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Corina Meyer: Jovem talento do choro, com apenas 18 anos, a flautista se revela uma grande instrumentista nesse engenhoso estilo musical
from Sax & Metais #5
CINCO MINUTOS COM: CORINA MEYER FOTOS: DIVULGAÇÃO POR DÉBORA DE AQUINO
A jovem fl autista já teve o privilégio de tocar com os grandes chorões do País, como Carlos Poyares, Luizinho 7 Cordas, entre outros. Com as irmãs Eliza e Lia, Corina montou o grupo Choro das Três, dedicado a tocar a mais tradicional música brasileira
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CINCO MINUTOS COM
Corina Meyer
Ela tem apenas 18 anos, mas um currículo de gente grande. Diferentemente dos jovens de sua idade, Corina Meyer dedica-se ao estudo de uma dos estilos musicais brasileiros mais tradicionais, o choro. Ela integra o grupo Choro das Três, ex-Balaio de Gato, ao lado das irmãs Eliza (violão de 6 e 7 cordas) e Lia (bandolim), e do pai Eduardo (pandeiro). Já conseguiram feitos de destaque como, por exemplo, apresentar-se com o lendário fl autista Carlos Poyares, no Bar Piratininga e na Praça do Choro, em São Paulo. Todos os sábados, o grupo toca na famosa Roda de Choro da Contemporânea (loja de instrumentos no centro da capital paulista) e no restaurante Gigetto. Em seu arquivo de apresentações importantes, contabiliza participações em programas de TV como SPTV, Altas Horas e Programa do Jô, entre outros.
Nascida no interior de São Paulo, próximo a Sorocaba, Corina começou a estudar música quando cursava o primeiro ano primário, aos 7 anos. O professor de educação artística passou a levar um teclado para acompanhar o coral da classe. Assim, Corina despertou seu interesse pela música. “A gente cantava e ele tocava. Naquele ano eu decidi que queria estudar música. Pedi aos meus pais que me matriculassem em uma escola na minha cidade.” Como toda criança, começou seus estudos musicais com a fl auta doce. Passado um ano e meio, veio a hora de decidir por um instrumento. “Eu sempre gostei mais de instrumentos de sopro, e nessa época passei a ouvi-los mais. Fiquei em dúvida entre o clarinete e a fl auta transversal. Em casa, havia dois CDs dos quais eu gostava muito: uma coletânea com o Abel Ferreira (clarinetista); e o álbum Choros Imortais, do Altamiro Carrilho. O do Altamiro acabou vencendo e me decidi pela fl auta”, brinca a instrumentista.
> Sax & Metais – Como foi se interessar logo pelo choro?
Corina Meyer - Minha família tinha dois CDs de choro – uma coletânea em que o Abel Ferreira participava e outro do Altamiro Carrilho, chamado Choros Imortais, que me chamavam a atenção. Além do mais, em casa sempre tivemos o hábito de ouvir boa música. Meus pais sempre disponibilizaram muita coisa legal, desde jazz, música clássica, MPB. Tinha de tudo, mas choro eram somente esses dois.
> Como foram os primeiros anos de estudo?
Estudei em minha cidade até os 12 anos, com um professor que na verdade era clarinetista, mas tocava um pouco de fl auta. Depois, fui para o Conservatório de Tatuí e fi quei até o fi m do ano passado. Estudei música erudita e popular com o Paulo Flores, por um período curto. Nessa época, eu já ia para São Paulo tocar. Tinha uns 13 anos quando comecei a freqüentar as rodas de choro. Meu objetivo era, desde o início, tocar como o Altamiro, mas não consegui
porque choro é uma música difícil. Então, um dia, vi na TV que aconteceria um evento em que ele iria tocar. A partir daí comecei a ir para São Paulo conhecer os músicos, e eles passaram a nos convidar para canjas. A cada semana eu tirava um ou dois choros, para chegar ao fi m de semana e ter alguma coisa diferente. Na primeira canja de que participei eu tocava só duas músicas, Carinhoso e Vou Vivendo. Inclusive a primeira canja tenho gravada em vídeo – quem nos recebeu foi o Carlos Poyares. Foi maravilhoso, tocamos em duas fl autas, ele foi fazendo contracantos, foi muito bonito. Depois disso, nós nos encontramos várias vezes, mas cheguei tarde. Uns dois anos depois ele se mudou para Brasília, onde faleceu em maio de 2004. Não pude conviver com ele o quanto gostaria.
> Você sempre toca tudo de cor, sem partitura. Como chegou a isso e qual é a sua rotina de estudo?
