Revista NOIZE #37 - Setembro de 2010

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conchetinas perform poetic acts. what do you do? converseallstar.com.br/linhapremium


chuck taylor all star


• COLABORADORES |NOIZE #37

DO UNDERGROUND AO MAINSTREAM

• EXPEDIENTE #37 // ANO 4 // SETEMBRO ‘10_ DIREÇÃO: 
 Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha COMERCIAL:


 Pablo Rocha pablo@noize.com.br Silvana Fuhrman silvana@noize.com.br EDIÇÃO:
 Fernando Corrêa nando@noize.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha rafarocha@noize.com.br DESIGN: Douglas Gomes doug@noize.com.br ASSIST. DE CRIAÇÃO: Cristiano Teixeira cris@noize.com.br

REDAÇÃO: Bruno Felin bruno@noize.com.br Ana Laura Malmaceda ana@noize.com.br Gustavo Foster foster@noize.com.br Maria Joana Avellar joana@noize.com.br

SCREAM & YELL: Marcelo Costa www.screamyell.com.br

AGENDA: shows, festas e eventos agenda@noize.com.br

MOVE THAT JUKEBOX: Alex Correa Neto Rodrigues www.movethatjukebox.com

ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados

REVISÃO: João Fedele de Azeredo jp@noize.com.br 
 Fernanda Grabauska fernanda@noize.com.br

RRAURL: Gaía Passarelli www.rraurl.com

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Júlia Alves julia@noize.com.br DISTRIBUIÇÃO: Ricardo Carvalho ricardo@noize.com.br PROJETOS: Leandro Pinheiro leandro@noize.com.br

FORA DO EIXO: Ney Hugo Camila Cortielha Marco Nalesso Michele Parron www.foradoeixo.org ANUNCIE NA NOIZE: comercial@noize.com.br

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PONTOS: Faculdades Colégios Cursinhos Estúdios
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 Shows, Festas e Feiras

 Festivais Independentes TIRAGEM: 30.000 exemplares CIRCULAÇÃO NACIONAL

• EDITORIAL | Quatro anos de Edição Especial Brasil Independente Inventamos, quatro anos atrás, de homenagear, analisar, cutucar o cenário independente da música nesse Brasil varonil a cada edição de setembro. E é sempre um peso sobre os ombros, e ao mesmo tempo uma satisfação, dar à luz as edições “7”.A #27 foi 100% dedicada ao tema, com panorama do cenário região por região; a #17 também buscou nomes novos, muitos dos quais estão hoje, de fato, com carreiras em estado sólido de construção; a fininha #7—que recomendo a você ler se estiver pensando em começar um empreendimento independente como a NOIZE, para ver como as coisas evoluem em 4 anos—traçava um histórico do cenário independente, principalmente nos anos 80 e 90. Esta NOIZE mistura o que cada edição teve de melhor, e é a mais bem resolvida editorialmente—porque o projeto editorial da revista evoluiu, justamente, para acomodar melhor as novidades e histórias da música. São 6 páginas de Bandas Que Você Não Conhece, uma pra cada região do país e uma de brinde. Uma matéria sobre histórias da música na cidade que mais irradia multiculturalismo no momento: São Paulo. Retratos da tal “nova MPB” e depoimentos que constroem uma espécie de manifesto, não de um movimento, mas de uma cena movimentada para caramba. Por fim, além de todos reviews, colunas e imagens, que buscam retratar o independente nacional AGORA, resgatamos marcos de construção do independente nacional—que não são todos, nem necessariamente os principais, mas são inegavelmente importantes, e foram nossos escolhidos para que não esqueçamos de todos os degraus dessa escada. Esperamos ajudar na subida de mais um.

• ARTE DE CAPA_ EDUARDO ROSA Confira no site noize.com.br uma entrevista com o artista. eduardorosa.com

• BÉÉÉÉ_ Não temos certeza, mas sim a impressão de que a edição passada passou sem grandes erros da nossa parte. Mesmo assim... Dicas, sugestões e reclamações: noize@noize.com.br

1. Eduardo Rosa_ eduardorosa.com 2. Gaía Passarelli_ Jornalista, confunde-se com a própria história do rraurl.com, maior portal sobre cultura eletrônica do Brasil. 3.Viti_ Publicitário que apostou todas as fichas nas artes plásticas, apaixonado por Berlin e, principalmente, por pintar paredes. flickr.com/desenhosdoviti 4. Cristiano Bastos_ Self Made-Man. Jornalista. Autor do livro Gauleses Irredutíveis. Colaborava com a revista Bizz. É repórter especial da Rolling Stone.Finaliza o doc Nas Paredes da Pedra Encantada, sobre o álbum Paêbirú (1975), de Lula Côrtes e Zé Ramalho. zuboski.blogspot. com 5. Alex Correa_ Carioca, mas gosta mesmo é de São Paulo e acredita na genialidade do Kasabian até o fim. 6. Marcelo Costa_ Editor do screamyell.com.br, trabalha na edição da capa do portal iG e escreve sobre cultura pop como conversa na mesa do bar. 7. Samuel Esteves_ É nóis que tá. samuelesteves.com 8. Camila Mazzini_ Jornalista e fotógrafa morando em são paulo mas não sabe o que quer da vida. flickr.com/photos/ camila_mazzini 9. Ariel Martini_ ainda insiste em fazer fotos de show. flickr.com/arielmartini 10. Neto Rodrigues_ Morador de Minas há incontáveis anos, quase foi um engenheiro. Hoje ronda a publicidade e torce pela volta do Oasis. 11. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento 12. Eduardo Guspe_ Membro fundador do Núcleo Urbanóide, ultimamente se dedica a produzir DONUTS. facebook.com/eduardo.guspe 13.Victor Sá_ Formado em comunicação social, trabalha como jornalista, roteirista e fotógrafo em diferentes mídias sociais. flickr.com/victor_sa 14. Lidy Araujo_ Jornalista, baixista frustrada e louca por Ramones e Red Hot Chili Peppers. Seu site é lidyaraujo.com.br 15. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema, edita o freakiumemeio.wordpress.com 16.Wladimyr Cruz_ Jornalista, roqueiro e alcoolotra. Edita há 11 anos o site zonapunk.com.br 17. Mariana Korman_ Fotógrafa flickr.com/marikorman Fernando de Albuquerque_ Jornalista especialista comunicação digital, literatura e editor da Revista O Grito! revistaogrito.com


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• THIS IS NOIZE SUPERSTYLLIN’! Se Você Não Gostou da NOIZE Passe Adiante

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NOIZE

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_foto: SAMUEL ESTEVES | samuelesteves.com

l ife is music


NOME_ Iamana PROFISSÃO_ Designer e ilustradora UM DISCO_ Danger Mouse & Sparklehorse | Dark Night of the Soul

“É louco ver que a gente, de fora, faz esse recorte, ‘isso é música, isso é arte, isso é vídeo’ – mas para quem faz tudo isso, é realmente uma coisa só. O lance de fazer/ouvir música ficou tão democrático! Acho que isso faz as interações entre música e artes aparecerem mais, também como uma forma de valorizar e potencializar a experiência das pessoas com tudo isso. Hoje é difícil alguém parar mais de 1 minuto olhando uma imagem ou ouvindo música até o final, então quando [isso acontece], é muito, muito, muito especial. Essas atitudes fazem com que a gente nunca pare de fazer o que a gente faz.”


“Zegon deveria cobrar hora-aula por cada conversa...” cando e fazendo carinho.

“As drogas precisam ser exterminadas! Quem defende a legalização incentiva a morte.Quem fuma maconha é um puta de um burro, que está queimando o próprio cérebro. Mas é lógico que o viciado precisa de apoio, e não de punição” Kiko | do KLB espan-

LEIA ISTO Emicida | Ao mestre, com carinho.

“Emicida é um dos melhores MCs que já surgiram no Brasil, daqueles que aparecem um em cada 10 anos,ou 20.” Zegon | Ao pupilo, com orgulho.

“Baixem pois é inevitável, eu baixaria! Mas comprem o disco também, por favor, viu?! Deu trabalho e custou caro para fazer.” Gustavo Benjão | Do Amor, após vazamento do primeiro disco dos caras. “Quando o Júpiter

“Existe um tipo de música que pode ser os dois, co-

Maçã

locar voz e ser instrumental. Esse tipo de som que

lança

um

disco, passo a madrugada

não é canção, não é o pop, com verso, refrão, refrão especial, refrão final, no formato clássico,

inteira

mas é uma coisa que usa canção, usa melodia, usa

escutando—como

a poesia, usa o instrumental, usa tudo e faz uma

um ritual.” Tatá Aeroplano | Cérebro Eletrônico

música rica, música livre.” Guizado | O homem do trompete de ouro.

e Jumbo Elektro

“Tem gente que pensa que todo artista é rico. Numa época eu até fui, mas fumei, cheirei e bebi tudo. Hoje moro no mato e ‘trampo’ para pagar as contas” Rita Lee

“Não sei se o ‘banquinho e violão’ ficou meio em desuso. Quando eu lancei meu disco, muita gente achou que era [voz e violão] por falta de verba, e não por conceito, tipo ‘Ai, tadinha, não teve grana pra colocar banda’. E a ideia foi fazer o mais simples possível.” Tiê


Bruno Morais | Sobre a individualidade do compositor.

“Cada pessoa e cada música é um planeta. Só ‘aquele cara’ um dia foi lá comer um pão na chapa na padaria tal, ouviu a música do fulano e caiu uma ficha.”

_ZEGON, TULIPA, TAtÁ AEROPLANO, ROMULO FRÓES, BRUNO MORAIS

“A gente só vai conseguir entender uma coisa de proposta estética e movimento daqui a 30 anos, com um distanciamento temporal. A gente tá no momento de uma industria fonográfica maluca, porque projeção a gente tá tendo. Mas a gente tá num momento que projeção ainda não viabiliza seu aluguel.” Tulipa | Tem mais Tulipa nesta edição.

“A internet é uma disneylândia pra quem curte música, bandas novas, circuito independente. Mas, não está servindo pra abrir a cabeça da classe média alienada, que ouve axé, pagode e forró do mal.” Paulo André | criador do Abril Pro Rock

“Em alguma hora, quando Caetano tocava “Um tapinha não dói”, não tinha a menor força [comparado a tocar com] Odair José. Ele perdeu um pouco o passo porque não era mais chocante. O Curumin canta “Feira do Acari”, o Kassin lida com a Gaby Amarantos. E como Caetano é inteligente, grande artista, quando ele entendeu isso, ele voltou ao som dele com essa turma [nova]. Eu acho o evento Caetano Veloso dos dois últimos discos a coisa mais forte dessa geração.” Romulo Fróes noize.com.br

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014\\

noize Arte NOIZE

público s.a. “Produtor, comece a pensar que o público já não está mais precisando tanto de você”, decreta o jornalista Bruno Nogueira, do blog Pop Up. E é verdade. Pode soar como papo de velho, mas… quem diria? Música de graça e show produzido por fãs. Explicamos: no último mês, depois da desistência de uma produtora para trazer Miike Snow ao Rio, alegando a desculpa padrão da “falta de público”, sessenta cariocas decidiram não deixar a decisão na mão de quem não deveria escolher. Simples: dividiram os custos do investimento inicial em cotas, os investidores ficaram encarregados dos preparativos e, também, do lucro que rolar. Genial de tão óbvio. São notícias inusitadas como essa que conseguem despertar um certo orgulho, esperança hippie na procura por uma solução colaborativa para que – finalmente – todos ganhem o que merecem para continuar trabalhando. Infelizmente, ainda não é tudo isso. Mas tem-se uma pista: economia de colaboração, crowdfunding, como é conhecido lá fora. A ideia de que o público está interessado somente no resultado final pode funcionar na lógica industrial, mas, quando falamos de cultura, é interessante pensar que o público também quer participar. E por que não? Um disco, como qualquer produto, passa por várias etapas até chegar aos seus ouvidos. E se o problema está na unilateralidade do sistema, expandir as formas de compra pode ser uma resposta. Pensando assim, a solução do download, do compartilhamento e da falta de remuneração está debaixo dos nossos narizes. É provável que, quando a acharmos, será como se sempre tivesse existido.


_ouca agora ´

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Mombojó - Amigo do Tempo Jupiter Apple - Plastic Soda Do Amor - Do Amor Caetano Veloso - Caetano Veloso Nação Zumbi - Nação Zumbi

Rafael Rocha

CC Mr. Brown

__REGISTRO | Tem rolado uma injeção de ânimo no cenário independente por parte de empreendimentos de ontem e de hoje que incentivam os artistas. Dos últimos grandes discos de música brasileira, boa parte (a maioria dos mais ligados à canção) saiu dos estúdios da paulista YB.A troca é simples: os artistas que trabalham com a YB gravam seu disco de graça e, em troca, cedem parte do direito de publishing de sua música. Lulina, Nina Becker,Tulipa, Bruno Morais e Romulo Fróes, todos gravaram seus discos lá.A Vigilante, por outro lado, vem investindo em talentos ligados ao rock contemporâneo, e tem lançado compactos em vinil aproveitando a estrutura de sua “dona” Deck. De maneira similar, a Curve Music também aposta nos novos talentos com conhecimento da causa importado do Reino Unido.

__EMICÍDIO | Em maio de 2009, Emicida lançou sua primeira mixtape, Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe, e balançou o cenário independente vendendo 10 mil cópias com uma produção artesanal, de mão em mão. Os frutos desse trabalho de guerrilha começam a ser colhidos agora. O MC conta com mais estrutura, um estúdio próprio e tem tido chances de trabalhar com alguns de seus ídolos, como o DJ Zegon, que por coincidência saiu em entrevista com o N.A.S.A. na mesma edição (#30 da NOIZE) que o rapper.A luta segue e a segunda mixtape, Emicídio, tem lançamento programado para setembro.Além do DJ ídolo citado acima, a mix tem participações de Kamau, Nave, DJ Will, Curumin e muita gente que não caberia aqui mas coube na entrevista no site. tiny.cc/emicida

direto ao ponto O Vespas Mandarinas liberou pra NOIZE, com exclusividade, 3 prévias de músicas novas, incluindo “Man Without Qualities”, com participação de Mark Arm, vocalista do Mudhoney. tiny.cc/vespas

Kamau falou sobre amenidades e coisas sérias na entrevista que deu para a gente: da participação no VMB à durabilidade de Non Ducor Duco (2008), seu primeiro disco solo. tiny.cc/kamau

Thiago Corrêa diz que Nacional, o próximo disco do Transmissor, previsto para o último trimestre do ano, tomou 2010 inteiro, e além disso... tiny.cc/transmissor

Da maior indiada que Jackson Araujo, do Shhh.FM, aos artistas que mais o influenciaram, tudo está na rapidinha que Lidy Araújo publicou no tiny.cc/jacksonaraujo


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__PLANETA BRASIL | O Planeta Terra está de escalação fechada. Se ainda houver ingressos enquanto você lê, os R$ 220 (R$ 110 para estudantes) garantirão acesso aos seguintes shows: Pavement, Of Montreal, Empire Of The Sun, Mika, Hot Chip, Phoenix, Smashing Pumpkins,Yeasayer, Passion Pit e os brasileiros Mombojó, Holger, Hurtmold, uma tal de República e os Novos Paulistas, que, em sintonia conosco, é um grupo formado por metade da galera de nosso ensaio fotográfico da edição com Dudu Tsuda, Tatá Aeroplano e Thiago Pethit.

