Jornal Mundo da Leitura nº. 20

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IMPRESSO

Mundo da Leitura

Jornal do Centro de Referência de Literatura e Multimeios - Ano VII - edição especial - 23 e 24 agosto de 2005 - Passo

Raul da ferrugem azul p.3

Programa Mundo da Leitura na TV Futura p.5

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Homenagens especiais: Erico Verissimo Hans Christian Andersen Miguel de Cervantes p.7 Show Pé com Pé p.9

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Hoje é festa lá no Circo da Cultura! Vai rolar uma bate-papo especial com escritores,poetas, artistas, músicos, contadores de histórias no Circo da Cultura! Já imaginou quem vai ser o mestre de cerimônias? Um palhaço? Um domador de feras? Um trapezista?Um malabarista? Não! O gato Gali-Leu, Natália e Mil-Faces estarão com você e com toda a galera que curte leitura, que vibra com música, que adora teatro, que se curva aos contadores de histórias, entre tantas outras linguagens. Você já assistiu ao programa Mundo da Leitura na TV? Então você conhece o gato GaliLeu, o gato leitor? Os escritores convidados especialmente para esta festa literária são malabaristas da palavra, do texto bem escrito, do texto diferente, inovador, criativo. Você certamente já se deu conta de que vamos tratar de um assunto muito legal: Diversidade cultural: o diálogo das diferenças. O cartaz da 3a Jornadinha, especialmente criado para este momento por Luiz Hofmann e Jéferson Cunha Lorenz apresenta um pirulito em que as cores, muito vivas, estão juntas mas não perdeu o seu matiz. Da mesma forma, vivemos num grande país em que as pessoas de diferentes regiões tem usos, costumes, tradições completamente distintas uma das outras. Tudo faz parte de um mesmo Brasil: o forró nordestino, a dança gauchesca; o churrasco feito à moda gaúcha e a carne de sol (carne seca, uma espécie de charque) apreciada no Nordeste brasileiro. Apreciamos os poemas em forma de “trova”, que surge do desafio entre dois cantores. Por ser um texto curto é publicado em papel bem simples e exposto em cordas para ser vendido. Os nordestinos curtem muito a literatura de cordel – uma espécie de poesia feita especialmente para ser recitada, portanto, oralmente, quase sempre acompanhada do som da viola, feita por “repentistas”, pessoas capazes de produzir versos de improviso sobre determinado tema.

Expediente Mundo da Leitura é uma publicação semestral do Centro de Referência de Literatura e Multimeios. Ano VIII - 3a Jornadinha Nacional de Literatura agosto/2005 - Curso de Letras - IFCH/UPF Coordenação: Tania M. K. Rösing

50 anos tinha cujo Alto, enxuto e bem forte Um grande madrugador E pra caçar tinha dote Conhecido por Quixada E depois veio o Quixote No Brasil e nos mais longínquos países do mundo, as pessoas apresentam características específicas, usos e costumes diferentes, tradições as mais variadas, hábitos alimentares inesperados. Essa diversidade não se constitui num problema para a comunicação entre os povos. Devemos valorizar o que típico de cada um, podemos , por isso mesmo, nos aproximar da cultura dessas culturas diferentes e vivenciar num clima de alegria, de companherismo, de paz. Paz entre os povos é o que mais desejamos. Outras surpresas para você: no Circo da Cultura a homenagens para três grandes escritores – Cervantes, Hans Cristhian Andersen e Érico Veríssimo. O poeta Paulo Becker criou uma belíssima letra para ser cantada por todos nessa festa literária: Certo dia, Cervantes Numa prisão da Espanha Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um cavaleiro Feito pra sonhar Cervantes criou o personagem D. Quixote, um cavaleiro medieval que correu o mundo sobre o cavalo Rocinante, muito alto, muito magro, cheio de sonhos para fazer o mundo melhor. Criou também o personagem Sancho Pança, um ordenança baixo, gordo, que acompanhava D. Quixote, andando num burrinho, em suas lutas, em seus sonhos, mesmo não sendo entendidos por onde passavam. Prossegue a letra da música: Certo dia, Andersen Na fria Dinamarca Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um soldado Feito pra amar