Acho que tenho facilidade para isso. Pego uma partitura ou uma gravação, tiro a primeira parte, limpo as passagens, toco umas duas, três vezes e já decoro. Dependendo da música, o processo é mais rápido. Não sou muito de estudar sonoridade, exercícios do tipo Marcel Moyse, não gosto muito. Se meu som está feio e quero melhorar, pego uma música lenta, com notas mais longas. Gosto mesmo de estudar com música. Quando tem um trecho difícil, estudo aquilo até limpar. Em alguma outra música que tiver algo parecido já não vou ter muita difi culdade. Já fi z muito isso de estudar exercício, mas acho que encontrei uma forma mais leve, mais prazerosa, e para mim rende muito mais, é mais prático. Se eu fi zer uma hora de sonoridade, depois mais não sei quanto de escalas, o estudo não rende.
> E os estudos de teoria?
Agora estudo sozinha e tenho aulas de piano
SETUP DE CORINA MEYER
Instrumentos
•Flauta em C - Arley Wilkins •Piccolo - Armstrong de massa
Equipamento
•Microfone - Sony de lapela - “Estou muito feliz com esse microfone porque já usei modelos que pegavam muito barulho da chave, mas desse eu gosto.”
Contatos
Site: www.chotodastres.com.br Comunidade Orkut: www.orkut.com/ Community.aspx?cmm=7446805
Com as irmãs Lia e Eliza: preferência pelo choro desde a infância
erudito com a Rosária Gatti. Pretendo, quando estiver com a técnica melhor, estudar um pouco de popular para aprender jazz e improvisação, acho importante. Também vou prestar vestibular para fl auta no fi m do ano.
> Que experiências você tirou das rodas de choro de que participa?
Comecei a estudar música muito pequena. Tive alguns professores de música erudita que eram muito radicais, e acabaram me deixando um pouco presa. Com as rodas, consegui me soltar e ver que a música não é tão rígida. Ela tem regras, mas você pode brincar. Isso foi uma coisa que minha irmã Eliza não sofreu, a Lia também não. Elas começaram a participar dessas rodas mais cedo. Há muitas coisas que aprendi com o Poyares, desde um dedilhado para o qual eu não achava uma solução, e ele dizia: “Você levanta esse dedinho aqui...”, e resolvia o problema, até “Sopra desse jeito, que vai ver a diferença”. Aprendi muitos macetes.
> Como aconteceu a formação do grupo Choro das Três com sua própria família?
Nos tempos de escola, meu pai, que fez colegial técnico no Senai, tocava pandeiro e timba, fazia bossa nova. Terminada a escola, ele parou com a música e seguiu a carreira dele. Quando eu comecei a tocar, ele comprou um pandeiro e passamos a tocar juntos, em tom de brincadeira. Com isso, as minhas irmãs começaram a gostar e a se interessar por música e queriam tocar também. Foi tudo por acaso, nunca tivemos a idéia de formar um grupo e sair tocando por aí. A primeira meta era tocar junto para se divertir, e as coisas foram acontecendo quando começamos a ir mais para São Paulo. Os músicos começaram a passar as harmonias para a minha irmã Lia, que estudava violão erudito. Assim ela poderia acompanhar a mim e a minha irmã Eliza, que já estava começando a tocar bandolim. Aos poucos, fomos aumentando nosso repertório, até que começaram a nos chamar para fazer programas de TV, de rádio. Quando percebemos já estávamos tão envolvidas que não dava mais para sair.
> De todos os seus trabalhos, tem algum que você destacaria?
O que me satisfaz nem sempre é tocar para muitas pessoas, mas sim tocar para quem realmente esteja gostando daquilo, demonstre interesse. Tocar no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, foi sensacional. O Revéillon da Paulista e o Estádio do Morumbi foram uma surpresa muito grande; entramos apavoradas, não é comum tocar choro para essa quantidade de gente. Depois de tocar, saímos chorando do palco. As pessoas receberam a gente com um carinho muito grande, realmente não esperávamos que fossem gostar tanto assim do nosso trabalho. E os programas de TV também foram muito bons. Isso faz com a gente veja que vale a pena continuar tocando.
> Já tem algum CD gravado ou alguma proposta?
Temos muitas coisas gravadas em MD que sempre levamos conosco. Durante as idas a São Paulo, tocamos com muita gente boa. Vamos para lá todo sábado, de manhã tocamos na Contemporânea e à tarde no Gigetto, assim fomos registrando esses trabalhos, que podem ser ouvidos em nosso site (www.chorodastres.com.br). Ainda não temos um CD ofi cial, mas estamos em negociação com uma gravadora. Se der tudo certo, vem um por aí. z