma análise das transmissões por parte da Sky Sports F1.

título entre Keke Rosberg e John Watson. A partir de 1983, salvo em ocasiões muito raras, todos os GPs passaram a ser transmitidos ao vivo, independentemente do horário.

Quando eu comecei a acompanhar a F1, no final de 1978, a Globo já passava todas as corridas... que acontecessem de manhã. As da América do Norte, que iriam ao ar à tarde, ficavam relegadas a flashes e à edição do “Fantástico”, provavelmente porque achavam que aquele monte de lixo da programação dominical era mais importante. Isso só começou a mudar no final de 1981. A Globo transmitiu os GPs do Canadá e Las Vegas, os dois últimos da temporada e nos quais Piquet ratificou seu primeiro título. Em 1982, aconteceram quatro GPs na América do Norte e ela só passou o último, em Las Vegas, provavelmente porque acontecia no sábado e decidia o

Mônaco é conhecido por ser um lugar de muito glamour, onde as emissoras de TV que por lá trabalham fazem da transmissão da corrida mais tradicional do calendário um evento à parte na temporada. Para isto, Giavonni (2012) sintetiza em sua obra o Grande Prêmio de Mônaco:

O objeto de estudo consiste em uma emissora especifica e voltada para os fãs ANÁLISE DAS TRANSMISSÕES DA SKY daquela que é considerada a maior categoria SPORTS HD do automobilismo mundial. Conforme O presente artigo consiste em mostrar apresentado anteriormente, pode-se dizer como a Fórmula 1, que é sucesso no Brasil que é um case de sucesso na história das com as transmissões das corridas presente transmissões televisivas voltadas para o no cotidiano do brasileiro desde 1972, esporte a motor. inicialmente divididas entre a extinta TV Tupi e a Rede Globo, que tomou a GRANDE PRÊMIO DE MÔNACO exclusividade em 1976 e só deixaria de Começamos a análise por aquele que exibir em 1980. Aquela temporada seria é considerado o GP mais desafiador para exibida pela TV Bandeirantes, para no equipes e pilotos, o de Mônaco, situado no ano seguinte ser recomprada, segundo o principado de Monte Carlo, nas proximidades jornalista Luiz Alberto Pandini, por 1,75 de Nice, na França. Corrida tradicional do milhões de dólares pela Globo junto a calendário da Fórmula 1, consta no calendário Ecclestone, por conta da ascensão de de corridas desde a criação da categoria em Nelson Piquet, piloto brasileiro que estava 1950, ao lado dos GPs de Silverstone, Monza vencendo corridas: e Spa-Francorchamps (Bélgica).

O GP de Mônaco, realizado nas estreitas ruas daquele principado junto ao Mediterrâneo, tem cerca de 250 quilômetros totais ou, em casos excepcionais, o limite de duas horas. É disputada com carros de Fórmula 1, categoria totalmente focada em acelerações. Seus carros não são os mais velozes do mundo, mas nada sobre a face da Terra é capaz de correr mais rápido em qualquer circuito misto – e quanto mais sinuoso este for, maior a diferença

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em relação a qualquer outra categoria. O GP de Mônaco de F1, portanto, equivaleria a uma corrida de 100 metros rasos do atletismo. Uma prova de aceleração total, na qual a rapidez importa mais do que velocidade máxima ou resistência física. Em resumo: vence em Mônaco quem for mais rápido no absoluto.

na equipe a repórter Natalie Pinkham, encarregada de entrevistar os pilotos antes e após a corrida, ainda na pista. Pinkham também apresenta o F1 Show. Diferente das demais corridas do calendário, onde os treinos livres acontecem nas sextas-feiras, Mônaco tem as duas primeiras sessões de treinos acontecem nas quintas-feiras, por ser um circuito de rua no meio da cidade, evitando assim que o transito de carros e pedestres não seja maior por se tratar de um final de semana. Ao todo entre os quatro dias de cobertura em Mônaco foram mais de 72 horas de imagens e informações diretas do local do evento. Chama atenção a criatividade que a emissora teve em relação à sexta-feira onde não aconteceram treinos, onde foram ao ar dois programas ao vivo, um no final da manhã e outro no início da noite, sendo eles ao vivo e ancorados pelos seus repórteres já citados anteriormente.

No caso do nosso objeto de estudo, chama a atenção que a Sky Sports HD realizou a produção de vídeo promocional especialmente para o GP, bem como o cuidado da emissora de não dispensar a presença de um comentarista, jornalista formado e apto para exercer a profissão, mas ao mesmo tempo, de maneira concomitante, dispõe de um ex-piloto com história na Fórmula 1, o que deixa a transmissão bem mais atrativa. A equipe da Sky Sports HD, tem Simon Lazenby como apresentador de todas as corridas ao vivo – ele também realiza as análises pós-corrida. David Croft é o comentarista principal da emissora Ainda na sexta-feira a Sky Sports HD britânica, responsável por analisar as sessões fez reprises das duas sessões de treinos de treinos, qualificação e dia da corrida. livres, mais o treino classificatório para a Para o Grande Premio de Mônaco, foi primeira bateria da GP2 que aconteceu escolhido pela emissora o ex-piloto britânico no sábado. No evento principal, a corrida Damon Hill, campeão mundial de Fórmula 1 de domingo, diferentemente da emissora em 1996. Alem de Hill, outro ex-piloto esteve brasileira encarregada de mostrar a presente nas transmissões: Johnny Herbert, corrida para o Brasil, a Sky Sports HD abre que fez dupla com Hill nas analises técnicas a geração de imagens para Europa, quase duas horas antes do evento, ou seja, se a ao longo do final de semana. corrida para o Brasil está marcada para as A equipe de transmissão da Sky Sports 9h no horário de Brasília, as transmissões HD ainda contou com os repórteres Ted da emissora europeia, fazendo um Kravitz, no pit-lane4 Kravitz e o responsável paralelo com o nosso horário, abre com por informar os bastidores diretamente dos informações de boxes e bastidores às 7h. boxes ao longo das corridas, alem de ser o Antes da corrida, coube à repórter Natalie apresentador do programa F1 Show, que vai Pinkham, ao lado de Damon Hill, percorrer ao ar logo após a transmissão da sessão de o grid5 de largada, entrevistando chefes treino ou da corrida. Além de Kravitz, está de equipes e pilotos que se preparavam 4 Pit Lane é o local onde transitam carros, membros das equipes, pilotos e credenciados para o evento da Fórmula 1. Local de acesso restrito aos profissionais que trabalham no evento.

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5 Grid é o local onde os carros ficam alinhados na reta principal do circuito enquanto aguardam a largada da corrida


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para as 78 voltas no circuito local. Em um comparativo com a Rede Globo de Televisão, a emissora brasileira, para o GP de Mônaco, levou equipe completa para o local da corrida. Com chamadas especificas para a corrida e com bastidores antes da corrida. Mônaco para Rede Globo sempre foi uma corrida especial, uma vez que transmitiu todas as seis vitórias de Ayrton Senna, recordista de triunfos no circuito. GRANDE PRÊMIO DO CANADÁ

Dos boxes Ted Kravitz, realizava entrevistas ao vivo, com curiosidades de bastidores e informações diretas das equipes. Na corrida no domingo, a emissora seguiu o mesmo script [grifo nosso] com a repórter Natalie Pinkham entrevistando equipes e pilotos. Destaque para a transmissão realizada no Canadá, foi o fato da emissora valorizar os pilotos do continente americano. Pilotos como Emerson Fittipaldi, Mario Andretti e Jacques Villeneuve foram muito solicitados para entrevistas e comentários breves sobre o circuito e a Fórmula 1 atual. Ao final, o GP do Canadá foi vencido por Sebastian Vettel, que ainda gravou um vídeo especial para o canal resumindo sua vitória. A corrida que marcou um descaso da Rede Globo com os fãs, que em detrimento do amistoso Brasil x França marcado para as 16 horas ocorrido em Porto Alegre, em horário concomitante com a corrida, optou por transmitir metade da corrida, mostrando apenas em um quadro a volta final da corrida. O que acabou revoltando os fãs da categoria.

Outro circuito tradicional na Fórmula 1 atual, o Grande Prêmio do Canadá, localizado na ilha artificial de Notre Dame em Montreal, contempla uma das paisagens mais bonitas do calendário da categoria. Para o evento em solo canadense, a Sky Sports HD contou em seu time de comentaristas apenas com Johnny Herbert, diferentemente de Mônaco, onde Damon Hill também fez parte do time de comentaristas. Assim como em Mônaco, a emissora fez um vídeo promocional para o GP, mas dispensou uma produção GRANDE PRÊMIO DA HUNGRIA mais elaborada, apenas com imagens de Para o GP da Hungria, a Sky Sports HD corridas anteriores no Canadá, com uma referência ao piloto que leva o nome do preparou uma chamada especial para seus telespectadores, com imagens de acrobatas circuito, Gilles Villeneuve6. húngaros com os melhores momentos dos No primeiro dia de treinos, mesmo pilotos ao longo da temporada até aqui. com a chuva, a equipe de transmissão não Uma cobertura ampla foi feita pela emissora parece se importar com o clima local: com ao longo do final de semana. Entrevistas auxílio de guarda-chuvas passa todas as exclusivas com pilotos importantes, informações necessárias diretamente dos como Kimi Raikkonen, Fernando Alonso boxes em meio aos carros e equipes. Para e Sebastian Vettel, foram os destaques o treino classificatório, no final o ex-piloto da transmissão, que contou ainda com e comentarista Johnny Herbert apresentou a corrida da GP2 como pano de fundo, o circuito para os telespectadores em um o que aumentou ainda mais o tempo da infográfico, mostrando suas características. cobertura ao vivo por parte do canal. Chama a atenção na análise feita da cobertura do 6 Gilles Villeneuve, correu entre as temporadas de GP o cuidado em que os comentaristas de 1977 a 1982. Gilles faleceu em um acidente nos treinos classificatórios para o Grande Prêmio da passar todas as informações de forma que o Bélgica, no circuito de Zolder em 1982. Gilles tam- grande público entenda os termos técnico, o bém é pai de Jacques Villeneuve, campeão mundial jargão da Fórmula 1. Além da equipe fixa do de Fórmula 1 em 1997.

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canal, outros pilotos também participaram das transmissões com comentários técnicos sobre o circuito húngaro. Estes comentários foram tanto para a GP2 quanto para a Fórmula 1. O GP foi vencido pelo britânico Lewis Hamilton, que ao final da prova também gravou um vídeo para os fãs para as câmeras da Sky Sports HD exaltando o feito conquistado no circuito húngaro. Giavoni (2012) menciona em sua obra a importância da TV para os fãs da Fórmula 1: Podemos constatar, neste aspecto, que a televisão, neste caso, não é um mecanismo limitador do público entusiasta, mas um amplificador de sua maneira de entender a dinâmica da corrida. Só há uma tela para se ver, mas ela mostrará muito mais do que sua visão pode alcançar nas arquibancadas. É por isso que não são raros os exemplos de pessoas que tornaram-se fãs da Fórmula 1 através da televisão não gostarem ou minimamente estranharem suas primeiras experiências em autódromos. Alguns momentoschave da corrida, como a largada ou uma ultrapassagem valendo a liderança, podem ser totalmente perdidas pelas pessoas nas arquibancadas, enquanto quem está diante da TV pode ver os lances exaustivamente, em replay e em vários ângulos de câmera. Atualmente, é muito difícil uma transmissão televisiva não captar momentos importantes.

O GP da Hungria, além disso, marcou a metade da temporada atual da Fórmula 1, o que explica no material analisado todo o cuidado em fazer uma transmissão de qualidade para os telespectadores, onde uma quantidade de vídeos sobre o GP da Hungria da própria Sky Sports HD estão a disposição também no site Youtube, onde

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tanto pilotos, comentaristas, chefes de equipe ressaltaram a parada de mais de trinta dias para as férias de verão na Europa, onde a Fórmula 1, tem um período de pausa nas corridas. Para os telespectadores brasileiros, o GP da Hungria foi outra decepção para os telespectadores da televisão aberta. Com uma transmissão incompleta, a Rede Globo transmitiu o treino classificatório do sábado ao vivo, e em detrimento da visita do Papa Francisco no Brasil, alterou a corrida na sua grade de programação, reprisando a mesma as 23 horas de domingo. Na ocasião a única alternativa para ver a corrida ao vivo, foi pelo canal Sportv. Chamou a atenção que na ocasião, a emissora ainda prometeu uma reprise na integra da corrida, o que não aconteceu, a reprise das 70 voltas do GP da Hungria foi de aproximadamente 50 minutos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final do presente estudo, podemos concluir que o Brasil ainda está muito distante da realidade que o nosso objeto de estudo, a Sky Sports F1 proporciona para os fãs da maior categoria do automobilismo mundial. Obviamente, não podemos deixar de valorizar os esforços por parte da emissora que atualmente detém os direitos de transmissão, que há 40 anos transmite as corridas para os fãs brasileiros, e que atualmente aos poucos tenta inovar em suas transmissões, seguindo um pouco a linha européia, contando com pilotos e um comentarista especializado na equipe da emissora. Em relação ao objeto de estudo ainda acredito que no Brasil ainda é difícil vislumbrar a possibilidade da F1 seguir este caminho da TV paga. Apesar da queda de audiência, a categoria ainda gera um interesse considerável no público e tem boa repercussão na mídia.


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Além disso, os parceiros comerciais da Globo na transmissão, muito até pelo espaço que ganham em outros programas da emissora, como Jornal Nacional ou Fantástico, ajudam para que a Fórmula 1 não ganhe o rumo dos canais fechados.

Atuação nos Bastidores da Fórmula 1. São Paulo, SP: Novo Conceito, 2011. 520 páginas

CAMARGO, V.R.T. A divulgação do esporte na TV brasileira: fluxos convergentes entre ciência, arte e tecnologia. GUIMARÃES, E. (org.) Produção e Circulação do Tudo porque a TV fechada ainda não Conhecimento: Estado, Mídia e Sociedade. é algo que está totalmente entranhado na Campinas, SP: Pontes Editores, 2001. cultura do brasileiro, e uma eventual ida da Formula 1 para este segmento, nos COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo dias atuais, seria estranho até mesmo para Esportivo. São Paulo: Editora Contexto, quem não acompanha o automobilismo, 2004. 120 páginas uma vez que a categoria ainda tem grande notoriedade na televisão brasileira. DEFLEUR, Melvin; BALL-ROKEACH, Sandra. Importante ressaltar que, ao contrário da Teorias da comunicação de massa. Europa, que começou o processo de levar Tradução da 5ª edição norte americana. Rio os esportes como o futebol, por exemplo, de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. que é a principal modalidade também por lá para os canais fechados, aqui no FONSECA, O. Esporte e Crônica Esportiva. Brasil ainda temos dois canais abertos TAMBUCCI, P.L. & OLIVEIRA, J.G.M.de & que transmitem as principais partidas e as COELHO SOBRINHO, J. (orgs.) Esporte & principais modalidades esportivas. Neste Jornalismo, São Paulo, CEPEUSP, 1997 exemplo, citamos a Globo, com a própria GIAVONI, Lucas. Estudo da influência das Fórmula 1, e a Rede Bandeirantes de marcas de cigarro na Fórmula 1. Pesquisa Televisão com a Fórmula Indy. de Iniciação Científica. Uniso/FAPESP, 2006. Assim como também é verdade que boa parte dos eventos esportivos, GIAVONI, Lucas. A transmissão cultural principalmente do futebol brasileiro, já da Fórmula 1 pela teoria comunicacional está no pay-per-view, o que aumenta suas de John B. Thompson. XXXIV Congresso vendas a cada ano nos canais fechados Brasileiro de Ciência da Comunicação como Sportv, Fox Sports e ESPN, a faixa (INTERCOM) – Recife/PE, Setembro, 2011 da TV aberta faz parte da rotina do telespectador brasileiro. O certo é que carecemos de mais estudos e pesquisas sobre a Fórmula 1, modalidade que cobre quase todos os países do mundo, com um evento que mobiliza bilhões de pessoas por 20 finais de semana do ano. REFERÊNCIAS

GIAVONI, Lucas. A Fórmula 1 e as Teorias da Comunicação: Transformações Culturais. Pesquisa de Mestrado. Uniso/FAPESP, 2012. MALULY, L.V.B. Panorama do Jornalismo Esportivo no Brasil. XXVII Congresso Brasileiro de Ciência da Comunicação (INTERCOM) – PUC/RS. Porto Alegre/RS, Setembro, 2004.

A saga da Fórmula 1. São Paulo: Publifolha. RIBEIRO, Nice. Fórmula 1: O circo e o Vídeo-documentário, VHS, 52 min. Sonho. Brasil, Editora Best Seller , 1990. 208 BOWER, Tom. Não Sou Anjo: Revelações páginas Inéditas de Bernie Ecclestone Sobre sua

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TREMAYNE, David. Fórmula 1 – 50 Anos Dourados. Londres, 1999. Volume III. THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1998.

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CULTURA, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA CULTURE, CREATIVITY AND INNOVATION IN A FINANCIAL INSTITUTION Thiago Silveira Olivera1 Maristela de Oliveira Franco2 RESUMO: O presente estudo teve como objetivo verificar até que ponto uma instituição financeira estimula a criatividade e a inovação de seus colaboradores, aumentando a produtividade e fortalecendo sua cultura organizacional. A realização deste tipo de estudo viabiliza uma melhor compreensão da rapidez das transformações nos ambientes de negócios, e também como as essas empresas precisam modificar suas culturas, valorizando a agilidade de adaptação das equipes, para que o processo de inovação aconteça de forma fluida. Para a obtenção dos dados aplicou-se um questionário com perguntas fechadas junto a 112 funcionários de uma instituição financeira dos três estados da região sul do Brasil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os dados da pesquisa possibilitaram obter informações sobre: dados demográficos, compreensão sobre o tema , acesso a informações sobre a cultura organizacional de uma instituição financeira, capacidades, habilidades, e competências dos colaboradores e a auto gestão do conhecimento. Os resultados demonstram que há valor no incentivo, estimulo ou influência aplicado por uma instituição financeira, para gerar a criatividade e a inovação no ambiente de trabalho. Além disso, foi apontada uma percepção sobre um continuo aprendizado, para disseminar informações e conhecimento de forma estratégica, que orienta e modifica a ação dos colaboradores fortalecendo a cultura organizacional. Palavras-Chave: Cultura, cultura organizacional, criatividade e inovação, instituição financeira, gestão da inovação, arranjos inovadores, bancos. ABSTRACT: The present study aimed to verify the extent to which a financial institution stimulates the creativity and innovation of its employees, reduced research and strengthened its organizational culture. The realization of this type of study enables a better understanding of the speed of changes in business environments, as well as how these companies use changes in cultures, valuing the agility of adaptation of the teams, for the process of innovation in the form of fluids. To analyze the data applied in a questionnaire with questions asked of 112 employees of a financial institution in the three states of the southern region of Brazil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina and Paraná. The research 1 Bacharel em Administração do Centro Universitário Metodista IPA. Email: thi.s.olivera@gmail.com. 2 Professora do Centro Universitário Metodista IPA. Email: maristela.franco@ipa.metodista.br

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data makes it possible to obtain information on: demographic data, understanding of the topic, access to information about the organizational culture of a financial institution, employees’ skills, abilities and competences and an automatic knowledge management. The results demonstrate that there is value in the incentive, stimulus or influence applied by a financial institution to generate creativity and innovation in the work environment. In addition, a perception of continuous learning was pointed out, in order to disseminate information and knowledge in a strategic way, which guides and modifies the action of employees strengthened in the organizational culture. Keywords: Culture, organizational culture, creativity and innovation, financial institution, innovation management, innovative arrangements, banks. INTRODUÇÃO

A

criatividade faz parte do ser humano, e se torna um componente que mistu­ra inteligência, talento e singularidade. De forma natural ou adquirida, a criatividade se torna progressivamente um diferencial competitivo e essencial para o êxito de qualquer empresa e suas marcas. O ambiente empresarial pode inspirar tanto positivamente, quanto negativamente, ao desenvolvimento da criatividade. Bedani (2012), apresenta um termo chamado criatividade organizacio­nal, como sendo um processo originário das características de personalidade, co­ nhecimento, habilidades e motivação dos membros da organização. Criatividade e inovação estão diretamente relacionadas com a conectividade que cresceu exponencialmente devido ao processo de tecnologia da informação.

WILSON, 2010). Daskalaki (2010) defende que o processo criativo não se limita a um projeto específico, mas um processo cultural e continuo, com suas condições simbólicas, derivadas e ancoradas em valores, abrangendo relações anteriores e posteriormente futuras, formando uma comunidade de trabalho criativo de ação simultânea entre humanos e nãohumanos, ou seja, pessoas, ambientes, objetos e artefatos. A correlação da cultura organizacional, criatividade e o processo de inovação, explica o avanço do empreendedorismo, e a evolução das Fintechs (são iniciativas que aliam tecnologia e serviços financeiros trazendo inovações para pessoas e empresas) (FINTECHLAB, 2017). Os maiores prejudicados neste setor são os bancos tradicionais que, apesar do desenvolvimento de projetos de inovação que os aproximam dos novos concorrentes, apresentam indícios de perdas de clientes e até mesmo fechamento de agências. O mundo começou a mudar dramaticamente e os bancos estão tentando proteger seu negócio, mudar o rumo, encontrar relevância e se adequar ao novo ambiente. As startups são nativas deste novo mundo e estão lutando para ganhar escala (FINNOVATION, 2015). Com isso, para se construir um ambiente de inovação, é necessária uma infraestrutura disruptiva, que influencia ações específicas no mercado e promova a compreensão de valor para implementação dessa inovação (DOBNI, 2008).

Essa pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de explicar até que ponto uma instituição financeira estimula a criatividade e a inovação de seus colaboradores, aumentando a produtividade e fortalecendo a sua cultura organizacional. Mas, ainda que a criatividade possa ser Os objetivos específicos dessa pesquisa uma característica individual, ela também é seriam: identificar as práticas e programas fruto de uma coletividade (FLORIDA, 2011; adotados pela instituição financeira para

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um agrupamento de pessoas desenvolve no decorrer da sua história. O autor ainda construiu e dividiu a cultura em três níveis; 1) Artefatos: é a superfície do iceberg, ou seja, o que é visível, isso inclui os fenômenos ou acontecimentos produzidos encontrados em um grupo; 2) Crenças e valores: é a ação Tentando responder essas perguntas, que prediz as crenças e valores adotados seguindo uma linha de pesquisa voltada com aprendizagens anteriores, ou seja, é um para criatividade e a inovação, esse estudo comportamento consciente assumido pelo qualificou-se, quanto aos objetivos, grupo, e; 3) Suposições básicas: é o que o como uma pesquisa descritiva, com grupo assume como verdade. O fenômeno cultura acontece quando abordagem quantitativa do problema, e foi desenvolvida através de um levantamento um grupo de pessoas estão juntas e interagem de campo, utilizando questionário, e entre si. Depende de como as pessoas delimitação por amostragem. Quanto pensam e interagem, como demonstram à forma, perguntas serão fechadas, nas os valores aprendidos, basicamente em quais algumas delas se darão através da todos os aspectos, e também, o que cada um desenvolveu naturalmente por suas utilização da Escala Likert. compartilhadas. Schein O desafio contemporâneo é conhecer peculiaridades (2009) afirma que as crenças e valores esse processo de criatividade que se identifica pela cultura organizacional tendem a ser adquiridos quando se nos novos modelos de interação do questiona sobre o comportamento aparente mercado de trabalho no setor financeiro, ou outros artefatos que chamam a atenção propiciando a interação de equipes e de das pessoas como misterioso e atípico. estimular a criatividade e a inovação de seus colaboradores; identificar o perfil e o nível de qualificação dos colaboradores a partir de certificações bancárias; e analisar as ferramentas usadas em uma organização financeira que ajudam os colaboradores a praticar a inovação.

pessoas, para que ocorra a inovação. A CULTURA

O conceito de cultura não é unanime. Se analisada pela linha antropológica, a cultura tem várias vertentes. Afirma-se que existem mais de 160 definições de cultura (MARCONI; PRESOTTO, 2006). Entender o que é cultura não é algo simples, pois o estudo da cultura está presente em várias áreas do saber, como a antropologia, sociologia, história, comunicação e entre outras. Em cada segmento o termo cultura é trabalhado de forma e usos diferentes, contudo, existem vários tipos de culturas (CANEDO, 2009). Segundo Schein (2009) a cultura tem sido muito utilizada pelos antropólogos para explicar os costumes e rituais que

Conforme Williams (2007) a origem da palavra cultura vem da base semântica colore, que concebeu o termo em latim cultura, que tem significados variados como habitar, cultivar, proteger, honrar com veneração. Ainda, segundo o autor, a cultura é um conjunto de valores que a humanidade carrega, e possui uma extensa diversificação. Basicamente, a cultura se resume em “a aprendizagem acumulada e compartilhada por determinado grupo cobrindo os elementos comportamentais, emocionais e cognitivos do funcionamento psicológico de seus membros” (SCHEIN, 2009, p.16). Schwab (2016) também esclarece que o entendimento da formação cultural, que acontece em pequenos grupos e que evolui nas grandes organizações ocorre mediante a subculturas que interagem, desses mesmos grupos.

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Para Souza (2013), não existe cultura certa e errada, existe apenas o que é diferente da cultura estabelecida. No estudo das ciências sociais aplicadas, como é o caso da administração de empresas, há o estudo da cultura organizacional, que será aprofundado no próximo tópico. CULTURA ORGANIZACIONAL E GESTÃO DO CONHECIMENTO A cultura organizacional influencia no gerenciamento de empresas e seu impacto molda as estratégias, as necessidades de mudanças e a própria sobrevivência no mercado. A estrutura organizacional das pessoas nas empresas afeta o futuro do trabalho de muitas maneiras, e quem pensa e adquire esse conceito naturalmente serão os líderes de suas organizações. Para Schein (2013), cultura organizacional é definida pelo conjunto estruturado de pressupostos básicos que um determinado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os problemas de adaptação externa e de integração interna.

cultura organizacional afirma Schein (2009) quanto mais forte é a cultura da empresa, mais eficiente é a organização da mesma. Schein (2009) ainda discorre que por outro lado, quando a cultura se torna ineficaz, a liderança é fundamental para sustentar o grupo a desfazer algumas de suas suposições culturais e a aprender suposições novas. A cultura colaborativa é um fator importante para a participação do conhecimento entre sujeitos, equipes e áreas organizacionais. Por outro lado, quando a cultura se torna ineficaz, a liderança é fundamental para sustentar o grupo a desfazer algumas de suas suposições culturais e a aprender suposições novas (SCHEIN, 2009). A cultura organizacional se conduz por um conjunto de características, ocasionando sua identidade, e se torna ajustável à rotina da entidade, percebida e agregada por seus colaboradores, criando-se uma ligação entre ambos, e também fator de diferença das organizações. Robbins (2005) diz que os estudos sobre a teoria das organizações explicam o importante papel que a cultura desempenha na vida dos membros das organizações. Conforme Warrick (2017) todos os contingentes humanos, independentemente de sua dimensão, têm propensão para criar uma cultura própria e, nessa concepção, se encaixa a compreensão de cultura organizacional.

A cultura organizacional indica a criação de um ambiente colaborativo, objetivando a criação de um conjunto de hábitos que contribuam para facilitar a coparticipação de dados, informações e conhecimentos para a formação do conhecimento coletivo organizacional. Assim, preparar um ambiente de confiança entre os sujeitos organizacionais contribui para facilitar a participação e o processo de disseminação Sob essa perspectiva, compreender do conhecimento (SEDIGHI; ZAND, 2012). a cultura organizacional pode trazer especialmente no que A cultura nas organizações expressa os insights, se define em peculiaridades das valores, ideias e crenças que os membros de uma empresa compartilham, e isso estratégias organizacionais, relações de se torna essencial para o crescimento e empoderamento e autonomia concedida sucesso da organização. Fernandes (2001) aos colaboradores para realizar suas discorre que uma das principais distinções tarefas cotidianas (KHOULY; FADL, 2016) entre duas empresas, mesmo que vivam no mesmo negócio, é o amadurecimento de aptidões coletivas. Quando se trata de

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Um dos fatores críticos do sucesso nas organizações explica King (2009), somente se constitui de fato, caso a


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cultura organizacional possibilite e motive as pessoas a apropriar, criar, compartilhar e disseminar o conhecimento construído para o benefício do coletivo organizacional, uma vez que a cultura informacional e de conhecimento influenciam o significado nos processos e resultados da gestão do conhecimento. Por conta disso, é preciso compreender as questões culturais que transpõem o ambiente organizacional, e que podem influenciar a implantação da gestão do conhecimento na organização. CRIATIVIDADE No contexto da sociedade da informação globalizada e competitiva, evidencia-se que a criatividade se torna uma força motriz relevante para o desenvolvimento organizacional, bem como para a geração do conhecimento. Terra et al. (2018) explica que o ato da criação exige mais que comprometimento, exige total envolvimento. Assim, diferentes segmentos organizacionais têm implantado modelos estratégicos, em busca da melhoria contínua e da necessidade de criar diferenciais competitivos em um ambiente complexo e dinâmico. A criatividade, é a capacidade de gerar ideias, imagens e coisas, ou dar existência a algo novo, único e original, à revelia das regras e exemplos existentes (VANZIN; ULBRICHT, 2010). Nos anos 2000, anunciavam-se grandes mudanças e transformações, devido à explosão da internet.

presente. Nery e Costa (2008, p.7) definem que “a criatividade é a capacidade de dar respostas novas a problemas antigos, e/ou respostas adequadas a problemas novos”. Fuão (2008), destaca que a criatividade é o ato de criar, que está em tudo e em todos. Por conta disso, a criatividade não pode ser compreendida como somente um fruto exclusivo de inventividade ou engenhosidade, que certamente são bem-vindos e importantes. Ela passa a ser entendida como um conjunto construído de ações ou operações visando a um resultado e, portanto, a criação configura-se propensa a ser estimulada, promovida e gerida. Romo (2012) discorre que a criatividade também não acontece sem o domínio de conhecimento, sendo este exigente de duas particularidades. Segundo o autor para ser criativo é necessário conhecimento, declarativo (de informações) e procedimental (de estratégias). De certa forma, a criatividade define o contorno do objeto, e neste caso, condiciona a qualidade do mesmo.

Como afirma Runco (2014), é mais valioso ter um potencial pobre, mas intencional e sistematicamente treinado, do que ter um potencial rico negligenciado. A criatividade, a inovação e a tecnologia andam juntas, especialmente em épocas de grandes crises sociais como a que atualmente está se vivendo. Por conta disso, para que os colaboradores de uma empresa possam ser criativos, os gestores têm a necessidade de entender e vencer três desafios: entender os preconceitos de seus O maior desafio das organizações é membros; entender o contexto histórico sobreviver neste ambiente de negócios no qual elas estão inseridas; e criar novas complicado, incerto e mutante. Por isso, propostas de significados. inovar deixou de ser prática exclusiva de empresas com foco em pesquisa e se tornou essencial para qualquer organização que ECONOMIA CRIATIVA deseje se manter relevante. Por conta A economia mundial do século XXI disso, para se obter qualquer tipo de vem em uma contínua transformação, inovação, o processo de criar se faz passando do incessante domínio da

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mecanização e produção industrial para o domínio dos setores criativos, sejam eles de empreendedores individuais ou grandes e pequenas empresas. As mudanças tecnológicas nos meios de comunicação têm relação direta com o surgimento da economia criativa. Segundo Barcellos, Botura e Ramirez (2015), a economia do século XXI baseada no conhecimento, em sua expansão, deu espaço aos serviços criativos que mantêm uma trajetória ascendente exercendo forte influência nos mercados globalizados. O conceito de Indústrias Criativas, nasceu em 1990, na Austrália e na Inglaterra, tendo mais notabilidade no país de Gales, pois foi neste lugar que o departamento de Cultura, Mídia e Esportes do governo da época, com o intuito de desenvolvimento econômico tomou esse novo conceito de negócios, e buscou investimentos e estudos específicos para aquecer o setor das indústrias criativas. (IPEA, 2019) Por conta disso, surge outro termo de considerável importância, para o crescimento da economia criativa, A Internet das Coisas, que representa, assim, um estágio na trajetória da Internet em que dispositivos programados com inteligência artificial geram conexão e comunicação de objetos e máquinas, assumindo também o controle de uma série de ações cotidianas, sem interferência humana. Para Santaella et al. (2013, p. 28) isso “possibilitou a expansão do conhecimento técnico, barateando a criação de tecnologias que hoje são utilizadas para impulsionar o desenvolvimento da Internet das Coisas”. O termo economia criativa, ou Creative Economy, em inglês, ganhou formato por John Howkins e seu livro The Creative Economy: How People Make Money From Ideas, publicado em 2001, trazendo a ideia de empreendimentos que usam a criatividade como destaque para a criação

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de um produto, como a base do processo. O termo ganhou popularidade e espaço inclusive na criação de políticas públicas, especialmente na China, onde, logo após levando a ideia para o Reino Unido e Estados Unidos. Segundo FIRJAN (2019), a indústria criativa gerou R$ 171,5 bilhões (mais de 2,6% do PIB de toda a riqueza gerada em território nacional) e uma força de trabalho com mais de 837,2 mil trabalhadores formalizados. Sendo as indústrias criativas, produto dos negócios da economia criativa, é de suma importância, também compreendêlas. A economia criativa se percebe como a união de pessoas, ideias e projetos, cujo capital intelectual se torna principal matéria-prima desse mercado, originando dessa maneira as Indústrias Criativas. Howkins (2012) discorre que as indústrias criativas como uma atividade ou trabalho intelectual é o principal combustível para a execução de um serviço ou elaboração de um produto, sendo o resultado alcançado a propriedade intelectual. Por conta disso, um arranjo inovador em uma organização financeira, pode por muitas vezes levar a cooperação entre colaboradores, trazendo melhores resultados, contribuindo assim, para construção de novos serviços e produtos. ARRANJOS TRABALHO

INOVADORES

DE

Tanto criatividade, quanto a inovação são assuntos de viés empresarial que se expandem para outros domínios do conhecimento, moldando uma forma de organização do trabalho e de gestão de si, para adaptação às condições de inserção no mercado de trabalho impostas pelo capitalismo contemporâneo. Em diferentes ambientes sociais o empreendedorismo e a inovação vêm sendo inseridos a partir de conceitos difusos que envolvem


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criação de novos negócios, visão de futuro, oportunidade e liberdade, tanto de atuação como de vida. Por conta disso, o empreendedorismo e a inovação refletem a crença de que não são apenas aceitáveis, mas sim, vitais para a sobrevivência nesta era digital (VOS; SINGER, 2016). Novos modelos de negócios têm surgido na sociedade, pois a velocidade de crescimento da tecnologia da informação e as gerações x, y e z, têm o poder de gerir um crescimento exponencial nas organizações com segmento disruptivos. As mudanças trazidas pela globalização estão ligadas ao comportamento de diferentes atores. Tais processos demandarão mudanças em muitas áreas, em particular no que toca à qualificação profissional e à criação de marcos normativos adequados para regular as novas relações de trabalho. O futuro do trabalho exige modelos de contratação flexíveis o suficiente para se ajustarem às mudanças na realidade do mercado. Observando isso, a cultura de uma organização assim como uma cultura de uma família, pode ser aprendida e estabelecida conscientemente, evoluir por si mesma, ou ao acaso. (CHIRSTENSEN, 2018). Com isso, se pode dizer que essa habilidade necessária ao futuro do trabalho diz respeito a uma capacidade adquirida, ou seja, saber fazer determinadas atividades com astucia e pensamento criativo. As habilidades devem ser desenvolvidas na busca de uma competência. Antunes (2001, p.18) explica o termo habilidades como: “Filha específica da competência”. Os Ministério da Educação e Cultura definem algumas competências essenciais, como: fazer cálculos e resolver problemas, sintetizar e interpretar dados, analisar fatos e situações, compreender o seu entorno social, acessar e usar melhor a informação acumulada,

trabalhar e decidir em grupo (BRASIL, 2005). Parte destas reflexões se encontra nos desafios e nas oportunidades trazidos pelo trabalho home office, e por formas de subordinação indireta. Por outro lado, a estrutura do mercado de trabalho também atua numa forma que reproduz a inserção em forma desigual e mais precária para os grupos mais vulneráveis. “Há um evidente e imenso descompasso entre o progresso tecnológico e progresso social em termos de qualidade de vida. Segundo Terra et al. (2018), existem indícios que empresas voltadas para a criação de conhecimento e para a inovação têm mais predisposição para estabelecer esses tipos de equipes. Carvalho et al. (2011, p. 96) abordou que: “em empresas que inovam, a liderança é fundamental” ainda afirma que “líder é aquele que motiva a equipe para aceitar oportunidades de desenvolvimento profissional e a incentiva a agir em prol da instituição”. As organizações financeiras têm experimentado de certa forma uma restruturação nas suas equipes de trabalho, conforme adaptação para demanda de mercado. Mas para que isso acontece, as empresas devem estar atentas a gestão do conhecimento de cada colaborador. Conforme Takahashi e Takahashi (2011) explicam, a gestão do conhecimento é um processo estruturado e premeditado que sustenta e proporciona o desempenho global da organização e que, tendo como suporte o conhecimento, busca gerenciar o conhecimento acumulado dos indivíduos. Na economia contemporânea, a criatividade é generalizada e contínua: o ser humano está sempre revendo e aprimorando cada produto, cada processo e cada atividade imaginável, e integrando-os de novas maneiras (FLORIDA, 2011). Para Terra et al (2018), equipes multidisciplinares e estruturas matriciais com pessoas advindas

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de diversos departamentos são essenciais mudanças nos modelos mentais que para criar o novo ou responder a desafios norteiam as atividades da empresa. que vão além da rotina organizacional. As empresas de modo geral entendem a necessidade de se modernizarem INOVAÇÃO nesses processos, que têm se tornado A inovação tem sido fundamental cada vez mais constantes. Segundo Terra para as organizações que fazem parte de et al (2018) na prática as inovações de economias dinâmicas. Com o mercado cada maior impacto são as que geram maior vez mais competitivo, as empresas têm o valor agregado. Por conta disso, veio desafio de a cada dia serem mais eficientes à tona a busca por novas alternativas e produtivas, e com isso impulsionar o que diminuam processos burocráticos desenvolvimento econômico. Promover a encontrados no setor financeiro, e essas capacidade de converter ideias em valor se mudanças não se restringiram apenas torna fator crucial para o sucesso da atividade as fintechs, mas também nos demais empresarial. Em um cenário crescentemente setores. Conforme expõem Takahashi e competitivo, inovações tecnológicas Takahashi (2011) inovação diz respeito acrescentam valor aos produtos e ganhos a mudanças e novidades que podem ser relativas a produtos, processos, a forma em processos produtivos. (FINEP, 2019). de organização das empresas, ao trabalho, Essa alta capacidade transforma tecnologia e mercado, e também aos ideias em produtos, serviços e processos negócios. Takahashi e Takahashi (2011) inovadores de forma rápida e eficiente ainda trazem a ideia de inovações em permitindo que a empresa lucre mais organizações disruptivas e explica que, as (CARVALHO et.al. 2011). Segundo Terra et inovações disruptivas criam negócios de al (2018) na prática as inovações de maior crescimento acelerado, baseado em uma impacto são as que geram valor agregado organização enxuta, com estrutura de devido a inserção de novos produtos ou custo menor, risco baixo pela utilização soluções que irão atender oportunidades de tecnologias já dominadas, menores potenciais ou emergentes que estão investimentos relativos e menor tempo de surgindo no mundo externo. As dimensões retorno de investimentos. da transformação causada pelo avanço das De outra perspectiva, a inovação inovações, conforme Tidd, Bessant e Pavitt (2008), concentram a inovação em quatro como performance é entendida por Wu, tipos, que os teóricos denominam como os Chen e Jiao (2015) como a forma de 4Ps da inovação: a) Inovação de produto: identificar as capacidades e captar as relacionada a mudanças nos produtos/ oportunidades, mudando esses fatores serviços oferecidos por uma organização; b) variáveis importantes de intermediação Inovação de processo: mudanças na maneira entre a diversificação internacional e a como as coisas são criadas, produzidas inovação de performance. e/ou ofertadas aos clientes; c) Inovação de posição: mudanças no contexto ou mercado em que produtos são introduzidos. Geralmente, ocorre quando uma empresa se reposiciona para um novo segmento ou mercado com a introdução de um novo produto/serviço; d) Inovação de paradigma:

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Já Bessant e Tidd (2009) enfatizam que a inovação é uma questão de organização de diferentes peças de um quebra-cabeça do conhecimento e, principalmente, de equilibrar a criatividade com a disciplina de efetivamente fazer com que as coisas aconteçam. Para implementar com sucesso


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uma cultura de inovação se compreende que a inovação gera resultado e, não se torna mero exercício de criatividade, ou se limita a inventar novidades. Mais do que entender os conceitos sobre inovação, é preciso compreender sua aplicação e sua dinâmica por meio dos processos de gestão, ou seja, como de fato proceder e vivenciar os conceitos aprendidos. Nesta lógica, o próximo título irá abordar a gestão da inovação. GESTÃO DA INOVAÇÃO A valoração positiva da inovação passa a ser dominante conforme cresce o entendimento de que ela é um meio eficiente para a sociedade viabilizar as necessidades das pessoas. Por meio disso, a gestão da inovação nas economias de mercados dinâmicos é um fator essencial para a sobrevivência das empresas, uma vez que elas, com frequência, precisam se manterem à frente da concorrência. De acordo com Bessant e Tidd (2009), o sucesso da inovação parece depender dos ingredientes, recursos e capacidades da organização para geri-los. A gestão da inovação se tem como uma ferramenta estratégica que pode trazer uma vantagem competitiva para as empresas, pois ela nasce do esforço contínuo das empresas em se diferenciarem dos concorrentes por um lado, e fugirem da situação de igualdade, por outro lado. A gestão da inovação segue um processo estruturado, que define ações de estratégias e estabelece prioridades de avaliação de ideias, de gestão de projetos e de monitoramento de resultado. A gestão da Inovação ajuda a minimizar estes riscos, a manter sobre controle os recursos alocados ao processo e a gerar mais valor sobre o resultado tecnológico e a inovação propriamente, quando introduzida no mercado (ANACLETO; PALADINI, 2010).

