Poesia j 16

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Escola Artística António Arroio Portefólio de poemas

Disciplina - Português Professora - Elisabete Miguel Aluna - Maria Beatriz Stichini Vilela Barbosa n.º16 /10.º ano / turma J Ano letivo – 2014 / 2015


Índice Introdução

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Poemas

- 4 a 27

Poema escolhido

- 28

Ilustração

- 29

Biografia de Miguel Torga

-30

Anexos

-31

Conclusão

-36

Web-grafia

-37

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Introdução A poesia foi uma das formas que o ser humano encontrou para falar

dos

seus

sentimentos

mais

profundos

e

misteriosos.

A poesia é a arte das palavras, e as palavras, quando tocadas pelos poetas, tornam-se chaves mágicas que abrem portas de universos que estão para além do imediato quotidiano e que nos falam dos grandes mitos, e também das paixões, das dores, das alegrias. Neste portefólio é apresentado um deste mundo, com vinte poetas portugueses e quatro de outros países que em poemas nos transmitem mensagens diferentes umas das outras.

Pedro Tamen, Nuno Júdice, Carlos Oliveira, Fernando Namora, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Natália Correia, José Carlos Ary dos Santos, Manuel Alegre, António Botto, Raúl de Carvalho, Mário Dionísio, Jorge Letria, David Mourão Ferreira, Orlando Neves, Alexandre O'Neill e Miguel Torga são os poetas contemporâneos portugueses apresentados neste trabalho.

Miguel Torga foi o poeta que escolhi para a minha apresentação oral e ilustração com “Mãe”, um poema de que gosto muito. Acrescentei ainda anexos, pois, na minha pesquisa, fora os poetas contemporâneos portugueses, encontrei poetas de outros países com poemas que me sensiblizaram e que completavam o trabalho duma melhor forma.

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Poemas Pedro Tamen Troco-me por Ti Troco-me por ti Na brasa da fogueira mal ardida renovo o fogo que perdi, acendo, ascendo, ao lume, ao leme, à vida. E só trocado, parece, por não ser na verdade conjugo o velho verbo e sou, remido esquartejado, o retrato perfeito em que exacerbo os passos recolhidos pelo tempo andado.

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Nuno Júdice A Vida A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua mais que perfeita imprecisão, os dias que contam quando não se espera, o atraso na preocupação dos teus olhos, e as nuvens que caíram mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações a abrir-se para dentro e para fora dos sentidos que nada têm a ver com círculos, quadrados, rectângulos, nas linhas rectas e paralelas que se cruzam com as linhas da mão; a vida que traz consigo as emoções e os acasos, a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram e dos encontros que sempre se soube que se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo o rosto sonhado numa hesitação de madrugada, sob a luz indecisa que apenas mostra as paredes nuas, de manchas húmidas no gesso da memória; a vida feita dos seus corpos obscuros e das suas palavras próximas.

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Carlos de Oliveira Tempo O tempo é um velho corvo de olhos turvos, cinzentos. Bebe a luz destes dias só dum sorvo como as corujas o azeite dos lampadários bentos. E nós sorrimos, pássaros mortos no fundo dum paul dormimos. Só lá do alto do poleiro azul o sol doirado e verde, o fulvo papagaio (estou bêbedo de luz, caio ou não caio?) nos lembra a dor do tempo que se perde.

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Fernando Namora Um Segredo Meu pai tinha sandálias de vento só agora o sei. Tinha sandálias de vento e isto nem sequer é uma maneira de dizer andava por longe os olhos fugidos a expressão em nenhures com as miraculosas instantaneidades que nos fazem [estar em todos os sítios. Andava por longe meu pai sonhando errando vadiando mas toda a sua ausência era o malogro de o ser só agora o sei. Andava por longe ou sentíamo-lo longe vem dar no mesmo e no entanto víamo-lo sempre ali plantado de imobilidade absorta no cepo de carvalho raiado de negro a que o caruncho comera o miolo como as lagartas esvaziam as maçãs estranhamente quieto murcho resignado no seu estranho vadiar os olhos aguados numa tristeza que hoje me dói como um apelo perdido uma coragem abortada. Ausência era tão de mágoa urdida tão de fracasso tingida

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ausência era altiva e desolada altiva e triste sobretudo triste tristeza sim tristeza solene e irremediada só agora o sei.

