Poesia j 14

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Escola Artística António Arroio

Disciplina: Português Professora: Elisabete Miguel

João Coelho – N.º 14 - 10.º J


Indice

Introdução

Amor, Miguel Torga

A Morte, Esse Lugar Comum, Alexandre O’Neill

Anda vem, Antonio Botto

 É urgente o amor, Eugénio de Andrade  Clandestinidade, Fernando Namora  Deus, Nuno Judice  Quero um erro de grámatica que refaça, Helberto Helder  Lágrima, Carlos de Oliveira  Meditação sobre os Poderes, José Jorge Letria  Da condição humana, José Carlos Ary dos Santos  Devia morrer-se de outra maneira, José Gomes Ferreira  A hora de partida, Sophia de Mello Breyner  Aprendamos, amor, José Saramago  A velhice é um vento, Fernando Echevarria  O tempo, Rosa Lobato Faria  Fanatismo, Forbela Espanca  Amor, António Osório  A Exaltação da Pele, Natália Correia  Que há para lá do Sonhar, Vergílio Ferreira  Noite Vazia, Edmundo Bettencourt  Ilustração  Conclusão  Webgrafia


Introdução

A professora de português pediu-me para pesquisar 20 poetas contemporâneos portugueses e selecionar um poema de cada um. Os poetas eleitos são de: Miguel Torga, Alexandre O’Neill, António Botto, Eugénio de Andrade, Fernando Namora, Nuno Judice, Herberto Helder, Carlos de Oliveira, José Jorge Letria, José Carlos Ary dos Santos, José Gomes Ferreira, Sophia de Mello Breyner, José Saramago, Fernando Echevarria, Rosa Lobato Faria, António Osório, Natália Correia, Florbela Espanca, Vergilio Ferreira e Edmundo Bettencourt. Foi-me também pedido para ilustrar o poema selecionado com uma fotografia ou desenho da minha autoria. O poema que escolhi foi “A Morte, Esse Lugar Comum”, de Alexandre O’ Neill, pois foi o poema de que mais gostei.


Amor

A jovem deusa passa Com véus discretos sobre a virginidade; Olha e não olha, como a mocidade; E um jovem deus passa pressente aquela graça.

Depois, a vide do desejo enlaça. Numa só volta a dupla divinidade; E os jovens deuses abrem-se á verdade, Sedentos de beber da mesma taça.

É um vinho amargo que lhes cresta a boca; Um condão vago que os desperta e toca De humana e dolorosa consciência.

E abraçam-se de novo, já sem asas. Homens apenas. Vivos como brasas, A queimar o que resta da inocência.

Miguel Torga


A Morte, Esse Lugar Comum

É trivial a morte e há muito se sabe Fazer – e muito a tempo! - o trivial. Se não fui eu quem veio no jornal, Foi uma tosse a menos na cidade...

A caminho do verme, uma beldade. - Não dirias assim, Gomes Leal? – Vai ser coberta pela mesma cal Que tapa a mesma intensa fealdade.

Um crocitar de corvo fica bem Neste anuncio de morte para alguém Que não vé n’alheia sorte a própria sorte...

Mas porque não dizer, com maior nojo, Que um menino saiu do imenso bojo De sua mãe, para esperar a morte?

Alexandre O’Neill


Anda vem

Anda vem, porque te negas, Carne morena, toda perfume? Porque te calas, Porque esmoreces, Boca vermelha – Rosa de lume?

Se a luz do dia Te cobre de pejo, Esperemos a noite presos num beijo.

Dá-me o infinito gozo De contigo adormecer Devagarinho, sentindo O aroma e o calor Da tua carne, meu amor.

E ouve, mancebo alado: Entrega-te, sê contente! - Nem todo o prazer Tem vileza ou tem pecado!

Anda vem!... Dá me o teu corp Em troca dos meus desejos Tenho saudades da vida! Tenho sede dos teus beijos!

António Botto

É urgente o amor


É urgente o amor.

