Mundo da Leitura
Jornal do Centro de Referência de Literatura e Multimeios - Ano XII - edição especial - outubro de 2009 - Passo Fundo - RS
Presença confirmada de grandes conferencistas na 13ª Jornada Nacional de Literatura Pág. 5 Entrevista com Pedro Bandeira 13ª Jornada oferece ampla Pág. 3 programação paralela Pág. 14
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Passo Fundo, outubro de 2009 - Ano XII
Editorial ...10, 11, 12, 13 Jornadas Nacionais de Literatura! São 28 anos de movimentação cultural permanente. Quando tivemos a ideia de realizar a 1ª Jornada de Literatura SulRio-Grandense, em 1981, não podíamos imaginar que a trajetória dessas Jornadas seria tão longa, com tantos desdobramentos mais que significativos, inovadores pela formação de cidadãos leitores, numa perspectiva multimidial. Marcaram presença Josué Guimarães, Mário Quintana, Moacyr Scliar, Cyro Martins, Antônio Carlos Rezende, Armindo Trevisan e dois jovens escritores, Sérgio Capparelli e Deonísio da Silva. Em sequência realizou-se o Seminário Regional do Congresso de Leitura , promovido pela Associação de Leitura do Brasil, em 1982, realizado no Cine Teatro Pampa e, à noite, no interior da Catedral Nossa Senhora Aparecida. Em 1983, a 1ª Jornada Nacional de Literatura, com a bênção dos escritores Antônio Callado, Otto Lara Rezende, Millôr Fernandes, Luis Fernando Verissimo, Fernando Sabino, Lya Luft e o próprio Josué. A partir de 1984, com a participação da Universidade de Passo Fundo no Programa Salas de Leitura, promovido pela Fundação de Assistência ao Educando – FAE – do Ministério da Educação, foram instaladas, na região de abrangência da UPF, 1 123 salas de leitura, posteriormente fechadas no governo Collares. Paralelamente, começamos a receber o projeto Encontro Marcado, patrocinado pela IBM Brasil, que consistia na apresentação de um vídeo sobre vida e obra de um escritor brasileiro, seguida de uma conferência presencial com esse autor. Aqui estiveram Rubem Braga, Oswaldo França Júnior, Fernando Gabeira, Thiago de Mello, Márcio Souza, Ferreira Gullar, Ignácio de Loyola Brandão, Ziraldo, entre tantos outros. Acrescentaram-se cursos à programa-
Expediente Mundo da Leitura é uma publicação do Centro de Referência de Literatura e Multimeios. Ano XII – edição especial 13ª Jornada Nacional de Literatura – outubro/2009 – Passo Fundo – RS – Curso de Letras – IFCH/UPF Coordenação: Tania M. K. Rösing Conselho Editorial: Professores Adriano C. Teixeira, Eládio V. Weschenfelder, Fabiane V. Burlamaque, Miguel Rettenmaier, Paulo Becker e Tania M. K. Rösing Editor responsável por esta edição: Bruno Philippsen Texto: Bruno Philippsen, Natane Rangel e Valéria Sumye Milani
ção das Jornadas. Mudaram-se os espaços para a sua realização: do auditório da antiga Reitoria, passando pelo Play Center do Clube Recreativo Juvenil, pelo Ginásio de Esportes da Associação Atlética Banco do Brasil e daí, para o Circo da Cultura, espaço de celebração da infância, da literatura, das artes em toda a sua diversidade, onde se realizam até hoje. Ampliaram-se nossas relações com mais escritores, mais poetas, mais pesquisadores, muitos artistas; participamos de inesquecíveis shows musicais, de espetáculos teatrais de grande qualidade, de exposições de arte organizadas com muita sensibilidade estética. Muitos livros e materiais de leitura inovadores surgiram na Feira do Livro, que acontece paralelamente à Jornada.. Surgiu, em 2001, a Jornadinha que, na declaração de Anna Renhack, percebe-se, no olhar do outro, o seu valor: “Em Passo Fundo, Jornadinha é aumentativo de Jornada.” Em seguida, surgiram os eventos paralelos – seminários nacionais e internacionais, encontros, mais cursos - e as programações orientadas por um tema central. Agora, na 13ª edição nacional, discutiremos “Arte e Tecnologia: novas interfaces”. Escritores, poetas, pesquisadores, especialistas, homens e mulheres das letras, das artes da tecnologia, contribuirão, com suas ideias, com suas investigações, com suas experiências vivenciais e profissionais, com sua sensibilidade, de modo singular, com o aprofundamento do grande debate. O poeta Paulo Becker demonstrou na letra da música desta edição, com muita criatividade, o mundo que ora vivemos: Olhamos telenovelas Zapeamos telejornais Somos fãs de animês De quadrinhos e mangás
Monitores: Bruno Philippsen, Diogo C. Rufatto, Eliana Teixeira, Eliana Leite, Elisângela de F. F de Mello, Giancarlo Rizzi, Lisandra Blanck, Lisiane Vieira, Matheus Mattielo Nickhorn, Solange Lopes Brezolin e Valéria Sumye Milani; Natane Rangel e Cristina Azevedo (estagiárias do programa Mundo da Leitura na TV) Correspondência: Centro de Referência de Literatura e Multimeios Campus I – km 171 – BR 285 – Bairro São José Passo Fundo – RS – CEP 99001-970 Contato: Telefone: (54) 3316-8148 E-mail: leitura@upf.br Home-page: http://www.mundodaleitura.upf.br Revisão: Liana Langaro Branco Ilustração de Capa: Paulo Caruso
Navegamos na internet Falamos ao celular E enviamos muitos torpedos Esperando o amor chegar Cai na real, cai na real A nossa vida é virtual Cai na real, cai na real A nossa vida é virtual Vivemos momentos difíceis na captação de recursos para viabilizar a realização de mais este sonho. Conseguimos, no entanto, desenvolver parcerias inteligentes mais uma vez. Conseguimos sensibilizar dirigentes das áreas federal, estadual e municipal do governo, lideranças da área do livro e da leitura, empresários, apoiadores culturais, editores, escritores, pesquisadores, artistas, professores, alunos, população em geral interessada nas questões de leitura como forma de humanização. Temos o apoio dos ministérios da Educação, da Cultura, de Ciência e Tecnologia, da Lei de Incentivo à Cultura – mecenato. Mais uma vez, grandes conquistas pela formação de leitores. Agradecemos, com muita emoção, a cada um e a todos por terem acolhido a proposta de mais uma edição das Jornadas Literárias de Passo Fundo, viabilizando-a, viabilizando-a! Os resultados positivos virão do aumento expressivo do número de leitores. Esperamos incomodar as consciências na direção de que é preciso trabalhar harmonicamente educação-cultura-tecnologia. Agradecemos a sua presença e a sua participação na13ª Jornada Nacional de Literatura. Prof. Dr. Tania Mariza Kuchenbecker Rösing Coordenadora geral
Diagramação: Cássia Paula Colla e Júlia Fedrigo de Albuquerque (AgexJornal - FAC/ UPF) Fotos: Arquivo Mundo da Leitura e Jornadas Literárias Impressão: Tiragem: 7 000 Universidade de Passo Fundo Reitor: Rui Getúlio Soares Vice-Reitora de Graduação: Eliane Lucia Colussi Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Hugo Tourinho Filho Vice-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários: Adil de Oliveira Pacheco Vice-Reitor Administrativo: Nelson Germano Beck
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ENTREVISTA COM PEDRO BANDEIRA
“Nada prejudica o livro; só a ignorância”
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edro Bandeira de Luna Filho tem formação em Ciências Sociais, no entanto trabalhou com teatro profissional como ator, diretor e cenógrafo e com teatro de bonecos. Durante muito tempo atuou no jornalismo e na publicidade; hoje se dedica exclusivamente à literatura infanto-juvenil e é o autor de literatura infanto-juvenil mais vendido do Brasil. Sua obra já vendeu mais de vinte milhões de exemplares, tendo conquistado vários prêmios, como o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte; o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Adolf Aizen e Altamente Recomedável, da Fundação Nacional de Livro Infantil e Juvenil. Dentre seus livros consagrados, citam-se os da série Karas, A marca de uma lágrima, Agora estou sozinha..., A hora da verdade e Prova de fogo. Pedro Bandeira, autor homenageado da 13ª Jornada Nacional de Literatura e 5ª Jornadinha, concedeu a seguinte entrevista para o jornal do Mundo da Leitura, revelando a influência de suas antigas ocupações em sua literatura, falando de contos de fadas e de leitura em tempos de acesso à internet desde a primeira infância. Mundo da Leitura - Sabendo que você teve experiência profissional no teatro e no jornalismo antes de se dedicar somente à escrita artística, qual é a influência das artes cênicas e da comunicação em sua criação literária? Pedro Bandeira - Acho que muita. Um jornalista aprende desde cedo a escrever os textos necessários à publicação na qual trabalha, não aqueles textos em relação aos quais ele esteja “inspirado”. Deve escrever sobre assuntos que não são de seu conhecimento, aprendendo a pesquisar. Além disso, como jornais e revistas têm prazo para serem impressos, o jornalista aprende a escrever depressa sobre qualquer assunto e dentro do tempo exigido pelo editor. Isto, escrever sempre, com ou sem inspiração, sobre qualquer assunto e tendo de cumprir prazos, é um aprendizado excelente para quem pretende escrever livros. E o teatro e o cinema trazem outros auxílios importantes: em ambos, a ação tem de transcorrer depressa, sem enrolações; uma peça de teatro ou um filme têm de se apresentar, desenvolver e serem concluídos em duas horas. Essa eficiência é uma escola indispensável para a criação de uma novela moderna. No século XVIII, quando não havia televisão nem cinema, sequer fotografia, os textos tinham de descrever muito, pois ninguém conhecia muita coisa além do estreito limite do que seus olhos podiam abranger. Hoje, quando um autor escreve “nevava”, ele não precisa descrever que “a neve caía em flocos leves como pedacinhos de algodão”, pois até um leitor do interior do Ceará sabe
o que é neve, pois tem o cinema e a televisão para estender seu conhecimento a qualquer canto do mundo, sem que ele precise viajar. Se forem analisados textos meus, como, por exemplo, os da série os Karas, o leitor perceberá que eu justaponho as ações com cortes abruptos, como a montagem das cenas de um filme. Os roteiristas de cinema e os autores de teatro me ensinaram demais! Mundo da Leitura - O livro A droga da obediência é o seu livro mais vendido, com mais de um milhão e meio de exemplares colocados no mercado. Em sua opinião, o que esse livro apresenta que atrai tanto os leitores? Pedro Bandeira - Tal como eu e as gerações que me antecederam, todo jovem gosta de aventuras e de que suas preocupações estejam refletidas naquilo que lê. Em A droga da obediência eu abordei o momento em que uma pessoa deixa de ser criança para enfrentar os desafios da idade adulta; isso significa que ele tem de aprender a escolher seus próprios caminhos, saber diferenciar o certo e o errado, e não mais obedecer cegamente a tudo que qualquer adulto lhe impingir. Como diz Miguel, o líder dos Karas, “a obediência cega só leva à repetição dos velhos erros; é a desobediência que muda o mundo!” Mundo da Leitura - Na obra O fantástico mistério de Feiurinha pode-se perceber seu interesse pelos contos de fadas. Como você avalia a releitura que o cinema e os desenhos animados fazem desse tipo de texto tão difundido entre os leitores iniciantes?
