Revista Noize #62 Junho | Julho | Agosto 2013

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Publisher Noize Comunicação

• MAKE SOME NOIZE @ RÁDIO IPANEMA FM – Quintafeira das 23h à 00h em ipanema.com.br ou sintonize no 94.9 do seu rádio (POA)

Direção de Criação Rafael Rocha

Apresentação Marília Feix

Editor Tomás Bello

• NOIZE COMUNICAÇÃO

• REVISTA NOIZE

Colunistas Lalai e Ola Renata Simões Dani Arrais Tony Aiex Gaía Passarelli Design Guilherme Borges André Chaves Fotografia Ana Krás Cacá V Rafael Rocha Roberta Sant’Anna Filipe Marques Eduardo Magalhães Diretor Comercial Pablo Rocha Publicidade São Paulo Letramídia publicidade@letramidia.com.br (11) 3062.5405 (11) 3853.0606 • NOIZE ONLINE www.noize.com.br Editor Paulo Finatto Jr. Redator Francieli Souza Junte-se a nós no Facebook facebook.com/revistanoize

Direção Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha Gerente de Projetos Leandro Pinheiro Editora-Chefe Lidy Araújo Planejamento Bruno Nerva Martim Fogaça Administrativo Pedro Pares Produção Patrícia Garcia Jurídico Zago e Martins Advogados • NOIZE FUZZ Coordenação Henrique Dias Patrick Souza Planejamento Jerônimo Azambuja Tamylin Trevisan Frances Danckwardt Dionísio Urbim Yago Roese Lucas Kafruni Redação Rafaela Bublitz Maurício Amaral Renata Krás Felipe Bergallo Roberta Dobrowoski Isadora Gasparin Carlos Harres Leonardo Serafini

• COLABORADORES 1. Ariel Martini_ Ainda insiste em fazer fotos de show. 2. Eduardo Magalhães_ Fotógrafo do ihateflash.net/. 3. Lalai e Ola_ Lalai trabalha com mídias sociais, mas sua paixão é música. É DJ e produz a festa CREW. Ola trocou a Suécia pelo Brasil, o design pela música e fotografia. 4. Renata Simões_Renata Simões, 34, é jornalista. Já produziu documentários, apresentou os programas Urbano e Video Show e colabora com revistas e sites. 5. Fernando Schlaepfer_ Ex-Seagullsfly, ex-Café e ex-Globo. Atual C.E.O. e fotógrafo do I Hate Flash. Além de designer / ilustrador / DJ / produtor / ciclista / luchador / porrachegadebarra. ihateflash.net/schlaepfer 6. Tony Aiex_ É editor e fundador do TenhoMaisDiscosQueAmigos.com. 7. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento. Um dos editores de música do site nonada.com.br. 8. Filipe Marques_ Fotógrafo do ihateflash.net/. 9. Fernando Halal_ Jornalista malemolente, fotógrafo de técnica zero e cinéfilo dodói. Não morre sem ver um show do Neil Young. flickr.com/fernandohalal 10. Gaía Passarelli_ É jornalista musical e VJ da MTV Brasil, onde apresenta o programa MTV1. mtv.uol.com.br/programas/mtv1/gaia 11. Dani Arrais_ Jornalista, nasceu em Recife, mora em São Paulo há quase cinco anos. Começou o donttouchmymoleskine.com/ há quatro anos e de repente viu que falava de amor quase o tempo todo. 12. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema. Edita o freakiumemeio. wordpress.com. 13. Roberta Sant’Anna_ Fotógrafa de Porto Alegre. robertasantanna.com/ 14. Nícolas Gambin_ Jornalista freela. Aprecia tocar The Meters com amigos nas horas vagas. 15. Marília Pozzobom_ É jornalista e trabalha com redes sociais. Come xis frango com bacon e tem Lulu Santos no iPod. Faz bico numa plantação de beterraba e ainda procura o seu negão de tirar o chapéu. 16. Leandro Vignoli_ Jornalista, colorado, meio que vive como se estivesse entre as microfonias dos anos 90. 17. Cris Lisbôa_ Jornalista e escritora que utiliza sem parcimônia os polegares opositores e adora a palavra pirilampo.

• FOTO DE CAPA_ Mauricio Valladares

Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados.

• EXPEDIENTE #62// ANO 7 // jun/jul/ago ‘13_


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_foto: Roberta sant’anna

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NOME_ Sérgio Mallandro O QUE FAZ_ Humorista e apresentador de TV UMA MÚSICA_ “My Way”, cantada pelo Elvis Presley “Eu adoro música. Quando viajo, boto meu iPad pra tocar e vou com tudo o que é tipo de música, Rolling Stones, Bob Dylan, Roberto Carlos, Tim Maia... Eu escuto de tudo, dependendo da mulher que estiver do lado. Quando eu tô com uma gata maravilhosa, boto a música do Ghost. O eletrônico eu gosto de ouvir só 15 minutos, não gosto de ficar ‘pó pó pó pé pé pé pó pó pó pé pé pé’. Isso é música pra doido. Eu sou romântico. Mas qualquer momento é momento pra ouvir música.”


“Quantas bandas ainda estão fazendo música boa após 20 anos?” Thomas Bangalter, uma metade do Daft Punk


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“Sinto falta dos dias em que não era contratada, quando todo o poder era meu.” Azealia Banks_alfinetando a própria gravadora

“Eu não tenho tempo para pessoas velhas. Quero trabalhar com jovens.” Prince, que está no seu 55o ano de vida em 2013

“Noel e Damon Albarn mataram o britpop.” Liam Gallagher_ lembrando o abraço entre o irmão e o líder do Blur

“Os pais são relutantes para deixar seus filhos cantarem minhas músicas.” Nick Cave

“Ser casada com um Beatle é mais difícil do que se ser esposa de um político.” Yoko Ono

“Sou o pior tipo de celebridade porque só faço música.” Kanye West

“Ele teve uma grande carreira, pode muito virar treinador. Desde que não seja do Manchester City.” Noel Gallagher_sobre a aposentadoria de David Beckham

“Se uso Viagra? Não, eu uso Cialis. A juventude toda usa. É o meu aditivo, porque às vezes minha noite dura dois dias.” Erasmo Carlos_abrindo o jogo sobre sexo aos 70

“Eu quero que as pessoas possam ir a um show dos Stones sem deixar seus filhos passar fome.” Keith Richards_comentando os altos valores dos ingressos


__time is on our side | Em algum mo-

mento da vida você, eu e a torcida do Flamengo já pensou em ter um banda. Sex, booze & rock ‘n’ roll, sabe qual é? Poucos levam a ideia adiante, menos ainda fazem da música uma carreira. Há 30 anos compondo a trilha sonora de pais e filhos, os Paralamas do Sucesso são uma das maiores provas vivas de que o sonho pode virar realidade. Há três décadas, Herbert Vianna, João Barone e Bi Ribeiro têm na música a sua razão de ser. Mas como é crescer fazendo música? A música envelhece? Será que a idade pesa na hora do bom e velho rock ‘n’ roll? A resposta – se é que existe uma – está nas próximas páginas, nos beats e acordes de Phoenix, Ed Motta, Daft Punk e dos próprios Paralamas. Gente que, assim como os Stones, acredita que o tempo está ao seu lado. Have a good one, Tomás Bello. @eusoutomasbello


Quem virou fotógrafa para esta edição foi: Cacá V, vocalista do Copacabana Club. “Os cisnes simbolizam o amor e a fidelidade, por suas relações afetivas duradouras. Acho que o tempo sempre está do lado deles.”


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Cinco perguntas para GUILHERME ARANTES _ por Gaía Passarelli

Aos 60 anos, o hitmaker Guilherme Arantes está de disco novo, com participações de Kassin, Marcelo Jeneci, Tiê e Tulipa Ruiz. E ele diz para a nova música brasileira não perder as esperanças. Como é envelhecer fazendo música? O assunto envelhecer está em pauta porque existe uma massa de consumidores acima dos 50 anos que vai ocupar espaço privilegiado no mercado. É um pessoal que tem tempo, saúde, dinheiro, liberdade. É um mercado do futuro fantástico. Com a idade, fora a performance atlética, a pessoa só tem a ganhar. Na música você tem um acervo maior, uma visão mais terna do mundo, muda tudo que é reflexivo. Eu acho que hoje se enxerga de forma mais completa o envelhecer. É possível os artistas se tornarem mais criativos e ousados com o passar dos anos? Eu acho que a partir dos 12, 13 anos a sexualidade compromete a liberdade. E quando vence esse prazo a pessoa se libera. Eu sinto que isso me atrapalhou muito. Quando não temos esse papel somos livres, francos, criativos. Quem era você com 25 anos? Era muito inseguro por causa desse projeto de sedução. Poderia ter sido mais profundo, mais cedo. Veja o Cazuza, por exemplo, quando doente. O Renato Russo, que era uma

pessoa introspectiva. Essas pessoas são mais livres. Eu era um cara bonitão e dava muita atenção pra isso, era muito inseguro. Foi uma perda de tempo incrível. Qual é a mensagem que você pode passar hoje? Que nós estamos no limiar da explosão de uma barragem. Existe um movimento em curso dos alternativos, dos inconformados terem espaço. A música brasileira vive o momento de uma massa crítica armazenada, pronta pra arrebentar a barragem de concreto, se transformar em música efervescente. Será um momento bom porque eles estão prontos. Chegamos no fundo do poço. Você tem uma relação legal com o Marcelo Jeneci. Dá pra considerar que ele é uma espécie de pupilo? O Jeneci já é uma paixão, já passou do grau de pupilo pro grau de irmão. É um irmão novo que o mundo me deu. Eu sou fascinado pela profundidade do Jeneci. Ele não é uma brincadeira, tem uma essência. É muito comovente pra mim, porque é muito parecido comigo.


PRONTO PARA

AGUÇAR SUA PERCEPÇÃO? WWW.ESCOLAFLUXO.COM.BR


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Tokyo Savannah tokyosavannah.com/ Quem é: Chico Mitre, Joni Hurricane e Snoopy. De onde vem a música: O trio é paulista, já passou dos 30 anos e descarrega sua fúria na guitarra, baixo e bateria. Formado em 2009, lançou seu primeiro álbum dois anos mais tarde. As referências são claras: Black Sabbath, The Kinks e Ramones. Como ganhou a blogosfera: Apresentaram-se no Lollapalooza deste ano conquistando público e crítica com seu som pesado e gritarias no palco. Quem estava por perto não resistiu. Se descreve como: “Gente que tem o rock no lugar de Nossa Senhora e está feliz com isso. Amém.” O álbum de estreia: Lançado em 2011, o autointitulado debut tem arte belíssima assinada por Pedro Henrique Ferreira. “Cru, simples e original, é como qualquer banda de rock’n roll deveria ser (ou não)”, escreveu, à época, o site Eu Escuto!. É pra bater cabelo e abrir roda com os amigos.

