![](https://assets.isu.pub/document-structure/211207224749-f8fac4356634a0ac4b5adfb5e445fd69/v1/ee24856bc6a946c3acd462e95483b62e.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
18 minute read
capítulo V – Loreto, baluarte da Europa cristã na luta contra o Islã
Baluarte contra o iSlã 105
capÍtulo V
Loreto, baluarte da Europa cristã contra o islã
Entre os inúmeros fatos históricos relacionados com o santuário de Loreto figura o seu papel essencial na luta do Cristianismo contra a agressão islâmica. Diante dos ataques do mundo muçulmano, a Virgem Lauretana foi invocada para proteger o Papado, a Igreja Católica e, em geral, a identidade cristã europeia.
Para que se possa ter uma ideia da importância de Loreto, basta mencionar dois acontecimentos épicos, decisivos para a história das relações entre o continente europeu e o islã, a saber, as batalhas de Lepanto e de Viena.
5.1 A batalha de Lepanto (1571)
A batalha de Lepanto freou o expansionismo turco no Ocidente. E se a armada cristã saiu vitoriosa, ela o deveu – além do heroísmo dos que combateram e verteram seu sangue – à intervenção de Nossa Senhora, invocada precisamente como Virgo Lauretana. Não foi, pois, por acaso que, terminado o conflito naval, vieram doar ao santuário alguns troféus de guerra, como bandeiras, estandartes e armas arrebatadas ao inimigo turco.
Em caso de derrota, o islã teria se propagado pela Europa, tomado posse de nossas terras e nos subjugado, impondo-nos seu domínio político e sua religião.
106 o Milagre da Santa caSa de loreto
Mas deixemos falar o padre Arsenio d’Ascoli, que em seu trabalho Os Papas e a Santa Casa1 concentrou-se pormenorizadamente sobre esses acontecimentos:
São Pio V – escreveu ele – havia colocado sob a proteção da Virgem de Loreto o êxito da grande batalha que as Nações Cristãs travavam contra os turcos, que estavam envidando seus últimos esforços por via marítima para abrir uma passagem no Mediterrâneo Ocidental e atingir o coração da Igreja Católica. O Santo Pontífice havia ordenado orações contínuas na Santa Casa de Loreto durante todo o período da última grande cruzada.
Se a glória militar da batalha de Lepanto reverbera na lendária figura de Dom João d’Áustria, a vitória foi apenas o resultado da oração confiante de São Pio V. Ele odiava a guerra, mas seu amor à Igreja em perigo o impelia a falar aos cardeais, reunidos em Consistório no dia 2 de abril de 1566: “Eu me armo contra os turcos, mas nisso somente a oração pode me ajudar”. O Papa caminhava descalço em procissão pelas ruas de Roma, para implorar a bondade de Deus sobre a sua Igreja; ao mesmo tempo, porém, preparava as armas e erguia torres de vigia ao longo de toda a costa do mar de Roma.
Em 25 de maio de 1571 constituía-se em Roma a “Liga Cristã”. Marcantonio Colonna, comandante da frota pontifical, foi com sua esposa a Loreto para colocar o destino da guerra nas mãos de Maria.
A frota cristã partiu dos portos da Europa e, após 20 dias de navegação, avistou a frota inimiga, forte de 300 navios. Dom João d’Áustria, com um crucifixo na mão, percorreu navio por navio, belo e luminoso no rosto como o arcanjo da vitória; infundiu ardor e coragem e içou a bandeira do Papa e a bandeira da expedição sobre a qual dominava a imagem da Virgem. Foi um sinal de oração para todos os navios.
1 A. D’Ascoli, I Papi e la Santa Casa, Loreto, 1969, pp. 54 e ss.
Baluarte contra o iSlã 107
Aquele foi um momento especialmente solene. Atrás deles, a Europa e o Papa estavam ansiosos. A Virgem de Loreto, invocada com ardor por seus filhos, participou da gigantesca batalha. Por volta do meio-dia de 7 de outubro de 1571 começou a furibunda refrega. Às cinco da tarde a batalha estava terminada.