O soldadinho de chumbo é personagem de um conto escrito por Andersen onde a maior mensagem é a importância do amor. Diz ainda o poeta: Certo dia, Verissimo Com saudades do pampa Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um capitão Feito pra cantar O capitão Rodrigo e personagem de “O tempo e o vento”, que a maior obra escrita no Rio Grande do Sul por Erico Verissimo. Conta a história do povo gaúcho em diferentes séculos, destacando através de personagens, o caráter de homens e mulheres que construíram a historia do povo sul-rio-grandense. Assim, amigo leitor, estimada leitora, curta muito essa festa no Circo da Cultura. Vai rolar muito livro, música, teatro, esposições, contação de histórias, leitura de múltiplas linguagens. Temos a certeza de que você não será mais o mesmo após a 3a Jornadinha nacional de Literatura. Quem vivencia um clima cultural tem o desejo de realizar sonhos e atuar de forma efetiva para garantir a identidade de cada região, de cada povo garantir a identidade de cada região, de cada povo trabalhando pela paz. A leitura das diferentes linguagens existentes em diferentes manifestações culturais garante essa paz que todos desejamos. Nossos bravos heróis Dom Quixote da Mancha Soldadinho de chumbo E capitão Rodrigo Todos vão cruzar contigo No chão de Passo Fundo Abre o livro e vem comigo Nessa grande aventura Vem que é muito divertido O universo da leitura Tania M.K.Rösing Coordenadora geral das Jornadas Literárias

Jornalista Responsável: João Carlos Correspondência:

Tiburski - Reg. prof. 6.626-28-36

Centro de Referência de Literatura e Multimeios

Universidade de Passo Fundo

Campus I - km 171 - BR 285 Bairro São José - CEP 99001-970

Reitor: Rui Getúlio Soares Vice-Reitora de Graduação: Ocsana Sonia Danyluk

Conselho Editorial: Professores das áreas de Literatura do curso de Letras: Adriano Teixeira, Eládio Weschenfelder, Fabiane Burlamaque, Miguel Rettenmaier, Paulo Becker, Tania M. K Rösing.

Passo Fundo/RS Contato: Telefone: (54) 316-8148 E-mail: leitura@upf.br Home-page: mundodaleitura.upf.br

Editora responsável por esta edição:

Revisão: Maria Emilse Lucatelli

Comunitários:

Elisângela de F.F de Mello e Nedi Mello dos Santos

Arte de capa e diagramação: Antonio Brezolin

Marisa Potiens Zílio

Monitores: Antonio Brezolin, Elenita de Araújo, Eliana Leite, Eliana Teixeira, Elisângela de Mello, Gabriela Luft, Lisiane Vieira, Luciano Rien, Marcos Deon, Nedi dos Santos, Rafael da Silva.

Impressão: Gráfica UPF

Vice-Reitor Administrativo:

Fotografia: Arquivo Jornada de Literatura

Nelson Germano Beck

Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Carlos Alberto Forcelini Vice-Reitora de Extensão e Assuntos

Artur Ferrão Tiragem: 6.500 exemplares

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Ana Maria Machado e Gabriel Costa Ana Maria Machado escreveu o livro Raul da ferrugem azul, no tempo em que o Brasil vivia na ditadura. Nessa época as pessoas tinham medo de reagir a todas as injustiças que estavam acontecendo no país. Até mesmo os melhores jornalistas do país não tinham coragem de reclamar contra a censura. Assim surgiu a idéia das ferrugens do menino Raul, ele percebe um dia que existem manchas azuis esquisitas no braço, mas não sabe o que fazer. Pergunta para os pais, amigos, mas ninguém vê as manchas. Preocupado com as manchas que começam a se espalhar pelo corpo, o personagem principal busca a cura para as manchas azuis que apareceram em seu braço, depois de ter se acostumado a não reclamar das coisas que o incomodavam. Você já percebeu que a história do Raul é muito legal, pois é, Gabriel Costa quando ainda era adolescdente leu a história e teve uma idéia: fazer um filme. Ele conversou com a escritora Ana Maria Machado, falou sobre o seu sonho de ser cineasta e pediu para ela reservar o direito de fazer o filme. A escritora pediu como garantia um roteiro, Gabriel conseguiu impressionar pela sensibilidade e criatividade do texto, e é claro ganhou o direito para fazer o filme. Passaram-se anos até que Gabriel se tornasse cineasta e para que o filme saísse do papel. Mas o objetivo virou realidade, Raul da Ferrugem Azul virou um média-metragem com trilha sonora do grupo Biquíni Cavadão e através das cenas do filme a história do livro ganha um jeito novo nas paisagens da favela, sem perder a idéia principal sobre as injustiças que acontecem a nossa volta e que às vezes ficamos calados.

Bia Hetzel A verdade sempre aparece

Saiba mais: www.anamariamachado.com.br www.cinescope.com.br

Roger Mello A vida no mangue

Saber a verdade é questão fundamental para confiar nas pessoas, isto é, para acreditar que as coisas são exatamente como as percebemos e que o que as pessoas nos dizem é correto. Imagine você com um amigo que às vezes mente. Quando ele conta uma história, você fica pensando se ela é real, ou se não passa de uma lorota. Falar a verdade é o compromisso que temos com as pessoas que estão ao nosso redor, até porque, se começarmos a inventar histórias que não existem, mais cedo ou mais tarde, seremos questionados sobre nossas atitudes, como dizem os ditados “A mentira tem pernas curtas” e “A verdade sempre aparece”. Seria bacana se alguém de quem você gosta muito te perguntasse sobre uma mentira que você contou? Com certeza você ficaria vermelho, de boca fechada, como se tivesse engolido um jacaré, com uma enorme vergonha. No livro O dono da verdade, de Bia Hetzel, o personagem principal está em busca da verdade. Será que ele vai encontrar? Isso você só vai descobrir lendo o livro, mas um detalhe: para encontrar a verdade é preciso identificar o que é mentira. Enquanto você procura a verdade, vai encontrar no livro ditados populares que a autora utilizou para deixar o texto mais interessante. Os ditados populares são expressões com exemplos morais, filosóficos e religiosos que constituem uma parte importante de cada cultura.

