Jornalismo na Cultura da ConvergĂŞncia
Organizadores
Fabio Ramos Berti ValĂŠria Deluca Soares
Jornalismo na Cultura da ConvergĂŞncia
Porto Alegre 2018
Organização: Fabio Ramos Berti Valéria Deluca Soares Capa: Yuri Bratti de Lima Projeto Gráfico: Juliane Licht Lucca Realização: Multiverso Comunicação Integrada Curso de Jornalismo Centro Universitário Metodista - IPA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Jornalismo na cultura da convergência / organizado por Fabio Ramos Berti, Valéria Deluca Soares. – Porto Alegre: Editora Moriá, 2018. 192 p. : il. ISBN: 978-85-99238-43-1
1. Curadoria de Conteúdo. 2. Jornalismo Popular. 3. Radiojornalismo. 4. Redes Sociais Digitais 5. Webjornalismo I. Berti, Fabio Ramos (Org.) II. Soares, Valéria Deluca (Org.). CDD 070.4 CDU 070 Bibliotecária responsável: Marisa Fernanda Miguellis CRB 10/1241
Porto Alegre 2018
Sumário
***Apresentação
7
***Capítulo 1 Da Curadoria de Conteúdo à Autenticação da Verdade: as Encruzilhadas do Jornalismo na Era Digital
9
Moisés Machado Sandra Bitencourt de Barreras
***Capítulo 2 Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro: Cobertura Carnavalesca dos Portais Srzd, O Dia e Extra
31 Édson Luís Dutra
***Capítulo 3 O Blog um Plus a Mais, da Revista Donna On-Line, e o Movimento Body Positive Bianca Bueno de Souza Maria Lúcia Patta Melão
62
***Capítulo 4 O assédio contra as mulheres nos jogos eletrônicos: Um estudo no portal de notícias ESPN e no grupo de Facebook Overwatch Brasil
93 Gustavo Toledo Carus
***Capítulo 5 Online e on air: a influência do Twitter no comentário esportivo das rádios Bandeirantes, Gaúcha e Guaíba
121 Vivian Leal da Silveira Léo Flores Vieira Nuñez
***Capítulo 6 Rádiojornalismo e Redes Sociais Digitais: a participação do Whatsapp na Construção da Notícia no Programa Esporte Notícia, da Rádio Bandeirantes
136
Everton Calbar Léo Flores Vieira Nuñez
***Capítulo 7 A influência da mídia na construção e desconstrução da imagem do ator Kevin Spacey: uma análise dos portais Buzzfeed, G1 e Adoro Cinema
156 Thiago Freitas
***Sobre os autores
188
Apresentação Rádio, televisão, jornal, internet. Whatsapp, Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, LinkedIn. Notícia. Fake news. O mundo da comunicação contemporânea é complexo, caótico, entrelaçado e disperso ao mesmo tempo, confuso e acessível na mesma medida. A produção de conhecimento sobre um ambiente que desperta tantas dicotomias e ambiguidades é, simultaneamente, um desafio e uma obrigação. Entre polos opostos que se encontram na tela de um celular, imbricando-se em diversidade e multiplicidade, há uma essência. Uma gênese. Um sentido. O sentido do jornalismo. Em 2018, o jornalismo enfrenta um inimigo que surge para influenciar os receptores, desestruturar lógicas mal-acabadas e redimensionar a significação da responsabilidade de quem comunica. As fake news, notícias que têm procedências duvidosas e não correspondem com os princípios básicos de apuração, veracidade e divulgação apreendidos pelos comunicadores, tomaram uma relevância que fugiu à proporção de uma normalidade prevista. Segundo o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), uma notícia falsa se propaga com 70% de mais velocidade que uma notícia normal (VOUSOUGHI et al., 2018). Ou seja, há uma probabilidade gigantesca de alguma pessoa já ter acreditado em alguma divulgação de notícia que não era verdadeira. A proliferação dos meios e a disseminação das redes sociais contribuíram para aumentar esse caos. Uma vez participantes desta nova arquitetura comunicacional e, sobretudo, compreendendo o tamanho deste fenômeno, é imperativa a necessidade de uma produção de conhecimento que reconduza à essência do jornalismo. A produção científica no campo do jornalismo reproduz esta preocupação. No entanto, não reflete, como o dado apontou, em uma realidade próxima. As fake news são, na verdade, um sintoma dessa desordem que a esfera jornalística do novo milênio gerou como efeito colateral. Um primeiro passo é entender o que está acontecendo. Faz-se necessário, portanto, fortalecer os estudos nesta área. Os sete capítulos que serão apresentados nesta publicação dão conta de mapear esse ecossistema, em uma operação minuciosa de fatos que perambulam pelo nosso cotidiano de jornalista. Da cobertura temática tradicional (esporte, moda, cinema e Carnaval) a apontamentos que debruçam sobre este novo momento (como a questão da autenticação
7
da verdade), os artigos produzidos por professores e alunos do Centro Universitário Metodista IPA formam, por si, a resistência que combate estes desvios causados pelo senso comum e convidam o leitor a refletir sobre um cenário recém descoberto no campo do jornalismo. Se a Internet nos apresenta uma variedade de assuntos, modos de produção e criação, se há a fusão irresistível do vídeo no rádio, do texto no vídeo, do áudio na foto, da imagem na palavra, se há a inevitável contribuição do consumidor/receptor para produção e distribuição de notícias e conteúdo, há, indubitavelmente, a necessidade de compreender que processos são esses. Porque tudo parece estar tão perto de nós e ao mesmo tempo, tem escapado de nós. Porque o jornalismo precisa ser estudado, esmiuçado, desvendado, apresentado. É a forma de dizer ao público que mesmo que ele não acredite no que um jornalista escreve, através do conhecimento, da ciência e da essência do que são a comunicação e o jornalismo. McLuhan (1964), o primeiro autor que entendeu esse ambiente caótico, colocou que o meio é a mensagem. Nesse caos complexo e desordenado, talvez seja este o caminho que ajuda a esclarecer o que está acontecendo e nos conduzir por um caminho ainda desconhecido, mas que se torna mais claro a partir de textos como estes que teremos a seguir. Carlos Guimarães Jornalista
8
Capítulo 1
DA CURADORIA DE CONTEÚDO À AUTENTICAÇÃO DA VERDADE: AS ENCRUZILHADAS DO JORNALISMO NA ERA DIGITAL Moisés Machado Sandra Bitencourt de Barreras
O ciberespaço mudou as configurações de mundo. O jornalismo não escapou imune a esse processo e as novas diretrizes digitais suscitam questões sobre os novos impasses e papeis que o jornalismo precisa enfrentar e assumir na contemporaneidade. Seria possível resumir no clássico lead da notícia jornalística os questionamentos que desafiam profissionais e instituições do campo da comunicação: quem é o jornalismo? Que papel lhe cabe nesta nova esfera pública alargada, tecnológica e automatizada? Como as categorias que caracterizam seu papel social e ajudam a cimentar o contrato não escrito com a sociedade para narrar e descrever o mundo passam a ser reconhecidas, modificadas ou descartadas? Quando e onde novos formatos e novas convergências passarão a substituir o jornalismo como hoje é conhecido? Entre tantos questionamentos, uma certeza: o jornalismo vive uma crise de credibilidade e identidade em escala global. É o que aponta a pesquisa Edelman Trust Barometer de 2018, que analisa a confiabilidade das pessoas nas instituições, de 28 países analisados em 22 deles a mídia é a instituição menos confiável. No Brasil, o relatório aponta que 43% do público brasileiro não considera a mídia uma fonte confiável. O cenário se torna ainda mais caótico quando 58% dos brasileiros não sabem diferenciar uma notícia falsa de uma verdadeira e 75% têm medo que as Fake News sejam usadas como armas. 09
Diante desta conjuntura confusa, seríamos todos nós jornalistas? A nova forma de distribuição da informação por qualquer cidadão que, no momento certo, esteja no local certo à hora certa munido de uma câmera de vídeo ou smartphone, seria o jornalista da era digital? O que confere o status de jornalismo ou de jornalista na esfera midiática atual? Como competir com a dinâmica das mídias sociais? Como lidar com os sintomas da pós-verdade, onde apelos às emoções possuem mais peso do que fatos comprováveis para moldar a opinião pública? A desconfiança e o descrédito em relação às instituições jornalísticas, as notícias que circulam e o abismal fluxo de informações falsas, levam a imprensa contemporânea a um novo cenário onde é necessário checar todo o conteúdo publicado. São tantas as indagações de alta complexidade, que este texto apresenta alguns conceitos e revisa trajetos históricos para entender se categorias determinantes para a legitimidade do exercício jornalístico se mantêm e são suficientes para garantir sua adaptação aos novos ambientes informacionais. JORNALISMO: FINALIDADES ALTERADAS? A adaptação aos novos ambientes informacionais deve ser vista em pelo menos três dimensões de sujeitos que compõem o ambiente de geração e consumo de notícias: os profissionais, os veículos e o público. Várias são as concepções que buscam adequar os novos fazeres jornalísticos ao histórico ethos desse campo. O jornalista Tiago Lobo, em entrevista ao portal Multiverso IPA (2018), divide os jornalistas, dentro deste novo fazer jornalístico, entre repórteres e produtores de conteúdo noticioso. Para ele, os repórteres “contam histórias de não-ficção, sua matéria-prima é ‘gente’ e seu objetivo é a busca pela “verdade”. Por sua vez, “produtores de conteúdo noticioso reproduzem e divulgam informações, sua matéria-prima é o fato e o objetivo é a busca pelo fato provável”. Lobo ainda destaca que apuração, precisão, análise e profundidade são a mais clara definição do que é reportagem e que o produto final hoje entregue ao leitor é de baixa qualidade e homogêneo. Em um cenário cada vez mais multifacetado onde há entre emissor e receptor uma troca robusta de mensagens, novos canais surgem com frequência, e aqui cabe destacar que não apenas novos 10
veículos da mídia tradicional impressa, radiofônica e televisiva, mas sim, novas redes sociais, uma infinidade de sites e blogs e canais no YouTube. Por fim, os públicos são cada vez mais “nichados”, muito em virtude desses novos canais e fruto dos novos interesses desse público. Com novas expectativas é razoável supor que cabe ao jornalismo buscar novos modos de entrega das informações? Com quais características e finalidades? Compreender ao longo do tempo quais as finalidades atribuídas e reconhecidas no jornalismo é fundamental para problematizar o papel que deverá ser desempenhado nas atividades de produção e distribuição de conteúdo jornalístico. Reginato (2016) oferece em sua tese de doutorado1, As finalidades do jornalismo: o que dizem jornalistas, veículos e leitores, um percurso completo desde o mapeamento histórico dos autores, suas definições e até o posicionamento discursivo dos sujeitos que compõem o campo de produção, circulação e recepção das notícias. As tabelas a seguir ajudam o entendimento acerca das concepções teóricas sobre para que serve, ou deveria servir, o jornalismo. As finalidades do jornalismo propostas pela tese de Gisele Dotto Reginato (2016): Tabela 1: As finalidades do jornalismo segundo Reginato (2016) Definição
Finalidade do jornalismo
Informar de modo qualificado
Fornecer para a sociedade a síntese dos principais acontecimentos; garantir o acesso de diferentes públicos a essa informação. Para ser qualificada, a informação deve ser atual, plural, verificada, relevante, correta, contextualizada, bem redigida.
Investigar
Investigar os fatos detalhadamente, fazer reportagem investigativa, procurar informação exclusiva, trazer o que não está visível.
1 Disponível em https://lume.ufrgs.br/handle/10183/140809
11
Verificar a informações
veracidade
Apurar todos os dados e checar as informações para entregádas las ao público com correção e precisão; contribuir com a busca da “verdade” dos fatos.
Interpretar e analisar a realidade
Avaliar os fatos que acontecem e explicá-los de forma aprofundada à sociedade; contextualizar as informações, fazendo relações entre passado e presente, causas e consequências.
Fazer a mediação entre a origem da informação para que chegue Fazer a mediação entre os fatos e bem fundamentada ao leitor; adaptar o discurso especializado o leitor em uma linguagem mais acessível ao leitor.
Selecionar o que é relevante
Eleger o panorama dos principais acontecimentos, que se tornam importantes por serem atuais, úteis e impactarem a vida pública e privada das pessoas; filtrar o que merece destaque e hierarquizar os ângulos que devem ser explorados.
Registrar a história e construir memória
Preservar a memória; documentar os fatos mais importantes que ajudam a sociedade a entender seu tempo agora e no futuro.
Orientar o leitor sobre como viver Ajudar a entender o mundo con- no mundo contemporâneo e como temporâneo dar sentido ao tempo presente.
Integrar e mobilizar as pessoas
Ajudar a sociedade a se mobilizar; estimular a participação cívica na vida pública; mobilizar o público em torno de causas cidadãs.
Defender o cidadão
Apresentar aos leitores os seus direitos; afirmar que os direitos devem ser cumpridos.
Vigiar os poderes (não só o governo) e as instituições para observar se os procedimentos de conduta estão Fiscalizar o poder e fortalecer a corretos ou não; revelar manobras democracia ilegais e prejudiciais à sociedade; mostrar como a democracia se organiza para ajudar no
12
funcionamento da vida pública. Mostrar como o mundo funciona em toda a sua complexidade, diversidade e pluralidade; orientar Esclarecer o cidadão e apresentar o debate público; apresentar as a pluralidade da sociedade problemáticas para que elas sejam discutidas na sociedade; ajudar o leitor a formar sua opinião.
As finalidades do jornalismo segundo a teoria: Tabela 2: Finalidades do jornalismo e principais autores segundo Reginato (2016)
Finalidades do jornalismo (em ordem alfabética)
Principais autores (em ordem cronológica – as datas entre parênteses são os originais)
Groth, 2006 (1930); Molotch e Lester, 1999 (1974); Katz, 1999 Ajudar o homem a entender e (1979); Gomis, 1991; Berger, 1996; viver sua época Franciscato, 2005; Benetti, 2010; Motta, 2013 Contextualizar informação
e
organizar
Contribuir com a democracia
Genro Filho, 1987; Kovach e Rosens a tiel, 2004 (2001); Charaudeau, 2007 (2005); Dines, 2009; Canavilhas (2015) apud Specht, 2015 Pulitzer, 2009 (1904); Ross, 2008 (1910); Park, 2008b (1940); Bond, 1959 (1954); Jobim, 1957; Molotch e Lester, 1999 (1974); Cornu, 1994; Merritt (1995) apud Traquina, 2003; Fouhy, 1996; Grimes, 1999; Miguel, 1999; Bucci, 2000; Bardoel e Deuze, 2001; Neveu, 2003 (2001); Kovach e Rosenstiel, 2004 (2001); Motta, 2002; Traquina, 2002; Moretzsohn (2007); Schudson, 2008; Lago, 2010; Silva, 2010; Pavlik, 2011; Rothberg, 2011
Criar para o leitor experiências de Mead (1926) apud Schudson, 2010 satisfação estética que o ajudem a interpretar a própria vida Defender o cidadão
Jobim (1950) apud Avanza, 2007; Medina, 1982; Sousa, 2002; Schudson, 2008
13
Bond, 1959 (1954); Siebert et al (1956) apud Kunczik, 1997; Amaral, 1969; Gaillard, 1971; Fontcuberta, 1993; Melo, 2012; Travancas, 2010
Divertir
Estimular o engajamento e Park, 2008b (1940); Grimes, 1999; mobilizar a participação cívica na Schudson, 2008 vida pública
Formar a opinião pública
Pulitzer, 2009 (1904); Weber, 2006 (1910); Lippmann, 2010 (1920); Hall et al, 1999 (1973); Beltrão, 1980a (1976); Marcondes Filho, 1986; Fontcuberta, 1993; Cornu, 1994; Charaudeau, 2007 (2005); Bastos, 2010
Informar
Peucer, 2004 (1690); Weber, 2006 (1910); Groth, 2006 (1930); Bond, 1959 (1954); Siebert et al (1956) apud Kunczik, 1997; Gaillard, 1971; Beltrão, 1980a (1976); Fontcuberta, 1993; Lima, 1993; Traquina, 2002; Sousa, 2002; Charaudeau, 2007 (2005); Schudson, 2008; Travancas, 2010
Instruir, orientar e educar
Eça de Queiroz (1866) apud Ponte, 2005; Weber, 2006 (1910); Barbosa (1920) apud Pereira, 2005; Park, 2008b (1940); Bond, 1959 (1954); Amaral, 1969; Beltrão, 1980b (1976); Lima, 1993; Bucci, 2000; Neveu, 2003 (2001); Sousa, 2002; Ponte, 2004; Franciscato, 2005; Ramonet, 2012
Interpretar
Brucker (1930) apud Schudson, 2010; Park (1940) apud Berger e Marocco, 2008; Bond, 1959 (1954); Dines, 2009 (1974); Hallin e Mancini, 1999 (1984); Fontcuberta, 1993; Motta, 2002; Charaudeau, 2007 (2005); Schudson, 2008; Marcondes Filho, 2009; Melo, 2012; Anderson, Bell e Shirky, 2014
Investigar
Dines, 2009 (1974); Chaparro, 2001; Schudson, 2008; Bastos, 2010
Manter a integrada Mediar
14
sociedade
unida
e Katz, 1999 (1979) Hall et al, 1999 (1973); Schudson, 1999 (1982); Medina, 1982; Rodrigues, 1999 (1988), Kunczik, 1997
(1988); Gomis, 1991; Fontcuberta, 1993; Berger, 2003 (1998); Machado, 2000b; Moretzsohn, 2002; Sousa, 2002; Travancas, 2010 Karam, 1997; Schudson, Mostrar a diversidade da sociedade Lago, 2010; Rothberg, 2011
2008;
Reforçar a cidadania
Travancas, 1993; Bardoel e Deuze, 2001; Lago, 2010
Selecionar os temas significativos
White, 1999 (1950); Beltrão, 1980a (1976); Erbolato (1986) apud Marcolino, 2005; Fontcuberta, 1993; Cornu, 1994; Merritt (1995) apud Traquina, 2003; Kovach e Rosens- tiel, 2004 (2001); Ponte, 2004; Bastos, 2012; Moretzsohn, 2015
Ser a memória da sociedade
Peucer, 2004 (1690); Jobim, 1957; Dines, 2009 (1974); Benetti, 2010; Zelizer, 2014
Trazer a verdade
Barbosa (1920) apud Pereira, 2005; Lippmann, 2008a (1920); Park, 2008b (1940); Bond, 1959 (1954); Dines, 2009 (1974); Schudson, 2010 (1978); Cornu, 1994; Bastos, 2010; Silva, 2010
Verificar e apurar
Cornu, 1994; Kovach e Rosenstiel, 2004 (2001); Franciscato, 2005; Bastos, 2010; Anderson, Bell e Shirky, 2014
Eça de Queiroz (1866) apud Ponte, 2005; Pulitzer, 2009 (1904); Vigiar o governo e os serviços Barbosa, 1990 (1920); Bond, 1959 públicos e denunciar os abusos do (1954); Siebert et al (1956) apud poder Kunczik, 1997; Traquina, 2002; Sousa, 2002; Bastos, 2010
O apurado trabalho científico de Reginato (2016) ainda fornece um cruzamento entre as visões de jornalistas, veículos e público leitor sobre o que seria o mais relevante no papel do jornalismo. As posições estão condensadas na figura abaixo. Tabela 3: As principais finalidades do jornalismo para os sujeitos segundo Reginato (2016)
15
Embora a seleção do que é relevante e a verificação da veracidade das informações estejam colocadas em último lugar pelos sujeitos como finalidades mais importantes do jornalismo, cabe centrar nessas categorias por entender que elas se relacionam mais diretamente com os desafios postos pelos novos locus informacionais viabilizados tecnologicamente. A seleção do que é relevante se relaciona com uma atividade considerada nova, a curadoria jornalística, mas que na verdade compõe o exercício profissional e a ideia da verdade e do 16
interesse público, são cada vez mais fundamentais neste ambiente em que talvez um dos maiores fenômenos tenha sido o abandono das certezas factuais em troca da oferta ampla de percepções que colaborem com as crenças e os valores de quem consome informações. RELEVÂNCIA, ATENÇÃO E VERDADE: O QUE E POR QUE EXISTE ESPAÇO PARA UMA CURADORIA DE CONTEÚDO JORNALÍSTICO? Por muito tempo um dos aspectos mais valorizados no jornalismo foi o “furo” (informação publicada em um veículo antes de todos os outros). Com 5 bilhões de pessoas detentoras de modernos smartphones com câmeras de altas resoluções, cerca de 2 bilhões de usuários no Facebook, 1 bilhão no Instagram e 383 milhões no Twitter no mundo, correr atrás de um furo é tarefa quase impossível. No jornalismo moderno, o pódio não é de quem conta primeiro, mas sim, de quem contar melhor. Esse melhor inclui verdade, interesse público e modos narrativos atraentes e capazes de garantir atenção pública em ambientes com excesso de informação. São esses conceitos em análise a seguir. Narrativas atraentes Um dos cenários mais provocantes propiciado pela cibercultura deságua em um desafio instigante para os jornalistas, comunicadores e geradores de conteúdo contemporâneos, construir dinâmicas de atenção na recepção de mensagens, considerando, particularmente, o inflacionado cenário midiático. Há um excesso de informação, das mais variadas fontes e formatos, nem sempre distribuídas de forma que facilitem ao leitor encontrar o que é relevante e/ou de seu interesse. Dentro desse espectro surge uma nova funcionalidade para o jornalista, de ser o responsável por essa organização do conteúdo, realizando um trabalho de gatekeeper do conteúdo já publicado. O modo como um espectador dedica sua atenção para acompanhar a uma narrativa e como pode estar disponível para ser afetado por um conteúdo noticioso, abrem espaço para um novo cenário de atuação de profissionais comunicadores, a busca pela atenção do consumidor. O cenário exposto no parágrafo anterior embasa a necessidade do jornalista do século XXI trabalhar com um ambiente informacional voltado a nichos. Há um fluxo intenso de informações e conexões, o que se por um lado aumenta o potencial de acesso aos mais variados conteúdos, também torna mais complexo encontrar e 17
partilhar conteúdos específicos e relevantes. É importante, portanto, compreender a lógica e as especificidades deste universo digital denominado de ciberespaço. O ciberespaço, conforme Levy (1999), é o novo meio de comunicação oriundo da interconexão mundial dos computadores e que abriga em si toda a infraestrutura da comunicação digital, o universo de informações nele contido, bem como, os seres humanos que navegam por essa rede e dela se alimentam. O ciberespaço e seu avanço é norteado por três fundamentos básicos: a interconexão, a formação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. A interconexão, é um preceito elementar tendo em vista ser a força maior na origem do ciberespaço, um não existe sem o outro. Seu princípio é de tudo e todos conectados, seres e coisas. A interconexão “constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras”, abre um campo vasto de informações e insere seres e coisas no mesmo universo de comunicação interativa. Apoiada na interconexão, as comunidades virtuais “são construídas sobre afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos, em um processo mútuo de cooperação e troca” (LÉVY, 1999, p.12). Por fim, pode ser apontado como objeto final do ciberespaço, a inteligência coletiva. Por conseguinte, de ser um tipo de inteligência compartilhada oriunda da colaboração de muitos indivíduos em suas diversidades. “É uma inteligência distribuída por toda parte, na qual todo o saber está na humanidade, já que, ninguém sabe tudo, porém todos sabem alguma coisa” (LÉVY, 2007, p. 212). De forma paralela ao ciberespaço tem origem a cibercultura, que de acordo com o autor, é “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 1999, p. 17). Simultaneamente à cibercultura, outro fenômeno latente é a virtualização. O autor conceitua o virtual como sendo um campo real e cujo território ocupa um espaço físico, o computador, que passa a ser o agente dessa virtualização. No entanto, é necessário que se note a diferença entre ciberespaço e internet. A internet é apenas uma parte do ciberespaço, podendo ser considerada a base comunicacional que sustenta o ciberespaço, no entanto é apenas uma de suas infraestruturas. Englobado no ciberespaço, parte integrante e praticante da cibercultura, bem como, das comunidades virtuais e contingente da inteligência coletiva está o internauta. Com o crescimento do ciberespaço e da cibercultura e a 18
solidificação da estrutura comunicacional que sustenta o ciberespaço, a internet, o internauta, cotidianamente está mergulhado em um universo global de novos vínculos comunicacionais e produção de informação. De acordo com Martinuzzo (2014), vive-se uma “realidade de hipercomunicação”, o que gera uma abundância de estímulos para um volume restrito de respostas a esses estímulos, seja pelo indivíduo ou pelo coletivo. O autor ainda destaca que não apenas a capacidade de gerar informações aumentou de forma extraordinária, como também, a distribuição destas informações. Para o receptor envolto em um grande volume de estímulos informacionais, das mais variadas nuances e origens, saber o de que fato é conhecimento e não apenas informação, tornou-se uma árdua tarefa. Na outra ponta, para o emissor, disputar a atenção de seu interlocutor nesta miscelânea informacional é um ofício laboroso. Em um ambiente de informação cada vez mais abundante e disperso, Martinuzzo (2014) destaca que a atenção se tornou “a alma do negócio”. Na fartura de informação, reina a miséria da atenção. A atenção humana é limitada em face de sua capacidade cognitiva, nenhum ser humano é capaz de absorver toda a informação que lhe chega diariamente. E em um espaço de enorme competição em todos os setores a atenção do receptor se tornou uma “commodity ou moeda das mais disputadas”. Para tal preceito, a curadoria se torna um campo fértil de exploração, tendo em vista ter na sua base de a- tuação trabalhar realizando a maximização do tempo do usuário, reorganizando e qualificando o conteúdo e separando o que realmente importa a fim de ser um aliado na melhor utilização da atenção tão escassa do leitor. Em face do cenário descrito, de acúmulo diário de estímulos informacionais das mais variadas vertentes e a impossibilidade do usuário de absorver e dar resposta a estes estímulos, Martinuzzo (2014) propõe como solução à crise de atenção, a customização da comunicação. Conforme o autor, estas mídias customizadas devem ser elaboradas sob medida e dentro de uma política de comunicação em rede, com público preciso e conteúdo específico. O autor sugere algumas ações como determinantes para conquista e manutenção da atenção: promover comunicação dinâmica, com novidades constantes, contar histórias cativantes que toquem de alguma forma os públicos de interesse e sejam verídicas, estruturar 19
narrativas em partes e de forma lógica, oferecer possibilidades de acesso não linear aos conteúdos, garantindo uma navegação personalizada, promover a interação e a participação dos públicos nas construção dos diálogos, de forma dialógica e multimídia, localizar as narrativas em processos que tenham objetivos maiores, como ampliar conhecimento, obter qualidade de vida, etc. E, por fim, investir no desejo ininterrupto por mais doses do seu conteúdo. Ainda dentro deste âmbito, cabe destacar que mais que produzir um conteúdo distinto ou de nicho é essencial que este esteja intimamente interligado à gama de interesses dos destinatários e o alcance de forma efetiva e sobretudo que essa comunicação seja dialógica. Para tal, é necessário amplo conhecimento dos públicosalvo, seus interesses, hábitos e formas de consumo de informação. As mídias customizadas são a soma do conteúdo produzido mais a plataforma enquanto meio de distribuição (difusão). Para que esse serviço tenha valor para o público a quem se quer alcançar é de suma importância saber como e o que falar e, principalmente, com quem se fala, aponta Martinuzzo (2014). Na economia da atenção, é fundamental saber o “endereço certo”, conhecer com quem se está comunicando é determinante para a eficácia de qualquer estratégia comunicacional. Do contrário, a mensagem poderá se perder em meio ao acúmulo de informações a que o receptor é submetido diariamente. Desta forma, é vital conhecer de forma precisa o público de interesse de forma a estabelecer uma comunicação dialógica. A segmentação é outro ponto crucial no processo de customização da mídia. É primordial traçar parâmetros e condicionantes de comportamento, realizando uma “espécie de escaneamento socioeconômico e político-cultural”, indica Martinuzzo (2014). Isto permitirá o fracionamento em grupos menores, simplificando e assim tornando mais efetiva a comunicação e por consequência obter a atenção do receptor. Diante deste desafio, as pesquisas têm papel basilar nesta construção. São elas que irão propiciar a aferição e o diagnóstico das segmentações presentes na esfera dos públicos-alvo. Tais pesquisas devem deixar claro quais são os conteúdos de interesse do públicoalvo, bem como, a melhor forma de comunicá-lo, para, desta maneira, de forma customizada produzir conteúdo de seu interesse e, assim, despertar, captar e manter a atenção do receptor.
20
As narrativas devem ser levadas em consideração na hora de customizar esse conteúdo. Elas podem ser: jornalísticas, publicitárias, publieditoriais, de entretenimento, de infotretenimento e advertaiment. Todas devem ser utilizadas conforme o interesse do público a quem se deve comunicar. As plataformas impressa, audiovisual e digital multimídia também, devem ser ajustadas conforme público. Em uma comunicação cada vez mais integrada, os conteúdos com as adaptações propícias, conforme público e interesse, podem circular por diferentes plataformas, de modo integrado e/ou complementar. O jornalista curador: lapidando informação Conforme detalhado, estamos diante de um cenário nunca antes visto de excesso de informações. São narrativas diversas de inú- meras fontes e muitos formatos. Saad e Bertochi (2012) afirmam que “os indivíduos se tornaram grandes acumuladores de fatos e informações, mas já não conseguem desenvolver um pensamento crítico e profundo sobre um fato”. As autoras chegam a afirmar que a era digital criou a “ignorância bem informada”. Importante é o que importa, mas o leitor médio por inúmeros fatores, tais como, falta de tempo e/ou desconhecimento sobre ou ainda levado por manchetes “caça clique” ou induzidos por algoritmos não sabe ou não consegue realizar essa diferenciação. No período pré-internet as informações eram claras e localizadas de forma concreta, o que permitia a construção sólida do conhecimento através do árduo trabalho de estudiosos que se tornavam especialistas no assunto. Hoje, as informações estão espalhadas de forma difusa, bagunçada, elaboradas por ama- dores, plagiadores e pessoas cujo indicativo de bom conteúdo é o número de curtidas nas redes sociais. Jeff Sonderman, analista do Poynter Institute apontou três tendências para o jornalismo a partir de 2012, são elas: Narrativas para além do texto autoral. O público como colaborador na captação da notícia. A tendência é que as notícias sejam narradas pela sociedade por meio de um jornalista, que assume então o papel de ouvinte desta sociedade e de curador deste conteúdo. Uso do Facebook e outras plataformas de mídias sociais como o melhor meio de transmissão de notícias. Como principal meio de acesso a informação o uso predominante de tablets e e-readers, representando a mobilidade do leitor. (SONDERMAN, 2011 apud SAAD; BERTOCHI, 2012, p. 133)
Ao realizar um recorte para terras brasileiras, podemos afirmar 21
que a tendência de Sonderman se confirma. Segundo o IBGE, dos 116 milhões de usuários ativos de internet no Brasil, no ano de 2016, 94,2% utilizaram a internet para troca de mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos, o que inclui redes sociais como Facebook, e aplicativos de mensagens como Whatsapp. Este número apresentou um potencial crescimento, em 2005 era de 68,6%. Dentro deste espectro o aparelho celular consolidou-se como principal meio de acesso à internet, 94,6% dos usuários afirmam ter realizado o acesso por este aparelho. Nessa nova realidade, o jornalista percorre caminhos que vão entre a superabundância de informações até o dever de narrar os fatos à sociedade, passando pelo aprendizado tecnológico constante, predomínio de dispositivos móveis, localização da audiência e ainda a presença do velho leitor analógico. Para suprir a tudo é necessário organização, contextualização, mobilidade, disponibilidade, investimento financeiro, corporativo e intelectual e a descoberta de novos formatos narrativos, conforme aponta Saad e Bertochi (2012). As autoras ainda destacam que embora as máquinas sejam capazes de processar mais rapidamente e melhor esse excesso de informações, o jornalismo e seus profissionais são indispensáveis por pelo menos dois motivos: nenhum robô consegue conversar como um humano, interagindo de forma natural e estabelecendo empatia, como outro humano poderia gerar. Robôs inteligentes tem suas ações baseadas no comportamento do usuário, dando a eles informações que ele próprio deseja. Em síntese, os robôs respondem a estímulos e mostram ao usuário aquilo que ele quer ver, mas não necessariamente o que ele precisa ver. Os gatekeepers passam a ser os algoritmos, ele quem decide o que o usuário irá ler, assistir, ouvir, interagir, conforme o que ele julga relevante. O que acaba por gerar o que Eli Pariser (2011 apud SAAD; BERTOCHI, 2012, p. 136) definiu como the filter bubbles, na tradução literal, bolha de filtro, provocando desta forma o isolamento intelectual do usuário. Esse é um processo que vai na contramão dos anseios da comunicação social como um todo, sendo a antítese dos preceitos jornalísticos que possuem como conceito basilar a diversidade de fontes, pontos de vista, recortes e perspectivas, fundamentais para construção do conhecimento enquanto sociedade e para descoberta de novas visões de mundo. Conforme Saad e Bertochi (2012) afirmam, o “curador de
22
informação é aquele que faz uso das ferramentas, associadas a filtros e plataformas que facilitam a atividade de agenciamento, gerando uma inteligência distribuída”. As autoras destacam que a curadoria humana é capaz de agregar para o usuário “novas e inusitadas perspectivas à informação”, expandindo assim, seu próprio entendimento de mundo. A ação de curadoria jornalística está atrelada a três pontos: interconexão de mídias, seleção de públicos/audiência e incorporação de valor. A interconexão midiática está lincada ao potencial de transitar por vários domínios do remediar. Por sua vez, a seleção de públicos/ audiência, versa com o estabelecer relações interpessoais pró-ativas e, a principal, está no agregar valor ao conteúdo, com a capacidade intelectual e informativa para realizar a curadoria de modo exclusivo e singular. A expertise do profissional curador da informação, somada aos algoritmos-curadores, parceiros do comunicador, irão gerar um conteúdo apurado que irá unir as preferências informativas do usuário com as ações específicas do curador, sua vivência e relação com o ambiente e a sociedade. Desta forma, ofertando ao usuário uma informação que irá gerar conhecimento e permitirá o alargamento de sua visão de mundo. Verdade, checagem e interesse público Reginato (2016) chama a tenção para o fato de que apesar da evolução tecnológica existem valores inegociáveis e fundamentais na discussão sobre as finalidades que o jornalismo deve cumprir para demarcar sua distinção em relação a outros gêneros. A autora observa que o jornalismo precisa ser guiado por princípios se pretende cumprir suas finalidades. Esses princípios se caracterizam em um primeiro objetivo de oferecer o presente social (GOMIS, 1991; FRANCISCATO, 2005), reconstruindo cotidianamente os eventos que dizem respeito ao homem. Esta realidade construída e narrada cotidianamente está em disputa nos modos como circulam conteúdos pretensamente informativos. A diferença fundamental na oferta técnica que o jornalismo faz é que ele pode ser considerado um sistema perito (MIGUEL, 1999), o que implica a crença, por parte do público, em sua competência especializada. A credibilidade deriva da percepção (histórica e social) de que o jornalismo é uma prática autorizada a narrar a realidade (SERRA, 2006). Assim, quando entendemos que o jornalismo
23
implica reciprocidade, ainda que assimétrica, das relações entre os jornalistas, os veículos e os leitores (GENRO FILHO,1987); quando consideramos que os aspectos tecnológicos têm relação com o papel social que as notícias desempenham em cada época (FRANCISCATO, 2005) e, num contexto de jornalismo em rede (HEINRICH, 2011), interações com novos sujeitos tensionam o campo jornalístico. (REGINATO, 2016, p.16)
Ao problematizar o papel social do jornalismo, o trabalho de pesquisa de Reginato (2016) mostra que aparece no discurso dos jornalistas a percepção de que, em tempos de instantaneidade da notícia, é maior a exigência para que o jornalismo cumpra sua finalidade ou suas finalidades – e aumenta também o questionamento sobre que finalidade é essa que o jornalista cumpre e sobre se ele de fato a cumpre de maneira correta. A ideia dominante de que cabe ao jornalismo trazer a verdade é trabalhada por diferentes autores2. No entanto, a verdade, objeto da filosofia há séculos, não é uma questão pacífica e compreendida de igual modo por todos. Controversa filosófica que impede que exista uma teoria geral ou completa. Aplicada ao jornalismo, a tendência é de reduzir a verdade a um imperativo ético, um princípio vinculado a um ideal de honestidade ou credibilidade do repórter e de suas fontes. Se o Jornalismo não trata apenas de opiniões ou juízos de valor, mas procura relatar imparcialmente fatos ou acontecimentos, não poderá escapar a questionamentos epistemológicos formulados também, na esfera filosófico-científica, propõe Tambosi (2007). Todavia, esclarece o autor, parece razoável pensar, como propõe Nozick (2003), que “nosso interesse originário em relação à verdade tenha um fundame0nto instrumental”. Para escapar aos perigos do mundo e colher as oportunidades que ele oferece, certamente as verdades foram mais úteis que a falsidades. As três teorias tradicionais, conforme o autor, (a verdade consiste na correspondência entre proposição e realidade; a verdade é resultado da coerência entre proposições; a natureza da verdade é pragmática) não são antagônicas. “Afinal, em todas elas, verdadeiro é aquilo que satisfaz alguma relação de adequação” (Ibdi, 2007). Isto significa que a teoria da correspondência, apesar de todas as objeções contra ela levantadas,
2 Ver em Barbosa (1920) apud Pereira, 2005; Lippmann, 2008a (1920); Park, 2008b (1940); Bond, 1959 (1954); Dines, 2009 (1974); Schudson, 2010 (1978); Cornu, 1994; Bastos, 2010; Silva, conforme mapeia Reginato (2016)
24
tem se revelado a mais resistente historicamente. Para Tambosi (2007), a teoria da correspondência seria a que mais se aplica ao jornalismo, tendo em vista que este, tanto quanto a ciência, postula uma relação entre linguagem e realidade. À atividade jornalística é insuficiente a simples coerência entre proposições ou afirmações. Tampouco se pode avaliar uma notícia, que é o relato de um determinado fato ou acontecimento, pelo exclusivo critério de utilidade, ainda que a informação possa ser útil. O jornalismo se situa no plano linguagem-mundo, discurso realidade – ou seja, não é auto-referencial –, posição que compartilha epistemologicamente com as ciências. Se fosse um ramo da literatura, bastar-lhe-ia a coerência entre enunciados. À ficção basta a coerência, mas o jornalismo não é ficção. Como seu imperativo ético é a verdade, que não pode ser um mero ideal, necessariamente ele terá que se defrontar com as teorias da verdade – e a da correspondência (dos relatos com os fatos) parece ser a mais adequada ao campo jornalístico. (TAMBOSI, 2007, p. 40)
Não há como garantir de que as afirmações ou “discursos” sejam verdadeiras a priori no jornalismo. Conferir as informações para alcançar a verdade, ainda que aproximativa, e por mais problemático que se seja estabelecer “qual a melhor apreensão e interpretação de um fato”, deve ser objetivo permanente do jornalista, embora nesse processo de escolha seja necessário admitir que algumas dentre as apreensões e interpretações concorrentes são decididamente falsas (GOMES, 1997). Nem todos os “discursos” estão em pé de igualdade. O jornalista, assim como o leitor, frequentemente só tem condição de saber se o que disse um entrevistado corresponde aos fatos muito tempo depois da entrevista, principalmente quando se trata de denúncias, que demandam investigações. Obviamente, as denúncias serão verdadeiras se corresponderem aos fatos; falsas, se não corresponderem. No ambiente torrencial de informações e de instantaneidade esse processo se torna árduo, difícil, penoso e incompleto. Não por acaso surgem novas funcionalidades no campo, com agências de checagem que possam garantir que os discursos das fontes jornalísticas são verdadeiros. Campanhas dos grandes veículos de referência buscam alertar para a credibilidade que só poderia ser ofertada pelos veículos de imprensa. “Verdade. Nunca foi
25
tão importante como agora” e “Verdade. É vital para a democracia”, são campanhas publicitárias recentes assinadas pelo Jornal norteamericano The New York Times. No Brasil, 24 veículos jornalísticos coordenados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), lançaram o Projeto Comprova3, nascido a partir do First Draft e lançado oficialmente no congresso da entidade, realizado em São Paulo neste ano. O objetivo é monitorar e verificar conteúdos de redes sociais e sites que abordem temas políticos durante o período eleitoral. No entanto, a iniciativa também despertou críticas públicas de pesquisadores que consideram muitas vezes o fact checking com papel ideológico de legitimação da narrativa dominante e o projeto Comprova, especificamente, como uma iniciativa de construção de verdade em circuito fechado. “Exatamente no momento em que a credibilidade da grande imprensa desceu a zero, surge uma iniciativa para construir credibilidade na marra, através de instituições cujo papel é atestar credibilidade. Agentes que não pertencem ao circuito fechado serão marginalizados e potencialmente punidos: com invisibilidade pelo Faebook, com investigações pela Polícia Federal, com sanções eleitorais pelo TSE”, argumenta o pesquisador Afonso Albuquerque, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em lista de discussão de pesquisadores em política e comunicação (2018), classificando o projeto como um aparato de construção da verdade. A verdade como princípio ético no jornalismo é uma categoria estruturante do dever ser jornalístico e se coloca ao lado de outro princípio igualmente importante e polissêmico: o interesse público. Essa noção vai regular, inclusive, a defesa de iniciativas que buscam combater as falsidades espalhadas em grande parte no ambiente di- gital e justificar o papel de veículos e agências preocupadas em restaurar a informação correta. Contudo, a defesa do interesse público se presta às mais diversas interpretações e usos. É argumento 3 O projeto original é uma iniciativa da Harvard Kennedy School, nos Estados Unidos, que treina jornalistas contra a disseminação de notícias mentirosas no ambiente digital e realiza pesquisas sobre o tema. No Brasil, o Comprova conta também com apoio do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), e é financiado pela Google News Initiative e pelo Facebook Journalism Project. Os veículos de mídia participantes são Band, Correio, Correio do Povo, Estado de S. Paulo, Exame, Folha de S.Paulo, GaúchaZH, Gazeta Online, Gazeta do Povo, Jornal do Commercio, Metro Brasil, Nexo Jornal, Nova Escola, NSC Comunicação, O Povo, Poder360, Revista Piauí, SBT, UOL e Veja. Acessível em http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/2018/06/29/projeto-comprova-reune-24-veiculos-contra-fake-news.html, em 06/08/2018
26
recorrente pelo qual sujeitos e instituições buscam convencer o cidadão de seus atos. Sartor (2016) alerta que o uso do termo é naturalizado, como se ele portasse um sentido unívoco, evidente e compartilhado por todos, como um sinônimo para bem comum ou vontade geral. Entretanto, para diversos teóricos das ciências sociais4, a noção de interesse público é ambígua, polêmica, confusa, vaga ou mítica, embora sua força como princípio normativo e capaz de provocar efeitos reais resida na ausência de definição ou na aparência de algo consensual e evidente. Associada à comunicação, Sartor (2016), para efeitos de análise, propõe dois níveis principais e inter-relacionados para o interesse público. No nível temático-factual, o tema funciona como um elemento simbólico-agregador, que singulariza um público em concreto e motiva a aproximação de indivíduos, provocando um interesse compartilhado. Já no nível propositivo, determinada proposição, posição ou projeto que busca solucionar um problema vai caracterizar temática ou acontecimento que origina o debate público. No processo de produção social do interesse público, o atributo da racionalidade mistura-se às ações de barganha e estratégia, assim como tendem a se confundirem motivações públicas e privadas. Nas sociedades modernas convivem ou se combatem valores inconciliáveis, de validade relativa de acordo com os diferentes grupos sociais. É por essa razão que resulta impossível estabelecer um critério objetivo de definição de interesse público; ao invés disso, o que se pode buscar é uma deliberação o mais livre e inclusiva possível”. (SARTOR, 2016, p. 344)
Se há essa dificuldade em estabelecer de modo inequívoco uma definição de interesse público, cabe ao jornalismo, para além de buscar as duas dimensões das temáticas e das proposições para a resolução de problemas, apostar, como sugere Sartor (2016), na perseguição de valores como transparência, racionalidade e reconhecimento, porque estes constituem o horizonte ético da construção do bem comum. CONCLUSÃO Questões
diversas,
teóricas
e
factuais,
decorrem
das
4 Sartor menciona Schubert, 1967; Sorauf, 1967; Leys,1967; McQuail,1998; Bobbio,200; Maia,2011.
27
transformações causadas pela digitalização de tecnologias de comunicação. Neste texto, a partir do desafio de pensar uma alternativa de atuação e um modelo de negócios para o jornalismo profissional, surgiram imbricações teóricas que fazem convergir na mesma encruzilhada conceitos clássicos e estruturantes do campo e noções revisitadas, que buscam pistas explicativas para fortalecer empreendimentos jornalísticos em meio a um cenário de crise. Ao mesmo tempo em que há uma forte indicação teórica para o desenvolvimento de novas práticas e a revisão de finalidades há o reforço de princípios norteadores que ao longo dos anos cimentaram os preceitos éticos e deontológicos da profissão, como a busca da verdade, a construção e a narração da realidade baseadas na busca da verdade e sob o interesse público. A tecnologia, entendida como a combinação entre dispositivos técnicos e instruções que os fazem funcionar, sempre foi na história do desenvolvimento da humanidade e dos seus modos de comunicar, um dos fatores fundamentais. Cabe ressaltar que os novos ambientes e arquiteturas informacionais obedecem lógicas que exigem inovações jornalísticas. Esta reflexão não adentrou na possibilidade de antever um futuro automatizado, com notícias geradas por softwares, mas centrou sua análise nos princípios e categorias a respeito do papel e das finalidades do jornalismo e dos jornalistas, sujeitos necessariamente em busca de novas identidades e reconhecimento. Se as transformações tecnológicas que ocorreram de forma acelerada forçaram os jornalistas a atualizar suas técnicas, também é verdade que cabe à sociedade autorizar em termos muito claros, exigentes e responsáveis a quem cabe narrar e descrever o mundo? Sob que valores e para quais propósitos. De que forma as novas oportunidades geradas pelas tecnologias mudam os processos de busca e validação da verdade, os modos de seleção e distribuição de informação. Por ora, são mais indagações que respostas, até porque estamos vivenciando as mudanças. Empreender novas práticas nesse ambiente é um desafio que ao mesmo tempo em que busca gerar soluções mercadológicas, alimenta a agenda de pesquisa no campo. REFERÊNCIAS ARAUJO, R. F. Atores e ações de informação em redes sociais na internet: pensando os regimes de informação em ambientes
28
digitais. Datagramazero (Rio de Janeiro), v. 15, p. 1-16, 2014. Disponível em: <https://dx.doi.org/10.6084/m9.figshare.3383263.v1> Acesso em: 07 mai. 2018. CANAVILHAS, João. Da remediação à convergência: um olhar sobre os media portugueses. Disponível em: < https://bjr.sbpjor.org. br/bjr/article/viewFile/369/362> Acesso em: 31 mai. 2018. CORNU, D. Jornalismo e verdade. Lisboa: Instituto Piaget, 1994 GOMES, W. “Verdade e perspectiva (A questão da verdade e o fato jornalístico), Textos, n. 29, Salvador, UFBA, 1997, p. 63-83. LEVY, Piérre. Cybercultura. Editora 34, 1999. Tradução: Carlos Irineu Costa, Coleção Trans. LINDEN, Carl Gustav- Algoritmos para jornalismo: o futuro da produção de notícias- Texto originalmente publicado em inglês no The Journal of Media Innovations, 4.1, 2017, com autorização do autor e do periódico-Revista Líbero Edição 41- JAN. / JUN. 2018 | ISSN: 25253166 | Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero. LOBO, Tiago. 1º de Junho: será o dia D da imprensa? 2018. disponível em: <http://multiversoipa.metodistadosul.edu.br/multiverso/noticias/ geral/749-junho-sera-d-imprensa> .Acesso em: 04 ago. 2018. MARTINUZZO, José Antônio. Os públicos justificam os meios: mídias customizadas e comunicação organizacional na economia da atenção. São Paulo: Summus, 2014. REGINATO, Gisele Dotto. As finalidades do jornalismo: o que dizem veículos, jornalistas e leitores- TESE. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação. URI http://hdl.handle.net/10183/140809 SAAD CÔRREA, Elizabeth; BERTOCHI, Daniela. A cena cibercultural do jornalismo contemporâneo: web semântica, algoritmos, aplicativos e curadoria. Matrizes, vol.5, núm. 2, janeiro-junho, 2012, 29
pg. 123-144. Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=143023787006> . Acesso em: 15 abr. 2018. SARTOR, Basilio Alberto; BALDISSERA, Rudimar. A noção de interesse público e a perspectiva da comunicação. Pesquisa, Comunicação, Informação, organizadores Nísia Martins do Rosário e Alexandre Rocha da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2016. TAMBOSI, Orlando. Jornalismo e teorias da verdade. Intercom – Revista Brasileira de Ciências da Comunicação 40 São Paulo, v.30, n.1, p. 35-48, jan./jun. 2007
30
Capítulo 2 DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO DE JANEIRO: A COBERTURA CARNAVALESCA DOS PORTAIS SRZD, O DIA E EXTRA Édson Luís Dutra
O desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro é um dos cartões de visitas mais famosos do Brasil. A manifestação cultural, tida por muitos como ópera ambulante, atrai turistas do mundo inteiro e representa o ponto alto do carnaval brasileiro. Por ser um espetáculo de importância cultural, social e econômica para o país, fez-se necessário mostrá-lo para o público nacional e internacional. Rádio e televisão já fazem a cobertura dos desfiles há mais de 40 anos. Ultimamente, a internet tem assumido papel de destaque na cobertura carnavalesca, também agindo como ponto de interligação entre as outras mídias. A gama de veículos atuando na cobertura dos desfiles, faz com que as escolas de samba, protagonistas do espetáculo, ga- nhem, consequentemente, maior visibilidade. O presente artigo tem como objetivo verificar como o site especializado SRZD e os sites dos jornais O Dia e Extra apresentaram os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, no Carnaval de 2018. O presente trabalho tem como procedimento metodológico a pesquisa exploratória e descritiva, em uma abordagem qualitativa (GIL, 2002). A pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental são as técnicas de coleta utilizadas na colta dos dados (MARCONI; LAKATOS, 2003). Para a apresentação, análise e interpretação dos dados, opta-se pela análise de conteúdo categorial (BARDIN, 2011).
