n.magazine nº 6 :: preview

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magazine magazine PA R A A N OVA G E R AÇ Ã O D E PA I S

N 1 ANO

GASTRONOMIA Vanessa Giácomo e a culinária infantil

TECNOLOGIA

Os top 10 aplicativos de iPhone para pais

MATERNIDADE

Parto ativo: a mulher reassume o comando

MODA INVERNO Roupas para brincar e curtir as férias

VIAGEM

Aventura em família no Deserto do Atacama

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ESPECIAL!

Design infantil

nmagazine.c om.br INVERNO 2011 ISSN 2176-6371

9 772176 637007

R$12 00006 >


ENT REVISTA

Houssein Jarouche: mecenas do design

DECORAÇÃO Móveis ecológicos para crianças

PERFIL

Matali Crasset, uma fada moderna

LIFEST YLE

Casas no Mundo: Rio de Janeiro

IDEIAS

Editora descolada, livros inspiradores

ARQUIT ETURA Mini casa, maxi estilo

ESPECIAL DESIGN


PELOS PAIS” Proprietário de uma loja que se tornou referência em design no país e incansável pesquisador das novidades do setor, o empresário Houssein Jarouche fala com n.magazine sobre móveis para crianças e a importância do design na infância Por LETICIA DELMONDE

Ele já foi chamado de mercador de sonhos. E basta entrar na sua loja, a Micasa, no bairro dos Jardins, em São Paulo, para constatar que, de certa forma, a alcunha é verdade. No amplo espaço estão móveis assinados por alguns dos principais nomes do design mundial e nacional, sonhos de consumo de aficcionados por decoração e arte. Mas o jovem empresário Houssein Jarouche, de 37 anos, não se atém apenas aos nomes consagrados. Descobrir e incentivar jovens talentos está em sua agenda, assim como criar materiais e peças, trabalho desenvolvido em um estúdio nos fundos da loja. Incansável na busca por novidades, Jarouche também está antenado com o que vem sendo desenvolvido para o setor infantil. Na entre-vista para a n.magazine, ele fala sobre design para crianças e revela as criações que desenvolve em casa com seu filho, de 2 anos. Quando foi que você começou a se interessar por design infantil? Na verdade, o design infantil acaba entrando na loja como se fosse mobiliário para adulto. Eu não os separo. É isso que as empresas de fora vêm trabalhando em termos de design para crianças. Elas não usam aquele apelo cômico, a história de rosa para menina e azul para menino. É um mobiliário que tem forma e função e, ao mesmo tempo, consegue estimular a criança desde cedo a olhar para as propor-

ções, para a linha do design. As crianças aprendem tudo com mais facilidade. Elas são incríveis, são esponjinhas que vão absorvendo tudo. O que falta para o Brasil produzir produtos de design infantil com mais qualidade? No Brasil, não vivemos muito essa questão da experiência estética, como acontece em outros países. Lá a cultura já existe, o design está no dia a dia das pessoas. Isso não acontece por aqui. Tanto que a minha ideia é investir em mobiliário infantil, criar uma segunda geração. Meu filhinho, que tem 2 anos hoje, ou o amiguinho dele podem ter, no futuro, uma fábrica e começar a mudar a história do país. É um caminho muito mais complicado conseguir conscientizar as pessoas da nossa geração. Em seu estúdio você tem feito experimentos com novas peças. O que você já produziu? No estúdio nos apropriamos de objetos do cotidiano e os transformamos. Olhei para um carrinho de home center e enxerguei nele um berço. A peça está aqui na minha casa, mas não é mais usada pelo meu filho. Ele cresceu, precisou de uma caminha, e aquele carrinho, que era uma plataforma industrial de mercado, está com uma coleção de livros no meio da sala. Isso é legal. Um berço que, em geral, ia ser jogado fora, acaba reutilizado. No estúdio, procuramos essa ideia de consciência ecológica, de reutilizar, de trabalhar com madeira certificada. Como treinar a experiência estética? Ela começa pelos pais, com as referências que você tem da casa deles. Se você resgata aquilo que é seu, que realmente faz parte de sua cultura, da sua história, é incrível. Não tem como alguém reclamar. Dentro de casa, se tem uma mesa com design bacana, a criança vai passar por aquele objeto e ele vai despertar um interesse. Existem várias pesquisas que mostram que o desenvolvimento social e mental de uma criança é moldado no ambiente diário. Para isso, os pais devem ter uma preocupação maior na estética que vão proporcionar aos seus filhos. Que tipo de experiência estética você acha que os pais podem dar a seus filhos? Não falo de uma estética ostensiva, muito pelo contrário. Falo de promover uma estética baseada em valores pessoais e familiares. Pode ser resgatar uma poltrona que está na casa da fazenda, que era da avó e foi feita há 40 anos. Quando falo de ter