Procurando uma locação para o vídeo O ciclo de caranguejo, do cineasta Adolfo Lachtermacher, Roger Mello teve a idéia de escrever sobre o mangue. Observando os meninos de um manguezal chamado “Ilha de Deus”, em Recife, conheceu as histórias, o estilo de vida e um pouco da cultura dessas pessoas que convivem diariamente com o recuo da maré. Os manguezais são ecossistemas importantes para o equilíbrio ecológico. Devido à alta salinidade são poucas espécies que conseguem sobreviver neste habitat. Do mesmo modo, as espécies de plantas presentes no manguezal teriam dificuldades de sobreviver em outro ambiente. Quem mora no mangue tem o dia dividido conforme a maré: quando ela baixa, é hora de pegar caranguejo; quando sobe, podese pescar. As pessoas que moram nessas localidades vivem em habitações diferentes das que moram em locais secos. Residem em palafitas, construções que ficam com as estruturas imersas na água, apropriadas aos avanços e recuos da maré. No livro Meninos do mangue as aventuras são narradas por “Preguiça”, personagem que, ao lado da “Sorte”, permite-nos conhecer as histórias que envolvem os meninos do mangue. As nove histórias são enriquecidas por ilustrações do próprio autor: uma nova ilustração, que enriquece a história, trabalhando com pintura e colagens de diferentes materiais. Roger Mello complementa o texto e revela um pouco da história, da cultura e do cotidiano de um povo que depende do mangue para sobreviver.

HETZEL, B. O Dono da Verdade. Rio de Janeiro: Manati, 2002. www.manati.com.br

MELLO, R. Meninos do Mague. São paulo,Companhia das Letrinhas,2001.

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Ricardo da Cunha Lima Labirintos

Feitos de cerca-viva, os labirintos adornam parques e nos remetem a diversão. Ao ver um labirinto de vegetais surge a vontade de explorá-lo, de percorrer os seus corredores e encontrar a saída. No entanto, quando estamos em cidades grandes, entramos num imenso labirinto de ruas. Andar nessas ruas pode muitas vezes levar a caminhos que não queríamos percorrer. Então, o labirinto deixa de ser diversão. Afinal de contas, ninguém gosta de estar perdido. Os mistérios dos labirintos não param por aí. Os videogames são verdadeiros labirintos. Quando se inicia o jogo, entra-se numa aventura. A cada fase que avançamos, estamos num novo corredor do labirinto e só achamos a saída quando vencemos o jogo. A forma mais moderna, hoje, de labirinto é a internet. Através de inúmeras telas, o usuário vai percorrendo novos caminhos e pode até se desviar do objetivo inicial da navegação, ficar perdido por outros corredores atraentes que a rede oferece. Mas quem pensa que os labirintos foram inventados no século passado se engana.Os primeiros labirintos foram construídos no Egito no período do Antigo Império, para impedir o acesso aos tesouros de pessoas indesejáveis e dificultar a entrada nas tumbas onde eram colocados os corpos dos mortos. A lenda mais famosa sobre labirinto é a Lenda do Minoutauro. Contam que de um romance entre a esposa do rei Minos e um touro nasceu um Minotauro, estranha criatura com corpo de homem e cabeça de touro. Para aprisionar o monstro, o rei Minos pediu para Dédalo construir um labirinto em Creta. Diz a lenda que, uma vez ao ano, jovens atenienses eram encaminhados para a ilha de Creta, onde eram oferecidos ao terrível monstro que os devorava implacavelmente. Ricardo da Cunha Lima criou o labirinto abaixo.Conheça o texto e depois divirta-se tentando encontrar a saída.

LIMA, R. da C. Cambalhota. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2003.

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Daniel Munduruku Índio dedica sua vida a resgatar a cultura dos mundurukus

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pessoas através de saus livros e das palestras que realiza nas escolas. Contando e escrevendo sobre sua tribo, Daniel garante que a história de sua cultura fique registrada e não se perca com o passar dos anos. Vamos conhecer a história e o significado do nome munduruku?