31
O CARNAVAL NO BRASIL Sendo a capital do país desde a metade do século XVII, o Rio de Janeiro concentrava boa parte das novidades vindas da Europa, além de negros africanos vindos de seus países de origem. Essa mistura de culturas transformou a capital nacional na síntese da cultura popular do país (CABRAL, 2011). Valença (1996) ressalta que o Carnaval chegou ao Brasil através dos portugueses ainda no século XVII, sendo o entrudo a primeira manifestação carnavalesca no país. Tido inicialmente como brincadeira, mas com essência de desordem, o entrudo, ao mesmo tempo que alegrava boa parte do público, negro e pobre, provocava rejeição de classes mais altas, brancos e ricos. No século XIX, surge o Zé Pereira, grupo carnavalesco que desfilava pelas ruas tocando zabumba, que produziam barulhos elevados. De acordo com autora, o Zé Pereira introduziu uma nova maneira popular de brincar o carnaval, de forma organizada. Conforme Cabral (2011, p. 17), “os brancos da emergente classe média e da aristocracia divertiam-se à européia nos bailes de máscara” e também nas grandes sociedades, que saíam às ruas em pequenos desfiles como no carnaval europeu. Concomitantemente, surgiam os cordões, uma forma de brincar o carnaval em grupo e que reunia tanto foliões de bairros mais nobres quanto pobres e ex-escravos. Durante muitos anos, os cordões tornaram-se a grande atração do carnaval carioca (VALENÇA, 1996) Já no final do século XIX, surge aquele que é tido como embrião da escola de samba: o rancho. A chegada dos ranchos ao carnaval carioca mudou a forma de se enxergar a folia na cidade. A imprensa dividia os festejos em “grande carnaval”, realizado pelas grandes sociedades e o “pequeno carnaval”, feito pelos grupos carnavalescos de classes mais baixas, como os cordões e blocos, e posteriormente, as escolas de samba (CABRAL, 2011). Os elementos mais característicos dos ranchos (porta-estandarte, o baliza, o grupo de percussão, o cortejo organizado em grupos fantasiados uniformemente) foram incorporados por uma nova manifestação carnavalesca, que em pouco tempo, se tornaria a maior marca do carnaval carioca: as escolas de samba. A primeira escola de samba a surgir no carnaval - não apenas se tratando do Rio de Janeiro, mas no país como um todo - foi a Deixa Falar, que na verdade foi criada como bloco em 1928, no bairro do Estácio, na subida do morro de São Carlos.
32
A partir da criação da Deixa Falar, outros bairros, redutos de sambistas, também criaram suas escolas de samba e fizeram crescer este tipo de manifestação. A Portela já existia como bloco desde 1923. Em 1929, no morro da Mangueira, surge a Estação Primeira. O primeiro concurso oficial dos desfiles das escolas de samba ocorreu em 1932. A Praça Onze, reduto do carnaval, foi o local por onde as escolas desfilaram e que teve a Estação Primeira como campeã. De acordo com Cabral (2011), os desfiles de 1932 fizeram enorme sucesso e chamaram atenção de público e crítica. Com o fim do jornal Mundo Esportivo no mesmo ano, o jornal O Globo tratou de cuidar da organização do próximo desfile, de 1933, deixando a cobertura a cargo de jornalistas que fizeram o trabalho no evento do ano anterior. Em 1934, foi criada a União das Escolas de Samba (UES), que tratou logo de reivindicar junto à prefeitura a oficialização dos desfiles, o que garantiria às escolas de samba o direito à uma subvenção, como já tinham os ranchos e grandes sociedades (CABRAL, 2011). A partir da criação da UES e da oficialização dos desfiles por parte do poder público, as escolas de samba ganharam cada vez mais espaço no cenário cultural do Rio de Janeiro, mesmo que enfrentando o preconceito da elite. Valença (1996) destaca que as escolas de samba possuem grande representatividade em suas comunidades, com ações e significância que vão além das finalidades carnavalescas. Na década de 60, o desfile das escolas de samba rompe com sua estrutura plástico visual tradicional, com a inserção dos alunos e profissionais da Escola de Belas Artes (EBA) na produção dos espetáculos nos barracões. Os enredos, até então com temas que exaltavam vultos oficiais da história nacional, mudaram a partir da apresentação do Acadêmicos do Salgueiro, com as criações de seu carnavalesco Fernando Pamplona - artista plástico e professor da EBA (CABRAL, 2011). Os anos 70 e 80 trouxeram o glamour da televisão e a ampliação dos desfiles enquanto estrutura física. As arquibancadas da avenida aumentaram para comportar um público cada vez maior, ao mesmo tempo em que as escolas cresceram. As alegorias ficaram maiores, com um número grande de componentes, o samba passou a ser um pouco mais acelerado, menos cadenciado, para que a apresentação ocorresse dentro do tempo previsto no regulamento. É nesta época que desponta o talento de Joãosinho Trinta como carnavalesco (CABRAL, 2011). Cunha (2015) salienta que Oscar Niemeyer, em 1983, teve a
33
incumbência de projetar um espaço permanente e definitivo para a apresentação das escolas de samba. A Avenida dos Desfiles foi inaugurada no carnaval de 1984. No mesmo ano, as escolas de samba criam a LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba), organização que passou a responder oficialmente pelas escolas de samba do Rio de Janeiro e pelos desfiles do carnaval no sambódromo. Para Valença (1996), o desfile das escolas de samba, hoje, evoluiu para um grande espetáculo de massa, onde as escolas ocupam o sambódromo durante todo os quatro dias de carnaval. A autora ainda destaca que o apelo comercial gerado pelo espetáculo arrecada milhões e afeta também indiretamente a economia da cidade. Com o crescimento do carnaval, aliado ao trabalho de cobertura dos veículos de comunicação, o desfile das escolas de samba atingiu um patamar único na cultura brasileira. As escolas ganharam a Cidade do Samba, em 2005, um espaço com mais de 100 mil metros quadrados, onde 14 galpões abrigam todas as estruturas das escolas para a produção dos desfiles. JORNALISMO CARNAVALESCO No Rio de Janeiro do século XIX, capital do país, o carnaval já ganhava pequenos registros nas páginas dos jornais. O J ornal do Brasil foi o primeiro impresso a ter uma coluna especializada em carnaval, a chamada P ródomos da Folia (BALTAR, 2016). A virada do século e a modernização da imprensa, impulsionou a produção jornalística e, consequentemente, o carnaval acabou entrando no filão de notícias de interesse popular. A divisão de trabalho advinda do desenvolvimento industrial faz surgir um profissional com uma função específica dentro do processo produtivo. Esse jornalista teria de acompanhar toda a movimentação referente ao carnaval. Surge o cronista carnavalesco. Francisco Guimarães (Vagalume) foi o primeiro cronista carnavalesco de prestígio. Nos anos 1910, apareceu como militante da cultura negra e defendeu o carnaval proletário da Cidade Nova, da Zona Sul e dos subúrbios da repressão policial (BALTAR, 2016). Coutinho (2004) corrobora, salientando que o papel do cronista carnavalesco contribuiu para a expansão da cultura do carnaval, não apenas na cidade do Rio de Janeiro, mas também por outras praças do território nacional. Sua coluna, capaz de aumentar extraordina- riamente a tiragem do jornal, teve um papel importante 34
na transformação do carnaval popular - marginalizado e reprimido no início do século - em expressão da nacionalidade brasileira. Diferentemente da relação atual, no início, carnaval e imprensa mantinham uma relação de troca importante para ambos. Assim como a imprensa enxergava no carnaval a oportunidade de falar para um público cada vez mais heterogêneo, o carnaval via na imprensa a chance de se firmar enquanto manifestação cultural e social legítima, através dos registros feitos pelos cronistas (SOUSA, 2006). Segundo Baltar (2016), a oficialização do carnaval, na década de 30, pelo governo de Getúlio Vargas, qualificando-o como item da identidade cultural do país e o crescimento do rádio como meio de comunicação de massa, faz a cobertura carnavalesca ganhar ainda mais força. Os jornais passaram a divulgar também os ensaios, apresentações e eventos das escolas de samba, blocos, ranchos e cordões, as principais vertentes representativas do carnaval carioca até metade do século XX. A década de 70 marca a chegada de peso da TV aos festejos do carnaval, principalmente com a cobertura dos desfiles das escolas de samba. Sousa (2006) salienta que, nesta época, a televisão começa a sua influência de forma direta na estrutura dos desfiles das escolas de samba, contribuindo para a sua espetacularização. Mas o período também representa o declínio da crônica carnavalesca no jornalismo impresso. Se no jornalismo impresso o carnaval ia perdendo espaço, na TV e no rádio ele começava a ganhar mais destaque, principalmente pelo seu entendimento, por parte dos empresários, de que os desfiles das escolas de samba poderiam ser algo rentável. Além da influência midiática da TV, a modernização social (comportamental, tecnológica, econômica) também atingiu a estrutura das escolas de samba e do próprio desfile. Isso trouxe alterações em seus alicerces básicos, como o próprio samba-enredo, que se tornou mais ágil e com letras mais curtas, atendendo à uma demanda comercial, ainda que de uma forma tímida (PADRÃO, 2007). Para Padrão (2007, p.17), “a escola de samba passa, agora, a ter um caráter mercadológico, tornando-se fonte de renda”, a partir da exploração maciça da TV, que transforma o desfile das escolas de samba em atração turística e também produto para exportação, através de suas transmissões. Para Baltar (2016), os artistas carnava- lescos também contribuíram para o sucesso dos desfiles e sua transformação 35
em espetáculo. Com o advento da TV a cores, em 1972, o interesse do público aumentou. Com carnavalescos como Joãosinho Trinta, o desfile se verticaliza, com alegorias e fantasias mais suntuosas e luxuosas, e se torna um grande espetáculo, com audiências cada vez maiores (BALTAR, 2016). Para Padrão (2007), ao divulgar os desfiles das escolas de samba, a televisão abriu campo para diversas camadas sociais tomassem conhecimento desta produção cultural, através de um produto esteticamente interessante e de consumo generalizado para a sociedade. A autora ainda afirma que a TV transporta o carnaval para um palco simbólico de visibilidade, agora em larga escala, mesmo que com interesses meramente comerciais. Em contrapartida, o carnaval também se utiliza da TV para garantir recursos de sustentabilidade para os desfiles, ao mesmo tempo que procura criar imagens/momentos impactantes e puramente televisivos, como forma de marcar o desfile e afirmar sua a legitimação cultural. Desde o final dos anos 90, a transmissão dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro tem sido de exclusividade da TV Globo. Porém, cada vez menos o produto carnaval vem sendo explorado pela detentora dos direitos. Para Baltar (2016), o modelo de transmissão atual sofre com o excesso de roteirização, enfoque nas celebridades e não no desfile em si, com pouca exploração das técnicas e elementos que envolvem o desfile e a competição em que as escolas estão inseridas. Sendo uma manifestação cultural que acontece de forma sazonal, e cada vez menos explorada midiaticamente, os desfiles das escolas de samba foram perdendo espaço nas mídias tradicionais (rádio, jornal, TV), recebendo o devido tratamento apenas na época dos festejos (janeiro e fevereiro). Porém, a cadeia produtiva do carnaval segue sua construção ao longo de todo o ano. Sem espaço perene nos veículos de massa, o carnaval encontra na Internet um novo canal de comunicação com o grande público, criando assim um nicho comunicacional e mercadológico de forma rápida e eficiente. Sites especializados surgiram a partir da necessidade de se trabalhar as informações carnavalescas durante todo o ano e não apenas na época habitual do carnaval. As escolas enxergaram na criação de seus próprios sites uma forma de se comunicar com torcedores e com o público externo de uma forma em geral. Já os sites jornalísticos de carnaval surgem para dar voz à essa manifestação
36
que, após mais de 70 anos, voltou a ser tratada como marginalizada pela mídia e sociedade, embora siga sendo explorada comercialmente. Marinho e Carvalho (2010, p. 02) corroboram, acrescentando que A imprensa digital, nos últimos quinze anos, está num processo de evolução em busca de novas fórmulas de aproximação com o usuário/leitor, desenvolvendo planos e estratégias de participação e criando novas formas de praticar a interatividade com os seus usuários/leitores.
Alguns veículos tradicionais ainda mantém em suas publicações um espaço especial dedicado ao carnaval, porém, é no meio digital que as notícias são propagadas de forma muito mais eficaz. Segundo Baltar (2016), os sites de cobertura especializada em carnaval surgiram no final da década de 90 e meados dos anos 2000, justamente quando a internet começou a se popularizar em território nacional. O marco inicial é a página Samba Brasil, mantida pelo pesquisador e jornalista Felipe Ferreira, que congregava informações pertinentes às escolas de samba e seus enredos para o carnaval corrente. Nesta página, também se encontrava o primeiro fórum de discussões, o Samba Brasil, que foi o embrião das primeiras comunidades virtuais de aficcionados por carnaval (BALTAR, 2016). Atualmente, além dos sites, aplicativos e demais ferramentas de interação digital estão sendo utilizadas para a divulgação das escolas de samba e do desfile em si. Cada vez mais conectados, foliões também se tornam colaboradores destes veículos, ajudando assim, a manter a rede de informações sempre ativa o ano inteiro. JORNALISMO ONLINE Hoje, não se imagina os processos jornalísticos sem a utilização das ferramentas digitais. Porém, os procedimentos técnicos – e até mesmo culturais – ainda se mantém a partir da produção jornalística da mídia tradicional. A indústria cultural influenciou na forma de produção de notícias, hoje com uma visibilidade muito mais comercial do que anteriormente. Com o advento da Internet, a relação entre jornalistanotícia-público mudou, a partir do momento em que a agilidade do meio digital passou a ser fator determinante no trabalho jornalístico, influenciando, principalmente, na forma de estruturar a notícia e fazer sua difusão. Isso se deu, pois, o comportamento do público, agora também atuante no meio digital, mudou. 37
Castells (2006) destaca que as mudanças na chamada micro engenharia eletrônica proporcionaram incontáveis avanços tecnológicos e sociais no mundo, a partir do final da Segunda Guerra. Consequentemente, as telecomunicações também foram afetadas por esses avanços, que culminaram com a criação da Internet, na segunda metade do século XX, nos Estados Unidos. Anteriormente realizadas com foco em atividades militares, as pesquisas científicas dos americanos logo se misturaram com os interesses comunicacionais. Esses avanços tecnológicos modificaram não apenas a forma das organizações se comunicarem, mas também a comunicação entre os indivíduos, que passaram a conviver com termos antes ausentes de sua realidade: online (em rede) e offline (fora de rede). Isso caracteriza o rápido movimento de expansão de novos equipamentos, conceitos e interatividade que os feitos tecnológicos e científicos trouxeram para a sociedade. A interação no meio digital da Internet, Castells (2006) caracteriza como laços fracos ou fortes. Para ele, laços fracos podem ser úteis na obtenção de informações e no início de uma sociabilidade que pode ser estendida para além do online. O autor destaca ainda que “a Internet pode contribuir para a expansão dos vínculos sociais numa sociedade que parece estar passando por uma rápida individualização e uma ruptura cívica” (CASTELLS, 2006, p. 445). Salienta, também, que essa interação ganhou ainda mais força a partir do novo conceito de comunicação: o multimídia, que faz a integração de diferentes plataformas de comunicação e seu potencial de interação com os usuários. “Multimídia, como o novo sistema logo foi chamado, estende o âmbito de comunicação eletrônica para todo o domínio da vida: de casa a trabalho, de escolas a hospitais, de entretenimento a viagens” (CASTELLS, 2006, p. 450). Hoje, os veículos de comunicação investem cada vez em sua plataforma multifuncional. Produzir e veicular a notícia agora é uma tarefa múltipla, que envolve metodologias características para cada tipo de canal emissor (jornal, rádio, TV, internet). A partir deste aspecto, onde as relações que o ser humano estabelece dentro do conceito de cibercultura constituem-se de ações peculiares (mesmo que algumas destas ações sigam existindo fora da rede e influenciando, também, dentro desta bolha digital), seria inevitável a não alteração da forma de interagir também com os processos jornalísticos. A chegada da Internet ampliou o leque de possibilidades
38
informacionais, a partir do momento em que sites e ferramentas jornalísticas também passaram a atrair a atenção do público. Cada meio de comunicação acabou construindo seu perfil e características próprias para melhor difundir as informações, mas, ainda assim, mantém-se alguns critérios, obedecendo linhas para a construção da notícia a partir do fato. Se antes a produção das notícias construíase em algo quase que artesanal, onde o jornalista possuía uma veia mais literária/criativa, hoje, o fazer notícia ganha uma dimensão praticamente industrial, exigindo do jornalista objetividade, praticidade e relevância no conteúdo a ser trabalhado e informado. A partir dessa perspectiva, ressalta-se as teorias da comunicação, como o newsmaking, que possibilita um norte na elaboração e difusão da notícia, partindo de pressupostos básicos para a sua elaboração. Dentre esses pressupostos, estão inseridos os valores-notícia, que são critérios que determinam o grau de relevância da notícia, para que ela seja veiculada ou não. De acordo com Murad (2002), estes critérios são flexíveis e variáveis, além de estarem inclusos no processo de elaboração da notícia, da pauta à sua veiculação. É importante que o jornalista esteja atento aos critérios de noticiabilidade, pois ele, enquanto mensageiro da notícia, acaba sendo o responsável por traduzir o fato à realidade do público. Segundo De Araújo (2011), o jornalista, ao relatar o fato, cria uma narrativa onde nela se concentram significações que permeiam as transformações sociais. Murad (2002) ressalta que o grau de importância (quem são os indivíduos envolvidos no fato e o que se pode esperar de interesse do público neste acontecimento); a atualidade (e a probabilidade de gerar suítes); a geração de material (quanto de conteúdo se tem ou se pode produzir para sustentar a notícia, seja no impresso, no rádio ou TV); e até mesmo a exclusividade da pauta (o famoso “furo de reportagem”) são levados em conta na hora de elaborar a notícia. Destaca-se ainda a necessidade de apuração aprofundada dos fatos, através de consulta com as fontes, para depois garantir a veiculação da notícia sem erros. Pinho (2003) afirma que o jornalismo realizado na internet é diferente daquele feito pelos meios tradicionais, pois apresenta, além dos pressupostos básicos para a criação e difusão da notícia, um tratamento diferente dos dados e uma relação muito mais interativa com seus receptores. O autor ainda destaca que jornalismo online reúne em sua essência características dos demais meios de mídia (imagens,
39
sons, vídeos, ilustrações), tornando-se uma atividade promissora, mas que ainda sim, as palavras continuam sendo o ponto principal. Ferrari (2010) salienta que o principal desafio do jornalismo digital é preparar redações que captem este novo conceito jornalístico, além de desenvolver repórteres com olhar multidisciplinar, para lidar com conteúdo multimídia e noções de marketing e comércio de notícias. Moherdaui (2007) aponta algumas características do jornalismo digital: - Interatividade, onde o leitor/usuário pode interagir com o conteúdo, através de comentários, pautas do leitor, compartilhamento e hipertexto, por exemplo; - Hipertextualização, que permite ao leitor/usuário a conexão com outros textos e conteúdos sobre ou relacionados ao assunto referido na notícia; - Personalização, ou customização, que possibilita a criação de uma tela especial onde o leitor/usuário recebe os conteúdos que mais lhe agradam, de acordo com seus interesses; - Convergência de mídia, onde o fato apresentado pode ser explorado em diversas plataformas (vídeo, fotos, infográficos, áudios) além do texto tradicional; - Memória, que permite o acesso à conteúdos antigos; - Imersão, capacidade de criar uma nova atmosfera, onde o leitor/ usuário sente-se dentro do quadro criado pelo veículo; Instantaneidade e atualização contínua, refere-se ao fato do conteúdo lançado ao ar não possuir delimitação de tempo nem espaço físico. A mesma matéria pode sofrer diversas atualizações no mesmo dia ou posteriormente, ao passo de que novas informações vão chegando; - Conteúdo dinâmico, que é a união de todas as demais características, já que um site jornalístico, geralmente, as reúne em suas diversas editorias. Pinho (2003, p. 184) acrescenta que o texto para o jornalismo online deve ser bem estudado pois apresenta características diferentes do jornalismo impresso. “O texto preparado para a internet deve ser cerca de 50% mais curto do que aquele escrito para o papel” (p. 184). Para Miranda (2004, p. 69), “o texto no jornalismo online é conciso, curto e objetivo”. Porém, Moherdaui (2007) alerta que o texto para a mídia digital não deve abandonar os princípios básicos da redação jornalística, principalmente o uso do lead, na pirâmide invertida.
40
OS OBJETOS DE ESTUDO Apresenta-se, a seguir, os sites que serão analisados neste estudo. Site SRZD Carnaval O portal SRZD foi criado pelo jornalista carioca Sidney Rezende em 2006. Sua sede fica no Rio de Janeiro. Apresenta-se como um portal de notícias, reunindo diversas editorias, como entretenimento, geral e Brasil, além da seção especial de Carnaval, que virou o carrochefe do veículo. Atualmente, é considerado um dos melhores sites de cobertura especializada em carnaval no país, pois desempenha o trabalho ao longo de todo ano, com foco exclusivo nas escolas de samba e com colaboradores aficionados pela cultura carnavalesca, com reconhecimento de público e crítica. Além dos repórteres, o site conta com um leque de colunistas, formado por pensadores, historiadores e também profissionais do carnaval, como, por exemplo, Rachel Valença (historiadora, já foi vicepresidente da Escola de Samba Império Serrano, diretora cultural da mesma e autora de diversos livros sobre o Império e sobre o carnaval); Manoel Dionísio (professor de dança, criador e instrutor do Padedê do Samba, primeira escola de formação de mestre-sala e portabandeira do país); e Luís Fernando Reis (carnavalesco, professor e pensador de carnaval, já trabalhou em escolas como Unidos da Tijuca, Caprichosos de Pilares, Acadêmicos do Salgueiro e União da Ilha do Governador). Há também a participação de profissionais da área da comunicação que atuam como colaboradores e colunistas. É o caso de Hélio Ricardo Rainho (publicitário, com MBA em marketing, diretor teatral, escritor e pesquisador de escolas de samba, futebol e teatro); e Carlos Fernando Cunha (pesquisador e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF). Há, ainda, na equipe, fotógrafos e cinegrafistas, responsáveis pela captação do material audiovisual das coberturas carnavalescas. Desde 2008, o site realiza a entrega do Prêmio SRZD aos destaques do ano na avenida, premiando as escolas em diversas categorias. Além de realizar a cobertura do carnaval carioca – voltado exclusivamente às escolas de samba – o SRZD também realiza a cobertura carnavalesca dos desfiles das escolas de samba de São Paulo, desde 2011.
41
Portal O Dia na Folia O Portal O Dia surgiu em 2005, ligado ao jornal homônimo criado ainda na década de 50. É um dos jornais mais populares e conhecidos do Rio de Janeiro. O portal abriga diversas editorias, com destaque para Diversão (celebridades, entretenimento), Esporte e a editoria Rio de Janeiro, que reúne notícias sobre a cidade, com ênfase para segurança pública. Juntamente com a criação do portal, foi lançada a editoria de carnaval, chamada O Dia na Folia. O espaço é dedicado às notícias carnavalescas de uma forma geral, envolvendo blocos e escolas de samba, abrangendo assim, as manifestações mais populares da folia carnavalesca do Rio de Janeiro. O portal não possui uma equipe específica para a realização da cobertura carnavalesca. Embora publiquem notícias relacionadas ao carnaval ao longo do ano, as mesmas apresentam um enfoque mais voltado para a glamourização da festa, celebridades e ações pontuais, como troca de carnavalescos, definição de ordens de desfile, etc. Portal Extra O jornal Extra foi criado em 1998 pelo grupo O Globo, com o intuito de ser um veículo que conquistasse as classes mais populares. O jornal tem sua sede no Rio de Janeiro. Em 2006, o jornal impresso ganhou sua versão online. Destacam-se no menu do portal as editorias de Notícia, Emprego, Famosos, Mulher, TV e Lazer, Esporte e Extrashop (e-commerce). Diferentemente do SRZD e do O Dia, que possuem uma editoria de carnaval, o Extra não mantém uma editoria específica para a co- bertura carnavalesca. O carnaval aparece no site como uma notícia comum, diferenciada apenas pela TAG (marcação digital que especifica o assunto da matéria). Da mesma forma que o site O Dia na Folia, o Extra publica notícias referentes tanto às escolas de samba quanto aos blocos carnavalescos. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A amostra para a realizada da pesquisa se caracteriza como não probabilística por intencionalidade. Serão apresentadas as reportagens que tenham como foco os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro no carnaval de 2018, veiculadas 42
nos sites em estudo, entre os dias 12 e 14 de fevereiro de 2018. Esse período foi escolhido devido a importância do contexto do carnaval neste momento. Optou-se por três matérias de cada site para que se pudesse fazer uma análise mais contundente dos seus conteúdos, não apenas uma exemplificação única com uma matéria por veículo. Portanto, serão analisadas notícias que tragam informações sobre o desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro no carnaval de 2018, que acontecem no domingo e segundafeira de carnaval. Serão analisadas também as notícias referentes à apuração dos resultados dos desfiles, que ocorre na quarta-feira de cinzas. Para a presente pesquisa, foram elaboradas as seguintes categorias de análise: - Fotografia: Elemento primordial na ilustração visual da notícia, as fotografias das reportagens escolhidas serão analisadas de acordo com sua quantidade, qualidade, autoria e complementação com o texto. Optou-se nessa categoria por escolher uma foto da matéria para uma análise mais aprofundada. - Texto: As reportagens serão analisadas a partir da qualidade do texto, da quantidade de parágrafos e ortografia. - Utilização de informações: Será levada em consideração a quantidade de informações históricas e técnicas sobre as escolas de samba e seus respectivos desfiles, além do conjunto apresentado em cada dia de apresentação (domingo e segunda) e apuração (divulgação dos resultados). ANÁLISE Todos os textos das matérias em análise estão transcritos nos anexos ao final do trabalho. Os links para acessar as matérias estão com os endereços disponíveis nas notas de rodapé, correspondentes a cada título das manchetes. Matéria 1: 12/02/2018 – Extra – Mangueira e Paraíso do Tuiuti lavam a alma no Domingo de Carnaval1 A matéria apresenta um resumo da primeira noite de desfiles das 1 https://extra.globo.com/tv-e-lazer/roda-de-samba/mangueira-paraiso-do-tuiutilavam-alma-no-domingo-de-carna val-22391117.html
43
escolas de samba do Grupo Especial, apresentando Paraíso do Tuiuti e Estação Primeira de Mangueira como os destaques de domingo. Império Serrano, São Clemente, Unidos de Vila Isabel, Acadêmicos do Grande Rio e Mocidade Independente de Padre Miguel também são citadas. O título da matéria é bem sugestivo, elaborado com a intenção de chamar a atenção dos leitores que não acompanharam as apresentações, mas que desejam saber o que aconteceu. Além disso, insinua uma visão mais técnica do desempenho das escolas na avenida. Fotografia: A notícia apresenta ao todo, cinco fotografias: duas retratando o desfile da Vila Isabel, uma da Mangueira, uma da Tuiuti e uma do Império Serrano. Não foi usado muito plano aberto, apenas a foto que retrata o desfile da Mangueira traz essa perspectiva. Duas, das cinco fotografias – inclusive a foto de capa da matéria - são do mesmo autor. As imagens são de boa qualidade. Embora o texto fale sobre os problemas ocorridos no desfile da Grande Rio, a ausência de imagens sobre isso deixa a informação incompleta. Imagem em análise (autor: Marcelo Theobald): Retratando o último setor do desfile da Estação Primeira de Mangueira, a imagem consegue traduzir a proposta do enredo apresentado pela escola: um resgate aos antigos carnavais e o clamor pela valorização da cultura popular. A imagem reforça o título da notícia, ao destacar o desfile da Mangueira como um dos melhores da noite, onde é notável a vibração dos componentes na passarela, cantando o samba. Texto: A notícia foi escrita pelos jornalistas Leonardo Bruno e Ramiro Costa, responsáveis pela coluna Roda de Samba, que apresenta a cobertura carnavalesca para o site Extra. O texto apresenta ao todo 13 parágrafos. Os dois primeiros trazem uma análise mais geral da noite de desfiles, destacando, no primeiro parágrafo, os desfiles de Mangueira e Tuiuti; e trazendo no segundo alguns pontos das demais escolas da noite. Em seguida, destacam-se quatro parágrafos, cada um antecedido por um intertítulo. Destes parágrafos, três são dedicados aos destaques do desfile da Vila Isabel – um deles dividese com a Mocidade; e outro dedicado à Mangueira. A seguir, a notícia traz sete parágrafos, dedicando-se um para cada escola, analisando os desfiles separadamente. A linguagem é objetiva e clara, com frases curtas e desenvolvidas de forma simples, possibilitando o entendimento da mensagem. As análises são curtas, sem muita profundidade sobre os desfiles, trazendo apenas uma análise geral, 44
em tom opinativo. A matéria apresenta português sem ocorrência de erros ortográficos ou gramaticais. A escrita é direta, sem dificuldades para repassar a mensagem proposta. Utilização de informações : o texto apresenta algumas informações técnicas dos desfiles dentro das análises específicas de cada escola. Em uma leitura geral, a falta de empolgação das escolas (tanto na avenida quanto na comunicação com o público) foi enfatizada pelos jornalistas. Faz referência aos trabalhos anteriores dos carnavalescos Paulo Barros (da Vila Isabel, mas citado pelo trabalho na Mocidade, em 2015) e Renato Lage (da Grande Rio, mas citado pelo trabalho no Salgueiro em anos anteriores). Destaca-se a análise não favorável do desfile da Mocidade, campeã em 2017 e que não foi vista como candidata ao bicampeonato. Matéria 2 : 12/02/2018 – SRZD – Grupo Especial – 1º dia: tudo sobre os desfiles2 O SRZD organizou uma página dedicada ao primeiro dia de desfiles do Grupo Especial, onde o leitor pode acessar as análises de cada escola em separado por blocos. O pesquisador nomeou esta página como página-mãe A. Fotografia: A notícia reúne ao todo 8 fotos, sendo a foto de capa uma visão da avenida, com destaque para o arco da praça da Apoteose, onde fica a dispersão da Marquês de Sapucaí. As demais fotografias dedicam-se a ilustrar cada escola de samba que desfilou naquela noite e sua respectiva análise pelo site. Imagem em análise (autor: Leandro Milton/SRZD): a imagem retrata a apresentação da Comissão de Frente da escola Paraíso do Tuiuti, registrando a dramaticidade da expressão corporal dos integrantes do grupo. A foto complementa o hipertexto principal do bloco de análises da Tuiuti, que traz o enunciado “Paraíso do Tuiuti 2018: Comissão de frente emociona em enredo sobre a Lei Áurea”. Texto: por apresentar uma proposta diferente de cobertura dos desfiles, o SRZD mantém na página-mãe A um parágrafo de apresentação, onde sinaliza que naquele espaço o leitor poderá acompanhar a análise detalhada de cada escola de samba que se apresentou no domingo de carnaval. A escrita é simples e objetiva. Basicamente, não há textos de análise dos desfiles dispostos na 2 http://www.srzd.com/carnaval/rio-de-janeiro/grupo-especial-1-dia-desfiles/
45
página-mãe A. As impressões das escolas estão divididas em hipertextos, com enunciado destacado, onde o leitor pode acompanhar com profundidade a cobertura do site. Cada bloco reúne, no mínimo, sete hipertextos onde se destacam: análise geral (em texto, compreendendo as impressões de cada escola com seus quesitos de pontuação – enredo, mestre-sala e porta-bandeira, evolução, harmonia, bateria, fantasia, alegorias e adereços, comissão de frente e samba enredo), galeria de fotos (com diversos registros do desfile), vídeos (com depoimentos de componentes, destaques e/ou diretores da agremiação), análise de comentaristas (feita em vídeo, sobre determinado ponto do desfile – ou da escola – que o comentarista julgou destacar). Os títulos dos hipertextos são objetivos e não apresentam dificuldades na ortografia e compreensão da mensagem proposta. Utilização de informações: por dividir suas análises em blocos e pela ausência de textos mais explicativos, há pouco conteúdo informativo na página-mãe A. Cada análise traz o nome da escola de samba, seguida de uma foto do desfile e logo abaixo, o título do enredo e o nome do(s) carnavalesco(s) responsável pelo desfile. Matéria 3: 12/02/2018 – O Dia – Mangueira sobra e confirma favoritismo no primeiro dia de desfiles do Especial3 Seguindo os dizeres da manchete, a notícia apresenta uma análise geral dos desfiles da primeira noite do Grupo Especial, com destaque para a apresentação da Mangueira. Ressalta-se também os problemas técnicos do desfile da Grande Rio, que a notícia aponta como o pior da noite. Fotografia: a notícia possui uma fotografia em destaque, que é a fotografia de capa. Ao final da matéria, há uma galeria de fotos, contendo 15 fotos (a da capa e mais 14), onde o predomínio são de registros dos desfiles da Mangueira (quatro). A maioria das fotos apresenta em plano detalhe os desfilantes, destaques e alegorias, sem expandir para o conjunto dos setores ou o todo do desfile. Imagem em análise (autor: Severino Silva): tendo a matéria enaltecido o desfile da Mangueira, a foto de capa mostra os ritmistas da bateria da escola tocando na avenida. A imagem, em plano aberto, capta também a vibração do público na arquibancada durante a 3 https://odia.ig.com.br/2018/02/diversao/carnaval/5513344-mangueira-sobra-e-confirma-favoritismo-no-primeiro -dia-de-desfiles-do-especial.html#foto=1
46
passagem do grupo. A foto é nítida e bem trabalhada nas cores, onde ressaltam o verde e rosa da fantasia da bateria. Texto: Ao todo, são oito parágrafos que relatam os desfiles da primeira noite do Grupo Especial. O primeiro parágrafo é o maior e ali está um resumo da noite, destacando a Mangueira como melhor apresentação e pincelando destaques das demais escolas da noite. A seguir, os outros sete parágrafos se destinam um para cada escola de samba, separados por intertítulos com o título da respectiva agremiação em análise. Cada parágrafo possui, em média, cinco linhas, com escrita simples e objetiva, sem dificultar a mensagem apresentada. A notícia apresenta português correto, escrito de forma simples e direta, sem o uso de frases com linguagem mais rebuscada. Não há erros de gramática ou ortográficos ao longo do texto. Utilização de informações: As análises dos desfiles são diretas e apresentam algumas referências a situações de desfiles anteriores. Sobre o Império Serrano, cita o fato da escola ter permanecido muitos anos na Série A (grupo de acesso); no caso da Paraíso do Tuiuti, ressalta que a escola superou o trágico acidente com a alegoria, ocorrido em 2017, que deixou feridos na Sapucaí; sobre a São Clemente, destaca a estreia de Jorge Silveira, carnavalesco da escola, que assina pela primeira vez um desfile no grupo principal. Matéria 4: 13/02/2018 – Extra – Salgueiro entra na briga pelo título com Mangueira e Tuiuti4 A notícia apresenta o Salgueiro como favorito ao título do carnaval de 2018, após o fim da segunda noite de desfiles do Grupo Especial. Em contrapartida, aponta a Beija-Flor como decepção do ano e coloca a União da Ilha do Governador como escola que lutará para não ser rebaixada à Série A de 2019. Fotografia: A notícia dispõe de cinco fotos ao longo de toda a matéria. Duas delas dedicadas ao desfile do Salgueiro, incluindo a foto de capa. As outras três fotos se referem aos desfiles da Portela, Imperatriz Leopoldinense e União da Ilha. São fotos com planos distintos, destacando também figuras diversas dos desfiles. Imagem em análise (autor: Marcelo Theobald / Agência O Globo): A foto destaca dois integrantes da comissão de frente da 4 https://extra.globo.com/tv-e-lazer/roda-de-samba/salgueiro-entra-na-briga-pelo-titulo-com-mangueira-tuiuti-223 93329.html
47
Imperatriz Leopoldinense. Maria Helena e Chiquinho, mãe e filho, já formaram o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola por 21 anos. O registro apresenta a integração dos dois, considerados baluartes da agremiação, em um novo segmento do desfile. A foto, representativa pelo seu valor simbólico, complementa o intertítulo da matéria, nomeado “O simples e o belo na comissão da Imperatriz”. Texto: Ao todo, 14 parágrafos descrevem os destaques da segunda noite de desfiles e também fazem um balanço geral das apresentações das 13 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval 2018. Os quatro primeiros parágrafos se destinam a avaliar os desfiles do grupo de uma forma geral, destacando favoritas e escolas nem tão bem cotadas. Há ainda três parágrafos destinados a pontos aleatórios dos desfiles, sendo cada um destes parágrafos antecedido por um intertítulo. Após, seis parágrafos se reservam às análises das escolas, sendo cada parágrafo destinado a uma delas. Em média, cada parte do texto das análises individuais contou com seis linhas, escritas de forma clara e objetiva, sem indícios prejudiciais à ortografia e à compreensão da mensagem. Utilização de informações : o texto faz um bom resgate do histórico das escolas e também de informações técnicas do desfile, fazendo, inclusive, comparativos entre o trabalho do ano de 2018 com outras apresentações anteriores das agremiações. Cita com destaque a estreia do carnavalesco Alex de Souza no Salgueiro, ocupando o lugar do casal Renato e Márcia Lage, que estiveram na escola por 15 anos consecutivos. A notícia destacou aspectos técnicos dos quesitos em algumas escolas, como a Evolução da Unidos da Tijuca, a falta de requinte estético no conjunto alegórico da Beija-Flor e o enredo pouco inspirador da União da Ilha, citado como “frágil e repleto de clichês, pouco ousado”. Matéria 5: 13/02/2018 – SRZD – Grupo Especial – 2º dia: tudo sobre os desfiles5 O site SRZD adotou o mesmo modelo da Matéria 2, mantendo uma página-mãe onde estão dispostas as análises das escolas em blocos. Nesta página, que o pesquisador chama de página-mãe B, concentram-se as impressões dos desfiles das escolas da segunda noite de apresentações: Unidos da Tijuca, Portela, União da Ilha do Governador, Acadêmicos 5 http://www.srzd.com/carnaval/rio-de-janeiro/grupo-especial-2-dia-desfiles/
48
do Salgueiro, Imperatriz Leopoldinense e Beija-Flor de Nilópolis. Fotografia: Seguindo o layout da Matéria 2, o site mostra na página-mãe B sete fotografias, sendo a foto de capa um registro da ala das baianas da Portela. A foto, em plano aberto, mostra a ala em toda sua extensão na passarela, no sentido dispersão-concentração, capturando ao fundo a alegoria que fecha o setor do desfile. É possível também ver os detalhes dos desenhos dos vestidos. A exemplo da página-mãe A, as demais fotos da página-mãe B se destinam a destacar cada uma das escolas que se apresentou na respectiva noite. Imagem em análise (autor: Juliana Dias): a imagem destaca o bloco de análises da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. Em plano aberto, a imagem registra uma das alegorias da escola, vista do nível da pista. O carro alegórico é caracterizado por elementos cênicos e fantasias que remetem ao enredo da escola, que falava sobre a força das mulheres negras ao longo da história da humanidade. É possível também identificar a vibração dos destaques alegóricos e o preenchimento da alegoria na passarela. A foto complementa o hipertexto principal da análise do desfile do Salgueiro, que tem como título “Salgueiro 2018: escola traz visual imponente em enredo com representatividade negra”. Texto: mantendo um modelo padrão de cobertura, o site dispôs as informações na página-mãe B da mesma forma que elas se encontram na página-mãe A. Cada escola teve sua análise dentro de um bloco, que dispunham de hipertextos de acordo com cada assunto a ser tratado. Todas as impressões mantiveram uma análise padrão, contendo análise geral (em texto), galeria de fotos, análise dos comentaristas (em vídeo) e demais vídeos com depoimentos de destaques, desfilantes e dirigentes das agremiações. Os hipertextos apresentam títulos objetivos, destacando bem o conteúdo a ser tratado. Não há dificuldades com a escrita, sendo esta de forma clara e direta, facilitando a compreensão da mensagem a ser passada. Utilização de informações: Ao mesmo modo da página-mãe A, na página-mãe B, o nome das escolas é utilizado como título no início dos blocos de análise. Em seguida, vem a foto representativa de cada escola e, logo abaixo, o título do enredo e o nome do carnavalesco responsável pelo desfile.
49
Matéria 6: 13/02/2018 – O Dia – Após segundo dia de desfiles, Salgueiro divide favoritismo com Mangueira pelo título6 A notícia traz a análise dos desfiles das escolas de samba, destacando o Salgueiro como melhor apresentação da noite. Por ser o segundo e último dia de desfiles, a notícia aponta ainda algumas escolas que podem retornar no sábado das campeãs, além daquelas que possivelmente irão lutar contra o rebaixamento para a Série A do próximo ano. Fotografia: Seguindo o mesmo modelo da Matéria 3, a notícia traz uma foto de capa em destaque, na cabeça da matéria, e na parte debaixo, uma galeria de fotos, contendo 12 imagens. Estas imagens estão melhor divididas entre as escolas, sendo duas fotos para cada agremiação. As fotos apresentam momentos diversos de cada escola, alternando planos abertos e detalhes, de carros alegóricos, destaques e alas. Imagem em análise (autor: Daniel Castelo Branco): a foto, em plano americano, registra o destaque alegórico do carro abre-alas da Acadêmicos do Salgueiro, escola apontada como favorita pela notícia. É possível identificar os detalhes da fantasia (arte plumária, pedrarias, tecidos e maquiagem), além da iluminação da alegoria. O tom avermelhado da composição reforça as cores da escola de samba em seu desfile. Texto: Sete parágrafos descrevem a notícia, sendo o primeiro destinado a um resumo da noite, destacando o desfile do Salgueiro e fazendo um panorama geral da possível ordenação da classificação dos desfiles. Os parágrafos seguintes destinam-se às impressões de cada escola, sendo cada um antecedido por um intertítulo com o nome da agremiação em análise. Cada parágrafo possui, em média, cinco linhas. As frases são curtas e diretas, com linguagem simples, sem dificultar a compreensão e sem falhas na ortografia. Utilização de informações: as análises trouxeram informações sobre os enredos e também algumas referências ao histórico das agremiações. A Unidos da Tijuca teve citado o acidente com uma de suas alegorias no carnaval de 2017, enquanto o Salgueiro teve sinalizada a estreia do carnavalesco Alex de Souza na escola. Vale ressaltar também o excesso de críticas ao desfile da Beija-Flor, que na compreensão da notícia, foi a escola que menos se destacou. 6 https://odia.ig.com.br/2018/02/diversao/carnaval/5513576-apos-segundo-dia-dedesfiles-salgueiro-divide-favorit ismo-com-mangueira-pelo-titulo.html#foto=1
50
Matéria 7: 14/02/2018 – Extra – Beija-Flor de Nilópolis é a campeã do carnaval de 20187 A matéria apresenta o resultado do carnaval, destacando a vitória da Beija-Flor, que apresentou um enredo crítico na avenida. Fotografia: Ao todo, seis fotos ilustram a matéria, registrando momentos do desfile da Beija-Flor, a comemoração dos integrantes com o título e momentos da apuração. Imagem em análise (autor: Domingos Peixoto): o registro apresenta, em plano fechado, o diretor da escola, Gabriel David e a porta-bandeira Selminha Sorriso, beijando o troféu de campeã do carnaval 2018 em meio a comemoração dos torcedores que festejam o título na rua em frente a quadra da escola. O beijo, simbólico, mostra o desejo da escola com a vitória. O título de 2018 aumenta a vantagem da Beija-Flor como a maior campeã do sambódromo, com nove campeonatos. Texto: Quatro parágrafos descrevem a notícia sobre o resultado do carnaval. Foram 16 linhas de texto, além de uma lista ao final da página trazendo a classificação final. O texto não abre muito espaço para informações mais aprofundadas sobre o desfile da escola campeã. As frases são curtas e não há problemas na ortografia. Utilização de informações : O texto relembra brevemente que o enredo da escola trouxe uma temática de crítica social para a avenida. Destaca que um dos idealizadores do tema foi o Gabriel David, jovem diretor de 20 anos. Traz ainda as demais escolas que desfilam novamente no sambódromo, no sábado das Campeãs e a lista com a classificação final, incluindo a pontuação de cada escola. Matéria 8: 14/02/2018 – SRZD – Beija-Flor é campeã do carnaval 2018; veja classificação8 A matéria apresenta o resultado final do carnaval 2018, destacando a vitória da Beija-Flor. O leitor pode acompanhar um pequeno resumo das impressões do site sobre o desfile da escola. Fotografia: A foto de capa é o plano detalhe de uma das alegorias da escola, destacando um imenso rato, em alusão à corrupção, uma das temáticas do enredo crítico. Além da foto de capa, a notícia exibe 7 https://extra.globo.com/noticias/carnaval/beija-flor-de-nilopolis-a-campea-docarnaval-de-2018-22397274.html 8 http://www.srzd.com/carnaval/rio-de-janeiro/beija-flor-campea-carnaval-2018/
51
mais duas fotos no corpo do texto e ainda oferece, ao final, uma galeria de fotos com 61 imagens do desfile, com planos, tamanhos e perspectivas diversificados. Imagem em análise (autor: Juliana Dias / SRZD): A imagem retrata um dos pontos mais comentados do desfile da Beija-Flor, a Ala do Arrastão, último setor da escola. A foto, em plano aberto, traz os desfilantes com roupa comum, como se fossem civis cotidianos, sendo oprimidos por uma onda de violência e insegurança pública. É possível perceber alguns integrantes da ala portando armas (de brinquedo), a dramaticidade e o impacto que a cena provocou na avenida. Texto: Seis parágrafos descrevem a notícia, além da lista da classificação final do carnaval 2018. O texto aborda o resultado final, mas destaca o desfile da Beija-Flor com mais profundidade. A notícia, além da galeria de fotos, traz dois vídeos, que complementam a informação. O primeiro, feito ao final da apuração, registra a emoção dos integrantes da Beija-Flor com o anúncio da vitória; e o segundo vídeo traz a análise de Hélio Rainho, comentarista do site, sobre o desfile e a vitória da escola. O texto não apresenta erros de ortografia. Utilização de informações : a notícia aprofunda aspectos do desfile da Beija-Flor, apresentando, principalmente, os detalhes que interligavam o enredo da escola, que fazia uma crítica social ao Brasil e suas mazelas, como abandono de incapaz, corrupção, preconceito e intolerância, e que, ao final, trazia a mensagem de amor e esperança. Foi ressaltado no texto, o fato da escola abandonar sua marca principal, de trazer muito luxo e exuberância para a avenida e adotar uma estética mais realista, teatralizada. Matéria 9: 14/02/2018 – O Dia – Beija-Flor é campeã e Paraíso do Tuiuti fica em segundo lugar9 O leitor pode ver na matéria o destaque à vitória da Beija-Flor no carnaval 2018, mas nem tanto pelo retrospecto do desfile – que o texto pouco utiliza - mas sim pelos depoimentos de diretores e componentes da escola, que festejaram o décimo quarto campeonato. Fotografia: A notícia possui uma foto de capa em destaque no alto da notícia e ao final, há uma galeria de fotos. Todas as 18 fotos 9 https://odia.ig.com.br/2018/02/diversao/carnaval/5513927-beija-flor-e-a-campea-docarnaval-2018.html
52
da galeria (incluindo a foto de capa) mostram a comemoração do título pelos componentes da escola. Mesclam planos aberto e planos americano, mas sempre com a possibilidade de se notar a presença maciça dos torcedores da Beija-Flor aglomerados na rua, em vibração. Imagem em análise (autor: Luciano Belford / Agência O Dia): A foto, em plano americano, destaca o troféu do campeonato no palco e as pessoas (componentes, torcedores) tentando tocá-lo – algumas conseguindo, outras emocionadas observando o símbolo da conquista do carnaval de 2018. A taça de campeã se destaca na foto como um real objeto de desejo daquela comunidade ali fotografada. É possível observar ainda os torcedores que cantam o samba da escola, vibrando juntos. Texto: Ao todo, 11 parágrafos relatam a conquista do título do carnaval 2018 da Beija-Flor. Sem trazer ao público os momentos marcantes do desfile, o texto é construído a partir dos depoimentos de torcedores e dirigentes da escola, portanto, possui muitas falas cercadas de aspas. Há ainda um hipertexto indicando o mapa de notas da apuração do carnaval, para que o leitor veja o quadro da pontuação completo. A notícia não apresenta erros no português, seguindo a linha de construção das matérias anteriores, com frases curtas e diretas, sem dificuldades para passar a mensagem. Utilização de informações: O segundo parágrafo destaca que o título de 2018 foi o décimo quarto da escola, porém, no décimo parágrafo, o texto grifa a festa como em comemoração ao 15º título, o que é um erro. Há a menção do teor crítico do enredo da escola, mas sem maior profundidade. Devido a uma informação de bastidores, o texto explora a possível saída de Laíla, diretor de carnaval da Beija-Flor. A notícia cita ainda Tuiuti, Salgueiro, Portela, Mangueira e Mocidade como as demais escolas que retornam no desfile das Campeãs. ANÁLISE FINAL Prosseguindo o processo de análise do conteúdo, fez-se necessária também a interligação do material obtido através do referencial teórico com os dados coletados com as matérias analisadas e seus veículos. Cada veículo terá sua análise geral dentro das três categorias: fotografia, texto e utilização de informações.