São Pio V trabalhava no movimento do tesouro pontifício com vários prelados. De repente, quase movido por um impulso irresistível, levantou-se, aproximou-se de uma janela, olhando em êxtase para o Oriente; voltando-se depois para os prelados, com os olhos brilhantes de uma alegria divina: “Não vamos mais tratar de negócios – exclamou –, mas agradecer a Deus. A frota cristã conquistou a vitória”. Ele dispensou os prelados e foi imediatamente para a capela, onde um cardeal acorrendo para saber da feliz novidade o encontrou imerso no pranto de alegria.
A notícia oficial, entretanto, chegou com certo atraso, devido a uma tempestade no mar que obrigou o mensageiro de Dom João d’Áustria a parar.
Ao chegar – na noite de 21 de outubro de 1571 –, eles o receberam exclamando: “O Senhor atendeu a oração dos humildes, e não desdenhou suas preces. Que essas coisas sejam transmitidas à posteridade, e as pessoas que nascerão louvarão o Senhor”.
Ele mandou cunhar uma medalha com as palavras do Salmista: “A destra do Senhor fez grandes coisas; isso provém de Deus”. Passando depois para o corajoso Generalíssimo, aplicou o lema do Anjo: “Fuit homo missus a Deo cui nomen erat Joannes”2. O mesmo se fez mais tarde em relação a João Sobieski em Viena, no ano 1683.
O Pontífice, tomado de incontida alegria, ordenou a todos que estavam na cama que se levantassem e fossem com ele à capela para glorificar a bondade divina.
2 “Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João”.
Em 25 de maio de 1571 foi constituída em Roma a “Liga Cristã”. Marco Antonio Colonna, comandante da frota pontifícia, foi com sua esposa a Loreto para colocar o destino da guerra nas mãos de Maria. Em 1576, Dom João d’Áustria teve o mesmo gesto: visitou Loreto para cumprir o voto feito cinco anos antes a Nossa Senhora, quando partiu para a Batalha de Lepanto.
A decoração do Grande Salão do Palácio Colonna em Roma celebra o papel de Marco Antonio Colonna na Batalha de Lepanto. Afresco de Giovanni Coli e Filippo Gherardi, 1675-1678.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/211207224749-f8fac4356634a0ac4b5adfb5e445fd69/v1/623d15833fc9419e1821ee56e4af599a.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
110 o Milagre da Santa caSa de loreto
A vitória de Lepanto está, portanto, intimamente ligada ao Santuário de Loreto. O culto especial a Nossa Senhora do Rosário originou-se e se desenvolveu após essa histórica batalha.
A vitória se deveu ao visível patrocínio da Virgem Lauretana. A invocação “Auxílio dos cristãos” foi acrescentada às ladainhas lauretanas após essa vitória. Até São Pio V atribuiu a vitória à Virgem de Loreto. “Portanto, o Papa – afirma Zucchi – verdadeiramente piedoso, entregou-se a orações públicas e privadas para se conciliar com o grande Deus e ordenou principalmente que, na santíssima cela de Loreto, se oferecessem continuamente fervorosas orações a Nossa Senhora, para que Ela se dignasse prestar seu auxílio aos cristãos no maior perigo e necessidade. A esperança do piedoso Pontíficde e de outras pessoas piedosas não foi em vão” (Martorelli, vol. I, p. 531).
Como lembrança e reconhecimento, ele fez colocar nos medalhões do “Agnus Dei” a imagem de Loreto tendo acima as magníficas palavras: “Vera Domus florida quae fuit in Nazaré”3. Abaixo, quis que se escrevesse: “Sub tuum praesidium”, para fazer todos entenderem a quem se deveria atribuir o mérito da vitória.
Outro fato que nos mostra a intervenção da Virgem Lauretana no destino da batalha. Enquanto Marco Antônio Colonna, comandante da armada papal, partia para o Oriente, sua esposa Dona Felice Orsini foi com outras damas a Loreto para rezar pelo esposo e pela vitória. Ela passou dias e noites em orações devotadas. Vendo seu fervor e sua fé, um jovem judeu se converteu e recebeu o batismo na Santa Casa. A grande dama romana foi sua madrinha e o tomou como pajem.
