Poesia j 23

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Escola Secundária Artística António Arroio

Poesia Contemporânea Trabalho de Português

Professora Elisabete Miguel Trabalho elaborado por: Sara Nicola Carvalho Henriques n.º 23 10.ºJ Ano Letivo 2014/2015


ÍNDICE

Introdução

3

Urgentemente

4

Quando

5

O Poema Original

6

Mãe

7

Lua Adversa

8

Saudade

9

Intimidade

10

Não Choreis Os Mortos

11

Da vida… Não Fales Nela

12

A Mulher

13

Distância

14

O Beijo

15

Os Velhos

16

Um Gato de Lisboa

17

E Alegre Se Fez Triste

18

Chove Muito, Chove Excessivamente

19

Tentação

20

Já Foste Rico e Forte e Soberano

21

Sou Um Guardador De Rebanhos

22

Quotidiano

23

Ilustração do Poema

24

Explicação da Ilustração do Poema

25

Conclusão

26


Introdução

Foi-nos proposto pela professora de português que selecionássemos vinte poemas, de vinte poetas da segunda metade do séc. XX. Depois, escolher, de entre os textos eleitos, um para, posteriormente, o ilustrar e, por fim, explicar a nossa imagem.


Urgentemente

É urgente o amor É urgente um barco no mar

É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer. É urgente o amor, é urgente permanecer.

Eugénio de Andrade


Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta Continuará o jardim, o céu e o mar, E como hoje igualmente hão-de bailar As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar Em que eu tantas vezes passei, Haverá longos poentes sobre o mar, Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa, Será o mesmo jardim à minha porta, E os cabelos doirados da floresta, Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen


O Poema Original

Original é o poeta

Original é o poeta

que se origina a si mesmo

expulso do paraíso

que numa sílaba é seta

por saber compreender

noutra pasmo ou cataclismo

o que é o choro e o riso;

o que se atira ao poema

aquele que desce à rua

como se fosse ao abismo

bebe copos quebra nozes

e faz um filho às palavras

e ferra em quem tem juízo

na cama do romantismo.

versos brancos e ferozes.

Original é o poeta

Original é o poeta

capaz de escrever em sismo.

que é gato de sete vozes.

Original é o poeta

Original é o poeta

de origem clara e comum

que chega ao despudor

que sendo de toda a parte

de escrever todos os dias

não é de lugar algum.

como se fizesse amor.

O que gera a própria arte na força de ser só um

Esse que despe a poesia

por todos a quem a sorte

como se fosse mulher

faz devorar em jejum.

e nela emprenha a alegria

Original é o poeta

de ser um homem qualquer.

que de todos for só um. Ary dos Santos


Mãe

Mãe: Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio.

Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga


Lua Adversa

Tenho fases, como a lua, Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso.

E roda a melancolia seu interminável fuso!

Não e encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...). No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu... Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro

Cecília Meireles

de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira1 [http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles – consultado em 21.3.2015]


Saudade

Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo em dicionários antigos e poeirentos e noutros livros onde não achei o sentido desta doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que azuis são as montanhas como ela, que nela se obscurecem os amores longínquos, e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas) a nomeia num tremor de cabelos e mãos.

Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro, seu segredo se evade, sua doçura me obceca como uma mariposa de estranho e fino corpo sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.

Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado desta palavra branca que se evade como um peixe? Não... e me treme na boca seu tremor delicado... Saudade...

Pablo Neruda

Pablo Neruda (Parral, 12 de Julho de 1904 — Santiago, 23 de Setembro de 1973) - é um poeta chileno.


Intimidade

Que ninguém hoje me diga nada. Que ninguém venha abrir a minha mágoa, esta dor sem nome que eu desconheço donde vem e o que me diz. É mágoa. Talvez seja um começo de amor. Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo. Pode ser tudo isso, ou nada disso. Mas não o afirmo. As palavras viriam revelar-me tudo. E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.

Fernando Namora


Não Choreis os Mortos

Não choreis nunca os mortos esquecidos Na funda escuridão das sepulturas. Deixai crescer, à solta, as ervas duras Sobre os seus corpos vãos adormecidos.

E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos, Agonizar... guardai, longe, as doçuras Das vossas orações, calmas e puras, Para os que vivem, nudos e vencidos.

Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos, Da multidão sem fim dos que são vivos, Dos tristes que não podem esquecer.

E, ao meditar, então, na paz da Morte, Vereis, talvez, como é suave a sorte Daqueles que deixaram de sofrer.