__A ...LOST ACHOU SUA BANDA | Marcas legais seguem investindo na música independente. O ...Lost Band Search, que chegou ao fim recentemente, é um exemplo dos bons—não por acaso, a NOIZE se envolveu no projeto. Foram quase 550 bandas participantes na corrida pelo primeiro lugar, que rolou entre abril e julho. A decisão passou pelo voto popular e por um júri qualificado, que escolheram os três finalistas, Strep, Take Off The Halter e Abraskadabra. Quem levou o prêmio, que significa um pacotão de equipamentos, roupas da ...Lost e shows – inclusive a abertura do show do Fishbone – foi a Abraskadabra. Acesse o www.NOIZE.com.br e confira a entrevista com a rapazeada.

Reprodução

Ariel Martini

Divulgação

NOIZE

__GAROTA VAZADA | Escaldante Banda, o (primeiro) disco (novo) do Garotas Suecas sai no mesmo 7 de setembro que inspira esta edição da NOIZE. Mas setembro nem havia começado quando o grande site gringo NPR (que já havia falado bem do Garotas mais de um ano atrás) deu início a uma premiere do álbum. Enquanto fechávamos a revista, qualquer um com acesso a web podia ouvir o soul, o funk, o swing e tudo o que há de não óbvio em Escaldante Banda no link tiny.cc/garotas.



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lado a LADO B SITIOS

Thiago Pethit | Mapa-Múndi _Na mesma inconstância das dúvidas e rosto viajante da música, o novo clipe de Thiago Pethit navega entre paisagens, passando por diversos pontos, pequenos no papel e gigantes no imaginário.

_ismoismo.com Ismo é um grupo de pessoas livremente associadas, que criam editoriais, textos, mixtapes e qualquer outra coisa que sinta e possua sentido.

Tags: thiago pethit mapa mundi

Apanhador Só | Música de Bolso

_surfacetoair.com.br Provavelmente um dos únicos blogs de festa brasileiros que valem a visita. Entrevistas, vídeos e fotos (não necessariamente do Bar Secreto, que mantém o blog).

_Pra tirar as duas sonzeiras mostradas nesse Música de Bolso – gravado em frente a um bar e na cadeira de um cabeleireiro –, os gaúchos do Apanhador Só usam violões, percussões e uma roda de bicicleta. Funciona.

posts http://tiny.cc/salveorio Tudo a ver com o texto que publicamos na seção NOIZE desta edição. Em três posts, o blog fala sobre o crowdfunding e novas alternativas de investimento em música.

Tags: apanhador bolso

Holger | Let’em shine below _Sobreposições, clima marítimo e sol rondam o novo clipe da Holger, que apareceu na última NOIZE #36 num ensaio de moda também cheio de sobreposições.

http://streetsp.com/?p=1149 A poesia esfumaçada do pixo antigo na capital nacional do pixo: São Paulo.

Tags: holgerhills shine

tag yourself

joel autotune rock rocket rocket jane wado sampa 808 holger oi novo som show de schuneman lucy popsonics fred astaire swu los hermanos nevilton sidney magal no

ar coquetel molotov 2010 novos paulista

wander wildner dançando em blumenau

serra comedor hitler brabo swu


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o que voce viu e nao viu neste mes_

Garotas Suecas | You ain’t going nowhere _ Num orquidário no meio de Porto Alegre, a NOIZE gravou o Garotas Suecas cantando “You Ain’t Going Nowhere”, música country rock do Byrds. Muito amor. tiny.cc/garotasbyrds

Cidadão Instigado | Contando Estrelas _Fernando Catatau, acompanhado de Ivo Lopes, dirigiu o vídeo para seu próprio momento reflexivo. Nele, passeia pela praia enquanto imagina o climão de estar contando estrelas no mar com a companhia saudosa.

Marcelo Jeneci | Quarto de Dormir A terceira a vazar do aguardado disco de Marcelo Jeneci é uma versão para música de Arnaldo Antunes, e comprova que esse disco repleto de orquestrações que Jeneci nos trará promete. Inverness | A Summer’s Night Lullaby A ponto de finalizar seu segundo disco, os folk-psicodélicos aproveitaram para lançar essa balada cheia de ambiências e samples. Bonito, bonito! Emicida | Emicídio Emicida chega junto mostrando sua evolução, principalmente na métrica, com um sample em clima de Oriente Médio na produção de Renam Samam.

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Tags: cidadao estrelas clip

audio

Voce nunca ouviu

Charme Chulo | Nova Onda Caipira _A “Nova Onda Caipira” do Charme Chulo vai te deixar feliz com seu “rock rural”, mas também receoso: quão grande é a margem de segurança entre o rock caipira e o sertanejo universitário? Tags: charme chulo caipira

gostosa.tumblr.com Uma ode às gordinhas em imagens que transbordam gostosura.

Músicos de metrô deste Brasil, movei-vos! Até 15 de setembro vocs têm a chance de se inscrever no RedBull Sounderground, festival internacional dedicaco a vocês. http://is.gd/eNwRz

TUMBLIN’

follow up

blogdenoticias.tumblr.com Se as notícias que aparecem em tiopês no blog de notícias fossem reais, o jornalismo seria a coisa mais engraçada do mundo.

@ArnaldoBaptista Pílulas de conhecimento cósmico da envergadura de “Quem ESPHERA sempre alcança”.Verdadeiro, cru e genial.


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bandas do sul que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Porta-Voz

Dingo Bells Origem:

Porto Alegre, RS. Som:

Ao vivo, a Dingo Bells costuma presentear a plateia com execuções primorosas da encarnação dada por Joe Cocker a “With a little help from my friends”. Com hamornias vocais afiadas, encorpadas pelo ótimo vocal do baterista, apresentam suas composições e provocam sensações de Talking Heads, Clash, Mutantes e Dorival Caymmi. Com um EP prestes a sair, ameaçam criar seu próprio capítulo na história do tal rock feito no Brasil. Escute:

myspace.com/dingobellsrock

Wannabe Jalva Origem:

Porto Alegre, RS Som:

Wannabe Jalva quer ser Jalva quando convida um coro de crianças a cantarem juntas “Try so hard!” na groovy “Come and go”. É querendo ser Jalva que misturam guitarras pulsantes a bases essencialmente dançantes—ou seria o contrário? Bases funkeadas ou marteladas, sintetizadores e baixos democráticos (quase toda a banda os toca) esculpem músicas tão ligadas ao “indie” contemporâneo quanto ao funk ou o post-hardcore. Escute:

myspace.com/wannabejalva

procura-se quem fez isso O quinteto Procura-se Quem Fez Isso (PQFI) vem chamando atenção de muita gente por ser uma banda que “jamais mostra a cara de seus integrantes nem revela suas identidades”. Apresentam-se com o rosto coberto por uma meia-calça e cartolas com lanternas de minerador. Embora o visual chame muita atenção, na realidade, o “não-visual” é o “sentido de tudo” para a banda. O importante é a música, não os indivíduos. O traje seria ridículo se a música soasse ruim. Mas o som é realmente genuíno: um bem amarrado encontro de Frank Zappa com Mutantes, de Beach Boys com The Residents. A banda, que já possui o EP Não Tivesse Coisas Novas Pra Lhe Dizer, gravado em 2005, com quatro músicas, também não fala com o públi-

co – a não ser pela música. No palco, a comunicação é possível por meio de um gravador que transmite mensagens, cuja voz não pertence a nenhum dos integrantes. O tradutor gaúcho Paulo Neves, conhecido por suas parcerias com Zé Miguel Wisnik, escreveu trechos do single “A Marcha dos Bonecos”. Neves também trouxe duas canções que, em breve, estarão no repertório: “Minhas Coisas Favoritas”, versão aportuguesada do clássico “My Favorite Things”, de John Coltrane, e a instrumental “Isabel (Bebel)”, de João Gilberto, que foi letrada por Neves. As composições farão parte do primeiro álbum que a PQFI gravará em breve. Escute: myspace.com/procurasequemfezisso Cristiano Bastos



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bandas do sudeste que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Assis 176

Luisa Maita Origem:

São Paulo, SP Som:

Luisa Maita talvez tenha atraído mais atenção de sites especializados de fora do que daqui, que têm definido seu trabalho como “um emocionante passeio pós-samba”. Para quem ouve aqui, o “pós-samba” soa como bom samba, feito sobre e em São Paulo—e sendo de lá, já surge com a desconfiança de olhar para frente. Produção conjunta com o talento Rodrigo Campos, Lero-Lero coloca Luísa na lista de coisas a se ouvir pelo prazer, porque basta. Escute:

myspace.com/luisamaita

ogi

Dorgas Origem:

Rio de Janeiro, RJ Som:

Os caras se dizem influenciados por Marvin Gaye e a trilha de Bomberman Hero. Na sonoridade, mostram um som quase instrumental – no qual a voz serve menos como poesia e mais como melodia –, com ares de viagem espacial e clima de mundo dos sonhos. Já lançaram um EP de três músicas e é só: sem nenhuma outra gravação e sem nunca ter feito apresentações ao vivo, o que falta na Dorgas é quantidade, pois qualidade há. Escute:

myspace.com/dorgasdorgasdorgas

Natural de São Paulo, Rodrigo Hayashi, o Ogi, é um cara urbano, das ruas. Começou a fazer rap em 1994, sem compromisso. Passou boa parte da década de 90 como pichador e “rueiro”. O estilo de vida do MC acabou refletindo no estilo de rimar e ele assumiu sua veia de cronista das ruas da metrópole paulista. Já em 2002, formou o grupo Contrafluxo, junto ao DJ Big Edy e ao MC DejaVú, que depois incorporou Munhoz, Maskot e DJ Willian. Agora Ogi parte para o primeiro trabalho solo e explica a vontade de fazer algo próprio: “Sozinho eu tenho total autonomia nas composições, na escolha das batidas. Sempre tive vontade de fazer um disco solo, mas não me sentia preparado. Depois que fiz Por aí vou

vagar, senti que seria capaz e coloquei as ideias em prática”. O formato storytelling (contar histórias) – consagrado por Mano Brown, Sabotage e outros – de suas letras revelam São Paulo aos olhos de um rapper que respira o cotidiano da cidade com um olhar aguçado, sem soar parecido com suas referências. “Na hora de compor eu me isolo, me concentro, e as palavras se encaixam.Volto embriagado no ônibus ouvindo um som no iPod. Gosto de beber com os amigos, mas adoro beber sozinho também. Quando bebo sozinho, analiso as pessoas, as conversas no boteco e várias idéias começam a aparecer”, conta. Escute: myspace.com/ogidocontra Bruno Felin



024\\

bandas do centro-oeste que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Rodrigo Dalcin

The Hellbenders Origem:

Goiânia, Goiás Som:

Ao escutar a fúria do Hellbenders e descobrir que tratam-se de moleques com menos de 20 anos, você saberá que a cena de Goiânia Rock City venceu. Stoner, pesado, veloz, o som tende a ganhar ainda mais personalidade nos discos que certamente hão de brotar dos hormônios adolescentes dos garotos. A estreia Smashing Cars Chasin’ Stars contou com arte do Bicicleta Sem Freio, que dá cores ao peso headbanger.

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M

Y

CM

Escute:

myspace.com/hellbendersbr

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watson

Tiro Williams Origem:

Brasília, DF Som:

Apontados pela imprensa brasiliense como autores, em 2009, de um clássico prematuro da década 2010, o Tiro Williams não nega que pisa em terreno seguro: o alt-rock dos anos 90. Canções como “Cidade Solidão”, no entanto, explicitam tudo que cada cabeça inspirada da banda acrescenta – em especial a capacidade de compor em português rock alternativo que faça jus às referências originais. E isso é coisa desse século. Escute:

myspace.com/tirowilliams

Desde os tempos em que se chamava Watson e o Progresso da Ciência, a atual Watson é velha conhecida da cena brasiliense, embora seja formada por jovens músicos.A banda começou quando os integrantes tinham por volta de 16 anos. São oito anos de rock em Brasília. O primeiro e homônimo álbum foi editado pelo Senhor F Discos e saiu em maio. Registrado em Porto Alegre, leva esmerada produção dos irmãos Gustavo e Thomas Dreher (Cachorro, Júpiter, Bidê). O vocalista Miguel Martins diz que quase todas as canções do disco são sobre mulheres.Ainda que não pareça, a vigorosa “Emtivi Apresenta” – parece uma canção-protesto contra o stablishment da música no Brasil, mas não é – narra a dor de um partido e abandonado coração.“O cara que fica

CY

puto da vida por ter perdido a namorada que o deixou para tentar a vida na ‘cidade grande’”.“Emtivi Apresenta” é assumidamente inspirada em “Minha Renda”, da Plebe Rude.“Asa belhas”, faixa que abre o álbum, tem muito a ver com a rotina da cidade que gira ao redor do poder.“Quitinete” é sobre festinhas privadas de apartamento.“Dessas que todo mundo gosta e participa, mas, por algum motivo sempre acaba arrependido no dia seguinte”, anota Martins. “Tupanzine” (nome do único fanzine ainda impresso em circulação na cidade) foi escrita após um show que rolou em Brasília no esquema um monte de bandas/nada de público. Escute: myspace.com/bandawatson Cristiano Bastos

CMY

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bandas do nordeste que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Divulgação

The Baggios Origem:

São Cristovão, SE Som:

