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capítulo i – Como foi feita a Santa Casa?

capÍtulo i

Como foi feita a Santa Casa?

A história de Loreto se inicia em Nazaré, onde Maria Santíssima recebeu a saudação angélica.

Na Palestina daquele tempo, as casas do povo humilde eram habitualmente formadas por três paredes ligadas a uma gruta, que constituía uma peça à parte. Não é de se excluir que pudesse haver outras peças menores e um pátio externo. De todo modo, a peça principal era a que estava ligada à gruta. Isto valia também, obviamente, para a Sagrada Família de Nazaré: uma família que – seja dito de passagem – mesmo não sendo tão miserável como gosta de dizer certo catolicismo miserabilista, era em todo caso humilde e austera, apesar de pertencer à estirpe real de David.

Como se sabe, a sala onde se deu a Encarnação do Verbo de Deus por meio do “Sim” pronunciado por Nossa Senhora se transformou em lugar de culto e objeto de peregrinação, desde as origens do Cristianismo. Na prática, ela foi venerada ainda quando Maria Santíssima estava ainda nesta terra.

Obviamente, no decurso dos tempos procurou-se tornar o ambiente mais adaptado para acolher o enorme afluxo de fiéis.Acapela foi englobada de forma gradual em uma estrutura maior, de tal modo que de uma igreja sinagogal de época constantianiana passou com o tempo a ser uma basílica, primeiro de construção bizantina, depois cruzada.

Ao longo desse período ocorreu sem dúvida que devotos peregrinos (mas também ladrões e simoníacos) levassem algumas pedras ou fragmentos retirados daquelas paredes sagradas, sem que os guardiões remediassem o problema acrescentando algum material novo naquele ponto. Em resu-

Gruta de Nazaré, Basílica da Anunciação.

As casas comuns eram geralmente formadas por três paredes adossadas a uma gruta, que constituía uma peça à parte. Não se deve excluir que pudesse haver outras peças menores e um pátio externo.

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mo, o edifício sofreu algumas pequenas transformações que, contudo, foram funcionais para a sua melhor conservação. E constitui de fato um dado certo e inegável que o lar da Sempre Virgem Maria foi preservado durante séculos de todo e qualquer perigo. Até mesmo em 1263, quando os exércitos islâmicos arrasaram o piso da Basílica da Anunciação, a Santa Casa – que se encontrava abaixo dela – foi preservada.

A presença dos Cruzados na Palestina, onde defendiam os Lugares Santos, terminou em maio de 1291 com a conquista muçulmana da última fortificação cristã, São João de Acre. Mas poucos dias antes da derrota definitiva do exército cruzado, a cela da Santíssima Anunciada desapareceu de Nazaré, de modo totalmente inexplicável.

E todos os peregrinos que visitaram o lugar depois daquela data confirmaram ter visto apenas a gruta, mas não as três paredes.

1.1 Trata-se realmente da casa de Nossa Senhora?

Ao longo dos séculos – começando pelos protestantes, que foram seguidos pelos iluministas – não faltaram vozes críticas que colocaram em dúvida a autenticidade da Santa Casa de Loreto. O pensamento racionalista e materialista desde sempre procurou refutar tudo o que pareça sagrado e milagroso, porque não aceita a existência de algo ou, melhor, de Alguém, que transcende e supera o mundo terreno. Em poucas palavras, não quer reconhecer a irrupção do sobrenatural na História.

Entretanto, para a Santa Casa de Loreto tampouco faltam provas, sendo a maior parte delas fruto da pesquisa técnico-científica.

Mesmo sabendo que todos aqueles que se obstinam em não acreditar encontrarão sempre um motivo de justificação para sua opinião falaciosa, Loreto é um milagre permanente, visível a todos. Examinemos agora alguns ele-

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mentos graças aos quais é possível afirmar racionalmente que sim, as paredes, íntegras e intactas que se encontram no santuário são exatamente aquelas entre as quais viveu a Sagrada Família em Nazaré e que foram milagrosamente transportadas para a Itália.

• Uma construção sem fundação?

Diante das características da Santa Casa, é impossível não maravilhar-se com esse milagre, que perdura por sete séculos. Ou seja, não se trata de “acreditar”, mas simplesmente de constatar. Cabe, portanto, aos críticos o ônus de provar a sua posição.

1) Considerando que do ponto de vista técnico-construtivo os estudos confirmaram que o edifício não sofreu nenhuma variação substancial no curso do tempo3, devemos antes de tudo sublinhar um dado muito curioso.

As três paredes da Santa Casa não têm um fundamento próprio e estão colocadas sobre a terra nua, sobre um terreno irregular, em níveis desiguais, porque uma parte está suspensa sobre o vazio de um fosso. O que é absolutamente inconcebível em qualquer construção, mesmo rudimentar, exceções feitas aos edifícios – como os da Palestina da época de Jesus – que, estando ligados a uma gruta, tinham como fundamento a própria rocha. Mas se uma casa (ou um lugar de culto) é construída do nada, como sempre insinuaram os críticos de Loreto, como fazê-la sem fundação e, além do mais, suspensa sobre um fosso?