Roma preparou uma entrada triunfal para o comandante do exército papal, mas o líder cristão, reconhecendo que o mérito da vitória não fora dele, mas da Virgem de Loreto,
3 “Averdadeira, esplêndida Casa que estava em Narazé”.
Baluarte contra o iSlã 111
adiou o retorno à capital e se dirigiu a Loreto para agradecer a Nossa Senhora.
“Todo o exército papal desembarcou em Porto Recanati. O comandante, os oficiais e os cristãos libertados pelos turcos, a pé, com as cabeças descobertas, cantando hinos de alegria e agradecimento, subiram o monte Loreto” (Ibidem, vol. I, pp. 430-431).
Em 1576 Dom João d’Áustria chegou a Loreto. Ele veio cumprir o voto feito cinco anos antes a Nossa Senhora, quando partiu para a batalha de Lepanto. Até então, prementes questões políticas e militares sempre o haviam impedido. No coração do inverno, a cavalo, chegou a Loreto vindo de Nápoles. Assim que ele viu o Santuário de longe, parou, curvou-se e descobriu a cabeça em reverência. “Chegando à abençoada Cela, feita uma confissão geral, rendeu infinitas graças a Nossa Senhora; não satisfeito com isso, acrescentou ao voto já cumprido um rico donativo em dinheiro. Como tinha satisfeito o voto e a piedade, retornou a Nápoles levando consigo uma grande recordação daquela amabilíssima Senhora de Loreto” (Ibidem, vol. I, pp. 433-434)
Os remadores do exército turco em Lepanto eram cerca de 40.000, inúmeros deles cristãos. Quinze mil foram libertados na grande batalha e reconduzidos à Europa em navios cristãos.
“É sabido que, no mesmo dia, antes do início do fato, os escravos cristãos dos turcos colocados nas cadeias para remar, fizeram um voto em Santa Maria de Loreto por sua liberdade” (Ibidem, vol. I, p. 431).
Então todos, em grupo ou individualmente, queriam vir a Loreto para fazer seu voto. “E queriam que lá ficasse uma memória de tantos benefícios celestes: deixaram para a Libertadora as correntes que os mantinham presos aos remos” (Ibidem, vol. I, p. 431).
Essas correntes foram usadas para fabricar as portas dos doze altares da nave central da Basílica, onde perma-
Dos 40 mil remadores do exército turco em Lepanto, muitos eram cristãos. Aproximadamente 15 mil foram libertados na grande batalha e levados de volta à Europa em navios cristãos. No mesmo dia, antes disso acontecer, os escravos cristãos agrilhoados pelos turcos para remar, fizeram um voto a Santa Maria de Loreto pela sua libertação. Com as correntes dos escravos chegados a Loreto foram confeccionadas, além das quatro portas da Santa Casa, as portas das capelas.
neceram em memória perene por quase dois séculos. Finalmente, “tendo as balaustradas de mármore sido colocadas nas mencionadas capelas, essas portas foram erguidas e o ferro, misturado indistintamente com outro, foi usado nas dependências de várias fábricas pertencentes ao mesmo santuário” (Ibidem, vol. II, p. 134).
Com as correntes de escravos que chegaram a Loreto, além das portas das capelas foram feitos as quatro portas da Santa Casa, que ainda são conservadas em seu lugar como lembrança. Com as grandes lanças foi feita uma cerca na Fontana do Maderno, e com as flechas uma bela grade em uma capela da Basílica. Finalmente, todos foram removidos, porque estavam corroídos pela ferrugem e, sobretudo, porque outra linha foi imposta nas capelas para se harmonizar com os novos altares. Contudo, essas balaustradas de mármore semelhantes aos camarotes das galerias dos teatros não agradavam a Sacconi (ver Vogel, Index Hist., 10-5-75).
Para onde foram levadas? Algumas para os porões, outras usadas para outros fins, outras para o estande municipal de tiro ao alvo.