A gestão de inovação acontece devido ao processo planejado, contínuo e facilitador para que uma empresa gere mais inovação e crie mais valor a estas inovações. Barañano (2005) discorre que existem diferentes fatores que devem funcionar em conjunto para criar e reforçar o tipo de ambiente que facilita o sucesso da inovação tecnológica. A prática de spin-off estimula a inovação disruptiva (CHRISTENSEN, 2001), cria ambiente empreendedor e oferece mecanismos alternativos de financiamento geralmente não aceitos por empresas mais maduras. Freitas (2013) cita que o planejamento estratégico, a estruturação da inovação de maneira contínua e a geração de resultados provenientes da inovação, são tópicos comuns às empresas, ressaltando ainda a necessidade do forte incentivo ao estabelecimento da cultura da inovação. Conforme ainda Terra et al. (2018) explica que as equipes dedicadas a gestão da inovação têm o papel fundamental de manter a empresa muito focada, com metodologias e processos apropriados e energizada para inovação. Quatro fatores afetam a Gestão da Inovação: tipos, estágio e escopo da inovação e tipo da organização (TIDD, 2001). Assim, qualquer generalização de um processo de Gestão da Inovação deve ser ajustada considerando esses fatores que ajudam a definir etapas coerentes com o contexto organizacional. Todas essas atividades impactam na gestão da inovação e são afetadas por ela, e no setor bancário não deixa de ser diferente, assunto esse que será aprofundado no próximo tópico. BANCOS Sabe-se que os bancos são agentes essenciais para o funcionamento da atividade econômica, pois os mesmos promovem a mediação financeira entre os agentes deficitários e superavitários, fornecendo diversos produtos e serviços. A atividade

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bancária já existia há mais de 2.000 anos a.C. A prática, denominada como escambo, era realizada nos templos pelos sacerdotes, que já transacionavam com mercadorias e faziam empréstimos com juros altos, mesmo sem a existência da moeda. Naquele tempo, eram usados como moeda o sal, o gado, metais preciosos etc. (FILHO, 2006, p. 7). A modernização dos bancos no Brasil começa pela Reforma Bancária e de Mercado de Capitais a partir de 1964 com objetivo de acabar com a objeção que existiam e permitir o avanço dos bancos brasileiros que ainda se achavam sob influência europeia. Por conta disso, os bancos ficariam com o segmento de capital de giro e outras operações de curto prazo. Na área oficial, já existia o Banco Nacional de Crédito Corporativo, desde 1951, e o BNDES, desde 1952. Em 1964, foi criado BNH. Nos anos recentes foram extintos o BNCC e BNH, estes absorvidos pelas Caixa Econômica Federal (FORTUNA, 2010, p. 4). Recentemente, o setor financeiro passa por importantes mudanças coordenadas por startups voltada em tecnologia financeira. Mesmo em um estágio caracterizado por uma crise econômica, as pessoas não poupam tempo e inovam trazendo oportunidades de negócio. Com este avanço tecnológico o mercado de negócios passou por mudanças significativas no período recente atreladas a estes pequenos empreendimentos. O mundo começou a mudar dramaticamente e os bancos estão lutando para proteger seu negócio, mudar o rumo, encontrar relevância e se adequar ao novo ambiente. As startups são nativas deste novo mundo e estão lutando para ganhar escala. infraestrutura instalada, cultura arraigada e a força de trabalho desengajada tornam este desafio muito mais difícil (FINNOVATION, 2019).

financeiras, de modo geral, perceberam a necessidade de se modernizarem e este processo tem se tornado cada vez mais permanente. Porém, para que as instituições ofereçam essas mudanças e se adaptem, um bom relacionamento e trabalho em equipe são fundamentais, e buscando a satisfação e melhores experiências com todos os clientes. METODOLOGIA O presente estudo qualificou-se, quanto aos objetivos, como uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa do problema, uma vez que buscou descrever a cultura, criatividade e inovação em uma instituição financeira quanto importância da ação e do estímulo no ambiente de trabalho, tendo como procedimento um levantamento de campo. Segundo Klein et al. (2015), a pesquisa descritiva abrange os estudos que pretendem caracterizar, explicar ou delinear informações sobre algum assunto. Gil (2010), explica que as pesquisas descritivas têm como finalidade detalhar características de determinada população ou fenômeno. Segundo Creswell (2010), as técnicas quantitativas envolvem o processo de coleta, análise, interpretação e produção escrita dos resultados de um estudo.

A pesquisa teve como procedimento um levantamento de campo, que na concepção de Diehl e Tatim (2004), são as pesquisas que utilizam questionários ou formulários diretos para as pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Por conta disso, neste tipo de procedimento são solicitados dados a um grupo significativo de indivíduos em relação ao Desta forma, a globalização nos permitiu problema estudado, para, em seguida, ter acesso ilimitado às novas tecnologias por meio de análise quantitativa, obter-se desenvolvidas ao longo dos últimos anos. as conclusões correspondentes aos dados E como dito anteriormente, as instituições coletados.

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Por ser uma pesquisa com orientação quantitativa, a delimitação da pesquisa foi realizada por amostragem, com um total de 112 respondentes. Conforme Gil (2008, p. 89-90), a amostra compreende um “subconjunto do universo ou da população, por meio do qual se formam ou se estabelecem as características desse universo ou população.

Com isso, se adaptou um questionário com fundamentos propostos ao tema, para se chegar aos objetivos pré estabelecidos desta pesquisa. Marconi e Lakatos (2010, p.145), esclarecem que “o questionário é um meio de coleta de dados formado por uma sequência ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a participação do entrevistador”.

O universo da pesquisa analisou a área operacional e comercial de uma instituição financeira da região sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), sendo que se realizou por amostragem não probabilística por conveniência, que de acordo com Malhotra et al. (2005), envolve uma técnica de obtenção de amostra de elementos com base na conveniência do pesquisador, além de que as unidades de amostragem tendem a serem acessíveis, fáceis de medir e cooperativas. Amostra será não probabilística por conveniência, pois a instituição financeira não revelou o número total de colaboradores das áreas analisadas. Por conta disso, não foi possível realizar o cálculo amostral aleatório.

Quanto à forma, foram realizadas perguntas fechadas, nas quais algumas delas se darão através da utilização da Escala Likert. Uma vez obtidos os dados das entrevistas, foi realizado a divisão por objetos categorizando as respostas de acordo com os objetivos geral e específicos, comparando as respostas entre si. Conforme explica Creswell (2010, p.41), “Os pesquisadores fazem interpretações dos resultados estatísticos ou interpretam os temas ou os padrões que emergem dos dados”.

Essa comparação foi uma análise interpretativa das respostas, que conforme Marconi e Lakatos (2003) busca relacionar as ideias expostas pelo autor com outras de A população-alvo para esta pesquisa conhecimento do estudante sobre o assunto foram colaboradores efetivos da mesma da pesquisa. instituição financeira com restrição de Segundo Klein et al. (2015), a análise faixa etária apartir dos 18 anos, de ambos estatística é estudada em dois níveis: a os sexos. No período da coleta, primeiro descrição dos dados e a avaliação das ideias semestre de 2020, as pessoas deveriam alcançadas a partir desses dados. Além estar em situação empregatícia ativa na disso, os testes estatísticos são empregados instituição financeira. para analisar hipóteses de pesquisa. A A coleta de dados se deu através de técnica de análise dos dados será descritiva, questionário, que teve como base, fontes estatística e interpretativa. Apesar disso, de pesquisas anteriores, e com referências para que técnicas inferenciais (que têm de questionários já aplicados sobre como objetivo a extrapolação, generalização criatividade e inovação. Foram aplicados e predição) possam ser usadas, cuidados conhecimentos adquiridos na disciplina de especiais devem ser tomados no processo de pesquisa de Marketing, para se organizar amostragem, assim como a forma pela qual a estrutura do questionário, juntamente o formulário estruturado será elaborado. por consulta de um livro do autor Naresh Malhotra sobre pesquisa de Marketing.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO DA PESQUISA Perfil da amostra Até o esse momento, a pesquisa apresentou alguns temas que discutem e trazem a base para fortalecer e fundamentar a hipótese gerada na pesquisa, que em uma instituição financeira, a criatividade e a inovação podem estimulada em seus colaboradores, e assim fortalecer a cultura organizacional no ambiente de trabalho. Procurar responder e confirmar essa hipótese, e assim resolver o problema, foi criado um questionário com 32 perguntas, e formulado no Google Forms. Para a análise dos gráficos, utilizou-se o Excel avançado. Com essa amostra, se espera encontrar indícios para se conduzir a uma resposta para os problemas específicos, sendo eles: identificar as práticas e programas adotados pela instituição financeira para estimular a criatividade e a inovação de seus colaboradores; identificar o nível de qualificação dos colaboradores a partir de certificações bancárias; e analisar as ferramentas usadas em uma organização financeira que ajudam os colaboradores a praticar a inovação. Todos os princípios éticos foram respeitados na aplicação do questionário, de forma que todos participantes aceitaram de forma consensual e voluntária responder os questionamentos.

A pesquisa foi dividida em 5 blocos, para melhor compreensão dos dados, sendo eles: 1 - Perfil do pesquisado, 2 Criatividade e Inovação, 3 - Práticas e aplicações, 4 - Competências para gerar criatividade e inovação, e 5 - Estratégia orientada a criatividade e inovação e fortalecimento da cultura. A amostra teve como filtro, a idade mínima de 18 anos e com vínculo empregatício ativo em uma instituição financeira. O questionário atingiu o número de 112 respostas, todas as respostas foram aceitas, pois os respondentes cumpriam com os requisitos iniciais, assim a análise foi desenvolvida com o total de 112 respostas. No bloco 1 da amostra, a análise se baseou em cruzar dos dados de sexo e grau de instrução dos respondentes. Nota-se uma ênfase do sexo feminino, e a identificação do perfil que uma instituição financeira tem por preferência, sendo mulheres jovens, com elevado grau de formação. Conforme o gráfico 1, dos respondentes da amostra, 73,2% declaram-se do sexo feminino, 26,8% declararam pertencerem ao sexo masculino. Percebe-se que a estrutura da amostra se torna de forma geral predominantemente do sexo feminino.

Fonte: dados da pesquisa

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Em relação a idade x gênero dos respondentes da amostra, no gráfico 2, é possível identificar que, dos candidatos que estão entre 18 e 23 anos, 7,14% são do sexo masculino e 17,86% são do sexo feminino, as idades entre 24 e 27 anos, 1,78% são do sexo masculino, e 23,21% são do sexo feminino. Com predominância das respostas, essas duas faixas etárias mostram que a idade perfil que os bancos buscam seria em sua maioria, jovens formados. Importante perceber que a maior parte das respostas são compostas pelo sexo feminino. Conclui-se com isso, que o quadro de funcionários dos bancos hoje, seria composto em grande parte por mulheres. Culturalmente, isso parece fortalecer o ambiente de trabalho, pois assim como confirma Schein (2009), a aprendizagem que se acumula e que se compartilha por determinado grupo, cobre os elementos comportamentais, emocionais e cognitivos do funcionamento psicológico de seus membros.

Dos intervalos das idades entre 28 e 31, entre 32 e 35, entre 36 e 39 anos, é possível identificar uma igualdade na distribuição, concluindo que os que permanecem no banco, são funcionários que almejam estabilidade, permanência, níveis hierárquicos mais altos e entendem que o banco seria um bom lugar para se aposentarem. Acima de 40 anos a distribuição é parecida com o intervalo já comentado, porém é representado somente por mulheres. Em relação ao local onde moram, 23,2% dos respondentes residem em Porto Alegre, 50,9% na região metropolitana, sendo esse o maior intervalo da amostra, 9% residem no interior dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e 17,9% em outras localidades. É importante salientar que este dado pode ter tido influência em função do pesquisador residir na região metropolitana, e por isso ter mais acesso a respondentes desta região.

Fonte: dados da pesquisa

Procurando entender a relação entre grau de instrução e gênero, o gráfico 3 da amostra, cruzou os dados entre as duas perguntas. Interpolando essas variáveis, percebe-se que 12,5% dos respondentes são do sexo masculino, e 25% são do

sexo feminino, sendo que estes, ainda não finalizaram o ensino superior. Com a maior parte das respostas, sendo 7,14% do sexo masculino, e 29,46% do sexo feminino, são de respondentes que já concluíram o ensino superior. Esses

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dados levam a entender que o grau de instrução mínimo para se trabalhar em uma instituição financeira, parte de estar cursando uma graduação. Com o decorrer do tempo, o banco ganha em poder contar com todo conhecimento e know how de seus funcionários graduados. Com base nisso, percebe-se que a cultura organizacional de uma instituição financeira é inclinada e compelida a ser sólida, assim como

comprova Schein (2009), pois quanto mais forte é a cultura da empresa, mais eficiente é a organização da mesma. Com especialização ou MBA (Master in Business Administration), 7,14% são do sexo masculino e 17,85% são do sexo feminino. E apenas 0,89% possuem mestrado, sendo do sexo feminino.

Fonte: dados da pesquisa

Para se compreender a relação entre o nível de certificação e o gênero dos respondentes, foi realizado uma análise confrontando essas variáveis. No gráfico 4 da pesquisa, se observa que a certificação CPA10 tem a maior quantidade de respostas, sendo 19,6% do sexo masculino, e 67,86% sendo do sexo feminino. Discorrendo sobre a função dessa certificação, concluise que a CPA-10 (Certificação Profissional ANBIMA Série 10) e se destinada aos profissionais que atuam na distribuição de produtos de investimento em agências bancárias ou plataformas de atendimento. Essa certificação se compreende no meio bancário como a porta de entrada para se conseguir uma vaga em um banco.

produtos de investimento para clientes dos segmentos varejo alta renda, private, corporate e investidores institucionais em agências bancárias ou em plataformas de atendimento. Observa-se que a certificação CPA-20 só a incidência de 11,61% ao total dos respondentes da amostra, sendo 6,25% do sexo masculino e 5,36% do sexo feminino. Importante perceber que existe menos interesse na procura de certificações de maior nível, para se evoluir na carreia bancária. Porém, no gráfico 3, os respondentes informam uma sutil procura por especializações ou pós-graduações.

A CEA (Certificação para especialista em investimentos AMBIMA) certifica Já a CPA-20 (A Certificação Profissional profissionais que assessoram os gerentes ANBIMA Série 20) se destinada aos de conta de clientes pessoas físicas em profissionais que atuam na distribuição de investimentos, podendo indicar produtos.

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Ao obter a CEA, o profissional pode, automaticamente, exercer as atividades abrangidas pela CPA-10 e pela CPA-20. Na amostra apenas uma pessoa possui a certificação CEA, em porcentagem apenas 0,89% dos respondentes, sendo este do sexo masculino.

profissionais que fazem gestão de recursos de terceiros de veículos de investimentos. Isso inclui aqueles que atuam na gestão de recursos de terceiros e que têm alçada/ poder de compra e de venda dos ativos financeiros das carteiras destes veículos. Na amostra, não houve respondentes para essa A CGA tem objetivo de certificar os opção de certificação.

Fonte: dados da pesquisa

Criatividade e Inovação Procurando entender o comportamento dos colaboradores e encontrar respostas para problema, no bloco 2, intitulado criatividade e inovação, foram apresentadas 5 questões, que vão do número 8 ao 13 da pesquisa. Nessa parte, os respondentes informaram dados mais precisos, obtendo-se grande parte das respostas para pesquisa. Com isso, se descobriu a percepção sobre alguns aspetos dos cursos oferecidos na área de criatividade e inovação, pela instituição financeira. O gráfico 5, mostra o cruzamento de duas variáveis, sendo a primeira, a confirmação da existência de cursos no banco, voltados a área de criatividade e

inovação, e a segunda variável é a avaliação do nível de importância destes cursos pela instituição financeira. Propositalmente, foram apresentadas cinco possibilidades de respostas com diferentes direcionamentos, sendo as respostas; nem um pouco, um pouco, de algum modo, mais ou menos, consideravelmente e muito. Com base nesse cruzamento, nota-se que, a maioria dos respondentes somando 25%, afirmam existir cursos que incentivam a criatividade e inovação, e avaliaram “considerável”, o nível de importância da instituição. Terra et al. (2018), confirma isso, explicando que o ato da criação exige mais que comprometimento, exige total envolvimento. Os respondentes que afirmam existir esses cursos, avaliaram

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e marcaram as respostas, “pouco” e “de que a instituição financeira prepara algum modo”, tiveram o mesmo percentual um ambiente de confiança entre os de 14,28%. sujeitos organizacionais, contribuindo e Com esses dados é possível perceber facilitando a participação do processo de que a instituição financeira se dedica e disseminação do conhecimento entre os está “consideravelmente” interessada e colaboradores. comprometida em oferecer cursos voltados a área de criatividade e inovação, pois entende e busca de maneira estratégica, profissionais com maior grau de instrução, como já analisado nos gráficos 3 e 4. É importante se observar, que os bancos procuraram desenvolver o capital intelectual dos seus colaboradores, ou seja, expandir seus conhecimentos, aumentar suas habilidades, e compartilhar suas experiências adquiridas, pois fazendo isso, se ocasiona resultado, que geram inúmeros negócios a longo prazo. Conforme confirmado por Sedighi e Zand (2012), é possível identificar

Somente para completar a análise, dos respondentes que afirmam existir cursos e declaram “mais ou menos” o nível de importância pela instituição, somam um total de 10,71%. Já os respondentes que afirmam existir cursos voltados para área de criatividade e inovação e marcaram a opção “muito” na pesquisa, somam um total de 3,57%. Enquanto apenas 0,89% informam existir cursos e entendem que “nem um pouco” é o nível de importância que a instituição dá para estes treinamentos.

Fonte: dados da pesquisa

O gráfico 6, analisou a efetividade dos cursos voltados a área de criatividade e inovação e o grau de satisfação dos respondentes sobre esses cursos. Com uma escala de ótimo, bom, regular, ruim, péssima e não opina, no cruzamento destes dados, observou-se que 9,82% realizam e informam ser “ótimo” os cursos. Dos que realizam e

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informam serem “bom”, somam um total de 19,64%. Dos que realizam os cursos e acham “regular”, se soma um total de 12,5%. Curiosamente se descobriu que a maioria das respostas, somando-se um total de 22,32%, foram colaboradores que não realizam os cursos, e declararam


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“não opinar”, sobre o grau de satisfação. Observa-se com isso, que embora a instituição consiga oferecer cursos que incentivem o desenvolvimento profissional, os colaboradores não aproveitam essa oportunidade de aperfeiçoamento, por falta de interesse. Santos (2014) confirma em parte isso, pois explica que para haver mudança significativa nos valores que embasam a cultura organizacional, se torna necessário o amparo de diferentes ações de incentivo individual e coletivo, bem como de processos que estimulem a conscientização sobre à valorização do conhecimento organizacional.

se tornou compreensível a existência de certa influência, por parte do banco, para que os colaboradores tenham gestão do conhecimento, para o desenvolvimento do seu próprio capital intelectual, e também, procurem a cada dia serem melhores no que fazem. Conforme esclarece Mattera (2014), as organizações têm direcionado sua atenção e seus investimentos no desenvolvimento de ações e práticas de gestão do conhecimento, buscando criar mecanismos que ofereçam aos agentes organizacionais aprender e disseminar as informações e os conhecimentos, de modo a realizar melhorias contínuas no que se Um outro ponto importante refere a qualidade do trabalho, a redução de para se observar, é o fato de que as custos e riscos e, como resultado, o processo empresas hoje estão investindo cada decisório organizacional. vez mais em capital humano. Com isso,

Fonte: dados da pesquisa

Ao serem questionados sobre qual das iniciativas seria mais relevante para gerar criatividade e inovação em uma instituição financeira, os respondentes tiveram que escolher entre as opções de respostas:

questionar, observar, associar, experimentar e analisar. Na percepção dos respondentes da amostra, com 42%, a opção “experimentar” foi predominante entre as respostas. Este

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resultado parece indicar que ter iniciativa pode gerar vontade de fazer mais, começar ou propor algo novo, ou seja, arregaçar as mangas e efetivamente fazer, focado no resultado do que o seu trabalho ou esforço irá produzir, sem a necessidade de esperar alguém mandar primeiro. Conforme Terra et al. (2018), cada mercado demanda um diferente tipo e intensidade para se gerar inovação.

mais chance de buscar novas soluções mais rentáveis, e que tragam mais produtividade à empresa. Esta afirmação dos respondentes, confirma o que Gardner (2004) explica, que ser criativo é ter aptidões individuais, de alta ou baixa representatividade figurativa, manual ou motora, no sentido de aplicar inteligência as atividades.

Em terceiro lugar a opção “analisar” Importante observar, que em segundo teve 12,5% das respostas. A opção lugar, a opção escolhida foi “questionar”, “associar” teve 8% de relevância, e apenas com 31,3%. Nota-se que o empregado que 6,3% teve a opção “observar” escolhida. é inovador, questionador e criativo, tem

Fonte: dados da pesquisa

que existe interesse da instituição em que os colaboradores se aperfeiçoem. Entretanto, em algumas pessoas, esse potencial criativo, acaba não florescendo, por falta de uso ou conformismo, pela prática da rotina diária, imparcialidade, ou mesmo por entender que ato de criar pode ser extraordinário ou divino. Romo (2012) discorre que a A maior parte dos respondentes somando criatividade também não acontece sem 33,9% informaram que “frequentemente” as o domínio de conhecimento, sendo práticas adotadas pela instituição financeira este exigente de duas particularidades. estimulam a criatividade e inovação. Essa Segundo o autor para ser criativo é percepção dos respondentes demonstra necessário conhecimento, declarativo Para descobrir um dos objetivos específicos da pesquisa, foi perguntado aos respondentes da amostra sobre quais seriam as práticas adotadas pela instituição financeira que estimulavam a criatividade e a inovação. Em uma escala com 5 respostas, (nunca, raramente, frequentemente, quase sempre e algumas vezes), foi obtido os seguintes resultados.

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(de informações) e procedimental (de atualmente, está entre as qualidades estratégias). Porém, a soma destes fatores profissionais mais valorizadas. precisa ser trabalhada em cada indivíduo. Em segundo lugar com 26,8%, Esse resultado também comprova a informaram ser “raramente” este estimulo teoria de Nery e Costa (2008), pois definem praticado pela instituição financeira. Em que a criatividade é a capacidade de dar terceiro lugar, com 19,6% a opção “algumas respostas novas a problemas antigos, e/ vezes”. Em quarto lugar, com 16,1% a opção ou respostas adequadas a problemas “quase sempre”. E em último lugar com novos. Ao identificar essa consciência dos 3,6%, a opção “nunca”. entrevistados nota-se que a criatividade,

Fonte: dados da pesquisa

Práticas e aplicações No bloco 3 da pesquisa, o gráfico 9 buscou analisar a opinião dos respondentes sobre o conhecimento dos cursos que ocasionariam mais produtividade em relação a criatividade e a inovação. Propositalmente, foram apresentadas oito possibilidades de respostas, sendo cursos ofertados tanto em opções livres, de especialização ou em pós-graduação. A coleta destes dados ajudou a entender, se seria possível, por meio da aplicação de algum curso de conhecimento dos entrevistados, melhorar a cultura já existente ou criar uma cultura nova, buscando utilizar ferramentas da administração para produzir criatividade e inovação e experiências novas na gestão do banco.

Identificou-se que a escolha predominante dos respondentes sobre o curso que ocasionaria mais produtividade sendo um percentual de 55,4% foi o curso “Liderança: Gestão de pessoas para inovação”. Verifica-se que conforme citado por Carvalho et al. (2011, p. 96), “em empresas que inovam, a liderança é fundamental” e também, “líder é aquele que motiva a equipe para aceitar oportunidades de desenvolvimento profissional e a incentiva a agir em prol da instituição”. De outro modo, Schein (2009) explica que quando a cultura organizacional de uma empresa não está bem definida, no mínimo a liderança precisa estar, pois é ela que irá sustentar o grupo, conduzindo a desfazer algumas suposições culturais mais antigas, substituindo por suposições novas.

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Em segundo lugar com 46,4% o curso que mais ocasionaria produtividade em relação a criatividade e a inovação seria “criatividade e inovação nos negócios”. Quando se aplica criatividade e inovação a todos os aspectos do negócio, a empresa é capaz de ficar à frente de um mercado em constante mudança. Assim como confirma Takahashi e Takahashi (2011) trazendo a ideia de inovações em organizações disruptivas e explica que, as inovações disruptivas criam negócios de crescimento acelerado, baseado em uma organização enxuta, com estrutura de custo menor, risco baixo pela

utilização de tecnologias já dominadas, menores investimentos relativos e menor tempo de retorno de investimentos. Com 42%, ficou a opção do curso “Liderança, inovação e gestão 4.0”. Dos respondentes que escolheram o curso “Gestão de negócios digitais” somaram 31,3%. Houve um empate nas opções de escolha entre os cursos “Criatividade e inovação”, e “Gestão da inovação”, com 27,7%. Com 19,6% ficou o curso “Inovação no mundo 4.0”. E em último lugar, com 12,5% ficou o curso “Design thinking”.

Fonte: dados da pesquisa

Já o gráfico 10, perguntou para os participantes da amostra, qual ferramenta de gestão se usaria na instituição financeira para praticar a inovação. Propositalmente, foram apresentadas sete possibilidades de respostas, sendo todas ferramentas da administração, para se apoiar nas tomadas de decisão. Partindo do pressuposto que em algum momento da vida ou da graduação, os entrevistados ouviram sobre tais ferramentas de gestão, é possível refletir através destes dados que, a escolha predominante dos respondentes sendo 66,1% foi a opção “Análise SWOT”. Pode-se perceber então,

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que essa técnica de planejamento estratégico utilizada para auxiliar pessoas ou organizações a identificar forças, fraquezas, oportunidades, e ameaças relacionadas à competição em negócios ou planejamento de projetos, seria a principal ferramenta que se utilizaria para se praticar a inovação segundo os respondentes. Conforme Bessant e Tidd (2009) enfatizam, a inovação é uma questão de organização de diferentes peças de um quebra-cabeça do conhecimento e, principalmente, de equilibrar a


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criatividade com a disciplina de Em quarto lugar, com 32,7% a ferramenta efetivamente fazer com que as coisas “Business model canvas”, ou "Quadro de aconteçam. modelo de negócios". Teece (2010) descreve Em segundo lugar, com 41,1%, os modelo de negócio como um conjunto de respondentes usariam o “Brainstorming”. dados e outras evidencias que apresentam Brown (2010), diretor executivo da a proposta de valor aos clientes, a estrutura empresa norte americana de design IDEO, viável de receitas e os custos para entregar uma das empresas mais renomadas esse valor. Em quinto lugar, com 23,2% os a nível de criatividade, afirma que o respondentes usariam o “Design thinking”, brainstorming é uma técnica importante e que de acordo com Cooper, Junginger e eficiente quando a meta é abrir uma ampla Lockwood (2010), é uma ferramenta que variedade de ideias: “outras abordagens auxilia projetar estados futuros, idealizar são importantes para fazer escolhas, mas por meio do processo de design, assim não há nada melhor que uma boa sessão como desenvolver e/ou criar produtos, de brainstorming para criá-las” (Brown serviços e experiências reais. Em sexto lugar, com 5,4% ficou a ferramenta “Scamper”, 2010, p. 75). que segundo Nakagawa (2013), possibilita Em terceiro lugar, com 35,7% os a criação de novos produtos ou serviços e respondentes marcaram a opção de aprimora os já existentes, capaz de mudar o ferramenta “Gestão de projetos com trajeto da empresa. E em último lugar, com 5W2H”, que tem como função definir o apenas 4,5% das respostas a ferramenta que será feito, porque, onde, quem irá “Poka yoke”, que conforme McGee (2005) fazer, quando será feito, como e quanto são dispositivos que detectam, eliminam custará. Behr et al. (2008, p. 39) definem e corrigem os erros, no mais alto nível esta ferramenta como sendo "uma maneira de controle sobre o processo produtivo. de estruturarmos o pensamento de uma De uma forma geral, e possível observar forma bem organizada e materializada que praticamente todos os entrevistados antes de implantarmos alguma solução no tinham alguma noção das ferramentas de negócio”. Segundo Terra et al (2018) na gestão apresentadas na pergunta, pois prática as inovações de maior impacto são todas estas ferramentas são utilizadas de as que geram maior valor agregado. algum modo, em muitas empresas.

Fonte: dados da pesquisa

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Competências para gerar criatividade e inovação

planejamento, relacionamento interpessoal, visão sistêmica, capacidade Na penúltima parte da amostra, de mudança, resiliência, visão para competências para gerar criatividade e projetos, confiança, foco nos resultados, inovação, no gráfico 11, os respondentes visão estratégica e liderança. tiveram de considerar quais as competências Estes resultados estão de acordo com mais relevantes, ou necessárias, para os estudos de Schein (2009) sobre as crenças gerar criatividade e inovação em uma e valores aprendidos e reconhecidos, ou instituição financeira. Propositalmente, seja, é um comportamento consciente foram apresentadas treze possibilidades de assumido pelo grupo e adotado como respostas, solicitando aos respondentes que verdade. Essa descoberta, confirma a marcassem, de acordo com suas opiniões, hipótese básica sobre a correlação da quais seriam as melhores definições na escala. cultura organizacional, criatividade e o Todas as treze competências processo de inovação e explica também o apresentadas tiveram unanimemente em avanço do empreendedorismo. “Provavelmente sim” como resposta mais escolhida. É possível refletir através destes dados que 79,46% dos respondentes da amostra, marcaram “Criatividade” como competência mais relevante para gerar inovação. E em segundo lugar, “Iniciativa”, com 76,78%. Todas as onze opções de resposta restantes tiveram um percentual equilibrado em “Provavelmente sim”, sendo essas competências: autodisciplina,

Conforme Bedani (2012), as respostas obtidas confirmam também a suposição de um termo chamado criatividade organizacio­ nal, como sendo um processo originário das características de personalidade, co­nhecimento, habilidades e motivação dos membros da organização. Criatividade e inovação estão diretamente relacionadas com a conectividade, devido ao processo de tecnologia da informação.

Fonte: dados da pesquisa

Estratégia orientada a criatividade e inovação e fortalecimento da cultura

orientada a criatividade e inovação juntamente com o fortalecimento da Na última parte da pesquisa, no bloco cultura. Apresentou-se 16 questões com 5 do questionário, se trabalhou a estratégia tema e subtema, onde os participantes

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tiveram que analisar e responder no formato escalar, com grau de 1 a 5, sendo 1 discordo plenamente e 5 concordo plenamente. Destas 16 perguntas, somente 8 foram incluídas no gráfico 12, para se analisar especificamente questões relacionadas nesse tema, sendo estas as mais relevantes para se extrair melhores resultados. Na primeira pergunta foi questionado se a instituição financeira estimulava a união das equipes. Em um grau de 1 a 5, 38,39% dos entrevistados marcaram a opção 4, sendo essa a opção mais próxima de concordo plenamente. Conforme confirma Khouly e Fadl (2016) se tratando da união de equipes, a cultura organizacional pode trazer relações de empoderamento e autonomia aos colaboradores, para realizar suas tarefas cotidianas. É possível entender desse dado, que existe um engajamento nas equipes do banco.

Na segunda pergunta, foi questionado se os colaboradores são estimulados a participarem de treinamentos para o seu desenvolvimento fora da instituição financeira. A maioria marcou a opção 3, sendo um total de 34,12%. Observase que ficou dividido a observação dos respondentes, a serem motivados a realizarem cursos fora da instituição, sendo hesitante essa percepção. Na terceira se perguntou se a instituição financeira inspira a criatividade, 38,39% marcarão a opção 3. Conforme afirma Vanzin e Ulbricht, (2010) a criatividade, é a capacidade de gerar ideias, imagens e coisas, ou dar existência a algo novo, único e original, à revelia das regras e exemplos existentes. É importante comentar que, a maioria dos respondentes nessa pergunta se mostraram imparciais, porém, não diminuído a percepção de analises anteriores, onde foi confirmado ser a criatividade a principal competência para se gerar inovação (gráfico 11).

Fonte: dados da pesquisa

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Quando se perguntou sobre se a liderança está comprometida com o desenvolvimento de criatividade inovação, 33,92% marcam a opção 4, e 33,03% marcaram a opção 3. Nota-se que uma parte dos entrevistados ficaram indecisos sobre a liderança estar comprometida. Em contrapartida, quando questionados se a liderança inspirava positivamente os colaboradores, 35,74% dos entrevistados marcam o nível 4 da escala. Isso mostra que a liderança é vista pela maioria dos colaboradores, como um exemplo a ser seguido. O que se comprova sobre os dados dessas últimas duas perguntas, é o fato, de que a liderança inspira mais os colaboradores, do que é comprometida com o desenvolvimento.

explica Dobni (2008) para se construir um ambiente de inovação, é necessária uma infraestrutura disruptiva, que influencia ações específicas no mercado e promova a compreensão de valor para implementação dessa inovação.