Comece ouvindo: “Fantastic Business.” Se preferir começar por algo menos pesado escolha a música homônima, “Tokyo Savannah”. O que dizem por aí: “O rock perfeccionista feito pelo trio é tão bem construído que cada canção tem a aparência de um soco espontâneo na boca do ouvido, um nocaute certeiro em qualquer amante da boa música”, define André Felipe de Medeiros no site Música Pavê. Feito pra quem: Gosta de rock ‘n’ roll visceral, bem feito, com muitos riffs de guitarra, gritos e peso. Item essencial no guarda roupa: O estilo de vestir surpreende – o trio se apresenta engravatado, preferencialmente vestindo preto e vermelho. O que traz à tona um “clima tarantinesco”, como bem disse o site Monkey Buzz. Pra ouvir onde: É legal para ouvir em casa ou no carro, com o volume sempre no talo. Mas vai bem acompanhado de cerveja em algum inferninho.


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_Por Lalai e Ola Persson //021

London Grammar londongrammar.com Quem é: Hannah Reid, Dot Major e Dan Rothman. De onde vem a música: Formado em Londres, o trio se juntou ainda na universidade. O vocal de Hannah é poderoso, enquanto Dot e Dan são nerds da eletrônica computadorizada. Arquive junto a Zero 7, Tracey Thorn e The xx. Como ganhou a blogosfera: Com o single “Hey Now”, lançado ainda no ano passado, o trio gerou buzz alcançando 360.000 plays no Soundcloud em menos de um mês. Não demorou pra blogs começarem a comentar e eles caírem no gosto de Paul Lester, que rasgou elogios em sua coluna New Band of the Day, no The Guardian. Se descreve como: “A trio from London.” O álbum de estreia: Ele sai em 16 de junho, resultado de um 2012 quase todo em estúdio.“O disco promete ser uma das estreias mais intrigantes e comentadas do ano”, diz Jon Tanners, do site Pigeons And Planes. A prévia são as três canções que o trio lançou no EP Metal & Dust.

Comece ouvindo: “Hey Now”, track de guitarras leves, violinos, sensibilidade pop assombrada e teclas de piano de alma dolorida, que rendeu a Hannah comparações com Florence Welch e elevou o trio ao status de The Next Big Thing. O que dizem por aí: “Eles são o The xx que você pode levar pra casa para conhecer seus pais, sem que você fique com vergonha por murmurar ou forçar silêncios dolorosos durante o jantar por algo que alguém disse uma semana antes”, define Paul Lester, crítico do The Guardian. Feito pra quem: Mantém um ouvido no trip-hop, mas tem o outro antenado em nomes como Disclosure e SBTRKT. Item essencial no guarda roupa: Blaser preto e camisa. Hannah, Dot e Dan fazem o estilo “ingleses pós-colegial”: roupas sóbrias, modernas, mas sem chamar muito atenção. Definitivamente não são chegados em cores. Pra ouvir onde: Em momentos introspectivos.


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Renata Simões

_SAIBA MAIS Ferry Boat: eastriverferry.com

new york city Viajei a Nova York algumas vezes, em tempos diferentes.

Jonathan Inverno de 1995, verão de 1999, inverno de 2007, LeVine Gallery: primavera de 2012. Ao fazer esse guia percebi que jonathanlevinegalvários lugares estiveram no meu roteiro em mais de uma lery.com SummerStage: cityparksfoundation.org/summerstage

visita. Para mim, 24 horas na cidade significa ir e voltar no tempo. Manhã: Flea Market no Brooklyn

(aos domingos) Madison Square Garden: O bairro do Brooklyn conseguiu um milagre: fazer thegarden.com nova-iorquinos e turistas saírem da ilha de Manhat-

tan. Atualmente, é um dos lugares a se conhecer e a feirinha de antiguidades mostra bem isso – tem coisa incrível, tem coisa cara. Na sequência, estenda o passeio pelo bairro. A dica é voltar de ferry boat, que sai da frente da feirinha e termina em Manhattan no lado East. Desceu do Ferry, caminhe dobrando a ilha por baixo até o lado West. É um rolê que vale uma viagem no tempo: Estátua da Liberdade (passei por lá em 95, 99, 07, 12), Battery Park (99, 2007, 2012), suba pelo Soho ou pegue um metrô para chegar ao Chelsea.


_Por Renata Simões //023

Tarde: High Line e Chelsea Market Conheci as galerias do Chelsea em 2007, voltei em 2012 e não me arrependi. Um prédio de galerias de arte abertas para você explorar, abriga a Jonathan LeVine Gallery, primeira parceira da Choque Cultural a levar o street art nacional para os gringos. Mas não é só street art que você encontra por lá.Vá e descubra. Tarde/anoitecer: Central Park Fim de semana de verão não tem erro: é SummerStage, o palco montado no Central Park que traz shows incríveis. Em 99 vi BlackStarr. Em 2012, foi Rahzel, QuestLove em DJ Set e outros. O evento cresceu, ou seja, o astral continua o mesmo mas a fila é quilométrica. Noite: Meat Market e Madison Square Garden Meat Market é a área quente da cidade, lugar de bares, clubs, restaurantes. Uma coisa engraçada em NY é que alguns lugares mudam rapidamente – principalmente os restaurantes “da moda”, as festas em que você “tem que ir”. Aproveite que a validade dessa dica espira rápido. Grey Papaya’s – cachorro quente a 99 cents. Precisa mais? Fui em 2007 e 2012. Jogo do Knicks no Madison Square Garden (2007): sentei na última poltrona e mesmo assim foi super legal. Cheerleaders, cachorro quente, cerveja e basquete. O que mais é necessário para a felicidade?


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Fernando Schleapfer


Minha casa é como eu, tem um estilo livre. Cheio de facetas, cheio de coisas. Eu tô sempre inquieta em vários ambientes, tanto na música quanto na minha personalidade. É só ir ali na Lan House pra ver, um barracão cheio de coisa, cheio de assunto. A cozinha é o lugar em que eu mais fico, adoro cozinhar. Meu lugar no palco também é sempre na cozinha: bateria, percussão, baixo... Tudo se mistura, trabalho, lazer. O artista contemporâneo faz mil coisas. Aí o tempo de lazer é aquela uma hora em que desligo a Lan House, vou fazer uma comida, escuto música, que acaba também virando momento de criação. Porque daqui a pouco vem um amigo, a gente acaba tocando violão, faz uma base, uma batida que acaba virando música. Gosto muito do coletivo. E sou caseira demais. Já viajo pra caramba, então adoro ficar em casa. Tenho um quarto só pra os instrumentos maiores – você vê que na porta de casa tem um tambor que eu ganhei, que nem entrou porque não coube. É minha última aquisição. Tem um que já aproveita e fica meio decorativo, segurando a porta. Porque ele é muito pesado, e aqui venta muito. Eu tenho muito apreço, muito chamego com os meus instrumentos. Sou muito cuidadosa com eles. E tenho muitos, toco muitos. Só percussão e bateria você sabe que é um universo infinito, nem cabe tudo aqui dentro de casa. Só minha vizinha acha que não é casa de músico. Um dia ela veio trazer umas frutas aqui, uma coroinha que tem no prédio. Buzinou, eu abri, ela olhou: “Lan Lan, eu tinha uma outra impressão de sua casa”. Por saber que a gente é músico, jovem, tá viajando sempre, acha que a casa é uma zona, né? Ela chegou e ficou impressionada. “Nossa, como você é organizada, tudo arrumadinho.” Só quando chego de viagem que é aquela coisa, mala, instrumentos... Não tem como.

Divulgação

_Por Lan Lan, cantora, percussionista e compositora que tem novo álbum chegando às prateleiras, Mi

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Ariel Martini

Um novo país “Me and my friends we’re building a whole new place for us to live”, cantam os Garotas Suecas no verso que abre “New Country”. A música dá o tom a Feras Míticas, segundo e mais novo álbum da escaldante banda. Embalado pelo lançamento da bolacha, o baixista Fernando “Perdido” Freire dá a receita para um novo país.

Ingredientes: 200T de cultura 200T de liberdade Algumas colheres de chá, açúcar e mel pra deixar tudo bem doce (nós adoramos um doce!) 300.000T de amor Obs.: É preciso limpar bem a ganância, a corrupção e a ignorância antes do preparo.

Modo de preparo: Misture tudo do jeito que quiser. A ordem dos ingredientes não altera o resultado. Leve eles sempre junto de você e espalhe a receita pra todos que você conhece. Adicione respeito à gosto. Dica: Acrescente sazon, se quiser.



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1.

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo

2.

circo

“O filme fala muito dessa sensação estradeira. Sintetiza tudo o que eu estava antenada quando fiz o Caravana.”

“Eu gosto muito de circo, acho que tem a ver com o artista em estrada. Sou meio retrô, gosto de coisas velhas, e o circo só me traz boas memórias.”

3.

Velvet Underground

“Muitas músicas me influenciam, mas o Velvet eu tenho ouvido muito.”

4.

rosa

“Minha filha é minha influência número 1.”

1. Road-movie de ar poético, experimental, que tem o geólogo José Renato narrando suas impressões de uma viagem pelo sertão, enquanto avalia a possibilidade de transposição do rio São Francisco. A direção é de Marcelo Gomes (de Cinemas, Aspirinas e Urubus) e Karim Aïnouz (de Madame Satã). 2. Enquanto declara amor ao universo circense, Céu antecipa uma novidade:“Muito provavelmente vou gravar meu DVD em um circo”. 4. Filha de Céu com o músico e produtor Gui Amabis,


Maria do Céu Whitaker Poças é paulistana, mas seu mais recente álbum, Caravana Sereia Bloom, reverbera as esquinas mais distantes do Brasil. Céu já foi indicada ao Grammy, teve música em trilha sonora de novela e seus discos estampam prateleiras dos EUA, Europa e Japão.

5.

Krishnanda

6.

Lambada das Quebradas

“Foi um álbum muito importante pra construção do Caravana Sereia Bloom.”

“É um disco que eu gosto muito. Acho muito bonito.”

7.

Arroz, feijão e carne

“Bem brasileiro, farofa com banana.”

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CÉU

8.

“Where Are We Now?”

“Achei linda essa música nova do Bowie.”

Rosa Morena tem 4 anos. 5. Álbum místico e obscuro lançado em 1968 pelo percussionista Pedro Santos. Foi “redescoberto” em 2012, quando ganhou relançamento luxuoso em vinil.. 6. Lançado em 1978 pelo Mestre Vieira, o disco é um marco da Guitarrada, gênero popular na música do Pará. 8. Foi o single que antecipou The Next Day, 24o álbum de David Bowie – o primeiro do camaleão em 10 anos.