Pedro Bandeira - A eternidade da sabedoria dos contos maravilhosos que sobrevivem há séculos deve-se à sua qualidade e à simbologia que cada um deles encerra e sua correspondência com sentimentos humanos que precisam ser compreendidos e controlados, como a inveja da beleza em Branca de Neve, como o medo de ser abandonado pelos pais em João e Maria, como o risco da sedução em Chapeuzinho Vermelho e tantos outros símbolos mais ou menos explícitos. Esse material tem sido aproveitado e transmitido por muita gente. Walt Disney fez maravilhas com algumas dessas, histórias e eu mesmo recriei algumas com o maior prazer procurando transmitir a outros o prazer que elas um dia me deram. Mundo da Leitura - Considerando o habitual uso da internet entre boa parcela dos jovens, como você avalia a influência da rede na leitura de textos literários? Pedro Bandeira - Tudo na internet está escrito. É impossível utilizar-se da internet sem que se seja um leitor sagaz e rápido. Nada prejudica o livro; só a ignorância. Pesquisas recentes mostram que, graças ao lindo trabalho dos professores e realizações espetaculares como a Jornada Literária de Passo Fundo, os habitantes dessa cidade estão lendo uma média de 6,5 livros por ano. Sabendose que a média de leitura recorde dos franceses é de 7 livros/ano, dá ou não dá pra gente ter esperança no futuro de nosso país quando ele estiver nas mãos dessa geração que está sendo formada por autores como eu e por iniciativas como a Jornadinha?
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Pré-Jornada: novas interfaces
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Pré-Jornada, no contexto das Jornadas Literárias de Passo Fundo, integra desde 1981 essa grande movimentação cultural tornando-se um diferencial, pois existe a preocupação dos organizadores de envolver previamente os participantes com a leitura das obras dos autores que estarão presentes ao evento. Dessa forma, propõe concretamente formas de participação do leitor no sentido de aprofundar o diálogo
com o texto e com os diferentes olhares sobre o mesmo. A equipe da Pré-Jornada visitou mais de 70 cidades nos estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina, divulgando a programação da 13ª Jornada e da 5ª Jornadinha Nacional de Literatura e o Caderno de Atividades para professores, além da extensa programação paralela. Os encontros com o público aconteceram em diferentes espaços, como escolas, instituições públi-
cas e privadas, órgãos governamentais, entre outros; a partir daí, grupos interdisciplinares de professores, de alunos e da comunidade em geral foram incentivados e orientados a realizar as leituras indicadas e a participar da Pré-Jornada. A partir do tema “Arte e Tecnologia: novas interfaces”, os participantes da Pré-Jornada tiveram a possibilidade de realizar de diferentes formas a sua participação. Os mesmos escolheram postar no Fórum
eletrônico (internet) ou desenvolveram Práticas leitoras sobre as obras dos autores indicados para a 13ª Jornada, ou, ainda, vivenciaram uma atividade leitora no Centro de Referência de Literatura e Multimeios - Mundo da Leitura. Além disso, participaram de um Seminário sobre os conferencistas convidados para o evento. A Pré-Jornada é realizada pelas professoras Solange Lopes Brezolin, Liana Branco e Eliana Teixeira.
Festerê Literário prepara clima para 13ª Jornada Nacional de Literatura
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eitores de Passo Fundo e região são convidados a participar de atividades culturais gratuitas A Capital Nacional da Literatura entrou em clima de Jornada de Literatura nesta quarta-feira, dia 15 de julho, com o início do Festerê Literário. A primeira ação foi realizada no labirinto da entrada do Centro de Referência em Literatura e Multimeios, - Mundo da Leitura, da Universidade de Passo Fundo, que recebeu a pintura de imagens baseadas no cartaz da décima terceira edição da movimentação literária. As releituras foram desenvolvidas por alunos do curso de Artes Visuais da UPF, na disciplina de Gravuras, ministrada pela professora Mariane Sbeghen. O principal objetivo do Festerê Literário é divulgar as atividades paralelas e gratuitas da Jornada, integrando ainda música e artes visuais. “Teremos um mês de festividades e ações de literatura”, enfatiza Mariane, destacando as apresentações musicais, teatrais e de dança. Além de divulgar a Jornada, que acontece de 26 a 30 de outubro, no Cir-
co da Cultura, o Festerê Literário constitui-se em espaço de divulgação do trabalho artístico de grupos da cidade. Para a primeira ação, no labirinto do Mundo da Leitura, foram escolhidas seis pinturas, que serão realizadas ao longo dos próximos dias. De acordo com o estudante do sexto nível do curso de Artes Visuais, Giancarlo Rizzi, as releituras foram focadas basicamente no personagem criado para a 13ª Jornada, o “Livro Robô”. “Meu trabalho já começou quando desenvolvemos a capa do jornal do Mundo da Leitura, onde buscamos dar uma identidade diferente para o personagem com maiores detalhes” explicou Rizzi. O acadêmico, que é estagiário no Mundo da Leitura, foi um dos selecionados para realizar as pinturas. A Jornada deste ano tem como tema "Arte e tecnologia: novas interfaces". Mais informações sobre a movimentação podem ser obtidas pelo site http://www.jornadadeliteratura.upf.br.
Confira a programação do Festerê Literário 23 de setembro Teatro do SESC – Passo Fundo 20h30min –Lançamento do CD Memórias do tempo, de Gerson Werlang 29 de setembro Centro de Eventos – CampusI - UPF 19h30min - Conferência “Rumo a uma civilização de inteligência coletiva” com Pierre Lévy 14 de outubro Zaffari Bourbon - 16h Projeto Guri Guria – Irmãos Maristas – Instituto Champagnat e Prefeitura Municipal de Passo Fundo FAC 17h30min - Grupo Música Brasileira – Fac - UPF 18h - Núcleo Suzuki da UPF – parceria São Vicente de Paulo 18h - Petipá Espaço de dança 16 de outubro Ônibus Coleurb 7h às 8h - Poesias e músicas nos ônibus - Coral UPF e alunos do Curso Superior de Tecnologia em Produção Cênica 11h às 12h 13h às 13h30min 17h30min às 18h30min
17 de outubro Parque da Gare 8h30min - Coral - UPF Shopping Bella Cittá 10h Coral UPF 11h30min Coral Menino Jesus - ND 16h Coral Creati 17 de outubro Zaffari Bourbon Shopping 14h - Grupo de Canto do Colégio Bom Conselho 14h15min- Dança Ensino Médio Bom Conselho 14h30min - Dança Moderna Notre Dame 14h45min - Grupo de Dança Cheiro da Terra - ND 15h30min - Salada brasileira - SMECL/ Marau 15h45min - Dança de rua – SMECL/Marau 16h - Grupo de dança Colégio Bom Conselho 16h15min - Grupo de dança Menino Deus 16h45min - Coral Notre Dame 16h50min Coral UPF 17h - Baillar Centro de Dança 17h30min - Grupo de dança Menino Jesus 17h45min - Coral infanto juvenil - ND 18h - Dança Chinesa do Creati - UPF 18h15min -Grupo de dança do Daati 18h30min - Grupo Bem Viver do Creati - UPF 18h45min - Grupo Pupilas da Aldeia - UPF 19h - Grupo de dança Tanz - UPF 19h15min - Grupo Étnico de danças folclóricas - UPF
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Grandes conferencistas confirmam presença em 13ª Jornada Nesses 28 anos de Jornadas Literárias, muitas foram as conferências proferidas no Circo da Cultura. Nomes famosos, nacionais e internacionalmente, como Frei Betto, Edgar Morin, Jostein Gaarder, entre outros, já expuseram suas ideias para os milhares de participantes das Jornadas, promovendo a construção de conhecimento em diversas áreas. Na 13ª Jornada Na-
Win Veen cional de Literatura serão quatro conferências sobre as novas interfaces entre as artes e a tecnologia, com grandes pensadores teóricos e artistas. Na sua abertura, em 26 de outubro, o palestrante será o holandês Wim Veen, que falará sobre a “Geração homo zappiens” e o impacto das novas tecnologias na vida de crianças e adolescentes. Wim Veen é professor da Universidade Técnica de Delft, Holanda. Sua investigação se centra
na aprendizagem de novos conceitos e estratégias tanto na indústria como no ensino regular. Veen é interessado na cultura cibernética de jovens que crescem com a tecnologia. Ele os classifica como pertencentes à geração Homo Zappiens, uma geração que não pode mais imaginar um mundo sem a internet e desenvolve novas habilidades relacionadas à aquisição e seleção de informações e se comunica de forma diferente. No dia seguinte, 27, Marcello Dantas aborda o tema "Arte, literatura e convergência das mídias". Dantas é diretor artístico, ator e curador. Estudou direito em Brasília, história da arte em Florença e graduou-se em Filme e Televisão na New York University, com pós-graduação em Telecomunicação interativa pela mesma instituição. Como curador foi responsável por diversos shows, além de ter produzido várias exposições. No Brasil, criou a
Marcello Dantas
companhia Magnetoscópio, uma produtora de filmes e eventos culturais, especializada em convergências artística de historia e tecnologia. Em seus 15 anos de carreira, acumulou mais de 35 exposições e 12 documentários Atuou como diretor artístico do Museu da Língua Portuguesa entre 2001 e 2006. Em 2006 inaugurou a estação Pelé em Berlim. "Cinema e literatura" é o nome da conferência do dia 28 de outubro, que será
Guillermo Arriaga proferida por Guillermo Arriaga, romancista, produtor, diretor e roteirista de cinema mexicano. Guillermo é o premiado roteirista dos filmes Amores Brutos, 21 Gramas e Babel, pelo qual concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2007, e o diretor do recentemente filmado e ainda não lançado no Brasil The Burning Plain,
Carlo Frabetti baseado no livro de contos do também mexicano Juan Rulfo, El llano en llamas (A planície em chamas). Além disso, escreveu três romances: Esquadrão Guilhotina, Um doce aroma de morte e O búfalo da noite, assim como o livro de contos Retorno 201. Será de Carlo Frabetti, italiano radicado na Espanha, a quarta conferência, que acontecerá em dia 29, com o título “A indústria cultural e a formação de leitores.” Frabetti é escritor, matemático e membro da Academia de Ciências de Nova York. Publicou mais de quarenta livros entre infanto-juvenis e adultos, traduzidos para vários idiomas. Em 2007 conquistou o Prêmio O Barco a Vapor por sua novela Calvina. Roteirista do famoso La bola de cristal e outros programas de televisão espanhóis, também se interessa de forma muito especial pela cultura da imagem. É presidente da Associação Contra a Tortura e membro fundador da Aliança de Intelectuais Antiimperialistas.