Munduruku

Rio com águas límpidas, um aglomerado de casas cobertas de palha, árvores, rede para dormir, crianças correndo peladas pela aldeia. Uma grande fogueira no centro da aldeia, onde a tribo se reúne ao final da tarde para comer, cantar e dançar em volta do fogo. Essa descrição faz parte de nossa imaginação. Quando existiam somente os índios nessas terras, podíamos dizer que a descrição talvez fosse verdadeira. Hoje em dia são raras as aldeias que conseguem resistir às transformações da sociedade. A pele, o cabelo, os traços e os costumes revelam que são índios, porém eles aceitaram alguns confortos dos homens brancos: uma casa para cada família, camas ao invés de redes e roupas compradas em lojas. Aprendem a língua e histórias de sua cultura e também estudam matemática, português e ciências. Muitas tribos têm escolas dentro da própria aldeia. O importante, em meio a todos esses avanços da sociedade, é garantir que a riqueza cultural de cada povo seja preservada. Daniel Munduruku é um índio que dedica sua vida a resgatar a cultura dos mundurukus e a transmiti-la a outras

Conta a história do Brasil que os mundurukus formavam um povo muito poderoso e guerreiro. Sua fama de caçadores de cabeça corria pelos estados do Pará e do Mato Grosso. O ruído que faziam com os pés quando saíam em grupo para expedições de caça e pesca, ou para a guerra, conferiu-lhes o apelido de “formigas grandes”( tradução da palavra munduruku), fazia tremer os inimigos, que saíam em desabalada carreira. Eram também conhecidos como “caras-pretas”, pois tinham o costume de tatuar as faces de preto. Sua valentia era tamanha que participaram de várias revoltas populares no estado do Pará e chegaram, mesmo, a ter cidades inteiras sob seu domínio. É claro que as autoridades não gostavam disso e mandaram tropas militares para impedir os avanços dos mundurukus. Nessas batalhas, os “caras-pretas” quase sempre saíam vitoriosos, pois conheciam melhor a região. Assim, os donos do poder continuaram a enviar tropas cada vez mais numerosas e, numa dessas batalhas, os mundurukus finalmente acabaram vencidos. Depois disso, foram “pacificados” pelos “brancos” e se renderam aos encantos do mundo não indígena. Corria o século XVll quando esses índios foram vistos pela primeira vez...

Ricardo Silvertrin

Gali-leu e sua turma em tiras

Planeta samba

O vento assobia a árvore requebra O mar balança. no planeta samba, todo mundo tem gingado.

(Formigas gigantes )

Fonte: www.danielmunduruku.com.br/historias.html

A turma do programa Mundo da Leitura aparece agora, também, nas tiras de Dia de gato. Gali-Leu, Borralheira, MilFaces, Nati, Ratazana e Reco-Reco convidam os leitores jovens e ultrajovens a viajar pelos labirintos da literatura, pelos espelhos do sonho e (por que não?) pelas ruas e becos da realidade. Embarque você também nessa viagem.

A chuva batuca, o rio desfila, a nuvem dança. No planeta Samba, todo mundo é bem chegado.

SILVESTRIN, R. Pequenas observações sobre a vida em outros planetas. São Paulo: Salamandra, 2004.

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O programa educativo Mundo da Leitura, direcionado à formação e ao entretenimento dos leitores ultrajovens será veiculado em todos os estados do Brasil. A partir do mês de outubro, você poderá conferir as aventuras do gato GaliLeu e sua turma no canal Futura. A condução do programa é feita pelo Gali-Leu, o gato leitor, com a participação da Natália, do Mil-Faces, da Borralheira e, mais recentemente, dos vilões Ratazana e Reco-Reco.

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Homenagens Especias 100 anos de Erico Verissimo Nasceu em 1905 na cidade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Filho de uma família tradicional, mas com dificuldades financeiras, Verissimo exerceu várias profissões na juventude, desde ajudante no comércio até desenhista na imprensa gaúcha. Erico também trabalhou na Livraria do Globo e, quando escrevia um livro para crianças, contava as histórias aos filhos do dono da livraria, Henrique Bertaso. Se as crianças gostavam da história, era porque ela era boa e podia ser publicada. E a história era publicado pelo próprio Bertaso, que era seu editor. Assim, as histórias infantis de Erico Verissimo viravam publicações e todos podiam ler. Entre os livros infantis estão A aventura do avião vermelho, As aventuras de Tibicuera. Contam que o nome “Tibicuera” surgiu do apelido que a mãe lhe dera. Na música da 3a Jornadinha Nacional de Literatura lembramos outro personagem de Erico Verissimo, capitão Rodrigo, personagem de Tempo e o vento que lutou em várias batalhas e ainda enfrentou conflitos entre duas famílias, Terra Cambará e Amaral.