referência, quero dizer que não adianta ir na Micasa ou qualquer loja de design, sair comprando e encher a casa de design.Não é simplesmente a troca de dinheiro por material. É preciso ler sobre o assunto, interagir. Eu adoro home centers, a Leroy Merlin é meu Playcenter. Amo. Compro muita coisa lá e começo a brincar com meu filho. E ele me diz: “Papai, vamos fazer um banquinho!” E já vai pegando a chavinha... Como é construir peças com seu filho? Por meio do design, você consegue se aproximar de seu filho, que é algo que perdemos um pouco. Por falta de tempo, estamos perdendo essa coisa de comprar algo e levar em casa para montar com as crianças. Você chega com a sacola de uma loja infantil com dois, três carrinhos e diz: “Tá aqui”. Vira as costas e tem outras coisas para fazer. Temos que tentar fazer de outro jeito. Eu me lembro, por exemplo, de ter um autorama. É um brinquedo, tudo bem, mas tem a coisa de interagir com o pai ou com o irmão mais velho para montar. Procuro trazer um pouco disso para casa. O que mais você costuma produzir com o seu filho? Gosto de fazer intervenções com fitas adesivas em mobiliário, em paredes. Ultimamente, tenho enlouquecido com isso e meu filho me acompanha em todas. Ele adora. Hoje, já até começa a colocar fitas nas coisas dele. Não é que as fitas vão fazer com que ele seja melhor ou pior, mas tem esse contato comigo. É importante fazer uma pintura, brincar em casa. Você defende manter os móveis, em vez de trocá-los de tempos em tempos. Por quê? Pela questão da memória afetiva, de ter alguma coisa da sua história para guardar. Toda a linha de mobiliário de Charles & Ray Eames é pensada assim. Tem um elefantinho que é um banco, que eles criaram na década de 50, e hoje é um dos maiores símbolos do design mundial. Você tem um elefantinho com 2 anos de idade, e não vai descartá-lo jamais, porque é um banquinho, uma peça de design incrível. Não importa que idade seu filho tem: ele vai passar de geração em geração. Às vezes, as pessoas podem interpretar como prepotência o que eu falo, pensar que estou falando que o banquinho que tem na minha loja vai resolver o planeta. Mas acho que, aos poucos, você começa a criar uma consciência. Se você tem um produto atemporal, bacana, ele vai ficar na sua casa, com o seu filho, vai passar para o seu neto. É como contar uma história da sua vida.

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“A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA COMEÇA


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Eco

A última tendência em mobiliário infantil é a criação de produtos que respeitam o meio ambiente desde sua origem até a degradação – sem deixar de lado o design Por ROCÍO Por ROCÍO MACHO MACHO

A nova geração de designers que dedica seu trabalho ao setor de mobiliário infantil chega levantando as bandeiras da sustentabilidade, da reciclagem, da ecologia, dos materiais saudáveis e da segurança. A constatação é da italiana Paola Noé, fundadora do projeto de arte contemporânea Unduetrestella, que, em parceria com o designer austríaco Thomaz Maitz, organizou o Kids Room Zoom, um espaço de exposições dedicado ao design contemporâneo infantil dentro da semana de design Fuori Salone, realizada em abril, em Milão, na Itália. A convite da n.magazine, Paola selecionou para esta reportagem algumas das empresas que criam produtos com o respeito pelo meio-ambiente como condição sine qua non. Papelão reciclado, plywood, algodão orgânico, conglomerado de sementes, madeira proveniente de bosques certificados, óleos naturais de plantas... Produzidas com elemen-

