Poesia j 22

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AMOR EGOÍSTA

Disciplina: Português Professora: Elisabete Miguel Aluna: Rita Gancho n.º22 - 10.º - J Ano letivo: 2014-15


Índice

Introdução Poemas Poema Melancólico a não sei que Mulher Não Chorais os Mortos Urgentemente Amo-te Muito, Meu Amor, e Tanto A Vida Tristêza Não Posso Adiar o Amor Presídio As Mãos Tentação De Amor nada Mais Resta que um Outubro O Silêncio Amor à Vista Vaticínio Quem é que Abraça o meu Corpo Um Pássaro a Morrer Há palavras que Nos Beijam Acusam-me de Mágoa e Desalento A Tua Boca Desespero Poema escolhido – Quem é que Abraça o meu Corpo Ilustração Explicação da Ilustração Conclusão Webgrafia


Introdução

Com este trabalho, foi-nos proposto fazer uma pesquisa sobre 20 poetas diferentes portugueses da 2.ª metade do séc. XX. Após a minha recolha dos poetas, prossegui na eleição dos poemas que mais me interessaram. No final da escolha dos poemas, selecionei o que mais me agradou para ilustrar.


Poema melancólico a não sei que Mulher

Dei-te os dias, as horas e os minutos, Destes anos de vida que passaram, Nos meus versos ficaram Imagens que são máscaras anónimas Do teu rosto proibido; A fome insatisfeita que senti Era de ti, Fome do instinto que não foi ouvido.

Agora retrocedo, leio os versos, Conto as desilusões no rol do coração, Recordo o pesadelo dos desejos, Olho o deserto humano desolado, E pergunto porquê, por que razão Nas dunas do teu peito o vento passa Sem tropeçar na graça Do mais leve sinal da minha mão…

Miguel Torga, in Diário VII


Não choreis os Mortos

Não choreis nunca os mortos esquecidos Na funda escuridão das sepulturas. Deixai crescer, à solta, as ervas duras Sobre os seus corpos vãos adormecidos.

E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos, Agonizar… guardai, longe, as doçuras Das vossas orações, calmas e puras, Para os que vivem, mudos e vencidos.

Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos, Da multidão sem fim dos que são vivos, Dos tristes que não podem esquecer.

E, ao meditar, então, na paz da Morte, Vereis, talvez, como é suave a sorte Daqueles que deixaram de sofrer.

Pedro Homem de Mello, in Caravela do Mar


Urgentemente

É urgente o amor É urgente um barco no mar

É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer. É urgente o amor, é urgente permanecer.

Eugénio de Andrade, in Até amanhã


Amo-te Muito, Meu Amor, e Tanto

Amo-te muito, meu amor, e tanto que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda depois de ter-te, meu amor. Não finda com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto sofro a traição dos que, viscosos, prendem, por uma paz da guerra a que se vendem, a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo, nesta invenção da humanidade inteira que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa… Que encanto é o teu? Deitado à tua beira, sei que se rasga, o véu da Graça.

Jorge de Sena, in Poesia, Vol.1


A vida

A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua mais que perfeita imprecisão, os dias que contam quando não se espera, o atraso na preocupação dos teus olhos, a as nuvens que caíram mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações a abrir-se para dentro e para fora dos sentidos que nada têm a ver com círculos, quadrados, rectângulos, nas linhas rectas e paralelas que se cruzam com as linhas da mão;

a vida que traz consigo as emoções e os acasos, a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram e dos encontros que sempre se soube que se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo o rosto sonhado numa hesitação de madrugada, sob a luz indecisa que apenas mostra as paredes nuas, de manchas húmidas no gesso da memória; a vida feita dos seus corpos obscuros a das suas palavras próximas. Nuno Júdice, in Teoria Geral do Sentimento


Tristêza

O sol do outomno, as folhas a cair, A minha voz baixinho soluçando, A terra, e o meu espirito a sorrir…

Eis como a minha vida vae passando Em frente ao seu Phantasma… E fico a ouvir Silêncios da minh’alma e o resurgir De mortos que me foram sepultando…

E fico, mudo, extático, parado

E quasi sem sentidos,mergulhando Na minha viva e funda intimidade…

Só a longínqua estrela em mim atua… Sou rocha harmoniosa á luz da lua, Petrificada ezphinge de saudade…

Teixeira de Pascoaes, in Elegias

Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 8 de novembro de 18771 — Amarante, Gatão, 14 de dezembro

de

1952)

[http://pt.wikipedia.org/wiki/Teixeira_de_Pascoaes

consultado em 20.3.2015]


Não Posso Adiar o Amor

Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob as montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa, in Viagem Através de uma Nebulosa


Presídio

Nem todo o corpo é carne… Não, nem todo Que dizer do pescoço, ás vezes mármore, ás vezes linho, lago, tronco de árvore, nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco…?