Caminhos Cruzados ruzados Certo dia, Cervantes Numa prisão da Espanha Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um cavaleiro Feito pra sonhar Certo dia, Andersen Na fria Dinamarca Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um soldado Feito pra amar Certo dia, Verissimo Com saudades do pampa Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um capitão Feito pra cantar Nossos bravos heróis Dom Quixote da Mancha Soldadinho de chumbo E capitão Rodrigo Todos vão cruzar contigo No chão de Passo Fundo Abre o livro e vem comigo Nessa grande aventura Vem que é muito divertido O universo da leitura Música Oficial da 3a Jornadinha Nacional de Literatura Letra: Paulo Becker Música: Pedro Almeida

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200 anos de Andersen Hans Christian Andersen nasceu em abril de 1805, em Odense, e faleceu em agosto de 1875. Filho de pai sapateiro e mãe lavadeira, Andersen ouviu histórias desde criança através da leitura que seu pai fazia da Bíblia e das Mil e uma noites. Ficou órfão muito jovem e, mesmo com dificuldades para garantir sua educação, não desistiu do sonho de estudar. Aos quatorze anos, saiu de casa, na pequena cidade de Odense, e foi sozinho tentar ganhar a vida em Copenhague, onde a riqueza de reis e nobres contrastava com a extrema pobreza dos trabalhadores. A sua habilidade para escrever deulhe uma chance para estudar e, depois desse impulso, Andersen não parou mais. Escreveu peças de teatro, canções patrióticas, contos, histórias, e, sobre tudo, contos de fadas, pelos quais é mundialmente conhecido. O sonho de ser artista não foi alcançado, no entanto Andersen conseguiu algo mais valioso. Brinquedos, animais, objetos tornaram-se um bom tema para pôr em confronto os sentimentos humanos, o bem e o mal, o belo e o feio. Mesmo depois de duzentos anos, as pessoas lêem e contam as histórias como Soldadinho de chumbo, A pequena sereia, A princesa e o grão de ervilha e O patinho feio. Quais dos contos de Andersen você conhece? Quais deles você já sabe contar?

400 anos de Dom Quixote Miguel de Cervantes e Saavedra nasceu em Alcalá de Henares na, Espanha. Filho de médico, passou a sua infância viajando de uma cidade para outra junto com a sua família, em busca de emprego para o pai. Com 21 anos, Cervantes foi estudar em Madri, porém alistou-se no exército e foi convocado junto com seu irmão para lutar na batalha naval de Lepanto. Miguel de Cervantes sobreviveu à luta, mas perdeu a mão esquerda. Quando estava voltando da guerra, foi capturado e ficou cinco anos vivendo como escravo, até sua família ter condições de pagar pela sua libertação. A tradição conta que, após ter voltado, Cervantes resolveu escrever, e uma das obras que publicou, Dom Quixote, fez com que Cervantes fosse conhecido no mundo todo. É impossível pensar em Miguel de Cervantes sem pensar em Dom Quixote, cavaleiro que sai pelo mundo para defender os pobres e corrigir o mal. Mesmo com roupas simples, sem dinheiro e com pouca comida, Dom Quixote não está sozinho em suas andanças. Como um cavaleiro que se preze, ele tem seu cavalo, Rocinante, e um servo, Sancho Pança. Mas não se iluda, o cavalo Rocinante não é um bom cavalo de montaria e o servo Sancho Pança continua a ser fiel ao seu senhor porque sonha em ter fama e fortuna. A aventura desses três personagens já dura quatrocentos anos, mas, para descobrir o que há neles de tão especial, só lendo para saber.

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MEMÓRIA FOTOGRÁFICA DA 2ª JORNADINHA NACIONAL DE LITERATURA

Show de abertura

Show “As noites da minha aldeia” - Gicopoa

Espetáculo teatral “Diga sim à vida” - Turma da Mônica

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Ângela Lago e Bartolomeu Campos Queirós conversando com crianças

Eva Furnari, Gustavo Finkler e Roberto Pereira dos Santos na sessão de autógrafos

Marcelo Carneiro da Cunha e Márcia Kupstas conversando com crianças.

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Carlos Urbim

Viagem de volta ao passado

Está achando difícil fazer uma viagem ao passado, pois então leia o livro Goma Arábica de Carlos Urbim, no livro o autor escreve sobre memórias da sua infância, fala sobre fatos e pessoas que você pode não conhecer. E aí que é o legal da história porque não sabendo sobre o que o autor escreveu dá uma vontade de saber mais sobre o assunto então é só perguntar para todo mundo, avô, avó, mãe, pai, tio, tia... E se mesmo assim não conseguir descobrir tudo então pesquise nos livros, na Internet convide um amigo para fazer a pesquisa junto e irem em busca das raridades descritas no livro. A obra inicia contando sobre os álbuns de figurinhas que existiam por volta de 1950, detalhe as figurinhas não eram autocolantes, como agora, então os colecionadores colavam suas figurinhas nos álbuns com goma arábica e termina falando sobre o exame de admissão do ginásio. Os espertos não pensem que goma arábica é a mesma utilizada nos doces industrializados. Goma arábica, naquela época era uma cola gosmenta que se não fosse usada com cuidado deixava uma meleca grudenta por todos os lados. Era um tempo em que não existia cola plástica ou cola em bastão e se faltasse goma arábica, bom a solução era fazer cola caseira com farinha de trigo e água morna que depois de seca no papel deixava as páginas duras. Ah! Enquanto você vai lendo o livro pode ir colando nos espaços vazios, no corpo da obra, as figurinhas encartadas num pôster, o livro é ilustrado pela artista plástica Maria Tomaselli, que fez todo um projeto gráfico para obra. E se você quiser saber mais sobre o trabalho da ilustradora acesse: www.mariatomaselli.cjb. net

