EDITORIAL
EXPEDIENTE Diretor Geral Robson Ramos de Aguiar CONSAD – Conselho Superior de Administração Titulares: Valdecir Barreros (Presidente); Aires Ademir Leal Clavel (Vice-Presidente); Esther Lopes (Secretária); Marcos Gomes Torres; José Erasmo Alves de Melo; Renato Wanderley de Souza Lima; Jorge Pereira da Silva; Andrea Rodrigues da Motta Sampaio; Cassiano Kuchenbecker Rosing; Luciana Campos de Oliveira Dias Suplentes: Eva Regina Pereira Ramão; Josué Gonzaga de Menezes Reitor Marcos Wesley da Silva Coordenador de Pesquisa e Pós- Graduação Stricto Sensu Edgar Zanini Timm Conselho Editorial Presidente: Marcos Wesley da Silva Vice-Presidente: Edgar Zanini Timm Conselho: Caroline Dani; Jose Clovis de Azevedo; Marlis Morosini Polidori Assistente Editorial: Ágata Cristina Silveira Pamplona Editor Executivo: Sergio Marcus Nogueira Tavares Conselho Editorial Editoras: Profa.Dra. Claudia Tacques Profa. Dra. Valéria Deluca Soares Coordenador Escola de Comunicação e Hospitalidade: Prof. Dr. Fabio Berti Editora Universitária Metodista IPA Rua Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80 Prédio A – Sala A001 – Rio Branco Capa e Projeto Gráfico: Thiago Wiedemann Diagramação: Juliane Lucca Multiverso Comunicação Integrada Rua Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80, Sala 13, Praça de Alimentação - Rio Branco multiverso@ipa.metodista.br multiversoipa.metodistadosul.edu.br
O Centro Universitário Metodista IPA, através da Revista Fólio, em sua 24ª edição, oferece à Comunidade Acadêmica e aos interessados artigos científicos produzidos por discentes e docentes dos cursos de Jornalismo, Turismo e Publicidade e Propaganda. Entretanto, essa edição é especial, pois a Fólio recebeu o qualis B2 – CAPES. As editoras e professoras doutoras Cláudia Tacques e Valéria Deluca desde que assumiram, no ano de 2016, a responsabilidade de manter em constante produção e divulgação essa revista, buscam a qualidade dos trabalhos apresentados. Fruto dessa dedicação e empenho a Revista Fólio passa por uma nova avaliação e sua alteração de categoria. O processo da cientificação é algo que deve ser instigado por todos os docentes para que a divulgação do conhecimento acadêmico transpasse os muros das Instituições de Ensino Superior (IES). É com este objetivo que as editoras estão constantemente em contato com outras universidades para que a troca de informações seja uma constância, pois não existem fronteiras para o saber. Nessa edição será apresentada uma entrevista realizada pela jornalista, professora doutora Sandra Bitencourt ao sociólogo espanhol Manuel Castells, conhecido pesquisador de movimentos sociais, que contribuíram para a transformação da sociedade contemporânea. Com o seu posicionamento teórico e contundente a respeito de temas atuais é possível compreender o cenário mundial. Na área do Turismo há o artigo intitulado: “Passado e presente – um comparativo do turismo acessível entre dois atrativos turísticos do município do Rio de Janeiro”, em que os autores abordam a acessibilidade de atrativos turísticos e a possibilidade de inclusão social em uma das cidades mais conhecidas mundialmente. Trazem a relação da acessibilidade e da inclusão como temas que provocam ao leitor uma reflexão sobre o outro. No artigo “Artefatos producentes e ativismo de Design: uma contribuição para o processo de difusão da cultura da sustentabilidade na moda” o leitor encontrará a cultura sustentável, através do Design Estratégico, em que o processo dessa cultura é apresentado pela comunicação digital. Um trabalho que busca mostrar como a sustentabilidade está inserida em vários âmbitos. Com a apresentação desses três trabalhos o leitor pode ter uma ideia do que encontrará nos demais artigos, visto que contribuem para a inovação do conhecimento, a transmissão da informação, bem como a propagação das pesquisas realizadas. O pensar, o refletir sobre temas atuais e, principalmente, escrevê-los ainda são práticas que necessitam ser estimuladas. A Revista Fólio procurou manter aberto o canal de comunicação e de difusão dos artigos recebidos, pois na visão das editoras a sistematização das produções contribuem para reflexões e debates sobre a atualidade, além de instigar o conhecimento. Desejamos a todos uma leitura prazerosa.
Editoras
SUMÁRIO 5
“O JORNALISMO PODE SER O CONTRA VENENO NA GALÁXIA DA MENTIRA”
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ARTEFATOS PRODUCENTES E ATIVISMO DE DESIGN: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O PROCESSO DE DIFUSÃO DA CULTURA DA SUSTENTABILIDADE NA MODA
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A HARMONIZAÇÃO DE VINHOS E ESPUMANTES COM TRUFAS ARTESANAIS COMO ESTRATÉGIA DE MARKETING
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DA TELONA PARA A TELINHA: CONSIDERACÕES SOBRE A RECEPÇÃO DA FINAL DO MASTERCHEF 2019 NO TWITTER
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JORNALISMO E TECNOLOGIA: NOVAS REALIDADES, FUNÇÕES E PROCESSOS MIDIÁTICOS DISTINTOS
NOVAS
PASSADO E PRESENTE – UM COMPARATIVO DO TURISMO ACESSÍVEL ENTRE DOIS ATRATIVOS TURÍSTICOS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
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O TECNÓLOGO EM GESTÃO DESPORTIVA E DE LAZER: UMA ANÁLISE DE PERFIL PROFISSIONAL E O MERCADO DE TRABALHO EM PORTO ALEGRE, NO OLHAR DO EGRESSO.
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HOTELARIA E SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO SOBRE OS MÉTODOS DE REDUÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL ADOTADOS POR HOSTELS DE PORTO ALEGRE – RS
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SURFE COMO POTENCIAL PRODUTO TURÍSTICO EM SURF CITIES: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE GAROPABA – SC
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RELEVÂNCIA DO TURISMO DE EVENTOS ESPORTIVOS PARA CIDADES DE PEQUENO PORTE: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE LAC-MÉGANTIC – CANADÁ
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“O Jornalismo pode ser o contra veneno na galáxia da Mentira”
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sociólogo espanhol Manuel Castells, um dos maiores pensadores mundiais na contemporaneidade visitou o Rio de janeiro em julho deste ano para participar do seminário “Educação, Cultura e Tecnologia: Escola do Século XXI”, promovido pela Prefeitura de Niterói, e para palestrar sobre “Comunicação, política e democracia”, na FGV. Na oportunidade, concedeu entrevista exclusiva para a professora da Escola de Comunicação e Hospitalidade do IPA e Diretora de Comunicação do Instituto Novos Paradigmas, Drª Sandra Bitencourt. Castells é um pioneiro na pesquisa sobre os reflexos da sociedade em rede na economia e nas sociabilidades em todo o mundo a partir do fenômeno da internet. Desde 1979, na Universidade da Califórnia (vizinho há décadas do Vale do Silício) é um estudioso das transformações do mundo proporcionadas pela web. Em seu último livro Ruptura, se debruça sobre a autodestruição do modelo democrático liberal, a derrocada dos partidos e a redução do papel dos meios de comunicação de massa ao entretenimento. Para o autor, o jornalismo seria o contraveneno ao ambiente tóxico de mentiras produzidas e disseminadas em proporções alarmantes, mas ao mesmo tempo sentencia que fora das redes, hoje, o discurso não existe. Abaixo, a reprodução da entrevista gravada e exibida para os alunos dos cursos de Jornalismo, Turismo e Publicidade e Propaganda. Sandra: Começo perguntando, o senhor afirma tanto no livro como nas entrevistas que deu, que dois terços das pessoas do mundo não acreditam em seus representantes. Ou seja, a questão da ruptura é que existe uma separação entre representantes e representados. Com o qual, essa é a grande crise, a mais profunda, porque a democracia como a conhecemos, a democracia liberal já estaria morta. O que te faz pensar isso? Castells: Bom, primeiro são dados, não é opinião. Quero dizer, este livro e toda uma parte da minha nova estratégia de publicação -- que é um livro pequeno e uma URL. Então, no livro, há uma referência para a URL, onde se encontra os dados de tudo que digo. Então, estes são dados de fontes distintas, World Economic Forum, Nações Unidas, o Latinobarómetro, o FBI. E todos coincidem. A média são ⅔ dos cidadãos. No Brasil são mais de 80%. Então, a situação já era ruim há 20, 15 anos, mas foi se deteriorando cada vez mais. A questão parte, de que há uma crise de legitimidade, medida em termo de opiniões, atitudes, pesquisas, estudos, mas logo, o que faço, é ver uma série de casos muito importantes, nos que já estamos falando de analisar comportamento político. Para ver se as atitudes se relacionam com as práticas políticas. E isso explica Trump, um dos meus estudos. Explica Brexit, na Europa. O porquê de um neo-fascista como Salvini, praticamente governa a Itália. Explica o Leste Europeu. Orbán, na Hungria, o presidente da Polônia, na Polônia. E explica a importância de um país tão democrático, como a França, a importância de um partido também neo-fascista como o Frente Nacional, que tem 23 ou 24% dos votos. E além disso, explica mais ainda e decomposição dos partidos. Na França já não há mais partidos políticos. Não há mais. Numa situação total de crise, surgiu um presidente, mais ou menos de centro-liberal, que ganhou porque todo mundo o apoiou contra o fascismo, e aí fez seu partido. Mas apenas 17% da população votou por ele. O que ocorreu, e é outra questão, é a abstenção massiva. As pessoas que não confiam e não pensam. Eu parto disso, e logo nessa transformação, nessa rejeição democrática a democracia liberal, porque se vota. Bolsonaro está
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diretamente alinhado a isso. E vamos por país em país no mundo, e o que encontramos? Os governos sólidos, e com confiança dos cidadãos, não são democráticos: Rússia e China. Sandra: Não é um paradoxo isso? Ou seja, não demonstra com os dados que as pessoas não acreditam mais nem na política nem nas instituições. Mas de certa maneira substitui por outro tipo de instituição. Porque aqui, se for ver, os índices de confiança, acreditam na igreja, no exército. Por que dentro deste… Castells: Não na igreja católica. Sandra: Não na igreja católica. São os neopentecostais. Castells: A igreja católica está destruída. Eu estudei a fundo a igreja católica na América Latina, onde era forte, e está em processo de destruição. Segundo os próprios dados da igreja católica, em 2040, vão ter mais evangélicos que católicos na América Latina. E aconteceu 20 anos. E por que? Porque é a instituição estabelecida. Em troca, não podemos dizer que desapareçam as igrejas, porque as igrejas evangélicas são mais importantes que nunca, estão crescendo cada dia mais. No Brasil e toda América Latina. Isso é um fator decisivo na política, porque são anti-estabelecimento e anti-elites tradicionais. Sandra: Então tem vantagem quem se apresenta fora da política, descolado dessas instituições. Mas em geral, são pessoas que assim se apresentam com um discurso de direita, com uma coisa mais de fascismo, ou não? Castells: Não, não é um discurso de direita. É um discurso contra as elites estabelecidas e tradicionais. Contra os partidos tradicionais. Qualquer líder que consiga visibilidade nas redessociais, sobretudo, não nos meios tradicionais de comunicação. Em todas essas campanhas que eu analisei, os meios são contra esses líderes anti-establishment. Ganham nas redes sociais, que é onde há uma expressão mais ampla, que é mais manipulada, mas ao mesmo tempo cada vez mais livre, porque os meios grandes de comunicação estão controlados pelos grupos financeiros que os possuem. Então não estamos em uma situação de direita ou esquerda, estamos numa situação de a crítica de todo o tradicional: a crítica dos partidos políticos estabelecidos, a crítica das elites políticas e culturais tradicionais. O que ocorre, é que em quase todos os casos, essa crítica contra o establishment, está apoiada pelos grupos econômicos mais importantes e tradicionais. Que viram que apoiar sistemas de democracia liberal tem muito perigo. No Brasil, perderam o poder durante muitos anos. E a mesma coisa nos Estados Unidos, com Obama perderam a capacidade de controle e então aí surge uma forma de ditadura sutil, que consiste em através da manipulação de informação e através da crítica de todo que existia como democracia liberal, consegue expressar o descontentamento das pessoas com os políticos e a política tradicional, ainda que paradoxalmente, eles se tornam políticos e entram no governo. Essa é grande parte da manipulação. Mas você disse muito bem: qualquer líder suficientemente apoiado, e com suficiente carisma ideológico que mobiliza contra os partidos tradicionais de direita ou esquerda, ganha. Um país atrás do outro. Continuamente. Sandra: Dentro dos sintomas que o senhor menciona sobre essas crises. As várias crises, dentro desta mais profunda, está o assunto desse universo de comunicação dominado pela mentira. Qual o papel do jornalismo, em sua opinião, ou mesmo da comunicação governamental mais organizada, nesse ambiente tóxico?
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Castells: A princípio, um dos contravenenos nessa campanha de intoxicação massiva, poderia ser o jornalismo profissional. Digo “podia ser”, porque na prática, o jornalismo tradicional, está muito mediatizado pelos interesses financeiros e políticos dos proprietários dos meios de comunicação. Então os jornalistas -- sempre digo que os jornalistas profissionais são heróis cotidianos, porque mantém sua ética profissional, tentam desmentir o que está acontecendo, tratam de reportar os fatos, e os despedem. Colocam seu posto de trabalho em jogo todo dia. Dependendo do que a empresa pensa, interessa ou não interessa. Hoje, os grandes meios, os grandes grupos midiáticos, incluindo o Brasil, não estão atacando diretamente todas instituições. À medida que estas tendências de distintos tipos antidemocráticos vão tomando controle dos governos -- e em grande parte, dos grupos financeiros que os apoiam -- nessa medida, os meios de comunicação, que sempre são sensíveis ao poder, vão evoluindo para não ser demasiadamente críticos, porque podem ter muitos problemas. então, hoje os grandes meios ainda não formam parte desse bloco antidemocrático. E isso permite que os jornalistas façam jornalismo investigativo, ajudar, denunciar. Mas o espaço é cada vez mais reduzido. Porque um estado forte tem muitas formas de controlar, reprimir, e no fundo, intimidar Sandra: Mas de outro lado, não tem mais credibilidade. As pessoas suspeitam muito dos grandes meios. E também o atacam, ou identificam como fazendo parte dessas elites. Castells: Tradicionalmente formava parte das instituições centrais da sociedade. Então, se tomarmos a hipótese central, que está em parte verificada não só por dados de opinião, mas por observação de processos políticos em todo mundo. E inclusive, metodologicamente, como você sabe, algo que em contexto diferente, reproduz o mesmo processo, quer dizer que é estrutural, não apenas problema de um país ou outro. Bom, se tem possibilidade de acreditar nessa hipótese central, há que explicar o porquê. E o fundamental é que a construção do comportamento, como demonstra a neurociência social, é emocional, não racional. Isso está demonstrado na neurociência hoje em dia. Somos animais emocionais, não racionais. Reagimos de acordo com nossas emoções, e logo, racionalizamos o que queremos. Isso na comunicação política de todo mundo, um dado fundamental é que as pessoas assistem os programas de televisão que sabem que estão de acordo com eles. Leem os jornais que sabem que estarão de acordo com eles. E muito mais importante: vão às redes sociais para se informarem. E vão aos grupos que sabem que estão de acordo com eles. Portanto, há uma fragmentação total. Não há comunicação de massa, há o que eu chamo de “autocomunicação de massa”. É um conceito que propûs há uns anos, porque é de massas, pois se difunde massivamente, porque todo mundo pode acessar -- muito mais que os meios tradicionais de comunicação -- todo mundo pode entrar na internet, informarse do que quiser, expressar o que quiser, não há monopólio da expressão da opinião. Todo mundo pode fazer seu editorial, todo mundo pode ter no YouTube, seu próprio canal de televisão. Há uma difusão total da capacidade de intervir na galáxia de informações, portanto isso é “auto”, e é de massas. Mas ao ser “auto”, fragmenta totalmente a opinião e o comportamento e permite que grupos e redes organizadas, muito mais fortes sofisticadas, com mais recursos, controlem o debate e consigam com que as pessoas recebam as mensagens que querem receber e que seus cérebros bloqueiem as outras. Ou seja, a manipulação não consiste em lavagem cerebral, consiste em ativar certas imagens e certas opiniões que todos temos, mas que alguns controlam com outro tipo de educação, de experiência, de história… E que quando há um sistema em que vale tudo, então se pode duvidar da ciência, se pode pensar que vacinas são nocivas, podem pensar porque as mulheres têm direitos? Historicamente não tinham. Por que teriam agora? Se pode pensar que os animais servem para que os matemos e torturemos. Se pode pensar que a crise climática é uma invenção ideológica da esquerda… Se pode pensar o que quiser, porque há todas opiniões e tudo o que é ignorância, se expressa com mais força e grande capacidade técnica de
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comunicação, num cenário em que ninguém se informa nos grandes meios de comunicação -- que agora são puramente entretenimento. São telenovelas, programas de cinema… Mas já não são programas informativos com credibilidade, porque só coincidem com o que as pessoas querem saber do mundo através de sua própria opinião. Sandra: E há como disputar isso? Porque havia toda uma esperança com a internet como algo virtuoso que poderia ajudar a superar os déficits democráticos, levar as vozes periféricas que não podiam se expressar… Castells: Mas segue sendo isso! Sandra: Segue sendo, mas de uma maneira muito material se vê que o uso das redes ou dessas lógicas, ajudam inclusive a tornar a democracia mais fraca e a atacar a democracia... Castells: A democracia liberal… Sandra: A democracia liberal, ou como a conhecemos, com o histórico material que temos Castells: A segunda questão é, eu acredito que há possibilidade que vão surgindo de reconstruir outras formas democráticas. Mas sim, o que dissestes é a chave. Digamos que nos enganamos, eu inclusive, em uma questão. Internet é claramente a tecnologia da autonomia e liberdade e ampliou a capacidade de todos humanos de organizar-se e expressar-se. O que não tomamos em conta, é que a liberdade, é liberdade de expressão para todo mundo. E que tinham e têm muitos humanos que não são favoráveis aos grandes valores universais éticos, morais, democráticos e políticos que muito defendemos. Então ao abrir essa Caixa de Pandora da liberdade de todos se expressarem, há uma contradição entre liberdade e democracia. Quanto mais livres as pessoas, quanto menos constrangidas estão com as instituições negociadas e discutidas, é um oceano infinito em que tudo vale e a capacidade de manipulação é a que ganha, não a capacidade de um processo democraticamente estabelecido, mesmo com todos os limites que conhecemos da democracia liberal. Mas é certo que a internet, neste momento é ao mesmo tempo instrumento de liberdade de expressão das minorias oprimidas, dos movimentos sociais, de mulheres. É isso e é todo o contrário. E agora, o que estamos vendo, é que “todo contrário”, tem mais peso. Sandra: E a partir do ponto de vista da política, o senhor faz parte do conselho do Instituto Novos Paradigmas, junto com outros intelectuais como Boaventura de Souza Santos, Pillar del Río, Baltasar Garzon… Para o senhor, este tipo de organização, de movimento, que não obedece uma lógica partidária, senão que tenta buscar a reflexão e novos paradigmas para a política e democracia, é importante para fazer essa disputa? Castells: É fundamental. Absolutamente fundamental. Veja, o que muda o mundo são ideias, sempre. Em bom e mau sentido. As ideias levam o poder. Porque o poder está na mente das pessoas e a mente das pessoas podem ser transformadas, desenvolvidas, manipuladas, com base em ideias. Então é claro que os partidos tradicionais estão piorados, totalmente e em todos os lugares. Na Europa a grande social democracia desapareceu, salvo em Portugal e Espanha. E na Espanha esteve a ponto de desaparecer, até que Pedro Sánchez começou a reconstrui-la. Mas a estavam liquidando. Suécia talvez… Mas em geral, a social democracia, o grande ator político das reformas sociais e políticas da Europa desapareceu. Em grande parte. Não França não há mais… França, o país da república, das liberdades… Itália, nada… E país por país, na América Latina também,
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vemos que os partidos tradicionais colapsaram sistematicamente em todo o continente. Vamos de país em país e podemos rapidamente entrar de acordo… Bom, algo acontece, algo estrutural. Então tudo que seja tentar repensar, reconstruir a partir de uma situação partidária, está fadada ao fracasso. Porque sequer tem credibilidade ou legitimidade. Portanto, eu estou apoiando o Instituto Novos Paradigmas, porque deve ser a partir de um compromisso de mudança social e política, com valores humanos e universais, mas sem estar ligado a nenhum aparelho partidário. Isso é absolutamente indispensável. A questão é entender e praticar que não basta formular análises melhores -- que devem ser feitas -- ou propor políticas mais criativas, que se adaptem a sociedade atual, se não que sejamos capazes, como Instituto Novos Paradigmas de intervir de forma eficaz na esfera da comunicação. E fundamentalmente pensar que os artigos, os grandes meios de comunicação, ou as boas entrevistas e programas de televisão são muito secundários. Ou aprendemos a difundir e debater nossas ideias nas redes sociais, ou estamos perdidos. Porque no século XXI, e no futuro, as redes sociais que vão mudar evoluir e se tornar mais complexas, são as esferas da comunicação. E depois temos grandes meios para o entretenimento. Então não basta pensar e elaborar, é preciso ser capaz de comunicar. E, portanto a comunicação é o mais importante. Sandra: Muito obrigada!
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ARTEFATOS PRODUCENTES E ATIVISMO DE DESIGN: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O PROCESSO DE DIFUSÃO DA CULTURA DA SUSTENTABILIDADE NA MODA PRODUCTIVE ARTIFACTS AND DESIGN ACTIVISM: A CONTRIBUTION TO THE DIFFUSION PROCESS OF FASHION SUSTAINABILITY CULTURE
Deise da Luz Santos1 Karine de Mello Freire2
RESUMO: Este estudo apresenta uma cartografia dos processos de difusão da cultura da sustentabilidade na moda por meio do Design Estratégico. A aproximação da comunicação digital com o ativismo de design molda a cocriação de artefatos producentes circulados através de uma pesquisa-intervenção realizada no Ecossistema da Moda Sustentável do RS. Como resultados cartográficos, desenharam-se quatro tramas que conectam diferentes atores e aspectos da difusão da cultura da sustentabilidade em prol da inovação sociocultural. Palavras chave: Design Estratégico. Comunicação Digital. Ativismo de Design. Artefatos Producentes. ABSTRACT: This study presents a cartography about the diffusion processes of the fashion sustainability culture through Strategic Design. The approach of digital communication with design activism shapes the co-creation of productive artifacts circulated through an intervention research conducted in the Sustainable Fashion Ecosystem of Rio Grande do Sul. As cartographic results, we draw four plots that connect different actors and aspects of the diffusion of sustainability culture in favor of sociocultural innovation. Keywords: Strategic Design. Digital Communication. Design Activism. Productive Artifacts.
1 Deise da Luz é Mestre em Design Estratégico pela Unisinos, Professora na FACS – Faculdade de Comunicação Social da UniRitter e Consultora de Comunicação Digital. Contato: deise.santos@uniritter.edu.br 2 Karine Freire é Doutora em Design pela PUC-RJ e Coordenadora do PPG em Design da Unisinos. Contato: kmfreire@ unisinos.br
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INTRODUÇÃO odemos observar que a comunicação digital democratizou e acelerou o processo social para que demandas emergentes sejam reconhecidas como pautas estratégicas em diferentes tipos de organizações. Um exemplo é a recente problematização sobre a moda rápida, mais conhecida como fast fashion, que através do movimento global Fashion Revolution ganhou força e visibilidade, mexendo com os padrões da indústria da moda em todas as esferas: da produção ao consumo. O Movimento Fashion Revolution incentiva maior transparência, sustentabilidade e ética na indústria da moda. Seu propósito é a união de pessoas em prol da revolução para mudar radicalmente o modo como roupas são produzidas e consumidas, para que elas sejam feitas de maneira segura, limpa e justa, através da conscientização, mobilização e educação. O Movimento foi criado após o desabamento do Rana Plaza, que abrigava confecções de roupas em Bangladesh, no dia 24 de abril de 2013, deixando mais de 1.134 mortos e 2.500 feridos. Presente em 92 países, o Fashion Revolution desenvolve ações mobilizadoras e incentiva os consumidores a questionarem suas marcas favoritas, convidando-os à reflexão através da hashtag3 #quemfezminhasroupas? A transição rumo à sustentabilidade requer um processo de aprendizagem social que depende da abertura e flexibilidade no que tange aos processos inerentes ao desenvolvimento de iniciativas e ações. O aprendizado social acontece a partir de colaborações e trocas entre os pares. Colaborações e trocas que costumam acontecer, primeiro, de forma local, através de comunidades criativas que desempenham um papel importante na construção de soluções. (MANZINI, 2008). Nesse sentido, a iniciativa estudada é o Ecossistema da Moda Sustentável do RS, que nasceu com o objetivo de unir esforços para fortalecer e difundir a cultura da sustentabilidade na moda no estado do
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3 Uma palavra ou frase precedida por um sinal de hash (#), usado em sites e aplicativos de mídia social, especialmente no Twitter, para identificar mensagens sobre um tópico específico. Fonte: https:// en.oxforddictionaries.com/definition/hashtag.
Rio Grande do Sul. O Ecossistema pode ser interpretado como um projeto de Design Estratégico, cujas características estão relacionadas com a noção de Franzato et al. (2015) sobre ecossistemas criativos: são ecossistemas socioculturais em que diferentes atores interagem entre si, através de processos mais ou menos estruturados, resultando em dispositivos sociotécnicos capazes de gerar mudanças sociais e culturais. Essa noção foi construída com base nos estudos da comunidade científica do Politécnico de Milão que apresenta a evolução do design, deixando de ser solucionador de problemas e atuando como produtor de sentido. A produção de sentido está relacionada com a capacidade do design em estabelecer estratégias capazes de orientar ações organizacionais em direção à inovação e sustentabilidade. Essas estratégias envolvem todo o ecossistema de atuação (designers, empresas, sociedade e meio-ambiente) por meio de um processo de codesign. (MERONI, 2008; ZURLO, 2010). O Movimento Fashion Revolution utiliza o ambiente digital para ativar suas ideias e ações através do uso de artefatos de design, como ambientes educativos, cards e hashtags. Inspirada nessas estratégias, esta pesquisa trata-se de uma cartografia dos processos de difusão da cultura da sustentabilidade na moda, cujo objetivo é mapear as tramas da comunicação capazes de gerar laços sociais fortes e fracos em benefício da moda sustentável. A pesquisa considera as iniciativas a partir do núcleo da própria sociedade como plano de fundo e base estratégica para as mudanças no sistema moda. Para tanto, encontramos na cartografia caminhos metodológicos pertinentes, tomando a experimentação como base de observação. Esse estudo configura-se como uma pesquisa-intervenção com carácter exploratório, através de um estudo empírico indutivo, que se propõe a mapear processos que possam nortear outros coletivos de moda a partir do Design Estratégico. As intervenções e o mapeamento dos processos foram realizados em territórios estratégicos, projetados através da co-criação com os atores
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do Ecossistema. A cartografia, enquanto metodologia de pesquisa apropriada para as ciências sociais é interpretada a partir das sete pistas propostas por Passos, Kastrup e Escóssia (2015): atenção cartográfica; acompanhamento de processos; delimitação de territórios; uso de dispositivos; coletivo como plano de experiência; realização de pesquisa intervenção e dissolvência do ponto de vista do observador. Vamos agora entender os caminhos teóricos que acompanharam o processo de pesquisa, dando embasamento para o desenho das tramas de conexão apresentadas como resultados. CULTURA DA PARTICIPAÇÃO E ATIVISMO DE DESIGN A apropriação dos sites de redes sociais como ferramentas de comunicação humana popularizou-se mundialmente a partir dos anos 2000. Uma característica dessa cultura é a prática diária do uso de computadores, notebooks e celulares para a troca de ideias e conexão com outras pessoas, em que a tecnologia propicia espaços conversacionais, ou seja, espaços de interações com outros indivíduos. Esses novos tipos de conversações, mais públicas, permanentes e rastreáveis, podem ser chamadas de conversações em rede. As redes se formam na medida em que existe interação entre as pessoas, trazendo informações sobre sentimentos coletivos, tendências, interesses e intenções de grandes e pequenos grupos. Essas conversas públicas e coletivas influenciam a cultura através da construção de fenômenos, propagação de informações, debates e organização de protestos, críticas e acompanhamento de ações políticas e públicas. Esses fenômenos dependem da intensidade dos laços sociais estabelecidos nas redes. (RECUERO, 2014). Os laços sociais na internet podem ser fortes ou fracos. Laços fortes são aqueles que se caracterizam pela intimidade, proximidade e intencionalidade de manter uma conexão entre pessoas, podendo ser observados através de conversas mais formalizadas nos ambientes digitais, como mensagens inbox,
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comentários com respostas em redes sociais e blogs. Já os laços fracos são percebidos por relações esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade, como o caso dos likes tão conhecidos nas redes sociais. (RECUERO, 2009). “Laços fortes constituem-se em vias mais amplas e concretas para as trocas sociais, enquanto os fracos possuem trocas mais difusas”. (RECUERO, 2009, p. 41). É importante, porém, problematizar a denominação de laços fortes e fracos que, apesar de popular, pode ser reducionista, levando-nos a acreditar que um laço será sempre forte ou sempre fraco. Quando, na realidade, os níveis dos laços dependem do tempo e da quantidade de interação investida no contexto, podendo variar entre forte e fraco. (RECUERO, 2009). A mudança comunicacional caracteriza um movimento na direção de um modelo mais participativo de cultura, em que o público deixa de ser um mero espectador de mensagens pré-definidas e passa a ser atuante na criação, produção, reconfiguração e compartilhamento de conteúdo midiático, fazendo isso em rede, de forma globalizada, sem a barreira do espaço geográfico. Esse modelo subverte a lógica do que conhecemos até hoje em relação à participação da sociedade na produção de cultura. (JENKINS, 2014). As redes sociais digitais oferecem muitas possibilidades de modos de estar junto, contribuindo para que ações ativistas de rua sejam coordenadas e estimuladas através da internet, causando a aceleração na forma como nos manifestamos, muitas vezes efemeramente e sobrepondo as novas informações em relação às antigas. Essa efemeridade pode ser percebida como a forma de vida própria das redes sociais digitais, uma sociabilidade baseada na celeridade. O ativismo em rede carrega características muito fortes: grupos e comunidades virtuais focados em interesses, ideologias e práticas comuns. O aprimoramento técnico da web permite com que usuários possam se conectar entre si, fazendo com que o ativismo se multiplique e se intensifique, valorizando o discurso das minorias. As minorias tem um papel muito importante de ativar atos de rua que podem acontecer de forma isolada ou
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aglomerada. Essas manifestações acontecem porque sem intermediários é possível exprimir os sentimentos de forma mais livre, sem a necessidade de depender de uma entidade para se expressar. Essa comunicação acaba explodindo falas silenciadas. (MALINI, 2017). Nesse sentido, a produção ativista pode estar relacionada com a produção de cultura, que é resultado de recursos culturais gerados a partir da participação das pessoas. Esses recursos são as válvulas que possibilitam com que cada comunidade contribua com o significado cultural que determinado artefato irá carregar. Os conteúdos producentes, que são aqueles conteúdos que caracteristicamente permitem a participação dos públicos, fandoms, ou ativistas, na geração de seus efeitos de sentido, possibilitam produções populares, pois deixam pontas soltas, que serão amarradas a partir da interpretação e da co-criação dos públicos. (JENKINS, 2014). A aproximação entre ativismo e design nasce a partir da concepção de que o ativismo, como propulsor de mudanças sociais, culturais e políticas, estimula o questionamento em relação ao futuro com a seguinte pergunta: em que tipo de sociedade nós queremos viver? E é nessa projetação de futuros que entra o pensamento de design, capaz de contribuir com caminhos responsáveis por causar o bem para a sociedade e para o planeta. Podendo, o ativismo de design, ser descrito da seguinte forma: “o ativismo de design é pensamento de design, imaginação e prática aplicada conscientemente ou inconscientemente para criar uma contra narrativa destinada a gerar e equilibrar mudanças sociais, institucionais, ambientais e / ou econômicas positivas”. (FUAD-LUKE, 2009, p. 27). Ativistas de design podem, a partir de suas habilidades, projetar os caminhos futuros da sociedade e do planeta. Entendemos essa tarefa como necessária quando observamos as atuais agendas públicas em relação ao desenfreado desgaste de recursos sociais, ambientais e econômicos causados pelo fenômeno da globalização. São nessas esferas que existem possibilidades de mudança, possibilidades de introdução de um novo modo
de ver e de viver o mundo, descontinuando sistemas estabelecidos em benefício de uma sociedade mais sustentável. Para Fuad-Luke (2009), o designer ativista pode interferir no funcionamento desses fluxos, e isso significa dizer que ele pode atuar promovendo mudanças culturais e sociais. É importante, porém, apontar que o ativismo de design é uma ação colaborativa, que parte do princípio do codesign. Codesign é uma prática da cultura de design importante na projetação de artefatos: “a premissa subjacente do codesign é baseada no conceito de que as pessoas que usam um artefato projetado têm o direito de ter voz para determinar como esse artefato é projetado”. (FUAD-LUKE, 2009, p. 147). Na tentativa de aproximar a cultura da participação pautada por Jenkins (2014) com o ativismo de design, entendemos que artefatos projetados através de um processo de codesign e inseridos no contexto da comunicação digital, podem ser considerados artefatos producentes, ou seja, artefatos que contribuem para que diferentes atores participem da identificação do problema e da criação de possíveis soluções, aumentando as chances da efetividade dos projetos. CULTURA DA SUSTENTABILIDADE NA MODA A indústria da moda transformou-se, ao longo dos anos, em grande responsável por problemas ambientais e sociais relacionados ao consumo de roupas. A revolução industrial possibilitou a ascensão da produção e a democratização dos preços, a partir da metade do século passado, tornando a moda parte relevante do cotidiano da sociedade. Nos últimos anos, o fast fashion tomou conta dos desfiles e das vitrines, fazendo com que as pessoas comprem novas roupas e acessórios a cada coleção ou troca de estação, sendo, a maioria delas, alheias aos problemas causados pelo excesso desse consumo. (FLETCHER; GROSE, 2011). Outra alavanca para a aceleração da produção e do consumo surge com a
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instantaneidade dos meios de comunicação atuais, em que o sapato ou a peça de roupa de uma celebridade, postados nas mídias sociais, vira objeto de desejo em questão de segundos, instigando os varejistas a terem sempre disponíveis novos produtos em um curto período de tempo. Para atender essa demanda, as marcas lançam, atualmente, em média 10 coleções por ano, sendo no caso da marca Zara, por exemplo, de duas em duas semanas. (PINTO; SOUZA, 2015). Porém, assim como nas demais indústrias, a moda passa por um período de emergente reinvenção, em que não se pode mais negligenciar a responsabilidade que as marcas e as pessoas precisam ter com o meio ambiente e com questões sociais. Nesse sentido, muda também o papel dos designers, que são incumbidos de projetar novos sentidos para os produtos, capazes de causar ressignificação na relação das pessoas com as roupas, contribuindo para a cultura da sustentabilidade. A indústria têxtil impacta significativamente o planeta com a degradação de recursos naturais, em função da extração e utilização de matéria-prima para a confecção de roupas e acessórios. Confecções que são aceleradas no intuito de cumprir as agendas da moda pautadas pela concorrência de mercado, fazendo com que muitas pessoas tenham condições injustas de trabalho, como os locais impróprios e a carga horária aumentada em função da demanda. A falta de regras e leis mais acentuadas para garantir a decência e a transparência do setor é observada em diversos países. Acredita-se que uma mudança sistêmica para com essas questões pode proporcionar um desenvolvimento econômico mais sustentável, no viés do trabalho justo e respeito ao meio ambiente, atualizando o sistema atual instituído desde meados do século passado. A cultura da sustentabilidade na moda perpassa alguns valores relacionados ao consumo, fartura, conveniência e identidade. A proposta é que possa acontecer uma ressignificação desses valores por parte da humanidade. Nesse sentido, o consumo pode
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ser substituído pelo valor do cuidado, a fartura entendida como a possibilidade de reciclar e reutilizar materiais, a conveniência relacionarse com a colaboração e equilíbrio entre atores, organizações e marcas, e a identidade subverter a lógica individualista e instituir-se com o aumento dos relacionamentos ocorridos a partir dos demais valores. Esses valores podem ser entendidos e transmitidos através do conceito de mentalidade lenta. A mentalidade lenta figura como evolução do sistema atual, que opera no âmbito do fast fashion. Nesse sentido, podemos entender que a cultura da sustentabilidade na moda tem como base a mudança de mentalidade através do aprendizado social, percorrendo o movimento slow fashion. (FLETCHER; GROSE, 2011). HASHTAG #MODAMUDAMUNDO COMO ARTEFATO PRODUCENTE Essa pesquisa trata-se de uma pesquisaintervenção realizada no Ecossistema da Moda Sustentável do RS. O Ecossistema nasceu da necessidade de gerar inovação e colaboração entre os atores da cadeia da moda gaúcha, sendo eles estilistas de marcas locais, pesquisadores, ativistas, institutos ligados à indústria da moda e comunidade. O Ecossistema é um projeto experimental que funciona através de encontros mensais, ativações oportunas espalhadas pela cidade, como a participação na Virada Sustentável e Semana Fashion Revolution e, a partir de outubro de 2018, funciona também em um espaço físico para cursos, palestras, showroom e encontros colaborativos. O espaço físico está situado no Vila Flores, um complexo arquitetônico listado no Inventário do Patrimônio Cultural de Bens Imóveis do Bairro Floresta, classificado como imóvel de estruturação e situado em área de interesse cultural de Porto Alegre. A pesquisa-intervenção aconteceu a partir da cocriação de artefatos producentes pelos atores do Ecossistema. Cocriação que resultou em postais criados por artistas de Porto Alegre, cuja principal mensagem era para que as pessoas contassem a sua forma de mudar o mundo através da moda, utilizando a hashtag #modamudamundo. Foi a partir da circulação
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desses postais em diferentes territórios ao longo do ano de 2018 que as publicações com a hashtag começaram a surgir. O mapeamento das publicações é o principal território de observação dessa pesquisa. A hashtag #modamudamundo serviu de ponto de encontro e disseminação de relatos pessoais. Ao longo do processo de pesquisa de campo, podemos perceber que a utilização da hashtag aconteceu de forma orgânica, sem que pudéssemos saber se as pessoas estavam ativando suas redes e utilizando as hashtags a partir do contato com os postais ou não. Esse fenômeno foi interpretado como positivo, pois o objetivo principal, que é contribuir com a difusão da cultura da sustentabilidade na moda, parece ter sido cumprido a partir da disseminação e
engajamento orgânicos observados. Portanto, a contabilização do uso dos postais não é nosso foco nesta pesquisa, mas sim os efeitos gerados a partir das publicações feitas com a #modamudamundo e seus cruzamentos com os demais territórios percorridos. Nosso levantamento de dados aconteceu de forma exploratória, num processo cartográfico que conectou pontos percebidos ao longo do percurso, como se um mapa estivesse sendo desenhado e as informações mais importantes estivessem, nesse momento, sendo priorizadas. O intuito também não foi contabilizar o número de likes de cada publicação e nem a quantidade de vezes que a mesma pessoa publicou.
Figura 1 - Ativação na Virada Sustentável e Semana Fashion Revolution 2018
Fonte: Compilação da autora4 4 Montagem a partir de imagens coletadas pelo fotógrafo Cereca (2018) e compartilhadas na pasta do Google Drive do Ecossistema da Moda Sustentável do RS.
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A hashtag foi acompanhada através da rede social Instagram5. A escolha dessa ferramenta aconteceu pela proximidade com o segmento da moda, por ser propícia para a publicação de conteúdos que correspondem à micro momentos das pessoas, além de oferecer a possibilidade de seguir hashtags, ou seja, seu algoritmo é otimizado para que facilmente as pessoas possam encontrar temáticas que lhes agradem, podendo seguir essas temáticas através do uso de hashtags. Essa rede, por também oferecer um ambiente de interação mútua (conversação), pode ser considerada uma rede social multiplexa, que segundo Recuero (2009), são as redes que possibilitam o acontecimento de diferentes tipos de laços, potencializando as chances de gerar vínculos fortes. É nessa perspectiva que tivemos a hashtag #modamudamundo como ponto de partida para nossa análise. A partir dos percursos dessas análises, foram desenhadas as tramas cartográficas que serão agora apresentadas.
Figura 2 - Ativistas e Diálogos Estratégicos
Fonte: Elaborada pela autora com base nas publicações feitas com a #modamudamundo. 5 Instagram é uma rede social online de compartilhamento de fotos e vídeos entre seus usuários, que permite aplicar filtros digitais e compartilhá-los em uma variedade de serviços de redes sociais, como Facebook, Twitter, Tumblr e Flickr. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Instagram. Recentemente, a rede social passou a usar e permitir a funcionalidade de seguir hashtags.