Pedro Homem de Mello


Da Vida... Não Fales Nela

Da vida... não fales nela, quando o ritmo pressentes. Não fales nela que a mentes.

Se os teus olhos se demoram em coisas que nada são, se os pensamentos se enfloram em torno delas e não em torno de não saber da vida... Não fales nela.

Quanto saibas de viver nesse olhar se te congela. E só a dança é que dança, quando o ritmo pressentes.

Se, firme, o ritmo avança, é dócil a vida, e mansa... Não fales nela, que a mentes.

Jorge de Sena


A Mulher

Se é clara a luz desta vermelha margem é porque dela se ergue uma figura nua e o silêncio é recente e todavia antigo enquanto se penteia na sombra da folhagem. Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas! O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço que no umbigo principia e fulge em transparência. Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo que em espiral circula ao ritmo da origem.

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa. O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar. Quase dorme no suave clamor e se dissipa e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

António Ramos Sousa


Distância

Hesitas e depois, Com um gesto de tédio e de cansaço, Achas inconveniente

Não vás para tão longe!

O meu abraço.

Vem sentar-te Aqui na chaise-longue, ao pé de mim...

Não vás para tão longe!

Tenho o desejo doido de contar-te

Fica. Inda é tão cedo!

Estas saudades que não tinham fim.

O vento continua a fustigar Os ramos sofredores do arvoredo,

Não vás para tão longe;

E eu ponho-me a pensar

Quero ver

E tenho medo!

Se ainda sabes olhar-me como d'antes, E se nas tuas mãos acariciantes,

Não vás para tão longe!

Inda existe o perfume de que eu gosto.

Na sombra impenetrada, Como se agita e se debate o vento!...

Não vás para tão longe!

Paira nas velhas ruínas do convento

Tenho medo Do silêncio pesado d'esta sala...

Que além se avista,

Como soluça o vento no arvoredo!

A alma melancólica d'um monge

E a tua voz, amor, como se cala!

Que a vida arremessou àquela crista...

Não vás para tão longe! Antigamente,

Céu apagado, negro, pessimista, E tu sempre mais longe!...

Era sempre demais o curto espaço Que havia entre nós dois... Agora, um embaraço,

Fernanda de Castro


O Beijo

Congresso de gaivotas neste céu Como uma tampa azul cobrindo o Tejo. Querela de aves, pios, escarcéu. Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu...) De algum quarto perdido no desejo? De algum jovem amor que recebeu Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida, Vai batendo como a própria vida, Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas, De duas bocas que se juntam, loucas! De inveja as gaivotas a gritar...

Alexandre O’Neill


Os Velhos

adormecer.

Diz-se que há-de vir

Fomos pedreiros, varredores, ardinas

uma era justa e boa

fizemos casas, cultivámos terras,

em que o valor da pessoa

criámos gado, entrámos pelas minas,

se mantém quando envelhece.

demos os filhos para as vossas guerras.

Está no trabalho que fez. Para conseguir uma coisa como esta

Demos as filhas para vos servir,

dava o sangue que me resta.

cortámos lenha para a vossa fogueira.

E era como se tivesse

E o tempo a ir-se, e a gente a pressentir

nascido mais uma vez.

que vos demos sem querer a vida inteira.

Deram-nos este banco de avenida onde a sombra nos dói e a tarde gela

E ainda é sangue o que nas veias corre.

e daqui vemos nós passar a vida

Ainda é raiva o que nos dobra a mão.

Sem que a vida nos sinta perto dela.

Ainda ecoa um sonho que não morre no nosso velho e atento coração.

Assim nos atiraram para fora das coisas que ajudámos a fazer. Ai, como o sol aquece pouco agora. Ai, muito custa à noite

Hélia Correia


Um gato de Lisboa gato manso das velhotas de alfama e da madragoa dormitas sem cambalhotas e nunca leste o pessoa.

quando ronronas não notas tanto espreitar da patroa nem quer’s saber das gaivotas voando no céu à toa.

dos peixes só vês as rotas pela espinha ou quando ecoa o pregão com cheiro às lotas onde os despeja a canoa.

és livre e nisso te esgotas sem remorso que te doa, e ao peitoril não desbotas e esta luz não te magoa,

nem vês corvos nem gaivotas empoleirados na proa, mas de corvos e gaivotas faz-se o brasão de lisboa.

Vasco Graça Moura


E alegre se fez triste Aquela clara madrugada que viu lágrimas correrem no teu rosto e alegre se fez triste como se chovesse de repente em pleno agosto

Ela só viu meus dedos nos teus dedos meu nome no teu nome. E demorados viu nossos olhos juntos nos segredos que em silêncio dissemos separados.