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& LÓGICO LÓGICO & Poltronas de papelão reciclado Rip+Tattler criadas pelo designer americano Pete Oyler

tos ecologicamente corretos, as novas peças de mobiliário para crianças tentam alcançar o grau máximo possível de preservação da natureza. Algumas são biodegradáveis e completam seu ciclo vital, outras ganham mais vida útil por meio de engenhosos projetos de design que permitem que tenham novos usos à medida que acompanham o crescimento do bebê. “O movimento ecodesign quer conec-

tar a vida moderna com a natureza, redescobrindo o valor do básico fora de todo artifício”, diz Paola Noé. Para ela, essa transformação também tem um poder educativo. “A preocupação com a sustentabilidade e a ecologia deve estar presentes em tudo o que rodeia as crianças”, completa. Papelão multiuso Rip + Tattler é o nome de um sofá que, à primeira vista, parece apenas um amontoado

de sobras de caixas de papelão molhado. Seu criador, Pete Oyler, escolheu o papelão reciclado para compor um poltrona tamanho mini 100% biodegradável. Este material, antes desprezado, hoje é uma das estrelas entre a nova geração de designers. A matéria-prima em si também evoluiu, adquiriu novas propriedades e se tornou mais duradoura. Uma das empresas que melhor consegue re-

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MUSEUS

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presentar a versatilidade do papelão como base para móveis infantis é a holandesa Kidsonroof, que considera que a brincadeira é uma forma de trabalhar a educação ecológica. Bate na madeira Grande vilã relacionada negativamente ao desmatamento e à poluição ambiental 50 32

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Acima, beliche da australiana Perludi. À esquerda, berço que acompanha o crescimento do bebê, da alemã Jäll&Tofta; e o trocador Nathi, feito de um material inovador

a madeira está sendo redimida. Empresas conscientes utilizam em suas fábricas apenas matéria-prima certificada proveniente de florestas sustentáveis, o que minimiza, e muito, o impacto à natureza. Somase a essa premissa o uso de óleos naturais para tratá-las, um bem tanto para o meio ambiente quanto para as crianças, que ficam livres do contato com materiais tóxicos. Paola Noé cita como exemplo nessa linha o banco-mesinha Oak de Collect, fabricado com madeira de alta qualidade com a etiqueta ecológica Swam, da Dinamarca. Outros designers, como o sueco Bo Ekström, pesquisam e constroem com materiais menos

cima, mesa-banquinho Oak de Collect, da dinamarquesa Swan; e móveis de papelão e madeira da Kidsonroof. À direira, banco da brasileira 100T; e cadeira da marca Momoll


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Acima, berço-cama da espanhola Ninetonine; berço com barras azuis da Kalon Studios; e cavalinhos estilizados da brasileira Cosumann. Abaixo, mesinha e banquinho feitos de bujões de gás CFC pela carioca Bird Design

tradicionais. Ele elegeu, por exemplo, o plywood para dar vida ao seu famoso trocador Nathi. Trata-se de um inovador derivado de madeira que, além de respeitar o meio-ambiente, é flexível, forte e permite os mais diversos acabamentos. Móveis longa vida Algumas empresas solucionam o problema de sustentabilidade optando por projetos que dão a seus móveis novos usos à medida que a criança cresce. A marca espanhola Ninetonine, por exemplo, produz berços, que, por meio de um design inteligente, começam a ser utilizados com recém-nascidos, depois se transformam para bebês maiores e, por fim, viram uma caminha para criança. Versão nacional No Brasil, algumas empresas também optaram pelo ecodesign na produção de móveis para crianças. A Cosumann faz coloridas mesinhas, cadeiras e caminhas com materiais recicláveis e madeira certificada. A 100T aposta no papelão reciclado para a construção de peças que vão de berço a um cadeirão fácil de montar, leve e durável. Já o designer João Bird, da carioca Bird Design, aposta em materiais não convencionais, reaproveitados e sustentáveis na sua primeira linha dedicada exclusivamente para os bebês, a Bird BB. Ele transforma um dos grandes vilões do efeito estuda, os bujões de gás CFC, em mesinhas e cadeiras que recebem assentos de lona de caminhão reutilizada e pés de madeira de demolição. O resultado são peças super coloridas, lúdicas e com a carimbo eco, é lógico.


FADA MODERNA 36

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Cores e formas nada usuais dominam as obras da francesa Matali Crasset, um dos grandes nomes do design mundial e que revolucionou móveis e espaços infantis Por pliNIO RIBEIRO JR., de Paris

MATALI E AS CRIANÇAS Para a designer, as crianças não colocam limites às suas ações e sentimentos e estão abertas a tudo que for proposto, e essa energia deve estar refletida nos objetos que as rodeiam. Apesar da força de seu trabalho em diversas áreas, faz tempo que o olhar de Matali Crasset também está voltado ao universo infantil e alcançou seu grau máximo de realização na Maison des Petis (Casa das Crianças), em Paris, retratada acima.