Assim é possível compreender que conforme afirmado por Santahelena (2018) que em uma era em que somente marcas com propósito terão espaço no coração e mentes das pessoas, a apreensão é que as empresas cada vez mais assumam suas responsabilidades como atores sociais, interagindo e se envolvendo com as questões da sociedade como um todo. Observa-se que é de conhecimento dos colaboradores o crescimento da instituição e se há novos serviços ou Em relação a liderança valorizar o inovações dentro da empresa da empresa. trabalho dos colaboradores criativos e empreendedores, 34,82% dos entrevistados INFERÊNCIAS marcaram a opção 4. Com esse dado Os colaboradores entrevistados nessa se observa os entrevistados sentem pesquisa têm uma ideia clara de que que a instituição reconhece quando um para se estabelecer em uma instituição colaborador faz algo diferente para gerar financeira torna-se necessário ter ensino um diferencial competitivo dentro da superior em andamento, e no mínimo instituição. Conforme Freitas (2013) o uma certificação bancária. É possível notar planejamento estratégico, a estruturação da que a definição do trabalho de bancário inovação de maneira contínua e a geração tem se alterado nos últimos tempos. de resultados provenientes da inovação, são A tecnologia e as transformações nos tópicos comuns às empresas, ressaltando serviços têm mudado a realidade dos ainda a necessidade do forte incentivo ao funcionários dessas instituições. Os dados estabelecimento da cultura da inovação. demonstram primeiramente que para Sobre a empresa fornecer aos seus instituição financeira pesquisada, o perfil colaboradores acesso ao conhecimento para de trabalho mais procurado são mulheres à realização de algo novo, houve um empate jovens, entre 18 e 31 anos, com nível entre a opção 3 e 4, com 36,61%. Daskalaki superior e pós-graduação. (2010) defende que o processo criativo não É possível notar que os indivíduos se limita a um projeto específico, mas um da pesquisa entendem que o processo processo cultural e continuo. criativo e de inovação são orgânicos, Quando questionados sobre a principal e que alteram todas as atividades e inovação lançada pela empresa nos últimos os pensamentos pré-estabelecidos. dois anos e se ela apresentou alguma Entendem ainda, que existe interesse disruptividade, também houve empate entre pela instituição financeira, de aprender as opções 3 e 4, com 38,39%. Conforme a se trabalhar e produzir criativamente,

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pois se compreende que cada empresa se percebe como um universo singular, gerando suas próprias manifestações culturais particulares, pois são os valores que determinam como devem ser as ações praticadas por todos os colaboradores da organização, bem como a imagem que a organização reflete para os fornecedores, Os resultados demonstram como a clientes, parceiros e sociedade de um modo criatividade e a inovação em um ambiente geral. empresarial se constitui, visto que, a De uma forma geral, e possível observar criatividade e a inovação se tornam uma que praticamente todos os entrevistados força vital, que pode trazer um amplo apresentaram alguma noção das ferramentas significado, pois alcança dos colaboradores de gestão apresentadas, pois todas estas originalidade, adaptação e uma afirmação ferramentas são utilizadas de algum modo, da cultura existente, ou fortalecimento em muitas empresas. Porém, não se utiliza da mesma. Portanto, qualquer produção de forma planejada e consciente muitas específica de uma empresa se dá a partir do desses recursos nessa instituição, visto que contexto relevante onde ela se encontra. essa simples atitude, já ocasionaria mais Observou-se que criatividade e a engajamento das equipes despertando a inovação são atualmente, os elementos criatividade, e gerando inovação. básicos da cultura organizacional e Verificou-se também, que os que ganharam relevância na era da entrevistados interpretam competência informação, pois permitiu que às empresas relevantes para gerar criatividade e se desenvolvessem e enxergassem o inovação, fatores como: criatividade, presente pelo olhar do futuro. Com isso, a iniciativa, autodisciplina, planejamento, cultura organizacional passou a privilegiar relacionamento interpessoal, visão sistêmica, a mudança e a inovação, voltada para o capacidade de mudança, resiliência, visão futuro e para o destino das organizações. para projetos, confiança, foco nos resultados, inovando nos processos. Com isso, os colaboradores consideram importantes seus lugares na instituição como principais responsáveis pelo desenvolvimento, e, também que o setor financeiro é altamente racional e meritocrático e resistente em acreditar que a meritocracia é eficaz em reconhecer talentos.

Nesse contexto compreendeu-se que a gestão de pessoas funciona como um imperativo macro estratégico. As pessoas passam a ser vistas não mais como recursos organizacionais que precisam ser passivamente administrados, mas como seres inteligentes e proativos, capazes de desenvolver responsabilidades, iniciativas, criatividade, dotadas de habilidades e de conhecimentos, que ajudam a administrar os demais recursos organizacionais, pois o maior e mais importante recurso de uma empresa que quer inovar é investir e apostar em seu pessoal.

visão estratégica e liderança. Fatores esses, muito valorizados e importantíssimos na formação de qualquer profissional. Porém, é importante destacar que os entrevistados expressam existir uma certa deficiência na gestão da instituição, pois não se explora todo o potencial para projetos de inovação.

Um último ponto a ser observado, é que de acordo aos dados levantados, algumas das principais barreiras ou fatores negativos que podem estar barrando o processo inovação na instituição financeira, é a não realização dos cursos de aperfeiçoamento que são ofertados, e o insuficiente incentivo por Com isso, essa pesquisa tentou captar parte dos gestores para que os colaborares alguns processos culturais dessa instituição, realizam cursos fora da instituição.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve por objetivo analisar até que ponto uma instituição financeira estimula a criatividade e a inovação de seus colaboradores, aumentando a produtividade e fortalecendo sua cultura organizacional. Para responder aos objetivos desta pesquisa, foi aplicado um questionário com perguntas fechadas de forma escalar a uma amostra não probabilística por conveniência utilizando a ferramenta Google Forms, e análise de gráficos no Excel avançado. Através da análise dos dados obtidos juntamente do embasamento no referencial teórico, julga-se ter elucidado a proposta da pesquisa, visto que a pesquisa revelou existir criatividade e inovação e um fortalecimento da cultura organizacional na instituição pesquisa.

de participantes e integrantes da alta gestão da instituição. Para entender melhor a diferença entre processos criativos e inovação em culturas organizacionais de outras empresas. Por conta disse, seria interessante realizar uma pesquisa que incluísse uma amostra com colaboradores de outras instituições financeiras, para poder comparar os resultados estudados neste trabalho. O objetivo principal deste trabalho foi analisar criticamente os fatores essenciais da criatividade e inovação, na gestão de uma instituição financeira através do prisma dos autores, da bibliografia consultada, e da experiência prática acumulada pelos autores. Através das fontes acessadas foi possível identificar alguns dos principais fatores potenciais do tema na atualidade. Entre eles destacam: a realização de atividades inovadoras constantes e não esporadicamente. Estes fatores se bem utilizados, de forma sistémica e não isoladamente, podem render resultados eficientes em futuros projetos inovadores que poderiam ser empreendidos pela organização.

Para que o objetivo geral da pesquisa fosse alcançado, os objetivos específicos da pesquisa eram: identificar as práticas e programas adotados pela instituição financeira para estimular a criatividade e a inovação de seus colaboradores; identificar o nível de qualificação dos colaboradores a partir de certificações bancárias; e analisar Por fim, descreveu-se as principais as ferramentas usadas em uma organização financeira que ajudam os colaboradores a diferenças entre a criatividade e a inovação, assim como entre cultura e praticar a inovação. O estudo realizado apresentou algumas cultura organizacional, pois ainda muitos limitações quanto a sua população e autores e gestores confundem esses dois amostra, em virtude da insuficiência de fenômenos e processos semelhantes, informações precisas quanto aos números porém, distintos. Este erro pode ser um de indivíduos que pertencem ao universo dos obstáculos à inovação, uma vez que estudado, localizados na região na qual a empresa pode estar confundindo a a pesquisa foi aplicada. Além disso, o criatividade com inovação ou tentando pesquisador não conteve aporte financeiro, fazer inovação sem antes planejar como bem como tempo necessário para expandir utilizar e explorar a criatividade de seus a pesquisa, no qual ampliaria o número da colaboradores. amostra pesquisada.

Sugere-se para futuros estudos e pesquisas a respeito do tema, que seja ampliada a amostra, incluindo maior número

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PEQUENA MISS SUNSHINE: UMA ILUSTRAÇÃO SOBRE IDENTIDADE SOCIAL À LUZ DA SOCIOLOGIA COMPREENSIVA Caroline Garcia Cruz1

RESUMO: Nesta pesquisa, embasada na Sociologia Compreensiva, apresenta-se o espectador como sujeito constituído de personas múltiplas, dependente de suas experiências para subjetivar a informação durante a construção de sua identidade social. A partir de conceitos diversos, passamos pela Psicologia e Antropologia, entendendo assim os anseios diante das representações arquetípicas e o contexto social em que o espectador está inserido, ilustrando a pesquisa com passagens do filme Pequena Miss Sunshine. Responde desta forma, como a mídia, que explora representações de mitos e arquétipos, pode influenciar este processo. A pesquisa entrega aos profissionais de Comunicação Social a responsabilidade de uma constituição saudável de nossa sociedade, uma vez que nos dias atuais temos uma mídia aberta e livre, podendo ser instrumento inclusive de aprendizado e aceitação da diversidade. Palavras-chave: Sociologia Compreensiva. Construção de Identidade. Ações Arquetípicas. Psicologia Gestáltica. Comunicação Horizontal. ABSTRACT: In this research, based on Comprehensive Sociology, the viewer is presented as a subject made up of multiple personas, dependent on their experiences to subjectify information during the construction of their social identity. Based on different concepts, we went through Psychology and Anthropology, thus understanding the longings for archetypal representations and the social context in which the viewer is inserted, illustrating the research with passages from the film Little Miss Sunshine. It responds in this way, as the media, which explores representations of myths and archetypes, can influence this process. The research gives Social Communication professionals the responsibility for a healthy constitution of our society, since nowadays we have an open and free media, which can even be an instrument for learning and accepting diversity. Keywords: Comprehensive Sociology. Construction of Identity. Archetypal Actions. Gestalt Psychology. Horizontal Communication. 1 Bacharela em Comunicação Social Jornalismo pelo Centro Universitário Metodista IPA, Especialista em Gestão Cultural, Desenvolvimento e Mercado pelo SENAC Santo Amaro. Contato: carolinegarcia83@gmail. com

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INTRODUÇÃO

A

ntes dos anos de 1990, a sociedade tinha acesso limitado à mídia. Com poucos canais de TV aberta e estações de rádio, o mercado de entretenimento e a indústria midiática cresceram baseados nos campeões de bilheteria e audiência, chegando a produzir estrelas imediatistas para atrair os olhares espectadores.

interiores, afirmando que o cotidiano é uma terra fértil de pesquisa. O filme Pequena Miss Sunshine (2006) com sua riqueza e diversidade arquetípicas é um verdadeiro convite a pensar nestas afirmações. A narrativa está muito além de uma representação arquetípica. Deparamonos com uma família onde cada indivíduo apresenta-se frustrado de uma forma ou de outra, tornando a menina Olive objeto de projeção de suas esperanças de boa sucessão. É uma representação muito próxima da realidade vivida por nossa sociedade. Tal qual Maffesoli aponta, iremos extrair do cotidiano representado no filme ilustrações para as teorias que escolhemos para nortear nossa pesquisa.

Embora estejamos vivendo o que Chris Anderson chama de A Cauda Longa e calculemos a audiência de uma forma horizontal pois “em vez de avançarem como manada numa única direção, eles (os espectadores) agora se dispersam ao sabor dos ventos, à medida que o mercado se fragmenta em inúmeros nichos” (ANDERSON, 2006, p. 05) os espectadores ainda espelham SOCIOLOGIA COMPREENSIVA, GESTALT atitudes de personagens mais assistidos na E ARQUETIPIA mídia, independentemente da plataforma. Para Maffesoli (2008), a psicanálise Temos o objetivo específico de e qualquer outro método de observação compreender o perfil do espectador como humana devem ser voltados ao coletivo indivíduo social, demonstrando como a e o indivíduo deve ser compreendido mente dele recebe e processa informações, e subliminarmente. A isto se dá o nome de como se dá o espelhamento dos arquétipos Sociologia Compreensiva: o homem deve apresentados pela mídia; atingindo assim ser entendido e compreendido em relação nosso objetivo principal: responder como ao seu comportamento diante do grupo a influência midiática faz parte da estrutura em que está inserido, e não apenas descrito. psicológica do indivíduo social, levando os Essa noção é como que uma profissionais de comunicação e repensar sua impressão digital ou marca genética. influência no comportamento social. É preciso fazer emergir esse Mesmo que a metodologia escolhida inconsciente com uma psicanálise para que respondêssemos nossas questões coletiva, e, para compreendê-la, é seja a Sociologia Compreensiva (MAFFESOLI, preciso pensar subliminarmente. 2008), entenderemos como o indivíduo Eu diria que são aspectos que constrói sua identidade unificando suas repousam, basicamente, em três pluralidades pessoais, lidando com fatores: na unidade, no longínquo a subjetivação de mitos e arquétipos e na separação. Significa dizer, utilizando-se para isto de conceitos retirados respectivamente, que a polissemia da Psicologia Gestáltica. do real é reduzida a um único valor, que a verdadeira vida Maffesoli (2008) coloca a comunicação está em outro lugar e que o ser como um objeto de contato nas relações humano é uma coisa e a natureza, humanas, que simplifica, humaniza e outra. (MAFFESOLI, 2008, p. 06) aproxima seus processos aos nossos anseios

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A visão de Maffesoli nos lembra sobre visões da Pós Modernidade e as condições em que o homem se comunica. O ser humano possui uma identidade individual, mas, para ele, ela passa a ser social. O que Maffesoli põe no lugar (da identidade) é uma lógica da identificação, sustentada pela tese da existência de um processo, um deslize da identidade rumo à identificação, sem que aquela desapareça para ceder lugar, totalmente, a esta. A possível substituição, porém, não é o ponto do argumento maffesoliano, e sim o de que estamos vivendo outra disposição (tanto em termos de vontade quanto de arranjo), e que isso pode ser uma das marcas da pós-modernidade [...]. O sujeito, para ele, cede lugar à pessoa. Uma pessoa que, conforme a raiz etimológica da palavra veste máscaras ou apresenta diversas facetas que, apesar de distintas, são incorporadas por uma mesma individualidade. (BARROS, 2008, p.182)

global de uma época fragmentada e marcada por tudo quanto é tipo de conta­ to e de relações. Este é um mundo no qual tudo se toca, cruza, mistura, liga, confunde e faz fronteira. (SILVA, 2004, p.43-44)

Para compreender estas ações de contato do homem social na pós modernidade, devemos levar em conta aspectos préindividuais através da investigação do sentido. Para Maffesoli, diz Barros (2008), não podemos primar pela unidade, pela distância ou pela separação. Não somos uma coisa e a natureza outra, por exemplo. Devemos primar pela coletividade. Sem a coletividade, estaríamos reduzindo nossa capacidade de ver as coisas de maneira polissêmica, multilógica e complexa, sem dar espaço às contradições próprias do ser humano. A

separação do homem de sua complexidade põe de lado sua subjetividade, o principal protótipo do cientificismo. Durante anos acreditamos que o pesquisador deveria ser separado de sua subjetividade. Hoje, acreditamos na complexidade e na projeção do sentido, em seu significado como direção ou finalidade. Atualmente, tudo se contata e se Só não podemos esquecer o que Maffesoli relaciona de forma livre e direta, onde (2008) chama de ‘sentido sem sentido’: por há interação entre os indivíduos, o que mais que uma ação não tenha uma finalidade transforma a informação em diálogo no bem delineada (ele exemplifica isso com as sentido literal da palavra: atitudes da juventude pós-moderna), ela A comunicação é um laço social. não deixará nunca de ter uma significação. Mi­chel Maffesoli tem mostrado A Comunicação Social é para a Sociologia que, ao con­ trário do imaginado, Compreensiva, assim como as ações o principal da comu­ nicação é o arquetípicas são para os princípios da Análise contato, o simples “colocar em Gestáltica: as aparências são relevantes, uma relação”, a chamada função “fática”. vez que o indivíduo demonstra a significação Já na informação o essencial é de suas atitudes através delas. Neste o conteúdo, o valor operativo, princípio, a comunicação, ou contato, passa funcional, de um dado fornecido a ser chamada de interacionismo simbólico; a um receptor. Responder à e, simbólico é nascer reconhecendo o outro, questão “o que é a comunicação?” existir através do seu olhar. Somos símbolos significa apostar numa leitura de nossas significações. Porém, além de

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fazer parte de um grupo, o ser humano é múltiplo por si só: Ao mesmo tempo em que se observa a saturação do indivíduo indivisível e uno, há uma emergência da pessoa (persona ou máscara). A pessoa, pois, tem várias máscaras a sua disposição. Ela é, estruturalmente, plural, não mais uma identidade, mas antes, pertencente ao universo das “identificações múltiplas”. A idéia de pluralidade do ser era considerada uma espécie de esquizofrenia (esquizo significa corte) (...). No individualismo, o que está em jogo é o futuro. Na pessoa, o que está em jogo é o instante eterno. A consequência da pluralização é a multiplicação das grandes emoções compartilhadas. (MAFFESOLI, 2008, p. 08)

Estamos aqui falando do entendimento das máscaras, que se introjetadas demais a ponto de virarem uma mentira, podem virar algum tipo de patologia. Hoje, temos consciência de nossas máscaras, e que elas podem ser positivas, graças ao conceito de pluralidade e complexidade humana. Além disso, as ações de todo ser humano são voltadas ao futuro, mas o que importa de verdade é o momento presente, pois é nele que será traçada a estratégia que levará o indivíduo ao futuro. E, não nos esqueçamos do passado: é nele que estão as experiências que influenciarão o presente. Estas são ações arquetípicas. É nelas que são feitas os contatos, quando há uma ligação com forças arcaicas e naturais, explica Maffesoli (2008), ou seja, necessidades primárias e instintivas. Isto vai de encontro a uma sociedade racionalista. E, embora tenhamos toda sorte de tecnologias de informação justamente por conta dela, ainda nos colocamos contra uma sociedade racional, pois precisamos satisfazer estas necessidades primárias.

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Identidade, Subjetividade

Singularidade

e

Entende-se por identidade o conjunto de ações que desempenhamos em sociedade. Popularmente relaciona-se identidade com liberdade, no entanto, ela é resultante de imposições do meio onde vivemos, explica Aço (2012, p. 05). Uma vez que vivemos em sociedade, onde regras são instituídas, podemos reagir diante delas das mais diversas formas (liberdade), porém, sem transgredir as regras (resultado de imposições). A identidade é constituída de personas. A palavra é latina e se refere à máscaras. Segundo o Dicionário Crítico de Análise Junguiana: [...] persona refere-se à máscara ou face que uma pessoa põe para confrontar o mundo. [...] A persona pode se referir à identidade sexual, um estágio de desenvolvimento (tal como a adolescência), um status social, um trabalho ou profissão. Durante toda uma vida, muitas personas serão usadas e diversas podem ser combinadas em qualquer momento específico [...].

A máscara, que Jung (2006) identifica como arquétipo social (como veremos mais adiante), não é uma característica negativa relacionada à falsidade, uma vez que ela faz parte do controle de emoções e sentimentos diante das situações às quais o indivíduo pode ser exposto. Diferentes culturas instituirão diferentes máscaras dentro de um comportamento social. A persona está ligada a uma adaptação consciente à coletividade. Entretanto, quando o indivíduo a usa como negação para um artifício de autocontrole permanentemente, pode tornar-se perigosa. Mesmo que conscientemente o indivíduo adote uma persona, ele possui


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sobre seres e acontecimentos sua individualização. A isso chamamos de imaginários, acerca dos primeiros singularidade: sua capacidade de aceitar a tempos ou de épocas heroicas. 2. multiplicidade de suas máscaras diárias e as Narrativa de significação simbólica, dos outros sabe que diante de cada relação transmitida de geração em geração ou contato enriquecerá sua identidade. dentro de determinado grupo, e Exemplo disso é absorver valores morais considerada verdadeira por ele. 3. em uma comunidade religiosa e inseriIdeia falsa, que distorce a realidade los em seu comportamento diário, sem ou não corresponde a ela. 4. Pessoa, tornar-se fanático, pois os adequa à sua fato ou coisa real, valorizados realidade e vivência. A singularidade pela imaginação popular, pela é ligada à cognição: Cada indivíduo tradição, etc. 5. Fig. Coisa ou pessoa assimila conteúdos fazendo uma leitura fictícia, irreal; fábula. § mí.ti.co adj. singular, ou seja, o que é verdadeiro para um, nem sempre será verdadeiro para o Podemos assim dizer que um outro, porém, juntando as duas verdades, indivíduo pode ser transformado em mito, pode-se construir o conhecimento acerca materializando arquétipos idealizados do objeto de estudo em sua plenitude2, pela sociedade onde está inserido. Um explica Bossa (2010). dos primeiros teóricos a trabalhar com o A singularidade também está conceito de arquétipo na psicanálise foi Carl ligada à subjetividade, determinando Jung. Ele afirma que: que observações criem um padrão de Uma vez que tudo o que é psíquico comportamento na mente do indivíduo. é pré-formado, cada uma de suas Existem duas maneiras para que as funções também o é, especialmente informações sejam subjetivadas: através as que derivam diretamente das de alienação e opressão (o conteúdo é disposições inconscientes. A estas introjetado, assimilado sem singularidade), pertence a fantasia criativa. Nos ou através de expressão e criação (onde o produtos da fantasia tornam-se visíveis conteúdo é adequado à realidade e meio as ‘imagens primordiais’ e é aqui que do indivíduo através da singularidade). o conceito encontra sua aplicação específica. (JUNG, 2006, p. 90) Mitos e arquétipos Para o autor, o indivíduo pode Segundo o Dicionário Aurélio de manifestar, através de ilustrações gráficas Língua Portuguesa (FERREIRA, 2004 – ou atitudes sociais, os arquétipos que regem 2011): sua identidade social, ou seja, sua persona. Arquétipo: Substantivo masculino. Chamamos estas atitudes sociais de atos 1. Modelo de seres criados. 2. arquetípicos. Exemplar, protótipo3. [...] Mito: A imagem primordial, ou imago, como Substantivo masculino. 1. Relato é chamada pela Psicologia, é a imagem que norteia a construção do caráter do indivíduo, 2 Este processo lembra-nos diretamente o da uma vez que faz parte das primeiras imagens construção da notícia, onde o profissional tem por obrigação ouvir a maior quantidade possível de visualizadas por ele (BOSSA, 2010). Por fontes envolvidas em um fato para poder descrevê-lo. exemplo, conforme uma criança cresce, ela 3 Em nosso caso, “protótipo” aplica-se como passa a imitar atitudes, do adulto que estiver “modelo a ser seguido”, e não necessariamente ao mais próximo. Algumas crianças subjetivam primeiro exemplar da constituição de um objeto.

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criativamente a referência, adequando o que aprendem à sua realidade e meio; outras subjetivam alienadamente, frustrando-se quando não se equiparam ao modelo (mito) que seguem. Gestalt e sociedade Falar de Gestalt, é falar em forma, lembrando logo de objetos e figuras. No entanto, a Teoria de Gestalt, originada no fim do século XIX, não é aplicada apenas na análise de construção da boa forma de objetos, mas também na análise da personalidade humana (FADIMAN e FRAGER, 2002). Nas práticas de comunicação, utilizamos conceitos da Gestalt do Objeto (FILHO, 2000): Continuidade, Segregação, Semelhança, Unidade, Proximidade, Pregnância e Fechamento. Entre os anos de 1930 e 1940, após aprofundar-se no estudo da Psicanálise, e perceber que a identidade social é constituída de várias personas, Frederick Perls afirmou que a Gestalt além de presente na constituição da forma de objetos, está na constituição da identidade do ser humano. Construiu, então, o que os psicólogos e psiquiatras chamam de Psicologia Gestáltica, ou Gestalt-terapia (FADIMAN e FRAGER, 2002, p. 127). Neste campo da Psicologia, o indivíduo assemelha-se a uma figura e seu fundo. Assim, na terapia, “o que o paciente faz – como ele ou ela se movimenta, fala e assim por diante – fornece tanta informação a seu respeito quanto o que ele ou ela pensa ou diz” (FADIMAN e FRAGER, 2002, p.133). Partindo deste princípio, nossos atos diante da sociedade dependem diretamente do que pensamos em nosso íntimo, por mais que ele não transpareça em nossos contatos, justamente pelos limites4 que impomos.

Para a Psicologia, nossa consciência é como um iceberg, e a ponta que fica exposta sobre a água seria o superego (reconhecimento de regras, limitações e repressão dos instintos), a parte que toca a água seria o ego (entendimento, interpretação, raciocínio lógico determinante entre limitação e instinto), e a parte abaixo da água, maior e escondida, o id (inconsciente, instinto, necessidades primárias). Conforme explicam Fadiman e Frager (2002): o id e o superego devem estar em equilíbrio, e nunca se sobrepondo um ao outro, o que causaria a quebra do ego. Para que a relação entre indivíduo/ ambiente se dê dentro de uma limitação saudável imposta pelo próprio indivíduo, este deve ter consciência de até onde o pensamento ou ações correspondem ao ‘eu’, e até onde correspondem ao ‘outro’.

A Gestalt-terapia utiliza-se de aspectos como personalidade (sistema de atitudes tomadas nas relações interpessoais), fenomenologia (estudo da aparência de como se dá a relação entre indivíduo e meio), hermenêutica (a capacidade que temos de fazer uma leitura do que o outro diz, sem perder a própria opinião), awareness (reflexão da forma em si mesma e a hierarquia de suas necessidades constantemente em movimento, dependendo das experiências), contato (experiência ocorrida quando o indivíduo ‘toca’ o limite entre ele e o ambiente), e figura-fundo (ações do individuo que se sobrepõem ao ‘fundo’, ou seja, as experiências, o meio, o outro). A partir destes aspectos, podemos apontar as teorias de campo (o comportamento do indivíduo depende estritamente do meio onde vive) e a teoria organísmica 4 Para que haja uma experiência, é necessário que o (o homem possui um sentido de auto indivíduo “toque” o meio. O limite no qual o indivíduo regulação que faz com que o mesmo e o meio se tocam, em Gestalt-terapia denomina-se espelhe o que observe em sociedade, “limite de contato”, e neste limite ocorre o intercâmbio porém, continua ligado à sua essência.). vivo entre indivíduo e meio (TOBEN e WOLF, 1999).

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As duas correspondem sucessivamente à alienação e a expressividade no processo de subjetivação: não somos o que nos ensinaram, e não devemos ser o que nos ensinaram, pois não existe certo ou errado, e sim, experiências, atos arquetípicos e seus resultados; que podem ou não nos deixar felizes5. Ora, se não somos o que nos ensinaram, cabe questionar por que o indivíduo se preocupa tanto com suas ações diante da sociedade. Segundo Bossa (2010), o indivíduo em sua primeira infância, quando ainda dominado pelo id, conhece o que chamamos de amor: à medida que percebe que um cuidador supre suas necessidades primárias, os associa à felicidade. E, à medida que quer o outro por perto, associa o outro à própria felicidade, desenvolvendo a capacidade de amar. Quando chega à idade escolar, o individuo nota que é recompensado positivamente ao apresentar bons resultados, e que isto deixa felizes os que o cercam. Logo, quer aprender para que o outro o ame. Por sua vez, na adolescência, o indivíduo entra em conflito entre suas experiências passadas e o presente. Passa a preocupar-se com os pares, ou seja, outros adolescentes. Quer igualar-se, identificar-se, ver a si no outro e o outro em si. Neste momento, começa o rompimento do conceito de amor e felicidade que outrora relacionava exclusivamente ao grupo familiar. Também é da natureza humana, desde seus primórdios, o sentimento de concorrência e equiparação. Leakey explica (1997, p. 32.): 5 “Seguindo uma tradição que remonta a Platão e a Aristóteles, Kant considera também que o fim do Homem é a procura da felicidade. Contudo, não subordina o dever à procura da felicidade, antes relaciona dever e felicidade, considerando que o cumprimento do dever é caminho para a felicidade”. (http://www.eses.pt/usr/ramiro/kant. htm)

[...] se pudéssemos avistar a África de sete milhões de anos atrás (...) os primeiros humanos provavelmente viviam como babuínos das savanas. Grupos de mais ou menos trinta indivíduos buscariam alimentos através de um grande território de modo coordenado, retornando à noite, para dormir em lugares escolhidos como encostas de rochedos ou grupo de árvores. As fêmeas maduras e suas proles constituiriam a maior parte do grupo, com apenas poucos machos adultos presentes. Os machos estariam continuamente à procura de oportunidades de acasalamento, com os indivíduos dominantes obtendo sucesso maior. Machos imaturos ou de baixo prestígio estariam na periferia do grupo, muitas vezes procurando alimentos por si mesmos”.

Todavia, o que seria um macho dominante? Segundo a narrativa de Leakey, o macho que oferecesse mais habilidades de caça, de vencer oponentes à procura de acasalamento, força para proteger o grande grupo. Nos dias de hoje, em muitas proles, nem sempre é o macho o dominante. Porém, o conceito de prestígio ainda é ligado ao senso de proteção e organização: o mais prestigiado, é aquele que tem um emprego que lhe pague uma quantia grande em dinheiro, possui moradia própria, um número X de filhos, uma aparência física considerada bela pela sociedade. Exiate um misto de busca pela satisfação e de cumprimento do dever determinado por traços socioculturais. Se o dever, ou ideal, é cumprido, a felicidade é alcançada. Neste processo também pode ocorrer o que alguns autores denominam invenção de normalidade [grifo nosso], artifício imposto para satisfazer necessidades primárias.

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Trazendo o conceito exposto por George Canguilhem de que norma, etmologicamente, significa esquadro, ou seja, o que não se inclina nem para direita nem para esquerda, e logo é o que deve ser, Thoma (2005, s.p.) afirma que este termo está diretamente ligado com o que é considerado ideal.

comportamentos e aproximaram opiniões. Porém, a comunicação vertical, onde havia um emissor e um receptor e estes não dialogavam, fazia com que não houvesse a subjetivação criativa dos conteúdos. Para Goffman (2001, p.33), “há razões para se acreditar que a tendência de apresentar uma grande quantidade de números A norma, portanto, marca a existência diferentes partindo de um pequeno de algo tomado como o ideal e número de fachadas é uma consequência que serve para mostrar e demarcar natural na organização social”. aqueles que estão fora da curva da Se o homem necessita de equiparação normalidade, no desvio que deve ser e demonstração de força e liderança ele corrigido e ajustado. A normalidade busca absorver através do superego um é uma invenção que tem como comportamento padrão em sociedade, propósito delimitar os limites da satisfazendo com ele as necessidades existência, a partir dos quais se primárias do id, satisfazendo assim o ego, estabelece quem são os anormais, os conforme observa Jung (2006), sobre corpos danificados e deficientes para representações arquetípicas. Thoma os quais as práticas de normalização (2005) afirma o mesmo sob o ponto de devem se voltar. vista normativo. Logo devemos, quanto Por exemplo, por conduta social, profissionais de comunicação, lembrar da existem limitações na necessidade primária construção de identidade. Observemos o conceito de amor, de exibição sexual humana. Porém, o indivíduo pode visualizar um arquétipo trazido por Bossa (2010): tentamos ter hipersexualizado sendo exibido na mídia. sempre por perto aquele que preenche Havendo uma subjetivação criativa, o nossas necessidades primárias; e para indivíduo questionará porque um arquétipo sermos aceitos nos comportaremos até então repudiado por uma maioria conforme este achar melhor. Assim, ao ver social está sendo aceito. Havendo uma sua mãe admirando uma personalidade da subjetivação alienada, o indivíduo entende-o mídia, uma criança passaria a se comportar como normal e torna seu ideal igualar-se a semelhantemente. Segundo Bossa (2010), ele. Consequentemente, se o ideal não é o indivíduo ao começar a frequentar a escola, constrói sua personalidade social alcançado, a felicidade também não. ponderando as personas que observou na UM OLHAR MIDIÁTICO: A DIVERSIDADE primeira infância. Na adolescência volta a ponderar, reafirmando a personalidade ARQUETÍPICA para ter certeza se vai levá-la para a vida Os meios de comunicação de adulta (ATTA, 2010). Se nesta transição a massa6, desde que começaram a ser observação a arquétipos é primordial para difundidos, viraram meios de visualização a construção e afirmação da identidade, de comportamentos a imitar e espelhar cabe ponderar como os profissionais de em sociedade. A transmissão de eventos comunicação auxiliam neste processo. em diferentes locais mostrou diferentes 6 Leia-se televisão e rádio neste primeiro momento.

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Da ditadura de estereótipos à liberdade plena Segundo conta Chaui (1999), o filósofo Platão, que viveu entre 428 e 347 a.C., descreveu o Mito da Caverna, onde os seres humanos crescem presos em um local onde são obrigados a apenas olhar para uma única direção. Neste local, fechado tal qual caverna, há apenas uma pequena abertura que permite a entrada de um feixe de luz. Atrás dos homens há um muro e atrás do muro, uma fogueira. Entre a fogueira e os homens presos, outros homens, que carregam estátuas com todas as formas de coisas reais, fazendo com que a única visão que os presos tenham seja de sombras da realidade. Dando continuidade à teoria de Platão, existem indivíduos que conseguem sair da caverna e ver a realidade. Estes indivíduos geralmente regressam à caverna e falam do que encontraram do lado de fora. “Quem continuou preso pode caçoar e ignorar o que está sendo dito e tentando calar aquele que diz a verdade, pode mesmo surrálo ou matá-lo. Por outro lado, uma parte dos presos pode entender e se libertar, indo rumo à saída da caverna” (CHAUI, 1999, p. 40-41). Podemos comparar os profissionais de mídia televisiva com os homens que seguram as estátuas, mas é assustador lembrar que também estão dentro da caverna.

Anderson (2006), uma incrível válvula de escape para a individualidade. Desta forma, existe a possibilidade de quebrar paradigmas e reconhecer um mundo além mídia de massa. Basta observarmos que o concurso de Miss Brasil é televisionado e o de Miss Plus Size não; que a Olimpíada tem todo um aparato midiático maior do que as Paraolimpíadas. Porém o espectador tem acesso a ambos pelas web. Nas primeiras páginas de A Cauda Longa (2006), Chris Anderson descreve a diferença de plataformas midiáticas comparando sua adolescência nos anos 1970 a 1980, com a de um personagem chamado Ben, adolescente dos anos 2000. Enquanto o próprio autor cresceu apenas com acesso a rádio e TV, sem internet, Ben nem conhecia o “mundo sem a banda larga, telefones celulares, MP3’s, TiVo e compras online”. Ainda segundo o autor, “o resultado de toda essa conectividade é acesso ilimitado e sem restrições a culturas e a conteúdos de todas as espécies, desde a tendência dominante até os veios mais remotos dos movimentos subterrâneos” (ANDERSON, 2006, p. 08).

Anderson (2006) segue descrevendo o perfil de Ben: um garoto que escuta as músicas de Led Zeppelin e Pink Floyd, bandas de grande sucesso em uma época totalmente alheia à dele. O menino raramente ouve rádio, apenas quando seus pais sintonizam no carro. Assim como a maior parte dos adolescentes nos anos 2000, Ben aprecia Estamos diante de um meio de animes e mangás. E Anderson (2006, p.10) libertação da caverna [grifo nosso], através é taxativo: da abertura da mídia, com diferentes Nos meus tempos de escola, as plataformas e a abertura da comunicação, crianças estudavam japonês porque que podemos chamar comunicação 7 horizontal . Segundo as reflexões de 7 A Comunicação Horizontal é a comunicação que vem de lados variados, contrariando a Comunicação Vertical, que prega a existência de apenas um emissor. Podemos inclusive afirmar que atualmente o modelo emissor – receptor está defasado. A partir do momento em que é possível uma informação construída por cidadãos não

profissionais em comunicação ser utilizada como credível este modelo se decompõe. Hoje, somos todos comunicadores, pois podemos, por exemplo, questionar em tempo real a um programa de televisão por email, chat, telefone, etc. Atendo-nos à internet, temos as redes sociais, salas de espera de compra coletiva, blogs, que podem levar a informação sem ser seu colaborador ligado diretamente à imprensa.

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o Japão era a potência econômica dominante [...]. Hoje, as crianças estudam japonês para que possam criar seus próprios subtítulos de animes e ir mais fundo nos mangás do que o material traduzido.

Observando a figura de Ben, confirmamos que, atualmente, o indivíduo vislumbra muito mais opções de equiparações [grifo nosso] do que há trinta anos: O espectador de hoje pode questionar e ser questionado, estimulando a mídia a buscar novos caminhos para a comunicação; desconstruindo mitos e espelhando a ampla diversidade de arquétipos presentes em nossa sociedade. Tudo faz parte de uma normalidade, partindo do princípio de que sendo aceito por uma parte da sociedade ele será entendido como dentro do esquadro [grifo nosso].

Mas, para Campos (s.d.), não é necessariamente a ética que determina normas, e sim, a moral, um de seus objetos de estudo: O homem vive em sociedade, convive com outros homens e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão central da Moral e da Ética. Enfim, a ética é julgamento do caráter moral de uma determinada pessoa. Como Doutrina Filosófica, a Ética é essencialmente especulativa e, a não ser quanto ao seu método analítico, jamais será normativa, característica esta, exclusiva do seu objeto de estudo, a Moral.

Porém, nem a internet nem a televisão O escritor Oscar Wilde (1854 – 1900) funcionam por si só. É aí que começa dizia que a arte é “amoral”, sendo que a responsabilidade do profissional de dentro do estudo da moral, podemos comunicação diante deste cenário. julgar os indivíduos como moral, imoral 8 Liberdade de expressão versus deveres e amoral . Moral, de acordo com Campos (s.d.), é o indivíduo que age conforme sociais os bons costumes determinados pela Como tivemos a oportunidade de sociedade onde vive, imoral é aquele que observar nas linhas anteriores, o ser vai contra os bons costumes. E amoral humano possui diferentes capacidades de é aquele que não tem noção nenhuma observação e absorção da informação e se do que seriam os bons costumes sociais autocondena quando não atinge o perfil que adotados pela moral ou, simplesmente, ele acredita ser normal. Além disso, também os ignora (no sentido de anulá-los, sendo destacamos que o indivíduo pode criar seu assim diferente de posicionar-se contra). conceito de normalidade e personalidade O conceito de Wilde, explicado por através das opções de arquétipos que os Campos, pode ser aplicado à mídia tanto meios de comunicação apresentam. Cabe informativa como de entretenimento: o então, trazer o conceito de ética, a partir de profissional de comunicação tem o dever Campos (s.d.): Ética é um conjunto de valores de lidar e falar a verdade amoralmente morais instituídos com base em informações [grifo nosso], pois temos que lidar com e costumes históricos e culturais de uma (e exibir) todo tipo de figura, imago e sociedade. O nome vem do grego ethos, vocábulo que equivale a caráter, modo de 8 Disponível em: http://www.mundoeducacao. com.br/gramatica/imoral-amoral.htm Acesso em: ser de uma pessoa. 26/10/2012, às 00h30min.