Caça - Palavras Procure os títulos dos livros indicados na 3a Jornadinha Nacional de Literatura que estão em destaque.

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Elias José

Um jeito bom de brincar

1 - Brinquem com a palavra MARAVILHAS, escrevendo-a de várias maneiras, usando letras diferentes, cores de lápis variados. Façam a palavra se movimentara na página, ganhar vida, voar, brincar. 2 - Em grupos, vejam quantas palavras conseguem levantar apenas com as letras da palavra MARAVILHAS, podendo dobrar r e s. Numere cada palavra. 3 - O grupo que levantou mais palavras fará uma leitura clara das mesmas. Os demais acompanharão e anotarão as que não estão em suas listas. 4 - Agora vejam como escrevi este poema: MARAVILHAS Nas letras da palavra MA RA VI LHAS, há amar, vila e milhas. E há os nomes de Maria Mara, Marília e Mila. Na mesma palavra, Não quero ver: má, raiva, vil e ira. As minhas melhores MA RA VI LHAS, ar, mar, ramas e ilhas. O poema se encontra no livro O que se vê abecê, editora Paulus. 5- Individualmente ou em grupo, com as palavras levantadas e outras de ligação ou acréscimo, criem poemas MARAVILHAS. 6- Façam cartazes com os poemas, ou leituras expressivas, individualmente ou em dupla, trio ou grupo.

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BEIJOS MÁGICOS CAMBALHOTA COISAS DE ÍNDIO DE OLHO NOS BICHOS

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GOMA ARÁBICA NASRUDIM O PORCO VIZINHO VIZINHA JORNADINHA

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Todos sabem que é muito bom ler para conhecer outras histórias, aprender sobre diferentes assuntos, mas ouvir uma história também é divertido. A idéia do grupo é contar histórias de um jeito diferente, mas com o intuito de fazer com que as pessoas conheçam diferentes histórias e sintam vontade de ler. O grupo do Rio de Janeiro utiliza tapetes coloridos para contar as histórias, por isso o nome Os tapetes contadores de histórias. O grupo existe no Brasil desde 1998, mas a idéia de contar histórias surgiu na França com a educadora Clotilde Hammam e seu filho, o contador de histórias e artesão Tarak Hammam. No início, o grupo só utilizava os tapetes vindos da França e confeccionados por Hammam. Depois começam a criar seus próprios tapetes para contar histórias brasileiras. Hoje em dia, estão pesquisando e criando outros materiais para contar histórias. Embarque no tapete e conheça histórias de outros povos e também de autores brasileiros que o grupo Os Tapetes Contadores de Histórias vai contar. Assim você conhece outros textos e vai construir um repertório de histórias e se divertir.

www.tapetescontadores.com.br

Show Pé com Pé Você já ouviu uma dupla de músicos que faz você sentir curiosidade, vontade de cantar, pular, brincar e, quando está com sono, você tem vontade de escutar para dormir gostoso? Difícil, talvez, mas não impossível. Os músicos Paulo Tatit e Sandra Peres têm como objetivo criar músicas de qualidade; por isso, cada música recebe tratamento indivídual, havendo preocupação com a letra, com os arranjos e a interpretação. Desenvolvendo um trabalho diferenciado, já ganharam diversos prêmios. O selo Palavra Cantada já existe desde 1994, ano em que foi lançado o primeiro CD da dupla. Depois, eles não pararam mais, sempre preocupados em criar canções divertidas, algumas que resgatam a cultura do pais, outras que trazem histórias musicadas, formando um repertório. O mais novo Show é o Pé com Pé, que reúne ritmos de diferentes culturas do Brasil e promete colocar todo mundo para cantar e dançar. Isso mesmo, dançar! O show faz uma viagem pelo país. No repertório há música para cantar, dançar e, por que não, aprender a tocar. O álbum é duplo: no primeiro CD, Pé com pé, são apresentadas quinze novas canções; no segundo, Pé na cozinha, as mesmas canções são reapresentadas com as bases instrumentais em primeiro plano. O projeto Pé com Pé acredita que “assegurar nossa tradição musical nas atividades cotidianas das crianças é assegurar nossa identidade num futuro próximo”. A canção a seguir, que tem o ritmo do Senegal, faz parte do CD Pé com pé. Vamos conhecê-la?