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ENTREVISTA COM CONSTANZA MEKIS
“A biblioteca escolar deve se profissionalizar e responder às particularidades de seus usuários”
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á quinze anos se encarrega da Coordenação Nacional de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação do Chile. A bibliotecária Constanza Mekis já foi diretora para América Latina da International Association School Librarianship e tem dirigido inúmeras publicações especializadas, realizado consultorias internacionais relacionadas à sua especialidade para o Banco Interamericano de Desenvolvimento em muitos países da região. conquistou prêmios e menções honrosas pelo seu notável empenho na promoção da leitura. Além disso, participa do Grupo Gestor do Projeto Bibliotecas Escolares Mercosur na equipe consultora da OEI de Leitura e Bibliotecas Escolares e também é membro do International Board on Books for Young People ( IBBY) – Chile. Constanza, que participará do palco de debates-Arte e convergência das mídias, no dia 30 de outubro, às 14h, também ministrará o curso Biblioteca escolar: experiência do Chile, que consistirá numa exposição prática e interativa acerca da inserção de bibliotecas escolares. O Mundo da Leitura realizou a entrevista a seguir com Constanza Mekis, que relata sua experiência na dinamização de bibliotecas escolares, expondo com propriedade suas visões sobre como deve ser esse espaço tão pouco explorado das escolas. Mundo da Leitura - O investimento que o governo chileno tem feito nas bibliotecas públicas, escolares, com parcerias inteligentes, é reconhecido entre os mais importantes para o aprimoramento da formação de leitores envolvendo educação, cultura e tecnologia na América Latina. O que motivou essa decisão? Constanza Mekis - Contar com bibliotecas escolares significa superar a exclusão social a que estão submetidas muitas crianças e jovens, entregando a eles o acesso à informação e recreação básicas para sua formação. Concordamos que apenas a existência da biblioteca escolar não é sinônimo de qualidade de educação, mas assenta as bases para melhorar as práticas leitoras e, com isso, as expectativas das pessoas, transformando-os em cidadãos ativos e críticos da realidade que os rodeia. O programa de Bibliotecas Escolares CRA (Centro de Recursos para el Aprendizaje) do Ministé-
Constanza Mekis rio de Educação se enquadra na reforma educativa iniciada nos anos 1990, e tem se centrado em alcançar objetivos de qualidade e equidade nos contextos e resultados da aprendizagem escolar, redefinindo o papel da educação como uma das bases para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Os últimos quatro governos assumiram o compromisso de cobrir a totalidade de estabelecimentos com bibliotecas escolares. Com um desenvolvimento anual de mil bibliotecas escolares por ano, o grande desafio é que no ano 2010, ano do bicentenário de nossa independência, todas as escolas e liceus tenham uma biblioteca escolar CRA funcionando. As bibliotecas escolares CRA chilenas estão se consolidando, aos poucos, com objetivos claros e tarefas concretas para assumir, para continuar construindo. A vontade de fazê-las funcionar existe: não teria sido possível chegar à situação atual se o programa não estivesse profundamente ancorado no espírito da reforma educativa. Seu desenvolvimento não tem respondido a conjunturas sociais ou políticas, mas a uma decisão de Estado, que tem percorrido quatro governos e dez ministros da carteira, durante 16 anos consecutivos. A meta tem sido clara e consistente desde o início, isto é, cumprir para que cada estabelecimento educa-
cional possa contar com uma biblioteca escolar de qualidade. Como foi mencionado anteriormente, o importante é vencer os medos diante dessa tarefa que parece titânica e começar a trabalhar, tendo uma visão de futuro estratégica, que permita por os acentos onde se deve. Nesse desenvolvimento de bibliotecas escolares, não se pode estabelecer como ponto de partida a estrutura legislativa, que pode converter-se facilmente em letra morta. Ao contrário, há que se conformar uma infraestrutura básica na qual germine a verdadeira necessidade de uma estrutura formal. Em outras palavras, no Chile temos avançado construindo a necessidade de contar com uma biblioteca escolar enraizada no mundo pedagógico. Utilizando a tecnologia como um grande aliado da leitura, os livros e a WEB andam juntos, com criatividade e inovação. O intercâmbio de conhecimentos do mundo atual deve estar na escola da mesma forma que em outros espaços. A biblioteca gera um terceiro espaço, não é a escola, não é o lar, mas um espaço onde se respira liberdade. Esperamos que essa força que nasce a partir da comunidade educativa permita construir a legalidade que vai dar às bibliotecas CRA a solidez e autonomia necessárias para seu funcionamento. O programa deve ir mostrando seus frutos, embora estes sejam muito vagarosos para visualizar em curto prazo. O desenvolvimento das bibliotecas escolares é feito pelas pessoas, e são elas que devem experimentar na própria carne a transformação que gera um espaço com livros e recursos vivos. Os projetos educativos são em longo prazo e devem responder aos padrões internacionais; no entanto, devemos começar trabalhando hoje nos seus alicerces, de acordo a nossa realidade. Mundo da Leitura - O trabalho sistemático realizado nas bibliotecas escolares do Chile segue uma programação previamente elaborada com esse fim? Quais são os fundamentos dessas ações que atraem crianças, jovens e adultos para serem frequentadores assíduos de bibliotecas? Constanza Mekis - Durante muito tempo, as bibliotecas foram consideradas como lugares, cujas prioridades eram o cuidado e a sustentação de livros a fim de evitar sua deterioração. Funcionavam, en-
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tão, como verdadeiros museus, onde os usuários ocupavam um lugar secundário e tinham um acesso restrito aos recursos, guardados a chave. O conceito de biblioteca correspondia ao de uma entidade com escassa flexibilidade, que não assumia a complexa rede de funções apropriadas a um estabelecimento encarregado de albergar e mediar recursos culturais. Considerando as limitações que isso implicava, muitos países começaram a promover um conceito novo e dinâmico de biblioteca, a partir do qual aproveitar todo seu potencial como eixo e espaço de atividades educativas, recreativas e de fomento à leitura. Esse conceito é o de Centro de Recursos para a Aprendizagem (CRA), que corresponde a uma forma mais complexa e completa de administrar a biblioteca tradicional. Tal como o nome sugere, o Centro de Recursos para a Aprendizagem funciona como um espaço do estabelecimento escolar onde está centralizada a maior quantidade de recursos com os quais possa contar a escola ou liceu para o desenvolvimento e formação de seus alunos/as. Esses recursos são diversos (impressos, audiovisuais, instrumentais, concretos e digitais), e sua primeira função é estarem sempre disponíveis para apoiar o processo de ensino-aprendizagem de toda a comunidade escolar (estudantes, docentes, procuradores e funcionários). Nesse sentido, o CRA atua, antes de tudo, como um instrumento para facilitar o processo educativo, pois procura intervir ativa e abertamente na solução das necessidades de cada um de seus usuários. Por isso, seus deveres são múltiplos e vão desde o apoio formal aos requerimentos curriculares, até outro tipo de tarefas mais lúdicas e recreativas que têm, igualmente, uma indiscutível incidência nas práticas pedagógicas.