E o ventre, inconsciente como o lodo?... E o morno gradeamento dos teus braços? Não, meu amor… Nem todo o corpo é carne: é também água, terra, vento, fogo…

É sobretudo sombra à despedida; onde de pedra em cada reencontro; no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono… Nem só de carne é feito este presídio, Pois no teu corpo existe o mundo todo!

David Mourão-Ferreira, in Obra Poética


As Mãos

Brandamente escrevem dos espasmos do sol. Envelhecem do pulso ao cérebro, ao calor baço de um revérbero no eixo dos ventos, usura das máscaras, que, sucessivamente, as transformam

de consciência em cal ou metal obscuro. E já não é por sim que a presença existe ou Subsiste o que separa. Destroem as sementes, apodrecem como um sopro e não são remanso

na areia ou domadoras de chamas. Igualam-se à água, para serem raiz do que se cala e insinuam-se, para sempre, no pó da noite.

Um castelo de pele tomba. Deixam de ser nomeadas ou nome. Escrevem, brandamente, do termo da música o luto do silêncio.

Orlando Neves, in Decomposição – o Corpo


Tentação

Eu não resisti à tentação, não quero que de mim possas perder-te, que só na fonte fria da razão renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resisti à tentação de quando adivinhei nesta amargura: um sim que só assalta quem diz não, um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão, a te perder nos versos, nas palavras: mas não resistirei à tentação de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi e que na terra toda não mais vi.

Luís Filipe Castro Mendes, in Os Amantes Obscuros


De Amor nada Mais Resta que um Outubro

De amor nada mais resta que um outubro e quanto mais amada mais desisto: quanto mais tu me despes mais me cubro e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro porque se mais me ofusco mais existo. Por dentro me ilumino, sol oculto, por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morte na quermesse dos teus beijos. Etérea, a minha espécie nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço mais de terra e de fogo é o abraço com que na carde queres reter-me jovem.

Natália Correia, in Poesia Completa


O Silêncio

Peço apenas o teu silêncio, como uma criança pede uma flor ou um velho pedinte um bocado de pão. Um silêncio onde a tua alma se embrulha, friorenta, trémula, á aproximação das invernais. Um silêncio com ressonâncias de antigas primaveras, de outonos descoloridos e da chuva a cair no negrume da noite.

- Vá, motorista de táxi, transporta-me através das ruas de cidade inextricável, vertiginosamente, buzinando, buzinando, abafando o ruído de um outro silêncio!

Saúl Dias, in Essência


Amor à Vista

Entras como um punhal Até à minha vida. rasgas de estrelas e de sal a carne da ferida.

Instala-te nas minas. Dinamita e devora. Porque quem assassinas é um monstro de lágrimas que adora.

Dá-me um beijo ou a morte. Anda. Avança. Deixa lá a esperança para quem a suporte.

Mas o mar a montes… isso, sim. Não te amedrontes. Atira-os sobre mim.

Atira-os de espada. Porque ficas vencida ou desta minha vida não fica nada.


Mar e montes teus beijos, meu amor, sobre os meus fĂŠrreos dentes. Mar e montes esperados com terror de que te ausentes.

Mar e montes teus beijos, meu amor!...

Fernando EchevarrĂ­a, in Poesia 1956-1979


Vaticínio

Hás-de beber as lágrimas sombrias Que nesta hora eu bebo soluçando!, e o veneno das minhas ironias Há-de rasgar-te os tímpanos cantando!

Hás-de esgotar a taça de agonias Neste sabor a ódio… e, estertorando Hás-de crispar as tuas mãos vazias de amor, como eu agora estou crispando!

E hás-de encontrar-me em teu surpreso olhar com o mesmo sorriso singular que a minha boca em certas horas tem.

E eu hei-de de ver o teu olhar incerto vagueando no intérmino deserto dos teus braços tombando sem ninguém!