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O que é o que é ? Não desgruda do seu pé Cresce, engorda, estica Vou te dar mais uma dica Não tem cheiro nem sabor Não tem peso nem valor Não tem brilho mais se vê Não consegue se esconder Caminhando pelo chão Anda sem lhe dar a mão E na sua brincadeira É supercompanheira O que é o que é Se parece com você Tem até um gesto igual Mas é bidimensonal www.palavracantada.com.br

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Show Max B.O Max B.O. é um rapper que faz rap de improvisação (freestyle). Começou a improvisar letras de rap quando animava festas e quando fazia letras de rap sem escrever. Max é filho de nordestinos, tem em sua cultura a herança musical do repente e cria seu rap. Durante os shows, utiliza a idéia de improvisação do repente e faz rap. Mas não pense que ele já vem com os temas prontos para cantar. A maioria das músicas surgem na hora de acordo, com os pedidos do público. Ao fazer rimas com o número do RG

Joaquim de Paula Utilizando fantoches e instrumentos musicais, Joaquim de Paula conta histórias divertidas. Em algumas histórias ele resgata elementos da cultura popular e cria personagens que ficam na imaginação dos espectadores. Sem dúvida, a técnica e a performance de Joaquim encantam o público. Sua disposição de interagir com a platéia, a maneira como narra as histórias aguçam a imaginação e quem o escuta cria as cenas mentalmente. Em meio a risos e olhos arregalados o contador vai despertando o interesse pela leitura, surge a curiosidade de conhecer o texto de perto e, até, de contar para outras pessoas. Para enriquecer ainda mais as histórias, o artista, com a sua rabeca, imita a voz humana e, com a sanfona, toca músicas que tornam as histórias mais divertidas

Você Sabia ?

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e, ainda, informar a hora certa através de versos, ele revela seu talento e garante a denominação de melhor MC no desafio de rimas. Quem pensa que o rap é um ritmo novo, fique sabendo que surgiu na década de 1970 nos Estados Unidos, mais especificamente nos bairros pobres de Nova Iorque. É um gênero musical com batidas rápidas e aceleradas. As letras são em forma de discurso, com muita informação e pouca melodia. No Brasil o rap chegou na década de 1980, porém se tornou logo popular como o é hoje. Na época as pessoas achavam que essa era uma música muito violenta. Porém, os anos passaram e o preconceito foi vencido. Agora o rap está presente em shows e festivais. Inclusive, a primeira apresentação oficial de Max B.O. para um grande público foi no festival Dulôco 99 (o maior festival de hip hop de SP). Mesmo com a improvisação durante os shows, Max B.O. garante a essência do rap, denunciando as injustiças vividas pelos pobres das grandes cidades.

Adivinhas 1. O que é ? O que é ? Que tem luz e só vive no escuro? 2. O que é ? O que é ? São três irmãos o primeiro já morreu , o segundo vive conosco e o terceiro ainda não nasceu? 3. O que é ? O que é ? Altas varandas, formosas janelas que abrem e fecham, sem ninguém tocar nelas? 4. O que é ? O que é ? No campo se criou vestida de verdes laços e quem mais chora por ela e quem lhe faz em pedaços? 5. O que é ? O que é ? Que está andando mesmo quando está parado? 6. O que é ? O que é ? Que vive pra lá e pra ca, bate e corre. Pode abrir e fechar sem nunca sair do lugar? Respostas. 1.vaga-lume - 2.passado, presente, futuro - 3.olhos 4.cebolas - 5.relógio - 6.porta

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Que Daniel Monteiro é o nome que consta nos documentos do autor Daniel Munduruku? Que o livro Rosalina, a pesquisadora de homens foi a obra que marcou a estreia de Bia Hetzel como autora de livros para crianças? Que Joaquim de Paula, além de contar historias, também escreve livros? Que a autora Ana Maria Machado aprendeu a ler sozinha e suas leituras preferidas eram o almanaque Tico-tico e os livros de Monteiro Lobato? Que o autor Ricardo Silvestrin, além de poeta, também desenvolve um trabalho com música e já foi vocalista de uma banda? Que o autor Carlos Urbim, quando era criança, lia e colecionava gibis que depois ele trocava na porta do cinema? Que o autor Elias José, quando era criança, gostava de escutar as histórias que a sua avó contava? Que o autor Ricardo da Cunha Lima se formou na faculdade de cinema? Que a autora Regina Machado é uma contadora de histórias e gosta de estudar as histórias que o povo conta? Que o autor Roger Mello também é artista plástico? Que Sandra Perez e Paulo Tatit trabalham juntos desde 1989? Que o nome de batismo de Max B.O. é Marcelo? Que o filme Raul da ferrugem azul , dirigido por Gabriel Costa, tem trilha sonora do grupo Biquíni Cavadão?