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Para conseguir fazer de uma biblioteca um Centro de Recursos para a Aprendizagem, é necessário revalorizar e repensar cada um dos elementos que a compõem: o espaço, a coleção e a equipe de trabalho, que, no seu conjunto, devem alcançar um funcionamento harmônico e eficiente. A seguir vamos nos referir aos elementos próprios do espaço físico que alberga o CRA. Mundo da Leitura - Pode identificar as dificuldades iniciais enfrentadas no processo de sedução dos não-leitores ou mesmo dos leitores em formação para uso da biblioteca? O que mais favorece a permanência dos usuários no espaço da biblioteca atualmente? Constanza Mekis - Nós transformamos as dificuldades em desafios… Para gerar bibliotecas escolares dinâmicas, é preciso que se transformem
no coração palpitante da escola. Os desafios constantes e a flexibilidade na gestão do conhecimento são diálogos contínuos na tomada de decisões. Existem alguns aspectos-chaves como a formação continuada da comunidade educativa, gerar a leitura desde a leitura da primeira infância, como também ter um conhecimento do leitor atual. Os leitores vêm mudando, e a primeira grande diferença é geracional. Considero também crucial manter avaliações sistemáticas, processos que acompanham todas as atividades que se realizam numa instituição educativa. As avaliações devem ser parte da estratégia para profissionalizar o trabalho da biblioteca escolar dentro do estabelecimento educativo, para tomar consciência do que foi realizado e seu aporte ao fomento da leitura e o desenvolvimento de habilidades de informação. Mundo da Leitura - Quais os grandes resultados alcançados com essas ações entre os leitores que emergem de diferentes grupos da sociedade chilena? Constanza Mekis - Para começar de boa maneira, quero compartilhar com vocês uma notícia que deixou muito contentes todos os que trabalham no mundo da leitura no Chile. Todo ano, no nosso país realizamos a prova Sistema de Medição da Qualidade da Educação) SIMCE, que nos indica quais têm sido os avanços na educação e os desafios por vir. Os resultados do SIMCE, aplicado às 4ª séries básicas (meninos e meninas de 9-10 anos), mostram que aqueles estabelecimentos que praticam mais a leitura obtiveram um rendimento acima do esperado , considerando o contexto socioeconômico; ou seja, aqueles docentes que leram para seus estudantes em voz alta e que fizeram com que eles lessem como uma prática habitual do estabelecimento obtiveram melhores resultados quando comparados com outros em iguais condições. Isso vem consolidar o trabalho que está se fazen-
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do atualmente para o desenvolvimento da leitura no país e é um indicador concreto que nos fala que com docentes comprometidos com a leitura podemos superar nossas dificuldades. Outra boa notícia veio dos resultados da prova internacional Pisa. Tanto em ciências como em leitura, a pontuação alcançada pelos alunos chilenos foi a mais elevada dos países latino-americanos. Ao comparar as pontuações de 2000 e 2006, observamos que o Chile apresentou a melhora de resultados de leitura mais marcante de todos os países avaliados nessas duas oportunidades, encurtando-se, assim, a brecha de resultados com os países da OCDE. A prova internacional Pisa nos mostra também o longo caminho que temos de percorrer para alcançar o padrão dos países da OCDE. Os bons resultados são um sinal positivo de que estamos fazendo bem as coisas, indo por bom caminho. Os resultados podem explicar-se por diferentes fatores, porém sinalizam que as políticas implantadas durante os últimos anos começam a dar seus frutos. Acredito fielmente na necessidade de realizar a passagem da obrigatoriedade da leitura à complementaridade, ajustando as práticas pedagógicas à mudança de perspectiva. Desde as bibliotecas escolares CRA, achamos que nós, os adultos, temos a obrigação de ensinar aos meninos e meninas a ler e a valorizar a leitura. Todavia, essa obrigação pedagógica não deve ser traduzida numa obrigação para com as crianças. Para as crianças, a leitura deve ser um complemento no seu processo de aprendizagem. A melhor forma de transmitir o interesse pela leitura é ensinando uma criança de maneira que possa lendo, enriquecer sua vida. Para se conseguir isso, os adultos devem ser rigorosos na aula e devem estar atentos para ser aquilo que melhor auxilie o
menino ou a menina a valorizar a leitura. Na vida, estamos constantemente enfrentando “deveres” e “obrigações”, mas não vivemos todos os deveres de igual forma. Existem alguns deveres que vivemos com motivação. Existem outros, ao contrário, que nos custa assumir. Sem dúvida, o tema da leitura faz parte dos deveres que precisam estar associados a motivações e a compromissos. Por isso, parte importante do ensino da leitura nas escolas tem a ver com a criação da motivação nos estudantes e no estabelecer compromissos com os objetivos que se buscam mediante essas leituras. Se o estudante não percebe o objetivo que se procura, nem os benefícios que supostamente a leitura lhe aporta, o mais provável é que associe a leitura a um exercício imposto e sem sentido.
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O que proponho é que um maior número de docentes assuma o esforço de criar leitores e gere listagens próprias, combinando diferentes tipos de textos e formatos, dinâmicas de leitura e de avaliação. Que os estudantes possam escolher o que irão ler em cada etapa do ano, de acordo com suas motivações, mas também assumindo os desafios que apresentem seus professores e professoras. Tem de ler o Quixote? Com certeza, mas não ao mesmo tempo e ritmo, e sim quando cada um possa compreender o que o decodifica, e que esse exercício o leve a apreciar e sentir o prazer de ler. O ler por prazer não significa levar a cabo uma atividade superficial; muito pelo contrário, a leitura “… só se converte em prazer quando é ativa, criativa e habitual; e para chegar a isso há de percorrer um longo caminho no qual são necessários o rigor, a solidão, a disciplina e a constância.” Em outras palavras, acreditamos no prazer e liberdade de ler com esforço tanto dos docentes como dos estudantes que se iniciam no caminho leitor. A leitura deve se transformar numa metodologia de trabalho constante, presente em todos os subsetores de aprendizagem, que representa altas exigências para os mediadores de leitura ao integrar a leitura de livros, revistas, artigos, fragmentos, etc. dentro do planejamento diário. Para isso é vital usar a criatividade, aproximar a leitura de maneira inovadora. Por exemplo, se a tecnologia entrou nas nossas vidas, devemos encontrar a forma de transformá-la numa aliada da leitura. Os áudios-livros combinam a paixão de ler em todos os lados e a tecnologia, por mencionar apenas uma das ferramentas que podemos adotar. Partimos da base de que todo mediador da leitura conhece seus clientes; que gera ações concretas para descobrir seus gostos leitores e propor o que se ajuste a seus interesses. Temos
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que incorporar estudos de uso da biblioteca escolar para conhecer as dinâmicas leitoras que se geram em cada estabelecimento. Semelhante a como as grandes empresas realizam estudos de mercado para saber onde e como potencializar seus produtos, a biblioteca escolar deve se profissionalizar e responder às particularidades de seus usuários. Devemos incorporar o patrimônio de cada comunidade à biblioteca escolar. Assumir o contexto e dar resposta efetiva ao multiculturalismo, à existência de minorias, às necessidades dos deficientes. Converter a biblioteca escolar num lugar de encontro, onde todos se sintam acolhidos num espaço participativo e colaborativo. Onde a motivação seja o impulso para aprender, através da interação do estudante com o docente ou com seus pares. É o lugar para a comunidade leitora. Mesmo que na era digital os documentos se desloquem para a tela, uma biblioteca escolar outorga um espaço de intercâmbio humano. Um espaço cálido, em que tanto o docente, o aluno e sua família podem dialogar. Essa é uma característica essencial diante da individualização física do leitor na era digital. Mundo da Leitura - A partir de sua experiência como leitora, de suas propostas para a formação de leitores enquanto bibliotecária, que características deve ter uma biblioteca na atualidade e que peculiaridades devem marcar o bibliotecário responsável pela dinamização de acervos de natureza distinta? Constanza Mekis - As bibliotecas escolares têm uma missão específica. Estas devem: • Apoiar o processo de ensino–aprendizagem dos alunos e alunas, outorgando a eles um espa-
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ço, uma coleção, uma equipe de trabalho e diferentes serviços, que auxiliem na sua formação de forma permanente e dinâmica. • Entregar aos docentes as ferramentas necessárias que lhes permitam enriquecer e diversificar suas estratégias de ensino para enriquecer o processo de aprendizagem. É sabido que, com o uso efetivo dos recursos da biblioteca/CRA, se desenvolvem competências específicas e transversais, como as habilidades leitoras e de informação, integrando na formação dos estudantes uma atitude pró-ativa, comprometida e responsável frente ao seu processo de aprendizagem, de acordo com as exigências da sociedade atual. Entre as condições mínimas que uma biblioteca deve ter para conseguir impacto na aprendizagem, podemos mencionar : • A disponibilidade de um(a) professor(a)bibliotecário(a) certificado e contratado em
tempo integral (35 – 40 horas semanais). • Dedicação de um tempo específico no qual o pessoal de biblioteca ensine aos alunos estratégias para manejar a informação e o uso eficiente da biblioteca. • Desenho e aplicação de uma política sistemática para o desenvolvimento continuado das coleções da biblioteca escolar. No marco da gestão educacional, o papel da política pública é assegurar que o funcionamento dos estabelecimentos educacionais cumpra com os requerimentos acadêmicos de infraestrutura e de oferta de serviços que exigem a educação de qualidade que cada país busca alcançar. Entre esses requisitos encontra-se o de dispor e operacionar uma biblioteca que cumpra com um conjunto de requisitos de diversa índole, os quais assegurem seu funcionamento acadêmico efetivo e eficiente. Toda legislação educacional sobre segurança de qualidade deve incluir o requisito de dispor de uma biblioteca escolar CRA funcionando sob certos padrões preestabelecidos. Aspectos físicos: de espaço, mobília e equipamento; de gestão administrativa, procurando uma posição orgânica na estrutura administrativa do estabelecimento educacional com partes orçamentárias adequadas para seu funcionamento, que inclua pessoal e recursos materiais; de gestão pedagógica, inserindo os objetivos das bibliotecas escolares dentro dos planos de gestão educativa; da coleção, assegurando a renovação e atualização dos recursos para a aprendizagem. A biblioteca deve passar a ser considerada como um requisito básico dos estabelecimentos educativos, da mesma forma que outros elementos de infraestrutura e recursos de aprendizagem que se encontram na oferta educacional. Enquanto pensarmos que a biblioteca escolar é algo opcional, não poderemos avançar para uma educação de qualidade. É preciso unir as vontades do Estado e das instancias da sociedade civil no convencimento dessa necessidade. A biblioteca é uma garantia para entregar uma educação de qualidade.
