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TÉCNICA

para duas vozes Escrevendo Aprenda como fazer arranjos na forma de melodia em bloco

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Nesta edição da Sax & Metais vamos entender como funciona a técnica de arranjo em bloco para duas vozes. Em nosso caso, poderá ser utilizada para dois instrumentos de sopro. Não necessariamente dois instrumentos iguais, como dois saxofones ou dois trompetes, mas combinações entre eles, como um trompete e um sax tenor, um sax alto e um tenor, e tantas outras combinações possíveis.

As formas mais comuns de arranjo para duas vozes são canto e contracanto (técnicas de contraponto) e melodia em bloco – que é a que vamos abordar nesta matéria.

Para entender o conteúdo, é preciso ter algum conhecimento de harmonia, como construção de escalas, formação de acordes e análise interválica. Então, mãos à obra!

melodia em bloCo para duas vozes

Primeiro, vamos entender o que isso significa. Bloco é quando dois ou mais instrumentos tocam simultaneamente, com a

Exemplo 1

No exemplo anterior, temos somente intervalos presentes na escala maior natural. Quando a melodia forma com o acorde um intervalo alterado, em relação à escala maior natural, ele

mesma divisão rítmica e melodias diferentes. Tocar dessa forma cria uma nova ‘textura’ ao que estamos ouvindo. Há um enriquecimento da melodia principal. Essa técnica de escrita pode também ser executada à capela, ou seja, sem acompanhamento harmônico. Normalmente, ele está presente e pode ser executado em forma de um quinteto, piano, baixo, bateria e dois sopros. Ou apenas em trio, piano, dois sopros e o que mais sua imaginação permitir.

Para ‘compor’ a segunda voz é necessário ajustá-la em relação à harmonia original da melodia principal (primeira voz). Ao mesmo tempo, tem de se criar um canto que soe bem e que não seja simplesmente matemático.

anÁlise melÓdiCa

Para começar o nosso ‘arranjo’, é necessário primeiro fazer uma análise da melodia principal em relação à sua harmonia. Essa análise nada mais é do que identificar o intervalo formado entre a nota da melodia e a tônica do acorde, como no exemplo 1:

Exemplo 2

deverá ser identificado com um # ou um b antes do número do intervalo, indicando que houve uma alteração para cima (#) ou para baixo (b).

Vale a pena lembrar que a nota identificada com alteração não será necessariamente uma nota alterada em relação ao acorde.

Exemplo 3

Outra observação que devemos fazer aqui é em relação aos graus altos, intervalos de 9ª, 11ª e 13ª, que são equivalentes a 2ª, 4ª e 6ª. Esses graus altos são chamados de tensões. Lembrando: intervalos

Exemplo 4

Para uma melodia soar bem com um acorde, deve-se utilizar a própria nota do acorde, nota de tensão ou ainda nota de aproximação. A nota de aproximação é aquela que não pertence ao acorde nem é uma tensão dele. Ela funciona como uma nota diatônica (presente na

Exemplo 5

Aquarela – Toquinho e Vinicius de Morais

de 9ª e 13ª são maiores dentro da escala maior e o intervalo de 11ª é justo. Observe a análise melódica.

Batida Diferente – Maurício Einhorn e Durval Ferreira

Compondo a seGunda voz

Para escrever a segunda voz são necessárias mais algumas observações. Primeiro, fazer a análise melódica e entender que quando a 1 a voz usar nota de aproximação ou cromática, o mesmo deverá acontecer na 2 a .

escala) ou cromática e devem resolver em notas que resultem em boa sonoridade, que obviamente serão de acorde ou de tensão. Outra característica das notas de aproximação é que possuem duração curta e estão em um lugar metricamente fraco em relação ao compasso.