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arquétipo, afim de única e exclusivamente informar. E este exercício, se imbuído de ética, faz com que um trabalho amoral se torne moral, uma vez que boa parte das reflexões sociais serão realizadas observando produtos midiáticos. Citamos, anteriormente, que o indivíduo tem personalidade própria e que pode subjetivar uma informação ou singularizá-la (AÇO, 2012), construindo uma identidade social (GOFFMAN, 2001), formada por diversas máscaras/personas, que vai demonstrar diante dos outros. Sendo assim, cada indivíduo é responsável pela imagem que mostrará, e como esta será interpretada pelos outros; podenso apresentar uma preocupação que se torna o que Goffman chama de tato com relação ao tato (GOFMAN 2001, p. 216): Deste modo é possível que todos nos tornemos transitoriamente para nós próprios a pior pessoa que podemos imaginar que os outros sejam capazes de imaginar que somos. E na medida em que o indivíduo mantém diante dos outros um espetáculo no qual ele mesmo não acredita, pode vir a experimentar uma forma especial de alienação de si mesmo e uma forma especial de cautela em relação aos outros.

Este ato pode ser um mecanismo de defesa, ou uma negação: “preciso manter minha imagem, custe isso minha felicidade ou não”.

arquétipos em seu conteúdo, observamos que é sua responsabilidade fomentar que esta construção seja fruto de reflexão e questionamento. Pensemos então na questão do princípio de bem maior que permeia, entre outros, o código de ética dos jornalistas, e como ele pode evitar que um indivíduo sofra ao não conseguir equipararse aos arquétipos em normalidade (GOFFMAN, 2001). O papel do profissional de comunicação na construção social Cada grupo possui o que se pode chamar de código de ética [grifo nosso] e é ele que rege suas decisões e norteia suas atividades. Assim como as outras profissões, a área da comunicação também tem seus códigos9, e não deixa de ser julgada quando age contra ele, ou adversa às suas regras de conduta. Vejamos o que dizem os três primeiros parágrafos do Artigo 2º, do Código de Ética Jornalística quanto à verdade e a responsabilidade social no exercício da profissão: Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão por que: I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas;

Desta forma, eximimos a mídia da culpa [grifo nosso] pela construção de II - a produção e a divulgação da arquétipos sociais. No entanto, quando informação devem se pautar pela falamos em construção de identidade, falamos que arquétipos devem ser antes observados para depois absorvidos, 9 Cada área da Comunicação possui seu próprio singularizados ou subjetivados. E, a partir código, havendo um para Publicidade, um para o do momento em que a mídia dissemina os Jornalismo, um para Relações Públicas assim como demais áreas.

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veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público;

III - a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão;

Estes são os personagens do filme Pequena Miss Sunshine (2006), uma produção independente que conseguiu arrebatar em torno de cem milhões de dólares em bilheteria, além do Oscar de melhor roteiro original. Possui uma reflexão acerca do cotidiano de forma voraz. O filme é classificado como comédia e sua semelhança com a vida real pode ser apontada através das situações tragicômicas tão comuns ao nosso cotidiano, contatadas durante a viagem da família até o local onde a menina participaria de um concurso de Misses.

Está previsto em lei: todo cidadão tem o direito à a receber a informação descrita neutramente. Assim estamos apenas reafirmando neste artigo a amoralidade da mídia, abrangendo também a mídia jornalística. Por isto, o profissional de comunicação tem o dever de contribuir com Pequena Miss Sunshine (2006) mostraa organização e crescimento da sociedade trazendo à luz conteúdos pertinentes ao nos uma família que reproduz em suas intuito de bem maior e interesse público ações os preceitos da Gestalt, pois em sua jornada durante a narrativa, descobrem (ECHANIS e PAGOLA, 2007). como a diversidade entre eles pode tornáA personalidade humana é como los indivíduos íntegros e completos dentro uma matriz vazia, onde vamos agregando de sua unidade no grupo. conhecimentos e ideias, primordiais na construção das trajetórias incluídas em Ilustrando os Fundamentos de Gestalt ações arquetípicas, explicam Fadiman e Podemos observar máscaras bem Frager (2002), refletindo sobre a Gestaltterapia. O conhecimento é feito através de delineadas no comportamento do avô e do informações que transparecerem certeza e pai de Olive. O avô, Edwin, usa a máscara de indivíduo mais velho e respeitável na veracidade. E apenas fatos são capazes de frente da menina. Gosta de pornografia transparecê-las. e cheira cocaína, sendo inclusive expulso de uma casa de repouso por isso. Porém, O FILME PEQUENA MISS SUNSHINE nunca se comportava assim na frente Um irmão que afirma odiar a todos por dela. Isto denota uma aceitação de escrito, pois está em greve de silêncio. Um multiplicidade de personas, bem como a tio homossexual que tentou se matar porque presença de sua singularidade. Já Richard, o parceiro, mais jovem e deslumbrado, o o pai, beirava à neurose em relação ao trocou por outro homem mais experiente e método de autoajuda que disse ter criado famoso em sua área de atuação profissional. para o livro que havia escrito. Transparecia Uma mãe que anseia pela sinceridade que ser sempre vencedor e otimista, não norteia a relação familiar idealizada por ela. aceitando suas derrotas, menos ainda Um pai que não aceita derrotas. Um avô a dos outros, expondo assim um caso expulso de vários asilos e que esconde seus de alienação dentro da subjetivação: vícios atrás de sua figura insuspeita de idoso. podemos afirmar que este é o caso do Todos em torno de uma menina que está pai de Olive, uma vez que direciona quase aprendendo como lidar com suas próprias toda (ou toda) sua energia na construção convicções. de uma carreira como escritor famoso, e

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nunca consegue. Neste processo, Richard esquece que o mercado da literatura pode ser mais amplo do que aquele pelo qual estipulou sua meta: best sellers sempre existirão, porém, nem sempre impressos. Richard desta forma vira uma figura que não quer mostrar-se sobre seu fundo, uma vez que não aceita seu fundo. E, desta forma, torna-se sem fechamento, segregação, semelhança, unidade e pregnância (FILHO, 2000), ou seja, transparece uma personalidade incompleta, graças a não ter se equiparado da forma como esperava e almejava diante dos arquétipos que considerou padrão de satisfação de seu ego. O mesmo sentia-se incompleto, uma vez que não conseguiu juntar ao seu arquétipo profissional o arquétipo de vencedor. É como se ele nunca tivesse conseguido efetuar o fechamento de sua figura diante da sociedade. Não podemos relegar apenas a Richard o papel de figura sem fechamento. Todos ali têm, no fundo de suas figuras, acontecimentos, experiências, frustrações que não os permitem sentir-se íntegros e completos. Todavia, há um sorriso dentio nos lábios de Richard quando ele fala numa possível vitória de Olive. É sua expressão e movimentos denunciando seu tato sobre o medo que carrega de ver sua família apontar-lhe como o mais derrotado de todos, já que não vende seus livros. O tato, aliás, é uma característica presente em toda a narrativa do relacionamento entre Richard e seu cunhado, Frank. Frank, o tio, tem tato ao explicar para Olive os motivos de sua tentativa de suicídio e tato sobre o tato para não deixar de explicar sua homossexualidade, e ao ouvir “Que bobagem!”, de Olive, apenas silencia. Por outro lado, vemos Richard tendo o tato de não transparecer sua decepção com a derrota de não ter um best seller publicado, e o tato sobre o

tato (GOFFMAN, 2001) para que ninguém o perceba como perdedor. E ainda existe uma oscilação entre o tato e a negação. Sheryl, a mãe, vinha de um primeiro casamento fracassado e não tinha controle sobre o filho desta união, Dwayne. Dwayne, por sua vez, nutria o sonho de servir à Aeronáutica, mas se descobre daltônico. Frank havia sido trocado pelo namorado por um homem mais prestigiado que ele. E, o avô, embora parecesse aceitar máscaras, como dissemos antes, também amargurava as restrições da velhice. Segundo Dwayne em um diálogo que tem com Frank; todos se sentindo derrotados. E, este sentimento de derrota torna-se um risco a partir do momento em que toda a família ao mesmo tempo em que o nega, concentra em Olive, que é apenas uma menina, seus anseios de vitória. Durante todo o filme, nos passam a mensagem de que se não foram vencedores, ela ainda o pode ser. Em meio a tantas discrepâncias entre os arquétipos presentes em seu lar, Olive, a menina, não tinha alguém para se espelhar. Ela escolheu outra imagem primordial, ou imago a seguir: as misses que via na TV. Entre o ponto de partida e de chegada que ela determinou para si, ocorreriam experiências de trajetória, que são os chamados atos arquetípicos. Ela passaria a agir conforme este arquétipo que adotou para si, sob a influência da estratégia traçada pelo pai. Ilustrando a influência midiática na construção de Identidade Social Ora, se Olive soubesse desde o início que ser miss requeria a artificialização de sua infância, sua decepção ao chegar ao camarim, seria menor. Ou, talvez, nem insistisse para ir até lá. A surpresa que foi deparar-se com meninas tomando jatos de bronzeador artificial, maquiagem dolorosa e cabelos puxados em penteados teria sido

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própria insignificância diante da homofobia do cunhado; a rebeldia de Edwin, viciado Isto nos remete diretamente ao que nem por isso prejudica aos seus conceito de amoralidade proposto por próximos; a revolta de Dwayne que não Oscar Wilde. A própria relação da família de o coloca como uma “ovelha negra”, mas Pequena Miss Sunshine (2006) é exemplo: sim como um indivíduo que reage a um é moral retratar um avô de família usando estímulo prejudicial para si. Estas são cocaína, diálogos homofóbicos e crianças características que tornam os personagens sofrendo adultização? Como já citamos, é mais humanos a cada cena, pois ser humano educativo e contribuinte para a aceitação de é errar e acertar, aprender, experienciar, ter individualidade demonstrar papéis adversos. compaixão e ao mesmo tempo importar-se Neste caso, Sheryl teria mais argumentos com a própria sobrevivência, garantindo o para orientar sua filha sobre autoaceitação. próprio conforto. menos desagradável se as imagens expostas pela TV fossem mais realistas.

O pai e a mãe de Olive discordam sobre a participação da menina no concurso. O pai, tenta engessar [grifo nosso] Olive nos moldes que ele também viu na mídia que poderiam representar beleza, fazendo-a acreditar que apenas sendo como as misses seria uma vencedora. A mãe, ao contrário, afirma para Olive que o importante é que ela se divirta e conheça esta nova realidade pela qual demonstra curiosidade. Estamos diante de outro paradigma de subjetivação alienada e criativa.

Ilustrando os novos rumos

Aquela mesma televisão que a menina contempla nas primeiras cenas do filme, deveria mostrar muito além das misses perfeitas acenando durante o concurso. Deveriam sim permitir o depoimento sincero destas moças, que podem exibir-se apenas com um belo sorriso nos lábios, omitindo assim sua realidade de confinamento em quartos minúsculos com mais uma dúzia de modelos em início de carreira, ou dietas prejudiciais que seguem para manter o corpo Richard cresceu em um período em que a magro (Realidade que conhecemos graças única alternativa para a existência de um livro a informações consideradas chocantes, seria sua versão impressa, e a consequente dispostas na web). venda do título por um agente. E, se Richard A noção de normalidade que a mídia houvesse começado a escrever em tempos de e-book aceitando a diversidade de apresentava na época em que Richard estava plataformas? Talvez, viesse a sentir-se pleno, construindo sua personalidade, na infância e teria mais rendimento, consequentemente adolescência, não é a mesma que está sendo mais público, e possivelmente a fidelização apresentada, na maioria das vezes, agora, época em que Dwayne está afirmando e deste. Olive está construindo sua identidade social. Já existem avanços em torno desta Vejamos: Richard nos transparece isso em concepção de realidade exposta na mídia. sua obsessão pela vitória de Olive. Seu pai, o Na própria ficção, temos observado avô de Olive, morre em um hotel de beira de personagens cada vez mais múltiplos. No estrada em meio ao caminho que percorre próprio filme Pequena Miss Sunshine (2006) para levar a filha até o concurso de beleza. podemos observar este fenômeno. Não há um E, sem pestanejar, Richard coloca o corpo vilão. Existe apenas uma ameaça de derrota. dentro do porta malas da Kombi que está A indignação de Frank, que nos impede dirigindo: para ele, atingir um objetivo a de o vermos como vítima encurralada na todo custo é normal. Ele absorveu o próprio

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programa de autoajuda de tal forma que subjetivou a isso em alienação. E esqueceu de vivenciar o luto pelo pai. Em sua maioria as pessoas interrompe seus projetos, ao contrário de carregar um cadáver consigo durante uma viagem, configurando crime (sequestro e ocultação de cadáver10). Além disso, Richard projetava suas esperanças na filha, defendendo-se das suas derrotas através de negação. Talvez, fosse insuportável ver a filha derrotada, como ele próprio se sentia. E, isto tornouse o artifício perfeito para sua invenção de normalidade. Podemos dizer que assistir passivamente Napoleon Hill vendendo 30 milhões de cópias impressas de Quem Pensa Enriquece, não deve ter sido motivador para Richard sabendo que nas salas onde palestrava compareciam meia dúzia de pessoas, como podemos observar nas primeiras cenas do filme.

na internet que transmitiam 294 milhões de e-mails, assistiam 2 bilhões de vídeos no Youtube e liam 152 milhões de blogs por dia para travar uma linha de diálogo e descobrir novos pares e arquétipos? Os dados aqui citados são atuais, porém, valem para reflexão.

Só não nos esqueçamos do que podemos chamar de filtragem. De nada adianta uma abertura midiática se não houver acompanhamento. No início do filme, vemos todos chegando em casa e embora Dwayne e Edwin estivessem em casa, Olive está sozinha em um quarto assistindo repetidas vezes vídeos gravados sobre misses vencedoras. Se um deles estivesse junto a ela naquele momento, poderia alertá-la sobre a ilusão da qual estava diante. Lembremos de Olive acenando diante da televisão: arremeda com perfeição o aceno das misses que ganham um concurso. Ela Porém, observemos Dwayne e seu tenta equiparar-se ao mito que adotou como desespero momentâneo ao descobrir regente de sua persona, ou seja, as misses, que nunca poderia trabalhar com aviação detentoras e representantes dos arquétipos por ser daltônico. No primeiro momento, que Olive admirava. A partir daí a família perde o controle e salta da Kombi no meio identifica sua decisão e o pai determina qual da estrada e logo após aceita o pedido será a estratégia dela daqui por diante. da irmã e continua a jornada junto à Quando adultos, podemos ter mais família. Ao chegar no local do concurso facilidade de questionar a mídia, e a Pequena Miss Sunshine, ao ver o desgosto imposição que seja feita. Porém, para da irmã descobrindo que não é igual às chegar neste momento, há de termos outras misses, rapidamente sinaliza aos uma orientação consciente na nossa demais que Olive não tem obrigação de infância e adolescência. Caso não haja esta o ser. Deduzimos que isso seja fruto da orientação, estamos expostos. Frank era um multiplicidade de arquétipos que Dwayne estudioso dos textos de Marcel Proust11. pode observar ao longo da constituição de Consequentemente, já havia entendido sua personalidade. Afinal, que adolescente para si que podemos aprender com erros em 2006 se preocuparia em equiparar-se e acertos, e tentava auxiliar sua família a aos modelos de uma base de vinte e cinco programas de televisão diários quando se tinha um leque de 1,88 bilhões de usuários 11 Valentin Louis Georges Eugène Marcel Proust 10 Disponível em: http://www.conjur.com. br/2012-abr-03/sequestro-ocultacao-cadavermotivam-prisao-flagrante-peruibe-sp. Acesso em 26/10/2012 às 16h18.

(1871 - 1922) foi um escritor francês. O aprendizado através de erros é tema recorrente em sua obra. “Em Busca do Tempo Perdido” é seu romance mais conhecido. Trabalhou inesgotavelmente, até 1922. Faleceu esgotado, acometido por uma bronquite mal cuidada.

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entender o mesmo. Trabalho desnecessário quando seus parentes e ele embarcam em uma Kombi velha rumo ao estado em que Olive desfilaria: encarariam uns aos outros, e reconheceriam seus erros. Podemos ver a alteração de imago para Richard nas cenas finais do filme, onde a menina sofre a reprovação do público ao simular um strep tease12 ensinado pelo avô. Contrariando toda a busca pela perfeição, passa a dançar freneticamente no palco do concurso Pequena Miss Sunshine debochando da organização do evento e dos padrões de beleza instituídos. A mensagem: somos todos diferentes, não estamos dentro de padrões instituídos pela nossa sociedade, porém, podemos ser felizes e íntegros diante de nosso círculo familiar. Ali, estava mostrando para a menina a importância da singularidade; mesmo diante do cenário13 visto. Aos poucos Richard vai sendo acompanhado pelo restante da família. Após a dança frenética, todos vão parar na delegacia e são liberados após prometerem que nunca mais inscreveriam Olive em nenhum concurso no estado onde havia ocorrido o caso. Frank ainda afirma: “podemos viver sem isso”. Ficamos assim com um quadro onde a angústia que uma não equiparação com arquétipos pode trazer a um indivíduo, conforme os conceitos da Gestalt-terapia. O espectador, graças aos arquétipos que a mídia espelha, assim como a família de Pequena Miss Sunshine (2006), tem aceitado como normal o que nem sempre o deixa satisfeito consigo mesmo. Mas sendo normal, torna-se uma obrigação. E caso a obrigação não seja cumprida,

torna-se infeliz. E isto pode estar causando distúrbios sociais. Ações arquetípicas iniciadas a partir da alienação de protótipos midiáticos é fruto de uma normalidade que não existe, uma invenção acerca de necessidades primárias e vem do próprio ser humano, seja espectador ou comunicador. É recorrente afirmar que a mídia usa seus produtos para influenciar os indivíduos. No entanto, um produto só existe se houver consumidor. E, isto torna o processo que abordamos um círculo vicioso. CONCLUSÕES Verificamos que dentro de nossa sociedade, o ser humano se comporta subjetivando influências externas aliadas às suas próprias experiências, espelhando arquétipos. Contudo, tende a abandonar sua singularidade para vivenciar arquétipos ideais. A Sociologia Compreensiva (MAFFESOLI, 2008), enxerga o indivíduo dentro de sua pluralidade interna e unidade externa como participante do processo de Comunicação Social. Perguntamo-nos: como a mídia pode estar influenciando na construção da identidade social do espectador? Sendo sua constituição plural, ou o indivíduo aceita a informação alienando, ou cria conceitos em cima de suas vivências e conhecimentos adquiridos. E além disso: normatiza aquilo que aceita como imago.

Nosso objetivo era saber se a comunicação horizontal auxiliaria na construção da individualidade na identidade social. Acreditamos, após realizar esta pesquisa, que sim. Vimos que a diversidade de opções leva à diversidade 12 Talvez uma última mensagem do avô sobre a contrariedade ao retrato falsamente perfeito que de escolhas. A normalidade pode não existir, mas, é uma invenção que pode se ampliar, Richard tentava pintar da própria família. 13 Estamos falando de leitura de cenário. Olive desde que não abandonemos nossos visualiza no camarim que o que aparece na televisão valores em nome da normalização de atos. não é real.

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Verificamos que a internet pode nos mostrar novos rumos, pois nela é o espectador que seleciona que conteúdo irá acessar. Contudo esta liberdade pode significar ficar exatamente com aquilo que estão lhe oferecendo como referência.

Comunicação no Centro Universitário Metodista do Sul – IPA, no semestre 2012/2).

A responsabilidade assim se torna múltipla. O profissional de comunicação deve ter um cuidado especial com quem está formando seu caráter, em idade tenra. Mas é responsabilidade da família também orientar as melhores escolhas. Ser profissional de comunicação nos dias de hoje é difícil. Sabemos que trabalhar em um mercado competitivo é complicado, e que devemos sempre apresentar um produto atrativo. O ser humano atrai-se pelo belo. E, se a realidade for feia [grifo nosso], ele tende a negá-la.

BARROS, Eduardo Portanova. Maffesoli e a “investigação do sentido” – das identidades às identificações. In: Ciencias Sociais Unisinos. Vol. 44, nº 3, setembro/ dezembro de 2008.

Antes de sermos jornalistas, devemos lembrar que somos tão cidadãos quanto nossos espectadores. E, principalmente, que se provocamos discussões, temos uma importante parcela de responsabilidade sobre o rumo delas. Lembramo-nos do Triplo Filtro de Sócrates: se a informação é útil, tem como intenção a bondade e é verdadeira, pode ser passada adiante. Caso contrário, não. Este é apenas o início de uma reflexão acerca da humanização de profissionais que possuem uma arma tão poderosa nas mãos que, chegam a ser considerados o quarto poder [grifo nosso], ou como dizem alguns sujeitos sociais, os donos da verdade [grifo nosso]. Afinal, apontar o dedo em direção ao outro é fácil. Difícil é olhar para si. Mesmo assim, é um exercício necessário.

ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

CAMPOS, Débora Barni de. Ética e Filosofia Moral. S.e. S.d. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1999. ECHANIZ, Arantza; PAGOLA, Juan. Ética do profissional da comunicação. São Paulo: Paulinas, 2007. FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo, HARBRA, 2002. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Eletrônico versão 5.12: Revisado de acordo com a nova regra ortográfica. 7ª edição: Positivo Informática, 2004 – 2011. FILHO, João Gomes. Gestalt do Objeto - Sistema de Leitura Visual da Forma. Escrituras Editora. São Paulo, 2000. GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana (The representation of self in everyday life). Tradução de Maria Célia dos Santos Raposo. 9ª edição: Petrópolis, Vozes, 2001.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Die Arquetypen AÇO, Felipe André. Psicologia e Und Das Kollektive). Tradução de Maria sociedade: Identidade, Subjetividade e Luíza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva. singularidade (Material disponibilizado 4ª edição: Vozes, 2006. durante a disciplina de Psicologia da REFERÊNCIAS

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LEAKEY, Richard. A origem da espécie Gestaltizando. Disponível em http:// humana (The origin of humankind). gestaltizando.blogspot.com.br/2011/02/ Tradução de Alexandre Tort. Rio de Janeiro, figura-e-fundo_13.html Rocco, 1997. Google. http://www.google.com.br/ MAFFESOLI, Michel. A terra fértil do cotidiano. In: Revista FAMECOS, nº 36, Porto IBGE. Disponível em: http://www.ibge. gov.br/ Alegre, agosto de 2008. SILVA, Juremir Machado da. Interfaces: Michel Maffesoli, Teórico da Comunicação. In: Revista FAMECOS, nº 25. Porto Alegre, dezembro de 2004. TOBEN, Bob e WOLF, Fred Alan. EspaçoTempo e Além. São Paulo: Cultrix, 1999. THOMA, Adriana da Silva. Entre normais e anormais: invenções que tecem inclusões e exclusões das alteridades deficientes. In: PELLANDA, N. M. C.; SCHLÜNZEN, E.; SCHLÜNZEN, K. (Orgs.). INCLUSÃO DIGITAL: tecendo redes afetivas/cogntivas. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. (ISBN: 85-7490-301-9). FILMOGRAFIA Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine). Direção de Jonathan Dayton e Valerie Faris. EUA, Fox Searchlight Pictures, 2006. Coleção Psicopedagogia. DVD 03: Contexto Familiar. Autora: Drª Nádia A. Bossa. São Paulo, ATTA Mídia e Educação / CEDIC, 2010. PESQUISA NA WEB Brasil Escola. Disponível em http://www. brasilescola.com Dicionário crítico de análise Jungiana. Disponível em http://www.rubedo.psc.br/ dicjung/abertura.html Gestalt-Centro do Rio Grande do Sul. Disponível em http://www.igestalt.psc.br

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Kant. Disponível em http://www.eses.pt/ usr/ramiro/kant.htm



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O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO QUILOMBO DA FAZENDA: UMA ANÁLISE À LUZ DO MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO COMMUNITY-BASED TOURISM IN THE QUILOMBO OF THE FARM: AN ANALYSIS IN THE LIGHT OF DIALECTICAL HISTORICAL MATERIALISM

Ana Carolina Honorato Pigato1 Lucimari Acosta Pereira2 RESUMO: Turismo de base comunitária (TBC) no quilombo da Fazenda: uma análise à luz do materialismo histórico caracteriza-se como um estudo exploratório de natureza qualitativa. O presente estudo tem como objetivo analisar o TBC no quilombo da Fazenda/SP através das categorias de análise do método materialismo histórico dialético. Utilizou-se um levantamento bibliográfico acerca do TBC e do método materialismo histórico dialético, além de apoiar em uma pesquisa documental com a finalidade de obter informações do Quilombo da Fazenda. O estudo constatou que foi possível identificar e analisar as categorias de análise do método dialético em todos os roteiros do TBC no quilombo da Fazenda. Quanto às considerações, a pesquisa aponta para a necessidade novas metodologias específicas para o TBC que contemplem questões culturais e sustentáveis. Palavras-chave: Turismo de base comunitária. Comunidades quilombolas. Materialismo histórico dialético. ABSTRACT: Community-based tourism (CBT) in the quilombo of the farm: an analysis in the light of historical materialism is characterized as an exploratory study of qualitative nature. The present study aims to analyze the CBT developed by the quilombo of Fazenda/ SP through the categories of analysis of the dialectical historical materialism method. A bibliographic survey on CBT and the dialectical historical materialism method was used, in addition to supporting a documentary research with the purpose of obtaining information from the Quilombo da Fazenda. The study found that it was possible to identify and analyze the categories of analysis of the dialectical method in all CBT scripts in the quilombo of the Farm. As for the considerations, the research points to the need for new methodologies specific to CBT that address cultural and sustainable issues. Keuwords: Community-based tourism. Quilombola communities. Dialectical historical materialism. 1 Bacharelanda em Hotelaria - Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: acpigato@gmail.com 2 Doutoranda e Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: lucimari.svp@gmail.com

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INTRODUÇÃO

A

hegemonia do turismo tradicional é projetado, ordenado, planificado e executado por poucos. Esse fato levanta debates acerca do quanto a atividade turística é elitista e excludente, não somente na segmentação ou no perfil do turista como também nos agentes que protagonizam o turismo. Ideias contra hegemônicas são direcionadas ao turismo comunitário ou de base comunitária que se caracteriza por abranger todos os que se interessam e são influenciados pelo desenvolvimento do turismo (GOMÉZ et. al, 2016). Destarte, o turismo de base comunitária (TBC) é determinado então pela participação e papel principal da comunidade no desenvolvimento das atividades turísticas, promovendo a valorização identitária cultural e local, e preservando o território.

(2000) propõe uma discussão a respeito das concepções teóricas e normativas nos quilombos brasileiros. O autor sinaliza ainda uma nova dificuldade, a folclorização da cultura e identidade negras. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar o TBC no quilombo da Fazenda/SP através das categorias de análise do método materialismo histórico dialético. A pesquisa caracteriza-se como exploratória de natureza qualitativa. Apoiou-se inicialmente em uma pesquisa bibliográfica realizada principalmente em dois acervos digitais, o Publicações de Turismo e Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em ambos buscou-se material para contextualizar o TBC e o método histórico dialético. Para a coleta dos dados, utilizou-se artigos, dissertações, monografias e websites que versam a respeito do quilombo da Fazenda.

Ressalta-se que neste estudo o TBC é interpretado como exemplo da luta de classe, uma vez que se originou devido ao colapso e desigualdades sociais provocadas pelo turismo globalizado e mercantil. Estudos que investigam o TBC são importantes ao passo que são interdisciplinares, inovadores e incipientes. À vista disso, é imprescindível considerar a dinâmica da atividade turística A exemplo dessas comunidades, bem como os impactos sociais, ambientais e identifica-se as comunidades quilombolas, culturais (DÉJARDIN; MARTINS, 2013). territórios de luta e resistência composta O artigo está dividido em cinco partes por negros escravizados no regime escravocrata que perdurou por mais de incluindo esta introdução. Na sequência, tem-se o referencial teórico contextualizando 300 anos no Brasil. o TBC em comunidades quilombolas e o Os debates e a construção acadêmica método histórico dialético. Em seguida, os acerca dos quilombos, segundo resultados obtidos e as considerações finais. Guimarães (1995) os preocupam-se com O estudo é finalizado com as referências o tamanho em m² do território e número bibliográficas que foram consultadas para de quilombolas, deixando de lado que a realização e embasamento teórico deste aspectos políticos, como a resistência estudo. contra o regime escravista a identidade cultural e permanência histórica. Leite Identificou-se que, são inúmeras as pesquisas que revelam a importância do TBC para possibilitar a inclusão das comunidades nos processos turísticos, objetivando a valorização histórica, cultural e equidade e justiça social (OLIVEIRA, MARINHO, 2005) (RABINOVICI, 2012) (SILVA, 2014).

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Já Oliveira e Marinho (2005) O TBC EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS COMO ALTERNATIVA PARA UM TURISMO apresentam a comunidade quilombola EQUITATIVO Furnas do Dionísio (MS) e busca a O primeiro ponto para compreender compreensão o patrimônio sócio-cultural o TBC consiste na contextualização de seu e as alternativas para o desenvolvimento surgimento. Conforme expõe Déjardin e do TBC que preserve sua identidade Martins (2013), o TBC emerge no cenário cultural. O estudo apontou a necessária das tendências mundiais do turismo da gestão coletiva participativa visando que buscavam reparar e minimizar os benefícios não somente econômicos, mas danos sociais, culturais e ambientais também, sócio culturais. provocados pela atividade turística. Essas tendências remetem à proteção do meio ambiente, valorização das tradições e identidades culturais dos povos receptores, solidariedade, hospitalidade, expansão do cooperativismo, adaptação e respeito dos valores culturais, cultura da paz, avanço das tipologias do turismo como por exemplo o turismo social, étnico-social, sustentável e solidário (DÉJARDIN; MARTINS, 2013).

Versando ainda sobre o Quilombo Furnas do Dionísio (MS), Oliveira e Marinho (2005) sugerem que uma iniciativa para começar o TBC seria a inserção da comunidade em roteiros turísticos que viessem a divulgar as manifestações culturais. Para além disso, concorda-se com a visão dos autores ao colocarem que a promoção e inserção da comunidade na economia regional e implementa-se o bemSendo assim, o TBC em territórios estar sócio comunitário da comunidade. quilombolas tem sido um debate em O estudo de Silva et.al (2016) sobre expressiva construção no cenário brasileiro, o TBC no antigo Quilombo Cabula (BA) e uma vez que une a valorização histórica, revela e destaca a importância das ações identitária e valores culturais dos quilombolas já realizadas no âmbito social, histórico, atrelado a atividade turística. Verifica-se a cultural, educacional e político para o presença de autores que discorrem sobre a benefício das próprias comunidades. temática, são eles: Oliveira e Marinho (2005); Desta forma, foi possível compreender Rabinovici (2012); Silva (2014); Pinheiro que a riqueza e a diversidade das (2014); Bezerra et.al. (2016); Silva et.al. vivências e experiências com o TBC têm (2016); Ferreira et.al. (2017); Mendonça et.al. muito a ensinar para os soteropolitanos e, (2017); e Arruda e Gonçalves (2020) também, para visitantes e turistas. Contextualizando o estudo de Bowen (2016) identificou-se que ele elaborou um ensaio teórico intitulado: “Who owns paradise? Afro-Brazilians and ethnic tourism in Brazil’s quilombos”, que inicia com uma provocação “quem é o dono do paraíso?” e discorre sobre o turismo desenvolvido pelas comunidades quilombolas afro brasileiras. A pesquisa mostrou que as comunidades quilombolas adotaram o TBC principalmente por conta da perda de alternativas de emprego, baixos salários e políticas ambientais que ameaçam seus meios de subsistência.

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As características sócio-culturais de uma comunidade quilombola é significado de resistência, capaz de transformar experiências locais em experiências turísticas, na concepção de um novo turismo, que respeite, que compreenda os valores culturais de uma comunidade (MORAES, 2017). O TBC em comunidades quilombolas refere-se também na inclusão de grupos sociais “invisíveis”, além disso, constata-se que iniciativas do TBC possuem relação político e social que tem o turismo como objeto de poder.


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Desta forma, Rabinovici (2012) considera que existe potencial para o TBC em comunidades quilombolas. Apontando que os turistas podem ser beneficiados pelo aspecto cultural, pedagógico e educador. Outro questionamento discutido por Rabinovici (2012) foi que primeiramente, é necessário saber se as comunidades quilombolas querem ou não o TBC partindo da suposição de que todos tenham conhecimento do que é a atividade turística.

subjetividades coletivas das populações locais no processo de construção de uma atividade turística responsável pode revelarse construtivo para a atividade e para as comunidades”.

Ao estudar o quilombola Alto Itacuruçá (PA), Bezarra et.al. (2016) entende a partir da empiria, que ainda que o turismo tenha potencial de ser um encorajador à valorização cultura para todas as faixas etárias da comunidade, o local não conta com um conselho comunitário, o que torna insuficiente a tentativa de desenvolver o TBC Todavia, é apresentado que o TBC em comunidades quilombolas pode melhorar a qualidade de vida, uma vez que é preciso investir em infraestrutura básica.

é uma possibilidade direta de aumentar a renda, mas, para além da questão financeira, o TBC estimula a autonomia das comunidades, valorizando o modo de vida à cultura, fomentando a emancipação, apropriação e sentimento de pertencimento nos territórios quilombolas. Esses benefícios, demonstram a razão social da atividade turística.

Ao exemplificar um caso de turismo comunitário, Cruz (p. 42, 2008) explica que renda gerada pelo TBC fomenta a economia local e fortalece as relações sociais dentro da comunidade. A autora ainda aponta que “[...] a comunidade é estimulada a pensar criticamente o uso de seu território e o desenvolvimento do turismo”. Silva (p. 193, 2014) através dos dados obtidos em seu estudo, reflete sobre a importância em “[...] Dar voz às pessoas da comunidade e considerar as

Toda pesquisa possui caráter científico, o que exige rigorosidade quanto a fundamentação, além de um posicionamento teórico embasado do pesquisador. (GOMIDE, 2014). O emprego de qualquer método está associado ao parecer filosófico e político do pesquisador, “[...] política e teoria são fatores inseparáveis e não estão restritos a um ou outro método porque o pesquisador não atua isoladamente da sociedade em que vive. Trata-se de um ser social”. (MARTONI, p.5, 2011).

Tendo em vista a revisão bibliográfica realizada, compreende-se que as comunidades quilombolas são sinônimos da palavra resistência, uma vez que preservam seus hábitos culturais e de sociabilidade e os mantêm, apesar de todas as lutas, confrontos e do tempo. O TBC em comunidades O desenvolvimento do TBC implica em quilombolas significa o protagonismo dessas um processo demorado e que precisa ser comunidades tornando-as proprietárias dos muito bem planejado, tanto nas estratégias, empreendimentos turísticos, possibilitando no formato, nos objetivos e diálogos. Por uma imersão cultural aos turistas e viajantes isso, a decisão de implementar o TBC em que busquem por experienciar essa nova comunidades quilombolas implica na alternativa do turismo. possibilidade de rompimento na própria O TBC quando desenvolvido por identidade e sobrevivência desses grupos comunidades quilombolas auxilia não (RABINOVICI, 2012). somente no fator econômico, uma vez que

ABORDAGEM METODOLÓGICA DO MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO

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No campo filosófico o materialismo é discutido há bastante tempo pelos autores Gramsci (1991); Kosik (1976); Kopnin (1978); Ianni (1982); Konder (1981, 1991); Frigotto (1989); Limoeiro (1991) entre outros. A análise da presente pesquisa orienta-se no método histórico dialético que é uma possibilidade de observar e interpretar o mundo e as relações sociais. Portanto, nesta seção serão apresentados um breve passar à respeito do surgimento dessa metodologia, o que se refere, às categorias de análise incutidas nesta abordagem e as contribuições para as pesquisas científicas no campo do turismo. Vale pontuar que o tipo de abordagem escolhido irá determinar o tipo de análise do objeto de estudo (MINASÍ et. al. 2019).

o conhecimento de mundo se baseia na materialidade, na existência objetiva no tempo e no espaço (ESCALONA 2012). Em outros termos, o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual de modo geral, assim, as ideias dos homens não são determinadas pela organização social, mas sim, a organização social que determina as ideias dos homens. Essa foi a ruptura no pensamento idealista hegeliano.

Sintetizando, a abordagem do materialismo histórico compreende a sociedade de acordo com a organização dos homens, que é definido como as relações de trabalho, através da história da realidade humana. Triviños (1987) declara O materialismo histórico é o método que o materialismo histórico dialético é o proposto e utilizado pelo filósofo alemão Karl pensamento filosófico do marxismo que Marx (1818-1883), no entanto, a dialética, na se propõe a buscar explicações lógicas e história do pensamento humano, antecede a coerentes dos fenômenos da natureza, da Marx, existindo indícios na filosofia da Grécia sociedade e do pensamento humano. antiga, percebida em filósofos pré socráticos O turismo pode ser analisado a como Platão e Heráclito (NOVELLI; PIRES, partir da abordagem marxista como 1996). Além de ter encontrado contribuições uma consequência do desenvolvimento essenciais para o método no período das forças produtivas da burguesia histórico conhecido como Renascimento, (ESCALONA 2012). A atividade turística, a partir das teorias de Copérnico, Galileu, portanto, se insere no mundo do trabalho a Descartes e Newton. (KONDER, 1981). partir dos conceitos de ócio, lazer e tempo Vale ressaltar, que o filósofo alemão Karl livre, questões identificadas nas relações Marx desenvolveu o método, porém, não de produção e de conflito (MAGALHÃES, encontrou-se essa metodologia organizada 2008). sistematicamente. (PIRES, 1997). Minasí et.al. (2019) declara que a Marx, portanto, estabeleceu uma visão realização de pesquisas acadêmicas sobre científica a respeito da sociedade, construída o turismo que utilizam a abordagem a partir de uma análise do sistema capitalista metodológica do materialismo histórico (SELL, 2017). O filósofo alemão, a partir desse dialético contribui ao passo que é possível novo método, incluiu o caráter material (o compreender o processo do território modo com que os homens se reproduzem turístico bem como as particularidades e se organizam na sociedade) e o caráter em diferentes cidades, regiões e países. histórico (como os homens se organizam Ainda, Minasí et.al. (2019) propõe seis através da história. (PIRES, 1997). categorias para a partir da abordagem O materialismo dialético se apoia em do materialismo histórico dialético para dados, resultados e avanços da ciência e no analisar as forças sociais que atuam sob a pensamento racional científico, dessa forma, atividade turística. São elas: valor de uso,

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mercantilização, produção e consumo, justamente pelo fato de que os turistas são dinamicidade, segregação e gentrificação, consumidores de toda cadeia turística. A categoria da dinâmica caracteriza-se pela apropriação. Vale-se, primeiramente, uma intensa busca de novos produtos para explicitação acerca das seis categorias de atender a demanda dos turistas.