Lembro do dia em que a conheci. Era uma tarde gelada do início de fevereiro. Não muito longe da Torre Eiffel, crianças e adultos lotavam um salão para aprender “como ultrapassar as paredes do seu quarto”. Não, não era nenhuma sessão sobre poderes sobrenaturais ou um treinamento dos X-Men. Diante de nós, com seus óculos de aros pesados e cabelo estranho, a designer industrial Matali Crasset, um dos maiores nomes mundiais do design, proferia a palestra que levava este nome e derrubava, um a um, muitos dos arquétipos que associamos à ocupação do espaço residencial. Uma sala, por exemplo, quase sempre é formada por um grande sofá e uma televisão que levam ao que Matali chama de um “conforto passivo”. “Nos embala, mas impede de nos movermos”, explica a designer. Flexibilidade, assim como mobilidade e melhor apropriação do espaço são partes do

alicerce criativo de Matali e evidenciam-se em criações como blocos de espuma coloridos que podem ser dispostos de maneira a formarem um sofá, uma poltrona – ou nada disso, o que importa é não abrir mão da interação. Matali Crasset foi criada na pequena cidade de Châlonsen-Champagne, no norte da França. Viveu uma infância no campo, banhada por um estilo de vida onde o trabalho e o cotidiano do lar encontram-se indissociáveis. Talvez por isso, para a designer, o aspecto estético de suas criações é secundário: “o primordial é a funcionalidade”. Pupila do renomado designer francês Philippe Starck, em 1998, depois de 5 anos sob a batuta do mestre, ela criou a própria empresa e, desde então, suas divertidas criações tornaramse mundialmente conhecidas, chegando a fazer parte do acervo do MOMA, em Nova York.


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Lembro do dia em que a conheci. Era uma tarde gelada do início de fevereiro. Não muito longe da Torre Eiffel, crianças e adultos lotavam um salão para aprender “como ultrapassar as paredes do seu quarto”. Não, não era nenhuma sessão sobre poderes sobrenaturais ou um treinamento dos X-Men. Diante de nós, com seus óculos de aros pesados e cabelo estranho, a designer industrial Matali Crasset, um dos maiores nomes mundiais do design, proferia a palestra que levava este nome e derrubava, um a um, muitos dos arquétipos que associamos à ocupação do espaço residencial. Uma sala, por exemplo, quase sempre é formada por um grande sofá e uma televisão que levam ao que Matali chama de um “conforto passivo”. “Nos embala, mas impede de nos movermos”, explica a designer. Flexibilidade, assim como mobilidade e melhor apropriação do espaço são partes do alicerce criativo de Matali e evidenciam-se em criações como blocos de espuma coloridos que podem ser dispostos de maneira a formarem um sofá, uma poltrona – ou nada disso, o que importa é não abrir mão da interação.

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Nesta página: pufes roxos Digitalspace; mesa de estudos; e provador criado para uma loja infantil. Na página ao lado: adesivo vendido pela marca francesa Domestic; linha de mobiliário Space Visitor; e mais pufes Digitalspace

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EspaçOS habitados ideias

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Os fundadores da editora Paumes falam à n.magazine sobre o método de trabalho para criar os livros de decoração mais descolados do mercado Por ROCÍO MACHO Fotografa PAUMES

Grande parte das casas e apartamentos retratados nos livros da editora japonesa Paumes não estariam em uma revista de decoração tradicional. Seu foco não é encontrar ambientes de visual quase acéptico, planejado ao extremo, com cada objeto no seu devido lugar. Busca-se, acima de tudo, moradias com personalidade, criativas, inpiradoras – e uma baguncinha aqui e ali acaba dando mais subsídios para o leitor captar o estilo de vida de quem habita aquele lugar. Não chega a ser algo na linha “a vida como ela é” pois as casas e apartamentos que vão figurar nos livros são escolhidos a dedo pela equipe. Mas essa maior proximidade com a “vida real” encanta os leitores e fez a fama da editora. Hisashi Tokuyoshi e Fumie Shimoji fundaram a Paumes em 1997. Fascinados pelos artistas parisienses que conheceram durante um tempo que moraram na capital francesa, o casal de japoneses decidiu criar uma editora de livros de decoração especializada no estilo de vida dos artistas. Suas casas, seus ateliês, o quarto dos seus filhos... os espaços onde moram – e, claro, decoram – são o objeto de uma série de livros cultuados por designers, fotógrafos e estetas do mundo todo. Paumes é composta por uma equipe de sete pessoas no Japão, que trabalha em conjunto com seus coordenadores em Paris e com os artistas que participam de cada edição.