Às vezes parecia-me uma águia que atravessa os ares sulco azul que nada distingue do azul onde foi sulcado e por isso nem é águia nem ao menos o que do seu voo resta para que o sonho se faça real. Meu pai era um homem com as nostalgias do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a víscera como as tais lagartas esfarelam as maçãs e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias miraculosamente leves soltas imaginosas indo de acaso em acaso de astro em astro eram de vento as suas sandálias fabulosas levando-o aonde mais ninguém poderia chegar.

Os outros não o sabiam nem eu o sabia só o víamos sentado no cepo velho raiado de negro como uma estrela fossilizada por isso tudo era para ele mais irremediável e triste sei-o agora tarde de mais tarde de mais é uma dor de remorso que me consome víscera a víscera como as tais lagartas esfarelam as maçãs. Mas de qualquer maneira existe um segredo

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de que ambos partilhamos ciosamente avaramente indecifrada mente como os astutos conspiradores que fazem do seu segredo um mรกgico tesouro inviolado.

Um segredo simples: o que sentiste pai sinto-o eu agora por ambos sinto-o por ti sinto-o por mim.

Ainda que por ele devorados.

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Eugénio de Andrade Adeus Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros. Página 10


Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor, já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

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Sophia de Mello Breyner Andresen A Forma Justa Sei que seria possível construir o mundo justo As cidades poderiam ser claras e lavadas Pelo canto dos espaços e das fontes O céu o mar e a terra estão prontos A saciar a nossa fome do terrestre A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia Cada dia a cada um a liberdade e o reino — Na concha na flor no homem e no fruto Se nada adoecer a própria forma é justa E no todo se integra como palavra em verso Sei que seria possível construir a forma justa De uma cidade humana que fosse Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

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Jorge de Sena Como Queiras, Amor... Como queiras, Amor, como tu queiras. Entregue a ti, a tudo me abandono, seguro e certo, num terror tranquilo. A tudo quanto espero e quanto temo, entregue a ti, Amor, eu me dedico.

Nada há que eu não conheça, que eu não saiba, e nada, não, ainda há por que eu não espere como de quem ser vida é ter destino.

As pequeninas coisas da maldade, a fria tão tenebrosa divisão do medo em que os homens se mordem com rosnidos de malcontente crueldade imunda, eu sei quanto me aguarda, me deseja, e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras, Amor, como tu queiras. De frágil que és, não poderás salvar-me. Tua nobreza, essa ternura tépida quais olhos marejados, carne entreaberta, será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso em lábios que se fecham como olhares de raiva. Não poderás salvar-me, nem salvar-te. Apenas como queiras ficaremos vivos.

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Será mais duro que morrer, talvez. Entregue a ti, porém, eu me dedico àquele amor por qual fui homem, posse e uma tão extrema sujeição de tudo.

Como tu queiras, meu Amor, como tu queiras.

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Natália Correia A Arte de Ser Amada Eu sou líquida mas recolhida no íntimo estanho de uma jarra e em tua boca um clavicórdio quer recordar-me que sou ária

aérea vária porém sentada perfil que os flamingos voaram. Pelos canteiros eu conto os gerânios de uns tantos anos que nos separam.

Teu amor de planta submarina procura um húmido lugar. Sabiamente preencho a piscina que te dê o hábito de afogar.

Do que não viste a minha idade te inquieta como a ciência do mundo ser muito velho três vezes por mim rodeado sem saber da tua existência.

Pensas-me a ilha e me sitias de violinos por todos os lados e em tua pele o que eu respiro é um ar de frutos sossegados.

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José Carlos Ary dos Santos Retrato de Amigo Por ti falo. E ninguém sabe. Mas eu digo meu irmão

minha amêndoa

meu tropel de ternura meu jardim de carência

meu amigo

minha casa minha asa.

Por ti morro e ninguém pensa. Mas eu sigo um caminho de nardos empestados uma intensa e terrífica ternura rodeado de cardos por muitíssimos lados.