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A primeira trama identificada é a conexão das ativistas da moda sustentável com a ação proposta pelo Ecossistema. Ativistas que foram reconhecidas por suas atuações em diferentes territórios ao longo do ano de 2018, como espaços de fala e articulação de eventos relacionados à moda sustentável. Mulheres que já exerciam um trabalho de ativação e que viram na iniciativa do Ecossistema, através do uso da hashtag #modamudamundo, mais um formato de repercurssão. A evolução aconteceu quando essas ativistas uniram seus conhecimentos de design com as suas ações, sendo capazes de promover diálogos estratégicos através de suas capacidades de recombinação de recursos e alcance, geralmente naturais de quem assume esse posicionamento e papel na sociedade (Figura 2). Ao longo dos percursos observados destacamos, então, as ativistas como importantes difusoras da cultura da sustentabilidade através da educação sobre sustentabilidade na moda, promovendo a conscientização social sobre o tema.
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A segunda trama é denominada Questionamento e Conscientização, e está relacionada com a percepção de que diálogos estratégicos projetados por meio do ativismo de design podem estimular a cultura da participação através de artefatos producentes. Esses artefatos podem ser cocriados e circulados por diferentes atores do Ecossistema, como as ativistas de moda sustentável, as instituições de ensino, os estudantes e as marcas. Essa fusão amplia a capacidade do alcance do questionamento proposto. A ampliação do alcance contribui com a formação de vínculos fortes e fracos por meio de ecossistemas criativos, oportunizando a difusão da cultura da
sustentabilidade na moda. Essa circulação gera novas conexões e novas relações sociais através das redes sociais da internet, estabelecendo laços associativos capazes de equilibrar o nível dos vínculos entre fortes e fracos. Os laços fracos, característicos das relações ocorridas das redes sociais, são importantes conectores de laços fortes. Esse fenômeno foi percebido através do engajamento social para com a circulação de conteúdos e envolvimento com a Semana Fashion Revolution, em que atores se vincularam ao Ecossistema com diferentes níveis de envolvimento (Figura 3).
Figura 3 - Questionamento e Conscientização
Fonte: Elaborada pela autora com base nas publicações feitas com a #modamudamundo.
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A terceira trama, intitulada Reaproveitamento e Coalisão de Design, sugere que os artefatos producentes circulados por meio das redes sociais da internet, nesse caso, as hashtags em conjunto com texto e imagem, podem servir como canal de mapeamento de temáticas, para que um processo de coalizão de design pode ser iniciado. A coalizão de design acontece através de redes de design em que atores colaboram para alcançar resultados comuns, compartilhando uma visão sobre o que fazer e como, e decidem fazê-lo em conjunto. As redes podem ser formadas por design difuso e design especializado. O design difuso é realizado por não especialistas em design que possuem capacidades naturais para o design, podendo ser organizações de base e ativistas culturais, ao passo que o design especializado é concebido por pessoas formadas para atuarem profissionalmente como designers através de empresas de tecnologia ou de comunicação. O reaproveitamento fica bastante evidente como temática emergente observada nos fluxos das publicações realizadas com a hashtag #modamudamundo. Temáticas emergentes, num contexto de redes distribuídas, costumam ter um processo
sistêmico e de baixo para cima, ou seja, o próprio tecido social se auto-organiza e adota padrões de comportamentos coletivos. (JOHNSON, 2003). Nas redes sociais da internet, essas temáticas podem emergir a partir dos laços sociais dialógicos, ou seja, serem motivadas através de interações mútuas entre usuários, abrindo espaço para a geração de vínculos fortes. (RECUERO, 2009). Acreditamos que o nível dos vínculos estabelecidos através das redes sociais pode estar relacionado com a temática emergente nascida e difundida através das próprias redes sociais. Ou seja, um ator pode estabelecer vínculo forte se a temática emergida competir aos seus interesses e valores pessoais, como no caso do reaproveitamento para a comunidade Gera Bomja, Banco Tecidos, Revoada, Colibri e demais atores (Figura 4). Ou estabelecer vínculo fraco, por ter uma relação mais difusa com tal temática. Isso significa que a intensidade dos vínculos estabelecidos pelo mesmo ator pode variar de acordo com o tema. Essa dinâmica faz parte do contexto dos ecossistemas criativos e aparentemente faz sentido também dentro do processo de difusão estabelecido a partir de artefatos producentes com o intuito de serem ativados nas redes sociais.
Figura 4 – Reaproveitamento e Coalizão de Design
Fonte: Elaborada pela autora com base nas publicações feitas com a #modamudamundo.
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A quarta e última trama, chamada de Colaboração e Inovação Sociocultural, surge da identificação de que especialistas em design, atuantes no Ecossistema ou que tenham interesse em contribuir com ele, possam mapear e catalisar os temas emergentes, oferecendo suas habilidades de design para tornar esses temas visíveis e tangíveis para os demais atores e sociedade. Podemos interpretar que o papel dos especialistas em design que atuam no Ecossistema seja catalisar iniciativas e iniciar diálogos estratégicos para que elas sejam perceptíveis aos demais atores, estimulando a participação e a geração de valor social. É por meio das redes sociais da internet que laços fracos se estabelecem, e são os especialistas em design que podem operar para que esses laços se fortaleçam, contribuindo para a efetivação de mudanças no tecido social. A manutenção dos laços pode contar com o uso de ferramentas de conversação como o Whatsapp, que podem também ser consideradas redes sociais funcionando com o propósito de estabelecer interações mútuas e mais duradouras entre os atores. (RECUERO, 2009). Para a efetividade dos encontros colaborativos, também é necessário um ambiente que conte com tolerância, abertura e que gere a capacidade de aprendizado. (MANZINI, 2017). Aparentemente, essas características já podem ser observadas nos encontros colaborativos ocorridos por meio do Ecossistema ao longo de 2018. Essa constatação surge a partir da observação dos relatos dos atores através das postagens. Relatos que explicitam a união e a colaboração para o conserto de roupas, curadoria de tecidos e ideias de solução para os resíduos têxteis em que as palavras colaborar e contribuir, e as frases vamos consertar juntos e juntos somos mais fortes são identificadas (Figura 5).
Nesse sentido, acredita-se que novas iniciativas podem acompanhar esse processo, tornando o Ecossistema uma solução habilitante e tornando os encontros colaborativos efetivos e eficazes. Nessa trama, portanto, podemos explorar o potencial da colaboração por meio do Ecossistema como ponto central e como conector das demais tramas apresentadas. Acreditamos que a dinâmica da colaboração pode iniciar-se a partir de coalizões de design estabelecidas por meio das redes sociais da internet que tenham motivações e interesses comuns. Essas conexões podem ser mapeadas e tangibilizadas pelos especialistas e ativistas de design (vínculos fortes), gerando novas conexões e encontros colaborativos que podem reunir diferentes atores em torno de soluções futuras para questões emergentes, como a sustentabilidade na moda e as mudanças socioculturais que ela pode gerar. Figura 5 – Sociocultural
Colaboração
e
Inovação
Fonte: Elaborada pela autora com base nas publicações feitas com a #modamudamundo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse estudo é parte da pesquisa de dissertação de mestrado da autora e tem o papel de elucidar sobre os processos de difusão da cultura da sustentabilidade na moda por meio do Design Estratégico. O objetivo desse recorte foi apontar como os artefatos producentes podem contribuir com os processos de difusão dessa cultura. O artefato producente em questão foi cocriado e circulado pelos atores do Ecossistema da Moda Sustentável do RS, sendo postais artísticos contendo uma mensagem no verso: qual a sua forma de mudar a moda? Compartilhe usando a #modamudamundo. Artefato producente é um termo desenvolvido ao longo da pesquisa. O termo parte da aproximação de duas teorias, o ativismo de design (FUAD-LUKE, 2009) e a cultura da participação (JENKINS, 2014). Partimos do príncipio de que a união do ativismo de design com a cultura da participação seja um processo capaz de contribuir com a difusão da cultura da sustentabilidade na moda. Ao longo da pesquisa-intervenção, embasada nas sete pistas cartograficas apresentadas por Passos, Kastrup e Escóssia (2015) e tendo como plano de fundo a hashtag #modamudamundo, desenhamos as tramas que conectam o tecido social no processo de difusão. As tramas desenhadas perpassam as ações das ativistas da moda sustentável de Porto Alegre, suas vozes e combinações de recursos para a propagação da cultura da sustentabilidade; a circulação dos postais artísticos em diferentes territórios no ano de 2018, gerando questionamento e conscientização em ambientes como eventos de moda e instituições de ensino; a identificação de temáticas emergentes, como o reaproveitamento de materiais na indústria da moda, sendo manifestadas pelas pessoas através das redes sociais; e a colaboração como forma de inovação sociocultural, ocorrida pelos atores do Ecossistema da Moda Sustentável do RS, principalmente pelos designers especialistas, na catalização e propagação de ações.
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Essas tramas, integradas, apresentam alguns caminhos possíveis para inovações sociais em busca de um mundo mais sustentável. A comunicação digital nos permite uma maior formação de grupos capazes de gerar laços fortes e fracos, responsáveis pela disseminação de informações e mudança cultural. REFERÊNCIAS CERECA, G. Talk Moda e Colaboração. 168 fotografias, color. Disponível em: <https://drive. google.com/drive/u/3/folders/1uqk3JvQXGD8DMwyhNAcOpN19cYVhkYFe>. Acesso em: 5 jun. 2018. FASHION REVOLUTION. Quem Somos – Fashion Revolution. Relatório Oficial 2017. Acesso em: janeiro 2019. FUAD-LUKE, A. Design activism: beautiful strangeness for a sustainable world. London: Earthscan, 2009. FLETCHER, K; GROSE, L. Moda e sustentabilidade: design para mudança. São Paulo: Senac São Paulo, 2011. FRANZATO, C. et al. Inovação cultural e social: design estratégico e ecossistemas criativos. In: FREIRE, K. (Org.). Design Estratégico para a Inovação Social e Cultural. São Paulo: Kazuá, 2015. p. 157-182. JENKINS, H. Cultura da Conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014. JOHNSON, S. Emergência: a dinâmica da rede em formigas, cérebros, cidades e softwares. Tradução: Maria Carmelita Pádua Dias, Rio de Janeiro: Jorge Zahar editores, 2003. MALINI, F. Internet é uma máquina que potencializa minorias. IHU On-line – Revista do Instituto Humanitas Unisinos. N° 502. Abril 2017. Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos. br/media/pdf/IHUOnlineEdicao502.pdf MANZINI, E. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas,
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organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. MANZINI, E. Design quando todos fazem design: uma introdução ao design para a inovação social. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2017. MERONI, A. Strategic design: where are we now? Reflection around the foundations of a recent discipline. Strategic Design Research Journal, v.1, n.1, Dec 1, p.31-38, 2008. PASSOS, E; KASTRUP, V; ESCÓSSIA, L. Pistas do método da cartografia. Pesquisa intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015. PINTO, A; SOUZA, C. Roupas feitas de roupas. Revista Iniciação. Edição temática em sustentabilidade. v.5, n. 3. São Paulo: Centro Universitário Senac, 2015. RECUERO, R. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. RECUERO, R. A conversação em rede: comunicação mediada pelo computador e redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulinas, 2014. ZURLO, F. Design Strategico. In: XXI Secolo, vol. IV, Gli spazi e le arti. Roma: Enciclopedia Treccani, 2010.
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A HARMONIZAÇÃO DE VINHOS E ESPUMANTES COM TRUFAS ARTESANAIS COMO ESTRATÉGIA DE MARKETING THE HARMONIZATION OF WINES AND SPARKLES WINES ARTISAN TRUFS AS A MARKETING STRATEGY
André Luís Rech1 Débora Frizzo2
RESUMO: No presente artigo irá discorrer-se sobre a estratégia de marketing do Complexo Enoturístico da Cooperativa Vinícola Garibaldi para fidelização da marca dos Espumantes Garibaldi, trazendo a desmistificação do consumo de espumantes e vinhos, que podem acompanhar qualquer alimento em qualquer horário e na companhia que se prefere. A estratégia ocorre através da realização do projeto Taça e Trufa que harmoniza vinhos e espumantes com trufas artesanais de chocolate e sabores marcantes da empresa garibaldense Devorata Trufas Artesanais. Esse projeto tem como objetivo analisar as percepções, sensações e captar as emoções sentidas pelos participantes do que embarcam nesta experiência, e também tem como objetivo compreender o processo de harmonização como ferramenta de Marketing, o quanto isso atinge o íntimo das pessoas e os fideliza como clientes. Para o desenvolvimento, a captação das respostas fora realizada através de entrevista aberta captando pelo entrevistador as melhores percepções dos entrevistados, ocorrendo logo após a participação do projeto. Contudo pode-se concluir que o processo de harmonização é eficiente como ferramenta estratégica de marca para gerar emoções e memórias afetivas, fazendo com que os clientes repitam a compra dos produtos da Cooperativa Vinícola Garibaldi e desfrutando nos melhores momentos de suas vidas. Palavras-chave: Harmonização. Vinho. Espumante. Chocolate. Estratégia de MKT. ABSTRACT: This article will discuss the marketing strategy of Cooperative Winery Garibaldi in Enotourism Complex for Garibaldi Sparkling Brand loyalty, bringing the demystification of the consumption of sparkling wines and wines, which can accompany any food at any time and in the company of if preferred. The strategy takes place through the realization of the Cup and Truffle project that harmonizes wines and sparkling wines with traditional chocolate truffles and outstanding flavors of the company garibaldense Devorata Truffles Crafts. This project aims to analyze perceptions, sensations and capture the emotions felt by the participants who embark on this experience, and also aims to understand the process of harmonization as a marketing tool, how much it reaches the intimate of people and loyalty as customers. For the development, the capture of the answers was accomplished through an open interview, capturing the interviewers’ best perceptions. However, it can be concluded that the harmonization process is efficient as a strategic brand tool to generate emotions and affective memories, causing clients to repeat the purchase of Cooperative Winery Garibaldi products and enjoy the best moments of their lives. Keywords: Harmonization. Wine. Sparkling Wine. Chocolate. MKT Strategy. 1 Tecnologo em Processos Gerenciais pela FTEC Bento Gonçalves. E-mail: alrech88@gmail.com 2 Doutora em Psicologia do Desenvolvimento humano pela UFRGS. E-mail: deborafrizzo@acad.ftec.com.br
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INTRODUÇÃO rotagonizar a junção de três sabores que caracterizam a Serra Gaúcha é uma estratégia para buscar aumento de vendas e consolidação de marca com novos consumidores dos vinhos e espumantes da Cooperativa Vinícola Garibaldi. Empresa com mais de 89 anos e 400 famílias associadas que produzem videiras e uvas de qualidade. Proporcionando agregação de valor ao produto do cooperado e focando principalmente na produção e comercialização de espumantes. A parceria da Cooperativa será desenvolvida com a tradicional e também garibaldense, Devotara Trufas Artesanais, que há mais de 30 anos transforma sensações gustativas inesquecíveis com seus saborosos chocolates artesanais. Misturando a intensidade dos vinhos, com a leveza e características únicas dos espumantes da Garibaldi, reunindo com os melhores sabores de trufas artesanais da Devorata, a proposta do trabalho é captar as percepções dos mais variados públicos que visitam o Complexo Enoturístico, e disseminar a mudança de opinião dos que ainda acreditam que espumante e chocolate não combinam. O presente artigo apresenta ainda o sentimento e comportamento das pessoas que testam essa ousada experiência, podendo identificar-se as mudanças de opiniões que traduzem essa proposta. Vinhos e espumantes podem intensificar o sabor das trufas artesanais, ou ainda, os chocolates podem potencializar o sabor do Terroir dos espumantes e vinhos da Serra Gaúcha. O artigo também, tem a proposta de modificar a mentalidade das pessoas e descomplicar o consumo dos vinhos e espumantes, que podem ser harmonizados com todos os tipos de alimentos, cada pessoa tem um paladar especial, que irá transformar os sabores. Apresentando como objetivos, neste artigo, elenca-se o fato de compreender o uso da harmonização de trufas artesanais de chocolates com vinhos e espumantes, como uma estratégia
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inovadora de Marketing. Com isso, analisando as percepções das pessoas que embarcam na experiência, verificando as sensações de desfrutar essa harmonização, identificando as emoções sentidas e compreendendo a ferramenta de Marketing. A HARMONIZAÇÃO NA TEORIA A Harmonização de vinhos e espumantes com chocolates é criada para alavancar a nova proposta de uma experiência que até então pode não agradar muitos paladares, porém o mercado turístico do Brasil, principalmente da Serra Gaúcha, conhecido pelas vinícola do Vale dos Vinhedos, pela gastronomia em sua maioria típica italiana, pelos chocolates e paisagens encantadores precisa se reinventar. Harmonizar pratos com vinhos e espumantes é um processo muito particular, pois o que harmoniza para uma pessoa pode não agradar o paladar de outros. Como sugestão, essa harmonização foi definida por especialistas em chocolates, vinhos e espumantes, e feitos alguns testes com pessoas vinculadas às empresas envolvidas e sommeliers para definição de sabores do projeto. O difícil de harmonizar vinhos e espumantes com chocolates é que os sabores podem sobressair-se uns aos outros. Para Rizzo (2001): Vinho e comida têm, portanto, igualmente enorme poder um sobre o outro. Por isso é preciso escolher o vinho que vai ressaltar a qualidade dos pratos e vice-versa. A bebida também cresce se estiver acompanhada do prato certo. As regras da harmonização se estendem às especificidades de cada ingrediente principal.
A escolha dos produtos foi realizada com o maior cuidado possível para que todos os sabores fossem sentidos ao paladar de quem passa pela experiência. O vinho não se trata de uma ciência exata, (CORDEIRO, 2009) toda a experimentação é válida e o objetivo de mesclar os sabores de vinhos com comidas, neste caso o chocolate, é o prazer de ampliar o sabor dos alimentos e potencializar suas sensações.
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Contudo, como sugestão de harmonização são expostos cinco conjuntos de chocolates com vinhos e espumantes, citados a seguir: - Vinho Garibaldi Chardonnay com Trufa artesanal sabor maracujá; esta combinação ressalta o cítrico e a acidez do vinho mais jovem, que tem muitas notas desta fruta em seu aroma. A doçura deixa também o paladar bem agradável. - Espumante Garibaldi Prosecco com Trufa artesanal sabor laranja; uma brincadeira que lembra do spritz, drink famoso na região do Vêneto, na Itália que combina Prosecco, Laranja e Aperol. A sensação refrescante vem da combinação surpreendente com um toque agridoce. - Espumante Garibaldi Rosé Pinot Noir com Trufa artesanal sabor cereja; essa combinação traz uma releitura do lugar comum das frutas vermelhas, ou seja: o sensorial do morango contraposto ao espumante. Como um
drink, remete Kir Royal, com suas notas que lembram ao cassis. - Vinho Garibaldi Cabernet Sauvignon com Trufa artesanal sabor meio amargo: a proposta ressalta as propriedades do cacau, matériaprima do chocolate, suas características de aromas – destacados pela combinação com os taninos do vinho maturado em barricas de carvalho. - Espumante Garibaldi Moscatel com Trufa artesanal sabor Espumante; esta trufa tem uma combinação poderosa: chocolates branco e preto, com toque de espumante da própria Cooperativa Vinícola Garibaldi. Sua combinação aposta no equilíbrio de sabores para ressaltar o uso criativo do Moscatel como sobremesa. Com esta experiência, facilmente a memória das pessoas é levada para outros planos, para outros momentos e transformada em lembranças inesquecíveis, como se estivessem realizando uma viagem sem sair da cadeira.
Figura 1: Trufas artesanais e taças com os produtos degustados
Fonte: O Autor
O paladar das pessoas traz traços pessoais, particulares que definem os sabores e gostos que cada um tem por suas preferencias alimentares, neste caso, a proposta é fazer com que os indivíduos submetidos ao processo, quebrem paradigmas e consigam criar novas
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emoções e memórias afetivas, lembranças de algum momento especial de suas vidas. Para Portillo (2006): “Uma memória afetiva pode se desenvolver a partir de uma percepção sensorial como
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um odor, um som, uma cor, desde que tal percepção esteja ligada a um momento afetivo importante. [...] quando trazemos à tona nossas memórias afetivas estamos elaborando e compreendendo experiências carregadas de afetos do nosso passado e que se depositaram, no fundo da alma, sendo dolorosas ou não fazem parte da edificação do nosso ser.”
É a primeira vez que uma Vinícola realiza essa atividade no Brasil, a proposta inovadora vem para o atendimento dos turistas que estão cada dia mais exigentes e que buscam novos momentos para aproveitar suas férias e passeios em famílias ou com amigos. Dornelas (2005, p.21), fala que:
Geralmente, essas invenções são frutos de inovação, de algo inédito ou de uma nova visão de como utilizar coisas já existentes, mas que ninguém antes ousou olhar de outra maneira. Por trás dessas invenções, existe pessoas ou equipes de pessoas com características especiais que são visionárias, questionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer e empreendem. Os empreendedores são pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado.
Colocar no prato chocolates artesanais juntos aos melhores rótulos de vinhos e espumantes do Brasil, é o resultado de uma audaciosa inovação. Inovar é satisfazer demandas de uma sociedade por algo novo, que até então não existe, (KOTLER, 2007; ARMSTRONG, 2007, p.4) gerar produtos e serviços com benefícios que darão aos consumidores o melhor conjunto de valor e satisfação. O turismo de experiência, agregando a gastronomia, torna-se tendência na atualidade, onde as pessoas que viajam procuram fazer atividades que lhes crie momentos inesquecíveis, e os sabores gastronômicos que possam ser levados para suas casas. Segundo Possamai, Peccin (2011, p. 29) essa prática tem aumentado no Brasil.
O Turismo Gastronômico, justamente por aliar a satisfação de uma necessidade fisiológica com a possibilidade de uma experiência sensorial e cultura, tem conquistado seguidores em todo o mundo, e despertado inúmeras localidades para esse potencial. No Brasil, alguns estados [...] já trabalham suas ofertas turísticas dando destaque ao seu patrimônio gastronômico, seja como uma marca do estado, por meio de acontecimentos programados, seja em rotas e roteiros gastronômicos.
Viajar e carregar na bagagem momentos inesquecíveis, sabores e sentimentos de satisfação faz com que as memórias sejam recorrentes em diversos momentos da vida, pois na perspectiva de um turista (FERREIRA, 2016) a realização de uma viagem engloba uma série de atividades que geram sensações e emoções diversas, desde escolher o destino, as atividades e as experiências vivenciadas quando se retorna para casa. As empresas envolvidas neste processo são as tradicionais empresas da cidade de Garibaldi, Cooperativa Vinícola Garibaldi, fundada em 1931 e produtora de vinhos, sucos, filtrados e espumantes. Seu foco principal em trabalho hoje é a agregação de valor as uvas recebidas das 400 famílias associados. O processamento da empresa é de cerca de 20 milhões de quilogramas de uvas por ano e também busca o desenvolvimento de novos consumidores de espumantes, produtos que se torna o carro chefe de trabalho da empresa, que vende mais de três milhões de garrafas de espumante anualmente e recebe mais de 150 mil turistas no seu Complexo Enoturístico. Isso deve-se a descoberta da vocação da Serra Gaúcha em produção de uvas brancas para espumantes, onde encontra-se o Terroir perfeito. Os vinhos e espumantes que irão compor a degustação serão produzidos em Garibaldi, (STEFENON, 2015; BONESI, 2015) a Serra Gaúcha – mais importante região vitivinícola do Brasil – apresenta aptidão enológica diferenciada para cultivo de uvas que são destinadas para elaboração de vinhos e espumantes.
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A Devorata Trufas Artesanais, vem firmada na história da cidade e região desde 1987 com produção de chocolates artesanais, aliando o processo manual e a manutenção de qualidade mesmo em grande escala de produção de trufas artesanais que trazem um encanto francês, sinônimo de sofisticação que tem como preparo um mistério, mantém um formato irregular semelhante a um cogumelo, guardando em seu interior um irresistível e saboroso recheio cremoso. Alinhado a tudo isso, para destacar mais ainda o sabor das trufas, todos os sabores são usados produtos naturais, como na trufa de maracujá é suco natural de maracujá, na trufa de laranja, tem o incremento de casca natural de laranja. Segundo a história da Devorata (devorata. com.br/devorata): O segredo está na produção, uma a uma, garantindo o seu formato irregular e escondendo em seu interior um surpreendente e irresistível recheio cremoso. A produção é um lugar encantado, onde a felicidade persiste e as mãos, movimentadas pela arte, criam nossos produtos. A Devorata Trufas Artesanais em qualquer uma de suas formas, tem uma maneira de desencadear inúmeras emoções prazerosas, despertando a cada mordida a mesma sensação de quando realizas o seu melhor desejo. Temos orgulho da nossa excelência e é por levar mágica ao paladar que nós trabalhamos.
A empresa busca sempre a renovação, conta com uma loja para venda dos produtos na entrada do Vale dos Vinhedos para que reforce a marca com os turistas que visitam a região. Ainda, a renovação vem na abertura da primeira produção butique de chocolates trufados do Brasil no centro da cidade de Garibaldi, onde os visitantes podem acompanhar a produção e embalagem totalmente artesanal. Um dos segredos da Devorata é servir as trufas sempre frescas, para que os sabores sejam preservados ao máximo. Em tempos passados, falava-se que chocolate e vinho não se encaixam em sobremesas, ou no dia a dia, mas traçando um sentimento de abertura da mente e inovação,
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abraçando novas propostas, as pessoas devem conhecer esse projeto que incrementa cada vez mais o segredo dos melhores e mais variados sabores da Serra Gaúcha. Uma tendência e um dos grandes propósitos em comum das duas empresas, é a renovação de consumidores, e a busca cada vez maior por novas pessoas que estejam conhecendo e degustando os vinhos, espumantes e trufas artesanais. Ferreira Junior e Rieping (2014; p. 40) definem que: Toda a tendência é acompanhada por uma inovação, seja no processo da empresa ou no produto, seja no processo de uma marca ou de um novo negócio. Assim, não existe tendência sem inovação. As tendências não são um conjunto de “adivinhações”, mas um compilado de estudos e análises com o objetivo de entender profundamente o mercado.
Contudo, a tendência é criar experiências e criar momentos inesquecíveis na vida das pessoas, esse é o propósito pelo qual foi criado o projeto Taça e Trufa. Junto com isso, a divulgação acaba sendo trazida por influencias digitais, e assim gerando curiosidade nas pessoas que querem provar o novo e apostar em algo diferente, isso é o que encontram em espumantes e vinhos das linhas da Cooperativa Vinícola Garibaldi. Com tecnologia e dedicação a empresa gera diferenciação para uma comunidade que provoca cada vez mais a necessidade em consumidores exigentes. Ferreira Junior e Rieping, (2014, p. 157 e 158) definem: “Em nossa sociedade de consumo, de novos consumidores exigentes e midiáticos, encontramos um consumidor muito especial: o emotional consumer, ou também chamado de consumidor hedonista. Hedonismo é uma palavra de origem grega que significa “prazer”, “vontade”. Ou seja, o consumo hedonista caracteriza-se pelo princípio do prazer e do consumo de produtos e serviços que o proporcionem. Esse consumo deixa de ser uma atitude para resolver uma necessidade e transforma-se em desejo de felicidade, mesmo que momentânea.”
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Isso tudo vem aliado a estratégia de marketing, que faz tornar os produtos da Garibaldi conhecidos em todo o território nacional e também em alguns países do mundo. Esta estratégia de fortalecimento de marca vem para mostrar a qualidade e a potência de produção de espumantes com características próprias da Serra Gaúcha que invadem o sentimento das pessoas e criam satisfação e repetição de consumo. Quanto a isso, um grande desafio das empresas estabelecidas na Serra, é atrair os consumidores para dentro de sua própria casa, disputar o público que passa pela região em busca de entretenimento e novas experiências. Por isso precisa-se (DIAS, 2005; CASSAR, 2005) criar novos atrativos e diferenciais para que atendam essa demanda crescente, pois as capacidades de atração das cidades pequenas da nossa região competem com a atração de cidades de outros estados e países, não se tratando apenas de custo/benefício, mas de competências de estratégia de marketing por trás de maior atratividade destes destinos. Para Kotler, Haider e Rein (1994, p.11): Os locais não são mais simples cenários para atividades comerciais. Em vez disso, cada comunidade tem de se transformar em uma vendedora de bens e serviços, uma promotora de seus produtos e do valor de seu local. Os locais são, na verdade produtos cujos valores e identidades devem ser planejados e promovidos. Aqueles que não conseguem fazer uma boa programação de si mesmos correm o risco da estagnação econômica e do declínio.
Nesta linha entende-se que o perfil dos consumidores vem mudando dia a dia, e que a exigência pela facilidade, agilidade, atendimento e momentos marcantes é algo que precisa estar presente na geração de experiências. Assim, é importantíssimo que o Marketing das empresas esteja sempre ligado às tendências de mercado e as necessidades dos consumidores que buscam não mais o básico, mas o valor do que estão conhecendo e pagando. Pode-se falar ainda com essa proposta, sobre a desmistificação do consumo de espumantes no Brasil, propondo que as pessoas degustem
os produtos no momento que quiserem, nos locais de suas preferências e dentro da proposta do que lhes convém, sem seguir muitas regras e padrões. METODOLOGIA Apresenta-se na sequência os participantes da entrevista qualitativa realizada, seguido do instrumento de pesquisa. Com o procedimento realizado e os resultados obtidos após a realização das referidas entrevistas. PARTICIPANTES ENTREVISTADOS Todos os aspectos de um projeto estão ligados a definição da amostragem que será abordada na pesquisa, na espécie de busca de informações para estreitar o conjunto de ideias que serão definidas no futuro. Será uma amostragem não probabilística, assim envolve o julgamento pessoal do entrevistador que estará conduzindo em forma de conversa para obtenção de resultados. Os membros entrevistados serão participantes do projeto Taça e Trufa que é realizado todos os dias no Complexo Enoturístico da Cooperativa Vinícola Garibaldi que recebe centenas de visitantes diariamente. No Complexo são recebidas pessoas de todos os estados do Brasil, alguns do exterior e também moradores da região da Serra Gaúcha. Na ocasião as entrevistas serão realizadas durante os finais de semana, quando o fluxo de visitantes é maior, podendo assim gerar uma maior diversificação de opiniões. O perfil das pessoas entrevistadas é descrito da seguinte maneira; homens e mulheres de 19 a 63 anos, provindos dos seguintes estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espirito Santo. Com este público entrevistado diversas percepções puderam ser capturadas, pois abrange grande faixa etária e também pessoas de diversos estados do Brasil, com vivências e experiências diferenciadas.
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Foram entrevistados neste processo 32 indivíduos que foram abordados logo após serem submetidos a experiência proposta. QUESTIONAMENTOS REALIZADOS Os entrevistados foram instigados a responder as seguintes questões, aplicadas em forma de entrevista aberta. - O que te fez procurar essa nova proposta de harmonização? - Você já havia harmonizado vinhos e espumantes com chocolates? - Quais suas percepções com as sugestões de harmonização? - Que memória você levará deste momento? - Que sensações vieram a sua mente com as propostas de harmonização? - E que emoções foram ativadas em seu corpo e memória? - Sintetiza essa experiência da harmonização com um adjetivo ou frase que a resuma. PROCEDIMENTO A realização das entrevistas ocorreu nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2018, tomando como base indivíduos da faixa etária e estados citados anteriormente. No momento posterior às harmonizações, ainda no Complexo Enoturístico, foram pinçadas algumas pessoas dos grupos que participaram do Taça e Trufa e aos mesmos foram aplicadas as questões citadas que traduziam em palavras os sentimentos que abrangiam suas mentes. O ideal de ter realizado as entrevistas logo após o processo e harmonização, foi proposital para captar as melhores percepções de todos os participantes. PERCEPÇÕES OBTIDAS ATRAVÉS DAS ENTREVISTAS Em resumo as questões aplicadas aos entrevistados, o compilado de respostas resultou da seguinte maneira, quando questionados sobre:
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- O que te fez procurar essa nova proposta de harmonização? Foram instigados por visualizar campanhas em redes sociais da Cooperativa Vinícola Garibaldi, por indicação de amigos, e por estar passeando pela Serra Gaúcha. Procuraram essa nova proposta para conhecer um pouco mais sobre chocolates e vinhos e espumantes, também porque gostam de provar sabores diferenciados e que marcam aquele momento. Ainda responderam que resolveram participar por serem apaixonados por chocolates e nunca terem degustado junto com espumantes. Outros ainda comentaram que por conhecerem os espumantes apostaram na degustação para destacar o sabor dos chocolates que são saborosos. Parte das pessoas que estiveram participando da sugestão de harmonização, são pessoas que gostam de buscar novas opções gastronômicas, lugares e atividades diferentes e inovadoras. Outros ainda descobrira a proposta quando estavam passando pela cidade e não perderam a oportunidade. Um dos entrevistados inclusive disse que conhece mais de 20 países, incluindo França, Suíça, Itália, Portugal, Argentina e nunca por onde andou lhe foi sugerido uma proposta como tal. - Você já havia harmonizado vinhos e espumantes com chocolates? A grande maioria das pessoas respondeu que não havia feito harmonização de vinhos e espumantes com chocolate, que em algumas situações inclusive ouviram falar que essa era uma combinação que não dava certo, que não devia ser harmonizado. Alguns mais descolados disseram que já comeram chocolate enquanto tomavam espumante, porém, não haviam parado para pensar sobre que aquilo poderia ser um momento descontraído e que pudesse causar emoções e sensações distintas como as que foram experimentadas. Comentários ainda vieram dizendo que já haviam pensado em fazer uma harmonização, mas não fizeram por falta de oportunidade e conhecimento, ou por não saber se ficaria bom,
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e ficaram com medo de ariscar sem pessoas que conheçam estarem conduzindo, mas que agora ficam mais livres por entender que a harmonização é o que agrada seus paladares. Algumas das pessoas que acabaram harmonizando em algum jantar guiado, quando servidas as sobremesas serviam sempre com espumantes adocicados, e que nem sempre a sugestão foi assertiva para o paladar deles. - Quais suas percepções com as sugestões de harmonização? São harmonizações que foram muito bem propostas, principalmente para os apreciadores de espumantes e vinhos, destacando sabores aveludados e enchendo as papilas gustativas de gostos inesquecíveis. Percebe-se também como a qualidade e sabor dos espumantes da Serra Gaúcha podem destacar o sabor de alimentos, nesta ocasião trufas artesanais de chocolates. Citando uma das harmonizações, impressionaram como o espumante Garibaldi Prosecco potencializa o sabor da trufa de laranja, e o espumante Moscatel harmoniza deliciosamente com a trufa de espumante. Houve comentário de todas as harmonizações, mas a grande maioria comentou que as melhores harmonizações foram essas citadas. Para duas pessoas, as percepções das harmonizações foram indiferentes, não causaram nenhuma diferença ou emoção, e não perceberam nada de diferenciado além de estarem comendo um pedaço de chocolate e degustando uma bebida alcóolica. - Que memória você levará deste momento? Memórias como momentos descontraídos, alegres, e saborosas foram as expressões mais citadas. Entrevistados emocionaram-se ao falar de memórias que trouxeram com o processo de harmonização, buscaram em seus inconscientes, lembrando de doces que eram feitos por suas avós, mães, ou também de espumantes e vinhos que tomaram em alguma viagem que realizaram. Outros lembraram ainda de situações
inusitadas, como o sabor da torta de aniversário de alguns anos atrás, e também de momentos como o casamento, da emoção de desfrutarem do prazer e felicidade daquele instante. Essa proposta desprende as melhores percepções afetivas com passados gastronômicos, e de lembrança de momentos inesquecíveis. Citou-se ainda que para algumas pessoas, não tiveram recordações de nada, que aquele momento ficaria como uma base para futuramente estarem lembrando desta experiência que foram registradas nesta viagem para a eternidade. - Que sensações vieram a sua mente com as propostas de harmonização? Quando as pessoas entrevistadas foram indagadas sobre sensações, via-se um brilho nos olhos que traduzia sentimentos prazerosos, de momentos marcantes, alegria, surpresa e bem-estar. Essas foram as sensações percebidas que foram sentidas durante esse processo de harmonização, tudo traduzido por combinações assertivas que transforaram os sabores em inexplicável momento. Outro ponto que sempre foi citado pelos entrevistados, é a questão do ambiente e da condução do trabalho, onde um profissional que conhece dos espumantes, vinhos e chocolates, consegue conduzir da melhor maneira para que seja traduzido os verdadeiros aromas e sabores. E estar dentro de uma pipa que fora utilizada por muitos anos para produção de vinhos, sentindo o cheiro da história que por ali passara é a mais inusitada sensação que poderiam esperar encontrar pela Serra Gaúcha. - E que emoções foram ativadas em seu corpo e memória? As emoções que geralmente ativaram o corpo e a memória dos entrevistados foram de sintonia entre a produção dos espumantes desde a lembrança da colheita das uvas ao momento de degustação, sentimentos do passado, de quando viviam no interior ou passavam férias na casa dos avós quando
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crianças, e até dos dias atuais quando em período de vindima sentem pelo ar o cheiro das uvas, algo que é cultural principalmente para os que residem na região serrana. Lembraram-se também de viagens, de sentirem como se estivessem em algum lugar que já passaram anteriormente. A emoção mais citada, foi alegria; sentiram-se alegres, pois a grande maioria estava junto a amigos ou familiares, e tornaram o momento divertido e repleto de felicidade. Quanto a emoções, algumas pessoas levaram para o sentido gustativo emocional, trazendo frescores e intensidades que só essas combinações podem proporcionar. Já se falando de emoções corporais, diversas pessoas trouxeram que as combinações desprenderam arrepios, alguma moleza, mas também vontade de repetir e proporcionar esse momento para os amigos que ainda não conheceram. - Sintetize essa experiência da harmonização com um adjetivo ou frase que a resuma. Na sintetização de uma experiência harmoniosa como a proposta, os relatos foram de que para fazer isso, precisa estar de mente aberta, para absorver qualquer novo sabor, entregando-se a uma experiência que se torna prazerosa e bastante saborosa ao mesmo tempo através de combinações excelentes e muito bem escolhidas. O momento remeteu os participantes para alegria de estar convivendo com esta oportunidade de reunir três dos produtos mais saborosos do planeta e culminados com a produção da região da Serra Gaúcha; vinhos, espumantes e chocolates artesanais. Dentro dos adjetivos citados, é importante registrar principalmente: prazer; alegria; sabor; desejo; lembranças; inesquecível; e satisfação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando o contexto que se insere esta proposta, com as avaliações que ocorreram durante o período de entrevista, comporta dizer que houve a
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compreensão dos participantes entrevistados com a desmistificação de estar agregando ao paladar os sabores de chocolates inclusos nos momentos de descontração e refeições com vinhos e espumantes. Percepções positivas são sentidas, gerando conforto, alegria e vontade de repetição pelas sensações que o organismo absorve dentro de uma experiência única, em um local que marca na história o que fora conduzida para as memórias afetivas que afloram dos seus inconscientes ou que se criaram neste momento. Percebeu-se também que as emoções mais distintas foram destacadas no momento em que embarcaram nesta experiência, desde alegria, emoção e até mesmo arrepios trazendo para o sentimento físico o que vem dos sentidos emocionais. Esta emoção gerada nas pessoas, transforma ainda a necessidade da repetição, seja de degustar chocolates junto com vinhos e espumantes, mas principalmente de repetir a compra e satisfazer-se com o prazer do consumo de produtos da marca Cooperativa Vinícola Garibaldi, transformar a harmonia dos momentos em histórias memoráveis com familiares, amigos ou até mesmo sozinho para relaxar. Assim, mostramos que a estratégia de causar emoções gera a continuação de compra e fidelidade à marca. Contudo, o que se observa é que esta experiência até então pode ser gerada apenas nas dependências do Complexo Enoturístico na cidade de Garibaldi, e até o momento não atravessa fronteiras para que possa ser expandida a outros lugares, apresentando a dificuldade de os interessados terem que se deslocar até a casa do proponente da ação. Compreende-se que a proposta tem grande potencial de expansão, podendo ser implantada em outros lugares do estado e do país. Dentre as dificuldades que podem surgir, destaca-se a realização do evento com grande procura. Caso tenha uma grande procura sem a prévia reserva, pelo motivo de que as trufas para a degustação são produzidas em tamanhos específicos e frescas para a edição deste projeto,
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se a quantidade demandada for maior do que a preparada pode deixar de atender as pessoas que gostariam de conhecer o projeto naquele momento e oportunidade. Outro ponto que pode ser considerado negativo, é com o passar o tempo a não manutenção da estabilidade dos produtos, pois como trata-se de vinhos e espumantes que dependem de qualidade de uvas na colheita, pode ter variações de sabor, o que levemente pode estar trazendo referencias diferentes da proposta quando desenvolvido o projeto. Também é prudente atentar que as expectativas gustativas dos participantes do projeto Taça e Trufa podem ser frustradas, mas é um risco calculado, pois como cita-se, tratando de sabores, o que harmoniza para uma pessoa pode não harmonizar para outras. Concluindo, as percepções dos entrevistados foram quase que na totalidade positivas, temos a clareza de que podem ter sido impactadas pela entrevista ter ocorrido logo após a realização do projeto, e que as emoções ainda estavam afloradas naquele momento, ainda mais após a degustação de bebidas alcoólicas. Sobretudo, entende-se que quando são geradas memórias afetivas com produtos deste porte, a estratégia de fidelizar e fazer com que permaneçam sempre comprando a marca Garibaldi será confirmada, mesmo assim, é prudente esclarecer que com a variabilidade das tendências e do diferente comportamento dos consumidores, que muda com o passar do tempo, pode não atingir o resultado plantado em médio e longo prazo. Encerra-se esta discussão com a percepção positiva de atendimento de objetivos propostos e confirmação de potencialização de fortalecimento e divulgação da marca de Espumantes Garibaldi, além de atender outro objetivo da empresa que é a descomplicar o consumo de vinhos e espumantes brasileiros. REFERÊNCIAS CORDEIRO, Lucas. Vinho e Comida: Sem mistério e com prazer. Abaga – Associação Brasileira de Alta Gastronomia. Disponível em: www.abaga.com.br/modules.php?name=Sec-
tions&sop=viewaticle&artid=6383 Acessado em: 29 Jan 2019. DEVORATA. História da Devorata Trufas Artesanais. Disponível em: http://www. devorata.com.br/#devorata DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício. Fundamentos do Marketing Turístico. 1 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. DORNELAS, José Carlos Assis. Transformando Ideias em negócios. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. FERREIRA, Marina Rossi. Turismo e Gastronomia, consumo e gestão. Curitiba: InterSaberes, p. 72, 2016. FERREIRA JUNIOR, Achiles Batista. Marketing Digital: uma análise do mercado 3.0. 1 ed. Curitiba: InterSaberes, 2015. KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de Marketing. 12 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. KOTLER, Philip; HAIDER, Donald H.; REIN, Irving. Marketing público. São Paulo: Makron Books, p.11, 1994. PORTILLO, Vanilde Gerolim. Citação: O Resgate da Memória Afetiva. Disponível em: http://www.portaldomarketing.com.br/ Artigos/Resgate_da_Memoria_Afetiva.htm Acesso em: 2 Set. 2017 POSSAMAI, Ana Maria; PECCIN, Rosana. Turismo, história e gastronomia: uma viagem pelos sabores. Caxias do Sul: EDUCS, p. 29, 2011. RIZZO, Daniel. Combinações Certeiras. Gula, São Paulo, Camelot, n.99, p. 60, 2001. STEFENON, C; BONESI, C. de M. Novas abordagens sobre vinhos espumantes: uma breve revisão. Revista Brasileira de Viticultura e Enologia, n.7, p.82-91, 2015.
