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Desenvolvimento da vida de piedade
texto oficial, seria agradável a Nossa Senhora e a Deus. E então rezava, tal era o entusiasmo que tinha.
Mas, ao usar o meu bom Goffiné, livrão grosso, eu depredava, pois sempre fui predatório de meus livros: quanto mais gostava do livro, mais o depredava. Eu folheava e folheava prestando atenção no sentido, e não na folha. E lá se ia aquilo... A encadernação foi desde logo contundida pelo natural ímpeto de meus movimentos48 . *
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Nesse mesmo livro Goffiné encontrei vários salmos de Davi, os salmos penitenciais entre outros, que me tocaram muito profundamente. Por exemplo, o salmo: “Exurge, Domine, quare obdormis?”. Este salmo correspondia exatamente ao que minha alma queria dizer a Deus, mas exatamente.
Mas tive medo de rezar o salmo, porque parecia tão de igual a igual para com Deus, que para o meu feitio de temperamento, começando a rezar, havia tanto risco que me pusesse loucamente nessa posição, que preferi não rezar o salmo em nível de oração. Eu o li para ver como ele era, mas não o rezei.
De lá para cá, uma vez ou outra eu me lembro de alguma estrofe desse salmo, e em ocasiões de perigo as rezo.
Bom, mas não tinha uma explicação inteira que – é horrível dizê-lo – me tranquilizasse sobre a ortodoxia do salmo. O salmo me parecia atrevido, sabia que o salmo era ditado pelo Espírito Santo. Mas dizia para mim mesmo: “Vem do Espírito Santo, mas passando pelos meus lábios e, portanto, pelas deformações do meu temperamento, ele toma um certo atrevimento; e como se trata de Deus Nosso Senhor, não pode ser isto e, portanto, não vai!”49
Desenvolvimento da vida de piedade
Frequentando a Congregação Mariana de Santa Cecília, vi que os congregados comungavam todo mês obrigatoriamente. Aderi a essa obrigação com toda naturalidade. Era o prolongamento do que eu queria.
Logo depois sobreveio a ideia de comungar todas as semanas, porque via que os mais fervorosos comungavam toda semana, e que isto era o desenvolvimento natural das coisas. Entreguei-me a essa prática de muito
48 SD 10/03/84 49 Almoço EANS 12/08/93
bom grado, mas quase sem fazer uma meditação especial. Era tão bom, tão natural, tão excelente, tão direito, então vou fazer, está acabado! [Creio que a parte cinza já foi citada antes]
A Congregação Mariana convidava os rapazes a um ritmo muito mais piedoso da vida. Os congregados rezavam o rosário. Eu tinha um rosário, mas não o levava nunca comigo. Passei a fazê-lo, sem que ninguém me recomendasse, porque percebia que precisava estar ligado ao rosário. Vivemos agarrados ao nosso rosário.
Um hábito ligado ao rosário que adotei foi de, em toda roupa nova que fazia – que não eram muitas –, a primeira coisa que punha era o rosário nesse bolsinho pequeno de calça, em cima. E toda roupa nova que eu vestia pela primeira vez, rezava umas tantas Ave Marias para pedir a Nossa Senhora para nunca permitir que, dentro dessa roupa, A ofendesse ou fosse a algum lugar onde Ela não queria que fosse. *
Antes de ser congregado mariano, quando eu rezava muito, julgava ter feito uma pequena maratona de orações rezando um Padre Nosso e dez Ave Marias. Não tinha noção dos Mistérios Gozosos, Dolorosos, Gloriosos!
Como havia ocasiões em que os congregados rezavam juntos, fui me habituando a superar as minhas modestas maratonas. No começo o terço me parecia muito longo, mas me habituei rapidamente. Depois veio o rosário. Uma vez ou outra eu rezava a Ladainha.
Foi aí que notei que eles pediam a Deus muitas coisas que não me tinha passado pela cabeça pedir, por serem coisas que me tinham sido dadas antes que as pedisse.
Então me pus em bloco diante do problema da piedade. E pensei: “Aqui é um bloco novo com que me defronto : a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, infalível, que ensina que se deve fazer essas coisas. Vejo que esses rapazes aqui as fazem frequentemente e com suma facilidade, e que se não fizessem eles não valeriam dois caracóis. Agora, na obediência à Igreja e para ter mais ainda fundo na alma aquilo que mais desejo no mundo, que é o espírito da Santa Igreja, devo assumir esses hábitos que não são meus e fazê-los meus. E devo, portanto, começar a rezar diariamente o meu rosário inteiro e a fazer uma série de orações, compreendendo que não conseguirei ser um católico a cem por cento, unido à Igreja tanto quanto está n’Ela e em mim, se não tiver uma vida de piedade ativa. Portanto, ainda que não sinta a necessidade de afervoramento nessas coisas para ser o que sou, vou começar a fazer. Por obediência, e sobretudo para obter esse fruto que eu quero mais do que todos: o espírito da Igreja dentro de mim”.