Coleção Educação em Rede V. 5 - Rodas de Conversa

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Educação em Rede

Volume 5

Rodas de conversa na Educação Infantil

Sesc | Serviço Social do Comércio


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Volume 5

Rodas de conversa na Educação Infantil

Rio de Janeiro Sesc | Serviço Social do Comércio Departamento Nacional 2018


SESC | SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO

Presidência do Conselho Nacional

Antonio Oliveira Santos

DEPARTAMENTO NACIONAL Direção-Geral

Carlos Artexes Simões Diretoria de Educação

Claudia Guimarães Fadel Diretoria de Estratégia e Desenvolvimento Institucional

Daniel Mansur Lopez CONTEÚDO

PRODUÇÃO EDITORIAL

Gerência de Educação

Diretoria de Comunicação

Cynthia Rodrigues

Pedro Hammerschmidt Capeto

Gerência de Formação e Pesquisa

Supervisão editorial e preparação

Veronica Tomsic

Fernanda Silveira

Coordenação de Formação Continuada

Projeto gráfico

Marcia Alegre Pina

Ana Cristina Pereira (Hannah23)

Assessoria Técnica

Revisão de texto

Aline Vieira de Albuquerque Gilvania Ferreira Porto Anna Paula Jannuzzi Gasparri Claudia Santos de Medeiros

Michele Paiva BR75 texto | design | produção Diagramação

Avellar e Duarte

Texto

Produção gráfica

Departamentos Regionais

Celso Mendonça Estagiária de produção editorial

Juliana Nunes

©Sesc Departamento Nacional, 2018 Av. Ayrton Senna, 5.555 — Jacarepaguá Rio de Janeiro — RJ CEP 22775-004 Tel.: (21) 2136-5555 www.sesc.com.br

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) Sesc. Departamento Nacional Rodas de conversa ns Educação Infantil/Sesc, Departamento Nacional. – Rio de Janeiro: Sesc, Departamento Nacional, 2018. 208 p.:22 cm. – (Educação em rede; v. 5)

Distribuição gratuita. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610/1998.

ISBN 978-85-8254-067-1. 1. Educação. 2. Professores. 3. Formação de professores. 4. Proposta pedagógica. 5. Planejamento pedagógico. I. Título.

CDD 371.12


A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar estatuto ao saber da experiência. ( NÓVOA,

1965)



A formação docente tem sido um dos princípios de atuação do Sesc junto a sua rede de escolas. A experiência com a docência e as práticas bem-sucedidas provocam o desejo de fazer escolhas alinhadas ao referencial teórico adotado pelo Sesc e retratado no documento Proposta Pedagógica da Educação Infantil. A inspiração do professor para planejar situações que desafiem as crianças de olhar atento, para seus alunos, para outros professores, para o ambiente que está inserido, para autores com os quais dialoga. A reflexão sobre a prática docente, atrelada a instrumentos do cotidiano que fazem com que o professor a qualifique, amplia a sua capacidade criativa, proporciona autoria e responsabilidade nos processos de ensino e aprendizagem de seus estudantes e também sob o próprio percurso formativo. Toda formação deve incentivar uma perspectiva crítico-reflexiva, que proporcione aos professores os meios de um pensamento autônomo. É preciso que, para além de experiências que se relacionam com a dimensão pedagógica, o professor possa viver experiências de produção e validação de seus saberes. Pensar em metodologias que auxiliem os professores na busca da qualificação de sua prática, algo que faça sentido e seja validado como uma prática bem-sucedida, é um desafio do tamanho do Brasil. A série de textos que compõe este livro é fruto de reflexões sobre a prática docente no cotidiano das escolas de Educação Infantil do Sesc em diferentes Departamentos Regionais, a partir da ação de formação “Rodas de Conversa na Educação Infantil”, realizada em 2015. Desejamos que o material possa contribuir com a reflexão de tantos outros profissionais de Educação espalhados pelo país. E que a experiência favorecida através das “Rodas de Conversa” possibilite o refletir sobre a formação do professor, evidenciando que o refletir sobre os saberes construídos ao longo das trajetórias de ensino fortalece os princípios e as diretrizes que apoiam a Educação do Sesc. Sesc | Serviço Social do Comércio