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DA TELONA PARA A TELINHA: CONSIDERACÕES SOBRE A RECEPÇÃO DA FINAL DO MASTERCHEF 2019 NO TWITTER FROM BIG SCREEN TO SMALL SCREEN: CONSIDERATIONS ABOUT THE RECEPTION THE MASTERCHEF 2019 FINAL ON TWITTER Guilherme Bernst1 Ilana Xavier2 Juliane Lucca3 Vitória Cunha4 Valéria Deluca Soares5
RESUMO: Este estudo tem por objetivo analisar a recepção do último episódio do Masterchef 2019, através dos tweets postados pelos telespectadores internautas no perfil do programa no Twitter. Busca-se compreender a relação dos espectadores que assistem um programa de televisão e interagem com a programação a partir do uso da rede social, considerando o conceito de segunda tela. Para tal, usa-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, com as técnicas de pesquisas documental e bibliográfica, observação simples e análise de conteúdo, em uma amostra não probabilística por intencionalidade. Verificou-se que a segunda tela permite que o público participe interativamente das atrações televisivas, pois possibilita o diálogo com o espectador, através de outros dispositivos. Identificou-se que esta pode ser uma estratégia das emissoras, que utilizam a internet como uma forma de manter a audiência e gerar engajamento dos telespectadores, a partir das redes sociais e do uso de hashtags. Palavras-Chave: Estudos de Recepção. SegundaTela eTelevisão.Twitter. Hashtags. Masterchef Brasil. ABSTRACT: This study aims to analyze the reception of the last episode of Masterchef 2019, through tweets posted by viewers on the Twitter profile of the program. It seeks to understand the relationship of viewers who watch a television program and interact with the programming from the use of the social network, considering the concept of second screen. For this, we use an exploratory research, with a qualitative approach, with the techniques of documentary and bibliographic research, simple observation and content analysis, in a no probabilistic by intentionality. It was found that the second screen allows the audience to interactively participate in television attractions, as it enables dialogue with the viewer through other devices. It was identified that this may be a strategy of broadcasters, who use the internet to maintain audience and generate viewer engagement, from social networks and the use of hashtags. Keywords: Reception Studies. Second Screen and Television. Twitter. Hashtags. Masterchef Brazil. 1 Formando em Jornalismo, pelo Centro Universitário Metodista IPA. 2 Bacharelanda em Jornalismo, pelo Centro Universitário Metodista IPA. 3 Bacharelanda em Jornalismo, pelo Centro Universitário Metodista IPA. 4 Formanda em Jornalismo, pelo Centro Universitário Metodista IPA. 5 Doutora em Comunicação Social. Professora do Centro Universitário Metodista IPA. Orientadora metodológica deste artigo, realizado durante a disciplina Mídia e Recepção, do curso de Jornalismo, do Centro Universitário Metodista IPA. Contato: valeria.deluca@ipa.metodista.br
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INTRODUÇÃO televisão é um marco dos estudos de recepção. Diversas correntes teóricas surgiram com o objetivo de compreender o comportamento do telespectador durante o momento no qual ele assiste a um programa, sendo ele jornalístico ou de entretenimento. Diferentes autores dedicaram os seus esforços a analisar o impacto e os perfis de público do que era veiculado na TV aberta, principalmente. Um pouco mais adiante, com o advento da internet, mais recentemente com a popularização dos smartphones e suas facilidades, o modo de consumir o conteúdo televisivo está mudando consideravelmente. Outrora os canais disputavam espaço com tarefas domésticas, jantares em família, cuidado com os filhos, porém hoje, têm como importante concorrente uma ferramenta capaz de fazer com que a audiência se perca em meio às conexões virtuais ou façam dessas, uma forma de interação real com o que está sendo assistido: a internet e as redes sociais digitais. Um exemplo foi a final da sexta temporada do programa MasterChef Brasil, atração que reúne chefes de cozinha amadores para uma competição, onde os jurados decidem quem é o melhor, veiculada em 25 de agosto de 2019, na Band TV. Neste e também nos outros episódios, foi perceptível a interação do público através de hashtags (#), ferramenta que indexa os posts com assunto em comum, que aparecem nos Trending Topics, aba que torna público os temas mais discutidos, do Twitter. O Twitter se tornou uma das principais plataformas que permite a utilização da segunda tela, situação em que o receptor interage em tempo real, com o que está assistindo. Geralmente, a hashtag da busca por essa integração é lançada pelos próprios apresentadores ou aparecem no vídeo durante a veiculação do programa. Neste artigo, em especial, escolheu-se o uso da #MasterChefBR para analisar os tweets de antes, durante e depois da transmissão do último episódio, que elegeu Rodrigo Massoni como melhor chefe do Brasil. Busca-se analisar a recepção do último episódio do Masterchef 2019, através dos twetts
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postados pelos telespectadores internautas no perfil do programa no Twitter. Quer-se compreender se a rede social pode ser vista como uma ferramenta de comunicação, direta e efetiva, dos espectadores com os programas assistidos e com outros receptores. Temse, então, como ponto de partida, estudos que entendem o receptor como ativo e participativo. Constrói-se uma possibilidade de verificar se estes estão condizentes com a realidade encontrada quando o assunto é segunda tela - interação em tempo real, via mídias sociais, com a programação que está sendo acompanhada no televisor ou no computador/smartfone. O estudo se justifica por provocar uma reflexão sobre os motivos que instigam a audiência a comentar sobre os resultados de uma competição onde não tiveram nenhuma chance de provar os alimentos que estavam sendo avaliados. Os resultados podem ser interessantes para os estudos do campo da recepção, bem como para os profissionais que atuam tanto na esfera do entretenimento ou jornalística, seja em TV ou no âmbito da internet. Para tanto, opta-se por um estudo exploratório, com abordagem qualitativa. Tem-se como técnicas de coleta de dados, as pesquisas documental e bibliográfica, além da observação simples. Usa-se a análise de conteúdo para estudar do material selecionado, em uma amostra não probabilística por intencionalidade, à luz do referencial construído. ESTUDOS DE RECEPÇÃO Para compreender a esfera da recepção, cabe lembrar, de forma concisa, algumas teorias e suas perspectivas, para entender o comportamento da audiência e da recepção. Silva (2006) organiza o compilado, iniciando pela Teoria da Bala Mágica (Teoria Hipodérmica ou Teoria da Agulha Hipodérmica), que surge durante Primeira Guerra Mundial, nos Estados Unidos, com ideia principal de que o receptor é passivo e aceita as mensagens como são enviadas, sem questionamentos. Entende
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que a mensagem é enviada e recebida, assim como uma bala disparada. Menciona a Teoria da Influência Seletiva, onde o paradigma das diferenças individuais passa pela individualidade de cada ser, ou seja, cada receptor começa a ser considerado ativo, e não mais um indivíduo que simplesmente aceita a mensagem. Começa a preocupação com os efeitos que as mensagens causam nas pessoas, e partindo-se do pressuposto que os efeitos dependem das características individuais de cada um. Assim, destaca a Teoria da Dissonância Cognitiva, onde a dissonância é um estado de aversão e a dissonância cognitiva pode ser considerada uma condição antecedente que leva à atividade orientada para a redução de dissonância. Silva (2006) também recupera as Teorias Sociológicas de Audiência. Estas se baseiam nos grupos de referência que um indivíduo tem (família, amigos, vizinhos, etc) e na presença do ‘líder de opinião’ presente em uma comunidade. Avalia como estes influenciam a audiência nas suas relações com os meios de comunicação. Outra corrente de pensamento que recebe atenção da autora é a Teoria dos Usos e Gratificações. Esta linha se preocupa com as motivações que levam uma pessoa a optar por um meio de comunicação. Considera, a possibilidade de o indivíduo escolher não se expor a nenhum meio visto que o receptor é ativo e os meios competem com outras gratificações (viagens, praia, namoro, trabalho, etc.). Os usos que o indivíduo faz dos meios e seus conteúdos e os benefícios que eles acreditam estar adquirindo ao se exporem a eles são os norteadores dessa teoria. Dá destaque também para as Perspectivas Culturais de Audiência. Lembra que a cultura é um conjunto de crenças e normas que norteiam indivíduos. Salienta o pensamento de Moles, McLuhan e Edgar Morin como sendo os principais estudiosos que se interessaram em perceber como a cultura interfere no ato comunicacional e pondera que os britânicos foram os estudiosos que mais contribuíram com referências para esses
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estudos, com os Estudos Culturais. Foi a partir destas perspectivas que os latino-americanos conduziram suas pesquisas até as perspectivas das mediações. Para compreender a visão latino-americana de comunicação e recepção é preciso conhecer sobre as contribuições de Jesús Martín Barbero, Guillermo Orozco e Nestor García Canclini. Tais linhas de pensamento são voltadas para a realidade na América Latina, superando a noção de dependência teórica (além dos outros tipos de dependência – econômica e política, por exemplo) dos países desenvolvidos e considerando o contexto de globalização, industrialização tardia e modernização acelerada. Ao definir o que seja recepção e por consequência, os receptores, Martín-Barbero, em sua obra, apresenta dois enfoques para as pesquisas de recepção na América Latina. Em uma primeira linha, surge a necessidade de compreender a transformação das várias identidades para entender como se dá o processo de recepção. Julga pertinente, ainda, estudar a recepção e o consumo para entender as identidades. Assim, divide as práticas de recepção entre significativas, que seriam a minoria, e as sem significado. Por sua vez, Canclini explica que o público pode ser entendido como um conjunto de setores que pertencem a diferentes camadas econômicas e educativas, com hábitos de consumo cultural e com infinitas possibilidade de se relacionar com os bens oferecidos, tendo por pano de fundo as sociedades complexas, onde pode-se identificar diversos modos de recepção, fundamentados em bens de tradições cultas, populares e massivas. Orozco, para apresentar os conceitos de recepção e receptores, cunha o termo televidência para indicar a interação dos telespectadores com a televisão. Ele o considera um conceito complexo de recepção, mas em relação somente à televisão. A televidência, explica ele, é um processo culturalizado, onde os indivíduos pertencem a uma audiência com características próprias, mas que são capazes de se conectarem com outros indivíduos, dando origem a uma comunidade de apropriação,
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gerando interpretação dos sentidos produzidos pela televisão. O autor nomeia então, os sujeitos-audiência. Eles definem os sentidos dos programas televisivos, ainda que estes sejam contrários aos estabelecidos pelos produtores e emissores. Assim, os três autores consideram os receptores como não passivos, ao contrário de alienados ou sem reação. Martín-Barbero percebe o receptor não apenas como um simples decodificador da mensagem, mas um produtor de sentidos. Neste sentido, Canclini considera a comunicação como sendo um processo eficaz, caso inclua relações de colaboração e troca entre emissores e receptores, que vão além da mera dominação. Outra tentativa de situar os estudos culturais na América Latina tem expressão na categorização das frentes culturais, proposta por Jorge González. Elas estabelecem a relação entre público e a cultura popular e a de massa. O pesquisador aborda a indústria cultural e pondera que a cultura é o espaço de confronto para as mais diversas frentes culturais. Seus estudos são caracterizados pela polifonia metodológica, que vai da etnografia à estatística, em torno do núcleo de estudos, a família.
junto aos receptores para que estes pudessem melhorar seus processos de recepção, embora reconheça que esse objetivo ainda não foi alcançado.
Uma das divergências percebidas entre os autores é que, enquanto Orozco defende a educação das audiências, Martín-Barbero (2004, p. 405) a crítica: “Muitos estudos de recepção sobre televisão foram feitos com o objetivo de ‘corrigir o ver’ dos telespectadores. Visão imersa em preconceitos quanto a esse meio, que busca não a compreensão da televisão, mas a educação dos públicos”. Por sua vez, Orozco considera que seria produtivo que o trabalho de investigação qualitativa das audiências devolvesse o conhecimento obtido
Silva (2006), em complemento, julga que é importante ressaltar que, no início do século XX, a comunicação social não era uma ciência. Por isso, os estudos dessa natureza partiam de profissionais ligados às Ciências Sociais básicas, como Sociologia, Psicologia, Antropologia, entre outros. Assim, a evolução teórica da Comunicação chegou a ficar fragmentada pela não continuação destes estudos, já que, quando finalizados, seus pesquisadores retornavam às áreas de origem.
todo texto ou discurso especializado que emana dos campos nunca é recebido por indivíduos isolados, porque estes sempre estão inseridos nas diversas redes ideológicas que constituem as formas elementares de convivência social, em cujo seio se gera, se digere, se desconstrói, se recicla e se reconstrói o discurso dos campos, todos os dias, dia após dia. (GONZÁLEZ, 1994, p. 265)
RECEPÇÃO E TV Martín-Barbero toma como ponto de partida a recepção enquanto um leitor participativo. Define esta recepção como um espaço de interação e um processo de negociação do sentido. Ou seja, para ele, os receptores são aqueles que adotam um papel ativo e com capacidade de ler/interpretar as mensagens e discursos recebidos. A recepção é afetada e afeta também o papel da mídia, indo além de ser apenas uma produtora ou reprodutora de mensagens. Nesta linha, cabe citar que a comunicação, segundo Baccega (2001), constitui-se do encontro de dois polos básicos, que estabelecem uma relação: de um lado, a emissão; e de outro, a recepção. Na sua visão, elas interagem entre si a partir de referências culturais e emocionais. Cézar (2016) defende que a forma de significar é importante para entender a relação que se estabelece entre emissor e receptor e questiona: Receptores podem ser vistos como receptáculos, onde a mensagem deve ser depositada? Emissores podem ser vistos como detentores de poder que impõem conteúdos sem negociações? Estas duas visões povoam o imaginário da maioria da população bem como de alguns pesquisadores e dificultam o entendimento da relação entre emissor e receptor. (CÉZAR, 2016, s.p.)
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Retomando, Wolton (2003) observa que a recepção é uma palavra extremamente polissêmica, que inclui processos conscientes e lógicos de atenção, leitura, inferência, interpretação, compreensão/ não compreensão e exposição. Para ele, são processos inconscientes da ordem da adesão ou do desejo e processos valorativos, como aceitação/rejeição, acordo/discordância, gosto/desgosto, dentre muitos outros. O autor entende que todas as combinações entre esses termos são possíveis. Herdeira da tradição empirista e tecnicista da Comunicação, a palavra recepção carrega em si o peso de uma história da comunicação sem sujeitos, de acordo com ele. Sejam os trabalhos de recepção, uso ou consumo, os termos mais utilizados para referir-se aos sujeitos dessas interações são públicos, audiências e/ou receptores, quando se trata das mídias tradicionais. Mais vinculada a estudos quantitativos sobre a televisão, o termo ‘audiência’ ficou completamente associado a tal mídia, enquanto que a palavra ‘público’ diz respeito a questões teóricas e políticas vinculadas à democracia de massas e às mídias generalistas. (WOLTON, 2003) Assim, é possível entender que os estudo referentes à audiência e à recepção trazem uma evolução de pesquisas e levantamentos realizados por diversas áreas, como por exemplo, a Psicologia. Esta, quando define e divulga a Teoria da Diferenças Individuais, encabeçada por DeFluer e Ball-Roceach (1993), considera que cada indivíduo é único e diferente entre si, mesmo que mantenham padrões e comportamentos de cada cultura. Na visão dos autores, além de fatores biológicos, as influências que estes indivíduos recebiam de seu ambiente social passam a ser consideradas. Então, a perspectiva de que todo ser humano é praticamente um igual ao outro, passa a ser refutada. Neste novo entendimento, o receptor não mais é considerado passivo, como pressupunha a Teoria da Bala Mágica. Agora, ele passa a ser um receptor ativo, “capaz de responder de formas distintas a estímulos recebidos dos veículos de comunicação de massa; essas respostas
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podem variar de acordo com as características psicológicas e sociais de cada sujeito” (DEFLEUR; BALL-ROCEACH, 1993, p. 183). Considerando tal pensamento e retomando a opinião de Silva (2006), no processo de comunicação, representado pelo esquema fonte (emisor) – canal – mensagem - receptor, os estudos de audiência e recepção têm o foco centrado no receptor. Para ela, somente é possível compreender um processo de comunicação efetivo quando neste há um receptor para receber a mensagem emitida. Ou seja, o receptor é o elo mais importante do processo de comunicação (SILVA, 2006). Outro autor que corrobora com esta linha de pensamento é Berlo (1997), quando defende que “se a mensagem não atingir o receptor, de nada adiantou enviá-la”. Conforme ele, um dos aspectos mais importantes na comunicação é a preocupação com a pessoa que está na outra ponta da cadeia de comunicação (BERLO, 1999, p. 53). Portanto, por estes vieses, o receptor é o sujeito principal. Assim, é necessário que se perceba que “o foco de análise dos estudos de audiência e recepção não é pura composição ou o tamanho da audiência, mas sim as respostas que os indivíduos dão aos conteúdos da comunicação” (RUÓTOLO, 1998, p. 159). Ainda segundo o referido autor, as respostas dos receptores aos meios de comunicação podem ser classificadas em grupos. Sendo eles: respostas de exposição, respostas de recepção, respostas atitudinais e respostas comportamentais. Segundo ele, “todas as análises tendem a ser perspectivas teóricas de médio alcance, enfatizando apenas um grupo de respostas” (RUÓTOLO, 1994, p. 160). Portanto, conforme o autor, não há uma só teoria geral que explique o receptor desde o momento que decide expor-se a um conteúdo até suas últimas consequências comportamentais. TWITTER COMO SEGUNDA TELA O Twitter é um microblog6 criado em 2006, por Jack Dorsey, Evan Williams e Biz Stone, sócios 6 Microblogs são blogs para postagens curtas, em geral até 200 caracteres. Disponível em: https://www. tecmundo.com.br/web/805-microblogging-saiba-tudosobre-eles.htm. Acesso em 16.nov.2019.
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na empresa Odeo e ex-funcionários da Google. A ideia era que a ferramenta funcionasse como um serviço de troca de status. O conceito se baseava no envio de mensagens curtas pelo celular, em que o usuário receberia um twich (vibração) quando uma atualização fosse enviada7. A primeira mensagem foi postada em março de 2006 e a ferramenta foi lançada para o público em julho de mesmo ano. O nome Twitter, em inglês, significa “uma pequena explosão de informações inconsequentes” e “pios de pássaros”. Ambas definições combinavam com o conceito da ferramenta, que, inicialmente, permitia mensagens de até 140 caracteres8. Em 2017, o microblog alterou para 280 o limite de caracteres, para que os usuários pudessem se expressar com mais facilidade e rapidez9. De acordo com Zago (2008, p. 09), “a limitação de tamanho a cada atualização faz com que se tenha que repensar a produção de conteúdos específicos para esse suporte”. Para a autora, o limite de caracteres, associado à disposição em ordem cronológica inversa das atualizações, possibilita que a ferramenta possa ser utilizada em coberturas estilo minuto a minuto de eventos e acontecimentos. Para responder sobre “O que está acontecendo?”, mais de 126 milhões de pessoas acessam a rede diariamente, segundo dados divulgados pelo Twitter. No Brasil, são 8,28 milhões de perfis ativos10. Recuero (2011) destaca, entre as características específicas da ferramenta, a rapidez na publicação de informações e o acesso via dispositivos móveis, como o celular. Conforme a autora, o Twitter também agrega pela relação entre seguidos e seguidores, além de possibilitar a produção de conteúdo por qualquer usuário. Sobre a relação entre os usuários, Zago (2011, p. 65) comenta 7 Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/ rede-social/3667-a-historia-do-twitter.htm. Acesso em 16.nov.2019. 8 Disponível em: https://www.oficinadanet.com.br/ post/16210-a-historia-do-twitter. Acesso em 16.nov.2019. 9 Disponível em https://g1.globo.com/tecnologia/ noticia/twitter-aumenta-limite-para-280-caracteres. ghtml. Acesso em 16.nov.2019. 10 Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/ redes-sociais/144654-brasil-10-paises-usuarios-twitter. htm. Acesso em 16.nov.2019.
que aqueles com maior número de seguidores, “exercem maior influência na rede na medida em que as mensagens que enviam têm o potencial de atingir mais usuários e mais redes”. O Twitter também é marcado pela presença de celebridades, personalidades, programas, veículos de comunicação, empresas e outras instituições que, segundo Zago (2011), atuam como influenciadores e filtro de informações, devido ao alto número de conexões. Na rede, as informações circulam de um contato para outro, através de estratégias da plataforma como o retweet e o uso de hashtags. O retweet, explica ela, é a reprodução de uma mensagem (tweet) postada originalmente por outro usuário, precedido pelo indicador “RT” e seguido do nome do usuário de quem enviou a informação original para o Twitter. A hashtag auxilia na organização da informação e serve tanto para quem quer recuperar um dado que considere relevante, quanto para quem busca alguma informação que já esteja marcada com a mesma tag por outros usuários. Quando um assunto é sinalizado com a mesma hashtag por diversas pessoas, passa para o Trending Topic (TT), o ranking do Twitter para os temas mais populares. Isso significa que os tweets com uma hashtag ou palavra relacionada ao assunto têm sido propagados por inúmeras pessoas em determinado período11. Muitos programas televisivos usam hashtags oficiais para incentivarem o público a comentar nas redes sobre o que estão assistindo. Logo, o modo de assistir televisão tem se modificado nos últimos anos. Com o crescimento do uso de dispositivos móveis, passou-se a conciliar televisão e internet. Conforme Almeida (2016, p. 83), “muitos telespectadores passaram a combinar a atividade de ver TV com a de navegar na Internet simultaneamente, utilizando uma ‘segunda tela’ (smartphones, notebooks e tablets)”. Para a autora, o uso concomitante 11 Disponível em: https://tecnologia.ig.com.br/oque-sao-e-como-funcionam-os-trending-topics/ n1597175643026.html. Acesso em 16.nov.2019.
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de TV e internet está ligado ao fato de os telespectadores comentarem nas redes sociais sobre o que assistem na televisão. De acordo com Mendonça e Coca (2013), a utilização de aparelhos como notebooks, smartphones e tablets para o consumo de conteúdos televisivos mudou a experiência do espectador.
A mídia social tornou-se um meio de maior utilização com aumento constante de smartphones e a adoção de tablets, aproximando-se do sofá. Estar conectado à internet em frente à televisão não é só uma moda, mas sim parte muito natural e confortável da experiência televisiva. (PROULX; SHEPATIN, 2012, p. 10 apud MENDONÇA; COCA, 2013, p. 451)
Conforme Ribeiro e Rios (2016), a segunda tela permite uma participação mais interativa do público, já que possibilita o diálogo entre mídia e espectador através de outros dispositivos. Com isso, o público passa a integrar o processo de construção dos programas televisivos. Para eles, os meios de comunicação buscam a internet como forma de atrair e manter audiência, gerando engajamento nas redes sociais e aumentando a visibilidade desses programas. Nos últimos anos, as emissoras de TV têm utilizado a segunda tela como meio de interação com outras mídias e com os espectadores, conforme destacam Mendonça e Coca (2013). A Rede Globo é uma das emissoras que usa a interatividade para se aproximar do público. O canal tem lançado várias ações ligadas à minisséries e telenovelas, com desdobramentos na internet. Outra emissora que utiliza a internet e principalmente as redes sociais, é a Band. O reality show MasterChef, por exemplo, recorre ao Twitter para que os espectadores participem efetivamente do programa, através de hashtags. A segunda tela ampliou a experiência de interpretação e o alcance do conteúdo no momento em que é consumido. Segundo uma pesquisa do Ibope Conecta realizada em 2018, 95% dos brasileiros acessam a
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internet enquanto assistem televisão12. O smartphone é o aparelho utilizado por 81% dos entrevistados. Conforme o levantamento, 53% dos espectadores acessam as redes sociais ao mesmo tempo que assistem TV. Segundo Ribeiro e Rios (2016, p. 07), “o Twitter foi a primeira rede a ter sucesso como segunda tela”, devido às postagens de tamanho reduzido e à rápida atualização. Cada usuário se apropria da ferramenta de maneira diferenciada, mas sobretudo a utiliza para socialização e busca por informação (RECUERO, 2009 apud RIBEIRO; RIOS, 2016, p. 7). Ainda, de acordo com os autores, a rede social colabora com a televisão, pois os usuários comentam o que assistem em tempo real, usando as hashtags para marcar assuntos. Para Canatta (2014), o microblog atrai as emissoras de TV, que o utilizam para divulgar programação, atrações, realizar promoções e enquetes. O uso de hashtags estimula a conversa sobre determinado assunto e permite que essas interações ganhem destaque e agreguem mais usuários, gerando visibilidade para que se popularizem e cheguem aos trending topics. Ainda conforme Canatta (2014, p. 73), “o Twitter também permite uma forma mais rápida e direta de contato entre os produtores de conteúdo e o seu público”. Os tweets sobre um programa ou assunto são lidos e respondidos no ar, e também são exibidos na parte inferior da tela durante a exibição desta atração. “Ainda que possa predominar um ou outro uso, o Twitter pode ser visto como um híbrido entre uma ferramenta de informação e uma ferramenta de interação social” (ZAGO, 2012, p. 02 apud RIBEIRO; RIOS, 2016, p. 07). Canatta (2016) ainda destaca que as mensagens instantâneas, postadas no Twitter relacionadas à televisão, podem determinar a relação do público com a TV. De acordo com o autor, esse processo ajuda a compreender como o conteúdo exibido na televisão é recebido e interpretado pelo espectador, no instante da transmissão, além de considerar a opinião do receptor na comunicação. 12 Disponível em: https://exame.abril.com.br/ marketing/95-dos-brasileiros-acessam-a-internetenquanto-assistem-a-televisao/. Acesso em 19.nov.2019.
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O MASTERCHEF BRASIL 2019: NA TELA DA BAND E NA TELA DO TWITTER O MasterChef nasceu no Reino Unido, há 29 anos. Desde 2005, assumiu o formato atual. Mais de 40 países já produziram a versão do programa culinário. No Brasil, ele é transmitido pela Band desde 201413. Ao todo foram seis temporadas do MasterChef Brasil para cozinheiros amadores. Os vencedores por ordem de temporadas foram: Elisa Fernandes, Izabel Alvares, Leonardo Young, Michele Crispim e Maria Antônia Russi14. Além do programa original para cozinheiros amadores, a Band produziu três spin-offs: o “MasterChef Júnior”, que teve uma temporada em 2015, vencida por Lorenzo Ravioli15; o “MasterChef Profissionais”, disputada entre cozinheiros profissionais, que teve três temporadas, vencidas por Dayse Paparoto, Pablo Oazen e Rafael Gomes16. Em 2019, a Band anunciou para depois da sexta temporada, o “MasterChef A Revanche”, com ex-participantes do MasterChef Brasil17. A final da sexta temporada do programa MasterChef Brasil 2019 foi disputada no dia 25 de agosto. A piauiense Lorena Dayse e o paulista Rodrigo Massoni disputaram a preferência dos chefs Henrique Fogaça, Érick Jacquin e Paola Carosella pelo título de melhor cozinheiro amador do Brasil18. Na última prova, os finalistas 13 Disponível em: <https://veja.abril.com.br/ entretenimento/masterchef-brasil-ja-foi-exibido-em50-nacoes/#> Acesso em 28 de nov. 2019 14 Disponível em: <https://emais.estadao.com. br/noticias/tv,masterchef-brasil-reune-todos-osvencedores-na-prova-dos-campeoes,70002899123> Acesso em 29 de nov. 2019 15 Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/ cultura-e-lazer/noticia/2015/12/lorenzo-e-o-vencedordo-masterchef-junior-4931500.html> Acesso em 29 de nov. 2019 16 Disponível em: <https://www.terra.com.br/diversao/ tv/blog-sala-de-tv/brodagem-e-rivalidade-levamviloes-will-e-rafa-a-final,bd54d9cec8bc04d65dec32343d 6f1036vmm0j2s3.html> Acesso em 30 de nov. 2019 17 Disponível em: <https://emais.estadao.com.br/ noticias/tv,masterchef-a-revanche-band-anunciatemporada-com-ex-participantes,70002979853> Acesso em 3 de dez. 2019 18 Disponível em: <https://www.terra.com.br/diversao/ tv/masterchef-brasil-2019-band-divulga-detalhes-dafinal-da-6-temporada,8e9df3948afb4b1c21c653597a728 cb4w9t63fj8.html> Acesso em 19 de out. 2019
tiveram que apresentar um ‘menu completo que representasse quem eles são’, com pratos que refletiam suas histórias e preferências. Lorena e Rodrigo cozinharam com familiares e participantes da temporada do reality, que os acompanharam do mezanino existente no cenário da atração. Rodrigo preparou um menu batizado como “Meu Mundo”, onde mostrou as influências gastronômicas que gosta. Na entrada, ele cozinhou um tortellini de camarão em caldo asiático. O prato principal foi uma barriga de porco com feijão manteiguinha de Santarém. E na sobremesa, serviu sorvete de coco com gengibre e limão19. Lorena fez o menu “Uma viagem pelo Piauí”, que começou com um ravioli de vinho com caranguejo como entrada. Carneiro ao leite de coco, com baião de dois de feijão verde e alho-poró, no prato principal. E na sobremesa, sorvete de coco com abacaxi na cachaça20. Rodrigo foi o escolhido pelos jurados como vencedor da competição. Como premiação, ganhou R$ 250 mil, uma bolsa de estudos na tradicional escola de culinária francesa Le Cordon Bleu Paris, além de uma cozinha completa da nova linha Brastemp com geladeira, micro-ondas, forno tradicional e a vapor, cooktop e coifa. A sua cozinha também foi equipada com panelas de aço inox, um kit chef de facas, além dos eletro-portáteis Tramontina by Breville. O campeão ainda foi convidado pela Barilla para acompanhar o maior campeonato de massas do mundo, o Pasta World Championship. O paulistano acumulou durante a competição R$ 6,5 mil em vitórias durante a temporada e foi premiado com R$ 1 mil por mês, durante um ano, para fazer compras com o cartão Carrefour21. Lorena como vice-campeã, ganhou uma bolsa 19 Disponível em: <https://entretenimento.band.uol. com.br/masterchef/noticias/100000968599/rodrigomassoni-e-o-vencedor-do-masterchef-brasil.html> Acesso em 19 de out. 2019 20 Disponível em: <https://gente.ig.com.br/ tvenovela/2019-08-25/masterchef-2019.html> Acesso em 19 de out. 2019 21 Disponível em: <https://entretenimento.band.uol. com.br/masterchef/noticias/100000968599/rodrigomassoni-e-o-vencedor-do-masterchef-brasil.html> Acesso em 19 de out. 2019
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de estudos na unidade da Le Cordon Bleu em Ottawa, no Canadá22. Mesmo tendo uma audiência abaixo do esperado durante a temporada, principalmente por conta da mudança do dia de transmissão do programa, que passou da terça-feira para domingo, a grande final teve uma audiência 93% maior que na temporada de 201823. Apesar do grande alcance atingido na final, a sexta temporada do MasterChef Brasil teve o pior índice de audiência24. A final da sexta edição do MasterChef Brasil foi transmitida simultaneamente pela televisão e Twitter. Essa ação inédita, ocorreu por conta da parceria do programa com a Oi, operadora de celulares. Além disso, ao longo da semana da ‘grande final’, o perfil do MasterChef Brasil no Twitter levou enquetes e conteúdos relacionados ao programa com o objetivo de engajar os fãs do reality. As pessoas também puderam ativar um alerta a partir de um tweet para receber notificação assim que o episódio da final começasse25. Na segunda edição do programa, o MasterChef Brasil era patrocinado pela TIM, e o anúncio da vencedora Isabel, foi feito primeiro pelo Twitter. A apresentadora Ana Paula Padrão ‘tweetou ao vivo’, antes de anunciar o resultado na grande tela26. Na sexta temporada, a Oi participou de conversas, associou-se a conteúdos do programa e criou uma série de transmissões ao vivo, que trouxeram curiosidades e comentários sobre cada episódio do 22 Disponível em: <https://gente.ig.com.br/ tvenovela/2019-08-25/masterchef-2019.html> Acesso em 19 de out. 2019 23 Disponível em: <https://natelinha.uol.com.br/ televisao/2019/08/28/final-do-masterchef-nodomingo-alcanca-93-mais-publico-que-temporadaanterior-133108.php> Acesso em 19 de out. 2019. 24 Disponível em: <https://rd1.com.br/masterchef-6chega-ao-fim-com-pior-audiencia-da-historia/> 25 Disponível em: <https://www.ofuxico.com.br/ noticias-sobre-famosos/final-do-masterchef-seratransmitida-na-tv-e-no-twitter/2019/08/23-356862. html> Acesso em 19 de out. 2019 26 Disponível em: <https://www.b9.com.br/66780/ e-parceria-masterchef-brasil-e-twitter-continua/> Acesso em 20 de out. 2019
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programa27.O #UltraGigueSeNaCozinha contou com apresentação de Gisele Souza, dona do canal Receitas de Minuto e convidados, como o cozinheiro e jurado do programa Erick Jacquin28. Desde 2013, a Band adota o conceito de segunda tela em sua programação. Eles criaram o aplicativo do canal, antes da Copa das Confederações de 2013, com o intuito de revolucionar a forma como os espectadores interagem com os programas da televisão29. Atualmente, o aplicativo da Bandeirantes leva conteúdo ao vivo para o público diretamente no celular, fornece a grade de programação, vídeos e a opção segunda tela, onde os telespectadores podem participar de enquetes e comentar sobre tudo que acontece na tela da Band via Twitter30. O programa Masterchef faz o uso de hashtags para que o público utilize nas redes sociais e interaja com outros internautas. Cada participante do programa recebe sua própria conta no Twitter. Porém, essa interação nas redes sociais não interfere no andamento do programa, já que o público não escolhe quem é vencedor ou eliminado. A GRANDE FINAL DO MASTERCHEF 2019: A TELINHA E A TELONA Busca-se, nesta análise, entender como é a recepção do público a partir da segunda tela, no caso a rede social Twitter, onde é possível que o espectador dê sua opinião sobre qualquer assunto instantaneamente. Para Canatta (2016), essas mensagens postadas na plataforma relacionadas à televisão, podem determinar a relação do público com a TV. Este processo auxilia na compreensão da opinião do receptor na comunicação. Exatamente o que se 27 Disponível em: <https://www.promoview.com.br/ live-marketing/em-parceria-com-a-oi-masterchef-seratransmitido-no-twitter-e-na-tv.html> Acesso em 21 de out. 2019 28 Disponível em: <https://www.meioemensagem. com.br/home/midia/2019/08/23/oi-transmite-final-demasterchef-no-twitter.html> Acesso em 21 de out. 2019 29 Disponível em: <https://canaltech.com.br/tv/Bandadota-conceito-de-segunda-tela-e-lanca-aplicativoexclusivo/> Acesso em 21 de out. 2019 30 Disponível em: <https://www.band.uol.com.br/ segundatela/> Acesso em 21 de out. 2019
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pretende com este artigo ao analisar dez tweets que foram postados durante a transmissão da final do programa Masterchef Brasil 2019. Observando os tweets selecionados é possível destacar como o programa e a segunda tela parecem levar quem está assistindo para dentro da televisão, apesar do reality não ter a participação do público na decisão (por votação) ou do fato que os receptores não tenham nenhum contato com a comida, se não o visual. Ainda conforme Canatta (2016), o Twitter pode ser visto como um híbrido entre uma ferramenta de informação e uma ferramenta de interação social. No programa Masterchef, a informação não seria jornalística, mas como uma forma a interação do público através da segunda tela. É possível entender esse formato, por exemplo, quando é anunciado o vencedor da disputa primeiramente no Twitter e depois na televisão. Pode-se até inverter os lugares, onde a segunda tela passa ser a televisão.
Ribeiro e Rios (2016) acreditam que o Twitter foi a primeira rede social a realmente ter sucesso enquanto segunda tela. Cabe apontar que uma recente pesquisa revela que 95% dos brasileiros diz utilizar a internet enquanto usa seus smartphones. Dessa forma, é possível afirmar que na sociedade online existe um novo formato de recepção, em que o espectador não é mais passivo não na sua forma de receber a informação, mas na sua capacidade de opinião em relação ao fato. Agora, o receptor pode até mesmo aparecer na primeira tela ao expressar sua opinião. O diálogo entre mídia e público se revolucionou através dessa nova estrutura, conforme afirmam Ribeiro e Rios (2016). Isto pode ser percebido nas Figuras 1 e 2, onde os internautas opinam sobre a condução do programa a partir dos comentários postados no Twitter.
Figura 1-
Figura 2 -
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Observa-se a interação do público com a emissora em, inclusive, reclamando do formato da programação. Apesar de continuar assistindo ao programa, sua opinião e até insatisfação estão sendo compartilhadas, apresentando-se como uma audiência ativa. Martín-Barbero (2009) indica seu entendimento quanto ao receptor como participativo. Para ele, receptores são aqueles que adotam um papel ativo e com capacidade de ler/interpretar as mensagens e discursos recebidos. A recepção é afetada e afeta também o papel da mídia, indo além de ser apenas uma produtora ou reprodutora de mensagens.
Nesta linha, Baccega (2001) ressalta que a recepção e a emissão, interagem entre si a partir de referências culturais e emocionais. Ao analisar os tweets ficam evidentes essas referências, principalmente as emocionais. O receptor se sente parte da programação, como mostram as Figuras 3, 4 e 5. Vê-se que os internautas fazem observações referentes aos pratos apresentados como se pudessem absorver algo dali, mesmo sem prová-los. Também é assim a respeito dos participantes, com uma final bastante apelativa, as histórias e o show do último episódio envolvem ainda mais o receptor, que durante toda a trajetória do programa já está completamente envolvido com sua narrativa.
Figura 3 -
Figura 4 -
Figura 5 -
Esta sequência de figuras evidencia o envolvimento do público com o participante vencedor. Também é possível observar o
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quanto é curioso o fato da audiência narrar os acontecimentos como se estivesse presentes no momento, embora tenha ciência de onde
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realmente está. Todavia, os receptores falam dos pratos quase como se pudessem prová-los. Assim, cabe citar Canclini (1993). Ele acredita que a prática do consumo não é feita de forma individual ou apenas movida por gostos, mas que é fruto da cultura e sofre influências externas e até mesmo da lógica de mercado. Através desse pensamento, pode-se entender a relevância de um programa, como o Masterchef, com sua audiência massificada na primeira e na segunda tela. O receptor participa também para estar incluído na discussão, a partir do assunto número um nos trend topics - assunto mais relevantes na plataforma Twitter. Por sua vez, Martín Barbero (2009) pondera que é preciso entender quem é o consumidor através da cultura onde está imerso para daí então, compreender de forma precisa o porquê das suas escolhas enquanto receptor, afinal, como aponta Canclini (1993) estas escolhas possuem fatores externos de influência, onde a recepção não é uma massa cega, mas pelo contrário. Essa audiência não é passiva, alienada ou sem reação, visto que os “sujeitos-audiência” vão definindo, a seu modo, os sentidos dos programas televisivos, ainda que estes sejam contrários aos estabelecidos pelos produtores e emissores. O MasterChef utiliza o Twitter como uma grande ferramenta de interação com o público. Desde o início do programa, eles utilizam a #MasterChefBR. Além disso, os participantes
ganham sua própria conta no Twitter que serve para uma interação entre eles e o público. Conforme destacado por Ribeiro e Rios (2016), ao cita Recuero (2009), a rede social colabora com a televisão, pois os usuários comentam o que assistem em tempo real, utilizando hashtags para marcar assuntos. E de acordo com Proulx e Shepatin (2012 apud MENDONÇA; COCA, 2013), a mídia social começou a ser mais utilizada com o aumento no uso de smartphones e tablets, possibilitando que os usuários consigam estar conectados ao mesmo tempo em que assistem a televisão, fazendo com que isso seja uma parte muito natural e confortável da experiência televisiva. Os tweets que seguem estão relacionados a cada entrega dos pratos da final da sexta temporada do MasterChef Brasil. Foram separados momentos em que os telespectadores utilizaram a segunda tela, para opinarem em relação ao trabalho dos participantes. Na final, os participantes tiveram que fazer um menu com entrada, prato principal e sobremesa, com isso foram analisados momentos que a recepção julgou cada prato dos finalistas Lorena e Rodrigo. Mesmo que não possam provar o que foi servido, a aparência do prato se tornou fundamental para esse julgamento. A visão do prato faz com que as pessoas tenham vontade de comer ou não.