__TEXTO e ENTREVISTA Cris Lisb么a e Raquel Chamis

__FOTOS mauricio valladares


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Três Pilantras QUE DERAM CERTO [+1] A primeira banda de Rodrigo Amarante, aos 14 anos, era um cover dos Paralamas. [+2] “Compra um baixo e começa a tocar que aqui não tem nada pra fazer. Só ir à praia e tocar.” O conselho de Herbert para Bi Ribeiro, assim que o amigo chegou ao Rio (entrevista à Veja, de 1985). [+3] Quem conta sobre esses batuques em fundo de gaiola é o jornalista Jamari França. [+4] Ondina era avó de Bi Ribeiro. Quando a família decidiu vender o apartamento após a morte de Ondina, aos 95, no ano de 1999, os já famosos Paralamas fizeram lá um último show, com direito a discurso emocionado de Herbert pela janela. O show de despedida acabou antes das 22h, como era combinado nos tempos de ensaio sob os olhares da avó.

Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone não tinham muitos planos. Mas colocaram reggae no rock, lançaram alguns dos hits mais conhecidos da música brasileira e influenciaram os músicos que você escuta+1. Com a mesma formação há 30 anos, eles são os Paralamas do Sucesso. Usar óculos fundo de garrafa no Rio de Janeiro não é a melhor forma de fazer amigos – funcionou com Herbert Vianna. Ter como único projeto um show no Circo Voador é pouco para conquistar um país – funcionou com os Paralamas do Sucesso. Com um tanto de improviso, no fervor dos anos 80, Herbert, Bi e João ganharam a estrada. Tinham talento para tocar e se divertir, transformaram o rock em carreira, em uma road trip que já tem três décadas virando o Brasil do avesso. Vindos do planalto central, Bi e Herbert se reencontraram no Rio de Janeiro em 1977, entre idas e vindas pelos corredores das faculdades de zootecnia e arquitetura+2. A música andava por perto, por isso a dupla investiu num baixo comprado na Inglaterra e em

uma guitarra Gibson – pequenas regalias dos filhos de diplomata e militar. Procuravam o primeiro baterista para a banda quando encontraram Vital Dias, que, no início, nem equipamento tinha (batucava no que estivesse à mão, de balde velho a fundo de gaiola)+3. Vital não tinha a vida ganha quando apareceram os primeiros shows, apesar disso deixou os amigos a ver navios antes de uma apresentação na Universidade Rural do Rio. Quem foi o substituto? João Barone, o cara que assumiu as baquetas e se tornou o terceiro elemento da banda que nunca mais mudou. Os garotos finalmente subiram ao palco do Circo Voador em 1983, abrindo um show de Lulu Santos, resultado de um Rio 40o embalado por “Vital e Sua Moto” – naquele verão, a música rodou sem parar na Rádio Fluminense, mostrou que Vital tinha outro destino nos Paralamas: inspirar a letra do primeiro hit do grupo, um dos tantos ensaiados no apartamento de Vó Ondina, em Copacabana+4. Com o FM veio o circo, e junto deles um contrato com a EMI, que, no mesmo ano, lançou o álbum de estreia do trio: Cinema Mudo.


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De sucesso moderado, o disco vendeu 5 mil cópias à época, 90 mil até hoje, mas abriu caminho para O Passo de Lui, de clássicos como “Romance Ideal”, “Meu Erro” e “Óculos”+5. Canções que, em 1985, foram a maior surpresa para a organização do Rock in Rio. O convite para o festival veio de última hora, numa pressa tamanha que nem tempo de cuidar do cenário os músicos tiveram – acabaram usando um vaso de plantas roubado do camarim para decorar o palco. Resultado: foram ovacionados pelo público e viraram a grande revelação do evento que cruzou, de uma vez por todas, os Paralamas com os caminhos do Brasil. Em um 1984 com mais de 100 shows, cada cidade era uma nova inspiração. Quando eles se deram conta, estavam colecionando ritmos, misturando tudo que era preciso para um rock abrasileirado como poucos. De referências anglo-americanas a ritmos locais ou latinos, tudo foi para a mesma panela de pressão. Livres dos generais+6, Bi, João e Herbert começaram a conversar com gente de todos os lados, numa época que clamava por rock cantado em português. O som que eles faziam virou voz da geração que enfim podia falar. Virou 1986 e veio Selvagem, álbum de tom mais politizado que contava com a parceria de Gilberto Gil. Era o passaporte para o Festival de Montreux, na Suíça, e mais um degrau na subida dos Paralamas ao topo. O sucesso tinha vindo como um susto, e Bora-Bora e Big Bang seguiam confirmando a tese – defendida pelos próprios – de que eram “três pilantras que deram certo”+7. Os anos 90 consolidaram as parcerias com outros artistas, como Fito Paez em Os Grãos, Bryan May no disco Severino, Carlinhos Brown e Djavan em Vamo Batê Lata, Zizi Possi e Dado Villa-Lôbos no Acústico MTV. Uma caravana sem fim que fazia jus ao sobrenome da banda mesmo quando a crítica andava silenciosa. Os Paralamas do Sucesso, afinal, cantaram a trilha do primeiro beijo de quase todo mundo que passou dos 25. E, ainda que esse fosse um dado confiável, seria pouco perto do que eles conseguiram de fato: 12 álbuns gravados em estúdio – para não contar os registros ao vivo -, videoclipes que marcaram história e pencas de prêmios entre Grammy Latino e

troféus nacionais como o Video Music Brasil e o Prêmio Multishow. Quando o Brasil deu sinais de cansaço, os argentinos aclamaram o trio de braços abertos+8. (Lembra que o primeiro e único sonho da banda era tocar no Circo Voador? Pois é.) A verdadeira prova de fogo veio com o acidente de Herbert Vianna em 2001, quando o guitarrista perdeu no aeroplano os movimentos das pernas, parte da memória e a mulher que amava. A amizade dos três mostrou mais uma vez a que vinha: com carinho e música, refizeram a vida e cantaram com mais força ainda a partir do instante em que Herbert voltou aos palcos. Em 2002, lançaram Longo Caminho, em 2005, Hoje e, em 2009, Brasil Afora. Emocionaram o público com lembranças que fizeram dançar a dor. Provaram mais uma vez que, apesar dos dramas, eram, sim, pilantras pra lá de sortudos: mais do que nunca, estavam juntos. Fechamos neste bonde e tudo certo Vó Ondina era – de fato – gente fina+9. Liberava a casa em Copacabana para que Felipe de Nóbrega Ribeiro, o neto com nome de diplomata, juntasse os amigos para fazer um som. É que depois de uma viagem a Inglaterra em que o amigo Herbert o convenceu a comprar um baixo ele estava com essa mania de música. Até que um dia avisou que não chamava mais Felipe. Seu nome era Bi. E os caras da garagem eram os Paralamas do Sucesso+10. Em uma tarde de quase inverno no Rio de Janeiro – 25 graus e cariocas de casaco – ouvimos um pouco do que Bi Ribeiro, o baixista dos Paralamas, tem a dizer. Entre risos e divagações, uma espiadinha na parte de dentro de uma das bandas mais coerentes da história da música brasileira. Trintas anos de carreira, a mesma formação, vários grandes hits e uma história linear de sucesso. Era isso que vocês sonhavam lá no início? A gente é muito fácil de ser agradado, porque quando começamos o nosso objetivo era, dentro da nossa realidade, claro, tão impensável que se a gente conse-

[+5] “Óculos” falava sobre a dificuldade de ser notado no Rio de Janeiro. Apesar do sucesso da música, em 1985 a letra já fazia pouco sentido para Herbert: ele começava a namorar Paula Toller, formando com ela o casal 20 do pop-rock nacional. [+6] Em 15 de janeiro de 1985 o Colégio Eleitoral escolheu o deputado Tancredo Neves como novo presidente da República. Era o fim da ditadura de 21 anos imposta pelo governo militar no Brasil. [+7] Frase de João Barone logo antes de um show dos Paralamas em São Carlos/SP (entrevista concedida ao jornal Primeira Página). [+8] Em 1992, a banda lançou Paralamas, coletânea de versões em espanhol que explodiu entre os hermanos. Dos Margaritas foi a versão hispânica de Severino, Nove Luas virou Nueve Lunas, enquanto Hey Na Na ganhou edição com cinco faixas em espanhol. [+9] A música “Vovó Ondina É Gente Fina” foi feita, claro, em homenagem a ela. [+10] O primeiro nome pensado para a banda foi “Cadeirinhas da Vovó”. Bi Ribeiro então sugeriu “Paralamas do Sucesso”, todos acharam devidamente engraçado e foi.


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guisse aquilo tava bom. A gente queria era ter uma música no rádio e tocar no Circo Voador. E isso aconteceu nos primeiros seis meses de banda. Depois fomos pensando e fazendo e vivendo passo a passo, sem planos imensos. Agora vamos gravar um disco? Foi. Agora em um palco maior que o do Circo? Foi. Nunca pensamos “ah, daqui a 30 anos ainda vamos estar juntos”. Este pensamento, este plano, este sonho, isso nunca existiu. Foi devagar e sempre que conseguimos conquistar nossos sonhos.

[+11] O “4o paralama” é João Fera, que assumiu os teclados dos Paralamas em 1987 e acompanha a banda ainda hoje. [+12] O primeiro Rock In Rio aconteceu em 1985, no Rio de Janeiro. Tinha um palco de 5 mil metros quadrados de área e trouxe artistas que jamais haviam pisado na América do Sul, como Ozzy Osbourne, AC/DC e Queen. [+13] Entenda exatamente o que ele está falando http://bit.ly/FSoyQV

O normal é que as bandas se desmanchem com o passar do tempo, que pessoas sejam substituídas, que a formação original não permaneça. Com vocês aconteceu exatamente o contrário. Qual o segredo? Desculpe, mas não posso revelar (risos). Fomos vivendo e, quando a gente viu, tinham se passado 30 anos. A gente tem o mesmo empresário desde o começo da carreira, isso dá uma estabilidade, uma segurança. Quando você não tem uma pessoa confiável pra cuidar dessa parte você acaba sendo obrigado a pensar em outras coisas além da música, e isso atrapalha. Vejo amigos meus que trocam de cantor, de baterista, sempre com alguma incompatibilidade de personalidade. Nós soubemos domar o ego um do outro. Um vai cortando a asa do outro, com respeito, e aí vai. Tivemos sorte, somos amigos de verdade, somos nós quatro+11. Fechamos neste bonde e tudo certo.

“Nunca pensamos ‘ah, daqui a 30 anos ainda vamos estar juntos’. Este plano, este sonho, isso nunca existiu.”


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“A gente nem imaginou que ‘Meu Erro’ ia ser sucesso. O Lulu Santos dizia: ‘Essa música, se não tiver refrão, não vai dar certo. Vai ser o erro’ (risos).”