A to Z de Tsé-Tsé foi o primeiro livro da Paumes com fotografia e direção de arte assinadas por Tokuyoshi. A obra gira em torno de um designer parisiense e seu círculo de amigos. A experiência deu tão certo que o editor começou a buscar com a ajuda da esposa, que trabalhava como representante de artistas, novos personagens para retratar. “Um artista nos apresenta a outro e a outro, e de cada projeto sai uma nova proposta. O processo produtivo de cada exemplar da Paumes é sempre muito criativo e pessoal, pois somos em poucos e todos participam de cada etapa”, diz Tokuyoshi. Para as fotos, eles não contam com o serviço de produtores ou decoradores, pois a intenção é, justamente, clicar os espaços como estão, sem nenhuma preparação prévia. “Isto torna as imagens que fazemos muito mais interessantes”, diz. Para o editor, a decoração de uma casa deve ter detalhes que contem uma história, pois, segundo ele, uma moradia decorada apenas com móveis e objetos modernos transforma o lugar em uma espécie de showroom. Para o quarto das crianças, por exemplo, ele dá a seguinte dica: “É bacana ter alguma coisa dos avós, algo feitos pelos pais para os seus filhos ou algo criado pelas próprias crianças. O espaço tem que transmitir um sentimento de amor pelas crianças e potencializar a união familiar”.

Os livros da Paumes são editados apenas em japonês, porém, são extremamente visuais e, mesmo com a dificuldade da língua, inspiradores para pais que estão em busca de ideias para decorar quarto dos filhos – as coleções Family Style e Children’s Rooms e o volume Chambres d’Enfants são especialmente indicados se esse for o seu caso. É possível comprar os livros no site paumes.com

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ideias

Fumie Shimoji e Hisashi Tokuyoshi, fundadores da Paumes, em seu escritório no Japão, e as capas de alguns dos livros da editora

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casas no mundo: RIO DE JANEIRO

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Na sala ou no home office o pequeno Vicente tem passe livre para brincar

BAÚ DE MEMÓRIAS

Móveis e objetos antigos foram o ponto de partida para a decoração cheia de personalidade deste apartamento com ares de casa que ocupa o sótão de um imóvel do século 18 no Rio de Janeiro Por SIMONE RAITZIK Fotografia ANDREA MARQUES/FOTONAUTA

Nem bem completou um ano e o pequeno Vicente já começa a engatinhar com agilidade e ensaiar os primeiros passinhos no piso de tábuas corridas de peroba do campo do amplo casarão onde mora, construído em 1770 e vizinho ao Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro. À vontade, solto e feliz, ele reina absoluto nesse aconchegante apartamento-tipo-casa, resultado de uma caprichada reforma do sótão do imóvel, e espalha por onde passa seus brinquedos e bolas. Ao lado, sua mãe pilota no seu home office o atelier Lá na Ladeira, especializado em decoração e renovação de móveis antigos. “Basta descer as escadas e estou no showroom. Fico direto nesse vai-e-vem. Assim, tenho mais tempo para participar desses primeiros momentos do Vicente”, diz a administradora Joana Mendes. O pai, o produtor

cultural João Braune, também está sempre por perto. Em um escritório que ocupa o primeiro piso, ele montou um centro cultural, a Casa da Glória, e cuida da programação do espaço. Foi ele, aliás, quem herdou o imóvel dos pais e, quando casou, resolveu investir na reforma do último andar, montando um cantinho gostoso para a família. Logo chegou o Vicente que, por enquanto, ocupa o mesmo quarto que os pais.” Mas tudo aqui é tão grande que a convivência é deliciosa”, conta Joana, que garimpou no próprio acervo da casa e em suas andanças grande parte dos móveis que ocupam com graça e cor os ambientes. O resultado é um mix delicioso de móveis antigos, tecidos estampados moderninhos e aquele jeito de casinha que dá vontade de ficar, deitar e rolar. Junto com o Vicente.