Da cidade histórica de São Cristóvão, Sergipe, saiu o músico andarilho, hippie e punk interiorano Baggio, uma lenda local. Inspirados nele, o The Baggios, formado pelo duo Julio Andrade e Gabriel Carvalho, misturou as guitarreiras na linha do blues americano com repente, slides e flautas para fazer um som com influências brasileiras de Zé Ramalho a Raul Seixas e estrangeiras de White Stripes a The Cramps. Escute:

myspace.com/baggios

the amazing broken man Bocão Origem:

Arapiraca, Alagoas Som:

Membro remanescente da Casa Flutuante, que tocou por bons 7 anos na cena alagoana, Bocão leva adiante a tarefa de compor canções que parecem ir pegar emprestado no cinema e nas orquestrações algo a mais para atingir um resultado diferente de seus parceiros de cena.Tem Júpiter Maçã e Mutantes como óbvias referências nos momentos mais sambajazzies e psicodélicos, mas tem muito mais. Psicodelia bem orquestrada, folk rock que vale a pena ouvir sem medo de indiezadas. Escute:

myspace.com/bocaoeacasaflutuante

The Amazing Broken Man é um projeto bonito, nascido e criado de forma solo. Quem assina é Odorico Leal. Ele tem 27 anos, é músico, estudante e atualmente trabalha num projeto para doutorado em Teoria da Literatura, na USP. Desde março morando em São Paulo, Odorico é natural de Picos, no Piauí, onde morou até os 13 anos. Mas a atmosfera folk que, como ele mesmo descreve, traz referências de “cidades irreais e visões do campo”, faz com que a sonoridade pareça vir de lugar nenhum. Basicamente construindo sua carreira musical divulgando músicas no Myspace, Odorico foi descoberto primeiro pelo produtor musical Kyle Lynd, do seriado Skins (aquele que é quase uma síntese do jovem inglês). Como o protocolo manda, depois disso foi

o Brasil.Talvez o mais interessante no The Amazing Broken Man seja o fato de que ele é um projeto secundário. Oficialmente, Odorico compõe com Ciro Figueredo e Gustavo Vidal, na banda que – por enquanto – chamase October Leaves:“Em dois ou três meses, a banda provavelmente passará a ser o meu único projeto, e o The Amazing Broken Man vai desaparecer”, fala Odorico. E, ah, eles também foram descobertos: acabam de finalizar três músicas para a trilha sonora do novo documentário da cineasta francesa Angelique Bosio, que contará com depoimentos de cineastas como Gus Van Sant e Richard Kern. Escute: myspace.com/amazingbrokenman Ana Malmaceda


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bandas do NORTE que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Alexandre Brito

The Baudelaires Origem:

Belém, Pará Som:

Os Baudelaires não seguem o protocolo das bandas do norte: no contexto do Pará, berço do tecnobrega, eles fazem power pop e buscam inspiração nas peças-chave do rock: Beatles, Beach Boys e Nirvana, além de cantarem em inglês. Com menos de dois anos juntos, já gravaram dois discos e um EP e fazem rock perfeitinho e londrino. Escute:

myspace.com/baudelairesband

mini box lunar Partindo de uma análise superficial, o Mini Box Lunar parece não fazer sentido. A foto do myspace deles é, se me permitem a brasilidade, um “bandigente” numa árvore, vestindo batas com estampas tie-dye. Tudo colorido. Mas, assim que você clica com o botão esquerdo no player e “A Boca” começa a tocar, dá para entender: não precisa fazer sentido mesmo. E, além disso, eles não parecem muito interessados. É bom: lembra Júpiter Maçã, Mutantes, Novos Baianos e Secos & Molhados. Mas eles conseguem só lembrar, não irritam e não parecem querer ser alguma banda. Pelo contrário. É um pop bem original e sincero esse que os macapenses do Mini Box Lunar fazem. Cheias de psicodelia, carnaval

e doçura, “Despertador”, “Piquenique no Espaço” e “Amarelasse” são canções bonitas que compõem a coleção de 20 músicas do grupo. Feito por quatro músicos que se revezam nos instrumentos e duas vocalistas, a banda, formada em 2008, começou de forma inusitada: com apenas três meses, lançaram um DVD-demo antes de qualquer coisa. Agora, gravam o disco de estreia, que terá produção de Carlos Eduardo Miranda. “Mini Box” significa mercadinho na Amazônia. “Lunar”, dizem eles, é para dar um tom psicodélico. O nome não poderia ser mais cabível: simples, mas com algo meio mágico. Escute: myspace.com/miniboxlunar Ana Malmaceda

Projeto Secreto Macacos Origem:

Belém, Pará Som:

Uma das coisas boas que podem acontecer quando uma banda de hardcore chega ao fim é o nascimento de um projeto como este. Isso porque existe sede de experimentar nas mãos saturadas por power-chords. O PSM nasceu com o propósito de fazer “experimentação musical”, e cumpre com a proposta trafegando com bom gosto entre dub, rock, afrobeat, funk… amazoniatrippy. Escute:

myspace.com/projetosecretomacacos


soundcheck

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Ariel Martini

TATÁ AEROPLANO

Admirado por 10 entre 10 músicos brasileiros, o paulista Tatá Aeroplano é instrumentista, compositor, produtor e satélite cultural em uma cidade que transborda criatividade. Até o fechamento desta edição,Tatá fazia parte de seis bandas, entre elas, a bombada Cérebro Eletrônico. Uma página é pouco para uma mente tão ampla. O ideal – nós garantimos – é convidar o cara para uma tarde em um bar e só escutar. Mas ele vai querer te ouvir também.

“ACHO QUE O QUE falta na música brasileira é questionar o que é colocado pAra A gente como tendência de mercado, como verdade absoluta e sempre ter um pé atrás.”

É notável o crescimento da banda entre os dois primeiros álbuns. O que se pode esperar de novo para o terceiro? O nome do novo disco do Cérebro, Deus e o Diabo no Liquidificador, surgiu antes de termos fechado o repertório, e as músicas foram surgindo sempre com um tema ligado de uma maneira ou de outra ao título. Não chega a ser um disco conceitual, mas as músicas têm uma certa ligação entre si. O novo trabalho soa como um mosaico onde as músicas se encaixam de uma maneira ou outra. Grande parte das músicas gravadas já foi tocada em shows. Elas foram apresentadas já prontas ou as versões ao vivo serviram como teste? A discussão sobre a composição continuou depois de mostradas as músicas? Nos ensaios a gente arranjou coletivamente cada música e com os shows elas tomaram corpo, o que ajudou muito na hora de entrar em estúdio, porque o processo de gravação foi bem rápido. Uma ou outra canção, lapidamos durante a produção do disco, mas a maioria já veio quase pronta porque já integrava nossos shows e ensaios. O Cérebro Eletrônico é uma das bandas mais criativas da última década no Brasil. Sobre o terceiro disco, vocês falam “ir contra o politicamente correto”.Você acha que falta cora-

gem na música brasileira? Acho que o que falta na música brasileira é questionar o que é colocado para a gente como tendência de mercado, como verdade absoluta e sempre ter um pé atrás. Eu fico atento sobre tudo o que está acontecendo no mundo, a gente conversa muito mais, e consequentemente questiona e se joga muito mais. Acho que essa energia está presente no álbum e bate de frente com essa onda dita “politicamente correta”. 10 anos, três discos depois: fica mais difícil surpreender o público? Ou isso nunca foi uma preocupação da banda? A gente sempre procurou melhorar a cada disco, o nosso show ficou mais intenso, mais pra cima, porque tocamos juntos há muito tempo, e tem um lance muito importante: quando o disco ficou pronto, eu escutei a master com o Helio Flanders, e no meio da audição fiquei pirando nas guitarras do Fernando Maranho, descobrindo coisas que ele tinha feito no disco, me maravilhando, e aí eu pensei, “Putz, é isso, melhora a cada disco porque nós da banda somos fãs e amigos um do outro, é um trabalho coletivo de troca maravilhoso, e enquanto essa energia existir, nós continuaremos a criar músicas com o intuito de tocar a galera!”



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move that jukebox BLOGS

__São Paulo não é Nova York | Você tem que ser bastante idiota para acreditar que a vida noturna em São Paulo é, de alguma forma, parecida com a de Nova York. E eu, quando saí lá dos confins de Teresópolis para me mudar pra capital paulistana, fui bastante idiota e comprei a ideia. Decepção. Depois de um tempo, descobri que não fui o único a cair nessa pegadinha. Parece que o pessoal do interior tende a acreditar que está indo pra um lugar incrível, onde vinte bandas incríveis tocam em vinte casas de shows incríveis no mesmo

O Holger resolveu tirar um som do que estava disponível na mesa do bar. O resultado foi uma versão inusitada da música “Let’em Shine Below”: tinyurl.com/holgernobar

final de semana incrível. Não é bem assim. De qualquer forma, nem tudo está perdido. Especialmente nesse ano, São Paulo cresceu assustadoramente quando se trata de shows gringos. Os shows nacionais estão acompanhando bem, também, e parece que todo dia aparece algum lugar legal no mapa. Para quem chega agora na cidade, a dica, tanto para “baladas” quanto para casas de shows, é fugir do circuito da Avenida Paulista, principalmente da Rua Augusta, onde os lugares estão cada vez mais cheios e farofados – destaque para o Studio SP,

Em outubro, o OK Go, a banda com os melhores clipes do mundo, vem ao Brasil.Tomara que os shows tenham metade da qualidade de seus vídeos. tinyurl.com/okgobr

Janelle Monáe, que lançou um dos debuts mais badalados do ano, tá com show marcado no país. E pode ser com Mayer Hawthorne e Winehouse. tinyurl.com/amymonae

que pode te transportar pra um inferno astral com tanto falatório. Se você curtir hipsters e modeletes, o Estúdio Emme (Pinheiros) pode ser o lugar ideal pra uma noite, mas o clima caseiro da Neu (Barra Funda) e da Casa do Mancha (Vila Madalena) são mais convidativos – mesmo assim, quanto à facilidade de acesso (ok que tudo é relativo, mas ainda assim...), o Tapas Club (Augusta) e a Funhouse (Bela Cintra, inferninho perfeito) ganham com folga. Daí, quando você se dá conta, já está com um cardápio noturno cheio. E, no final das contas, quem precisa de New York? Cof.

Não se assuste se você, em novembro, quando for pegar o metrô em São Paulo, se deparar com artistas fazendo intimistas apresentações no local. tinyurl.com/musicanometro



RRAURL

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Divulgação

BLOGS

Para ouvir visite o soundcloud do Smoke Island: soundcloud.com/smoke_island Mais no myspace.com/joezeela

__Não é fácil, num site como o rraurl, em português, manter um compromisso de divulgar bandas e artistas do Brasil. Muito porque boa parte do conteúdo vem via interwebz, ou seja, de qualquer lugar do mundo. E muito porque parte do que chega continua preso a uma fórmula de música eletrônica que carece de personalidade. Disse boa parte porque, claro, não é tudo. Foi numa dessas felizes exceções que demos de cara com a dupla Joe Zee – formada pelos amigos Alex Cepile e Perez Lisboa, os dois com passagem por várias bandas de Vitória como The Rain, Nave e Dizzy Queen. O Joe Zee foi destaque do site em agosto, em matéria assinada pelo Thiago Freitas. É um som que ganha no seu iTunes tags como electro e shoegaze, lembrando ora um Empire of the Sun mais suave (“Digital Infatuation”), ora algo saído do cast da 4AD (procure o clipe de “Evollove” no Vimeo), New Order (“The River”) ou ainda um Jesus & Mary Chain on ecstasy (“Sunset”). Não à toa, quando perguntados sobre o que têm escutado surgem os nomes de Ariel Pink, Toro y Moi, Tesla Boy, Neon Indian, The Radio Dept. e Breakbot. Mas o Joe Zee não está no Brooklyn nova-iorquino e nem no Baixo Augusta paulistano. Está em Vitória/ES e é prova de que a localização geográfica é cada vez menos um item obrigatório no resultado sonoro de uma banda. Vitória é lar de outros bons nomes de “música eletrônica” que não se encaixam no clássico do gênero (techno, house, afins) e soam sempre bastante interessantes e frescas. Trepax, Zemaria, Mexican Wolf e Fuel, por exemplo, lançam pelo selo/coletivo super-atuante que atende pelo sugestivo nome Smoke Island. É com essa vizinhança que o Joe Zee está finalizando as faixas de seu álbum de estreia, homônimo, que sai ainda neste semestre. Sobre esse arroubo criativo de Vitória, Perez diz, na entrevista para o rraurl, que “a cidade serve como laboratório de várias ações audio-visuais que desenvolvemos. O fato de nos organizarmos artisticamente tem uma espécie de tempestade de ideias com outros artistas do selo”. Mas o lance mesmo do Joe Zee é ao vivo: as apresentações podem vir em esquema pocket, baseado no Ableton Live, ou (vale procurar no youtube e no facebook) com banda completa, usando guitarra, baixo e percussão junto a sintetizadores, vocoders e laptops para criar uma atmosfera etérea e bastante intensa, sempre com muita fumaça. “É o ‘Joe Zee Full Band’ com a adição do Giuliano de Landa (Monollito/Terceiro Paralelo) no baixo e o Bento Abreu (Solana) na bateria”, conta Perez.



SCREAM & YELL

SCREAM & YELL

BLOGS Divulgação/Uma Noite em 67

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__Sábado. 21 de outubro. Uma noite em 67. O quase quarentão Teatro Paramount, na Avenida Brigadeiro Luis Antônio, 79, em São Paulo, está abarrotado de gente, pessoas que deixaram suas casas em pleno sábado à noite para torcer, mas não por um time de futebol, e sim por uma música. Doze artistas vão cantar para um júri que irá escolher a melhor canção de 1967, e esse júri não tem a mínima ideia (artistas e público, muito menos) de que esta noite entrará para a história. Uma noite em 67, documentário de Renato Terra e Ricardo Calil sobre a

finalíssima do 3º Festival da Música Popular Brasileira, é a História sendo revista. Ali, no Teatro Paramount, a tradição (Chico Buarque) encontrava a revolução (Caetano Veloso e Gilberto Gil com respaldo dos Mutantes) e as faíscas desta noite emblemática chacoalharam o Brasil por vários e vários anos. Uma noite em 67 ajuda a retomar o olhar para um período em que, sem sombra de dúvida, a música brasileira era a

melhor do mundo. Roberto Carlos contando piadas nos bastidores, apresentadores de televisão fumando cigarro em frente às câmeras, Caetano tentando explicar a pop-art e se enrolando, Chico tropeçando na palavra “telespectadores”, tudo isso (e muito mais) é um retrato em preto e branco de uma época maravilhosa de nossa música que passou, e que o rock nacional dos anos 80 tratou de chutar para bem

longe (assim como o punk fez com o progressivo nos EUA e na Europa), mas que a nova geração redescobriu e voltou a valorizar. Há uma ligação (às vezes imperceptível) entre Luisa Maita, Nina Becker, Romulo Fróes, Tulipa Ruiz e Wado (para citar cinco de uma lista imensa) com os eventos que aconteceram naquela noite de outubro. Quarenta e tantos anos se passaram e cá estamos, armados de boas canções, preparando uma nova revolução. Somos um, somos dois, somos cem. Não espere acontecer.