Meu perfume de tudo meu lume

minha lava

minha essência meu labéu

como é possível não chegar ao cume de tão lavado céu?

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Manuel Alegre Portugal O teu destino é nunca haver chegada O teu destino é outra índia e outro mar E a nova nau lusíada apontada A um país que só há no verbo achar

Manuel Alegre de Melo Duarte é um escritor e político português. 12

de

Maio de 1936 (78 anos)

Águeda, Águeda

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António Botto Foi n'uma Tarde de Julho

Os nossos braços Formaram laços.

Foi n'uma tarde de Julho. Conversávamos a medo,

E, aos beijos, ébrios, tombámos;

- Receios de trahir

- Cheios d'amôr e de vinho!

Um tristíssimo segredo. (Uma suplica soáva:) Sim, duvidávamos ambos: Elle não sabia bem

«Agora... Morre commigo,

Que o amava loucamente

Meu amôr, meu amôr...

Como nunca amei ninguém.

devagarinho!...»

E eu não acreditava Que era por mim que o seu olhar De lagrimas se toldava...

Mas, a dúvida perdeu-se; Fallou alto o coração! - E as nossas taças Foram erguidas Com infinita perturbação!

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Raul de Carvalho A verdade é que fomos A verdade é que fomos feitos do mesmo sangue violento e humilde

A verdade é que temos ambos a graça de compreender todos os homens e todas as estrelas

A verdade é que Deus nos ensinou que este é o tempo da razão ardente.

Deus hoje deu-me um pouco do que toda a vida lhe pedi foi esta calma e simples aceitação de que é preciso que estejas longe de mim para que amando eu possa conservar o meu coração puro.

As ruas hoje pareciam mais largas e mais claras

As casas e as pessoas pareciam diferentes

Foi só o tempo de pedir a Deus que prolongasse o generoso engano.

Tu ensinaste-me as palavras simples as palavras belas as palavras justas

E fizeste com que eu já não saiba falar de outra maneira.

O amor substitui o Sol — que tudo ilumina.

Sonhar contigo é quase como saber que existo para além de mim.

Se basta que de mim te lembres para que o sono facilmente venha porque não hás-de dar-me amor a paz com que o meu coração de há tanto tempo sonha Página 19 Vês como é tão simples ter o coração


Mário Dionísio Estamos Agora em Paz Estamos agora em paz sabendo simular o esquecimento

sentados

com os olhos no vento lá de fora atirado para antes de nós as mãos caídas nos joelhos mas nada suplicantes só esvaídas

conformados com não nos conformarmos

resignados a esperando não esperarmos

como se tudo fosse um imenso tanto faz

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José Jorge Letria Quando Eu For Pequeno Quando eu for pequeno, mãe, quero ouvir de novo a tua voz na campânula de som dos meus dias inquietos, apressados, fustigados pelo medo. Subirás comigo as ruas íngremes com a certeza dócil de que só o empedrado e o cansaço da subida me entregarão ao sossego do sono.

Quando eu for pequeno, mãe, os teus olhos voltarão a ver nem que seja o fio do destino desenhado por uma estrela cadente no cetim azul das tardes sobre a baía dos veleiros imaginados.

Quando eu for pequeno, mãe, nenhum de nós falará da morte, a não ser para confirmarmos que ela só vem quando a chamamos e que os animais fazem um círculo para sabermos de antemão que vai chegar.

Quando eu for pequeno, mãe, trarei as papoilas e os búzios para a tua mesa de tricotar encontros, e então ficaremos debaixo de um alpendre

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a ouvir uma banda a tocar enquanto o pai ao longe nos acena, lenço branco na mão com as iniciais bordadas, anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno e a orfandade até nos olhos deixa marcas.