Baluarte contra o iSlã 113
Foi muito belo o gesto desses escravos que quiseram doar suas correntes à Libertadora como sinal de gratidão e amor. As quatro portas da Santa Casa, apesar de simples e ásperos, estão lá para cantar as glórias e as vitórias da Virgem e recordar a todos aqueles que são escravos das paixões o dever de quebrar suas correntes aos pés de Maria e de se reerguer livres e puros. [...]
Moroni4 em seu dicionário de erudição histórico-eclesiástica, sob o título “Ancona” afirma categoricamente que o Papa São Pio V foi para a cidade dórica em 1566 a fim de organizar as fortificações contra os turcos. Talvez naquela ocasião ele tenha visitado a Santa Casa, pela qual demonstrou devoção desde que era cardeal.
Também o arquivista da Santa Casa, Pietro Giannuizzi, [...] diz que o Papa visitou Loreto em 1566 para implorar à Virgem ajuda e assistência à Igreja ameaçada pelos turcos. E o padre Diego Calcagni, nas memórias da cidade de Recanati, afirma que o Papa visitou Loreto após a vitória naval e foi em procissão à Santa Casa.
Através do Cardeal Michele Monelli, que foi a Loreto para agradecer a Nossa Senhora sua cura, ele enviou à Basílica um pálio e um magnífico paramento (Martorelli, vol. I, p. 425).
5.2 A batalha de Viena (1683)
Um século depois de Lepanto, em 1683, a Cristandade se viu novamente em perigo. O expansionismo turco estava se espalhando pela Europa e, portanto, mais uma vez, foi o Romano Pontífice, na época de Inocêncio XI, que instou os Estados católicos a pegar em armas para defender a Igreja e a própria civilização europeia.
A batalha decisiva ocorreu em Viena e, neste caso, a vitória foi também obtida através da intercessão da Mãe de Deus,
4 Gaetano Moroni (1802-1883), erudito e dignitário pontifício, foi o autor, entre outros, do Dizionario de erudizione storico-celsiastica.
114 o Milagre da Santa caSa de loreto
venerada com o título de Virgem Lauretana, cuja imagem foi trazida pelo vitorioso exército cristão que entrou na capital austríaca liberada do perigo. Os protagonistas indiscutíveis da grande Cruzada contra o Islã foram o rei da Polônia João Sobieski e o frade capuchinho Marco d’Aviano.
Em sua já citada obra Os Papas e a Santa Casa5, o padre Arsenio Ascoli, ex-diretor da Congregação Universal, recordou de forma convincente o evento:
Um século após a derrota de Lepanto (1571) os turcos tentaram subjugar a Europa e a Cristandade. No início de 1683, Maomé IV entregou a bandeira do Islão a Kara Mustafà, fazendo-o jurar defendê-la até a morte. O Grão Vizir, orgulhoso de seu exército de 300.000 soldados, promete abater Belgrado, Buda, Viena, penetrar na Itália, ir até Roma e colocar o casco de seu cavalo sobre o altar de São Pedro.
Em agosto de 1683, o capuchinho Frei Marco d’Aviano foi nomeado Capelão-chefe de todos os exércitos cristãos. Ele reanima o povo aterrorizado, convence João Sobieski a acorrer com seu exército de 40 mil homens. A imagem de Nossa Senhora está em cada estandarte: Viena confiava apenas na ajuda da Virgem. A cidade estava sitiada desde 14 de julho e sua rendição era uma questão de horas. Em Kahlemberg, uma montanha que protege a cidade pela parte norte, Frei Marco celebrava a Missa em uma capela, acolitado por Sobieski, diante de todo o exército cristão disposto em semicírculo. Frei Marco prometeu a mais estrepitosa vitória. No final da Missa, em êxtase, em vez dedizer “Ite Missa est”, ele bradou: “Joannes vinces”, ou seja: “João vencerá”. A batalha começou no amanhecer de 11 de setembro e um esplêndido sol iluminou os dois exércitos que estavam prestes a decidir o destino da Europa.
Os sinos da cidade tocavam desde o amanhecer, mulheres e crianças estavam na igreja para implorar a ajuda de Maria.