Acrescente-se que durante as várias escavações arqueológicas se descobriu um arbusto gramíneo com uma

3 Para uma visão mais ampla sobre as escavações arqueológicas e a estrutura da construção da Santa Casa, ver G. Santarelli, La Santa Casa di Loreto, edizioni

Santa Casa, Loreto, 2014, págs. 95 e seguintes.

As paredes são formadas por um tipo de pedra e de argamassa inexistentes na região das Marcas. Trata-se de um estilo de construção e de material típico da Terra Santa. Sobre as diversas pedras estão gravados grafites de clara origem judaico-cristã.

As três paredes da Santa Casa não têm fundamentos próprios e jazem na terra nua; além disso, em terreno irregular, não no mesmo nível, porque uma parte está suspensa no vazio de uma vala.

parte esmagada por uma parede da casa4 e a outra parte se projetando sob a mesma parede, exatamente como se as paredes tivessem descido e se apoiado a partir de cima, sobre um terreno poeirento que não tinha sido limpado por ninguém antes de serem colocadas ali. Que construtor trabalharia assim?

Somente algum tempo depois, por temor de que a relíquia pudesse desmoronar ou então ser danificada, os habitantes de Recanati – em cujo território a Santa Casa finalmente chegou–fizeramalgumasfundaçõessubterrâneasesustentáculos paraas paredes, o chamado “muro dos recanetenses”(o qual, como se verá adiante, está situado a certa distância das

4 Ver G. Nicolini, em Nuovi studi confermano l’autenticità della Santa Casa di Maria a Loreto, Agenzia Internazionale Zenit, Roma, 28 de março de 2006.

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santas paredes). Intervenções como essas – que se explicam somente reconhecendo a preciosidade do edifício, aparentemente tão pobre e insiginificante –, deixam, contudo, em aberto uma pergunta de fundo: se realmente tivesse sido uma operação humana talvez para fazer crer que aquela era uma relíquia importante para depois ganhar dinheiro e enganar as pessoas, por que motivo esses trabalhos de simples fundações, ademais de desafiantes e custosos, não foram feitos desde o começo?

2) Outro dado relevante. As mesmas paredes estão colocadas sobre aquela que na época dos fatos era uma estrada pública da cidade de Recanati, ou seja, um lugar de tráfego sobre o qual era proibido construir por motivos óbvios, como o demonstram bem as pesquisas do engenheiro Nanni Monelli5. As normas municipais previam a demolição de eventuais estruturas ali edificadas sem licença. Contudo, com a Santa Casa isso não aconteceu evidentemente em razão da sua sacralidade e do modo milagroso pelo qual ela chegou ao lugar, como a comunidade local reconheceu imediatamente.

Mais. Considerando que no século XIII não faltavam espaços públicos onde construir – na propriedade municipal ou na eclesiástica –, não se compreende por que a autoridade civil tivesse que empregar tantos recursos para abrir um novo trecho de estrada em substituição e compensação pelo trecho ocupado pela Santa Casa. Se a operação total de sua trasladação e edificação fosse uma obra humana, e se até mesmo tivesse sido combinado construir uma capela para fazer crer que era a Casa de Nazaré, os recanetenses não teriam podido ter feito tudo utilizando um espaço mais próprio? Bastaria colocar o edifício a so-

5 Ver N. Monelli, La Santa Casa a Loreto – La Santa Casa a Nazareth, Edizioni Santa Casa, Loreto, 1997. Ver também G.M. Pace, Miracolosa Traslazione a Loreto dela demora dela Santissima Annunziata, Priorato Madonna di Loreto, Rimini, pp. 22 e 23.

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mente 200 metros de distância a oeste, sobre uma das duas colinas que margeiam a mesma estrada.

3) Mas não termina aqui. Como sempre foi verificado diretamente pelos escavadores arqueológicos ao longo dos séculos (os mais recentes datam dos anos 1962-1965), o perímetro da Santa Casa de Loreto coincide perfeitamente com o da antiga Casa de Nazaré, onde atualmente restam as fundações, embora muito simples, das quais as paredes parecem ter sido rasgadas. Um fato ainda mais extraordinário e comprobatório é que até mesmo em Tersatto (Croácia), como se verá adiante, o lugar exato onde por cerca de três anos e meio permaneceu a Santa Casa antes de ir para Loreto, tem exatamente o mesmo perímetro. Mera coincidência ou certificado da autenticidade da casa da Sagrada Família de Nazaré?

4) Não se pode omitir que a disposição da porta original e da janela é inconcebível num templozinho edificado especialmente naquele preciso lugar de Loreto. A porta, de fato, se encontra sobre o lado maior (e não sobre o menor, como acontece em todas as igrejas), e a janela, posicionada a oeste – o que não a torna o ambiente funcional para receber uma iluminação adequada do sol do meio-dia –, contrasta com tudo o que ocorre naquele território marquegiano. Essas anomalias só se explicariam se a casa fosse idealmente recolocada na sua posição original, diante da gruta de Nazaré.