53
O EXTRA Fotografia: Para Grillo (2010, p. 17), após a construção do sambódromo, criou-se uma espécie de padronização fotográfica dos desfiles, que passaram a privilegiar o coletivo do que o individual. Para o autor, “o trabalho fotográfico passou a ser feito sob o ponto de vista global, ou seja, aéreo. Se o interesse é transmitir aos espectadores estrangeiros o gigantismo do espetáculo, a mudança na maneira da retratação é positiva”. O portal exibiu fotos diversificadas sobre os mais variados destaques dos desfiles das escolas de samba, alternando planos e perspectivas. O que, comparado ao que foi referido pelo autor acima, pode ser considerado um avanço. Texto: O Extra utilizou um texto mais opinativo, para a cobertura carnavalesca dos desfiles, diferente dos demais sites em análise no trabalho. Porém, manteve a estrutura jornalística tradicional, acrescentando intertítulos, distribuindo o assunto. O estilo reforça a presença da crônica carnavalesca, como a do início do século XX, conforme refere Coutinho (2004), ao destacar a importância do cronista carnavalesco para a manifestação cultural naquela época. A matéria 7 foi a menos explorada, em questão de conteúdo textual. Certamente pelo fato de que, pela opinião do veículo, a escola vencedora não estaria entre aquelas favoritas a conquistar o título. Os textos são desenvolvidos em parágrafos pequenos (em média de cinco linhas) e frases curtas, acompanhando os conceitos do jornalismo popular, que, conforme Cunha (2015), utiliza linguagem acessível, para leitores que ainda estão buscando o hábito da leitura. Mesmo tendo um texto escrito por especialistas carnavalescos, o conteúdo do site Extra segue alinhado ao estilo dos grandes veículos, onde, conforme Padrão (2007, p. 33), “a maioria dos veículos que noticiam o carnaval segue o ciclo e só dá destaque à festa durante os meses de janeiro e fevereiro”. As notícias foram postadas de forma única, sem sofrer atualização textual ao longo do tempo em que o evento (desfile das escolas de samba) foi acontecendo. Esse formato difere do jornalismo online, conforme fala Almeida (2013, p. 27), já que o novo formato jornalístico “tem como principal recurso a atualização das notícias em tempo real”. As três matérias escolhidas para a análise não apresentam erros de ortográficos e/ou gramaticais. As frases são curtas, com escrita simples e direta. Utilização de informações:Por ter suas matérias escritas por jornalistas que também convivem no meio carnavalesco e possuem
54
certo grau de conhecimento, os textos do jornal Extra possuíam informações contundentes sobre o desempenho das escolas na avenida. Padrão (2007, p.32) reconhece que “o crescimento da audiência de sites como esses fez com que os grandes veículos também criassem sites ou hotsites exclusivamente sobre o carnaval” e diante disso, comprova-se a qualidade do trabalho do Extra ao designar sua cobertura jornalística para profissionais ligados ao tema em destaque. Com isso, consegue inserir em suas notícias dados que demonstram conhecimento e domínio do assunto abordado. O DIA Fotografia: A maior parte das fotografias das notícias em análise apresentam-se em plano americano, destacando o folião na avenida (muito mais vezes no chão do que em algum carro alegórico). Essa constatação entra em contraponto com o que traz Grillo (2010, p. 14), que ressalta o fato de que, na Era Sambódromo, as fotos registram mais o coletivo do que o individual. Para o autor, “a expressividade de cada componente dá lugar à mostra de um espetáculo que cresceu organizacional e financeiramente, no caso, os desfiles das escolas de samba”. Mesmo na Matéria 7, que trata do título e comemoração da Beija-Flor, as fotos destacam a expressão dos componentes e torcedores da escola, seja com o troféu no palco ou no meio da grande multidão que acompanhou a apuração do carnaval. Texto: Diferentemente do Extra, o texto do O Dia não possui conotação opinativa, portanto, um pouco mais próximo de uma narrativa jornalística tradicional, comum à maioria dos leitores. De Araújo (2012, p. 6) afirma que “as produções jornalísticas e, de um modo geral, as narrativas midiáticas, podem ser vistas como verdadeiros produtos culturais, pois retêm ecos da realidade onde foram construídas”. Isso se confirma no texto do O Dia, quando as análises dos desfiles das escolas trazem a informação mais palpável, mesmo que construídas sob o viés de um repórter, mas sem o grau opinativo. A qualidade do texto, tanto sobre o primeiro quanto sobre o segundo dia de desfiles (matérias 3 e 6) se mantém padrão, inclusive com a média de linhas para cada parágrafo destinado às apresentações das escolas. Amaral (2006) afirma que a linguagem empregada neste tipo de jornalismo popular deve ser acessível, possibilitando que o público em geral possa ser contemplado com a compreensão do que está escrito. “[...] fazer jornalismo popular exige
55
vigilância por parte do profissional que deve pensar sempre em para quem está escrevendo. Não para noticiar apenas o que aparentemente interessa ao leitor, mas sobretudo para ser simples, didático e utilizar uma linguagem próxima à da população” (AMARAL, 2006, p. 15). As informações são repassadas de forma objetiva, com frases de construção simples, o que facilita o entendimento da mensagem, o que corresponde ao que diz Baltar (2016), aos salienta que “a notícia deve ser objetiva. Publicada de forma sintética, sem rodeios e de maneira a dar a noção correta do assunto focalizado”. Utilização de informações : O portal empregou, ao longo das reportagens, informações que contextualizaram as escolas e suas respectivas apresentações de forma coerente. A exceção se resume apenas ao fato mencionado na análise da Matéria 8, sobre a quantidade de títulos da Beija-Flor, campeã em 2018. O emprego dessas informações anteriores é importante para que o público perceba, mesmo que rapidamente, qual o contexto de apresentação de determinada escola, como foi seu pré-carnaval, de que forma a agremiação se preparou para o desfile. Resgatar essas informações e incorporá-las ao texto do desfile faz relação com o que Moherdaui (2007) aponta. Ele destaca como algumas das características do jornalismo digital: imersão, onde se cria um cenário para que o leitor se ambiente ao assunto; e memória, que neste caso não chega a ser a utilização de um banco de dados interativo, mas sim, a consulta a determinadas informações que permitem uma assimilação do conteúdo de forma mais ampla. SRZD Fotografia: o site apresentou, dentre os três sites em análise, as fotos com melhor qualidade visual. O trabalho de ângulos, perspectivas e cores foi muito bem explorado pelos fotógrafos, mesmo diante de uma estrutura de grande porte, como o sambódromo da Marquês de Sapucaí, que, por sua vez, influiu na transformação do desfile da escola de samba em um produto da indústria cultural, conforme Grillo (2010). Para o autor, o sambódromo – e consequentemente as transformações midiáticas do desfile - provocou a realização dos registros aéreos, vistos de cima, priorizando o coletivo. Grillo destaca que se o interesse é transmitir aos espectadores estrangeiros o gigantismo do espetáculo, a mudança na maneira da retratação é
56
positiva, mas se o objetivo fundamental é apresentar tais imagens nos periódicos especializados no assunto, que por sua vez, saem apenas na época de carnaval, não há a menor atratividade para o leitor comprar uma revista, por exemplo, que priorize o coletivo. O leitor se reconhece e tem a necessidade de se reconhe- cer naquele folião que estava no Sambódromo. (GRILLO, 2010, p. 17)
O autor ainda afirma que “a imagem feita do alto, como já mencionado anteriormente, ignora a miscigenação do espetáculo e a diversidade encarnada pelos protagonistas da festa” (2010, p. 17), contudo, o SRZD consegue, dentro de sua linha de trabalho, trazer para a posição de destaque o folião individual. Texto: Tanto na página-mãe A quanto na página-mãe B, há ausência de conteúdo textual mais palpável à informação. O SRZD optou por criar páginas que hospedam os conteúdos em blocos, rea- lizando sua cobertura a partir de hipertextos. O que, segundo Moherdaui (2007), é uma das características do jornalismo digital. Além disso, as páginas-mãe A e B apresentam outras características elencadas por pelo autor, como interatividade, convergência de mídia, instantaneidade e atualização contínua. Diferentemente das matérias 2 e 5, a Matéria 8 apresenta quantidade maior de texto, com emprego correto de gramática e ortografia. Além disso, também conserva as características do jornalismo online, com múltiplas opções de conteúdo dentro do mesmo campo da notícia. Utilização de informações: O SRZD, por optar em fazer suas análises em blocos, limitou as informações técnicas e sobre o histórico das escolas. Apenas acessando os hipertextos é que o leitor teria a oportunidade de se aprofundar sobre a apresentação da escola de samba na avenida, o que para Carvalho e Marinho (2010, p. 5), caracteriza-se como uma das notoriedades do jornalismo online, a qual “possibilita um relato novo, caracterizado por uma gramática interativa de imagens, animações, gráficos, vídeos e outros recursos. Tudo isso permite que os temas sejam aprofundados e a fragmentação do conteúdo informativo seja reduzida”. A notícia 8 é que mais reúne informações complementares ao fato principal, pois ela traz um resumo do desfile da campeã, BeijaFlor, com detalhes sobre os setores da apresentação e fazendo um pequeno comparativo do modelo estético de desfile apresentado em 2018 com o padrão imposto pela escola em anos anteriores.
57
Inferências Diante da análise posta, constata-se que o conteúdo aprofundado do site SRZD não é percebido à primeira vista pelo leitor, que precisa se relacionar com a interatividade do site para após ter acesso à informação. A interatividade proposta pelo SRZD, ao mesmo tempo que qualifica a cobertura – por produzir conteúdo aprofundado (e individual) sobre os desfiles, mesmo que de forma hipertextualizada, com recursos multimídia – também a prejudica, quando à praticidade para se obter a informação, visto que exige múltiplos acessos em seus conteúdos. Tanto Extra quanto O Dia trazem a informação essencial, mesmo sem grande aprofundamento de seus conteúdos. Porém, eles são mais objetivos ao mostrar a informação no primeiro contato do leitor com as respectivas páginas. CONCLUSÃO O carnaval é uma das maiores (se não a maior) manifestações culturais do Brasil. E neste grande guarda-chuva, encontra-se o desfile das escolas de samba, que assume para si a vitrine da alegria e do poder sociocultural do povo brasileiro. A partir da importância cultural, social e econômica da festa, o presente artigo se propôs a estudar a forma que o jornalismo, na mídia online, registra o desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro em 2018, considerado também o maior evento do mundo. A pesquisa exploratória descritiva, com abordagem qualitativa, trouxe ao conhecimento do pesquisador, já familiarizado com o tema, a experiência de imersão nos cenários construídos através das narrativas jornalísticas, coletadas a partir dos dados obtidos pelos sites em análise. Ao questionar como o site especializado SRZD e os sites dos jornais O Dia e Extra, retrataram os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro no carnaval de 2018, foi possível perceber que o conteúdo específico sobre o carnaval existe e recebe um trabalho cuidadoso por parte da equipe que o produz. Porém, ele demanda de maior interação, como é o caso do site SRZD, ao contrário dos conteúdos mais tradicionais, expostos de forma simples e objetiva, com fácil acesso para o público em geral, como feito no site dos outros dois jornais. Identificou-se que, mesmo gerando conteúdo aprofundado, o site SRZD não apresenta este conteúdo de forma prática para o leitor. Com isso, o material especializado fica retido em uma quantidade 58
excessiva de hipertextos, que por mais utilitários que sejam – em se falando de funcionalidade – não trazem a agilidade da leitura que a internet proporciona de uma forma geral. É necessário lembrar que muitos usuários acessam esses conteúdos a partir de dispositivos móveis. Entende-se que a fragmentação do conteúdo especializado não contempla a satisfação da obtenção da informação de forma clara, ágil e objetiva, características expostas nas coberturas dos sites Extra e O Dia. Estudar a cobertura dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro no carnaval de 2018 proporciona também um olhar sobre a relação da mídia com eventos de grande porte realizados no Brasil. Eventos como este, que atraem não apenas turismo, mas o olhar do próprio brasileiro para aquilo que é produzido no país, demandam do jornalismo uma cobertura precisa e fiel aos fatos associados à essa atividade cultural. A presente pesquisa abre caminhos para um novo olhar da mídia sobre os eventos culturais do país. É interessante, futuramente, estudar o impacto midiático que o carnaval proporciona para os meios de comunicação em massa sob o viés de proposição de conhecimento; e também avaliar o quanto o jornalismo cultural pode contribuir para desmistificar e desestruturar pré-conceitos construídos pela própria mídia com relação às manifestações de cultura popular. Junto dos pressupostos básicos para o bem viver da nação, como saúde, educação e segurança, a cultura ergue-se como pilar fundamental na formação identitária do povo brasileiro e sua valorização enquanto nação. O jornalismo não pode ignorar a produção artística e cultural, pois dela também se extrai os registros da realidade da sociedade, seus arquétipos e ideais futuros. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Manuelly Meira de. O Jornalismo e a Internet: o blog como ferramenta de notícia . Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2013. AMARAL, Márcia Franz. I mprensa popular: sinônimo de jornalismo popular. In: XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Brasília, 2006. BALLERINI, Franthiesco. JORNALISMO CULTURAL NO SECULO
59
21: Literatura, artes visuais, teatro, cinema, música [A história, as novas plataformas, o ensino e as tendências na prática]. São Paulo: Summus Editorial, 2015. BARDIN, Laurence. A nálise de Conteúdo/ tradução: Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2011. BALTAR, Anderson. In: CURSO LIVRE DE JORNALISMO PARA CARNAVAL, 1, 2016, Rio de Janeiro. CABRAL, Sérgio. E scolas de samba do Rio de Janeiro. São Paulo: Lazuli Editora: Companhia Editora Nacional, 2011. CARVALHO, Carmen; MARINHO, José Bruno. A interatividade nos cibermeios brasileiros durante o Carnaval 2010: experiências do A Tarde On Line, JC Online e O Globo. V III Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, São Luís, 2010. CASTELLS, Manuel; A sociedade em rede. Tradução: Roneide Venâncio Majer. 6ª edição. São Paulo: Sociedade Paz e Terra, 2006. COUTINHO, Eduardo Granja. S obre a Crônica Carnavalesca. Revista Lumina – Facom, UFJF, Juiz de Fora, v.7, p.1-15, 2004. CUNHA, Karen Sica da. A reambientação do jornalismo popular no meio digital: uma análise do Diário Gaúcho e do Extra. PUCRS, Porto Alegre, 2015. CUNHA, Leonardo; TEIXEIRA, Nísio. O JORNALISMO CULTURAL E A LÓGICA DO ICEBERG. R evista Mediação, v. 7, n. 6, 2008 CUNHA, Milton. Carnaval é Cultura - Poética e Técnica no Fazer Escola de Samba. São Paulo: Senac São Paulo, 2015. DE ARAÚJO, Bruno Bernardo. A narrativa jornalística e a construção do real. Universidade Coimbra, Portugal, 2011. DE ASSIS, Francisco. J ornalismo cultural brasileiro: aspectos e tendências. Revista de Estudos da Comunicação, v. 9, n. 20, Curitiba, 2017. 60
FARO, José Salvador. Nem tudo que reluz é ouro: contribuição para uma reflexão teórica sobre o jornalismo cultural. Comunicação & Sociedade, v. 28, n. 46, p. 143-163, 2006. FONSECA, Virgínia Pradelina da Silveira. Indústria de notícias: capitalismo e novas tecnologias no jornalismo contemporâneo. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. GODOY, Arlida Schmidt. I ntrodução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de administração de empresas, v. 35, n. 2, p. 57-63, 1995. GOMES, Pedro Gilberto. O jornalismo alternativo ao projeto popular.Editora Paulinas, São Paulo, 1990. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa . 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002. GRILLO, Michaell Victor. Fotojornalismo no desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro . O intimista e diversificado dá lugar ao coletivo e padronizado, evidenciado de forma sintomática no caderno suplementar do Jornal ‘Extra’ durante a última década. UFRJ, Rio de Janeiro, 2010. GUARESCHI, Pedrinho A.; BIZ, Osvaldo. Diário gaúcho: que discurso, que responsabilidade social?.Porto Alegre: Evangraf, 2003. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003. MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria das mídias digitais. Petrópolis, RJ: Editora Vozes Limitada, 2014. MOHERDAUI, Luciana. Guia de estilo web. São Paulo: Senac São Paulo, 2007. MURAD, Angèle. Os valores-notícia na imprensa oligopolizada e multimídia: olhares a partir do newsmaking. In: XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação. Salvador. 2002.
61
NETO, Lira. U ma história do samba: As origens.São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2017. PADRÃO, Beatriz Moreira. Carnaval e internet: da rua para o ciberespaço.UFRJ, Rio de Janeiro, 2007. PINHO, J.B. Jornalismo na internet. São Paulo: Summus, 2003 PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo: Editora Contexto, 2003. SIQUEIRA, Denise da Costa Oliveira; DE SIQUEIRA, Euler David. A cultura no jornalismo cultural. Lumina, v. 1, n. 1, 2007. SOUSA, Diego do Carmo. T ribuna de Momo: o seu jornal de carnaval. UFRJ, Rio de Janeiro, 2006. VALENÇA, Rachel Teixeira. Carnaval: para tudo se acabar na quarta-feira. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996.
62
Capítulo 3
O BLOG UM PLUS A MAIS, DA REVISTA DONNA ON-LINE, E O MOVIMENTO BODY POSITIVE Bianca Bueno de Souza Maria Lúcia Patta Melão
A mídia é responsável por transmitir e reproduzir padrões de comportamento, principalmente quando o público-alvo são mulheres, as mais atingidas por imposição de padrões, principalmente estéticos. As revistas femininas são grandes influenciadoras sobre o consumo das mulheres e, então, vem acompanhando as mudanças de comportamento ao longo dos anos, desempenhando, assim, um importante papel em propagar essas atitudes. Com o surgimento da internet, foram criados novos espaços e possibilidades para esta imprensa, que pode ser mais segmentada, falando para um público bem específico. Entre as publicações desse segmento está o blog Um Plus a Mais, da Revista Donna on-line. A publicação abrange as mulheres plus size, reproduzindo as tendências de moda e comportamento para esse público, tendo em vista o amor-próprio e a autoestima. Na mesma época em que o blog Um Plus a Mais surgiu, em 2016, o movimento Body Positive, que tem como objetivo promover a aceitação de corpos fora dos padrões até então propagados pela mídia e pela publicidade, começou a ganhar força no Brasil. Para os defensores do Body Positive, a mídia e o mercado de consumo não os representava, porque não os incluía nas publicações e nos produtos oferecidos. A partir do entendimento de que movimento Body Positive influencia novos comportamentos e a imprensa feminina também 63
ajuda a divulgar novos comportamentos, este trabalho procura identificar se o blog Um Plus a Mais, da Revista Donna on-line, segue os preceitos do movimento Body Positive e de quais formas. Essa pesquisa também objetiva identificar se o blog segue as técnicas do jornalismo segmentado e se existe a participação de mulheres comuns nas publicações. A partir do que propõe o movimento, acredita-se que o blog Um Plus a Mais, da Revista Donna on-line, conversa com as propostas do Body Positive, já que pensa nas necessidades do grupo de pessoas que não possuem corpos esculturais. JORNALISMO CULTURAL E DE MODA O jornalismo cultural se caracteriza pela crítica, pelo ensaio e pela análise de obras ligadas à esfera cultural e tem o objetivo de expandir os horizontes do leitor. O jornalista cultural não presta somente um serviço, já a própria matéria é considerada um produto cultural, que fomenta a reflexão do leitor (PIZA, 2004). Além disso, o preparo intelectual, a habilidade de traduzir sensações e opiniões, como transformar temas eruditos em leves e os de entretenimento ser retratados sem elitismo e com sutileza, são algumas das características do jornalista cultural. Mas, o jornalismo cultural, no século XXI, não tem conseguido desempenhar o seu papel e objetivos com clareza, para Piza (2004), e sua qualidade vem sendo muito discutida, explica Assis (2008). Existe uma submissão ao cronograma de eventos, aos lançamentos e à divulgação de produtos. De acordo com o autor, essa é uma adaptação em resposta à mudança na cultura brasileira e ao modelo mercadológico. Os textos de jornalismo cultural, atualmente, tendem a se assemelhar muito aos press releases (PIZA, 2004). Os assuntos mais abordados são voltados à programação da televisão brasileira e à cultura pop. A moda, conforme Lipovetsky (2009) destaca, é efêmera e transmite tendências da sociedade, e segundo Ballerini (2015), está presente desde o século XIX no cotidiano das pessoas, sob a influência francesa no Brasil, mas há pouco tempo foi profissionalizada no jornalismo. Somente na década de 1990 que o jornalismo cultural passa a reservar um espaço mais privilegiado para a moda, que se populariza. Isso ocorre quando o mercado de importação passa a investir nas grifes (BALLERINI, 2015), gerando um interesse maior dos leitores (PIZA, 2010). Ao se tornar uma indústria potente no
64
cenário nacional, a moda passa a pautar o jornalismo de forma mais intensa. Por isso, atualmente, o jornalismo cultural de moda é voltado para o consumo de tendências dessa indústria (BALLERINI, 2015). Uma das premissas para atuar no jornalismo cultural, apontada por Piza (2010) e que segue sendo de extrema relevância no contexto de jornalismo de moda, segundo Ballerini (2015), é a apropriação do assunto. O jornalista precisa ter um interesse e conhecimento prévio sobre a história, os termos técnicos e a cultura internacional de moda, salienta Ballerini (2015). JORNALISMO FEMININO A imprensa destinada exclusivamente às mulheres iniciou no final do século XVIII, na Grã-Bretanha e, desde a primeira publicação, já abordava conteúdo sentimental, o que se tornaria uma das características principais nas publicações femininas (SALLES, 2009). A linguagem exposta na imprensa feminina, segundo a autora, além de ser de forma afetiva, é coloquial e próxima à leitora. No Brasil, o jornalismo feminino está ligado à revista. As revistas, conforme Scalzo (2011), não costumam abordar temas factuais.Têm o caráter de noticiabilidade das notícias frias, segundo Neveu (2006). Já o jornalismo factual e tradicional preza por temas recentes, de caráter nobre (LAGE, 2014) e de relevância pública (BUCCI, 2002). Quando se trata de novidades, Salles (2009) descreve que as revistas femininas geralmente abordam de maneira superficial e servindo para a manutenção do consumo, outra realidade desse segmento. A novidade, para Buitoni (2009), geralmente está ligada à moda e às tendências relacionadas à modernidade. Outra característica das revistas femininas são os testes, o que a autora denomina psicologismo. Essas publicações abordavam assuntos variados, com um fundo cultural e apelam para um autoconhecimento por parte das leitoras. A imagem das mulheres nas revistas femininas é o reflexo da cultura e tendências das suas respectivas épocas (BUITONI, 2009). “Concebidas como objeto de lazer, essas revistas se revelaram essencialmente normativas, definindo o papel social e determinando os padrões de comportamento desejáveis para a mulher na época” (LUCA; MARTINS, 2008, p. 117). A mulher, no século passado, passou a ser protagonista e ter interesse em várias áreas do conhecimento. Passa a exigir mais espaço político, como o direito ao voto e à educação. E a imprensa feminina, 65
segundo Salles (2009), ajuda a propagar a luta pelos direitos das mulheres. Em paralelo, a imagem da mulher passa a ser construída através da moda e do cinema, ressalta Salles (2009). A autora indica que um espaço maior para os produtos de beleza passa a existir e o avanço da tecnologia dos eletrodomésticos também valoriza o papel da mulher da época, que é vista como consumidora desses produtos. Os debates no período giram em torno do sexo, aborto, divórcio e controle de natalidade. Os estereótipos da representação da mulher na imprensa feminina estão ligados aos seus papéis sociais, e o que é visto entre os séculos e as décadas são os desdobramentos desses papéis (BUITONI, 2009). Sendo assim, é importante ressaltar que, a partir da década de 1960, o ideal de corpo feminino que passa a ditar as regras de beleza é o corpo magro, havendo o incremento no consumismo e no culto das celebridades. Sendo assim, conforme Moreno (2008), o corpo magro passa a ser venerado e a estética gorda passa a trazer insatisfações para as mulheres. No século XXI, continua esse mesmo cenário, havendo, conforme apontam Lipovetsky (2009) e Salles (2009, p. 14), um crescimento ao “culto às celebridades, valorização excessiva do corpo e da imagem, fugacidade das tendências”. Também surge um outro espaço para o jornalismo feminino: a internet. Segundo Salles (2009), nesse novo meio, o conteúdo voltado para mulheres se expande e é bem explorado. Existem inúmeros blogs e páginas pessoais voltadas para esse segmento, e a interatividade é uma das marcas. Salles (2009) analisa que o conteúdo, muitas vezes, não é produzido por jornalistas, e muitos sites e blogs de beleza não têm apuração e aprofundamento no conteúdo. Geralmente, indicam produtos sem o embasamento de especialistas, por exemplo. O CORPO FEMININO E O MOVIMENTO BODY POSITIVE As representações do corpo estão manifestas em várias áreas da sociedade. Segundo Santaella (2004), antes, a cultura se manifestava no corpo, agora, o corpo é o sintoma da cultura. A autora emprega o termo sintoma da psicanálise, onde ele representa as manifestações do inconsciente que causam sofrimento, ligados aos desejos. O corpo sofre da incompletude, e o corpo do Eu é fonte de narcisismo e do Outro, objeto de desejo (SANTAELLA, 2004). No modelo econômico atual, em todas as camadas sociais, o 66
consumo faz parte da cultura, onde os sintomas são externalizados. O consumo permite acumular sensações, visando o desejo de se apropriar de uma novidade, para fugir ou buscar sanar as aflições relacionadas ao corpo. As mercadorias oferecidas tendem a estar ligadas a diversas sensações de insatisfação, como tatuagens, body building, cirurgias plásticas e mesmo ideias e produtos relacionados à manutenção dos transtornos alimentares (SANTAELLA, 2004). Essa é uma realidade que afeta principalmente as mulheres. O ideal de beleza feminino, para Lipovetsky (2009), ocorre nos âmbitos estético, cultural e psicológico. E, para Wolf (1992), essa pressão estética que as mulheres sofrem é chamado de mito da beleza, que propaga objetivos inalcançáveis. As cobranças em relação ao corpo, atualmente, estão atreladas ao propósito da magreza. Lara et. al. (2016, p. 211) dizem que “dificilmente se vê questionamentos desse tipo sendo dirigidos às pessoas magras com hábitos de vida nada saudáveis”. Para as autoras, a preocupação é mesmo voltada às pessoas gordas. O preconceito contra corpos gordos, denominada por Lara et. al. (2016) como gordofobia, atinge ambos os gêneros. No entanto, por questões culturais, as mulheres são as que mais sofrem. O valor da mulher está ligado à sua capacidade de estar nos ideais de beleza da cultura dominante, em todas as esferas, como a moda, a indústria de cosméticos e a mídia (LARA et. al. 2016). Surgem, então, comunidades que trabalham a aceitação corporal, por exemplo. O movimento Body Positive, também conhecido como Body Positivity (positividade corporal, em tradução livre desta pesquisadora), é um desses representantes. Segundo CwynarHorta (2016, p. 36)1, tal movimento tem o objetivo de “abordar ideais irrealistas sobre beleza, promover a autoaceitação e construir a autoestima melhorando a autoimagem e aprendendo a amar a si mesmo ao máximo”. Sastre (2014) complementa também que: O movimento Body Positive, por sua vez, permite que qualquer corpo - alto, baixo, gordo, magro ou perpetuamente intermediário - reivindique tal sofrimento, posicionando a falta central como a positividade do corpo. Além disso, esse sofrimento está ligado ao corpo de tal forma que para que seja superado, o corpo deve passar pela divulgação pública ritualizada e a posterior catarse que os sites Body Positive facilitam (SASTRE, 2014, p. 938).
1 As citações desta autora são uma tradução livre desta pesquisadora.
67
Em maio de 2018, a hashtag #bodypositive estava presente em 5,6 milhões de publicações no Instagram2, plataforma onde o movimento mais se propaga. A partir de 2014, o Instagram passou a abrir espaço para publicações de cunho publicitário, não só de conta de empresas, mas também de usuários em geral. Então as empresas passaram a enxergar, nesses defensores do movimento, uma oportunidade de divulgar suas marcas. Nesse processo, utilizam as influenciadoras digitais, que passam a desempenhar um papel importante para o movimento, visto que seu alcance e prestígio desempenham uma influência em seus seguidores, ao expor sua privacidade para o público, conforme aponta Harris (2004) apud Sastre (2014). No Brasil, as influenciadoras digitais do movimento Body Positive estão presentes não somente no Instagram, mas também têm força no YouTube, comunidade de vídeos on-line. REVISTA DONNA E O BLOG UM PLUS A MAIS A Revista Donna surgiu em 1993 como um suplemento do jornal impresso Zero Hora3, publicado aos domingos. Conforme Oliveira (2008), o então Caderno Donna surgiu com o propósito de falar sobre moda e comportamento feminino, e “hoje é um dos mais conceituados cadernos especializados na área” e “[...] a publicação voltada à moda mais lida na região Sul do país” (OLIVEIRA, 2008, p. 9). A revista incorpora traços da identidade cultural do gaúcho, utilizando características de linguagem desta região, além das características das publicações femininas. Em maio de 2017, Donna lança um novo posicionamento4, acompanhado da campanha #SouDonnaDeMim, que “reafirma o direito e a delícia de cada mulher ser quem realmente é e buscar a melhor versão de si mesma”5. Atualmente, Revista Donna é
2 Dados coletados em: <https://www.instagram.com/explore/tags/bodypositive/>. Acesso em: 10 mai. 2018. 3 Zero Hora transforma caderno Donna em revista | Grupo RBS. Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2012/05/24/zero-hora-transforma-cadernodonna-em-revista/>. Acesso em: 11 mai. 2018. 4 Donna lança novo posicionamento | Grupo RBS. Disponível: <http://www.gruporbs. com.br/noticias/2017/05/12/donna-lanca-novo-posicionamento/>.Acesso em: 11 mai. 2018. 5 Cinco mulheres incríveis contam o momento em que declararam: #SouDonnaDeMim | Donna. Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/comportamento-2/cincomulheres-incriveis-contam-o-momento-em-que-declararam-soudonnademim/>. Acesso em: 11 mai. 2018.
68
considerada uma marca multiplataforma do Grupo RBS, divulgando tendências de comportamento e consumo para o público feminino, prezando pela cultura das gaúchas6. No site, existe um blog, mantido de 2016 pela jornalista Thamires Tancredi, chamado ‘Um Plus a Mais’, que trata sobre “moda e comportamento, mas principalmente sobre autoestima e beleza, independente do manequim”, conforme a classificação dada pela própria jornalista no blog. Segundo a jornalista, o objetivo do blog “é inspirar que cada uma (e cada um, vale pros meninos também) encontre sua própria beleza e minimize as neuras. Para que a gente pare de ser chamada de fora dos padrões – porque a gente não quer que existam padrões”. METODOLOGIA DE PESQUISA A análise será feita de modo descritivo e exploratório, com material bibliográfico e documental, conforme preconiza Gil (2008); por amostragem não probabilística, que referencia o período a ser analisado, segundo Lozano (1994 apud FONSECA JÚNIOR, 2006). O método a ser utilizado nesta pesquisa é a Análise de Conteúdo (FONSECA JÚNIOR, 2006), que possui um conjunto de instrumentos e técnicas de pesquisa. Esse método possibilita a categorização dos dados, ou seja, classificação e reagrupamento dos registros em categorias, o que será utilizado para esta pesquisa, além do caráter léxico, onde interessa o sentido das palavras. A análise desta pesquisa será conduzida a partir dos posts nas tags do blog Um Plus a Mais: plus size, moda, empoderamento, autoestima e amor-próprio, onde será reproduzido a última postagem atualizada da respectiva tag, sendo consideradas as últimas atualizações até 18 de maio de 2018, data em que foram definidas as publicações. A partir da leitura de cada postagem, será identificada a existência ou não das categorias: beleza, autocuidado, aceitação corporal, divulgação pública, representatividade e influenciadoras digitais. A análise irá considerar o sentido das palavras – categorização lexical – assim como a inferência desta pesquisadora, que é a dedução lógica dos aspectos ocultos das mensagens conforme descreve Bardin (1998 apud FONSECA JÚNIOR, 2006).
6 Donna | Grupo RBS. Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/atuacao/revista-donna/>. Acesso em: 4 abr. 2018.
69
PLUS SIZE Para esta tag, será analisada a postagem Alerta comprinhas! Evento reúne mais de 20 marcas plus size em Porto Alegre neste fíndi7, do dia 4 de maio de 2018. Caso ficasse apenas na questão moda, do que se está usando, entre outros aspectos, iria ao encontro do que é esperado em publicações femininas, conforme aponta Buitoni (2009). No entanto, o post, ao mostrar apenas manequins plus size bem vestidas, sem indicar, no texto, porque tal calça deve ser usada, que tipo de blusa é ideal, faz apenas propaganda de lojas onde os produtos mostrados podem ser encontrados. O jornalista, para atuar no jornalismo cultural, onde a moda está incluída, conforme Piza (2010), precisa se apropriar do assunto, ter conhecimento prévio da história e dos termos técnicos, bem como ter uma cultura internacional da área (BALLERINI, 2015). Vale lembrar que o autor, ao apontar a inclusão da moda no jornalismo cultural, destaca que a cobertura cultural também acaba por assumir ares de comportamento. Embora o jornalismo cultural de moda e o conteúdo para a web requisitem um aprofundamento, Salles (2009) descreve que esse não é um padrão visto nas publicações femininas em blogs. Segundo a autora, esse tipo de publicação geralmente aborda de maneira superficial e serve de manutenção ao consumo, o que é analisado nesta tag, assim como características da própria Revista Donna, que preza pela linguagem regional do Rio Grande do Sul. Essas conclusões são analisáveis na introdução da publicação do blog: Alô, gurias de Porto Alegre e região! Neste fíndi, rola um evento incrível para quem quer renovar o guarda-roupa pros dias friozinhos que se aprochegam! Lembram que eu contei para vocês já sobre a BPSPOA – Feira de Moda Plus Size? Pois bem, a sétima edição rola neste fíndi, dias 5 e 6 de maio, com novidades de mais de 20 marcas de moda com tamanhos maiores do que 46. Oportunidade das boas para conhecer grifes bacanas que investem em moda para nós!8
A própria palavra plus size, que identifica esta tag, remete à esfera da moda, o que implica vaidade, o estilo, a beleza, que é a primeira categoria desta análise. Mesmo a palavra beleza não estando inserida de forma literal na publicação, as hiperligações no post, que 7 Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2018/05/04/alertacomprinhas-evento-reune-mais-de-20-marcas-plus-size-em-porto-alegre-neste-findi/>. Acesso em: 21 mai. 2018. 8 Ibidem.
70
conduzem a diferentes postagens do mesmo blog, possuem o termo beleza. A categoria autocuidado, um dos preceitos do movimento Body Positive e que não implica somente a vaidade e a beleza, não foi identificada no conteúdo. Isso porque o objetivo da publicação é apenas divulgar nomes de marcas de roupas plus size. A falta da categoria autocuidado, a partir da análise da pesquisadora, está relacionada ao grande espaço que os produtos de beleza e moda desempenham nas publicações femininas, como também a falta de profundidade verificada por Salles (2009) nos blogs de beleza, muitas vezes sem embasamento de especialistas, o que é o caso desta publicação. Sobre a categoria aceitação corporal, entende-se que a mesma existe nesta publicação, visto que a moda plus size é promovida, reconhecida, vestida e aceita ao longo da divulgação comercial da postagem. Ela transparece de maneira passiva e seguindo o critério de superficialidade, como as outras categorias já analisadas neste post. Isso ocorre da mesma forma na categoria representatividade, identificada nesta postagem. Isso porque a moda plus size tem sido investida comercialmente. No contexto desta postagem, o conteúdo promove o mercado, não indivíduos diretamente, embora a publicação tenha modelos plus size vestindo as marcas, como será visto em seguida, na categoria Influenciadoras. A categoria divulgação pública, conforme descreve Sastre (2014), no que diz respeito à publicação de fotos com o objetivo de promover o corpo no Body Positive, é vista nesta tag, pois o objetivo central é a indicação das marcas, mas de forma mais profissional do que pessoal. Isto é, são manequins que estão expostas, não mulheres comuns. Mas, como recém explicado, existem diversas fotos com modelos plus size vestindo as peças de roupas ao longo do post, o que já implica uma divulgação de corpos fora dos padrões de beleza magra. Como a indústria da moda e as revistas femininas conversam, conforme concorda Buitoni (2009), isso viabiliza a divulgação de marcas nesses meios. Quanto à categoria Influenciadoras digitais, essa publicação tem o foco nelas, as celebridades das redes sociais, porque Thamires Tancredi evidencia que algumas delas estão utilizando as roupas das marcas indicadas, como uma forma de reafirmar a qualidade das vestimentas e influenciar o seu uso. O culto às celebridades teve força a partir da década de 1990, lembra Buitoni (2009), e agora, com as influenciadoras digitais, essa admiração continua, se tornando mais
71
próximas das pessoas pelas redes sociais, segundo Harris (2004) apud Sastre (2014), onde os seguidores seguem seus comportamentos. No seguinte trecho é possível ver a relação da marca com as influenciadoras: A Cozzire Plus Size vem investindo em peças casuais com muita informação de moda. A musa Vanessa Oliveira, do Guria Bacontente, dia desses postou esse casaquinho prata da marca que achei daqueles básicos que vale muito ter no armário. E a Teka Powaczuk mostrou essa calça babado, que está na coleção de inverno da marca. Na minha lista de lojas a visitar no BPS!9
Sendo assim, entende-se que grande parte dos preceitos do movimento Body Positive estão presentes nesta tag, visto que promove a moda plus size, e que resulta na representatividade que o movimento propõe, utilizando as influenciadoras digitais como uma forma de propagar as marcas. Isso porque, além do mercado ter visto o potencial de apostar em moda plus size, as marcas passaram a investir nas celebridades do Body Positive e da moda plus size como uma forma de promover os seus produtos, lembrando que as publicações femininas se apropriam das tendências de comportamento e moda. Mas, pensando em termos jornalísticos e do segmento cultural de moda, o post carece de um olhar crítico de quem produz a informação e a própria iniciativa de desenvolver o senso crítico dos leitores, como observou Piza (2004), embora siga a tendência de valorizar os fenômenos de massa, como as celebridades (influenciadores digitais, nesse contexto) e o princípio de ser um propagador de tendências da indústria da moda, conforme aponta Ballerini (2015). Além disso, é importante ressaltar que a categoria beleza está inerente nas publicações femininas, além da narrativa desse tipo de publicação, que apela para uma intimidade com a leitora, a amiga. Nesse caso, seria como se Thamires Tancredi estivesse indicando marcas de roupa para suas amigas, que neste caso são suas leitoras. MODA A postagem a ser analisada nesta tag tem o título #AGordaEAMagra! Blogueira plus size recria looks incríveis de Meghan Markle – com direito a Príncipe Harry10, publicada no dia 17 9 Ibidem. 10 Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2018/05/17/ agordaeamagra-blogueira-plus-size-recria-looks-incriveis-de-meghan-markle-comdireito-principe-harry/>. Acesso em: 23 mai. 2018.
72
de maio de 2018. Como pontuado na tag anterior, a beleza faz parte das publicações femininas e é isto que se observa na publicação da tag Moda, inclusive seguindo os preceitos do movimento Body Positive, pois a beleza é voltada para um corpo fora do padrão de beleza magra. Sendo assim, a categoria beleza está presente nesta publicação. Só que não existe uma divulgação de marca como na tag anterior, e sim a propagação do estilo da influenciadora digital Katie Sturino, através da reprodução das postagens do Instagram da modelo plus size. Acredita-se que o post segue o caráter de noticiabilidade das revistas, que, conforme Neveu (2006), é o espaço das notícias frias. Nas revistas femininas, as notícias geralmente são superficiais e voltadas para comportamento (SALLES, 2009), o que é o caso desta publicação, que se apropria de uma pauta da internet, cujo perfil do Instagram está tendo grande repercussão. A publicação não segue os valores do jornalismo tradicional, pois trata de algo superficial, uma notícia que não tem uma relevância pública (BUCCI, 2002) e não é uma informação de caráter nobre, conforme descreve Lage (2010). Vale ressaltar que a publicação aproveita um fato mundial, o casamento real da Inglaterra (príncipe Harry com uma atriz estadunidense), que ocorreria no dia 19 de maio. No entanto, está de acordo com o contexto da internet, das publicações femininas e da própria forma de construir a narrativa em blogs, pois, como por Salles (2009), os blogs de beleza não costumam prezar por aprofundamento. Vale destacar aqui que, neste post, não houve produção de conteúdo original do blog, que simplesmente reproduziu o trabalho feito por outra pessoa. A categoria autocuidado, que vai além da beleza, não é identificada, pois, novamente, a publicação está ligada à imagem, não sendo possível analisar os aspectos emocionais e pessoais, relacionados ao autocuidado que o movimento preconiza. No entanto, é visível que a modelo plus size Katie Sturino demonstra autoaceitação e confiança nas fotos e na narrativa de Thamires ao longo do post. É importante ressaltar que a imagem da mulher, desde a metade do século XX, é construída através do cinema e também da moda (SALLES, 2009) e com a estética norte-americana e europeia, de acordo com Buitoni (2009). Isso porque, nesta publicação, o blog dá esse destaque, visto que a modelo, em seu Instagram, reproduz tendências de moda de pessoas famosas, como Meghan Markle, a estadunidense que casou com o príncipe Harry, da Inglaterra e a 73
atriz norte-americana Jennifer Lawrence. A moda ostentada pelos ídolos passou a ser seguida pelas pessoas a partir da segunda metade do século XX, segundo Lipovetsky (2009). O autor descreve que as celebridades transmitem o luxo e a vida frívola, passando a ditar as modas do momento e novos comportamentos. A categoria aceitação corporal, conforme o movimento Body Positive prescreve, no que diz respeito à aceitação através da divulgação de imagens, é explícita nesta publicação, porque o foco é a modelo plus size que divulga fotos suas copiando as roupas de personalidades famosas através do perfil no Instagram que, como foi visto por Cwynar-Horta (2016), é o meio onde o movimento Body Positive se propagou exponencialmente. A divulgação da imagem dá a entender uma aceitação quanto à própria imagem. Mas, assim como analisado na tag Plus size, a aceitação corporal é de personalidades conhecidas, não de indivíduos comuns, não famosos. Vale ressaltar que o blog, inclusive, mostra a hashtag #SuperSizeTheLook, usada pela modelo Katie Sturino para demarcar esse trabalho. As campanhas através de hashtags também são uma das marcas do Body Positive, segundo Cwynar-Horta (2016), que conectam mulheres que se identificam com o movimento, ao divulgar selfies em promoção ao amor-próprio através da hiperligação do tema. Então, a categoria divulgação pública é visível e intensificada através da propagação das hashtags, da influência do perfil no Instagram e da mídia pautando o fato, neste caso, o blog Um Plus a Mais. No entanto, o blog, ao utilizar a publicação de uma outra pessoa, não está explicitamente ligado ao movimento. E existe um outro aspecto que deve ser destacado. Nem o Instagram de Kate Sturino faz isso, pois não utiliza a hashtag do movimento, embora gire em torno de uma pessoa plus size. É uma modelo e influenciadora digital, que usa o seu corpo através da moda, demonstrando que pessoas gordas podem vestir os mesmos modelos de roupas das celebridades magras: “Ela é fashionista até dizer chega: usa de um jeito incrível as tendências da vez, como listras, xadrez, conjuntinhos… Não tem medo de usar transparências, cores fortes, comprimentos míni ou versões máxi”11. Essa atitude também conversa com a categoria representatividade proposta pelo movimento, que gira em torno de influenciadoras e celebridades, embora existam usuários comuns que possam gerar 11 Ibidem.