5 A. D’Ascoli, I Papi e la Santa Casa, Loreto, 1969, pp. 54 e ss.
Baluarte contra o iSlã 115
Antes da noite o exército turco estava quebrado, a bandeira de Maomé nas mãos de Sobieski, a tenda do Grão Vizir ocupada. As pessoas estavam impacientes para contemplar o rosto do herói. Sobieski, precedido pelo grande estandarte de Maomé, vestido de azul e dourado, montado no cavalo do Grão Visir, fez no dia seguinte sua entrada solene na cidade entre uma multidão de pessoas. Por ordem de Sobieski, o cortejo se dirigiu em direção à igreja de Nossa Senhora de Loreto, onde era venerada uma famosa imagem da Santíssima Virgem. A vitória se deveu a Ela e todas as pessoas se prostraram com gratidão a seus pés. Uma Santa Missa foi celebrada e Sobieski permaneceu sempre de joelhos, como que absorto. O pregador subiu ao púlpito e fez um grande sermão, aplicando o texto do Evangelho a João Sobieski: “Fuit homo missus a Deo cujo nomenma era Joannes” (“Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João”). A cerimônia prosseguiu grandiosa e solene em sua simplicidade, com detalhes saborosos que destacam a fé e a cordialidade de Sobieski. O cerco havia desorganizado muitas coisas e a igreja de Loreto não tinha mais cantores. “Não importa”, disse Sobieski, com sua voz poderosa ao pé do altar, e entoou o “Te Deum”, que o povo continuou com uma só voz. O órgão e a música não eram necessários: o coro da multidão compensava com piedade, emoção, entusiasmo. Desconcertado, o clérigo não sabia como concluir, e folheava missais e rituais para procurar um versículo. Sobieski o deixou constrangido: sem prestar muita atenção nas rubricas, improvisou uma e sua voz sonora voltou a se elevar poderosa sobre a multidão: “Non nobis, Domine, non nobis!” (“Não a nós, Senhor, não a nós”). Os padres responderam cantando: “Sed nomini tuo da gloriam” (“Mas a teu nome se dê a glória”). Sobieski enviou imediatamente uma mensagem ao Beato Inocente XI para anunciar-lhe a vitória. Os termos da missiva mostram a humildade e a fé do herói: “Venimus, vidimus, et Deus vincit” (“Viemos, vimos e Deus venceu”). Uma embaixada solene levava ao Papa o grande estandarte
116 o Milagre da Santa caSa de loreto
de Maomé IV, a tenda do Grão-vizir e uma bandeira cristã recapturada aos turcos. O Beato Inocêncio XI, agradecido a Nossa Senhora de Loreto pela grande vitória, enviou para o Santuário a bandeira arrebatada aos turcos e a tenda. A bandeira ainda está preservada na Sala do Tesouro. A tenda foi levada pessoalmente por Clementina, filha de Sobieski, casada com James II, rei da Inglaterra. Com ela se confeccionou um precioso dossel, utilizado somente nas grandes solenidades; uma parte serviu como paramentos pontificais”. Até o Papa, como Sobieski, atribuía a vitória à Virgem Lauretana. Seu ex-voto consistiu na instituição de uma festa em homenagem ao Santíssimo Nome de Maria. Em 25 de novembro de 1683 um ato da Congregação de Ritos a estendia a toda a Igreja e a fixava no domingo entre a oitava da Natividade de Maria, e São Pio X a fixou para 12 de setembro, aniversário da vitória. Após a grande batalha de Viena foi encontrada sob os escombros uma bela imagem de Nossa Senhora de Loreto, em cujos lados estava escrito: “In hac imagine Mariae victor eris Joannes; in hac imagine Mariae vinces Joannes” (“Nesta imagem de Maria serás vencedor, ó João; nesta imagem de Maria vencerás, ó João”). Certamente foi uma imagem levada ali por São João de Capistrano mais de dois séculos antes, nas lutas contra os turcos na Hungria e em Belgrado.