Exemplo 6

Segundo, é importante identificar pontos harmônicos que evidenciem fortemente a harmonia. Esses pontos normalmente possuem duração longa (um tempo ou mais), estão em tempo forte do compasso, são atacados na mudança de compasso ou ainda vêm seguidos por salto ou pausa.

sobre o movimento das vozes

Quanto à movimentação das vozes, podemos ter três possibilidades: movimento paralelo (quando as duas vozes caminham sempre no mesmo sentido – se uma voz sobe, a outra também sobe e viceversa); movimento contrário (quando o encaminhamento é oposto – quando uma voz sobe, a outra desce e vice-versa); e movimento oblíquo (quando uma voz se movimenta e a outra permanece na mesma nota).

Mais algumas regras que devem ser seguidas

✓ Evite a distância de um semitom entre as duas vozes. Isso não soa bem e causa confusão auditiva com a nota da melodia.

✓ Normalmente, a tessitura para bloco para duas vozes não ultrapassa uma oitava.

✓ Para evitar repetição de notas nas duas vozes ao mesmo tempo, é bom utilizar as três formas de movimentação de vozes descritas acima.

✓ Evite o cruzamento entre as vozes (quando a segunda voz fi ca mais aguda que a primeira). Eventualmente pode ocorrer, mas não é o ideal.

✓ Pensando na série harmônica, os intervalos de 5ª e 8ª deixam a sonoridade das vozes mais pobres. Isso porque na nota inferior está contido o som da nota superior presente na série harmônica. Esses intervalos devem ser evitados.

✓ Utilizar o movimento paralelo em um trecho muito grande da música também traz prejuízo à riqueza harmônica. Em contrapartida, evidencia a melodia. Tome cuidado com trechos longos que utilizam esse tipo de movimento.

Combinando a movimentação das vozes

Como vimos nos exemplos acima, há diversos tipos de movimentação entre as vozes que devemos evitar. Porém, a combinação entre eles torna a ‘ligação’ entre as vozes mais bonita e interessante auditivamente.

Conduzir duas vozes em intervalos de terças ou em sextas (paralelismo) frequentemente traz um bom resultado, pelo simples fato de que a própria harmonia tem estrutura de terças sobrepostas. Mas isso, além de não ficar auditivamente interessante, pode gerar algumas notas indesejáveis. Uma boa saída para esse ‘problema’ é a substituição de terças por sextas onde surgirem as notas indesejáveis e vice-versa.

Outra saída ainda mais interessante é utilizar a combinação de movimento paralelo, contrário e oblíquo. Isso quebra a monotonia e dá à segunda voz uma movimentação com maior sentido melódico, além de variação na sonoridade.

Substituição de intervalos de terças por sextas Cai, Cai, Balão

continua...

Lexan

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Cai, Cai, Balão (continuação)

mistura de paralelismo, movimento ContrÁrio e oblÍQuo

A seguir, mais um exemplo de bloco a duas vozes. Escrevi a primeira parte da música All Of Me, tente terminar esse arranjo e inclua-o em seu repertório. Analise os intervalos e o tipo de encaminhamento de vozes que utilizei. E, por fim, um arranjo completo de mais um standard de jazz, Groovin Hight.

all oF me

Simon / Marks

Groovin’ HiGHt

Dizzy Gillespie

Últimas ConsideraçÕes

Falamos muito da utilização de intervalos de terças e sextas e também um pouco sobre quintas e oitavas, porém não são somente esses que existem. Os intervalos por quartas são muito utilizados para uma sonoridade específica. Como exemplo, cito a introdução de Samba do Avião, de autoria de Tom Jobim. Nessa música ele quis essa sonoridade e buscou esse tipo de intervalo, que a princípio pode parecer ‘errado’ e bastante dissonante. Os intervalos de segundas e sétimas também são bastante dissonantes, mas perfeitamente utilizáveis.

O objetivo desta matéria não é esgotar esse assunto, mas sim introduzir alguns conceitos e dar a você ferramentas necessárias para começar a ‘arriscar’ seus primeiros arranjos para duas vozes. Pratique, experimente e não tenha medo de ousar.

Bons estudos e até a próxima!

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