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A música envelhece? Não. Algumas são realmente muito datadas, muito daquele momento, mas, em geral, o som não envelhece porque sempre vai fazer sentido para alguém em algum momento. Sabe o que eu tenho ouvido agora? Música dos anos 20. Não música clássica, tô ouvindo os pianistas, a música popular da época. É bom pra caramba. Ouço nessas rádios da internet, deixo tocando. E tá novinho (risos). O que o tempo lapidou no Paralamas? Quando a gente começou era só ir fazendo, inconsequentemente. E agora, claro, a gente tem uma estrada, tem uma espécie de segurança, sabe? Mesmo assim, a gente faz um disco e não sabe o que vai acontecer. Mesmo quando a gente acha que tem um material, um conjunto de músicas, não quer dizer que vá funcionar. O processo sempre foi muito anárquico. Às vezes, chega um com uma música, outro com a letra, isso ainda é igual. São as inspirações que vão mudando, o que nos emociona que é diferente. Ninguém mais consome música como há vinte, dez anos atrás. O mundo já decretou a morte do CD, o vinil ressuscita, está aí a realidade dos downloads. Como vocês se relacionam com o hoje? A gente faz questão de lançar disco. Porque acreditamos que é o conjunto de músicas que diz alguma coisa. São aquelas músicas na sequência que contam um momento, o que a gente

aprendeu, descobriu. E este conjunto chama disco. Uma única música é só uma faceta. Este fascínio pelo LP é um sintoma de que o respeito ao disco vai voltar. As bandas novas querem lançar vinil, querem contar esta história. A gente não faz mais questão porque já lançamos muitos (risos). O que significou – na vida real – estar no meio da chamada “geração 80”? A ditadura era como uma represa em que estava todo mundo trancado, sem conseguir sair. Quando esta represa rebentou as pessoas queriam colocar pra fora, botar na rua, dizer o que tava guardado na garganta. Então, saímos de um momento em que nada acontecia e, do nada, tudo começou a acontecer. Em dois anos virou de cabeça pra baixo toda a cultura do país. E tinha muita coisa pra falar, muito som pra tocar, muita coisa pra escrever. Talvez tenha sido por isso que a gente tenha ficado tanto tempo falando pela música. O que significa fazer música nos anos 00, qual a grande diferença? Lá pelos anos 70, se a gente queria o novo disco do Led Zeppelin, demorava dois, quatros anos pra conseguir. Tinha que esperar o pai viajar, o tio querer trazer, alguma coisa assim. Hoje, em minutos, segundos você tem o que foi lançado ontem, o que foi lançado agora. Isso faz muita diferença. Lá em Brasília tinha tanta gente fazendo música por causa da informação. O punk chegou lá porque tinha muito estrangeiro que trazia revista, disco, tudo que era im-

O sucesso dos Paralamas “Paralamas faz parte da memória afetiva de toda minha geração. Foi o primeiro show que fui com amigos sem meus pais, aos 14 anos, no antigo Olympia, em São Paulo. Eu gritava a letra de ‘Meu Erro’ com tanta vontade que lembro até hoje. “Bastaria, ai meu Deus era tudo que eu queria, eu dizia seu nome não, me abandone jamais...’ Embalou minhas festinhas de adolescente, namoros, e depois, quando fui trabalhar na 89FM, eles estavam lançando o Acústico MTV, e aquela versão junto com a Gal pra ‘Lanterna dos Afogados’ era tão bela que até os roqueiros mais chatos queriam ouvir. Lembro que tinha um locutor meio dark que odiava a Tropicália, torcia o nariz pra Gal. Quando ele ouviu esta faixa do Acústico, ficou absolutamente mexido e tocou na rádio. A música ficou nas paradas por um bom tempo. A primeira vez que os entrevistei foi na rádio, quando tinha 18 anos, e eu morria de medo de confundir os nomes e chamar o Bi de Bi Barone e o João de João Ribeiro (risos). Eu amo estes três do fundo do meu coração.” Sarah Oliveira, apresentadora de TV


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O sucesso dos Paralamas “Quando eu aprendi a tocar violão, aos 9 anos, eles eram a banda que eu mais tocava e ouvia. Gostava muito do Nove Luas (álbum de 1996 que traz pérolas como “Loirinha Bombril” e “De Música Ligeira”), e até hoje acho que é um disco muito bom de ouvir, pelas composições e arranjos. Como tudo que a gente já ouviu muito, tenho certeza de que o Paralamas deixou resquícios e fez parte da minha formação musical. Ainda é uma referência de banda pra mim.” Alexandre Kumpinski, vocalista e guitarrista da Apanhador Só “A influência do Paralamas é muito forte. Não temos tanto a mesma relação com os ritmos jamaicanos e brasileiros que eles têm, pelo menos isso não se apresenta agora, mas existe uma influência na busca pelo estilo, rigor e pela forma nas composições. O Herbert Vianna é um mestre nesse sentido, além de exercer uma fortíssima influência como guitarrista e vocalista. Como guitarrista ele sempre explorou um espectro abrangente de timbres e uma fusão de estilos, e como vocalista deixou evidente que, mesmo não tendo a voz mais linda do rock brasileiro, ele se superava com punch, afinação na medida. Os álbuns Selvagem, Big Bang, Bora Bora, Severino e Hey Na Na são influências e primores do rock nacional.” Thadeu Meneghini, guitarrista e vocalista do Vespas Mandarinas

possível conseguir. Na nossa geração, a gente olhava muito pra fora porque não tinha referência aqui, pelo menos não exatamente do que a gente queria fazer. Claro que o rock brasileiro já existia. O Novos Baianos estava lá. Tanto que quando ouvi Espelho Cristalino, de 78, fiquei chapado. Pensei: “Eu quero fazer algo como isso”. O que estas bandas da geração 80 fizeram – e a gente tá nessa – foi sair mostrando que era legal tocar música brasileira, jovem, em português. Todo mundo tinha muito pra dizer. Misturar ritmos sempre esteve no DNA dos Paralamas ou isso começou em algum momento específico? Depois do Rock in Rio+12 a gente foi rodar o país. Começamos a ouvir outras coisas, a ter acesso – de novo, informação –, começamos a fazer umas analogias entre o que gente estava escutando e coisas muito distantes. Música africana era muito parecida com as guitarradas de Belém, que, de certa forma, parecia com o Olodum – que, na época, era só tambor e voz. Os ritmos do Nordeste tinham muito de reggae, essas associações. Coisas que hoje são banais, não eram. E trouxemos isso tudo pra nossa música com muito orgulho. Quando vocês sabem que tem um hit? Nunca (risos). A gente nem imaginou que “Meu Erro”, por exemplo, ia ser um sucesso. Na época, a gente queria que o Lulu Santos produzisse o disco. Acabou não rolando. Mas ele é nosso amigo, ia nas gravações dar palpite. E ele dizia: “Essa música, se não tiver refrão, não vai dar certo. Vai ser o erro” (risos). Ou seja,

o hit maker disse que não ia dar certo. E deu. “Alagados”, a gente confiava, mas já erramos várias vezes. Sabe aquele esquema de escolher música de trabalho? A gravadora queria uma, a gente achava que era outra que representava aquele disco, batia o pé e dava errado. Que bom que de vez em quando deu certo. Show dos Paralamas é certeza de encontrar um público que canta em voz alta quase todas as músicas. Ainda te emociona? Ainda. Ainda é muito bacana. Uma sensação de poder, de realização, de conquista. É um barato. Uma conversa. A gente manda daqui, a força vem de lá. Sabe que, modéstia à parte, isso sempre aconteceu. Nosso primeiro compacto tocou pra caramba na época, quando fomos no Rock In Rio quem estava lá nos conhecia mesmo a gente sendo a zebra, a banda desconhecida no meio dos grandes novos. “Óculos” tava tocando direto e aí, quando a gente tocou naquele palco, com todo mundo olhando, o público respondeu e foi uma coisa que a gente nunca imaginou, sabe?+13 A gente lá, naquele festival que era como se uma nave espacial tivesse baixado no Rio e de dentro saíssem todos os artistas que todo mundo queria ver, ouvir há, sei lá, dez anos. E a gente no palco, e o público cantando a nossa música. Era a gente, sabe? Era o Paralamas do Sucesso.


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P.S: Qual a sensação de ver os fãs envelhecendo com vocês, indo num show adolescente e em outro com o filho adolescente? “Isso é muito, muito bacana. Muita gente fala, ‘ah, o público de vocês se renova’. Na real, as pessoas continuam indo. Não é o pai que manda o filho. Ele leva, vai junto. Independentemente da pessoa gostar ou não, muita gente nos respeita, acha legal nossa retidão, nosso caminho muito claro, o que com muitas bandas não acontece. Você gosta e depois para de gostar. “ (por Dani Arrais)


__TEXTO Tomás Bello

Ao lançar Random Access Memories, o duo francês Daft Punk inscreveu seu nome nos trending topics dos anos 00. Mas antes que você diga que todo esse xalálá é mero hipsterismo localizado, fique sabendo que o quarto álbum de Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo é apenas o mais novo grande passo em uma história escrita em bold. Em duas décadas de beats aqui e acolá, entre discos aclamados e escanteados, a dupla sempre deu um jeito – por vontade própria ou não – de estar no topo do mundo. Quer ver?


Já no início da carreira, por volta de 1996, o Daft Punk acertava o alvo: Pedro Winter, o popular Busy P, foi o primeiro empresário do grupo. O mesmo Pedro que anos mais tarde fundou a Ed Banger Records, gravadora responsável por lançar a nata do electro francês: de Justice e Uffie a Mr Oizo e Breakbot.

Os Strokes ainda ensaiavam os primeiros acordes quando o Daft Punk dançou “Digital Love” ao lado da atriz-roqueira Juliette Lewis no comercial mais divertido que a GAP já produziu. Foi em 2001.

“O Daft Punk arrebentou a tampa da criatividade. O álbum dá vida nova a house music”, declarava o jornal nova-iorquino Village Voice ao ouvi Homework, o disco de estreia do duo lançado em janeiro de 1997. Pois a bolacha figurou nas paradas de 14 países, explodiu com os hits “Da Funk” e “Around the World” e vendeu mais de 2 milhões de cópias mundo afora.

O clipe de “Da Funk”, aliás, foi dirigido por ninguém menos que Spike Jonze – aham, esse mesmo, que já assinou vídeos para Sonic Youth, Björk e Beastie Boys e filmes como Quero ser John Malkovich e Onde Vivem os Monstros.

“Around the World” ganhou vídeo comandado por outro mestre: Michel Gondry, de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Chris Power, crítico da BBC, cravou a track como “um dos melhores singles da década”. O semanário NME não ficou atrás: colocou a música no top 20 da lista 150 Best Tracks of the Past 15 Years.

Muito antes de o vinil virar modismo, o Daft Punk estava lá: inicialmente, apenas 50 mil cópias de Homework foram prensadas em CD. Eles queriam mesmo era ver o bolachão nas prateleiras.

