Noite e Dia
Ana Teresa Barreiro, nº2, 11ºn Língua Portuguesa Professora Elisabete Miguel Escola Secundária Artística António Arroio 2010-2011
Ana Teresa Barreiro, nº2, 11ºn; Língua Portuguesa; Escola Secundária Artística António Arroio Dia e Noite
Introdução
Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Língua Portuguesa. Primeiramente escolhi “Branco e Vermelho” de Camilo Pessanha pois é o meu poema preferido, no entanto, não consegui encontrar nenhum poema de Cesário Verde com o mesmo tema. Decidi então procurar um poema de Camilo Pessanha que tivesse um tema afim do de Cesário Verde, enquanto procurava encontrei “Foi um dia de inúteis agonias” e “Noites gélidas”. Pensei que seria interessante o percurso “Noite e Dia”. Neste pressuposto, continuei, então, a pesquisa dos outros textos que, depois de seleccionados, dividi por noite e dia, começando no dia e acabando na noite como se fossem passando três dias ao longo do trabalho. Incluí poemas de Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, e Bocage. O poema de Bocage já tinha sido tratado na aula e eu, dado o tema, considerei pertinente incluí-lo aqui. Por fim, fiz uma ilustração e dei fundamentação para a minha interpretação visual de “Que noite serena!”, de Álvaro de Campos.
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Dia
Foi um Dia de Inúteis Agonias
Foi um dia de inúteis agonias. Dia de sol, inundado de sol!... Fulgiam nuas as espadas frias... Dia de sol, inundado de sol!... Foi um dia de falsas alegrias. Dália a esfolhar-se, _o seu mole sorriso... Voltavam ranchos das romarias. Dália a esfolhar-se, _o seu mole sorriso... Dia impressível mais que os outros dias. Tão lúcido... Tão pálido... Tão lúcido!... Difuso de teoremas, de teorias... O dia fútil mais que os outros dias! Minuete de discretas ironias... Tão lúcido... Tão pálido... Tão lúcido!... Camilo Pessanha, in Clepsidra
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Noite
Noites Gélidas
Merina Rosto comprido, airosa, angelical, macia, Por vezes, a alemã que eu sigo e que me agrada, Mais alva que o luar de inverno que me esfria, Nas ruas a que o gás dá noites de balada; Sob os abafos bons que o Norte escolheria, Com seu passinho curto e em suas lãs forrada, Recorda-me a elegância, a graça, a galhardia De uma ovelhinha branca, ingénua e delicada. Cesário Verde, in O Livro de Cesário Verde
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Dia
De Que São Feitos os Dias?
De que são feitos os dias? - De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças. Entre mágoas sombrias, momentâneos lampejos: vagas felicidades, inactuais esperanças. De loucuras, de crimes, de pecados, de glórias - do medo que encadeia todas essas mudanças. Dentro deles vivemos, dentro deles choramos, em duros desenlaces e em sinistras alianças... Cecília Meireles, in Canções
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Noite
Que Noite Serena!
Que noite serena! Que lindo luar! Que linda barquinha Bailando no mar! Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge... O terceiro andar das tias, o sossego de outrora, Sossego de várias espécies, A infância sem futuro pensado, O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas, E tudo bom e a horas, De um bem e de um a horas próprio, hoje morto. Meu Deus, que fiz eu da vida? Que noite serena, etc. Quem é que cantava isso? Isso estava lá. Lembro-me mas esqueço. E dói, dói, dói... Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça. Álvaro de Campos, in Poemas (Heterónimo de Fernando Pessoa)
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Fundamentação da Ilustração
Eu decidi fazer a ilustração para o poema “Que noite Serena!” pois é um dos meus poemas favoritos e de um dos meus poetas preferidos. Os versos, a mim, transmitem-me uma sensação de tranquilidade e paz, fazem-me sentir bem
e
calma
por
instantes.
A
minha
interpretação
baseia-se,
fundamentalmente, na primeira quadra: Que noite serena! Que lindo luar! Que linda barquinha Bailando no mar! Dei, por isso, especial ênfase ao luar, ao mar, à barquinha e, é claro, à noite pois são os elementos que o sujeito poético também destaca. Mas decidi incorporar um elemento que não está, explicitamente, no texto poético. Coloquei uma janela à volta deste cenário, pois, quando leio este poema, imagino o sujeito poético dentro de casa a olhar para esta paisagem. Também decidi não colocar nenhum elemento dentro de casa, deixando, assim, mais espaço para a imaginação do observador da minha imagem.
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Dia
Feliz Dia para Quem É Feliz dia para quem é O igual do dia, E no exterior azul que vê Simples confia! Azul do céu faz pena a quem Não pode ser Na alma um azul do céu também Com que viver Ah, e se o verde com que estão Os montes quedos Pudesse haver no coração E em seus segredos! Mas vejo quem devia estar Igual do dia Insciente e sem querer passar. Ah, a ironia De só sentir a terra e o céu Tão belo ser Quem de si sente que perdeu A alma p’ra os ter! Fernando Pessoa, in Cancioneiro
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Noite
Oh Retrato da Morte, oh Noite Amiga Oh retrato da morte, oh noite amiga Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha do meu pranto, Dos meus desgostos secretária antiga! Pois manda Amor, que a ti somente os diga, Dá-lhes pio agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel, que a delirar me obriga: E vós, oh cortesãos da escuridade, Fantasmas vagos, mochos piadores, Inimigos, como eu, da claridade! Em bandos acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade, Quero fartar meu coração de horrores. Bocage, in Rimas
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Conclusão
Este trabalho foi o resultado da pesquisa de poemas no âmbito do tema “noite e dia”. Pretendi dar uma sensação de decurso do tempo, para que um leitor atento tivesse a sensação que três dias iam passando, começando no dia e terminando na noite. Com a pesquisa efectuada, e posterior necessidade de selecção, fiquei a conhecer e a compreender, com mais profundidade, alguns poetas portugueses. A ilustração, porque me obrigou a uma reflexão mais intensa, também foi uma boa maneira de ficar a entender melhor o poema, de entrar em diálogo com o texto e comigo mesma, com o que o poema me fez sentir. Fundamentalmente, sinto que, com este trabalho, adquiri maior sensibilidade para a leitura do texto poético. Oxalá o leitor tenha podido sentir do mesmo modo.
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Indicação Bibliográfica
http://www.citador.pt/index.php http://fumacas.weblog.com.pt/arquivo/082829.html http://pt.wikipedia.org
PINTO, Elisa Costa; BAPTISTA, Vera Saraiva; FONSECA, Paulo; PluralPortuguês; Lisboa; Lisboa Editora; 2010
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