Podcast Scream & Yell “Uma Noite em 67” http://bit.ly/bqVziK



FORA do eixo

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BLOGS Divulgação

__O Compacto.Rec, iniciativa contemplada pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para Internet, anuncia o seu mais novo lançamento: Araguari, primeiro trabalho solo de Jair Naves, de São Paulo. O CD é composto por faixas como “Araguari I (meus amores inconfessos)”, “De branquidão hospitalar, queimando em febre, eu me apaixonei”, “Silenciosa”, “Araguari II (meus dias de vândalo)”. Inclusive, é na última que, nas palavras de Rogério Duarte, “desponta largamente a entoação vocal de Jair Naves, equilibrando-se entre a canção e a declamação poética, para fazer perceber o ser sensível que está por trás da voz que canta”. Além do lançamento das 4 faixas do EP, quatro outras, ao vivo, também fazem parte da compilação.

Karen Alache

_Abrindo a temporada de grandes festivais, o Transborda e o Vaca Amarela movimentam a cena alternativa de Minas e Goiás. De 13 a 19 de setembro, o Pegada realiza a primeira edição do Transborda, em Belo Horizonte, reunindo mostras de artes e oficinas, e levando som para as diferentes tribos apreciadoras da boa música. Lucas Santtana,Vendo 147, BNegão e os Seletores de Frequência, Linha Dura, Macaco Bong, Monograma, Tereza, além de diversas bandas locais, se apresentarão em espaços públicos e em casas de shows da cidade. Em Goiânia, o tradicional festival Vaca Amarela, realizado pela Fósforo Cultural, comemora 9 anos levando shows do Lobão, Velhas Virgens, Claustrofobia, Terra Celta e outras 30 bandas à Estação Goiânia, entre os dias 15 e 18.

direto ao ponto O programa Curto Circuito apresenta o melhor do cenário independente do país, reunindo semanalmente entrevistas exclusivas, coberturas de festivais e outros destaques da cena alternativa nacional. Acompanhe: foradoeixo.org.br/web-tv

O portal Nagulha lançou recentemente o programa BIT, que pretende mostrar em 140 segundos festivais realizados em algum canto do país. O primeiro é do Alambique do Rock em Barbacena: nagulha.com.br/bit-1/

Com o encerramento das etapas regionais do III Congresso Fora do Eixo em setembro, agentes culturais de todo o país começam a se preparar para sua fase nacional, que será realizada de 10 a 17/10, em Uberlândia (MG), durante o festival Jambolada.

A banda Móveis Coloniais de Acaju procura voluntários para ajudarem na produção do Móveis Convida. Interessou? Faça contato: twitter.com/moveis




A CONSTRUÇÃO DO INDEPENDENTE //039

Se você entende o independente nacional como uma mera transposição do indie rock gringo para a realidade brasileira, está enganado—ao menos em parte. Indie não é estética, não são óculos favoritos cujo modelo muda de acordo com o hype, nem “guitarrinhas” que você ama hoje e detesta amanhã.

O independente é um modelo de gestão, um cenário que inclui diversas instâncias de produção. Trata-se de uma realidade que, à semelhança do que ocorreu nos Estados Unidos, surgiu como uma alternativa ao modelo dominante na indústria fonográfica, em especial a partir da década de 70 e do advento do punk, do do it yourself e da fita cassete. O independente brasileiro é recente. Num primeiro momento, corresponde aos esforços de selos e produtores em viabilizar a publicação da música dos “excêntricos” e “incompreendidos”, previamente excluídos do esquemão mainstream; e de músicos buscando ser elevados ao patamar de artistas de verdade, que só seria alcançado com a contratação pelas multinacionais da fonografia, as malditas – e outrora admiradas – majors. Não é preciso muita pesquisa para perceber que o indie concentra (e irradia) as novidades, o alternativo e tudo que diverge de gêneros massivos em que as ex-gigantes da música concentram seus esforços (embora não se possa desconsiderar que uma parcela significativa ainda utiliza o sistema independente apenas para entrar nesse esquemão).

Mesmo que hoje existam mais de 400 selos e gravadoras+1, além de festivais e artistas orgulhosos em bradar “Somos independentes e não desistimos nunca”, muito ainda há de ser feito pelo independente brasileiro. A seguir, listamos e revisitamos apenas alguns dos degraus superados nessa escalada e os homens e mulheres que ousaram subi-los, mesmo quando os bolsos vazios já não garantiam leveza e força para ir adiante. A vanguarda do Lira Paulistana Em 1979, no meio de resquícios de utopia e ressaca, o Lira Paulistana abria seu pequeno grande palco para uma voz abafada por quase duas décadas de ditadura. E, quando a voz ecoou, o grito foi alto:Tetê Espíndola, Itamar Assumpção, Grupo Rumo, Premeditando o Breque, Língua de Trapo, Inocentes, Cólera, Mercenárois, Ratos de Porão, Grupo Um, Pé ante Pé, Mauro Senise, Carioca e Banda, Ira!, Ultraje a Rigor e Titãs. Só os caracteres da lista de músicos poderiam lotar a platéia em forma de arena do teatro. Como definir o que é uma banda independente? Se hoje a questão ainda é discutível, há trinta anos era desconhecida. Não existia

[+] Os marcos descritos foram selecionados com base nas sugestões de fontes confiáveis, mas não é a intenção da revista fazer julgamento da importância de cada um deles nem apontá-los como os mais importantes. [+1] Fonte: ABMI [+3] Dessa época, há Ready o... (2002). Posteriormente, Beffore Valleygrand (2005).


040\\ noize.com.br

[+2]

[+3]

[+4]

[+5] Até hoje o rock gaúcho é presença cativa no imaginário rock nacional, vide o lançamento, em 2005, do Acústico MTV: Bandas Gaúchas, com Cachorro Grande, Ultramen, Bidê ou Balde e Wandeer Wildner.

uma resposta à estagnação das majors: havia músicos, mas não lugar. O Lira não mostrou o porão aos olhos dos novos produtores, ele literalmente criou o porão e abriu para quem quisesse apresentar, ajudar, produzir ou assistir. “Fomos apenas um lugar ‘aberto’ de segunda a segunda que os recebia e acreditava neles”, diz Chico Pardal, sócio do teatro. De início, apenas um porão em frente à praça Calixto. Em pouco tempo, selo fonográfico, editora, distribuidora e maior mobilização cultural de São Paulo. No auge da casa, faziam-se duas sessões do show na mesma noite. “Se for pensar na música em geral, a Lira é um exemplo fortíssimo de como se dar bem na cena independente. Eles tinham o Teatro, tinha gente que cuidava das bandas e trabalhava diretamente no Lira, faziam o circuito universitário, coisa que as bandas de rock não faziam e lançavam os disco, né, cara? Era o modelo perfeito”, diz Clemente, do Inocentes. O Lira foi, de certa forma, a primeira estrutura de independente e de coletivo. PUNK! Na Vila Carolina, em São Paulo, o movimento punk dava seus primeiros passos a partir da segunda metade da década de 1970. AI-5, Restos de Nada, Condutores de Cadáver e logo depois Cólera, Olho Seco e Ratos de Porão, foram as bandas que começaram a usar os poucos acordes – influenciados pelos raros discos dos Ramones e Sex Pistols que chegavam – para contar a realidade daqui. Tempos de ditadura militar e repressão não impediram esses jovens brasileiros de usar o faça você mesmo para o rock acima de tudo, mesmo sem nenhuma porta abrindo a seu favor. Fábio Sampaio, vocalista do Olho Seco, abriu a loja Punk Rock, o principal ponto de encontro da cena e único lugar de acesso a discos do gênero. Além de servir de local para a formação de diversas bandas, a Punk Rock virou um selo e lançou, em 1982, a primeira coletânea punk e independente em vinil, o Grito Suburbano+2 – com Olho Seco, Inocentes e Cólera. Esse foi o primeiro passo para os festivais organizados por eles, como o lendário O Começo

do Fim do Mundo, no mesmo ano, que serviu de inspiração para outros festivais independentes que vieram depois. “As pessoas lançavam discos independentes por falta de opção, e a gente fez por filosofia, por acreditar que aquilo seria um novo tipo de caminho”, explica Clemente, do Inocentes. “Acho que foi o pontapé inicial para tudo que está rolando hoje, afinal o modelo é o mesmo, né?”. Tchê Rock Na euforia de uma iminente abertura política, o Brasil da metade dos anos 80 viveu um momento esquisito. Bandas de São Paulo, do Rio e de Brasília capitaneavam o que ficou conhecido como BRock, movimento que fez o país do samba ser mais uma vez invadido pelo rock—não com o requinte dos Tropicalistas, nem tão fotocopiado quanto a Jovem Guarda. Porto Alegre carregava a vocação para ouvir o rock ‘n’ roll inglês, mas apenas recentemente começara a fazer música sintonizada com o que acontecia no centro do País. Havia uma questão de saldo positivo: as bandas que estavam tentando colocar a cidade no mapa do BRock eram tão inexperientes quanto genuínas. “A gente começou aquilo porque queria aprender a fazer música”, garante Carlos Gerbase, baterista d’Os Replicantes. O que Carlos Miranda chama de “cena forjada do rock gaúcho” era um grupo nada coeso, mas bastante próximo, de bandas como Os Replicantes, Taranatiriça, TNT, Urubu Rei, DeFalla e Garotos da Rua. Cada uma com suas referências, juntavam-se para tocar e, com sorte, somar forças e atrair atenção da mídia. “O que eu sabia de independente vinha do Super-8”, explica Gerbase, então integrante do jovem círculo cinematográfico da capital gaúcha. Baseados nesse conhecimento e no que ouviam falar da cena punk paulista, os Replicantes criaram uma mistura de selo e bar, o Vortex, pelo qual lançaram seu primeiro compacto. Foi um dos fatores que motivaram a prensagem, em 1985, da coletânea gaúcha Rock Garagem+3 e, em 1986, da mais proeminente Rock Grande do Sul+4 (RCA), que mostrava para Rio e São Paulo o som que os compatriotas faziam em Porto Alegre – uma grande


A CONSTRUÇÃO DO INDEPENDENTE //041

conquista no tempo em que o Brasil não extrapolava os limites do Sudeste e, como lembra Gerbase, “as bandas todas pensavam em ser contratadas por uma gravadora que fizesse tudo por elas”.+5 Os Selos O homem que criou, senão um dos primeiros, um dos mais importantes selos independentes dos anos 80 acredita que a música tem que ser paga, ou fica vulgar. Luiz Calanca, do Baratos Afins, é padrinho de uma realidade importantíssima na constituição de um mercado independente. Em 1982, selou o pioneirismo ao lançar ninguém menos que o mutante Arnaldo Baptista em seu segundo disco solo, Singin’ Alone+6. Diversos outros selos surgiriam na mesma época. Em 1985, a loja Cogumelo, de Belo Horizonte, fundou sua label e lançou bandas como Ratos de Porão e Sepultura, que acabaram tendo carreiras internacionais mais porradas do que no Brasil. Em 89, o carioca Rodrigo Lariú criou o zine Midsummer Madness, que também daria nome a um dos grandes selos do rock alternativo na década seguinte. Esta foi marcada pelo surgimento, em São Paulo, dos selos Tinitus e Banguela e, no Rio, do Rock It!. A certa altura, os três eram ligados a majors, contradição que o produtor musical Pena Schmidt julga ter sido, para o Tinitus, indispensável: “Era necessário ter algum relacionamento com as grandes, fabricar nas fábricas delas, pedir licença para usar repertório, ser distribuído por elas. Em alguns momentos a grande financiava a pequena, adiantando dinheiro da distribuição, por exemplo. Esta relação dificilmente era equilibrada ou sem segundas intenções”. Pirataria é brega Se nos anos 70 e 80 a música brega corria as fronteiras brasileiras, vendendo milhares de cópias para as classes menos abastadas, atualmente os artistas mais famosos do estilo – que hoje é misturado a batidas eletrônicas, tem seu epicentro no Pará e foi batizado de tecnobrega – não têm discos nas prateleiras das lojas. Os piratas são (foram?) os maiores inimigos da indústria fonográfica e esta parece não ter olhos para

a produção do Pará. Por isso, um sistema próprio de mercado surgiu em Belém, onde camelôs, pirateiros, músicos e DJs+7 jogam do mesmo lado. A música adotou a pirataria como forma de divulgação. Os artistas focam na venda de seus shows e o resto fica por conta do mercado informal. As produções saem do computador+8 diretamente para a mão dos donos de aparelhagens e para as fábricas de CD de fundo de quintal. “É até uma coisa meio descartável, porque fazemos tanta produção, tantas músicas, que em dois meses já não tocam mais. As aparelhagens ajudam muito na divulgação, a partir do momento que toca, a música já vira sucesso sem precisar de nenhum tipo de comercial, gravadora ou algo do tipo” explica Gaby Amarantos, conhecida como a Beyoncé do Pará. Raimundo banguela Em 1994, chegou às mãos de Carlos Miranda uma fita demo com músicas cheias de palavrões e temas pesados. Sobre o instrumental que ficava entre o punk e o forró+9, um vocalista com sotaque incompreensível cantava letras que falavam de putaria e drogas. O que parecia ser a receita perfeita para o fracasso agradou o produtor. Ali, estava dado o empurrão necessário para que o Brasil visse surgir seu primeiro disco de ouro independente. A banda acabou entrando em contato com o produtor e conseguiu o seu primeiro contrato. “Por insistência do Fred, nós já tínhamos tocado no Junta Tribo e acabamos entrando em contato com o Miranda, para vir a São Paulo definir o que mais tarde seria a Banguela Records”, conta Digão, guitarrista da banda desde 1987. Banda e selo (e toda a cena alternativa que se escondia em garagens e casas noturnas) já eram afetados pelo estouro do Nirvana. Tudo isso gerou um furacão na cabeça de Miranda: “As gravadoras cobravam 350 mil para fazer um disco. Eu cheguei para a Warner e falei: ‘Com esse dinheiro que vocês gastam em um disco, eu faço cinco!’” Em 1992, o Skank havia lançado o primeiro CD independente gravado no Brasil+10. Estavam abertas as portas. Em meados de 1994, foram os Raimundos a primeira banda a começar a gravação de um disco através

[+6]

[+7] Os comandantes das aparelhagens. [+8] Feitas em programas como Fruity Loops e Reason. [+9] Grande parte das primeiras músicas do Raimundos sao regravaçoes do cantor de forró Zenilton [+10] Seu álbum homônimo, posteriormente remixado e lançado pela Sony Music. [+11] A parceria surgiu após uma reportagem de Miranda com a banda, na época do lançamento de Titanomaquia. Depois de Raimundos, vieram Mundo Livre S/A, Little Quail and the Mad Birds, Graforréia Xilarmônica e Maskavo Roots [+12] As gravações ocorriam no estúdio Bebop, em Sao Paulo [+13] Reza a lenda que a música, completamente brega-irônica, era uma piada da banda, e que Rodolfo gravou toda a letra morrendo de vergonha.