Figura 6 -
Figura 7 -
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Figura 8 -
Na Teoria da Influência Seletiva citada por Silva (2006), as diferenças individuais passam pela individualidade de cada ser. A partir deste momento, nos estudos de recepção, cada receptor começa a ser considerado ativo e não mais um indivíduo que simplesmente aceita a mensagem. Começa a preocupação com os efeitos que as mensagens causam nas pessoas, partindo-se do pressuposto que os efeitos dependem das características individuais de cada um. Dessa maneira, nas Figuras 6, 7 e 8, consegue-se perceber as opiniões diferentes de cada receptor, uns gostando e outros não do que julgam sobre
Figura 9 -
Figura 10 -
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os pratos dos participantes. Por exemplo, como observado nas Figuras 9 e 10, na avaliação de como ficou a sobremesa do Rodrigo, um telespectador destacou que gostaria muito de comê-la, já o outro salientou que a sobremesa parece um isopor num prato de sopa, mostrando não ter gostado do trabalho do vencedor do MasterChef. Isso vem ao encontro com o conceito de consumo trazido por Canclini (1993) que é tratado não como uma prática individual, irracional e movido por desejos e gostos, mas como uma ação cultural em que o valor simbólico se sobrepõe aos demais.
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CONSIDERAÇÕES PERTINENTES O MasterChef Brasil, exibido pela Band desde 2014, realizou a sexta temporada em 2019. Assim como as edições anteriores, a final do programa desse ano foi transmitida ao vivo pela emissora. No entanto, pela primeira vez, a transmissão foi feita simultaneamente pela TV e pelo Twitter. Desde 2013, a Band utiliza o conceito da segunda tela, possibilitando aos telespectadores participarem de enquetes e comentar sobre tudo que acontece na emissora pelo Twitter. A segunda tela permite que o público participe interativamente das atrações televisivas, pois possibilita o diálogo entre mídia e espectador através de outros dispositivos. As emissoras utilizam a internet como uma forma de manter a audiência e gerar engajamento dos telespectadores nas redes sociais. Para isso, fazem uso das hashtags, que mantém os comentários e interações com os programas em evidência. Nesta linha, este artigo se dispôs a analisar a recepção do último episódio do MasterChef 2019, através dos tweets postados pelos telespectadores internautas no perfil do programa no Twitter. Com a análise de tweets referentes a momentos específicos do programa, foi possível identificar que os telespectadores interagem no Twitter com comentários sobre os pratos e sobre os participantes como se realmente estivessem participando da atração, além de opinarem sobre a grade e decisões da produção do programa. Também foi possível entender como a segunda tela se tornou um importante meio de se avaliar a recepção de programas televisivos, visto que os telespectadores internautas reagem instantaneamente nas redes sociais sobre o que estão assistindo na televisão. Os comentários selecionados demonstram que os telespectadores utilizam o Twitter, enquanto canal direto de comunicação entre a recepção e a atração, como lugar para expressar suas opiniões, sensações e até sentimentos em relação aos participantes do programa e suas ações. Identificou-se ainda que o uso da segunda tela pode ser visto como um caminho
mercadológico, visto que duas das maiores operadoras de celular e internet do país já patrocinaram o programa. Nesta última temporada do Masterchef, inclusive, estendeu sua relação com os consumidores oferecendo conteúdos complementares e provocando um engajamento mais intenso na semana que antecedeu a final, com informações e produtos específicos. Os pesquisadores, autores deste artigo, depararam-se com algumas dificuldades para a realização do estudo, como a delimitação do material a ser analisado e a escolha dos tweets que representavam momentos específicos do programa. O maior obstáculo, porém, foi encontrar referências da utilização da segunda tela nos estudos de recepção. Todavia, destaca-se a relevância do tema, visto que a segunda tela se mostrou como um modo objetivo de mensurar/compreender a audiência ativa. Por fim, essa pesquisa abre caminhos para estudos futuros sobre recepção e segunda tela. Nesse sentido, sugere-se pesquisas que abordem o uso da segunda tela como uma forma de entender a recepção, além de estudos que analisem e considerem a participação ativa da audiência, tendo por base outros produtos televisivos, como as telenovelas e os telejornais, contemplando produtos do entretenimento e do jornalismo. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Melissa Ribeiro de. Contribuições e limitações dos estudos culturais em pesquisas sobre recepção televisiva em “segunda tela”. Revista Fronteiras. Unisinos, 2016. Disponível em: http://www.revistas.unisinos.br/index. php/fronteiras/article/view/fem.2016.181.08. Acesso em 17. nov. 2019. ÁVILA, Flávia. Final do MasterChef será transmitida na TV e no Twitter. O Fuxico. 2019. Disponível em: <https://www.ofuxico. com.br/noticias-sobre-famosos/final-domasterchef-sera-transmitida-na-tv-e-notwitter/2019/08/23-356862.html> Acesso em 19 de out. 2019
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Jornalismo e Tecnologia: novas realidades, novas funções e processos midiáticos distintos Bianca Bueno de Souza1 Cíntia Esther Fuchs2 Lucas Belifel Rodrigues da Silva3 Sandra Bitencourt4
E
ste relato didático-pedagógico tem o propósito de compartilhar o resultado de pesquisa e reflexão empreendidas pelos alunos da disciplina de Jornalismo e Tecnologia do curso de Jornalismo do Centro Universitário IPA. O presente trabalho tem o objetivo expor aspectos éticos, técnicos, profissionais e mercadológicos que permeiam as atividades jornalísticas a partir da expansão dos avanços tecnológicos. Para tanto, a turma experimentou elencar as transformações a partir dos pressupostos teóricos, revisando a literatura, e sobretudo pela observação de experiências práticas que estão conformando os novos negócios e formatos na área da informação. Como a disciplina aborda as teorias que embasam reflexões sobre as mídias sociais e o jornalismo na web, dentre os objetivos do semestre (e da pesquisa aplicada) estavam o de conhecer e aplicar conceitos e práticas na relação entre jornalismo e tecnologia e suas dimensões éticas, técnicas, informacionais e mercadológicas, adquirindo atualizações conceituais, mercadológicas e técnico-científicas no campo jornalístico e tecnológico. O conteúdo programático explorou a Arquitetura da Informação e o Processo Criativo em Comunicação online , a Editoração, Desenvolvimento e Avaliação de Projetos Digitais e Interativos, a Ética e Aspectos profissionais da Comunicação digital na Contemporaneidade, Gestão, Planejamento Estratégico e Negócios em Mídias Interativas e a Mensuração de Resultados em Campanhas Interativas e Indicadores de Desempenho. Tudo isso foi acionado para formular um questionário que guiasse a observação participante- metodologia escolhida para a investigação proposta- sobre veículos de comunicação formatados sobre essas novas dinâmicas e pressupostos. A condução das entrevistas e os registros derivados da observação do neócio escolhido para conhecer mais a fundo se centraram em dois elementos conceituais básicos da comunicação on-line : a constituição de um ambiente comunicacional e informacional, (Palacios) onde além das funções tradicionais de emissão e recepção transpostas dos meios de comunicação preexistentes, colocam-se os fatores de demanda (ao invés de emissão) e acesso (ao invés de recepção) ao conteúdo informativo; e a ideia de que além de um ambiente comunicacional, a Internet atuaria como uma “incubadora midiática” (Lemos) que seria capaz de elaborar e administrar processos midiáticos distintos. Assim, a escolha dos veículos/experiências pesquisadas conduziram para o que parece ser uma tendência viabilizada pela tecnologia: as agências de conteúdo. Esses novos formatos de negócio que associam jornalismo e tecnologia demandam capacidade de atuar tanto como gestora de mídias e com capacidade organizacional. 1 Formanda em Jornalismo, pelo Centro Universitário Metodista IPA. 2 Bacharelanda em Jornalismo, pelo Centro Universitário Metodista IPA. 3 Bacharelando em Jornalismo, pelo Centro Universitário Metodista IPA. 4 Doutora em Comunicação e Informação. Proferssora doCentro Universitário Metodista IPA e Diretora de Comunicação do Instituto Novos Paradigmas.
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Os três cases explorados pelos alunos mostram como a nova realidade tecnológica e mercadológica condiciona novos processos midiáticos em plataformas diversas. A seguir os resultados e as sínteses dos questionários aplicados Agência Riobaldo - Conteúdo Cultural Por Bianca Bueno de Souza
A Agência Riobaldo - Conteúdo Cultural é uma agência de comunicação com foco na área cultural e no Terceiro Setor. A entrevista foi realizada com os dois sócios, os jornalistas Rafael Gloria e Thaís Seganfredo. A pesquisa foi feita por método de entrevista e coleta de dados. A observação participante não foi totalmente possível devido à falta de disponibilidade para passar um turno na execução deste trabalho e a própria configuração da rotina do negócio. Entretanto foram elaboradas perguntas a fim de entender a rotina de trabalho da agência e, na medida do possível, poder capturar a forma como conduzem suas atividades. A agência de comunicação Riobaldo é recente, surgiu em julho de 2019, mas carrega a experiência de dez anos dos sócios Rafael Gloria e Thaís Seganfredo. O objetivo da Riobaldo é levar o trabalho de artistas e de organizações para o público de forma especializada, com dedicação integral e personalização. A agência é um dos projetos do Nonada – Jornalismo Travessia, também conduzido pelos dois sócios, um veículo especializado em jornalismo cultural, em ativa há dez anos. Rafael Gloria é jornalista formado pela UFRGS, especialista em Jornalismo Digital pela PUCRS e mestre em Comunicação pela UFRGS. Na Riobaldo, é sócio. Gloria também é editor-fundador do Nonada. Thaís Seganfredo é Jornalista formada pela UFRGS, sócia da Riobaldo e editora do Nonada. A Riobaldo oferece os serviços de: assessoria de imprensa, redes sociais, produção de conteúdo, jornalismo, comunicação direcionada, cursos e palestras. Desde que a agência foi lançada, a maioria dos clientes são
pontuais porque, segundo Rafael Gloria, os artistas da área costumam procurar apenas para lançamento de projetos, por exemplo para lançamento de livros. O único cliente fixo no momento demanda o serviço de redes sociais. Entre os serviços citados que mais são demandados, está a Assessoria de Imprensa e a produção de conteúdo jornalístico. Além disso, eles também promovem cursos, como o de Escrita Criativa no Jornalismo e Jornalismo Cultural. A agência de comunicação Riobaldo preza pela diversidade e a valorização de artistas que estão começando no cenário e artistas locais, e tem valores como os direitos humanos e a transparência nas relações, e possui o objetivo de impulsionar o campo da arte e cultura para os seus clientes. A jornalista e sócia da agência, Thaís Seganfredo, ressalta a importância do relacionamento com o cliente: “é um valor que todos deveriam seguir, de não ser só uma relação de trabalho, mas de conversar e conhecer a vida, ter uma relação mais amigável e não somente profissional. Até porque acaba sendo um trabalho que tu acredita, e o cliente acredita no que tu faz”, explica. Embora a Riobaldo tenha recém entrado no mercado, Seganfredo afirma que o faturamento da empresa tem crescido mês a mês. De outubro para novembro, a jornalista indica que a agência cresceu 47% em seu faturamento. Isso foi uma surpresa para os sócios, já que não esperavam uma resposta tão rápida do mercado. Em 2016 eles tentaram montar uma agência, mas que não deu certo. Agora, o panorama é diferente. Para a sócia, o negócio está dando certo por causa da maturidade que os dois jornalistas adquiriram nesse período: “Esse ano a gente foi mais calmo, com mais experiência, mais conhecimento, e então deslanchou”, esclarece. Sobre a precificação dos seus serviços, eles afirmam que ainda não possuem um valor fixo, embora tenham como base as tabelas do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, e pratiquem a flexibilização dos preços dos
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serviços por diversos motivos, por exemplo a inserção recente da empresa no mercado de jornalismo cultural e também por oferecer mais de um serviço em conjunto (pacotes). Gloria conta que, para a primeira cliente, foi cobrado um valor abaixo do mercado, mas, que pelo lado positivo, esta cliente trouxe outros clientes para o negócio. Eles não divulgaram valores para esta entrevista, mas indicaram que, por trabalharem em sociedade, eles acabam dividindo os faturamentos, custos e lucros de forma igual. Para os sócios, o diferencial competitivo está na especialização, conhecimento adquirido e relacionamento que eles têm com o meio: “como estamos em um mercado muito pequeno, a cultura de Porto Alegre, as pessoas se conhecem muito, não é como se a gente fosse para São Paulo, que o mercado é muito grande. Aqui funciona por indicação”, expõe Gloria. O conhecimento adquirido é um reflexo do Nonada - Jornalismo Travessia, coletivo de jornalismo cultural e alternativo que possui dez anos de atuação na área cultural de Porto Alegre, e atua relacionando as diversas formas de expressão artística com temas relativos aos direitos humanos. Agora, com a Riobaldo, Seganfredo explica que “colocamos o Nonada como um cliente, um parceiro da Riobaldo, porque a Riobaldo está produzindo para o Nonada, porque nós juntamos as nossas experiências, nossos conhecimentos, em torno dessa marca”. A jornalista também aponta outro diferencial da Riobaldo no cenário de jornalismo cultural em Porto Alegre: eles investiram em divulgação da sua marca. Ela analisa que as demais empresas concorrentes, que também conseguem clientes por meio de indicações de outros clientes, não investem nessa divulgação, possuindo pouca visibilidade para o público geral. Um exemplo de divulgação da marca, para além das redes sociais, é que utilizaram o recurso do Google Meu Negócio, que ajuda pessoas encontrarem marcas locais - a empresa disponibiliza seus dados (o que é o negócio, onde está localizado e o contato), e através da ferramenta de busca do Google, possíveis clientes encontram com
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facilidade o negócio cadastrado. E os sócios da Riobaldo já têm percebido esse retorno. Outro ponto que indica como competitivo no mercado é a completa cartela de serviços que oferecem, com destaque para o serviço de Comunicação Direcionada, que é “quando o artista não quer se comunicar necessariamente com a imprensa ou com o público em geral, ele quer se comunicar com um público em específico, por exemplo escolas e festivais, e nós somos especializados em fazer esse tipo de conteúdo e direcionamento”, descreve Seganfredo. A rotina de trabalho varia de acordo com as demandas da agência e de outros trabalhos, como os freelas que os sócios fazem. “A Riobaldo não é a nossa única fonte de renda. Eu, pessoalmente, quero que seja a minha principal [fonte de renda] para o futuro”, revela a jornalista. Toda a segunda, Gloria e Seganfredo fazem uma reunião para estabelecerem as tarefas a serem cumpridas naquela semana e dividem as tarefas entre si, de forma horizontal, sem hierarquias. Eles se preocupam em se programar quanto a rotina, que Seganfredo denomina como “flutuante”. Sendo assim, o fluxo do trabalho implica na rotina, por exemplo, em uma época que a sócia precisa trabalhar dois turnos, sem folga, porque era um período que a demanda era maior. Já para os meses de dezembro e janeiro, eles indicam que estarão trabalhando menos, cerca de cinco horas por dia, de segunda à sexta. Dado que o relacionamento entre os sócios é horizontal, na produção de conteúdo não é diferente: “nós sempre procuramos fazer e mostrar para o outro revisar e aprovar, mas quando a rotina está corrida, não conseguimos aprovar um com o outro”, indica a sócia, “mas a gente sempre manda para o cliente aprovar”, complementa o sócio. Na tomada de decisões, os sócios resolvem na base do diálogo e exposição de argumentos, para chegarem em um consenso. Quanto às tecnologias utilizadas na comunicação entre clientes, eles ressaltam não costumam mais se comunicar por E-mail com os clientes, é tudo feito pelo Whatsapp, embora Seganfredo acredite que reuniões presenciais
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são importantes: “Apesar de ser legal o contato pelas redes, quando é o cliente que eu conheço pessoalmente, eu me sinto mais conectada, mais alinhada”, afirma. O conteúdo publicado, tanto on-line quanto off-line, é em formato de texto, com recursos de imagens, porque eles possuem o foco em reportagens aprofundadas: “parece que a gente está um pouco defasado nisso, mas as pessoas ainda procuram conteúdo em texto, ainda existe essa demanda, apesar de não tão grande, apesar de ter diminuído”, revela Thaís Seganfredo. Um exemplo com grande repercussão, recentemente, é um texto que uma parceira do Nonada publicou em 2016: “Domingo [24 de novembro] descobriram essa matéria que ela publicou sobre as rádios Ipanema e Continental, e é uma grande reportagem, com cerca de dois mil caracteres. E estourou, tem 1.500 visualizações de domingo até agora [26 de novembro]. Alguém descobriu pelo Google, foi compartilhando no Facebook e então tiveram pessoas influentes do meio que compartilharam”, relata a sócia. Mas eles já tem em vista a utilização de outros recursos multimídia a serem investidos na agência Riobaldo. Recentemente eles ganharam uma bolsa de um projeto de jornalismo socioambiental, e tem o desafio de produzir uma grande reportagem em vídeo. E também estão planejando lançar um podcast para a divulgação dos clientes no próximo ano. As métricas que os sócios utilizam são informações mais qualitativas do que quantitativas, como o relatório de imprensa, o que inclui a clipagem, e das redes sociais: “Existem pessoas nessa área que fazem relatórios com precificação do que aquilo custou, a gente faz um relatório mais qualitativo”, ressalta Seganfredo. Eles não fazem o relacionamento diretamente da agência com o público, mas o que acontece é a intermediação entre público e cliente, através de monitoramento de redes sociais, para comunicar ao cliente. Conclui-se que a agência Riobaldo está bem inserida no contexto de jornalismo cultural e tem conhecimento dos formatos que dão certo com esse público, sem contar que tem um bom
relacionamento com os seus clientes, público e mesmo entre sócios. O uso de tecnologias digitais multimídia básicas, como texto e imagem, justificam pela linha editorial e porque público-alvo serem pessoas que se interessam por reportagens aprofundadas. Mesmo assim, isso não é visto como um ponto negativo e não diminui a qualidade dos trabalhos entregues, pelo contrário. Também percebe-se a visão de que isso apenas não basta, por procurarem investir em vídeos e podcast. Agência SER- Conteúdo Estratégico Por Cíntia Esther Fuchs
- O objeto do veículo é noticiário, produção de conteúdo sob demanda, jornalismo, propaganda ou conteúdo? Produção de conteúdo sob demanda. - Quais as plataformas utilizadas? Redes Sociais – Facebook, Instagram, Linkedin, Google e Youtube. - Qual a formação de cada um dos profissionais? Experiência? Características? Na Ser temos: Uma Social Media – Laura Toscani, formada em jornalismo e pósgraduada em marketing digital. Possui experiência com TV e Rádio. Na Ser, é a responsável por toda a produção de conteúdo, agendamento das postagens, análise de horários de audiência, relatórios e busca por melhores plataformas de serviço na web. Para esse cargo, é necessário ter muito gosto pela pesquisa e pela escrita. Um Designer – Marcelo Toscani, formado em design de moda e especializado em design gráfico. É o responsável por toda a criação de layouts de nossos clientes, tanto na parte de redes sociais como produtos impressos. Um Gestor de Tráfego – Cristiano Flores, formado em RH e pós-graduado em gestão empresarial. É o responsável por fazer toda a parte de campanhas pagas de redes sociais. Divulga as empresas com um valor de investimento, pesquisa a persona e monta as características do público alvo.
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- Como são as rotinas de produção, apuração e distribuição de conteúdo? Na Ser temos em média de 10 a 20 clientes que precisam de postagens quase que diárias. A equipe se prepara sempre com 1 mês de antecedência para entregar o material para os clientes (ex: o conteúdo de setembro é produzido em agosto). Nossos arquivos são enviados todos por e-mail para a aprovação do cliente. Temos um sistema de envio das postagens que também serve para nos basearmos no que foi negado, alterado ou incluído. Já a comunicação com os clientes nós realizamos toda via Whatsapp pois temos clientes fora do RS. - Quais as inovações e tecnologias acessadas? Todos os nossos softwares são plataformas pagas que nos auxiliam no trabalho. Como por exemplo: Pacote Adobe, Canva, Postgrain, Mlabs, Social Rocket, Tophashtags, Manychat e 99 Webnar. - Como são as audiências da agência? Tentamos manter as nossas redes sociais sempre atualizadas. Nosso maior alcance na busca por prospects são à base da indicação. Porém, a cada vídeo que postamos, a cada dica que publicamos, temos 500 de envolvimento. E depois, cada cliente tem o seu alcance em separado. - Como é o faturamento da agência, a tabela de remuneração e o tipo de contratação dos profissionais? Temos 15 clientes atualmente. Cada um possui um valor de pacote diferente. Para recebimento dos pagamentos, contamos com o apoio de uma empresa de cobrança que faz todo o envio dos boletos e o contato com o cliente devedor. A Ser é uma MEI e por isso, não pode ter funcionários trabalhando. Nossa equipe é formada por freelancers que recebem por conta que atendem. Temos dois freelancers mais assíduos que estão sempre conosco. Para demais serviços em paralelo, gostamos de fazer a contratação através da plataforma Workana. Percebendo o crescimento abundante no mercado e entendendo que as plataformas digitais estão
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dominando o mundo dos negócios, a jornalista e diretora da Ser Conteúdo Estratégico, Laura Toscani, resolveu entrar na era da internet e aprimorar o conhecimento em relação à propaganda. Focando na proliferação do conteúdo, mesclando uma linguagem facilitada, cores adaptadas, artes pensadas e uma boa dose de postagens orgânicas que se pagam e fazem da rede social um lugar mais acessível e de portas abertas para todos. Por isso, o trabalho apresentado pela agência de conteúdo dispõe de muita tecnologia, conversando totalmente a linguagem dos aplicativos e visando facilitar a comunicação do cliente futuro para uma apresentação mais clean sobre os serviços. A Ser Conteúdo Estratégico é uma empresa de comunicação digital que visa estabelecer uma relação mais próxima e característica entre mercado e público-alvo, trabalhando em cima das redes sociais de cada negócio. Através do marketing digital, foi construído um canal de comunicação mais rápido e eficiente, enquanto a produção de conteúdo fortalece e esclarece o interesse do público. A empresa trabalha com design gráfico, produção de eventos, assessoria de imprensa e mídias sociais que englobam o foco dos serviços para empresas de micro, pequeno, médio e grande porte. Questionário: 1. Quais as áreas de atuação da empresa (como se posiciona no mercado) e qual o mix de serviços e estratégias de custo/benefício? Trabalhamos com administração de redes sociais. Esse é o nosso produto mãe. Porém, a área de atuação mais conhecida é o marketing digital. Aqui nós oferecemos serviços de social media, produção de conteúdo e design gráfico. Cada serviço tem um preço e cada pacote também. Além desses pilares em que trabalhamos, contamos com uma equipe externa de fotografia, edição de vídeo, produção de evento, TI, desenvolvimento de site e assessoria de imprensa. São empresas parceiras na qual quando é necessário de algum cliente precisar desses serviços, chamamos essas empresas. É como se fosse um serviço de indicação.
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2. Como o grupo busca se destacar entre os concorrentes do ponto de vista mercadológico, tecnológico e de inovação? A concorrência é alta. Porém, quando o assunto é tecnologia por óbvio ganha a empresa que tem mais dinheiro para poder investir em softwares. Estamos longe disso! Nosso trabalho se baseia na simplicidade. Temos uma pessoa para cuidar do seu único serviço. Ninguém faz o trabalho de ninguém e talvez por isso conseguimos tanto retorno positivo. O que é muito importante de destacar e que, por vezes, muitas empresas pecam é no serviço de atendimento ao cliente. Esse é o nosso melhor resultado. 3. Como a empresa se caracteriza e financia seu negócio (patrocínios, demandas, propagandas, etc...)? Nosso único investimento fora as nossas campanhas de Google e redes sociais, é como patrocinador das agendas e calendários da ONG Patas Dadas, e como apoiador ao esporte patrocinando a Copa Mercosul de Patinação (evento que é realizado por um cliente nosso). 4. Como são distribuídos os clientes na equipe e como funciona a hierarquia e a divisão de trabalho? Cada cliente é atendido por 3 pessoas. Um social media, um designer e um tráfego. O ideal é que cada grupo de 3 pessoas atendessem apenas 5 contas. E cada um mexe com a sua devida função. Quando a equipe fica muito sobrecarregada, chamamos demais freelas para que nos auxiliem no atendimento. Contas muito altas (supermercados, escolas, hospitais) é necessário que essa equipe de 3 seja duplicada, pois, contas desse tipo necessitam de postagens diárias quase que de hora em hora. 5. Quais tecnologias são utilizadas para acompanhar as demandas diárias? Existem 4 plataformas que nós não vivemos sem: Adobe Illustrator, Postgrain, Unum e Inshot. 6. Qual a importância da inovação para a empresa e sua influência na produção de conteúdo?
Notamos que quando começamos a produzir mais vídeos, nossa audiência tem crescido. Queremos sempre ser os pioneiros naquele assunto, naquela ideia, naquele vídeo. Queremos oferecer o que ninguém ainda pensou. E isso é fantástico, pois, nos proporciona mais contatos de pessoas interessadas no que temos a oferecer. 7. Como são tomadas as decisões perante as demandas dos clientes? Além das equipes, existe algum responsável que acompanha os serviços realizados? Somente a responsável pela empresa é quem toma as decisões. Ela, em conjunto ao responsável por cada empresa (cliente), administram as crises e possibilidades de mudança. 8. Existem normas definidas de produção, edição e publicação para que o conteúdo seja coerente com a identidade e os parâmetros éticos do grupo? Como são definidas essas normas? Não. Geralmente, cada cliente possui a sua “mania” e é em cima dela que são trabalhadas as suas demandas. Cada pessoa pode trabalhar da forma que achar melhor. Por sermos uma MEI, nosso pessoal fica em QGs diferentes. Ou seja, se o meu designer quiser só trabalhar na madrugada, ele pode. Nossa única exigência é a entrega do trabalho no tempo estipulado. 9. A empresa aceita patrocinadores com valores divergentes da sua filosofia? Como lidam com possíveis patrocínios ou anúncios estranhos à identidade do grupo? Nunca passamos por situações desse nível. Mas penso que isso seria uma questão muito boa em campanhas políticas, onde a pessoa nos contrata em troca de votos (por exemplo). Sempre deixei muito claro a ética da empresa como a minha em pessoal (Laura). Prefiro não me aliar a nenhuma equipe, partido ou clube que preferem utilizar o dinheiro público para o bem de si próprio. 10. Como são definidos os temas, conteúdos especiais e cobertura considerando as
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especificidades dos clientes? Cada cliente deixa a nossa equipe bem a vontade para a criação. É de nossa responsabilidade montar um calendário onde nós montamos o conteúdo conforme a época do ano. Temos um bom exemplo: nosso cliente médico urologista nos solicitou que nos mês de novembro todos os conteúdos fossem em relação ao Novembro Azul – prevenção do câncer de próstata. 11. Como a empresa se organiza considerando suas necessidades de fluxo produtivo para que não haja desvios de tarefas? O serviço é na base da confiança, como mencionamos anteriormente. Cada pessoa tem a sua meta para ser batida e ninguém atrapalha ou interfere o serviço do outro. O que pode acontecer é o colega dar sugestões para melhoria do serviço. 12. O que mudou em termos de propósitos e rotinas partilhadas com a modernização da tecnologia e a conexão mais intensiva com o público? A empresa é muito recente. Não sentimos nenhuma mudança perante a tecnologias ou modernização pois já entramos trabalhando direto com elas. O que a gente precisa sempre se atualizar é com as constantes mudanças do Facebook e Instagram, principalmente quando o assunto é algoritmos e alcance. Para isso, a equipe se reveza para fazer os cursos sobre o assunto. 13. Como vocês medem público, engajamento, resultados e metas previstas? O público para campanhas é na base da idealização de cada cliente. Por exemplo: o cliente é uma estética de Canoas. Portanto, vamos fazer a campanha rodar nos bairros próximos a estética para mulheres que se interessam por beleza, depilação, que tem filhos, com idade de 20 a 50 anos. Os resultados são fornecidos pelas próprias plataformas que realizam as campanhas. Tanto Facebook como Google te passam um relatório. Também é possível utilizar um site (pago) que produz relatórios de todo o desenvolvimento da empresa.
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14. O que foi considerado durante o planejamento da arquitetura de informação do site (entrevistas com o público, pesquisas, etc...)? Para a construção do nosso site, idealizamos o que mais sentíamos falta ao pesquisar na internet e não encontrar as nossas informações. Também pesquisamos sites da concorrência e demais empresas. Tanto para sabermos o que queríamos, quanto para ver o que a gente não gostaria de jeito algum. 15. O acompanhamento mensal e o convívio com clientes traz possibilidade de construção de conteúdos e estratégias para medir engajamento e resultados? Com certeza. É muito importante preservar o bom convívio com o seu cliente para que ele te ajude com possíveis pautas e discussão de ideias. Além de se mostrar interessado no assunto do cliente, você manterá uma relação de confiança com ele. Agência Cartola
Por Lucas Belifel Rodrigues da Silva
A agência teve seu inicio em 2002. Surgiu através de uma demanda de freelance que o fundador, Sebastião Ribeiro, graduado em jornalismo, começou a fazer após a sua formação. O objeto de negócio da agência é a Comunicação estratégica, full service para clientes de médio porte, com produção de conteúdo Multimídia e gestão de Redes Sociais para clientes de grande porte. Dentre os diferenciais está o de ter sido uma das primeiras agências de conteúdo do país. A organização da agência mantém uma área de atendimento e gestão de projetos que faz a linha de frente com o cliente.Eles orquestram profissionais de arte, redação e mídia. O planejamento e criação de campanhas ficam a cargo de um dos profissionais sênior da empresa. São cinco profissionais pleno ou sênior e seis de nível júnior na equipe. Tem um profissional do time de atendimento que tem o cargo de Head de delivery, ou seja, ele deve garantir entregas no prazo e com qualidade. É como se ele supervisionasse os
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processos e atendimento. Com relação a remuneração e preços , cobram por produto (Exemplo: um post, uma matéria, um livro), mas sempre com valores ancorados no número de horas gastas. E ainda existe a modalidade de contratos de free mensal, em que são garantidas a gestão de redes sociais e/ou de comunicação para o cliente e acrescentada uma remuneração variável por mídia aplicada ou gestão de serviços especializados (foto, vídeo, ilustração). A empresa costuma faturar em torno de R$ 120.000,00 mil por mês. As contratações costumam ser por indicações e todos trabalham no regime CLT. Questões: 1. Quais as áreas de atuação da empresa (como se posiciona no mercado) e qual o mix de serviços e estratégias de custo/benefício? Comunicação estratégica, full service para clientes de médio porte. Produção de Conteúdo Multimídia e Gestão de Redes Sociais para clientes de grande porte. 2. Como o grupo busca se destacar entre os concorrentes do ponto de vista mercadológico, tecnológico e de inovação? Fomos uma das primeiras agências de conteúdo do país. Usamos isso como diferencial, já que fazemos comunicação calçada em conteúdo. 3. Como a empresa se caracteriza e financia seu negócio (patrocínios, demandas, propagandas, etc...)? As tarefas a serem desempenhadas pelo grupo e a tecnologia disponível para esse desempenho. 4. Como são distribuídos os clientes na equipe e como funciona a hierarquia e a divisão de trabalho? Temos uma área de Atendimento e gestão de Projetos que faz a linha de frente com cliente. Eles orquestram profissionais de arte, redação e mídia. O planejamento e criação de campanhas ficam a cargo de um dos
profissionais sênior da empresa, dependendo do desafio. Temos cinco profissionais pleno ou sênior e seis de nível júnior. 5. Quais tecnologias são utilizadas para acompanhar as demandas diárias? Usamos Trello e Google Sheets. 6. Qual a importância da inovação para a empresa e sua influência na produção de conteúdo? A organização jornalística a partir de parâmetros éticos: como o grupo se organiza, no que concerne o compartilhamento de valores e parâmetros , como as interações são definidas, guiadas e controladas, e como o poder é distribuído, hierarquizado e partilhado. Nos trabalhos jornalísticos e também nos publicitários há sempre a figura de um editor que termina cuidando do Departamento do Vai dar Merda, ou seja, questiona se passamos de algum limite da função e se o que vai ao ar não fere cliente ou público. 7. Como são tomadas as decisões perante as demandas dos clientes? Além das equipes existe algum responsável que acompanha os serviços realizados? Tem um profissional do time de atendimento que tem o cargo de head de delivery, ou seja, ele deve garantir entregas no prazo e com qualidade. É como se ele supervisionasse processos e atendimento. 8. Têm normas definidas de produção, edição e publicação para que o conteúdo seja coerente com a identidade e os parâmetros éticos do grupo? Como são definidas essas normas? Sim. Compartilhamos as normas previamente definida. Temos alta informalidade e proximidade entre colaboradores de diferentes hierarquias. Relacionamento sem “ritos especiais”. Liberdade para apoiar e criticar o trabalho interno. Exigência de multidisciplinariedade do profissionalismo. 9. A empresa aceita patrocinadores com valores divergentes da sua filosofia? Como
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lidam com possíveis patrocínios ou anúncios estranhos à identidade do grupo? Sim. Aceitamos clientes com valores divergentes. Por exemplo, agora atendemos um partido político de ideologia diversa à da equipe e lideranças. Mas não encaramos divergências ideológicas como falha de caráter. Buscamos agir sempre de acordo com a lei, eliminando subjetividades e preconceitos com quaisquer clientes. No mais, temos algumas pautas que são bandeiras da empresa, como orgulho LGBTQ+. 10. Como são definidos os temas, conteúdos especiais e cobertura considerando as especificidades dos clientes? Importante é pensar a partir do negócio do cliente e seus objetivos estratégicos, e ao mesmo tempo pensar sempre o conteúdo do seu planejamento à distribuição. 11. Como a empresa se organiza considerando suas necessidades de fluxo produtivo para que não haja desvios de tarefas? Reuniões de pauta semanal, controle de pauta duas vezes ao dia. Médio de horas trabalhadas por cliente. 12. Questões tecnológicas e métricas: questões referentes à arquitetura da informação (usabilidade, público, contexto); questões sobre design; Medimos tudo em trabalhos de mídia, Conversões de ultimo clique, conversões de visualização (atribuição), mas especialmente as métricas finais, de resultado: ROI, custo por aquisição, custo por meta estipulada. Sempre usando Analytics de Face, Google e LinkedIn. 13. Como vocês medem público, engajamento, resultados e metas previstas? Utilizamos para redes sociais ferramentas como Reeportei. Além das nativas de Facebook Alalytics, Google Analytucs, F!cebook Ads, Google Ads, Google Trends, Zeeng, tudo isso para planejamento e acompanhamento. 14. O que foi considerado durante o planejamento da arquitetura de informação
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do site (entrevistas com o público, pesquisas, etc. ?) Do nosso site? Vamos planejar conforme conceito de agencia construído diretamente. No nosso caso a opção vai ser por um site mais conceitual e menos funcional. 15. O acompanhamento mensal e convívio com clientes trás possibilidade de construção de conteúdos e estratégias para medir engajamento e resultados? Sim. É fundamental rotina de acompanhamento de cliente. Distanciamento agencia e cliente é comum, sendo prejudicial ao trabalho. É quando entra em Piloto Automático. As grandes ideias só vêm quando há esta proximidade. REFERÊNCIAS E-book: Ética, Mídia e Tecnologia- Grupo Objethos BUENO, Wilson da costa Estratégias de comunicação nas mídias sociais. Barueri: Manole, 2015. Disponível em Biblioteca Virtual. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. LEMOS, André. “Anjos interativos e retribalização do mundo: sobre interatividade e interfaces digitais”. 1997, <http://www. facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/interac. html>(22/04/98). _______. “Estruturas antropológicas do Ciberespaço”. <http://www.facom.ufba.br/ ciberpesquisa/lemos/estrcy1.html> (12/03/98). LEVY, Pierre. O que é virtual. Rio de Janeiro: 34, 2004. PALACIOS, Marcos. “A Internet como ambiente de pesquisa”. <http://www.facom.ufba.br/ Seminpesq/seminpesq1.html#Interatividade> (14/08/98). PELLANDA, Eduardo Campos(org.), BARBOSA, Suzana(org.) Jornalismo e mídias no contexto da convergência. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014.
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Disponível em Biblioteca Virtual. PRADO, Magaly. Webjornalismo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. SOUZA, Márcio. A comunicação na aldeia Global. Petrópolis: Vozes, 2005. SILVA JR. - José Afonso da Silva - A relação das interfaces enquanto mediadoras de conteúdo do jornalismo contemporâneo: agências de notícias como estudo de caso- Universidade Federal de Pernambuco, 2001. STRAUBHAAR, Joseph; LAROSE, Robert. Comunicação, mídia e tecnologia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
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PASSADO E PRESENTE – UM COMPARATIVO DO TURISMO ACESSÍVEL ENTRE DOIS ATRATIVOS TURÍSTICOS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO PAST AND PRESENT - A COMPARISON OF ACCESSIBLE TOURISM BETWEEN TWO TOURIST ATTRACTIONS OF THE MUNICIPALITY OF RIO DE JANEIRO
José Carlos de Souza Dantas1 Carlos Roberto Souza da Silva2 Ana Luisa Verdejo Nunez3
RESUMO: A acessibilidade nos atrativos turísticos é uma reflexão contemporânea e relevante na proporção direta da possibilidade de inclusão social, via atividade turística. O estudo tem por objetivo analisar os fatores da acessibilidade envolvendo dois equipamentos turísticos importantes para o turismo da cidade do Rio de Janeiro. O primeiro (Museu do Amanhã), recém construído com o conceito de inclusão na reformada área central da cidade e o segundo (Museu Aeroespacial) encontra-se numa área mais afastada e menos conhecida (zona oeste da cidade), porém com um apelo histórico-cultural valoroso para a cidade e o país. Estabelece-se a relação da acessibilidade com a utilização de equipamentos turísticos como forma de inclusão social com o emprego de políticas públicas. Utiliza-se da pesquisa de observação e identifica-se como principal resultado que o Museu do Amanhã está melhor estruturado em acessibilidade do que o Museu Aeroespacial. Palavras-chave: Turismo. Acessibilidade. Inclusão Social ABSTRACT: The acessibility in tourism attractions is a contemporary and relevant reflection in direct proportion to the possibility of social inclusion, by means of tourism activity. The study aims to analyze the acessibility factors involving two importants tourist facilities for tourism in the city of Rio de Janeiro. The first (Museum of Tomorrow), newly built with the concept of inclusion in the reformed downtown area and the second (Aerospace Museum) is in a more remote and less well-known area (western part of the city), but with historical appeal cultural value for the city and the country. The relationship between acessibility and the use of tourism facilities as a form of social inclusion is established with the use of public policies. Observation research is used and the main result is that the Museum of Tomorrow is better structured in acessibility than the Aerospace Museum. Keywords: Tourism. Accessibility. Social Inclusion 1 Mestre em Turismo Ambiental e Cultural pela UNIBERO; docente pelas Universidades Federal Fluminense e Veiga de Almeida; Rio de Janeiro – RJ; jcsdan@gmail.com; currículo lattes link: <http://lattes.cnpq.br/4696734213649495>. 2 Graduado em Turismo pela Universidade Veiga de Almeida; Rio de Janeiro – RJ; carlos.bach3@gmail.com; currículo lattes link:<http://lattes.cnpq.br/2615230913117773>. 3 Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela Universidade Veiga de Almeida e docente na mesma instituição; Rio de Janeiro – RJ; ana.nunez@uva.br; currículo lattes link: < http://lattes.cnpq.br/5170166564742480>.