74
essa representatividade também, o que não é o caso desta publicação: “Katie mostra que, definitivamente, não existe roupa para magra ou roupa para gorda. Os looks não ficaram incríveis em versões parecidíssimas com os de Meghan? Isso só reforça que a mulher gorda pode usar tudo o que tiver vontade”12. A categoria influenciadoras digitais é explícita, pois permeou as demais categorias dessa tag. Isso acontece porque o centro de atenção da publicação é a modelo plus size que faz sucesso na sua conta no Instagram. Mais uma vez, a jornalista faz uso das influenciadoras digitais como uma forma de reproduzir alguma tendência e validar o seu blog. O caráter de noticiabilidade é considerado, assim como o título apelativo, uma das características do conteúdo jornalístico para a web, conforme identifica Canavilhas (2014), pois a publicação desta tag chama a atenção para uma influenciadora que se apropria de um acontecimento, o casamento de um príncipe, que está sendo pautado pela imprensa. Mas, mais uma vez, foi observada a superficialidade ao tratar do assunto, se atendo a comentários sobre um dos looks de Kate que “cai bem para todos os tamanhos” e, em outras, indique: “Produção clássica, mas com estilo!” e “Quem disse que mulher gorda não fica bem de branco, hein?”13. A beleza continua intrínseca, pois faz parte da personalidade da imprensa feminina e, logo, conversa com o movimento Body Positive, pois a beleza em questão é dos corpos gordos. A categoria influenciadoras digitais também continua sendo um dos centros das publicações do blog. Já as demais categorias foram encontradas de forma imparcial ou subjetiva, devido à falta de profundidade da publicação para esta análise. Mas é aparente a existência da aceitação corporal, divulgação pública e representatividade que o movimento preconiza, embora o autocuidado mais uma vez não apareça, porque a publicação está diretamente ligada à imagem, não transparecendo quais são os sentimentos da modelo ou mesmo da autora do blog para além da manifestação da imagem. EMPODERAMENTO A publicação do dia 9 de abril de 2018, intitulada Eu, gorda: conheça o projeto (incrível!) que retrata a beleza da mulher gorda
12 Ibidem. 13 Ibidem.
75
através da fotografia14 será analisada nesta tag. A palavra beleza encontra-se já no título da postagem, que venera e promove a estética gorda, logo, a categoria está presente na publicação. A categoria autocuidado aparece de maneira pouco evidente. No seguinte trecho é possível perceber uma narrativa voltada ao autocuidado. Isso ocorre na forma como o projeto é executado na hora que a fotógrafa inicia a sessão, momento em que a jornalista optou por transparecer essa característica na postagem: Na data marcado, um grupo de gurias se reúne e começa o dia com uma roda de conversa para compartilhar experiências. É neste momento de troca que já surgiram amizades, mas, principalmente, a cumplicidade entre mulheres que dividem medos, anseios e dúvidas para além do mesmo biotipo15.
As fotos do projeto estão centralizadas no Instagram, no perfil @olhardepaulina, da fotógrafa Milena Paulina. Observa-se nesta tag o elemento Instagram, que também estava presente no item anterior. Neste caso, a fotografia de pessoas plus size e o Instagram como rede social propagadora dessas imagens, conversam com o movimento Body Positive ao realizar a divulgação pública de corpos gordos e a aceitação corporal que esse ato incentiva. Identificam-se, então, nesse post, duas categorias. Embora a publicação reproduza mais uma tendência das redes sociais, também com influenciadoras incluídas, como na tag anterior, agora, a jornalista descreve de maneira menos superficial, inclusive incluindo o depoimento de fontes, como será visto a seguir. O projeto Eu, Gorda de Milena passa por diversas cidades no Brasil e, nesta publicação, dá a entender que Thamires acompanhou a passagem do projeto pelo Rio Grande do Sul, quando a modelo plus size Arantxa Von Appen, da cidade de Pelotas, foi fotografa e entrevistada como uma das fontes para o blog. O trecho a seguir é um exemplo que aponta a existência das categorias aceitação corporal, que é o objetivo da divulgação do projeto, e a representatividade que o movimento Body Positive preconiza, voltadas para a promoção da imagem. A jornalista se posiciona nessa narrativa ao longo do texto, incluindo as falas das fontes, principalmente ao descrever os anseios da fotógrafa Milena e da fotografada Arantxa. 14 Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2018/04/09/ eu-gorda-conheca-o-projeto-incrivel-que-retrata-beleza-da-mulher-gorda-atraves-dafotografia/>. Acesso em: 23 mai. 2018. 15 Ibidem.
76
De gorda, para gorda: talvez esse seja o diferencial que torna tão único e sensível o trabalho de Milena, que excursiona pelo Brasil em busca de novas gurias dispostas a revelarem um novo olhar sobre seus corpos. É, também, um reflexo dos anseios da retratista, que sentia dificuldade de se ver representada em ensaios, na mídia e na publicidade16.
Conforme Santaella (2004), o corpo é um espaço em que a cultura se manifesta, e se tornou, também, um sintoma da cultura. Nele, são expressos os anseios do inconsciente. E na nossa sociedade, atualmente, uma das formas de externar esses anseios do corpo é através do consumo, que também se manifesta na busca por sensações. Tal aspecto é identificado, de certa forma, no trabalho da fotógrafa, que promove a aceitação corporal e a representatividade que o movimento preconiza, que são sensações transmitidas para o público. Segundo Salles (2009), a linguagem na imprensa feminina é feita de forma afetiva, coloquial e próxima à leitora. E, na citação anterior, é visível a narrativa da jornalista falando para a leitora, como sendo uma igual, característica das publicações femininas. No caso do Um Plus a Mais, é uma marca do envolvimento que o tema do blog tem com a própria autora. Além disso, os anseios da jornalista pela falta de representatividade – também exposta pelas fontes – são correspondidas com a representatividade na divulgação da imagem de mulheres gordas através de um projeto de fotografia. Uma das fontes desta publicação, a modelo plus size Arantxa Von Appen, reafirma a categoria representatividade na seguinte citação da publicação: “A representatividade gorda é muito importante e o que a Milena está fazendo é registrar o que acredito que será uma parte importante da história, o empoderamento da mulher gorda na sociedade atual”17. Então, pela divulgação pública que está sendo feita e pelo conhecimento do público-alvo sobre Milena, a fotógrafa, e Arantxa, uma das fotografadas, é possível identificá-las como influenciadoras digitais. Além de Arantxa, ao acessar o perfil do Instagram do projeto, constatou-se que já foram fotografadas outras influenciadoras Body Positive, como Luiza Junqueira e Alexandra Gurgel18. Essas celebridades da internet desempenharam um papel importante para a visibilidade do movimento Body Positive no Brasil, 16 Ibidem. 17 Ibidem. 18 Informações coletadas em: <https://www.instagram.com/olhardepaulina/>. Acesso em: 24 mai. 2018.
77
a partir de 2016, e viraram alvo das marcas e desses projetos. E Thamires Tancredi faz uso excessivo das influenciadoras em suas publicações. Mais uma vez, o blog reproduz uma tendência voltada ao seu público, e continua com bastante foco nas influenciadoras digitais, e também na imagem, por causa da pauta escolhida. Para Buitoni (2009), a imagem das mulheres nas publicações femininas é um reflexo da cultura, principalmente das reivindicações das mulheres do seu tempo, que, no contexto atual, está exigindo mais representatividade. E, conforme Santaella (2004), a cultura do corpo, explicitada através da imagem, tende a reproduzir esses anseios. Então, assim como a tag anterior, a jornalista aproveita a pauta ligada a uma tendência do Instagram, voltada para a autoaceitação dos corpos gordos, para divulgar o projeto no blog. O blog Um Plus a Mais faz a divulgação, promoção e aceitação da beleza de corpos fora dos padrões, ideais inclusos no Body Positive. A beleza, a aceitação corporal, a divulgação pública, a representatividade e as influenciadoras digitais são características visíveis no projeto e na forma como Thamires Tancredi construiu o texto. Inclusive, a categoria autocuidado aparece pela primeira vez nesta análise, embora de maneira não tão explícita, inserida na forma como o projeto se desenvolve e como as pessoas envolvidas interagem. Sobre a publicação, é importante destacar que o caráter multimídia do jornalismo da web, apontado por Ferrari (2010), também aparece nesta publicação, onde é visto, pela primeira vez, algo para além do texto, da imagem e das hiperligações. Existe um vídeo do programa Um Plus a Mais, com Thamires Tancredi entrevistando a fotógrafa Milena, do projeto Eu, Gorda. AUTOESTIMA A publicação de 13 de dezembro de 2017, Magra de Taubaté: Por que a lipo polêmica da Boca Rosa pode gerar tantas neuras com o corpo19 é o objeto de análise da tag Autoestima. Neste post é visto, pela primeira vez nesta análise, a categoria autocuidado como um dos pontos centrais, onde existe um debate sobre os problemas relacionados à saúde, à obsessão pelo corpo magro e os ideais de 19 Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2017/12/13/magrade-taubate-por-que-lipo-polemica-da-boca-rosa-pode-gerar-tantas-neuras-com-ocorpo/>. Acesso em: 23 mai. 2018.
78
beleza propagado nas novas mídias através dos influenciadores digitais. O jornalista cultural, segundo Piza (2004), também tem o objetivo de refletir sobre comportamentos, que é uma das abordagens das publicações femininas (BUITONI, 2009; SALLES, 2009), e da Revista Donna (OLIVEIRA, 2008). Outra categoria existente e central na publicação, mais uma vez, é influenciadoras digitais. Thamires Tancredi já inicia com a palavra influenciadora, e admite que segue muitas influenciadoras no Instagram, que a ajudaram a moldar uma imagem positiva do seu corpo. A categoria beleza está incluída, mas não exatamente conforme o Body Positive, visto que o corpo exposto é magro. Mas a narrativa que Thamires usa no texto está de acordo com o movimento, porque ela favorece a autoaceitação da estética e a problematização da obsessão com padrões de beleza. Conforme indicado, a categoria influenciadoras digitais é evidente nessa publicação. Thamires Tancredi inicia a matéria indicando as influenciadoras que a auxiliaram a moldar como ela mesmo se via. Para ela, essas personalidades da internet a ajudaram “a encarar de um jeito mais sadio e empático minha própria imagem refletida no espelho”. A jornalista indica, entre as influenciadoras plus size, Ju Romano, que colabora com portais voltados para o público feminino, e fala sobre beleza e comportamento para corpos fora dos padrões20. Conforme Luca e Martins (2008), as publicações femininas contribuíram para determinar padrões de comportamento e, conforme Wolf (1992), uma nova onda feminista seria responsável por promover o amor-próprio. De acordo com Cwynar-Horta (2016), um dos resultados foi o movimento de liberação gorda, onde surgiu o Body Positive, que propaga esses ideais. O centro da publicação é o caso da influenciadora Bianca Andrade, que gerou uma discussão na internet, porque ela admitiu, na época, ter feito lipoaspiração, sendo que dizia seguir técnicas de emagrecimento naturais. Isso indica, mais uma vez, que a beleza é um dos temas centrais das discussões do blog analisado. A partir deste case, Thamires constrói o discurso de que não há problema em as mulheres fazerem mudanças no corpo através de cirurgias, pela insatisfação consigo mesma, embora tenha que ser uma decisão bem refletida. Esse posicionamento vai ao encontro da aceitação corporal, 20 SOBRE. JUROMANO.COM. Disponível em: <https://juromano.com/sobre/>. Acesso em: 10 mai. 2018.
79
embora passe pela manipulação estética através da cirurgia. Se vai contribuir para sua autoestima e você está com uns pilas a mais no bolso, vai em frente. Palavras de quem já passou pela faca: eu mesma fiz mamoplastia, aquela cirurgia redutora dos seios, quando tinha pouco mais de 18 anos. Analisando hoje, aos 27, acho que faria do mesmo jeito, mas provavelmente teria esperado mais para ter certeza de que era a decisão correta21.
As publicações femininas retratam a cultura do seu tempo e determinam papéis sociais das mulheres. No caso do blog voltado para o público plus size, acredita-se que Thamires difunde a ideia da manipulação estética para a finalidade da mulher se sentir confortável consigo mesma. A tendência que o movimento Body Positive implica é, conforme o próprio nome diz, um comportamento de positividade corporal por parte dos seus defensores. Ou seja, deve-se sentir bem consigo mesma e, no caso da publicação, se uma mulher não estiver bem com sua aparência, é aceitável que faça mudanças estéticas – a escolha é da própria mulher. Isso reforça o posicionamento da Revista Donna, lançado no mesmo ano dessa publicação, em 2017, chamado #SouDonnadeMim que, conforme o site do Grupo RBS, instiga que a mulher gaúcha busque a melhor versão de si mesma22. É importante lembrar que a indústria voltada para a manutenção da estética acompanhou os ideais de beleza da mulher. Segundo Wolf (1992), ela nasceu e acompanhou o progresso da vida moderna, inclusive auxiliou e seguiu as obsessões com o corpo e alimentação, e os distúrbios alimentares das mulheres, que passaram a se intensificar a partir da metade do século XX. Ao longo deste século, Moreno (2008) lembra que o corpo magro passa a ser venerado e a estética gorda passa a trazer insatisfações para as mulheres. E, de acordo com Santaella (2004), o corpo manifesta essas insatisfações através do consumo, como cirurgias plásticas. Mas, no caso desta publicação, os corpos gordos não são mais o problema, visto que existe uma promoção desses corpos atualmente. A categoria influenciadoras digitais é, mais uma vez, evidente e central. A personalidade é Bianca Andrade, que não é plus size, o que foge do público-alvo do blog. Mas Thamires descreve o 21 Ibidem. 22 Cinco mulheres incríveis contam o momento em que declararam: #SouDonnaDeMim | Donna. Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/comportamento-2/cincomulheres-incriveis-contam-o-momento-em-que-declararam-soudonnademim/>. Acesso em: 11 mai. 2018.
80
fato relacionado à influenciadora por ser uma personalidade do Instagram e do YouTube com muitos seguidores, que propagava dietas naturais e treinamentos para emagrecimento sendo que não os seguia. A jornalista reforça a divulgação feita por Bianca Andrade de uma cinta modeladora, objeto de desejo de suas seguidoras, que almejavam ter uma cintura fina igual à da influenciadora. Embora ela não esteja ligada ao Body Positive, a narrativa e discussão que Thamires Tancredi propõe se encontra com o movimento, visto que promove a autoceitação de todos os corpos. Na publicação, Thamires dá destaque ao fato de que a influenciadora digital Bianca Andrade admitiu, acidentalmente, em um programa de rádio, que fez lipoaspiração. Para a autora do blog, admitir tal coisa não é realmente um problema, mas, sim, propagar mentiras a respeito de técnicas de emagrecimento para o público que segue seus passos. Com isso, ela reflete que a influenciadora: Passa a ideia de que é fácil emagrecer, e a gente bem sabe que não é. Cria a ilusão de que, com uma cinta “mágica” que custa um dinheirão, as gurias que a seguem também podem conseguir. E gera uma frustração absurda quando, ao final do dia, elas tiram a tal cinta e percebem que a barriga não virou six pack23.
Logo, o conteúdo do texto remete à problemática que o acontecimento gerou, de um ideal de corpo inalcançável com as dietas que a influenciadora dizia seguir. Isso envolve a divulgação pública, feita pelos usuários e pela mídia, além da própria divulgação pública que o trabalho de uma influenciadora digital implica. Mesmo não sendo a divulgação de um corpo fora dos padrões, como a categoria implica no Body Positive, a divulgação pública da discussão no contexto do blog é voltada para a reflexão em cima de corpos fora dos padrões, visto que a jornalista considera o ponto de vista deste grupo. Thamires ressalta a necessidade de uma aceitação corporal para todas – influenciadoras e usuárias da internet – mas a partir de uma transparência do discurso por parte das celebridades das redes sociais. Mesmo que a influenciadora desta publicação não esteja relacionada ao movimento Body Positive, a jornalista transparece os preceitos do movimento ao construir a análise do acontecimento e da influenciadora em questão, e chama a atenção para a representatividade real dos corpos, sejam eles gordos ou magros, o que foi um dos preceitos do movimento 23 Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2017/12/13/ magra-de-taubate-por-que-lipo-polemica-da-boca-rosa-pode-gerar-tantas-neuras-como-corpo/>. Acesso em: 23 mai. 2018.
81
nos últimos anos, que, segundo Sastre (2014), permite que qualquer corpo busque o reconhecimento da po- sitividade corporal, que deve passar pela divulgação dos seus corpos nas redes sociais da internet. Se na nossa adolescência as atrizes da TV eram referência de beleza, hoje são as influencers – e não dá para ignorar a força que essas gurias têm, para o bem ou para o mal. Podem ajudar a lidar melhor com o próprio corpo, ensinar a fazer uma make que deixa você ainda mais bonita ou, claro, criar a ideia de que você pode emagrecer 14 quilos facilmente e ter uma barriguinha de Photoshop graças a uma cinta modeladora. Boca Rosa, isso não cola mais24.
Conclui-se que, pela primeira vez nesta análise, foi debatido um assunto com maior profundidade, como Piza (2004) e Ballerini (2015) preconizam no jornalismo cultural, que, embora esse texto não seja voltado para a moda, é voltado para o comportamento e variedades, um dos desdobramentos do jornalismo cultural nas últimas décadas. Todas as categorias foram identificadas, embora não estejam inteiramente ligadas ao movimento Body Positive, se for pensado no case escolhido, mas estão totalmente ligadas, se a análise for em cima da narrativa escolhida pela jornalista no conteúdo da publicação, o que é o objetivo deste trabalho. É relevante ressaltar o aparecimento da categoria autocuidado como um dos pontos centrais, por causa da narrativa construída por Thamires Tancredi, embora exista uma relação com a categoria aceitação corporal no conteúdo do post, ao destacar a questão da estética. E, mais uma vez, as influenciadoras digitais são pauta. Sendo assim, a tag Empoderamento segue os critérios do movimento Body Positive. AMOR-PRÓPRIO A publicação analisada nesta tag é Com direito a desfile com influencers plus size, Malhação: Vidas Brasileiras faz bonito ao trazer a história de personagens gordas25, do dia 16 de maio de 2018. Entre as publicações analisadas, esta é a que dá menor ênfase à categoria beleza. Isso porque o foco da publicação são as categorias representatividade, na mídia tradicional – neste caso a novela para jovens na televisão – e a categoria influenciadoras digitais. 24 Ibidem. 25 Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2018/05/16/comdireito-desfile-com-influencers-plus-size-malhacao-vidas-brasileiras-faz-bonito-aotrazer-historia-de-personagens-gordas/>. Acesso em: 24 mai. 2018.
82
As publicações femininas costumam pautar a programação e as celebridades televisivas, principalmente as de novelas, como Buitoni (2009) e Salles (2009) descrevem. E, no caso do blog, existiu essa demanda por causa da representação do público-alvo nelas. Ainda mais por se tratar de uma representação em um canal com grande abrangência nacional, a Rede Globo, que tem como emissora afiliada a RBS TV, que reproduz a novela no Rio Grande do Sul. A RBS TV pertence ao Grupo RBS, no qual a Revista Donna faz parte. Na publicação, Thamires descreve as personagens e enredo da novela para adolescentes Malhação: Vidas Brasileiras, que tem como foco os conflitos das personagens. No caso da publicação, o destaque foi uma cena específica, um desfile de moda plus size. Para a jornalista, a novela tem focado em assuntos importantes, como a representatividade gorda. Desde que estreou essa nova temporada de Malhação, chamada de Vidas Brasileiras, ouço falar muito da personagem Úrsula. Vivida pela atriz Guilhermina Libanio, Úrsula é uma garota gorda que passa por problemas de aceitação – tão típicos da adolescência, principalmente de uma guria fora dos padrões. Para dar um contexto para quem não consegue assistir a novelinha teen da Globo (que, olha, está cada vez mais ligada nos temas que realmente precisam ser falados com o público adolescente), Úrsula tem uma prima-amigona que também é gordinha, a Bárbara (Dora Freind) – que, ao contrário da nossa mocinha, cultiva um amor próprio de (quase) dar inveja. É mulherão assumido, sabe como?26.
Como indicado, a categoria beleza não é o foco, aparece de maneira parcial, mas, ao longo do texto, dá a entender, através de adjetivos utilizado para descrever as personagens, como mulherão e maravilhosa, que a beleza também está implicada. A palavra beleza também aparece nas hiperligações para outras publicações relacionadas do blog. A aceitação corporal é um dos temas centrais da trama, que a jornalista indica no blog e, logo, a categoria é existente nesta tag. Isso porque Thamires conta que existem duas personagens gordas: a personagem principal, Úrsula, que não aceita seu corpo, e a prima Bárbara, que aceita o seu corpo e quer que a amiga também se aceite. A categoria autocuidado existe, mas não é explícita. Ela aparece quando Thamires indica que Bárbara e outras personagens tentam elevar a autoestima de Úrsula. Thamires reproduz algumas 26 Ibidem.
83
frases ditas pelas personagens, entre elas: “Qual o problema de você ser gorda? A Bárbara só quer que você se ame e descubra a garota maravilhosa que é. Antes de ter o amor de outra pessoa, você precisa se amar”27, diz a professora Gabi para Úrsula. Mas autocuidado implica um cuidado com si mesma, o que a personagem principal não tem até então, mas a amiga tem. Mas, no final da cena do desfile, Thamires indica que a personagem Úrsula vence o modo de desfilar, ou seja, sua autoestima se eleva. Mais uma vez, a autora do blog Um Plus a Mais reproduz informações coletadas da internet sobre a pauta, não entrevistando fontes. Existe uma citação da atriz que interpreta a personagem principal, mas não foi coletada a partir de entrevista para o blog Um Plus a Mais, mas, sim, reproduzida de uma entrevista que o portal GShow, da Rede Globo, fez com a atriz. A falta de aprofundamento no conteúdo foi uma das características da primeira fase da internet, a Web 1.0, segundo Ferrari (2010) e Briggs (2007), quando as empresas de jornalismo tradicionais não investiam em conteúdo próprio, pelas limitações da época. Fato que muda na Web 2.0, onde o usuário passa a participar ativamente, produzindo seu próprio conteúdo (BRIGGS, 2007), inclusive através de blogs. O Um Plus a Mais, apesar de ser um espaço na web identificado como blog, faz parte de uma empresa tradicional de comunicação, a Revista Donna, do Grupo RBS que, com o jornal Zero Hora, passou a investir na web desde o início do seu uso comercial no Brasil, em 1995 (MIELNICZUK et. al., 2015). Embora a internet seja um espaço para aprofundar conteúdo, os blogs voltados para o público feminino, principalmente quando o tema é beleza, tendem a não se aprofundar no conteúdo, conforme verificado por Salles (2009). A categoria divulgação pública não está incluída exatamente da forma como o movimento Body Positive implica, através da pu- blicação de fotos, mas o que se vê é uma das consequências da divulgação pública do movimento, que é a mídia tradicional pautando e utilizando influenciadoras digitais Body Positive, como Alexandra Gurgel. Sendo assim, a categoria divulgação pública está incluída nesta publicação. A categoria representatividade está inserida nesta publicação, porque Thamires Tancredi dá grande ênfase a ela, levando, mais
27 Ibidem.
84
uma vez, para o lado pessoal: “Quando que na minha adolescência ia imaginar ver uma personagem gorda e bem-resolvida, como a Bárbara, em programas para o público teen? Mas é nunca! Ver uma personagem com conflitos internos parecidos com os meus? Sonho!”28. Então, a jornalista se sente representada pela existência de uma personagem gorda que se aceita, e indica que meninas gordas também se sentem representadas, ponto que também leva à aceitação corporal, novamente. É importante lembrar que um dos motivos que Thamires entrou para o time da Revista Donna e criou o blog Um Plus a Mais foi a falta de representatividade que ela via nas publicações femininas até então. Ela criou o blog em 2016, na mesma época em que Alexandra Gurgel falou, em seu canal no YouTube, no vídeo sobre o movimento Body Positive, que o movimento ainda não era tão popular no Brasil29. Ainda sobre representatividade, o texto enfatiza a importância de propagar esses corpos, sem estereótipos, nas mídias tradicionais de alcance nacional, como a Rede Globo. Para ela, essa atitude é um avanço: Colocar essa história na maior emissora do país, em uma novela voltada para adolescentes, é um tremendo avanço. E uma injeção de autoestima para tantas gurias gordas que jamais se viram representadas, e estavam acostumadas a ver na TV a mulher gorda apenas como a personagem engraçada, cheia de problemas com a própria imagem ou não pega ninguém30.
A jornalista evidencia uma das cenas da produção, que é um desfile de moda com mulheres plus size, entre elas, influenciadoras digitais, como Alexandra Gurgel, youtuber do canal Alexandrismos, já mencionada nesta pesquisa por ser uma das principais influenciadoras Body Positive no Brasil. A categoria influenciadoras di- gitais continua sendo um dos pontos relevantes do Um Plus a Mais. Nesta publicação, ela indica que as influenciadoras mencionadas são “gurias com estilos totalmente diferentes, mas que tem em comum o ativismo contra a gordofobia e a favor do amor próprio”31. Segundo Lara et. al. (2016), a gordofobia é o preconceito contra pessoas gordas, nesse caso, as mulheres gordas, e está ligado aos 28 Ibidem. 29 Dados coletados em: <https://www.youtube.com/watch?v=iR9SYM3smOI>. Acesso em: 10 mai. 2018. 30 Ibidem. 31 Ibidem.
85
valores que as mulheres têm na nossa sociedade, que são propagados através da moda e da mídia, por exemplo. Mas o que se vê é essa mudança de posicionamento, com a inclusão dessas pessoas nesses meios. Inclusive, no contexto que Thamires aponta, da novela e da cena em questão, entra nas duas esferas apontadas por Lara et. al. (2016): a mídia, com a novela, e moda, na cena inserida na novela. A jornalista também fala em amor-próprio na última citação, uma das características do movimento Body Positive, além de ser a tag desta publicação. Essa publicação é a que mais corresponde aos ideais do movimento Body Positive, pois todas as categorias são incluídas e explícitas no post. A própria tag analisada nesta publicação é uma das características que definem o movimento: o amor-próprio. A única categoria que não está tão evidente é a beleza, embora a publicação promova a beleza do seu público-alvo, mulheres fora doa padrões ideais, em específico as plus size, como esta autora analisa. A representatividade e, mais uma vez em excesso, as influenciadoras digitais são destaque. Também é importante ressaltar que a divulgação pública, conforme está inserida no movimento, não aparece em seu sentido original, mas, sim, conduz a uma consequência dessa categoria. A divulgação e o intenso debate do movimento Body Positive pelas influenciadoras digitais e por seus seguidores nos últimos anos no Brasil, fez com que os ideais do Body Positive ultrapassassem a esfera da internet, se manifestando, agora, nas mídias tradicionais, como a televisão que, assim como os demais meios de comunicação, acompanham as tendências da sociedade. Mas a publicação acaba, de novo, reproduzindo informações da internet, sem um aprofundamento ou criação própria da autora, embora ela construa a narrativa através da sua vivência, que representa o seu público-alvo também. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da análise das categorias que descrevem o movimento Body Positive nos posts das tags em destaque no blog Um Plus a Mais, da Revista Donna, esta pesquisadora entende que o movimento Body Positive está incluído no blog, confirmando a hipótese do trabalho, de que o blog Um Plus a Mais, da Revista Donna on-line, conversa com as propostas do Body Positive, já que pensa nas necessidades do grupo de pessoas que não possui corpos esculturais. No entanto, foi identificado que o objeto atua superficialmente 86
no que preconiza o movimento, que promove algo mais aprofundado, para além da beleza, e que também tem a preocupação com fatos relacionados à saúde, o que não foi identificado na análise. Vale ressaltar que tal entendimento de que existe a confirmação da hipótese se deu com base na categorização e no sentido das palavras, visto que, geralmente, o termo Body Positive não é mencionado diretamente e literalmente nas publicações estudadas. Porém, tudo o que caracte- riza o movimento está presente no blog. O públicoalvo é o plus size e, como as publicações femininas dão atenção às tendências de comportamento e de moda, isso acaba espelhando essa nova atitude, mais representativa e mais positiva em relação à diversidade dos corpos femininos. Neste caso, soma-se também a influência da própria jornalista, que se identifica pessoalmente com o conteúdo que produz. Os objetivos também foram alcançados, pois foi possível indicar que o blog Um Plus A Mais, da Revista Donna on-line, segue as técnicas do jornalismo segmentado, mais especificamente no que diz respeito à imprensa feminina. No entanto, não está alinhado com o jornalismo de moda, que promove um aprofundamento das questões abordadas, embora hoje em dia não exista mais esse tipo de preocupação. Vale lembrar que apenas duas tags pareceram tratar de forma mais aprofundada suas pautas: empoderamento, sobre o projeto de fotografia Eu, Gorda, onde dá a entender que ela entrevistou duas fontes; e a autoestima, onde o debate gira em torno da aceitação corporal. Outro ponto identificado foi que o blog só reproduz as tendências, se utilizando de influenciadoras digitais com excesso, não existindo a participação de mulheres comuns no Um Plus a Mais. Além disso, Um Plus a Mais não pensa exclusivamente no público local, embora constata-se que houve uma preocupação com a mulher gaúcha na tag Plus size, quando promoveu um evento em Porto Alegre, além de dar destaque para lojas locais. Para Santaella (2007), o consumo faz parte da cultura no modelo econômico atual e, para a autora, a cultura se manifesta também pelo corpo, e seus anseios. Para Salles (2009), as publicações voltadas para as mulheres servem de manutenção ao consumo, sendo um espaço para catálogo de produtos também, visivelmente explícito nessa tag; e na tag Empoderamento, do projeto de fotografia Eu, Gorda, que passou pelo Rio Grande do Sul, mesmo tendo como um dos personagens uma gaúcha.
87
A partir das constatações acima, entende-se ser importante retomar as constatações apontadas nas categorias. A de beleza foi encontrada em praticamente todas as tags, por ser uma das premissas das publicações femininas, onde o blog está inserido. A exceção foi tag Amor-próprio, onde o foco não é a beleza, mas implica na beleza de corpos fora dos padrões, sendo divulgados na mídia tradicional, que se apropriou do movimento. A beleza é ainda considerado um assunto feminino, e o blog continua propagando este conceito, direcionado à beleza plus size, embora o movimento Body Positive, na sua essência, promova amor-próprio para além da beleza também. Além disso, foi constatado que a beleza está ligada ao consumo e à moda, como a tag Plus Size. A moda, conforme Lipovetsky (2009) destacou, é efêmera e transmite tendências da sociedade, o que o blog Um Plus a Mais propaga. A categoria autocuidado, que não é necessariamente ligada à beleza para o movimento, não encontra-se explicitamente nas publicações. Não é identificada nas tags Plus size e Moda, parcialmente na tag Empoderamento e existe na Amor-próprio e Autoestima, essa última com maior ênfase. Nela, a jornalista do blog levanta um debate mais aprofundado, comparado à categoria nas outras tags. Embora ainda fale de beleza, existe uma preocupação para além dela, do papel das influenciadoras digitais sobre seus seguidores, embora seja um ponto fora da curva das outras publicações analisadas. A categoria aceitação corporal também foi encontrada em todas as tags, inclusive na Autoestima, onde a influenciadora digital case da publicação não se encaixa com o público-alvo, mas a narrativa que a jornalista constrói é voltada para ele e a proposta do movimento Body Positive, que é incentivar uma positividade corporal, uma aceitação corporal. Embora o movimento promova a aceitação corporal de mulheres gordas, pouco se reflete para além da beleza da mulher, para além do valor da mulher na estética. As mulheres, então, precisam se empoderar e se afirmar, conforme é visto no blog Um Plus a Mais, através da aceitação corporal e da beleza. A categoria divulgação pública encontra-se em todas as tags, porque o blog promove a beleza de corpos fora dos padrões, proposto pelo movimento Body Positive. É interessante analisar que a tag Amor-próprio, por exemplo, é uma consequência da divulgação pública que o movimento propõe, visto que ele se expande para uma divulgação em mídias tradicionais, como a televisão.
88
Quanto à representatividade, essa categoria foi vista em todas as publicações analisadas, ocorrendo por meio das influenciadoras digitais, sendo explícita na categoria Amor-próprio, quando Thamires celebra a representatividade de personagens gordas na novela Malhação, voltada para o público adolescente. A própria entrada da jornalista Thamires Tancredi na Revista Donna e a criação do blog, em 2016, surgiram através da falta de representatividade de mulheres fora dos padrões nas revistas femininas, ideia que têm a ver com o movimento. Esta pesquisadora acredita que o movimento Body Positive e o blog, como um canal de divulgação do movimento, tentam quebrar essa falta de escolha para as mulheres. Embora proponha uma maior representatividade, o blog Um Plus a Mais reflete mais sobre a beleza e a divulgação da imagem dos corpos em si, não propondo reflexões aprofundadas na maioria das vezes, e sendo apenas propagadora de tendências, o que são algumas das características principais da imprensa feminina que, agora, agrega valores de amor-próprio para a manutenção do comportamento, do consumo e também da beleza feminina. Esta pesquisa não tem a intenção de ser o ponto final na discussão desse tema. Considera-se que ainda há muito a ser pesquisado e analisado em relação ao jornalismo feminino e o seu aprofundamento, bem como a inclusão da mulher plus size dentro da sociedade, não apenas como consumidora, mas como um ser social que deve ter seu espaço garantido e respeitado, inclusive no quesito moda, na mídia e no dia a dia da sociedade. REFERÊNCIAS #AGORDAEAMAGRA! Blogueira plus size recria looks incríveis de Meghan Markle – com direito a Príncipe Harry - Um Plus a Mais. Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/ umplusamais/2018/05/17/agordaeamagra-blogueira-plus-size-recrialooks-incriveis-de-meghan-markle-com-direito-principe-harry/>. Acesso em: 23 mai. 2018. #BODYPOSITIVE hashtag no Instagram • Fotos e vídeos no Instagram. Disponível em: <https://www.instagram.com/explore/tags/ bodypositive/>. Acesso em: 10 mai. 2018.
89
ALERTA comprinhas! ! Evento reúne mais de 20 marcas plus size em Porto Alegre neste fíndi - Um Plus a Mais. Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2018/05/04/alertacomprinhas-evento-reune-mais-de-20-marcas-plus-size-em-portoalegre-neste-findi/>. Acesso em: 21 mai. 2018. ASSIS, Francisco. Jornalismo cultural brasileiro: aspectos e tendências. PUCPR. Revista de Estudos da Comunicação, v.9, n.20, 2008, p. 183-192. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/pb/index. php/comunicacao?dd1=2633&dd99=view&dd98=pb>. Acesso em: 30 abr. 2018. AUTOESTIMA em alta! Como as plus size desafiam os padrões e fazem a moda render-se à beleza em qualquer tamanho | Donna. Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/moda/autoestimaem-alta-como-plus-size-desafiam-os-padroes-e-fazem-moda-render-sebeleza-em-qualquer-tamanho/>. Acesso em: 11 mai. 2018. BALLERINI, Franthiesco. Jornalismo cultural no século 21 [recurso eletrônico]: literatura, artes visuais, teatro, cinema e música: a história, as novas plataformas, o ensino e as tendências na prática. São Paulo: Summus, 2015. BODY POSITIVE: O QUE É O MOVIMENTO + 4 DICAS PARA SE AMAR! - Alexandrismos - YouTube. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=iR9SYM3smOI>. Acesso em: 10 mai. 2018. BRIGGS, Mark. Jornalismo 2.0: como sobreviver e prosperar. Tradução: Carlos Castilho e Sonia Guimarães. Knight Center for Journalism in the Americas. 2007. Disponível em: <https:// knightcenter.utexas.edu/Jornalismo_20.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2018. BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. BUITONI, Dulcília Helena Schroeder. Mulher de papel: a representação da mulher pela imprensa feminina brasileira. São Paulo: Summus, 2009. CANAVILHAS, João. Hipertextualidade: Novas arquiteturas noticiosas. 90
In: CANAVILHAS, João (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Livros LABCOM. Disponível em: <http:// www.labcom-ifp.ubi.pt/ficheiros/20141204-201404_webjornalismo_ jcanavilhas.pdf> Acesso em: 14 abr. 2018. CINCO mulheres incríveis contam o momento em que declararam: #SouDonnaDeMim | Donna. Disponível em: <http://revistadonna. clicrbs.com.br/comportamento-2/cinco-mulheres-incriveis-contam-omomento-em-que-declararam-soudonnademim/>. Acesso em: 11 mai. 2018. COM DIREITO a desfile com influencers plus size, Malhação: Vidas Brasileiras faz bonito ao trazer a história de personagens gordas Um Plus a Mais. Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/ umplusamais/2018/05/16/com-direito-desfile-com-influencers-plussize-malhacao-vidas-brasileiras-faz-bonito-ao-trazer-historia-depersonagens-gordas/>. Acesso em: 24 mai. 2018. CWYNAR-HORTA, Jessica. The Commodification of the Body Positive Movement on Instagram. Stream: Culture/Politics/ Technology. Communication and Culture Program. York University, Canadá. 2016. Disponível em: <http://journals.sfu.ca/stream/index. php/stream/article/download/203/180/>. Acesso em: 6 abr. 2018. DONNA | Grupo RBS. Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/ atuacao/revista-donna/>. Acesso em: 4 abr. 2018. DONNA LANÇA novo posicionamento | Grupo RBS. Disponível: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2017/05/12/donna-lanca-novoposicionamento/>. Acesso em: 11 mai. 2018. EU, GORDA: conheça o projeto (incrível!) que retrata a beleza da mulher gorda através da fotografia - Um Plus a Mais. Disponível em: <http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2018/04/09/ eu-gorda-conheca-o-projeto-incrivel-que-retrata-beleza-da-mulhergorda-atraves-da-fotografia/>. Acesso em: 23 mai. 2018. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital [livro eletrônico]. São Paulo: Contexto, 2010.
91
FONSECA JÚNIOR, Wilson Corrêa da. Análise de conteúdo. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. Atlas Editora, 2006. GIL, Antonio Carlos. Metódos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008. LAGE, Nilson. Conceitos de jornalismo e papéis sociais atribuídos aos jornalistas. Ponta Grossa: Revista Pauta Geral Estudos em Jornalismo, 2014, p. 20-25. Disponível em: <http://www.revistas2. uepg.br/index.php/pauta/article/view/6080/3724>. Acesso em: 20 mar. 2018. LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: A moda e seu destino nas sociedades modernas [recurso eletrônico]. Tradução: Maria Lucia Machado. Companhia de Bolso, São Paulo: 2009. Disponível em: <http:// lelivros.fun/book/baixar-livro-o-imperio-do-efemero-gilles-lipovetskyem-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/>. Acesso em: 4 mar. 2018. LARA, Bruna de; RANGEL, Bruna; MOURA, Gabriela; BARIONI, Paola; MALAQUIAS, Thaysa. Padrão de beleza: a feminilidade em moldes patriarcais e a gordofobia. In: ___________. #MeuAmigoSecreto: Feminismo além das redes. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2016. p. 201-214. LUCA, Tania Regina De; MARTINS, Ana Luiza (Orgs). História da imprensa no Brasil [recurso eletrônico]. São Paulo: Contexto, 2008. MAGRA de Taubaté: Por que a lipo polêmica da Boca Rosa pode gerar tantas neuras com o corpo. Disponível em: <http://revistadonna. clicrbs.com.br/umplusamais/2017/12/13/magra-de-taubate-por-quelipo-polemica-da-boca-rosa-pode-gerar-tantas-neuras-com-o-corpo/>. Acesso em: 23 mai. 2018. MIELNICZUK, Luciana; BACCIN, Alciane; BRENOL, Marlise; SOUSA, Maíra; DANIEL, Priscila. Vinte anos da Zero Hora na internet (1995-2015). 10º Encontro Nacional de História da Mídia. Alcar 2015. Porto Alegre, 2015. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/jordi/wpcontent/uploads/2016/05/Vinte-anos-de-Zero-Hora-na-internet-.pdf>. Acesso em: 11 mai. 2018. 92
MILENA Paulinha (@olhardepaulina) • Fotos e videos no Instagram. Disponível em: <https://www.instagram.com/olhardepaulina/>. Acesso em: 24 mai. 2018. NEVEU, Érik. Sociologia do jornalismo. São Paulo: Edições Loyola, 2006. OLIVEIRA, Rosana Silva de. Moda, jornalismo e identidade: um estudo da Revista Donna/ZH. Centro Universitário Franciscano. Santa Maria, 2008. Disponível em: <https://lapecjor.files.wordpress. com/2011/04/tfg_completo_pronto.pdf>. Acesso em: 4 abr. de 2018. PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo, Contexto: 2004. PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo, Contexto: 2010. POUND, Cath. Como a moda acompanhou e traduziu as pressões culturais sobre o corpo feminino. BBC Culture. BBC News Brasil. 23 mar. 2018. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/vertcul-43312132>. Acesso: 28 mar. 2018. SALLES, Camila Cabral. Jornalismo feminino e sociedade de consumo: um estudo de caso do caderno ELA do Jornal O Globo. Rio de Janeiro: 2009. Disponível em: <http://pantheon.ufrj.br/ bitstream/11422/2254/1/CSALLES.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2018. SANTAELLA, Lúcia. O corpo como sintoma da cultura. Comunicação, mídia e consumo. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo. ESPM. 2004. Disponível em: <http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/view/17/17>. Acesso em: 6 abr. 2018. SASTRE, Alexandra. Towards a Radical Body Positive. Feminist Media Studies. University of California. San Francisco, Routledge Taylor & Francis Group: 2014. Vol. 14, n. 6, p. 929–943. SCALZO, Marília. Jornalismo de Revista [livro eletrônico]. Rio de Janeiro, Contexto: 2011. SOBRE. JUROMANO.COM. Disponível em: <https://juromano.com/ 93
sobre/>. Acesso em: 10 mai. 2018. ZERO HORA transforma caderno Donna em revista | Grupo RBS. DisponĂvel em: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2012/05/24/ zero-hora-transforma-caderno-donna-em-revista/>. Acesso em: 11 mai. 2018.
94
Capítulo 4
O ASSÉDIO CONTRA AS MULHERES NOS JOGOS ELETRÔNICOS: UM ESTUDO NO PORTAL DE NOTÍCIAS ESPN E NO GRUPO DE FACEBOOK OVERWATCH BRASIL Gustavo Toledo Carus
Este artigo tem como inquietação perceber como as mulheres são tratadas nos jogos eletrônicos. Hoje, vive-se a era da tecnologia e a internet se destaca nesse período. As pessoas utilizam a web de diversas formas no seu cotidiano. Pode-se citar aplicações simples como o uso de buscadores online, indo até a utilização das redes sociais para se relacionar: a sociedade não se vê mais sem essa ferramenta. Ao mesmo tempo em que a internet é utilizada para o progresso, ela expõe realidades que são consideradas retrógradas para os dias atuais, destacando-se, por exemplo, o machismo e a violência contra as minorias. Nesse sentido, pode-se dizer que, muitas vezes, essa ferramenta está sendo utilizada por uma sociedade que ainda tem muito a amadurecer sobre a questão de respeito àqueles considerados diferentes e, também, às mulheres. O ambiente virtual é um espaço de compartilhamento de informações e experiências. Para esse fim, diferentes ambientes podem ser encontrados em toda internet: seja em perfis de redes sociais, fóruns, grupos fechados ou em canais de vídeos. Neles, as usuárias têm a oportunidade de falar sobre seu cotidiano e relatar experiências, principalmente relatando casos de assédio. E esse tipo de agressão não é caracterizada unicamente como física, uma pessoa também pode ser vítima de um assédio virtual, como por exemplo, ao 95
receber uma mensagem ofensiva por simplesmente ser uma mulher. Com o passar dos anos, os jogos eletrônicos deixaram de ser considerados apenas como fonte de entretenimento e, também, possibilitaram a ascensão de um mercado profissional. O Comitê Olímpico Internacional estuda a inclusão dos Esportes Eletrônicos como modalidade na Olímpiada de 20241. Entretanto, atualmente a representação feminina em competições profissionais é mínima, sendo limitada à apenas duas jogadoras em toda sua história2 e isso pode estar relacionado, entre outras coisas, com preconceitos e assédios contra elas. O objeto da análise desta pesquisa são as notícias do site ESPN3 e o grupo de Facebook Overwatch – Brasil4, por meio de respostas dos seus usuários para o formulário que o pesquisador utilizou. A escolha desse grupo se deve ao fato de ser um espaço de discussão ativo dos usuários dos jogos, e por receber com frequência relatos de jogadoras que são assediadas no ambiente online. Pretende-se verificar se os conteúdos postados desse grupo afetam de alguma forma o agendamento do portal da ESPN. OS GAMES Os minigames, jogos para computador online e offline, softwares para videogames, consoles e seus periféricos e fliperamas são considerados jogos eletrônicos e são artefatos de grande fascínio econômico, tecnológico e social. O seu volume de vendas vem aumentando a cada ano e ultrapassou a indústria do cinema. Dados de 2017 mostram que o faturamento bruto do mercado do games alcançou US$ 36 bilhões5. Segundo pesquisa6 feita pela Associação Brasileira de Desenvolvedores de Games (Abragames), a indústria registrou 1 Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/19/ tecnologia/1503139023_302525.html. Acesso em: 25 de fevereiro de 2018 2 Disponível em: http://www.bbc.com/news/newsbeat-42974081. Acesso em: 25 de fevereiro de 2018 3 Disponível em: http://www.espn.com.br/. Acesso em 25 de fevereiro de 2018. 4 Disponível em: https://www.facebook.com/groups/brasilow/. Acesso em: 06 de junho de 2017 5 Disponível em: https://jogos.uol.com.br/ultimas-noticias/2018/01/22/mercadode-games-dos-eua-bate-recorde-e-fatura-us-36-bilhoes-em-2017.htm. Acessado em 22/03/2018 6 Disponível em: https://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_ pt/Galerias/Arquivos/produtos/download/aep_fep/chamada_publica_FEP0211_ mapeamento_da_industria.pdf. Acesso em: 27 de abril de 2018.
96
crescimento de R$ 44 milhões de dólares em 2015. Com o avanço das tecnologias e dos dispositivos móveis, como smartphones e tablets, hoje é possível jogar em qualquer lugar e a todo o momento. Os jogadores podem ser homens, mulheres, crianças, jovens e idosos. Os games conseguem alcançar um público variado e diversificado. O Brasil é o quarto maior mercado do mundo7, e em 2015, os empregos no setor cresceram 13 vezes mais do que o mercado de trabalho em geral. Antes da internet se desenvolver como meio de comunicação, o produto mais consumido pelos jogadores brasileiros eram as revistas de games. Segundo a pesquisa Press Start Brasil8, por mais de 20 anos, essa foi a forma como milhares de pessoas se informavam sobre dicas exclusivas e as novidades sobre seus jogos favoritos. As revistas de games atravessaram o tempo e hoje são artefatos históricos que marcaram várias gerações de gamers e consoles. Segundo o site Press Start Brasil9, a história do Jornalismo de Games no Brasil é dividida em três partes, que se definem pelas publicações lançadas, pelo público em que as edições eram direcionadas e pela relação da mídia digital com a mídia impressa, que eram os dois veículos com maior concentração de publicações do assunto. A primeira fase é de 1980 até o começo dos anos 2000, onde havia a predominância de revistas impressas com um grande foco no público infantil, o maior público consumidor de games até aquele momento. A segunda fase do jornalismo de games se inicia com a criação da editora brasileira Conrad, pioneira na publicação de quadrinhos japoneses e coreanos no formato original. A terceira fase começa no final dos anos 90, quando surgem os sites especializados que foram crescendo aos poucos e se tornaram uma bola de neve que engoliria grande parte do mercado impresso. Um dos dilemas de se fazer jornalismo de games atualmente é de como se diferenciar e não ter ligação com outras áreas, como o cinema e o jornalismo cultural de entretenimento. É uma época que marca novos 7 Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/11/brasil-e-o-4consumidor-de-games-mas-mercado-carece-de-mao-de-obra.html. Acesso em: 27 de abril de 2018 8 Disponível em: http://warpzone.me/pressstartbrasil/index.html. Acesso em 03 de fevereiro de 2018. 9 Disponível em: http://warpzone.me/pressstartbrasil/index.html. Acesso em: 15 de abril de 2018.