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Cruzadinha 1. Nome da rua em que moram os personagens do livro Vizinho, vizinha, de Roger Mello __________ 2. Personagem do livro Vaidade no terreiro, de Elias José, que é considerado o rei do canto __________ 3. Ricardo __________ é o autor do livro Pequenas observações sobra a vida em outros planetas. 4. Como ela é conhecida da formiga Aurélia, foi junto com ela ver a sua descoberta.Importante: ela é uma formiga que curte escutar walkman.Qual o nome dela? __________ 5. Baseado no livro Raul da ferrugem azul, de Ana Maria Machado, ele criou um filme.Ele é __________ Costa. 6. Ricardo da Cunha Lima, no final dos livros De cabeça pra baixo e Cambalhota, colocou um manual sobre _________ 7. Pipo, o personagem principal do livro Balas, bombons e caramelos, de Ana Maria Machado, é amigo de todos os animais. Que bicho é Pipo? __________ 8. Instrumento musical utilizado por Joaquim de Paula durante a contação de histórias. __________ 9. Algumas vezes diziam que ela era grande para fazer algumas coisas, outras diziam que ela estava agindo como bebê. Ela é personagem do livro Bem do seu tamanho, de Ana Maria Machado, Quem é ela? __________ 10. Ele nasceu em Santana do livramento e é autor do livro Diário de um guri. O nome dele é Carlos __________ 11. Pescador experiente do livro Tem aiaiá em Itaipu, de Bia Hetzel. Ele é o mestre __________ 12. O álbum Pé com pé é composto por dois CDs, um é o Pé com pé e o outro é o Pé na __________ 13. Formigas __________ é a tradução da palavra munduruku. 14. Anima a platéia fazendo rimas de improviso. Ele é o __________ 15. O grupo utiliza __________ artesanais como suporte lúdico para contar histórias.

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A divisão da galinha Um vez Nasrudim foi convidado para jantar na casa de um rico mercador de tapetes, chamado Abdul Kasim. O homem recebeu o mulá na sala, cheia de objetos finos e caros, e não parou para falar um minuto. Mas ele falava só de si mesmo e do seu sucesso: - Você sabe, eu sou o melhor mercador da cidade, o melhor chefe de família também. Sou a cabeça desta casa, e minha mulher, bem, é a melhor do mundo, é quem nos mantém todos juntos na nossa família. E minhas filhas, sabe, uma é o braço direito, a outra o braço esquerdo da mãe. Agora, meus dois filhos, esses vão tomar o lugar quando eu ficar velho. Nossa família já começa a depender deles para o seu sustento. Nasrudim só escutava, com toda a paciência, aquele discurso interminável. O tempo foi passando, e a sua fome aumentando. Finalmente, todos se sentaram para jantar. No meio da mesa estava uma travessa de cobre com uma pequena galinha assada. O dono da casa pediu ao mulá que fizesse a divisão das partes da ave, já que ele era o convidado de honra. Nasrudin levantou-se e fincou o garfo na galinha dizendo: - Muito bem. Como cabeça desta família, Abdul Kasim vai receber a cabeça da galinha.- E, com um sorriso inocente, depositou a parte cortada no prato do espantado mercador. - Sua mulher, como você repetiu várias vezes, é o que mantém todos juntos. Nada melhor para ela do que o pescoço da galinha, que mantém juntos sua cabeça e seu corpo. E continuou: - Agora, para as suas adoráveis filhas, que partes eu vou dar? Ora, como elas são o braço direito e o braço esquerdo da mãe, cada uma vai receber uma asa de galinha. Em seguida, Nasrudin cortou os dois pés da ave e deu um para cada filho do mercador, explicando: - São eles que suportam todo o peso da galinha, que a sustentam, e vocês dois estão se tornando os responsáveis pelo sustento da família. E concluiu, com um suspiro, enquanto passava o pedaço bom da galinha para seu próprio prato: - Pois é, não sobrou nada, a não ser o corpo e as coxas. Distribuí todas as partes importantes para vocês. Foi uma divisão cuidadosa, bem pensada, cada parte com um significado especial para cada um da família. Mas eu sou apenas uma pessoa sem importância. O que sobrou da galinha é mais do que suficiente para mim. Nasrudim é o herói popular mais famoso da Turquia, onde é conhecido como “Nasreddin Hoca”. Hoca é um título que significa “mestre” na língua turca. Em árabe”mestre” é mawla, que aparece escrito como mulla na maior parte dos livros ocidentais publicados com os contos de Nasrudin. Em português ficou mulá. MACHADO, R. Nasrudin. São Paulo: Companhia das Letrinhas.

Outros livros da autora:

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