Sumário INTRODUÇÃO — ABRINDO AS RODAS DE CONVERSA

Anna Paula Jannuzzi Gasparri, Claudia Santos de Medeiros, Gilvania Ferreira Porto

10

A ESCOLA, A PROPOSTA PEDAGÓGICA E AS FAMÍLIAS

Arleide Deolina Clemente

20

A ESCOLA, A PROPOSTA PEDAGÓGICA E AS FAMÍLIAS II

Rejane Maia

30

AS DIFERENTES INSTÂNCIAS DO PLANEJAMENTO

Priscila Monteiro

40

AS EXPERIÊNCIAS COTIDIANAS: OS TEMPOS, OS ESPAÇOS E OS MATERIAIS

Maria da Graça Souza Horn

48

DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Andrea de Souza

56

ESCOLA: UM LUGAR DE ENCONTROS, DESAFIOS E HISTÓRIAS

Daniela Alves Pereira

64

ESPAÇOS QUE ENCANTAM

Luciana da Silva Costa, Vanessa Cavalheiro Garcia

76

FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO: UMA EXPERIÊNCIA COM EDUCADORES DO SESC NO TOCANTINS

Kelma Régia da Silva Oliveira

84

FORMAÇÃO DE GESTORES EDUCACIONAIS: UM CONVITE AOS PROCESSOS COLETIVOS

Amanda Lopes Sampaio

92


O INUSITADO MUNDO DOS PROJETOS

Silvana Ziemer Schorn

100

O PLANEJAMENTO COMO INSTÂNCIA FORMADORA

Meire Célia Lima da Silva

110

OS PORTFÓLIOS E SUAS HISTÓRIAS

Francisley Araújo Silva

116

PLANEJAMENTO COMO INSTÂNCIA FORMATIVA

Luciene Carnielo de Godoi

124

PRESSUPOSTOS PARA A ABORDAGEM DA DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Paulo Sergio Fochi

132

PROJETOS DIDÁTICOS E LÚDICOS

Adriana Klisys

140

PROJETOS PROPOSTOS PELO PROFESSOR

Francisca Nunes de Lima

150

REGISTRO COMO INSTÂNCIA FORMATIVA

Ana Mara de Sousa

160

REGISTRO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Andréa Relva da Fonte

168

RODA DE LEITURA PARA PROFESSORES: O REGISTRO COMO PRÁTICA DE FORMAÇÃO

Teresinha de Jesus Conceição Souza

174

SEMANA PEDAGÓGICA NO SESC: UMA POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES

Natália Moura Dias de Lucena

182

UMA ESCOLA SÓ: A INTEGRAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO FUNDAMENTAL

Adonai Macedo Ferreira Reis

196


Introdução — Abrindo as rodas de conversa Anna Paula Jannuzzi Gasparri,i Claudia Santos de Medeiros,ii Gilvania Ferreira Portoi

i

Assessora Técnica da Gerência de Educação/Núcleo de Educação Infantil do Departamento Nacional do Sesc.

ii

Assessora Técnica da Gerência de Educação/Núcleo de Educação Infantil do Departamento Nacional do Sesc

(até 2017). iii Assessora Técnica da Gerência de Educação/Núcleo de Educação Infantil do Departamento Nacional do Sesc.