Também em 2001, quatro anos após a estreia, Thomas e Guy-Manuel finalmente lançam o aguardado segundo disco. Discovery se deu ainda melhor que o debut, somando cerca de 3 milhões de cópias vendidas, muito por conta de dois hits classudos: “One More Time” e “Harder, Better, Faster, Stronger”. E olha que Discovery era um álbum conceitual – chegou a servir de trilha sonora para a animação japonesa Interstella 5555.

Os hoje icônicos capacetes da dupla estrearam justamente naquele ano com o lançamento de Discovery. “Nós focamos na ilusão porque entregar como é feito tira imediatamente a emoção e inocência”, já declarou Bangalter a respeito.

As primeiras versões do álbum traziam um cartão de sócio do Daft Club, que dava acesso à um serviço de música online com tracks exclusivas. Não esqueça: era 2001.


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Novos quatro anos de silêncio e os caras aparecem com novidades. Se lançado hoje, Human After All seria acompanhado da hashtag #fail. Sim, porque em 2005, quando chegou às prateleiras, o terceiro disco do Daft Punk não passou do 98º lugar na Billboard. O que não impediu os franceses de manter o cool factor intacto: • Três meses após o lançamento da bolacha, lá estava o single “Technologic” embalando uma house party no então badalado seriado The O.C.

• Quando Thomas e Guy-Manuel pareciam estar fadados ao esquecimento, James Murphy fez o seu LCD Soundsystem emplacar o hit “Daft Punk is Playing at My House”. Apresentou o grupo a geração do Facebook e deu aos caras um banho de Brooklyn.

Foi em 21 de maio de 2006 que rolou a estreia do primeiro filme dirigido pelo duo, Daft Punk’s Electroma. Onde? No Festival de Cinema de Cannes. Nada mal.

• Em junho do mesmo ano, os comediantes do Flight of the Conchords se vestiram de robôs para o cultuado seriado da HBO. “Queríamos parecer o Daft Punk”, disseram à época. Tudo pra manter o povo too cool for school à frente da TV.

Seis anos depois de dominar as paradas, “Harder, Better, Faster, Stronger” volta ao topo do mundo quando sampleada por Kanye West no uber hit “Stronger” – Thomas e Guy-Manuel chegaram a fazer uma ponta no videoclipe.

• Apesar do insucesso de Human After All a dupla caiu na estrada e lançou o disco Alive 2007: ele levou nada menos que dois Grammy, de Melhor Álbum Dance/ Eletrônico e de Melhor Gravação Dance.

• Apelidada de “A Pirâmide”, a tour que deu vida ao álbum premiado ainda ajudou a mudar o rumo dos shows ao vivo.

Em 2007 uma nova dupla francesa toma o mundo de assalto com “D.A.N.C.E.”, single repleto de synths e um clipe carregado de inspiração pop art. Com ele, o Justice declara: o Daft Punk está mais presente do que nunca no imaginário electro.

• Na cola de “Stronger” cai na rede o “Daft Hands”, vídeo em que duas mãos mandam uma bela coreografia para o hit do Daft Punk. O clipe viraliza, arranca mais de 60 milhões de views e definitivamente tira o duo francês do gueto de rádios e blogs de música eletrônica.

• Foi ao lado de Kanye West e do hit “Stronger” que, em fevereiro de 2008, o Daft Punk se apresenta pela primeira vez ao vivo na televisão, durante a 50ª edição do Grammy Awards.


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Mesmo há quatro anos sem lançamento algum, o Daft Punk circula na trilha sonora do seriado Entourage, em 2009.

Lembra do tempo em que você passava dias e noites bancando “O” cara em frente aos Rock Band e Guitar Hero da vida? Pois quando saiu o DJ Hero, era Bangalter e de Homem-Christo os Avatares do game. A dupla chegou a criar remixes exclusivos para o jogo, incluindo mashups com Queen e Beastie Boys.

Com macacões de couro e os eternos capacetes, a dupla estrelou – ao lado de Snoop Dogg e David Beckham – um muito falado comercial da Adidas em junho de 2010. É que ele recriava a famosa “cena da cantina” de Star Wars. Foi com pompa e circunstância que, dois meses depois de dar um rolê com C-3PO na cantina, o Daft Punk foi induzido pelo então Primeiro Ministro francês Francois Mitterand a Ordre des Arts et des Lettres, que homenageia nomes ilustres da música, cinema e literatura.

Em dezembro de 2010, quando o aguardado remake de Tron chegou às telonas de todo o planeta, adivinha qual era o nome estampado nos créditos de trilha sonora? Se você disse Daft Punk, acertou. O filme faturou mais de 400 milhões de doletas, e o álbum, mesmo sem um single sequer, bateu no número 4 da Billboard.

Se você rebobinar a memória até 2011 vai lembrar que Drive foi uma das películas do ano, arrancando, inclusive, aplausos e prêmio em Cannes. Na trilha sonora, lá estava Guy-Manuel de Homem-Christo produzindo um dos hits do disco: “Nightcall”.

“Anything you want me to do, I’ll do. I’ll play tambourine on your next album”, disse Pharrell Williams depois que o Daft Punk produziu o hit “Hypnotize U” para o seu projeto N.E.R.D. Estava lá o embrião de “Get Lucky”, lançado três anos mais tarde.

O single, que carrega Random Access Memories nas costas, já soma mais de 50 milhões de views no canal oficial da dupla no YouTube. E deu origem a inúmeras versões em ritmo de samba, cumbia, jazz e folk. Joe Jeremiah não só levou “Get Lucky” ao mundo 8-bit de Master System e Nintendo, mas também outras faixas de Random Access Memories. A versão do “homem-banda” George Barnett passa da marca de quatro milhões de plays. Mais de 1,6 milhões de pessoas entraram no clima do banjo de Charles Butler, que transformou o hit electro em um country experimental. Na voz do francês Charles-Baptiste, “Get Lucky” virou “Sois Heureux”. O clima é voz e piano, entre o brega e o romântico dor de cotovelo. Em meio ao enorme sucesso da bolacha, Kanye West voltou a convocar o duo francês para um trabalho seu. Dessa vez, um dos artistas mais celebrados do novo milênio tem o Daft Punk em carne e osso, participando de quatro faixas de seu novo álbum, Yeezus. Uma delas é “Black Skinhead”.


NOIZE APRESENTA:

Clássicos são de um tempo em que não existia download. Para degustá-los, a gente tinha que ir até uma loja, ter a sorte do estoque não ter chegado ao fim, voltar para casa, apanhar para tirar o plástico, colocar no som que era do tamanho de uma televisão para, só então, dar o play e curtir o som enquanto desvendávamos o encarte. Bons tempos... E a saudade nos fez reler esse passado. Só que de uma maneira ...Lost. Para começar, vamos de Nevermind. Kurt Cobain ficaria chateado se escolhêssemos um outro álbum, e não queremos magoar o rei do grunge.

Lançamento: 24 de setembro de 1991 Gravado: Maio-Junho de 1991 Duração: 42:38 Gravadora: DGC Produção: Butch Vig

30 MILHÕES de cópias vendidas no ano do lançamento, 11,5 milhões apenas nos EUA

Kurt recusou um convite pessoal do Axl Rose para sair em turnê com Guns e Metallica “Eles não tem talento e fazem uma porcaria de música” Kurt se casou com Courtney cinco meses depois do lançamento. Até o traficante do casal foi, mas Krist Novoselic não compareceu pois não simpatizava com a noiva. #YokoOnofeelings

A MTV disse que não podia, mas mesmo assim Kurt tocou “Rape Me” no MTV Vídeo Music Awards quase tirando a transmissão do ar.

Uma banda que é expulsa da própria festa de lançamento de disco merece o selo ...LOST


PUBLIEDITORIAL


_TEXTO tomรกs bello


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Depois de conquistar as massas, o grupo dos irmãos Laurent e Christian Mazzalai quer mostrar ao mundo o verdadeiro significado da música. A essa altura do campeonato você já ouviu, baixou, copiou e colou o novo álbum do Phoenix. Já decidiu se gosta, se não gosta, se odeia ou adora e fez questão de compartilhar seu mais puro sentimento sobre ele com o mundo. Então, diz aí: foi bom pra você? Bankrupt! está entre os discos mais aguardados de 2013. Ficou dois anos em gestação, chega quatro após o estrondoso sucesso de Wolfgang Amadeus Phoenix – ou você já esqueceu de quantas vezes se esbaldou na pixxxta ao som de “1901” e “Lizstomania”? – e foi antecipado pela gravadora com a seguinte frase:“isso pode ser revolucionário”+1. Só que música não é bem assim. Não há fórmula mágica pra conquistar o ouvido alheio, não dá pra chegar para o garçom e “traz mais uma dose de hits aí, por favor!”. Porque o tempo passa. Para você, para nós e para esse quarteto parisiense que atende por Phoenix. Que, no fundo, é feito de quatro trintões que começaram uma banda nos anos 90, ainda adolescentes, e que agora tem como missão colocar a geração de Zuckerberg para rebolar novamente ao som de guitarras e

sintetizadores – e, se possível, elevar o seu estado de espírito no embalo. Mas será que com o tempo a gente não perde a mão? Encontrar o pote de ouro ao final do arco íris não é tão simples como diz a lenda. Boa news então que os franceses não estão a sua procura. O tempo passa, o tempo voa Em 1995, quando tinha uns 20 ou 21 anos, Laurent Brancowitz deixou a banda Darlin’. Os amigos Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo formaram um tal de Daft Punk, ele se juntou ao grupo do irmão mais novo, o também guitarrista Christian Mazzalai. Ainda sem nome na época, o grupo virou Phoenix dois anos mais tarde, quando criou um selo próprio para prensar 500 cópias do seu primeiro single ever+2. De lá pra cá são cinco álbuns, um Grammy, o topo da Billboard, músicas em blockbusters como O Amor É Cego e até mesmo um casamento digno de site de fofocas entre o

[+1] Quem profetizou foi Daniel Glass, o big boss da Glassnote Records. O cara soltou a frase assim que a banda revelou estar trabalhando no álbum, em janeiro de 2012. [+2] O single reundeu ao Phoenix contrato com o selo Source Records, de Paris. Foi quando eles viraram bróders de outro cultuado duo francesa, o Air – o Phoenix chegou a tocar como banda de apoio da dupla em diversos programas de TV.


