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“Ousar lembrar”

“Ousar lembrar”

AVPR se caracterizou por muitos conflitos e teve uma existência bastante longa considerando os grupos de luta armada existentes. De 1967 a 1974 encontramos registros de militantes que se identificam com o grupo, ou que reivindicam, na luta, seu legado. Não tiveram, como outros grupos, uma tentativa de reorganização, como o MR-8, nos anos 1980. Mas boa parte de seus membros seguiu vida política, seja legislativa ou Executiva, sobretudo nos anos 1990. Militantes da VPR até os dias atuais seguem vínculos de amizade, embora tenham incorrido em posições de vida muito divergentes entre si. Alguns laços de militância permaneceram ao longo dos anos. Velhas divergências são amenizadas (mas nem todas) e as lembranças são produzidas de acordo com a subjetividade de cada indivíduo. Quando se encontram, produzem um relato que tende à reprodução de uma memória coletiva. Em 2013 ocorreu em Aristóbulo del Valle (Argentina), um encontro de relembrança de ex-militantes da VPR. O local escolhido não podia ser mais propício, uma base da VPR que se mantém intacta até os dias de hoje. É um sítio administrado por Roberto de Fortini.1 Neste encontro, cada presente realizou a homenagem a um companheiro caído na luta. Neste momento todos os mortos (e desaparecidos) são tratados com o respeito histórico que lhes é devido. Esse livro partiu do contato inicial com memórias esparsas desses militantes. Ao buscar aprofundar a análise, nos deparamos com insuficiente bibliografia de análise histórica. A investigação seguiu, trazendo bibliografia e documentos, muitas vezes oriundos da repressão, que nos auxiliam a problematizar o tema da luta armada e em especial da VPR. Além de tratar da VPR, essa pesquisa buscou contribuir para uma grande questão histórica que até hoje segue em aberto, a Chacina do Parque Nacional do Iguaçu, como ficou conhecida através da obra de Aluízio Palmar, Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? que abre uma série de indagações de questões que até hoje seguem sem respostas 2 . O livro avança com muitos documentos inéditos trazidos à tona. Mas ainda assim, há lacunas que não conseguimos cobrir. Não tenho a pretensão de ter escrito um trabalho que esteja livre de conflitos, pois a

1 Álbum de fotos deste livro. 2 PALMAR publicou uma versão mais recente de seu livro pela editora Alameda (2019).

realidade se constrói em meio aos conflitos e contradições de classe, de raça, de gênero. Mais do que buscar apagar, é importante recuperar esses conflitos na narrativa histórica, desconstruindo as versões consolidadas por visões hegemônicas que carecem de dialética. A leitura deste livro mostrará que a VPR foi muito mais do que a reunião de militaristas com estudantes contra a Ditadura.

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