A contradição em todo esse sistema, refere-se às desigualdades provocadas e acentuadas por esse modo de fazer o turismo. Em outras palavras, o acesso e o uso dos destinos turísticos são diferentes a cada classe social, e ao próprio turista. O turismo limita grande parte das pessoas, inclusive as que estão à margem dos empreendimentos turísticos. Nesse ponto, a contradição A mercantilização, é decorrência representa a categoria de segregação e do valor de uso que se transforma em gentrificação. Por fim, tem-se que o turismo é um mercado, dado que a demanda dos turistas excede as necessidades da população local processo histórico de materialização no (MEETHAN, 2005 apud Minasí et.al. (2019). território. Nesse sentido, verifica-se a última É a mercantilização que origina fetiche categoria, o que significa que turismo em produtos e serviços exclusivos para depende e apropria-se das especificidades os turistas, que estão sempre em busca de cada lugar e dos recursos econômicos, de novidades. Os turistas, se configuram sociais, políticos e urbanos. como sociedade de consumo. Essa A figura a seguir, foi proposta por sociedade de consumo, concerne ao modo Minasi et.al. (2019) e refere-se às categorias de produção, evidenciando a categoria do método dialético aplicadas ao território produção e consumo, que atualmente, turístico, fica exemplificado as Inter relações recebe o nome de sociedade de consumo, dialéticas entre as categorias: análise assinaladas por Minasí et.al. (2019). O valor de uso refere-se à sobrecarga da infraestrutura nos centros que recebem o turismo, dito em outras palavras, os equipamentos, estrutura e serviços turísticos ocupam os centros turísticos causando congestionamento e privatização das áreas públicas com um suporte é direcionado exclusivamente a turistas.

Figura 1: Integração das categorias de análise da urbanização turística.

Fonte: Minasi et.al. (2019, p. 387).

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CARACTERIZAÇÃO ESTUDO

DO

OBJETO

DE

presença de comunidades tradicionais caiçaras e quilombolas (PARQUE O presente artigo tem como objeto de ESTADUAL, 2018). É nesse contexto que estudo a Comunidade Remanescente de o Quilombo da Fazenda se encontra. Quilombo da Fazenda localizada dentro do A comunidade quilombola da Fazenda Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Picinguaba é composta por pouco mais de Picinguaba, litoral norte da cidade de de 40 famílias, e por estarem fixadas em Ubatuba, São Paulo (MARCHETTI, 2009). uma APA são desautorizados de praticar Aproximadamente 80% do território de qualquer atividade que possa prejudicar o Ubatuba está situado em Área de Proteção meio ambiente. (PARAVATI, 2016). Ambiental (APA) (PREFEITURA MUNICIPAL Nesse sentido, nota-se que desde DE UBATUBA, 2017). a criação do Parque Estadual existia a A cidade de Ubatuba/SP tem população presença da atividade turística, e por total de 90.000 habitantes segundo a esse motivo, os jovens moradores da estimativa realizada em 2019 pelo Instituto comunidade tiveram a iniciativa de Brasileiro de Geografia e Estatística desenvolver o TBC dentro do quilombo da (IBGE). O núcleo de Picinguaba foi criado Fazenda com o objetivo de aproveitar o em 1979 a partir da junção da Fazenda fluxo turístico já existente no Parque e no Picinguaba ao Parque Estadual da Serra município buscando uma outra alternativa do Mar. Ademais das riquezas naturais, o para obtenção de renda no quilombo. núcleo tem como principal característica a (INFORMAR, 2019).

Fonte: Google Maps

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ANÁLISE E RESULTADOS

DISCUSSÕES

DOS

socioambiental, a segregação espacial e social dos residentes.

A partir do entendimento das seis categorias de análise do materialismo histórico no território turístico proposto por Minasí et.al. (2019) quanto ao surgimento do TBC no quilombo da Fazenda, constatou-se que todas as categorias de análise foram identificadas como motivadoras para que o quilombo desenvolvesse o TBC.

O Consórcio Intermunicipal de Turismo do Litoral Norte em 2018 divulgou um estudo revelando que os municípios que compõe o litoral norte de São Paulo, sendo eles Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba, recebem em torno de 4,3 milhões de turistas por ano. (TAMOIOS NEWS, 2018). A população local de Ubatuba, em época de alta temporada, chega a receber aproximadamente 300 mil pessoas entre Inicialmente, verifica-se o estudo de março e dezembro, no entanto, esse número Marchetti (2009) que versa a respeito do sobe para 800 mil nos feriados e Reveillon e Quilombo da Fazenda e revelou que as Carnaval. (DROGUETTI; FONSECA, 2005) comunidades do litoral norte do estado de Portanto, tendo como base o contexto São Paulo foram diretamente impactadas descrito acima, notam-se todas as categorias devido às mudanças na estrutura social e econômica, causadas pela especulação de análise do materialismo histórico, uma vez imobiliária, modernização, expansão que elas, justamente por serem dialéticas, urbana, e pelo turismo. Dentre essas sucedem concomitantemente. Verificacomunidades, inclui-se o quilombo da se que o valor de uso e a mercantilização provocadas pelo intenso fluxo turístico, ou Fazenda. seja, pela produção e consumo (sociedade Os primeiros turistas, segundo Jonas de consumo) e consequentemente pela (2006), chegaram em Ubatuba no ano dinamicidade, causaram contradições, de 1932, por meio estrada imperial via como a segregação, gentrificação e Vale do Paraíba. Em 1974, o número de outros impactos relatados por Oliveira e turistas aumentou significativamente, Vazques (2018). Além do mais, todas essas com a construção da Rodovia Rio-Santos, características abarcam a apropriação, visto que unia Paraty e Ubatuba gerando que todo esse processo e consequências especulações imobiliárias, privatização ocorreram em razão da apropriação do de espaços públicos e o turismo massivo, turismo no município de Ubatuba/SP. que provocou problemáticas sociais e a À vista disso, constata-se a influência de valorização do território (JONAS, 2006). todas as características, que agiram como Ao que se verifica, o grande fluxo turístico no litoral norte acarretou inúmeras tensões sociais e ambientais. Oliveira e Vazques (2018) expõem que o turismo em Ubatuba/SP apresenta problemas sociais como migração desordenada, núcleos irregulares de ocupação, infraestrutura deficitária, desconforto para a população local nos períodos de alta temporada devido a multiplicação do número de turistas. Ainda, tem-se como problema

propulsoras para que o quilombo da Fazenda desse o passo inicial para desenvolver o TBC. Desse modo, verifica-se que as seis categorias se relacionam entre si e possuem efeito sistêmico de causa-consequência. Portanto, ao visualizar o cenário em que a comunidade situa-se, dentro de um Parque Estadual que já executava a atividade turística (INFORMAR, 2019), e que faz parte de um município com intenso fluxo de turistas, e considerando a possibilidade de aumentar

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vários tipos de danças e ritmos a renda dentro da própria comunidade, tradicionais no quilombo; organizaram-se e passaram a desenvolver o TBC, que foi planejado, executado e • Oficina de construção de pau-a-pique monitorado pela comunidade do quilombo (bio-construção) – A oficina ocorre da Fazenda. (INFORMAR, 2019). em uma construção tradicional, onde é explicada a teoria e prática o tipo de Em março de 2019 a comunidade do construção feita pelos moradores do Quilombo da Fazenda realizou um evento quilombo. de Lançamento de Roteiros Turísticos de Base Comunitária. Os roteiros são: Produção • Observação de Aves – No quilombo é possível encontrar diversas espécies de Farinha Artesanal, Visita à casa de Farinha de aves e pássaros, visto que está Comunitária, Visita à Agrofloresta e Café inserido em uma área preservada da da Roça, Roda de Conversa, Vivência com Mata Atlântica; Artesãos, Grupo “ô de casa”, Oficinas de Construção de Pau-a-Pique, Observação • Oficina de culinária tradicional – de Aves, Coquetel Quilombola, Oficina de O grupo aprende diversos pratos Culinária Tradicional e três diferentes opções típicos da comunidade com uma das de trilhas. (INFORMA, 2019). Observa-se cozinheiras locais. abaixo a descrição dos roteiros: • Coquetel quilombola – O grupo experimenta os mais diversos tipos de • Produção de farinha artesanal (casa salgados e doces tradicionais. de farinha tradicional) – Neste roteiro, o grupo visita uma casa de farinha • Trilhas - São três diferentes trilhas familiar tradicional de pau-a-pique e que perpassam pelos afluentes do rio um morador do quilombo explica como Fazenda, com floresta preservada. funciona a produção artesanal da farinha Seguindo o método dialético, que de mandioca; orienta o pesquisador a voltar o olhar desde • Visita à casa de farinha comunitária – Na uma perspectiva micro para a macro, mas, casa comunitária o grupo conhece o local acima de tudo, observar e consideração onde são produzidos aproximadamente as totalidades, quer dizer, o contexto de 200 a 250 quilos de farinha; econômico em que os microrganismos do • Visita à agrofloresta e café da roça – Um turismo inseridos. Nota-se que o TBC se morador do quilombo conduz o grupo tem como objetivo contrapor-se, em tese, por uma agrofloresta. No final, o grupo é ao turismo tradicional, todavia, o TBC recebido com uma mesa de café da roça, continua dentro da engrenagem maior, com produtos feitos com ingredientes que é o sistema econômico capitalista. da própria agrofloresta; Portanto, na prática, afirma-se que a • Roda de conversa – Um morador roteirização ofertada pelo quilombo da quilombola relata como era a vida antes, Fazenda faz parte da dialética do turismo, durante e depois da implantação do e nesse sentido relaciona-se com as seis parque e da rodovia Rio-Santos; categorias de análise. Isso devido ao • Vivência com os artesãos, oficina de fato de que os grupos que contratam os artesanato – Os artesãos da comunidade roteiros do TBC do quilombo da Fazenda explicam na teoria e na prática o não são isentos da infraestrutura turística artesanato local; da cidade de Ubatuba/SP, já que utilizaram • Grupo “Ô de casa” – O grupo resgata de estradas, serviços de hospedagem,

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alimentação e tantas outras variáveis do questionamentos apresentados, além de criar um espaço de reflexão sobre o que produto turístico. Portanto, o TBC é considerado uma das foi exposto. Não se objetiva expor uma formas encontradas pelas comunidades conclusão final pois o objeto de estudo é receptoras de se beneficiarem dos ganhos dialético e, portanto, está em constante advindos da atividade turística, tornando-o movimento. mais justo e equitativo. Assim, o TBC é identificado como demonstração da luta de classe, que se organiza com a finalidade de incluir-se na atividade turística, minimizando as desigualdades produzidas pelo sistema capitalista, que até então, as restringia dos ganhos provenientes do turismo.

Ao analisar os roteiros oferecidos pelo quilombo da Fazenda, confere-se o posicionamento dos autores utilizados na fundamentação teórica deste estudo. É o caso de Oliveira Marinho (2005), que considera ao falar do TBC que os roteiros turísticos devem possuir a finalidade de preservar a identidade cultural das comunidades. Além do mais, Silva (2016) ao versar sobre TBC sugeriu a inserção de roteiros turísticos que divulgassem as manifestações culturais. O prisma de ambos os autores é identificados nos roteiros do quilombo da Fazenda, uma vez que as danças, artesanatos e culinária tradicionais estão presentes nos roteiros.

Este estudo se propôs a analisar o TBC no quilombo da Fazenda de acordo com as categorias do materialismo histórico dialético. Desta forma, foi possível observar que as seis categorias que compõe o método do materialismo histórico dialético no território turístico: valor de uso, mercantilização, produção e consumo, dinamicidade, segregação/gentrificação e apropriação são capazes de analisar o TBC no quilombo da Fazenda. Porém, reparase a falta de categorias que compreendem às especificidades culturais e sustentáveis neste estudo. Observa-se que o fato de o método dialético ter como ponto de partida as totalidades, possui uma abrangência quanto aos domínios, o que possibilitou a realização da análise. Entrentanto, vale ressaltar que a metodologia do materialismo histórico dialético, é voltada para o processo de urbanização do território turístico, ou seja, do turismo convencional, massivo e gerador de desigualdades.

Foi possível comprovar o que outros autores presentes no referencial já haviam enfatizado, que o TBC não é considerado uma tipologia do turismo convencional, mas sim, uma alternativa diferente ao atual turismo, com ideias e princípios que visam equidade social, protagonizando a comunidade local que será a maior influenciada pelo processo turístico. Dessa forma, aponta-se para a necessidade de novas epistemologias pensadas especificamente para o caso do TBC, com o objetivo de possibilitar CONSIDERAÇÕES FINAIS caminhos metodológicos que assegurem A intenção nessa última parte deste a confiabilidade, discussões, críticas e estudo é de dialogar com os principais encaminhamentos quanto ao TBC. Ainda, foi apontado uma óptica do estudo de Rabinovici (2012) que discorreu acerca dos turistas serem beneficiados no âmbito cultural, pedagógico e educador. Confirma-se que todos os roteiros contemplam as três esferas, uma vez que se identifica a presença de roda de conversas e oficinas que transmitem o valor cultural da comunidade de forma pedagógica e educacional.

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Destaca-se também, a carência de produções científicas que se aprofundem e expliquem de forma compreensível e aprofundada as categorias de análise do método materialismo histórico voltadas ao turismo. Assinala-se o fato de que o TBC no quilombo da Fazenda ter completado recentemente um ano desenvolvendo os roteiros, o que infere na necessidade de pesquisas que realizam o acompanhamento e monitoramento das atividades, bem como a percepção dos moradores quanto ao TBC.

BOWEN, Merle L. Who owns paradise? Afro-Brazilians and ethnic tourism in Brazil’s quilombos, African and Black Diaspora: An International Journal, 2016.

Ressalta-se ainda, a necessidade de pesquisas que tratam de maneira crítica a teoria da segregação e gentrificação relacionando-as com territórios quilombolas, e possivelmente, com o TBC. Sugerese também, a elaboração de pesquisas que objetivem mapear e caracterizar os territórios quilombolas que desenvolvem o TBC, a nível estadual, e se possível, regional. Para mais, salienta-se que este estudo permitiu a melhoria das autoras enquanto pesquisadoras, elucidando questionamentos e propiciando uma nova alternativa para ressignificar o turismo globalizado, a fim de torná-lo mais justo e equitativo.

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Litoral

norte


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PERCEPÇÃO DOS AUTÓCTONES SOBRE A OFERTA DE ESPAÇOS PÚBLICOS ENQUANTO PRODUTOS TURÍSTICOS Mario Meneses dos Santos1

RESUMO: Este trabalho aborda a relação entre a promoção turística ofertada pelo poder público de Porto Alegre mediante a percepção dos autóctones então, como atuantes na ressignificação de espaços públicos urbanos. Mais precisamente, trata do tema de relação entre a oferta turística de Porto Alegre de seus espaços Públicos. Esta pesquisa questiona; se os espaços públicos urbanos servem primeiramente para autóctones, e por consequência, aos turistas a oferta turística organizada pelo poder público corresponde ao que os primeiros entendem como relevantes e representativos? Os procedimentos metodológicos se deram através de uma abordagem qualiquantitativa e comparativa. O levantamento de arquivo ocorreu entre agosto de 2018 até novembro de 2019. O levantamento se caracterizou através de verificação de critérios advindos da literatura exposta, em seguida se deu a aplicação de uma entrevista com um representante do poder público e posteriormente, questionários online advindos da ferramenta questionários Google que totalizaram 46 respondentes. Através dos resultados e da análise de dados foi possível analisar que existe uma concordância entre o Poder Público e a comunidade autóctone nos aspectos pertinentes á interatividade e representatividade do produto turístico ofertado. O que o trabalho constatou, é que não há entre o planejamento do poder público a participação da comunidade para a formação do seu produto turístico. Também se fez possível constatar que existe um problema na comunicação entre esses dois atores, com isso dificultando a atividade turística na capital. Palavras-chave: Espaços públicos urbanos, poder púbico, autóctones, produto turístico. ABSTRACT: This paper deals with the relationship between the tourism promotion offered by the Porto Alegre public authorities through the perception of the indigenous people, as acting in the resignification of urban public spaces. More precisely, it deals with the theme of the relationship between Porto Alegre's tourism offer of its Public spaces. This research questions; If urban public spaces are primarily for indigenous people, and as a consequence, for tourists, does the tourist offer organized by the government correspond to what they perceive as relevant and representative? The methodological procedures took place through a qualiquantitative and comparative approach. The archive survey took place between August 2018 and November 2019. The survey was characterized by verification of criteria from the exposed literature, followed by the application of

1 Graduando do Curso de Turismo do Centro Universitário Metodista IPA.

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an interview with a representative of the government and, later, online questionnaires from Google quiz tool which totaled 46 respondents. Through the results and data analysis it was possible to analyze that there is a disagreement between the Government and the indigenous community in the pertinent aspects of interactivity and representativeness regarding the offered tourism product. It was also possible to verify that there is a problem in the communication between these two actors, thus hindering the tourist activity in the capital.

ligados a questões econômicas, as características do local de destino, aos estímulos promocionais, a confiança a quem atribuem ao espaço turístico que está sendo almejado e ao imaginário simbólico social que tal espaço pode representar no contexto temporal.

Com base no exposto, compreende-se que a relação entre turista e espaço turístico é de extrema importância. Em complemento, é importante destacar que os espaços públicos possuem um forte apelo turístico, tendo em vista que são lugares de grande circulação de pessoas e, por consequência, Keywords: Urban public spaces, public são espaços de interação social. power, indigenous people, tourism product Na visão de Leite (2004), para entender touristic. espaço público é preciso compreender a relação entre espaço e sua construção INTRODUÇÃO social. Assim, para este autor, é necessário sta pesquisa trata da relação entre observar a relação ''entre dois processos espaços públicos urbanos e sua interdependentes, que concorrem promoção enquanto atrativos turísticos. simultaneamente para uma única direção: Mais precisamente, este trabalho investiga a construção social do espaço, enquanto a correspondência da promoção turística produto e produtor de práticas sociais. Com feita pelo poder público, em uma essa afirmação, este autor estabelece uma metrópole, em relação à percepção da relação dialética entre o espaço público e a comunidade autóctone sobre o que esta vida urbana e, ainda, as especificidades desta. compreende serem os espaços públicos Levando-se em conta que o espaço dotados de maior atratividade. público é, primeiramente, o espaço de Nesse contexto, é importante destacar uso dos autóctones, é relevante aludir ao que tão relevante quanto o aspecto econômico da atividade turística é a que afirma Ethan (2006). De acordo com dimensão social e cultural que o abriga. este autor, existem diversos estudos na Nesse cenário, segundo Pires (2002, p. 1), área do turismo que indicam a relação de ‘‘turismo é um fenômeno de aproximação identificação dos autóctones com os lugares ou do afastamento das pessoas’’. Tendo como sendo responsável pela transformação como base essa afirmação, entende-se destes em turísticos, por exemplo, por conta que é de grande relevância mensurar de um processo de legitimação espacial. os aspectos pessoais e sociais na oferta Dessa forma, o Estado, enquanto planejador turística. Em adição a esse ponto, segundo dos espaços públicos, deve reconhecer a sociedade civil como agente do espaço do Gastal (2002, p. 44): qual se apropria. [...] as pessoas optam por um Da mesma maneira, no âmbito do espaço turístico a partir de vários fatores, mas quase sempre desenho turístico urbano em grandes

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cidades, os planejadores e gestores precisam corresponder aos princípios gerais que permitem a apropriação do espaço urbano pela comunidade local, promovendo o processo participativo, no que tange o planejamento, ao invés de impedí-lo (SERPA, 2007). Nesse contexto, este trabalho pergunta: se os espaços públicos urbanos servem primeiramente para autóctones, e, por consequência, aos turistas, a oferta turística organizada pelo poder público corresponde ao que os primeiros entendem como relevantes e representativos? Para sanar tal questão, este trabalho objetiva apurar se existe relação entre a oferta de espaços públicos urbanos, por parte do poder público local responsável pelo turismo, em um contexto municipal, de maneira representativa dos autóctones. Para contemplar o objetivo geral do trabalho, são propostos os seguintes objetivos específicos: a) identificar fatores que levam o poder público local responsável pelo turismo a escolher ou preterir determinados pontos turísticos da cidade para promovê-los; b) averiguar o perfil que detêm os espaços públicos no meio urbano atualmente promovidos como turísticos pelo poder público; e c) comparar a oferta de mercado turístico voltada aos espaços públicos urbanos com a percepção dos autóctones. O tratamento deste tema justificase na medida em que, por exemplo, para Alomá (2013), o espaço público se configura como o lugar da cidade de propriedade e domínio da administração pública, sob a responsabilidade do Estado para cuidado e garantia do direito universal da cidadania e uso público. Em complemento, Macedo (1995, p. 27) define espaços públicos como “todos aqueles não contidos entre paredes e tetos dos edifícios construídos pela sociedade para moradia e trabalho”. Assim, dentro da trama urbana, encontramse espaços públicos como os livres de

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edificação, sendo configurados como ruas, praças, largos, pátios, jardins e demais espaços onde as pessoas transcorrem no dia a dia da cidade. Em complemento, segundo Arango e Salmona (2000), o espaço público urbano é uma constante nas cidades através do tempo e é um resultado de processos históricos, gestado, pensado e desenhado por pessoas. Por isso, os espaços públicos são o resultado da conciliação entre os poderes público e privado. Partindo desta premissa, destacamse exemplos de bons espaços públicos urbanos. Em nível mundial, é possível citar o caso do Central Park, Nova York, EUA. De acordo com o The Nature Concervancy (TNC, 2012), a gestão desse espaço é de colaboração conjunta em sua organização, do setor público, privado e da sociedade civil. De acordo com Silveira (2016 p. 9): [...] Este espaço se faz substancialmente importante no que tange a sua magnitude, seja pela localização, dimensão, ou valor, criando um desenho urbano que configura um lugar de representação e significado para as pessoas, logo notável e turístico.

Outro exemplo que corrobora com o já citado consiste nas práticas de políticas públicas desenvolvidas pela prefeitura de Balneário Camboriú, tomando como base o estudo de caso realizado na cidade “Turismo: Inovações da Pesquisa na América Latina’’ (CABRAL, CYRILLO, 2008, p. 7). O estudo enfoca o processo de desenvolvimento turístico mediante os impactos positivos que a atividade gera para a população autóctone da região: [...] O principal êxito de Balneário Camboriú nas práticas de turismo se deve à inclusão da população autóctone nos processos de


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planejamento e execução do turismo no local. Sendo assim, os balneocamboriuenses têm uma disposição e consciência no que se refere à atividade turística, em função de haver a pré-disposição voltada ao recebimento do turismo, o que se torna natural em vista de que a cidade modelou-se ao movimento e dinamismo deste setor, tornando conhecida como ela é hoje, mas, ainda sim, é cogitada a possibilidade de um entrosamento maior da parte do órgão público com a comunidade nas questões voltadas ao desempenho do turismo nesta destinação. Esta seria a maior ação dentro dos parâmetros da responsabilidade social Estatal: o cumprimento de uma interlocução segura e real.

Com base no exposto, o trabalho se faz relevante, pois é possível observar que para obter sucesso a proposta turística ofertada pelo poder público deveria estar de acordo com o entendimento da população sobre seus espaços. Do ponto de vista pessoal, o autor considera este trabalho pertinente, visto ser autóctone que nunca se sentiu plenamente contemplado em relação à oferta turística executada pelo poder público em sua cidade de moradia. Nesse contexto, o presente trabalho está inserido na linha de pesquisa de Comunicação, Hospitalidade e Responsabilidade Social. Esta tem como objetivo de estudo a proposta turística de processos comunicacionais e mercadológicos nas organizações públicas, privados e do terceiro setor, permeados pela inovação e visão empreendedora, com vistas à sustentabilidade objetiva averiguar a proposta turística ofertada pelo poder público em comparação ao entendimento e concepção sobre o tema dos autóctones (IPA, 2015).

Este trabalho está estruturado da seguinte forma: o primeiro capítulo apresenta a introdução; o segundo capítulo apresenta a revisão da literatura, que compreende a relação dos autóctones e seus espaços públicos urbanos e também a percepção dos mesmos sobre a oferta turística da cidade o terceiro capítulo expõe a metodologia utilizada para o desenvolvimento do estudo; o quarto capítulo descreve os dados gerados e as análises; e o quinto capítulo apresenta as considerações finais, as quais permitirão apontar alguns desdobramentos possíveis, bem como as limitações, dificuldades e recomendações para trabalhos futuros. RELAÇÃO ENTRE AUTÓCTONES E SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS: INTERFACES COM O TURISMO Em uma discussão ampla sobre o tema, Rosa (2007) afirma que os espaços públicos são fundamentais para a qualidade de vida de uma sociedade, pois são responsáveis por abrigar práticas sociais que refletem as suas necessidades. Eles são presentes em todas as cidades do mundo, cada qual com sua peculiaridade, inserindo-se na malha urbana. Gehl (2015) teve importante contribuição para o assunto, ao trazer a discussão sobre o planejamento das cidades para quem de fato as utiliza, ou seja, os autóctones. A esse respeito, Narcisio (2008) afirma que este é o espaço por excelência da cidade e é possível conhecê-la através dele. Indovina (2002) também assume esta posição e considera que o espaço público constitui um fator importante de identificação, que conota os lugares, manifestando-se através de símbolos e, em segundo lugar, refere-se ao espaço público como o lugar da palavra, de socialização, de encontro e onde se manifestam grupos sociais, culturais e políticos que a população da cidade exprime. Borja (2003) ainda reivindica a própria cidade como espaço

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público, negando-se a atribuir a ele apenas um só uso especializado. Tal autor defende que “[…] é a cidade no seu conjunto que merece a consideração do espaço público […]”, e que este é o lugar por excelência da sociabilização (BORJA, 2003, p. 29).

local não estiver inserida e nem aceitar o desenvolvimento turístico local, este estará fadado ao fracasso, pois os moradores podem rejeitar o turismo e tratar mal os visitantes, afetando diretamente o desenvolvimento da atividade.

Na perspectiva da sociabilização, temse que os principais usuários dos espaços públicos urbanos são, primeiramente, os autóctontes. Por isso, a percepção destes acerca de tais espaços é relevante. Nesse contexto, é pertinente aludir ao que afirma Krippendorf (2001), para quem os valores da escala dos turistas nem sempre condizem com o que a população pensa, sente ou quer. Ou seja, há necessidade de estudos sobre anseios dos autóctones. Para entendêlos, no entanto, é preciso que se entre no campo da percepção das pessoas e o que as influenciam.

Para Zottis (2008) a relação de compreensão da percepção de autóctones em alusão ao turismo, de forma mais ampla, deve também ser estabelecida pontualmente, quanto aos espaços públicos que eles utilizam. Isso porque o espaço público é componente vital para o turismo. Em complemento a tal afirmação Araújo (2008) explica que a partir de investimentos em espaços públicos urbanos, ocorrem reflexos no turismo.

No domínio das Ciências Sociais e das Ciências Sociais Aplicadas a questão da percepção é debatida há anos. A percepção, segundo Santos (1997), é sempre um processo seletivo de apreensão. Dessa forma, para o autor: Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada. Para outros autores, a percepção pode ser entendida também como questão de identidade, como, por exemplo, de acordo com a afirmação de Maia: o comportamento de uma população como causa e consequência da atuação da própria percepção insere-se no contexto da criação das identidades (1997: p. 3).

Como exemplo, pode-se fazer alusão a um caso dos Estados Unidos da América. Entre meados do século XIX e começo do século XX, muitas iniciativas de reurbanização foram implementadas em Nova Iorque, resultado da influência de movimentos urbanísticos importantes para o turismo contemporâneo. Um dos exemplos de maior sucesso é o do Brooklyn. Isso porque partir de 1983 ocorreu um movimento de investimento e promoção no bairro, sendo propulsor daquele espaço como destino turístico tal qual é conhecido atualmente (SANTIAGO 2012).

Nesse contexto, segundo a perspectiva de Rosa (2017) entende que reflexos de uma maior interação entre o morador e o espaço público são extremamente positivas para o turismo’’. Segundo a autora, quando a população autóctone se utiliza dos espaços públicos urbanos, automaticamente acaba por melhorá-lo, De acordo com a perspectiva de Carvalho tanto nos aspectos culturais, como no que (2010), a percepção dos autóctones sobre se refere ao quesito de maior atratividade o turismo é necessária para compreender para os turistas. como eles veem a atividade e como estão Em suma, investimentos em espaços inseridos nesse contexto. Se a comunidade públicos urbanos, de uso da comunidade

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local, podem refletir positivamente no fluxo turístico, sanando-se necessidades, concomitantemente, de autóctones e turistas. Contudo, para que isso ocorra, é necessário haver uma comunicação eficiente entre Estado e comunidade local, tal como será explanado na seção posterior. IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS A PARTIR DA RELAÇÃO ENTRE AUTÓCTONES E O ESTADO O turismo é uma atividade que tem no território, na paisagem e nos patrimônios natural e cultural sua principal matéria-prima. Assim, não é possível desenvolver turismo sem que haja, direta ou indiretamente, uma participação do poder público, quando se alude ao contexto brasileiro. Deste modo, o desenvolvimento do setor turístico tem, na ação governamental, um elemento estratégico para o seu crescimento. Na maior parte dos países, o turismo é uma atividade desenvolvida a partir da ação conjunta entre a iniciativa privada e o setor público. A forma desta parceria depende da orientação socioeconômica e da política de cada país (IGNARRA, 2003).

entende que as comunidades devem ter o poder de tomar as decisões em relação ao turismo e devem ter o poder de veto das decisões das entidades públicas. Nesse cenário, também é importante aludir ao que são as políticas públicas relacionadas ao turismo: “[...] orientações específicas para a gestão permanente do turismo, abrangendo os inúmeros aspectos operacionais da atividade” (BENI, 2000, p. 166). Assim, os espaços turísticos que têm vocação para a atividade turística devem estar sujeitos a uma política que ordene, regule, promova, desenvolva e controle esta transformação para tal uso com um detalhado planejamento Montejano (1991). Tal ordenação política também está relacionada, por conseguinte, aos espaços turísticos que sejam públicos, portanto a serviço de moradores e turistas, concomitantemente.

No contexto brasileiro, a participação do poder público no setor turístico ganha importância na razão de que cabe a ele, entre outras medidas, regular a atividade a fim de que ocorra um desenvolvimento econômico e sociocultural equilibrado: “a função do governo é um aspecto importante e complexo do turismo e envolve políticas e filosofias políticas” (LICKORISH; JENKINS, 2000, p. 370). Tendo em vista a repercussão que o turismo causa em atividades Em complemento a isso, Cintra (2004) socioeconômicas é que o poder público não considera que as políticas públicas de pode ser indiferente a tal fenômeno: turismo, mesmo que visem à demanda Muitas vezes o turismo está sujeito externa de um município, precisam à intervenção governamental considerar aos autóctones, para que se direta e indireta em decorrência tenha uma promoção turística dotada das possibilidades de geração de de identidade representativa o suficiente emprego e renda que apresenta da comunidade local. Partindo dessa e, portanto, do seu potencial de premissa, afirma-se que as comunidades diversificar e contribuir para as locais podem desempenhar uma economias nacionais e regionais. determinante influência em qualquer (HALL, 2001, p. 39). processo de mudança que ocorra nas Com base no exposto, é possível suas localidades, como o processo de desenvolvimento do turismo. A esse constatar a relevância de se estabelecer uma respeito, conforme Swarbrooke (2000) relação entre poder público e autóctones,

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no âmbito do desenvolvimento do turismo, tanto de maneira mais ampla, como também (e talvez principalmente) no cenário de desenvolvimento e promoção turística de espaços públicos urbanos. Especificamente sobre escolhas do que é comunicado à demanda, acerca de tais espaços, e a relação de percepção sobre eles por parte da comunidade local, haverá explanação mais aprofundada na seção seguinte. ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS: O QUE É COMUNICADO PARA DEMANDA TURÍSTICA ADVÉM DA PERCEPÇÃO DOS AUTÓCTONES?

econômicos, mas também devem ser levados em consideração os aspectos sociais e interpessoais, a população e suas perspectivas de bem-estar e lazer (STOPPA, 2010). Nesse sentido, é importante aludir ao que diz Baldissera (2008). Para quem a comunicação deve ser propagada de forma ampla, visando atingir todos os atores do espectro turístico, desenvolver, qualificar e conscientizar a população sobre o turismo.

Portanto, parece justo e responsável que a comunidade seja consultada, ouvida sobre o que pensa em relação ao turismo: seus medos e expectativas. Ainda segundo Baldissera (2008), os gestores do turismo, tem a responsabilidade de informar as comunidades sobre suas intenções, e também de abrir espaços para a opinião interação da comunitária.

Em complemento, Baldissera (2008) entende que a comunicação turística é restringida a uma pequena gama de ações de comunicação, sem, portanto, contemplar uma complexidade que envolva os autóctones de forma mais ampla. Corroborando com tal teoria, Carvalho (2010) pondera que se deve levar em conta o fato de que a percepção das pessoas em relação a determinado assunto (neste caso o turismo) não deve ser considerada como a chave para o conhecimento total do tema em questão, mas sim um mecanismo para, a partir dela, analisar como a percepção interpreta os fatos e quais elementos dos fatos em sua análise aprofundada estão sendo desconhecidos, reinterpretados ou percebidos de forma distorcida por essa percepção. Nesse contexto, é pertinente aludir novamente a Baldissera (2007) o qual afirma que embora os gestores públicos afirmem a importância do turismo, raros são aqueles que ouvem a população, sem parecer se importar com o que a comunidade sobre a identidade turística de sua cidade.

Com base no exposto, é possível constatar que o êxito do turismo, a partir de ações do poder público, pressupõe uma proximidade na comunicação com a percepção dos autóctones. Nesse contexto, uma estratégia de comunicação que promova o turismo deve ter como base não apenas os aspectos

Com base no suscitado, compreendese que na no âmbito do turismo se faz necessário, em algum nível, devolver à comunidade um pouco do seu espaço de exercício de cidadania e estimular os sujeitos para que se manifestem cidadãos, unindo a oferta turística com a concepção

Especificamente quanto ao turismo, pode-se dizer que ele “é atravessado e maculado pelo conhecimento construído em diversas áreas e [...] particularmente pela comunicação” (BALDISSERA 2008 p. 6). Com base nessa premissa, a comunicação se reflete sobre as potencialidades de relações públicas no turismo, no que se refere às relações com a comunidade local, ressaltando-se algumas de suas possibilidades de realização. Em complemento ao exposto, Baldissera (2008) entende que qualquer produto turístico necessita de interação com seu público, em algum nível mesmo, que de forma indireta.

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que a população tem sobre esse fenômeno. Por isso, é pertinente referir Fonseca (2004), segundo o qual a inserção da população nas práticas inerentes ao turismo serve como direcionamento para que este fenômeno se faça na sua forma mais plena, na qual a comunidade e o poder público estejam em consonância. Mediante essas perspectivas é relevante ilustrar casos de sucesso entre promoção pública de espaços irrestritos a partir da consideração da percepção da comunidade, então relacionada a um contexto turístico.

originou a Marca Brasil. O documento consiste em um plano de marketing turístico internacional, que inclui estratégias de criação de uma nova imagem do Brasil nos aspectos pertinentes a percepção de turistas e moradores sobre o turismo (FIGURA 2). Em 2004, a Embratur desenvolveu uma ampla pesquisa de imagem do Brasil para a formulação do Plano Aquarela 2020, visando conhecer a visão do turista estrangeiro quanto a visão do Brasil (MTUR, 2014). O Plano Aquarela 2020 tinha como objetivo alterar a perspectiva que os turistas Entre os casos de sucesso que detinham do Brasil, obter informações sobre relacionam a promoção pública e a a experiência e o comportamento, a imagem percepção da comunidade destaca-se o e o posicionamento, os elementos de valor e Plano Aquarela 2020 (FIGURA 1), o qual os problemas de comunicação. Figura 1 – Plano Aquarela

Fonte: Plano Aquarela (2007).

Figura 2 - Escadaria de Selarón

Fonte: Plano Aquarela (2007).

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Nesse cenário, é importante destacar o que afirma Beni (2006), para quem é vital que o poder público estabeleça, tanto com turistas como com os autóctones, uma comunicação e interação eficientes, de modo que se tenha êxito na idealização do turismo. Em concordância com essa perspectiva, Vignati afirma que (2008, p. 15). Com o envolvimento da população no turismo, forma-se um sistema de cooperação em prol do desenvolvimento integrado, o sistema turístico é resultado de uma ampla cooperação e articulação de estruturas privadas, sociais e públicas orientadas para melhorar a rentabilidade e a atratividade do destino turístico.

Em adição, Araújo (2006) afirma que a participação da comunidade no planejamento turístico “a habilidade das comunidades locais de influenciarem o

resultado de projetos de desenvolvimento que têm algum impacto sobre os seus interesses”. Ou seja, em algum momento a comunidade autóctone precisa ser parte envolvida no processo de tudo quanto surge em desenvolvimento no seu habitat, tendo um resultado que corresponda às suas necessidades locais. Entretanto, nem sempre a oferta turística está em sintonia com o que a comunidade entende como produto turístico, como é o caso que de São Lourenço do Sul, RS. Mais especificamente entre comunidades quilombolas (FIGURA 3) e Pomeranas (FIGURA 4), Rodrigues (2012) observa a hipervisibilidade da cultura pomerana naquele Município, o qual criou uma imagem fundamentalmente embasada em tal etnia, para promoção turística, negando a diversidade étnico-racial e agravando a invisibilidade de outros grupos, sobretudo os quilombolas.

Figura 3 - Quilombolas São Lourenço do Sul

Figura 4 - Pomeranos São Lourenço do Sul

Fonte: Capa Org (2012).

Fonte: Pref. de São Lourenço do Sul (2009).