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MEMÓRIA FOTOGRÁFICA 12 a JORNADA
Palco de debates
2º Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras
Exposição “Roupa é Letra” Ronaldo Fraga
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Mia Couto vencedor do 5º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura
Espetáculo teatral A descoberta das Américas, com Julio Adrian
Doutor Honoris Causa - José Ephim Mindlin
6º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural
Encontro Estadual de Escritores: a criação literária gaúcha em debate
Espetáculo de abertura com o grupo XPTO
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Encontro Internacional da Red de Universidades Lectoras
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egundo o Professor Dr. Eloy Martos Nuñez, da Universidad de Extremadura, Espanha, coordenador da Red de Universidades Lectoras, essa rede é uma experiência de 15 universidades da Espanha e Portugal que decidiram aproximar e sintonizar suas políticas institucionais e iniciativas de formação e investigação em relação à leitura e à escrita. Tal declaração parte de uma pergunta inicial – que papel podem ter a leitura e a escrita na universidade européia da atualidade? A princípio, todos parecem concordar com a importância fundamental das habilidades comunicativas para a formação da maioria das competências profissionais básicas. No entanto, na prática não é fácil articular temas como a leitura e a escrita com a escrita acadêmica, o papel das novas tecnologias, a publicação universitária
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Red de Universidades Lectoras foi formada em novembro de 2007, na cidade de Sevilha, em convênio de colaboração entre as Universidades de Alicante, Almeria, Cantabria, Castilla La Mancha, Católica de Valência, Complutense de Madri, Évora, Extremadura, Huelva, Illes Balears, Politécnica de Valência, Sevilha e Valência. Tem o objetivo básico de intercambiar experiências e coordenar atuações em relação à leitura e à escrita na universidade, com o objetivo de melhorar as competências dos universitários e examinar as práticas e estratégicas de alfabetização acadêmica, promovendo atividades de extensão de leitura e escrita em sentido
ou a alfabetização informacional. Entende ainda Nuñez que houve uma separação muito grande entre a cultura letrada de que fala Roger Chartier e as novas práticas de leitura e de escrita geradas pelo uso da internet. Não se está conseguindo que as novas gerações, os chamados “nativos digitais”, se apropriem, como parte de seu acervo cultural, da grande tradição clássica, do mundo do livro, do ensaio, etc.. Tudo isso ocorre, em grande medida, por um problema de educação que começa nos níveis básicos e acaba na universidade. O que se deve defender atualmente é o desenvolvimento da sensibilidade para aprender e dialogar de forma interdisciplinar, envolvendo os mais diversos campos do saber como a política, a economia, a ciência, a arte, a literatura, a filosofia, a tecnologia. A Rede, amplo. Nos dias 26 e 27 de outubro de 2009, a Universidade de Passo Fundo será sede do Encontro Internacional da Red de Universidades Lectoras.O encontro da Red ocorrerá paralelamente à programação da 13ª Jornada Nacional de Literatura e contará com a presença dos representantes das instituições que compõem o convênio. lProf. Dr. Angela Balça – Universidad de Évora (Portugal) lProf. Dr. Antonio Mula Franco – Universidad de Alicante (Espanha) lProf. Dr. António Pais - Universidad de Évora (Portugal) lProf. Dr. Eloy Martos Núñez – Universidad de Extremadura (Espanha)
portanto, dá prioridade ao trabalho transversal, de forma que se possam reunir todos, educadores, filólogos, comunicadores, cientistas, criadores, etc. Neste mesmo objetivo comum: fazer da leitura e da escrita uma só ferramenta funcional, senão uma senha de identidade para o estudante universitário.
Participarão, também, desse Enscontro Internacional universidades latino-americanas e brasileiras, cabendo à Universidade de Passo Fundo ser a anfitriã de tão importante reunião, momento em que passará a integrar a Red Internacional de Universidades Lectoras.
lProf. Dr. Estela D’Angelo – Universidad Complutense de Madrid (Espanha) lProf. Dr. Ezequiel Theodoro da Silva – Universidade Estadual de Campinas (Brasil) lProf. Dr. Gabriel Nuñez Munhoz – Universidad de Almería (Espanha) lProf. Dr. Gustavo Bombini – Universidad de Buenos Aires (Argentina) lProf. Dr. Isabel Tejerina – Universidad de Cantabria (Espanha) lProf. Dr. Jaime García Padriño – Universidad de Complutense de Madrid (Espanha) lProf. Dr. José Castilho Marques Neto - PNLL lProf. Dr. Miguel Rettenmaier - Universidade de Passo Fundo (Brasil) lProf. Dr. Mikel Pastor – Universi-
dad de Illes Balears ( Espanha) lProf. Dr. Natividade Pires – Instituto Politécnico de Castelo Branco (Portugal) lProf. Dr. Noelia Ibarra – Universidad Católica de Valencia (Itália) lProf. Dr. Pascuala Morote Magám – Universidad de Valencia (Espanha) lProf. Dr. Regina Zilberman – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil) lProf. Dr. Sandra Sánchez García – Universidad de Castilla la Mancha (Espanha) lProf. Dr. Susana Sánchez Rodríguez - Universidad de Cantabria (Espanha) lProf. Dr.Tania Mariza Kuchenbecker Rösing – Universidade de Passo Fundo (Brasil)
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ENTREVISTA COM SANTIAGO YUBERO
“A educação universitária não proporciona os instrumentos necessários para a correta formação de mediadores em leitura”
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ntre os painelistas a participar da 8ª edição do Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural está Santiago Yubero, professor titular de Psicologia Social e de Serviço Social da Universidad de Castilla-La Mancha (UCLM, localizada na Espanha) e vice-diretor do Centro de Estudos de Promoção da Leitura e Literatura Infantil (Cepli). O Cepli tem como objetivo fundamental o desenvolvimento e promoção da educação, formação e investigação nas áreas da leitura e da literatura infantil tanto em nível regional quanto nacional. Conta com uma biblioteca especializada criada a partir da aquisição da biblioteca pessoal de Carmen BravoVillasante, uma pioneira na investigação da infância e da literatura. Santiago Yubero foi entrevistado pelo Mundo da Leitura e falou mais sobre as pesquisas do Cepli em leitura e literatura infantil e sobre sua expectativa para o 8º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural. Mundo da Leitura - Nos dez anos de atividades do Cepli, o que se pode destacar entre as contribuições mais significativas do trabalho realizado por esse importante centro de pesquisas? Santiago Yubero - É provável que a contribuição mais importante tenha sido a criação de um mestrado de Promoção da Leitura e Literatura Infantil, pioneiro no mundo universitário, no qual já se cumpriram cinco formaturas, com quase duzentos profissionais que se formaram, provenientes de diversos setores: docência, bibliotecas e, principalmente, do mundo editorial. O mestrado, que desde o início é dirigido pelos catedráticos da UCLM, Pedro C. Cerrillo e Santiago Yubero, é de grande aceitação tanto na Espanha e Portugal como em diversos países latinoamericanos (México, Colômbia, Argentina, Brasil, Chile). Neste curso ministram aulas e colaboram professores de doze universidades espanholas, além de editores, escritores, ilustradores, animadores e bibliotecários. Por outro lado, também acreditamos que obtiveram muito sucesso as publicações, em suas diversas coleções, algumas delas, como os guias de leitura, que podem ser baixados gratuitamente na página do Cepli: www.uclm.es/cepli/publicaciones Mundo da Leitura - Qual é o perfil do leitor criança da Espanha que tem sido delineado a partir das investigações que a equipe de pesquisadores realizou e realiza no âmbito das propostas do Cepli? Santiago Yubero - É difícil estabelecer um perfil do leitor criança determinado. Sim, podemos dizer que na Espanha as crianças menores de 11 anos afirmam
que 85%, gostam de ler; essa percentagem cai a 40% nas crianças de 14 anos, o que indica que, entre o final do ensino primário e o final do secundário ocorre uma queda importante nos índices de leitura voluntária. Uma nova queda acontece nos adolescentes de 16 anos, quase ao término do segundo grau. São dados que deveriam ser considerados nas políticas públicas de leitura, assim como nos projetos de leitura tanto nacionais como regionais. Mundo da Leitura - Que elementos podem ser apontados no fato de mediadores de leitura trabalharem a formação de leitores em atividades desenvolvidas na perspectiva do trinômio educação-cultura-tecnologia em dinâmicas que extrapolam as limitações disciplinares do currículo escolar? Santiago Yubero - No Cepli sempre estivemos defendendo a necessidade da boa e correta formação dos mediadores em leitura, tanto docentes quanto bibliotecários. A educação universitária regrada não proporciona os instrumentos necessários para que esse trabalho possa ser feito em condições favoráveis. Por esse motivo, nos centros como o nosso, procuramos corrigir essas deficiências com estudos próprios aos quais frequentam, voluntariamente, esses profissionais. A sua formação deve sustentar-se em três alicerces básicos: o literário, o psicológico e o pedagógico. No caso do literário, há que se ter em conta que precisam saber coisas bem óbvias, como o processo leitor, o funcionamento da lingua-
gem literária, a edição literária e a contextualização literária, que às vezes damos por sabido, mas não sabem. O mesmo poderia dizer-se da evolução psicológica e a sua relação com a seleção de leituras ou os processos de aprendizagem que constroem o hábito leitor. Mundo da Leitura - As publicações realizadas pelos pesquisadores do Cepli têm-se constituído numa grande contribuição e numa referência para os estudos da literatura infantil não apenas na Espanha, mas em outros países. Pode avaliar a proposta dos Guias de Leitura e seus resultados entre os leitores e entre os leitores em formação? Santiago Yubero - Efetivamente, as coleções Arcadia e Literatura Infantil, nas quais se publicaram estudos e monografias não só de pesquisadores do Cepli, mas também de outras universidades espanholas, são muito bem recebidas no mundo da literatura infantil e juvenil e da promoção da leitura. A coleção de Guias de Leitura, tanto as de seleção de leituras (menos numerosas), como as de “sequência leitora” (mais numerosas), é um instrumento para que os mediadores possam “guiar” a leitura dos livros escolhidos em melhores condições e com um maior leque de propostas e sugestões. Existem instituições, como a Fundação de Ajuda contra a Toxicomania (FAD), ou o Instituto da Mulher de Castilla La Mancha, que têm solicitado que os guias de leitura incluídos em seus programas sejam elaborados por pesquisadores do Cepli, obtendo excelentes resultados em sua aplicação prática. Mundo da Leitura - Visto que já participou de dois Seminários Internacionais de Pesquisa Leitura e Patrimônio Cultural na Espanha, como visualiza a importância desses encontros para a pesquisa sobre questões de leitura em países ibero-americanos? O que espera do 8º Seminário a ser realizado em Passo Fundo, com o tema geral “Arte e tecnologia: novas interfaces” e o tema específico “Biblioteca, leitura e multimídia”? Santiago Yubero - Os encontros de Passo Fundo são enormemente importantes, tanto pela massiva resposta de participantes, como pelos temas tratados e os aportes apresentados. É um foro magnífico para o encontro com profissionais de diversos países que possuem inquietações similares e propostas paralelas à de outros. Ademais, a possibilidade de assistir às multitudinárias sessões para crianças que são preparadas é muito enriquecedora. Nossos parabéns a todos os que aí trabalham fazendo possível esse evento e, particularmente, a sua máxima responsável, a Doutora Tania Rösing.
