![](https://static.isu.pub/fe/default-story-images/news.jpg?width=720&quality=85%2C50)
3 minute read
da Ação Católica de São Paulo
Simultaneamente, comecei a notar que ia-se fazendo um vazio em torno de mim no meio católico204. Nós estávamos com o inimigo dentro de casa e tínhamos agora que fazer face a uma luta de uma natureza diferente. A partir desse momento, o nosso Grupo começou a se especializar na luta contra os inimigos internos da Igreja205 .
Em fins de 1938, quando Dom Duarte morreu, esse movimento estava levantando voo, e esse pessoal heterodoxo armou uma semana social na sede da Congregação Mariana de Santa Cecília, que não tinha nada a ver com isso.
Advertisement
Recordo-me da primeira escaramuça entre este pessoal e nós, aqui em São Paulo. Os congregados marianos queriam fazer representar uma peça de teatro, um sketch pequeno, muito engraçado, caçoando dos liberais. Eles disseram que não gostaram, porque não tinha caridade para com o próximo206 .
Indicação para presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo
O sucessor de Dom Duarte, Dom José Gaspar de Affonseca e Silva , era o contrário de Dom Duarte. Representava o modernismo completo, inteiro.
Estava vendo que ele ia pôr tudo aquilo no chão. E que ia começar a derrubada de tudo aquilo que eu amava. Compreendi que os funerais da Igreja começavam. Funerais em que Ela não ia morrer, mas Ela ia entrar no caixão, ia dar a um incontável número de pessoas a impressão de que Ela estava morta. Isto foi uma punhalada para mim, das maiores que tomei em minha vida207 .
Quando Dom José Gaspar foi nomeado Arcebispo de São Paulo, as relações no começo eram cordiais. Eu obtive dele com facilidade que o “Legionário” fosse elevado à condição de “órgão oficioso da Arquidiocese”. Foi nesse ponto em que o “Legionário” chegou ao seu auge, que começou a crise católica, e, com ela, a degringolada do “Legionário”208 .
Entrementes, por causa de providências que tomei, o novo Arcebispo mandou-me um convite para falar com ele:
204 Jantar EANS 23/11/90 205 Palestra sobre Memórias (IV) 9/8/54 206 Palestra sobre Memórias (V) 10/8/54 207 SD 7/12/91 208 SD 18/3/89
– Dr. Plinio, eu queria constituir a Ação Católica aqui em São Paulo, eu queria que o senhor fosse presidente da Ação Católica e que o senhor me indicasse os membros da diretoria (chamava-se Junta Arquidiocesana da Ação Católica). – Como não, Senhor Arcebispo. Com todo gosto. Estou aqui para servi-lo.
E pus o pessoal todo do “Legionário” dentro da Ação Católica209 . Presidente, eu. Tesoureiro, professor José Benedito Pacheco Salles. Primeiro Secretário, José Gonzaga de Arruda. SegundoSecretário, professor Fernando Furquim de Almeida210 .
De maneira que, de um modo inteiramente inesperado, nós ficamos colocados na direção daquela Ação Católica de orientação detestada, nefanda. No momento levei a sério a coisa. Hoje percebo que ele tinha algum jogo em vista211 .
O meu plano “A” era de esclarecer o Arcebispo sobre a situação, de fazer todo o possível para que ele colaborasse para o bem da Igreja Católica e fazer da Ação Católica uma grande instituição, “desinfiltrada” desses elementos e só com o que tinha de bom.
O que li e o que deitei de empenho neste ponto, e como procurei esclarecer o Arcebispo e falar com ele, e ser amável com ele, e prestar a ele toda a espécie de serviços em várias áreas para ele ver que podia contar ilimitadamente comigo, o que fui de bom amigo para ele é difícil dizer; porque transbordava de boas intenções para com ele.
Ainda que ele não me tivesse nomeado presidente da Ação Católica, só por ele ser o Arcebispo, o meu Arcebispo; e se ele comigo tivesse sido injustíssimo, mas não tivesse prestado à Igreja nenhum desserviço, eu teria sido para com ele fidelíssimo. Isso é uma coisa segura.
Por um ressentimento pessoal nunca – e ainda que esses ressentimentos fossem justos – nunca, mas nunca dos nuncas faria nada contra ele, nem sequer deixaria de o servir inteiramente como o servi. Não tem perigo. Com a graça de Nossa Senhora, posso dizer: meu estado de alma era o que estou dizendo.
Portanto, minha atitude não foi de quem queria aplicar uma rasteira nele. Eu queria aplicar uma rasteira no demônio. E o plano “A” era levar a rasteira a tal ponto que tirasse o Arcebispo de dentro das garras desse plano. Isto não sendo possível é que eu executaria o plano “B”.
209 Sede de São Milas, 16/6/73 210 Entrevista à Rádio Uruguaiana 21/6/90 211 Palestra sobre Memórias (V) 10/8/54