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INTRODUÇÃO prática do turismo no século XXI demonstra um considerável aumento na demanda turística que consome todo tipo de atrativo disponibilizado pelos destinos turísticos. Desta forma, entende-se que o turista tende a visitar um leque diverso de atrativos turísticos disponibilizados nas localidades turísticas, independente, com exceções, da época de construção do local a ser visitado. Contudo, com o advento da internet boa parte dos turistas contemporâneos realiza pesquisa para antes de visitar o atrativo turístico, entender a sua dinâmica de visitação e, na atualidade, a prática do turismo é incentivada para todos os consumidores, independente de limitações físicas ou outras. Desta forma, é importante que os gestores dos atrativos turísticos compreendam a necessidade de adaptá-los para todos os possíveis visitantes, como forma de inclusão social. Os objetos desse estudo situam-se em duas regiões distintas da cidade do Rio de Janeiro. O Museu do Amanhã na zona central, e o Museu Aeroespacial na zona oeste. O primeiro é parte da revitalização da zona portuária, deixado como legado olímpico e paraolímpico e um novo equipamento turístico para cidade, já o segundo é um equipamento antigo, de relevância histórico-militar para a cidade e país. E a pesquisa é norteada para responder o problema se esses atrativos turísticos estão preparados para receber todo tipo de turista e, dessa forma, contribuírem para a inclusão social nas viagens de turistas que visitam a cidade do Rio de Janeiro. Em um levantamento do ano de 2015 feito pelo Blog Euromonitor International Agency, a Cidade do Rio de Janeiro figurava entre as 100 mais visitadas do mundo, mas percebeu-se que mesmo sendo visitada por turistas de todo o Brasil e do mundo ainda é muito seletiva quanto ao público recebido, não sendo muito acessível às pessoas que possuem algum tipo de deficiência, seja nos atrativos, nos meios de hospedagem, nos
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transportes e em todo trade turístico e não turístico. Ainda assim, contrastando com todos problemas, a cidade foi citada e descrita pelo Fundo da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como sendo de “excelente valor universal”. Desta forma, percebeu-se a necessidade de fazer uma pesquisa comparativa desses atrativos turísticos para mostrar que uma cidade acessível em sua totalidade tem muito a contribuir para a qualidade de vida e dos serviços oferecidos aos seus visitantes. Comparouse o acesso da pessoa com deficiência a um equipamento que é divulgado como exemplo de acessibilidade por estar em uma região turística que é o Museu do Amanhã, e outro que não é muito divulgado e por não estar em uma região turística, que é o Museu Aeroespacial. Aborda-se a relação do turismo com a acessibilidade, situam-se os dois Museus com suas estruturas internas e externas e realizamse pesquisas de observação com um único instrumento nos dois atrativos, para comparálos em seu todo. TURISMO E ACESSIBILIDADE A Organização Mundial da Saúde (OMS) (2011) por meio da Assembleia Geral indica uma trilogia para reflexões sobre acessibilidade na utilização de espaços públicos, que são impairment (deficiência), disability (incapacidade) e handicap (desvantagem). A deficiência é entendida como uma manifestação corporal ou como a perda de uma estrutura ou função do corpo; a incapacidade refere-se ao plano funcional, desempenho do indivíduo e a desvantagem diz respeito à condição social de prejuízo, resultante da deficiência e/ou incapacidade. Panosso Netto e Ansarah, (2009, p. 464.), indicam que “o conceito de deficiência pode variar em função do contexto no qual é operacionalizado”. A partir dessa operacionalização e como são empregados, os dados estatísticos e as conceituações de pessoas com deficiência também acabam oscilando. Como exemplo dessa variação, o Ministério do Turismo (Mtur) (BRASIL, 2009,
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p.16) adota a definição do Ministério da Justiça de que a pessoa com deficiência “é a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de algum tipo de atividade”, já a legislação brasileira define através da Lei nº 13.146 de 2015, capítulo I, Art 2º pessoa com deficiência é aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Percebese dessa forma, conceitos diferentes para a mesma situação das pessoas com algum tipo de deficiência. A OMS propôs na Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, para os países afiliados, que a melhor forma para se referir a esse público é pessoa com deficiência. Dessa forma, vale salientar que tal expressão, mostra que ela a possui, sendo parte integrante dela, e não a menosprezando com a expressão pessoa deficiente. Ainda são muito utilizadas as expressões pessoa portadora de deficiência e pessoas com necessidades especiais, transmitindo a ideia de que a pessoa porta, carrega ou transporta e que poderia ser deixada em um canto ou algum lugar, e isso obviamente não é possível. (OMS,2011). Destaca-se que Sassaki, em 2002, já utilizava essa terminologia sobre estudos sobre pessoas com deficiência. Em função do exposto, essa pesquisa adota o termo pessoa com deficiência na tratativa do possível usuário dos dois museus pesquisados. Entende-se que em uma sociedade denominada democrática a inclusão de todos deve ser a regra. A OMS (2011) estima que 10% da população mundial possuí algum tipo de deficiência e destaca que nos países em desenvolvimento, como no caso do Brasil, os números podem chegar a 23,9%, sendo esse um número relativamente grande. Segundo Conceição, Garcez e Micas (2018) atualmente foram propostas duas novas possibilidade de repostas para as pessoas com deficiências nas pesquisas: ter “muita dificuldade” ou “não
conseguem de modo algum” que podem alterar os números de pessoas consideradas com deficiência. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT) (2001) o turismo é um fenômeno com reflexos sociais, econômicos, ambientais e culturais que provoca a movimentação das pessoas e a inclusão. As pessoas com deficiência também desejam sentir-se acolhidas e parte de um meio, tornando-se não coadjuvantes da viagem, e sim, protagonistas. No Estudo do Perfil de Turistas – Pessoas com Deficiência (2013, p.18) é demonstrado que a “grande maioria das pessoas com deficiência física possui uma vida bastante ativa”, estuda e exerce alguma atividade remunerada. No Brasil, muitas leis foram promulgadas em defesa da pessoa com deficiência para inseri-la na sociedade. Um exemplo é a Convenção sobre os Direitos das Pessoa Com Deficiência que foi aprovada por meio do Decreto Legislativo nº 186/2008 e do Decreto nº 6.949/2009, com equivalência de emenda constitucional. O artigo 30 da Convenção trata da participação na vida cultural, da participação em atividades recreativas de lazer e esportivas da pessoa com deficiência e estabelece que os Estados tomem todas as medidas apropriadas para que essas pessoas possam ter acesso, em igualdade de oportunidades, a locais que ofereçam serviços ou eventos culturais. O turismo está incluso nesse contexto como atividade que pode proporcionar essas experiências aos seus praticantes. No município do Rio de Janeiro a Câmara Municipal instaurou uma lei ordinária nº 4.363 de 30 de maio 2006 que permite a acessibilidade na área pública; no âmbito nacional a Lei nº 7.853 de 24 de outubro de 1989 dispõe o direito social aos portadores de deficiência; e, instaurado, pelo Presidente da República da época, o Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro 2004 que estabelece a promoção da acessibilidade para portadores de deficiência. Desta forma, nota-se que ao longo do tempo governos de diversos níveis
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executivos tentam dignificar e melhorar a acessibilidade de todos, com leis que podem gerar políticas públicas para a conjunção turismo-acessibilidade. Cabe a sociedade brasileira perceber se o arcabouço jurídico transforma-se em política pública para dignificar a vida da pessoa com deficiência. No âmbito do turismo, o Mtur via a Cartilha do Programa Turismo Acessível (2014, p.9) incentiva que “a prática do turismo seja uma via de inclusão, entendendo amplamente que o turismo social é uma forma de turismo acessível a todos em seus tempos livres sem discriminação de acessos de qualquer natureza por qualquer pessoa”. E Trigo (1993) já indicava a possibilidade de um turismo mais acessível para uma diversificada demanda turística, demonstrando, dessa forma, uma preocupação acadêmica com essa temática já no final do século passado. Nunes (2011), já no século XXI, indica que algo antes inacessível, ou seja, a democratização no consumo do produto turístico, na atualidade já se pode observar com denominações diversas, tais como: Turismo acessível para todos; Turismo para todos, dentre outras denominações. Estabelecida a conexão acessibilidadeturismo, destaca-se que o atrativo turístico é um componente essencial do produto turístico, pois determina a escolha, por parte do turista, do local que irá visitar. Os atrativos turísticos se apresentam de diversas formas e podem ser naturais, culturais, manifestações de diversas naturezas UNIVALI (2000, pag.11) e para que esses atrativos cumpram sua função social, alguns paradigmas devem ser superados, tendo como um dos exemplos as exposições de museus que deveriam passariam por adaptações para adequar a inclusão de qualquer visitante. Observando por esse viés, Sassaki (2003) destacou que: O processo pelo qual os sistemas sociais comuns são tornados adequados para toda a diversidade humana – composta por etnia, raça, língua, nacionalidade, gênero, orientação sexual, deficiência e outros atributos –com a participação das próprias
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pessoas na formulação e execução dessas adequações. Sassaki (2003)
Entretanto, a acessibilidade nos atrativos turísticos como fruto do turismo inclusivo é possível e deve-se ser capaz de oferecer às condições necessárias para a pessoa com deficiência visitar e aproveitar da localidade como todos os outros visitantes. Os Planos Nacionais de Turismo 2013-2016 e 2018-2022 fortalecem a segurança, a autonomia e o acesso da pessoa com deficiência a fim de universalizar a experiência turística, desejando sanar essa necessidade de consumo. Mas deve-se ter como clareza absoluta, que todo empreendimento turístico deve ter um planejamento específico para cada tipo de deficiência, respeitando-se as características próprias de cada consumidor. (KIEFER; CARVALHO, 2013) Cabe a sociedade contemporânea e, principalmente, aos gestores públicos e privados a oferta de instalações físicas, equipamentos com adaptabilidade e pessoal capacitado nos atrativos turísticos para a inclusão da pessoa com deficiência, via a prática do turismo. Desta forma, optou-se por verificar dois equipamentos culturais por se tratar de locais que demandam um acompanhamento de perto e uma constatação do que está se apurando, se a acessibilidade é real e se a pessoa com deficiência está sendo assistido pelo que foi proposto na metodologia por observação que será utilizada. Se realmente a acessibilidade existe e está padronizada com a ABNT NBR 9050:2004 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, mais tarde atualizada para ABNT NBR 9050:2015. MUSEU DO AMANHÃ A ideia da criação do prédio foi um acordo firmado em contrato com o Comitê Olímpico Internacional (COI) para a realização dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, junto com a inserção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), melhoria dos transportes e infraestrutura da região. O edifício foi inaugurado em 17 de dezembro de 2015 e recebeu cerca de 25 mil visitantes em seu primeiro final de semana de funcionamento.
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Seu projeto foi desenvolvido pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava e com apoio da Fundação Roberto Marinho, foi construído no Píer Mauá ao lado da Praça de mesmo nome, possuindo cerca de 15 mil metros quadrados e concebido através da sua forma longilínea, inspirada nas bromélias do Jardim Botânico, e foi projetado de maneira a se integrar à paisagem ao redor e, especialmente, deixar visível o Mosteiro de São Bento, um dos mais importantes conjuntos barrocos do país. O Museu do Amanhã4 tem a acessibilidade como premissa da construção física do prédio e, principalmente, da relação entre a equipe do Museu e seus visitantes. O museu dispõe de pisos e maquetes táteis, rampas, cadeira de rodas, elevadores, fraldários, banheiros adaptados e sinalização universal. Nesse contexto, o museu desenvolve ainda parcerias com órgãos públicos, escolas e instituições especializadas na formação de educadores para identificar oportunidades de visitas adaptadas a pessoas com deficiência. Já o Programa de Educação apresenta uma agenda de atividades para pessoas com deficiência e suas famílias, além de visitas mediadas para grupos escolares e não escolares onde o diálogo é pautado pela diversidade e inclusão. Todavia, a questão da inclusão social de pessoas com deficiência em todos os direitos da sociedade ainda é muito incipiente, mesmo a Constituição brasileira afirmando que toda pessoa com deficiência deve ter as mesmas oportunidades e alcançar a sua independência social e econômica para integrar-se plenamente na sociedade, como parte de um processo em defesa da cidadania e do direito a inclusão social da pessoa com deficiência. Para tanto, é preciso conscientizar os empresários e órgãos ligados ao turismo para que sejam orientados e capacitados sobre os conceitos, normas e legislação referentes a inclusão e acessibilidade. Nessa análise, ao desfrutarem de viagens durante as horas de lazer, as pessoas com 4 Trechos retirados do material hospedado no site. Disponível em: <https://www.vivadecora.com.br/pro/ arquitetura/museu-do-amanha/>. Acesso em: 27 de abr. 2017.
deficiência física necessitam de adaptações especiais ao chegarem ao destino desejado, para que possam circular pelos espaços públicos e privados com total autonomia e segurança, pois a adaptação é importante para quem visita os atrativos turísticos. MUSEU AEROESPACIAL O Museu Aeroespacial (MUSAL)5 foi inaugurado em 18 de outubro de 1976, localizado no Campo dos Afonsos, em Sulacap, zona oeste do Rio de Janeiro, onde é considerado o berço da aviação no Brasil e o maior e mais importante museu dessa área no país. Desde 1986 o museu está subordinado administrativamente ao Instituto HistóricoCultural da Aeronáutica6 (INCAER). Em 1943 tinha-se a ideia de criar um museu aeronáutico. Na época o Ministro Salgado Filho, primeiro-ministro da recém criada Força Aérea, determinou sua organização que foi interrompida logo em seguida por falta de um local adequado. Devido à transferência da Academia da Força Aérea para Pirassununga em 1971, os hangares da antiga “Divisão de Instrução de Voo” da Escola de Aeronáutica foram reformados com esta finalidade e todo o acervo: aviões, motores, armas, documentos e outras peças de valor histórico que foi sendo reunido e preparado, para finalmente ser inaugurado em 1976. Seu acervo é constituído por diversas aeronaves, motores, armas e objetos vinculados a história da Aeronáutica e da aviação brasileira, além de ampla documentação histórica. Em exposição permanente, encontram-se aeronaves da Força Aérea, da Força Naval e do Exército, um avião presidencial completando o total de 80 5 Trechos retirados do material composto e divulgado por. DUARTE, J Renato A. Museu da Aviação. Disponível em:< http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/ museu-aeroespacial.html>. Acesso em: 27 de abr. 2017 6 Trechos retirados do material composto e divulgado por INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA. Museu Aeroespacial. Disponível em: <http://www2.fab.mil.br/musal/historico>. Acesso em: 27 de abr. 2017.
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aeronaves, destacando a réplica exata do 14 Bis, o primeiro avião construído por Santos Dumont e o primeiro do mundo movido a propulsão própria. Seu acervo conta com mais de cinco mil obras entre filmes, negativos, fotografias, documentos etc, colocando-o no roteiro museológico militar internacional. Em 2012 o acervo recebeu mais cinco aeronaves: um AT 26 Xavante 4462, primeiro da FAB, construído em 1971, um AT-26 Impala, um U7 Seneca, um rebocador G-19 Ipanema, um Boeing 737-200 FAB VC 96, que transportou oito presidentes da República, e uma cabine do simulador de voo do F-5E Tiger II. O museu situa-se em uma edificação de dois andares e conta também com cinco hangares que abrigam mais de 80 aeronaves, motores, armas aéreas, exposições temáticas com trajes de voo, filmes, painéis explicativos, maquetes, biblioteca e arquivo de documentação acerca da aviação. A visita começa por um salão no térreo do prédio de dois andares onde existem várias raridades, como réplicas do 14-Bis e Demoiselle de Santos Dumont, além de aeronaves originais dos primórdios da aviação. Existe também um lendário avião da primeira frota da chamada “Esquadrilha da Fumaça”. O museu promove eventos anuais e rotineiros que podem ser atraentes ao turismo. No local ocorre regularmente exposições de AviationArt e ainda abriga a sede da Associação Carioca de Aeromodelismo. Esta última promove regularmente competições e mostras, sendo corriqueira a presença de associados praticando, sempre uma curiosidade aos visitantes. Uma vez por ano no fim de semana que sucede o aniversário da aviação no Brasil que ocorre no dia 23 de outubro, acontecem shows aéreos com a participação de unidades da Força Aérea, Marinha, do Exército e particulares, tanto em exposição estática, quanto realizando apresentações. Milhares de pessoas se reúnem para assistir acrobacias aéreas realizadas por diferentes aeronaves.
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O ponto alto da festa é a apresentação da Esquadrilha da Fumaça. RESULTADOS OBTIDOS A metodologia empregada para realizar a pesquisa foi a de observação cujo intuito é verificar o objeto de estudo mais de perto, vivenciar a situação e captar suas reais condições de visitação. Para Thiollent (2012), “a pesquisa participante consiste na inserção do pesquisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua interação com a situação investigada”. Visto que a inserção do pesquisador não deve influenciar na coleta de dados, abstendo-se da condição de influenciador, podendo ser partícipe, mas alheio aos acontecimentos. Segundo Dencker (2002) a metodologia do tipo observação-ação consiste na “ação ou resolução de um problema coletivo e não obedece a um plano rígido de pesquisa (o plano é redefinido continuamente em função dos resultados e do andamento das pesquisas) ”. É utilizado critério qualitativo, que age sobre a realidade e é muito útil na sugestão de problemas. O pesquisador se insere no objeto de estudo, e através da presença direta, mas imparcial, ele observa os fatos que podem ajudá-lo a solucionar os seus problemas de pesquisa. Os dados foram coletados no segundo semestre de 2018 a partir de visitação aos dois museus para observação dos itens propostos, com o objetivo de verificar se os mesmos não se encontram ou se encontram parcial ou integralmente dentro da norma NBR 9050: 2004 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Após a coleta os quadros a seguir podem ter sofrido modificações.
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Quadro 1 – Principais itens de acessibilidade nas áreas internas dos atrativos turísticos Atrativos turísticos
Museu do Amanhã
Museu Aeroespacial
Acessibilidade Fácil acesso a transporte e áreas de giro. Apresenta corrimãos e barras de apoio. A edificação é sinalizada. Apresenta sinalização na edificação e símbolos internacionais de acesso. O local possui rampas e grelhas e juntas de dilatação. Os móveis são disponibilizados com distâncias mínimas para a circulação das pessoas. O local disponibiliza elevadores, portas, banheiros sinalizados e bem localizados e pessoal devidamente treinado para atender pessoas com deficiência. Fácil acesso a transporte e áreas de giro. Apresenta corrimãos e barras de apoio. A edificação é sinalizada. Apresenta sinalização na edificação e símbolos internacionais de acesso. O local disponibiliza elevadores, portas, banheiros sinalizados e bem localizados e pessoal devidamente treinado para atender pessoas com deficiência.
Fonte: Elaboração própria, 2018.
Como complemento do quadro 1, faz-se uma análise comparativa mais detalhada da área interna dos atrativos turísticos pesquisados e verifica-se que ambos os locais respeitam alguma norma de acessibilidade, não em sua totalidade. O Museu do Amanhã possui fácil acesso a maioria dos modais de transporte por estar em uma região bem localizada e o Museu Aeroespacial possui limitação de acesso, pois não existe diversificação de transportes na região; A passagem simples no Museu do Amanhã é superior ao padrão exigido e no Museu Aeroespacial é parcialmente menor; A área de giro de 360º no Museu do Amanhã é superior ao padrão e no Museu Aeroespacial há, só que parcialmente; Os móveis para situar a cadeira de rodas no Museu do Amanhã e no Museu Aeroespacial são insuficientes; Corrimãos e barras de apoio são presentes nos dois museus, só que parcialmente. Em continuação, os locais apresentam sinalizações de emergência, direcional, permanente e temporária integralmente no Museu do Amanhã e parcialmente no Museu Aeroespacial; As sinalizações nos
mobiliários permanentes e temporárias não foram encontradas no Museu do Amanhã e forma encontradas parcialmente no Museu Aeroespacial; Ambos os locais apresentam parcialmente símbolos internacionais de acesso para pessoas com deficiência; Ambos os locais apresentam as rampas de acesso parcialmente dentro da norma; As grelhas e juntas de dilatação estão de acordo com a norma no Museu do Amanhã e são inexistentes no Museu Aeroespacial; Capacho, forrações, tapetes e carpetes estão parcialmente em conformidade com a norma no museu do Amanhã e no Museu Aeroespacial não estão de acordo; Ambos os museus não possuem área de resgate para cadeira de rodas. A distância dos guardacorpos é superior do local de perigo no Museu do Amanhã e inferior no Museu Aeroespacial de acordo com a norma; Em relação ao item elevadores o Museu do Amanhã se encontra integralmente na norma e o Museu Aeroespacial parcialmente dentro da norma; Nos dois museus as portas estão parcialmente dentro da norma, pois há
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cômodos que não houve alteração; Ambos os locais possuem banheiros adaptados e o Museu do Amanhã atende a quantidade, mas o Museu Aeroespacial não atende a esse requisito; Em ambos os locais os banheiros estão devidamente sinalizados
só que parcialmente adaptados; Há balcão para atendimento no Museu do Amanhã e no Museu Aeroespacial não há; No Museu do Amanhã há pessoal treinado para lidar com pessoas com deficiência, mas no Museu Aeroespacial não há.
Quadro 2 – Principais itens de acessibilidade nas áreas externas dos atrativos turísticos Atrativos turísticos
Acessibilidade
Museu do Amanhã
Apresenta rebaixamento das calçadas no entorno; O acesso é feito com pavimentação e com sinalização adequada; O local apresenta ponto para embarque/desembarque de passageiros.
Museu Aeroespacial
Oferece estacionamento; O local apresenta ponto para embarque/desembarque de passageiros.
Fonte: Elaboração própria, 2018.
Com uma análise comparativa da área externa percebe-se que as calçadas no entorno do Museu do Amanhã possuem rebaixamento para cadeirantes e no entorno do Museu Aeroespacial não possuí essa alternativa de acesso; A pavimentação no entorno do Museu do Amanhã possui sinalização adequada para transição de pessoas com deficiência em sua parcialidade e no entorno do Museu Aeroespacial não possui sinalização para pessoas com deficiência; O Museu do Amanhã não possui estacionamento e o Museu Aeroespacial possui; Os dois atrativos apresentam locais para embarque e desembarque, mas não estão preparados para pessoas com deficiência. Considerando os resultados obtidos com esta pesquisa pôde-se constatar diferenças em relação ao quesito acessibilidade nos dois equipamentos. A partir da análise foi identificado que nenhum deles está totalmente acessível de acordo com a norma utilizada e foram identificados diversos problemas para a visitação de pessoas com deficiência. Fazendo um comparativo entre os dois locais, foi constatado que o Museu do Amanhã
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está mais preparado no quesito acessibilidade do que o Museu Aeroespacial, principalmente na área interna. No Museu do Amanhã foram vistos profissionais treinados e qualificados para o atendimento às pessoas com deficiência e no Museu Aeroespacial, onde não foram vistos profissionais treinados, somente militares responsáveis pelo equipamento. Percebe-se que esse item não está atrelado ao tempo de construção do prédio e sim ao modelo de gestão que respeita todos os seus visitantes. O acesso urbano na chegada aos atrativos é menos problemático no Museu do Amanhã do que no Museu Aeroespacial e se deslocar pelo entorno do Museu do Amanhã é mais confortável em função de pavimentação nova e linear, pois o entorno do Museu Aeroespacial possui péssima pavimentação e o transporte é precário. Nesses aspectos levantados percebe-se a necessidade de planejamento correto e gestão eficiente para um atrativo turístico ser importante para uma cidade, pois não basta somente ter atrativos, deve haver tanto internamente quanto externamente condições
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adequadas que permitam visitações, realização de eventos e toda atividade possível de lazer e dê sua contribuição efetiva para a localidade se tornar mais inclusiva. Até o momento da pesquisa ambos estavam parcialmente adaptados, não são imóveis tombados, cada um com sua relevância histórica, possibilitam visitações de deficientes nas suas respectivas limitações, há dificuldades em interagir com as exposições em diferentes níveis e a quantidade de funcionários treinados para lidar com esse público é escassa. Caminhase para melhorar, mas ainda não é o suficiente, e espera-se que futuramente a sociedade esteja mais desperta para todos os públicos, pois será imperioso incluir todos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando se analisa o turismo, normalmente o foco principal direciona-se para a economia, com informações acerca das possibilidades de geração de receita e de empregos. O turismo precisa ser analisado também sob o enfoque social garantindo possibilidades de consumo à diversidade humana. Desta forma, a contribuição do turismo para com as pessoas com deficiências é a possibilidade de eles conhecerem suas capacidades, desenvolverem suas habilidades, testarem seus limites e adquirirem novas experiências de maneira prazerosa (seria o ideal), em contato com ambientes diversos, interagindo e se sentindo parte da sociedade. Nesse contexto, a norma NBR 9050: 2004 é importante, pois contempla os princípios do desenho universal e aponta para a inclusão das pessoas no uso dos espaços, independentemente das suas condições sensoriais, físicas e intelectuais. Após decretos sancionados, passa-se a vigorar, portanto, parâmetros dimensionais para a elaboração de projetos e construções públicas e coletivas acessíveis. Mas percebe-se que não bastam Decretos e Leis, temos que ter ações efetivas na transformação de nossos atrativos turísticos, independente da época de construção e, claro, respeitandose aos parâmetros legais de alterações de prédios com mais tempo de construção.
Soluções acessíveis devem ser colocadas em prática utilizando o desenho universal ou da rota acessível para mudanças nas características do atrativo turístico com observações contínuas e pesquisas, para que sejam revistas condições que não são confortáveis para o visitante. Precauções com a segurança devem ser levadas em consideração e ponderar o que pode e deve ser modificado ou adaptado para atender as reais necessidades da pessoa com deficiência. Obter lucro com o turismo é uma forma de obter recursos para melhorar cada vez mais os atrativos turísticos e possibilitar visitação para um número maior de pessoas, independentemente da sua situação física e mental, para que todos possam aproveitar e retirar o máximo de suas experiências nos atrativos turísticos. Sugere-se uma pesquisa com visitantes nos dois atrativos turísticos em questão, principalmente com pessoas com deficiência, para relacionar com o resultado obtido com essa pesquisa e entender melhor a dinâmica da inclusão pelo fenômeno do turismo. REFERÊNCIAS ANSARAH, Marília Gomes dos Reis; NETTO, Alexandre Panosso. Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas. São Paulo: Manole. p 464. 2009. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: 2004. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. BLOG, EUROMONITOR INTERNATIONAL AGENCY. Disponível em: <http://blog. euromonitor.com/2015/01/top-100-citydestinations-ranking.html>. Acesso em: 28 de abr. 2017. BRASIL. Decreto Legislativo nº 186 de 9 de julho de 2008. Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 10 jul. 2008. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/CONGRESSO/DLG/
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DLG-186-2008.htm>. Acesso em: 16 de ago. 2017. ________.Decreto Legislativo nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004.Atribui o art. 84, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, regulamentação das leis nº 10.048 de 8 nov. 2000 e nº 10.098 de 19 dez.2000. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 3 dez. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm>. Acesso em: 17 de ago. 2017. ________.Decreto Legislativo nº 6.949, de 25 de Agosto de 2009. Promulgação da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Internacional assinado em Nova Iorque, em 30 de março de 2007. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 26 ago. 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acesso em: 16 de ago. 2017. BRASIL, Governo Federal do. Leis e decretos para os deficientes. Disponível em: <http:// www.acessibilidadeinclusiva.com.br/leis/>. Acesso em: 26 de abr. 2017. BRASIL. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 25 de out. 1989. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L7853.htm>. Acesso em: 17 de ago. 2017. ________. Lei 13.146, de 6 de julho de 2015. Instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 7 de julho de 2015. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/ l13146.htm>. Acesso em: 16 de ago. 2017. _________, Ministério do Turismo. Cartilha Turismo Acessível. 1ª edição. Brasília, DF. p.9. 2014. Disponível em: <http://
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O TECNÓLOGO EM GESTÃO DESPORTIVA E DE LAZER: UMA ANÁLISE DE PERFIL PROFISSIONAL E O MERCADO DE TRABALHO EM PORTO ALEGRE, NO OLHAR DO EGRESSO THE TECHNOLOGIST IN SPORTS AND LEISURE MANAGEMENT: AN ANALYSIS OF PROFESSIONAL PROFILE AND THE LABOR MARKET IN PORTO ALEGRE, IN THE VISION OF EGRESS Bruna Eduarda Frasca Santana1 Sady Darcy da Silva Junior2
RESUMO: Este estudo foi realizado com o intuito de identificar o perfil do egresso do curso superior Tecnólogo em Gestão Desportiva e de Lazer oferecido no IFRS- Campus Restinga, Porto Alegre RS, avaliar a efetividade do curso e verificar onde os egressos estão atuando profissionalmente. Utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica e realizou-se uma entrevista composta por 20 questões, aberta e fechada, aplicado a 24 dos 30 egressos formados pela instituição até o momento. A partir da aplicação da pesquisa percebeu-se que não há predominância de gênero entre os egressos e que o perfil do egresso apresenta idade na faixa dos 41 a 50 anos, sem especializações. O curso foi avaliado como adequado quanto à proposta do projeto pedagógico em relação à matriz curricular. No entanto, o mercado de trabalho, mesmo estando em constante crescimento, não está contratando os egressos. Portanto, conclui-se, que a instituição necessita novos formatos metodológicos de ensino. Palavras-Chave: Gestão desportiva e de lazer. Egresso. Mercado de trabalho. Formação. ABSTRACT: This study was accomplished with the aim of identifying the egress profile of the course Technologist in Sports and Leisure Management offered at IFRS – Restinga Campus, Porto Alegre – RS, evaluating the effectivity of the course and verifying where the egresses are acting professionally. It was used the method of bibliographic research and it was held an interview composed of 20 questions, opened and closed, applied to 24 of 30 egresses graduated by the institution until now. On the application of the research it was noticed that there wasn’t any gender predominance among the egresses and the profile of the egresses present ages in the range of 41 to 50 years, without specializations. The course was evaluated as adequate regarding to the proposal of the pedagogical project in relation to the curricular matrix and obligatory internship. Although the labour market is constantly growing, it isn’t hiring the egresses. Therefore, it was concluded, that the institution of graduation needs new teaching methodologicalformats. Keywords: Sports and Leisure Management. Egresses. Labour market. Formation.
1 Formada em Gestão Desportiva e de lazer, técnica e guia de turismo, formações pelo IFRS- Restinga, e educadora social. Lattes :http://lattes.cnpq.br/9787836566520592 2 Professor do IFRS-Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RS/Doutor em Administração. Lattes:http://lattes.cnpq.br/7403712613505415
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INTRODUÇÃO tualmente, um dos desafios para a área de gestão esportiva é a criação de cursos com estruturas curriculares que reúnam conhecimentos específicos sobre gestão e as diferentes concepções do esporte, considerando os aspectos científicos da área e as demandas do mercado, para promover assim a formação de profissionais com o perfil adequado para ocupar cargos nas diferentes organizações esportivas (MAZZEI et al., 2013; FREITAS, 2015). Para cada setor existem necessidades específicas que vêm se tornando cada vez mais evidentes. A priori, exige dos cursos de formação de gestores uma constante reformulação, organização, estabelecimento de novas estratégias, redefinições de objetivos e busca por novas soluções. A graduação de Tecnólogo em Gestão Desportiva e de Lazer ainda é muito nova no Brasil e o desenvolvimento técnico e promocional do esporte vem crescendo e inovando a cada ano. Chiavenato (2000) diz que as organizações e as pessoas que nelas trabalham estão em constante mudança. Assim, exigindo das universidades adaptação e reformulação constante para que possam acompanhar a evolução domercado. Segundo informações levantadas pelo Atlas do Esporte no Brasil, em 2005 existiam 1.585.414 empregos ligados direta ou indiretamente ao esporte, o que representa 2,42% da população empregada. Tendo em vista que o esporte movimenta 1,7% do PIB nacional, pode-se então interpretar que essa é uma atividade econômica com grande captação de mão-de-obra (BOSCHI, 2005). Sendo assim, vagas existem, faltam profissionais aptos para ocupá-las. Na primeira década do século XXI, o crescimento do setor esportivo no Brasil foi de 6,2%, enquanto que o PIB nacional cresceu 3,2%. Em 2016, há expectativa era que o mercado esportivo represente 1,9% do PIB, refletindo a importância da profissionalização do setor no Brasil (KAZNAR, GRAÇA, 2012). Segundo Nolasco et al. (2006), apesar da ampliação das opções no mercado de trabalho na área de gestão do esporte brasileiro, o ritmo
A
da capacitação profissional parece não estar atendendo a expectativa da demanda, pelo menos, em termos de qualidade. Garcia (2005) nos diz que a universidade tem a obrigação ética de compreender o sentido desta evolução pelo que não aceitar este propósito é colocar-se fora da própria sociedade. Podemos compreender que a evolução deve acontecer mutuamente, tanto no mercado de trabalho quanto nas instituições que formam estes profissionais. O presente estudo busca compreender por meio da perspectiva do egresso, se a graduação de Tecnólogo em Gestão Desportiva e de Lazer, oferecida pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), está obtendo os resultados esperados pelo Projeto Pedagógico do Curso (PPC), e ainda, perceber o mercado de trabalho como, por exemplo, verificar quais áreas mais contratam e em quais setores, se público ou privado. Para através de dados concretos, propor ajustes e reformulações na graduação, de forma que atenda cada vez mais as exigências do mercado de trabalho. Contudo, será possível fortalecer o nome da instituição, para quem sabe, torná-la uma referência na formação de gestores, desta forma facilitando a entrada de egressos no mercado de trabalho e tornando a graduação cada vez maisreconhecida. Especificamente, este trabalho procura: 1) fazer uma breve contextualização histórica sobre gestão, esporte e lazer; 2) sondar como foi o desenvolvimento dos alunos durante a graduação; 3) traçar o perfil dos egressos; 4) verificar onde os egressos estão atuando profissionalmente e se estão inseridos no mercado como gestores. Tendo como objetivo geral avaliar a efetividade do curso através da óptica do egresso. Este estudo foi desenvolvido através do método de pesquisa descritiva, contendo questões com abordagem qualitativa e quantitativa, abertas e fechadas. Na visão de Lakatos e Marconi (2010, p. 136) “as medidas quantitativas respondem à pergunta quanto” (...) “e as qualitativas
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como”. Segundo Trivinos (1987), pesquisa descritiva caracteriza-se por auxiliar na descrição de características de um conjunto de dados, podendo ser de uma população, um fenômeno ou experiência para o estudo. Participaram da pesquisa, apenas os egressos do curso superior de Tecnólogo em Gestão desportiva e de Lazer do IFRS - Campus Restinga. Primeiro foram identificados todos os alunos que concluíram o curso e chegou-se aonúmero total de 30 formados(egressos). Aos egressos foi enviado um convite de participação da pesquisa, aos que aceitaram foi enviado o questionário, composto de 20 perguntas distribuídas em três eixos: perfil do egresso, considerações sobre o curso e visão de mercado de trabalho. O contato inicial e o envio da pesquisa foram feitos por meio do aplicativo Whatsapp. GESTÃO E/OU ADMINISTRAÇÃO Neste e em muitos estudos, é comum serem utilizados dois termos distintos: gestão e administração. Os primeiros programas acadêmicos a abordar o tema, foram criados nos Estados Unidos e eram denominados como “sport management”, se formos fazer a tradução para o português, o termo resultante será, gestão do esporte. Todavia, alguns autores sugerem que os termos administração e gestão podem ser usados como sinônimos (ROBBINS apud CHELLADURAI, 2009). Portanto, entende-se que as duas formas estão corretas. Podemos compreender a administração como o ato de assumir as responsabilidades de um cenário dinâmico e competitivo utilizando as ferramentas básicas da administração que são: o planejamento, a organização, a direção e o controle (CHIAVENATO, 2004). GESTÃO DESPORTIVA Para que haja melhor compreensão do termo Gestão Desportiva Bastos (2004), explica: a área de Administração Esportiva envolve a aplicação dos conceitos e teorias gerais da Administração ao Esporte e aos
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diferentes papéis que ele desempenha na sociedade contemporânea (BASTOS, 2004). Para Mullin (1993) apud Zouian e Pimenta (2003), “a gestão esportiva tem como primeiro objetivo promover as atividades esportivas, produtos e serviços, com ênfase nas funções de planejamento, organização, direção e controle” (MULLIN apud ZOUAIN & PIMENTA, 2003, p. 17). Mesmo que de maneira distinta, os autores se completam e suas falas. No contexto histórico, a Gestão Esportiva ainda pode ser considerada uma área de investigação acadêmica recente. No Brasil, artigos científicos começarama ser publicados no início da década de 80, em revistas específicas da área. Contudo, quem deu o primeiro passo se tratando de formação acadêmica em Gestão Esportiva, foram os Estados Unidos, na década de 60, para atender demandas do esporte profissional e universitário americano (CHELLADURAI, 2009). Já o Brasil começa a investir em formação acadêmica na área de Gestão Esportiva a partir de 1999, em 2002 se teve um crescimento mais acentuado, atingindo o pico em 2009 com surgimento de 11 cursos e em 2011 com mais nove. Atualmente, identifica-se 43 cursos em atividade em diferentes Estados do Brasil (VERGARA, 2006 apud MAZZEI et al. 2013). O Brasil, assim como outros países, tem suas peculiaridades na área de Gestão Desportiva e de Lazer, mesmos que os estudos pioneiros tenham surgido em outros países. Pensado em características populacionais, de mercado e de cultura o nosso país busca se adaptar dentro de cada situação e região brasileira, conforme diz Bastos e Mazzei (2011):
No Brasil, a Gestão Esportiva tem uma característica particular, de acordo com a nossa história e realidade. Por um lado a sociedade e as organizações esportivas, de uma forma geral, ainda se conscientizam da importância da gestão em todas as manifestações do esporte (educacional, de participação e de rendimento). Por outro, muitos consideram que a Gestão do Esporte está associada apenas à gerência de clubes e academias de Fitness, ou a aspectos ligados à “Indústria do Futebol”, dada a forte
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predominância da modalidade em termos culturais. (BASTOS E MAZZEI, 2011 p.64.)
GESTÃO DO LAZER O lazer tem como função inicial a libertação e o prazer, dando a entender queosmomentos de lazer servem para fazer o que se gosta. São três funções mais importantes do lazer: a) função de descanso; b) função de divertimento, recreação e entretenimento; c) função de desenvolvimento pessoal (DUMAZEDIER,2008). Segundo Pimenta (2008) ao gestor compete desenvolver planosestratégicos e operacionais, por meio de planejamento, organização, liderança, avaliação de processos e dos resultados. Este profissional pode atuar nos seguintes locais: hotéis, associações, clubes, hospitais, asilos, SESC, SESI, escolas, presídios, navios (cruzeiros), fábricas, parques temáticos, condomínios, lojas de brinquedos, parques de diversão (PIMENTA,2003). Além desses contextos de atuação, nos quais os profissionais do lazer se encontram presentes, temos também diversas modalidades de atuação que são consideradas corriqueiras: “oficinas culturais, exposições, saraus, colônias de férias, shows, torneios, festivais, encontros, dias de lazer, cursos, acampamentos, festas, excursões, promoções, torneios e jogos” (PIMENTA, 2013, pg. 79). Nas relações do Lazer com a Saúde, Requixa (1974) ressalta que, além do caráter não obrigatório e de livre escolha do indivíduo, o Lazer propicia condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social. Portanto, o lazer se trata de um fenômeno social que integra inúmeros aspectos relacionados ao desenvolvimento humano (CABEZA, 2000). Entretanto, as atividades de lazer exigem planos estratégicos e operacionais para que o lazer seja aproveitado na melhor forma, a ponto de proporcionar todos os seus benefícios. A CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA Desde o final da década de 60, nos Estados Unidos, a gestão esportiva tem sido notável em programas acadêmicos que foram criados para
atender as demandas do esporte profissional e universitário. Acreditava-se que esses esportes poderiam ser melhor organizados se seus dirigentes tivessem o perfil e uma formação adequada que lhes permitissem propor melhorias organizacionais e, consequentemente, propiciar um melhor desenvolvimento econômico e estrutural desses esportes (PIRES, 2001; ROCHA; BASTOS, 2011). Percebeu-se que as simples licenciaturas em Educação Física e/ou Ciências do Desporto deixaram de ser capazes de responder às necessidades atuais do processo de desenvolvimento do desporto nos vários setores de desenvolvimento e nos diversos países do mundo (PIRES; LOPES, 2001). A iniciativa de propor formação específica aos gestores esportivos com o passar dos anos foi se ampliando e consolidando dentro das universidades ao redor do mundo, que passaram a desenvolver currículos cada vez mais especializados, com conteúdos aplicados ao contexto esportivo integrando as áreas de economia, finanças, marketing, comunicação, ética, legislação e política (PARKHOUSE, 1991; BASTOS,2003). Os programas de formação em gestão esportiva especificamente no Brasil começam a despontar a partir da década de 1970, como resultado da procura por profissionais que atendessem às demandas do mercado nacional (BASTOS, 2003). Os programas nacionais, como cursos de bacharelado e tecnológico, têm enfoques curriculares distintos, sendo o primeiro voltado para o ensino de disciplinas sobre fundamentos da gestão e o segundo direcionado aos aspectos culturais e de caracterização do esporte (MAZZEI et al., 2013). PERFIL DO PROFISSIONAL Por estarmos falando de uma área muito recente um dos desafios da gestão desportiva e de lazer é a construção de uma graduação que contemple conhecimentos específicos sobre a gestão e as diferentes concepções do esportee do lazer, considerando os aspectos científicos da área e as demandas
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do mercado. Neste sentido, a identificação do perfil dos gestores torna-se importante para traçar um panorama de quem está à frente das organizações. Mas, pouco se estuda e conhece sobre o perfil deste administrador, sua formação e campo de atuação (AZEVÊDO & BARROS, 2004; BASTOS 2004). O projeto pedagógico do curso (PPC) do Curso Tecnólogo em Gestão Desportiva e de Lazer (2013), do IFRS- Campus Restinga prevê que ao término do curso, tenha-se formado profissionais aptos a: planejar, organizar, promover, dirigir, captar recursos, coordenar, executar e gerir políticas, programas, projetos e eventos esportivos e de lazer, além de ter capacidade investigativa, empreendedora e interferir positivamente nos espaços de esporte e lazer de uma cidade, com atuação tanto em instituições públicas como privadas. E para que isso seja possível, os profissionais passam pela formação acadêmica abordando: os meios de construção teórica e prática nas áreas de conhecimento das Ciências Humanas, Administração, Turismo e Esporte. No Rio Grande do Sul, foi identificado o perfil do gestor desportivo, em sua maioria como: homens, com idade média de 37 anos e graduação em Educação Física, com função de coordenadores ou diretores, eles exercem atividades de planejamento, coordenação, direção e organização (KARNAS, 2013). Na pesquisa de Valente (2011) realizada em Manaus, encontram-se resultadas convergentes e outros divergentes, sendo encontrados os seguintes dados: predominância do sexo feminino, idade entre 40 e 49 anos, predominantemente de formação em Educação Física, atuantes há mais de seis anos, não possuem curso de formação na área de administração e não recebem remuneração específica para a função de gestor. Os dados acima mencionados levam a crer que cada estado tem suas especificidades. No entanto, está muito claro que a formação predominante nos cargos de gestão ainda é a Educação Física. Em alguns casos os profissionais da Educação Física buscam
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alguma especialização ou cursos na área da administração, mas, em outros casos não. Como mostra Karnas (2013), 30% dos gestores desportivos, no RS, não possuem qualquer formação a nível superior, 15% conta com ensino superior incompleto e 55% superior completo. Aqui podemos retomar Bastos (2011) que fala das organizações serem melhores organizadas se os seus dirigentes tivessem o perfil e a formação adequada. MERCADO DE TRABALHO Para Brunoro (1997), são definidas as áreas de administração esportiva relacionando-as com as organizações de atuação do profissional: gerenciamento de clubes, gerenciamento esportivo geral (entidades públicas; privadas; escolas e universidades; federações, confederações e ligas; SESC, SENAC, SESI, ACM e área comunitária), supervisão de equipes, chefia de delegações e supervisor de projetos. A demanda de atuação do Gestor Desportivo e de Lazer é muito diversificada, podendo variar conforme os eixos: cultura, organização e política de cada região ou país. O sistema desportivo de atuação do Gestor Desportivo e de Lazer no Brasil é descrito por Rezende (2000) que apresenta, sob a ótica da organização como unidade social, dois grandes grupos: aquelas organizações que existem em função da atividade física, esportiva e de lazer: centros de treinamento e escolinhas; academias; clubes e associações exclusivamente esportivas; consultorias e assessorias; ligas, federações e confederações; fundações, instituições e comitês, entre outros – e aquelas que possuem setores voltados para a atividade física, desportiva e de lazer: prefeituras, governos estaduais, governo federal, clubes sociais, entidades representativas (SESC, SESI, sindicatos), hotéis, academias, shoppings, etc. Segundo Parkhouse (1996) apud Zouain e Pimenta (2003), a gestão esportiva engloba todas as áreas relativas ao esporte como: turismo, hotéis, equipamentos, instalações, investimentos públicos e privados no setor de fitness, merchandising, esportes escolares e profissionais.