5) Além disso, é sem dúvida de grande ajuda a verificação do material com o qual foi construída a Santa Casa. Suas paredes são formadas por um tipo de pedra e argamassa inexistente na região das Marcas. Trata-se de um estilo de construção e de material típico da Terra Santa. Os estudos sempre o confirmaram sem deixar lugar a dúvidas. A presença de alguns tijolos não originais se explica por sua

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utilização. Foram introduzidos na época bizantina tardia, para restaurações ou necessárias adaptações, sobretudo em razão do enorme afluxo de peregrinos: tratar-se-ia, portanto, de intervenções precedentes à milagrosa trasladação. Também a presença da madeira de cedro confirma sua proveniência da zona de Nazaré, ao lado das colinas meridionais do Líbano, conhecido por aquele tipo de árvore.

6) Em muitas pedras foram inscritos grafitos de evidente procedência judeu-cristã e absolutamente estranhos ao ambiente e à história marquesianos6: evidentemente os peregrinos desde a origem visitaram com devoção aquele lugar tão sagrado e carregado de significado, deixando uma prova de sua fé com esses pequenos sinais. Deve-se observar, por outro lado, que alguns grafitos parecem colocados em posição inversa àquela em que deveriam estar, e isso pode ser explicado pelos trabalhos de fechamento da porta original, ocorridos entre 1531 e 1535. As pedras retiradas para fazer as duas novas aberturas foram utilizadas para fechar a abertura antiga e os operários colocaram equivocadamente as pedras ao contrário.

7) Por fim, deixemos a palavra aos arquitetos que estudaram a Santa Casa de Loreto.

Giuseppe Sacconi, diretor das restaurações da basilica lauretana entre 1884 e 1905, constatou que “a Santa Casa está em parte apoiada sobre a extremidade de uma antiga estrada e suspensa na outra sobre um fosso contíguo”7, razão pela qual não pode ter sido construída ou reconstruída como está, no lugar onde se encontra.

6 Para maiores informações, ver G. Santarelli, I graffiti della Santa Casa di Loreto,

Edizioni Santa Casa, Loreto, 2010. Ver também. G. Santarelli, La Santa Casa di

Loreto, cit. pp. 139 e ss. 7 Citação em G. Nicolini, Alcune “prove” storiche, archeologiche e scientifiche comprovante “la verità” dele miracolose traslazioni della Santa Casa di Nazareth a Loreto, em Il segno del soprannaturale Nº. 210, dezembro de 2005, p. 18.

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Federico Mannucci, após estudos e reconhecimentos comissionados pela autoridade eclesiástica, constatou em relatório de 1922 que “a parede da Santa Casa termina a poucos centímetros debaixo do chão e que o terreno sobre o qual se apoia está dissolvido”; ademais, “em alguns pontos se encontra quase completamente isolado do terreno abaixo dele”. Portanto, na carta enviada neste mesmo ano ao então bispo de Loreto e Recanati, Dom Alfonso Maria Andreoli, chegou à seguinte conclusão: “As paredes da Santa Casa, embora de aparência áspera, são de uma perfeita construção de pedra em camadas horizontais. A sua construção exige necessariamente uma fundação que assegure um apoio sólido, ou pelo menos uma preparação de terreno para tornar possível a estrutura especial com camadas horizontais. Ao contrário, as paredes da Santa Casa não têm nenhuma fundação, nem preparação alguma do terreno embaixo, o qual se apresenta, por sua vez, completamente dissolvido e poeirento. Pode-se, portanto, certamente concluir que a construção da Santa Casa não pode ter sido feita no lugar onde se encontra. (...) É absurdo imaginar que a estrutura possa ter sido transportada por meios mecânicos; portanto, a prodigiosa trasladação, como dão fé os documentos históricos, a tradição secular e o consenso ininterrupto da Igreja, permanece plenamente confirmada. Concluo ressaltando quão surpreendente e extraordinário é o fato de o edifício da Santa Casa, mesmo não tendo nenhuma fundação, situado sobre um terreno sem qualquer consistência, dissolvido e sobrecarregado, embora parcialmente, pelo peso do cofre construído no lugar do telhado, se conserve inalterado, sem o mínimo afundamento ou a mínima lesão nas paredes”8 .

Trata-se de dados que ninguém até agora nunca conseguiu desmentir e que, pelo contrário, foram plemamente confirmados pelas escavações de 1962-1965.

8 Cit. in G. Gorel, La Santa Casa di Loreto, Edizioni Paoline, 1962, pp. 116 e ss.

Revestimento de mármore da Santa Casa. Desenhado por Donato Bramante por encomenda do Papa Júlio II, sua execução foi confiada pelo Papa Leão X a Andrea Sansovino, ao qual sucederam Raniero Nerucci e Antonio da Sangallo, o Jovem.