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Deixa que digam Que pensem Que falem Deixa isso pra lá Vem pra cá O que que tem Eu não estou fazendo nada Você também Faz mal bater um papo Assim gostoso com alguém? (RODRIGUES, 2015)

Contar a história de como surgiu a ideia das Rodas de Conversa é passar pelo modo como a equipe de Educação Infantil do Departamento Nacional do Sesc entende os processos de formação continuada das equipes de Educação Infantil nos seus Departamentos Regionais.1 11

Nosso trabalho consiste, principalmente, na organização de ações de formação presencial e a distância, quando selecionamos materiais para a temática que iremos estudar, observamos o cotidiano das escolas, divulgamos boas práticas com imagens, tentamos compartilhar os saberes e fazeres das equipes de Educação Infantil do Sesc em todo Brasil. Certa vez, nos demos conta de que, melhor do que levar fotografias das escolas (o que também é uma excelente estratégia formativa), deveríamos levar a própria equipe contando seu percurso na busca da qualificação de sua prática. Entretanto, como assegurar que as 132 escolas de Educação Infantil tivessem acesso àquela história, que aconteceu em determinado lugar? Ou pudessem contar seus percursos, dilemas e conquistas para as demais? Assim, como uma primeira tentativa de levar a história de uma escola para outra pela voz de quem fazia essa mesma escola, pedimos para a supervisora pedagógica da escola do Sesc Santo Ângelo, do Sesc no Rio Grande do Sul,2 Juliana Rodrigues, produzir um vídeo “caseiro”, contando o caminho percorrido com sua equipe para a organização dos espaços da escola. O pedido era simples, algo pontual, entretanto, o material que chegou a nossas mãos tinha algo além do esperado. De início,   Desde 1946, quando foi criado, o Sesc está presente em todo o Brasil e desenvolve Educação Infantil (com exceção do estado de São Paulo). Os Departamentos Regionais são representações do Sesc em cada estado. 1

O Sesc Santo Ângelo é uma das unidades do Departamento Regional do Sesc no Rio Grande do Sul.

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Juliana já começou subvertendo o pedido fazendo uma gravação com sua professora Aline Dezengrini de Souza, dialogando sobre o cotidiano da escola. Vieram falas sobre formação continuada de professores, acompanhamento do coordenador pedagógico, planejamento, avaliação das crianças, organização dos espaços ambientados e um convite para socializar as práticas. Enfim, o material ultrapassou nossas expectativas e o vídeo circulou por muitos estados onde fizemos formação nos últimos anos. Ainda hoje, esse vídeo é mostrado para alguma equipe que precise se inspirar.

12 Introdução

A partir dessa ideia simples, tivemos certeza da potência que havia na comunicação do trabalho das equipes de Educação Infantil. O acompanhamento aos Departamentos Regionais possibilita-nos saber o que vem dando de muito certo em determinadas escolas, mas essas informações não poderiam ficar só conosco, precisávamos divulgar as boas práticas que o Sesc tem espalhadas pelo Brasil de uma forma mais dinâmica, verdadeira, que mostrasse experiências positivas desenvolvidas por equipes que se arriscaram/arriscam junto conosco. Precisávamos chegar aos locais onde não chegávamos, daí surgiu a ideia de organizamos as Rodas de Conversa na Educação Infantil, uma série de sete videoconferências transmitidas do Rio Janeiro para todo o Brasil, as quais comporiam, também, um ambiente virtual no qual as conversas pudessem continuar. Junto com isso veio a criação do formato das Rodas. Para cada tema, convidaríamos duas profissionais do Sesc para contar sua experiência a partir de um subtema dentro do contexto mais amplo, um assessor externo/especialista na temática em questão, que daria ao nosso trabalho um estofo teórico, e uma de nós, assessoras técnicas da Educação Infantil, como as mediadoras de cada conversa. Entretanto, enfrentamos outro dilema: como escolher as melhores experiências? Como definir, entre tantas temáticas importantes, aquelas que dessem conta de mostrar o trabalho realizado? Como falar do que nos parece comum, de coisas que já estão em vários discursos, mas ainda não estão presentes, de fato, em muitas práticas? Em nossa “rodinha de conversa” no Departamento Nacional, começamos a discutir sobre um parâmetro possível para essa escolha: profissionais do Sesc, de diferentes estados, que pudessem falar sobre temáticas que fossem recorrentes em nossas ações presenciais; temas que sabemos serem fundamentais para os estudos permanentes que se apresentam como grandes desafios na Educação Infantil.

