• COLABORADORES |NOIZE #40
DO UNDERGROUND AO MAINSTREAM
• EXPEDIENTE #40 // ANO 4 // DEZEMBRO ‘10_ DIREÇÃO: Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha
REDAÇÃO: Bruno Felin bruno@noize.com.br Maria Joana Avellar joana@noize.com.br
COMERCIAL: Pablo Rocha pablo@noize.com.br Silvana Fuhrman silvana@noize.com.br
REVISÃO: João Fedele de Azeredo jp@noize.com.br Fernanda Grabauska fernanda@noize.com.br
EDIÇÃO: Fernando Corrêa nando@noize.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha rafarocha@noize.com.br DESIGN: Douglas Gomes doug@noize.com.br ASSIST. DE CRIAÇÃO: Cristiano Teixeira cris@noize.com.br
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Carolina Beidacki julia@noize.com.br DISTRIBUIÇÃO: Ricardo Carvalho ricardo@noize.com.br PROJETOS: Leandro Pinheiro leandro@noize.com.br
SCREAM & YELL: Marcelo Costa www.screamyell.com.br
AGENDA: shows, festas e eventos agenda@noize.com.br
MOVE THAT JUKEBOX: Alex Correa Neto Rodrigues www.movethatjukebox.com
ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados
RRAURL: Gaía Passarelli www.rraurl.com FORA DO EIXO: Ney Hugo Camila Cortielha Marco Nalesso Michele Parron www.foradoeixo.org ANUNCIE NA NOIZE: comercial@noize.com.br ASSINE A NOIZE: assinatura@noize.com.br
PONTOS: Faculdades Colégios Cursinhos Estúdios Lojas de Instrumentos Lojas de CDs Lojas de Roupas Lojas Alternativas Agências de Viagens Escolas de Música Escolas de Idiomas Bares e Casas de Show Shows, Festas e Feiras Festivais Independentes TIRAGEM: 30.000 exemplares CIRCULAÇÃO NACIONAL
• EDITORIAL O Planeta Terra eclipsou o fim de 2010, com o auxílio de Paul McCartney, Lou Reed, a eleição de Dilma e a guerra no Rio de Janeiro. É um ciclo tão longo e marcante de acontecimentos que é difícil encerrá-lo. Já adianto: a NOIZE #40 não trará listas de fim de ano, pelo menos não uma das tradicionais, com comentários e contextualizações. Esta edição representa 2010, um ano que, em vez de desacelerar, só fez esquentar. Justo a NOIZE de dezembro traz três matérias relacionadas com o presente. A primeira foi uma entrevista muito legal com o Yeasayer – que tocaria logo em seguida no Planeta Terra e rendeu uma matéria só para relatar e fotografar este que foi, musicalmente, o mais denso festival do ano. Tem rolado uma movimentação empolgante na música soul, bem representada tanto pelos americanos quanto por seus colonizadores no além-mar. O Kings Go Forth é um expoente dos mais qualificados, e conversamos com Andy Noble, um dos motores da coisa toda, sobre o soul, o ser e o som – nossa segunda entrevista bacana. E pra fechar, na NOIZE que marca o fim do 4º ano de revista, contamos a história de um dos grandes discos de rock gravados no Rio Grande do Sul: a Graforréia Xilarmônica com seu Coisa de Louco II. Dizem que a vida começa aos 40. Agora que a vida começou, vamos dar o tradicional tempo de 2 meses, nos quais a revista estará se pensando mais uma vez, para começar 2011 com fôlego e vida renovados. Até lá.