• Alguns eventos milagrosos entre inúmeros outros

1) Como as paredes da Santa Casa se apoiavam diretamente sobre o chão, sem fundações, temerosos de que elas desmoronassem, os recanatenses colocaram subfundações, as quais decidiram cercar com um muro de contenção, o chamado “muro dos recanatenses”. No entanto, ocorreu um fato excepcional: no término da obra, o referido muro recém-construído se destacou das sagradas paredes, de tal maneira que, como narra o Pe. Raffaele Riera9, um menino poderia

9 Padre Raffaele Riera, jesuíta e penitenciário em Loreto entre 1554 e 15821, autor da

Historia Domus Lauretanae Liber singularis (em torno de 1565). Ver G. Santarelli,

La Santa Casa di Loreto, cit., p. 16.

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passar facilmente por ele e, com a ajuda de uma vela acesa, mostrar às pessoas a veracidade do milagre. Tratou-se de um fenômeno constatado depois pelo arquiteto Raniero Nerucci durante a edificação do imponente revestimento de mármore no tempo do Papa Clemente VII. Até hoje a distância entre o muro e as sagradas paredes é de 112 milímetros, de tal modo a Santíssima Virgem parece querer demonstrar que não necessita do auxílio humano para manter sua casa em pé10 .

2) Há ainda a questão do acesso à Santa Casa. Originalmente, o único ponto por onde se podia entrar ou sair era pela porta situada na parede setentrional, diante da qual se encontrava o altar (transferido depois para a parte leste). Contudo, tendo em vista facilitar o fluxo dos numerosos peregrinos que visitavam devotamente a sagrada relíquia, os Papas Júlio II e Leão X estabeleceram no século XVI que aquele acesso deveria ser fechado para serem abertos dois outros.

Clemente VII decidiu realizar as obras à noite. Assim descreve os fatos o já mencionado Riera: “O arquiteto [Raniero Nerucci], acompanhado de alguns trabalhadores selecionados, entrou na Santa Casa para executar as ordens recebidas. Com um ponteiro ele traça, no lugar desejado, o tamanho da altura e largura das portas a serem abertas e, em seguida, tomando um martelo, bate fortemente no muro, dizendo a seus homens: quebrem aqui e abram a porta. Mas eis que no mesmo instante o braço do arquiteto é tomado por forte tremor, ele se empalidece, todo seu corpo fica mole e, sentindo-se quase morrendo, retrata-se da ordem dada; quase sem vida, ele é levado para casa e deitado em uma cama onde permanece inconsciente por oito horas. De volta a si, ele reza à Virgem de Loreto, que não tarda em socorrê-

10 Cit. in G. Gorel, La Santa Casa di Loreto, pp. 101-103.

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lo. Clemente VII, às lágrimas, consultou o céu novamente antes de prosseguir. Iluminado de cima, ele repetiu sua ordem: ‘Muros sacri saccelli – escreve ao arquiteto – non timeas aperire portasque conficere, sic jubet Clemens Septimus’11. Ao mesmo tempo o Papa o aconselhava a armar-se não somente do cinzel e do martelo, mas também da oração e do jejum. Sempre sob os impactos da emoção, Nerucci recusou-se a obedecer as ordens do pontífice e os trabalhos ficaram suspensos até que um jovem sacerdote da basílica se ofereceu para substituí-lo após fazer três dias de jejum e oração. Entrando na Casa Santa e cercado pelo clero e pelos fiéis, ele fez uma declaração pública de sua pureza de intenções: ‘Ó Virgem Santa, disse, não sou eu quem quebrará com este martelo as paredes de vossa casa: é Clemente, o Vigário de teu Filho, e é para a vossa maior glória que esta ordem foi dada’. Feita a oração, ele avança, dá um primeiro golpe, depois um segundo e as pedras são removidas quase por si mesmas. As portas foram então abertas e, com uma parte do material, fechada aquela do centro setentrional: ainda hoje se veem os batentes e a arquitrave de cedro”12 .

Nossa Senhora, portanto, parece ter ciúmes de sua casa e, como resultado desses episódios, a Igreja proibiu prudentemente os peregrinos de raspar ou remover das paredes até mesmo o menor pedaço de pedra ou de argamassa.

3) A tal propósito, outro fato extraordinário ocorreu durante o Concílio de Trento, em 1562, e foi protagonizado por João Soares, bispo de Coimbra, Portugal. Este, com autorização do Papa Pio IV, havia feito extrair pelo sacerdote Francesco Stella, uma pedra (ainda hoje envolta em ferro, ao lado direito do altar), a fim de colocá-la no fundamento de um

11 “Não tenhais medo de abrir as paredes desta casa sagrada e de fazer as portas, assim ordena Clemente Sétimo” 12 Cit. in G. Gorel, La santa Casa di Loreto, pp. 102-103.