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Assim, escolhemos os assuntos das Rodas, as profissionais do Sesc e seus temas, os assessores e nos dividimos conforme nossas afinidades:

Roda 1: A formação de professores — 30/3/2015 • Kelma Régia da Silva Oliveira (Coordenadora Regional de Educação do Departamento Regional do Sesc no Tocantins): A formação em serviço ao longo do ano letivo e em nível regional • Natália Moura de Lucena Nunes (Coordenadora Regional do Sesc Ler Departamento Regional do Sesc no Pará): A organização de Semanas Pedagógicas • Amanda Lopes Sampaio (Coordenadora Regional de Educação Infantil e 1o Segmento do Ensino Fundamental — Departamento Regional do Sesc no Distrito Federal): O acompanhamento da coordenação regional no cotidiano das escolas 13

• Mediação: Claudia Medeiros (Departamento Nacional do Sesc)

Introdução

Roda 2: O planejamento como instância formativa — 31/3/2015 • Meire Célia Lima (Coordenadora de Educação Infantil e 1o ano do Ensino Fundamental — Departamento Regional do Sesc em Alagoas): A intervenção do coordenador no planejamento e no acompanhamento do trabalho do professor • Luciene Carniello de Godói (Diretora da Escola Sesc Anapólis — Departamento Regional do Sesc em Goiás): A seleção de expectativas de aprendizagem de maneira que o planejamento esteja adequado aos diferentes níveis • Assessoria Externa: Priscila Monteiro (Consultora Pedagógica da Fundação Victor Civita (SP) • Mediação: Gilvania Porto (Departamento Nacional do Sesc)

Roda 3: Projetos didáticos — 28/4/2015 • Silvana Zimer Schorn (Coordenadora da Educação Infantil do Sesc Ijuí — Departamento Regional do Sesc no Rio Grande do Sul): O surgimento de projetos inusitados que nascem da mobilização das crianças para os temas

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• Francisca Nunes de Lima (Coordenadora da Educação Infantil do Sesc Araguaína — Departamento Regional do Sesc no Tocantins): Os projetos planejados pelo professor • Assessor Externo: Adriana Klisys (Consultora em Educação e Cultura) • Mediação: Anna Paula Gasparri (Departamento Nacional do Sesc)

Roda 4: Organização de espaços lúdicos — 29/4/2015 • Luciana Costa (Coordenadora da Educação Infantil do Sesc Horto — Departamento Regional do Sesc no Mato Grosso do Sul): A escolha dos temas para os espaços dialogando com os projetos e as preferências das crianças

14 Introdução

• Daniela Alves Pereira (Coordenadora da Educação Infantil do Sesc Bagé — Departamento Regional do Sesc no Rio Grande do Sul): “Salas Abertas”: quando as crianças circulam livremente pela escola • Assessora Externa: Maria da Graça Souza Horn (Professora convidada da UFRGS) • Mediação: Gilvania Porto (Departamento Nacional do Sesc)

Roda 5: Documentação pedagógica — 30/4/2015 • Andrea de Souza (Coordenadora Regional de Educação Infantil do Departamento Regional do Sesc no Rio Grande do Sul): Os instrumentos utilizados para documentar as trajetórias das crianças • Francisley Araujo Silva Barros (Coordenadora da Educação Infantil do Sesc Setor Universitário — Departamento Regional do Sesc em Goiás): Os portfólios de avaliação: individuais e coletivos • Assessor Externo: Paulo Fochi (Professor do curso de Pedagogia e coordenador do Curso de Especialização em Educação Infantil da Unisinos) • Mediação: Claudia Medeiros (Departamento Nacional do Sesc)

Roda 6: Registro da prática pedagógica — 1/6/2015 • Teresinha Souza (Coordenadora Geral de Educação da Escola Sesc Pantanal): O surgimento de rodas de registro, seus entraves e sucessos