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13ª Jornada oferece ampla programação paralela Tradicionalmente, as Jornadas Literárias propiciam atividades paralelas ao restante da programação para pessoas sem inscrição no evento e que também têm um enorme anseio por entrar em contato com o mundo do Circo da Cultura, além dos inscritos, que podem enriquecer sua participação. Essa programação inclui conversas com escritores, exposições de várias naturezas, palestras, oficinas, sessões de autógrafos, mostras de cinema, além de espetáculos teatrais e musicais. Para participar de qualquer atividade, ligue para 3316-8368 ou mande e-mail para leitura@upf.br Uma das inovações da programação paralela da 13ª Jornada Nacional de Literatura, que ocorrerá de 27 a 30 de outubro, será o Papo no Boka, um sarau literário e musical com escritores e músicos gaúchos, a partir das 22h, no espaço do Boka Lanches, situado na rua Independência, 500, no centro de Passo Fundo. No recém-inaugurado Centro de Convivência da Universidade de Passo Fundo, entre os dias 27 a 29 de outubro, acontecerá o Café Literário, que reunirá nomes como André Sant’Anna, José Eduardo Agualusa, Jorge Furtado, entre outros. Também haverá conversas paralelas com André Diniz da Silva, Guilherme Fiúza e
Natália Guzzo. Para quem tem a intenção de adquirir livros no Circo da Cultura, haverá uma grande feira do livro, com estandes de diversas editoras, ao lado da praça de alimentação, no Centro de Lazer e Cultura Popular. Na praça de alimentação do Circo da Cultura, podem ser conferidas as exposições Múltiplo – Panaiotis Demetre Constantinou e Acasos lançados ao vídeo, de James Zortéa Gomes, uma experimentação de técnicas diferentes em uma projeção audiovisual afim de experimentar o espaço expositivo como espaço de trabalho. Estarão expostos no Centro de Eventos, nas proximidades do Circo da Cultura, as esculturas do mestre do basalto João Bez Batti; os mangás de Fábio Schin; as minibibliotecas da Emprapa; a exposição de cartuns Campanha pelo Trânsito Seguro - Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro; a mostra de fotos do repórter fotográfico Tadeu Vilani, chamada Compadre, ¿Que Pasa?; e uma instalação multimídia interativa de Diana Domingues chamada Ídolos Tagueados, uma ciberinstalação em realidade aumentada e conexão on-line para escritas colaborativas em que todo o ambiente está tagueado e oferece interação multimídia com personagens da história
Histórias de ser criança - Dueto produções artísticas e culturais Direção: Fabiano Tadeu Quando: 27 a 29 de outubro Onde: Centro de Eventos – Campus I UPF Histórias de ser criança traz ao palco duas histórias que tematizam a infância, o direito de brincar e de “ser criança” com todo o significado que essa expressão possui. Na primeira história, um menino vive algumas confusões por viver “no mundo da lua”, como dizem os adultos que o rodeiam. Na segunda, outro menino, que é cheio de ideias e entusiasmo, não é compreendido pela mãe e numa vida de conflitos, numa verdadeira guerra dentro de casa, o menino começa a querer trocar de mãe. Face - Guaíra 2 Cia de Dança Quando: 28 e 29 de outubro, 18h Onde: Teatro do Sesc Passo Fundo (Av. Brasil, 30 – Centro) A palavra “tombo” significa, entre várias coisas, uma queda, e é com este sentido de queda que ela é empregada no espetáculo. Não somente a queda física, mas como metáfora da brusca mudança de nível corporal, de situação emocional e de muitas outras possibilidades de interpretação. A queda em O tombo é tomada como tema dramático e princípio de movimento para a composição de uma representação corporal. O roteiro foi elaborado a partir do conto de Sérgio Sant’Anna “Um discurso sobre o método”, que envolve uma situação hipotética de um suicida, representada por um limpador de vidraças que, no alto de um prédio, ao parar para um breve descanso, provoca nos transeuntes a falsa sensação de uma tentativa de suicídio, desencadeando as peripécias do conto. A estrutura cenográfica, na forma de andaime, tem referências diretas à situação de risco da queda física iminente daqueles que trabalham nesse tipo de estrutura, especialmente os da construção civil.
da cultura humana. Também no Centro de Eventos acontecerá a mostra de filmes: Antes que o mundo acabe, de Ana Luiza Azevedo (Roda Cine), que será exibido no dia 29 de outubro, às 15h30min e no dia 30, às 12h30min; Mr. Xadrez: O desaparecimento do diamante será exibido de 27 a 29, às 13h30min, e no dia 30, às 16h30min. Várias exposições acontecerão nas unidades acadêmicas do Campus I da Universidade de Passo Fundo, como a exposição Arte digital em fototela, que estará no hall do Instituto de Ciências Exatas e Geociências (IFCH), de Margarete Barriquel de Cesaro, e Transgenias, de Luciane Campana Tomasini, na Sala de Artes Laura Borges Felizardo, da Faculdade de Artes e Comunicação (FAC). No hall da Faculdade de Odontologia estará exposta a Memória Fotográfica Jornadas Literárias e no hall da Biblioteca Central da UPF terá lugar uma mostra relativa aos 10 anos do Centro de Estúdios de la Lectura y Literatura Infantil (Cepli), e a exposição 12 anos Mundo da Leitura – Centro de Referência de Literatura e Multimeios. Mas as exposições não se limitam à UPF. No Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, localizado na Av. Brasil, 750 – Centro, haverá a exposição Homens e
bichos – desenhos, gravuras e pinturas de Roseli Doleski Pretto. No Zaffari Bourbon Shopping – Av. Brasil Leste, 200, estarão expostos os trabalhos realizados por alunos na Pré-Jornadinha, com o tema “Arte e tecnologia: novas interfaces”. Os trabalhos realizados sobre o mesmo tema por acadêmicos do curso de Artes Visuais da UPF podem ser conferidos no Largo da Literatura (Praça Armando Sbeghen), na Av. Brasil Leste Além das exposições, acontecerão diversas palestras, como "Literatura e Direito” e o Direito, proferida por César Vergara de Almeida Martins Costa, que acontecerá no Auditório da Faculdade de Direito (Campus I – UPF), no dia 27 de outubro, às 8h e às 19h30min. No dia seguinte (28), ainda no mesmo local, acontecerá a palestra intitulada “Consumismo e criança”, de Flávio Paiva, nos mesmos horários. Wander Soares e Paulo Lima serão palestrantes em “O livro enquanto negócio”, no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (FEAC), no dia 27 de outubro, às 8h e às 19h30min. Entre os espetáculos teatrais estão Histórias de ser criança, Atame: a angústia do precário e O tombo. Saiba um pouco mais sobre os espetáculos.
Atame: a angústia do precário - Grupo Interato Direção: Wilton Azevedo Quando: 27 e 28 de outubro, 17h Onde: Centro de Eventos – Campus I UPF A performance teatral de Atame: angústia do precário é um trabalho que vem sendo realizado desde 2004, quando foi apresentado pela primeira vez em Paris, no Centre George Pompidou. A tentativa é criar o que se entende por uma interprosa, ou seja, criar aspectos narrativos não lineares no espaço virtual da hipermídia. A novidade é que nesta performance o espaço virtual dialoga com o espaço teatral no qual o ator representa o texto linearmente, narrando a história.
Bloconeco de Catin e sua banda Navegante - Cia Navegantes Quando: 27 a 30 de outubro, 12h e 17h Onde: Circo da Cultura – Campus I - UPF O cortejo-espetáculo Bloconeco de Catin e sua Banda Navegante é composto por 10 gigantes-anões e ainda uma banda, que toca ritmos variados, combinam com o estilo dos bonecos, como tango, ritmos orientais, forró e samba de raiz. A Cia começou em 1994, e a técnica do gigantes-anões foi desenvolvida por Carti Cardi
De A a Zigg – Ivan Zigg Quando: 27 e 29 de outubro, 12h30min Onde: Circo da Cultura – Campus I – UPF Quando: 30/10/2009, 15h30min Onde: Circo da Cultura – Lona Azul –Campus I - UPF Espetáculo-show do artista múltiplo Ivan Zigg, que esteve em cartaz durante abril e maio de 2006 no Teatro do Jockey do Rio de Janeiro. Tem direção de Beto Brown e produção musical de Lula Montagna. São vistos em cena elementos de mímica, artes plásticas e música para contar o atribulado cotidiano do estúdio de um criador de ideias.
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Relíquia do Tropicalismo fecha com chave de ouro a 13ª Jornada
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o dia 30 de outubro de 2009, após quatro dias de diálogos entre as artes e as novas tecnologias numa lona de circo, terá lugar no grande palco do Circo da Cultura o show Língua Brasileira com Tom Zé, um dos fundadores do tropicalismo. Aos 72 anos, Tom Zé esbanja energia e criatividade, sem interromper as composições que formam sua obra, considerada música popular brasileira da mais alta qualidade, mesmo não sendo tão conhecida. Tom Zé, nascido como Antônio José Santana Martins em Irará (BA), é compositor, cantor, arranjador e ator. Começou a se interessar por música na adolescência, quando começa a
estudar violão e acaba conseguindo uma bolsa para a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, que teve entre seus professores, na época, grandes nomes como o alemão HansJoachim Koellreutter. No começo dos anos 1960, conheceu Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, com quem montou um grupo de espetáculos e mais tarde gravou Tropicália ou Panis et Circensis, o primeiro manifesto do movimento tropicalista que surgia. Em 1968 obteve o primeiro lugar no Festival de MPB com “São São Paulo, Meu Amor” e lançou seu primeiro disco, Tom Zé, seguido por outros discos na década de 1970.