97
paradigmas misturados com antigas tendências do mercado nacional. A AGENDA SETTING E A ESPIRAL DO SILÊNCIO A Agenda Setting ou a Hipótese do Agendamento, trata de uma construção teórica que pensa a ação dos meios de comunicação não como formadores de opinião, causadores de efeitos diretos, mas como alteradores da estrutura cognitiva das pessoas. É o modo de cada indivíduo conhecer o mundo que é modificado a partir da ação dos meios de comunicação de massa – ação esta que passa a ser compreendida como um “agendamento”, isto é, a colocação de temas e assuntos na sociedade. Segundo Shaw (1979), o pressuposto fundamental do agendasetting é que a compreensão que as pessoas têm de grande parte da realidade social lhes é fornecida pelas mídias de massa. Realça a diversidade existente entre a quantidade de informações, conhecimentos e interpretações da realidade social, apreendidos através das mídias de massa e das experiências vividas diretamente pelos indivíduos. Com a utilização da internet, as massas passaram a dar destaque ao que é do seu interesse sem necessitar do trabalho da imprensa em evidenciar alguma informação. E, em alguns casos, as pautas acabam viralizando na rede, o que gera um agendamento inverso: a grande mídia precisa dar destaque para o que vem se discutindo na internet devido à intensa repercussão entre os internautas. O mundo virtual tornou possível para qualquer um fazer o “seu agendamento” na sociedade, consequentemente, alterando os temas discutidos na sociedade. Quanto às características pessoais do receptor e à formação de uma agenda, tudo depende do grau de percepção da relevância ou da importância do tema, além dos diferentes níveis de necessidade de orientação que, em torno daquele tema, observará o receptor. As discussões sobre o combate à violência contra a mulher são relevantes e cada vez mais são agendadas nas redes sociais. É possível constatar em grupos de diversos segmentos a discussão constante sobre pautas relacionadas ao tema e o número crescente de relatos de mulheres que sofreram alguma forma de violência. Com essas discussões os usuários das redes sociais encontraram uma forma alternativa de combater esse problema, utilizando o agendamento nas redes sociais, expondo agressores e suas atitudes ofensivas, e isso 98
tudo sem depender da mídia tradicional. É possível observar a influência dos meios de comunicação em relação ao agendamento da violência contra a mulher constatando as novas iniciativas que surgem a cada ano que passa. Enquanto o Agendamento molda a opinião pública, essa coloca a Espiral do Silêncio em movimento. Uma das mais importantes linhas do campo das pesquisas em comunicação tem sido desenvolvida desde 1971. A ideia central é que os indivíduos omitem sua opinião quando conflitantes com a opinião dominante devido ao medo do isolamento. O julgamento do público, segundo Noelle-Neumann (2017), tem o peso de um tribunal. Seguir a opinião adotada pela maioria é, portanto, uma estratégia individual para não ser colocado no isolamento pelo grupo. Mesmo diante de uma definição tão dura e impositiva, a cientista reconhece que nesse espaço também podem surgir novas ideias emergentes capazes de desmoronar as concepções existentes. A Espiral do Silêncio, neste contexto, seria uma reação a aprovação ou desaprovação dessas opiniões. Ainda sobre opinião pública, a autora reflete sobre os diferentes momentos de uma sociedade e a sua relação com a vigente opinião pública. Em épocas revolucionárias, a opinião pública e seu julgamento dos indivíduos se torna mais forte, uma vez que ela também funciona como uma “guardiã da moralidade e das tradições” (NOELLENEUMANN, 2017). Romper o consenso geral é o mesmo que se expor publicamente, em qualquer momento histórico, mas em momentos revolucionários ou instáveis socialmente, a exposição pública é percebida como uma ameaça pelos indivíduos do grupo. Saber como a maioria se porta e se adequar a esses comportamentos e opiniões é, pois, estratégia de convivência. Com as redes sociais e as comunidades segmentadas há uma quebra da Espiral do Silêncio. Antes da internet ser utilizada como meio de comunicação, havia muita resistência por parte das mulheres que sofreram de violência em exporem situações que lhes foram constrangedoras, devido à vergonha e ao medo de represálias. Mas, agora com a união de pessoas com uma mesma linha de pensamento, é possível encontrar força e apoio em outras vítimas e pessoas que discordam quanto a tratamentos desrespeitosos. Utilizando-se de forma inconsciente do agendamento nas redes sociais, as pessoas ajudam a combater a violência contra a mulher e contribuem de forma ativa na solução do problema, até mais do 99
que quando as mídias tradicionais deveriam estar fazendo. Segundo Recuero (2009), uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: os atores, que são pessoas, instituições ou grupos. E os nós da rede e suas conexões, que são suas interações ou laços sociais. Assim, percebe-se que a rede é uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. O foco da sua abordagem é na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões. Com essa ferramenta, tanto barreiras físicas quanto sociais foram quebradas. A possibilidade de acompanhar o diário eletrônico de uma pessoa, em qualquer lugar, a qualquer momento, modifica a forma como as pessoas se relacionam. É possível criar vínculos com pessoas estrangeiras sem nunca ter saído do seu país. E pode-se construir novas visões sobre assuntos de qualquer natureza tendo contato com realidades diferentes das quais são vivenciadas rotineiramente. A ESPN Primeira emissora esportiva na TV por assinatura no Brasil, a ESPN (Entertainment and Sports Programming Network10) iniciou suas atividades no país em 1989 e atualmente está presente em mais de 60 países, em todos os continentes11. Segundo a Alexa Internet Inc12, que é uma companhia de Internet que fornece dados de tráfego na internet e análise de dados, o portal brasileiro de notícias, ESPN está na posição 9.500 no ranking global de sites mais acessados. No Brasil, o portal ocupa a posição 323. Em escala global, o site subiu 22.824 posições em comparações aos três meses anteriores, no qual ocupava a posição 29.027 no dia 6 de janeiro de 2017. O número de usuários que chega ao site por buscadores online é de 24,50%, tendo um aumento de 6% em comparação ao período de janeiro de 2017 até o momento que este artigo foi finalizado.
10 Rede de Programação de Esportes e Entretenimento. Tradução do Inglês para o Português do Brasil. 11 Disponível em: http://www.espn.com.br/artigo/_/id/4056431/quem-somos. Acesso em 01 de abril de 2018. 12 Disponível em: https://www.alexa.com. Acesso em 06 de abril de 2018.
100
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa será realizada de forma exploratória e descritiva. Usa como técnicas de coleta de dados a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental e aplicação de questionários. (GIL, 2006) Os objetos de análise da pesquisa serão o portal de notícias ESPN Brasil, que é a franquia local da ESPN sendo a filial controlada diretamente pela The Walt Disney Company, através da American Broadcasting Company13. O período que será analisado é de 20 de março de 2018 até 25 de abril de 2018, com seis matérias selecionadas, em uma amostra não probabilística por intencionalidade (GIL, 2006). Serão analisadas também, seis publicações feitas no grupo de Facebook Overwatch Brasil, que relatam casos em que jogadoras sofreram de assédio durante as partidas online. O período dessas postagens compreende 06 de maio de 2017 e 08 de março de 2018. Também serve como conteúdo a ser analisado, as respostas de um questionário aplicado junto ao grupo Overwatch Brasil, em que 451 pessoas participaram. O objetivo desse questionário é perceber como os membros da comunidade enxergam o assunto de assédio às mulheres em jogos eletrônicos. A técnica de apresentação, análise e interpretação dos dados é a análise de conteúdo, em uma análise categorial, proposta por Bardin (2011). O QUE MOSTRAM OS DADOS COLETADOS Primeiramente são apresentados os conteúdos das matérias selecionadas para o estudo e o conteúdo das postagens feitas no grupo no Facebook. Após, mostra-se os dados coletados com os questionários aplicados no mesmo grupo. ANÁLISE DAS MATÉRIAS E POSTAGENS Para essa pesquisa, criou-se as seguintes categorias de análise, para apresentar e compreender os dados coletados com as matérias e postagens, por acreditar que essas categorias fornecerão o caminho para responder à pergunta de pesquisa. São elas:
13 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/12/1943944-disney-setorna-dona-de-espn-fox-e-outras-22-redes-esportivas-nos-eua.shtml. Acesso em 07 de abril de 2018.
101
- Categoria Número de matérias sobre mulheres que jogam videogame no site da ESPN: possuí a finalidade de identificar se a espiral do silêncio afeta o portal de notícias ESPN ao tratar sobre a participação feminina em competições de esportes eletrônicos. - Categoria Assunto assédio contra as mulheres nas matérias da ESPN: verifica o nível de interesse do portal de notícias ESPN em falar sobre casos de assédio contra mulheres em competições de esportes eletrônicos. Categoria Posts no grupo Overwatch – Brasil no Facebook, que tratam a questão do preconceito contra a mulher: mostra as iniciativas que membros das comunidades digitais tomam ao presenciarem ou serem vítimas de assédio dentro dos jogos online. Categoria 1: Número de matérias sobre mulheres que jogam videogame no site da ESPN Foram identificadas seis matérias sobre mulheres que jogam videogame. Entende-se que o portal de notícias ESPN gera agendamento ao fazer diversas publicações falando sobre a atuação feminina em competições de esportes eletrônicos. O conteúdo varia entre notas com informações sobre os times competitivos até matérias aprofundadas com repórter acompanhando eventos e realizando entrevistas no local. Também são feitas traduções de reportagens da versão Americana da ESPN, o que possibilita aos leitores estarem cientes do que acontece no exterior. Tanto no Brasil, quanto em outros lugares, são produzidas reportagens tratando sobre a atuação feminina nos esportes eletrônicos. As pautas mostram como é ser uma mulher jogadora, as expectativas em relação ao segmento, além de denunciar os problemas que são enfrentados diariamente por causa do gênero. Um trabalho jornalístico bem executado e que segue o código de ética da profissão ao atender o interesse público, promover o debate e dar voz aos que precisam falar e expor sua realidade. Categoria 2: Assunto assédio contra as mulheres nas matérias da ESPN Uma das principais características das matérias feitas pela ESPN eSports que tratam sobre o cenário feminino é sempre ter uma jogadora como fonte para falar da pauta. Discutir sobre o momento
102
em que as mulheres estão passando nos esportes eletrônicos contribuí para o agendamento, contraria a espiral do silêncio e fortalece as campanhas de apoio. A Hipótese do Agendamento pensa a ação dos meios de comunicação como alteradores da estrutura cognitiva das pessoas, sendo esse o modo de cada indivíduo conhecer o mundo que é modificado a partir da ação dos meios de comunicação de massa, entre eles o portal de notícias da ESPN. Segundo a teoria da Espiral do Silêncio de Elisabeth NoelleNeumann, a ideia central é que os indivíduos omitem sua opinião quando conflitantes com a opinião dominante devido ao medo do isolamento. Agora, com as campanhas de apoio às mulheres nos esportes eletrônicos, cada vez mais surgem opiniões favoráveis às jogadoras, que antes eram omitidas por não haver uma discussão embasada sobre o assunto e até mesmo com medo de repressão nas redes sociais. A partir do exposto, fez-se um breve apanhado de cada uma das reportagens estudadas. Matéria 1: Reunindo velhas conhecidas, nova escalação feminina da RevoltZ é anunciada14, publicada em 20 de março de 2018 A reportagem destaca a contratação de cinco jogadoras realizadas pelo time RevoltZ E-Sports, para atuar no jogo eletrônico Counter-Strike: Global Offensive. A equipe é composta por Claudia Santini “santininha”, Jéssica Pellegrini “fly”, Suelen Barbosa “suziii”, Aman-da Gomez “dinha” e Bruna Santos “bubu”. Em entrevista ao ESPN Esports Brasil, a jogadora Amanda Gomez fala sobre o cenário no Brasil. A publicação não recebeu nenhum comentário até o momento em que foi visitada pelo pesquisador. As informações publicadas são direcionadas ao mundo empresarial e para os fãs do cenário profissional dos games, pois falam sobre os investimentos feitos pela organização RevoltZ E-Sports, as escalações para atuar nos jogos e mencionam os planos que envolvem o jogo eletrônico FIFA 18.
14 Disponível em: http://www.espn.com.br/esports/artigo/_/id/4103661/reunindovelhas-conhecidas-nova-escalacao-feminina-da-revoltz-e-anunciada. Acesso em 08 de maio de 2018.
103
Matéria 2: Prestes a estrear, Geguri não quer ser conhecida por ser a primeira mulher na Overwatch League15, publicada no dia 26 de março de 2018 Essa matéria é importante porque destaca diversos problemas que são presentes nos esportes eletrônicos, como a falta de representatividade feminina nas competições de elite, que no momento em que uma mulher aparece neste cenário a pressão sobre ela é a maior possível, e que por ser uma mulher jogando é desacreditado que a jogadora tenha talento. Também é falado sobre como o título de ser a primeira mulher na liga estará sempre ligado a Geguri, uma manchete constantemente usada pelos jornalistas e que expõe uma característica do cenário competitivo desse segmento: ser um espaço predominante dominado por homens. A jogadora sofreu de assédio com a acusação de estar trapaceando e provou publicamente sua inocência. Assédio significa “insistência inoportuna junto a alguém, com perguntas, propostas e pretensões, dentre outros sintomas. Assediar, por sua vez, significa perseguir com insistência, que é o mesmo que molestar, perturbar, aborrecer, incomodar e importunar” (FERREIRA, 1975, p.147). O nome da jogadora Kim Se-yeon é conhecido mundialmente não por suas habilidades como jogadora, mas sim como a mulher que foi acusada de trapacear e provou sua inocência ao vivo, isso estará marcado para sempre em sua carreira profissional. E agora, mais uma vez, as expectativas do mundo recaem sobre Geguri referente à sua atuação no time que está em último lugar na liga profissional do jogo eletrônico Overwatch. Matéria 3: União e força: Corujão feminino mostra o potencial das mulheres no Counter-Strike16, publicada no dia 27 de março de 2018 Gerando agendamento referente à atuação de mulheres como narradoras de esportes eletrônicos, destaca-se na reportagem que as jogadoras tiveram a ideia de trabalharem nessa função pela falta de 15 Disponível em: http://www.espn.com.br/esports/artigo/_/id/4122399/prestes-aestrear-geguri-nao-quer-ser-conhecida-por-ser-a-primeira-mulher-na-overwatchleague. Acesso em 08 de maio de 2018. 16 Disponível em: http://www.espn.com.br/esports/artigo/_/id/4127264/uniao-e-forcacorujao-feminino-mostra-o-potencial-das-mulheres-no-counter-strike. Acesso em 08 de maio de 2018.
104
mulheres na área. As fontes explicam que o jogo funciona como uma válvula de escape e que mais iniciativas como essa são importantes e necessárias para o desenvolvimento do cenário feminino. Isso se deve pelo fato das pessoas não entenderem os problemas que as mulheres precisam enfrentar ao jogar, entre eles ter que ouvir frases como “vai lavar a louça” de outros jogadores. Esse é apenas um tipo de comportamento entre tantos outros que expõe o assédio contra as mulheres que existe nos jogos eletrônicos. Também é provocada a reflexão de por que há surpresa nos times ao se ver uma mulher jogando, quantas vezes em algum jogo algum time já ficou surpreso por ter um homem jogando? Esse questionamento reforça que o cenário dos jogos eletrônicos é dominado pelos homens. Matéria 4: A história de Remilia: ex-jogadora de League of Legends teve sua vida devastada pela Renegades17, publicada no dia 29 de março de 2018 A reportagem esclarece as razões que fizeram a jogadora desistir da sua carreira profissional, explicando aos fãs e ao mundo o que realmente aconteceu. A fonte Maria Creveling também deixa um alerta para as pessoas sobre sua experiência, falando para se ter cuidado com quem promete muitas coisas. Ela conta que foi prometida com a coisa que ela mais desejava e estava desesperada o suficiente para acreditar. A reportagem cumpre seu dever jornalístico em esclarecer os fatos envolvendo as decisões da jogadora, traz ao leitor o que o empresário tem a dizer sobre o assunto e destaca a experiência pessoal da jogadora e sua fala de aviso, que vale para todos os jovens que estão construindo suas vidas. Matéria 5: A inevitável e injusta questão: ‘Será que a Geguri consegue salvar o Shanghai Dragons?18, publicada no dia 25 de abril de 2018 Essa reportagem deixa claro como uma atuação feminina em competições nas ligas principais dos esportes eletrônicos repercute 17 Disponível em: http://www.espn.com.br/esports/artigo/_/id/4135586/a-historia-deremilia-ex-jogadora-de-league-of-legends-teve-sua-vida-devastada-pela-renegades. Acesso em 08 de maio de 2018. 18 Disponível em: http://www.espn.com.br/esports/artigo/_/id/4157095/a-inevitavel-einjusta-questao-sera-que-a-geguri-consegue-salvar-o-shanghai-dragons. Acesso em 08 de maio de 2018.
105
mundialmente, seja pela expectativa dos fãs e também pela falta de representatividade de mulheres nas competições. Um dos contrastes que deixa mais visível a pressão sobre a mulher jogadora é estar sendo contratada pelo time que está na última posição do torneio, o que acaba criando a questão de que Geguri seria a “salvadora” da equipe que está na lanterna. A repórter ressalta que esse questionamento é injusto e atrapalha a chegada da jogadora novata na competição, sendo uma aposta de tudo ou nada para salvar o Shanghai Dragons. Esse é um ponto importante da reportagem por expor como é delicada a escolha de qual ponto se destacar em uma pauta: se a primeira jogadora mulher da liga é capaz de salvar um time ruim ou se o estilo de jogo da novata vai se encaixar em sua nova equipe. Nessa decisão é possível aumentar os cliques que um portal de notícias recebe fomentando a polêmica e gerando pressão pela cobrança de resultados positivos, ou humanizar a pauta e não obter tanta repercussão quanto uma exposição mais incisiva em cima da fonte. Apesar de causar agendamento com a pauta da primeira jogadora em uma liga principal, está se gerando pressão e expectativa em cima da jogadora, e com isso, pode haver consequências negativas caso sua atuação seja abaixo do esperado. É importante destacar também que esse fato deveria ser comum em qualquer segmento da sociedade, porém, as mulheres ainda precisam lutar diariamente para conquistar seu espaço, e quando o conseguem, viram notícia como a jogadora Geguri. Matéria 6: ‘Queremos evoluir’: Jogadoras de Counter-Strike buscam treinos, mas times masculinos não aceitam19, publicada no dia 25 de abril de 2018 A reportagem expõe e deixa claro o preconceito que existe dentro do cenário profissional dos esportes eletrônicos. As entrevistadas têm consciência dos problemas que mulheres jogadoras precisam enfrentar para jogar online e se manifestam não somente como profissionais, mas também como mulheres. Ao final, verifica-se que o portal de notícias da ESPN gera
19 Disponível em: http://www.espn.com.br/esports/artigo/_/id/4201730/queremosevoluir-jogadoras-de-counter-strike-buscam-treinos-mas-times-masculinos-naoaceitam. Acesso em 08 de maio de 2018.
106
agendamento ao dar voz para essas jogadoras, além de corroborar com a hipótese de que mulheres enfrentam diversos problemas no segmento dos jogos eletrônicos, entre eles a discriminação de gênero, machismo, desinteresse das organizações comerciais, entre outros. Categoria 3: Posts no grupo Overwatch – Brasil no Facebook, que tratam da questão do preconceito contra a mulher Foram encontradas seis publicações relatando casos em que mulheres sofreram assédio no jogo Overwatch. Em todas as postagens são relatados uso de linguagem ofensiva contra as jogadoras. A primeira publicação é feita por Márcio Guilherme Parga, em 6 de maio de 2017. O usuário é irmão de uma jogadora que foi vítima de assédio. Ele inicia explicando que sua irmã, Mariana Parga, publicou um vídeo no grupo Overwatch Brasil, onde outros jo- gadores a agrediam verbalmente. Após isso, Márcio escreve para o autor das agressões, jogador de nickname ‘QUEROCAFÉ’, dizendo que discussões dentro de um jogo competitivo são reações naturais, porém, que há diferença entre discutir estratégias e ser agressivo e desrespeitar uma pessoa pelo gênero. O usuário segue dizendo que a comunidade é grande, na época da publicação com 65 mil membros, atualmente com 92 mil pessoas, e que nesse segmento é fácil encontrar pessoas de todos os tipos. Pondera que as agressões feitas a sua irmã são mais uma demonstração de que alguns jogadores se esforçam para estragar o momento de lazer e bem-estar de outras pessoas. Ressalta que isso é algo que acontece em quase todos os jogos. Márcio Parga explica que o objetivo da sua publicação é conscientizar e dar satisfações a todos que se sensibilizaram com o ocorrido. Ele lembra que a postagem feita pela sua irmã teve quase 500 curtidas e que recebeu diversas mensagens de apoio. É ressaltado que várias pessoas se interessaram pelo caso e se colocaram à disposição para ajudar. Depois, é feito o agradecimento aos que dedi- caram seu tempo para isso. O usuário esclarece que houve uma ação judicial contra um dos jogadores que proferiu as ofensas e destaca que por mais que as pessoas não acreditem que esse tipo de comportamento possa ser punido, houve sim uma punição. Ele afirma que ficou acordado entre ambas as partes, um pedido público de desculpas e pagamento de indenização, em seguida, desabafa que não acha que isso seja o suficiente por todo abalo psicológico causado pelo agressor, mas descontraí lembrando uma 107
frase da personagem do jogo chamada Pharah: A justiça vem de cima! Márcio Parga encerra esperando que esse caso sirva de exemplo para todos aqueles que se julgam valentões e tem atitudes preconceituosas contra qualquer um, que nenhum ato como esse ficará impune. E diz para quem já sofreu com esse tipo de jogador, que torna a comunidade tóxica, saberem que há meios para denunciar e estão amparados pela justiça, que não é por ser um jogo e que o ambiente é virtual, que se está fora do alcance da lei. Esse episódio mostra como uma vítima de assédio em um jogo eletrônico conseguiu fazer com que seu agressor pagasse pelo seu crime. Esse exemplo serve para as mulheres que se sentem intimidadas por homens enquanto estão jogando, tanto para os próprios jogadores que se relacionam de forma ofensiva com os membros da comunidade digital, dando a certeza de que suas atitudes são passíveis de punições na vida real. Também é destaque a empatia dos membros do grupo do Facebook em querer ajudar a jogadora Mariana Parga após lerem sua publicação. Viu-se que o segmento demonstra união e preocupação referente a como as pessoas estão se comportando dentro dos jogos eletrônicos. A segunda publicação no grupo de Facebook Overwatch Brasil é feita por Mayara Temie em 2 de junho de 2017. A usuária inicia querendo expressar sua tristeza com a comunidade do jogo Overwatch. Ela explica que está se tornando diário o fato de mulheres jogarem ser motivo de xingamentos e brincadeiras, e que essa situação está chegando em um ponto onde não é mais possível se divertir. A jogadora relata que apenas usar o microfone para se comunicar dentro do jogo é o suficiente para que se torne alvo de piadas, entre elas a “vai lavar a louça”. E que em outros momentos nem é necessário utilizar o microfone, que seu nome dentro do jogo identifica ser uma menina, e que ao cometer qualquer tipo de erro é o suficiente para ser vítima de xingamentos por texto e voz. Ela explica que nenhuma menina joga para chamar a atenção ou ser uma “att whore”20, como alguns jogadores se referem as mulheres. Explica que as jogadoras não são obrigadas a escutar os xingamentos que os jogadores falam e ficarem caladas. Mayara conta que ela responde e fica exaltada. E por último, salienta que os homens que tem esse tipo de comportamento não passam de meninos atrás de uma tela. 20 Expressão do Inglês que na tradução literal para o Português é: Puta de atenção.
108
Ela desabafa que sempre tenta ajudar como pode, joga para se divertir, admite errar e ressalta não ser uma profissional. Mayara afirma que está ficando cansada da comunidade e que não teve uma partida que tenha jogado sozinha e que tenha ficado tranquila, que sempre há alguém ofensivo nas partidas. A publicação é encerrada com a brincadeira de que a solução para o problema seria então trocar seu nome dentro do jogo e usar um modificador de voz. Essa publicação é importante por expor como é difícil uma mulher conseguir jogar online sozinha sem ser incomodada. O relato também ressalta diversos pontos pesquisados no questionário aplicado no grupo Overwatch Brasil, entre eles se identificar o gênero no nome de jogador altera como as pessoas vão se relacionar umas com as outras. A publicação teve 683 curtidas e recebeu mais de 150 comentários, ascendendo a discussão entre os membros do grupo e contrariando a espiral do silêncio de que mulheres não jogam jogos eletrônicos. A terceira publicação no grupo de Facebook Overwatch Brasil é feita por Sianne Barbosa em 17 de junho de 2017. A postagem é uma única frase acompanhada de uma foto, a jogadora diz: “Não seja esse tipo de pessoa, ou aperte Ctrl+Shift+C”, e ela explica que o comando serve para ocultar o chat dentro do jogo. A imagem mostra a caixa de texto durante uma partida, onde um jogador identificado como ‘Castilho’ se refere a Sianne Barbosa por “sua vagabunda”, em seguida pergunta “pq ta jogando?”, e encerra com “vai lava a louça”. No campo de comentários da publicação, há relatos de outros membros do grupo afirmando terem jogado com o jogador Castilho e o acusam de ter sido ofensivo também. Outro usuário chamado Atila Gomes, que não faz mais parte do grupo Overwatch Brasil, diz que “O cara ta zuando VEI ...nao precisa levar tao a serio kkk”, o respectivo comentário recebeu 79 respostas de outros membros o contrariando. Outra mensagem publicada pela usuária Morgana Harukawa afirma que a publicação é necessária e ressalta que enquanto as pessoas continuarem com a atitude de “ignorar e seguir o jogo” não haverá melhora na comunidade. A publicação é importante por expor o interesse dos membros da comunidade e promover a discussão sobre o tema de assédio contra as mulheres nos jogos eletrônicos. Esse espaço também possibilita que outras pessoas exponham sua opinião e compartilhem episódios negativos nos jogos. A quarta publicação no grupo de Facebook Overwatch Brasil é
109
feita por Gabriel Mazzotta em 2 de junho de 2017. A postagem inicia relatando que o jogador e seus amigos foram vítimas de duas agressões na mesma partida. O usuário conta que normalmente ele joga com um amigo e uma amiga. Ele explica que durante o jogo, um argentino acabou sendo colocado em sua equipe, e que esse jogador estrangeiro começou a xingar sua amiga pelo fato de ser uma mulher, e também xingou os três de macacos por serem brasileiros. Gabriela Mazzotta encerra perguntando se isso é normal para os outros membros do grupo Overwatch Brasil. Essa publicação é importante por mostrar que comportamentos ofensivos não são uma característica exclusiva dos jogadores brasileiros, e que quando isso parte de um estrangeiro, pode ser até mais agressivo, ao serem feitos xingamentos contra as mulheres e racistas. Esse fato não é algo novo nos esportes eletrônicos, e também vale destacar que um jogador brasileiro profissional de esportes eletrônicos já foi punido21 com suspensão de jogos e multa por fazer comentários ofensivos contra um time japonês em sua página no Twitter. A quinta publicação no grupo de Facebook Overwatch Brasil é feita por Rodrigo Montenegro em 4 de fevereiro de 2018. O usuário inicia a publicação dizendo que gostaria de parabenizar a comunidade tóxica dos jogos online. Ele conta que comprou o game para sua noiva no computador para que ela pudesse jogar com suas amigas, tendo assim alguém para estar junto. Rodrigo Montenegro explica que sua noiva não tinha experiência em jogos de tiro em primeira pessoa e que era uma iniciante no meio. Sua noiva sempre jogava com suas amigas contra a inteligência artificial em razão da falta de experiência no jogo. Ele ressalta que sua companheira estava se divertindo e chegava a jogar por mais tempo do que o próprio. O usuário explica que sua noiva e amigas se sentiram confiantes para jogar com outras pessoas. Ele relata que estava tudo indo bem no começo e que todos se divertiam jogando, que ganhavam algumas partidas e perdiam outras e que fizeram alguns amigos. Mas, a diversão não durou muito tempo. Rodrigo conta que começaram a vir os xingamentos de outros jogadores, chamando sua noiva e as amigas de inúteis, retardadas e que não deveriam estar jogando. Após isso, sua companheira disse que ela e uma amiga desanimaram de 21 Disponível em: http://www.espn.com.br/noticia/690255_yoda-e-punido-por-fazercomentarios-ofensivos-no-twitter-e-ficara-fora-por-3-jogos-no-msi. Acesso em 20 de maio de 2018.
110
jogar por causa dos jogadores que não mantém uma relação saudável com a comunidade. E desabafa que ninguém nasce sabendo fazer as coisas, que todos aprendem no seu próprio tempo, que as pessoas não têm mais paciência. O usuário ressalta que tem consciência de que sua noiva e amiga não são uma fração do que acontece no jogo, que várias outras pessoas ficam desanimadas pela agressividade de alguns jogadores. Após isso, Rodrigo Montenegro insere mais informações na sua publicação, dizendo não imaginar que fosse repercutir tanto. A postagem teve 954 curtidas e mais de 200 comentários. Ele questiona as pessoas que estão aceitando comportamentos ofensivos nos jogos online dizendo que essas atitudes precisam acabar. Também afirma que seu desabafo não vai mudar a comunidade, mas que o importante é atingir as pessoas e causar a reflexão de ajudar as pessoas e ser menos agressivo com os outros. Encerra dizendo que ficou feliz de ver sua noiva jogando e rindo com as pessoas que a adicionaram após ter feito esse post. A publicação é importante por demonstrar a insatisfação que as pessoas têm quanto às atitudes negativas nos jogos eletrônicos. Também fomenta o debate e provoca a reflexão de que todos devem ser mais tolerantes uns com os outros, além de que jogar deve ser algo divertido. A sexta publicação no grupo de Facebook Overwatch Brasil é feita por Julia Ventura Di Nubila, em 8 de março de 2018. A usuária começa desejando um feliz Dia da Mulher e é acompanhada de uma imagem. Em seguida, cumprimenta as jogadoras do grupo, ressaltando que todas enfrentam o machismo no jogo. Também des- taca as mulheres que são criadoras de conteúdo e que sofrem com comentários pejorativos, que já pensaram em desistir por conta do assédio pelo fato de serem mulheres, mas que mesmo com essas adversidades, seguem com seus trabalhos. Encerra afirmando esperar que as coisas melhorem para todas as mulheres e que juntas são mais fortes. A imagem que acompanha a publicação mostra comentários de homens atacando as mulheres, entre os dizeres estão: “Vai mostrar os peitos no stream ou isso é só para chamar atenção? ja que o canal não tem nenhum conteudo util”. E, em resposta está: “claro, mulher so tem isso de ineteressante mesmo. Se n mostrar a unica parte interessante n tem view”; “vaca escrota do caralho”; “Toda vez que vejo a foto dela penso que é porno”; “mostrou os peitos já sabe que é puta”.
111
Essa publicação é importante por documentar as ofensas que são feitas para as mulheres que trabalham produzindo conteúdo relacionado aos jogos eletrônicos. Deve se destacar também que foram citados alguns comentários das dezenas que constam na imagem publicada no grupo do Facebook Overwatch Brasil. Com isso, fica exposto o lado tóxico das comunidades digitais em relação às mulheres que se expõe ao jogarem online. Vale lembrar que algumas mulheres optam por jogar apenas mostrando suas mãos ou nem mesmo isso. A ANÁLISE DAS REPOSTAS DO QUESTIONÁRIO O objetivo desse questionário foi perceber como os membros da comunidade enxergam o assunto de assédio às mulheres nos jogos eletrônicos. Nas respostas obtidas no questionário, fica claro que a atividade jogar deixou de ser um passatempo e tornou-se parte do cotidiano das pessoas. E para fundamentar essa afirmação ressalta-se que apenas 23 respondentes, 5,1% em 451 respostas jogam apenas uma vez por semana. Mais da metade do público, somando 233 pessoas dizem jogar entre 6 e 7 dias, totalizando 51,7% das participações. Alguns questionamentos são preocupantes e obtiveram respostas quase que unânimes no sentido negativo, entre eles é de que 84% dos participantes do questionário, 379 pessoas, acham que identificar o gênero no nome do jogador afeta de forma negativa a interação com outras pessoas. Outro questionamento que serve como alerta é de que 80,3% das respostas, 359, não avaliam uma partida online como um local seguro para que mulheres possam interagir com outras pessoas sem serem perturbadas. Os resultados mostram que 84% das participações, 379 pessoas, já sofreram ou conhecem alguém que tenha sofrido assédio em um jogo eletrônico por causa do gênero. Os entrevistados também não acham que o sistema de punição dos jogos eletrônicos verifique de forma efetiva as denúncias de assédio, como racismo, machismo e linguagem ofensiva nos games. Foram 300 pessoas no total, 67,1% das respostas que se manifestaram dessa forma. A pesquisa questionou se os jogadores em sua totalidade se relacionam de forma respeitosa e saudável. Dos participantes, 78,7%, 355 pessoas, afirmam que a comunidade não se relaciona de forma respeitosa e saudável. Com base nessas respostas, é possível perceber um padrão de como a comunidade enxerga o assunto assédio às mulheres nos 112
jogos eletrônicos. A maioria dos membros desse grupo avaliam como hostil o ambiente online para as mulheres. Algo preocupante e que o jornalismo da ESPN respalda com suas reportagens falando sobre os diversos problemas que as jogadoras precisam enfrentar, tanto no cenário amador quanto no profissional, como a falta de representatividade, desinteresse, preconceito, entre outros. ANÁLISE FINAL Com base nas análises realizadas nas matérias do site ESPN, nos posts do grupo do Facebook Overwatch Brasil e no questionário, é possível fazer algumas inferências sobre cada uma das três categorias analisadas e sobre o questionário. Categoria 1: Número de matérias sobre mulheres que jogam videogame no site da ESPN A Espiral do Silêncio não afeta o portal de notícias analisado. Ao realizar o agendamento sobre a participação feminina em competições de esportes eletrônicos, a ESPN está moldando a opinião pública para entender que isso é um fato comum. Outra consequência desse trabalho feito pelo portal de notícias é contrariar o julgamento público, que a pesquisadora alemã Elisabeth Noelle-Neumann (1974) explica ter o peso de um tribunal, de que jogar videogames não seria coisa para uma mulher fazer. No modelo de opinião pública pensado por Noelle-Neumann (1974), a ideia central é que os indivíduos omitem sua opinião quando conflitantes com a opinião dominante devido ao medo do isolamento. No entanto, a ESPN abre espaço em seu site para notícias que são contrárias à opinião dominante, agendando fatos como as mulheres serem iguais aos homens no quesito de habilidades, de que há desinteresse comercial em investir no segmento feminino de esportes eletrônicos, de mães que apoiam suas filhas a jogarem videogames e aceitarem que tentem seguir uma carreira profissional nesse segmento, de jogadoras estarem fazendo seus próprios eventos e estarem transmitindo o acontecimento ao vivo pela internet, entre outros. Categoria 2: Assunto assédio contra as mulheres nas matérias da ESPN O portal de notícias trabalha agendando constantemente assuntos 113
sobre mulheres que jogam videogame, e que sim, há interesse por parte da ESPN em falar sobre casos de assédio contra mulheres em competições de esportes eletrônicos. Segundo Cohen (1963, p.13), “a imprensa pode, na maior parte das vezes, não conseguir dizer às pessoas como pensar, no entanto, possuí uma capacidade espantosa para dizer aos seus próprios leitores sobre que temas devem pensar qualquer coisa”. Ao fazer publicações sobre o tema, o site sinaliza ao segmento esportivo que esse é um tema que precisa ser pensado pelo público. Hohlfeldt (1997) explica que os meios de comunicação, embora não sejam capazes de impor o que pensar em relação a um determinado tema, como desejava a teoria hipodérmica, são capazes de, a médio e longo prazo, influenciar sobre o que pensar e falar. São feitas diversas abordagens sobre o assédio dentro das competições, que vão de reportagens relatando bastidores negativos envolvendo as jogadoras durante competições até denúncias de falta de profissionalismo por parte dos times masculinos do segmento. O interesse do site em falar sobre o tema é alto e as reportagens analisadas demonstram isso pela qualidade e profundidade com que o assunto é tratado, de forma que tende a agendá-lo. Categoria 3: Posts no grupo Overwatch – Brasil no Facebook, que tratam a questão do preconceito contra a mulher As comunidades digitais são ativas e reagem aos casos de assédio dentro dos jogos online. Deve-se ressaltar que os usuários vão de encontro à Espiral do Silêncio por não aceitarem comportamentos ofensivos e compartilharem nas redes sociais quando acontece algo do tipo, assim, contribuindo para o agendamento de pautas que confrontem opiniões machistas e de preconceito contra as mulheres. Hoje, os modelos de comunicação deixam de ser simples, como a Teoria da Agulha Hipodérmica propõe, de que o processo é linear, partindo dos meios, onipotentes, a receptores passivos e isolados, que determinam efeitos direto, chegando a modelos que passaram a considerar a influência de diversos fatores: as características psicológicas dos receptores, as formas de organização das mensagens, a rede de relações interpessoais em que os indivíduos se inserem, elementos extramedia que atuam de forma concomitante nos meios de comunicação, os usos que as pessoas fazem destes meios e a natureza da ação dos meios na sociedade. 114
Na internet, todos possuem o poder de serem emissores de uma mensagem e podem tomar iniciativas que contrariem a opinião do- minante. Isso acontece dentro das comunidades digitais cada vez mais, e como Hohlfeldt (1997) explica, dependendo dos assuntos que venham a ser agendados pela mídia, o público termina, a médio e longo prazos, por incluí-los igualmente em suas preocupações. Assim, tanto o portal de notícias da ESPN, quanto os usuários das comunidades digitais, estão trabalhando para que a médio e longo prazo, o tema de assédio nos jogos online tenha mais visibilidade. A análise final sobre o questionário aplicado no grupo de Facebook Overwatch Brasil A comunidade digital confirma que o ambiente dos jogos online ainda tem pontos envolvendo a comunicação que precisam ser discutidos. Entre eles é a percepção de que há uma Espiral do Silêncio atuando nesse segmento, ao ponto de que as mulheres jogadoras preferem ficar em silêncio do que se comunicar com outras pessoas, assim, evitando qualquer tipo de possível incomodo. E reforçando essa Espiral do Silêncio, parte dos membros das comunidades digitais, aceitam como algo natural esse comportamento de restrição, e que os jogos online sempre foram e sempre serão frequentados por pessoas agressivas, tendo como solução para isso, evitar o contato com esse tipo de jogador. Ressaltando a explicação de Noelle-Neumann (1974), os indivíduos omitem sua opinião quando conflitantes com a opinião dominante devido ao medo do isolamento. Esse comportamento parte tanto das mulheres jogadoras, quanto dos outros jogadores que se silenciam nas mesmas partidas que outros jogadores agressivos se manifesta. Fica explícito como a maioria tem consciência de como o segmento é nocivo para mulheres e desejam por mudanças nesse tipo de comportamento para o futuro. INFERÊNCIAS DO PESQUISADOR Os jogos eletrônicos agendam o jornalismo do portal de notícias da ESPN por diversos fatores. O número de consumidores dos jogos eletrônicos aumenta cada vez mais; O crescimento da geração internet está causando mudanças nos hábitos de consumo dos Países e atividades alternativas como esportes eletrônicos se destacam entre os jovens; O segmento é uma nova opção para pessoas buscarem seu 115
espaço visando tornar-se profissionais e construírem suas carreiras; O hábito de jogar, que antes era um hobby, se integrou ao cotidiano, tanto dos homens, quanto das mulheres; e as competições dos jogos eletrônicos conseguem níveis de audiência que ultrapassam as centenas de milhares de pessoas e conseguem lotar estádios de torcedores para acompanhar as partidas presenciais. O site da ESPN explora de forma inteligente tudo o que é relacionado aos esportes eletrônicos, ressaltando que a respectiva sessão está em destaque na quarta posição do menu do portal, ficando atrás apenas de NFL, NBA e Futebol. Os editores têm consciência das possibilidades que existem para explorar pautas sob diversas perspectivas, e um exemplo disso é a atuação das mulheres no segmento, que é utilizado de forma estratégica, tanto para atrair o público feminino para o site, quanto para ser fonte de denúncias quando há problemas a serem expostos pelas jogadoras profissionais. Nisso também deve se destacar as entrevistas exclusivas com atletas e coberturas de eventos, tendo profissionais dedicados exclusivamente para essa função. Demonstrando que a organização reconhece a importância de abordar o segmento diariamente e investir seus recursos para produção de conteúdo aos seus leitores. CONCLUSÃO Quando as mulheres assumem a posição de jogadoras em uma partida online passam a ter o controle das ações que serão tomadas e como consequência disso, acabam sendo tratadas com preconceito e hostilizadas pelos homens, que afirmam que aquele ambiente não é lugar para elas. Essas atitudes agressivas por parte dos jogadores foram ilustradas com as reportagens publicadas pelo portal ESPN e publicações feitas no grupo de Facebook Overwatch Brasil. O portal faz diversas publicações ouvindo o que as mulheres jogadoras tem a dizer sobre o que vivem no seu cotidiano. As pautas são trabalhadas de diversas formas pelo veículo, seja na forma de notas sobre a atuação dos times femininos em competições, indo até o formato de denúncia. Verificou-se que tanto o site da ESPN, quanto o grupo Overwatch Brasil, agendam constantemente os casos de assédio contra as mulheres nos jogos eletrônicos. Além disso, é destaque o fato de que ambos denunciam problemas envolvendo o segmento. Ao tratar sobre a atuação das mulheres nos esportes eletrônicos, o portal de notícias 116
da ESPN influencia no agendamento dos seus leitores, passando a incluir isso em suas preocupações a médio e longo prazo. Podese dizer o mesmo para o grupo Overwatch Brasil, que permite aos usuários discutir sobre a conduta da comunidade. Entende-se que isso molda a opinião de quem está acompanhando o debate e participando da conversa pelo campo de comentários da rede social. É possível constatar que as mulheres são tratadas com preconceito, de forma pejorativa e sendo assediadas constantemente pelos jogadores. Esse fato é exposto pelo conteúdo das reportagens publicadas no portal da ESPN e pelos relatos dos membros do grupo Overwatch Brasil na rede social. Ressalta-se também de que há crescimento no número de matérias que falam sobre a atuação das mulheres nos jogos eletrônicos, assim, demonstrando que o tema está sendo explorado cada vez mais. A aplicação do questionário no Overwatch Brasil possibilitou entender como os membros do grupo percebem o espaço em que estão inseridos, além de expor um novo tipo de comportamento das pessoas e respostas quase unânimes para algumas questões. O tema do assédio precisa ser discutido, como mostram os resultados do questionário aplicado, que são alarmantes e ilustram o problema. A sociedade está ciente desse assunto e aos poucos coloca a pauta na sua lista de preocupações, devido ao fato da mídia estar o agendando cada vez mais, seja nos meios tradicionais, em televisão, rádio e jornal, quanto na web em suas diversas plataformas. Como consequência disso, no futuro, menos mulheres terão de sofrer com esse problema por viverem em uma sociedade que têm consciência de que esse é um comportamento errado e nocivo. REFERÊNCIAS ADGHIRNI, Zélia L. Informação online: jornalista ou produtor de conteúdos? Trabalho apresentado no XXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Informação. Campo Grande, Brasil. 2001. BROUGÈRE, Gilles. Jogo e educação. Artmed editora, 1998. CANAVILHAS, João Messias. Webjornalismo: considerações gerais sobre jornalismo na web. 2001 Disponível em: http://www. bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=canavilhasjoao-webjornal.html.
117
CASSELL, Justine; JENKINS, Henry (Ed.). From Barbie to Mortal Kombat: gender and computer games. MIT press, 2000. CHINELATO, Sabrina; FERREIRA, Soraya. ESPN Brasil Na Web: Reconfiguração Da Notícia Da TV No Ciberespaço. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/ resumos/R10-3135-1.pdf. COHEN, Bernard Cecil. Press and foreign policy. Princeton University Press, 2015. CUNHA, Sandra. Assédio Moral pode causar acidentes no trabalho. Revista Cipa. Pg 58-71. Disponível em: www.assediomoral. org. Acesso em 06 mar. 2018. DA ROCHA REGES, Thiara Luiza. Características e gerações do Webjornalismo: análise dos aspectos tecnológicos, editoriais e funcionais, 2010. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/~boccmirror/ pag/reges-thiara-caracteristicas-e-geracoes-do-webjornalismo.pdf. Acesso em 26 de março de 2018 DA PAZ, ALESSANDRA RODRIGUES; CASTILHO, ARARIPE VALDERI PEREZ. Jornalismo: Profissão Revista. Disponível em: http://lupa. wdfiles.com/local--files/dicas/jornalismo_profissao_revista.pdf. Acesso em: 19 de abril de 2018. DA SILVA OLIVEIRA, Claudia Maria et al. Assédio moral no ambiente de trabalho: cerco de humilhações e constrangimentos. e-Tec, v. 3, n. 1, 2010. DA SILVA, Wellinton Carlos. Newsgames: webjornalismo e conexões com jogos eletrônicos. RENEFARA, v. 2, n. 2, p. 245264, 2012. Disponível em: https://www.fara.edu.br/sipe/index.php/ renefara/article/view/65/55. Acesso em 26 de março de 2018 DEMARIA, Rusel; WILSON, Johnny L. High Score! The Illustrated History of Electronic Games. 2nd edition. Emeryville: McGrawHill/Osborne. 2004. DE QUADROS, Claudia Irene. A participação do público no 118
webjornalismo. In: E-Compós. 2005. Disponível em: http://e-compos. org.br/e-compos/article/view/56/56. Acesso em 26 de março de 2018 DEUZE, Mark; BARDOEL, Jo. Network journalism: converging competences of media professionals and professionalism. 2001. Disponível em: https://scholarworks.iu.edu/dspace/bitstream/ handle/2022/3201/BardoelDeuze%20NetworkJournalism%202001. pdf?sequence=1&isAllowed=y. FERREIRA, Fernanda Andrade Ramos. A influência dos jogos eletrônicos e do gênero sobre o comportamento social dos jovens da geração Y. 2010. Tese de Doutorado. FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. Ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Hucitec, 1985. GAMONAL CONTRERAS, Sergio; PRADO LÓPEZ, Pamela. El Mobbing o Acoso Moral Laboral. Chile: Lexis Nexis, 2006. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. Ed. 7. Reimpressão. São Paulo: Atlas, 2006. GOLDSTEIN, Jeffrey. Aggressive toy play. The future of play theory: A multidisciplinary inquiry into the contributions of Brian Sutton-Smith, p. 127-147, 1995. GRANDO, Carolina M.; GALLINA, Luiz Melo; FORTIM, Ivelise. No Clube do Bolinha, 2003. Disponível em: http://www.academia.edu/ download/34189434/Culture-20_full2.pdf. HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa do cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. HOLANDA, Aurélio Buarque de et al. Dicionário Aurélio. Salvador: Positivo Editora, 2010. HOHLFELDT, Antonio. Os estudos sobre a hipótese de agendamento. Revista Famecos, v. 4, n. 7, p. 42-51, 1997. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/ article/viewFile/2983/2265. Acesso em 04 de abril de 2018. 119
HOHLFELDT, Antônio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga (Org.). Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. 309 p. ISBN 85-326-2615-7. HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2001. JUNIOR, Jaime. O. P.; ALVES, Lynn. Jogos eletrônicos e a nova face da diversão, contando e produzindo histórias, construindo e veiculando saberes. VIII Brazilian Symposium on Games and Digital Entertainment, 2009. MEZRICH, Bem. Bilionários por Acaso – A criação do Facebook. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca Ltda., 2010. 288 p. MENDES, Cláudio Lúcio. Jogos eletrônicos: diversão, poder e subjetivação. Papirus Editora, 2006. MIELNICZUK, Luciana. Características e implicações do jornalismo na Web. In: Trabalho apresentado no II Congresso da SOPCOM. Lisboa. 2001. Disponível em: http://comunicaufma.webs. com/mielniczuk_caracteristicasimplicacoes.pdf. MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo na web: Uma contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hipertextual. (Tese Doutorado). Salvador, UFBA, 2003. Disponível em: https:// www.ufrgs.br/jordi/wp-content/uploads/2016/05/Jornalismo-naWeb-uma-contribui%C3%A7%C3%A3o-para-o-estudo-do-formato-danot%C3%ADcia-na-escrita-hipertextual.pdf. MIELNICZUK, Luciana. Interatividade e hipertextualidade no jornalismo online: mapeamentos para uma discussão. In: Anais do XXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Manaus. 2000. Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/ ed3304283efbdeb8cb2931263cf0cbff.pdf. MOURA, Juliana Santana. Jogos eletrônicos e professores: primeiras aproximações. 4º Seminário Jogos eletrônicos, educação e comunicação: construindo novas trilhas, 2008. Disponível em: http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/seminario4/trab/jm.pdf. 120
NOELLE-NEUMANN, Elisabeth. A Espiral do Silêncio - opinião pública: nosso tecido social. Tradução: Cristian Derosa. Estudos Nacionais, Brasil. 2017. PALACIOS, Marcos. O que há de (realmente) novo no jornalismo online? Conferência proferida por ocasião do concurso público para Professor Titular na FACOM/UFBA, 1999. PASCOE, C. J. 2007. Dude, You’re a Fag: Masculinity and Sexuality in High School. Los Angeles, California. Disponível em: http:// smellslikecollege.com/PSYdocs/Dude.pdf. Acesso em: 14 de março de 2018. PEDUZZI, Maria Cristina Irigoyen. Assédio moral. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre, RS, v. 73, n.2, p. 25-45, abr./jun. 2007 RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Editora Meridional, 2009. Disponível em: http://www.ichca. ufal.br/graduacao/biblioteconomia/v1/wp-content/uploads/ redessociaisnainternetrecuero.pdf. Acesso em 05 de março de 2018. RBA, Rede Brasil Atual. “Ideia de posse” é o principal motivo de agressão de homens contra mulheres. Disponivel em: http:// www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2011/02/ideia-de-posse-e-oprincipal-motivo-de-agressao-de-homens-contra-mulheres-afirmapesquisador. Acesso em: 15 de março. OUTING, Steve. What Bloggers can learn from Journalists. Poynter Online, 2004. SANCHEZ, Sandra. Instrumentos da pesquisa qualitativa. Disponível em: http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/conteudo-2007/ T1-1SF/Sandra/Pesquisa_Qualitativa.ppt. Acesso em: 08 de maio de 2018. SANTAELLA, Lucia. Comunicação e Pesquisa. São Paulo: Hacker Editores, 2001. SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2003. 121
SERIDÓRIO, Daniele Ferreira; RODRIGUES, Laís Modelli. Espiral do silêncio, opinião pública e representação da mulher na mídia. Conselho Editorial, p. 179, 2015. SHAW, Eugene F. Agenda-setting and mass communication theory. Gazette (Leiden, Netherlands), v. 25, n. 2, p. 96-105, 1979. Uma Jornada pelo Jornalismo Gamer Brasileiro. Press Start Brasil. Disponível em: http://warpzone.me/pressstartbrasil/index.html. Acesso em: 15 de abril de 2018. VIGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1984. WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. 8. ed. Lisboa, Portugal: Presença, 2003. 271 p. ISBN 972-23-1440-8.