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Ainda falando das áreas de atuação, Daylchuck (1999), nos mostra onde o crescimento vai acontecer através de uma pesquisa entre diversas instituições, a nível mundial, as oportunidades de oferta de emprego no âmbito do desporto, nos próximos dez anos, vão evoluir de acordo com os seguintes itens: 1) Turismo; 2) Empreendimentos; 3) Gestão de eventos; 4) Negócios; 5) Especialistas. Contudo, pode-se observar que mesmo com o crescimento da área, em termos de cursos e publicações, ainda não é compatível, quantitativa e qualitativamente, com a necessidade do desenvolvimento da Administração Esportiva no país. Podendo tornar o crescimento da área mais lento.
possível, com estudos sobre Gestores Desportivos por falta de estudos sobre egressos do curso. Os resultados estão divididos em três seções: o perfil do egresso, a visão do egresso sobre o curso e a visão do egresso sobre o mercado detrabalho.
DESENVOLVIMENTO Após análise dos dados, para facilitar a visualização e compreensão, optou-se por apresentar e discutir os resultados conforme as respostas obtidas e relacionando, quando
GÊNERO No contexto gênero foram entrevistados 11 mulheres e 13 homens, sendo possível perceber que não há uma diferença relevante neste ponto como mostra o gráfico 1.
O PERFIL DO EGRESSO Esta seção compreende o total de sete perguntas, sendo elas sobre:gênero, idade, renda, tipo de moradia, componentes da residência, filhos e estado civil. Sempre que possível relacionando com estudos já existentes.
Gráfico 1: Gênero
Fonte: Autor, 2019
Ao relacionarmos com estudos da área de Gestão Desportiva encontramos resultados diferentes, Nery & Capinussú (2012) apresenta em seu estudo 80% de gestores masculinos. Contudo no mesmo ano Santana et al (2012) percebe mudanças com a maior presença de mulheres na gestão esportiva brasileira. O último estudo encontrado sobre o perfil do gestor, por Amaral, C. M. S.; Bastos, F. C (2016),
mostra que a predominância do gênero masculino ainda é muito forte em cargos de gestão esportiva. Com isso podemos concluir que são formados homens e mulheres em quantidade semelhante, no entanto, os mais contratados são os homens.
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IDADE A faixa etária encontrada nesta pesquisa é bem abrangente, variando entre 21 anos e 71 anos, apresentando média de 42, 41 anos. A maioria dos egressos se concentrou na faixa
de 41 a 50 anos (33%), o que é semelhante ao encontrado no estudo de Costa & Sarmento (2012) onde há predomínio de gestores na faixa etária acima dos 40 anos (gráfico 2).
Gráfico 2: Faixa etária
Fonte: Autor, 2019
É importante destacar a faixa etária até 30 anos que corresponde a 21% dos egressos, resultado também encontrado por Bastos et al (2011). Desta forma, verifica-se uma tendência de gestores mais jovens na administração esportiva. ESTADO CIVIL O atual estudo encontra relação com Costa & Sarmento (2012), quanto ao estado civil dos
entrevistados, por sua vez, há predominância de egressos casados (50%). Ainda pode-se perceber que a junção das opções: casados e união estável formam pouco mais de 2/3 do total. Contudo este resultado pode estar relacionado ao alto índice de candidatos na faixa de idade entre 30 a 40 anos (gráfico 3).
Gráfico 3: Estado Civil
Fonte: Autor, 2019
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RENDA FAMILIAR Foi possível determinar, através da pesquisa, que 50% dos egressos possuem renda familiar na faixa de 2 a 4 salários mínimos. Salário mínimo correspondente ao valor de R$ 998,00 determinado mediante pesquisa no site do IBGE, decreto 9.661/ 2019. Se torna relevante mencionar que 21% dos egressos estão dentro da faixa que corresponde a renda familiar até
2 salários mínimos e 29% entre a faixa de 4 a 10 salários. Estes resultados podem ser explicados pelo local onde está localizada a instituição, região periférica de Porto Alegre e também por ser uma instituição que oferece ensino gratuito, sendo assim, há procura maior e de pessoas que não tem condições de pagar pelo ensino privado, observe os dados no gráfico 4.
Gráfico 4: Renda
Fonte: Autor, 2019
TIPO DE RESIDÊNCIA Quanto ao tipo de moradia 79% apresenta moradia própria, entre residências quitadas e financiadas, é importante ressaltar que apenas
21% daqueles que concluíram o curso moram em casas de aluguel ou cedidas (gráfico 5).
Gráfico 5: Residência
Fonte: Autor, 2019
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COMPONENTES DA RESIDÊNCIA No fator que corresponde aos componentes familiares por residência, é possível perceber que apenas 12% dos egressos moram sozinhos, que contrasta com os 67% que moram com parceiros, sem deixar de mencionar os 21% que moram com os pais. Ao perguntar sobre a existência
de filhos que morem junto com os pais, 50% respondeu que tem filhos. Podendo, este, ser um fator motivacional, levando em conta que o estudante é responsável por um menor e que a conclusão da graduação pode proporcionar melhores salários, portanto, melhor qualidade de vida para família, como mostra o gráfico 6.
Gráfico 6: Componentes da residência
Fonte: Autor, 2019
A VISÃO DO EGRESSO SOBRE O CURSO Esta seção apresentará perguntas sobre o curso. Foram realizadas algumas perguntas fechadas, sendo elas: qual sua área de interesse no curso; o que motivou a escolha do curso; se fez alguma especialização. Compunham as perguntas abertas: fale sobre a pertinência do seu estágio e se possível mencione as atividades que realizou; elaborar, implementar e gerir projetos nas áreas de esporte, cultura, turismo e recreação fazem parte dos objetivos específicos do curso. Com os componentes curriculares oferecidos pelo curso, você entende que são suficientes para obter estas habilidades; acredita que a carga horária que o curso disponibiliza é suficiente para aprender ferramentas que o permita elaborar e implantar planos de marketing por meio do uso de estratégias. Ainda havia uma questão que pedia aos entrevistados que dessem notas de 01 a 04 para as atividades de gerenciar, articular, coordenar, planejar, organizar, promover, dirigir e captar recursos conforme a frequência com que foram trabalhadas em sala de aula.
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ÁREA DE INTERESSE NO CURSO Sobre as áreas de interesse no curso, as opções que mais se destacaram, foram gestão e esporte que juntas totalizaram 69% das escolhas, no entanto, todas as opções foram mencionadas, pelo menos, uma vez como mostra o gráfico 7. Gráfico 7: Área de interesse
Fonte: Autor, 2019
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MOTIVAÇÃO PARA INGRESSAR NA GRADUAÇÃO Quando perguntado sobre o que motivou a escolha pelo curso obtivemos algumas respostas dentre as opções escolhidas, a mais mencionada foi “Outros” (29%) com as seguintes justificativas: “local próximo de casa”; “objetivo de transformar vidas e aperfeiçoar sistemas”; “recomendação”; “dar continuidade no curso de guia de turismo”; “estava procurando uma especialização na área de gestão esportiva quando encontrei a graduação optei por ela”. Em um caso específico, foram escolhidas duas opções: possibilidade de ter uma graduação e prestar concurso público. É possível destacar que apenas 25% dos egressos consultaram a grade, sendo
assim, somente ¼ dos ingressantes sabiam realmente do que se tratava a graduação. As opções: possibilidade de ter uma graduação e surgir a oportunidade, são fatores que não estão ligados diretamente com a formação de gestor desportivo de lazer, mas sim com a oferta de uma graduação gratuita, movimenta 34% do total dos resultados. Pode acontecer o mesmo com a opção: nome do curso, que pode facilmente ser confundido com a graduação de Educação Física. Desta forma, podemos entender que 46% dos egressos entraram na graduação pela oportunidade do ensino gratuito e não pelo interesse específico na graduação, como mostra o gráfico 8.
Gráfico 8: Motivo de escolha
Fonte: Autor, 2019
ESPECIALIZAÇÃO Ao questionar os egressos se após a formatura os mesmos foram em busca de algum curso que complementasse a graduação, a resposta que mais apareceu foi “Não” (54%), contudo, 29% realizaram pós-graduação em áreas de Organização e Gestão esportiva, Educação Técnica, Gestão Empresarial, Liderança Coaching em Gestão de pessoas e Fisiologia; e 17% dos entrevistados possuem cursos complementares ao Tecnólogo em Gestão Desportiva e de Lazer. Dois dele relatam
formação em Educação Física e Técnico em Guia de Turismo. Percebe-se que mais da metade dos egressos não dão continuidade nos estudos. A partir deste dado é possível inferir alguns fatores para interrupção dos estudos como: a falta de recursos financeiros, falta de conhecimentos sobre cursos de especialização e suas formas de ingresso, percepção de que a graduação seja o suficiente para atuar na área ou até mesmo a falta de interesse em atuar como Gestor Desportivo e de Lazer (gráfico 9).
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Gráfico 9: Especialização
Fonte: Autor, 2019
ESTÁGIO OBRIGATÓRIO Em relação à pertinência do estágio obrigatório, 87% menciona que o estágio foi pertinente. Na mesma pergunta lhes foi pedido para relatar quais atividades eram executadas e foram obtidas as seguintes respostas: planejamento de atividades recreativas, organização de eventos, promoção da acessibilidade, idealização de projetos sustentáveis, atendimento ao público, auxilio de atividades físicas, recepção hoteleira, idealização de projetos de captação de recursos, organização de shows que
promovessem a acessibilidade, organização e execução de jogos de futebol e elaboração de projetos. Quanto aos 13% que relatam experiências de estágio que não foram pertinentes temos explicações como: exercer atividades que não eram ligadas a gestão, ajudar nas atividades esportivas e recreativas e realizar atividades que não tinham nenhuma ligação com o curso. Durante a análise teve uma resposta que não foi possível identificar como foi o estágio do egresso, portanto, esta não foi contabilizada como mostra o gráfico 10.
Gráfico 10: Pertinência do estágio obrigatório
Fonte: Autor, 2019
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COERÊNCIA DA GRADE CURRICULAR A partir do PPC da instituição, que prevê que o egresso deve ser capaz de elaborar, implementar e gerir projetos nas áreas de esporte, cultura, turismo e recreação, foi indagado se com a grade curricular oferecida era possível obter estas habilidades. 54% dos respondentes compreendem que a grade curricular é perfeitamente suficiente para aprender o que o curso propõe. Mas, 33% dos respondentes não consideram suficientes. Essa parcela de respondentes traz as seguintes justificativas: “o curso é muito direcionado para o esporte, deixando a desejar nas áreas de cultura, lazer e turismo”; “a exposição das aulas não é totalmente adequada”; “há poucas atividades práticas”; “professores não são habilitados para suprir as necessidades do curso”; “superficialidade dos conteúdos”. Quanto aos 13% que se faz imparcial, mostram que as abordagens dos temas são muito superficiais, todavia, entendem que o egresso deve buscar conhecimento em cursos complementares. Entendendo que quando há imparcialidade há dúvida, é possível assimilar que estes 13%
concordam com os 33% que o método de ensino não é o mais apropriado, o mesmo pode ser percebido quando, os 13% imparciais, mencionam que o aluno deve buscar o conhecimento. No entanto, estamos falando de uma instituição que localiza-se na periferia, onde os moradores desta região, em sua maior parte, não tem acesso ao ensino de qualidade, e por conta do modelo de educação adotado pelo estado, na maioria das vezes passam de ano sem ter o conhecimento necessário chegando ao termino do ensino médio com uma péssima base. Ao ingressarem no ensino superior estes alunos chegam defasados, com dificuldades básicas como escrever e ler e ainda precisam dar conta de todo o conteúdo do ensino superior. Assim, é compreensível que está instituição necessita utilizar uma metodologia coerente aos alunos para que a grade curricular seja absorvida da melhor forma no tempo proposta e com qualidade, ou então formará profissionais sem capacidade de atuar no mercado de trabalho.
Gráfico 11: Grade curricular
Fonte: Autor, 2019
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ABORDAGEM DAS ATIVIDADES Perguntou-se aos entrevistados sobre a frequência que as atividades que desenvolvem as habilidades de gerenciar, articular, coordenar, planejar, organizar, promover, dirigir e captar recursos foram desenvolvidas.
Pediu-se que colocassem (1) para muito trabalhado, (2) para trabalhado, (3) para pouco trabalhado e (4) para não trabalhado. Na tabela abaixo será possível compreender através dos números de 1 a 4, com que frequência foram trabalhadas as habilidades.
Tabela 1: Frequência de desenvolvimento das habilidades Fq
Gerenciar Articular
Coordenar Planejar Organizar Promover
Dirigir
Captar Recursos
1
29%
8%
13%
31%
25%
12%
13%
0%
2
33%
42%
48%
50%
62%
46%
54%
50%
3
38%
50%
39%
19%
13%
38%
29%
29%
4
0%
0%
0%
0%
0%
4%
4%
21%
Fonte: Autor, 2019
Em relação a Tabela 1. Percebesse que gerenciar ficou na faixa dos 30 a 40% como trabalhada e pouco trabalhada em sala de aula. Articular ficou na faixa dos 40 a 50% sendo mencionada como trabalhado e pouco trabalhado. Planejar foi mencionada por 50% dos entrevistados como trabalhada. Organizar teve seu maior percentual no quesito trabalhado com 62%. Promover teve seu percentual mais alto na opção trabalhado (46%) mas, também foi citado com não trabalhado e teve um percentual relevante de 38% na opção pouco trabalhado. Dirigir é relatado mais vezes como trabalhado (54%), no entanto, é mencionado como pouco trabalhado por 29% dos entrevistados. Captação de recursos é vista por metade dos entrevistados como trabalhada, todavia, é a que tem o maior percentual de não trabalhado por 21% dosentrevistados. É possível perceber que mesmo a opção “trabalhado” sendo a mais mencionada pelos egressos, as outras opções também são citadas e em alguns momentos a somatória delas se fazem mais que a metade dos entrevistados, este evento pode se dar por cada turma ter abordado as atividades
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em momentos diferente e com professores distintos. Neste caso é importante ressaltar que a pesquisa foi realizada com três turmas que tiveram seus anos de ingresso distintos, sendo a primeira de 2013, a segunda em 2014 e a terceira em 2015. O fato de a instituição lidar com professores substitutos que atuam por apenas dois anos, pode ser um fator que influencie nos percentuais. Ao fazer a união dos valores de 1 e 2 relacionados a muito trabalhado e trabalhado foram obtidos os resultados das atividades mais abordadas e melhor desenvolvidas durante o curso, sendo elas: gerenciar (62%), dirigir (67%), planejar (81%), organizar (87%), portanto, entende-se que os alunos saem aptos e seguros para desenvolver atividades de gerenciamento, planejamento e organização de atividades nas áreas de esporte cultura, lazer e turismo. No entanto, atividades como articular e captar recursos prevaleceram com 50% de menção relacionado com os itens 3 e 4 (pouco trabalhado e não trabalhado), outras como coordenar (49%) e promover (42%). São atividades que merecem atenção especial
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por parte da instituição. Seria interessante oportunizar mais práticas e/ou aprofundar mais os assuntos, assim, preparando melhor os alunos para executar qualquer atividade com qualidade e eficiência. O MERCADO DE TRABALHO NA PERSPECTIVA DO EGRESSO A sessão aborda o mercado de trabalho sobre as experiências dos egressos. Como forma de obtenção de respostas foram feitas as seguintes perguntas: trabalhava na área antes da graduação; ao concluir a graduação trabalhou na área; prestou concurso público; tem interesse em atuar na área; o mercado de
trabalho sabe o que faz o gestor desportivo e de lazer; tem espaço no mercado para o gestor desportivo e de lazer? ATUANTES NA ÁREA ANTES DA GRADUAÇÃO Ao perguntar se já atuavam na área antes da graduação mais da metade dos entrevistados responderam que não, apenas 33% apontam que já eram atuantes nas áreas de desporto e lazer. Após a conclusão do curso permanecem trabalhando na área, alguns ascenderam de cargo e outros permanecem no mesmo.
Gráfico 13: Trabalhava na área antes do início do curso
Fonte: Autor, 2019
INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO NA ÁREA DE FORMAÇÃO Conforme resultados obtidos, pode-se afirmar que atualmente trabalha na área de gestão desportiva e de lazer somente aqueles que já trabalhavam antes de iniciar a graduação. Ou seja, os 67% dos egressos que não tinham contato prévio com a área tem mais dificuldade de atuar, como mostra o gráfico 14. Talvez, pelo cargo de gestor exigir mais conhecimentos práticos e teóricos, além da graduação. Podemos fazer ainda, uma ligação com a pergunta sobre especialização, onde 54% dos egressos afirmaram não ter nenhum tipo. Assim dificultando a inserção destes egressos no mercado de trabalha. Mais a frente será possível perceber que os 13% que faltam para atingir os 67% de
desempregados relacionados com os 54% sem especialização serão encontradas questão onde se pergunta sobre o interesse de atuar na área, onde estes mesmo 13% respondem que não tem interesse. A partir dos dados destacados é possível compreender o real motivo do índice de desempregados entre os egressos do Tecnólogo em Gestão Desportiva e de Lazer. Desta forma, podendo utilizar estas informações para transformar a realidade dos futuros e atuais egressos do curso, modificando a realidade dos formados e tornando a graduação mais necessária no mercado de trabalho, assim sendo mais procurada como opção de ensino superior.
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Gráfico 14: Inserção no mercado
Fonte: Autor, 2019
CONCURSO PÚBLICO O ensino superior proporciona algumas vantagens e uma delas é prestar concursos públicos para cargos melhor remunerados, por isso, a pesquisa pergunta aos entrevistados se estes prestaram concurso público. 83% disseram que não e 17% responderam que sim, mas relatam algumas dificuldades como: não ter muitas vagas na área de Gestão de Desporto e Lazer em território nacional; os
cargos serem direcionados à profissionais da área de Educação Física; um dos entrevistados mencionou que precisou abrir um processo para incluir a graduação em um concurso e conseguiu. Faz-se importante relatar as experiências dos egressos para que seja possível compreender as dificuldades de participar da seleção de vagas específicas de gestão de esporte e lazer por serem direcionadas a outras formações.
Gráfico 15: Concurso Público
Fonte: Autor, 2019
PRETENSÃO EM TRABALHAR NA ÁREA DE FORMAÇÃO Ao perguntar se pretendiam atuar na área de formação apenas 13% dos egressos responderam que não. Sendo assim, a grande maioria dos formados na graduação são potenciais profissionais, desta forma aumentando a gama de gestores preparados para atuar junto ao esporte, a cultura, lazer eturismo. É importante registrar que alguns dos 87% que mencionam querer trabalhar na área, se
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mostram desmotivados por fatores como idade avançada e falta de experiência. Considerando que os dois fatores unidos podem ser uma desvantagem no momento da seleção de uma vaga. O estudo de Valente (2011) mostra que os gestores desportivos demonstram, em sua maior parte, atuação de mais de seis anos no cargo, ainda apontando que mais de 50% possuem especialização.
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Gráfico 16: Interesse em atuar na área
Fonte: Autor, 2019
A COMPREENSÃO DO MERCADO DE TRABALHO SOBRE O GESTOR DESPORTIVO E DE LAZER A partir de suas experiências, 96% dos egressos disseram que o mercado de trabalho não tem conhecimento sobre a graduação, portanto, não compreendem a atuação do profissional. Contudo, um egresso ressalta que a nomenclatura é recente e pouco mencionada, mas com a grande oferta de cursos, logo a graduação assim como os profissionais serão reconhecidos.
Por ser uma questão aberta os egressos puderam relatar algumas situações pelas quais passaram, como: ter a formação relacionada com a graduação de Ed. Física e até ser desclassificado de uma seleção pelo fato do entrevistado desconhecer a formação. Mas, entendem que eles são as pessoas ideais para explicar a formação e assim ampliar a quantidade de Gestores Desportivos e de Lazer atuantes no mercado de trabalho.
Gráfico 17: O mercado compreende as atividades do Gestor Desportivo e de Lazer
Fonte: Autor, 2019
O ESPAÇO QUE O MERCADO DE TRABALHO OFERECE AOS GESTORES DESPORTIVA E DE LAZER A maior parte (62%) dos entrevistados acredita que existe espaço no mercado para os Gestores Desportivos e de Lazer, mesmo que os cargos, atualmente, sejam ocupados por oriundos da Educação Física. Os 38% de
egressos explicam que o mercado se faz fechado para o egresso por não conhecer a graduação e não compreender as atividades exercidas por este profissional. Mas, todos entendem que o aumento da promoção de cursos na área amplia a possibilidade de os egressos atuarem e mostrarem o potencial deste profissional. Assim, logo os cargos de
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gestão nas empresas de esporte, cultura, turismo e lazer serão ocupados por gestores habilitados. Contudo percebe-se que os profissionais, mesmo que de outras áreas vêm se especializando especificamente na gestão. Assim, sendo totalmente compreensível que egressos do curso de Ed. Física estejam
ocupando os cargos de Gestão Desportiva e de Lazer, pois ao perceberem que a graduação se faz defasada na área de gestão, logo procuram especializações para suprir este déficit. Desta forma, se tornam capacitados, aos olhos das empresas, para atuar nos cargos de gestão, pois têm conhecimento prático e teórico em seu poder.
Gráfico 18: O espaço de mercado de trabalho para o gestor
Fonte: Autor, 2019
CONCLUSÃO Apesar dos percalços encontrados no decorrer do estudo, como, por exemplo: a dificuldade dos egressos em entender o que era perguntado, respostas curtas demais ou que não deixavam clara a posição do respondente e até mesmo erros de escrita, além da falta de pesquisas sobre egressos do curso abordado, mesmo assim, foi possível alcançar os objetivos. Com a presente investigação se torna viável a identificação do perfil dos egressos da graduação, assim como depreender a real situação dos mesmos em relação ao mercado de trabalho, podendo também, contribuir significativamente com novos estudos na área, aumentar a visibilidade destes profissionais e sugerir melhorias na graduação, tanto na grade curricular do curso, quanto na metodologia de ensino. Podemos concluir que no perfil do egresso da formação de Tecnólogo em Gestão Desportiva e de Lazer do IFRS - Campus Restinga não há predominância de gênero, apresenta idade na faixa dos 41 a 50 anos, sem especializações, casados com filhos, com
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renda de 2 a 4 salários mínimos e residentes em casa própria. Como já citado no decorrer do estudo, o esporte é significativo para a sociedade. Com os resultados obtidos, podemos comprovar esta relevância. Ele e a gestão são os fatores que mais cativam os candidatos a ingressarem na graduação. Outros fatores motivacionais são: a respectiva proximidade entre a instituição de ensino e a residência e a matriz curricular do curso. Conforme respostas dos egressos, a grade curricular e o estágio obrigatório correspondem à expectativa inicial de acordo com os propósitos do curso. No entanto, a abordagem das atividades que o curso se propõe a desenvolver, articular, captar recurso, coordenar e promover se faz necessária uma avaliação e uma reformulação metodológica de ensino, buscando assim promover o maior entendimento dos alunos. A respeito do mercado de trabalho, a grande maioria dos egressos demonstra interesse em atuar na área, porém mais da metade deles não busca especialização. Esse dado pode contribuir
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para entender porque há tantos formados que não trabalham no ramo e porque o mercado de trabalho não está admitindo os egressos. Outra justificativa para tal dificuldade se dá pelo pouco conhecimento das organizações sobre o curso. Sendo assim, o mercado de trabalho, seja público ou privado, não está admitindo egressos. Como já mencionado anteriormente, a área do esporte vem crescendo consideravelmente a cada ano, assim como o lazer vem sendo cada vez mais valorizado por promover a qualidade de vida, neste mesmo contexto, as organizações necessitam de profissionais capacitados para trabalhar neste setor. Para que se tenha bons profissionais é necessário ter cursos de qualidade e é neste ponto que o estudo vem contribuir, mostrando para a instituição onde ela está pecando e ao mesmo tempo agregando a estudos científicos que venham trabalhar com o mesmo assunto ou similares. Por ser uma nova área de estudo provavelmente contribuirá para a visibilidade da formação de forma a esclarecer como e onde o profissional Tecnólogo em Gestão desportiva e de lazer atua. Assim facilitando a entrada do mesmo no mercado de trabalho e possibilitando cada vez mais o desenvolvimento daárea. Como pesquisadora foi possível compreender como o ensino de base é importante para o desenvolvimento de compreensões futuras, podendo afetar o aluno de diversas formas, inclusive, com a introjeção de pensamentos que levem o mesmo a achar que não é capaz de iniciar novas formações ou pior fazer com que estes alunos percam a capacidade investigativa como, por exemplo, procurar cursos gratuitos de pós-graduação, procurar se apropriar dos fatores que fazem falta no mercado de trabalho e assim preencher as lacunas se tornando um profissional necessário para as empresas. Além de todas as constatações, foi possível compreender um pouco mais sobre a área de estudo científico. REFERÊNCIAS AMARAL, C. M. S. ; BASTOS, F. C. . Perfil do Gestor de Instalações Esportivas do Município
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HOTELARIA E SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO SOBRE OS MÉTODOS DE REDUÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL ADOTADOS POR HOSTELS DE PORTO ALEGRE – RS¹ HOTEL AND SUSTAINABLE: A STUDY ON THE METHODS OF REDUCTION OF THE ENVIRONMENTAL IMPACT ADOPTED BY HOSTELS IN PORTO ALEGRE – RS Gustavo Pereira Rigobello2 Elenara Viera de Viera3
RESUMO: Atualmente é imprescindível desenvolver uma dinâmica empresarial que não tenha seus olhares alinhados à responsabilidade socioambiental, isto faz com que a gestão ambiental sofra um processo de mudanças que exige dos gestores nova postura com relação ao uso de recursos naturais. Práticas sustentáveis vêm sendo incorporadas à gestão das empresas de hospedagem ao longo dos anos, assim como novas obrigações legais e programas de incentivos continuam a ser desenvolvidos no intuito de promover melhorias para o segmento. Este trabalho teve como objetivo geral analisar quais práticas de sustentabilidade nos quesitos água, resíduos e energia estão sendo utilizadas em hospedagens caracterizadas como hostel. O método utilizado nesta pesquisa foi um Estudo de Caso, de natureza qualitativa e descritiva, através da aplicação de questionário com a participação de dois gestores de hostels localizados na cidade de Porto Alegre. Os principais resultados indicam que os empreendimentos possuem no seu gerenciamento o olhar ante a preocupação com o meio ambiente, através do cuidado para o melhor aproveitamento dos recursos naturais utilizados no dia a dia, mas é perceptível de que poderia haver mais investimentos em determinados setores para uma gestão ainda mais sustentável. Palavras-chave:. Hotelaria. Hostels. Sustentabilidade ABSTRACT: Currently, it is essential to develop a business company that does not have its eyes aligned with social and environmental responsibility, which causes environmental management to undergo a process of change that requires managers of new actions in relation to the use of natural resources. Sustainable practices have been incorporated into the management of hosting companies over the years, as well as new legal obligations and incentive programs continue to be activated in order to promote improvements for the segment. This work aimed to analyze which sustainability practices in water, waste and energy are being used in hostels characterized as a hostel. The method used in this research was a Case Study, qualitative and descriptive, through the application of a questionnaire with the participation of 02 managers of hostels located in the city of Porto Alegre. The main results that enterprises have in their management or environmental management, using care to get the best use of the natural resources used in everyday life, but it is clear that there could be more investments in the sectors for management. even more sustainable. Keywords: Hospitality. Hostels. Sustainable 1 Artigo resultante da monografia realizada, por Gustavo Pereira Rigobello, para obtenção do título de Bacharel em Turismo, junto ao Centro Universitário Metodista IPA, no segundo semestre de 2019. 2 Bacharel em Turismo pelo Centro Universitário Metodista IPA. E-mail: gustavorigobello@hotmail.com 3 Mestre em Turismo e Hotelaria e professora do Centro Universitário Metodista IPA. E-mail: elen.viera13@gmail.com
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INTRODUÇÃO ste trabalho aborda uma pesquisa dos métodos que podem ser utilizados em hospedagens ecologicamente corretas, tais como: coleta seletiva, reciclagem de resíduos, redução no consumo de energia e utilização de energias renováveis, redução e reaproveitamento no consumo de água. A pesquisa foi realizada por meio de questionário com os gestores de dois estabelecimentos hoteleiros categorizados como hostel4 localizados nos bairros Floresta e Cidade Baixa em Porto Alegre, RS. A preocupação com os recursos naturais vem alcançando proporções consideráveis, em vista da degradação e das catástrofes que atingem o meio ambiente e esgotam muitos recursos naturais, como a água e a energia. Além disso, há o descarte indevido de diferentes resíduos diretamente no meio ambiente, que só tem agravado a situação da natureza (VIERA, 2004; OLIVEIRA, 2011). Segundo Dias (2012) foi na década de 1980, quando as empresas buscavam o máximo lucro, sem se importar com as consequências de suas ações, que surgiram campanhas em defesa dos direitos humanos e do meio ambiente. As denúncias sociais contra empresas que não agiam de forma sustentável passaram a ser frequentes e a própria comunidade começou a cobrar que as organizações tivessem atitudes socialmente responsáveis. Assim, levanta-se o seguinte questionamento: É possível identificar práticas de sustentabilidade em meios de hospedagens de menor porte, denominados como hostels? O objetivo geral desta pesquisa foi analisar a existência das práticas de sustentabilidade nos quesitos água, resíduos sólidos e energia em hospedagens caracterizadas pela tipologia hostel. O trabalho também buscará respostas
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4 O Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) define albergues da juventude (hostels) como sendo um meio “extra- hoteleiro”, voltado a princípio para jovens, alojados em quartos coletivos. Palavra de origem inglesa, não corrente no português, adotada para caracterizar a atividade de hospedagem para jovens em alojamentos, femininos e masculinos.
para objetivos específicos, tais como: listar práticas sustentáveis existentes em cada um dos hostels pesquisados, identificar as possíveis vantagens econômicas advindas da utilização destas práticas e comparar estes quesitos entre os dois empreendimentos participantes. Atualmente os aspectos ambientais são de grande importância para a sociedade como um todo, pois demonstram preocupação com os recursos naturais para as gerações futuras. Além disso, a qualidade de vida do presente direciona os processos produtivos para que sigam um determinado modelo que proponha a questão da sustentabilidade. No ano de 2014, no Brasil, foi criada uma nova norma direcionada para os meios de hospedagem. Ela é a referência nacional para a implantação de sistemas de gestão da sustentabilidade, chamada ABNT NBR 15401. Ela traz os requisitos necessários para contribuir com a prática do turismo sustentável, permitindo que qualquer meio de hospedagem, de qualquer tamanho, porte ou localização geográfica seja capaz de planejar suas atividades, reduzir custos e desperdícios, avaliar seu desempenho e promover melhorias. Sabe-se que a tipologia hostel possui uma metodologia de atuação diferente que os hotéis convencionais de hospedagem, pois fornece opções de quartos, banheiros e cozinha compartilhadas. É por conta desta ideologia de compartilhar o mesmo espaço que faz com que muitas vezes este tipo de hospedagem esteja com um valor de diária significativamente inferior aos hotéis convencionais. Em sua maioria, surgem como microempreendimentos, mas nem sempre os proprietários possuem qualificação na área do turismo ou realizam as consultas necessárias à especialistas. A geração de impactos no meio ambiente está diretamente ligada ao acelerado processo de produção e ao desenfreado consumo de bens e produtos. No caso da hotelaria, no município de Porto Alegre, percebe-se um aumento do número de leitos, bem como o
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aumento da ocupação em todo o setor, o que acarreta um maior uso dos recursos naturais. De acordo com a Associação Gaúcha de Hostels5, criada em 2015, Porto Alegre conta com 11 (onze) estabelecimentos deste tipo. Logo, por se tratar de um empreendimento com menos recursos financeiros, faz-se necessária esta pesquisa para descobrir se esta tipologia de hospedagem está a par das suas obrigações com o meio ambiente e sustentabilidade. TURISMO E SUSTENTABILIDADE – DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO A questão sobre a preservação ambiental tem ganhado espaço em diferentes áreas davida das pessoas como um assunto fundamental para a preservação do nosso planeta e que possui abrangência a nível mundial, no ramo do turismo isto não é diferente. Seguindo esta tendência da exploração das crescentes preocupações sociais em relação ao meio ambiente, surge a relação entre o turismo e a sustentabilidade e de como as formas de gestão são importantes para este setor, pois se o equilíbrio natural e ecológico não for considerado nos empreendimentos do setor turístico a sobrevivência desta atividade poderá enfrentar riscos futuramente (DRUMM; MOORE, 2005). Segundo Gonçalves (2004, p.7) “Há crescente preocupação com o estabelecimento e a disseminação de sistemas de gestão associados a certificados de qualidade que tenham validade e autoridade internacionais.” O sistema de gestão associado a certificados de qualidade pode ser visto como um diferencial na concorrência mercadológica hoteleira, e a preocupação dos hóspedes com uma administração capacitada nos assuntos que tangem a preservação do meio ambiente passa a ser um novo item para o turista avaliar durante o processo de decisão (GONÇALVES, 2004). Ainda de acordo com o autor, o fator da sustentabilidade encontra-se intimamente 5 Disponível em: http://www.albergues.com.br/ associacao.html Acesso em 15 maio 2019.
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relacionado à sobrevivência e a ampliação do mercado das organizações, pois ela se encontra em um cenário cada vez mais competitivo e exigente. Logo, as empresas de prestação de serviços têm a questão ambiental como assunto constante na tentativa de se adequar às novas exigências do público, buscando consolidar uma imagem empresarial forte e positiva. Marques (2005, p.26), complementa e afirma que “até há pouco uma empresa que certificasse o seu sistema da qualidade garantia uma diferenciação positiva; hoje, uma qualquer organização que não se certifique assume, sim, uma diferenciação negativa”. Lopes (2004) afirma que para utilizar as estratégias ambientais competitivas a partir do uso de normas e certificações em empresas, as organizações poderão optar por um de três níveis de eco gerenciamento: 1) limitarse a conformidade legal; 2) adotar a postura proativa, antecipando-se e ultrapassando as regulamentações, ou 3) orientar-se para a sustentabilidade e responsabilidade social. O primeiro nível deveria ser obrigatório, mas muitas vezes é deixado de lado pela falta de fiscalização e punições. O segundo é limitado por pressupor uma legislação mais exigente e necessitar de pressões de consumidores. Por último, orientar-se para a sustentabilidade e responsabilidade social, que dependerá da disponibilidade de tecnologias apropriadas, consenso social e novo sistema de valores. Corroborando com os autores acima, Silva (2009) as empresas têm vindo a implementar os chamados Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ), que têm como finalidade a aplicação de métodos de garantia dos serviços prestados e processos com padrões de qualidade préestabelecidos, demonstrando o compromisso da organização para com a satisfação dos seus clientes, e desta forma reforçar a sua imagem e acompanhar a evolução do segmento. VANTAGENS DO TURISMO SUSTENTÁVEL NA ECONOMIA Os empreendimentos turísticos dentro do mercado competitivo participam da relação de livre concorrência entre si. As
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diferenças nos valores de diárias, localização, qualidade no atendimento, diferenciais de infraestrutura e atividades de lazer oferecidos no estabelecimento são fatores que irão trazer vantagens na luta por espaço mercadológico e consequentemente na obtenção de lucro para empresa. Segundo Castelli (2004) toda empresa ou empreendimento precisa lutar por sua sobrevivência, neste caso no mercado, de forma que a competitividade esteja fundamentada na produtividade, resultando na relação de um serviço de qualidade sob um custo controlado. Castelli (2004, p.3) ressalta que [...] as empresas prestadoras de serviço devem apostar fundamentalmente na qualidade do elemento humano, já que a excelência do serviço, condição da competitividade e sobrevivência da empresa depende de como esse elemento humano está integrado com os clientes.