Reprodução

Divulgação / Guidable

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Arquivo Carlos Gerbase

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Paulo Marchetti

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Elza Cohen

Paulo Marchetti CC / Henrik Moltke

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CC / Henrik Moltke

Arquivo Luiz Calanca

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da Banguela, mantido por Miranda em conjunto com os Titãs+11. Segundo Digão,“a estrutura era bem modesta, mas o material humano era o melhor possível”+12. Menos de um ano depois, encabeçado pelo sucesso de “Selim”+13 – música que nunca havia sido pensada como single –, o álbum homônimo dos Raimundos chegava à impressionante marca de 100 mil discos vendidos. Era o primeiro trabalho independente a alcançar o Disco de Ouro no Brasil.

[+14] Que levou ao grande público bandas como Planet Hemp, Raimundos, Gabriel o Pensador, Skank, Pato Fu. [+15] Que mostrou, através do Abril Pro Rock, Planet Hemp, Mundo Livre S/A, Chico Science & Nação Zumbi e Los Hermanos para o Brasil [+16] Essa espécie de adoção trouxe, mais tarde, orgulho. Paulo André diz que “foi muito legal ver as bandas surgirem, crescerem e serem lançadas pro grande público”. [+17] Outros veículos foram muito importantes, além de programas de rádio como o Alto Falante e, é claro, a MTV. Talvez os veículos mair importantes, os zines ganharam matéria completa na NOIZE #31.

A nova Era dos Festivais Idealizados por uma nata de produtores, empresários e agitadores culturais rápidos no gatilho, os festivais do início dos anos 90 eram a principal – e, por vezes, única – forma que se tinha de conhecer novas bandas boas. Elza Cohen, organizadora do festival SuperDemo+14, lembra que “a imprensa não dava espaço para desconhecidos sem discos e as casas de show tinham medo de arriscar”. A gravação era cara e difícil, os veículos de grande circulação não se interessavam e a internet não existia: tudo acontecia na base da insistência. “Os contatos eram feitos através de cartas, o Correios era o grande conector entre bandas, zines, imprensa e produtores”, lembra Paulo André, do Abril Pro Rock+15. Em festivais como o Junta Tribo, o SuperDemo e o próprio APR, bandas tinham a chance de sair de casas com 50, 100 espectadores e tocar para milhares de pessoas a fim de ouvir música nova. Era o paraíso. E, quando os organizadores sacaram que tudo que estava acontecendo de bom era independente, a fome e a vontade de comer se juntaram. Em época de vacas magras, a lei era a ajuda mútua, a parceria banda-festivais-selos. Era a famosa “brodagem”. Elza conta que as bandas pagavam passagem do próprio bolso: “Eu cansei de hospedar bandas na minha casa, pra ajudar a divulgar o som no Rio de Janeiro”+16. Ao que parece, a importância dos festivais volta à tona por novos motivos: hoje, o produtor do APR considera os festivais “a principal plataforma de promoção de novos artistas no Brasil, graças à decadência das gravadoras e à ineficiência de 90% das rádios públicas brasileiras”. Conversa parecida com a que rolava vinte anos atrás, não?

Imprensa Antes do surgimento da internet, a navegação pelo mundo da música era precária, física, lenta e dependente. Os fanzines faziam o papel dos blogs de hoje, trabalhando com os nichos que não eram cobertos pela mídia e facilitavam o contato direto entre o público e as bandas. Já a grande mídia, preferia cobrir os figurões do momento, salve algumas rádios e seletas colunas de jornais espalhadas pelo país que estavam ligados nas bandas novas/independentes. Esses jornalistas faziam a ponte com as gravadoras em um tempo em que elas estavam mais preocupadas em lucrar com o popularesco. A revista Bizz, surgida em 1985 e a revista de música de maior abrangência no Brasil, seguiu essa linha: “A gente tinha uma avaliação de que a música brasileira estava muito chata, que Titãs, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana já tinham virado dinossauros em cinco anos e queríamos abrir espaço para os novos. Foi uma política bem deliberada de algumas outras pessoas na imprensa que tinham alguma articulação. Tinha lá na Bahia o Hagamenon Brito, Tom Leão e Carlos Albuquerque no Rio Fanzine, do Rio de Janeiro, em Minas Gerais tinha Lígia Couto Duarte, Abonico Smith de Curitiba – uns caras espalhados preocupados em falar dos novos”, conta o editor da revista no começo dos anos 90, André Forastieri.+17 Goiânia Rock City Antes de Leo Bigode e Márcio Jr. realizarem o primeiro Goiânia Noise, a cena de rock de Goiânia existia, mas a ideia de subsistência, de autogestão e de circulação para além dos limites da cidade era pouco difundida e chegava mais por relatos em fanzines. A fundação do festival, em 1994, deu início a um processo de maturação que se estende até hoje. Em 1998, intensificou-se com a fundação da Monstro Discos, por Bigode, Márcio, o jornalista Leo Razuk e Fabrício Nobre, criador do festival Bananada, membro da MQN e fundador da ABRAFIN (Associação Brasileira de Festivais Independente). “A gente acreditava que a banda tinha que ter autonomia sobre o que ia fazer, onde ia gravar, se queria


Arquivo Cogumelo

Divulgação

Elza Cohen

Arquivo Rodrigo Lariú

Divulgação

Paulo Marchetti

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fazer a capa do seu disco – uma série de conceitos que a gente nem sabia que eram conceitos”, explica Bigode. Uma década e meia depois, Goiânia é sabidamente a grande cidade do rock pesado – vide a própria MQN e o Black Drawing Chalks. “A cena passa por dificuldades como todo resto do Brasil, mas vejo ela mais consolidada, com público fiel, mais de uma centena de bandas em uma cidade com 500 mil habitantes, outros selos, outros festivais. O Noise e a Monstro foram catalisadores disso”, analisa Bigode.Acabaram por servir como exemplo para um movimento de descentralização da produção e divulgação musical, que ecoaria do Mato Grosso ao Amapá.+18

[+18] O Fora do Eixo, circuito de coletivos de música que trabalham nas mais variadas instâncias da cultura independente. [+19] Baseada na empresa de mesmo nome, que a mãe de Bôscoli, Elis Regina, montara para cuidar da sua carreira. [+20] A ABMI trabalha por 10 objetivos bem definidos, incluindo a revisão do sistema de distribuição autoral que, como explica Schmidt, “remunera os grandes com o dinheiro dos pequenos que ficam abaixo do radar […] Totalmente anacrônico em nossa era de independentes, nichos e tecnologia digital”.

A trama da Trama O CSS foi a primeira banda contratada pelo TramaVirtual, em uma época – 2005 – que jamais se poderia imaginar “comercial” ou “vendável” aquela música tão diferente do que rolava nas FMs do Brasil. A invasão europeia do CSS, um dos fatos mais representativos da década passada, confirmou o tato do TramaVirtual, e consequentemente, de sua mãe, a Trama para a música nova e os novos tempos da música. O lançamento dos primeiros mp3 players, em 1997, já palpitava mudanças drásticas no mercado. João Marcello Bôscoli e os irmãos André e Claudio Szajman acreditaram na ideia de criar um negócio de música inovador.A Trama surgiu+19 de pontos de vista libertadores e de pesquisas que entregavam: a barca furada das majors iria afundar. Multidisciplinar, desde o início incluiu em suas atividades um selo, uma gravadora e um estúdio, que permitem a seu cast de artistas gravar com liberdades— artística, de criação, de tempo. Certamente serviram de exemplo para Deck Disc e Biscoito Fino, que somariam ao time de gravadoras independentes com produtos de ponta. No auge da pirataria online, a Trama nunca protegeu seus discos da cópia; em 2005, antes de o MySpace chegar ao Brasil, lançaram o TramaVirtual, passo inicial de um processo que busca solucionar o desequilíbrio entre projeção e remuneração, aflição da quase totalidade do cenário indie. Depois veio o Álbum Virtual, benéfico ao artista, que pode gravar e lançar seu disco com estrutura invejável, e ao público, que baixa músicas e arte dos lançamentos sem despender um tostão.

Mais recentemente, chegaram a Tv Trama e o Download Remunerado. Este passou a pagar artistas cadastrados no TramaVirtual pelos downloads de suas músicas. “Muda a vida do artista? Não, mas vários artistas, por exemplo, ensaiam com o dinheiro que ganham do TramaVirtual”, garante Bôscoli. O independente se constitui e regula “Hoje estamos num outro planeta”, afirma o produtor musical Pena Schmidt, um dos totens da labuta do independente por reconhecimento, direitos e leis mais coerentes. É um planeta diferente pelas mudanças tecnológicas, sim, mas também pela pesquisa, pelas ideias e pela organização que Pena empreendeu em prol da tal música independente brasileira. Uma década depois de fundar o Tinitus, ele se tornou presidente da Associação Brasileira da Música Independente, cujo estatuto definiu, com ampla aceitação, o termo “música independente”. O estatuto da ABMI+20 diz independente tudo que não está nas gravadoras multinacionais. Quer dizer, tão importante quanto não depender do “usa e joga fora” das majors é garantir que a música brasileira independente esteja nas mãos de brasileiros. “Nossa música tem prestigio e representa o novo país, sem necessariamente ser a música das grandes empresas da época da fonografia”, assegura Pena. Marcados pela mesma preocupação com o cenário nacional, os festivais independentes também viviam um momento ativo, mas careciam de organização semelhante. “A gente já circulava por uma cena, visitava os festivais um do outro. Lariú, que fazia o Evidente, o Paulo André, do Abril Pro Rock—que é catalisador dessa cena de Recife, Nação, Mundo Livre etc. —, e vários outros, a gente se conhecia e via que esbarrava em problemas comuns”, relembra Fabricio Nobre. Com Monstro Discos, Goiânia Noise e Bananada nas costas, Nobre acabou por fundar e se tornar presidente da ABRAFIN. Hoje a associação tem um calendário com 32 festivais, relação estreita com a rede de coletivos Fora do Eixo, consegue dar visibilidade ao circuito de festivais e dialogar com empresas e governos. Alguém duvida de que tudo isso seja apenas o começo?


Divulgação

Arquivo Luis Calanca

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Elza Cohen

Paulo Marchetti


_texto FERNANDO CORREA

_FOTOS RAFA ROCHA


PAULICEIA DESVAIRADA //049

A São Paulo dos artistas de dentro e de fora que a transformam num redemoinho a dar voltas em torno de si mesma. São Paulo do Brasil. São Paulo veloz, em que pessoas se chocam, se juntam, se multiplicam. Em São Paulo, as histórias são tantas que parecem uma só. Se não concentra a melhor música do País, São Paulo ao menos justifica a atenção que atrai: com música boa. É o centro do multiculturalismo na música. Ilustrações dos encontros, da promessa de oportunidade e do que São Paulo devolve para o Brasil, as quatro histórias que seguem acontecem na Pauliceia enquanto a Pauliceia acontece nelas. Capítulo 1: Guizado Garoto, Guizado deslizava de skate pelo asfalto de São Paulo com a cabeça povoada pelo peso de concreto do punk rock. Mas então houve o jazz, e ao trompete Guilherme Mendonça entregou seu fôlego, talento e vontade.Trocou tudo por Miles Davis e seus congêneres, e só abandonou esse retiro sonoro nos anos 2000, quando elaborou sua própria mistura e passou a assinar com seu trompete trabalhos de outros artistas talentosos como ele. A música instintiva de Punx+1, sua estreia de 2006, e do recente Calavera+2 (em que adicionou o mais primitivo dos instrumentos musicais, a voz) é, nas palavras dele, toda a vida paulistana a fervilhar, as pessoas, os encontros e a própria “energia que tinham certos pontos da cidade onde todo mundo se encontrava”. “Ficou muito essa convivência com a galera da Bela Vista, do Centro, pessoal da Vila Mariana, pessoal

que vinha bem de longe”, explica. Possuidor de talento (e instrumento) raro no pop alternativo, atraiu, com seu caldeirão sonoro e seu coração grande, a galera do Nordeste, e acabou se tornando colaborador cativo da turma. “Jorge du Peixe conheceu as coisas do Punx, meu primeiro disco. A gente começou a trocar mensagem. E aí ele me chamou para gravar e eu fiz essas colaborações com ele”, conta Guizado sobre seu encontro com o vocalista do Nação Zumbi. Colaboraram no projeto paralelo de du Peixe, Autônomo, e no Fome de Tudo, disco mais recente do Nação. Nessa época também conheceu Lucas Santtana, e tocou no primeiro disco do baiano, 3 Sessions in a Greenhouse. “Lucas me chamou e chamou Régis, que é de Fortaleza e mora aqui do lado. Conhecendo Régis, conheci um monte de gente com quem comecei a trabalhar: o Rian, que é baixista, e o Júnior Boca, guitarrista, os dois também de Fortaleza. Passei a ir muito na casa dos três. A gente chamava uma pizza, tomava cerveja, tocava violão, ficava resenhando”. Em tempos de atrocidades como “São Paulo para os Paulistas”, a música vive no contrafluxo, via em que sempre deu seus melhores frutos. E os frutos dessa mistura de norte e sul são, aos olhos e ouvidos de Guizado, o que de melhor tem acontecido para a música. “O pessoal de fora chegou com uma visão nova. São Paulo estava muito a coisa do ‘guigueiro’, o cara contratado que toca com todo mundo, qualquer tipo de som. E essa galera chega com uma vontade muito grande de colaborar e vem com uma bagagem musical

[+1]

[+2]


muito boa”, resume o que poderia ser uma defesa em juízo. “Não sou da ‘galera’ de Recife, nem do Ceará. É uma galera que está aqui, que se encontrou aqui e está fazendo um lance aqui.”