AfroReggae será atração em Jornada e Jornadinha
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lém da literatura, o Circo da Cultura terá muita música em 2009. Em 29 de agosto, às 19h, a Banda AfroReggae fará um grande show para os participantes da 13ª Jornada. No dia seguinte, às 10h45min a banda agitará a 5ª Jornadinha. O projeto AfroReggae começou com um jornal temático distribuído em favelas do Rio de Janeiro sobre reggae e movimento afro para aumentar a autoestima dos jovens negros e pobres. Em 1993 os fundadores do jornal AfroReggae começaram a dar aulas sobre ritmos e danças afro. Pouco tempo depois, o jornal, que virou grupo cultural, transformou-se num verdadeiro complexo policultural de ativismo social, dando exemplos de ação de cidadania não apenas para o Brasil, mas também
para todo o mundo. Quatro anos depois, o Grupo Cultural AfroReggae inaugurou o Centro Cultural AfroReggae Vigário Legal, um marco na sua história. Com um espaço físico bem estruturado dentro da comunidade, o trabalho pôde se desenvolver com maior qualidade e planejamento; dessa forma, foi possível tornar essa iniciativa uma referência de prática sociocultural na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo com poucos recursos, o AfroReggae desenvolve um trabalho de investimento no potencial de jovens favelados, levando educação, cultura e arte a territórios marcados pela violência policial e pelo narcotráfico, com a marca institucional de conseguir criar alternativas de emprego e lazer.
Grupo Tholl dá as boas-vindas ao Circo da Cultura
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s aberturas das Jornadas Literaturas sempre são um espetáculo à parte: teatro, música e dança dão as boasvindas aos que participarão dos quatro dias de cultura e arte. Nada melhor que um grupo como o Tholl, que resgata a magia circense para abrir o Circo da Cultura. Inicialmente conhecido como Oficina Permanente deTécnicas Circenses (OPTC) o grupo Tholl foi fundado por João Bachilli e um grupo de amigos, todos atletas de ginástica olímpica, que queriam unir suas técnicas acrobáticas com a arte do circo. O objetivo era formar um grupo circense que não teria lonas nem picadeiro e apresentarse-ia nos teatros e nas ruas. No começo o grupo era formado por alunos do Teatro Escola de Pelotas e por pessoas da comunidade e enfrentava muitas dificuldades. Por meio de várias performances de pequeno
porte, o grupo foi ganhando destaque e conseguindo parcerias. A primeira apresentação do espetáculo Tholl, imagem e sonho aconteceu em 2002. O sucesso foi tamanho que a OPTC passou a ser somente a razão social e Tholl, a nova denominação do grupo, que tem se apresentado por vários estados do Brasil.
No fim da década de 1980, sua carreira deu uma reviravolta, quando o músico David Byrne, ex-integrante da banda Talking Heads, descobriu um disco de Tom Zé. Fascinado, Byrne lançou o compositor no mercado internacional por meio de seu recém-criado selo. A partir de então, Tom Zé passou a ter uma carreira sólida no exterior, onde se tornou durante algum tempo mais popular do que no seu próprio país. Recentemente lançou o disco Estudando a bossa, o terceiro da série Estudando (os outros são: Estudando o samba, 1976 e Estudando o pagode, 2005), completando assim uma trilogia. Neste álbum, Tom Zé dividiu os vocais com David Byrne.
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Aos 72 anos, Tom Zé esbanja ener gia e criatividade Foto: Rui Mendes
Os PoETs vão pousar na Jornada
noite de 27 de outubro de 2009 promete contatos imediatos de terceiro grau no Circo da Cultura. Após o palco de debates sobre Jornalismo, cinema e internet, com grandes nomes dessas áreas, como Fernando Molica, Guilherme Fiuza e João Guilherme Estrela, extraterrestres musicais e poéticos pousam na 13ª Jornada Nacional de Literatura: Os poETs. O grupo surgiu de um encontro de três músicos e escritores: Alexandre Brito, Ricardo Silvestrin e Ronald Augusto, que cantam, tocam e escrevem as canções. Os poETs são uma receita de parceria atípica que deu certo: como extraterrestres misturando diferentes ritmos e estilos na exploração de novos mundos musicais, apresentando um trabalho de letra e melodia como poucos.
Além disso, não se prendem a nenhum gênero; suas músicas são para todas as idades e ocasiões. O trabalho d’Os poETs foi muito elogiado pela crítica especializada. Suas letras inteligentes chacoalharam o conformismo da música brasileira através de seu humor elaborado e canções bem tocadas.
No baú: a música do Brasil, grupo Repercussão
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utro espetáculo musical a abrilhantar a 13ª Jornada Nacional de Literatura é No baú: a música do Brasil, interpretado pelo grupo passofundense Repercussão, formado por Adriano Oliveira, Diego Savenhagno, Fabiana Lucion, Raimundo Cruz, Sandro Cartier, Diego Granza, Fabiano Lenger, Marcelo Branco e Gadiego Ribeiro. O espetáculo objetiva o contato com o universo da música brasileira. Utilizando-se dos personagens presentes no folclore brasileiro, são apresentadas diferentes formações e possibilidades sonoras através dos ritmos e gêneros presentes nas canções populares de compositores brasileiros conhecidos, bem como umas compostas especialmente para esta proposta educacional. Uma atenção especial é dada à apresentação dos instrumentos musicais e suas respectivas famílias,
oferecendo a apresentação numa dinâmica interessante do ponto de vista visual, educacional e interativo. No baú: a música do Brasil trará samba de breque, bugio, frevo, repente, entre outros gêneros musicais, associados a histórias populares infantis conhecidas. O público participa tanto como espectador como intérprete, o que gera uma atmosfera educacional muito interessante, curiosa e contextualizada. O show acontecerá no dia 28 de outubro na lona principal do Circo da Cultura, às 19h.
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Passo Fundo, outubro de 2009 - Ano XII
Cursos movimentam a manhã dos participantes da Jornada
urante os quatro dias da 13ª Jornada Nacional de Literatura, ocorrerão cursos de gêneros bem variados para os participantes que optaram por essa atividade no turno da manhã. Esses cursos, que já são tradição nas Jornadas Literárias, são uma oportunidade de aprofundar cada tema proposto no Palco de debates e conhecer seus respectivos palestrantes. Os ministrantes dos cursos são profissionais renomados em suas áreas, alguns de renome internacional, e tratarão de assuntos relativos ao tema da 13ª Jornada Nacional de Literatura, “Arte e tecnologia: novas interfaces”. Pode-se optar pelo curso Música e tecnologia, com o professor Eloy Fritsch, um dos pioneiros da música computacional e eletrônica do sul do Brasil. Eloy é responsável pelos primeiros cursos de música da UFRGS e irá desenvolver um ambiente para o entendimento da música eletroacústica e os métodos de criação e transformação do som. Por outro lado, visto que um dos eixos norteadores das Jornadas Literárias é formar continuamente
Eloy Fritsch leitores, há uma preocupação com a formação de espaços propícios para tal. Para tanto, o curso Biblioteca escolar: experiência do Chile, ministrado pela bibliotecária Constanza Mekis, que há quinze anos é encarregada da Coordenação Nacional de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação do Chile, consistirá numa exposição prática e interativa acerca da inserção de bibliotecas escolares. Outro curso nessa linha é As novas perspectivas da biblioteca, ministrado por Max Butlen, do Instituto Nacional de Pesquisas Pedagógicas de Paris, responsável pelo Programa de Implantação de Bibliotecas em Escolas da França. Butlen também atuou como representante do governo francês no projeto Pró-Leitura, que se realizou em parceria com o governo brasileiro. O curso Contextos de leitura e escritura em redes fixas e móveis: uma exploração dos senti-
dos mediados pela internet e pelos celulares será ministrado por Diana Domingues, professora titular do Departamento de Artes da Universidade de Caxias do Sul. Doutorada em comunicação e semiótica pela PUC/SP, com mestrado em Artes pela ECA/USP. Artista multimídia, que explora a criação com recursos computacionais e multimídia, com tratamento e geração de imagens, instalações interativas com dispositivos de aquisição e comunicação de dados em ambientes sensoriados, redes neurais, entre outros sistemas. Literatura, memória e representações sociais é o curso que será ministrado pelos professores da Universidade de Passo Fundo, João Carlos Tedesco e Gerson Luís Trombetta, que tem como objetivo investigar como o texto literário pode se constituir num elo de comunicação entre indivíduo e coletividade. Trarão à discussão grandes nomes da literatura e alguns regionais contemporâneos. A professora do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, Lucília Helena do Carmo Garcez, mestre em Literatura pela Universidade de Brasília e Doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que coordenou o programa de ensino a distância semipresencial para formação continuada de professores em início de escolarização - Praler, MEC/Fundescola e elaborou o material didático de língua portuguesa do Programa Projovem, da Presidência da República promoverá em seu curso Retratos da leitura no Brasil na perspectiva da arte e tecnologia – novas interfaces uma discussão sobre o acesso à leitura no Brasil. Pensando em metáforas, do professor mestre e Doutor em Linguística (UFSC) Heronildes Maurílio de Melo Moura, visa esclarecer o que é uma metáfora, qual a linguagem e pensamento na metáfora e qual a natureza da intuição na metáfora. Para os interessados nas artes visuais, o curso Como se tornar um mangaká, do professor e desenhista de mangá (histórias em quadrinho em estilo japonês) Fabio Schin, trará alguns elementos técnicos e teóricos sobre esse gênero. Shin foi o pioneiro na popularização dos mangás no Brasil, e sua empresa, a Mangá Studio Japan Sunset, conta com dez filiais e mais de 200 alunos, os quais têm aulas e oficinas de mangás. Outro curso no mesmo estilo será Vejo as coisas de outro jeito, com Gian Calvi, ilustrador que se propõe a exercitar os processos da criatividade pessoal aplicáveis a projetos gráficos e multimidiais.
Para os jornalistas, haverá o curso Gêneros jornalísticos, com Francisco de Assis, orientando de José Marques de Melo, no curso de Mestrado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, instituição na qual concluiu a especialização em Jornalismo Cultural (2008). É jornalista formado pela Universidade de Taubaté (2006), onde atua como pesquisador do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Comunicação (Nupec). Também integra o grupo Pensamento Comunicacional Latino-Americano, vinculado à Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional. É editor da revista “Acervo On-line de Mídia Regional” e tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em jornalismo e editoração. Além desses, serão disponibilizados os cursos de Tecnologia e surdez: as interfaces da comunicação, com Fabiano Souto Rosa, mestrando em Educação pela Universidade Federal de Pelotas e docente auxiliar de ensino da disciplina de Libras na Universidade Católica de Pelotas e Anhanguera Educacional\Unidade Pelotas, e o curso Tecnologia assistiva como possibilidade de emancipação para pessoas cegas e com baixa visão, com Rafael Barbosa Porcellis da Silva. Uma grande atração é a presença de Emily Short, professora de Estudos Clássicos do St Olaf College, em Northfield, Minnesota. É pesquisadora do grupo de Katherin Hayles e de Nickolas Montfort (MIT-EUA), sobre ficção interativa – análise dos games na perspectiva da literatura e autora de diversas obras de literatura eletrônica (ficcção interativa) disponíveis em seu website www.emilyshort.com. Emily ministrará o curso Ficção interativa, que proporcionará algumas ferramentas básicas de teoria e prática sobre esse gênero de obra tão pouco conhecido no Brasil.