Outro fator relacionado com o trabalho, tendo em vista a administração proposta pelo autor, seria quanto a redução de custos. Os meios de sustentabilidade trazem a economia em médio e longo prazo a empreendimentos hoteleiros, não só dos recursos naturais renováveis como no próprio gasto financeiro da empresa. Castelli (2004, p.4) afirma que “É preciso implementar uma verdadeira caça ao desperdício, envolvendo todas as pessoas engajadas na empresa”. Apesar de se referir a um conceito mais geral de economia esta frase se encaixa perfeitamente nos conceitos de sustentabilidade nas hospedagens turísticas. Conforme Roméro (2010), os edifícios, inclusive os do ramo da hotelaria, na busca do conforto ambiental e eficiência energética, devem utilizar todas possibilidades de utilização das tecnologias solares passivas, para então complementar com tecnologias ativas as necessidades dos hóspedes. De acordo com o autor, as tecnologias passivas não demandam nenhum tipo de energia para o seu funcionamento, e precisam ser planejadas logo no projeto do novo edifício, algumas delas são: a possibilidade da captação de luz natural sem elevar excessivamente a carga térmica, a direção e a velocidade dos ventos predominantes, os edifícios vizinhos e a forma como influenciam no
projeto, as condições climáticas locais entre outros. Após a utilização de todas tecnologias passivas possíveis no empreendimento, que deverá de forma consciente, ser efetivado o uso de tecnologias ativas, tais como: a escolha adequada de lâmpadas, colocação de sensores de presença em circulações e ambientes de permanência transitória, localização correta dos sensores de condicionamento ambiental, utilização de equipamentos de refrigeração de baixo consumo, implantação de automação dos apartamentos para o desligamento automático dos circuitos, etc. (ROMÉRO, 2010). Acredita-se desta forma que a utilização correta das tecnologias citadas pode reduzir consideravelmente o custo de energia de um meio de hospedagem. No que se diz respeito ao uso sustentável da água, Dias (2002) explica que a aplicação de um sistema de reuso da água do esgoto para a utilização em áreas menos nobres é uma alternativa viável para a hotelaria. Viera (2004) ressalta que há grande consumo de água no setor hoteleiro, porém, práticas e efetivas soluções podem ser aplicadas, tais como: a implantação de dispositivos economizadores para chuveiros, torneiras e vasos sanitários assim como o aproveitamento da água da chuva. As práticas de conscientização do cliente na hotelaria podem trazer vantagens, conforme Sales (2016) colocar avisos nos quartos para que os hóspedes reutilizem suas toalhas e roupas de cama, além de trazer benefícios para a empresa por diminuir os custos que envolvem a lavanderia, pode trazer vantagens para si próprio, pois a diminuição de custos do empreendimento hoteleiro pode influenciar em redução do custo de diária. Durante a estada de um hóspede em um hotel ocorre a geração de quantidades variáveis de resíduos sólidos: jornais, revistas, garrafas plásticas e de vidro, latas de alumínio, papel em geral, etc. Neste sentido, os resíduos sólidos não se enquadrariam em um único tipo, mas em termos genéricos distribuídos em inorgânicos ou recicláveis, orgânicos e tóxicos, a exemplo de pilhas e baterias (COSTA, 2004). Segundo a Política
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Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de uma forma geral, deve ser observada na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, na seguinte ordem de prioridades: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (PNRS, 2010). O que não for passível de ser reciclado e utilizado nos próprios meios de hospedagem, deverá ser destinado a um lugar apropriado. Dentre as alternativas, Costa (2004) aponta que estes resíduos podem ser: doados ou vendidos, se tiverem valor de uso; dispostos para a coleta pública os levar aos locais de tratamento; ou, se forem resíduos tóxicos, como pilhas e baterias, deverão receber atenção particular de acordo com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n° 452, de 02 de julho de 2012. Segundo Gonçalves (2004), há uma forte tendência de que a busca pela qualidade ambiental deixe de ser um problema e passe a ser um fator de competitividade empresarial, e, sobretudo, de responsabilidade social. A redução do consumo de energia e água, a reciclagem de resíduos e a otimização dos processos são algumas das medidas que podem tornar os empreendimentos mais eficientes do ponto de vista da gestão sustentável. Naime (2005, p.15) diz que as empresas devem buscar a utilização de produções mais limpas e “utilizar este conceito, de forma explícita, ou subliminar em seu marketing para auxiliar na viabilização do negócio”. Em complemento, Almeida (2007) ressalta que muitas empresas englobam-se na causa ambiental em busca de vantagem competitiva e posicionamento da marca, uma vez que a busca por medidas de menor impacto ambiental é cada vez mais presente em diversos países. De acordo com Seiffert (2010) o processo de controle ambiental passou a ocupar um espaço fundamental nas organizações, que em busca de competitividade investem cada vez mais na área ambiental. O autor aborda que, a partir da década de 1990, o tema
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preservação do meio ambiente começou a expandir-se rapidamente em toda a sociedade mundial, o que consequentemente acarretou no engajamento das empresas em busca do desenvolvimento sustentável. Silva (2013, p.14) afirma “que a diminuição do consumo de energia, água, etc., implica benefícios ao meio ambiente e à empresa, pois há redução de custos.” Outra área que merece atenção no ramo hoteleiro é o setor de Alimentos & Bebidas que, segundo Fonseca e Borges (2006), este setor é responsável pelo maior volume de lixo produzido dentro de um meio de hospedagem. A maior parte dos resíduos produzidos é de origem orgânica, mas também são descartados materiais recicláveis, como no caso das embalagens e recipientes descartáveis. O desperdício pode ser detectado em diversas fases da produção de um restaurante. Assim, sua prevenção pode ser feita também desde o início, caso alguns fatos sejam observados. Da escolha do fornecedor e tipo de produto a ser comprado para estoque ao tipo de serviço a ser usado para consumo do produto final pelo cliente, práticas de redução do volume de lixo são factíveis de serem implantadas (FONSECA e BORGES, 2006, p. 04).
Para Fonseca e Borges (2006), adotar um controle das quantidades de alimentos e as quantidades de produção é um processo que identifica o rendimento e aproveitamento dos alimentos. Os autores acrescentam que esse tipo de controle ajuda a identificar a eficiência dos colaboradores no aproveitamento dos ingredientes. Empresas de todos os tipos, que antigamente acreditavam que investir na questão ambiental significava aumentar os custos, hoje possuem uma visão diferenciada sobre o assunto. Com a implantação de práticas sustentáveis, descobriram que é possível reduzir custos e ter maior eficiência na empresa, economizando energia, água e todo o tipo de matéria-prima (NOBREGA, 2010). Segundo Donaire (2008), com a implantação de práticas de preservação do meio ambiente, a empresa apresentará outros benefícios além da redução dos custos. O autor cita como
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vantagens: economias proporcionadas pela reciclagem, venda e aproveitamento de resíduos e diminuição de efluentes; redução de multas e penalidades; aumento da demanda de produtos que contribuem para a diminuição da poluição; melhora da imagem institucional e melhoria das relações com os órgãos governamentais, comunidades e grupos ambientais. HOTEL E HOSTEL – PRINCIPAIS DIFERENÇAS Nas primeiras viagens os meios de hospedagem eram casas de pessoas que viviam nas antigas rotas de comércio e a hotelaria se desenvolveu a partir de então (GOELDNER, RITCHIE & MCINTOSH, 2002). O hotel pode ser considerando como uma empresa que oferece hospedagem e serviços de suporte para a atividade turística, sendo um fator importante para o Turismo. Para Beni (1998, p. 187) hotel é “[...] uma empresa de prestação de serviços que se diferencia completamente de outros estabelecimentos industriais ou comerciais”. A indústria hoteleira representa um dos elementos essenciais da infraestrutura turística, constituindo-se em suporte para a atividade. Castelli (2000) define uma empresa hoteleira como sendo uma organização que, mediante o pagamento de diárias, oferece alojamento à clientela indiscriminada. Ele apresenta, ainda, que empresa hoteleira é a pessoa jurídica que explora ou administra meio de hospedagem e que tem em seus objetivos sociais o exercício de atividade hoteleira. A empresa hoteleira constitui-se hoje como um setor essencial à infraestrutura da atividade turística, tornando-se um dos sustentáculos principais para a fixação e o desenvolvimento desse mercado. No Brasil, de acordo com a Embratur (2001), o hotel é o estabelecimento comercial de hospedagem que oferece aposentos mobiliados com banheiros privativos, para ocupação eminentemente temporária, oferecendo serviço completo de alimentação, além de outras atividades inerentes à operação hoteleira. Sancho (2001) apresenta que os serviços de hospedagem e alimentação no turismo
são questões básicas, visto que estas são necessidades de todo ser humano e, naturalmente, se aplicam ao turista especialmente quando se entende por turista aquele que passa pelo menos uma noite no destino visitado. Para Giaretta (2002), hotel é um estabelecimento para receber turistas com o perfil de hospedagem que zela por conforto e privacidade. A autora afirma ainda que a hotelaria é uma indústria de bens de serviço. Como qualquer indústria, possui suas características próprias de organização e sua finalidade principal é o fornecimento de hospedagem, alimentação, segurança, e vários outros serviços coligados à atividade de bem receber. O hostel surge como meio de hospedagem alternativo. Ferreira (1975) preconiza que os hostels são um tipo de edificação destinada ao alojamento de turistas jovens, de organização simples, porém dotada dos elementos básicos de conforto. Ferri; Ruschmann (2000) resumem que esse são acomodações de baixo custo, supervisionada, partilhada, geralmente para jovens de idades específicas, oferecendo apenas alojamento básico ou serviços recreacionais e de refeições. Viera; Cândido (2003) advogam que esses são estabelecimentos hoteleiros com serviço parciais de hospedagem e de alimentação, que asseguram o mínimo de conforto com higiene. Assim também analisa Garcia (2004), resumindo os hostels como um tipo de hospedagem simples e de baixo custo. Adicionalmente, Lohmann; Panosso Netto (2008) corroboram em uma versão conceitual mais ampla e atualizada, e colocam que esse meio de hospedagem proporciona acomodações coletivas ou privativas de baixo custo, em que geralmente os hóspedes possuem várias áreas em comum, tais como banheiros, cozinha e sala de estar. Ainda que voltado notadamente para o segmento de mochileiros e do público jovem, os hostels cada vez mais têm ampliado o seu públicoalvo e, apesar do baixo custo associado aos albergues, muitos oferecem serviços mais
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sofisticados, tais como piscinas ou discotecas, entre outros. Conforme os dados do observatório de turismo do Rio Grande do Sul sobre meios de hospedagem (2016), o estado conta com 21 hostels, presentes em nove municípios gaúchos. Juntos, oferecem 1.030 leitos, acrescentando 0,81% na capacidade total do Estado, considerando as demais tipologias de hospedagem. A região que mais concentra hostels é Porto Alegre, com 11 empreendimentos (52,38%), sendo mais da metade para o Estado. METODOLOGIA O presente trabalho apresenta características de uma pesquisa de natureza qualitativa e descritiva. A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 1997). Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Por se tratar de um tipo de pesquisa específica, quase sempre assume a forma de estudo de caso. De acordo com Marconi e Lakatos (2010) a pesquisa descritiva busca descrever aquelas informações já conhecidas. Conforme Gil (2008), as pesquisas descritivas possuem como objetivo a descrição das características de uma população, fenômeno ou de uma experiência, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. O método eleito foi o estudo de caso. Segundo Yin (2010) o estudo de caso representa uma investigação empírica e compreende um método abrangente, com a
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lógica do planejamento, da coleta e da análise de dados, ou seja, este estudo é uma pesquisa, feita a partir de dados qualitativos, coletados em decorrência de eventos reais, e tem como intuito explicar, explorar ou descrever fenômenos atuais inseridos em seu próprio contexto. Ainda para Yin (2010) o estudo de caso é: um dos empreendimentos mais desafiadores na pesquisa, usado, em muitas vezes, para contribuir com nosso conhecimento acerca dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos e relacionados e compreender fenômenos considerados complexos. A coleta de dados é a atividade central em um estudo e caso, e é determinada acordo com o assunto estudado. O pesquisador, possui uma grande variedade de fontes para levantar os dados, como a observação direta, entrevistas semi-estruturadas ou questionários. O questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito. A entrevista é a comunicação entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de um determinado assunto (MARCONI & LAKATOS, 1999). O questionário segundo os mesmos autores é um “instrumento de coleta de dados constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito” (MARCONI & LAKATOS, 1999, p.100). No presente estudo a técnica de coleta foi o questionário (APÊNDICE A), o mesmo utilizado no trabalho de Munhoz (2011). A amostragem é o processo de extração ou constituição de uma amostra, dentre as pesquisas de amostragem podemos citar como exemplo: pesquisas eleitorais e pesquisas de satisfação. Neste estudo a amostragem foi composta por dois gestores de empreendimentos hoteleiros caracterizados como hostel, localizados na cidade de Porto Alegre, durante o mês de agosto de 2019. RESULTADOS O objetivo geral deste trabalho foi analisar a existência das práticas de sustentabilidade nos quesitos água, resíduos sólidos e energia em
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hospedagens caracterizadas como hostel na cidade de Porto Alegre. Para isso, foi utilizado um questionário com questões estruturadas em relação as práticas sustentáveis que podem ser desenvolvidas em qualquer meio de hospedagem e aplicado de forma presencial juntamente com os gestores de cada hostel participante da pesquisa, sendo um localizado no bairro Floresta e o outro no bairro Cidade Baixa. Os resultados oriundos da pesquisa serão elencados conforme os objetivos específicos. Porém, antes de iniciar, será apresentado um rápido histórico de cada hostel, que a partir de agora, por questão de sigilo, conforme recomendação de Yin (2010), serão denominados hostel A e hostel B. O hostel A foi inaugurado em dezembro de 2011 em um casarão histórico do bairro Floresta, no conceito cheapandchic (barato e elegante, charmoso e bonito), buscando criar uma identidade própria na cidade, por meio de uma hospedagem de baixo custo, juntamente com o oferecimento de uma experiência inovadora. Como pontos favoráveis, destacase a sua localização que permite fácil acesso às linhas de transporte público que ligam o hostel com a rodoviária e o aeroporto da cidade. O hostel também valoriza a cultura e tradições da cidade em sua decoração no espaço destinado ao café da manhã, onde à noite fica também aberto ao público na categoria de bar-bistrô, com som e clipes dos principais artistas nacionais e internacionais. Conta com 48 leitos em 11 apartamentos, sendo a metade deles na categoria privativa, recomendada para casais ou famílias. O hostel B foi inaugurado no ano de 2012 em um casarão localizado no Bairro Cidade Baixa. Por se tratar de um bairro boêmio da cidade de Porto Alegre, sua localização é uma forte aliada, pois é possível encontrar bares, restaurantes, supermercados, farmácias entre outras comodidades em curtas distâncias. Fica a menos de 10 minutos do Parque Farroupilha, principal parque da cidade. Conta com uma piscina externa e 42 leitos, sendo a sua maioria nos apartamentos compartilhados, possuindo apenas 2 suítes com cama de casal no estabelecimento para uso privativo.
O primeiro objetivo específico era a listar as práticas sustentáveis existentes em cada um dos hostels pesquisados. No hostel A, as principais práticas sustentáveis encontradas no quesito de água foram: torneiras internas com redutor de consumo, água residual tratada antes do descarte e a informação do uso racional da água aos colaboradores. No que tange aos resíduos, o hostel A se mostrou de acordo com todos os itens questionados na pesquisa, ou seja, realiza corretamente a separação de cada tipo de material e faz o encaminhamento ao destino correto para que ocorra a reciclagem. Referente à energia, utilizam lâmpadas de baixo consumo, existe um plano de manutenção periódica nos equipamentos eletrônicos e os corredores contam com a presença de sensores de movimento. No hostel B, a única questão envolvendo o consumo de água em total conformidade foi a de que existe no empreendimento uma política voltada para o consumo consciente entre colaboradores e hóspedes. Outras medidas como torneira redutora e instalação de dosadores em pias e máquinas de lavar não são adotadas. Assim como o hostel A, o hostel B também está de acordo com todos os itens avaliados sobre resíduos, se mostrando consciente com o meio ambiente em relação a separação, descarte e reciclagem dos materiais gerados no local. Sobre a energia, o estabelecimento está em conformidade apenas em partes dos itens questionados: possuem sensores, lâmpadas de baixo consumo, desligamento automático das Unidades Habitacionais, porém não em todos apartamentos e ambientes. A listagem das práticas adotadas em ambos os hostels corroboram com os ensinamentos de Gonçalves (2004), afirmando que a qualidade ambiental pode estar presente, inclusive os de menor porte, que buscam por uma gestão sustentável em prol do meio ambiente. Mesmo que ainda não ocorra em sua totalidade, este objetivo trouxe mais resultados positivos do que negativos nestes quesitos.
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O segundo objetivo era identificar as possíveis vantagens econômicas advindas da utilização das práticas sustentáveis existentes. Como o pesquisador não teve acesso as últimas contas de consumo de água e luz, e por meio das práticas identificadas em conformidade no objetivo específico primeiro, entende-se que há algum tipo de vantagem econômica, porém acredita-se que o hostel A tenha mais vantagens em função da ausência de manutenção de uma piscina. Conforme as práticas que podem ser adotadas na hotelaria para o consumo consciente de água e assim reverter em
vantagem econômica ditas por Dias (2002) e Viera (2004), foi constatado melhor utilização no hostel A. No quesito energia, conforme os ensinamentos de Roméro (2010), há novamente uma superioridade nas instalações do hostel A em relação ao hostel B. Apenas no quesito envolvendo a geração de resíduos, que ambos os hostels estão em completa sintonia com as recomendações de separação, descarte e reciclagem ditas por Costa (2004). Para alcançar o terceiro objetivo, foi necessário comparar as respostas dos gestores por meio do questionário aplicado, os resultados são demonstrados no Quadro 1.
Quadro 1: Comparativo das práticas nos dois Hostels CATEGORIAS RESÍDUOS SÓLIDOS
Hostel A SIM
Hostel B EP
SIM
01 É efetuada a coleta seletiva de resíduos no hotel.
X
X
02 É efetuada a separação de produtos perigosos: tintas, óleos, etc.
X
X
03 É efetuada a separação de: papel, vidro, lata, alimentos, etc.
X
X
04 Há uma política p/ compra de produtos c/ embalagens recicláveis.
X
EP
X
05 O óleo de cozinha é separado para reciclagem.
X
X
06 Os produtos separados são entregues para reciclagem.
X
X
ÁGUA 07 Águas residuais são tratadas antes de serem descartadas.
X
08 As torneiras internas têm redutor de controle de uso da água.
X
09 Estão instalados dosadores em pias, máquinas de lavar, etc.
X
X
10 Existe uma política voltada à redução do consumo de água.
X
11 O pessoal tem formação sobre o uso racional da água.
X
12 São utilizados produtos de limpeza biodegradáveis.
X X X
X
ENERGIA 13 As lâmpadas são de baixo consumo (fluorescentes, balastro, etc.) 14 Existe desligamento automático de energia nas UHs.
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X
X X
X
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15 Existe plano de manutenção equipamentos elétricos.
periódica
de
X
16 Existe plano de poupança energética com ciência ao pessoal. 17 Existem sensores desligamento de energia nos corredores.
X X
X
18 O edifício tem isolamento térmico em paredes e cobertura.
X X
X
*EP = EM PARTE
Fonte: Elaboração dos autores (2019)
Na comparação demonstrada no Quadro 1, é possível verificar que nas práticas de gestão ambiental no quesito de resíduos sólidos ambos apresentam superioridade de respostas positivas, sendo a única diferença na prática de compras de produtos com embalagens recicláveis, o hostel A diz que realiza em parte e o hostel B afirma praticar em todos produtos. No que tange o quesito água, houve mais questões distintas na comparação, pois o hostel A tem a maioria das suas respostas positivas nos itens avaliados, já o hostel B possui as práticas aplicadas apenas em partes do empreendimento.
Por fim, na conduta que envolve o consumo de energia foi encontrado o menor número de respostas positivas. Dos 7 itens avaliados, o hostel A realiza 3 em conformidade e 3 em parte. Já o hostel B não possui nenhuma prática em conformidade, tendo a maioria das suas respostas em métodos aplicados em parte do estabelecimento. Como síntese, o gráfico 1 demonstra uma comparação geral entre os hostels envolvendo todas as práticas questionadas:
Fonte: Elaboração dos autores (2019)
CONCLUSÃO Este estudo buscou analisar as práticas sustentáveis que estão sendo aplicadas no ramo dos meios de hospedagens, com intuito de levantar possibilidades que podem ser implantadas no empreendimento hoteleiro de qualquer porte, através do investimento
em equipamentos que diminuam o consumo, assim como a conscientização de colaboradores e hóspedes. Na tentativa de explicar o cenário dos hostels pesquisados, os resultados foram mensurados e expostos por meio de questionário, analisados de acordo com
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ferramentas existentes na gestão ambiental. Cabe pontuar que todas as análises enquadram-se como sugestões e propostas para melhorias do empreendimento, apesar de não ser um fator obrigatório de implementação. Por fim, a identificação das práticas e suas vantagens fazem parte dos objetivos específicos primeiro e segundo, desta forma sendo possível a comparação entre os hostels e a realização do terceiro objetivo. Portanto, tem-se que o objetivo geral do estudo foi alcançado. Foi possível perceber que os empreendimentos hoteleiros, mesmo os de menor porte, possuem o tema sustentabilidade na sua pauta de seu gerenciamento. Em relação às dificuldades da pesquisa, primeiramente é o próprio objeto de estudo, por se tratar de um assunto de análise em que as práticas sustentáveis são variáveis e fatores econômicos podem influenciar na implementação. Quanto aos contatos com as empresas, ocorreram atrasos em alguns retornos solicitados via e-mail no prazo desejado. Em complemento, ocorreram episódios em que o gestor não se encontrava no local no horário previsto, ocasionando a necessidade de um novo encontro. Relativamente às limitações do estudo, o questionário não foi aplicado de forma que fosse vistoriado por uma visita técnica após a coleta de dados para a comprovação das respostas, logo os resultados são baseados nas informações colhidas de fé dos gestores. Entende-se que a pesquisa tenha contribuído à Academia, em especial ao entendimento de questões pertinentes à área do Turismo sobre a aplicação de ferramentas de gestão voltadas para a sustentabilidade e preservação do meio ambiente, de maneira que sejam também opções para o desenvolvimento empresarial. Para que tenha complementariedade, sugere-se sua continuação, por exemplo, através de pesquisas que tenham acesso à um número maior de hostels para aumentar a coleta de dados, assim como maneiras
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de propor sugestões de implementação e aperfeiçoamento com maior embasamento de informações. Por se tratar do mesmo segmento de mercado, também é relevante indicar estudo similar com aplicação em meios de hospedagens de diferentes caracterizações. REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ISO 14001:2004 - Sistema da gestão ambiental - requisitos e orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 15401 –Sistemas de gestão ambiental na operação dos empreendimentos hoteleiros. Caxias do Sul: Revista rosa dos ventos, 2014. BRASIL PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos. Lei nº 12.305/2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dá outras providências. Brasília, 2010. CASTELLI, G. Administração Hoteleira. 7 ed. Caxias do sul: Educs, 2000. CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA - IPA. Manual de elaboração de trabalhos acadêmicos: referenciados pelas normas gerais conforme a ABNT. Porto Alegre. Centro Universitário Metodista - IPA, 2016. CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. (2012). Resolução nº 452, 02 Julho, 2012: Diário Oficial da União. COSTA, S. S. Lixo Mínimo: uma proposta ecológica para hotelaria. Rio de Janeiro: Senac, 2004. DIAS, M. Aplicação de Tecnologias Limpas na Indústria Hoteleira para um Turismo Sustentável. São Paulo: Gaia, 2002. DIAS, R. Responsabilidade social: fundamentos e gestão. São Paulo: Atas, 2012. DONAIRE, D. Gestão ambiental na empresa. 2.
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SURFE COMO POTENCIAL PRODUTO TURÍSTICO EM SURF CITIES: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE GAROPABA – SC¹ SURF AS POTENTIAL TOURIST PRODUCT IN SURF CITIES: THE CASE OF THE CITY OF GAROPABA - SC Julian Guariglia Caporal2 Elenara Viera de Viera3
RESUMO: A expansão do surfe está abrindo novas alternativas de turismo. Este trabalho teve como objetivo geral, analisar o surfe como potencial produto turístico no município de Garopaba, Santa Catarina. O método utilizado nesta pesquisa foi de natureza qualitativa, com aplicação de questionário para 26 surfistas de Garopaba. Os resultados encontrados indicam que o fator motivacional para escolha do destino é dado pela natureza, que é a constância do swell4. O interesse na ampliação das estruturas do entorno desta prática esportiva e a concorrência de ofertas nas opções de hospedagem, alimentação, comércio de equipamentos e vestuário, mesmo que os índices de aprovação das estruturas existentes tenham alcançado percentual de satisfação, despertarão ainda mais a criação de eventos e competições atraindo público interessado nesta prática esportiva e este aumento da frequência, toda região se desenvolve, cresce economicamente beneficiando a cadeia produtiva que o turismo do surfe possibilita com toda sua singularidade e firma o município de Garopaba como o destino preferido pelo Turismo do Surfe. Palavras-chave: Turismo. Surfe. Produto turístico. ABSTRACT: The expansion of surfing is opening up new tourism alternatives. This work aimed to analyze surfing as a potential tourism product in the municipality of Garopaba, Santa Catarina. The method used in this research was qualitative and quantitative, with questionnaire applied to 26 surfers from Garopaba. The results indicate that the motivational factor for choosing the destination is given by nature, which is the constancy of swell5. The interest in expanding the structures surrounding this sport and the competition of offers in accommodation, food, equipment and clothing options, even if the approval rates of the existing structures have reached a percentage of satisfaction, will further arouse the creation of events and competitions attracting public interested in this sport and this increase in frequency, the entire region develops, grows economically benefiting the production chain that surfing tourism enables with all its uniqueness and establishes the municipality of Garopaba as the favorite destination for tourism surfing. Keywords: Tourism. Surf. Tourist product. 1 Artigo resultante da monografia realizada, por Julian Guariglia Caporal, para obtenção do título de Bacharel em Turismo, junto ao Centro Universitário Metodista IPA, no segundo semestre de 2019. 2 Bacharel em Turismo pelo Centro Universitário Metodista IPA. E-mail: juliancaporal7@gmail.com 3 Mestre em Turismo e Hotelaria e professora do Centro Universitário Metodista IPA. E-mail: elen.viera13@gmail.com 4 Swell é uma ondulação no mar contínua e sem ruídos, ideal para a prática do Surf. 5 Swell is a continuous, noiseless ripple in the sea, ideal for surfing.
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INTRODUÇÃO ste estudo faz uma análise do surfe como potencial produto em um destino turístico de praia. Destino turístico é um conjunto de “locais, objetos, equipamentos, pessoas, fenômenos, eventos ou manifestações capazes de motivar o deslocamento de pessoas para conhecê-los. Os atrativos turísticos podem ser naturais; culturais; atividades econômicas; eventos programados”. (BRASIL, 2007). Este trabalho usou como delimitadores a pesquisa de natureza qualitativa utilizando a técnica de questionário para responder aos objetivos propostos, coletados com uma amostra de 26 surfistas, nos meses de julho a setembro de 2019, tendo por objeto analisar o surfe como produto turístico no município de Garopaba, Santa Catarina. A problematização surgiu a partir do reconhecimento do surfe como um esporte em crescimento no Brasil e sua repercussão como produto turístico. Segundo o Ministério do Turismo (BRASIL, 2015), o esporte ganhou destaque com a vitória do primeiro brasileiro em campeonato mundial no ano de 2014, com Gabriel Medina. No ano seguinte, em 2015, o reconhecimento se manteve com a conquista do segundo brasileiro campeão mundial, Adriano de Souza. O título inédito projetou a imagem brasileira no exterior e reforçou o Brasil como um dos países mais procurados para a prática dessa modalidade esportiva. O ex-ministro do Turismo, Vinicius Lages relatou que este tipo de evento, a céu aberto, vem trazendo um número cada vez maior de turistas e, com isso, acaba movimentando a economia local. O que se justifica, pois existem mais de duas mil praias em oito mil quilômetros de extensão de costa (BRASIL, 2015). Fazendo parte deste universo, com grande procura pelos surfistas, há o município de Garopaba, no estado de Santa Catarina, que tem como principal atividade econômica o turismo. Sua população é de 21.573 habitantes e a cidade recebe aproximadamente 140 mil turistas na alta temporada (dezembro a fevereiro). Fora deste período, a economia
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se movimenta através da construção civil, pesca artesanal (principalmente da tainha e da anchova), serviços públicos, agricultura, além da indústria de confecções, tendo como a mais importante a Mormaii (artigos para prática do surfe), uma indústria com alcance internacional que gera muitos empregos para o município, além do movimento de surfistas o ano todo. (GAROPABA, 2015). De acordo com o portal “turismo” da Prefeitura Municipal de Garopaba, o município conta com 61 opções de hospedagem e 45 opções na área de gastronomia (GAROPABA, 2017). Diante deste cenário, questiona-se: Como os surfistas percebem o surfe enquanto produto turístico no município de Garopaba? Quais os pontos fortes e fracos em termos de infraestrutura para a prática do esporte no município de Garopaba? Assim, objetivo geral é analisar o surfe como potencial produto turístico para o turismo no município de Garopaba – SC, sob a ótica dos turistas praticantes e tem como objetivos específicos: averiguar os motivos que levam a escolha deste destino para a prática do surfe e evidenciar pontos fortes e fracos da infraestrutura do município e seu entorno, mais precisamente hospedagem, alimentação e lojas específicas para a prática do esporte (vestimenta e pranchas). A justificativa para a pesquisa se baseia no crescente interesse pela prática esportiva do surfe, já sendo considerada uma das modalidades mais populares no mundo dos esportes radicais, atraindo cada vez mais adeptos, garantindo o fomento da economia local, pois engloba dois principais vetores: o lazer e o turismo. Além disso, abrange outros setores como venda de roupas associadas ao surfe, pranchas, acessórios de surfe, viagens e toda a cadeia de alimentação saudável. (LAZAROW, 2007). A importância deste segmento de turismo de surfe na atividade turística econômica local tem efeitos diretos e indiretos. Engloba, ampliando raio de ação, a geração de emprego e renda, em função das diversas frentes de trabalho e iniciativas geradas em torno deste mercado,
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como: escolas de surfe, hospedagens, turismo local, marketing, publicidade, vendas de roupas, pranchas, acessórias e a rede de hotelaria e hospedagem valorizando o Produto Interno Bruto – PIB (REBELO; CARVALHINHO, 2012). O Ministério do Turismo (MTur) destacou que no decorrer dos anos são realizadas, no Brasil, cerca de 20 grandes eventos de competições amadoras e profissionais de surfe, que reúnem turistas do país inteiro e de outros diversos países em busca de esporte, lazer, cultura e entretenimento, e o município de Garopaba sedia alguns desses eventos (BRASIL, 2015), fator este colaborativo para fomento da economia. Portanto, justifica-se a pesquisa na busca de evidenciar infraestrutura e condições adequadas que fomentem ainda mais este segmento do Turismo que está em franco crescimento, agora impulsionado pelo ingresso da modalidade nas Olimpíadas de Tóquio, em 2020, conforme aprovação do Comitê Olímpico Internacional – COI. MTur (BRASIL, 2016). Este incremento da modalidade e aumento de adeptos nos remete à análise dos critérios que levam os praticantes a buscar esta ou aquela localidade para além da geografia e riqueza natural, mas por toda a infraestrutura de serviços que é montada para melhor satisfazer as necessidades dos turistas (CHRISTIAN, 2010). Garopaba é um município brasileiro do litoral sul do estado de Santa Catarina. Limitase ao sul, com Imbituba, ao norte e a oeste com Paulo Lopes, e a leste com o Oceano Atlântico. Este município tem como maior riqueza a água e, sua exploração com a pesca como maior fonte de renda do município, mas também com atividades agrícolas, comerciais e industriais em franco desenvolvimento (GAROPABA, 2017). O município tem na sua rede de hospitalidade, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2011), 200 unidades habitacionais em hotéis e 536 UHs em pousadas, estrutura que continua crescendo e se modernizando. Ainda conta, conforme dados da Prefeitura Municipal, com 45 restaurantes (GAROPABA, 2015). O turismo é uma atividade econômica de grande destaque para um país com tanta variedade regional e biodiversidade como o
Brasil, tendo um forte poder de transformação sobre o meio em que ele age, trazendo modificações nas estruturas físicas do meio para comportar um fluxo turístico existente e/ou um novo segmento em potencial (CHRISTIAN, 2010). Nesse direcionamento, e por se tratar de um tema atual, esta pesquisa pretende contribuir para a atividade turística com o conhecimento deste novo segmento/tendência e o perfil de seus praticantes, bem como propiciar ao município da Garopaba dados que permitam um melhor planejamento e gestão do município, fomentando o desenvolvimento deste esporte enquanto produto turístico. TURISMO O turismo está muito além de um fenômeno social, cultural ou ambiental. Tem status de atividade econômica geradora de grandes investimentos na infraestrutura, no mercado comercial, na geração de emprego e renda, além de outros tantos campos que esta vertente vem abarcando, agregando valor aos municípios costeiros, melhorando a qualidade de vida da região e seu entorno (ABREU; COSTA, 2014). O estudo, a pesquisa e o planejamento são fundamentais para acompanhamento da evolução da sociedade e atendimento aos desejos e necessidades de todas as ordens, mas focando no lazer e no Turismo em questão, é necessária muita atualização para acompanhar a mudança de sentido e interesse que caracteriza lazer na sociedade moderna. Esta necessidade de evolução produz nova atividade produtiva, diferenciada, com ocupações especializadas que produzem um novo espaço e/ou novas formas de uso deste espaço. Nesse sentido, cidades inteiras se transformam com objetivo de atrair turistas (ALESSANDRI, 2013). O Ministério do Turismo (BRASIL, 2010) vê essas tendências de consumo como oportunidade de valorizar a diversidade e as particularidades do país e, consequentemente do Turismo. Para tanto, se torna fundamental conhecer o comportamento dos turistas,
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planejar as estratégias e ações com o objetivo de promover para uma posição cada vez mais estável, junto aos nichos de mercado que se deseja conquistar e manter, pois o mercado de turismo no Brasil se mostra cada vez mais competitivo, em função da diversificação, das motivações de viagem e do constante aumento da oferta dos produtos turísticos. Esta oferta turística é importante no processo de elaboração das estratégias de fomento ao turismo em uma localidade, agregando outros elementos que requerem análise durante o planejamento, estruturação e comercialização dos destinos e roteiros turísticos brasileiros que acrescentem subsídios significativos, como: clarificar o perfil dos turistas, definindo o público que compartilha das mesmas características, necessidades e expectativas; agregar diferentes modalidades de turismo para com esta diversidade; ampliar as alternativas e ofertas turísticas com identidade e característica que atendam às expectativas do público (BRASIL, 2010). Assim, existem diferentes formas em que o turismo encontra de preencher os espaços existentes no mercado, melhorando sua oferta. Conforme a classificação criada pelo MTur, os segmentos do turismo são: Turismo Social, Ecoturismo, Turismo Cultural, Turismo de Estudos e Intercâmbio, Turismo de Esportes, Turismo de Pesca, Turismo Náutico, Turismo de Aventura, Turismo de Sol e Praia, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo Rural e Turismo de Saúde. As atividades denominadas esportivas, sejam de aventura ou não, quando entendidas como competições, são definidas como modalidades esportivas e tratadas no âmbito denominado Turismo de Esportes. (BRASIL, 2010). TURISMO DE SURFE Este esporte também tem características do segmento do Turismo de Esportes, porque antes de tudo é um esporte e faz com que as pessoas se desloquem de suas residências habituais. Dentre as motivações e, consequente evolução do turismo mundial,
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há um interesse crescente das pessoas pelo desporto do surfe, com as mais diversas características, seja como praticantes ou como espectadores (ALCÂNTARA; MATIAS, ARAÚJO, 2012). Este público procura o contato com ambientes que possam desempenhar a modalidade desportiva, junto a natureza, de maneira sustentável, mas buscando agregar bom atendimento, infraestrutura adequada à prática do esporte com uma “relação sadia entre homem e meio ambiente, possibilitando uma vivência conjunta e integrada” (SPEROTTO, 2011, p. 3). Por ser também considerado um esporte radical e um dos mais praticados dentro dessa classificação de esporte, existem características que se encaixam ao segmento do Turismo de Aventura. De acordo com o MTur (BRASIL, 2010) esse segmento compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo, e não competitivo. No surfe, mesmo com esta definição e características competitivas, em alguns casos, também entra neste segmento, pois não deixa de ser uma atividade de aventura. Da mesma forma, o surfe reúne características do Turismo de Eventos e inúmeros eventos são criados tendo o surfe como prioridade. Martin (2007, p.35) afirma que: “Evento é qualquer acontecimento que foge à rotina, sempre programado para reunir um grupo de pessoas”. O surfe se encaixa facilmente nesta definição devido a sua capacidade de promover e produzir eventos que juntam indivíduos tendo o esporte como ligação e fonte de interesse. Dentro dos tipos de eventos que o surfe promove, temos: competição, concurso, congresso, seminário e torneio. (ALCÂNTARA; MATIAS; ARAÚJO, 2012) Também é necessário frisar que o Turismo de Surfe, que tem como matéria prima o oceano, funciona como impulso na valorização de regiões costeiras, alavancando estes destinos turísticos em diversas partes do mundo na busca da onda perfeita (SAURINE, 2009). Portanto, esta busca associa facilmente este esporte ao ato de viajar. Existem alguns destinos no mundo considerados como destinos ideais para a prática desta modalidade, como é o caso de Bali, as Ilhas Mentawi, Fiji, Maldivas, Tahiti
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e a África do Sul, por investirem nas estruturas que atendem as expectativas dos praticantes, valorizando a beleza natural da região costeira. (REBELO; CARVALHINHO, 2012). O ponto de partida para escolha do local para a prática do esporte, precisa ser uma região costeira. Acrescenta-se também a busca pela riqueza natural, pois este contato direto que a prática do esporte impõe desenvolve nos praticantes um maior respeito e busca pela preservação da natureza, de procura por uma vida mais sustentável, equilibrada, cuidando para que as características naturais e locais sejam mantidas, além de valorizarem a identidade da população local, inclusive durante a realização eventos mantendo os cuidados necessários para não sobrecarregar a estrutura e potencial de cada localidade (SEGABINAZZI, 2011). Este estilo de vida é um dos pontos que caracteriza o surfista. A prática frequente do esporte requer que o indivíduo tenha uma vida regrada, saudável, com boa alimentação e tranquilo local para descanso. Este perfil exige atendimento às suas necessidades para definição do seu destino conforme fatores externos (macroambiente): fatores socioeconômicos, políticos e culturais; fatores pessoais (internos): idade, profissão, estilo de vida e personalidade; fatores psicossociológicos (internos e externos): gostos, preferências e atos do consumo turístico influenciado por grupos de referência· ou família; e psicológicos (dimensões psicológicas): necessidades, motivações, percepções e atitudes perante certos destinos (HOYER; MACINNIS, 2011). SURFE E SUA ORIGEM A origem do surfe, para muitos historiadores, está na Polinésia Ocidental, com a utilização de uma tábua de madeira, há mais de três mil anos. Os primeiros surfistas foram pescadores que descobriram que deslizar sobre as ondas era um método eficiente para chegar à costa com suas capturas. Gradativamente deixou de ser apenas parte do trabalho de sobrevivência para ser um passatempo (RYAN, 2007). Esta mudança revolucionou o que hoje se tem como esporte, o surfe, mesmo que não se tenha registro exato
de quando se tornou um esporte. Sabe-se que durante o século XV, reis, rainhas e pessoas das Ilhas Sandwich se destacaram no esporte chamado na época “he’enalu”, significado de “onda de deslizamento”, no velho idioma havaiano. “He’e” significa mudar de uma forma sólida para uma forma líquida e “nalu” que se refere ao movimento de uma onda. (ROSTAND, 2017). No Brasil, a história registra que um garoto nascido na cidade de Nova York-EUA se mudou com a família para Santos, em São Paulo, em 1930. Seu nome era Thomas Ernest Rittscher Jr. Ele surfou com sua “tábua havaiana”, na Praia do Gonzaga, quando tinha 16 anos de idade com uma prancha fabricada por ele com base em um esquema retirado de uma revista americana. A população de Santos se deslumbrou ao avistar as manobras de Rittscher nas praias do litoral sul, acreditando que o pioneiro do surfe conseguia andar sobre as ondas. Rittscher é considerado o primeiro homem a surfar uma onda no Brasil e sua irmã Margott, é considerada a primeira mulher a surfar no país (ROSTAND, 2017). A partir destes registros históricos e do crescimento deste esporte pelo mundo todo, percebe-se a necessidade de atualização e conhecimento deste cliente em potencial. Esta aproximação entre produto e cliente incluiu no mercado e nas estratégias de comunicação a necessidade de planos de marketing. Assim, o próximo tópico aborda o mix de marketing. O marketing não é usado apenas para propaganda e vendas, pois assim que acontece a venda do produto ou serviço, as estratégias de marketing devem se voltar para a análise do produto, necessidades e desejos do seu público-alvo, visando a construção de um produto ou serviço que supram essas necessidades e desejos. Desse modo, é necessário planejar o mix: Produto, Preço, Promoção e Praça, que irá contribuir com o sucesso do marketing (KOTLER, 1998; TRIERWEILLER, 2011). O esporte surfe movimenta no Brasil cerca de 7 bilhões de reais ao ano e emprega cerca de
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140 mil pessoas, configurando sua importância na economia, no desenvolvimento e na livre concorrência (NETO, 2016). Nessa direção, o aprimoramento deste mix de marketing tem evidenciado que o surfe e todo manancial de oportunidades que se criam no entorno são uma aposta promissora e que vêm cooptando grandes investimentos com retorno rápido e garantido (LORDELLO, 2017). Por exemplo, a Ravage Confecções, que representa a marca Quiksilver com produtos de moda surfe, fatura US$ 15 milhões por ano e busca fechar 2017 com 50% de aumento no seu faturamento. Segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising), o faturamento das franquias foi de aproximadamente R$ 139 bilhões em 2015. Registra-se que o faturamento da Quiksilver é praticamente metade da Nike, marca multiesporte, ficando notório o poder econômico que este ramo do Turismo está se tornando e se firmando na sociedade brasileira (LORDELLO, 2017). Acrescente-se outras importantes marcas deste segmento, como a O’Neill, que já fatura próximo de 1 bilhão de reais ao ano e a Mormaii com suas novidades lançadas constantemente, entre elas estão bicicletas, óculos de sol, acessórios, relógios, pranchas, kitesurf6, tênis, chinelos, linha camping, moda fashion, jeans, calçados femininos e até o veículo Mormaii/Suzuki SX4. Desta maneira, a Mormaii aquece o mercado brasileiro e lança linhas exclusivas para este público, incluindo capacetes e roupas especiais para os pilotos de motocross, já ampliando seu raio de ação e penetração na economia e no desenvolvimento da comunidade que está inserida (MORMAII, 2017). Portanto, a busca pela satisfação dos praticantes de surfe, a pesquisa de seus anseios e necessidades com vistas a aprimorar as estruturas de acolhimento e de infraestrutura local são essenciais para continuidade e ampliação dos interesses de investimentos internos e externos para desenvolvimento 6 O kitesurf é um esporte aquático que se utiliza uma pipa com uma barra de controle e uma prancha junto aos pés para deslizar sobre as águas com o impulso do vento.
