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1 2 3 4 5 CINCO MINUTOS COM: RAUL MASCARENHAS FOTOS: DIVULGAÇÃO RAUL MASCARENHASGrande mestre do sax brasileiro

CINCO MINUTOS COM Raul Mascarenhas

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Filho de músicos, o saxofonista e fl autista Raul Mascarenhas começou tocando em bailes e na noite, em 1971, fazendo parte do grupo de Johnny Alf. Passou os dois anos seguintes em Nova York, se aperfeiçoando e, desde então, é reverenciado como um dos maiores nomes do sopro brasileiro no exterior.

Em sua temporada nos Estados Unidos, Mascarenhas estudou com músicos do nível de Michael Brecker, Bob Mover e Danny Dank, entre outros. Morou na França, trabalhou com o sexteto Pau Brasil em Paris, liderou um grupo de música brasileira na Alemanha (Ipanema Quintet) e já tocou com Gal Gosta, Caetano Veloso, Maria Bethania, Moraes Moreira e Fafá de Belém. Listar tudo o que este exímio saxofonista já fez em seus mais de 30 anos de carreira levaria um bom tempo (e tomaria boa parte de nossas páginas). Mas o mais interessante é que, mesmo carregando uma bagagem tão sólida e tendo atuado ao lado de grandes nomes da música no mundo, Mascarenhas não se porta como uma estrela inacessível. Pelo contrário. Vivendo na França desde 1998 – toca atualmente com o grupo Terra Brasilis –, ele topou de imediato dar esta entrevista e, sempre simpático, conversou com a reportagem de Sax & Metais. tora fez com que, desde bem pequeno, meu universo fosse concentrado na música. Eu ia aos programas da Rádio Nacional aos sábados e domingos de manhã com minha mãe, fi cava junto da orquestra, conversava com músicos, enfi m... Viver nesse ambiente realmente me incentivou. Meu pai, um excelente pianista, sempre exigiu bastante de mim em relação à melodia, à harmonia e à postura, entre outras coisas. Acho que uns 75% dos standards de jazz e MPB que conheço aprendi com meu querido pai.

S&M - Por que você foi para a Europa no começo da década de 1970?

RM - Segui os passos de meu pai, que sempre viajou pelo mundo afora tocando. Nós, músicos, somos privilegiados nesse sentido. Nossa linguagem é universal, nos permite exercer a profi ssão em qualquer lugar!

S&M - Como você vê a formação do músico brasileiro hoje?

RM - O que posso dizer é que o ensino musical progrediu, tem mais facilidades, internet, etc. É preciso apenas ter cuidado para não relaxar com tanto progresso! O músico

precisa ralar, no bom sentido. O empenho é o mais importante. Isso signifi ca também estudar. Nos últimos tempos, contamos com muitos softwares que facilitam a vida e têm mais é que ser utilizados. Mas não podemos deixar de lado o estudo à moda antiga, como transcrever um improviso que você goste de ouvido, sem auxílio da tecnologia. Eu sou mais acústico, na verdade, mas no meu computador tenho programas como Encore e Sound Forge, que resolvem meus problemas por enquanto.

S&M - Você utiliza algum tipo de efeito ou amplifi cação?

RM - A amplifi cação para um saxofone é necessária sobretudo em grandes palcos, mas deve reproduzir o som puro do instrumento. É como se você estivesse com uma boa palheta, tocando de frente para uma parede e recebesse aquele retorno maravilhoso. É difícil conseguir isso às vezes. Até porque adoro tocar em pequenas formações, sem microfone.

S&M - Qual o critério para selecionar o melhor equipamento para shows e gravações?

RM - Para mim, não há nada melhor do que um Shure SM 58 para shows, tanto para fl auta como para saxofone. Sei que muita gente pode não concordar, mas gravação, estúdio, é outra coisa. Os engenheiros de som conhecem bem o assunto, sou um pouco leigo nisso. Deixo na mão dos profi ssionais do ramo.

S&M - Você vê diferença no tratamento dado à classe artística na França e no Brasil?

RM - Sim. A grande diferença está no estatuto ‘intermitent de spectacles’, uma espécie de fundo de garantia, que permite ao músico, no caso de desemprego ou pouco trabalho, ter uma ‘allocation’, ou seja, uma pequena remuneração como uma ajuda de custo. Mas não pense que é fácil fazer jus a essa remuneração. Seria fácil demais, mas ela existe, e só aqui na França! Desse mesmo estatuto fazem parte atores, técnicos de luz, som, enfim, toda profissão ligada ao show como espetáculo.

S&M - Há algum requisito para receber essa remuneração?

• Sax tenor Selmer Mark VI - “Não consigo nem pensar em outro sax tenor. Comprei em Nova York, em 1971, de segunda mão, por 175 dólares.” • Sax tenor Gold Plated e barítono

Spectra, da Weril • Sax alto Spectra, da Weril

• Boquilhas:

* “Uso uma Otto Link Super Tone Master 10, dos anos 1960, conhecida como Florida, porque na época a fábrica era em Pompano Beach, na Flórida.” * No sax soprano, boquilha BARI 68 com palheta La Voz Med. Hard

* No alto, boquilha Berg Larsen de massa 105/2/M (corresponde a 9) e palhetas Medium * No barítono, boquilha William Bucaya de massa, muito rara, número 9, e palheta Medium. “William Bucaya foi um grande saxofonista francês que trabalhou em inúmeras big bands e, em Paris, foi sideman de Charlie Parker! Ele fabricou algumas boquilhas de barítono, uma produção pequena.” • Palheta -“Uso de várias marcas, número 3.”

RM - Sim, você precisa conseguir 517 horas de trabalho declaradas em dez meses e meio. Trabalho declarado é aquele em que o empregador contribui com encargos sociais, ou seja, o que eles chamam de ‘securité social’, ‘congés spectacles’, entre outros fatores, que oneram o empregador em mais ou menos 60%. Se você ganha um cachê de 100 euros declarados, quem paga está desembolsando 160, para se ter uma idéia.

S&M - Para fi nalizar, quem você considera referência musical atualmente?

RM - Muitos valores novos têm aparecido, músicos excelentes que só vêm somar, pois os de outrora terão sempre o seu lugar. Em termos de saxofone, muitos dizem, com certa razão, que o (Michael) Brecker é o (John) Coltrane de hoje. Ele é a maior influência para os saxofonistas atuais – foi influenciado por Coltrane, que sempre será o grande mentor do nosso instrumento. Há oito anos morando na França, Mascarenhas é reverenciado no Brasil e na Europa e lançou, recentemente, um álbum em homenagem ao colega João Bosco (veja mais na seção Review)

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