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David Mourão-Ferreira O Corpo Os Corpos O teu corpo

O meu corpo

E em vez dos corpos

que somados seriam nossos corpos implantam-se no espaço novos corpos ora mais ora menos que dois corpos

Que escorpião de súbito estes corpos quando um espelho reflecte os nossos corpos e num só corpo feitos os dois corpos ao mesmo tempo somos quatro corpos

Não indagues agora se o meu corpo se contenta só corpo no teu corpo ou se busca atingir todos os corpos

que no fundo residem num só corpo Mas indaga sem pausa além do corpo o finito infinito destes corpos

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Orlando Neves O Medo Que não se confunde. Por existir se ganha e nos pertence. Sílabas ou linguagem, busca o centro nas mãos, nos olhos, o contacto incessante. Percorre os muros da memória,

na penumbra da palavra se instala. Nada partilha. Como um monólogo se mascara de gemas, rumores e gotas de ervas. Flui e estilhaça as pálpebras, domina as casas,

abala os sismos. Ara o corpo, viva árvore em ascensão, ronda a pele e os jorros do ar. Até que nos toma e molda o ventre, descobre

o preço diário da invisível folhagem solar. É o que se oculta. Livor, sílaba, margem eterna da inicial prudência.

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Alexandre O'Neill Amigo Mal nos conhecemos Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso De boca em boca, Um olhar bem limpo, Uma casa, mesmo modesta, que se oferece, Um coração pronto a pulsar Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí, Escrupulosos detritos?) «Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido, Não o erro perseguido, explorado, É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa, Um trabalho sem fim, Um espaço útil, um tempo fértil, «Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

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José Saramago Química Sublimemos, amor. Assim as flores No jardim não morreram se o perfume No cristal da essência se defende. Passemos nós as provas, os ardores: Não caldeiam instintos sem o lume Nem o secreto aroma que rescende.

José de Sousa Saramago 1922 a 2010

Foi galardoado com o Nobel de Literatura d111911919199811998

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Miguel Torga Mãe Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio.

Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!

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Ilustração

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Explicação da ilustração Na ilustração, e resultante da leitura que fiz do poema, estão presentes três momentos, o que chama mais atenção é o motivo ao centro, mostra a morte dum ente querido, a morte da mãe do sujeito poético. A perda da mãe, marca dificilmente ultrapassável por ser a pessoa que nos acompanha em toda a nossa vida desde a infância ate à sua morte. No canto superior esquerdo, vemos a figura de um bebé com a mãe – não estando expresso no texto, decorre da minha interpretação de “Mãe”, ocorreu-me aquele momento de comunhão plena entre o filho e a sua progenitora, e também da referência aos olhos, quando o sujeito poético pede a sua mãe que abra os olhos. No poema, o «eu» diz que sua mãe ficou “fria e gelada”, a meu ver, há o lamento pela ausência da anterior ternura, bondade, simpatia, amor. Diante de si, jaz agora, a «Presença cinzelada em pedra dura, / Que não tem coração dentro do peito» A ilustração tem o fundo com tons escuros para simbolizar a tristeza sentida pelo filho, uns grandes olhos que seriam os da mãe e a presença maternal com o seu bebé, o único pintado de maneira diferente, por não ser referido no texto Os materiais utilizados foram pasteis de óleo, lápis de cor, tintada-china, aguarelas e foi desenhado numa folha A2.

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Conclusão A elaboração deste portefólio permitiu-me conhecer muitos poetas portugueses e de outros países, e o seu trabalho ao longo da sua vida. Também aprendi, mais e melhor, a importância da poesia. Neste portefólio, não só trabalhei a parte de português como também a de desenho; considerei a experiência bastante interessante e útil pois, pela primeira vez, refleti sobre a transfiguração de linguagens. Com as diferentes fases do percurso - pesquisa, recolha, seleção, eleição, ilustração, explicação - aumentei os meus conhecimentos, e, chegada ao fim, penso que é uma forma boa de aprender e que devia ser usada em outras disciplinas.

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Webgrafia http://www.citador.pt/ https://www.google.pt/search?q=miguel+torga&rlz=1C1CHMO_ptptPT486PT497&espv=2&biw=1366&bih=634&source=lnms&tbm=isch &sa=X&ei=iYX_VI7YOsS3UaqogrAD&ved=0CAYQ_AUoAQ http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Torga http://pt.slideshare.net/rosario25/miguel-torga-32616858 http://autores.sitiodolivro.pt/2012/05/05/mae-poema-de-migueltorga/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/mocambique/ar mando_guebuza.html http://www.jornalopcao.com.br/posts/opcao-cultural/os-melhorespoetas-portugueses-contemporaneos http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Tamen http://www.ueangola.com/criticas-e-ensaios/item/241-sonhospaisagens-e-mem%C3%B3rias-na-poesia-mo%C3%A7ambicanacontempor%C3%A2nea http://www2.dlc.ua.pt/classicos/paisagem.pdf http://radioafrolis.com/2014/08/30/poema-do-dia-pais-de-mim-deeduardo-white/ http://www.portoeditora.pt/espacoprofessor/paginasespeciais/educacao-pre-escolar/opiniao-pre/poesia/