Sobieski queria que Frei Marco a portasse na entrada triunfal em Viena no dia seguinte à vitória. Ele a tinha levado consigo na perseguição ao inimigo e obtivera com ela esplêndidas vitórias contra os turcos. Em seguida fê-la colocar em sua Capela e mandava celebrar diariamente a Santa Missa e cantar a Ladainha lauretana diante dela. Na Capela Polonesa em Loreto, o Prof. Gatti quis recordar esse episódio colocando no quadro da parede à direita Frei Marco d’Aviano com o quadro de Nossa Senhora de Loreto na mão. O Beato Inocêncio XI colocou nos “Agnus Dei” do primeiro e do sétimo ano de seu Pontificado a impronta da Santa Casa com a inscrição: “Santa Maria de Loreto, rogai por nós”.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/211207224749-f8fac4356634a0ac4b5adfb5e445fd69/v1/0db7fccecdb8d1efa970401f6442f5f9.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
Um século depois de Lepanto, em 1683, a Cristandade se viu novamente em perigo. A expansão turca estava desenfreada na Europa. Os protagonistas indiscutíveis da grande Cruzada contra o Islã foram João Sobieski, Rei da Polônia, e o frade capuchinho Marco d’Aviano. A imagem de Nossa Senhora está em cada bandeira. (Arturo Gatti, 1912-1939. Capela polonesa, Santuário de Loreto).
De fato, nesses como em muitos outros lances da História, Nossa Senhora apareceu “terrível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6,10).
Fora da capela polonesa do santuário ainda existe uma placa cuja inscrição explica como, depois da batalha, Sobieski doou ao santuário lauretano o butim subtraído aos turcos.
5.3 A defesa heroica do Estado Pontifício
Dois séculos depois, uma outra Cruzada teve lugar às portas de Loreto. Desta feita não mais contra os turcos mas contra a revolução liberal e maçônica conduzida pela casa de Savóia contra os antigos reinos italianos, entre eles os Estados Pontifícios.
118 o Milagre da Santa caSa de loreto
O general do exército papal, Christophe Léon-Louis Lamoricière,lutouvalorosamenteemdefesadaIgrejaemCastelfidardo,em18desetembrode1860,sobosolhos,poderíamos dizer, de Nossa Senhora. Nesse contexto, à frente dos Zuavos pontifícios, encontrou heroicamente a morte o coronel George de Pimodan, após ter olhado para o santuário lauretano.
“Durante o combate – escreveria mais tarde um dos voluntários sobreviventes – eu não perdia de vista a Casa de Loreto”. “É doce pensar, ó boa Mãe – dizia outro, dirigindo-se à Santíssima Virgem –, que talvez uma bala me leve até Vós em cinco minutos”.
As testemunhas dizem que todos os soldados do Papa, como verdadeiros mártires, “abraçaram o sofrimento e a morte com a alegria dos predestinados: eles jaziam no sangue como no leito nupcial da vida imortal, cantando os cânticos do amor eterno. Foi aos pés da Santíssima Virgem que encontraram o santo heroísmo que os animou durante a luta; foi à sombra da Santa Casa que eles vieram oferecer a Deus, por meio de Maria, as primícias de seus sofrimentos, alguns seu último suspiro”6 .
Monsenhor Dupanloup, na oração fúnebre dedicada aos caídos pela Igreja e pelo Papado, exclamou, entre outras coisas: “Santuário de Loreto, eles te viam combatendo! Tu te lhes afiguraste como o refúgio aberto de suas almas, e os olhos desfalecidos deles te olhavam. Esses jovens deixavam Loreto cheios de vida e voltavam à noite em macas, com os membros mutilados e entre gritos de angústia. Os pacientes pediam para ser enviados à mansão divina o mais rapidamente possível, e aqueles que ainda tinham força, arrastavam-se sobre as mãos e sobre os joelhos para se aproximarem e beijar as sagradas paredes”7 .
6 A. Grillot, La Sainte Maison de Lorette, Alfred Mame et Fils Éditeurs, Tours, 1876, Cap. XII – Les martyrs de Castelfidardo, p. 169. 7 Cit. in G. Gorel, La Santa Casa di Loreto, cit., p. 168.