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santuário a ser construído em sua diocese segundo o modelo do existente em Loreto. Além do fato de em seu trajeto rumo a Trento o sacerdote sofrer toda uma série de incidentes e contratempos, o bispo, que gozava de ótima saúde, foi imediatamente atingido por um estranho mal que quase o levou à morte. Em seguida, ele recebeu a revelação sobrenatural transmitida por um monge, de que para melhorar deveria repor a pedra em seu lugar. O interessado obedeceu e enviou o mesmo Pe. Francesco Stella a Loreto com a relíquia. Assim que a pedra foi reposta, o bispo sarou. O prelado, arrependido, escreveu do próprio punho uma carta ao governador de Loreto relatando o sucedido13 .

Episódios similares aconteceram com outras pessoas, eclesiásticos ou simples fiéis, seja por terem subtraído alguma pedra, seja por terem retirado fragmentos da argamassa14 .

Em 1567, um bispo alemão caiu doente por ter aceitado em doação uma pequena pedra subtraída por um soldado, só se curando depois de restituir o furto, ainda hoje reconhecível. Em 1559, um senhor restituiu uma pedra que havia sido roubada anos atrás, após perder filhos, bens e saúde. O mesmo sucedeu em 1585 a um fiel siciliano. Mas não se trata apenas de fatos ocorridos em séculos passados. Ainda no século XX, depois de serem atingidos por vários inconvenientes e castigos, simples fiéis se viram obrigados a restituir aquilo que, embora por devoção, tinham subtraído. A própria Santa Teresa do Menino Jesus, em sua peregrinação de 1887, confessou que teve a tentação de “raspar furtivamente os muros santificados pela presença divina”15 .

13 Cfr. O. Torsellini, Lauretanae Historiae libre quinque, Roma, 1597, livro IV, cap. 4.Torsellini “é considerado o príncipe dos historiadores lauretanos antigos” (cfr. G.

Santarelli, La Santa Casa di Loreto, cit., p. 16). 14 Cfr. G. Santarelli, Tradizioni e leggende lauretane, Edizioni Santa Casa, Loreto 2014, pp. 107-108. 15 Cit. in G. Santarelli, Tradizioni e leggende lauretane, cit. p. 109.

Tradicionalmente, os peregrinos que chegavam a Loreto, antes de entrarem na cela sagrada de Maria, recitavam de joelhos o Rosário, caminhando sobre o mármore do perímetro externo da igreja, que ainda hoje mostra muito bem dois sulcos esculpidos pelos joelhos de milhões de peregrinos ao longo dos séculos.

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1.2 Os ósculos nas paredes e o giro de joelhos pela casa

Tudo isso indica que em Loreto o principal objeto de veneração e devoção foi sempre a Santa Casa. Não é por acaso que o gesto tradicionalmente mais difundido seja o de oscular e tocar suas sagradas paredes. Charles-Auguste de Sales narra que seu tio, São Francisco de Sales, peregrino em Loreto em 1599, tão logo entrou na Santa Casa prostrou-se de joelhos e osculou o chão e as sagradas paredes. Jacques le Saige, peregrino em 1518, escreve: “Eu creio que o abençoado Jesus, quando começou a caminhar, se apoiava nas paredes desta Casa. Enquanto isso, tocamos nossas coroas de rosário”16 .

Além disso, imaginando o cotidiano da Sagrada Família dentro da Casa, não se pode deixar de entrar espontaneamente em contato com essas pedras. De fato, elas parecem desgastadas.

Como desgastada está também a base do revestimento de mármore desejada pelos Sumos Pontífices para proteção e exaltação da Santa Casa. Apesar de desde algumas décadas não ser mais comum – infelizmente, hoje muitas práticas bonitas que forjaram durante séculos a fé dos católicos são consideradas ultrapassadas –, tradicionalmente os peregrinos que iam a Loreto, antes de entrar na cela sagrada de Maria, percorriam de joelhos o perímetro externo recitando o Rosário enquanto passavam sobre o mármore, que ainda mostra muito bem dois sulcos esculpidos pelos joelhos de milhões de peregrinos ao longo dos séculos. O gesto servia para agradecer e pedir favores à Virgem, bem como um significado penitencial. No dia 1º de outubro de 1766, o Papa Clemente XIII concedeu uma indulgência de sete anos e sete quarentenas àqueles que percorressem de joelhos o entorno da Santa Casa.

16 Cit. in ibidem, p. 104. Do mesmo texto foram extraídas as outras informações sobre este tema.

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Essa forma de devoção era comum a todos, independentemente de classe social, idade ou origem geográfica. As crônicas contam que, entre outras, a rainha da Polônia, Maria Casimira, esposa de João III Sobieski, herói de Viena contra os turcos, chegou a Loreto em 1698 e, peregrina entre os peregrinos, percorreu humildemente de joelhos o lado externo da Santa Casa17 .