[+3]

Capítulo 2: Karina Buhr Karina Buhr gosta de rock desde os anos 90, em Recife. Ia aos shows do Eddie, que mais tarde viria a ser seu amigo e parceiro de palco, na época em que Ramones e Sex Pistols compunham o repertório.Vinte anos depois, acabou por lançar um disco com elementos roqueiros e gritos de liberdade. Em São Paulo, Eu Menti Pra Você+3 ganhou as ruas com fôlego, e resultou em um momento de agenda cheia, algo que, nas palavras da própria Karina, é típico da Pauliceia. “É tudo mais rápido que em Recife”, explica. Karina ficou mais livre para ser baiana e recifense, e fazer arte para reverter a pasteurização que

ameaça toda a cultura cerceada pela tradição. Em Pernambuco, já tentava romper o cerceamento com seu grupo Comadre Fulozinha, cujas referências “regionais” (aspas dela, porque “Toda música é regional, música de São Paulo é regional”) ganhavam frescor experimental. Mas não pense que São Paulo fez o som dela mais “roqueiro”: “Eu já tinha essas outras letras, uma coisa mais visceral, mais agressiva, e eu tinha essa ideia de fazer uma coisa mais pesada, mais rock ‘n’ roll”. Em 1998, o diretor Zé Celso Martinez esteve em um show do Comadre em Recife. Gostou do que viu e ouviu, convidou Karina para atuar em sua Oficina. Foi o gatilho para que ela partisse na segunda de muitas mudanças que ainda pretende vivenciar. A primeira fora aos 8 anos, da Bahia natal para Pernambuco. Em 2001, iniciaria uma série de idas e vindas para São Paulo, capital. “Eu vim em 2001, fiz [a peça] e voltei. Depois vim de novo e fiz a primeira parte de


Sertões e voltei. Em 2004 eu tive coragem de vir de vez, por causa do Teatro Oficina”. A atuação nas intensas peças de Zé Celso também não moldou a música de Eu Menti Pra Você (ainda que a compositora admita ter feito parte de “Avião Aeroporto” no meio do ato teatral). Mas forçou a mudança fundamental, se não para que tivesse uma carreira solo, para que pudesse tocá-la no ritmo certo. “Aqui, como tem um ritmo muito acelerado e muito mais gente, acaba que você entra nesse pique também, e começa a fazer… Por isso eu resolvi assumir ficar aqui. Lá eu estava esperando o Carnaval chegar, o Abril Pro Rock chegar, São João chegar.” Por isso é ao Oficina que ela credita o maior impacto no seu trabalho—e a pedra no caminho que a trouxe até o momento em que agora está, morando em uma das ladeiras de Perdizes, esperando o VMB chegar+4. Não foi São Paulo que mudou Karina, foi

só essa mania, que ela mesmo comenta+5, de o Brasil apontar holofotes para lá (ou cá). Capítulo 3: Pública “A primeira vez que a gente ensaiou em casa, com volume mesmo, foi com o Vanguart. A gente tocou e falou: ‘Bah, amanhã vão nos expulsar do bairro’”, conta Guri, sobre a recém chegada Pública testando a paciência dos moradores da Vila Madalena. “Só que aí, meses depois, a gente estava chegando de um programa na Trama, e veio uma senhora de uns 60, 70 anos, ‘Tudo bem? Vocês que tocam aí do lado?’. E a gente pensou, ‘Bah, fodeu, né’. ‘Sim, a gente toca’. ‘Adorei, vocês tocam muito bem’”. A surpresa pela senhora descolada quase ofusca outro fato citado por Guri: o programa na Trama. A Pública, de Porto Alegre, é mais uma banda a adentrar os estúdios da gravadora, em Pinheiros, e transmitir

[+4] Karina concorre na categoria “Revelação” em 2010, junto a Hori, Restart e Replace. [+5] Em seu blog: mtv. uol.com.br/karinabuhr/blog


noize.com.br

[+6] Amaro mora em Porto Alegre. [+7]

sua música pela Tv Trama. É mais uma banda a tocar nos arredores da Augusta, com tantas outras bandas de todo o canto do Brasil. Cansam de procurar no seu canto e vêm procurar no “centro”, como se fosse toda a música brasileira um redemoinho, e São Paulo, o ralo. Pelo menos para a Pública foi assim. “Chega uma hora lá [em Porto Alegre] que não tem mais de onde tu tirar experiência das coisas”, avalia Guilherme Almeida. Foi assim que no fim do ano passado a Pública botou dois discos, um prêmio revelação e algumas vidas embaixo do braço e percorreu os 1400 quilômetros que separam o boêmio bairro Bom Fim, em Porto Alegre, para ocupar a boêmia Vila Madalena, em São Paulo. Em meio às circunstâncias, a banda se reformulou e restaram Guri (guitarra), Pedro (guitarra e vocal), Guilherme (baixo) e Amaro (teclados) da formação de meses antes.“As coisas aqui não são fáceis”, assegura o vocalista.“A gente se preparou muito. De ‘pô, a gente vai

chegar lá, ninguém vai chegar arrebentando’”. Por outro lado, de repente, São Luiz e Belém são destinos possíveis. Com uma forte ligação à capital gaúcha impregnada feito imagens em seus álbuns, a Vila Madalena parece um hábitat ideal. Há uma casa de número 23 na esquina da rua dos caras, como em “Casa Abandonada”, de Como num filme sem um fim+7—disco que lhes deu o prêmio de Revelação no VMB 2009. “Casa”, agora, é este lugar tão hospitaleiro, cenário de uma rotina que se divide entre ensaios, gravações, cerveja, marcação de shows—uma realidade toda nova, em que eles criam o terceiro disco. “Sempre fico pensando em como ele pode se chamar. O segundo tem uma música do Amaro chamada ‘Canção do Exílio’. E talvez, se não tivesse essa música, o nome poderia ser Canção do Exílio. Mas…”, pausa Pedro. “Mas não é o exílio”, Guilherme socorre. “Mas não é o exílio”, conclui o vocalista, sorrindo.


DAMN LASER VAMPIRES

Capítulo 4: Sugar Kane Não foi na época em que os ingressos para os shows do Sugar Kane na capital paulista esgotavam uma semana antes dos eventos que eles resolveram se mudar para São Paulo. Foi três anos atrás, no setembro de 2007, quando a cena de hardcore perdera o prestígio—e emprestara todo seu potencial pop ao mainstream, nos trabalhos de bandas como NX Zero e Fresno. “Não é que as bandas undergound foram para o mainstream, o mainstream é que começou a administrar o underground”, analisa Alexandre Capilé, à frente do Sugar Kane desde o primeiro disco+8. Dos tempos em Curitiba, restam hoje Capilé e o baterista André Dea, que dividem uma casa espaçosa em Pompeia com dois amigos curitibanos que “vieram trabalhar com a banda mas acabaram tendo que partir para outra”. O Sugar Kane segue tentando administrar a si próprio—realidade que só ganhou força após a

mudança. A casa também funciona como escritório e QG da banda. Gravam pré-produções de disco, guardam equipamento, organizam o merchandise. “No começo a gente fez a casa ser patrocinada pela banda, mas com o tempo a casa virou o câncer da banda”, diverte-se Capilé.Viver de punk rock é mesmo uma desgraceira boa. “É total do it yourself. A gente já entrou em outros esquemas mas acabou vendo que o que a gente fazia antigamente, com uma visão um pouco mais profissional funciona às vezes até melhor do que estar agregado a uma produtora ou gravadora”, explica. Mas São Paulo não dá conta dos planos do Sugar Kane, que já tem material pronto para partir em uma jornada internacional+9 . Enquanto não deixam para trás o cenário, outrora confortável, em que hoje as bandas menores pagam o cachê das maiores, eles seguem por ali, na mesma rua em que moravam os Mutantes.

[+8] Once One Day, 2000

[+9] O EP Digital Native, disponível online, ganhará uma versão física ainda mais voltada para o exterior (será lançada no Japão). Em novembro, o Sugar Kane parte para uma turnê europeia e, em 2011, espera passar pela América do Norte.


FILIPE CATTO

M ANIFESTO P OPULAR BRASILEIRO


TULIPA


BRUNO MORAIS


ROMULO FRÓES


TIIÊ


Fotos_ Rafa Rocha Entrevistas_ Fernando Correa

M ANIFESTO P OPULAR BRASILEIRO “o rótulo mpb está em decadência, porque cada vez mais o som das pessoas é um híbrido que não inventaram o nome e

[+1] Bruno Morais [+2] Romulo Fróes [+3] Tiê [+4] Filipe Catto [+5] Tulipa

todo mundo está com preguiça de inventar+1”. “Essa geração ficou sem rótulo porque ela não quer que rotulem ela, ela quer exercer essa conquista, a liberdade que os Tropicalistas conquistaram+2”. “A maior característica dessa turma toda é a sinceridade. Parar de tentar inventar uma fórmula do sucesso. ‘Eu sou assim e alguém vai gostar de mim assim’. É o momento sincerão+3”. “A MPB abre uma opção absurda de cantar de um blues a um tango a um samba a um bolero a um choro. Possibilita estar em contato com vários ritmos e várias histórias. Hoje existem diversos Caetanos, diversos Gils, diversas Bethânias, diversas Claras. E cada um desses artistas pode encontrar o seu público+4”. “Não tem como acontecer a MPB como era antes porque não tem mais o Brasil inteiro olhando o mesmo canal de televisão+5”. “Mas eu duvido, se botar ‘Compacto’, do Curumin, na novela das 8, eu corto o pulso se não virar hit.+2”

[+] No NOIZE.com.br você confere, ao longo do mês, a íntegra das entrevistas que originaram o texto ao lado.


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vizupreza

_por lidy araújo lidyaraujo. c om. b r

ESCURINHO_

Chocolate_

20 (indi)anos_

Perder o chinelo no escuro é coisa do passado. A Havaianas acaba de lançar a coleção 4 Nite, que brilha no escuro, tipo aquelas estrelinhas de grudar no teto, saca? São quatro modelos das legítimas, que vão do 35 ao 46.

Sabe quando o que é bom fica ainda melhor? Esta é a função da Brigaderia, uma doceria paulistana que apresenta um menu com mais de 20 sabores de brigadeiro. Entre eles, os docinhos de Nutella com avelã e Ovomaltine.

Em 20 anos, Arthur Veríssimo viajou à Índia 17 vezes, e tudo o que ele viu e viveu está no livro Karma Pop. A publicação possui 138 páginas de fotos incríveis e textos, nos quais o autor mantém sua característica de jornalista gonzo.

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GLOBE NO BRASIL_

FLOWER POWER_

As estranhas_

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A primavera chega e os florais saem do armário. A estampa está superpresente nas coleções de verão e, se for micro, estilo liberty, mais trend ainda. Ela aparece não só em roupas, como em sapatos, bijoux, bolsas, mochilas...

Bizarrinhas, as bonecas-esculturas de Monica Piloni têm três pernas e só podem ser vistas de costas. São diversos modelos, que fazem parte da série Ilegais e incluem versões albinas, fantasmas e sombras.

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estampa

do mĂŞs Marca: Hurley

Onde Encontrar: hurley.com.br

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_ilustra VITI | flickr.com/desenhosdoviti

jammin’





_FOTO THANY SANCHES | flickr. c om/thanysanches

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reviews

_E aí, quer ver sua foto publicada nesta seção? Mande um email com uma foto em alta resolução (300dpi) que represente a sua visão da música para FOTO@NOIZE.COM.BR


PATO FU

DO AMOR

Música de Brinquedo

Do Amor

O que o Pato Fu entrega em Música De Brinquedo se assemelha mais a esses projetos paralelos de bandas, tão comuns hoje em dia, do que realmente a um álbum do grupo. Principalmente porque é um disco todo feito de regravações. Nenhuma escolha de canção, no entanto, é de fato surpreendente. O conceito do disco passa por gravá-lo apenas com instrumentos de brinquedo, mas a graça está mesmo na participação dos filhos dos integrantes, com seus divertidíssimos backing vocals. Apesar dos bons arranjos, o álbum se mostra mediano, especialmente pela escolha do repertório, muito conservadora. Pelo ótimo projeto gráfico de Andrea Costa Gomes, Música de Brinquedo até justifica sua existência física, mas bem poderia ser lançado apenas na Internet. Matheus Vinhal

Apesar de alguns tropeços, Do Amor não trai o nome. “Bonito” sai do clichê e torna-se algo que, na construção de cada refrão, investiga uma definição física da palavra. Assim, os latidos da primeira faixa funcionam como uma janela: “Vem me dar” é um pedido construído cheio de doçura e personalidade. É arriscado dizer, mas parece que Do Amor é uma apresentação clara de um pop brasileiro legítimo. Deboche e experimentalismo podem significar coragem, mas música, acima de tudo, exige harmonia. “I Picture Myself” e “Shop Chop” são exemplos claros de músicas que podem funcionar ao vivo, mas que não são compreensíveis no disco. Destoam das encantadoras “Chalé”, “Meu Corpo Ali” e “Lindo Lago do Amor”, preciosidades da música brasileira. Ana Malmaceda

HOLGER Sunga

Sunga é um serviço definitivo: mergulha em características da música brasileira para dar originalidade a um CD com cara de internacional – como nenhuma banda brasileira fazia de fato, mas bandas gringas como Friendly Fires já estavam cansadas de fazer. Em meio à batucada, os sintetizadores e linhas múltiplas de vocal surgem de forma genuína e imprevisível, com um equilíbrio que pode ser atribuído à produção do brooklyniano Paul Manson. “Transfinite”, “Let ‘em Shine Below”, “No Brakes” e “She Dances” evidenciam que se trata de um CD para dançar. Mas é no rock ‘n’ roll de “Toothhless Turtles”, na aura world music de “Beaver” e no romantismo de “Who Knows” que os corações podem ser fisgados de vez. É bem possível que quem conhecia a banda pelo clima folk e cru do EP The Green Valley também não se decepcione. Maria Joana Avellar