Segundo a autora, mesmo que numericamente expressivos no Município, a maior parte das ações voltadas à valorização do patrimônio cultural sequer mencionam os afrodescendentes, tal qual os investimentos para o turismo, que visam substancialmente os Caminhos Pomeranos (FIGURA 5), consequentemente, excluindo da rota do

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turismo local as comunidades quilombolas (FIGURA 6). Para Schneider (2016), tais iniciativas de valorização do patrimônio cultural pomerano, apesar de levarem em seus objetivos pretensões com o fomento do setor turístico e da economia local, acarretam por preterir outras importantes representações culturais da cidade.


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Figura 5 - Caminhos Pomeranos

Fonte: Capa Org (2012).

Em suma, um desenvolvimento turístico exitoso, segundo Rocha (2006), é sempre fruto da parceria entre os vários partícipes da atividade turística, que são capazes de satisfazer as exigências dos consumidores (FIGURA 7). Complementando essa perspectiva, Queiroz (2012) afirma que se faz fundamental promover uma mudança

Figura 6 - Cultura Quilombola

Fonte: Capa Org (2010).

de percepção das pessoas de todos os cantos do planeta sobre o país, seu povo, sua economia, seus produtos e seu papel no cenário internacional. Otimizar informações, melhorar canais de comunicação com a imprensa, utilizar a internet e seus infinitos recursos.

Figura 7 - Folheteria turística Caminho Pomerano

Fonte: Prefeitura de São Lourenço do Sul (2017).

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Tendo como base o exposto, no contexto da promoção turística mediante a percepção da população autóctone, faz-se pertinente explorar o tema apresentado por intermédio de um Estudo de Caso. Assim, na seção seguinte, serão apresentados os procedimentos metodológicos elencados para a realização da pesquisa. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Esta pesquisa propõe Estudo de Caso através de abordagem quali quantitativa e comparativa, que de acordo com Ensslin (2008) esse tipo de pesquisa há uma maior e mais profunda compreensão sobre um determinado grupo social, uma instituição, etc. Seu foco é explicar a razão por trás das coisas. Os dados que passam por um processo de análise não são métricos e utilizam das mais distintas abordagens. A intenção da amostragem é gerar informações densas e esclarecedoras. Não importa a quantidade: o que vale é o seu potencial de produzir um conjunto novo de informações. LEVANTAMENTO DE ARQUIVO O levantamento de arquivo teve início em agosto de 2018 e terminou em novembro

de 2019. Este abrangeu fontes primárias, sendo estes materiais de órgãos públicos, como o Ministério do Turismo e a Embratur. As fontes secundárias consultadas são livros, artigos, matérias e reportagens divulgadas por sites na internet. LEVANTAMENTO DE CAMPO Para delimitação do levantamento de campo municipal foram observados os seguintes critérios, advindos da literatura pertinente ao tema: 1. Existência de número relevante de espaços públicos urbanos; 2. Município que se enquadre nos preceitos de uso de espaços públicos ao turismo; 3. Ocorrência de alta frequência de uso dos espaços públicos urbanos, tanto por parte de moradores, como por parte de turistas; 4. Consideração de um espaço público, ou mais de um, como sendo um importante atrativo turístico para demanda externa ao próprio município em questão, cuja comprovação possa ser dada a partir de peças de comunicação.

Figura 8 Localização de Porto Alegre em relação as demais capitais do país Fonte: Adaptado do Google Maps (2010).

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Dados os critérios, a cidade escolhida para o estudo é Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul (FIGURA 8). Os espaços públicos urbanos desta cidade se destacam por sua grande atratividade e interação com os turistas e autóctones. Dentro desse contexto, os parques públicos são alguns dos maiores atrativos e detêm número de visitações relevante, de acordo com dados

da então Secretaria Municipal de Turismo (SMTUR, 2010). Em um levantamento preliminar de folhetaria turística institucional deste Município, foi possível observar a oferta turística acerca de espaços públicos urbanos. Tais atrativos são ilustrados a seguir (FIGURAS 9,10, 11 e 12).

Figura 9 Roteiro Moinhos de Vento Figura 10 Roteiro Centro Alto

Fonte: SMTUR (2016).

Fonte: SMTUR (2016).

Figura 11 - Roteiro Parque Farroupilha

Fonte: SMTUR (2016).

Figura 12 - Roteiro Centro Histórico Fonte: SMTUR (2016).

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Entrevistas Para uma das etapas do levantamento de campo foi empregado uma entrevista semiestruturada, que de acordo com Triviños (1987) favorece não apenas a descrição dos acontecimentos sociais, como também facilita na sua compreensão. A entrevista semiestruturada foi aplicada a um representante do poder público, vinculado à área de planejamento do turismo municipal. A análise de tal coleta se dará de maneira qualitativa, através de transcrição de fala (discurso direto) ou, quando pertinente, agrupando as informações. Os dados de tal entrevista serão para análise comparativa aos resultados coletados junto a outra parte da amostra, explicitada a seguir.

04/10/2019 obtendo-se 46 respondentes. Acerca da aplicação do questionário, este foi divulgado através de e-mail e páginas de Facabook questionário Google esta totalizou o total de 46 coletas, divulgadas para os respondentes por meio de envio de e-mail e perfil no Facebook, do mesmo, tais como; Usina do Gasômetro, Parque da Redenção, Parque Germânia e Mercado Público. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A amostra desta pesquisa foi composta por representantes de sociedade civil e de poder público, através de aplicação de ferramentas de pesquisa quantitativa e qualitativa, respectivamente. A primeira ocorreu através de um questionário online, Questionários aplicado a moradores desta Capital. A Foram aplicados também questionários segunda é oriunda de uma entrevista on-line, através do Formulário Google. semiestruturada com um representante do Segundo Oliveira (2002), esta ferramenta poder público do Turismo de Porto Alegre. é uma forma de se obter a exatidão dos Sobre a aplicação dos questionários dados coletados, sendo um meio bastante online, como resultado, obteve-se 46 utilizado em pesquisas de caráter de social, respondentes. Sobre este total, a maior administrativo, comunicativo e econômico. parte (24) das pessoas é do sexo feminino. O questionário foi destinado a um total mínimo de 30 autóctones, que utilizam os espaços públicos urbanos de Porto Alegre. Assim, a amostra é configurada com base em estatística descritiva não paramétrica, que de acordo com Davilla (2007) é a etapa inicial da análise utilizada para descrever e resumir os dados.

A ferramenta contém perguntas abertas, que permitem ao respondente emitir sua opinião; perguntas de múltipla escolha, que apresentam uma série de possíveis respostas; perguntas fechadas, que são perguntas que o respondente escolhe sua resposta entre duas opções (sim ou não); e perguntas de escala (MARCONI; LAKATOS, 2010). A aplicação do questionário online teve início no dia 20/09/2019 e seu término foi em

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A média de idade dos respondentes é de 30 anos - 24 estão na faixa de 20 a 29 anos; 20 têm entre 30 e 39 anos; 1 respondente tem 44 anos e 1 tem 54 anos. Quanto aos bairros de procedência dos respondentes, obteve-se o seguinte resultado (em ordem de maior para menor incidência): Centro (4 respondentes); Boa Vista (3 respondentes); Alberta dos Morros, Belém Velho, Bom Fim, Cascata, Floresta, Passo da Areia, São João e Sarandi (2 respondentes cada); Azenha, Camaquã, Chapéu do Sol, Cidade Baixa, Espirito Santo, Glória, Guarujá, Jardim Botânico, Jardim Carvalho, Jardim Isabel, Lami, Lomba do Pinheiro, Mário Quintana, Medianeira, Moinhos de Vento, Mont Serrat, Partenon, Leopoldina, Protásio,


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Restinga, São Geraldo, Teresópolis e Tristeza tiveram (1 respondente cada).

isso, na concepção do poder público, esta seria também uma ferramenta de percepção Não houve participação de de adequação da oferta turística da Capital. relevante informar que não foi respondentes dos seguintes bairros de Porto Alegre: Anchieta, Auxiliadora, Bela mencionado durante a entrevista se a Vista, Cavalhada, Cristal, Farroupilha, população foi consultada para escolha dos Higienópolis, Humaitá, Ipanema, Jardim pontos turísticos integrantes dos roteiros Floresta, Jardim Itú Sabara, Jardim do Linha Turismo, o que seria pertinente a São Pedro, Marcilio Dias, Navegantes se realizar, pois, tal ausência de participação Petrópolis, Praia de Belas, Rubem Berta, pode ocasionar problemas de aceitação da Santa Maria, Santana, São Caetano, comunidade para com o produto ofertado, tal Serraria, Vila Assunção, Vila Ipiranga e Vila como sugere Krippedorf (2001). Ratifica-se, a percepção da população é imprescindível João Pessoa. acerca dos espaços públicos urbanos e que FATORES DE ESCOLHA DE PONTOS tal depreensão espacial nem sempre condiz TURÍSTICOS PARA PROMOÇÃO com a percepção dos turistas. REALIZADA PELO PODER PÚBLICO Nesse cenário, é importante indicar De acordo com representante do poder público do Turismo de Porto Alegre, a atual gestão já herdou da anterior o projeto de promoção turística. Nessa concepção, atualmente o Município trabalha em uma gama de oferta preexistente, cabendo a eles a agregação de novas ofertas ao que já há: “hoje já está estruturado é uma coisa que já vem sendo estruturada eu estou há dois anos, mas a oferta turística já vem sendo estruturada há muitos anos. Em complemento, a pessoa entrevistada diz que a Secretaria responsável pelo Turismo de Porto Alegre está sempre aberta para ideias dos moradores e que conta com a participação destes para enriquecer e complementar o produto turístico da cidade.

o que os respondentes apontam acerca de planejamento para promoção turística da Capital. 87,2% (41 respondentes) afirmaram que gostariam de fazer parte do planejamento turístico da cidade. Isso reflete na insatisfação de 38,3% (18 respondentes), que não concordam com a oferta turística que o Município provê para os turistas e visitantes.

Outro dado importante refere-se ao fato de 28,8% (14 respondentes) sequer terem conhecimento do que é ofertado como turístico na Capital, evidenciando-se, assim, um problema de comunicação entre as duas partes – Estado e sociedade civil. Assim, como afirma Carvalho (2010), sem a inserção dos autóctones na oferta turística, o desenvolvimento do turismo local pode estar comprometido, pois os moradores podem rejeitar o turismo, consequentemente, Em complemento, na entrevista foi afetando o desenvolvimento da atividade informado que a Prefeitura se utiliza de maneira negativa. de ferramentas que tentam abranger a pluralidade da gama turística da cidade de Porto Alegre. Para tanto, faz uso, PERFIL DE ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS primordialmente, do principal produto PROMOVIDOS COMO TURÍSTICOS PELO turístico da Capital em questão, qual seja, PODER PÚBLICO Nesta seção, faz-se oportuno utilizar o Linha Turismo, que conta com dois roteiros-Centro Histórico e Zona Sul. Por inicialmente os resultados da entrevista

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aplicada. De acordo com representante do Município, os espaços públicos urbanos que são promovidos como turísticos em Porto Alegre têm como base as paisagens naturais, a história e a cultura, tendo sido evidenciados na entrevista o Parque Farroupilha, Parque Moinhos de Vento, Parque Marinha do

Brasil, Orla do Guaíba, Mercado Público Municipal e a Casa de Cultura Mario Quintana - estes foram escolhidos em virtude de suas atratividades supracitadas. Tal exposição confirma a pesquisa bibliográfica realizada (FIGURAS 13 e 14).

Figura 13 - Mapa Turístico de Porto Alegre

Fonte (SMTUR) 2016.

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Figura 14 - Roteiro Linha Turismo de Porto Alegre

Fonte (SMTUR) 2016.

Nesse contexto, é relevante destacar o que os respondentes entendem por espaço público: 55,3% (26 respondentes) se referem a tal tipo de espaço como sendo de uso de todos e de diversidade cultural. Com base no exposto, entendese a importância da relação entre espaços públicos e as comunidades autóctones, tal como afirma Rosa (2007), para quem esses espaços são ferramentas fundamentais para a qualidade de vida de uma sociedade, pois são responsáveis por abrigar práticas sociais que refletem as suas necessidades.

COMPARAÇÃO DE MERCADO AOS ESPAÇOS EM RELAÇÃO AUTÓCTONES

ENTRE A OFERTA TURÍSTICO VOLTADA PÚBLICOS URBANOS À PERCEPÇÃO DOS

Entre os respondentes, 76,6% (36 respondentes) entenderam que a cidade de Porto Alegre é turística. Como justificativa, citaram aspectos relacionados à vasta gama de atrativos culturais, históricos, de eventos e de paisagens naturais. Parques e espaços públicos urbanos foram destaques nas citações. Contudo, é pertinente aludir a algumas respostas contraditórias. Por exemplo, para um dos respondentes, embora sua resposta tenha sido “sim” para

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a pergunta sobre a capital ser turística, sua justificativa foi a seguinte: “acredito que a cidade tem um enorme potencial turístico, mas infelizmente não é visto e nem investido pelo governo ou os pelos próprios moradores”. Ou seja, o respondente está fazendo menção ao “potencial turístico” e não propriamente ao fato de ela ser turística, de maneira já consolidada, tal como era o intuito da questão. Porém, para ser ter precisão sobre a percepção deste respondente, seria necessário aplicar uma entrevista, visto que a ferramenta de questionário não previa interação com os participantes.

órgãos responsáveis não investem”; “falta investimento inteligente”; “pelo baixo investimento dos órgãos responsáveis”; “acredito no potencial da cidade, mas acho que ela ainda deixa a desejar em ofertas”; “acredito que o turismo não é muito divulgado”; e “acredito que a pouca divulgação da cidade com seus espaços turísticos acaba atrasando a evolução de tal como uma cidade turística”. Esse apanhado de percepções ratifica dados expressos pela entrevistada, visto que esta afirma haver baixo investimento do poder público para promoção turística, o que tende a comprometer a oferta do setor.

Os respondentes que não souberam opinar sobre a característica turística de Porto Alegre totalizaram 6,52% (3 respondentes), notadamente um percentual baixo. Para 19.1% (9 respondentes) esta cidade não é turística. Os motivos expressos em relação a tal percepção estão relacionados a: baixo investimento no setor (17,39%; 8 respondentes); e em decorrência da alta taxa de criminalidade da Capital (2,17%; 1 respondente). Acerca de tais percepções é relevante destacar as seguintes respostas: “os

Acerca dos pontos turísticos já promovidos pelo poder público, foram elencados seis deles para avaliação dos respondentes, mediante nível de concordância. A escolha dos pontos apresentados deu-se em virtude de sua oferta em materiais promocionais oficiais da Capital. Como resultado, obteve-se a seguinte distribuição, disposta na Tabela 1 (considerando 5 para nível maior de concordância e 1 para nível menor de concordância):

Tabela 1 - Pontos turísticos promovidos pelo poder público Espaço público urbano ofertado

Nível de concordância 1

2

3

4

5

Jardim Botânico

4.9% (2 resp)

6.4% (3 resp)

31.9% (15 resp)

36.2% (17 resp)

20.6% (9 resp)

Mercado Público Municipal

0%

0%

17.10% (7 resp)

31.9% (15 resp)

51.1% (24 resp)

Parque Farroupilha

0%

4.3% (2 resp)

4.3% (2 resp)

36.1% (16 resp)

55%3 (26 resp)

6.4% (3 resp)

0%

34% (16 resp)

38.6% (17 resp)

21.% (10 resp)

Usina do Gasômetro

0%

0%

12.7% (6 resp)

23.5% (10 resp)

63.8% (30 resp)

Parque Moinhos de Vento

0%

0%

21% (10 resp)

36.1% (16 resp)

42.9% (20 resp)

Parque Germânia

Fonte: Autor (2019).

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corresponder entre os autóctones e os turistas, pois o morador não dá o mesmo valor para os atrativos turísticos da cidade, como faz o turista: “o morador costuma sempre dizer Porto Alegre não é uma cidade turística já o visitante tende a sempre elogiar a cidade por exemplo um morador de São Paulo quando vem para cá sempre elogia a mobilidade urbana”. Porém, de acordo com dados quantitativos, ao menos no que se refere ao uso dos espaços públicos, os resultados evidenciam convergência entre usos e atividades de autóctones em relação à oferta turística desenvolvida pelo Município. Em complemento a essa perspectiva Gastal (2004) alude que por se tratarem de espaços Ao serem consultados sobre um que proporcionam uma grande circulação espaço público de preferência e que de pessoas, o que gera interação cultural costumavam frequentar em Porto entre moradores e turistas. Alegre, os resultados obtidos junto aos Em adição, faz-se pertinente citar respondentes foram (em ordem de maior que a maioria dos respondentes (76,6%) para menor incidência): o conjunto da Orla considera a cidade como sendo turística. do Guaíba e Usina do Gasômetro (28,26%; Ainda é relevante destacar que a maioria 13 respondentes); Parque Farroupilha dos respondentes que não considera a (19,57%; 9 respondentes); Parque Moinhos Capital como um destino turístico (13,04%; de Vento e Praça da Alfândega (6,52%; 3 6 respondentes) embasou sua justificativa respondentes cada); Parque Belém Novo, em falta de investimento e planejamento, Parque Germânia e Parque Marinha do por parte do poder Público, evidenciando Brasil (6,52 %; 2 respondentes cada ); entendimento sobre relevância de Estádio José Pinheiro Borba (conhecido planejamento turístico relativo a questões como Beira Rio), Jardim Botânico, básicas para o desenvolvimento do setor. Quilombos, Praça Província de Shiga e Pelo exposto, no capítulo seguinte Praça Araguaia (2,17%; 1 respondente cada). Importante destacar que 83% dos estarão dispostas as Considerações Finais respondentes (82.61%; 38 respondentes) deste trabalho. Nelas, haverá indicação informaram que acreditam que os seus de aprofundamento da relação entre os espaços públicos de preferência também resultados e a teoria utilizada na pesquisa, bem como indicação de dificuldades são visitados pelos turistas. para realização desta e consequentes Em face de tais resultados é recomendações de estudos futuros. importante destacar o relato da entrevistada, representante do Turismo de Porto Alegre. Para ela, um fator prejudicial CONSIDERAÇÕES FINAIS quanto ao desenvolvimento turístico se Esta pesquisa se propôs a tratar da refere ao fato de a concepção sobre o percepção dos autóctones sobre a oferta potencial turístico de Porto Alegre não de espaços públicos enquanto produtos Com base nos dados expostos na Tabela 1, pode se verificar que os atrativos turísticos que tiveram o maior nível de concordância, respectivamente, foram Usina do Gasômetro, Parque Farroupilha, Mercado Público Municipal e Parque Moinhos de Vento. Analisando a Tabela 1 se faz possível constatar que os espaços públicos listados possuem grande relevância para os respondentes, tendo em vista o baixo número deles que destinaram aos atrativos os níveis 1 e 2. Ou seja, de acordo com os respondentes, há concordância em relação à representatividade dos espaços turísticos ofertados atualmente pelo poder público.

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Os resultados mostram que embora exista uma convergência por parte dos autóctones quanto ao entendimento dos espaços públicos ofertados como turísticos, pelo poder público municipal, para a maioria dos respondentes a sua opinião não é levada em consideração, em relação à criação da oferta turística e ao planejamento turístico da Capital em questão. Pelo exposto, o objetivo geral do trabalho foi alcançado, pois a pesquisa consegue evidenciar se existe uma relação entre os espaços turísticos ofertados, com a opinião dos autóctones. Como principal Para alcance do objetivo geral, o conclusão, os resultados sinalizam falta primeiro objetivo específico pretendia de uma maior comunicação entre Estado identificar fatores que levam o poder público e comunidade o que, consequentemente, local responsável pelo turismo a escolher pode ocasionar falta de representatividade, ou preterir determinados pontos turísticos tal como alude Cintra (2004). da cidade para promovê-los. Os resultados Em complemento, os resultados obtidos foram alcançados de forma ratificam a importância da teoria de conclusiva, pois a atual gestão, já herdou Serpa (2007), o qual afirma ser de da gestão anterior o projeto de promoção responsabilidade do Estado, enquanto turística, coube a atual gestão apena elencar planejador dos espaços públicos, o dever de os fatores determinantes para escolher ou reconhecer a sociedade civil como agente preterir os destinos turísticos. O segundo do espaço do qual se apropria. Em suma, objetivo específico consistia em averiguar da mesma maneira, no âmbito do desenho o perfil que detêm os espaços públicos no turístico urbano em grandes cidades, meio urbano atualmente promovidos como os planejadores e gestores precisam turísticos pelo poder público. corresponder aos princípios gerais que Os resultados mostram que o perfil permitem a apropriação do espaço urbano dos espaços públicos promovidos pelo pela comunidade local, promovendo o poder público como turísticos corresponde processo participativo, no que tange ao ao de lugares que abrangem um grande planejamento, ao invés de impedi-lo. número de pessoas e que se destacam Como dificuldades, cabe apontar por sua atratividade natural (abrangendo, a demora na resposta por parte poder principalmente, a oferta de parques). público para realização de entrevista. Também são escolhidos por sua atratividade Como fator limitador de execução da cultural e relevância histórica (como, por pesquisa, faz-se pertinente citar o baixo exemplo, o Mercado Público Municipal e a número de respondentes do formulário Casa de Cultura Mario Quintana). online, somado ao fato da ausência de turísticos. Para tanto, o problema suscitado centrou-se fazer o seguinte questionamento: se os espaços públicos urbanos servem primeiramente para autóctones, e, por consequência, aos turistas, a oferta turística organizada pelo poder público corresponde ao que os primeiros entendem como relevantes e representativos? A partir de tal questionamento, o objetivo geral do trabalho consistia em apurar relação entre a oferta de espaços públicos urbanos, por parte do poder público local responsável pelo turismo, em um contexto municipal, de maneira representativa dos autóctones.

O terceiro objetivo específico pretendia investigar a oferta da promoção turística voltada aos espaços públicos urbanos, em relação à percepção dos autóctones.

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participantes de todos os bairros de Porto Alegre, acarretando em um fator limitador de resultados mais representativos sobre o tema.


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Para trabalhos futuros complementares ao tema indica-se uma pesquisa na qual todos os bairros sejam contemplados no trabalho, aumentando assim a precisão nos dados obtidos. Outro fator que se faz importante para estudos futuros é uma investigação sobre falta de comunicação entre o poder público e a comunidade autóctone, objetivando, assim, elencar os principais fatores que acarretam na falta de interatividade entre esses dois atores.

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A CULTURA E A GASTRONOMIA PERUANA FOMENTADAS PELO CENTRO PERUANO EM PORTO ALEGRE – RS Yessenia Madeley Rojas Amarillo1 Elenara Viera de Viera2

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo geral analisar a cultura e a gastronomia peruana, promovidas pelo Centro Peruano, em Porto Alegre, como um potencial turístico para a cidade. A pesquisa foi realizada a partir do estudo acerca do turismo, da cultura, da gastronomia e do marketing. A metodologia utilizada é de natureza qualitativa, por meio de um estudo de caso, com a utilização da técnica de entrevista estruturada com o proprietário do estabelecimento. Os resultados encontrados indicam que o espaço está relacionado a elementos da área da gastronomia e cultura peruana, uma experiência multicultural no contexto dos porto-alegrenses, além de demonstrar que o Centro apresenta atrativos para o turismo. Palavras-chave: Centro Peruano. Turismo cultural. Gastronomia. Marketing. RESUMEN: Este trabajo tiene como objetivo general analizar la cultura y la gastronomía peruana, fomentadas por el Centro Peruano, en Porto Alegre, como un potencial turístico para la ciudad. La investigación se realizó a partir del estudio acerca del turismo, de la cultura, de la gastronomía y del marketing. Se utilizó la metodología cualitativa, por medio de un estudio de caso, con la técnica de entrevista estructurada con el propietario del establecimiento. Los resultados alcanzados indican que el espacio tiene relación con elementos del área de la gastronomía y de la cultura peruana, una experiencia multicultural en el contexto de los portoalegrenses, además de demostrar que el Centro tiene atractivo para el turismo. Palabras-clave: Centro Peruano. Turismo cultural. Gastronomía. Marketing.

1 Bacharel em Turismo pelo Centro Universitário Metodista IPA. E-mail: turismoyessie@gmail.com 2 Mestre em Turismo e Hotelaria. Professora do Centro Universitário Metodista IPA. E-mail: elen.viera13@ gmail.com

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INTRODUÇÃO

de quatro continentes, que oferecem uma presente trabalho tem como grande diversidade de pratos representativos tema uma análise sobre a cultura inigualáveis e deslumbrantes. A arte da e a gastronomia peruana fomentadas pelo cozinha peruana se transforma regularmente Centro Peruano em Porto Alegre. O estudo com uma infinidade de pratos. se realizou por meio de uma entrevista Deste modo, questiona-se: Como o estruturada, respondida pelo proprietário Centro Cultural promove ações e fomenta do estabelecimento, durante o mês de a cultura e gastronomia para os porto abril de 2020. Foi feita, também, uma alegrenses? análise das redes sociais utilizadas pelo Para responder este problema de Centro, a fim de saber como trabalham o pesquisa, o objetivo geral é analisar a mix marketing por meio das mídias e como relevância da cultura e da gastronomia, estas auxiliam na divulgação dos eventos promovidas pelo Centro Peruano em que realizam, bem como no potencial relação ao público porto-alegrense como turístico da cultura peruana na cidade. um potencial atrativo turístico para a cidade.

O

O conceito de turismo cultural é essencial para este estudo, uma vez que é considerado como parte relevante para o progresso de qualquer localidade e participa no fomento do envolvimento das sociedades com sua história, seus atrativos culturais e sua reminiscência social (MATTOS LUCAS, 2003). De acordo com Stebbins (1997), o turismo cultural denota um diferencial, mediante o local visitado e interesses definidos (arte, culinária, música ou edificações), pela obtenção de conhecimento (idioma estrangeiro, história do lugar) e socialização com os residentes da localidade, respeitando as normas locais.

Localizado na cidade de Porto Alegre, no bairro Farroupilha, encontrase o Centro Peruano. O Centro Peruano é um espaço cultural aberto ao público em geral, com o objetivo principal de divulgar a cultura peruana. De acordo com Martinez (2019), a gastronomia peruana é considerada, internacionalmente, uma das mais diversificadas e deliciosas, graças à herança pré-Inca, Inca e imigração espanhola, africana, chinesa cantonesa, japonesa e italiana. Tem uma culinária eminente composta com as características

O primeiro objetivo específico consiste em identificar instrumentos utilizados na divulgação da cultura e da gastronomia peruana na cidade, como os sites oficiais do estabelecimento e redes sociais utilizadas. O segundo objetivo é conhecer como o Centro Peruano trabalha seu mix de marketing e serviços (produto, preço, promoção e praça). O último objetivo específico é identificar as vantagens e desvantagens em abrir um negócio com o intuito de promover uma cultura na cidade de Porto Alegre.

Optou-se pelo estudo de caso do Centro Peruano, ao considerar os serviços e produtos oferecidos, originários do Peru, a fim de ilustrar, com maior clareza, o ambiente da cultura desse país. Nesse contexto, ressalta-se que o local tem o interesse de mostrar mais da história dessa nação. Dessa forma, interessa compreender como utilizam os recursos de cultura e da gastronomia no setor turístico e como é fomentado, no atendimento ao público no Estado do Rio Grande do Sul. A pesquisadora pretende contribuir com a exposição para ampliar conhecimentos sobre como o Peru usa seus recursos históricos no turismo, seus hábitos de consumo, sua percepção gastronômica e

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os motivos para aprender mais da cultura peruana. Esta pesquisa terá a finalidade de ilustrar esse mercado e esse ambiente social e cultural. Assim, o trabalho em questão irá se tornar um instrumento de consulta para futuros estudos associados ao tema. No âmbito comercial, as informações que serão apresentadas poderão servir de base para futuras opções de negócios que desejem se instalar na cidade. Tendo em vista o notório desenvolvimento do comércio gastronômico e cultural no local e a competitividade entre as opções de gastronomia internacional, os empreendedores poderão estabelecer novas estratégias para a conquista e manutenção de seus clientes. Desse modo, poderão compreender as percepções dos frequentadores e, consequentemente, de consumidores em potencial que residem na cidade. Portanto, poderão analisar seu comportamento de consumo e os fatores que os influenciam e os motivam a ir ao estabelecimento como opção de entretenimento, atingindo suas reais necessidades e possibilitando uma vantagem competitiva para o negócio. A pesquisa de marketing faz parte do sistema de informações de marketing do negócio (MATTAR, 2005). Procura, deste modo, recolher os elementos essenciais para transformá-los em dados que ajudam os executivos de marketing em resolver dos problemas particulares e inesperados que surgem no extenso processo de administração de marketing e não estão no SIM (Sistemas de Informação de Marketing).

uma série de informações sobre o público frequentador do local, que servirá como uma ferramenta de conhecimento, no sentido de contribuir para um melhor aproveitamento da cidade. TURISMO Desde os primórdios, o ser humano se viu incentivado a se deslocar por diferentes motivos (caça, religião, comércio, guerras, lazer, etc.). Por exemplo, na Roma Antiga, os ítalos viajavam para relaxar e fugir dos ruídos das localidades. Posteriormente, na época do iluminismo, as classes abastadas viajavam por razões culturais, chamadas de Gran tour. Sendo assim, em meados do século XX, o turismo aparece como um fenômeno de massa. Nessa época, as viagens internacionais se tornaram alcançáveis, por diversos motivos; um deles foi a invenção do avião na Segunda Guerra Mundial, dentre outros, como o baixo custo do petróleo, a renda da população, a criação das férias pagas e o prolongamento do tempo livre para a sociedade nos países industrializados.

Nesse sentido, destaca-se a evolução dos meios de comunicação e de transporte como aspecto relevante na propagação das outras probabilidades de se chegar a novos territórios de recebimento ou destino turístico. Ao mesmo tempo, outro principal elemento que ajudou no crescimento do turismo internacional foi a incrementação progressiva das relações comerciais entre os mercados mundiais, que trouxe mudanças nos deslocamentos. No que tange à política pública, o Dessa forma, favoreceu-se a estabilidade presente estudo pretende contribuir para da oferta padronizada, fundamentada que os órgãos administrativos da cidade em aspectos turísticos que organizam a possam dar mais valor e maior interesse ao demanda do número de turistas conforme suas necessidades e interesses (OMT, fenômeno estudado. Há, ainda, o objetivo 2001). de promover esse negócio, o qual possui um Segundo Ignarra (2003), O setor do grande potencial turístico a ser explorado. Portanto, se espera que este estudo revele turismo favorece as atividades, serviços

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e indústrias que estão ligadas às viagens (lojas, meios de transporte, alimentação, etc). À vista disso, facilita que os residentes locais avaliem os destinos e serviços que melhor satisfazem suas necessidades. Em 1974, em Madrid, criou-se a Organização Mundial do Turismo (OMT), com a finalidade de: Promover e desenvolver o turismo para construir com o desenvolvimento econômico, a compreensão internacional, a paz, a prosperidade e o respeito universal, a observância dos direitos humanos e as liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião (DIAS; AGUIAR, 2002, p. 50).

Segundo a OMT (2001, p. 3), [...] o turismo compreende as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros.

Para esse órgão (2001), a classificação do turismo está baseada no local de origem dos turistas e no destino selecionado, distinguidos entre: • Turismo doméstico: moradores percorrendo seu próprio país. • Turismo receptivo: não residentes provenientes de outros países. • Turismo emissor: moradores no país de origem, viajam para outros países. A fim de explorar mais acerca do tema escolhido para este trabalho, serão abordados os pontos relacionados à análise da segmentação do mercado turístico. A segmentação turística é conhecida como uma técnica de marketing usada no mercado de turismo, para ajudar

no desenvolvimento e divulgação de seus produtos e as pessoas que trabalham nesse setor podem qualificar-se em alguma categoria de oferta turística, com foco em proporcionar à demanda os produtos mais estruturados e com serviços padronizados, a fim atender a todas as necessidades dos clientes (NETTO; ANSARAH ,2009). Dessa forma, a segmentação pode ser compreendida como uma maneira de organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e mercado. Um desses segmentos é o turismo cultural (BRASIL, 2006), o qual tem um papel fundamental na área estudada. De maneira global, consegue se relacionar com outras atividades turísticas, por exemplo: uma prática de lazer educacional que colabora na conscientização do visitante; a contemplação da cultura da localidade, de forma geral, em todas suas perspectivas históricas, artísticas, etc. Em vista disso, essa modalidade é uma segmentação do mercado turístico, que inclui uma multiplicidade de formas culturais, que envolve museus, galerias, eventos culturais, festivais, festas, arquitetura, sítios históricos, acontecimentos artísticos, etc. Junto a uma cultura particular, esses elementos fazem parte de um grupo que representa uma comunidade e induzem os turistas interessados a compreenderem características específicas das outras nações (DIAS, 2006). Outra forma de segmentação turística é o turismo gastronômico. A gastronomia é, muitas vezes, colocada nos debates do turismo como um dos pontos de referência para festas, nas quais se coloca como atrativo e como tema, ou como parte da arte de bem receber os visitantes (PECCINI, 2013). A respeito da gastronomia, é importante ressaltar que se trata de um patrimônio cultural essencial, assim como os museus, as festas, as danças e os santuários religiosos. Pode-se dizer, ainda, que a humanidade

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não só se alimenta pela necessidade de sobrevivência, mas também por prazer, antigamente e, também, nos dias de hoje. Cozinhar é um saber e traz admiração, atraindo o interesse das pessoas por essa área (FREIXA; CHAVES, 2012). Na atualidade, a gastronomia se manifesta por meio das práticas alimentares de cada sociedade, herança que é transmitida de geração em geração, desde a Pré-História, no momento em que os antigos homens partilhavam seus alimentos, elaborados conforme as provisões disponíveis nos territórios onde viviam. Cada povo inventou sua culinária, na qual a escolha dos alimentos representaria sua tradição e sua cultura. Dessa forma, a gastronomia está relacionada aos procedimentos de cocção e à preparação das comidas, ao serviço, aos modos, à mesa e à cerimônia da refeição. De maneira geral, compreende-se que a culinária e a cozinha estão incluídas na gastronomia (FREIXA; CHAVES, 2012).

Quanto aos impactos socioculturais da atividade turística, salienta-se que o turismo origina o choque cultural, que envolve emoções que os viajantes têm quando visitam outros destinos com costumes muito diferentes do seu modo de vida. Esses choques culturais podem ser mais consideráveis quando se viaja a países estrangeiros, com outro idioma, ou em viagens nacionais a outras regiões com tradições distintas. Para que essa ideia se torne mais clara, cita-se o exemplo de uma visita a países muçulmanos. Deve-se considerar, por exemplo, que os costumes desses povos estão baseados na religião. Por isso, as viagens devem ser planejadas e com cuidado, como em relação ao caso das roupas, que devem ser discretas e, na maioria das vezes, podem ser intoleráveis para os padrões ocidentais. Outro relevante impacto cultural é a razão da visita. Um turista que viaja a negócios terá uma relação limitada ao setor comercial; quanto ao turista que viaja por lazer, sua motivação é conhecer o destino, diferente de seu local de origem; ou seja, buscará um impacto proveitoso, moderado e previsto (DIAS; AGUIAR, 2002).

A partir dessas considerações, passase, então, ao aspecto econômico. Segundo Miranda (2013), percebe-se que o turismo é uma atividade econômica que tem o potencial para o desenvolvimento das regiões que trabalham com esse setor, além de gerar emprego, também contribui na Em contrapartida, o turismo pode lucratividade para essas localidades e as propiciar estímulos e interesse dos divisas para os municípios. residentes pela sua própria cultura, pelas Nesse contexto, o turismo é considerado tradições, costumes e patrimônio histórico. comumente como uma exportação de uma Quando os elementos culturais de valor região ou nação até um local de destino são conservados e recuperados, passam (país receptor e lugar de recepção). Assim, a ser implicados na atividade turística. cria-se renda, facilita-se a geração de O interesse pela sua cultura cria uma emprego, ingressos de divisas que ajudam no equilíbrio dos pagamentos, crescem os experiência positiva para os residentes, impostos públicos e conforta-se a atividade conscientizando-os sobre a sua história empresarial. Portanto, confirma-se que a e cultura de suas origens. Ao mesmo atividade turística seja de grande relevância tempo, desenvolvem o atrativo turístico para a economia, em razão de sua superior da comunidade. Portanto, na perspectiva contribuição para a geração de Valor Agregado da OMT (2001, p. 220), o turismo apoia os Bruto (VAB) no lugar receptor (OMT, 2001). seguintes aspectos:

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• A manutenção e a reabilitação de monumentos, edifícios e lugares históricos. • O incentivo aos costumes da comunidade: artesanato, folclore, festivais, gastronomia, etc. Para melhor elucidar cada tipo de segmento, serão descritos os conceitos de cultura e de gastronomia. CULTURA A concepção da palavra “cultura” data do final do século XVIII e do início do seguinte. De origem germânico, Kultur, foi usada para representar todos os elementos espirituais de algum povo em específico. Ao mesmo tempo, o termo francês civilization significa essencialmente as práticas materiais de uma comunidade. O termo “cultura” é definido da seguinte forma: “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (LARAIA, 2006, p. 25). Com essa descrição, essa palavra abarcou todos os atos de cada sociedade, pois definiu que a cultura é possível de ser aprendida em oposição a uma ideia de que as pessoas nascem com uma predisposição a determinado âmbito de coletividade cultural (LARAIA, 2006). Lima (2003) explica que o turismo cultural inclui a cultura como uma técnica e ao mesmo tempo como um produto. Dessa forma, o autor determina essa atividade como um conjunto a partir das seguintes características: A cultura (hight culture) do heritage tourism, ligada às obras de arte histórica, aos vestígios arqueológicos, monumentos, jardins históricos, representações

teatrais e da música clássica, ou mesmo do folclore tradicional, e da cultura dos arts tourism, em que se integram os museus e as galerias de arte; com a cultura popular (low culture), como sejam itinerários de descoberta e de interpretação, visitas guiadas e teatralizadas, rotas gastronômicas e de vinhos, festivais de música, eventos artísticos, e todas as manifestações de cultura popular representadas, por exemplo, em feiras de artesanato (LIMA, 2003, p. 62).