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seu vocalista e uma cineasta famosa – leia-se Thomas Mars e Sofia Coppola (sim, ela mesmo, de Encontros e Desencontros e Maria Antonieta). Ou seja, o tempo passa, o tempo voa, e Brancowitz sabe disso. Beirando os 40, ele diz que a música só tem a ganhar. “Eu acredito muito em amadurecimento, aprimoramento, até mesmo técnico. Música é a combinação de dois aspectos: tem a emoção, o sentimento, a tentativa de alcançar um certo estado de espírito. Mas, como um relógio, música também é matemática. E eu acho que a gente tem melhorado dos dois lados. Quer dizer, é o que eu espero. Que estejamos criando músicas cada vez mais bonitas e que a gente esteja melhor nessa tentativa de alcançar esse estado de espírito.” Christian, o irmão-guitarrista, vai na carona. “Com esse novo disco a gente tentou um monte de coisas novas, coisas que aprendemos, resultado do nosso amadurecimento como músicos, coisas que só vêm com o tempo. Tomara que as pessoas percebam isso.”

momento de liberdade, em que a gente pode fazer coisas mesmo estando em uma cidade pequena, isolada, e as pessoas talvez ouçam sua música.Todo mundo tem acesso a tudo. E isso é uma coisa boa.” Apesar da trajetória à moda antiga – ou você lembra de outro grupo de trintões que passou de curiosidade a certeza após quatro discos e dez anos de carreira, em pleno novo milênio? –, a música do Phoenix é a tradução perfeita dos anos 00. Bankrupt!, quinta bolacha dos franceses, soa polida, com teclados por toda parte, sintetizadores assumindo cada vez mais o protagonismo. É o típico pop que desce redondo em nossas vidas hiperativas e smartphone-dependentes. O que, de uma certa maneira, coroa o anacronismo que é a banda. “Nós fazemos música fazendo uso de toda essa tecnologia, sem dúvida. Ao mesmo tempo, a gente foge de tudo, não vemos nada, nos isolamos. Esse contexto de mídias sociais, downloads, não muda nada pra nós em termos de composição. Mas tem o lado bom – hoje a gente pode ter acesso a ferra-

“Nós nunca pensamos em fazer música para as pessoas dançarem. Eu nem sou do tipo que curte ou sabe dançar.” Laurent Brancowitz

[+3] Programa de chat pioneiro na web. Foi criado em 1995 pelo jordaniano Khaled Mardam-Bey. [+4] “1901” chegou ao no 1 após 31 semanas na parada, sendo a mais longa viagem ao topo na história da Billboard. Já a estatueta veio na 52a edição do Grammy , em janeiro de 2010.

Mp3, downloads, Facebook: um mundo livre Ah, os anos 90.Talvez seja difícil de imaginar, mas a internet, por exemplo, não era wi-fi, 3G ou 4G: era discada. Bastava o telefone de casa tocar que a conexão se esvaía sem choro, bem na hora do chat com aquela gatinha (ou assim ela dizia) pelo mIRC+3.“Era um momento em que a indústria da música era muito poderosa”, lembra Laurent, dizendo preferir “os tempos modernos” ao contexto da época em que começaram.“Com uma indústria fonográfica forte, o que todo mundo tentava era duplicar o que foi sucesso seis meses antes. Poucos arriscavam, buscavam fazer o que não estava na moda, e isso não é legal. Hoje há mais poder para o artista, você não precisa de uma gravadora para lançar um álbum. Existe mais colaboração, trabalho em equipe, mais liberdade e participação. No passado a gente sentia algo estranho no ar.” “Esse também é um período estranho”, rebate o irmão.“A indústria fonográfica está em constante evolução, sempre foi assim. Pessoalmente, eu acho muito interessante. É um

mentas fantásticas, para o bem e para o mal”, opina Mazzalai. “A verdade é que as pessoas são mais inteligentes do que a indústria pensa que eles são”, emenda Laurent.“A mídia tenta agradar as pessoas sempre com a mesma coisa, mas as pessoas são mais espertas que isso.” Ser ou não ser, eis a questão Melhor álbum de música alternativa segundo o Grammy, mais de 700 mil cópias vendidas só nos EUA, single batendo o número 1 da Billboard+4. Foi Wolfgang Amadeus Phoenix o disco que finalmente deu ao quarteto completado por Thomas Mars e o baixista Deck d’Arcy o reconhecimento das massas. Porque até então, com três álbuns no currículo e mais de uma década de história, o Phoenix era o tipo de banda que aparecia regularmente em listas Best Of, mas que não ia muito além do vocabulário daquele colega meio esquisito. Não era exatamente um grupo obscuro, mas não dá pra dizer que merecia algo além de uma nota de rodapé+5.


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Divulgação Warner Music

Wolfgang Amadeus Phoenix mudou tudo isso. Deu a Christian, Laurent e cia. o status de headliner do Coachella, convite para programas de TV como Saturday Night Live, direito a aparição surpresa dos amigos Daft Punk em um Madison Square Garden lotado+6 e DJs ouvindo teenagers pedirem “Lizstomania” ou “1901” como quem pede “aquela da Katy Perry” na festa mais próxima de sua casa. Depois de anos peregrinando por clubs sujos e hoteis 0 estrelas, estariam eles vivendo a tão sonhada vida de rock stars? “Não, a gente não quer encarar a vida dessa maneira. É muito chato., diz Brancowitz.“Isso tudo mudou coisas ao nosso redor, mas não mudou a gente”, completa Christian, garantindo que eles são as mesmas pessoas que eram quando tinham 14 anos de idade.“Pra ser sincero, a gente tenta não prestar muita atenção a esse tipo de coisa.”

Em Nova York, enquanto aguardam o momento de embarcar na van em direção ao talk show da vez, os irmãos descansam no hotel ao invés de estarem saracoteando pelos tapetes vermelhos da cidade. São quase a antítese da celebridade roqueira. De fala mansa, Laurent discorre sobre sua bebida preferida ou a música que mudou sua vida como quem conversa com o amigo de infância+7.Tudo em um inglês carregado de um french accent que deixa a coisa naturalmente cheia de charme. Trying to be cool+8, como cantam eles na quarta faixa do novo álbum? Pra que? “É que a vida de rockstar é uma forma muito básica de não liberdade”, filosofa o guitarrista.“As pessoas de quem eu mais gosto conseguiram sim alcançar um tipo de liberdade, mas uma forma pura dela.”

[+5] Pra se ter uma ideia, o disco anterior, It’s Never Been Like That, havia vendido apenas 92 mil cópias nos EUA. [+6] Não viu? O Daft Punk se juntou ao Phoenix pra um medley de “Harder, Better, Faster, Stronger” e “Around the World”, que acabou virando uma versão electro do hit “1901”. Aqui http://migre.me/ fijZR e http://migre. me/filHK.


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[+7] Diz ele que, apesar de terem tomado muito champagne durante a gravação de Bankrupt! – “porque não havia nada além disso” –, a bebida favorita de todos eles é o saquê. A música que mudou sua vida? João Gilberto. “Meu pai era um fã incondicional de bossa nova.” [+8] Assista ao clipe da música em http:// migre.me/fhFS1. E veja o Phoenix tocando em meio a tochas, jogo de xadrez e garotas mostrando a calcinha. [+9] O processo de criação da bolacha começou quando o falecido Beastie Boy Adam Yauch convidou os franceses pra uma temporada em seu estúdio, o Oscilloscope Laboratories, em NY. Era final de 2010.

O segredo do sucesso “Se eu soubesse o que uma canção precisa ter para ser uma boa canção, nós provavelmente já teríamos uns trinta álbums.” A frase de Christian Mazzalai acena para aquele chavão que você já ouviu tantas e tantas vezes por aí: não existe segredo para o sucesso. O próprio guitarrista confessa que o modus operandi da banda é um só – se isolar do mundo e ver o que acontece. Foi assim que gravaram seus quatro primeiros álbuns e assim que criaram Bankrupt!, dessa vez se dividindo entre um estúdio nova-iorquino e outro em Paris+9. Apesar da tentação de cair “em time que tá ganhando não se mexe”, Mazzalai e o irmão fazem questão de dizer que fazer mais do mesmo nunca fez parte do manual da banda. “Você não controla o processo de criação, ele é muito extenso e misterioso, e é exatamente essa a beleza da coisa”, opina Christian. Ele diz que o seu grande sonho é que as pessoas se sintam meio desorientadas ao ouvir sua música.“Em todos os meus álbuns favoritos, foi isso que aconteceu comigo. Eu não entendi eles em um primeiro momento. Quer dizer, primeiro você não entende, mas aí você ouve de novo e de novo e então saca o que aquilo tudo significa.” “Nós nunca pensamos em fazer música para as pessoas dançarem ou algo do tipo. Eu nem sou do tipo que curte ou sabe dançar”, acrescenta Brancowitz.“Agora, quando a música é boa de verdade você não resiste, seu corpo não resiste. É uma emoção poderosa essa, ouvir uma canção que toca você de uma maneira a ponto de você quase transcender.” O

guitarrista lembra que, quando criança, o pai costumava ouvir música com muita frequência. Ouvia com atenção, cantava, sentia a música.“Dava vontade de chorar vendo aquilo. E é esse poder que a música tem que eu considero muito profundo.” O irmão pega o embalo.“Sabe a primeira vez em que você come algo que nunca experimentou? Você tem uma sensação boa e estranha ao mesmo tempo. Eu sempre me sinto como se fosse de novo uma criança. É tudo emoção, algo que te leva pra longe de onde você está no momento.” Em 2010, quando a banda fez sua primeira e até hoje única apresentação no Brasil, a impressão geral foi mesmo essa. O Phoenix era o headliner de um festival em São Paulo, 25 mil pessoas se aglomeravam em frente ao palco, a euforia em torno dos franceses batia o nível máximo. Eles, por outro lado, mantinham o tom moderado, pareciam tocar ao ritmo da fala mansa de seu guitarrista – o show teve clima lo-fi, luz baixa, sem telões de LED ou as pirotecnias tão comuns a contemporâneos como Muse ou The Killers. “Não gostaríamos de ser comparados ao The Killers, fico feliz que não passamos essa impressão ”, sorri Brancowitz.“Eles respondem pelo entretenimento, enquanto a gente não quer apenas entreter as pessoas, queremos que elas vivam uma experiência. E não apenas musical, mas que se sintam em um estado de espírito especial. É isso que tentamos fazer.”