GULIVERS Em Boas Mãos

Indo contra o som moderninho que ocupa boa parte da linha de frente do hype atual, o Gulivers apostou em um som cheio de influências do rock gaúcho para sua estreia. A banda porto-alegrense recrutou o ex-RPM Ray-Z para produzir 12 faixas que deixarão orgulhosos os fãs do britpop de Oasis e Stone Roses e do indie rock nacional de bandas como Pública e a extinta Gram. As guitarras, ora sutis e bem arranjadas, ora urgentes, comandam a maioria das músicas e se encaixam perfeitamente com a versátil voz de Cristiano Bauce. Em Boas Mãos é daqueles discos que você começa a escutar e, quando percebe, o silêncio aparece e tudo o que resta é um sorriso quase que involuntário—e várias melodias e refrães que não sairão da sua cabeça por dias. Neto Rodrigues

VESPAS MANDARINAS Da Doo Ron Ron

Na bio da banda, lê-se que os integrantes se juntaram para “interpretar rocks simples e de refrão”. Às vezes, isso é o suficiente. Ainda mais quando tais integrantes fazem ou fizeram parte de bandas como Forgotten Boys e Ludov. Da Doo Ron Ron foi gravado no estúdio do guitarrista Chuck Hipolitho, que impôs seus riffs pegajosos nas faixas “Sem Nome” e “Impróprio”. Há também algo de cabaret rock na faixa que dá nome ao EP. Já “Pesadilla Blues” mostra que, mesmo se o momento pedir 5 minutos de guitarras cadenciadas e backing vocals bem trabalhados, o quarteto consegue entregar algo bem digno. Apesar da estreia só ter sete faixas, vale ficar de olho nas Vespas Mandarinas. Ou, como os próprios dizem, num feliz trocadilho, “beeware!”. Neto Rodrigues

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STOP PLAY MOON Stop Play Moon

Escute também: TELEVISÃO, JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS E ACÚSTICO MTV

Com seu disco de estreia, o Stop Play Moon cumpre o papel que propõe integralmente: faz música em que o único objetivo é desfrutar com leveza as possibilidades que uma pista de dança pode proporcionar. A vertente da banda é explícita da primeira à última faixa: faz parte do mesmo segmento de grupos como Metric e Copacabana Club. Bom pelo apelo certo, ruim pelos sintetizadores, letras e sonoridade já esperados. “Hey”, “Dance Floor” e “I wanna take it all” podem ilustrar musicalmente isso. Entretanto, apesar de uma certa falta de ambição aparente, a organização do disco é homogênea, impecável. Não é um disco inovador, mas é o que precisamos: um que dê pra escutar inteiro, no mesmo ritmo. Ana Malmaceda

DiscografiaBásica

BROLLIES & APPLES This is an Organized Orgy

Junte influências eletrônicas que vão de Le Tigre a New Order – passando por referências claras a novatos como MSTRKRFT e Justice –, guitarras marcadas, quase metal (presentes desde o tempo de Fredi “Chernobyl” Endres na Comunidade Nin-Jitsu) e barulhinhos de videogames 8-bits. Esse é o Brollies & Apples, banda dos casais Chernobyl + Carol Teixeira e Rodrigo Brandão + Bianca Jhordão (do Leela). O resultado final da união é This is an organized orgy, CD que sintetiza o que os quatro membros da banda representam: a filosofia de Carol Teixeira nas letras cheias de cultura pop, o electro-punk-tamborzão do DJ Chernobyl e o pop rock do Leela. O disco não surpreende, mas cumpre bem seu objetivo. Gustavo Foster

TITÃS

por Daniel Sanes

CABEÇA DINOSSAURO | Às vezes, o caminho do sucesso é inusitado. Se o autointitulado disco de estreia e seu sucessor, Televisão, não tiveram grande êxito, mesmo sendo pop até o talo, o terceiro álbum dos Titãs, Cabeça Dinossauro, chegou causando estrondo na cena rock brasileira dos anos 80. Com letras ácidas e um peso incomum para uma banda mainstream, o disco consagrou a chamada poesia concreta característica, principalmente, das letras de Arnaldo Antunes. O minimalismo de canções como “Polícia”, “Igreja”, “Cabeça Dinossauro”, “AAUU” e da censurada “Bichos Escrotos” mostrava o lado mais obscuro e punk da banda. Mesmo nas mais suaves, como “Homem Primata” e “Família”, o teor crítico é evidente. GO BACK | Ao resumir a discografia de uma banda em três álbuns, é até injusto incluir na

lista um registro ao vivo. Mas neste caso isso não é nenhuma heresia. Gravado no Festival de Montreux, em 1988, Go Back ajudou a popularizar músicas esquecidas dos primeiros discos dos Titãs. Novas versões de estúdio de duas canções do debut que até então haviam passado batido se tornaram obrigatórias no repertório titânico: “Marvin”, cantada por Nando Reis, e “Go Back”, com vocais de Sérgio Britto. Pode não parecer, mas a importância histórica deste disco rivaliza com as cifras milionárias do Acústico MTV, lançado em 1997, e que simbolizou o início de uma era pop (e extremamente comercial) para o grupo. Õ BLÉSQ BLOM | Neste álbum de nome estranho lançado em 1989, a banda paulista mostra que os acertos de um passado recente não eram mero acaso. Com um som semelhante ao de seu antecessor, Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas, Õ Blésq Blom traz os Titãs em grande forma, mas com um número maior de hits. Faixas como “O Pulso”, “Palavras”, “Miséria” e “32 dentes” estão entre as mais representativas do rock nacional. Com uma letra excepcional de Charles Gavin, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Belloto, “Flores” tornou-se o carro-chefe do disco. Além disso, seu videoclipe ganhou um prêmio inédito até então: o MTV Video Music Awards, concedido quando a emissora ainda não tinha sua filial brasileira.


NINA BECKER Azul e Vermelho

Sobre somar e multiplicar. É disso que tratam os dois discos – e não o disco duplo – que lançam Nina Becker em sua aventura solo. A cozinha criativa e as guitarras da “escola carioca” da Do Amor rendem arranjos memoráveis, que se somam à voz afinada, capaz de convencer o ouvinte de todo sentimento que ousa transmitir. A produção, que também une os talentos de Carlos Miranda, Maurício Tagliari e da própria Nina é que faz a multiplicação dessas adições. O resultado, nas palavras de Miranda, pode agradar “quem ama música profundamente” ou quem busca “espírito de aventura, um universo em expansão”. Há, no pop sofisticado Vermelho e no sutil Azul expansão suficiente para se redefinir estereótipos de vozes femininas – tarefa realizada com maestria por “De um amor em paz”. É Nina pura e noturna. A pergunta que fica, no entanto, parte de um engano admitido: faz de conta que Azul e Vermelho são discos de um álbum duplo. Não haveria, então, um mix de canções que resultasse ainda mais forte em um único disco? Fernando Corrêa

LEPTOSPIROSE Mula-Poney

Ao contrário do que se poderia imaginar a partir da produção de Rafael Ramos (Deck), Mula-Poney não vem com uma super-produção ou refrões marcantes, mas sim com uma sonoridade mais agressiva, deixando de lado as experimentações que marcaram Invernada (2006) e partindo de cabeça para a música punk/hc americana anos 80. Barulheira, peso, muita distorção e poucas faixas ultrapassando o limite do 1 minuto, é assim é Mula-Poney. Impossível terminar a resenha sem citar um dos nomes curiosos das músicas deste disco: “Resposta dadaísta à canção similar de um outro disco de rock desta banda”. Wladimyr Cruz

DJAVAN Ária

Interpretar Cartola, Tom e Vinícius, para quê? Djavan é um ótimo intérprete para as canções que escolhe, mas é difícil chegar perto ou acrescentar às versões clássicas de “Brigas Nunca Mais”, ou justificar registrar a já demasiadamente gravada “Fly me to the moon”. Por Ária ser gostoso de ouvir e não soar infame, pode-se dizer que consegue sair no lucro. Porque esse é o primeiro disco como intérprete de um compositor notório por ter dado sequência ao que aqueles três nomes ousaram construir: a tal música brasileira. Fernando Corrêa

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ta por vir .: Outubro_Inverness | Somewhere I Can Hear My Heart Beating Somewhere I Can Hear My Heart Beating é a aguardada sequência para o ótimo Forest Fortress, que deu ao Inverness o reconhecimento de um Animal Collective tupiniquim. O novo álbum vem mostrar mais que isso. “É mais real e mais adulto”, contou-nos o vocalista Lucas. “Estivemos mais conscientes durante a composição das músicas e muito mais trabalho foi empregado em cada uma delas”. Isso é ótimo.

confira Dance of Days Dance of Days ___Depois de inventar o emo nacional e assistir a sua transformação na geração colorida, o DOD lança o agressivo “álbum preto”. A dobradinha pesada de abertura (“Colheita Maldita” e o single “Esta é a hora de uma nova partida”) entrega: dê a eles mais uma chance.

MarcioTucunduva Antimoderno ___Marcio Tucunduva enche de citações à cultura popular brasileira músicas que têm muito a ver com as modernizações que ela sofre desde a década de 1960. A influência gritante de Raul Seixas têm origem genuína: foi com o vizinho Raulzito que ele, aos 13 anos, aprendeu a tocar violão.

Roberta Campos Varrendo a Lua ___A mineira Roberta Campos faz música para todo mundo ouvir. Abre o disco com “Varrendo a Lua”, faixa linda, com orquestra e poesia. Uma faixa – no mínimo – tem que virar trilha da novela das oito.

redescoberta LÔ BORGES

MEU FILME (1996)

Meu Filme é uma grata surpresa para aqueles que só conhecem os sucessos setentistas do repertório de Lô Borges. É seu único disco na década de 1990. Os violões e a percussão leve tomam conta dos arranjos, num resultado quase minimalista. Não deixa de ser uma retomada da sonoridade folk do disco do tênis, seu primeiro e cultuado vôo solo. Mas aqui, descansa a psicodelia juvenil e surge o amadurecimento. Composições como “A Cara do Sol e Sem Não” (com participação de Caetano Veloso) estão entre aquilo que o mineiro faz de melhor. Já “Pura Paisagem” renova a prolífica parceria com o irmão Márcio Borges, grande dançarino de palavras do Clube da Esquina. Pequena jóia de Lô. Leonardo Bomfim


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cinema UMA NOITE EM 67

Diretor_ Renato Terra e Ricardo Calil Lançamento_ 2010

A musa da temporada são os documentários musicais. Um piscar de olhos e surgem novos filmes do gênero, mais próximos da publicidade e do telejornalismo que do cinema: são os tais e aterrorizantes “produtos audiovisuais”. Mas as obras acabam se justificando, pois costumam retomar histórias bem guardadas, oferecer imagens “perdidas”. Mesmo quando se trata de uma bomba, não deixa de prestar um serviço importante à cultura brasileira. Dentro desse cenário, surpreende Uma Noite em 67 – focado na histórica edição do Festival da Record daquele ano, quando Gil e Caetano introduziram as primeiras tintas tropicalistas. Não é um filme inovador, muito pelo contrário. O êxito está na

humildade dos diretores Renato Terra e Ricardo Calil em reconhecer que o material deveria andar sozinho. Esse é o grande ponto: o filme respira.Tanto as imagens dos anos 60 quanto as entrevistas recentes. Outro aspecto importante é o respeito à musica, a real protagonista.Todos os números são apresentados na íntegra e conduzem a narrativa. Por fim, além de agradável – a duração é curta, as canções são primorosas e as entrevistas têm momentos divertidíssimos –, o filme cumpre a missão de revelar um momento de transição: mais que a “revolução” tropicalista, os últimos dias de ingenuidade da música brasileira. Leonardo Bomfim

VIAJO POR QUE PRECISO, VOLTO POR QUE TE AMO

Diretores_ Karim Aïnouz e Marcelo Gomes Elenco_ Irandhir Santos Lançamento_ 2010

A mistura de linguagem de documentário com ficção de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo torna-o um pouco inacessível aos desavisados ou aos interessados apenas no belo título. Mas é uma obra genial aos que se deixam imergir na história “simples” e introspectiva do filme. Misturando imagens em 16mm, 35mm, Super-8, câmera digital e máquina fotográfica, e mergulhando a fundo no “torrão seco” do sertão nordestino, a narrativa em primeira pessoa do personagem José Renato (Irandhir Santos) cativa conforme o espectador entra no ritmo e na luz do sol escaldante da região. Mesmo sem nunca aparecer em frente às câmeras, aos poucos é possível conhecer esse narrador/personagem pelos seus pensa-

mentos, divagações e sentimentos. A câmera funciona como a visão de José, um geólogo designado a viajar e estudar os efeitos da transposição de um rio.Aos poucos ele começa a perceber as mudanças que isso acarretará na vida das pessoas que conhece, entrevista e fala no filme.Todo este contexto é inundado pelo sofrimento em ter perdido a mulher, e a viagem serve tanto para descobertas profissionais quanto para as pessoais, em todos os sentidos. Ele acaba se desviando, indo para Juazeiro e Caruaru, e se envolve com mulheres da vida, que buscam apenas uma “vida-lazer”, definição de uma delas para “viver com um marido e um filho numa casa”. Bruno Felin


cinema

BREAKING BRAZILIAN BONES IN EUROPE TOUR

SEVENTH BRINGS RETURN - A TRIBUTE TO SYD BARRETT

Com Leptospirose e Merda não é fácil lidar. Mas apenas com os nomes, é claro.Tanto que na chegada à imigração de Portugal, a estilosa trupe disse que era apenas uma banda, no caso a com o nome menos “fecal” delas. De resto parece fácil. Esses caras foram à Europa fazer 27 shows em 27 dias, dormir em squats (prédios abandonados ocupados por punks) sujos e apreciar todos os perrengues alegres e imprevisíveis do rock independente no velho mundo. Isso dá direito a conhecer lugares impossíveis de conhecer como um turista comum, e esse filme mostra isso no conforto do lar. A chafurdagem punk do leste europeu, a realidade de uma banda naquelas condições e o confronto com o imprevisível: um acidente que os mandou pra casa. Bruno Felin

Bem intencionado e familiarizado com a psicodelia de Barrett, o Violeta de Outono prestou este tributo ao fundador do Pink Floyd dias após sua morte, em julho de 2006. As faixas registradas no Teatro do SESI abrangem a quase totalidade do encantador Piper At The Gates of Dawn, os singles de 67, a sofrida despedida de “Jugband Blues” e a instigante “No Good Trying”. No entanto, carecem (naturalmente) de encanto, sofrimento, instigação. Repleto de boas execuções, há apenas alguns detalhes que incomodam ouvidos mais fanáticos, como a bateria que às vezes dá ares oitentistas ao conjunto, a filmagem à la tv pública e a introdução de “Astronomy Dominé”, que pouco parece com a abertura do disco seminal do Floyd.Fernando Corrêa