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socioeconômico e, consequente incremento do Turismo (GOUVEIA, 2013). METODOLOGIA O procedimento metodológico aplicado foi conduzido por meio de uma pesquisa de cunho qualitativo, de caráter exploratório descritivo, por meio de um Estudo de Caso. A pesquisa qualitativa tem como objetivo identificar a presença e medir a frequência e intensidade de comportamentos, atitudes e motivações de um determinado públicoalvo. Segundo Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem interpretativa do mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. Seguindo essa linha de raciocínio, Vieira e Zouain (2005) afirmam que a pesquisa qualitativa atribui importância fundamental aos depoimentos dos atores sociais envolvidos, aos discursos e aos significados transmitidos por eles. Nesse sentido, esse tipo de pesquisa preza pela descrição detalhada dos fenômenos e dos elementos que o envolvem. O Estudo de Caso busca analisar um tema observado na realidade, explicando como e porque ele ocorre, além de identificar os fatores que contribuem para que o tema em questão se materialize, tendo como utilidade explicar um fenômeno descrito na teoria ou quando se quer compreender as causas de algo. (GIL, 2007) A amostra de participantes foi feita de maneira intencional. O instrumento de coleta de dados usado foi o questionário, criado no drive.google.com e enviado via e-mail, obtendo resposta de 26 surfistas. O uso de questionários é comum como meio de coleta de dados e este formato remoto possibilita uma maior participação, respeitando tempos e espaços dos entrevistados. Os questionários foram processados e transformados em gráficos possibilitando a análise de cada resposta, culminando na interpretação das preferências e opiniões dos surfistas participantes que responderiam os objetivos propostos para este projeto.
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RESULTADOS O objetivo deste trabalho foi analisar o surfe como potencial produto turístico no município de Garopaba – SC, região costeira como requer a prática esportiva, sob a ótica dos turistas praticantes, confirma preceitos do Ministério do Turismo (BRASIL, 2010) de valorização da diversidade e particularidades do país para o desenvolvimento do Turismo. A amostra analisada evidenciou que a procura pelo município tem como critério fundamental a riqueza natural como forma de vida sustentável, equilibrada, preservando a natureza, pois deste cuidado e respeito depende a manutenção da identidade do local e da população que Segabinazzi, (2011), pontua como fator importante para não sobrecarregar a estrutura e potencial da localidade. Para o levantamento destes resultados foram aplicados 26 questionários, enviados via google.doc, a praticantes da modalidade esportiva do surfe, atividade que vêm obtendo crescente interesse, já sendo considerada uma das modalidades mais populares no mundo dos esportes radicais, atraindo cada vez mais adeptos, garantindo o fomento da economia local, reunindo o lazer, turismo, criando uma cadeia produtiva como Lazarow, (2007). As respostas evidenciaram o grande interesse na localidade em função da
riqueza natural percebida nas ondas, sem desconsiderar as condições oferecidas para hospedagem que, em média, são ocupadas durante os finais de semana a preços justos, comprovando a ideia de Sperotto, (2011), quando diz que este público procura o contato com ambientes que possam desempenhar a modalidade desportiva, junto à natureza, de maneira sustentável, mas buscando agregar bom atendimento, infraestrutura adequada à prática do esporte com uma “relação sadia entre homem e meio ambiente, possibilitando uma vivência conjunta e integrada”. Também apareceu na análise dos questionários que o público entrevistado se inclui, na sua maioria, a fase de vida de jovens adultos, do sexo masculino e com curso superior completo. Conhecer o comportamento dos turistas para desenvolvimento de estratégias e ações junto aos nichos de mercado, também foi verificado como atendido pelo município com a oferta de grandes lojas que atendem os interesses do público frequentador quando interessados na compra ou conserto dos equipamentos e vestuários. A partir disto, será explicitado gráficos e suas análises individuais.
Gráfico 1: Profissão
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
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Ao analisar o gráfico 1, relativo a profissão se percebe uma incidência maior de Empresários, seguido de Administrador,
Arquiteto e Urbanista, Professor, ficando outras profissões em menor incidência.
Gráfico 2: Faixa Etária
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Ao analisar o Gráfico 2 se nota que a faixa etária mais presente na pesquisa é do público entre 31 a 35 anos com 38%. Logo aparecem, 23% pesquisados na faixa etária de 25 a 30
anos, 19% entre 36 e 40 anos, 15% entre 18 e 24 anos e 4% entre 41 e 45 anos. Dados que evidenciam um público jovem adulto.
Gráfico 3: Gênero
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
O gráfico 3 exprime a grande maioria dos entrevistados do sexo masculino, retratando ainda a incidência majoritária de praticantes,
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mas que vem sendo, aos poucos, também um espaço ocupado pelas mulheres.
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Gráfico 4: Local de Residência
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
O gráfico 4 aponta como a cidade origem que mais prestigia Garopaba são os portoalegrenses que enfrentam entorno de 400km
de estradas em busca do swell* dissipando os demais entre interior de SC, Itapema, Florianópolis.
Gráfico 5: Nível de Escolaridade
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Relativo ao grau de instrução do gráfico 5, responderam 58% possuem Curso Superior Completo, 23% com Ensino Médio, 15% com Pós-graduação, 3% com Graduação Incompleta. No gráfico 6 se percebe 38% dos entrevistados permanecendo três dias, sendo aproveitado o fim de semana para busca do lazer. Temos 23% permanecendo dois dias, 12%
uma semana, 15% permanecendo todo mês e os demais diluídos entre 1 dia, 2 dias ou duas semanas.
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Gráfico 6: Tempo de Estadia
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Gráfico 7: Motivo da Viagem
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
No gráfico 7, fica claro que o público entrevistado é praticante do esporte com índice de 92% tendo como fator motivador da viagem, a prática do surfe. O restante da amostra pesquisada variou entre trabalho e outro tipo de esporte (jiu jitsu)7. Foi analisado no gráfico 8, o meio de transporte utilizado para deslocamento e 95% usam veículo automotor próprio. 7 A tradução imediata do termo jiu jitsu, que seria “caminho suave”. Isso se deve aos seus princípios básicos, uma vez que essa prática privilegia o equilíbrio e o sistema de alavancas do corpo humano com o uso da força.
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O gráfico 9 mostra que a hospedagem tem grande variação, sendo 28% hospedados em casa de amigos, 20% em casa alugada, 16% em hotel/pousadas, 16% casa própria, 8% casa de familiares, os demais alternam entre as outras opções.
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Gráfico 8: Meio de Transporte utilizado para Deslocamento
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Gráfico 9: Tipo de Hospedagem
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
O primeiro objetivo era averiguar os motivos que levam a escolha do destino município de Garopaba para a prática do surfe e ficou evidente no gráfico 10 que a busca pelo swell é o fator determinante para escolha do destino. Salienta-se que 79% dos pesquisados consideram a constância do swell o indicador desta escolha em qualquer época do ano.
O gráfico 11 mostra que a questão hospedagem enfrentou divisão de pareceres relativos ao preço justo, onde 12 entrevistados consideram justo o pagamento, os demais discordam da afirmação.
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Gráfico 10: Afirmativa de Swell constante em Garopaba
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Gráfico 11: Afirmativa que Hospedagem tem preço justo
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Gráfico 12: Afirmativa que Restaurantes/Bares suprem necessidade de Alimentação
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
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Já na questão do atendimento às suas necessidades, interesses e gostos alimentares, na grande maioria, quase 70%, consideram bem atendidos suas preferências, com mais de 88% considerando bom o custo benefício na área de alimentação, como percebemos no gráfico 12.
O gráfico 13 expõe ponto de vista dos entrevistados sobre o custo/benefício dos restaurantes existentes em Garopaba e fica evidente que a grande maioria considera justo o pagamento e o nível de alimentação que buscam.
Gráfico 13: Afirmativa que Restaurantes tem bom custo/benefício
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Gráfico 14: Afirmativa que comércio supre as necessidades
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
No gráfico 14 pesquisamos o nível de satisfação relativo às necessidades de compra de equipamentos e vestuário para a prática do esporte e somente 7,7% discordaram da
existência de lojas e fábricas que atendam este público.
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Gráfico 15: Afirmativa que Cidade é hospitaleira e Respeita o Surfista
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Gráfico 16: Afirmativa que há empresas de manutenção/conserto dos equipamentos
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
No gráfico 15 foram respondidas por 23 dos 26 entrevistados que a cidade de Garopaba é hospitaleira e respeita o turista. O gráfico 16 se aborda a questão da manutenção/conserto de equipamentos, onde 84% dos entrevistados concordam que existam boas empresas que suprem as necessidades durante passagem pela cidade. No gráfico 17, são 18 pessoas que consideram o município de Garopaba uma ótima opção para prática do surfe com qualidade, tendo 3 pessoas que discordaram.
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O último gráfico, de número 18, demonstra que um pouco mais da metade do público consultado considera este município com investimentos na promoção e divulgação das suas condições estruturais para o recebimento desta clientela.
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Gráfico 17: Afirmativa que Garopaba é a primeira cidade escolhida para a prática do surfe, no Brasil
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
Gráfico 18: Afirmativa que são evidenciadas as condições de infraestrutura para a prática do surfe
Fonte: Elaboração do pesquisador (2019)
CONCLUSÃO Analisar o surfe como potencial produto turístico no município de Garopaba, Santa Catarina, demonstrou que o interesse e frequência deste público praticante da modalidade na cidade, realmente impulsiona a economia local de forma considerável e determinante para manutenção das estruturas existentes e atração de novos investimentos, pois apesar do quesito buscado ser de ordem natural, o típico mar, outros fatores merecem
atenção, inclusive para os acompanhantes. Portanto, para manter este público fiel à escolha é necessária a permanente qualificação e ampliação dos investimentos no atendimento às demandas, exigindo constante manutenção da infraestrutura, criação de eventos com temas voltados para a clientela, ampliando alternativas e ofertas turísticas com identidade e característica que atendam às expectativas do público.
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A pesquisa demonstrou que o produto natural da região em conjunto com infraestrutura eficiente são elementos essenciais para potencializar ainda mais investimentos e o empreendedorismo. Para tanto, é necessário fazer uso destes atributos no planejamento do marketing salientando os pontos fortes apontados nesta pesquisa, como a hospitalidade que a cidade demonstra, o atendimento às necessidades de hospedagem e das suas preferências gastronômicas que justificam a escolha repetidas vezes, complementando com a possibilidade de fazer uso de serviços de manutenção/conserto de equipamentos, aquisição de roupas adequadas à prática do esporte. Relativo às dificuldades desta pesquisa foi possível perceber que o pouco retorno nas pesquisas colocou os itens abordados com baixa margem comparativa, mas representativa em termos percentuais. Diante disto foi possível constatar que o objetivo deste estudo foi alcançado, chegando à comprovação de que o município de Garopaba – SC possui um grande potencial produto turístico em Surf City. Dessa forma, se entende que esta pesquisa pode contribuir com alguns dados de praticantes para o município, confirmando que o público que pratica o Turismo de Esportes tem grande potencial no incremento da economia local, que eventos, congressos e competições têm grande aceitação e público fiel, garantindo o retorno dos empreendedores e confirmando que o Turismo de Esportes pode ser ampliado e valorizado, que Garopaba tem espaço para o crescimento do Turismo de Sol e Praia, Turismo de Negócios e Eventos, também. REFERÊNCIAS ABREU, I. B.; Costa, S. R. Planejamento Participativo e Sua Contribuição para Desenvolvimento Sustentável da Atividade Turística, 2014. Acesso em 05 jun. 2017. ALCÂNTARA, F. R.; Matias E. M.; Araújo,
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RELEVÂNCIA DO TURISMO DE EVENTOS ESPORTIVOS PARA CIDADES DE PEQUENO PORTE: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE LAC-MÉGANTIC – CANADÁ¹ RELEVANCE OF THE SPORTING EVENTS TOURISM FOR SMALL CITIES: THE CASE OF LAC-MÉGANTIC - CANADA Luiz Gustavo Forato Gomes de Barros2 Elenara Viera de Viera3
RESUMO: Os eventos esportivos têm uma grande importância para o fluxo turístico nas cidades sedes dos eventos esportivos, essa pesquisa busca além de ressaltar a importância do turismo de eventos esportivos sua organização e ação dos voluntários para que o evento ocorra corretamente. Esse trabalho tem como objetivo geral compreender a relevância do evento esportivo na cidade de Lac-Mégantic na ótica de uma equipe de maratona aquática do Grêmio Náutico União e de uma organizadora e voluntaria do evento. O método utilizado nesta pesquisa foi um estudo de caso de natureza qualitativa de caráter descritiva, com aplicação de questionários com a participação de 8 atletas e um questionário com uma organizadora e voluntaria do evento. Os resultados obtidos demonstraram que ambos concordam que a participação dos voluntários é importante para que o evento ocorra de acordo com as necessidades dos atletas, entretanto, um ponto divergente foi que alguns atletas demonstraram um pequeno descontentamento com a forma que o evento é organizado. Palavras-chave: Turismo Esportivo. Voluntários. Hospitalidade. ABSTRACT: The athletic events have a significant importance for the tourism flow in the host cities of these events. This research not only looks for highlighting the importance of the tourism of athletic events but also their organization and volunteer action for the event to happen correctly. This research has as its main objective the comprehesion of the relevance of the athletic event in the Lac-Mégantic from the view of the Grêmio Náutico União swimming team and a volunteer and organizer of the event. The utilized method for this research was a case study of qualitative and descriptive characteristics, with questionares being applied and with the participation of eight swimmers and one volunteer and organizer of the event. The results obtained showed that both agree that the participation of the volunteers is important for the event to happen according to the needs of the athletes, however, one diverging point was that some of the athletes were not satisfied with the way the event was organized. Keywords: Sport Tourism. Volunteers. Hospitality.
1 Artigo resultante da monografia realizada, por Luiz Gustavo Forato Gomes de Barros, para obtenção do título de Bacharel em Turismo, junto ao Centro Universitário Metodista IPA, no segundo semestre de 2019. 2 Bacharel em Turismo pelo Centro Universitário Metodista IPA. E-mail: lg.lisgustavo@hotmail.com 3 Mestre em Turismo e Hotelaria e professora do Centro Universitário Metodista IPA. E-mail: elen.viera13@gmail.com
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INTRODUÇÃO sta pesquisa visa descobrir a relevância de um evento esportivo – etapa Copa do Mundo de maratonas aquáticas, que ocorre anualmente na cidade de LacMégantic, ao sul do Canadá. Para isso foi realizada uma pesquisa com uma equipe de maratona aquática do clube Grêmio Náutico União, da cidade de Porto Alegre – RS, e com uma moradora e organizadora do evento esportivo da cidade de Lac- Mégantic (Canadá). A pesquisa foi feita por meio de questionário para a equipe de maratona aquática e entrevista com a organizadora e será realizada no mês de julho de 2019. Quando se fala em turismo de eventos esportivos logo pensa-se em um segmento constituído de atividades relacionadas ao esporte. Muitos estudiosos concordam que existe uma distinção entre indivíduos que viajam para participar do esporte ativamente (turismo esportivo) e aqueles que viajam para assistir a um evento esportivo (GIBSON, WILLMING & HOLDNAK, 2002). Os autores Goidanich e Moletta (1998) apontam que o turismo está disponível a todos: amadores, fãs, atletas profissionais e seus treinadores e técnicos que viajam para desenvolver uma série de atividades, desde campos de treinamento passando por jogos amistosos até as competições internacionais de campeonatos como copa do mundo, mundiais. De acordo com o último levantamento OMT (2019) o turismo mundial teve o segundo melhor resultado dos últimos 10 anos e atingiu a marca de 1,4 bilhões de chegadas internacionais no mundo todo, que representou um aumento de 6% sobre o ano de 2017. Ainda segundo relatório da Organização Mundial do Turismo (OMT, 2015), demonstram que o esporte foi o principal fator de motivação no incremento nas viagens de turismo geradas com a realização da Copa do Mundo no Brasil, apenas no quesito de viagens domésticas foram 5 milhões de viagens. Segundo pesquisa realizada em StuHub, a maior plataforma de vendas de ingressos
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para assistir jogos e competições, em 2018, os brasileiros tiveram como destinos preferidos: Estados Unidos, Canadá, França, Itália, Rússia, Espanha e Reino Unido. Cidades e distritos inteiros, em diferentes países, aproveitam da prática de esportes para atrair eventos existentes ou criando seus próprios eventos. As atividades e os eventos esportivos (seja para participantes ou telespectadores) constituem uma importante porção do setor de atrações e entretenimento. Também ressalta que os grandes eventos esportivos (como as olimpíadas de verão ou inverno) atraem uma grande quantidade de turistas para assistir os esportes coletivos como o futebol, basquete e hockey, até mesmo nos esportes individuais como maratona aquática, tênis e esqui. Um evento esportivo internacional conta com a participação de um grande público diversificado com características diferentes e podem ser divididos em categorias e interesses diversificados. Os espectadores diferem em relação ao local de origem, podem ser residentes do local, nacional ou internacional (LOHMANN, 2010). De acordo com Goidanich; Molletta (1998) os turistas e/ou visitantes têm o mesmo objetivo: participar do evento seja comprando os ingressos ou se misturando com as torcidas presentes no local. Os atletas profissionais são como celebridades, muitas vezes assediados pelos fãs e pela imprensa. Para Bahia (2009), o turismo de eventos esportivos é um segmento específico da atividade econômica que gera grandes benefícios para a cidade em que o evento é realizado, movimentando o comércio local, empresários e a população local. Diante do exposto, questiona-se: de que forma esse evento esportivo se torna relevante para promover turisticamente a cidade de LacMégantic? O presente trabalho tem como objetivo geral compreender a relevância do evento esportivo na cidade de Lac-Mégantic. Os objetivos específicos deste trabalho são: identificar os elementos de motivação da população (voluntários) para trabalhar no
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evento na visão dos organizadores, ressaltar a importância do evento para a cidade na visão dos organizadores e descrever a percepção dos atletas participantes (maratona aquática) sobre a hospitalidade e trabalho dos voluntários e/ou moradores. Diante deste desta pesquisa é justificável que o turismo de eventos esportivos vem crescendo e se destacando sobre os demais segmentos do turismo segundo as cidades ou países sede dos eventos esportivos irão desfrutar dos benefícios e ganhos do processo de planificação, gestão e operacionalização com uma rede de infraestrutura e de oferta turística capaz de promover a imagem turística da cidade. Além disso, o turismo de eventos esportivos tem uma vantagem de trazer turistas nos períodos de baixa temporada atraindo não só os atletas, mas os expectadores e as pessoas envolvidas no evento. Assim, tem uma grande importância na promoção do local turisticamente, afinal o turista tende a desembolsar mais dinheiro do que um turista convencional durante o período da sua estadia. (MINISTERIO DO TURISMO, 2006). Tendo em vista a importância dos eventos esportivos para as cidades cedes pretendese com essa pesquisar identificar sobe o olhar de uma moradora da cidade de Lac Megantic, voluntária e participante da organização desta etapa da copa do mundo de maratonas aquáticas, e de uma equipe de atletas do Grêmio Náutico União quais são os benefícios que o evento traz para a cidade em termos de visibilidade turística, e a inserção da cidade no calendário internacional de maratonas aquáticas. TURISMO Para Barretto (1991) turismo é um fenômeno muito difícil de definir devido sua ampla maneira de abordagem, seja ela cientifica ou não, esse fenômeno pode ser abordado pelos autores como preceitos técnicos, acadêmicos, jurídicos, econômicos. O turismo segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2015) é o deslocamento do
viajante para outro destino que não é o seu habitual, por períodos inferiores a um ano sem fins lucrativos. O turismo cada vez mais tem papel de grande importância na economia mundial. Com a globalização, mudanças de hábitos nas sociedades, de comportamentos têm contribuído para que o mercado turístico busque atender os interesses dos diferentes públicos. Nesse sentido, surgem as categorias de turismo, ou segmentos: de aventura, cultural, esportivo e de eventos (BRASIL, 2006). Nessa segmentação o turismo esportivo, em alguns momentos, é confundido com o turismo de eventos esportivos, porém ambos necessitam do deslocamento do turista para uma região favorável a prática de um esporte específico e a utilização de uma determinada estrutura esportiva. Entretanto, os motivos são diferenciados, pois no turismo esportivo, o turista vem com o intuito de praticar o esporte por lazer ou treinamento, sem a intenção de competir (GOIDANICH e MOLLETTA,1998). Contrariamente no turismo de eventos esportivos o turista vem com a intenção de competir seja campeonatos ou jogos, são eventos com datas específicas e tempo determinado. Um exemplo são jogos olímpicos que durante as competições atrai um grande número de pessoas de diferentes partes do mundo, sendo atletas, público, mídia, equipes técnicas e as equipes de organização que trabalham no desenvolvimento do evento (MALLEN; ADAMS, 2013). TURISMO DE EVENTOS O turismo de eventos é uma segmentação do turismo e é realizado com interesse profissional e cultural por meio de congressos, convenções, feiras, reuniões internacionais, competições esportivas entre outros (ANSARAH, 1999). De acordo com Tenan (2002), a Classificação Internacional Uniforme das Atividades Turísticas, aceita pela Comissão de Estatísticas das Nações Unidas afirmam que existem seis motivos para uma visita
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turística: lazer, visita a parentes e amigos, tratamento de saúde, religião, negócios, motivos profissionais e outros. Segundo Ignarra (2001) a viagem é realizada por mais de um motivo, de acordo com o autor uma família pode viajar para um determinado lugar com interesses diferentes, o pai pode ser uma viagem de negócios, a mãe efetuar compras e o filho a lazer. Um turista pode escolher participar de um congresso em um lugar que ele não conheça para adquirir um conhecimento cultural do destino, além da sua participação no evento. Britto e Fontes (2002) descrevem esse segmento do turismo como o que trata de uma ampla área de eventos que acontecem nesse meio diversificado. E a realização desses eventos vem possibilitando o crescimento dos profissionais devido a troca de informações, utilização de novas tecnologias, lançamento de um novo produto, debate de novas proposições. A união dessas pessoas contribui para fortalecer as relações sociais, da indústria, culturais e comerciais. Albuquerque (2004, p.32) salienta que [...] os eventos, não importando a sua natureza, devem ser considerados como geradores significativos de riquezas, tanto tangíveis, quanto intangíveis, para a cadeia produtiva do local, por parte das lideranças políticas e, principalmente das lideranças empresariais.”
EVENTOS ESPORTIVOS, RECREATIVOS E TURÍSTICOS: TRADICIONAIS E SEGMENTADOS Os eventos esportivos, como os campeonatos, copas e olimpíadas motivam fluxos turísticos expressivos, despertando interesses por parte de setores públicos e privados das áreas envolvidas, esporte e turismo. Além de proporcionar prestígio às localidades que os promovem, vêm sendo alvo de significativos investimentos por parte de governos na melhoria das estruturas e de empresas que buscam firmar sua marca, veiculada na mídia provocada pelos jogos (TENAN, 2002).
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Além disso, o turista de eventos esportivos costuma gastar aproximadamente o mesmo valor que visitantes de outros segmentos, porém com a vantagem de deixarem no destino contribuições diferenciadas oriundas da venda de ingressos dos jogos, partidas, competições ou compra de materiais esportivos. Ressaltando que os visitantes vêm de localidades mais distantes quando comparado aos demais segmentos turísticos (MALLEN; ADAMS, 2013). No segmento do turismo de eventos voltado para os eventos esportivos existem dois tipos: os tradicionais e os segmentados. Os eventos tradicionais são realizados para recreação, competição ou como influenciadores para o turismo. Existem duas características que descrevem os eventos tradicionais: a primeira é que para realizar o evento é necessário um corpo de diretores que estabeleça e execute regras e os regulamentos para serem seguidas durante o evento. A segunda característica é que o esporte seja uma atividade reconhecida e com histórico memorável. Um exemplo de evento tradicional é o futebol que pode ser disputado tanto para lazer quanto profissional; sua prática segue as regras em qualquer nível e suas regras são padronizadas pelo corpo de diretores que definem número de jogadores e o local da partida. Os eventos tradicionais podem promover o turismo como Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno, os Jogos do Canadá e os Jogos Asiáticos fazem com que atletas e espectadores se desloquem para o local a fim de participar dos eventos. Um desses eventos pode incentivar o turista a viajar para assistir ou conhecer o local no tempo do vento ou nos anos seguintes (MALLEN; ADAMS, 2013). Os eventos segmentados são o oposto do tradicional. Esse tipo de evento surge como uma forma de inovação criando um evento diferente do antigo. Muitos eventos segmentados são criados de eventos tradicionais. A primeira característica dos eventos segmentados é que ele é feito e adaptado para o público esportivo, recreativo ou turístico em particular; a segunda característica é que não é necessário um corpo de diretores que tenha estabelecido regras apesar de existir um grupo de organizadores que pode estabelecê-las. A terceira é que o evento
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pode incluir itens tradicionais reconhecidos ou pode ter um formato não muito convencional. Eventos segmentados existem em diferentes áreas do esporte, recreação e turismo. Alguns exemplos como festivais, conferências, entrevistas, passeatas, entre outros, usadas de forma inovadoras podem produzir novos eventos esportivos, recreativos ou turísticos (MALLEN; ADAMS, 2013). A produção de um evento esportivo segmentado recreativo pode ou não ser sólido, e esse tipo de evento pode ser alterado para uma geração seguinte a qualquer momento. Esse tipo de evento não tem um corpo de diretor, apesar de existir organizadores não se espera que as regras sejam passadas para as gerações seguintes, pois podem sofrer alterações por influências culturais, novas tecnologias e uma específica faixa etária. Um exemplo de evento turístico segmentado que pode ser adaptado é o Winter Festival of Lights nas Cataratas do Niágara no Canadá. Esse evento realizado no inverno é feito sob medida para os turistas que querem assistir o espetáculo. Para executar um grande evento esportivo, seja ele tradicional ou segmentado, requer uma grande quantidade de pessoas envolvidas. Desses grupos de pessoas envolvidas, um deles são os voluntários. VOLUNTÁRIOS Um evento esportivo necessita de um grande número de profissionais durante a sua realização, provocando uma movimentação considerável no setor econômico e financeiro das cidades sedes. O ideal seria que os locais sede, por meio de recursos financeiros, contratasse toda uma equipe para realizar um evento de sucesso. Entretanto, nem sempre isso é possível, e os gestores de eventos contam com a participação de voluntários para realização da maior parte do trabalho (MALLEN; ADAMS, 2013). Ainda, de acordo com estes autores, alguns exemplos de eventos mostram a importância da presença dos voluntários, como em Pequim: em 2008 foram mais de 100.000 voluntários sendo 70.000 para as Olimpíadas e 30.000 para as
Paraolimpíadas. A permanência dos voluntários nos eventos vai além do evento, sua influência afeta positivamente as cidades sedes e os próprios voluntários. Os grandes eventos precisam de quatro níveis de voluntários: o primeiro é o voluntário executivo e diretivo que desenvolvem uma missão e uma visão para o evento fazendo parte do corpo de diretores e exercem seu papel no momento em que a proposta para sediar o evento é criada. O segundo nível de voluntários são os gerenciais, que exercem a função de planejar e administrar os elementos principais da cidade anfitriã; esses voluntários se envolvem de dois a cinco anos antes do início do evento. O terceiro nível de voluntários é denominado operacional. São eles que fazem o evento funcionar, exercendo o preparo de curto prazo antes do início do evento e/ou durante. A organização do evento para esse nível de voluntário se inicia um ano antes. O quarto nível voluntários têm seu envolvimento durante um período mais curto, pois se inicia apenas quando o evento começa (MALLEN; ADAMS, 2013). De acordo com Rodsutti (2005), a gestão de voluntários em um evento exige diversas práticas de recursos humanos, porém as mais críticas são o recrutamento, a orientação, atribuições de responsabilidade e o reconhecimento. Para Mallen e Adams (2013), o ciclo de vida de um voluntário exige três passos: triagem, orientação/treinamento e atribuições de responsabilidades, e sua ordem não precisa necessariamente ser essa, mas é fundamental que todos esses passos sejam feitos antes do credenciamento para um evento. A triagem dos voluntários abrange a checagem de todos os antecedentes criminais, essa checagem pode demorar para ser feita e pode gerar um custo elevado e são os organizadores que determinam quando é necessária. METODOLOGIA O presente trabalho é de natureza qualitativa e caracterizado por uma pesquisa
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descritiva. Segundo Martins (2008) pesquisa qualitativa é um estudo urbano que se analisa profunda e intensamente. É uma pesquisa prática que busca os fenômenos dentro do de seu contexto real, em que o pesquisador não controla os eventos e as variáveis, busca entender o conjunto de situações, entender, descrever e interpretar a complexidade de um caso concreto. Como método elegeu-se o Estudo de Caso. O Estudo de Caso é a exposição do problema da pesquisa que integra a teoria introdutória que será analisada através de dados da pesquisa. Independentemente do tipo da pesquisa, o Estudo de Caso orienta a busca de informações e perspectivas convincentes para situações que envolvam fatos sociais importantes, e a formação de uma teoria relevante do caso que possibilite condições para se fazer mudanças analíticas sobre assuntos investigados e outros conhecimentos encontrados (MARTINS, 2008). A pesquisa descritiva, segundo Cervo e Bervian (2002), tem como objetivo detalhar as características de uma população, de um fenômeno ou experiência para um estudo feito. É um recurso que norteia a pesquisa e cria uma relação das variáveis propostas no objeto do estudo analisado. Esse tipo de pesquisa usa técnicas padronizadas de coleta para expor as variáveis propostas. Para o pesquisador a pesquisa descritiva tem com fim estudar, analisar, registrar e interpretar os fatos físicos sem adulterar e intervir nele. Para a coleta de dados o pesquisador utilizou-se da técnica de entrevista estruturada para a organizadora do evento (que também é voluntária) e voluntários do evento e o questionário para os participantes da maratona (equipe de natação do Clube Grêmio Náutico União), que totalizam 8 (oito) participantes. A entrevista, de acordo com Martins (2008), é uma técnica de pesquisa utilizada para coletar informações com o objetivo de distinguir e saber a definição que os entrevistados atribuem a questão e a situação, em circunstâncias que não
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foram estruturados anteriormente, baseado nas hipóteses e conjecturas do pesquisador. Uma entrevista pode fornecer informações para validar evidências coletas por outros elementos, possibilitando a triangulação e como consequência disso o aumento do grau de confiança do estudo. Além disto, pode oferecer sentidos diferentes sobre determinado evento por fala, e olhos de diferentes entrevistados. O questionário é um importante modo de se coletar dados de uma pesquisa social. É formado por uma linha de perguntas que são direcionadas para informantes em potencial selecionados com antecedência. O questionário para ser efetivo deve ser respondido escrito e na maioria das vezes sem a presença do pesquisador, pode ser enviado pelos correios ou por um mensageiro. Em um Estudo de Caso ele deve ser empregado pelo próprio pesquisador (MARTINS, 2008) A análise dos dados foi feita com base em listagem de frequência simples contrapondo o referencial utilizado. CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA Realizado anualmente na cidade de LacMégantic no estado de Quebec, Canadá, entre os meses de julho e agosto, o evento FINA – 10 km MARATHON SWIMMING WORLD CUP, movimenta um grande público da cidade ou de cidades vizinhas para trabalhar nele como voluntário, bem como reúne um grande número de competidores de diversos países e turistas/visitantes. Os competidores ficam alojados na casa dos moradores da cidade para que se sintam mais acolhidos e inseridos na rotina da cidade. A cidade de Lac-Mégantic (Figura 1) está localizada no estado de Quebec, a 216 km da sua capital Montreal (Canadá) e 35 km da fronteira com os Estados Unidos. A cidade do estado de Quebec possui 5.932 habitantes e possui uma área de 20,33 km. O principal idioma falado na cidade é o francês e a segunda língua é o inglês. A cidade é muito importante na área da agricultura, exploração florestal, corte de madeira e a produção de pasta de papel. A região de Lac-Mégantic vem crescendo turisticamente e atraindo
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pessoas de Quebec e dos Estados Unidos. Pontos como Mont Mégantic Park possui um museu de astronomia e o observatório Monte
e as margens do Lac-Mégantic em agosto acontece às provas de natação, e em junho as provas de ciclismo.
Figura 1: Mapa da cidade Lac-Mégantic – Canadá
Fonte: https://www.google.com/maps/place/Lac-Mégantic,+Quebec,+Canadá
No ano de 2018 o evento, que está na 12 edição, reuniu 44 atletas, sendo 22 homens e 22 mulheres de 16 países (número recorde para o evento), e cerca de 350 voluntários trabalharam no evento em diversas áreas. Os voluntários sentem orgulho em participar do evento, pois interagem tanto com os atletas como com a comunidade, eles adquirem novas experiências e desafios (DÉSILETS, 2018). RESULTADOS Esta pesquisa buscou compreender a relevância de um evento esportivo – etapa Copa do Mundo de maratonas aquáticas, que ocorre anualmente na cidade de Lac-Mégantic, ao sul do Canadá. Para isso foi realizada uma pesquisa com uma equipe de maratona aquática do clube Grêmio Náutico União, da cidade de Porto Alegre – RS, e com uma moradora e organizadora do evento esportivo da cidade de Lac- Mégantic (Canadá).
O primeiro e o segundo objetivos específicos eram: identificar os elementos de motivação da população (voluntários) para trabalhar no evento na visão dos organizadores e ressaltar a importância do evento para a cidade na visão dos organizadores. Além dos dados obtidos por meio do questionário, realizou-se uma entrevista a fim de verificar a opinião de uma das organizadoras e voluntária da cidade de Lac-Mégantic sobre o evento esportivo – etapa Copa do Mundo de maratonas aquáticas. A primeira pergunta era sobre a importância da realização do evento da Copa do Mundo de maratonas aquáticas obtendose como resposta que o evento proporciona a possibilidade de mostrar a beleza do lago onde a água é pura e limpa. Também afirmaque o evento movimenta a cidade recebendo nadadores de vários países e é possível apresentar para a população de 6000 habitantes um esporte aquático diferente.
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Quando questionada sobre qual a importância dos voluntários para a realização do evento, a organizadora e voluntária acredita que sem a participação dos voluntários não seria possível à realização do evento. Ao perguntar de que forma as pessoas se motivam a participar do evento, a organizadora afirma que é difícil encontrar voluntários, pois é uma sociedade individualista, mas diante a boa experiência dos voluntários em eventos anteriores, eles acabam voltando. Quando questionada sobre o aumento do fluxo de turistas na cidade, a organizadora e voluntária afirma que as competições atraem pessoas de todo Quebec; elas afirmam que voltarão para o próximo ano, pois ficam encantados com a cidade e a beleza do lago.
Ao ser questionada sobre a satisfação dos nadadores com a organização do evento e o trabalho dos voluntários, a organizadora e voluntária afirma que os nadadores dizem que estão satisfeitos com a boa organização, pois eles ficam hospedados nas casas das famílias e são tratados como se fossem filhos. Ela citou um exemplo de uma nadadora brasileira que no ano passado ficou triste por não participar da etapa de Lac-Mégantic, pois estava indo para o Japão. O terceiro objetivo específico era descrever a percepção dos atletas participantes (maratona aquática) sobre a hospitalidade e trabalho dos voluntários e/ou moradores.
Gráfico 1: Hospitalidade
Fonte: Elaboração do autor (2019)
A primeira pergunta aos atletas faz referência à hospitalidade, questionandoos sobre o acolhimento recebido na cidade durante o período da competição. De acordo com Gráfico 1, a maioria dos respondentes concorda totalmente, isto é, há acolhimento por parte da cidade aos participantes da competição. A segunda pergunta aos atletas faz referência à hospitalidade para o bom
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desempenho na competição, questionando-os sobre o tipo de acolhimento recebido na cidade durante o período da competição e se colabora para que os participantes da competição tenham um bom desempenho. De acordo com Gráfico 2, a maioria dos respondentes concorda totalmente, isto é, a hospitalidade da cidade está de acordo para que possa haver um bom desempenho por parte dos atletas na competição.
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Gráfico 2: Hospitalidade para o bom desempenho na competição
Fonte: Elaboração do autor (2019)
Gráfico 3: Importância do trabalho dos voluntários
Fonte: Elaboração do autor (2019)
A terceira pergunta aos atletas faz referência à importância do trabalho dos voluntários para a realização da competição, questionando-os se os voluntários realmente são importantes durante o tempo de competição. De acordo
com Gráfico 3, a maioria dos atletas concorda totalmente, isto é, os voluntários são importantes para que a competição ocorra como previsto.
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Gráfico 4: Percepção do trabalho dos voluntários
Fonte: Elaboração do autor (2019)
A quarta pergunta aos atletas faz referência à percepção em relação ao do trabalho dos voluntários para a realização da competição, questionando-os sobre a qualidade do trabalho executado por eles
durante o período da competição. De acordo com Gráfico 4, a maioria dos respondentes concorda totalmente, isto é, o trabalho que os voluntários estão desenvolvendo está sendo bem executado e com qualidade.
Gráfico 5: Necessidades dos atletas
Fonte: Elaboração do autor (2019)
A quinta pergunta aos atletas faz referência à organização do evento em atender as necessidades dos atletas durante a realização da competição, questionando-os se a organização atende as suas necessidades. De acordo com Gráfico 5, constatou-se que nessa questão a maioria dos respondentes
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concorda em parte, isto é, a organização atende parcialmente as necessidades dos atletas. Apenas um atleta também não concorda nem discorda com a afirmação, ou seja, mostrou-se indiferente com o trabalho/organização em relação as suas necessidades.
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Após a interpretação dos gráficos (1 a 5), concluiu-se, diante das respostas coletadas na pesquisa realizada junto aos atletas, que a hospitalidade e a participação dos voluntários durante o evento realizado na cidade de Magantic corroboram para que os atletas tenham um bom desempenho durante a competição. O trabalho voluntário não é remunerado é realizado por pessoas da comunidade para uma entidade pública ou instituição privada sem fins lucrativos. O papel dos voluntários nos eventos esportivos é agregar valores aos serviços dos eventos, ou seja, colaborar para que o evento ocorra de formar organizada e proporcione um bom desempenho para os atletas que irão disputar as competições. Assim, os eventos esportivos, sejam eles de grande ou pequeno porte, para que tenham sucesso e consigam atingir as expectativas do público têm a necessidade do envolvimento dos organizadores, de toda comunidade e da presença de voluntários, conforme afirmado por (MALLEN; ADAMS, 2013). CONCLUSÃO Este estudo teve como objetivo caracterizar aspectos da etapa Copa do Mundo de maratonas aquáticas como um potencial atrativo turístico para a cidade Lac Mégantic – Canadá. Para atingir o resultado foi aplicado um questionário por e-mail com uma organizadora e voluntária do evento. Na tentativa de explicar o cenário do evento pesquisado, os resultados foram mensurados e expostos em gráficos e tabelas e analisados de acordo com ferramentas existentes, entre elas, o embasamento teórico. Diante disso, foi possível constatar que o objetivo geral deste estudo foi alcançado. Foi possível chegar à compreensão de que etapa Copa do Mundo de maratonas aquáticas de fato possui grande potencial de se consolidar como um atrativo turístico, possuindo fatores determinantes na visão de seus colaboradores (organizadora e público participante) para o seu desenvolvimento no turismo de Lac Mégantic. Percebeu-se que tanto a organizadora quanto os atletas compartilham, na maioria das vezes, opiniões semelhantes, demonstrando
características homogêneas, tais como acreditar que o evento possui capacidade de auxiliar no crescimento econômico da cidade e como um atrativo turístico. Também se reforça a questão explorada neste estudo sobre a hospitalidade da cidade e o trabalho dos voluntários, que são de extrema importância para que o evento ocorra de acordo com as necessidades dos atletas. Sobre os resultados referentes ao entendimento de Turismo Esportivo, ambos (organizadora e atletas) responderam positivamente, porém no questionário aplicado nos atletas o quesito organização do evento alguns atletas apresentaram um pequeno descontentamento na forma como o evento é organizado. Em relação às dificuldades desta pesquisa foi contatar mais de um voluntário e organizador do evento; foi aplicado o questionário em apenas uma voluntária e organizadora. Outro ponto a ser comentado seria que em alguns momentos foi necessário atuar com insistência junto à organizadora e voluntária para que colaborasse até o final da pesquisa, pois a mesma deixava de responder em alguns momentos quando o contato era feito. Quanto ao contato com a organizadora para a realização da entrevista, tanto via Facebook ou e-mail, sempre se mostrou extremamente receptiva no auxílio deste estudo. Apesar de quando questionada, se poderia conversar com os demais voluntários e organizadores do evento para participar dessa pesquisa se mostrou prestativa, porém não obtive mais respostas. Dessa forma, entende-se que a pesquisa contida neste trabalho tenha contribuído a estudos futuros, em especial ao entendimento de questões pertinentes a área de Turismo, demonstrando aplicação de ferramentas de gestão de pessoas para o desenvolvimento de um potencial turístico. Assim, recomenda-se para que ocorra a sua complementariedade, sua continuação, pois o evento ocorre anualmente, a aplicação de pesquisas as quais verifiquem outros fatores que sejam correlatos ao Turismo e suas
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segmentações como Turismo Esportivo. E por fim propor sugestões de implementação e aperfeiçoamento com maior embasamento de informações, além de também ser relevante indicar estudo similar com aplicação em mais de uma organização com mesmo segmento de mercado para realização de estudo comparativo.
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