1.3 Por que Nossa Senhora é negra?

Ao contrário do que se pode pensar, a imagem de Nossa Senhora de Loreto, com sua característica cor negra, sempre teve um papel de “segundo plano”, se assim se pode dizer, em comparação com a própria Santa Casa. Se é verdade que há reproduções da imagem mariana presentes em todo o mundo, também é verdade que existem muitas outras variantes da Virgo Lauretana associadas frequentemente a uma casa transportada por anjos. Portanto, ao lidar com a questão lauretana, a efígie da Madonna negra não constitui o tema principal. Contudo, devido à popularidade de que ainda goza (especialmente na província das Marcas), convém que nos debrucemos também um pouco sobre este ponto.

Conquanto no passado se acreditasse que desde as origens da Santa Casa a imagem de madeira estivesse presente com as características que ainda hoje conhecemos, segundo um estudo diferente das fontes parece que na época da trasladação foi conservado entre as paredes sagradas um ícone de Nossa Senhora com a Criança. A imagem em abeto remonta à segunda metade do século XIV.

A cor negra da Madonna é atribuída ao estilo e ao gênero das imagens negras. Muitos a explicam referindo-se ao Cântico dos Cânticos, onde estas palavras são interpretadas de modo mariano: “Eu sou morena, porém formosa,

17 Cfr. G. Santarelli, Tradizioni e leggende lauretane, cit. pp. 97 e ss.

“Sou morena, mas bela, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu ser morena, porque o sol resplandeceu sobre mim” (Ct 1,5-6).

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ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu ser morena, porque o sol resplandeceu sobre mim” (Cânticos 1,5-6). Ou à invocação de Turris eburnea da ladainha lauretana, que se refere ao livro de Siracide, onde a Nossa Senhora é atribuída esta frase: “Eu cresci como um cedro no Líbano” (Sir 24,17).

Outra característica da Virgem lauretana é sem dúvida a dalmática, uma peça de roupa que vai do pescoço a até os pés, cobrindo também os braços e as mãos, mas que não toca diretamente a imagem. O vestido ao longo do tempo e nas diferentes reproduções sofreu várias mudanças. No entanto, sempre foi mantida a devoção de se colocar um véu preto na imagem na Quinta e na Sexta-Feira Santa (hoje apenas neste último dia), o qual é depois recortado e entregue aos peregrinos como uma relíquia. Até 1797, quando o simulacro com a roupa de lã antiga que o cobria foi examinado pelos franceses, o relatório entregue aos fiéis atestando a autenticidade daquela relíquia por contato, afirmava: “Certifico, eu, abaixo assinado, Custódio da Santa Casa de Loreto, que o véu preto selado e anexado a este foi usado na Sagrada Imagem na Quinta e Sexta-Feira Santa, e depois tocado na Sagrada Veste e na Sagrada Tigela da Beatíssima Virgem, que são conservadas nesta Santa Casa. Em fé do que, etc. Dado em Loreto pela custódia de...”18 .

Falando em invasão francesa, quando Napoleão ocupou a Itália em 1797 à frente do exército revolucionário, ele se deteve em Loreto e foi responsável (como sucedeu em muitas outras partes da península) por uma grande pilhagem do Tesouro do Santuário, fazendo com que muitas riquezas e obras de arte se perdessem irremediavelmente. A imagem de Nossa Senhora foi roubada e levada para o Museu do Louvre, em Paris, ali permanecendo até 1802, quando o Papa Pio VII

18 Cit. in G. Santarelli, Tradizioni e leggende lauretane, cit., p. 125.

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obteve a sua restituição e, após conservá-la por algum tempo na capela de seu Palácio do Quirinal, fê-la transportar solenemente no dia 8 de dezembro daquele mesmo ano à Santa Casa, num trajeto que percorreu o Alto Lácio, a Úmbria e as Marcas.

Em 23 de fevereiro de 1921, no entanto, na cela da Santíssima Anunciada, um incêndio destruiu completamente a imagem de madeira do século XIV. Ela foi temporariamente substituída por outra – a mesma usada durante os anos do “cativeiro” francês, cópia da original e que se encontra hoje no convento das freiras da Visitação de Treia (Macerata).

No dia 8 de setembro de 1922 foi colocada na Santa Casa uma nova imagem, a mesma que ainda hoje podemos ver, benta por Pio XI e esculpida por sua vontade em cedro extraído de uma árvore dos jardins do Vaticano19 . Contudo, a cor negra dessa imagem é acentuada em relação à original20 .

1.4 Como a Santa Casa foi mobiliada?

Entre os objetos presentes na Santa Casa é digno de nota o pequeno compartimento situado na parede sul, ao lado do altar onde são colocadas hoje as galhetas. Segundo a tradição21 tratava-se da “credência” onde Nossa Senhora colocava os pratos e os alimentos. Na parte oposta, sempre na mesma parede, há outro compartimento do qual provinha uma fonte (hoje em desuso), que seria o lugar onde Maria lavava as mãos. Em frente da “credência”, no lado direito do altar, há um armário no qual se conservam duas taças que, no imaginário dos peregrinos, foram usadas diretamente pela Sagrada Família. Mas o que suscita maior devoção é a cha-

19 Cfr. G. Santarelli, Tradizioni e leggende lauretane, cit., pp. 176 e ss. 20 Cfr. ibidem, p. 168. 21 Cfr. ibidem, pp. 112 e ss.