De acordo com Marconi e Presotto (2010), a cultura está classificada em material e imaterial, real ou ideal. A primeira (cultura material), também chamada de Ergologia, define as coisas materiais como bens tangíveis, incluindo ferramentas, artefatos e outros objetos feitas pelo homem e pela tecnologia. Estes atingem os produtos específicos, técnicas, edificações, normas, e costumes que formalizam um emprego. A segunda (cultura imaterial) estabelece aspectos anemológicos e fazem referência aos produtos intangíveis da cultura. Encontram-se as crenças, os conhecimentos, as habilidades, os conteúdos, as normas e os valores. A terceira (cultura real) está direcionada aos indivíduos de uma sociedade e como estes agem ou pensam em sua vida diária. Porém, não se pode generalizar, apenas moderadamente. Para isso, precisase que os conhecedores a ordenem e evidenciem em termos compreensíveis. Finalmente, o autor fala sobre a cultura ideal ou normativa, que se compõe dos comportamentos expressos de forma verbal como corretos e perfeitos, para o povo, mas nem sempre são praticados. Às vezes, o indivíduo, por causa do seu egoísmo, pode escolher outra atitude diferente ou valores não evidenciados, escondidos, que podem conduzir atitudes contraditórias. Ultimamente, o turismo cultural vem sendo considerado como o melhor segmento

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de desenvolvimento no turismo mundial e, gradualmente, são escolhidos pelos destinos turísticos que procuram a diversificação como o grande desdobramento do produto. Para oferecer um “turismo de qualidade”, a precisão de encontrar recursos para ajudar a cultura e a pronta disponibilidade dos bens culturais convertem o turismo cultural em uma escolha cativante, tanto em territórios urbanos e rurais (CAMARGO; CRUZ, 2009, grifo dos autores). Conforme Dias (2006), existem duas ideias de turismo cultural, embasadas em dois conceitos: o primeiro é sobre o incentivo que atrai os turistas a visitarem o lugar escolhido; o segundo é acerca do conhecimento do lugar por parte dos visitantes, quer dizer, o contentamento pessoal que possam ter com a visita. Ademais, deve-se obter recursos financeiros para conservar os patrimônios históricos e, conjuntamente, para desenvolver economicamente os territórios em que estão circunscritos, por exemplo, a geração de emprego. Para Cunha (2001), as viagens e locais são buscados por meio dos desejos de conhecer lugares novos. Cita, ainda, a vontade de adquirir mais conhecimento, saber mais sobre as peculiaridades e costumes dos outros povos, aprender sobre essas civilizações e a diversidade cultural do passado e da atualidade. Nesse contexto, é relevante considerar a definição de cultura pela Organização Mundial do Turismo (OMT, 2015): A definição de cultura é quase tão vasta quanto a do próprio turismo. Junto com o patrimônio arquitetônico e das artes, alguns países incluem em sua definição, por exemplo, a gastronomia, o esporte, a educação, as peregrinações, o artesanato, a contação de estórias, e a vida na cidade.

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Dessa forma, tendo em vista essa conexão entre turismo e cultura, passase a um aprofundamento da noção de turismo cultural e suas implicações. De acordo com Ivanovic (2009, p. 74), “as culturas são distintamente diferentes em diversas sociedades. É esta a razão do turismo cultural. As pessoas são atraídas pelas diferenças e não pelas similaridades”. Destaca-se, também, o reconhecimento da cultura da localidade, seus hábitos, costumes, apresentações folclóricas e artesanais. Assim, a valorização de sua história aprimora a autoestima da sociedade local, com o resgate da história coletiva, readquirindo o passado e a identidade da comunidade. Isso tudo, então, conduz ao conhecimento do patrimônio, e sua valorização, por parte dos cidadãos do local. Nesse caso, o turismo cultural se expõe de duas maneiras: pode denominar-se como um acesso para conseguir recursos imprescindíveis para a conservação da herança cultural; funciona como um meio para permitir o desenvolvimento econômico da cidade, região e até nacional (DIAS, 2006). Acurio (2006, p. 27) expõe que essa manifestação cultural é como “um grande recurso, muito representativo por todos, por orgulho para todos e muito apreciado por alguns estrangeiros que descobriram anedotas nas visitas ao Peru”, e procura a conscientização dos peruanos sobre a qualidade dela, ligada aos fenômenos como o crescimento das publicações da cozinha peruana e a proliferação, pelo menos em Lima, pelo número de escolas gastronômicas. Desse modo, a valorização da culinária peruana por parte da sociedade adquire características importantes para oferecer a eficácia para os peruanos, tornando-se um elemento relevante para fortalecer a autoestima coletiva saudável. Importa


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salientar que isso se dá com base no fato se analisa a alimentação acerca dos fatores de que a cozinha peruana é um produto de das tradições sociais, religiosas, interesses, riqueza com diversidades em sua origem. gostos e conhecimentos associados à alimentação de um lugar em específico, refere-se à gastronomia (FREIXA; CHAVES, GASTRONOMIA 2008). A palavra “gastronomia” é um Por suas particularidades, a gastronomia vocábulo composto de gaster (ventre, estômago), nomo (lei) e do sufixo -ia, é destacada pela UNESCO como patrimônio que forma o substantivo. Foi criada na imaterial. Alvarez (2002) afirma que Grécia Antiga por Arkhestratus em sua o entendimento a respeito de nossas obra Hedypatheia (Tratado dos Prazeres), identidades pessoais e coletivas, assim como escrita por volta de 350 a.C. Ela significa, a relação com o outro, está ligado à maneira etimologicamente, “observância das leis como se pensa a comida, sendo o ato de comer envolvido por significados complexos do estômago” (VENTURI, 2010, p. 17). A gastronomia originou-se como e, até mesmo, contraditórios. À continuação, uma técnica que apareceu depois da adiciona-se, segundo Costa Beber, Barretto Revolução Francesa, como incentivo para e Menasche: o crescimento da alta culinária. Desde cafés a restaurantes, surgiram modernos estabelecimentos urbanos parisienses, que se propagaram na metade do século XIX (DROUARD, 2007). Para Massimo Montanari (2010), a comida significa cultura, que expressa a origem de nossa identidade, além de ser uma ferramenta para se manifestar e se comunicar.

A culinária e a cozinha são palavras de sentido semelhante: significam o grupo de utensílios, ingredientes e alimentos de um país ou de uma região específica. Esses dois termos definem também a arte da elaboração dos alimentos e as práticas e procedimentos utilizados para esse propósito. A alimentação adequa-se com um total de ingredientes no seu estado natural ou industrializados, com os quais os indivíduos se alimentam. Está relacionada aos níveis de produção, abastecimento e consumo, ou seja, agricultura, pecuária, indústria alimentícia, mercados e feiras. Da mesma forma, vincula-se à área da nutrição, que estuda os alimentos e como eles devem ser escolhidos e preparados para que as pessoas tenham uma vida saudável. Contudo, no momento em que

Há componentes ligados a uma tradição alimentar regional que passa a interagir com o gosto dos turistas e, também, das modas culinárias, entre outras. Ao mesmo tempo em que se almeja a apresentação de uma comida regional aos turistas, são incorporados novos hábitos que passam a compor o conjunto alimentar (COSTA BEBER, BARRETTO; MENASCHE, 2015, p. 29).

Portanto, deve-se levar em conta que os produtos que são parte de um elemento cultural são considerados para a criação de uma identidade de uma localidade turística. A gastronomia é um atrativo para os turistas e consegue valorizar os atrativos principais dessa localidade, diferenciando esse local de outros. Na maior parte dos casos, os elementos gastronômicos usados pelo setor do turismo fazem parte do dia a dia da sociedade, como também dos pratos tradicionais ou algum produto e ingrediente elaborado no território (FAGLIARI, 2005). De acordo com Schlüter, “a gastronomia, sem dúvida, está ganhando terreno como atração, tanto para residentes como para

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tradições que estão perto de desaparecer (FAGLIARI, 2005). Um claro exemplo é a cultura Inca, que teve um extenso império na Cordilheira dos Andes, composto, nessa época, pelos seguintes territórios: Colômbia, Equador, Bolívia, parte do Chile e, especialmente, Peru, onde estava situada a capital, Cusco (em quíchua, língua de origem inca, significa, “umbigo do mundo”). Dos costumes alimentares do A partir desse intercâmbio gastronômico, império, nesse então do auge no século chegaram produtos essenciais para a XVI, sabe-se que consideravam a chicha culinária universal, por exemplo: batata, como uma bebida santa, elaborada com tomate, peru, cacau, baunilha, tabaco e milho fermentado (originário do Peru). Na milho, todos provenientes das Américas, atualidade, continua sendo consumida. Central e do Sul. Ressalta-se que numerosos Outro produto nativo é a farinha ingredientes asiáticos foram introduzidos na de quinoa, proveniente de um cereal de culinária básica da maior parte dos povos, grãos miúdos, cultivado desde o período como açúcar, arroz e chá. De mesmo modo, incaico e altamente valorizado até hoje por do continente africano para o mundo, citam- suas qualidades nutritivas. A partir desse se o café e a pimenta malagueta como alimento, preparavam tortillas assadas, relevantes à gastronomia mundial (FREIXA; semelhantes às mexicanas (FREIXA; CHAVES, 2008). CHAVES, 2008). Conforme Schlütler (2003), a presença Para citar mais um exemplo sobre da gastronomia, como parte essencial do a culinária peruana, tem-se a comida incentivo e da atratividade de qualquer “nova-andina”, que nasceu no Peru nos destino, apresenta relevância nas atividades anos 1980 e que teve como propósito da organização e administração dos salvar os ingredientes típicos e antigas produtos turísticos, especialmente cada vez tradições gastronômicas andinas, que estiver vinculada ao turismo cultural. usando procedimentos de preparação turistas. Não só nutre o corpo e o espírito, mas faz parte da cultura dos povos” (SCHLÜTER, 2003, p. 89). Historicamente falando, na era das grandes navegações, o continente americano entrou no mapa do mundo. A maioria dos alimentos nativos de outras culturas, desde a expansão marítima, entrou na culinária europeia, tais como temperos, frutas, plantas exóticas, cereais, raízes, animais, peixes e novas degustações.

Os principais fundamentos gastronômicos e os elementos do turismo cultural mostram muitas qualidades, diante dos novos interesses internacionais para a atividade turística. As pessoas capacitadas nessa área, acreditam que, mesmo com a tendência da homogeneização no mundo, existem influências para preservar as diversidades culturais na sociedade globalizada. Essas diversidades culturais podem ser conservadas pela manutenção do turismo cultural e de seus atrativos, dentre eles, a gastronomia.

e apresentação da cozinha mundial. São pratos bem apresentados, com alguns temperos, com uma leve cocção e sem gordura. Através de esses alimentos ancestrais, procurava-se recuperar a quinua, a batata e típicos temperos andinos. A gastronomia “nova-andina” (grifo do autor) faz parte de uma importante proposta dos melhores hotéis cinco estrelas da cidade de Lima (CAMARGO; CRUZ, 2009).

Considerando os aspectos a respeito do tema estudado até aqui, Nessa perspectiva, a gastronomia possui pode-se dizer que a alimentação é tida a habilidade de auxiliar a resgatar velhas como um importante componente do

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turismo, sendo consumada nos mais vários momentos de uma viagem, de diversas maneiras. Em alguns casos, pode ser uma necessidade biológica, produzindo-se como oferta técnica. Em outros casos, é um atrativo turístico relevante. Salientase, como conceito de relevância para a presente pesquisa, que a alimentação se expõe também, como um elemento da cultura local (FAGLIARI, 2005). O ato de comer junto é “um meio de prazer e de desejo, através dos quais mergulhamos nos recônditos das subjetividades alheias” (FREITAS, 2003, p. 56).

A internet traz consigo uma ideia revolucionária para o marketing: o fato de que o consumidor vai em busca do anunciante, em vez do anunciante ir em busca do consumidor. Dessa forma, neste novo mercado tudo acontece de maneira diferente. (FLEURY, 2001, p. 44).

A rede de computadores facilitou uma maior comunicação entre as pessoas e potencializou a divulgação para compartilhar informações boca a boca. Ao mesmo tempo, converteu as informações em universais, deixando de serem restritas a determinados Como um dos objetivos específicos meios. Assim, os clientes tornaram-se mais trata do marketing mix, ele será o próximo interligados e mais notificados. Para mostrar todas essas transformações, os profissionais tópico a ser retratado. de marketing do mundo ampliaram o conceito e, também, enfocaram mais nas MARKETING emoções humanas (KOTLER; KARTAJAYA; Conforme Kotler (2002), o marketing SETIAWAN, 2010, p. 31). está ligado à criação e ao fomento, A partir disso, adicionaram novos na oferta de produtos e serviços aos consumidores. Encontra-se com a conceitos, tais como marketing emocional, marketing experimental e valor da marca. concorrência para eleger um mercadoPara criar demanda, não somente se precisava alvo, realizar a fidelização e preservar os alcançar a mente dos consumidores com os clientes por meio do produto, promoção antigos modelos de imagem, como também e distribuição. Contudo, marketing é algo seria necessário conquistar o coração mais que analisar os mercados e adequar do cliente. Esses conceitos de marketing os produtos e serviços: é como um apareceram na época de 1990 e 2000, comprometimento que procura o avanço espelhando-se especialmente na disciplina da qualidade de vida dos cidadãos. As de gestão de marca (KOTLER; KARTAJAYA; entidades, na pesquisa da sobrevivência, SETIAWAN, 2010, p. 31). percebem a importância de se guiar pelas Em relação ao uso do marketing, necessidades e demandas do mercado. Dessa forma, a definição de marketing iniciou-se com o chamado marketing tornou-se um índice para preservar direto, que surgiu em 1960. Baseava-se na o crescimento e a permanência nos oferta dos seus produtos através do envio de catálogos impressos pelo correio, para mercados com mudanças. milhões de residências dos clientes ou Nesse sentido, esta seria a essência clientes latentes. Estabelecendo-se como das organizações, a identificação de um método de comunicação direta com o necessidades a serem atendidas por meio cliente, desenvolveu-se para uma técnica de de propostas, produtos ou serviços, visto comunicação e comercialização de produtos que o objetivo principal do marketing, ou serviços com seus consumidores, sem para Fleury, está ligado à seguinte ideia: intermediação de meios ou canais de

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terceiros. Esses programas de marketing direto usavam uma lista dos consumidores (mailing lists) e catálogos enviados pelo correio (mala direta), propondo um resultado direto do cliente e, como consequência geral, na venda por telefone (televenda).

Os sistemas de marketing estão compostos pelos quatro Ps. Na visão de E. J. McCarthy, essa relação se realiza mediante os seguintes termos: Produto, Preço, Promoção e Place, que é distribuição. De acordo com esse pensamento, essas ferramentas do marketing são relevantes para a obtenção dos fins de uma organização, conforme a sua função de negócio. Ou seja, para satisfazer as necessidades dos consumidores, é preciso que os produtos ou serviços que vão ser oferecidos sejam de boa qualidade, com o objetivo de cumprir as expectativas e gostos dos consumidores, com diferentes modelos e estilos: um nome chamativo da marca, embalagens atrativas, em diversos tamanhos do produto, serviços e quantias para o cliente, proporcionando, então, certos retornos monetários à empresa.

Nos dias de hoje, o marketing direto foi ampliado, contando, ainda, com vendedores, telemarketing e call-center (Centrais de Atendimento Telefônico - CAT). Consiste no uso de visitas, telefonemas, correio tradicional ou eletrônico (e-mail) ou outros meios de comunicação e a Internet para o atendimento com os clientes e realização das vendas. Com os avanços da informática, em 1980, surgiu o conceito de Database Marketing (DBM), popularmente chamado Marketing de banco de dados: um aplicativo tecnológico de sistemas de bancos de dados que visa a efetuar proveitosamente É fundamental que sejam difundidos os procedimentos e os programas de diferentes preços entre os consumidores marketing (DIAS, 2006). As mídias sociais ganharam muito e que eles consigam descontos na compra importância para as empresas e são dos produtos ou serviços prestados, com muito convincentes, com o fim de chegar formas de pagamento flexíveis. Ainda, é aos consumidores e influenciar outros também essencial o uso da criatividade consumidores com seus diferentes pontos nas promoções, como a propaganda, de vista e experiências. Nesse contexto, a que é a potência das vendas, promoção, propaganda corporativa terá a influência relações públicas e o merchanding. diminuída de forma proporcional, em relação Na parte da distribuição, trata-se do ao comportamento de compra. Aliás, os transporte dos produtos eleitos aos clientes participam em outras práticas com lugares certos, de forma apropriada. videogames, Netflix e no uso de dispositivos Essa prática auxilia no inventário de portáteis. Por esse motivo, estão expostos estoques, bem como no atendimento a menos publicidade (KOTLER; KARTAJAYA; das necessidades de consumo. De forma SETIAWAN, 2010). Nessa perspectiva, pensa- geral, entende-se que o Mix de marketing se que as redes sociais são muito acessíveis ajuda a superar os problemas no mercado e pouco tendenciosas, razão pela qual externo, direcionando os bens e tendo considera-se que continuará sendo o futuro resultados monetários de posicionamento das comunicações de marketing. Por isso, de mercado (COBRA, 2010). geralmente, os dados são coletados mediante Para compreender os comportamentos as mídias sociais, para aumentar perfis e dos consumidores, deve-se ter em conta implementar uma melhor comunicação que houve transformações nos cenários para seus colaboradores e clientes (KOTLER; demográficos e tecnológicos, instaurados KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010, p. 9). há três décadas. Nesse contexto, destaca-

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se o sujeito, com alterações consideráveis no comportamento como cliente, nos seus anseios, suas necessidades e, consequentemente, no seu modo de vida, tornando possível a demanda de produtos ou serviços de alta qualidade e preço adicional.

da personalidade, emoções, perspectiva, idade, renda e costume, entre outros fatores. Já o segundo está ligado aos aspectos ambientais, como a natureza cultural, social, econômica, política e legal, valores, opiniões e influências compartilhadas com membros da família e pelas novas tecnologias.

De acordo com o ponto de vista apresentado, esses dados são usados para inventar programas de comunicação reais e significativos para cada consumidor ou organização, para a obtenção de preferências e necessidades. Na compreensão dessas informações, a análise do comportamento do cliente é essencial e leva um novo estímulo a essa disciplina. Por conseguinte, a chegada da Internet requer que esse conhecimento seja atualizado e usado ao mesmo tempo, num procedimento intenso de personalização do diálogo, das ofertas e até de produtos e serviços.

Quanto ao terceiro, trata-se dos aspectos situacionais, da definição das diferentes situações que podem acontecer com os consumidores. Uma delas, fundamental, é sua disponibilidade de tempo e as características físicas da loja, o lugar da compra. Finalmente, o quarto está associado aos aspectos de estímulo de marketing. Baseia-se nos propósitos dos produtos, os preços, a distribuição e a promoção, direcionados sob a gestão da empresa, propondo determinadas respostas aos consumidores (LIMEIRA, 2008).

Por essa razão, é necessário que se fique atento aos diversos consumidores, suas necessidades e expectativas na parte do serviço e na relação com cada um deles. Para que se alcance essa estratégia, deve haver planejamento de pesquisa, meios de divulgação de informação, propaganda e promoção das vendas, politicas, preços e estratégias de comercialização — tudo realizado de forma correta, usando o diálogo, aprendendo a ouvir os clientes e o que eles desejam, bem como responder ao vivo (DIAS, 2006).

Nesta seção, serão apresentados o conceito e a importância das redes sociais no campo da comunicação e publicidade. Na atualidade, essas ferramentas são muito usadas como um meio acessível de divulgação para os negócios de diversas áreas, para usuários que inicialmente mostraram algum tipo de interesse relacionado ao produto ou serviço.

Segundo Limeira (2008), o comportamento do consumidor é fundamentado em conceitos que estão relacionados com o ponto de vista psicológico, que determina que essa conduta é a soma de reações ou respostas dos sujeitos à estabelecidos incentivos. O primeiro deles está relacionado aos aspectos pessoais, como estados psicológicos e fisiológicos, características

O MARKETING E AS REDES SOCIAIS

Mangold e Faulds (2009) afirmam que as redes sociais são uma ferramenta, composta dentro do mix promocional, porque possibilitam aos consumidores uma comunicação mais direta e acessível com as empresas presentes em redes sociais. O tempo, o conteúdo e a regularidade das mensagens entre os clientes, nas mídias, acontecem sem a direção dos administradores; em contraste, portanto, com os elementos clássicos da comunicação de marketing, na qual há um considerável grau de controle por parte das organizações. Ademais, os gestores necessitam aprender

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como intervir em debates com seus clientes, das ações. Ressalta-se que, conforme associando essa habilidade à missão e aos Recuero (2009), a rede social Facebook resultados da empresa. atua por meio de perfis e de grupos, com Por outro lado, considera-se que as a possibilidade de adição de ferramentas redes sociais são um instrumento essencial extras, como aplicativos e jogos. que contêm informações sobre seus clientes, Smith (2009), faz uma classificação como rotinas, empregos, interesses, além das redes sociais como um fenômeno que de seus gostos pessoais e demográficos está se estendendo internacionalmente, (COMM, 2009). transformando-se em uma técnica De acordo com Recuero (2009), essencial para o marketing. As mídias encontram-se quatro pontos fundamentais sociais, nesse contexto, estão sendo referentes ao o uso das redes sociais pelas usadas como uma ferramenta; dessa facilitam campanhas nos empresas. O primeiro é a visibilidade, por forma meio dos sites das redes sociais os clientes empreendimentos, conforme o perfil dos ficam sempre conectados com suas marcas; seus clientes e grupos. o segundo é a reputação, que significa o reconhecimento que a audiência tem acerca de um indivíduo ou empresa; o terceiro é a popularidade, relativo ao público-alvo e que favorece as redes sociais. Na internet, por exemplo, o público pode ser medido pelo número de visitas a um perfil, entre outros. O quarto é a autoridade, considerada como o poder de influência de usuários nas redes sociais. Por meio dela se consegue medir a influência exercida pelo usuário em relação à sua rede bem como a reputação diante dos demais atores sociais.

Percebe-se, então, que as redes sociais são parte importante na modificação das comunicações no interior e fora das entidades. A partir do uso da Internet, facilita-se a comunicação dos indivíduos com outras pessoas, sobre produtos e empresas (MANGOLD; FAULDS, 2009).

Harris e Rae (2009) evidenciam que as mídias sociais têm o controle para expandir a informação dos negócios, e estas criam opções de comunicação econômica para essas instituições. Essas Um dos elementos mais relevantes das entidades usaram as redes sociais para redes sociais é a rapidez com que elas levam ganhar algumas regalias reais para suas as informações, sendo anunciadas com empresas, como o crescimento das uma grande difusão e atingindo grandes vendas, o desenvolvimento de seus sites e proporções. Segundo Recuero (2009), para uma melhor relação com seu público-alvo definir uma rede social, deve-se ter em conta (HARRIS; RAE, 2009). Blanchard (2010) que está composta por dois elementos: os confirma que as ações nas redes sociais são atores (pessoas, entidades ou grupos) e sua capazes de efetuar transformações, como agir proativamente diante de mudanças ligação (contato ou relações sociais). nas necessidades dos consumidores, por Shih (2009) afirma que a rede social exemplo. denominada Facebook é um meio de integração acelerada. No tempo em que um usuário coloca alguma informação no seu METODOLOGIA Com fundamento no que explica Yin perfil e realiza um comentário ou relacionase com uma marca, seus seguidores (2010), o método de pesquisa adotado visualizam, crescendo, assim, o retorno para este trabalho se caracterizou como

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um estudo de caso. Esse tipo pode ser utilizado em várias ocorrências, como por exemplo para cooperar no conhecimento dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos e relacionados. Certamente, é um método de pesquisa empregado em diversas áreas, como psicologia, sociologia, ciência, política, antropologia, assistência social, administração, educação, enfermagem e planejamento comunitário; pode ser visto, ainda, na economia, no setor industrial ou no estudo de uma cidade ou país. Na maioria das vezes, facilita que os pesquisadores mantenham as características holísticas e significativas dos acontecimentos na vida real, como procedimentos organizacionais e administrativos, a modificação de vizinhança, o desempenho acadêmico, as relações internacionais e a maturação das indústrias.

respondente. Na realização das perguntas, o entrevistado pode responder verbalmente ao mesmo tempo em que o entrevistador anota. Assim, para responder os objetivos propostos, a coleta de dados se deu por meio de uma entrevista estruturada junto ao proprietário do Centro Peruano. A entrevista estruturada também é conhecida como questionário. Para Martins (2008), a construção do questionário é parte essencial e conhecida como uma ferramenta que recolhe informações para a pesquisa social determinada. Estabelecese uma lista com as perguntas em ordem, que será encaminhada para os informantes escolhidos antecipadamente. A pesquisa em campo feita em abril do corrente ano com o proprietário do Centro Peruano, localizado na rua Vieira de Castro, 133, no bairro Farroupilha, na cidade Porto Alegre. A pesquisa foi realizada de forma presencial com o proprietário do estabelecimento, no dia 22 de abril, às 15h. O proprietário marcou antecipadamente o encontro no Centro, para fazer a entrevista pessoalmente. Foram tomadas as precauções necessárias de distanciamento social, devido à situação de pandemia do COVID-19. Foi feita uma gravação, com a duração de uma hora e trinta minutos, pois contou desde o começo do local até a atualidade, comentando sobre como atravessam o momento atual. As perguntas, então, foram selecionadas e, após respondidas, foram transcritas, para proceder à análise.

Em relação à natureza da pesquisa, foi um Estudo de Caso qualitativo. Segundo Stake (2011), o investigador qualitativo pretende descrever algumas experiências situacionais, normalmente não em grande escala e não precisa usar as mais salientes. À vista disso, o pesquisador faz uma escolha das atividades e contextos que contribuem para a facilidade na compreensão de uma parte importante sobre o funcionamento das coisas. Nessa abrangência, a totalidade da experiência analisada não tem muita relevância, em relação à seleção das experiências que sejam capazes de se tornarem revelações A análise dos dados foi feita de maneira perspicazes, sendo estas uma boa ajuda qualitativa, contrapondo o referencial teórico para o entendimento pessoal. utilizado. Antes dos resultados, apresenta-se De acordo com Mattar (2005), a uma contextualização do objeto de estudo: forma de coletar dados fundamentais é o Centro Peruano. modo mais convencional para obter essas informações na pesquisa. Esse processo CENTRO PERUANO se dá por meio da comunicação com os O Centro Peruano surgiu a partir de dados e sua característica principal é que uma necessidade de alguns peruanos que essa resposta é obtida mediante o próprio

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chegaram a Porto Alegre e que passaram a residir na cidade. Foi inaugurado no dia 2 de maio de 1996, como Centro Cultural Peruano, por ser uma data histórica: foi o dia da independência peruana da colônia espanhola, em 1866. Através de uma parceria de um grupo, de quatro peruanos e um brasileiro, muitos deles estudantes que vieram para estudar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), criaram o estabelecimento para difundir a cultura peruana na cidade.

São totalmente autônomos, ou seja, não representam nenhuma entidade, mas têm parcerias com os consulados e embaixadas peruanas. Possuem o reconhecimento do embaixador peruano, o qual visitou o local para conhecer como eles divulgam a cultura peruana na cidade e, também, o trabalho realizado. Nessa oportunidade, receberam doações de obras de escritores peruanos de destaque na literatura do país. À continuação, apresentam-se imagens registradas em visita ao Centro:

Figura 1 - Recepção do Centro

Fonte: A pesquisadora (2020).

Figura 2 - Os produtos artesanais e os livros de exposição

Fonte: A pesquisadora (2020).

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Por meio da gastronomia, conseguiram manter o Centro até a atualidade. Ressalta-se que consideram a atividade gastronômica como uma parte fundamental do estabelecimento. Além da gastronomia peruana, o estabelecimento promove eventos culturais, constituindose como mais do que apenas um restaurante. Oferecem, ainda, cursos sobre música e as danças do Peru. Na atualidade, o Centro está localizado no mesmo prédio onde fica o bar e espaço cultural Comitê Latino-Americano.

América, o proprietário do Centro, Carlos Nevado, comenta a respeito de como se enxerga o Peru e seus elementos culturais, no Brasil: “Aqui, se associa o peruano ao andino [...] Mas é um país multicultural. Temos, por exemplo, cultura afroperuana riquíssima. Nossa música é conhecida em toda a América Latina. Mas aqui, pouco se sabe sobre isso”. Então, a partir disso, montou o centro com o objetivo de difundir a cultura peruana, por meio de festivais e, mais tarde, com o restaurante. As imagens a seguir ilustram o espaço de convivência do Em entrevista ao jornal Zero Hora, estabelecimento e a área externa, onde são em 2019, em razão da participação da realizados os eventos e, também, onde são seleção peruana em partida pela Copa servidos os pratos:

Figura 3 - Salão do Centro Peruano

Fonte: A pesquisadora (2020).

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Figura 4 - Área externa

seleção de imagens retiradas desses meios de divulgação, serão apresentadas as que mais são relevantes para a análise proposta neste trabalho. A seguir, mostrase a imagem correspondente à página do Centro no Facebook: Figura 5 - Rede social Facebook

Fonte: Página do Centro Peruano no TripAdvisor3.

Na seção à continuação, serão apresentados os resultados alcançados, a partir da pesquisa proposta. A partir da metodologia descrita, de acordo com os objetivos, realizou-se a análise de maneira a refletir sobre os dados encontrados nas redes sociais e quanto ao mix de marketing. RESULTADOS O objetivo geral deste trabalho foi analisar a relevância da cultura e da gastronomia promovidas pelo Centro Peruano em relação ao público portoalegrense, como um potencial atrativo turístico para a cidade. Para isso, foi aplicada uma entrevista estruturada com o proprietário do Centro Peruano no mês de abril. Os resultados serão elencados conforme os objetivos específicos. INSTRUMENTOS DE DIVULGAÇÃO DA CULTURA E DA GASTRONOMIA O primeiro objetivo era identificar instrumentos utilizados na divulgação da cultura e da gastronomia peruana na cidade, como os sites oficiais do estabelecimento Fonte: Página 4 e redes sociais utilizadas. A partir da Facebook . 3 Disponível em: https://www.tripadvisor.com.br/ Restaurant_Review-g303546-d6028815-ReviewsCentro_Peruano-Porto_Alegre_State_of_Rio_Grande_ do_Sul.html. Acesso em: 18 maio. 2020.

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do

Centro

Peruano

no

4 Disponível em: https://www.facebook.com/ centroperuanopoa. Acesso em: 18 maio. 2020.


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Ao analisar a Figura 5, pode-se notar que contam com 7656 seguidores na página oficial do Facebook. Ainda constam a localização do local, número de contato, registros de presença no centro e a página web. Figura 6 - Avaliação dos usuários

Na Figura 6, consta a avaliação, em nota, de 4,9 de 5, indicadas pelos clientes que visitaram a rede social. A partir desse número, pode-se dizer que a maioria dos seus clientes, moradores de Porto Alegre e de outras regiões, ficaram satisfeitos com os serviços do local. Há registros de participações em edições anteriores e, também, comentários em que as pessoas recomendam o estabelecimento. Figura 7 - Pratos típicos

Fonte: Página do Centro Peruano no Facebook5. Fonte: Página do Centro Peruano no Facebook6. 5 Disponível em: https://www.facebook.com/ centroperuanopoa/reviews/?ref=page_internal. Acesso em: 18 maio. 2020.

6 Disponível em: https://www.facebook.com/ centroperuanopoa/posts/3116500221722598:0. Acesso em: 18 maio. 2020.

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Ao contemplar a Figura 7, nota-se que referente aos pratos, que são os produtos que eles oferecem no local, os registros foram feitos durante a quarentena em razão do COVID-19. Na publicação, informações são fornecidas ao público da rede social a respeito dos dias de atendimento e horários, considerando a situação atual.

Na Figura 8, mostram-se publicações dos clientes que vão ao Centro Peruano, na rede social Instagram. Os seus consumidores fazem publicações e indicam, por meio de compartilhamento de localização, quando estão no local, publicando fotos dos pratos que consumiram no estabelecimento. A A seguir, apresenta-se a imagem seguir, apresenta-se o perfil criado referente ao Centro Peruano, na busca pelo estabelecimento, para publicações pelo estabelecimento na seção de locais, próprias: no Instagram. Considera-se que o material Figura 9 - Perfil oficial do Centro Peruano encontrado nessa rede social possa no Instagram contribuir para a análise, devido à interação dos clientes. Figura 8 - Rede social Instagram

Fonte: Seção de marcação de localização no Instagram, referente ao Centro Peruano7. 7 Disponível em: https://www.instagram.com/ explore/locations/253769599/centro-peruano/. Acesso em: 18 maio. 2020.

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Fonte: Perfil oficial do Centro Peruano no Instagram8.

8 Disponível em: https://www.instagram.com/ centroperuano/. Acesso em: 18 maio. 2020.


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Ao analisar o número de seguidores das duas redes sociais mencionadas, Facebook e Instagram, nota-se que esta última tem uma quantidade menor e, também, menos publicações. Dessa forma, percebe-se que o Centro Peruano está mais ativo no Facebook, apesar de que os clientes registrem suas visitas com mais frequência no Instagram. A partir disso, pensa-se que esse espaço apresenta um potencial inexplorado a ser trabalhado, no que diz respeito à divulgação e interação com os usuários. ANÁLISE DO MIX DE MARKETING O segundo objetivo específico era conhecer como o Centro Peruano trabalha seu mix de marketing e serviços (produto, preço, promoção e praça). Para isso, foi realizada uma entrevista com o proprietário do Centro Peruano. A primeira pergunta questionou o motivo da criação do Centro Peruano. O proprietário respondeu que a motivação surgiu faz 24 anos. Criamos esse espaço para divulgar a cultura peruana em relação a tudo o que concerne a manifestações culturais do Peru para todos, através de um conjunto de coisas: a primeira gastronomia, a segunda da pequena biblioteca que temos, o terceiro das festas que realizamos. Principalmente para quem não conhecia … o centro peruano não é só para a comunidade peruana, nós procuramos esse espaço para confraternizar com todos os povos.

Também foi perguntado ao proprietário, quais os meios utilizados para fomentar o produto deles. Ele respondeu que basicamente utilizam as ferramentas digitais, como o Facebook, a multiplataforma Whatsapp e, recentemente, o Instagram e o site oficial do Centro Peruano.

Ao perguntar sobre a importância para eles do papel do site e das redes sociais como meio de promoção dos seus produtos, a resposta veio de maneira positiva. Ele afirma que funcionam como um meio informativo e de divulgação para alcançar novos clientes e, também, para manter contato com os que já frequentam. Afirma ainda que, por meio das avaliações e dos comentários, as pessoas vão conhecer o Centro Peruano e passam a frequentá-lo. Em relação ao marketing, perguntouse como era trabalhado seu mix de marketing. O proprietário respondeu que eles trabalham seu mix por meio das ofertas nos dias festivos em Peru, fazem promoções para atrair o público (com música nas sextafeira), e usam as redes sociais e outros meios digitais para evidenciar todos os seus produtos, como Facebook, Whatsapp, correio eletrônico, além de telefonemas e cartazes. No que diz respeito a qualidade em especial à alimentação e o artesanato, o proprietário assegurou que eles trabalham todos seus produtos (gastronomia, as festas peruanas, artesanatos) procurando primar na qualidade. Realizam importações, cultivaram esses insumos e temperos que trouxeram do país para a preparação dos pratos, e sempre procuram que chegue ao público com uma condição original do Peru. “São pratos tipicamente peruanos com produtos peruanos, e que os clientes se sintam acolhidos como se estivessem lá”. Sobre a venda, em especial, o proprietário respondeu que promovem seus produtos, além das redes sociais, por meio de cartões, folhetos e as relações diretas pelo WhatsApp. Os produtos artesanais são mais para a decoração do local e na questão da venda, são mais vendidos durante a realização das festas (as vendas nos eventos giram em torno de 70%) e no centro (as vendas no local são um 30%), e os livros que eles têm são oferecidos para empréstimos no centro para consulta, nunca para a venda.

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A respeito da variável preço do mix de marketing, o proprietário respondeu que têm muito cuidado nesse aspecto, pois, de acordo com ele, alguns donos de restaurantes peruanos que deixaram de existir, assim como de outros que ainda estão no mercado, visitam estabelecimentos a fim de avaliar a qualidade dos pratos. É interessante ressaltar que fazem quando viajam a Lima, a fim de ter a experiência de visitar exposições na Feira de Mistura9.

pouco mais de sua cultura. O proprietário acredita que os motivos são variados. Alguns clientes já conhecem o Peru; outros frequentam porque já experimentaram a comida típica; outros têm planos para viajar e experimentar a culinária antes; e outros que vêm por meio das operadoras de turismo como curiosidade.

alimentos em todas as regiões do país, assim como a estreita relação do homem do campo com a sagrada Mãe Terra ou Pachamama (em língua indígena quechua). Disponível em: https://www. viagensmachupicchu.com.br/dicas/festividades/ mistura-feira-maior-gastronomica-da-americalatina-peru. Acesso em: 18 maio. 2020.