Peças antigas reformadas, objetos descolados, muita cor e estampas moderninhas: mix certeiro na decoração

casas no mundo: rio de janeiro

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Nem bem completou um ano e o pequeno Vicente já começa a engatinhar com agilidade e ensaiar os primeiros passinhos no piso de tábuas corridas de peroba do campo do amplo casarão onde mora, construído em 1770 e vizinho ao Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro. À vontade, solto e feliz, ele reina absoluto nesse aconchegante apartamento-tipo-casa, resultado de uma caprichada reforma do sótão do imóvel, e espalha por onde passa seus brinquedos e bolas. Ao lado, sua mãe pilota no seu home office o atelier Lá na Ladeira, especializado em decoração e renovação de móveis antigos. “Basta descer as escadas e estou no showroom. Fico direto nesse vai-e-vem. Assim, tenho mais tempo para participar desses primeiros momentos do Vicente”, diz a administradora Joana Mendes. O pai, o produtor cultural João Braune, também está sempre por perto. Em um escritório que ocupa o primeiro piso, ele montou um centro cultural, a Casa da Glória, e cuida da programação do espaço. Foi ele, aliás, quem herdou o imóvel dos pais e, quando casou, resolveu investir na reforma do último andar, montando um cantinho gostoso para a família. Logo chegou o Vicente que, por enquanto, ocupa o mesmo quarto que os pais.” Mas tudo aqui é tão grande que a convivência é deliciosa”, conta Joana, que garimpou no próprio acervo da casa e em suas andanças grande parte dos móveis que ocupam com graça e cor os

ambientes. O resultado é um mix delicioso de móveis antigos, tecidos estampados moderninhos e aquele jeito de casinha que dá vontade de ficar, deitar e rolar. Junto com o Vicente. Joana, o que você levou em conta ao decorar sua casa? A gente já tinha esse espaço que, por si só, é maravilhoso. Queríamos manter o charme dele e ocupá-lo sem entulhar. Fomos primeiro em busca do que a própria casa oferecia. No banheiro de uma das antigas suítes, encontramos duas poltronas lindas mas detonadas, uma velha luminária bem interessante, uma escrivaninha antiga e até mini malas de couro que os avós do João usaram em viagens. Restauramos e revitalizamos esses achados – na verdade, das malinhas só tiramos a poeira pois, mesmo velhinhas, estavam lindas. Outras peças trouxemos cada um de nossas próprias casas antes de “juntarmos os calcanhares”, como minha cristaleira. Queríamos gastar pouco, mas, além disso, reaproveitar tudo isso foi muito legal! Aos pouquinhos, fomos deixando a casa com a nossa cara. Agora, os mil brinquedos do Vicente também fazem parte desse “cenário”. E como é a relação do Vicente com a casa? Tem dias que ela se transforma em um parque de diversões. Tiramos tapete, afastamos móveis e, quando vemos, ele já tomou todo o espaço. É bacana que no lugar onde mais ficamos,

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ARQUITETURA

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BRINCAR de casinha

© Noemí de la Peña

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Casinhas? Que nada. Os novos espaços criados para crianças por designers e arquitetos quase não merecem o diminutivo. Conheça seis projetos onde os pequenos podem brincar, estudar, dormir e até crescer Por Rocío Macho

Quando era criança, eu e a minha irmã dormíamos em um beliche e construíamos nossa casinha pendurando um lençol na cama de cima formando uma cortina – que, na nossa imaginação, eram as mais sólidas paredes. Ali, em nosso próprio mundo, era o espaço da brincadeira, da criação, o lugar onde tudo que imaginássemos era possível. Já meus primos tinham um “casarão”, meu sonho de consumo. A enorme mesa da sala era o dobro do nosso beliche e, embaixo dela, cabia a turma inteira. Impressionante como um tampo com quatro pés podia virar navio pirata, submarino, escola, ônibus, avião e até hospital. Crianças que, como eu, brincaram dessa forma, cresceram e mantiveram viva esta imagem das casinhas para crianças, tanto que decidiram recriá-las de maneira profissional. Lençóis, beliches e mesas deram lugar a paredes “de verdade” em projetos repletos de design e estilo. Alguns unem o útil ao lúdico e solucionam o problema de espaço em moradias com casinhas que integram tudo o que o filho precisa e são capazes de evoluir com ele. Um lugar não apenas para brincar, mas para viver.