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mada tigela do Menino Jesus, considerada pelos estudiosos como sendo da época da vida terrena de Nosso Senhor (I século d.C.)22. Santa Teresinha de Lisieux disse que a tocou com a coroa de seu Rosário, um dos gestos de homenagem que prestavam os fiéis. Atualmente a tigela está conservada no ângulo direito do comumente denominado “caminho santo”, situado sob a imagem de Nossa Senhora.

Finalmente, acima da janela da parede oeste, há um crucifixo de madeira do final do século XIII. Historiadores lauretanos, como Torsellini e Martorelli, no entanto, argumentam que ele chegou milagrosamente com as três paredes e escreveram que, dada a miraculosidade do mesmo, os recanatenses pensaram que era melhor afixá-lo em uma capela separada no santuário. E assim fizeram. O crucifixo, porém, voltou prodigiosamente para a Santa Casa. Os fiéis fizeram uma segunda tentativa, mas novamente falhou: o crucifixo queria ficar na casa de Maria. E ali ficou23 .

1.5 Onde foi celebrada a primeira Missa?

Outra relíquia importante que chegou a Loreto juntamente com a Santa Casa é o chamado altar dos Apóstolos, hoje localizado no lado leste, sob o altar de mármore onde se celebra diariamente a Santa Missa.

Segundo a tradição, trata-se do altar que osApóstolos fizeram erigir na sagrada morada de Nazaré e no qual, segundo Jacques Le Saig e Torsellini, São Pedro celebrou a primeira Santa Missa24. É de fato evocativo oferecer o Santo Sacrifício e receber a Sagrada Eucaristia no mesmo lugar em que o Verbo se fez carne. E é igualmente edificante imaginara Bem-aventurada sempre Virgem Maria enquanto recebia seu Filho

22 Cfr. G. Santarelli, La Santa Casa di Loreto, cit., p. 192. 23 Cfr. G. Santarelli, Tradizioni e leggende lauretane, cit., p. 166. 24 Cfr. N. Monelli–G. Santarelli, L’altare degli Apostoli nella Santa Casa di Loreto,

Edizioni Santa Casa, Loreto 2012, pp. 23 e ss.

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realmente presente com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade pela mão dos apóstolos e naquele mesmo lugar onde algumas décadas atrás Ela fora saudada pelo Anjo e se tornou o tabernáculo vivo de Cristo, seu ostensório pela humanidade.

O fato de haver na Casa de Maria altares para celebrar a Missa (construídos certamente ao longo do tempo) é atestado por inúmeras testemunhas que estiveram lá. E que o que está atualmente em Loreto é um altar da mesma época da Igreja, confirmam-no os materiais utilizados. As pedras da base e da mesa são trabalhadas em espinha de peixe com técnica nabateia, ou seja, no mesmo estilo presente em numerosas pedras da Santa Casa.

No século XVI o altar foi revestido de mármore, mas depois do terrível incêndio irrompido entre 23 e 24 de fevereiro de 1921, o arquiteto oficial do santuário, Guido Cirilli, fez um novo revestimento e um novo altar (o atual), enquanto o dos Apóstolos é atualmente pouco visível e somente através de uma grade metálica.

1.6 A Casa dos milagres

Se para alguns o relatado até aqui não foi suficiente, para atestar a autenticidade da Santa Casa existem também os milagres ali ocorridos ao longo dos séculos até hoje. A maior parte deles constituída por fenômenos discretos, silenciosos, de índole espiritual. Mas não faltam, nem nunca faltaram, aqueles mais evidentes e impressionantes. A quantidade de documentação sobre essa irrupção do sobrenatural na vida das pessoas é de tal modo vasta, que encheria volumes inteiros. Portanto, não é possível elencar aqui todos os milagres, e para uma abordagem geral – mas referindo-se em particular os eventos mais recentes – consulte as obras específicas25 .

25 Cfr., por exemplo, P. Cavatorti, Le guarigioni a Loreto. Gli sguardi e le carezze della Madonna, Congregazione Universale della Santa Casa, Loreto, 2001.

A chamada tigela do Menino Jesus, que segundo os estudiosos remonta à época da vida terrena de Nosso Senhor (I século d.C.).

O chamado altar dos Apóstolos, que se encontra hoje no lado leste, sob o altar de mármore onde se celebra diariamente a Santa Missa.

Acima da janela da parede oeste está pendurado um crucifixo de madeira do final do século XIII.

