3 minute read
PAULO OLIVEIRA
from Sax & Metais #2
Émuito importante que o saxofonista tenha consciência do fraseado que está executando. Trazemos aqui quatro exemplos para você treinar e melhorar sua técnica. Uma falha muito comum encontrada em saxofonistas iniciantes é a falta de consciência do fraseado que executam. O saxofone como instrumento melódico lida diretamente com idéias musicais expressas por uma nota a cada vez. A simples execução desta seqüência de notas não garante um resultado expressivo, mesmo quando há correção nas divisões. Como na fala, cada frase tem um começo, um meio e um fi m. É só quando quem fala consegue articular nitidamente
Ponto 1 - Extensão
Advertisement
Uma composição melódica é formada por várias frases que, principalmente num contexto tonal, encerram uma idéia de tensão seguida de um relaxamento ou ainda de uma pergunta e resposta (veja o Exemplo 1). É interessante notar que essas
“Body and Soul”, Green
Paulo Oliveira é saxofonista, de São Paulo, e toca no grupo Zarabatana
cada frase, deixando claro para o ouvinte o começo e o fi m de cada idéia, que o discurso como um todo pode ser compreendido. Na música, o discurso é o mesmo: ela deve ser sentida, mas também entendida. Daí a importância da articulação e do fraseado. A expressividade que buscamos, independentemente do estilo que se toca, pode ser atingida analisando alguns pontos, que são explicados a seguir, com exemplos de exercícios para você praticar.
Ponto 2 - Horizontalidade
Geralmente, saxofonistas em um nível menos avançado costumam executar frases com exagerado zelo quanto à emissão de cada som. Acentuam indevidamente as notas, valorizando-as verticalmente, mesmo quando dentro de ligaduras. O resultado fi nal desse tipo de execução é parecido com aqueles passatempos infantis de unir os pontinhos: a gente re
Ruim, vertical
Correto, horizontal
idéias que se complementam aparecem, geralmente, de forma simétrica a cada quatro compassos. A consciência que o executante tem dessas estruturas fará com que a performance seja mais convincente, pois o instrumentista não toca notas simplesmente, mas grupos de idéias musicais.
conhece que o desenho representa um elefante, por exemplo, apesar de ser um elefante meio quadrado, cheio de arestas. Esse fraseado truncado pode ser evitado se for buscada uma horizontalidade no tocar. Assim como quem desenha à mão livre, o instrumentista une o som das notas com um sentido de impulsão único, a partir de um fl uxo de ar constante e fl uido, mesmo quando usa articulações durante a frase. Essa forma de tocar pode ser aplicada mesmo em estudos técnicos (escalas, arpegios, etc.), buscando sempre um resultado fluente e cantabile, evitando os impulsos isolados para cada nota (Exemplo 2).
Ponto 3 - Respirações
Assim como quando falamos, a colocação de espaços para respiração no fraseado musical pode mudar ou truncar o sentido da idéia. As respirações devem ser colocadas em função do fraseado e não porque não agüentamos mais e precisamos parar para respirar. É bom colocar as respirações após as conclusões de frase (rela
“My Little Suede Shoes”, Charlie Parker
Quando um saxofonista toca constantemente em um mesmo volume, a impressão causada é de monotonia, pois o quadro que se ‘vê’ é chapado, sem relevo. O forte e o piano dão profundidade a este quadro. Com o longe (piano) e o perto (forte), cria-se perspectiva na exposição da frase.
“In A Sentimental Mood”, Duke Ellington
Ponto 4 - Dinâmica
xamentos) ou entre uma tensão e um relaxamento. Não é adequado respirar entre semitons, pois quebram a força de atração desse intervalo. Frases iniciadas em anacrusis exigem atenção especial, pois este é um caso em que a tendência para colocar respirações na barra de compasso nos induz ao erro (veja o Exemplo 3).
Evidentemente, a expressividade musical muitas vezes se apóia não só nesses pontos, mas também em elementos muito mais sutis. E em especial no saxofone, é bom lembrar, o controle do som do instrumento é essencial para que se obtenham os melhores resultados.
Nas partituras de música popular, as dinâmicas geralmente não são indicadas, o que não quer dizer que elas não existam nesse contexto. Espera-se que o músico, com a sua sensibilidade, crie movimentos de volume, dando à música uma movimentação a mais (veja o Exemplo 4).