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• Ana Mara Sousa (Coordenadora da Educação Infantil e do 1o ano do Ensino Fundamental do Sesc Floriano — Departamento Regional do Sesc no Piauí): O registro reflexivo que alimenta o planejamento e a avaliação • Assessora Externa: Andrea Relva (Integrante da equipe da Rede Municipal de Educação Infantil do munícipio do Rio de Janeiro) • Mediação: Anna Paula Gasparri (Departamento Nacional do Sesc)

Roda 7: A escola, a proposta pedagógica e as famílias — 2/6/2015 • Arleide Deolina Clemente (Coordenadora de Educação Infantil e do 1o ano do Ensino Fundamental do Sesc Guaribas — Departamento Regional do Sesc no Piauí): A proposta pedagógica como eixo do trabalho, tanto de formação quanto junto às famílias 15 Introdução

• Adonai Macedo Ferreira (Coordenadora de Educação Infantil e do 1o ano do Ensino Fundamental do Sesc Castanhal — Departamento Regional do Sesc no Pará): O planejamento da integração entre Educação Infantil e Ensino Fundamental envolvendo as famílias • Assessoria Externa: Rejane Maia (Assessora Pedagógica nas redes pública e privada de ensino) • Mediação: Claudia Medeiros (Departamento Nacional do Sesc)

Como bem disse nossa coordenadora Ana Mara, do Piauí, “as Rodas de Conversa foram um divisor de águas na história da Educação Infantil do Sesc!”. Momentos de pura emoção, troca, partilha, inquietação, desejo do novo, de afirmar escolhas, de sentir-se parte de algo muito maior do que só o que acontece em cada uma das escolas. Professores, diretores, estagiários e coordenadores tiveram a noção do que significa fazer parte de uma rede de escolas (uma das maiores redes de escolas privadas do Brasil). Vivemos a possibilidade de olhar, de fato, para as nossas práticas, estranhá-las, perceber no que ainda era preciso avançar, caminhar na busca daquilo que possa qualificar mais e mais o que estamos realizando. As Rodas requereram, de todos, uma atitude responsiva, uma atitude não passiva, pois o falante não “espera uma compreensão passiva, [...] mas uma resposta, uma concordância, uma participação, uma objeção, uma execução” (BAKHTIN, 2003, p. 272).

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Assim, junto com as Rodas, veio a certeza de que estamos em um bom caminho para discutir as práticas pedagógicas na Educação Infantil: por meio do diálogo. É preciso contar, também, a história dos bastidores das Rodas. Para quem as assistiu talvez não fique tão claro todas as etapas que antecederam ao dia da transmissão ao vivo. Tudo começou com o convite às profissionais do Sesc. A primeira reação de “frio na barriga” logo deu lugar ao desejo de poder partilhar com as demais colegas do Brasil o trabalho que realizam em suas escolas e seus Departamentos Regionais. Combinamos datas para remessa das apresentações, as quais poderiam conter fotos, textos, vídeos e tudo mais que desejassem. Conversávamos a distância fazendo uma análise conjunta de todo material enviado, ligávamos para cada participante, escrevíamos nossos combinados por email, e dá-lhe conversa, muita conversa, até chegarmos à versão final do trabalho que seria apresentado. 16 Introdução

Enquanto isso tudo ia acontecendo, também começavam os contatos com nossos assessores convidados, falando um pouco do que cada uma das profissionais apresentaria. Aqueles materiais organizados por elas foram-lhes enviados, previamente, para que também pudessem analisar e já irem pensando em suas próprias contribuições para as Rodas. No dia de cada Roda estava previsto um momento “esquenta”, que aconteceria no período da manhã. Cada participante fazia uma prévia do trabalho, um ensaio, e o mesmo valia para os assessores; juntos debatíamos e estudávamos sobre a temática, a eleição de imagens, enfim, era uma espécie de aquecimento, pois o olhar do outro enriquece o nosso e a cada pergunta, comentário, refletíamos sobre nosso fazer. Que momento rico! Quantas trocas e aprendizagens! Onde a brasa mora E devora o breu Como a chuva molha O que se escondeu O seu olhar seu olhar melhora Melhora o meu (ANTUNES, 2015)