É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, Ódio, solidão e crueldade, Alguns lamentos, Muitas espadas.

É urgente inventar alegria, Multiplicar os beijos, as searas, É urgente descobrir rosas e rios E manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e na luz Impura, até doer. É urgente o amor, é urgente Permanecer.

Eugénio de Andrade


Clandestinidade

Secreto me acho E secreto me sentes Quando Secreto me julgas, Impuro me reconheço Quando O nosso silêncio São vozes turvas. Dúbio é o desejo Quando Não é transparente A água em que se deita Precavidamente. Clandestinos somos Quando O que somos Teme a face que pesquisa. Os olhos são claros Quando A superficie do espelho É lisa.

Fernando Namora


Deus

Á noite, há um ponto do corredor Em que um brilho ocasional faz lembrar Um pirilampo. Inclino-me para o apanhar - E a sombra apaga-o. Então Levanto-me: já sem a preocupação De saber o que é esse brilho, ou Do que é reflexo Ali, no entanto, ficou Uma inquietação; e muito tempo depois, Sem me dar conta do motivo autentico, Ainda me volto no corredor, procurando a luz Que já não existe.

Nuno Júdice


Quero um erro de gramรกtica que refaรงa

Quero um erro de gramรกtica que refaรงa Na metade luminosa o poema do mundo, E que deus mantenha oculto na metade noturna O erro do erro: Alta voltagem do ouro Bafo no rosto

Herberto Helder


Lágrima

A cada hora O frio Que o sangue leva ao coração Nos gela como o rio Do tempo aos derradeiros glaciares Quando a espuma do mar Se transformar em pedra.

Ah no deserto Do próprio ceu gelado Pudesses tu suster ao menos na descida Uma estrela qualquer E ao seu calor fundir a neve que bastasse Á lagrima pedida Pela nossa morte.

Carlos de Oliveira


Meditação Sobre os Poderes

Rubricavam os decretos, as folhas tristes Sobre a mesa dos seus poderes efémeros. Queriam ser reis, czares, tantas coisas, E rodeavam-se de pequenos corvos, Palradores e reverentes, dos que repetem: És grande, ninguém te iguala, ninguém. Repartiam entre si os tesouros e as dádivas, Murmurando forjadas confidencias, Não amando ninguém, nada respeitando. Encantavam-se com o eco liquefeiro Das suas vozes comandando, decretando. Banqueteavam-se com a pequenez De tudo quanto julagavam ser grande, Com os quadros, com o fulgor novo-rico Das vénias e dos protocolos. Vinha a morte E mostrava-lhes como tudo é fugaz Quando, humanamente, se está de passagem, Corpo em trânsito para lado nenhum. Acabam sempre a chorar sobre a miséria Dos titulos afundados na terra lamacent

José Jorge Letria


Da Condição Humana

Todos sofremos. O mesmo ferro oculto Nos rasga e nos estilhaça a carne exposta O mesmo nos queima os olhos vivos. Em todos dorme A humanidade que nos foi imposta. Onde nos encontramos, divergimos. É por sermos iguais que nos esquecemos Que foi do mesmo sangue, Que foi do mesmo ventre que surgimos.

José Carlos Ary dos Santos


Devia morrer-se de outra maneira

Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentissemos cansados, fartos do mesmo sol A fingir de novo todas as manhãs, convocariamos Os amigos mais intimos com um cartão de convite Para o ritual do Grande Desfazer: “Fulano de tal comunica Á V. Exa. Que vai transformar-se em nivem hoje ás 9 horas. Traje de passeio”. E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos Escuros, olhosm de lua de cerimônia, viriamos todos assistir A despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. “Adeus! Adeus!” E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, Numa lassidão de arrancar raizes... (primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos...) A carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se Em fumo.. em tão leve... tão sutil... tão pólen... Como aquela nuvem além (vêem) – nesta tarde de outono Ainda tocada por um vento de lábios azuis...