(2009)

de Binho Miranda e Rogério Japonês (2010)

livros

DEVOTOS 20 ANOS de Hugo Montarroyos (2010)

Se no Recife o movimento Mangue foi ovacionado como a reinvenção genuína de uma cultura que mixou regionalismos com sonoridade mundial, o movimento punk na cidade é responsável por uma revolução muito maior. Devotos 20 Anos, lançado pela editora Aeroplano, reconta a história do movimento musical que transformou a realidade da cidade. Tudo costurado com o esmero da escrita fluente do jornalista Hugo Montarroyos. O livro é dividido em três partes que revelam os percursos da banda Devotos e de seus integrantes. Encabeçado por Heloísa Buarque de Hollanda e com orelha de Xico Sá, foi concebido de forma rápida e maestral. “Fui convidado para fazer o livro em curto espaço de tempo. Foram cerca de três meses”, conta Montarroyos que ouviu de Heloísa o melhor conselho para sua primeira empreitada literária: “Escreva como estivesse numa festa. Se divertindo muito”. Fernando Albuquerque

Redescoberta HITLER TERCEIRO MUNDO (1986) José Agrippino de Paula é uma figura que merece ser redescoberta. Suas obras literárias causaram alvoroço no cenário brasileiro dos anos 60; fundamentais, por exemplo, para dar corpo à Tropicália. Identificado com o Cinema Marginal, Hitler 3º Mundo é seu único longa-metragem. Difícil encontrar definições, a teia de sons e imagens oferece um resultado quase abstrato, numa espécie de fusão entre signos da Pop Art e happenings grotescos. Não é sua melhor criação, longe disso, mas aqui o característico caos agrippiniano ganha a forma mais radical. O lançamento em DVD é oportuno. Indispensável conhecer, nem que seja para estranhar. Leonardo Bomfim

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SHOWs

fotos: 1 | Mari Korman 2 | Camila Mazzini 3 | Hick Duarte

1

2

VOLANTES

MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJÚ

Porto Alegre, Verde Club, 13/08

São Paulo, Comitê Club, 28/08

Festa à fantasia, open bar. Um homem vestido de mulher me conta que dormiu no chão para ver o Placebo tocar. Foi quando descobriu os Volantes. Garante e repete (mais do que o bom senso recomenda): vale a pena. Depois me conta sobre os litros de silicone que injetou nos seios (na verdade jornais amassados). É no contexto caótico daquele lugar que o show começa, para o que seria a primeira despedida da banda de Porto Alegre. Eles, como vários outros, estão indo embora. A aeromoça que suspira olhando para o palco pode discordar, mas de certa forma fazem bem. Na tentativa de ligar o repertório ao figurino, “No Corredor, Ali”, “Meu Samba” e “Ok#54”, faixas de Sobre Gostar e Esperar, EP de estreia da banda, mostraram-se mais cabíveis do que o esperado no cenário cheio de cuidados: cabeça de leão, roupas brancas, detalhes néon. A única coisa que acabou por destoar do quadro foi um cover de Kraftwerk, que, apesar de ser influência da banda, talvez não seja muito compreensível. A menina fotologger cantando “Maçã” de olhos fechados e apertados, ao lado do menino que parece só ter aprendido as letras para se aproximar dela me dizem uma coisa: fãs. Eu não os via há um bom tempo. E os Volantes os têm. Cabível para uma sexta feira 13: eles são assustadoramente melhores ao vivo. E, ah, outra coisa: se alguém souber gravá-los, vai – se me permitem o clichê – vender como água. Ana Malmaceda

Abrindo com a música “Mergulha e Voa”, feita para o projeto Tamar, Móveis Coloniais de Acaju lotou o Comitê Club na noite de sábado, 28. Com toda a energia e entusiasmo costumeiros, André Gonzales e sua trupe não deixaram ninguém ficar parado. “O Tempo”, “Cão Guia”, “Bem Natural” e “Cheia de Manhã” do CD C_mpl_te, “Seria o Rolex?” e “Perca Peso” de Idem foram algumas músicas que passaram pelas mais de duas horas de show. Balões começam a surgir no meio do público colorindo mais ainda o momento. No ápice da noite, já nos primeiros acordes de “Copacabana”, André pede espaço na platéia e a famosa roda do Móveis se abre. Esdras e seu sax e Alexandre com seu trombone o acompanham no meio da pista. A interação do público com a banda é única. Tem muita troca de energia, é contagiante. Depois de colocar o povo para pular e dançar, emendam “Glory Box”, do Portishead dando um charme a mais à noite. Mais adiante chega o momento “Adoro Couve”. O projeto consiste em fazer covers de músicas de artistas dos mais variados estilos. Tudo começou em fevereiro , com “Do You Realize”, do Flaming Lips. Na noite de sábado, a escolhida foi “Everybody”, da boyband dos anos 90, Backstreet Boys. Com certeza meninas de 20 e poucos anos tiveram um momento de euforia. O coro denunciava o passado do público. A intro de “Hit the road jack” seguida de “Sem Palavras”, fechou mais um show cheio de energia e animação. Camila Mazzini


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3

FESTIVAL GOMA Uberlândia, 26, 27 e 28/08

O Festival reúne uma amostra do que melhor representa o cenário independente brasileiro em três dias de muita música. Dezenove bandas fizeram dessa terceira edição a melhor até agora. A galera se adiantou ao fim de semana e superou as expectativas de lotação na noite de Quinta, no Goma. Destaque para os mineiros da Dom Capaz, já conhecido do público que cantava junto as canções que casam o rock com o samba. A dupla de sertanejo bang-bang Waldi & Redson foi o ponto engraçado da noite. Nos primeiros acordes disparados pela dupla, a reação da platéia foi de riso generalizado. A entrevista deles depois do show traduz um pouco do que é o som. Pra eles, a música passaria por uma grande evolução se Tião Carreiro e Pardinho trocasse uma idéia com o Johnny Cash. Fechando a primeira noite, Laboratório Jack e sua parafernalha de instrumentos fizeram praticamente uma jam session no palco. Na segunda noite, já no Coliseu Hall, as expectativas giravam muito em torno do Dead Fish, que foi a última atração. Antes deles, destaque para o stoner do Hellbenders, que veio mostrar que não para de aparecer música em Goiânia. O Fusile, promessa da música independente, fez um dos shows mais correspondidos do dia. Eis que depois de 5 anos, um público insano viu o Dead Fish retornar à uberlândia. Mal começou a primeira música e o mosh tomou conta de toda a frente do palco. A partir daí a

massa de fãs hipnotizados não parou de cantar e pular do palco da maneira mais frenética que só o hardcore consegue fazer. É incrível a conexão que a banda tem com os fãs, que deram o sangue durante cada minuto das duas horas de show. O terceiro e último dia foi o da diversidade de estilos. Destaque para 4 bandas, que mostraram que o público do festival também é versátil. Quem ouvia o som do The Hells Kitchen Project nem pensava que só tinham 3 integrantes no palco. Apenas com baixo, bateria e voz, a banda faz volume e muito barulho ao vivo. Na semana em que foram convidados pra tocar no Festival Planeta Terra, o Holger veio na sequência. Além do rodízio de instrumentos que os caras fazem, dois deles ainda desceram do palco, tocaram e cantaram no meio da galera. Surpreenderam muita gente que tava ali e ainda não os conhecia. Ouvimos comentários como “Nossa, mas essas músicas são deles mesmo?”. Ainda vão dar muito o que falar. A próxima atração da festa foi a banda Porcas Borboletas, prata da casa, que fez um show emocionante. Mostrou o profissionalismo que a banda ganhou com esses anos de estrada. Já conhecidos do público, quem fechou o festival foi BNegão e Black Sonora. Misturando temas latinos com melodias em português e espanhol, e fazendo um groove swingado a Black Sonora fez bonito e casou com o hip hop do BNegão. Felipe Tavares e Luiz Fernando Motta


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SHOWs

fotos: 4 | Guilherme Gnomo 5 | Victor Sá

4

5

COPACABANA CLUB E MONACO BEACH

TRÍCEPS

Porto Alegre, Verde Club, 12/08

São Paulo, Comitê Club, 19/08

A melhor surpresa do quarto show do Copacabana Club na Capital gaúcha foi a banda de abertura, Monaco Beach, também curitibana. À primeira vista, eles pareciam demasiado jovens para possuírem tanto entrosamento e uma sonoridade tão madura. Logo percebi que o melhor nessa maturidade são as características adolescentes. O vocal forte, que remete à emoção e ao frescor jovial de bandas de hardcore, as linhas de baixo bem construídas, as guitarras marcantes (por vezes histéricas) e o teclado sem exageros também lembraram o que havia de melhor nos grupos que inventaram o indie rock do início do século. Os Copas pegaram um público já quente, e incineraram a casa de vez logo na primeira música, “Sex Sex Tonite”. As inéditas foram aprovadas, bem como o cabelo da front girl, que agora é loira — mas a voz e o sex appeal continuam os mesmos. Marmanjos e meninas dançaram e babaram na plateia, ao som de “Tropical Splash”, “It’s Us”, “Gimme Your Heart”, e de uma bossa nova classuda e vintage tocada para mostrar o quanto eles “aprovam a diversidade musical”. Eles se sentiram em casa, mas demonstraram ser uma banda ambiciosa e em constante crescimento, o que pode provocar algum tipo de tédio certas vezes. Provavelmente ninguém percebeu. Especialmente quando Cacá desceu do palco, entregou os microfones aos fãs e dançou “King of the Night” com o gargarejo, selando um momento apoteótico. No final à capela, se abraçaram e agradeceram o público, que se derreteu todo. Maria Joana Avellar

A força do Tríceps, banda nova na praça, consiste na soma de dois integrantes do Leela, Bianca Jhordão – se desdobrando entre batera, guitarra e vocais – e Rodrigo Brandão, na guitarra, mais o lendário Fausto Fawcett nos vocais. A parceria pode soar estranha, mas é bem antiga. Em 99, Fausto viu um show do embrião do Leela, os Polux, gostou do que viu, e assim começou a duradoura união. Diversas canções do Leela, como “1 Beijo Pede Bis” e “Amor Barato” são composições do trio. Mas agora o papo é diferente. No segundo show da carreira, os Tríceps mostraram um som distante do pop teen da antiga banda. Se arriscam mais, estão mais adultos. Os vocais falados de Fausto e as letras dão a tonalidade de crônicas absurdas às musicas. “Negrita Hot Stuff” exemplifica: “Exilado num apartamento na rua principal ele vai acariciando a cabeça de uma adolescente haitiana que escapou do terremoto salva por ele disfarçado de Cruz Vermelha...” Mostrando prazer em tocar, o trio não ligou para ausência de público e apresentou um set rápido e sóbrio. No repertório, diversas inéditas e um surpreendente cover de “Balada do Amor Inabalável”, do Skank, que ganhou uma cara mais madura e sombria. Outro destaque foi “Kátia Flávia”, clássico-mor de Fausto, que pareceu mais nervosa do que na versão famosa, de Fernanda Abreu. O caminho do Tríceps começa a ser traçado. Eles pretendem gravar CD, mas por enquanto apenas 3 canções podem ser conferidas no myspace. Victor Sá


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Qualquer coisa Divulgação

ALEXANDRE KUMPINSKI FALA... __AO TELEFONE| Falei

com ele. Eu não tenho, mas daí é compensar no outro. Mas se for gravar 6 horas é tranquilo. Mais, claro. De repente fica um pouco mais. É, tipo, eu não entendo de orçamento. Me disseram que por dinheiro não vale. Pelo menos a festa vão fazer. Aí fica justo, pelo menos. Eu tô meio que te adiantando. Um amanhã de noite e se tu quiser esperar pra ver algum outro. Terça ou quarta.Vamos fazer. Tinha outro assunto? Preciso de um dia. Eu acho que nesse lance vocês vão se foder. Falou com o Souto? Tudo acaba, não tem ga-

lho. Pelo menos já rola. Falei que ele era louco. Foi uma outra guria. Ah, que bom! É. Só que o Souto falou que ela roubou. É! Haha. Que ele nunca mais faz dessas. Eles que se entendam. Mas tem que tocar ou só falar? Beleza. Sei qual é. Não que eu me preocupe, mas disseram que tá mal. Misturam água e sal no fundo do poço e acham que tão sendo obscuros, saca? É, como se fosse. Francamente, o Walter. Não costumo andar no centro de noite, não sei. Quem? Ah…Quando diz que tem medo de cair, é medo de se atirar, eu acho. Parece que cobram uma porcentagem. Aham. Aquela história, tecnologia e liberdade. Ainda tão decidindo se são colegas ou não. Por isso que saiu meio que nem era. Fazer um pacotão. Na real dá certo. Sempre dá. Tipo o Inter. Então fechou. Saio mais cedo dessa vez. Não sei… achei mas tava todo molhado. Tanto faz. É só dar a arte aberta. Boa! Com sono é foda. Não te preocupa que tudo vai dar errado. Não, tô ligado. Na real preciso de 2 dias. Escolher que é difícil? Hehe. Com o pé nas costas, só se for. Não saquei, mas pode ser que sim. É difícil. E o AKG, que tal? Não. Não. 16/48. O último? Muito bom! Aquela tristeza bonita. Tava faltando. É… digitam demais e não sabem falar. Daqui a pouco esquecem de caminhar. Demora um minuto, tá dizendo aqui. Abacaxi ou qualquer outro. Espera um pouquinho, mensagem. Já era, promoção sei lá do quê. E agora essa de propaganda

invisível, tá ligado? Goela abaixo de qualquer jeito. Quarta, então. Tu acha que é problema? Mas ninguém nem vai se ligar. Taco, beleza. Mas faz muito tempo. O quê? Ah. É só cantar dentro, não precisa embocadura nem porra nenhuma. Isso. Eu amarro com um cordãozinho normalmente. Tá bem. Igual. Igual só que melhor, te ligou? Ah, nove volts deve durar bastante…depende do cabo. É bom se precaver, chegar lá umas 23h30. O Baltazar nos pega e qualquer coisa, vai uns de metrô. Mais ou menos. Lá deve tá mais frio. Mais por causa da gritaria mesmo. Eu fico fácil, é foda. Aham. Cuido. Mais ou menos. Sim. Sim. Foi. É. Era isso? Então tá, um abração. Falou.


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