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P.S: Laurent, como você encara entrevistas? É sempre muito divertido, principalmente quando as pessoas são de países distantes e tem o desejo de falar com a gente. Mas tem o outro lado. Sabe quando você está jantando com pessoas que não conhece, e elas só falam delas o tempo todo? Às vezes eu me sinto um pouco assim (risos). E isso é muito chato, quase insuportável. É a única coisa triste em entrevistas. Porque você é o único que fala. parece que é uma dessas pessoas, mas é que você não tem a chance de ter uma conversa de verdade. (por Dani Arrais)


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_FOTOS Rafa rocha 052\\


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Ed Motta tem disco novo na praça. AOR, como o título já escancara, tem sua origem no chamado Album-Oriented Rock, gênero meio breguinha, sinônimo de Christopher Cross, Doobie Brothers ou Steely Dan e que ainda hoje recheia aquelas FMs que você ouve enquanto aguarda a maldita poltrona do dentista. Mas que rendeu a Ed uma das melhores coleções sonoras de sua quase trintona carreira – basta ver o que diz nosso reviewer Nícolas Gambin ali na página 63. AOR já está nas prateleiras por aí em CD, você o encontra também fragmentado no iTunes. É em vinil, no entanto, que o cara realmente quer ouvir suas músicas sendo tocadas. “Apesar de implicar com toda essa moda, fico louco pra ver meu disco em vinil. Sendo eu um colecionador, pra mim tem um elemento de fetiche.” Colecionador, no caso de Ed, não é mero substantivo. Espalhados pelo chão, prateleiras e onde mais houver espaço em seu apartamento no Rio estão cerca de 30 mil álbuns. “De tudo quanto é tipo de música”, garante ele. “Eu tenho desde coleções de jazz até a coleção completa do The Kinks, do The Animals e de várias bandas de rock dos 60 e 70.” Sim, porque, veja bem, Ed Motta começou a colecionar discos “com a coisa do rock”. Não exatamente o tal do Album-Oriented Rock, embora ambos – o gênero e a coleção – estejam entre as maiores paixões de sua vida. “Depois da minha mulher, a Edna”, ele antecipa, sorrindo, enquanto abre as portas do seu mundo vinil para a NO/ZE entrar à vontade.


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“Quando criança, os primeiros discos com os quais eu tive contato foram do Earth, Wind & Fire. Mas eu comecei a colecionar discos por causa do Led. Foi por causa do Jimmy Page que eu quis ser músico, que tive vontade de montar uma banda. Foi o Led Zeppelin o começo de tudo.” “Eu sempre ouvi música com uma enciclopédia de música ao lado, sublinhando. Esse meu interesse enciclopédico pela música sempre existiu. Esse livro aqui, a Enciclopédia do Rock, esse livro foi... De que ano é isso, bixo? Deve ser de 82. Eu só tinha esse livro de música, que saiu numa banca de jornal na época, e a minha ideia era que eu tinha que conhecer todos os artistas que tavam aqui dentro. Eu ia nos sebos, anotando as coisas e tal. Essa história começou aqui, com esse livro. Eu tinha, sei lá, uns 11 ou 12 anos.”


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“Meu disco preferido? Ah, é difícil falar de um. Mas se tiver que escolher seria o Steely Dan, Aja. Esse é o disco da minha vida, o disco mais perfeito que eu já ouvi, em qualquer estilo de música. Se você falar: ‘O mundo vai acabar, você tem que ouvir um disco’, eu vou pedir pra ouvir Steely Dan, Aja.“

“Foi um divisor de águas. Eu comecei a querer estudar harmonia, piano, por causa do Steely Dan. Por causa do Steely Dan que eu fui ouvir jazz. Devo a esses dois caras essa curiosidade que tive de melhorar como músico.” “E eu tenho vários desse disco, todos diferentes. Edições japonesa, brasileira, americana... Tem milhares de Aja espalhados pela casa (risos).”


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“Uma das maiores raridades que tenho é um disco do Strata-East Records, um disco do baterista Max Roach, que chama Re: Percussion. Desse disco só foram feitas 500 cópias, e o Max Roach comprou praticamente todas que ele pode porque detestou o disco. É um disco bem raro, muito difícil de achar. Eu tô no eBay desde 95, ele só apareceu uma vez.

E é o meu (risos). Comprei. O disco mais caro que eu já comprei na vida (risos).” “Meu método de compra é prometer que eu vou sair de casa pra gastar 100 reais, voltar e eu gastei 3 mil. Esse é o único método que eu tenho, cara.”


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“Meu hábito de ouvir música tem uma metodologia diferente. Em casa, eu escuto muito as coisas que tão chegando pra mim, as coisas novas, aí quando vou guardar aquele disco novo, vou ali na letra T, vamos supor, pode ser que eu puxe um Todd Rundgren, um Three Dog Night, um Tim Harden, alguma coisa que tá na letra T. A partir daquilo, vou escutar.” “Tenho alguns discos que tem uma importância histórica pra música pop, mas que são discos de que eu não gosto. Eu tenho The Clash, London Calling, tenho Television, Marquee Moon, tenho Joy Division, tenho todas essas coisas. Não me agrada muito, mas eu tenho. Tenho Velvet Underground, tudo isso. Que eu não gosto, tenho certeza. Eu conheço os discos. Não gosto da estética, do que aquilo representa, mas eu tenho os discos. É importante. Alguns deles ainda tem alguma coisa que eu acabo gostando. De todos esses, acho que o Joy Division é o que acho mais interessante. Tem um momento do Joy Division que lembra um pouco o Bowie, e aí eu acho bom. Gosto muito de David Bowie.” “O que é a música perfeita? Poxa, tem um monte de coisa, cara. John Coltrane, A Love Supreme (risos). A música perfeita é o sax do Coltrane, a voz do Don Harper, os discos do Steely Dan, as composições do Jobim, as composições do Michel Legrand, as cordas do Claurosium, a guitarra do Jimmy Page.”


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EM CURITIBA, PR

The Naked and Famous, Phoenix, Justice, The Killers, Arctic Monkeys... É o que Karla Hill põe pra tocar quando não sabe o que vestir. “Música é a chave pra escolher o look ideal. Ligo um som e a inspiração chega mais fácil”, diz ela. Cantora, blogueira, Karla tem na dobradinha música + moda a receita para a vida em Curitiba. Quando não está no palco, é para o blog karlahill.com que se voltam as atenções. “A ideia inicial era mostrar meus looks de show. Como me profissionalizei em maquiagem, hoje publico sobre make up, além dos looks, o que eu gosto e ouço.” E se ela revela que o que ouve tem relação direta com o que veste, também garante: “tenho minhas peças e looks chave, e é neles que confio”. _A blusa é Maria Carlota, marca de roupas de uma colega da época de escola. mariacarlota.com _O blazer foi comprado na Equus, mas Karla customizou a peça no ateliê de um amigo em Curitiba. equus.com.br _Saia e cachecol são presentes.“O cachecol é uma peça chave em Curitiba, ainda mais nessa época fria.” _Os óculos vem da Galeria Ouro Fino, em São Paulo. galeriaourofino.com _Bota é da C&A.“Daquelas que quase não saem do meu pé.” cea.com.br _A pulseira Karla ganhou dos pais quando tinha 10 anos.“Não sou muito de dourado, mas essa pulseira tem um valor sentimental muito grande. Não tiro por nada.”

Cassiano Rosário

KARLA HILL


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Marcelo Fruet

Cacá V

DENTRO DA MOCHILA

camiseta COM história

_MARCELO FRUET, músico e produtor.

_CACÁ V, vocalista do Copacabana Club.

1. Roupa Sobressalente: “Para eventuais ‘roubadas’, que são bem mais freqüentes do que se imagina”. 2. Papel, caneta e livro: “A melhor maneira de passar o tempo, organizar a viagem ou a vida que ficou pra trás é anotando, desenhando, buscando conhecimento sobre o assunto da vez”. 3.Travesseiro de pescoço: “Depois de viajar muito a gente percebe que pequenos detalhes podem fazer muita diferença”. 4.Tapa Olhos: “É incrível a diferença de uma noite dormida com uma dessas quando há luz no ambiente”. 5. iPod: “Carregado com músicas para diversas situações, mas principalmente com todas aquelas novidades que nunca tenho tempo de ouvir”.

“Fui pra NY em 2001, um mês antes das Torres caírem.Tinha 18 anos e estava sozinha na cidade. Nova York era exatamente como eu imaginava, e, pra viagem ficar completa, não poderia deixar de ir no grande templo do rock, o CBGBs. Consegui assistir a um show de uma banda pequena de lá mesmo, tomei uma cerveja e trouxe a camiseta clássica. Hoje ela já tem 12 anos, tá meio manchadinha, desbotada... Cada vez mais rock ‘n roll.”


Divulgação

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DON QUIJOTE 1-16-5 Kabuchi-ko, Shinjuku,Tóquio mercado. Se você não encontrar algo lá, provável que não ache em nenhum outro lugar de Tóquio. E mesmo que não queira comprar nada, é daqueles ambientes que vale entrar pelo emaranhado de bizarrice, quase um resumo da macro informação diária que é a metrópole. Existem várias lojas, mas a mais loucona fica em Kabuchi-ko, o bairro da boemia/ putaria dos japas.

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Diferente das centenas de shopping centers tradicionais da cidade, essa loja é um varejão 24 horas. Tudo com desconto. Nos gigantes labirintos de 5 ou 6 andares acha-se desde meias (uma febre japonesa), capinhas maluconas de iPhone e eletrônicos a marcas de grife, pijamas em forma de panda, cosméticos, fantasias, enfim, qualquer coisa. Do nada, um corredor vira uma sex-shop, daqui a pouco desce uma escadinha e já é um mini-

_SAIBA MAIS www.donki.com


Divulgação

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ELVIS CAFÉ Rua Cel. Rena de Moraes, 680, Farroupilha, RS de entrada, uma cópia fiel da estrela do Rei do Rock na Calçada da Fama em Hollywood dá as boas vindas aos hound dogs de plantão. Se Elvis está realmente vivo, pencas de teorias conspiratórias estão aí pra responder. Fato é: em Farroupilha, entre uva, vinhos e um carregado sotaque ítalo-brasileiro, há um cidadão tão fanático pelo Rei que criou uma Graceland particular pra você tomar um cafezinho.