122
Capítulo 5 ONLINE E ON AIR: A INFLUÊNCIA DO TWITTER NO COMENTÁRIO ESPORTIVO DAS RÁDIOS BANDEIRANTES, GAÚCHA E GUAÍBA Vivian Leal da Silveira Léo Nuñez
O comentarista esportivo é peça fundamental em uma transmissão de futebol. Cabe a este profissional identificar as situações técnicas e táticas da partida, apontar problemas, sugerir soluções e mapear os dados relevantes do acontecimento para repassar aos ouvintes da jornada esportiva1. Atualmente, ele está presente em basicamente todas as transmissões dos jogos no rádio e na televisão. O modelo atual de uma jornada conta, ainda, com o narrador, res- ponsável por descrever os acontecimentos do jogo, o repórter, que tem a função de informar ao público detalhes da partida, e o plantão esportivo, que funciona como uma central de dados disponíveis a respeito dos times e sobre o que cerca o espetáculo em si, as partidas paralelas que sombreiam a atração principal. O conceito principal de comentarista de futebol pode ser descrito como um analista ou crítico dos fatos do jogo, pois “cabe a ele analisar o que aconteceu, o que pode acontecer e antever o que aconteceria numa partida” (BARBEIRO; RANGEL, 2015, p.78-79). Ainda, conforme os autores, o comentarista deve analisar e informar, de forma consistente, sobre cada alteração feita pelo treinador das equipes, prevendo como o time se portará de acordo com a mudança durante a partida de futebol. 1 A transmissão da partida em si.
123
A participação do comentarista cresceu conforme a evolução e o aumento de importância das jornadas esportivas. As transformações sociais, tecnológicas e organizacionais impactaram sobre as práticas profissionais dos chamados “homens de opinião” das jornadas esportivas. Hoje, o conteúdo gerado pelo comentarista é amplamente diversificado e conta com variadas possibilidades de atuação. A complementaridade com as redes sociais é determinante neste novo momento, o que Guimarães e Ferraretto (2016) classificam como fase do jornalismo esportivo convergente, já que o rádio atual vai ao encontro do conceito de convergência pregado por Jenkins (2008, p.37): “um processo chamado ‘convergência de modos’ está tornando imprecisas as fronteiras entre os meios de comunicação”. Logo, um único meio físico – cabos, ondas ou fios – pode transportar serviços que antes eram realizados separadamente, de várias formas físicas diferentes, corroendo o processo de relação um a um que existia anteriormente. Com isso, indo ao encontro de características abordadas por Guimarães e Ferraretto (2016), verifica-se que os comentaristas esportivos do rádio no Rio Grande do Sul buscam engajar o seu público fora do veículo, tendo as redes sociais como a segunda tela para transmitir suas análises. Com isso, é possível observar que o comentário deixa de fazer parte apenas das jornadas esportivas radiofônicas, introduzindo-se, também, nas redes sociais. Neste artigo, analisar-se a utilização do Twitter como ferramenta de busca por este engajamento, baseando-se nos estudos de redes sociais desenvolvidos por Recuero (2009). Norteia-se, desta forma, em termos conceituais, esta pesquisa, observando os referenciais teóricos nas duas mídias proponentes: o rádio e a rede social, problematizando o estudo com a seguinte questão: de que forma o Twitter influencia no desenvolvimento do comentário esportivo transmitido no rádio? Adota-se o rádio esportivo de Porto Alegre, com o recorte em profissionais que atuam em três emissoras que transmitem futebol há mais de uma década: Bandeirantes, Gaúcha e Guaíba. Os três comentaristas escolhidos para ilustrar o que se pretende, ou seja, investigar como o Twitter influencia no desenvolvimento do comentário esportivo radiofônico e de que maneira isso interfere na análise do comentarista, são Filipe Duarte, Carlos Guimarães e Maurício Saraiva, respectivamente integrantes das rádios Bandeirantes, Gaúcha e Guaíba de Porto Alegre. O recorte proposto das três rádios para análise se dá por conta da programação que enfoca jornalismo geral 124
e jornalismo esportivo, ao contrário de outras emissoras no segmento jornalístico em Porto Alegre, cuja programação é voltada para um tema único. Hoje, a jornada esportiva representa uma parcela significativa da audiência destas três emissoras. Com a participação do público nas redes sociais, o setor de opinião da transmissão passa a adquirir contornos e proporções que redimensionam o papel do comentarista esportivo. A interação manifestada pelos ouvintes, que se sentem participantes efetivos de uma transmissão de futebol, colocando suas opiniões, críticas e elogios, gera uma espécie de feedback nestas relações virtuais, já que os profissionais recebem estes pontos de vistas quase que instantaneamente. Com isso, justifica-se o presente artigo pela necessidade de compreender esta ligação entre os profissionais e o público. O Twitter, por seu dinamismo, é a ferramenta utilizada para o presente estudo, visto que os jornalistas, que são objeto da análise, possuem contas ativas na rede social. Ainda, é possível considerar um interesse pessoal no desenvolvimento deste projeto, partindo de uma identificação da pesquisadora com ambos os temas abordados; redes sociais e jornalismo esportivo. Justifica-se, ainda, a realização desta pesquisa a fim de elucidar esta conexão entre profissionais e ouvintes, através da participação dos espectadores no Twitter e da interferência provocada por esta interação no conteúdo transmitido pelos mesmos através das ondas sonoras. O RÁDIO E O COMENTARISTA ESPORTIVO A primeira transmissão de uma partida de futebol na íntegra no rádio brasileiro aconteceu no dia 19 de julho de 1931, quando Nicolau Tuma, pela Rádio Educadora Paulista, narrou a partida entre as seleções de São Paulo e Paraná, pelo VIII Campeonato Brasileiro de Futebol. A partida aconteceu no campo Chácara da Floresta, bairro da Ponta Grossa, em São Paulo. “Neste dia, foi criada uma técnica para a transmissão direta de futebol. E teve início a simbiose, que dura até hoje, entre radiojornalismo e esporte” (SOARES, 1994. p. 17). O esporte apareceu no rádio de Porto Alegre somente em 1931, pelo microfone da própria Rádio Sociedade Gaúcha. A primeira experiência de narração lance a lance no rádio esportivo gaúcho aconteceu no antigo Estádio da Baixada, no Bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre: 125
Em 19 de novembro de 1931, Ernani Ruschel, pelo microfone da Rádio Sociedade Gaúcha, então utilizando o prefixo PRAG, irradia pela primeira vez um jogo de futebol no Rio Grande do Sul, descrevendo, no Estádio da Baixada, a vitória do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense por 3 a 1 frente à seleção do Paraná. Por coincidência, em meados da década seguinte, em 1944, é o combinado paranaense que a Seleção do Rio Grande do Sul enfrenta em Curitiba, perdendo por 3 a 1, com a já PRC-2 realizando, na voz de Farid Germano, a pioneira transmissão esportiva interestadual. A estação vai ser também a primeira a cobrir um jogo no exterior, o que ocorre em 14 de maio de 1949, com Cândido Norberto ao microfone, narrando do Estádio Centenário, em Montevidéu, a vitória por 3 a 1 do Grêmio frente ao Club Nacio- nal de Football (FERRARETTO, 2007, p. 478).
No rádio brasileiro, o comentário esportivo existe desde 1940 (GUERRA, 2002, p.21). A Rádio Cruzeiro do Sul, de São Paulo, por iniciativa de Blota Júnior, resolveu ocupar um espaço ocioso, o intervalo do jogo, com uma análise do primeiro tempo. Geraldo Bretas foi o pioneiro em realizar as análises que se aproximam do que se encontra atualmente. Deste momento em diante, outras emissoras passaram a assimilar a entrada desta nova figura. No rádio do Rio Grande do Sul, no entanto, o comentarista esportivo demorou 10 anos para chegar. Esse profissional passou a ser uma figura fixa nas transmissões esportivas somente em meados dos anos 1950. Até então, “o narrador constitui-se em figura não só predominante como na atualidade, mas, na época, praticamente exclusiva na transmissão dos jogos de futebol” (FERRARETTO, 2007, p. 478). A partir deste pioneirismo, atribuiu-se ao comentarista o lado da opinião no jogo de futebol. Ferraretto (2014, p.216) define o profissional no rádio como um representante do elemento de opinião. Representa um elemento de opinião. No dia a dia, possui geralmente um espaço fixo na programação. Durante a transmissão de um evento esportivo, analisa, considera, sugere, opina e critica o que está ocorrendo. (FERRARETTO, 2014, p.216).
O comentarista, em seu início, era um cronista. Com a introdução do jornalismo ao rádio esportivo e a consolidação de uma editoria específica, ele passou a ganhar contornos de analista. Com a difusão do esporte enquanto editoria específica, com operação própria e a defesa da especialização e do tratamento jornalístico, este enfoque se alterou. Na evolução do comentário esportivo, Dalpiaz (2002, p.134) considera que nos anos 1990, “a transformação do espetáculo esportivo
126
em ativo da indústria cultural e em veículo de marketing é um fato consumado”. As transmissões de rádio, por consequência, passaram por estas alterações. Com isso, houve a própria transformação do comentarista, que hoje possui um âmbito mais plural, com o jornalista em si trabalhando como analista e expandindo seu campo de atuação para outros meios. Guimarães e Ferraretto (2016) propuseram uma periodização para o comentário esportivo no rádio de Porto Alegre, levando em consideração estas transformações, determinando pontos de corte estabelecidos através das três mudanças essenciais no modo de se consumir o meio: (1) a popularização dos receptores transistorizados; (2) o televisionamento dos jogos; e (3) a internet e, entre outras consequências desta, as redes sociais. Na fase atual, o profissional reproduz elementos da convergência que são gerados por aspectos notáveis do desenvolvimento tecnológico e das diferentes relações que público e profissionais apreenderam através da popularização das redes sociais, dos aplicativos de dados e da demanda do público em exigir novas referências e subsídios para a compreensão do jogo. As redes sociais aparecem como um fator preponderante para o diagnóstico dos modos de produção dos comentaristas neste período. A rede social mais utilizada para este tipo de situação é o Twitter. Por seu imediatismo, por sua facilidade através de mecanismos onde pode selecionar o que seguir e, ainda, simplificar a visualização, esta plataforma é constantemente utilizada pelos comentaristas atuais, que transbordam suas operações para além do rádio, fazendo desta rede social uma espécie de prolongamento daquilo que é dito no rádio. O TWITTER COMO FERRAMENTA JORNALÍSTICA O Twitter foi criado em 2006 como um serviço que capacitava o envio de mensagens – ou tweet – com até 140 caracteres a um site em que qualquer um poderia lê-la, ou diretamente para aqueles que a escolheram ou foram escolhidos para segui-la. Em 2008, se revelou a forma mais rápida de divulgar uma série de atentados terroristas acontecidos em Mumbai, na Índia. A partir deste acontecimento, se tornou a principal fonte de notícias, corretas ou não, fluindo a uma taxa de doze tweets por segundo. Em definição breve, uma ferramenta de microblogging seria uma mistura de blog com rede social e mensagens instantâneas (ORIHUELA apud ZAGO, 2008). Entretanto, conforme McFedries (apud ZAGO, 2008), o ato de microblogging se 127
refere a postagem pequenos textos em um blog pessoal, em especial a partir de comunicadores instantâneos ou de um celular. As primeiras ferramentas voltadas para esse estilo de publicação surgiram apenas em 2006. De lá para cá, centenas de ferramentas foram criadas. A mais popular em escala global e utilizada desde então é o Twitter, objeto desta pesquisa. A comunicação através do Twitter aproxima os emissores e receptores, uma vez que um não precisa do outro para existir dentro da rede, mas um pode interagir com o outro mesmo que por ele não seja seguido. Recuero e Zago (2011) destacam, ainda, que, desta forma, as relações entre os atores, no Twitter, tendem a ser menos recíprocas e menos baseadas em interação, uma vez que seguir alguém significa ter acesso às informações publicadas por determinado indivíduo, “não é necessária a interação como forma de manter o laço social” (RECUERO; ZAGO, 2011, p. 05). Para Seixas (apud MORO; SIFUENTES, 2013, p. 04), “o Twitter foi o precursor, aquele que definiu o conceito, as novas possibilidades e a nova forma de irrigar o mundo com conteúdo”. Uma partida de futebol, um jogo de basquete, comentários sobre futebol americano e, até mesmo, corrida de Fórmula 1. É possível acompanhar tudo isso em um só lugar durante a transmissão de todos esses eventos, de acordo com os perfis previamente selecionados. O consumidor de notícias vem mudando sua forma de absorver informação, uma vez que ele já não espera mais passivamente que a notícia chegue até ele (BARROS et al, 2010). Com a popularização da internet, as pessoas comuns vem contribuindo na construção e na difusão de notícias através de redes como o Twitter, onde a timeline2 é individual para cada um de seus 328 milhões de usuários3 espalhados pelo mundo. O uso do Twitter para coberturas jornalísticas explora suas potencialidades enquanto microblog como formato, baseado na ideia de publicação em ordem cronológica inversa (BLOOD apud ZAGO, 2008). A instantaneidade do Twitter é uma das características que fazem com que sua utilização seja frequente na divulgação de informações e comentários sobre assuntos que estão acontecendo no momento. Santos (2011) simplifica, especialmente voltado para o caso deste estudo: 2 Página estática onde todas as publicações aparecem, onde os mais recentes ficam no topo e os mais antigos ao fim da página. Tradução nossa: linha do tempo. 3 Fonte: http://idgnow.com.br/internet/2017/05/03/twitter-ganha-apenas-9-milhoes-deusuarios-no-1o-trimestre/
128
Mais especificadamente no jornalismo esportivo, o Twitter vendo sendo utilizado para disseminar a primeira informação sobre um acontecimento instantaneamente, como uma convocação ou uma entrevista. Uma informação superficial - pois a plataforma não permite mensagens longas - mas que muitas vezes basta por si só, por ser o necessário no momento (SANTOS, 2011, p. 43).
Bem como nas redações – e principalmente no rádio, objeto deste estudo – o jornalismo esportivo galgou espaço lentamente, passando de setor à editoria especializada (ERBOLATO, 1981). De acordo com Sousa (apud SANTOS, 2011), “uma das características da notícia esportiva é a sua leveza”. A linguagem do esporte é objetiva, criativa, direta, e, em alguns casos, irônica. Diferentes mídias veiculam informações esportivas, cada uma com sua linguagem específica. o áudio e a instantaneidade do rádio; a imagem e a agilidade da televisão, a profundidade e o detalhamento e fotos do fato jornalístico nos impressos; a capacidade de armazenar informações da informática; o canal de voz do telefone e a interatividade da multimídia. Com a Internet é possível conversar instantaneamente; emitir opinião, identificando-se ou não; manter conversação com imagem simultânea, através da viodeoconferência; ler textos e livros; enviar correspondência com anexos de áudio e imagem, inserir e disponibilizar livros, textos, artigos, matérias, teses, etc. (PADILHA, 2009, pf. 04)
A internet, conforme Padilha (2009), consegue concentrar tudo isso dentro de um mesmo espaço. O TWITTER E O COMENTÁRIO EXPANDIDO NO RÁDIO DE PORTO ALEGRE Os comentaristas esportivos selecionados para este estudo, foram observados durante uma jornada esportiva, considerando sua atuação no rádio e atividade no Twitter. O comentarista da Rádio Bandeirantes, Filipe Duarte, foi acompanhado durante a partida entre Internacional e Criciúma, em 8 de julho de 2017, no primeiro turno do Campeonato Brasileiro – Série B. O comentarista da Rádio Gaúcha, Maurício Saraiva foi acompanhado durante a transmissão de Internacional e Oeste, em 14 de novembro de 2017, no segundo turno do Campeonato Brasileiro – Série B. Carlos Guimarães, comentarista da Rádio Guaíba, foi observado durante a partida entre Internacional x Vila Nova, em 11 de novembro de 2017, também no segundo turno da competição. Filipe Duarte tem atividade regular na rede social. Segundo o 129
próprio, ela acontece mesmo em dias onde não está escalado para comentar determinada transmissão. No entanto, revela critérios para as publicações e interações com seus seguidores. No momento das postagens, por exemplo, há necessidade de suprimir palavras e até mesmo abreviar determinadas posições de jogadores em campo. Quanto à interação com os seguidores, Duarte acredita que é necessário filtrar boa parte das mensagens que recebe, uma vez que, como afirma Recuero (2009), a comunicação nas redes sociais privilegia o anonimato em detrimento da identificação. Ao considerar este fator, em muitos momentos, os usuários acabam demonstrando ódio e usando ofensas deliberadamente para ofender o trabalho do profissional por algo que não é por ele corroborado. Para Duarte, a utilização do Twitter, durante uma jornada esportiva, é algo útil na finalidade de atrair público para o público da rede social para o rádio, uma vez que são distintas entre si. “[O Twitter] É uma ferramenta diferente do rádio. Eu uso durante as jornadas porque o público nem sempre é o mesmo. Geralmente, quem está me escutando não está acompanhando pelo Twitter e vice e versa” (DUARTE, 14 nov. 2017). Acredita que a plataforma de microblog é um acréscimo nas maneiras de expressar sua opinião, mas ressalta que, durante uma jornada esportiva, o foco deve ser o jogo em andamento e a transmissão radiofônica. “Eu nunca dei uma opinião diferente obviamente, nem tratei de um assunto no Twitter, durante a jornada, que eu não tivesse abordado no rádio” (DUARTE, 14 nov. 2017). Maurício Saraiva apresenta atividade constante na rede social. A cada jogo, o comentarista publica a média de dois tweets. “Ge- ralmente, ao fim de um tempo para o outro, eu faço um twitte resumindo o que foi e tento fazer um projetando o que será. Para passar de três twittes no intervalo, o mundo tem que estar acabando e a Alemanha fez 7 a 1 no Brasil. E no final do jogo, é mais curto ainda. Será um para dizer como foi o jogo e um como será o próximo jogo” (SARAIVA, 16 nov. 2017). Para Saraiva, é necessário que a atenção do comentarista esteja focada na integralidade do jogo, qualquer dispersão pode causar a perda de um lance decisivo da partida e “isso seria dispersar a minha atividade fim, que é comentar o jogo, prestar atenção ao jogo, concentrar-me no jogo” (SARAIVA, 16 nov. 2017). Pessoalmente, acredita que “se tu ficar tentado olhar uma rede social, a balizar o jogo a partir do que foi dito na rede social, é certo que tu vais te perder, porque tu perdes a linha de raciocínio, a tua linha de como agir”. Por 130
isso, limita sua utilização ao intervalo da partida. Quanto à interação com os seguidores, é objetivo: “Primeiro, eu olho e depois dou retorno a todos os comentários argumentados. Os comentários que vem em forma de linchamento, eu simplesmente desconsidero. ‘Tu és isso ou é aquilo; tu falaste porque tu és gremista; falou porque és colorado; tu és palhaço; tua mãe deveria estar na zona’. Não há nenhum termo de resposta para situações dessas. Agora, discordância ou concordância argumentada, eu vejo e, sempre que possível, dou algum contraponto” (SARAIVA, 16 nov. 2017). Para o comentarista, a utilização da rede social se dá de forma profissional. Apesar da utilização descontraída, Maurício acredita que a plataforma é o local onde ele se vende enquanto profissional. “O twitte é muito curto, tu ter que dar uma explicação sobre o que o sujeito não entendeu, tem um grande risco de aquilo ser printado4 fora de contexto e virar algo que não disse. O Twitter é o lugar onde eu me vendo profissionalmente” (SARAIVA, 16 nov. 2017). Quanto a utilização simultânea do Twitter ao decorrer de uma jornada esportiva, Saraiva se mostra contrário. Ele acredita, ainda, que não é necessário passar o comentário dito no rádio para a tela do Twitter, pois considera “mais do mesmo”. Desta forma, observa-se que o comentarista Maurício Saraiva utiliza o Twitter, durante uma jornada esportiva, para fins de emissão de opinião. O comentarista realiza suas publicações no Twitter em momentos de pausa da partida (intervalo e encerramento) para emitir breves resumos de como decorreram os dois tempos de jogo, centrando seus comentários de maior desenvoltura para o veículo principal onde desempenha a função opinativa. Com atividade regular na rede social, Carlos Guimarães utiliza o Twitter como a “segunda tela” durante uma transmissão esportiva. “Eu tenho meus comentários na rádio Guaíba e, quando eu twitto – não é sempre, depende do jogo – é para saber o que o torcedor pensa e para interagir no ambiente de rede social, expandindo o conteúdo que eu passo na rádio para a tela do Twitter. Então, é como se fosse, realmente, um ambiente de conversação, onde eu quero compartilhar as ideias a respeito de um jogo, com o maior número de pessoas que possa me seguir e que, eventualmente, não ouviram a rádio” (GUIMARÃES, 16 nov. 2017). 4 Ato de se tirar um print screen (captura de tela) da tela do celular, uma foto de determinado conteúdo que ali aparece.
131
Sua atividade é constante, mas conforme palavras do próprio comentarista, depende do jogo em que está escalado. Guimarães ainda considera que as publicações devem ser em momentos de pausa, uma vez que a atividade de comentarista demanda foco total no que acontece dentro das quatro linhas. “O comentário pressupõe uma a- tenção em detalhes da partida, como, por exemplo, observar as a- tuações individuais sem a bola e os comportamentos coletivos. Com a bola rolando, é um pouco complicado prestar atenção nas redes sociais” (GUIMARÃES, 16 nov. 2017). Todavia, há exceção para esta regra. O comentarista afirma que faz a utilização de aplicativos de desempenho durante a jornada, o que colabora positivamente no desenvolvimento do comentário. O comentarista foi questionado sobre o fenômeno de grenalização que acontece no Rio Grande do Sul, criado em alusão à polarização entre a dupla Grenal e ratificado pelas torcidas coirmãs. Guimarães considera que este fenômeno é mais antigo do que a própria imprensa esportiva de rádio no Estado e, nas redes sociais, “há o sentido da rivalidade existente aqui e isso é praticamente impossível de se desmanchar. Estando uma vez num meio de comunicação de massa, como é o rádio, há uma ideia de que isso é algo que a gente precisa lidar” (GUIMARÃES, 16 nov. 2017). No entanto, salienta que o espaço virtual utilizado tanto por comentaristas esportivos quanto por imprensa é positivo porque ele acredita que “tem muita gente que entende de futebol e não está nos microfones” (GUIMARÃES, 16 nov. 2017). Considera-se, portanto, que a utilização da plataforma pelo comentarista Carlos Guimarães é definida conforme o jogo em que participa, mas sempre acontece no formato de segunda tela com fins de conversação, pois há o interesse naquilo que os torcedores (que ele segue) pensam a respeito de determinado jogo. Filipe Duarte (14 nov. 2017) destaca que a utilização do Twitter está mais relacionada com o hábito de publicar do que propriamente o jogo que se é analisado. Ao contrário de Duarte, Guimarães não esclarece os critérios para suas publicações e o porquê de não utilizar a rede social em todos os jogos que comenta, mas é categórico ao afirmar que tem no Twitter “uma fonte de pesquisa durante o jogo” (GUIMARÃES, 16 nov. 2017), seja a respeito da opinião do torcedor ou para esclarecimento de algum lance polêmico. Saraiva, por sua vez, é objetivo e utiliza, dentro de um tempo estabelecido e em momentos
132
já pré-definidos, a ferramenta para emitir uma breve análise para aquele espectador que “não conseguiu ouvir rádio por alguma razão, não conseguiu ver televisão” (SARAIVA, 16 nov. 2017). Atuar como comentarista em uma jornada e dividir este tempo com comentários no Twitter é uma prática adotada por apenas um, dentre os três entrevistados. Duarte (14 nov. 2017) afirma que “como comentarista, tu ficas mais calado, observando e são pequenos momentos que tu entras no ar pelo microfone, então te possibilita estar mais presente pelo Twitter”. No entanto, Saraiva e Guimarães discordam desta afirmação. Para o comentarista da Rádio Gaúcha, “o tempo que eu perder, dez segundos, para twittar, está acontecendo uma jogada que vai definir a partida e eu não vi. Isso é imperdoável para mim” (SARAIVA, 16 nov. 2017). Ao encontro desta afirmação, Guimarães acrescenta que dificilmente utiliza o Twitter com o jogo em andamento, uma vez que “o comentário pressupõe uma atenção em detalhes da partida, como, por exemplo, observar as atuações individuais sem a bola e os comportamentos coletivos” (GUIMARÃES, 16 nov. 2017). Considerações finais Considera-se, portanto, que o Twitter é, inicialmente, uma ferramenta de interação. A unanimidade na dependência pelo conteúdo recebido denota que todos leem e conhecem o que é dito por seus seguidores, mas o teor desta interação é o que fará com que seja respondida ou desprezada. Sobre as funções principais da rede social, a que mais se manifesta nas práticas dos três é justamente a de levar o conteúdo de jornalismo esportivo, especialmente o futebol, para o Twitter, a fim de transbordar o conteúdo que, antes, para eles, na condição de comentaristas, fora restrito ao ambiente radiofônico. Os comentaristas atuam diariamente abastecendo suas contas com conteúdo que, na verdade, são uma extensão de suas atividades nas emissoras. Os três, ainda, mencionam uma espécie de “filtro” na hora de responder os twittes, o que demonstra uma percepção homogênea de haters5 na Internet. Isto denota um senso de preservação e de cautela quanto aos seguidores mais ávidos em discordar dos conteúdos relacionados na rede. Este fenômeno tem favorecimento na internet, uma vez que há o privilégio do anonimato na comunicação mediada 5 Em tradução nossa, odiadores. Pessoas que disseminam ódio e ofensas em redes sociais.
133
por computador (RECUERO, 2009). Neste sentido, infere-se, portanto, que não há uma interação livre. O diálogo é seletivo, buscando a aproximação com os torcedores mais suscetíveis aos debates. Conclui-se, portanto, que o Twitter é uma ferramenta que funciona em consonância com o rádio, não em concorrência. É um ambiente onde há a reprodução do pensamento dos comentaristas, tecendo um novo plano para o campo da análise. A utilização desta rede social por parte dos três comentaristas denota uma coerência, sendo a forma de usá-la como meio de transmissão do conteúdo veiculado no rádio aquela que melhor descreve suas participações neste âmbito. Como o recorte proposto nesta pesquisa, escolheu-se três profissionais. Naturalmente, o estudo se limita a ser uma pista para classificar uma prática que, como verificado, foi identificada nas atuações dos jornalistas que serviram como base para a pesquisa. Após a verificação da forma de interação do comentarista com os seguidores da rede social, a análise da utilização do Twitter por cada comentarista e o estabelecimento de relações entre rede social e jornada esportiva, pode-se inferir que a hipótese levantada anteriormente traz consigo uma ambiguidade na resposta. É possível considerar que há interferência do Twitter no comentário esportivo de cada comentarista, ao considerar-se que cada interação também é uma espécie de feedback instantâneo ao trabalho do profissional, que poderá ser lido conforme sua disponibilidade. No entanto, a hipótese pode ser desconsiderada se o resultado da análise for observado com enfoque imediatista, uma vez que não há qualquer efeito prático e direto dos seguidores sobre o que é publicado pelos comentaristas na rede. Aferir se esta prática é ou não hegemônica requer uma pesquisa mais ampla, tendo em vista a diversidade de estilos que compõem as atividades dos comentaristas esportivos de Porto Alegre. Aventase, portanto, a possibilidade de um estudo de mais fôlego, uma vez que se deduz, a partir do recorte proposto, que o procedimento de utilização do Twitter pelos comentaristas obedece às configurações que são sistemáticas, uniformes e que obedecem a basicamente os mesmos processos. Logo, finaliza-se com a abertura necessária para o alargamento desta pesquisa ou para que se tenham novos estudos nesta área.
134
REFERÊNCIAS BARBEIRO, Heródoto; RANGEL, Patrícia. Manual do jornalismo esportivo. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2015. BARDIN, LAURENCE. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70. 2016. BARROS, Monique Cristine Garcez; FELIZOLA, Matheus Pereira Matos; SEGUNDO, Wilson Teles Barbosa; VIEIRA, Eloy Santos. As redes sociais e o novo consumidor de notícias. Trabalho apresentado no IJ 5 – Comunicação Multimídia do XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 10 a 12 de junho de 2010. Disponível em: <https://xa.yimg.com/kq/ groups/22845354/816182102/name/jornalismo+e+rede+sociais.pdf>. Acesso em 15 nov. 2017. DALPIAZ, Jamile Gamba. O futebol no rádio de Porto Alegre: um resgate histórico (dos anos 30 à atualidade). 2002. 192 f. Dissertação de mestrado – Programa de pós-graduação em comunicação e informação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2002. DUARTE, Filipe. Comentarista da Rádio Bandeirantes. Entrevista concedida em 14 nov. 2017. ERBOLATO, Mário L. Jornalismo especializado: emissão de textos no jornalismo impresso. São Paulo: Atlas, 1981. FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio no Rio Grande do Sul (anos 20, 30 e 40): dos pioneiros às emissoras comerciais. Canoas: Ed. da Ulbra, 2002. _____. Rádio e capitalismo no Rio Grande do Sul: as emissoras comerciais e suas estratégias de programação na segunda metade do século 20. Ed. ULBRA, 2007. _____.; FERRARETTO, Luiz Artur. O comentário esportivo no rádio de Porto Alegre: uma proposta de periodização histórica. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 39, 2016, São Paulo.
135
Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. GUIMARÃES, Carlos Gustavo Soeiro. Comentarista da Rádio Guaíba. Entrevista concedida em 16 nov. 2017. JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008. MORO, Fernanda; SIFUENTES, Lírian. A inserção do Twitter no trabalho do jornalista esportivo: o caso da TV Esporte Interativo. Trabalho submetido ao XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, realizado de 30 de maio a 01 de junho de 2013, na categoria Intercom Junior. PADILHA, Sonia. A Internet, o jornalista e as inquietações. Biblioteca on-line de Ciências da Comunicação, 2009. Disponível em: <http://www. bocc.ubi.pt/pag/bocc-padilhainternet.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2017 RECUERO, Raquel. A conversação em rede: comunicação mediada pelo computador e redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2.ed, 2014. _____. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2014. 2ª ed. 206 p. _____; ZAGO, Gabriela. A economia do Retweet: Redes, Difusão de Informações e Capital Social no Twitter. In: Grupo de Trabalho Comunicação e Cibercultura do XX Encontro da Compós, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, de 14 a 17 de junho de 2011. Disponível em: < http://www.raquelrecuero.com/ arquivos/recuerozagocompos2011.pdf>. Acesso em 15 nov. 2017. SANTOS, Rachel Morandi de Castro. Análise do uso do Twitter no Jornalismo Esportivo. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção de grau de Bacharel em Comunicação Social – Faculdade de Comunicação Social da UFJF, Juiz de Fora. SARAIVA, Maurício. Comentarista da Rádio Gaúcha. Entrevista concedida em 16 nov. 2017. 136
SOARES, Edileuza. A bola no ar: o rádio esportivo em São Paulo. Summus Editorial, 1994. ZAGO, Gabriela. Dos Blogs aos Microblogs: aspectos históricos, formatos e características. In: VI Congresso Nacional de História da Mídia (CD-ROM), Niterói,RJ, 2008. Disponível em: < http://www.bocc. ubi.pt/pag/zago-gabriela-dos-blogs-aos-microblogs.pdf>. Acesso em 15 nov. 2017. _____. O Twitter como Suporte para Produção e Difusão de Conteúdos Jornalísticos. In: 6° Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, São Bernardo do Campo, SP, SBPJor, 2008. Disponível em: < https://pt.scribd.com/document/5887184/O-Twitter-comosuporte-para-producao-e-difusao-de-conteudos-jornalisticos>. Acesso em 15 nov. 2017.
137
Capítulo 6 RÁDIOJORNALISMO E REDES SOCIAIS DIGITAIS: A PARTICIPAÇÃO DO WHATSAPP NA CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA NO PROGRAMA ESPORTE NOTÍCIA, DA RÁDIO BANDEIRANTES Everton Calbar Léo Flores Vieira Nuñez Desde o surgimento, o rádio passa por constantes reformulações. Tanto em sua linguagem e conteúdo quanto nas suas rotinas de produção. À medida que o tempo passa, ele incorpora novos recursos técnicos viabilizados pelas novas tecnologias de informação e comunicação. No atual contexto em que a radiodifusão está inserida, estimula os profissionais do meio à buscar outras formas de acesso as fontes para a construção da notícia. Desse modo, os aplicativos como o WhatsApp e as redes sociais surgem como novas ferramentas à disposição para auxiliar o radiojornalista também no âmbito da produção de conteúdo. Com base nesses argumentos, este trabalho busca responder a seguinte questão: De que forma o conteúdo enviado através do WhatsApp influência na construção da notícia no programa Esporte Notícia, da Rádio Bandeirantes? Tendo a pesquisa analisado as influências dos recursos tecnológicos e observado a evolução da radiodifusão ao longo dos anos, a hipótese levantada para este trabalho é que a tecnologia posssibilita novos recursos e torna o WhatsApp uma fonte de informação. O presente estudo tem como objetivo geral analisar de que forma o conteúdo enviado através do WhatsApp influencia na construção da notícia no programa Esporte Notícia, da Rádio Bandeirantes. Outros objetivos estão em estudar qual e o quanto deste conteúdo é aproveitado 138
pela produção do programa, além de relacionar as mensagens enviadas através do aplicativo com os assuntos abordados na atração. Por fim, tem como propósito verificar como o aplicativo influencia na construção de conteúdo na programação de rádio, onde será possível enxergar a influencia direta dos ouvintes na radiodifusão. Do ponto de vista metodológico, este estudo é caracterizado como descritivo e exploratório. A coleta de dados foi realizada através de pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. A aborda- gem é qualitativa e quantitativa e a técnica de análise de dados se dá através da análise de conteúdo. O RÁDIO E A INTERATIVIDADE Este capítulo vai mostrar a relação do rádio com a interatividade, a importância da utilização das mídias sociais na radiodifusão e porque o WhatsApp se tornou a ferramenta mais expressiva de interação no rádio. Durante quase toda a década de 20, as primeiras emissoras do Brasil eram mantidas por associações ou clubes e as transmissões ainda não tinham regularidade. Porém, mesmo neste início com obstáculos, já era possível notar a presença do ouvinte. Na verdade, eram eles quem sustentavam as primeiras rádios, através de mensalidades pagas na condição de sócios-contribuintes dos rádioclubes e sociedades de radiodifusão. A primeira forma de interação dos ouvintes com as rádios se deu através de cartas. Principalmente em 1933, com o surgimento da Rádio Escola Municipal do Distrito Federal, que apostava no conceito de rádio educativa. Preocupada em manter o contato com os alunos, a estação distribuía folhetos e esquemas das lições que eram enviados antes das aulas radiofônicas, pelo correio, às pessoas inscritas. Os alunos por sua vez, enviavam à emissora trabalhos relacionados com os assuntos das aulas e mantinham contato com a emissora por carta, telefone e até mesmo visitas (HORTA apud MOREIRA, 2000, p. 24).
Todavia, Klöckner (2011) não caracterizava estas manifestações dos ouvintes como interação, mas sim como participação. A interação por meio de cartas se deu até a década de 70. Após este período, Lopez (2010) destaca que o ouvinte passou a interagir de forma mais frequente. Segundo a autora, “essa potencialização da presença do
139
ouvinte se deu devido à popularização do telefone” (LOPEZ, 2010, p. 40). Para Cebrián Herreros (2011, p. 77), o telefone representou uma profunda transformação para o rádio, capaz de torná-lo, de veículo de radiodifusão, em um veículo de comunicação: Incorpora-se uma enorme capacidade de diálogo, de comunicação horizontal e, em suma, de geração de uma cultura do diálogo, que é a que lhe permitiu em todo momento estar situada na vanguarda da participação e presença da audiência nos conteúdos radiofônicos com seus telefonemas, perguntas, propostas, informações, opiniões.
Herrera Damas (2003) reforça o papel que o telefone representou para a interação no rádio, afirmando que a utilização deste aparelho se tornou a mais completa modalidade de interação com o ouvinte, não apenas por explorar a oralidade, mas também por permitir fluidez e um maior número de participantes. Enquanto Cebrián Herreros (1995) analisa que o telefone se constituiu como um complemento essencial para a interatividade, influenciando no for- mato de programas radiofônicos que exploram o recurso, tais quais as enquetes, debates, consultórios, entrevistas, entre outros. A possibilidade aberta pelo telefone, de inserir a voz do ouvinte no ar, estabelecendo um diálogo em tempo real, permite apontar o uso do telefone como um potencializador da interatividade completa, segundo Klöckner (2011). Após o telefone, os próximos avanços no que se refere às possibilidades de interação dos ouvintes com os radialistas se dão com os telefones celulares, o avanço da digitalização e a inserção do rádio na internet. Parada (2000) afirma que o primeiro impacto de uma transmissão mais ativa da audiência ocorreu na Rádio Eldorado, de São Paulo, em 1993. A partir de uma informação repassada à emissora, via celular, o autor, na época conduzindo a cobertura, colocou um ouvinte no ar e pediu a ele que fizesse a descrição da situação do trânsito no trecho em que estava. “Foi um êxito absoluto! No final da jornada, percebemos que tínhamos um instrumento poderoso nas mãos, mas ninguém havia se dado conta do que aquilo significava” (PARADA, 2000, p. 118). Esta iniciativa da emissora ganhou destaque na Revista Veja. E então, nascia o ouvinte-repórter. O celular passava a agregar mobilidade ao rádio. A nova ferramenta impactou os repórteres que passaram a entregar um maior número de informações in loco de maneira mais ágil e também os ouvintes que passaram a fazer de fato, parte da programação, a partir de qualquer lugar com sinal para telefonia móvel. 140
Os aparelhos celulares também viabilizaram outras formas de interação com o rádio, além das ligações. Uma delas é a possibilidade de envio de mensagens. De acordo com Bufarah Junior (2009), a utilização principalmente das mensagens de texto, os populares torpedos, é uma possibilidade interessante de comunicação móvel com o ouvinte, que pode receber conteúdo enviado pela emissora pelo celular, como também pode fornecer informações para o rádio. “Essa interação coloca a emissora como a mediadora de um diálogo feito entre os ouvintes presos no congestionamento, dando a cada um a sensação de aproximação e solidariedade em torno de um problema comum” (BUFARAH JUNIOR, 2009, p. 9). Além da popularização do telefone celular, que se estabelece como um meio de interatividade entre os radialistas e ouvintes nos anos 2000, a década de 90 marca também a entrada do rádio na internet. Conforme Lopez (2010), nesse período que as emissoras brasileiras começaram a criar sites na rede, buscando manter a audiência e suprindo as necessidades da mesma com o novo recurso tecnológico. Os ouvintes passaram a ser usuários da internet, devido às possibilidades ofertadas pela rede. Isso fez com que as rádio estendessem sua forma de interação para o meio digital. “A internet age, desta maneira, como uma potencialização da interação do rádio, abrindo novos canais de participação” (LOPEZ, 2010, p. 52). Para Quadros (2013, p. 11), a internet fez com que surgissem inúmeras formas de comunicação entre as rádios e os seus ouvintes. Isso possibilitou que a interação fosse intantânea, sem que os jornalistas, radialistas e locutores interrompessem a programação para atender o telefone e falar com a audiência. Com a internet, as participações tinham maior fluidez: Novas formas de interação entre ouvinte e o rádio surgem com a internet: nos sites institucionais, através de enquetes, fóruns, seções “Fale Conosco” e de jornalismo participativo, formulários para pedidos musicais, comentários e promoções; em salas de bate-papo (chats); por correio eletrônico (e-mail); através de programas de mensagem instantânea (tais quais o MSN ou GTalk); blogs; e mais recentemente sites de redes sociais (como Orkut, Twitter e Facebook).
Nestes espaços, os ouvintes interagem com os profissionais e entre si. Desde o surgimento da interação por cartas, passando pelo telefone e torpedos, pode-se constatar que a interativida sempre esteve muito presente no rádio, tendo somente se atualizado e adequado
141
ao passar dos anos. A essência, contudo, é a mesma. A internet, todavia, ampliou o número de oportunidades de participação do ouvinte, disponibilizando de forma gratuita, mediante ao acesso a ela, diferentes ferramentas de interação (QUADROS, 2013, p. 11). Segundo Lopez (2010), o volume de ferramentas de interação a partir da internet permitiu um diálogo frequente entre ouvinte e comunicador. Esse fato resultou em uma maior troca de informações, dando agilidade à produção jornalística. Conforme destaca o jornalista jornalista Milton Jung (2004, p. 68): O rádio, interativo de nascença, fortalece a relação com o público. O âncora apresenta o programa diante do correio eletrônico, aberto às mensagens e interferências dos ouvintes, quase que imediatas. A entrevista mal começa e já chega a primeira pergunta do ouvinte. O entrevistado escorrega, e vem a crítica. O apresentador se engana, e a correção aparece. E assim, internauta ou ouvinte, conectado à internet, transforma-se em protagonista.
Outra possibilidade que a chegada da internet ofereceu para as rádio foi a oportunidade delas se estabelecerem no mercado como marca, tendo um alcance ainda maior: Uma das vantagens interessantes para a rádio na web é a valorização da imagem institucional da emissora, já que um site bem produzido dá oportunidades de que os usuários conheçam a história, locutores e demais membros da equipe, alguns áudios antigos, além de informações comerciais sobre como anunciar, número de ouvintes, abrangência, formação de rede e até um canal de currículos aos interessados em trabalhar na emissora (NEUBERGER, 2012, pg. 128).
A UTILIZAÇÃO DAS MÍDIAS SOCIAIS NA RADIODIFUSÃO O rádio é a mídia mais próxima das pessoas, dando a sensação de um diálogo direto e contante aos ouvintes tamanha é a proximidade que tem com o seu público. Além disso, Chantler e Harris (2008) consideram a radiofusão a fonte mais pura de informações. Com o advento da internet e de outras tecnologias, o rádio expandiu seu universo, atingindo um número maior ainda de ouvintes em todas as partes do mundo. Isso, fez com que, entre outras coisas, seu público se renovasse, ou seja, ficou mais atraente para as pessoas mais jovens. Para Ferraretto (2001), a internet e o celular foram cruciais para esta transformação. A partir da chegada deste dois elementos tecnológicos, a mídia foi atingida pelo processo de convergência.
142
De acordo com Jenkins (2009), a convergência pode ser definida como uma série de conteúdos através de diversos suportes midiáticos, devido a força do mercado e a forma como o público migra de um meio de comunicação para o outro, buscando experimentar novas formas de entretenimento. “Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando” (JENKINS, 2009, p. 27). Ferraretto (2009) amplia a discussão e analisa que: “a internet é novo suporte para o rádio, e também um contexto para o rádio”. Na mesma linha de pensamento de Ferraretto, Jung (2004) completa ao afirmar que “uma rádio não é apenas uma rádio. Na rede, o internauta busca texto, foto e imagem. E tudo tem de estar acessível”. (JUNG, 2004, p. 69). Estes dois pensamentos mostram o que é o novo rádio, que se transformou na primeira década do século 21 e fortaleceu ainda mais os laços de interatividade com os ouvintes. O rádio via internet fez com a interatividade entre ouvinte e comunicador ficasse mais ágil, substituindo o conceito “eu falo e você me escuta”, de acordo com Heródoto Barbeiro e Paulo Lima (2003). Lopez (2011, p. 115) ressalta que com o surgimento das novas tecnologias combinado com as novas ferramentas fez também com que o processo de produção ficasse mais ágil e eficaz. Com isso, foram abertos novos canais para interação. “O ouvinte agora é ouvinteinternauta e busca outras fontes de informação, cruza, contesta, corrige, atualiza, conversa com o jornalista que está no ar. Mais do que nunca, o ouvinte agora participa do processo”. Com o avanço da tecnologia, o rádio foi amplamente beneficiado, principalmente, com a chegada e a utilização das mídias sociais, como destaca Damas (2007). Com a chegada da internet ao rádio multiplicaram-se as oportunidades tecnológicas da audiência participar em programas radiofônicos. Desta forma, e os meios tradicionais como cartas, telefone e correio de voz, se somaram as novas modalidades com e-mail, o chat, SMS, fóruns virtuais, blogs e redes sociais. (DAMAS, 2007, p.147)
Em um primeiro momento, o aumento da interação no rádio se deu através das redes sociais Twitter e Facebook. O primeiro, por ser instantâneo e ágil, mostrava-se como um aliado mais forte a radiodifusão devido à característica dos usuários de postar informações curtas em tempo real “Em situações de breaking news, o 143
conteúdo gerado pelo usuário pode ser irresistível para organizações de notícias, especialmente se eles não têm repórteres de campo” (VIS, 2013, p. 28). WHATSAPP E RÁDIO - O CASAMENTO PERFEITO No Brasil já existem 100 milhões de pessoas utilizam o WhatsApp. No mundo, o aplicativo é um dos mais populares. Ele pode ser usado para mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones, além da possibilidade de enviar imagens, vídeos e documentos em PDF ou Word. O aplicativo também permite que os usuários façam ligações gratuitas. Para realizá-las, basta estar conectado a internet. Algo que facilita, principalmente, o trabalho do jornalista, que poderá ler e responder a mensagem instantaneamente. Fundado em 2009 por Jan Koum e Brian Acton, o aplicativo foi vendido para o Facebook, em 2014. Porém, de acordo com os cria- dores, segue operando de maneira independente com o foco direcionado em construir um serviço de mensagens que seja rápido e que funcione em qualquer lugar do mundo. Em uma pesquisa feita pela agência de notícias britânica, Reuters, divulgada em junho de 2015 no Digital News Report, (NEWMAN; LEVY; NIELSEN, 2015) analisam o comportamento dos consumidores de notícias em 12 países. O resultado mostrou que, diferente dos outros locais, no Brasil, o WhatsApp passou a ter uma função social, haja vista que aproximadamente 34% da população utiliza o aplicativo para se informar. Entre as populações entrevistadas, os brasileiros também são os que mais consomem notícias por redes sociais (70%); os que mais compartilham notícias por redes sociais e e-mail (47%); os que mais comentam notícias por redes sociais (44%) e os que mais consomem notícias online (72%). Com base nessas informações, evidencia-se que entre as novas tecnologias, o WhatsApp se destaca, principalmente, na radidifusão devido à instantaneidade de ambos. Mesmo com o sucesso através da participação via telefone e SMS, é com o aplicativo que o ouvinte tem galgado espaços cada vez maiores nas programações informando acontecimentos e sugerindo pautas. Isso, faz com que o receptor deixe de ser ser apenas um receptor e se torne um emissor, possibilitando que haja a interatividade. Portanto, o ouvinte passsa a participar ativamente da construção da notícia, como explicam Barbeiro e Lima (2003, p. 47): 144
[...] com uma rádio na internet o internauta é, ao mesmo tempo, operador de áudio, editor chefe, repórter, editor de reportagem, âncora, programador e etc. O conteúdo pode ser de qualquer espécie, o que mostra um avanço na capitalização da difusão de notícias.