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Do ponto de vista cronológico, cada século registrou seus acontecimentos extraordinários. O santuário tornou-se de repente internacionalmente conhecido pelas numerosas curas nele operadas. Já em 1375 o Papa Gregório XI reconhecia que, “por causa dos muitos milagres através dos quais o Altíssimo se digna manifestar ali, uma grande multidão de fiéis converge, movidos pela devoção”26. Por fim, os ex voto oferecidos ao santuário ao longo dos séculos são inumeráveis, sinal da presença e constante atenção de Nossa Senhora pelos filhos que se voltam para Ela em sua casa. Além de pessoas comuns, alguns desses milagres aconteceram com personagens ilustres, soberanos, Papas e santos. Veremos mais adiante, por exemplo, os casos dos Papas Pio II e Paulo II, e de soberanos como Luís XIII.

Digno de nota é o exorcismo que permitiu saber exatamente onde a Santíssima Virgem e o Anjo Gabriel estavam no momento da Anunciação. Em 1489, o nobre Pierre Orgentorix, de Grenoble, fez todas as tentativas possíveis para libertar sua mulher Ana, possuída por sete demônios. Na França, apesar dos exorcismos, nada obteve. A família percorreu em seguida a Itália e em particular a Cidade Eterna, mas sem resultado. Dirigiu-se então ao santuário de Loreto. Pois bem, os exorcismos realizados na Santa Casa foram eficazes – um fato admitido pelos próprios demônios – graças a Nossa Senhora, particularmente poderosa naquele lugar que foi sua casa. Não foi só isso. O sacerdote exorcista obrigou o último demônio que deixou o corpo da pobre senhora a confessar a posição exata de Maria e do Anjo no momento da Encarnação. O demônio declarou que a Santíssima Virgem se encontrava pouco além do altar, no lado esquerdo, enquanto Gabriel se postou na parte direita da

26 Cit. in ibidem, p. 5.

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janela, mantendo certa distância por respeito à pureza imaculada de Nossa Senhora27 .

Entre outros milagres, podemos recordar a graça concedida pela Virgem lauretana a São Jaime da Marca, que se curou de um fluxo de sangue e pôde continuar sua missão de pregador. Ou então o milagre operado na filha do rei da Dinamarca, Cristina, Duquesa de Lorena, que levada de maca à Santa Casa, ali recuperou prontamente a saúde. Milagres aconteceram também com judeus e muçulmanos, que se converteram ao Catolicismo. Outro milagre foi com o francês Jean-Jacques Olier, sacerdote fundador da Sociedade de São Sulpício: acometido de grave doença nos olhos, curou-se após uma peregrinação a pé ao santuário.

Há também a cura, ocorrida em 1727, de Maria d’Angiò, que contribuiu para a conversão de sua mãe da fé luterana ao catolicismo, e da calvinista Isacca Lamott, em 1732, que estranhamente perdia a visão toda vez que olhava para a imagem de Nossa Senhora na Santa Casa: tão logo prometeu se converter para a religião católica, seu olhar passou a ver normalmente a imagem da Mãe de Deus.

No século XX, com o início das peregrinações a Loreto dos trens brancos da Unitalsi (a partir de 1936), houve muitas curas de doentes, italianos e estrangeiros. Basta pensar na senhora Olga Spiridigliozzi28, curada em 2000 após uma procissão do Santíssimo na praça diante do santuário; inúmeros são também os fatos extraordinários acontecidos não somente depois de permanecer entre as santas paredes, como ocorreu com Elena Budellacci29 em

27 Cfr. P.V. Martorelli, Teatro istorico della Santa Casa, Roma, 1732-1735, vol. I, pp. 346-347. 28 Cfr. P. Cavatorti, Le guarigioni a Loreto. Gli sguardi e le carezze della Madonna, cit., pp. 138 e ss. 29 Cfr. P. Cavatorti, Le guarigioni a Loreto. Gli sguardi e le carezze della Madonna, cit., pp. 133 e ss.

São inúmeros os ex voto doados ao santuário ao longo dos séculos. Além das pessoas comuns, alguns desses milagres envolveram personalidades distintas, soberanos, Papas e santos. Em 1375 o Papa Gregório XI reconhecia que, “por causa dos muitos milagres através dos quais o Altíssimo se digna manifestar ali, uma grande multidão de fiéis aflui, movidos pela devoção”. O Papa Sisto escreveu no frontispício da basílica: “Deiparae domus in qua Verbum caro factum est” (“Casa da Mãe de Deus, na qual o Verbo se fez carne”), e “considerando que milagres contínuos são aqui realizados em favor dos numerosos fiéis que se reúnem de todo o mundo”, conferiu a Loreto o título de cidade e bispado.

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1974, que se recuperou após vinte anos de enfermidade, mas mesmo à distância, com a oração, a visão de uma pequena imagem de Nossa Senhora de Loreto, ou o uso do óleo abençoado do santuário, como no caso do Sr. Paul Holzgreve30, que entre o Natal de 1999 e janeiro de 2000 se recuperou de uma tetraparalisia, após aplicar nos membros o óleo das lâmpadas da Santa Casa que um conhecido lhe forneceu.

30 Cfr. ibidem, pp. 125 e ss.

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