Judith Teixeira, in Antologia Poética

Judite dos Reis Ramos Teixeira ou Judith Teixeira (Viseu, 25 de Janeiro de 1880 - Lisboa, 17 de Maio de 1959) [http://pt.wikipedia.org/wiki/Judite_Teixeira – consultado em 20.3.2015]


Quem é que Abraça o meu Corpo

Quem é que abraça o meu corpo Na penumbra do meu leito? Quem é que beija o meu rosto, Quem é que morde o meu peito? Quem é que falla da morte, Docemente, ao meu ouvido?

És tu, Senhor dos meus olhos, E sempre no meu sentido.

António Botto, in Canções

António Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de

Março

de

1959)

consultado em 20.3.2015]

[http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Botto


Um Pássaro a Morrer

Não é vida nem morte, é uma passagem, nem antes nem depois: somente agora, um minuto nos tantos duma hora. Uma pausa. Um intervalo. Uma viragem.

Prisioneira de mim, onde a coragem de quebrar as algemas, ir-me embora, se tudo o que de mim ria agora chora, se já não me seduz outra viagem?

E nada disso é céu nem é inferno. Tristeza, só tristeza. Sol de Inverno, Sem uma flor a abrir na minha mão,

sem um búzio a cantar ao meu ouvido. Só tristeza, um silêncio desmedido E um pássaro a morrer: meu coração.

Fernanda de Castro, in E eu, Saudosa, Saudosa


Há palavras que Nos Beijam

Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto; Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas inesperadas Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído No papel abandonado)

Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte.

Alexandre O´Neill, in No Reino da Dinamarca


Acusam-me de Mágoa e Desalento

Acusam-me de mágoa e desalento, como se toda a pena dos meus versos não fosse carne vossa, homens dispersos, e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia, quando a luz que não nego abrir o escuro da noite que nos cerca como um muro, e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que não me cale: até que o muro fenda, a treva estale, seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta: Se quem confia a própria dor perscruta, Maior glória tem em ter esperança.

Carlos de Oliveira, in Mãe Pobre


A Tua Boca

A tua boca. A tua boca. Oh, também a tua boca. Um túnel para a minha noite. Um poço para a minha sede.

Os fios dormentes de água que a tua língua solta num grito cor-de-rosa e a minha língua sorve e canta e os meus dentes mordem derramando a seiva da tua primavera sem palavras o poema inquieto e livre que a tua boca oferece á minha boca.

As loucas bebedeiras de ternura por essa viagem até ao sangue. Os beijos como fogueiras. As línguas como rosas.

Oh, a tua boca para a minha boca.

Joaquim Pessoa, in Os Olhos de Isa


Desespero

Não eram meus os olhos que te olharam Nem este corpo exausto que despi Nem os lábios sedentos que poisaram No mais secreto do que existe em ti.

Não eram meus os dedos que tocaram Tua falsa beleza, em que não vi Mais que os vícios que um dia me geraram E me perseguem desta raiva que me deu

A grande solidão que de ti espero. A voz com que te chamo é o desencanto E o esperma que te dou, o desespero.

Ary dos Santos, in Liturgia do Sangue


Poema escolhido

Desespero

Não eram meus os olhos que te olharam Nem este corpo exausto que despi Nem os lábios sedentos que poisaram No mais secreto do que existe em ti.

Não eram meus os dedos que tocaram Tua falsa beleza, em que não vi Mais que os vícios que um dia me geraram E me perseguem desta raiva que me deu

A grande solidão que de ti espero. A voz com que te chamo é o desencanto E o esperma que te dou, o desespero.

Ary dos Santos, in Liturgia do Sangue


Ilustração

Fotografia – editada – do desenho.


Explicação


Conclusão

O objectivo deste trabalho era levar o aluno a conhecer alguns dos poetas contemporâneos portugueses e as suas obras poéticas. Para isso, era preciso escolher vinte poetas de vinte diferentes autores, depois fazer a selecção de um dos textos escolhidos, ilustrá-lo e, por fim, explicar a imagem. Considerei esta proposta de trabalho interessante, pois deu-me uma nova perspectiva sobre o texto poético. Por razões externas ao trabalho, fi-lo em pouco tempo, tendo, talvez, ficado menos conseguido. No entanto, foi uma experiência enriquecedora e penso redimir-me com um futuro trabalho mais bem elaborado.


Webgrafia

http://www.entendaoshomens.com.br/wpcontent/uploads/amor_egoista_by_nelyana-d52hcim.jpg [ consultado a 19 de Março ]

Todos os meus poemas foram consultados no site http://www.citador.pt/poemas/autores [consultado entre os dias 15 e 17 de Março]

 Trabalho recebido em 20.3.2015, às 10h 32m


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