RADIOJORNALISMO ESPORTIVO O radiojornalismo esportivo brasileiro teve sua primeira aparição na metade dos anos 20, na rádio Educadora, em São Paulo. Na época apenas os resultados dos jogos, que chegavam por telegrama, eram transmitidos. Eventos esportivos na radiodifusão só começaram a ser transmitidos no início da década de 30, conforme Ferraretto (2000). A primeira especialização no segmento ocorreu na década de 40, na Rádio Panamericana, atual Jovem Pan, em São Paulo. A emissora inovou na época pois montou uma equipe de esportes, colocando, inclusive, pelo primeira vez o comentarista de arbitragem no intervalo dos jogos. Em entrevista para o livro A bola no ar: o rádio esportivo em São Paulo, de Edileuza Soares (1994), o locutor da Panamericana na época, Pedro Luis relata como o desenvolvimento do futebol caminhou lado a lado com as inovações do radiojornalismo esportivo. Nós fomos sentindo, com a evolução do futebol e do rádio esportivo, que haviam necessidade de constituírem equipes de outros setores e de organizar um conjunto que facilitasse a vida do locutor e pudesse valorizar o seu trabalho. Começamos com a colocação de um repórter em campo e de um comentarista. Depois aumentamos a equipe de um campo só: tínhamos um homem para abrir as transmissões, um outro para a narração principal, dois repórteres de campo e um plantão esportivo. Completada a equipe de um campo só, passamos a frequentar outros estádios e completávamos o serviço jornalístico e informativo com locutores em outros postos. Foi aí que nasceu o espírito de equipe no rádio esportivo, aumentando o campo de trabalho e valorizando o profissional do setor.
Nos anos 70, o esporte ganhou mais espaço nas programações das rádios. Para Coelho (2004), nesta época ocorreu o maior avanço no radiojornalismo esportivo no Brasil, por conta do maior investimento das empresas de comunicação, aperfeiçoamento dos profissionais e a concorrência por audiência e patrocínios. Conforme Soares (1994, p. 14), além de ser responsável pela massificação do futebol, o esporte no rádio foi fundamental para que 145
inovações ocorressem na radiodifusão no país. O rádio esportivo é também em grande parte responsável pela incorporação no Brasil de grande parte das inovações tecnológicas que surgiram na radiodifusão mundial. Seu desenvolvimento passa ainda pela apropriação de técnicas de planejamento e de organização, resultando na implantação e funcionamento de departamentos especializados.
Guerra (2002) completa ao afirmar que: “além da tecnologia, o rádio descobriu uma linguagem específica para transmitir todo seu encantamento pelo futebol. Precisou apelar para a imaginação do torcedor, para que pudesse expressar corretamente tudo o que via no futebol” . No Rio Grande do Sul, as origens da radiodifusão ocorreu nos anos 20. Desde as primeiras transmissões já era possível constatar a presença do esporte na programação das rádio de Porto Alegre. No entanto, a primeira partida transmitida se deu apenas em novembro de 1931, pela Rádio Sociedade Gaúcha. De acordo com Dalpiaz (2002, p. 27), esse fato impulsionou o esporte nas rádios do Rio Grande do Sul. “Em 1931, a Rádio Sociedade Gaúcha possuia, sua programação básica, o Boletim Desportivo, das 22:45 às 23h, que difundia informações com resultados dos matches de futebol”. Além do jogo, os anos 30 ficaram marcados pelo implementação da narração esportiva lance a lance. Vale ressaltar que outros esportes como: corridas automobilísticas, turfe e regatas no Rio Guaíba também ganhavam destaque nas transmissões. No final dos anos 50 foram feitos movimentos que mudaram a história do radiojornalismo gaúcho. Caldas Júnior inaugirou a Rádio Guaíba, enquanto Arnaldo Ballvé ao lado de Maurício Sirotsky e Nestor Rizzo adquiriram a Rádio Gaúcha. Nesta época, a Rádio Guaíba era a sensação do rádio gaúcho, pois de acordo com Dalpiaz (2002), aliava notícia, música e esportes em sua programação. A rádio também foi responsável pela transmissão dos dois primeiros mundiais vencidos pela Seleção Brasileira de Futebol, em 1958, no Suécia e em 1962, no Chile. Feitos que estimularam a cobertura e a transmissão esportiva no Rio Grande do Sul. O surgimento da Rádio Guaíba em 1957 da novo impulso ao processo de delineamento das transmissões esportivas com o chamado esquema tríplice, uma espécie de evolução do sistema diagonal, colocando um narrador - logo denominado “fiscal de área” - atrás de cada goleira: O chamado sistema tríplice era o que melhor possibilitava uma transmissão de qualidade, no que se refere exclusivamente ao setor de narração. O locutor, que 146
comandava a transmissão do jogo mais importante da rodada, comandava, automaticamente, toda a jornada. (FERRARETTO, 2005, p. 740).
Em paralelo a essas mudanças, no Rio Grande do Sul a Rádio Guaíba começa a perder seu posto de líder no segmento esportivo. A contratação de Ruy Carlos Ostermann, em março de 1978, marca uma nova fase para a Gaúcha que, após a Copa do Mundo de Futebol, começa a ganhar o espaço da Rádio Guaíba. Na chefia dos esportes, ele passou a dar maior ênfase ao trabalho de retaguarda, com planejamento de jornadas e coberturas de treinos, melhorando o produto final da programação esportiva (DALPIAZ, 2002, p. 123).
A partir da metade da década de 80, a Rádio Gaúcha ganha ainda mais espaço no segmento jornalístico e esportivo devido à crise financeira que assola a Empresa Jornalística Caldas Júnior. Por conta das inovações implementadas durante as jornadas esportivas, em 1986, a Gaúcha se torna líder absoluta neste segmento. Nos anos 90, ocorreu a chamada invasão do esporte na frequência modulada com o programa Folga Total, na rádio FM Cultura e na Rádio Ipanema FM, que transmitiu eventos como a Copa Libertadores da América, em 1995, a Copa do Brasil, em 1996, além de campeonatos de surf. Este processo de migração se deu até o ano de 2015, quando a Rádio Bandeirantes se juntou às rádios Gaúcha e Guaíba e passou a transmitir sua programação na frequência modulada. Atualmente, o futebol consome 95% do radiojornalismo esportivo gaúcho. A RÁDIO BANDEIRANTES A Rádio Bandeirantes foi fundada em 27 de outubro de 1934, com o nome de Rádio Difusora Porto-Alegrense. As transmissões se davam a partir dos estúdios localizados no Bar Flórida, na rua da Praia. Até o início da década de 80, a emissora era administrada pela Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Em meio a uma crise financeira, a rádio foi negociada com o Grupo Bandeirantes de Comunicação. Em 30 de junho de 1980 nascia a Rádio Bandeirantes Porto Alegre. A partir desta mudança, a emissora passa a ter ampla programação jornalística. Com o slogan A rádio que tem opinião, a Bandeirantes adota um novo formato e passa a ter mais análises nas suas atrações jornalísiticas e esportivas. Atualmente, a programação da rádio é composta de programas de jornalismo, com destaque para o matinal Jornal Gente e o vespertino Tempo Real, e de esportes, 147
como o Esporte Notícia, objeto de estudo esta pesquisa, o Esporte em Debate, além do Toque de Bola, inaugurado em setembro deste ano. O jornalismo esportivo é o carro-chefe da emissora. A equipe composta de repórteres, produtores e apresentadores, tem o dobro de funcionários que trabalham no jornalismo hard news. A emissora é a teceira colocada na preferência dos porto-alegrense, atrás da Rádio Guaíba e da Rádio Gaúcha. Desde 2015, a Rádio Bandeirantes pode ser sintonizada em FM, pela frequência 94,9 MHz, e AM, 640 KHz. A emissora lidera a Rede Band SAT Sul, com dezenas de rádios integrantes espalhadas pelo interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul para a transmissão dos jogos da Dupla Grenal. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa a ser realizada neste trabalho pode ser classificada como descritiva e exploratória. Segundo (GIL, 2007), estes tipos de análises têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Além disso, o trabalho utilizará métodos descritivos, uma vez que, será feita uma técnica padronizada de coleta de dados, como o questionário e a observação sistemática. Quanto à abordagem, utiliza as qualitativa e quantitativa. Essa opção se justifica por que a abordagem escolhida serve de estimulo para os entrevistados pensarem livremente sobre o tema referido no trabalho. É um estudo que mostra aspectos subjetivos, abre espaços para a interpretação e é indutivo, pois, o pesquisador desenvolve conceitos, ideias e entendimentos a partir de padrões encontrados nos dados (GIL, 2007). Além disso, este estudo utiliza métodos de abordagem quantitativos, uma vez que a utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher maiores informações do que se poderia conseguir isoladamente, como descreve Fonseca (2002, p.20): Já as técnicas de coleta de dados do respectivo trabalho são: pesquisas bibliográficas, utilizadas para auxiliar na solução do problema dos temas abordados no estudo e documentais, pois irão analisar materiais que ainda não receberam tratamento analítico, tal como relatórios da empresa sobre o programa.A análise de dados será feita por análise de conteúdo que procura trazer ao mundo da pesquisa científica um concreto e operacional método de investigação. 148
Além disso, este recurso possui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas. Isso faz com que o processo de reinterpretação das mensagens alcance uma compreensão de seus significados em um nível que vai além de uma leitura comum, representando uma abordagem metodológica com características e possibilidades próprias. (GIL, 2007) ESPORTE NOTÍCIA: INTERAÇÃO COM OS OUVINTES ATRAVÉS DO WHATSAPP O eixo desta pesquisa se constitui na análise de duas edições do Programa Esporte Notícia. O primeiro transmitido em 14/09/2017, o segundo em 15/09/2017. As edições estão disponíveis no site da Rádio Bandeirantes através de podcast que mostram os respectivos programas na íntegra. Após acompanhar e ouvir as edições, observase como se dá o processo de participação dos ouvintes pelo WhatsApp e a maneira como as informações e os questionamentos interferem no curso da atração, além de analisar a maneira como as informações circulam dentro de um meio midiático, relacionando o conteúdo das mesmas com a quantidade em que é aproveita nas duas edições estudadas. O Esporte Notícia é o principal programa do segmento da Rádio Bandeirantes, de Porto Alegre. No ar há quase vinte anos, a atração já mudou diversas vezes de horário, mas sem perder sua essência: a interação com os ouvintes. No início dos anos 2000, quando foi lançada, interagia com o público através de torpedos e ligações telefônicas. O programa sempre foi dinâmico e inicialmente tinha 1h e 30 minutos de informações sobre a dupla Grenal, além de novidades no mundo esportivo. Para que a atualização das notícias fosse feita, a atração sempre contou com a participação dos repórteres da rádio, além de um comentarista. A condução do programa fica a cargo de Daniel Oliveira. A frente da atração há quatro anos, ele afirma que a chegada do WhatsApp se encaixou perfeitamente na linha editorial do programa. “É um aplicativo que casou muito bem com a nossa proposta. Porque? porque ele dá agilidade, tanto na nossa produção quanto para o cara que opera a mesa de áudio. O telefone era ágil? Era, mas dependia de o sujeito estar em um ambiente sem interferência e que o operador
149
plugasse o ouvinte no ar. Com o WhatsApp basta apenas checar a mensagem, que no máximo tem 40 segundos de duração, e coloca-lá no ar”. Desde o início de setembro de 2018, o Esporte Notícia mudou de horário e perdeu meia hora de duração. Agora, vai ao ar das 11h ao meio-dia. Apesar desta mudança, a atração segue com as mesmas características e registrou aumento de audiência neste novo horário. O programa recebe em média, de 40 a 70 mensagens de ouvintes durante o programa. Sendo que os asssutos, 90%, são relacionados à dupla GreNal. O restante se divide entre outros clubes e assuntos, além de outras modalidades esportivas. Análise dos programas Esporte Notícia – Programa de 14 de setembro de 2017 O programa começa com a abertura tradicional feita pelo apresentador Daniel de Oliveira. Ele anuncia os patrocinadores e convida os ouvintes a assistir o programa, que é transmitido, via Facebook. Depois, aciona a reportagem que traz os destaques desta edição. Apresentados os primeiros destaques, o âncora convoca a participação dos ouvintes através do WhatsApp e lê os primeiros recados. Neste bloco, as mensagens têm conteúdo afetivo. Diversos ouvintes mandam abraços para o apresentador. Feita apresentação dos destaques, no segundo bloco, Daniel de Oliveira aciona a reportagem com Bruno Ravazzolli, que está cobrindo o Internacional e traz na íntegra um trecho da coletiva de imprensa do lateral-direito Cláudio Winck. Após, o apresentador manda abraços a alguns ouvintes e lê seis mensagens. Cinco delas são relacionadas ao Grêmio e uma é direcionada à Daniel de Oliveira. Na sequência, Daniel de Oliveira utiliza a mensagem do ouvinte para questionar Ribeiro Neto à respeito da saída do atacante Pedro Rocha do Grêmio. O programa segue no mesmo ritmo. Antes de chamar o repórter Saimon Bianchini, com informações do Grêmio, direto do Rio de Janeiro, Daniel de Oliveira manda um recado diretamente ao internauta que assiste o programa pelo Facebook. Após o repórter apresentar seu boletim, Daniel manda abraços aos ouvintes e novamente, lê as mensagens enviadas por eles. De novo, são lidas apenas mensagens afetivas. O programa retorna com o Internacional em pauta. Daniel
150
Oliveira aciona Bruno Ravazzoli para trazer informações sobre o treinamento da equipe colorada. Na volta, o apresentador debate com o comentarista Ribeiro Neto e pede que o repórter Matheus D’ávila traga informações da Central Bandeirantes de Jornalismo. Após, Daniel convida os ouvintes a participar do programa através do WhatsApp e lê alguns dos recados. Foram lidas cinco mensagens, sendo que todas foram em direcionadas ao Grêmio e, principalmente, a Arthur, meio-campo do Tricolor, mesmo que o bloco tenha sido aberto com o Internacional. Neste bloco, a participação foi mais interativa, visto que criou-se uma espécie de perguntas e respostas, além de que todas as questões levantadas pelos ouvintes através das mensagens foram respondidas, sendo assim, parte essencial da construção da informação. O programa segue e abre espaço para o quadro “A Bola Rola Pelo Rio Grande”, apresentado pelo jornalista Paulo Pires, que traz informações das competições organizadas pela Federação Gaúcha de Futebol. O quarto e último bloco da atração começam novamente, com Daniel chamando o ouvinte/internauta para participar pelo WhatsApp e assistir o programa pelo Facebook. Na sequência, a reportagem é acionada para dar as últimas informações e o programa é encerrado. Esporte Notícia – Programa de 15 de setembro de 2017 No segundo programa analisado, Daniel de Oliveira faz sua tradicional abertura, reforçando na largada a participação do ouvinte através do WhatsApp, e que o mesmo pode acessar a fanpage no Facebook para além de ouvir, ver a atração. Nesta data, teve convocação da Seleção Brasileira e também era aniversário do Grêmio. Portanto, foi aberto espaço para uma entrevista com o presidente do clube Romildo Bolzan Junior e foi transmitida parte da entrevista coletiva do técnico Tite. Além disso, o primeiro bloco contou com a informação de que Ernando seria titular do Internacional, em jogo no dia seguinte, no estádio Beira-Rio. Com duração de pouco mais de 30 minutos, termina o primeiro bloco sem que os ouvintes tenham participado. Após o apresentador relembra aos ouvintes a principal informação do dia. Ele informa novamente que Arthur, do Grêmio, foi convocado para a Seleção Brasileira. Passam-se quase quarenta minutos de programa para que o apresentador acione as mensagens por WhatssApp. Foram seis ao todo, sendo três sobre o Grêmio, 151
uma de Internacional, uma sobre a Seleção Brasileira, além de uma direcionada ao apresentador do programa. Chamou atenção que mesmo com a mudança de formato desta edição do programa, a audiência permaneceu. É perceptível como a tecnologia faz com que o apresentador tenha uma linguagem mais jovial e popular. Após a leitura da participação dos internautas, Daniel chama o repórter Felipe Duarte para dar um destaque sobre o Grêmio e encerra a segunda parte do programa. Na volta para o terceiro bloco, o âncora aciona Bruno Ravazzolli, que traz uma informação de que o grupo de jogadores do Internacional e apoia o retorno do zagueiro Ernando. Um ouvinte relatou no bloco anterior que a torcida colorada iria incentivar o profissional no próximo jogo. Na sequência, Daniel lê mais algumas mensagens. Desta vez, foram quatro recados ao todo. Dois relacionados ao próprio apresentador, um sobre o Grêmio e outro sobre o Internacional. Após a participação dos ouvintes, o bloco é encerrado. No quarto e último bloco, não sobrou tempo para interatividade. Daniel acionou os setoristas de Internacional e Grêmio, que deram seus destaques de aproximadamente trinta segundos e o programa é encerrado. Observações pertinentes Em ambos os programas, pode-se notar com clareza uma ação do apresentador Daniel Oliveira, que ocorre durante a participação dos ouvintes. Ele lê a mensagem, responde ou questiona imediatamente o comentarista Ribeiro Neto, que por sua vez, apresenta sua análise. É tudo muito dinâmico, mesmo que eles conversem sobre um assunto após o outro. Essa rapidez com que o tema da mensagem seja debatido, faz jus a um dos conceitos pelos quais o WhatsApp foi concebido: ser um meio em que as mensagens são transmitidas e respondidas com rapidez. Além de manter a essência do aplicativo, esse movimento faz com que o ouvinte participe da conversa. Constatou-se também, que as mensagens mandadas através do WhatsApp pelos ouvintes dão rumo à atração. Em algumas situações, o repórter setorista, que acompanha a rotina de Grêmio ou Internanacional, entram com uma informação similar às mensagens deixadas pelos ouvintes. É perceptível que o programa se aproveita do bom ou do mau momento de clube e/ou jogador para se pautar. No segundo programa analisado, o jogador Luan é alvo de críticas. O apresentador aproveita o fato para selecionar mensagens que dizem
152
respeito a este assunto, e assim, conduz o programa a sua maneira, aproveitando-se do bom momento do Grêmio e do mau momento do atleta. Cabe ainda destacar que, por conta da paixão do brasileiro pelo futebol, o jornalismo esportivo, por sua vez, é feito de maneira bastante coloquial e afetiva. Diversas vezes, Daniel Oliveira manda abraços aos ouvintes. Nota-se também, que não há participação da audiência com conteúdo fora do contexto esportivo. Em uma das edições analisadas, ocorreu uma quebra no formato da atração. Mesmo assim, os ouvintes permaneceram fiéis. Isto foi constatado pelo tamanho do conteúdo e pelo número das mensagens enviadas através do WhatsApp. Portanto, é possível afirmar que a produção do programa utiliza as informações obtidas através do aplicativo com agilidade, fazendo com que a mudança na estrutura da atração, não afete a essência da mesma. CONCLUSÃO A presente pesquisa teve como objetivo verificar a influência das mensagens enviadas via aplicativo na construção da notícia no programa. Conforme o que foi analisado, constatou-se que o conteúdo do WhatsApp influencia o conteúdo do programa quando o assunto da mensagem está relacionado ao Grêmio e ao Internacional, uma vez que as mensagens servem, também, para que a produção paute o programa em função da audiência, aproveitando-se da boa fase dos clubes e de pessoas que representam as agremiações. Portanto, ficou constatado que essas mensagens são fundamentais para a existência do programa, visto que a atração é dependente desta interação para municiar sua audiência com informações. Além disso, foi possível perceber que as mensagens enviadas estão restritas a Dupla Grenal e a cumprimentos ao trabalho do apresentado Daniel Oliveira. Portanto, a hipótese levantada por este trabalho de que a tecno- logia transforma o WhatsApp e outros recursos em fontes de informação foi confirmada, tendo em vista que a produção do programa se utiliza constantemente, das informações enviadas pelo aplicativo para pautar a condução do programa. Com base nessas premissas, é possível inferir que o rádio é a mídia que melhor se adaptou às novas tecnologias, visto que, atualmente, as transmissões radiofônicas transcendem o aparelho eletrônico. Acredita-se que esta pesquisa contribua para os estudos científicos sobre o rádio. O 153
trabalho evidenciou uma contribuição significativa do WhatsApp em um programa de rádio, que com o advento das novas tecnologias, conseguiu se adaptar e hoje é a mídia que mais utiliza os recursos. Este estudo pode futuramente se tornar ponto de partida para outros desdobramentos no campo da interatividade no radiojornalismo, assim como no uso das redes sociais digitais e da internet como fontes de informação ou como medidores de audiência. REFERÊNCIAS BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de radiojornalismo: produção, ética e internet. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. BARBEIRO, H.; RANGEL, P. Manual do jornalismo esportivo. São Paulo: Contexto, 2006. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009. BERNARDO, Danylo Santos. Evolução na Comunicação: estudos nas Redes Sociais. 2011. Trabalho de projeto de mestrado - Universidade Municipal de São Caetano do Sul. BRAMBILLA, Ana. Para entender as mídias sociais. Ebook, 2011. BUFARAH JUNIOR, Alvaro. O radiojornalismo brasileiro diante das ferramentas de interação da WEB 2.0. In: Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 7., 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: SBPJor/USP, 2009. CASTRO, Paulo César. Jornalismo participativo e mediatização da recepção: a domesticação dos leitores na seção “Eu-Repórter” do Globo Online. In: XIX SBPJor. 2011. Rio de Janeiro – RJ. P. 1-17 CÉSAR, Cyro. Rádio: a mídia da emoção. São Paulo: Summus, 2005. CHANTLER, P.; HARRIS, S. Radiojornalismo. São Paulo, Summus, 1998. COELHO, Tamires Ferreira. Twitter: como uma nova mídia modificou a rotina produtiva de jornalistas em Teresina. In: PEREIRA, Sara (Org.). Actas do 1º Congresso Nacional Literacia, Media e Cidadania. Braga: Lasics, 2011. Disponível em: < http://www.lasics.uminho.pt/ojs/ 154
index.php/lmc/article/view/487/458>. Acesso em: set. 2017. COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2004. CRUZ, Roger de Mendonça. Jornalismo esportivo em FM no Rio Grande do Sul. 2012. p.14. Trabalho de conclusão de curso (jornalismo) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, 2012. DALPIAZ, Jamile Gamba. O futebol no rádio de Porto Alegre: um resgate histórico(dos anos 30 à atualidade). Dissertação de mestrado, UFRGS, Porto Alegre/RS, 2002. DAMAS, Susana Herrera. Las nuevas modalidades para la participación de los jóvenes em la radio española. Trípodos, número 20, Barcelona, 2007. FALCÃO, Yuri. Entrevista realizada pelo autor em setembro de 2017. FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio, o veículo, a história e a técnica. 2ª edição. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001. _____. Alterações no modelo comunicacional radiofônico: perspectivas de conteúdo em um cenário de convergência tecnológica e multiplicidade da oferta. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 32, 2009, Curitiba. São Paulo: INTERCOM, 2009. _____. Rádio: o veículo a história e a técnica. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2000. _____.Rádio e Captalismo no Rio Grande do Sul: As emissoras comerciais e suas estratégias comerciais na primeira metade do século XX. Tese (doutorado). Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação do Rio Grande do Sul - UFRSG, Porto Alegre/RS, 2005 GUERRA, Márcio de Oliveira. Você ouvinte, é a nossa meta: a importância do rádio no imaginário do torcedor de futebol. Rio de Janeiro: UFRJ/ECO, 2000. GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
155
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. JUNG, Milton. Jornalismo de rádio. São Paulo: Contexto, 2004. KLEINA, Nilson. A história da Internet: pré-década de 60 até os anos 80. Disponível em: < https://www.tecmundo.com.br/redessociais/33036-a-historia-das-redes-sociais-como-tudo-comecou.htm>. Acesso em 25 de setembro, às 22:30 KLÖCKNER, Luciano. Nova retórica e rádio informativo: estudo das programações das emissoras TSF-Portugal e CBN-Brasil. Porto Alegre: Evangraf, 2011. LOPEZ, Debora Cristina. Radiojornalismo hipermidiático: tendências e perspectivas do jornalismo de rádio all news brasileiro em um contexto de convergência tecnológica. Covilhã, Portugal: LabCom, 2010. Disponível em: <http://www.livroslabcom. ubi.pt/pdfs/20110415-deborta_lopez_radiojornalismo.pdf> _____. Radiojornalismo hipermidiático: um estudo sobre a narrativa multimidiática.2011– Disponível:http://paginas.ufrgs.br/ alcar/encontros-nacionais-1/8o-encontro-2011-1/artigos/Radio%20 c o nve r g e n c i a % 2 0 t e c n o l o g i c a % 2 0 e % 2 0 evo l u c a o % 2 0 d o s % 2 0 dispositivos. pdf MEDITSCH, Eduardo. O Rádio na Era da Informação: Teoria e Técnica do Novo Radiojornalismo. Florianópolis, Editora da UFSC / Editora Insular, 2001. NEUBERGER, Rachel Severo Alves. O Rádio na Era da Convergência das Mídias. Bahia: UFRUB, 2012. OLIVEIRA, P. (2008). Mídia esportiva na UTI. In: Observatório da Imprensa. 2008. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa. com.br/news/showNews/da020420036.htm. Acesso em 18, set.2017 PARADA, M. Rádio: 24 horas de jornalismo. São Paulo: Panda, 2000. RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alege: Editora Salina, 2009. OLIVEIRA, Daniel. Entrevista realizada pelo autor em setembro de 2017.
156
SCHIFFMAN, Leon G.; KANUK, Leslie Lazar. Comportamento do Consumidor. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2000. SCHINNER, Carlos Fernando. Manual dos locutores esportivos: como narrar futebol e outros esportes no rádio e na televisão. São Paulo: Panda, 2004. SILVA, Fernando Firmino da. Jornalismo móvel. Salvador: EDUFBA, 2015. Disponível em: . Acesso em: 09 nov. 2017. SOARES, Edileuza. A bola no ar: o rádio esportivo em São Paulo. São Paulo: Summus Editorial, 1994. SODRÉ, Muniz. Eticidade, campo comunicacional e midiatização. In: MORAES, Denis. Sociedade Midiatizada. Mauad, Rio de Janeiro, 2001. TOLEDO, Luiz Henrique. No país do Futebol. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. VIS, F. Twitter as a reporting tool for breaking news. Digital Journalism, v. 1, n. 1, p. 27-47, jan. 2013.
157
Capítulo 7 A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO ATOR KEVIN SPACEY: UMA ANÁLISE DOS PORTAIS BUZZFEED, G1 E ADORO CINEMA Thiago Freitas Com o passar dos anos, o cinema se proliferou, tornando-se uma das mais importantes formas de arte. Com ele, grandes nomes surgiram, estrelas brilharam e apareceram nas grandes telas. Essas mesmas estrelas caíram na mira da mídia, suas vidas se tornaram públicas e cada ação pessoal gera uma reação aos holofotes da imprensa. Essas ações, por muitas vezes, geram escândalos que influenciavam a opinião pública e a imagem da celebridade perante os fãs. Com o advento da internet, a vida dos famosos se tornou o centro das atenções de um público que espera avidamente algo sobre o seu ídolo. Com a vida cada vez menos particular, celebridades têm sua intimidade e carreira envolvidas em escândalos e expostas para milhares de pessoas através mídia. Essa exposição, querendo ou não, acaba interferindo na formação da imagem da pessoa. Esse processo pode ser algo negativo ou positivo. O presente artigo tem como tema a influência da mídia na imagem do ator norte-americano Kevin Spacey, que teve sua vida transformada, em 2017, após acusações de assédio sexual por parte de outros homens. Spacey é detentor de uma carreira, até então, respeitada e premiada. Após as denúncias, foi do mais doce patamar do sucesso ao amargo gosto da derrota, sendo julgado e exposto por acusações feitas na mídia.
158
É necessário lembrar que mídia tem o papel de informar a verdade, independente de quem irá atingir. Sabe-se também, que notícias com cunho negativo sobre alguém de vida pública acabam sendo muito mais vendável do que as de cunho positivo. E quanto mais exposta e compartilhada é a notícia, mais é questionada e julgada pela própria mídia e pelo público geral. Assim, este estudo tem por objetivo verificar de que forma a mídia influenciou na construção e desconstrução da imagem do ator Kevin Spacey antes e após os escândalos. Esse estudo se caracteriza pela pesquisa exploratória e descritiva, de abordagem qualitativa. As técnicas de coleta utilizadas são as pesquisas bibliográficas e a documental e a observação simples. A técnica de apresentação, análise e interpretação dos dados é a análise de conteúdo categorial. (GIL, 1989; BARDIN, 1977) QUEM É KEVIN SPACEY Segundo o site Biógraphy, Kevin Spacey nasceu na cidade de South Orange, em Nova Jersey, Estados Unidos, no ano de 1959. Era o caçula entre os três filhos do casal Kathleen Ann, uma secretária, e Thomas Geoffrey Fowler, um redator. “Segundo minha mãe, eu queria ser ator desde os sete anos”, disse Spacey em uma entrevista em 2017, em Los Angeles, segundo o site da BBC12. O primeiro papel profissional de Spacey no teatro foi uma pequena participação no Festival de Shakespeare de Nova York, na peça Henry IV, em 1981. Mas, sua grande estréia na Broadway foi na produção Ghosts, de HenrikIbsen. Kevin Spacey encontraria o reconhecimento em 1986, com o papel de Tyrone, na peça Long Day Journey into Nights, escrita por Eugene O’Neill e dirigida por Jonathan Miller. Mas, alçaria o sucesso internacional com o filme Os suspeitos (1995), de Bryan Singer, que rendeu a Spacey seu primeiro Oscar, como melhor ator coadjuvante. A partir dali, a reputação que havia conquistado nos palcos se estendeu a Hollywood e ele moldava uma carreira como ator sério, versátil e confiável. Estreou como diretor em Albino Alligator. O filme foi um fracasso de bilheteria, arrecadando apenas $339, 379 com um orçamento de $6 milhões, mas os críticos elogiaram a direção de Spacey. Em 2000, 1 Disponível em: Acesso em: 2 mar. 2018
http://www.bbc.com/portuguese/internacional-41829900.
159
ganhou mais um Oscar, agora de melhor ator pelo filme Beleza Americana. No mesmo ano, foi honrado com uma estrela na calçada da fama em Hollywood. Em 2013, retornou para as séries, em House of Cards, interpretando o papel de Frank Underwood, o que lhe renderia uma indicação ao Emmy de melhor ator em série dramática e um Globo de Ouro na mesma categoria. Quem convivia com Kevin Spacey dizia que o ator sempre gostou de imitar atores clássicos como Jack Lemmon ou James Stewart com grande talento. No entanto, segundo matéria do site BBC2, Spacey não gosta de falar de sua vida íntima. Outra questão pessoal eram os rumores e as insinuações sobre sua sexualidade desde que alcançou a fama, nos anos 90. Um artigo de 1999, no jornal Sunday Times, ainda de acordo com o site da BBC12, afirmou que o caso de amor de Spacey com a atuação e a ausência de uma parceira visível na vida de um atraente homem de 40 anos, significava que ele deveria ser gay. Em 30 de outubro de2017, durante entrevista ao site Buzz Feed News3, o ator Anthony Rapp revelou que em 1986, quando tinha 14 anos, foi assediado sexualmente pelo ator Kevin Spacey. Segundo ele, Spacey, que na época tinha 26 anos, o convidou para uma festa em seu apartamento e, no fim da noite, o levou para a cama e fez avanços sexuais. Hoje aos 46 anos, Rapp declara que jamais havia contado sobre a experiência para ninguém e nunca mais falou com Kevin Spacey. Mas, conforme Spacey começou a ficar mais famoso, nos anos de 1990 e 2000, incluindo dois Oscar e o sucesso com a série House of Cards, Rapp ficou cada vez mais frustrado e com raiva. “Meu estômago fica embrulhado. Até hoje, eu não consigo me conciliar com muitos aspectos do que aconteceu. É muito confuso para mim”, disse na matéria do Buzzfeed. Representantes de Spacey, não responderam a pedidos de entrevista. Segundo o site Jovem Nerd4, após as denúncias, Spacey escreveu no Twitter que não se lembrava do encontro com Rapp. Mas, se havia se comportado como ele descrevia, nas denúncias, ele pedia desculpa pelo que teria sido um comportamento inapropriado e bêbado. Com essa história, Spacey se encorajava a falar sobre outros 2 Disponível em: http://news.bbc.co.uk/2/hi/entertainment/2723437.stm 02:22. Acesso em: 2 mar. 2018. 3 Disponível em: http://news.bbc.co.uk/2/hi/entertainment/2723437.stm 02:22. Acesso em: 2 mar. 2018. 4 Disponível em: https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/acompanhe-linha-dotempo-das-denuncias-contra-kevin-spacey/. Acesso em: 2 mar.2018
160
aspectos da vida, reconhecendo publicamente que era gay. No mesmo dia, a plataforma de filmes Netflix anunciava que suspenderia as filmagens da sexta temporada de House of Cards e confirmava essa sendo a atual a última temporada. No dia 31 de outubro, a Academia Internacional de Artes e Ciências Televisivas decidiu cancelar a homenagem que seria feita ao ator Kevin Spacey no Emmy Internacional. Ele receberia o Founders Award, prêmio honorário dado a pessoas que contribuíram ou mudaram os paradigmas da TV nos últimos anos. No dia seguinte, 1 de novembro, Kevin Spacey recebe mais quatro denúncias de assédio. Segundo a matéria da revista Veja5, o ator mexicano Roberto Cavazos, o cineasta Tony Montana, um homem desconhecido e o ex-barman Daniel Beal afirmam ter sofrido assédio. No dia 3 de novembro, Kevin Spacey foi acusado de assediar sexualmente vários homens durante a produção da série House of Cards sem reportagem publicada no site da rede de TV norte-americana CNN6. No dia seguinte, 4 de novembro, segundo o site Jovem Nerd7, a plataforma Netflix anunciava publicamente a demissão de Spacey da série House of Cards também o envolvimento dele em outros projetos. Como de um filme no qual ela iria interpretar o escritor Gore Vidal. Em 9 de novembro, com inúmeras acusações e escândalos envolvendo o nome de Kevin Spacey, a Sony Pictures junto com o diretor Ridley Scott anunciava que ele seria removido do filme Todo o Dinheiro do Mundo, sendo substituído pelo ator Cristopher Plummer. Com o filme já finalizado, as cenas em que Spacey apareceria foram regravadas para manter a data de lançamento. A decisão de substituir Spacey partiu do próprio diretor, onde a produtora acatou imediatamente.8 Com todas as acusações, escândalos, revelações sobre sua vida, repúdio de colegas de trabalho, fãs e sociedade em geral, Kevin Spacey declarou que iria se internar em uma clínica de reabilitação. Segundo matéria do El País931, o ator deu entrada na clínica The 5 Disponívelem: https://veja.abril.com.br/entretenimento/mais-um-atormexicano-tambem-acusa-kevin-spacey-de-assedio/. Acesso: 2mar. 2018 6 Disponível em: http://money.cnn.com/2017/11/02/media/house-of-cards-kevinspacey-harassment/index.html. Acesso: 2 mar. 2018. 7 Disponível em: https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/acompanhe-linha-dotempo-das-denuncias-contra-kevin-Spacey/. Acesso em: 2 mar.2018 8 Disponível em: https://www.hollywoodreporter.com/news/christopherplummer-sounds-all-money-world-gender-pay-disparity-1086404. Acesso em: 2 mar.2018 9 Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/06/ cultura/1509985098_544531.html. Acesso em: 2 mar. 2018
161
Meadows no Arizona, Estados Unidos, dando assim início a um longo processo para avaliar e tratar seu comportamento. INDÚSTRIA CULTURAL Com o advento da revolução industrial e a produção em larga escala difundida por Henry Ford, nascia uma nova forma de produção cultural. Segundo Celeti (2016), essa nova forma aliada à sociedade de consumo provocou alterações na forma de trabalho humano, fortalecendo a cultura em massa. Quando se debate sobre cultura em massa, surge um novo conceito chamado Indústria Cultural. O conceito foi desenvolvido pelos filósofos alemães Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, em A Dialética do Esclarecimento, de 1947. De acordo com os pensadores, Indústria Cultural trata da junção de diversas manifestações artísticas e culturais. A lógica das relações de troca as faz perder seu valor cultural e ganhar importância no mercado capitalista, produzindo assim, arte com finalidade apenas de lucro. Um dos inúmeros exemplos é o cinema, que para agradar um maior número de pessoas, acaba criando um padrão que seja vendável ao grande público, como vilões, mocinhos, finais felizes e histórias de amor. Segundo Celeti (2016), algumas características desta nova sociedade que surgiu junto com a base da cultura em massa, são a reificação (a transformação em coisa) e a alienação. Tudo que é feito, é tratado como coisa, assim a cultura não é vista como um mecanismo de conhecimento e crítica. É algo feito em série, industrialmente, sendo assim, impossibilitando de criar coisas novas. Apesar de a Indústria Cultural ser um fator primordial na formação de consciência coletiva nas sociedades em massa, nem de longe os produtos que são apresentados podem ser considerados produtos artísticos. Isso porque não mais representam um tipo de classe, mas são exclusivamente, dependentes do mercado. Essa visão, segundo Cabral (2006), é a que mais permite compreender melhor de que forma funciona a indústria cultural. Pois, é ela que oferece produtos que promovem uma satisfação concludente e afirmativa que agrada aos indivíduos, se sobrepõem sobre o produto e os sujeita ao seu monopólio. O poder que a indústria cultural tem é de ocultar as forças das classes e apresentar-se como a única com o poder de dominação e difusão da própria cultura. A Indústria Cultural, segundo Cabral (2006), acabou se tornando uma guia de orientação aos indivíduos e negando-os a chance de revolta contra o sistema. 162
Isso quer dizer que a pseudo felicidade ou satisfação promovida pela Indústria Cultural acaba por desmobilizar ou impedir qualquer mobilização crítica que, de alguma forma, fora o papel principal da arte. Ela transforma os indivíduos em seu objeto e não permite a formação de uma autonomia consciente. Para Adorno e Horkheimer (apud CELLETI, 2017), Indústria Cultural é diferente da cultura de massa, pois essa é oriunda do povo, das suas regionalizações, costumes e sem nenhuma pretensão de ser comercializada, enquanto a primeira possui padrões que sempre se repetem com a finalidade de formar uma estética ou percepção comum voltada ao consumismo. Assim, segundo a visão desses autores, é praticamente impossível fugir desse modelo que é posto, mas, deverse-ia buscar fontes alternativas de arte e de produção cultural, ainda que sejam utilizadas pela indústria, que promovessem o mínimo de conscientização possível. O filósofo Walter Benjamin, segundo Celleti (2017), apresenta outra visão sobre a Indústria Cultural, acreditando que o fato dessa arte alcançar diversas pessoas traz uma democratização, possibilitando copiar o que se produz e criando uma perspectiva de levar cultura para um maior número de pessoas. De acordo com o pensador, a fotografia possibilita que se observe um quadro de um museu distante, sem a necessidade de o observador ter que se deslocar. A mesma coisa ocorre com o cinema. Assim, pode-se dizer que, tanto a fotografia quanto o cinema, são fragmentos do olhar de quem está por trás da câmera, possibilitando levar esse olhar para outras pessoas no mundo. Outro fator que Celleti (2016) cita é que o avanço tecnológico tornou possível que mais pessoas tenham acesso às ferramentas para a produção de cultura. Assim, confirma que o pensamento de filósofo Walter Benjamin, pois o maior nível de acesso à tecnologia permitiu que muitos artistas pudessem expandir sua arte, possibilitando uma abertura para o mundo e democratizando o acesso à cultura. JORNALISMO CULTURAL O jornalismo cultural tem um grande desafio pela frente, pois, de acordo Melo (2012), o significado de cultura se alterou na sociedade atual, com isso provocando uma reconfiguração. Ele tenta encontrar uma nova identidade com novos elementos para se definir. Tornase assim então, indispensável às mudanças que a classe jornalística tem que fazer ao abraçar esses novos conceitos, atualizando-se. Essas 163
mudanças partem inicialmente nas temáticas clássicas onde pode ser ofertado um olhar mais reflexivo e cultural. Outra é a inclusão de novos temas nas pautas e o maior desafio é trazer profundidade sem preconceito aos objetos da cultura industrial. Segundo Melo (2012), o preconceito que há contra os objetos da Indústria Cultural, baseia-se nos conceitos de cultura alta e cultura baixa, onde os mesmos são enquadrados diretamente na segunda opção. Julgando assim como sem qualidade, mercantis, populares e que não merecem reconhecimento e nem análise na importância da atual sociedade. Antigamente, artistas mais tradicionais, eram dignos de status de um tratamento crítico e diferente. Segundo Melo (2012), a referência de arte, era conferida a uns poucos artistas. E, era esses mesmos que recebiam o tratamento diferenciado, um tratamento mais minucioso, analítico e interpretativo dos jornais. Ao contrário deles, os produtos da Indústria Cultural acabavam por emendar a outro lado, ganhando críticas severas e seu espaço destinado às pequenas colunas de fofocas. Mas, devido ao crescimento das mídias e das formas de comunicação, houve uma grande mudança no significado de cultura que por causa do massivo alcance acabou quebrando monopólios e gerando conteúdo diferenciado. Segundo Melo (2012), devido à crise que se abateu sobre o jornalismo especializado, não se pode mais definir o jornalismo cultural como apenas cobertura de artes plásticas, música, etc. Cabe buscar uma definição nas suas raízes, que são, em primeiro lugar, a necessidade de democratizar o conhecimento e destacar o caráter reflexivo, importantíssimo na prática singular do jornalismo cultural. Segundo Piza (2003), o texto do jornalismo cultural pode trazer para o leitor uma reflexão sobre os aspectos históricos e suas influências na cultura, ou seja, o jornalista tem a liberdade de escrever com certo aprofundamento o assunto e não somente comunicar o fato imparcialmente. Cabe destacar que o jornalismo cultural engloba toda a economia, o direito, a música, as artes plásticas, o teatro, a televisão, os eventos culturais como exposições, shows, festivais, feiras, e notícias sobre as instituições que promovem a cultura como as produtoras de cinema, os estúdios, as galerias, os museus, as bibliotecas, os teatros, as gravadoras, etc. Engloba também as secretarias e ministérios responsáveis pela cultura e pela educação, e suas ações políticas para promovê-las.
164
INFOTENIMENTO Infotenimento é o termo usado para constituir a nova busca de entretenimento no jornalismo. Segundo Deuze (2001), a essência do entretenimento no jornalismo está dividida em dois níveis, o primeiro é o grande acréscimo de elementos de entretenimento em gêneros noticiosos; e o segundo, o aumento do gênero Infotenimento atualmente nas grandes mídias. Dejavite (2003 p.173) define Infotenimento como “especificidade do jornalismo de conteúdo estritamente editorial tais como: comportamento, hobbies, esporte, moda e celebridade”. Apesar de ganhar cada vez mais espaço nas editorias, o Infotenimento de acordo com Padeiro (2015), sofre com questionamento de críticos que avaliam essa “modalidade” como um subproduto, superficial que em longo prazo faz o público perder o interesse, pois não são investidos neles assuntos de qualidade ou de melhor elaboração. O espaço que é destinado ao Infotenimento nas grandes redações está ligado às matérias que tem como intuito informar e entreter, como por exemplo, os assuntos sobre estilo de vida, as fofocas e as notícias de interesse humano. Assuntos que conforme Dejavite (2007), tem um público que quer se informar e ao mesmo tempo buscar o divertimento e lazer. A linha tênue entre jornalismo e entretenimento nunca foi nítida e é quase impossível hoje fazer essa justaposição entre os dois. Pois, é difícil nesta área caracterizar o que é entreter e o que é informar. A raiz do jornalismo, segundo Sandroni (1959), sempre foi informar a verdade, formar opinião pública sobre o que acontece no mundo externo e no campo social. Já o entretenimento nasceu com o papel de explorar a ficção, divertir e chamar a atenção. Entretanto, o surgimento do jornalismo de Infotenimento tem criado discordâncias entre as práticas desenvolvidas pelo jornalismo, e que, de acordo com Dejavite (2007), precisam ser revistas e mudadas. Esse “novo gênero” jornalístico afirma que uma mesma matéria pode muito bem informar entretendo ou buscar por meio de entretenimento a própria informação. E por ser um conteúdo misturado, muitas vezes, essas características aparecem implícitas. O público de hoje quer que a notícia, além de informar, distraia e também traga uma informação sobre o assunto. O divertimento sempre foi um dos principais motes da imprensa popular, já hoje a mídia comercial o abraça e o coloca em quase todos os seus produtos jornalísticos. “Esse tipo de conteúdo satisfaz nossas curiosidades, estimulam nossas
165
aspirações, possibilitam extravasar nossas frustrações e nutrem nossa imaginação” (DEJAVITE, 2007, p.03). O Infotenimento tem em algumas de suas características básicas a clareza, a objetividade e a atenção redobrada aos detalhes, isso tudo para o fácil entendimento do público. Segundo Dejavite (2007), segue a intenção editorial do papel de entreter no jornalismo, pois segue seus princípios básicos que atende às necessidades de informação do leitor de hoje. Ele manifesta aquele conteúdo que informa com diversão. A grande variedade de temas dentro do Infotenimento é uma das ferramentas que mais facilitam para uma boa construção de uma matéria. Carvalho (2014) entende que o grande segredo desse tipo de gênero está na linguagem simples, na maneira em que a informação é compreendida e comentada, na força do imaginário social e na ocupação do lazer dos indivíduos. Sua natureza tem como base a interpretação ou recriação dos fatos não apenas na concepção da realidade social, mas principalmente, no uso da linguagem do entretenimento, como fazem as novelas e os filmes. O jornalismo de Infotenimento acaba por ser uma categoria dentro do mundo do espetáculo. De acordo com Moraes (2008), essa vontade de entreter o público dentro do ambiente jornalístico pode ser um risco para o profissional que não está preparado para atender às necessidades de uma matéria atraente, informativa e divertida. Uma das questões que mais evidenciadas, é saber quando que o jornalismo faz o Infotenimento. Segundo Amaral (2008), o jornalismo pode se enquadrar no Infotenimento em todos os movimentos que tenham como objetivo fazer o leitor ampliar seus conhecimentos. A autora acredita que uma matéria pode ficar limitada à diversão por motivos de ordem empresarial ou por falta de competência do jornalista, por causa de uma má construção ou até mesmo da própria narrativa imposta. Já segundo Amaral (1987), a imprensa se constitui em quatro funções que ele destaca: política, econômico-social, educativa e de entretenimento. Desde a criação da imprensa, o conceito de jornalismo sempre foi informar, interpretar, orientar e entreter. Hoje com os diversos meios de comunicação e a modernização dos mesmos, o público recebe cada vez mais informações. Isso, de acordo Arbex (2013), acabou por mudar a maneira que o público consome notícias, tornando-as mais de esfera pública do que de esfera privada, como era no início. Hoje, 166
até os detalhes mais íntimos da vida de alguém pode gerar lucro e virar notícia. Com essas mudanças que o público promoveu, ele escolhe o que consumir e dando preferência a esses grupos, o jornalismo passou a avaliar criteriosamente o que o público quer ler, o que ele quer consumir e o que dará lucro. Assim, aposta naquilo que é vendável. Muitas vezes, é a imagem prévia do leitor que leva o veículo a priorizar o entretenimento. De acordo com Guerra (2002), a maneira do povo se relacionar com o jornal hoje não é só para se informar de questões de interesse público, mas também estar a par de questões sociais, das quais ele muitas vezes está envolvido. Podem-se citar como exemplo, matérias de comportamento e prestação de serviço. Com isso, afirma-se que as mudanças que vêm ocorrendo no conteúdo jornalístico, são baseadas na preocupação que os grandes grupos empresariais têm em não só satisfazer o receptor, mas conhecer esse novo leitor e, claro, reter lucro. De acordo com Dejavite (2007), o público está participando cada vez mais do que é liberado nas grandes mídias e está atento ao compromisso e à conduta que o jornalismo tem desempenhado na criação de seus conteúdos, sendo de Infotenimento ou de outros gêneros jornalísticos. A ANÁLISE DOS PORTAIS SELECIONADOS Serão analisados os portais Buzz Feed, G1 e Adorocinema. Buscase observar matérias que tenham relação com o escândalo de assédio sexual que envolveu a carreira do ator Kevin Spacey. Para desenvolver a análise, usa-se a técnica de análise de conteúdo categorial. Assim, as categorias são: - Conteúdo da matéria: verificar de que maneira e em que estilo a matéria foi escrita, qual a linguagem e o teor que foi empregado no texto. - Opinião negativa: verificar se a matéria apresenta uma opinião negativa sobre o ator Kevin Spacey - Opinião positiva: verificar se a matéria apresenta uma opinião positiva sobre o ator Kevin Spacey. Feitas tais consideração, apresenta-se a análise das matérias que constituem o corpus dessa pesquisa.