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Anexos

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Biografia de Miguel Torga

Miguel Correia

da

Rocha (Vila

Torga, pseudónimo de Adolfo

Real, São

Martinho

de

Anta, 12

de

Agosto de1907 — Coimbra, 17 de Janeiro de 1995), foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX. Destacou-se como

poeta,

contista

e

memorialista,

mas

escreveu

também romances, peças de teatro e ensaios. Em 1928, entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas no mesmo ano. Ganhou diversos prémios literários. A sua obra de tem um caráter humanista: criado nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da natureza.

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Mia Couto

Para Ti

Foi para ti que desfolhei a chuva para ti soltei o perfume da terra toquei no nada e para ti foi tudo Para ti criei todas as palavras

Mia Couto - Poeta

e todas me faltaram

Angolano

no minuto em que talhei o sabor do sempre Para ti dei voz às minhas mãos abri os gomos do tempo assaltei o mundo e pensei que tudo estava em nós nesse doce engano de tudo sermos donos sem nada termos simplesmente porque era de noite e não dormíamos eu descia em teu peito para me procurar e antes que a escuridão nos cingisse a cintura ficávamos nos olhos vivendo de um só amando de uma só vida

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Armando Guebuza As tuas dores mais as minhas dores vão estrangular a opressão

Os teus olhos mais os meus olhos vão falando da revolta

A tua cicatriz mais a minha cicatriz vão lembrando o chicote

As minha mãos mais as tuas mãos vão pegando em armas

A minha força mais a tua força vão vencer o imperialismo

O meu sangue mais o teu sangue vão regar a Vitória.

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Se me perguntares Se me perguntares Quem sou eu Cavada de bexiga de maldade Com um sorriso sinistro Nada te direi Nada te direi Mostrarte-ei as cicatrizes de séculos Que sulcam as minhas costas negras Olhar-te-ei com olhos de ódio Vermelhos de sangue vertido durante séculos Mostrar-te-ei minha palhota de capim A cair sem reparação Levar-te-ei às plantações Onde sol a sol Me encontro dobrado sobre o solo Enquanto trabalho árduo Mastiga meu tempo Levar-te-ei aos campos cheios de gente Onde gente respira miséria em toda a hora Nada te direi Mostrar-te-ei somente isto E depois Mostrar-te-ei os corpos do meu Povo Tombados por metralhadoras traiçoeiras, Palhotas queimadas por gente tua Nada te direi E saberá porque luto.

Moçambique, 1977

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Cecília Meireles

Não te Fies do Tempo nem da Eternidade Não te fies do tempo nem da eternidade que as nuvens me puxam pelos vestidos, que os ventos me arrastam contra o meu desejo. Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te vejo!

Não demores tão longe, em lugar tão secreto, nácar de silêncio que o mar comprime, ó lábio, limite do instante absoluto! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te escuto!

Aparece-me agora, que ainda reconheço a anêmona aberta na tua face e em redor dos muros o vento inimigo... Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te digo...

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Eduardo White País de mim

O peso da vida! Gostava de senti-lo à tua maneira e ouvi-la crescer dentro de mim, em carne viva, não queria somente rasgar-te a ferida, não queria apenas esta vocação paciente do lavrador, mas, também, a da terra e que é a tua Assume o amor como um ofício onde tens que te esmerar, repete-o até à perfeição, repete-o quantas vezes for preciso até dentro dele tudo durar e ter sentido Deixa nele crescer o sol até tarde, deixa-o ser a asa da imaginação, a casa da concórdia, só nunca deixes que sobre para não ser memória.

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 Em 11 de março de 2015 às 00:34

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