Divulgação

Elvis não morreu e mora na Serra gaúcha. É o que Fabiano Feltrin vem dizendo há quatro anos, desde que inaugurou o Elvis Café – não por acaso, em um 08 de janeiro, data de nascimento do Sr. Presley. Os sofás são em couro vermelho, inspirados nos Cadillacs sessentistas. Discos de ouro, cintos, sapatos, óculos, macacões e dezenas de outras raridades compradas à peso de ouro se espraiam entre mesas, paredes e balcões. Já na porta

_SAIBA MAIS www.elviscafe.com.br


Queens of the Stone Age ...Like Clockwork Matador Records A essa altura, você já sabe que o novo do QotSA tem Dave Grohl, Elton John, Alex Turner, Mark Lanegan, Nick Oliveri e Trent Reznor, só para citar alguns dos convidados ilustres de Josh Homme. Como o álbum vazou três semanas antes do lançamento, não vou me apegar a essa e outras informações já bem conhecidas, mas apenas passar a sensação que tive ao ouvi-lo pela primeira vez: que disco foda. ...Like Clockwork é o trabalho mais acessível da banda, embora esteja longe de ser comercial. Quase não há solos, microfonias ou aquelas “gritarias” dos primeiros álbuns; Homme está mais introspectivo, melancólico e, como sempre, cantando muito. E criando riffs inconfundíveis de guitarra, claro. “I Sat by the Ocean” é grudenta, e, assim como a sexy “If I Had a Tail”, um hit em potencial. “My God Is the Sun” não destoaria em Songs for the Deaf, enquanto a abertura com “Keep Your Eyes Peeled” cumpre bem o papel de apresentar esse novo QotSA ao ouvinte. Dizer que as soluções instrumentais criadas por Homme se aproximam da genialidade não é exagero algum, especialmente nas faixas mais lentas, como “I Appear Missing” e “The Vampyre of Time and Memory”, uma espécie de equivalente sonoro da capa – desenhada por Boneface, artista responsável também pela bela série de clipes em animação de ...Like Clockwork. Ainda é cedo para escolher o disco do ano? Mil perdões, Bowie. Daniel Sanes

Pra quem gosta de: Mark Lanegan, Soundgarden e Them Crooked Vultures

“É o tipo de coisa que faria John Holmes (lendário ator pornô) ter uma ereção mesmo morto.” Jesse Hughes, do Eagles of Death Metal

LEGENDAS Ouça no talo É, legal

Dá um caldo Seu ouvido não merece


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Ed Motta AOR LAB 344

Pra quem gosta de: Stevie Wonder, Marvin Gaye e Al Green

Além de soar brega, o gênero que batiza o novo trabalho de Ed Motta – o adult-oriented rock – pode também lembrar hits pasteurizados que entupiam as FMs nos datados anos 80. Todavia, ele é justamente a vertente responsável pelas novidades de AOR. Da espontaneidade pop das interpretações do multi-instrumentista, amparadas por seus arranjos virtuosos, nasce um easy listening inteligente. Ou uma sofisticação bem azeitada, como em “1978” e no funk dissonante “Marta”, as duas faixas escritas por Edna Lopes, esposa de Ed. O álbum inclui ainda letras de Rita Lee, em “S.O.S Amor”, e de Adriana Calcanhoto, em “Ondas Sonoras”, ambas embaladas entre a malícia suingada da Motown e o smooth jazz romântico e radiofônico de George Benson. A poética corriqueira, os experimentos harmônicos à altura do seu seminal Dwitza (2002) e o ar de quem entoou sucessos como “Fora da Lei” e “Manuel” são lições que fazem de AOR um item de peso na estrada do veterano cantor. Nícolas Gambin

Iggy & The Stooges Ready To Die Fat Possum

Pra quem gosta de: MC5, Alice Cooper e Black Drawing Chalks

Sejamos francos: o mundo precisava de mais um disco do Stooges, com seus integrantes beirando os 70 anos? Sabe-se que a geriatria é um dos grandes inimigos do rock. No entanto, se depender dos vovôs – que aqui dão uma aula de como tirar uma onda –, a resposta é um sonoro “sim”. Com clima de festa, Ready To Die lembra aqueles filmes onde gângsteres veteranos se reencontram para um último golpe. O time está quase todo de volta. Se nas guitarras já não temos Ron Asheton (falecido em 2009), James Williamson marca seu retorno à banda desde o essencial Raw Power (1973). O mais importante: Iggy Pop segue o mesmo, tão desinibido e pelado quanto Nicole Bahls. Distorção, libido, humor, velocidade, está tudo aí. Não importa se você nasceu em 1950 ou 1990, é impossível ficar parado em faixas como “DD’s” ou “Gun”. O registro é honesto e serve de lição para artistas da mesma época que insistem em voltar ao estúdio com a mesma empolgação de quem está indo ao dentista. Fernando Halal


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pra ver O Pior Trabalho do Mundo EUA, 2010 Direção: Nicholas Stoller Com Russell Brand, Jonah Hill, Rose Byrne e P. Diddy

Muita gente deixou de assistir a esta pequena joia graças ao seu estapafúrdio título nacional. Não se deixe enganar: Get Him to the Greek está entre as mais hilariantes comédias dos últimos tempos. Jonah Hill é um promotor musical que trabalha numa gravadora que está na pindaíba. Ele é recrutado, então, para a grande aposta da empresa: reerguer a carreira de Aldous Snow (Brand), um rock star decadente que só quer saber de mulheres e drogas. Até a dupla chegar ao seu destino - um megashow no Greek Theatre do título -, o filme satiriza a tudo e a todos no mundo das celebridades. Há participações especiais de gente como Christina Aguilera, Pink e Lars Ulrich. Mas a surpresa maior é a assombrosa participação de P. Diddy, dono das melhores tiradas – a frase “can you feel my dick fucking your mind?” deveria figurar em qualquer antologia do cinema moderno. Fernando Halal

Viagem ao Princípio Portugal/França, 1997 do Mundo Direção: Manoel de Oliveira Com Marcello Mastroianni, Jean-Yves Gautier e Leonor Silveira Manoel de Oliveira é um milagre: perto de completar 105 anos, continua filmando incessantemente. Seu humor peculiar, o gosto pelo absurdo, a aproximação entre cinema e as outras artes fazem de sua filmografia um caso único. Banhado numa melancolia rara, traduzida por aquela palavra que só existe em nossa língua – a saudade –, Viagem ao Princípio do Mundo traz uma viagem terna por interiores portugueses, num claro comentário sobre a situação do país no final século XX, o desaparecimento da relevância dentro do continente europeu. Não deixa de ser uma parábola sobre a velhice, a sensação da proximidade da morte e a condição do artista nesse contexto. É o testamento poderoso de Marcello Mastroianni, que morreu logo após as filmagens e tem aqui um de seus trabalhos mais impressionantes. Leonardo Bomfim


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pra ler

DISCOTECA BÁSICA

A Obra-Prima Ignorada

Alta Fidelidade

De Honoré de Balzac Editora: Comunique Editorial

De Nick Hornby Editora: Rocco

141 páginas

260 páginas

david bowie Por Tony Aiex

Hunky Dory (1971) Obra bastante sólida, chegou a ser descrita pela NME como “o ápice de Bowie”. É incrível ouvir as composições folk-rockglam criadas e executadas de forma tão bonita e divertida. Sem contar o início do álbum, com a sensacional “Changes”.

Esta pequena novela foi tão influente que Pablo Picasso, num daqueles momentos em que a realidade se apropria da ficção, montou seu ateliê no endereço exato onde morava o protagonista, um velho gênio da pintura.Aliás, foi lá que o espanhol criou Guernica. Cézanne também tinha o livro como favorito, via na história do mestre que resolve mostrar sua obra-prima para dois pupilos o anúncio do surgimento da arte moderna – mas os novatos só veem uma reunião de “cores confusas, uma multidão de linhas bizarras que formam uma muralha de pintura”. Há muita coisa nas páginas escritas pelo romancista francês em 1831: o conflito de gerações, a relação entre criação e vida, a necessidade realista da arte. Mas não deixa de ser irônico que o nascimento de uma nova arte esteja nas mãos de um veterano. Leonardo Bomfim

Lançado em 1995, Alta Fidelidade chega à maioridade impressionantemente atual. E não é difícil entender o porquê. O protagonista Rob Fleming (Gordon, na bem-sucedida versão cinematográfica dirigida por Stephen Frears, em 2000) é o retrato de uma juventude que teima em não crescer e assumir as responsabilidades da chamada vida adulta. Dono de uma pouco frequentada loja de discos, ele se vê obrigado a reavaliar sua forma quase obsessiva de lidar com a música, uma vez que isso se reflete (e muito) em seus relacionamentos. Entre tiradas engraçadas e inúmeras referências pop, Hornby consegue abordar de maneira brilhante um pequeno dilema moderno: como envelhecer sem se tornar careta ou virar uma ridícula caricatura do passado? Difícil não se identificar com o protagonista, especialmente se você já chegou à casa dos 30. Daniel Sanes

Ziggy Stardust (1972) Um rockstar que está na Terra para transmitir mensagens de seres extraterrestres. Só Bowie poderia dar vida ao personagem Ziggy Stardust, e ainda criar um dos melhores álbuns conceituais de rock de todos os tempos.

Heroes (1977) Como bom camaleão Bowie se juntou a ninguém menos que Brian Eno, o mestre da ambient music. O resultado é um disco que o aproxima muito bem do rock experimental, incluindo canções instrumentais que criam um ambiente todo próprio ao trabalho.


__ por Marilia Pozzobom 066\\


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Fosso é aquele lugar que fica de frente ao palco, onde fotógrafos se espremem, cara a cara com o ídolo, em busca de um clique que congele a eternidade.

Pois direto dali registramos os melhores momentos do Primavera Sound, já apelidado por aí de “um dos festivais de música com o melhor line up do planeta”. O que significa Grizzly Bear, Wu-Tang Clan, Blur, The Knife, My Bloody Valentine, Nick Cave e mais 75 mil pessoas divertint-se no Parc Del Fórum, em Barcelona, coração pulsante da Catalunha.


PRIMAVERA SOUND / BARCELONA

Foto: Eduardo magalh達es


070\\ Wu tang clan

Foto: eduardo magalh達es


mac demarco

Foto: Eduardo magalh達es


Melody’s echo chamber

Foto: Eduardo magalhĂŁes


Foto: eduardo magalh達es

Foto: Filipe Marques


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#OsLeitoresDaNO/ZEsoltamALínguaNoCircoDeHorroresDeMarkZuckerberg.

E se a sua banda favorita acabasse? Stu Geison Stu Já cabou, o MCA morreu... Mauricio Dias phodase Pedro Lenhard se radiohead acabar vou ficar ouvindo creep em posição fetal no banheiro com a luz apagada chorando Selma Vieira Não acredito!!!

Que banda das antigas você gostaria de ver ao vivo? Olavo Barros Beatles, Queen e Pink Floyd. Pedro Souza stone roses Caue Peres zeppelin, o sabbath logo mais eu realizo Leonardo Olliveira Prince Ac/dc NR: E o Milli Vanilli, ninguém quer ver?

NR: Que saudade do Polegar...

Que música você gostava quando tinha 15 anos e curte até hoje? Manuella Stangherlin Graff wonderwall - fuckn love oasis. Rebecca Seiko Iyama Get Free - The Vines. X) Fala que não dá vontade de gritar?? Hahaha Mariane Oliveira olha, tô pra dizer pra vocês que tudo que eu ouvia com 15 anos eu ouço até hoje, direto!

E esse disco novo do Daft Punk, hein? Matheus Schmidt Fodástico! Evandro Dias mucho loko!!! mas nada supera o Daft Punk dos anos 90. Paulo Lima 3 músicas TOP, 1 música boa, álbum mediano, muito marketing.

Letícia Pimenta Prince – Kiss.

Bruno Mocellin nada de PIPIPI bóbó thuchu man iiiiiiiiii namnan pouum pum, e sim o bom e velho funk eletrônico, agradável e único.

NR: Ah tá que vocês jogaram fora as fitas do New Kids On The Block...

NR: E não é que aqui pela redação a coisa também anda dividida?


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maglore vamos pra rua Em seu segundo disco, “Vamos pra Rua”, o quarteto baiano tem participações de wado e Carlinhos Brown



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