Max Butlen
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Mundo da Leitura: 12 anos formando leitores sores com regência de classe. O Mundo da Leitura é uma biblioteca inovadora que dá liberdade para o leitor criar o seu caminho de leitura. Uma das características que demonstram esse dinamismo do centro é o tradicional labirinto de entrada, que, por sua vez, leva a outro: o acervo com diferentes suportes e linguagens que viabiliza que os frequentadores façam suas próprias escolhas e se apropriem da leitura em outros suportes não somente no livro. Um espaço recentemente inaurgurado recentemente é a Bebeteca, cantinho criado especialmente para as crianças de 0 a 4 anos, em idade pré-escolar, ou aqueles em processo de alfabetização, que surgiu a partir do projeto Bebelendo – uma experiência antecipada de leitura, trabalho resultante da dissertação de Mestrado em Letras – Estudos Literários, da professora Rita de Cássia Tussi. O ponto de partida do centro é a
Foto: Giancarlo Rizzi/Mundo da Leitura
Centro de Referência de Literatura e Multimeios iniciou suas atividades em 6 de setembro de 1997. Nesses 12 anos de existência do Mundo da Leitura, o acesso à leitura passou a ser mais fácil para os moradores do bairro, as escolas da região vivenciaram no espaço inúmeras práticas leitoras multimídiais que debatem anualmente um tema específico e os cursos de Graduação e Mestrado em Letras da Universidade de Passo Fundo ganharam um laboratório de leitura e literatura para suas pesquisas. O espaço foi criado com o objetivo de formar leitores e se dedica diariamente para que o objetivo se concretize. Os serviços oferecidos procuram aproximar os frequentadores da leitura em diferentes suportes. Entre os serviços oferecidos desde sua criação, se destacam as visitas agendadas de escolas, visitas da comunidade, empréstimo de livros e o empréstimo de sacolas com até 35 livros para profes-
Bebeteca é novidade no Mundo da Leitura
Depoimento
“Há exatamente dois anos frequento o Mundo da leitura, de onde levo para minha sala de aula as sacolas circulantes de livros por acreditar que a leitura é essencial a formação do ser humano. A retirada das sacolas é de suma importância para minhas aulas, pois a diversidade de livros que abordam diferentes temas auxiliam, atuam como suporte para uma vasta gama de assuntos e conteúdos que trabalho com as crianças. Com a literatura infantil é possível trabalhar de forma mais encantadora e a expressão oral e escrita é desenvolvida com prazer, sem o aluno se dar muita conta das regras que está utilizando na escrita e de como vai tendo mais habilidade em sua fala, na oralidade. Ver um aluno encantado, com sede de leitura, de conhecer novas obras, novos autores é o que faz com que eu me desloque semanalmente até o mundo da leitura fazer novas retiradas de livros.”
Claudia Leonice Goettmes da Costa, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Leonel Franca, Mato Castelhano/RS
Foto: Bruno Philippsen/Mundo da Leitura
O
Jornal do Centro de Referência de Literatura e Multimeios - 17
Labirinto oferece acesso a outro: o labirinto da leitura promoção da leitura. Não importa em qual suporte o usuário inicie sua trajetória; o importante é que realmente se torne leitor. Ler os mais diferentes textos contribui na sua formação, que muitas vezes não têm chances de ter acesso aos recursos disponíveis, de adquirir materiais de leitura ou até mesmo de freqüentar bibliotecas. O desejo de propiciar aos professores, alunos e à comunidade em geral o acesso a diferentes tipos de textos é identificado no acervo e nas atividades desenvolvidas pelos monitores. As práticas leitoras e as contações de histórias, cujo intuito é contribuir para a formação do leitor promover a leitura, trouxeram resultados. Leitores assídu-
os desde a criação, professores que criam seus planos de aula com livros do Mundo da Leitura, a comunidade, que aos sábados é cativa, e a perseverança das escolas para conseguirem uma visita agendada no início de cada semestre demonstram que a leitura está obtendo espaço. Acreditamos que é importante criar o hábito da leitura. No Brasil, a média anual de livros lidos por pessoa não chega a dois, e Passo Fundo foi apontando com a cidade mais leitora do país, com média anual de seis livros por pessoa. Esta estatística, sem dúvida, é decorrente das Jornadas Literárias e do Mundo da Leitura, que oferece seus serviços à população gratuitamente.
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Lançamentos
Quem tem coragem? de Pietro de Albuquerque
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ila da Fé, pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, é o cenário que Pietro de Albuquerque elegeu para seu segundo romance. Mas se engana o leitor ao pensar que as ações se limitam a este espaço. Como panos de fundo, há também locais nada fictícios, como Porto Alegre, Cruz Alta, Blumenau, São Paulo – e também Passo Fundo, cidade natal de Pietro. Na narrativa, dois grupos de personagens bastante distintos entram em choque. O critério que os separa é simples: alguns apresentam a coragem como principal característica, ao passo que outros personagens são o oposto, já que se mostram, além de omissos, medrosos. No primeiro grupo inclui-se a protagonista da narrativa, Jenifer. Ao descobrir a existência de uma grande rede de corrupção em Vila da Fé, liderada por uma quadrilha que mantinha uma revenda de automóveis clandestina na cidade, a jovem, com o auxílio dos amigos Lucas e Mirela, não sossega até denunciar as ações dos criminosos, que são presos. Ela sabia o quanto a denúncia realizada, além de livrar Vila da Fé de uma poderosa rede de corrupção, seria capaz de ajudá-la no estágio que tanto almejava no jornal A Vila. No entanto, o preço de sua coragem é alto, visto que sua filha, a pequena Isabel, é sequestrada. A partir daí, é Lucas quem decide investigar o caso, a fim de completar a sua “missão”. Além de Jenifer e Lucas, há também outros personagens que apresentam a coragem como principal característica, caso de Nair, a matriarca da família Martins, u Leitura da arte & arte da leitura (anais da 12ª Jornada Nacional de Literatura) - Tania M. K. Rösing e Miguel Rettenmaier (Orgs.). Passo Fundo: Editora UPF, 2009.
u Conversa com escritores: leitura da arte & arte da leitura (anais da 4ª Jornadinha Nacional de Literatura) - Tania M. K. Rösing, Paulo Becker e Eliana Teixeira (Org.). Passo Fundo: Editora UPF, 2009. u Práticas leitoras para uma cibercivilização - Tania M. K. Rösing (Org.). Passo Fundo: Editora UPF, 2007.
u Práticas leitoras para uma cibercivilização V Tania M. K. Rösing (Org.). Passo Fundo: Editora UPF, 2007.
e Íris, tia de Jenifer, incansável na luta contra a corrupção que assolava a prefeitura de Vila da Fé. Dessa forma, ao intitular sua narrativa de Quem tem coragem?, Pietro dialoga com uma gama de personagens capazes de demonstrar coragem em momentos cruciais de suas vidas, ao mesmo tempo em que confronta tais atitudes com comportamentos omissos, corruptos e passivos, caso, por exemplo, de Breno, o líder da quadrilha, e Jorge, o prefeito da pequena cidade. Dessa forma, fica evidente que a trama é marcada por um constante suspense. A cada capítulo, surgem novas revelações que abalam as expectativas do leitor, que, então, é surpreendido diante dos novos rumos da narrativa. Além disso, diferentemente de muitas obras que expõem de forma artificial a linguagem da juventude atual, Pietro, por também ser jovem, conseguiu retratar de maneira bastante espontânea e verossímil as falas de seus personagens. Por isso, os diálogos não soam falsos ao leitor, já que a coloquialidade, aliada à presença de algumas gírias, garante um tom bastante natural ao texto. Ao mesmo tempo, o enredo criado por Pietro congrega diversas situações que remetem à atualidade. Basta o leitor ligar a televisão, abrir o jornal ou até mesmo sair de casa para se deparar com casos envolvendo corrupção, desonestidade e suborno. Da mesma forma, a insegurança que cerca os personagens e o
aumento da violência em centros urbanos são outras temáticas abordadas pelo jovem autor. Pietro soube, além disso, concentrar em seu texto uma vasta gama de sentimentos inerentes ao ser humano, tais como a insegurança, o medo, a ousadia e a coragem, bem como abordar questões polêmicas, como a traição, a mentira e o envolvimento de jovens com drogas, fatores que comprovam toda a atualidade de sua obra.
u Educando para a vida e a morte – Adriana Bertoletti. Passo Fundo: Editora UPF, 2009.
u Mediação de leitura: discussões e alternativas para a formação de leitores – Fabiano dos Santos, José Castilho Marques Neto e Tania M. K. Rösing. (Org.) São Paulo: Global, 2009.
u Escola e leitura: velha crise, novas alternativas – Regina Zilberman e Tania M. K. Rösing. (Org.) São Paulo: Global, 2009.
u Literatura ao sul – Luis Augusto Fischer (Org.) Passo Fundo: Editora UPF, 2009.
u Práticas leitoras para uma cibercivilização II - Tania M. K. Rösing (Org.). Passo Fundo: Editora UPF, 2007.
u Práticas leitoras para uma cibercivilização III - Tania M. K. Rösing (Org.). Passo Fundo: Editora UPF, 2007.
u Práticas leitoras para uma cibercivilização VI - Tania M. K. Rösing (Org.). Passo Fundo: Editora UPF, 2007.
u Práticas leitoras para uma cibercivilização IV - Tania M. K. Rösing (Org.). Passo Fundo: Editora UPF, 2007.
u Programa Bebelendo: Uma intervenção precoce de leitura – Rita de Cássia Tussi e Tania M. K. Rösing. São Paulo: Global, 2009.
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