José Gomes Ferreira


A Hora da Partida

A hora da partida soa quando Escurecem o jardim e o vento passa, Estala o chão e as portas batem, quando A noite cada nó em si deslaça. A hora da partida soa quando As arvores parecem inspiradas Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos Me é estranha e longiqua a minha face E de mim se desprende a vida.

Sophia de Mello Breyner


Aprendamos, amor

Aprendamos, amor, com estes montes Que, tão longe do mar, sabem o jeito De banhar no azul dos horizontes.

Façamos o que é certo e de direito: Dos desejos ocultos outras fontes E desçamos ao mar do nosso leito.

José Saramago


A velhice é um vento

A velhice é um vento que nos toma No seu halo feliz de ensombramento E em nós depõe do que se deu á obra Somente o modo de não sentir o tempo, Senão no ritmo interior de a sombra Passar á transparência do momento Mas um momento de que baniram horas O hábito e o jeito de estar vendo Para muito mais longe. Para onde a obra Surde. E a velhice nos ilumina o vento.

Fernando Echevarria


O tempo

O tempo tem aspectos misteriosos: Um ano passa a toda a velocidade, E um minuto, se estamos ansiosos Parece, ás vezes, uma eternidade.

Um dia ou é veloz ou pachorrento - depende do que está a acontecerO tempo de estudar, pode ser lento. O tempo de brincar, passa a correr.

E aquela terrivel arrelia Que até te fez chorar, por ser tão má, Deixa passar o tempo. Por magia, Quando olhamos para trás, já lá não está.

Rosa Lobato Faria


Fanatismo

Minh’ alma, de sonhar-te, anda perdida. Meus olhos andam cegos de te ver Não és seque a razão do meu viver Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enloquecida... Passo no mundo, meu amor, a ler No mist’rioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida!..

Tudo no mundo é fragil, tudo passa... Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros: Ah! podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como deus: principio e fim!..

Florbela Espanca


Amar

Amar não deve ser desfortuna. O cio transfunde A largatixa e o homem Na criação tenaz. E o bruxo, o pólen E as primeiras folhas Da vinha virgem. Amor Não tem quaresma, Nela impetuoso regressa e copula.

António Osório


A Exaltação da Pele

Hoje quero com a violêncio da dádiva interdita. Sem lírios e sem lagos E sem o gesto vago Desprendido da mão que um sonho agita. Existe a seiva. Existe o instinto. E existo eu Suspensa de mundos cintilantes pelas veias Metade fêmea metade mar como as sereias.

Natália Correia


Que há para lá do Sonhar?

Que há para lá do sonhar? Céu baixo, grosso, cinzento E uma luz vaga pelo ar Chama-se ao gosto de estar Reduzido ao fermento Do que mim a levedar É este estranho tormento De me estar tudo a contento, Em todo o meu pensamento Ser pensar a dormitar.

Vergílio Ferreira


Noite Vazia

Noite Vazia Crescimento do silêncio a devorar as nuvens. Voo incansável e monótono das aves brancas do cérebro. Florida e ondulada suspensão da mágoa. As ferocidades são ternuras desmaiando na estepe adivinhada. O amor abre goelas bocejantes nos côncavos da ausência do espaço. E a morte espreitando a lentidão irradia baçamente a sua despedida.

Noite vazia.

As aves brancas do cérebro inutilmente abatem as suas asas!

Edmundo Bettencourt


Ilustração

Para a ilustração fiz o desenho de um corpo morto no deserto com um corvo pousado, algo que condiz com o tema do poema. Escolhi desenhar um espaço deserto para representar a visão que o sujeito poético tem sobre a vida.


Conclusão

Gostei de realizar este trabalho, porque sinto que com a sua realização adquiri mais conhecimentos sobre a poesia portuguesa. Estou satisfeito com o trabalho final, talvez o seu ponto fraco seja a ilustração, que ficou demasiado ‘presa’ à letra do poema.


Webgrafia

Todos os poemas foram retirados do site http://www.citador.pt/ Imagem da capa: http://dark.pozadia.org/wallpaper/Black-and-White-Tree/


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