No que diz respeito às vantagens e às desvantagens em abrir um empreendimento como este para o público porto-alegrense, o proprietário mencionou

Em relação às agências e operadoras de turismo, foi indagado ao proprietário se existe alguma parceria e como funciona. Essa prática constitui-se como uma Ele respondeu que tem parceria com uma forma de estudo e preparo em relação agência de viagens há 24 anos e que, na ao valor dos produtos comercializados atualidade, é uma operadora de turismo. pelos restaurantes. Assim, essa prática lhes A relação que tem é de uma amizade; permite avaliar seus produtos e seu próprio eles se ajudam e encaminham pessoas, cálculo, que não podem ultrapassar ou tanto para viagens como para conhecer o ter menos do 50% do custo final. Todos Centro Peruano. Afirma, também, que tem os gastos devem ser incorporados, como parcerias com outras agências que realizam aluguel, insumos, importação e preparação, viagens para o Peru (essas operadoras mas procuram sempre ter valores acessíveis levam os viajantes ao Centro Peruano para os consumidores. para assistir a palestras e experimentar a Sobre a comunicação, o proprietário culinária antes das viagens). respondeu que almejam ter uma boa O último objetivo específico foi o de divulgação para os produtos, apostando na identificar as vantagens e desvantagens qualidade e no retorno dos seus clientes, em abrir um negócio com o intuito de porque eles se encarregam de divulgar promover uma cultura na cidade de Porto seus produtos e serviços por meio do boca- Alegre. a-boca. A maioria das pessoas chega ao Primeiramente, o proprietário foi Centro Peruano por indicação, outros pelas questionado sobre a relevância de redes sociais e pelo atendimento que dão promover uma cultura, isto é, a peruana. sempre aos seus clientes. O proprietário respondeu que pensa que Outra pergunta feita ao proprietário a relevância é porque tratam da culinária e diz respeito à motivação das pessoas em a cultura específica, no sentido que estão frequentar seu espaço, se era pelo apreço falando sobre seu país, o Peru. Qualquer à culinária peruana ou para conhecer um coisa que realizam no estabelecimento está vinculado com o fomento da cultura 9 Feira de Mistura é uma das maiores feiras peruana porque são indissociáveis, gastronômicas da América Latina. A Mistura reflete depende uma com a outra. a enorme diversidade na produção peruana de

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O primeiro foi trabalhar com um produto peruano que ninguém conhecia em termos gerais. Trabalhar com coisas desconhecidas para um público de um estado do país que é genuinamente agropastoril e onde a principal comida é o churrasco, carne e propor outro tipo de alimentação e experimentar um prato como o ceviche que é o prato feito de peixe, foi uma grande desvantagem. Foi muito difícil no começo, pois a maioria das pessoas não conhecia a culinária peruana. Contudo, na atualidade, muitas pessoas, de forma anônima, colaboraram internacionalmente para que tivesse mais visibilidade. Isso fez com que tivessem uma força de fazer conhecer a sua cultura e, também, colaborou para a visitação do local pelo público, bem como para falar sobre o Peru.

O proprietário também evidenciou que existem muitas dificuldades que enfrentam no dia a dia, porque não conseguem operar com todas as ferramentas que têm agora ao alcance. Com Facebook, eles têm um retorno mínimo e usam mais WhatsApp com os clientes do seu entorno, vínculos mais próximos. Porém, para eles, consideram que ainda são insuficientes. Sobre as vantagens, comentou que estão relacionadas ao fator de falar e operar um produto que diz respeito à sua cultura. É um produto relativo à alimentação, um produto cultural em seu conjunto, porque trabalha em duas áreas. Tem a ver com afeto, pela relação estabelecida com seus clientes, os quais atende como amigos, no local. Nas palavras do entrevistado: “Eu não poderia ser só um cozinheiro que não tem nada a ver, eu cozinho comida peruana que é um produto completado pela relação”. Também comenta que

é importante salientar que não se trata apenas de gastronomia, mas a cultura e a parte turística têm um papel importante. As pessoas procuram muito o local por esses motivos e, ainda, pelo estudo da língua espanhola, pois, por meio dela, acaba-se conhecendo o Peru e a cultura peruana. Ao perguntar sobre os pontos fortes do empreendimento, o entrevistado respondeu que seus pontos fortes são as atividades que realizam: mostrar a cultura do Peru por meio da culinária, da música, da dança e os livros dos literatos peruanos. A realização das festas é composta de três momentos: a ceia, as atrações artísticas e o baile. Isso atrai o interesse de muitas pessoas que não conhecem a comida peruana e querem participar dessa experiência, tudo pelo mesmo preço, para fazer com que conheçam o Peru. Quanto a oportunidades dentro do trabalho de divulgação do centro, a resposta foi: “A gente está querendo crescer cada vez mais”, Eles investiram muito, tornaram o local “acolhedor”. Por isso, eles têm retorno dos seus clientes, porque se sentem bem pelo trato. Querem crescer sem perder sua identidade. Sobre ameaças dentro do trabalho de divulgação do centro, o proprietário respondeu que são muito cuidadosos com a divulgação de terceiros, porque tem um custo e porque não confiam. Do ponto de vista dele, os aplicativos de diferentes companhias são considerados uma ameaça, porque aumentam o preço dos produtos. Por fim, questionou-se sobre estratégias adotadas pela empresa. Na visão geral do proprietário, as estratégias estão associadas à comunicação permanente, sobretudo aos fatos que ocorrem em relação ao Centro Peruano e ao Peru. Realizam a divulgação de notícias, compartilhamento de música e de fatos históricos que ocorrem paralelamente, ao mesmo tempo em que fazem promoções vinculadas aos bailes e às festas peruanas,

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assim como quanto aos livros e aquisição de forma positiva, já que a maioria que visita produtos artesanais. o estabelecimento não é da comunidade peruana residente em Porto Alegre. Ao encontro dessa reflexão, Schlütler (2003) CONSIDERAÇÕES FINAIS sustenta que a presença da gastronomia, O presente trabalho teve como objetivo como parte essencial do incentivo e geral analisar a relevância da cultura e da da atratividade de qualquer destino, gastronomia peruana, promovidas pelo apresenta relevância nas atividades da Centro Peruano como um potencial atrativo organização e administração dos produtos turístico para a cidade. Para atingir este turísticos, especialmente cada vez que objetivo, utilizou-se do método de estudo de estiver vinculada ao turismo cultural. caso e da técnica de entrevista estruturada Isso acontece, igualmente, com o junto ao proprietário do estabelecimento. Marketing, que ajuda no desenvolvimento Ao analisar as respostas obtidas, por do empreendimento e ao mesmo meio da entrevista, é possível observar que tempo da riqueza cultural que o Centro o objetivo do Centro Peruano é divulgar a Peruano fornece para os cidadãos portocultura peruana no Rio Grande do Sul. Através alegrenses. Assim, oferecem pratos disso, buscam a integração dos povos e que típicos do Peru, produtos de artesanato os porto-alegrenses considerem relevante o e, também, uma exposição de livros, que entendimento de culturas diferentes da sua. podem ser emprestados para quem estiver Dessa forma, identifica-se a correspondência interessado em conhecer mais a cultura. com o referencial teórico citado nesta Para reafirmar Kotler (2002), o pesquisa, sobre o turismo cultural. A prática marketing está ligado à criação e à descrita desenvolve e reintegra as relações fomentação dos produtos e serviços em sociais, bem como a integração entre relação aos consumidores. Considerando outras populações, que podem ou não ser a concorrência, constitui-se como um da mesma cultura. Para corroborar com a aspecto importante para escolher um literatura, Acurio (2006, p. 27) expõe que essa mercado-alvo e realizar a fidelização, manifestação cultural é como “um grande bem como para preservar os clientes recurso, muito representativo por todos, por meio do produto, da promoção e por orgulho para todos e muito apreciado da distribuição. Contudo, marketing é por alguns estrangeiros que descobriram algo mais que analisar os mercados e anedotas nas visitas ao Peru”. Visa, ainda, adequar os produtos e serviços: é como à conscientização dos peruanos sobre a um comprometimento com o avanço qualidade dela, ligada aos fenômenos como da qualidade de vida dos cidadãos. As o crescimento das publicações da cozinha entidades, na pesquisa da sobrevivência, peruana e a proliferação, pelo menos em percebem a importância de se guiar pelas Lima, pelo número de escolas gastronômicas. necessidades e demandas do mercado. Do mesmo modo ocorre com a Dessa forma, a definição de marketing gastronomia, que entra nesse conjunto para tornou-se um índice para preservar fomentar a cultura. Através dela, apresentam- o crescimento e a permanência nos se aos visitantes culturas diferentes e mercados com mudanças. singulares. Assim, ao pensar se o Centro Em relação às dificuldades para transmite conhecimento da cultura peruana realizar a pesquisa, apontam-se na cidade, o proprietário respondeu de problemas relacionados à pandemia

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do COVID-19 e a disponibilidade do proprietário do estabelecimento. Devido a isso, houve a necessidade de tomar as precauções necessárias para a entrevista e organizar o tempo da melhor forma possível, agendando-se mais de um encontro. Quanto ao contato, o dono sempre se mostrou bastante receptivo para contribuir com o presente estudo. Apesar do momento tão arriscado que está atravessando a população em razão do vírus, o proprietário ainda se mostrou muito prestativo, organizando-se para participar da pesquisa e fornecer todas as respostas das perguntas feitas. Por fim, espera-se que a pesquisa apresentada por meio deste trabalho venha a estimular e contribuir para estudos futuros, principalmente quanto ao entendimento de conteúdos pertinentes na área do Turismo, demonstrando a realização das ferramentas de gestão de pessoas para o desenvolvimento de um potencial turístico. Para que ocorra a sua complementaridade, recomenda-se a continuação do estudo, pois o Centro Peruano, com sua atividade entre a semana e finais de semana, abre espaço para a execução de outras pesquisas, as quais corroboram com outros aspectos que sejam relacionados ao Turismo e suas segmentações Gastronomia, Turismo Cultural e Marketing. Realizamse, ainda, sugestões de implementação e aperfeiçoamento com maior embasamento de informações, além de também ser relevante indicar estudo similar com aplicação em mais de uma organização com mesmo segmento de mercado para realização de estudo qualitativo. REFERÊNCIAS

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VIABILIDADE TURÍSTICA EM TERRITÓRIOS RURAIS: REVISÃO DA LITERATURA EM FACE DO CENÁRIO DE PANDEMIA DE 2020 Maria Regina Pardelinhas de Lima1 Fernanda Costa da Silva2

RESUMO: Este artigo propõe discussão teórica sobre a viabilidade turística em territórios cuja maior proporção seja caracterizada pela ruralidade, particularmente no cenário brasileiro. Nesse sentido, busca-se saber como a atividade turística em territórios reconhecidos como rurais pode ser viável nos próximos anos, principalmente a partir da mudança de cenário, em virtude da pandemia do Novo Coronavírus, desencadeada globalmente em 2020. Visa-se colaborar com o debate sobre a viabilidade turística em territórios que sejam predominantemente rurais o que, por consequência, poderá fornecer subsídios de planejamento turístico em tais recortes espaciais brasileiros. A partir da revisão da literatura, é possível indicar haver viabilidade turística em territórios considerados rurais do território brasileiro, no cenário pós-crise. Contudo, alude-se ao fato de serem necessários mais estudos, então aprofundados e variados, na medida em que novos avanços científicos também surjam, acerca do comportamento do Novo Coronavírus, em especial quanto à relação deste com as condutas sociais, notadamente verificadas em ambientes de convivência presencial de grupo (tal qual pressupõe a atividade turística). Palavras-chave: Viabilidade Turística. Territórios Rurais. Planejamento Turístico. Coronavírus. ABSTRACT: This article proposes a theoretical discussion on the touristic viability in territories where the highest proportion is characterized by rurality, particularly in the Brazilian scenario. It seeks to know how tourism activity in territories recognized as rural can be viable in the coming years, especially after the change in scenario, due to the New Coronavirus pandemic, globally triggered in 2020. The aim is to collaborate with the debate on tourism feasibility in territories that are predominantly rural which, consequently, may provide tourism planning subsides in such Brazilian spatial cutouts. From the literature review, it is possible to indicate tourism feasibility in territories considered rural in the Brazilian territory, in the post-crisis scenario. However, it is worth mentioning the fact that more studies will be necessary in-depth and varied, to the extent that new scientific 1 Graduanda do Curso de Turismo do Centro Universitário Metodista IPA. 2 Professora do Curso de Turismo do Centro Universitário Metodista IPA.

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advances also emerge, regarding the New Coronavirus behavior, especially in regard to its relationship with social behaviors, notably verified in in-person group interaction environments (such as presupposes tourist activity). Keywords: Touristic Viability. Rural Territories. Touristic Planning. Coronavirus. INTRODUÇÃO

E

ste artigo propõe uma discussão teórica acerca da viabilidade turística em territórios cuja maior proporção seja caracterizada pela ruralidade. Este tema é abordado com foco no contexto brasileiro contemporâneo, em especial a partir do cenário de crise relacionado ao desencadeamento do Novo Coronavírus. Acerca das zonas rurais, segundo o Centro Regional de Informação das Nações Unidas (UNRIC, 2014, paginação irregular): “54 por cento da população mundial vive em áreas urbanas, uma proporção que se espera venha a aumentar para 66 por cento em 2050”. Em face desse cenário, e relativamente ao contexto turístico, já no final do século passado, Moletta e Goidanich (1999) afirmaram que devido a uma alta demanda de urbanização apressada em municípios brasileiros, seria crescente a procura pelo maior contato com a natureza e com animais. No mesmo sentido, para Silveira (2001), o turista encontra uma fuga para o stress em meio a um cenário de animais, plantações, nesses ambientes naturais, buscando folga das metrópoles e toda a correria do dia a dia em meios rurais e da prática de segmentos no meio rural. Em complemento, segundo Biazzo (2008, p. 248), “o espaço rural visto pela atual lógica de consumo urbano, frequentemente remete ao sinônimo de natureza, ar puro, alimentos saudáveis,

relações pessoais mais próximas, entre outros aspectos que simbolizam uma melhor qualidade de vida”. O autor afirma haver aumento da visibilidade do campo como um meio de vida alternativo e ambientalmente sustentável. Visando atender à demanda do público urbano para o turismo, destacam-se as ações de lazer, turismo em meio rurais e variados tipos de serviços no contexto da ruralidade. A esse respeito, ainda é pertinente destacar o que Godinho (2004) afirmava já no início dos anos 2000, ao indicar que a atratividade turística, especificamente em alusão ao meio rural, seria uma nova oportunidade, mesmo que dependa de um procedimento longo e lento, de maneira que o turismo em meios rurais se baseia em uma prática econômica, social e cultural. No Brasil, o movimento de turismo relacionado à ruralidade, segundo Martins (2012), pode ser verificado a partir do final da década de 1970, quando o meio rural se destacava como uma nova forma de turismo, buscando a recuperação de casas particulares características da arquitetura e da cultura local. Cunha (2001) afirma que a procura pela ruralidade no Século XXI revela a preocupação e a valorização da cultura local, da arquitetura, incide na melhoria na qualidade de vida e proporciona zonas rurais desfavorecidos a criarem novos meios de renda e atrativos. Contemporaneamente, em face do cenário de pandemia, a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2020) afirma que a indústria de viagens tem sido fortemente afetada. Isso porque Novo Coronavírus suprimiu a movimentação internacional de pessoas, tanto por causa das medidas de isolamento social, como pelo fechamento das fronteiras dos países. Porém, de acordo com a OMT, o Turismo Rural pode se destacar nessa situação em um cenário póspandemia, pois há oportunidade de criar

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novas experiências de turismo, estimulando o turismo doméstico por meio de produtos segmentados e mais individualizados, mediante desenvolvimento do Ecoturismo, Turismo Cultural, Turismo Esportivo e do próprio Turismo Rural. Nesse contexto, é relevante questionar como a atividade turística em territórios caracterizados como rurais pode ser viável nos próximos anos, especialmente a partir das mudanças de hábitos em virtude do Novo Coronavírus. Pelo exposto, este artigo tem como objetivo geral colaborar com o debate sobre a viabilidade turística em territórios que sejam predominantemente rurais o que, por consequência, poderá fornecer subsídios de planejamento turístico em tais recortes espaciais brasileiros. Para tanto, será feita revisão da literatura pertinente ao tema, bem como serão expostas discussões de instituições de referência do Turismo, as quais ilustram perspectivas para turismo em territórios rurais nos próximos anos, em cenário de pós-pandemia. REVISÃO DA LITERATURA CENÁRIOS E CONCEITUAÇÕES Já na década de 1980, Thibal (1988) afirmava que o turismo em pequenas zonas rurais, cada vez mais, influenciaria positivamente no lazer para os moradores e turistas, incentivando a renda, o comércio, a valorização de recursos naturais e o desenvolvimento da economia local. Ao mesmo tempo, este autor também ressalvava ser complicado, para uma região rural, o processo de entrada em um setor de extrema concorrência, como o turismo. Porém, a atratividade natural do meio rural colabora muito para sua promoção como atrativo turístico local.

e culturais, pois ambos são de grande importância para o futuro crescimento do local. Porém, segundo o autor, uma região pode ser dotada de total potencial natural, oferecendo praias, rios e lagos e não ser localizada em um local de fácil acesso, assim inviabilizando sua composição como atrativo turístico. Os atrativos compõem fortemente o processo do turismo. Com isso, já em discussões anteriores, Piperoglou (1967) afirmava que o crescimento do turismo mostrava a dificuldade de relacionar recursos naturais e históricos com demanda e viabilidade, assim se tornando apenas matéria prima para futuros planejamentos a serem estudados. É importante notar que na América Latina o turismo desenvolvido em territórios rurais é denominado, por vezes, de Turismo Vivencial, como ocorre no Peru, por exemplo. Conforme Perche (2011), o Turismo Vivencial facilita descoberta e vivência do cotidiano cultural de comunidades de território rural. O autor afirma que há poucos anos começou a ocorrer um programa turístico que busca desenvolver tais comunidades naquele país. As edições de 2010 do Lonely Planet3 destacam uma dessas experiências, a Ilha Amantaní, no Lago Titicaca (FIGURA1), como um dos importantes destinos de caráter inovador e autêntico desta segmentação do Turismo Vivencial.

Na década seguinte, Gunn (1994) afirmava que não se deveria confundir 3 Lonely Planet: fundada em 1972, é a maior atrativos turísticos com recursos naturais editora de guias de viagem do mundo (https:// www.lonelyplanet.com).

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Figura 1 – Ilha Amantaní, no Lago Titicaca - Peru

Fonte: Mendes (2017, paginação irregular).

No contexto brasileiro, para o Ministério do Turismo (MTur) (BRASIL, 2010), Santa Catarina é referência em turismo desenvolvido em territórios rurais, mediante a segmentação de Turismo Rural.

Anitápolis, Rancho Queimado, Santa Rosa de Lima (FIGURA 2) e Urubici são os destinos do estado que tem mais ênfase nesta modalidade de turismo, que é praticado dentro de áreas rurais.

Figura 2 – Santa Rosa de Lima

Fonte: Costa e Vivian (2012, paginação irregular).

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Também usado como exemplo de turismo desenvolvido em territórios rurais, conforme Silva (2005), é possível citar a Associação Caminhos de Pedra, em São Pedro, Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul

(FIGURA 3). Isso porque após uma reflexão entre os integrantes da Associação, não se tem dúvidas sobre o crescimento econômico e motivação dos empreendedores e moradores locais por conta do setor turístico.

Figura 3 – Caminhos das Pedras – Bento Gonçalves

Fonte: Oliveira (2011, paginação irregular).

Neste século, segundo Candiotto (2007), a compreensão de turismo no meio rural carrega um forte caráter geográfico positivo, o que possibilita identificar situações variadas que comumente são notadas e vendidas como autênticas do rural. Quanto ao tema do turismo relacionado à ruralidade também é importante aludir ao que trata, no Brasil, a Lei 13171/20154, a qual retrata em território nacional as especificidades do segmento, de Turismo Rural (única segmentação turística com lei específica no Brasil), portanto confirmando relevância ao tratamento do tema ora suscitado por esta pesquisa. Mas, para além dos marcos referenciais e dos cenários, faz-se oportuna

a revisão da literatura acerca dos conceitos básicos do Turismo e da relação destes com a viabilidade turística em zonas rurais, conforme exposto a seguir. CONCEITOS BÁSICOS DO TURISMO E A RELAÇÃO DESTES COM A VIABILIDADE TURÍSTICA RURAL

Calatrava e Ruiz (1993) trazem à tona uma discussão, ainda oportuna atualmente, afirmando que simplicidade, espaços abertos, valorização do contato com a natureza, valores culturais e oportunidades de experiências são alguns dos elementos dotados de atratividade no meio rural. Contudo, para compreender melhor a viabilidade turística no meio 4 LEI 13171/2015 o item da atividade rural foi rural, primeiro é necessário entender o originalmente descrito como “o conjunto de conceito de produto turístico e o que ele atividades turísticas desenvolvidas no meio rural” e precisa para se tornar viável. De acordo alterado para “a exploração do turismo rural auxiliar com o Ministério do Turismo (MTur), a exploração agro econômica”.

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um produto turístico é “o conjunto de atrativos, equipamentos e serviços turísticos acrescidos de facilidades, localizados em um ou mais municípios, ofertado de forma organizada por um determinado preço” (BRASIL, 2007, p. 17). De acordo com Azevedo (2007), para que os produtos turísticos sejam viáveis se faz necessário ter benefícios locais, interligando, assim, os interesses entre autóctones e uma demanda em potencial de turismo. Portanto, para descobrir o que um produto turístico precisa para se tornar viável é fundamental entender em que consistem os atrativos turísticos. Para o MTur eles são compostos de “locais, objetos, equipamentos, pessoas, fenômenos, eventos ou manifestações capazes de motivar o deslocamento de pessoas para conhecê-los. Os atrativos turísticos podem ser naturais; culturais; atividades econômicas; eventos programados” (BRASIL, 2007, p. 27). Já para Inskeep (1991), um produto turístico viável não deve ser aplicado sem um planejamento adequado que seja tático, adaptado, interativo e amplo, com a intenção de compreender as proporções sociais, econômicas e físicas de cada país, região ou localidade, do mercado turístico, dos recursos específicos e das políticas. O planejamento turístico, neste contexto, surge com um papel de muita importância para que este desenvolvimento aconteça sem possíveis complicações locais. No mesmo sentido, Ruschmann (1997) acredita que o turismo, com o planejamento adequado, poderá prever e diminuir o nível de impactos negativos.

do total de turistas que se dirigem até determinada região, país, zona, centro turístico ou atrativo. Já a oferta analisa a quantidade de mercadorias e serviços que entra no mercado a um preço dado e tempo determinado. Em complemento, Castro (2002) acredita ser necessário ter em um destino turístico cadeia produtiva, composta por todas as etapas que envolvem um produto até o momento que chega ao consumidor. O autor parte do princípio de que a elaboração de um produto possa ser caracterizada como um sistema, que é conectado por diversos materiais, com o objetivo de atingir o mercado final com cada etapa deste sistema. De acordo Rushmann e Solha (2006), na cadeia produtiva voltada para o turismo é possível observar a conexão da atividade em diversos segmentos da área, que geralmente tem mais concentração na demanda e no consumo. Já para Santos e Souza (2010), para ser viável turisticamente, um ambiente na sua unidade deve apresentar características favoráveis de localização, clima, principais atividades da região, e oportunidades. Ainda ressalvam que se deve observar as ameaças. Assim, os autores ainda afirmam que em relação aos destinos turísticos são feitos planos de recomendações para garantir fatores condicionantes e de competitividade para o meio rural. Na generalidade, o estudo do que um produto turístico precisa para se tornar viável no meio rural é ligado à importância de fazer a relação entre turismo e as características dos territórios rurais, conforme exposto a seguir, com foco no contexto brasileiro.

Acerca da viabilidade turística, ainda importa aludir ao que expõe Boullón DISCUSSÕES CENTRADAS NO CENÁRIO (2002), quanto à relação oferta-demanda. BRASILEIRO Para este autor, um destino turístico precisa Na conjuntura brasileira, para ser ter oferta e demanda para ser viável, possível debater acerca de viabilidade no qual a demanda é a contabilização turística em territórios rurais, é relevante

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aludir ao que expõe o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o número de propriedades rurais neste País. O IBGE afirma que no Brasil existem mais de cinco milhões de propriedades rurais, “número que por si só já é maior que a população do nosso vizinho Uruguai (3,4 milhões de pessoas), por exemplo” (IBGE, 2017, paginação irregular). Nesse sentido, é de suma importância lembrar que o País possui quase a totalidade de seu extenso território situado em zonas tropical e subtropical e que detêm as maiores reserva de água doce do mundo, portanto indispensável

para a produção agropecuária o desenvolvimento de diversos cultivos, tão essencial na atualidade do país. Ainda segundo o IBGE, os municípios classificados como intermediários e os rurais estão bem distribuídos de forma relativamente uniforme no território nacional, comprovando sua diversidade em um país de dimensões continentais. A Figura 4 mostra a parte em cinza como território predominantemente urbano e a parte em verde como rural remoto, para que se possam observar as diferentes proporções.

Figura 4 – Tipologia municipal rural - urbano

Fonte: IBGE (2017, paginação irregular).

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No mesmo sentido, o então Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) 5 (BRASIL, 2018) afirmava que os territórios rurais seriam conceituados como espaços socialmente construídos, de manifestação de diversidades culturais e ambientais que apresentam limites e potenciais para o impulso do desenvolvimento rural sustentável, que é entendido como dimensões socioculturais, políticoinstitucional, econômica e ambiental. O MDA afirmava, ainda, que os territórios rurais deveriam buscar as práticas de valorização de atores sociais nos processos de elaboração de planejamentos, implantações e gestão dos territórios, considerando a diversidade de gênero, etnia, raça e geração do local.

no espaço rural, melhorando a renda e a qualidade de vida das populações rurais. Em complemento, Rodrigues (2000) afirma que a diversificação de renda do produtor, através da oferta de produtos e pela demanda urbana interessada pelos elementos culturais e naturais do meio rural visa um aumento do turismo em territórios rurais.

Já para Sampaio (2002), essas mudanças ocorridas no meio rural refletem na organização do trabalho familiar e na maneira diferente de viver da família rural. Assim, o produtor se adapta ao meio turístico, criando novas estratégias para garantir toda sua reprodução e entrar nas atividades de lazer e turismo. Bovo et al. (2006) ilustram algumas vantagens para o meio rural investir no turismo, entre elas: revitalização dos Relativamente ao turismo em tais espaços, inserção de pequenas propriedades territórios, Candiotto (2013) alega que o no mercado, emprego de mão de obra, fenômeno é um impulsionador de emprego dinamização econômica local, valorização e renda para as famílias agrícolas, pois o cultural e preservação do meio ambiente. espaço rural é visto como potencialmente Nesse contexto, faz-se oportuno sustentável com benefícios econômicos, suscitar o que expõe o IBGE em relação à conservação ambiental e recuperação classificação das zonas rurais brasileiras da valorização sociocultural das famílias (2017). Os municípios de grande extensão rurais. O autor afirma que perante as territorial, vistos como a maior parte urbana, dificuldades e a importância dos espaços devem ser analisados com cautela, pois, rurais do Brasil é essencial analisar os apesar de uma boa parte da população meios que possibilitam melhorar a vida se concentrar em uma área urbana, as do autóctone. Porém, é preciso, ainda, características locais são totalmente rurais. pensar em como estão sendo vistas as Perante isso, é relevante aludir a Teixeira experiências tidas, qual a viabilidade da e Souza (2012), os quais afirmam que o aplicação de projetos turísticos e o que turismo segue a introduzir as mudanças são estes territórios rurais. que pouco a pouco conduzem a memória Schneider (2004) assegura que alguns da sociedade global. Os espaços rurais, fatores sobre desenvolvimento rural são entre todos os outros espaços, são os mais causas da implantação turística, que leva a recentes no meio turístico. Surgem, assim, mudanças socioeconômicas e ambientais como possibilidade para os agricultores e para uma demanda em potencial que busca 5 O decreto nº 8.780, de 27 de maio de 2016, lazer em meio rural. Visto isso, a respeito da transferiu as competências do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que estavam segmentação de Turismo Rural, o Ministério com o Ministério do Desenvolvimento Social do Turismo (MTur) declara ser ela uma (MDS), para a Secretaria Especial de Agricultura forma de organizar o turismo para fins de Familiar e do Desenvolvimento Agrário da Casa planejamento, gestão e mercado. Civil da Presidência da República (Sead).

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Os segmentos turísticos (FIGURA 5) podem ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta, das características e variáveis da demanda. Nesse sentido, O MTur ainda reitera que “segmento do ponto de vista da demanda, é um grupo de clientes atuais e potenciais que

compartilham as mesmas características, necessidades, comportamento de compra ou padrões de consumo” (BRASIL, 2010, p. 61). A compilação dos segmentos e suas definições utilizadas no Brasil consta no Quadro 1.

Figura 5 – Segmentos para o desenvolvimento do turismo no Brasil

Fonte: Ministério do Turismo (Mtur) (BRASIL, 2010, p. 79).

Quadro 1 – Segmentações e suas definições

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SEGMENTAÇÕES

DEFINIÇÃO

Turismo Cultural 66

Compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura.

Turismo de Pesca

Compreende as atividades turísticas decorrentes da prática da pesca amadora.

Turismo Rural

É o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade.


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Ecoturismo

É um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações.

Turismo de Aventura

Compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e não competitivo.

Turismo Náutico

Caracteriza-se pela utilização de embarcações náuticas com a finalidade da movimentação turística.

Turismo de Sol e Praia

Constitui-se das atividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em praias, em função da presença conjunta de água, sol e calor.

Turismo de Estudos e Intercâmbio constitui-se da movimentação turística gerada por atividades e Turismo de Estudos e Intercâmbio programas de aprendizagem e vivências para fins de qualificação, ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal e profissional. Turismo de Negócios e Eventos

Compreende o conjunto de atividades turísticas decorrentes dos encontros de interesse profissional, associativo, institucional, de caráter comercial, promocional, técnico, científico e social.

Turismo de Esportes

Os movimentos turísticos decorrentes da prática de esportes, mesmo que de aventura, quando entendidas como competições, denominam-se modalidades esportivas e são tratadas no âmbito do segmento Turismo de Esportes.

Turismo de Saúde

Constitui-se das atividades turísticas decorrentes da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos. Fonte: Adaptado de MTur (2010).

A esse respeito, Ansarah (2005) declara que no meio turístico é preciso conhecer seus clientes e saber o que querem em uma viagem, aprender a passar confiança e disponibilidade dos produtos e serviços turísticos a demanda turística. Nesse contexto, no Brasil, foi gerado um processo de segmentação de demanda turística, que

motiva grupo de consumidores. Conforme esta teoria a autora afirma que na ruralidade são diversas as segmentações, entre elas: Turismo Cultural, Turismo Gastronômico, Agroturismo, Turismo Rural, Turismo Esportivo, Turismo de Negócios, Turismo de Pesca, Turismo de Aventura e Ecoturismo.

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Para que se possa melhor compreender a relação do turismo com territórios rurais, primeiro é preciso compreender a diferença entre Turismo no Espaço Rural, Turismo Rural e segmentações adjacentes. Logo, conforme o MTur, entende-se que Turismo no Espaço Rural é composto por todas atividades de lazer realizadas em um espaço que não seja urbano, definidas com base na oferta das segmentações “Turismo Rural, Turismo Ecológico ou Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo de Saúde, Turismo Cultural, Turismo Esportivo, atividades estas que se complementam ou não”. Já o Turismo Rural é “o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no espaço rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade.” (BRASIL, 2010, p.17).

O Mtur afirma, ainda, que o Turismo no Espaço Rural tem duas segmentações que merecem destaque, pois são bem representativas no Turismo Rural. A primeira delas é o Agroturismo, constituído por “atividades internas à propriedade, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam a fazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade.” A segunda é o Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF), que é “a atividade turística que ocorre no local de produção dos agricultores que mantêm as atividades econômicas típicas da agricultura familiar, dispostos a valorizar, respeitar e compartilhar seu modo de vida, ofertando produtos e serviços.” (BRASIL, 2010, p. 20). Conforme a teoria exposta segue diagrama que hierarquiza as segmentações do Turismo no Meio Rural (FIGURA 6).

Figura 6 – Representação do Turismo no Espaço Rural

Fonte: Ministério do Turismo (Mtur) (BRASIL, 2010, p. 22).

No contexto da teoria pregressa é oportuno aludir ao que afirma Veiga (2004), para quem mesmo com a globalização, a ruralidade dos países avançados não saiu de cena, e que a urbanização afetou positivamente a valorização do meio rural. Nos últimos vinte anos se vê, cada vez mais forte, a propensão pela ruralidade em todas

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as comunidades desenvolvidas, atração esta que vem do aumento da mobilidade. O autor ainda alega que foi crescente o interesse pelas áreas rurais, ou pelo desenvolvimento que elas poderiam ter em cultura, meio ambiente e crescimento econômico. Isto comprova que a ideia da completa urbanização estaria equivocada.


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Pelo exposto, percebe-se que o vício de resumir o rural ao agrário está no fim (ou deveria estar), uma vez que a ruralidade atual também preconiza, cada vez mais, a qualidade de vida amparada por aspectos da ruralidade, como também da globalização. Contudo, em face das grandes transformações que o Novo Coronavírus desencadeou a partir do primeiro semestre de 2020, é oportuno discutir o meio rural como um produto turístico, a partir deste novo cenário. REFLEXÕES ACERCA DO TURISMO EM ZONAS RURAIS A PARTIR DO CENÁRIO DE CRISE DE 2020

perspectivas para o Turismo desenvolvido em zonas rurais no Brasil indicam um cenário de recuperação, de forma gradual, especialmente mediante deslocamentos curtos e de menor duração de visitas, em destinos que possibilitem experiências ao ar livre, com menos propensão a aglomerações e maior segurança sanitária. De acordo com a Confederação Nacional de Municípios (CNM, 2020), o segmento de Turismo Rural é uma alternativa para o desenvolvimento e a valorização de espaços rurais e da produção associada ao turismo em relação a uma futura retomada do setor. A CNM indica que assim que liberadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as primeiras viagens serão domésticas e predominantemente feitas por malha viária, o que poderá fortalecer o turismo interno e, por conseguinte, as segmentações turísticas em territórios rurais. A Confederação ainda aponta que em face do período de isolamento e dos cuidados necessários, o desejo de viajar e estar conectado com os elementos naturais é potencializado, de modo que o Turismo Rural pode ser alavancado de maneira especial. Assim, acredita-se que a demanda estará disposta a consumir locais com apelo rural e que estará propensa a valorizar manifestações com foco na ruralidade. Para essa retomada das atividades, a Confederação Nacional de Municípios (CNM, 2020) reforça que será pleiteado um cuidado redobrado no cumprimento das exigências sanitárias, para que os atrativos possam toda a demanda reprimida de turistas.

Contemporaneamente, o turismo global foi um dos setores mais afetados pelo desencadeamento do Novo Coronavírus. Quanto a tal discussão, a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2020) afirma que da maior companhia aérea ao menor hotel em uma comunidade rural, o setor tem sido afetado pela crise. Houve uma redução de 60% a 80% no número de turistas internacionais em 2020, em decorrência da pandemia. A OMT também destaca a importância de restaurar a confiança dos viajantes por meio de protocolos de segurança e proteção planejados para reduzir riscos ao turista. Esses protocolos devem abranger medidas como verificação de temperatura, uso de máscaras, distanciamento físico, limpeza periódica dos locais, além de fornecimento de kits de higiene para viagens mais seguras. Há orientações de que o turismo seja evidencia nas políticas de reestabelecimento e nos planos de CONSIDERAÇÕES FINAIS ação, assim como, em longo prazo, haja Este trabalho centrou-se em estudar mais dedicação à contribuição do setor a viabilidade turística em territórios cuja para o cumprimento da Agenda de maior proporção seja considerada rural. Desenvolvimento Sustentável. Este estudo é voltado no contexto brasileiro Em conformidade com Organização atual, em cenário de crise relacionado ao Mundial do Turismo (OMT, 2020), as alastramento do Novo Coronavírus.

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Questionou-se como a atividade turística em territórios caracterizados como rurais pode ser viável nos próximos anos, especialmente a partir das mudanças de hábitos em virtude do Coronavírus. De uma maneira geral, foi constatado que o Turismo Rural pode se destacar nesse cenário pós-pandemia. Esse resultado alude ao que afirma a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2020), a qual aponta haver oportunidade de criar novas experiências de turismo, estimulando o turismo doméstico por meio de produtos segmentados e mais individualizados, mediante desenvolvimento do Ecoturismo, Turismo Cultural, Turismo Esportivo e do próprio Turismo Rural. O objetivo geral desta pesquisa buscou colaborar com o debate sobre a viabilidade turística em territórios que sejam predominantemente rurais o quem por consequência, poderá fornecer subsídios de planejamento turístico em tais recortes espaciais brasileiros. Este objetivo reporta à teoria de Inskeep (1991), o qual exalta a importância do planejamento turístico, para que o desenvolvimento do local aconteça sem futuras complicações. Tem-se que o objetivo geral deste trabalho foi alcançado, especialmente a partir da análise da teoria Calatrava e Ruiz (1993), as quais afirmam que a simplicidade, espaços abertos e valorização do contato com a natureza são alguns dos elementos de atratividade no meio rural. O que vai de acordo com a teoria da Confederação Nacional de Municípios (CNM, 2020), que afirma que em face do período de isolamento e dos cuidados necessários, o desejo de viajar e estar conectado com os elementos naturais é potencializado, de modo que o Turismo Rural pode ser alavancado de maneira especial nos próximos anos. Para continuidade dos estudos, é relevante avaliar como a atividade turística em territórios caracterizados como rurais poderá ser viável

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nos próximos anos, levando-se em conta as mudanças de hábitos que ainda ocorrerão em virtude do Novo Coronavírus. REFERÊNCIAS ANSARAH, M. Turismo e segmentação de mercado: novos segmentos. In: TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi et al (Ed). Análises regionais e globais do turismo brasileiro. São Paulo: Roca, 2005. AZEVEDO, L. Ecoturismo Indígena. Quito (EC): Abya-Yala, 2007. BIAZZO, P. Campo e rural, cidade e urbano: distinções necessárias para uma perspectiva crítica em geografia agrária. São Paulo, p. 132 – 248, 2008. BOULLÓN, R. Planejamento do Espaço Turístico. Campinas, SP, 2002. BOVO, C. LOGATTO, E. PIMENTEL, M. Turismo Rural e metodologia participativa – ferramentas eficientes para o trabalho da extensão rural em busca do DS: Congresso Internacional sobre Turismo Rural e Desenvolvimento Sustentável. Santa Maria, RS, 2006. BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), [S.l.]. 2018. Disponível em: <http://www.mda. g o v. b r / s i t e m d a / s e c r e t a r i a / s d t / apresenta%C3%A7%C3%A3o> Acesso em: 12 Jul. 2020. BRASIL, Ministério do Turismo. Destinos de referência em Turismo. Goiânia: Instituto Casa Brasil de Cultura, p.17-79, 2010. BRASIL, Ministério do Turismo. Programa de Regionalização do Turismo Roteiros do Brasil: Módulo Operacional 8 – Promoção e Apoio à Comercialização. Brasília: Ministério do Turismo, p. 17-27, 2007.


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