167
Matérias do portal Buzzfeed Matéria 1:How Kevin Spacey Is Bringing the “House Of Cards” Model To Shakespeare (Como Kevin Spacey está trazendo o modelo “House of Cards” para Shakespeare)10 A matéria consiste em uma entrevista ao site Buzzfeed onde Kevin Spacey conta as dificuldades enfrentadas para fazer teatro, como é interpretar Ricardo III e como Frank Underwood, de House of Cards, o ajudou a compor o personagem da peça. O ator explica que gosta dessa conexão mais direta com o público, que a televisão não dá tanto como o teatro. Foram mais de 200 apresentações em 10 meses de espetáculo, em diversos países. - Conteúdo da matéria: A matéria é uma longa entrevista feita com Kevin Spacey, onde o jornalista traz um texto bem simples, demonstrando pelas próprias falas de Kevin Spacey, o amor pelo teatro, como foi fazer a peça e as ideias futuras do ator em relação à atuação, tanto na Netflix como em outros projetos. Em várias partes do texto, destaca a versatilidade do ator ao afirmar que ele estava querendo se arriscar como diretor. - Opinião negativa: A matéria não teve uma opinião negativa sobre o ator. Essa foi à única matéria que o site Buzzfeed postou e estava no ar elogiando Kevin Spacey. As demais eram sobre o declínio da carreira. - Opinião positiva: A matéria fala sobre a carreira de Kevin Spacey e mostra um ator carismático, talentoso, dedicado que pensa no público e naquilo que ele quer ver. Em nenhum momento é falado algo sobre a vida pessoal de Kevin Spacey, apenas questões profissionais. Matéria 2: Kevin Spacey Responds To Sexual Misconduct Allegations By Coming (Kevin Spacey responde às alegações de má conduta sexual) 11 A matéria consiste em um direito de resposta de Kevin Spacey sobre as acusações feitas por Anthony Rapp. Nela, diz não se lembrar do ocorrido, mas se realmente aconteceu, ele pede desculpas e afirma que tudo isso que está acontecendo serviu para ele lidar com 10 Disponível em: https://www.buzzfeed.com/adambvary/kevin-spacey-now-in-thewings-on-a-world-stage?utm_term==. jt6VpOkXg#.ie74LW56 Acesso em: 04 mai.2018 11 Disponível em: https://www.buzzfeed.com/adambvary/kevin-spacey-comes-out-asa-gay-man-after-sexual-misconduct?Utm_term==.ewgerZvlJ#.xnlXJe69m Acesso em: 05. Mai. 2018
168
a situação de uma forma mais verdadeira, honesta e aberta. Esse posicionamento também abriu espaço para ele fazer uma análise de seu comportamento. O ator cita as especulações feitas pela imprensa durante todos esses anos. - Conteúdo da matéria: O texto começa demonstrando que seria algo em torno de um direito de resposta de Kevin Spacey após as acusações, nisso é mostrada a resposta do ator apresentando sua versão da história. Logo após, é levantado novamente o caso de Anthony Rapp, enfatizando que ele sofreu abuso quando tinha 14 anos. Após isso, o texto faz um apanhado de como Kevin Spacey sempre fugiu das perguntas relacionadas à sua vida particular e como o ator negou quando uma matéria afirmou que ele escondia um segredo. O texto não chega a ser opinativo, mas a matéria tenta ser imparcial ao trazer uma citação do show Runner Beau Willimo, onde ele alega que nunca ter visto esse comportamento de Kevin Spacey nas gravações da série House of Cards. Na segunda parte da matéria há uma citação da diretora artística do teatro OldVic, Victoria Feather stone, que alega que muitas pessoas no teatro e nas indústrias criativas têm conhecimento de histórias de outras pessoas ao longo de muitos anos, e que Kevin Spacey seria uma dessas para se ter preocupações. - Opinião Negativa: O título da matéria indica que seria a resposta do ator em relação às acusações. Realmente há uma resposta, mas o tom é de crítica ao comportamento de Kevin Spacey. Novamente, a matéria retorna e enfatiza o caso de Anthony Rapp destacando a condição da vítima que ele é, e o predador que Kevin Spacey se tornou perante a imprensa e público. No texto, é visível que há uma separação entre a vítima e o acusado e que muitos sabem sobre o comportamento de Kevin Spacey, mas nunca foi relatado publicamente como estava sendo. No decorrer da matéria, usa-se de mais um acusado, agora do ex-apresentador de televisão Heather Unruh, que diz no twitter que Kevin Spacey agrediu um ente querido, que ele não quis revelar o nome. - Opinião positiva: o site não coloca uma opinião positiva em relação a Kevin Spacey, que mesmo ouvindo o seu lado e sua resposta em relação às acusações, é visível o teor que o texto leva no seu conteúdo. Teor esse de que dá ao leitor a sensação de acusação. Mesmo quando usam de uma testemunha como o caso do show Runner que alegou nunca ter visto esse comportamento de Kevin Spacey, conseguem como contraponto alguém que sempre critica fortemente o comportamento do ator.
169
Matéria 3: People Are Accusing Kevin Spacey Of Announcing He Is Gay To Deflect From Sexual Misconduct Allegations (As pessoas estão acusando Kevin Spacey de anunciar que ele é gay para se desviar da alegação de má conduta sexual)12 Na matéria 3, novamente é relembrado o caso de abuso de Kevin Spacey contra Anthony Rapp quando ele tinha 14 anos. Conta como o ator Kevin Spacey resolveu em seu Twitter pessoal, se assumir gay após os escândalos e como foi a reação das pessoas anônimas e famosas nas redes sociais em relação à atitude do ator. - Conteúdo da matéria: O caso de Anthony Rapp é exposto com todos os detalhes. É visto novamente que o site Buzzfeed foi o primeiro a noticiar o caso. Na matéria, é colocado o pronunciamento que Kevin Spacey fez em seu Twitter após ser acusado. No comunicado, alega não se lembrar do caso e pede desculpas a Anthony Rapp e se assume gay. O texto da matéria é bem simples e o foco é totalmente nas reações das pessoas ao Twitter de Kevin Spacey. A matéria dá ênfase à opinião das pessoas, tanto anônimas como famosas. - Opinião negativa: No texto escrito pelo jornalista, não é citada a parte de desculpas de Kevin Spacey, somente o ponto em que ele se assume homossexual. O pronunciamento completo é visto apenas em print. O foco da matéria é no público acusando Kevin Spacey de usar da homossexualidade para tirar a ênfase das acusações de abuso. A matéria usou apenas opiniões negativas, onde Kevin Spacey é chamado de hipócrita, de que o ator quer relacionar pedofilia com homossexualidade. Todos acusam Kevin Spacey de tentar distorcer os fatos e a narrativa da mídia. O pequeno texto que foi escrito pela jornalista mostra de forma clara que ela dividiu entre a vítima e o acusado, transformando em algo como o bem e o mal. Em nenhum momento foi imparcial mostrando os dois lados. - Opinião positiva: Não houve nenhuma opinião positiva, é totalmente visível que tudo que é relacionado com Kevin Spacey e sua carreira é esquecido e nem citado. Apenas a ênfase que o ator é gay. O pedido de desculpa é desconsiderado na matéria.
12 Disponívelemhttps://www.buzzfeed.com/aliciamelvillesmith/peopleare-accusing-kevin-spacey-of-announcing-he-was-gay?utm_term=.jt6VpOkXg#. iixrEgVwL Acessoem: 05. Mai.
170
Análise das três matérias do portal G1 Matéria 4: Kevin Spacey será homenageado por museu de Nova York13 A matéria fala sobre o prêmio e a condecoração que o ator recebeu do museu de Nova York. Esse prêmio é dado a grandes atores em relação a sua contribuição às artes cinematográficas. Tom Cruise, Julia Roberts e Robert De Niro já foram condecorados pelo mesmo museu. - Conteúdo da matéria: Conteúdo extremamente positivo destacando a contribuição de Kevin Spacey às artes. Fala do seu talento e de sua premiada carreira. Inclusive, o diretor do próprio museu cita como motivo para a escolha de Kevin Spacey ao prêmio, as atuações fantásticas tanto no teatro como nas grandes telas. Texto leve sem uma opinião, apenas com teor de divulgação. - Opinião negativa: Não houve opinião negativa pelo fato de ser um texto para simples divulgação do prêmio. Apenas apresentou o ator e seus trabalhos e o motivo por ele ser o escolhido. - Opinião positiva: No texto, é citado sempre o talento de Kevin Spacey e o merecimento a tal prêmio. Sua carreira também é mencionada junto aos prêmios que recebeu e sua contribuição tanto para o cinema como em séries e no teatro. O próprio diretor do museu citou em texto: “Depois disso, apenas se tornou mais claro que sua força como ator e seu desejo de assumir riscos o conduziram a ter grandes desempenhos em qualquer mídia ou tela”. Matéria 5: Roberto Cavazos, ator mexicano, faz novas acusações contra Kevin Spacey14 Novas acusações são feitas contra o ator Kevin Spacey. Após sofrer com as acusações de Anthony Rapp e a pressão da mídia, outros atores tomam coragem e assumem que sofreram assédio praticado pelo ator, entre eles o mexicano Roberto Cavazos que na matéria conta como aconteceu. - Conteúdo da matéria: O texto é explicativo e voltado às denúncias 13 Disponível em http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2014/01/kevin-spaceysera-homenageado-por-museu-de-nova-york.html Acesso em 05. Mai. 2018 14 Disponível em https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/roberto-cavazos-ator-mexicanofaz-novas-acusacoes-contra-kevin-spacey. ghtmlAcesso em: 05. Mai. 2018
171
feitas pelo ator Roberto Cavazos. Em alguns trechos, retorna com o caso de Anthony Rapp, cita alguns detalhes, mas não emite uma opinião, tratando do assunto de maneira imparcial e informativa. - Opinião negativa: O texto cita frases do entrevistado que relata os encontros que teve com Kevin Spacey como desagradável. - Opinião positiva: O texto não tem uma opinião positiva explícita, mas em dois momentos que cita Kevin Spacey, o adjetivo “aclamado” foi usado tanto para citar seu personagem na série House of Cards, como o próprio ator. Matéria 6: A vertiginosa queda de Kevin Spacey, de grande estrela de Hollywood a ‘assediador sexual’15 A matéria é um conjunto de todos os acontecimentos que ocorreram na vida do ator Kevin Spacey após os escândalos. No texto também é apresentada sua trajetória em Hollywood, o início de carreira, os trabalhos no teatro e as premiações e entrevistas das quais o ator participou até chegar o momento em que se sucederam os escândalos. - Conteúdo da matéria: Biográfico e bem explicativo. Apesar de ser uma matéria baseada em informações vindas de outra matéria de uma rede de televisão americana, o texto não é opinativo e muito menos influenciador. É imparcial mostrando a carreira do ator, passando por momentos de glória e pelos momentos de queda. Mostra o lado das vítimas e não esconde o lado de Kevin Spacey, fazendo um apanhado completo com todas as informações necessárias. Cita passagens importantes do ator e as perdas que teve após as descobertas da sua conduta. - Opinião negativa: No título aparece entre aspas a expressão “assediador sexual”. A matéria não tem uma opinião negativa explícita apenas, usa alguns adjetivos pejorativos em relação ao ator. O texto cita frases de terceiros que acusaram Kevin Spacey, como produtores da série que o acusaram de assédio e deixar o “ambiente tóxico” nos bastidores. Retorna ao caso de Anthony Rapp e relata em detalhes o ocorrido, cita as acusações de Cavazos, incluindo novos detalhes onde é revelado que uma das estratégias de Spacey era convidar jovens rapazes para um piquenique com champanhe sobre o palco do Old Vic, “maravilhosamente iluminado”. 15 Disponível em https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/a-vertiginosa-queda-de-kevinspacey-de-grande-estrela-de-hollywood-a-assediador-sexual.ghtml Acesso em 05. Mai. 2018.
172
E fala sobre a perturbação do ator ainda criança com os abusos que teria sofrido do pai. A matéria informa com alegações de vítimas, que muitas pessoas sabiam do comportamento de Kevin Spacey. - Opinião positiva: A matéria não é um texto de opinião e sim explicativo de como começou e seguiram-se todos os embrolhos da história. De forma positiva, a matéria usa do adjetivo “aclamado” novamente. No próprio título é citado que ele era uma grande estrela e no decorrer do texto se fala de quão respeitado ele era na indústria cinematográfica, televisão e teatro. Narra-se seus feitos, suas premiações e os esforços quando foi diretor do teatro Old Vic. Cita-se o pedido de desculpas que ele fez, reconhecendo e prometendo se tratar do distúrbio sexual. A matéria mostra em trechos iguais informações positivas e negativas em relação ao ator. Análise das três matérias do portal Adorocinema. Matéria entrevista16
7:
Kevin
Spacey
esnoba
Hollywood
em
Na matéria Kevin Spacey fala sobre o atual momento da carreira e como se sente à vontade se dedicando quase que exclusivamente à televisão. O ator diz não sentir falta de Hollywood e citou como as pessoas o julgaram quando ele optou pela série e pelo teatro. - Conteúdo da matéria: É uma entrevista particular, não escrita por um jornalista brasileiro, foi feita pelo The Hollywood Reporter. O texto não é imparcial porque busca mostrar como o ator chegou a um patamar de poder ao escolher o que quer realmente fazer. Em certos momentos o conteúdo da matéria, usando falas do próprio ator, dá a entender ao leitor que Kevin Spacey só voltaria por grandes papéis, e um bom salário. - Opinião negativa: A matéria usa no título o termo “esnoba Hollywood”, dando a entender que Kevin Spacey é ingrato e esnoba a indústria pelo fato de ter chegado a um patamar de grande estrela. Em uma das falas do ator, ele diz que não está interessado em viver personagens secundários: “Eu não vou interpretar o irmão de alguém”. Conclui ainda mais a imagem que a matéria está passando. Como o próprio texto diz, trata de um ator sem paciência e nem tempo para Hollywood. 16 Disponível em: http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-106044/ Acesso em: 06. Mai. 2018
173
- Opinião positiva: Em relação à opinião positiva, o texto cita que Kevin Spacey conseguiu se tornar um dos “atores mais aclamados de sua geração”. Além de a matéria mostrar o status considerável que o ator alcançou com seus papéis inclusive de Frank Underwood, da série House of Cards. Matéria 8: House of Cards: Frank Underwood pode ser morto por causa do escândalo Kevin Spacey17 A matéria fala especificamente na continuação da série após os escândalos envolvendo o nome do ator. O futuro do personagem dentro da história e como que os produtores pretendem fazer com a próxima temporada sem o protagonista, sendo também que Kevin Spacey além de atuar produzia House of Cards. - Conteúdo da matéria: O conteúdo do texto é noticioso e explicativo. Onde a intenção é o foco no personagem e o futuro da série, explicando como o aspecto profissional foi afetado com escândalo. - Opinião negativa: O texto cita entre aspas que o ator mantinha um ambiente tóxico nos bastidores da série. A matéria cita entre aspas o comportamento predatório doa ator e afirma que é importante desvincular a imagem de Kevin da série. - Opinião positiva: Nenhuma. Matéria 9: Kevin Spacey é acusado de assédio por oito membros da equipe de House of Cards18 Em uma reportagem feita pelo canal CNN, funcionários da série House of Cards denunciam mais abusos por parte de Kevin Spacey. Precisamente oito funcionários relataram que sofreram algum tipo de constrangimento e abuso por parte do ator nos bastidores das filmagens. Segundo a própria matéria, um dos supervisores sabia dos casos. - Conteúdo da matéria: Noticioso e investigativo. No texto são feitas mais denúncias contra o ator e afirmações que mais pessoas sabiam da conduta de Kevin nos bastidores. Não tem um teor opinativo, mas dá mais ênfase às acusações e cita o pedido de desculpas do ator. Na 17 Disponível em: http://www.adorocinema.com/noticias/series/noticia-135385/ Acesso em: 06. Mai. 2018 18 Disponível em: http://www.adorocinema.com/noticias/series/noticia-135350/ Acesso em: 06. Mai.2018
174
própria linha de apoio, o texto afirma com auxílio de declarações, que a produtora sabia de um caso desde 2012. - Opinião negativa: Novamente é citado no texto o comportamento inadequado e a ênfase nas novas denúncias apresentadas. O texto não usa de adjetivos negativos contra o ator, apenas quando o relaciona com o que as vítimas dizem, como por exemplo: ambiente tóxico, comportamento predatório, estupro. É visível que com o teor da declaração das vítimas no texto, o leitor tenha como imagem do ator, um sujeito abusando de seu poder e status dentro da indústria. - Opinião positiva: Nenhuma Análises dos portais BuzzFeed A partir da análise realizada, constata-se que o portal Buzzfeed destacou mais intensamente as características negativas do ator. De todas as matérias que constavam no site apenas duas tinham algo relativamente positivo para citar. Já as em relação com algo negativo, eram as que mais predominam na análise. Sendo assim, no site o leitor se depara com notícias de cunho ruim a respeito de Kevin Spacey. Conclui-se também ao analisar os textos, que o teor usado nas matérias em relação a Kevin Spacey após os escândalos, é de um jornalismo voltado para o sensacionalismo, onde a importância é chamar a atenção do público sem atentar para a qualidade do conteúdo. Isso demonstra que o jornalismo e seus aspectos são usados pelas empresas de comunicação cada qual a sua maneira. Como diz: (SANDRONI, 1959, p.5). “Para o cínico, o jornalismo é meramente um comércio; para o idealista revelase como responsabilidade e um privilégio”. Em diversas ocasiões nos textos apresentados no site, é usado de adjetivos desfavoráveis extremamente fortes com muita ênfase ao declarar Kevin Spacey sempre como o predador. O Buzzfedd tem em seu intuito se mostrar como delator. A mídia tem em suas mãos a persuasão, que segundo Olchives (2006), é uma das maiores armas, pois o jornalismo é capaz de alterar e induzir opiniões e até mesmo criar estereótipos. Na matéria em que trata das reações das pessoas após Kevin Spacey se assumir gay, comprova-se o que Reges (2010, p. 35) aponta: “o ouvinte que recebe a mensagem ele não quer só ouvir, mas também 175
participar”. E isso foi um dos fatores que o webjornalismo trouxe: a interação do leitor com a informação. G1 A partir da análise realizada, constata-se que o portal G1, diferentemente do Buzzfeed, foi o site que mais usou de pontos positivos em relação a Kevin Spacey. Esses aspectos foram relacionados com a carreira do ator enaltecendo seu trabalho e toda a sua história, sem esquecer claro dos pontos negativos. O site foi o único portal que fez um compilado contextualizando toda a história do ator. Nas características dos textos, percebe-se a imparcialidade, fazendo um jornalismo mais voltado para o cultural. Ao apresentar adjetivos positivos em relação a Kevin Spacey e seus trabalhos na indústria cinematográfica, o portal ajuda a fomentar e criar ainda mais o status de astro de cinema. Segundo Morin (1962), a grande responsável por essa criação é a mídia e a sua habilidade de converter algo pequeno em um grande evento. AdoroCinema A partir da análise realizada, constata-se que o portal AdoroCinema, também teve uma parcela maior de pontos negativos do que pontos positivos em relação ao ator. Ao todo, o site tem 134 matérias sobre Kevin Spacey, pouquíssimas falavam do caso levando em conta o lado pessoal, o foco das matérias do site trata de como o escândalo afetou a vida profissional do ator. Isso pelo fato do portal ter um público específico em cinema, série e cultura pop. É visto que a preocupação é passar para o público como ficaria a série House of Cards, principal trabalho de Kevin Spacey no momento. O assunto assédio é inserido nas matérias, mas a ênfase é como ele prejudica o andamento do programa. De acordo com Guerra (2002), a maneira do povo se relacionar com o jornal hoje, não é só para se informar de questões de interesse público, mas também estar a par de questões sociais, das quais ele muitas vezes está envolvido. No caso, o envolvimento do público nisso, é o público que gosta de séries em questão, e quer saber se ela seria cancelada, se o personagem morreria e qual o rumo à plataforma Netflix daria a tudo isso. Segundo Ferrari (2001), desta pluralidade de assuntos, consegue-se criar comunidades, e no núcleo destas
176
comunidades, leitores digitais que ficam em volta de determinados temas e assuntos que movimentam a sociedade. No caso, o tema cinema e séries. Análise dos três portais O significado do jornalismo hoje, de acordo com Sandroni (1959), é toda a forma que as notícias e as informações chegam ao público. Graças ao avanço das tecnologias nos meios de comunicação, o jornalismo chega mais rápido e de forma mais completa na vida das pessoas. As mais diversas plataformas têm conquistado cada vez mais seus espaços, e uma dessas plataformas são os portais de notícias que acabaram sendo um dos meios que mais usam dos aspectos que envolvem jornalismo. Para responder conclusivamente ao objetivo da presente pesquisa, realizou-se uma análise em três portais que fazem parte de conglomerados da mídia, porque de acordo com Melo (2010), as grandes empresas jornalísticas hoje deixaram de ser empreendimentos individuais para se tornar grandes organizações que contam com equipes. Com isso, analisaram-se os sites: Buzzfeed, G1, e AdoroCinema. Perceberam-se como esses portais divulgaram e falaram sobre o ator Kevin Spacey, sua carreira e os escândalos que o envolveram nos últimos tempos. Para começar foi encontrado nos três sites características de portais, porque de acordo com Ferrari (2003), um portal de notícias precisa ter retenção, que é segurar o máximo possível seus leitores. E ser informativo, informar e estar bem abastecido com inúmeras notícias das mais diferentes áreas. Com exceção do AdoroCinema, que possui apenas um segmento sobre cinema e cultura pop, os outros dois portais são abastecidos com notícias de diferentes áreas do jornalismo. Os três sites usam de grandes chamadas em suas matérias, e em relação à web jornalismo, os três possuem convergência, que segundo Reges (2010), é um dos mais importantes elementos da web jornalismo, porque é ele que reúne todos os formatos que a internet disponibiliza. Nas matérias online, contém além dos textos, vídeos, imagens, áudio e gráficos. Em relação ao conteúdo de cada site, percebeu-se que cada qual faz um estilo em seus textos. O BuzzFeed, por exemplo, usa muito do jornalismo sensacionalista nas matérias relacionadas com o tema da pesquisa. O tom dos textos relacionados a Kevin Spacey é tendencioso para um lado mais de acusação, onde as opiniões negativas em 177
relação ao ator são muito maiores que as positivas. Em relação ao jornalismo, o portal entra nas características do mesmo, porque de acordo com Sandroni (1959), as características são: informar, interpretar, orientar e entreter. No conteúdo geral do site, é visto que se usa do Infotenimento, porque de acordo com Dejavite (2007, p. 173), Infotenimento é: “especificidade do jornalismo de conteúdo estritamente editorial, tais como: comportamento, hobbies, esporte, moda, e celebridades”. O Buzzfeed trabalha muito com informação e entretenimento; e com as características do Infotenimento, que são a clareza, a objetividade e a atenção redobrada aos detalhes. Por sua vez, o site G1, usa muito do jornalismo cultural, porque nas matérias estudadas, percebeu-se um tom mais reflexivo nos textos. Segundo Piza (2003), o texto do jornalismo cultural pode trazer para o leitor uma reflexão sobre os aspectos históricos e suas influências na cultura. No jornalismo cultural, não é apenas fazer um recorte da agenda cultural, mas sim um conjunto de olhares sobre as diversas tendências entre passado e futuro, ganhos e perdas. O G1 foi o único site que fez um apanhado de todos os acontecimentos com uma matéria narrando todo o início da carreira do ator Kevin Spacey até o declínio no auge das acusações. É também o único site onde teve mais opiniões positivas em relação a Kevin Spacey e o teor do texto foi o mais imparcial dos três portais. O site também entra no segmento jornalismo porque as características, de acordo com Sandroni (1959), são: informar, interpretar, orientar e entreter. Já no conteúdo geral, o site demonstrou usar de Infotenimento em algumas matérias, mas o jornalismo cultural foi mais presente por tratar de diferentes áreas como: economia, direito, música, artes plásticas, teatro, televisão e eventos culturais. O G1 também tem outra particularidade do jornalismo cultural, que segundo Piza (2003), é quando o meio de comunicação deixa de ser só mero distribuidor de informação passando a ser também mediador de debate sobre assuntos da atualidade. E o portal AdoroCinema, por ser o único site que tem um segmento, ao tratar do tema da pesquisa, optou por outro caminho, onde o foco das matérias é sua especialidade. Com isso, confirma-se que o site preza por um estilo mais noticioso explicativo e publicitário, sem uma opinião concreta. O site não entra nas características jornalísticas porque ele não interpreta completamente, ele não se aprofunda em mais detalhes. E o fato dessa falta de aprofundamento no tema, é
178
porque o AdoroCinema seguiu o segmento proposto pela empresa. Foram postadas notícias relacionadas com o tema da pesquisa, mas o conteúdo dos textos era mais voltado para as conclusões das conseqüências dos escândalos, sendo assim visível a tendência do site de dar mais ênfase para a série House Of Cards e as perdas profissionais do ator, como o cancelamento de contrato, a saída do filme em que estava gravando e a homenagem que receberia. Em relação aos casos de assédio que também fazem parte do tema da presente monografia, os três portais exploraram o assunto, mas, há diferenças nas apresentações entre eles. O Buzzfeed, por exemplo, explorou muito mais detalhadamente o caso de Anthony Rapp, citando as alegações da vítima. De acordo Nascimento (2005) destaca que assédio parte de um comportamento que está ligado a uma conduta indesejada de caráter sexual, sob forma verbal, não verbal ou física, com o objetivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, pode-se confirmar que o site explicou as características de assédio, mas com ênfase em um só caso. Já o portal G1, focou mais no comportamento de Kevin Spacey nos bastidores do trabalho, no caso de Anthony Rapp e em outras denúncias contra o ator. Para isso, o site usou termos e frases como: “ambiente tóxico”, “comportamento inapropriado”, “predador” e “abusador”. De acordo com o Código Penal no artigo 216-A, que diz que, assédio é: constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício do emprego, cargo ou função. Pode-se assim então relacionar que o G1 também explica o que é assédio nas suas matérias, e que o tema no portal se torna mais abrangente ao citar outras denúncias contra Kevin Spacey. O Adorocinema, como foi dito, postou matérias sobre os casos de assédio, mas com a intenção de levar mais para o lado profissional do ator. O site também cita em suas matérias expressões como: “Comportamento Predatório” e “Ambiente Tóxico”. Neste sentido, Nascimento (2005) observa que as características do assédio podem conter avanços de caráter sexuais não aceitáveis e não requeridos, favores sexuais ou contatos verbais ou físicos e é considerado um tipo de violência física e violência mental como coerção - forçar alguém a fazer o que não quer, assim conclui-se que o site também elucidou o que é assédio nas suas matérias, levantando as outras denúncias contra o ator.
179
Com embasamento nas denúncias, os três sites explicaram em seus textos o que é assédio de forma concisa e clara, usando as atitudes do ator Kevin Spacey perante as suas vítimas. Nas matérias que têm opiniões positivas sobre Kevin Spacey e sua carreira, é visto o que Morin (1962) cita: que nos anos de 80 e 90, os grandes astros começaram a ser mais acessíveis ao grande público. Assim, o culto de reverência visto na grande era de ouro de Hollywood, cede lugar à admiração. São menos deuses, porém mais tocáveis, menos suntuoso, todavia amados. E essa acessibilidade conquistada deve-se ao fato de que com o passar dos anos, cada vez mais as pessoas estão tendo mais acesso às informações, e conseqüentemente mais acesso às tecnologias. De acordo como Celleti (2017), o pensador Walter Benjamin, acreditava que quanto mais e maior fosse o nível de acesso à tecnologia, mais artistas expandiriam suas artes. Associando esse pensamento à carreira de Kevin Spacey observa-se que ela foi se expandindo possibilitando uma abertura para o mundo. E essa abertura veio através da cultura de massa que, de acordo com Morin (1962), trouxe o termo “olimpianos modernos” para as celebridades. Segundo Alex Primo (2009), os conceitos de celebridades que se tem hoje surgiram no apogeu hollywoodiano. Kevin Spacey teve a carreira formada e vendida em Hollywood, tendo uma exposição feita, associada ao seu talento e versatilidade. Essa total exposição serve apenas, de acordo com Morin (1962), para transformar as celebridades em mercadorias em um processo intrinsecamente ligado ao capitalismo que por conseqüência fez e faz de grandes astros e estrelas produtos deste mercado. Essa massiva exposição tanto positiva como negativa em relação a Kevin Spacey, ajudou na construção e desconstrução de sua carreira. Foi ela que deu ao ator o status de celebridade, o declínio de tudo que ele havia construído e as características necessárias para encaixá-lo no conceito de mito. Além dessa evidência tanto positiva como negativa, visto que o mito tem em suas características linguagem, fatores extraordinários e na visão de Eliade (1978), o mais importante, a repetição. Os três portais repetiam exaustivamente em suas matérias que Anthony Rapp havia denunciado Kevin Spacey por tentativa de abuso. Com isso, novamente a história era recontada. A intenção desta repetição no início dos textos ou até mesmo ao postar um link junto da matéria, era de contextualizar o assunto, mas acabou por confirmar a forma que o mito é propagado e construído na mídia.
180
Com as opiniões positivas, foi construído e propagado um Kevin Spacey talentoso, reservado, versátil, aclamado com status de estrela, um verdadeiro ícone. Com as opiniões negativas e repetição, foi apresentado um Kevin Spacey predador, com comportamento inadequado, abusador, cínico, mentiroso, oportunista e assediador sexual. Na criação do mito, de acordo com Campbell (1990), a mídia tem como característica uma condição de modificar valores que podem ser corretos ou não, transformando-os em referência. Os meios de comunicação, segundo Jasmim (2014), são incumbidos de criar imagens, comportamentos e discursos que interferem na esfera social. Com isso, afirma-se que os três portais cumpriram com o seu papel jornalístico, cada qual com seu estilo. Os três influenciaram a visão do público e a construção e a desconstrução da carreira de Kevin Spacey. CONCLUSÃO E SUGESTÕES A vida privada de astros e estrelas do meio artístico sempre foi o alimento que sacia a fome da curiosidade do grande público. A imprensa por sua vez, é a máquina que serve esse alimento a todos. E, hoje não há nada que escape das lentes ferinas da imprensa, a intimidade de famosos é um exemplo disso. Os detalhes mais íntimos de uma pessoa podem virar notícia e se tornar altamente lucrativos e vendáveis. Após anos sendo encobertos em Hollywood e no meio artístico, casos de assédios vieram à tona em 2017, liberando uma onda de revelações por onde passou. O tsunami de casos atacou os mais altos escalões da indústria cinematográfica. Kevin Spacey, ator, sempre muito requerido em grandes produções tanto no cinema como na televisão, foi um dos figurões que teve sua vida íntima exposta, comentada e compartilhada por escândalos e acusações de assédios sexuais. A imprensa que repercutiu massivamente em todos os meios de comunicação as acusações contra o ator, a mesma imprensa que o ajudou a moldar sua imagem e carreira perante o público durante anos. Por isso, partindo de uma pesquisa exploratória descritiva em três portais de notícias de categorias e empresas diferentes, buscouse saber de que forma a mídia, através dos sites Buzzfeed, G1 e AdoroCinema, influenciou na construção e desconstrução da imagem do ator Kevin Spacey antes e após os escândalos. 181
Viu-se que a mídia, por intermédio de notícias postadas nos sites, influenciou na carreira de Kevin Spacey. E essa influência pode agir em dois pólos, tanto no favorável, quanto no desfavorável. Observa-se que houve tópicos mais prejudiciais do que propícios para a imagem do mesmo. O fato de haver uma desproporcionalidade nas matérias em relação às opiniões é porque além de ser um conjunto de meios de comunicação com força para redimensionar fatos, a mídia tem a capacidade de formular opiniões, fomentar julgamentos e criar imagens através da maneira que expõe a informação ou o tema ao público. Em vista dos argumentos apresentados viu-se que o Buzzfeed focou no tema com um jornalismo mais informal, mais exagerado, feito às pressas com a intenção de captar o leitor. O site usa muito de jornalismo de lista e matérias de conteúdos diversificados, mas quando o caso é uma denúncia, como nesse estudo, o portal se apresenta de forma mais crítica e imparcial. Já o G1 é um site muito informativo, usa do jornalismo cultural, diversifica suas matérias, atingindo o público em geral. Em relação ao tema, o mesmo importa algumas matérias de sites estrangeiros e ao traduzi-las, mantém-se imparcial em seus textos agindo literalmente como um intermediário da informação com o público. O site consegue gerar debates entre ambos os lados. O AdoroCinema faz um jornalismo mais comercial voltado para o entretenimento, com direção a sua especialidade. É um jornalismo neutro não esmiúça os casos em detalhes, prega algo rápido e direto. Em relação ao tema, o portal trouxe para área do cinema e séries, levantando alguns questionamentos dentro da indústria cinematográfica e em relação a aspectos profissionais de Kevin Spacey, que é o que o público específico do site procura. Frente aos resultados, a pesquisa apresentada também pode ser considerada a primeira etapa para futuros estudos que venham a ser desenvolvidos e que queiram focar no jornalismo e no tema que cada vez mais vem sendo debatido nos meios de comunicação, o assédio. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, Márcia Franz. Os (des) caminhos da notícia rumo ao entretenimento. Estudos em jornalismo e mídia, Santa Catarina. 3 mar. 2008. Disponível em :https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/ article/view/1984-6924.2008v5n1p63/10221. Acesso em 7 mar. 2018
182
AMARAL. Técnica de jornal e periódico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1987. ANDRADE, Candido Teobaldo de Souza. Mito e realidade da opinião pública. Disponível em:http://www.scielo.br/pdf/rae/v4n11/v4n11a03. pdf. Acesso em: 13 mar.2018 ARBEX JÚNIOR, J. Show jornalismo: A noticia como espetáculo. São Paulo. Casa Amarela, 2003. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009 BOND, F. Fraser. Introdução ao jornalismo. Rio de Janeiro: Agir, 1962. CABRAL, João Francisco Pereira. “Conceito de Indústria Cultural em Adorno e Horkheimer”. Brasil Escola, São Paulo. 24 mai. 2018. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/cultura/industriacultural.htm>. Acesso em 2 mar. 2018. CABRAL, Marcelo. 18 passos para entender por que o Buzzfeed cresce tanto. Época, São Paulo. 9 jun. 2016. Disponível em https:// epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2016/06/tem-buzz-nalinha.html. Acesso em: 08 abr.2018 CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 1990 CARVALHO, Ana Paula Verás. Análise dos conceitos de Jornalismo Tradicional, Entretenimento e Jornalismo de Infotenimento e as relações (in) existentes entre eles no meio televisivo. Repositório Uniceub, Brasília. 6 jun. 2014. Disponível em: http://repositorio.uniceub. br/bitstream/235/5432/1/RA21137475.pdf. Acesso em: 9 mar.2018 CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. CELETI, Felipe Rangel. Indústria Cultural. Mundo Educação,São Paulo. 12 jun. 2014. Disponível em: http://mundoeducacao.bol.uol.com. br/filosofia/industria- cultural.htm. Acesso em: 8 mar. 2018. DAMASCENO, Sergio. AdoroCinema enriquece oferta de conteúdo. Meio&Mensagem.São Paulo. 10 abr. 2012. Disponível em: http:// www.meioemensagem.com.br/home/midia/2012/04/10/adorocinemaenriquece-oferta-de-conteudo.html. Acesso em: 09 abr.2018 183
DA SILVA, Lourenço Aldo Pereira. Assédio Sexual no Direito do Trabalho Brasileiro. Disponível em: //www.atenas.edu.br/Faculdade/ arquivos/NucleoIniciacaoCiencia/REVISTAJURI200 8/1. PDF. Acesso em: 28. Abr. 2018 DE CAMPOS MACHADO, Gaya Cristina. Infotenimento nos programas femininos da televisão aberta brasileira: A informação tratada como mercadoria. Cásper Líbero, São Paulo. Disponível em: https://casperlibero.edu.br/wp-content/ uploads/2014/04/Gaya-Cristina-de-Campos-Machado.pdf. Acesso em: oito mar. 2018 DEJAVITE, Fábia Angélica. Mais do que Economia e Negócios: O Jornalismo de Infotenimento no Jornal Gazeta Mercantil. Comunicação & Inovação. Eca USP, São Paulo. 3 jun, 2010. Disponível em: http://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_comunicacao_inovacao/ article/view/563/403. Acesso em: 9 mar. 2018. DEJAVITE, Fábia Angélica. INFOtenimento: informação + entretenimento no jornalismo. São Paulo: Paulinas/Sepac, 2006. DEJAVITE, Fábia. Angélica. A notícia light e o jornalismo de Infotenimento. Artigo apresentado no VI Encontro de Núcleo de Pesquisa, São Paulo. 2 set. 2007. Disponível em: http://www. intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1472-1. pdf. Acesso em: 9 mar.2018 ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1978 FERRARI, Bruno. Buzzfeed o rei do viral na internet. Época, São Paulo. 3 mai. 2015. Disponívelem: https://epoca.globo.com/vida/ noticia/2015/05/buzzfeed-o-rei-do-Viral-da-internet.html. Acesso em: 08 abr. 2018 FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. São Paulo: Contexto, 2014 FIGUEIRA, João Vitor. BrettRatner é acusado de assédio sexual por seis mulheres. AdoroCinema, São Paulo. 1 nov. 2017. Disponivel em: http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-135313/. Acesso em: 16 abr.2018. FURTADO, Renato. HouseofCards: Frank Underwood pode ser morto por causa do escândalo Kevin Spacey. AdoroCinema, São Paulo. 3 nov. 2017. Disponível em http://www.adorocinema.com/noticias/ series/noticia-135385/. Acesso em: 06 Mai. 2018 184
GANIKO, Priscila. Acompanhe a linha do tempo das denúncias contra Kevin Spacey. Jovem Nerd, São Paulo. 9 nov. 2017. Disponível em: https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/acompanhe-linha-do-tempodas-denuncias-contra-kevin-spacey/. Acesso em: 2 mar. 2018 GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1989. JASMIN, Camila Chalhoub Silva Fortuna. A construção do mito: uma análise do fenômeno midiático Xuxa. Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Filosofia e Ciências Humanas Escola de Comunicação, Rio de Janeiro. Disponivel em: http://pantheon.ufrj. br/bitstream/11422/444/1/monografia%20vers%C3%A3o%20final%20 %288%29.pdf. Acesso em: 3 mai. 2018. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São paulo: Aleph, 2009 JUNIOR, Argemiro Baptista. O Mito. Grupo religare, São Paulo. 7 jun. 2011. Disponível em: https://www.gruporeligare.com/omito. Acesso em: 23 abr. 2018 LIMONDRE, Letícia, BRAZ, Vania, SORIANO, Felipe. Infotenimento (Informação e Entretenimento) no jornalismo. Disponível em: http:// www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2011/anais/arquivos/0143_0922_01. pdf. Acesso em: 8 mar. 2018. MARQUES de Melo, José; ASSIS, Francisco de (Org.) Gêneros jornalísticos no Brasil. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2010. MARQUES de Melo, José. Jornalismo Opinativo. São Bernardo do Campo: Martiqueira, 2003 MENDONÇA, Rodrigo. A História do Jornalismo Opinativo como Gênero. Universidade Federal do Pampa, São Borja. 15 mai. 2012. Disponível em :http://porteiras.s.unipampa.edu.br/gphm/ files/2012/05/gthistoriamidiaimpressa_Rodrigo_Mendonca.pdf. Acesso em 12 mar.2018 MILLS, Charles Wright. A elite do poder. Rio de Janeiro: Zahar, 1975 MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
185
MORIN, Edgar. As estrelas: Mito e sedução no cinema. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989. OLIVEIRA, Sebastião monteiro, DE LIMA, Antonia silva. O mito na Formação da indentidade. Disponivel em: http://cefort.ufam.edu.br/ dialogica/files/no1/Vol01-05-o%20mito%20na%20formacao%20da%20 identidade. PDF. Acesso em : 25 abr. 2018. ORTEGA Y GASSET, José. A rebelião das massas. São Paulo: Vide, 2016. PADEIRO, Carlos Henrique. O Infotenimento aplicado ao jornalismo esportivo: Entrevista com Fábia Dejavite. REGIT, São Paulo. 3 jan. 2015. Disponível em: http://www.fatecitaqua.edu.br/revista/index. php/regit/article/view/REGIT3-ENT. Acesso em: 9 mar. 2018 PAILLET, Marc. Jornalismo: o quarto poder. São Paulo: Brasiliense, 1986. PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. 3º ed. São Paulo: Contexto, 2007 PEREIRA, Fábio Henrique. O jornalista on-line: um novo status profissional? Uma análise sobre a produção da notícia na Internet a partir da aplicação do conceito de ‘jornalista sentado’. São Paulo: Contexto,2003. REGES, Thiara Luiza da Rocha. Características e gerações do Webjornalismo: análise dos aspectos tecnológicos, editoriais e funcionais. Faculdade São Francisco de Barreiras, São Paulo. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/reges-thiaracaracteristicas-e-geracoes-do-webjornalismo.pdf. Acesso em: 15 abr. 2018 ROJEK, Chris. Celebridade. Rio de Janeiro: Rocco, 2008. SILVA, Fabiana. A não notícia, um produto de Infotenimento Artigo publicado na revista Estudos em Jornalismo e Mídia. EJM, Santa Catarina. 9 jun.2008.Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ jornalismo/article/view/1984-6924.2008v5n1p99. Acesso em: 14 abr. 2018. SILVEIRA, Jonathas. Como a mídia pode influenciar na construção e desconstrução de um mito: Michael Jackson. Centro Universitário Metodista IPA, Porto Alegre. Disponível em: file:///D:/Downloads/ Silveira,%20Jonathas.%20Como%20a%20midia%20%20pode% 20influenciar%20na%20constru. pdf. Acesso em: 22 abr. 2018 186
SIQUEIRA, Denise da Costa Oliveira; SIQUEIRA, Euler David de. A cultura no Jornalismo cultural. Lumina, 8 jun. 2007. Disponível em: https://lumina.ufjf.emnuvens.com.br/lumina/article/view/202/197. Acesso em: 16 abr. 2018. VARGAS, Herom. Reflexões sobre o jornalismo cultural contemporâneo. Estudos de Jornalismo e Relações Públicas. Portal Metodista, São Paulo. 16 abr. 2004. Disponível em: https:// www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/CSO/article/ view/3871/3384. Acessoem 15 abr. 2018.
187
Sobre os autores
*** Bianca Bueno de Souza
Estudante de Jornalismo pelo Centro Universitário Metodista IPA. Atualmente, atua com Marketing de Conteúdo para mídias digitais. Acredita no potencial da comunicação para dar voz, para humanizar e formar cidadãos.
*** Édson Luís Dutra
Estudante de Jornalismo, no Centro Universitário Metodista – IPA, cursando o 7º semestre. Servidor público, colaborador da Revista Clandestina (Porto Alegre). Pesquisador de carnaval, com experiência na cobertura dos desfiles de Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.
*** Everton Calbar
Jornalista formado pelo Centro Universitário Metodista - IPA. Atuou como estagiário no Grupo Bandeirantes. Posteriormente, foi contratado pela mesma empresa onde exerceu as funções de produtor e repórter. Atualmente, é produtor na RDC TV.
188
*** Fabio Ramos Berti
Jornalista e Doutor em Educação em Ciências pela UFRGS. Coordenador do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista - IPA. Diretor de Jornalismo da RDCTV. Foi coordenador de comunicação do Comitê Gestor da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 - CGCopa/RS e chefe de gabinete da Secretaria Estadual do Esporte e do Lazer e diretor-geral da Secretaria Estadual da Ciência e Tecnologia. Atuou como assessor de imprensa no Palácio Piratini e na Assembleia Legislativa/RS, além de veículos de comunicação (rádio, TV, jornal e internet).
*** Gustavo Toledo Carus
Estudante de Jornalismo, no Centro Universitário Metodista – IPA, cursando o 7º semestre. Atualmente, é Social Media do Grupo Pampa de Comunicação. Entusiasta de jornalismo tecnológico, esportivo e de dados.
*** Léo Flores Vieira Nuñez
Jornalista, Mestre em Sociologia da Sociedade Industrial, Professor do Centro Universitário Metodista - IPA nas disciplinas de telejornalismo, documentário e redação jornalística. Chefe de reportagem no telejornalismo da TVE.
*** Maria Lúcia Patta Melão
Mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos, jornalista, professora do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista - IPA. Está na docência há mais de 15 anos e atua em veículo de comunicação, sendo funcionária concursada da Fundação Piratini, que congrega a TVE-RS e a rádio FM Cultura, as emissoras públicas do Rio Grande do Sul.
189
*** Moisés Machado
Jornalista pelo Centro Universitário Metodista - IPA. Supervisor de Edição na RDC TV. Esquerdista, antifascista, brizolista, gremista e torcedor do Olaria de Dom Pedrito. Enófilo e contista nas horas vagas. Um entusiasta de café com longas conversas e do jornalismo enquanto agente de transformação social.
*** Sandra Bitencourt de Barreras
Jornalista. Pesquisadora vinculada ao NUCOP - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Pública e Política da UFRGS e membro do Conselho Deliberativo do Observatório da Comunicação Pública. Doutora em Comunicação e Informação (PPGCOM) da UFRGS e Mestre em Comunicação pela Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha. Atualmente, é assessora de imprensa na Subsecretaria do Tesouro da SEFAZ-RS e professora dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Metodista – IPA.
*** Thiago Freitas Godoy
Estudante de Jornalismo no Centro Universitário Metodista - IPA. Cursando o 7º Semestre. Assistente de operações e Marketing na iNNOVEA Solutions. Entusiasta do Jornalismo Cultural com foco em cinema.
*** Valéria Deluca Soares
Doutora e Mestre em Comunicação Social. Jornalista. Coordenadora do Multiverso – Agências e Laboratórios Experimentais dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda. Professora no Centro Universitário Metodista – IPA. Atua na docência e na coordenação de espaços laboratoriais há 15 anos. Desempenhou atividades em veículos e em consultoria de comunicação, tendo 25 anos de formação e profissão.
190
*** Vivian Leal
Jornalista, formada pelo Centro Universitário Metodista IPA, e pós-graduanda em Jornalismo Esportivo pelo Centro Universitário Internacional (Uninter). Com passagem pela Rádio Guaíba, atuou com jornalismo esportivo e político. Na Camejo Soluções em Comunicação, atende clientes como Arena do Grêmio, Partido Novo e Federação Nacional das Empresas de Rádio e Televisão (FENAERT).
191
Nota dos Organizadores Os capítulos que compõem este livro foram redigidos pelo corpo discente, pelo corpo docente e por colaboradores e são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões contidas nos capítulos são a expressão das ideias de seus autores, que zeram a revisão nal dos textos e das referências. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa dos organizadores.