SE FOR DIRIGIR NÃO BEBA
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Há uma diferença consideravelmente grande no que tange o mundo universitário e escolar. Isto porque, necessariamente, a idade e os interesses misturamse para definir o aluno e sua dedicação. Enquanto na escola podemos observar apenas adolescentes estudando com o propósito de ingressar em uma faculdade pública, uma universidade propriamente dita deve estar recheada de pessoas adultas dedicando-se para a profissão que guiará o resto de seus dias. Infelizmente, o pressuposto passa longe da realidade. Ao observarmos o comportamento dos jovens nas instituições de ensino superior, deparamo-nos com uma situação quase calamitosa, onde o estudo e a dedicação ficam distantes das prioridades. Aparentemente, a idéia de que as informações ali contidas serão de suma importância por toda vida profissional não os fazem atentar à necessidade de empenho. Não há tesão pelo curso, não há paixão pela profissão. As aulas tornam-se uma soma de tédio e monotonia, justamente pelo fato de que uma associação estúpida criada de berço nos diz que “estudar é chato, ler é perda de tempo”. Crescemos em um paradigma puramente de diversão multimídia, onde a TV e os games superam qualquer outro tipo de atividade, principalmente a leitura. Mal sabemos nós, jovens, que a falta desta definirá para sempre nossa posição social e desempenho profissional. Quantos são os jovens cursando uma faculdade de Direito que se preocupam em ler sobre sociologia e filosofia sem a necessidade de pressão para prova? Quantos são os estudantes de jornalismo que pe90
gam em livros sobre história e política somente para aprender? Infelizmente, o que mais vemos são estudantes despreparados, sem vontade, preenchendo as cadeiras vazias das salas de aula que, mesmo já preenchidas, permanecem vazias. A máxima deste tipo de estudante é: “se estou na faculdade, aprenderei na faculdade”, ledo engano. As aulas de uma universidade nada mais são que um guia, uma central onde você pode absorver informações passadas ou revistas e aglutinar pensamentos na forma de criar uma certeza final. Entretanto, esta certeza só pode ser concluída se o estudante possuir muito mais que apenas informações de classe, a absorção completa é um resultado de pesquisa, leitura e estudo que ultrapassam a barreira do clichê escolar, aquele que nos dita a ordem de que “estudar é coisa de prova”. A soma de todo este descaso ao conhecimento tem resultados drásticos não somente ao indivíduo, como toda sociedade. Cada vez mais profissionais incapazes são regulamentados, como médicos, advogados e engenheiros, agora seres adultos que, infelizmente, não puderam usufruir de uma base solidamente reforçada, pois a preocupação com o futuro ainda percorria as últimas linhas na lista de prioridades. Agora, na vida real, a luta torna-se interminável e a preocupação, outrora ignorada, finalmente surge como força máxima para a frustração e arrependimento. “O que fiz da minha vida?”. A falta de estudo forma um incompetente. A falta de leitura não forma nada.
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Existem muitas maneiras de sacanear as pessoas. Mentir para elas é uma. Não mentir é outra... A condenação quase unânime à mentira é uma de nossas maiores demonstrações de hipocrisia – que é uma forma terrível de mentira, porque se apresenta como a rainha da virtude, apontando um dedo acusador a todos os pecadores. Todos nós mentimos muitas vezes por dia -- por hábito, por preguiça, por razões banais. Sem maldade, sem querer prejudicar ninguém, apenas para facilitar as coisas. É uma atitude covarde? Pode ser. Em vez de assumir um erro, de confessar que ficou na cama além do que deveria, você diz que teve problemas de manhã, que o trânsito está cada vez pior ou qualquer outra bobagem universalmente aceita. Em vez de reconhecer que se enganou, que falou bobagem, coloca a culpa em alguém que passou informação errada. Como esse alguém nem existe, fica tudo bem. E às vezes a gente mente tão bestamente que nem sabe por quê. Alguém pergunta “por que você está chateado?” e você dá uma resposta-despiste qualquer. Está com tremenda cara de choro, sem poder esconder que alguma coisa terrível aconteceu, por que não diz logo “briguei com a namorada”? Orgulho esquisito. Mas a gente também mente por consideração às pessoas. Você não está nem um pouco a fim de ir a uma festa no sábado à noite porque está podre de cansaço, mas acha que seu amigo vai ficar muito chateado se disser “não vou porque quero ficar em casa vendo tevê sozinho”. Então inventa um casamento, formatura,qualquer compromissos chato e inevitável e ele não se sente desprezado. Eu passei semanas procurando casa para morar. 96
Mil corretores me levaram pra cima e pra baixo e vi coisas de que não gostei nem um pouco. Vou dizer o que na frente do proprietário – “Não me interessou não, achei muito feia?” Não consigo. Mentir não é sempre sacanagem. Pra falar a verdade às vezes é. Minha mestra budista dá um exemplo fácil: “Passa um caçador e pergunta: “para onde foi o filhote de urso? Você faz o que? Indica o lado errado, claro”. (Ela cresceu em Montana – eles caçam ursos por lá...). “Não mentir” não é um mandamento absoluto – o que (nós, budistas) não podemos fazer é usar a fala para causar mal a alguém. Claro que isso dá uma margem louca para casuísmos... Afinal, é você quem tem de avaliar e decidir o que é certo; a aplicação da regra depende do seu discernimento. E aí mora o perigo: mentir para si mesmo. Que parece só um chavão bobo (todo chavão é bobo?), mas é um erro que a gente comete o tempo todo. “Não estou com ciúme”. “Não fiquei com raiva dele e não quero magoar”. “Não estou trapaceando, eu não fui na natação porque estava resfriada e precisava estudar e arrumar a casa...”. A política tem todas as suas lorotas típicas, mas uma clássica na categoria mentir-para-si-mesmo é: “Não é o que eu gostaria de fazer, mas não tem outro jeito. É assim que é, é assim que todo mundo faz, não sou eu que vou mudar as coisas”. E aí a mentira, de tão repetida, pode ter o pior efeito -- não apenas o de soar verdadeira para quem ouve, mas também quem fala. O sujeito insiste tanto na desculpa que acaba convencendo a si mesmo. Ao mentir, se acha o mais esperto; ao cair no próprio golpe, vira vítima número 1 de sua trapaça.