A clara madrugada em que parti. Só ela viu teu rosto olhando a estrada por onde o automóvel se afastava.

E viu que a pátria estava toda em ti. E ouviu dizer-me adeus: essa palavra que fez tão triste a clara madrugada.

Manuel Alegre


Chove muito, chove excessivamente

Chove muito, chove excessivamente... Chove e de vez em quando faz um vento frio... Estou triste, muito triste, corno se o dia fosse eu.

Num dia no meu futuro em que chova assim também E eu, à janela de repente me lembre do dia de hoje, Pensarei eu «ah nesse tempo eu era mais feliz» Ou pensarei «ah, que tempo triste foi aquele»! Ah, meu Deus, eu que pensarei deste dia nesse dia E o que serei, de que forma; o que me será o passado que é hoje só presente?... O ar está mais desagasalhado, mais frio, mais triste E há uma grande dúvida de chumbo no meu coração...

Álvaro de Campos

Álvaro de Campos (Tavira ou Lisboa1 , 13 ou 15 de Outubro2 de 1890 — 1935) é um dos heterónimos mais conhecidos, verdadeiro alter ego do escritor português Fernando Pessoa. [http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_de_Campos – consultado em 21.3.2015]


Tentação

Eu não resistirei à tentação, não quero que de mim possas perder-te, que só na fonte fria da razão renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação de quanto adivinhei nesta amargura: um sim que só assalta quem diz não, um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão, a te perder nos versos, nas palavras: mas não resistirei à tentação de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi e que na terra toda não mais vi.

Luís Filipe Castro Mendes


Já Foste Rico e Forte e Soberano

Já foste rico e forte e soberano, Já deste leis a mundos e nações, Heróico Portugal, que o gram Camões Cantou, como o não pôde um ser humano!

Zombando do furor do mar insano, Os teus nautas, em fracos galeões, Descobriram longínquas regiões, Perdidas na amplidão do vasto oceano.

Hoje vejo-te triste e abatido, E quem sabe se choras, ou então, Relembras com saudade o tempo ido?

Mas a queda fatal não temas, não. Porque o teu povo, outrora tão temido, Ainda tem ardor no coração.

Saúl Dias


Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro

Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa a (...) de Abril de 1889, e nessa cidade faleceu, tuberculoso, em (...) de (...) 1915. [http://multipessoa.net/labirinto/alberto-caeiro/1 – consultado em 21.3.2015]


Quotidiano (Reflexão)

Por exemplo, as coisas que faltam neste lugar: uma enxada para que as mãos não toquem na terra, um ninho de pardais no canto da relha, para que um ruído de asas se possa abrigar, um pedaço de verde no monte que ainda vejo, por detrás dos prédios que invadem tudo.

Mas se estas coisas estivessem aqui, também faria falta um copo de água para ver, através do vidro, um horizonte desfocado; e ainda os restos de madeira com que, no inverno, é costume atiçar o fogo e a imaginação que ele consome.

Como se tudo estivesse no lugar, pronto para ser usado na data prevista, sento-me à janela, e fixo a única coisa que não se move: o gato, hipnotizado por um olhar que só ele pressente.

Nuno Júdice


Ilustração do poema escolhido


Explicação da Ilustração

O poema escolhido foi “O Beijo”. O verso “E é a força sem fim de duas bocas” foi o ponto de partida para a conceção do meu desenho. A múltiplas “bocas sem fim” para reforçar.


Conclusão Gostei de ter feito este trabalho uma vez que não tenho muito por hábito ler poesia, e como tal não conheço muitos poemas ou poetas. Foi importante ter feito pesquisa sobre os autores e as suas respetivas obras. Tive alguns problemas com a seleção dos poetas contemporâneos por me ter sido difícil a interpretação de alguns. Creio, no entanto, que acabei por ultrapassar as dificuldades. Procurei introduzir neste dossiê poemas que transmitissem sentimentos diferentes uns dos outros. Temas e sentimentos como o amor, a alegria, a tristeza, a saudade, a amizade, a vida, a morte. Penso que o trabalho em si está bem feito, embora pudesse estar mais completo.


Webgrafia http://www.citador.pt/poemas/autores

http://poediapoedia.blogspot.pt/

http://novelosdesilencio.blogspot.pt/

 Trabalho recebido em 21 de março de 2015 às 17:47


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