JOSEAN VILAR Desde o nascimento de sua filha, o arquiteto espanhol Josean Vilar tinha a ideia fixa de construir uma casinha para ela. O desejo se uniu à necessidade quando, com ela ainda bebê, mudou-se com a família para um apartamento que tinha apenas um quarto e uma sala de grandes dimensões. Já antecipando que em pouco tempo a filha precisaria de um espaço próprio, tirou o projeto do papel. Ele construiu uma casinha de madeira totalmente independente, com rodinhas que permitem movê-la de um canto para o outro. Em formato de cubo, tem uma de suas paredes aberta, que pode relacionar-se com o restante do ambiente de formas distintas. Quando essa face está voltada para a parede, a casinha está “fechada” e vira um novo cômodo da casa, com porta, janelinhas e até uma varanda superior, no “sótão” da casinha, que não tem teto. Quando a face aberta está voltada para fora, o cubo se integra à sala como parte do mobiliário. joseanvilar.wordpress.com


NINETONINE Um sonho infantil é a casinha que criaram para a sua filha os arquitetos de Ninetonine, empresa espanhola de mobiliário para crianças. Quando a pequena nasceu, eles sentiram a necessidade de desenhar móveis infantis com design mais moderno que os que encontravam no mercado – e assim nasceu uma das empresas mais inovadoras do setor na atualidade. O passo seguinte foi criar para a própria filha uma casinha interna, no apartamento de pé direito alto em que vivem. Feita de madeira, a cabana, como chamam, tem porta e janelas na escala infantil e suas paredes deslizam para abrir a casinha para o exterior. ninetonine.com

MODERN PLAY SHED O arquiteto americano Ryan Grey Smith ficou conhecido pelas casas pré-fabricadas de desenho minimalista e proporções reduzidas vendidas por sua empresa, a Modern-Shed. Para as crianças, ele criou uma versão mini de seus modelos. A Modern Play Shed foi idealizada como um espaço para a brincadeira e o estudo e pensada para que a própria criança ajude a personalizá-la. A casinha é entregue com as placas de madeira ao natural e os pequenos podem customizar as paredes e o piso – e, porque não, o teto – com adesivos, painéis coloridos e placas para o assoalho. O projeto inovador figurou na lista da revista americana Times que elegeu os 100 melhores cases de design ecológico do mundo. modern-shed.com

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ARQUITETURA

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© Ninetonine

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SMARTPLAYHOUSE No meio do jardim ou mesmo dentro de casa, algumas das criações da espanhola SmartPlayhouse podem até ser confundidas com uma instalação de arte – isso quando a criançada não está a mil saindo e entrando nelas. São quatro modelos. A Kyoto (branca, ao lado), inspirada na arquitetura japonesa de vanguarda, tem aspecto futurista, com muitas janelas, todas desiguais. A Casaforum é revestida de uma placa de aço perfurada e com desenhos de folhas e é ideal para o jardim. A Hobbiken (com janelas pretas, ao lado), feita em madeira, é a mais rústica, mas ainda assim com design moderno. Já Illinois, com janelões, é a casa dos sonhos de muitos adultos, mas em tamanho reduzido. smartplayhouse.com


NEW KIDDO As tradicionais cabanas americanas ganharam versões modernas na empresa Modern Cabana, de São Francisco, nos Estados Unidos. Além das casas para adultos, há o modelo infantil New Keddo. Construída com madeira certificada e placas translúcidas no teto e em parte das paredes, a casinha recebe pintura com tintas não tóxicas. Ao entrar, a criança descobre os recursos internos, como uma mesinha dobrável e um mega rolo de papel que serve de banco enquanto ela solta a imaginação nos desenhos. moderncabana.com

TREEHOUSE Os designers da Lifetime Kids Rooms, localizada no Chipre, inspiraram-se ao máximo nas despretenciosas “casas da árvore”, montadas com galhos, pedaços de madeira e o que mais as crianças – e os pais – tinham à mão para criar a TreeHouse. Com direito a escada ou corda para descer e subir, de amadora ela não tem nada: a cama-casinha é feita com madeira certificada, tintas atóxicas e todo o cuidado para não ter nenhuma farpa ou prego aparente. Com esse visual “improvisado”, os pequenos aventureiros vão sentir-se numa versão original daquelas casinhas que vemos em filmes americanos. lifetimekidsrooms.com


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