Enfim, chegou o dia da primeira Roda! O resto da história quem estava presente sabe como foi. E quem não estava pode conhecer um pouco dela por meio

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deste livro, que compõe a série de publicações Educação em Rede.3 Aqui estão os textos produzidos pelos 21 participantes das Rodas (profissionais do Sesc e assessorias), retomando seus temas, tecendo novas reflexões e abrindo novas Rodas de Conversa. Vivemos momentos inesquecíveis na trajetória da Educação Infantil do Sesc. Partilhamos o que fazemos pelas escolas do Brasil, aprendemos uns com os outros, conversamos muito, afinal, as Rodas eram de Conversa! O bate-papo aconteceu ao vivo, em cada videoconferência, e se estendeu para o Fórum Virtual, e nos contatos pelo Facebook, e-mails, WhatsApp... Estabelecemos conexões! Pensar uma escola infantil na qual se assegure tanto o protagonismo infantil quanto o protagonismo de professores é buscar mecanismos pelos quais a autoria, o planejamento como instância formativa e o registro sobre a prática alimentem novos fazeres, inspirem a busca de novas práticas. 17 Introdução

Formar professores não é uma tarefa simples. É muitas vezes solitária. Mas se nos inspirarmos uns nos outros, se pensarmos boas práticas que ajudem a iluminar o olhar, se pudermos criar uma rede de partilhas, talvez o caminho seja menos árduo, mais tranquilo, mais rico e muito divertido! Desde sempre acreditamos que a prática formativa precisa comprometer o sujeito no diálogo, no desejo de mudança, na vontade de colocar em prática aquilo que se estuda, se acredita, se deseja. “Vive-se em um mundo de palavras do outro, de tal modo que as complexas relações de reciprocidade com a palavra do outro em todos os campos da cultura e da atividade completam toda vida do homem” (BAKHTIN apud GRUPO DE ESTUDOS DOS GÊNEROS DO DISCURSO, 2009, p. 27). Cada professor precisa ser respeitado em suas individualidades e necessidades formativas e não vive em uma ilha, em uma sala de aula-escolinha. Professores precisam de professores e escolas precisam de pessoas que dialoguem e se arrisquem nessa viagem que é a busca por uma Educação Infantil de qualidade. As Rodas de Conversa indicaram alguns caminhos, mas existem muitos outros. Por enquanto nos contentamos em apresentar aqui as conversas que tivemos em 2015, desejando que a leitura dos capítulos que se seguem seja inspiradora para que outras Rodas de Conversa continuem a girar!   Esta série tem como objetivo divulgar as reflexões dos participantes nas ações de formação promovidas pelo Sesc por videoconferência. 3

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Referências

A girar... Que maravilha... A girar... Que maravilha... A girar. (BEN JOR, 2015)

ANTUNES, A. O seu olhar. Disponível em: <https://letras.mus.br/arnaldo-antunes/91707/>. Acesso em: 22 dez. 2015. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (Biblioteca universal). BEN JOR, J. Que maravilha. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/jorge-ben-jor/quemaravilha.html>. Acesso em: 01 set. 2015. GRUPO DE ESTUDOS DOS GÊNEROS DO DISCURSO. Palavras e contrapalavras: glossariando conceitos, categorias e noções de Bakhtin. São Carlos: Pedro & João Editores, 2009. NÓVOA, A. Vidas de professores. 2. ed. Porto: Porto Editora, 1995. RODRIGUES, J. Deixa isso pra lá. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/jair-rodrigues/ deixa-isso-pra-la.html>. Acesso em: 01 set. 2015.

18 Introdução

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A escola, a proposta pedagógica e as famílias Arleide Deolina Clementei

i

Pedagoga formada pela Faculdade Evangélica do Piauí. Especialista em Gestão Educa-

cional pela Faculdade de Educação Montenegro. Atualmente coordenadora pedagógica no Sesc Ler de Guaribas (PI).

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