• ARTE DE CAPA_ FLÁVIO SAMELO Confira mais trabalhos do artista em seu site pessoal. flaviosamelo.com
• BÉÉÉÉ_ Algum gnomo cortou o início do review de Atividade Paranormal 2. Pedimos desculpas ao autor, Frederico Cabral. Outro “béé!”: Na matéria do SWU, a foto do Los Hermanos é de Liliane Callegari, e a do Sublime, de Felipe Neves. Dicas, sugestões e reclamações: noize@noize.com.br
1. Flávio Samelo_ Entrou no mundo da fotografia e da arte pelas ruas, fotografando skate, grafite e picho. Atualmente busca uma nova maneira de misturar fotografia e pintura concreta. flaviosamelo.com 2. Gaía Passarelli_ Jornalista, confunde-se com a própria história do rraurl.com, maior portal sobre cultura eletrônica do Brasil. 3.Ananda Nahu_ Artista baiana, seu trabalho une elementos nordestinos como tecidos multicoloridos e a cultura afro com um background de arte urbana, especialmente o Stencil e a tipografia. flickr.com/ananda_nahu 4.Vinicius Felix_ Jornalista em formação.Acredita mais na vida depois de ter visto Paul McCartney. http://blogdobracin.tumblr.com 5. Alex Correa_ Carioca, mas gosta mesmo é de São Paulo e acredita na genialidade do Kasabian até o fim. 6. Marcelo Costa_ Editor do screamyell.com.br, trabalha na edição da capa do portal iG e escreve sobre cultura pop como conversa na mesa do bar. 7. Marco Chaparro_ theblackeyeddog.tumblr.com 8. Marcela Bordin_ Gosta de dias chuvosos, tubetes e outras coisas pouco populares. 9. Ariel Martini_ ainda insiste em fazer fotos de show. flickr.com/arielmartini 10. Neto Rodrigues_ Morador de Minas há incontáveis anos, quase foi um engenheiro. Hoje ronda a publicidade e torce pela volta do Oasis. 11. Gustavo Foster_ Se desiludiu com o Jornalismo, mas a força do hábito faz ele continuar escrevendo de vez em quando. 12. Eduardo Guspe_ Membro fundador do Núcleo Urbanóide, ultimamente se dedica a produzir DONUTS. facebook.com/eduardo.guspe 13. Matheus Vinhal_ Escreve sobre música por paixão.Tem twitter: @mvinhal. 14. Lidy Araujo_ Jornalista, baixista frustrada e louca por Ramones e Red Hot Chili Peppers. Seu site é lidyaraujo.com.br 15. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema, edita o freakiumemeio.wordpress.com 16. Ana Malmaceda_ Jornalista desorganizada, tenta picotar o mundo e guardar os pedaços mais bonitos. Não passa um dia sem se encantar com alguma história e socializa até com árvores. 17. Nícolas Gambin_ Jornalista freela. Aprecia tocar The Meters com amigos nas horas vagas. 18. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento. Um dos editores de música do site www.nonada.com.br. 19.Victor Sá_ Formado em comunicação social, trabalha como jornalista, roteirista e fotógrafo em diferentes mídias sociais. http://flickr.com/victor_sa 20. Fernando Schlaepfer_ Designer por formação, ilustrador por aptidão, D.J. por diversão e fotógrafo por paixão.
Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados
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• THIS IS NOIZE SUPERSTYLLIN’! Se Você Não Gostou da NOIZE Passe Adiante
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NOIZE
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_foto: FELIPE NEVES | FLICKR.COM/FELIPENEVES
l ife is music
NOME_ Matt Biolos PROFISSÃO_ Designer de pranchas, skates e roupas UM DISCO_ Circle Jerks | Golden Shower of Hits
“O punk rock cumpriu um papel fundamental na minha vida. Quando eu estava no 7º ano, alguns amigos meus começaram a ouvir todas as bandas punk da Califórnia e me colocaram nessa (Adolescents, Black Flag, Social Distortion, X, Fear, Circle Jerks). Então eles formaram uma banda. Todo esse movimento abriu meus olhos para o “faça você mesmo”. Se você quer começar uma banda, faça-o; quer construiu uma prancha? Construa. O punk rock era “just do it” muito antes de a Nike® usar o termo como slogan corporativo.”
LEIA ISTO
“Garanto que vocês vão fazer festa pra caralho e depois assistir ao sol nascente na praia ouvindo Manu Chao.” Billy Corgan | Smashing Pumpkins
“Eu amo a música! Música é o que me deixa feliz. Conheci alguém ontem que explicou isso muito bem, ela disse: ‘Eu não conseguiria respirar sem música’. Acho isso muito verdadeiro e acho que muita gente sente isso. É algo mágico que os humanos desenvolveram, é muito especial para muita gente. É algo que cura. Uma das coisas de que mais gosto é quando me encontro com alguém e a pessoa me diz: ‘Eu estava doente e escutei a sua música, que me fez melhorar’. Penso: ‘Uau! Que legal.’” Paul McCartney
“Somos o Pavement, da América... [começa a cantar “Gold Soundz”, para e corrige] Da América do Norte.” Stephen Malkmus “Se você vive no limite, consome drogas, bebe “A brincadeira é e sai toda noite, faça a coisa mais séum testamento. Não ria do mundo.” Rodrigo Amarante custa nada.” Andy Noble | Kings Go Forth
“Na maior parte do tempo você está apenas testando todas suas ideias, e a maioria delas não é muito boa (risos). Você apenas insiste e trabalha nelas. Em algumas músicas você trabalha por 3 ou 4 meses, e realmente não está acontecendo nada até a última semana de trabalho, então você finalmente tem a grande transformação. Muito como uma escultura, você começa com um grande pedaço de mármore e vai lapidando, apenas no fim do caminho é que a coisa começa a tomar forma.” Chris Keating | Yeasayer
_STEPHEN MALKMUS, PAUL MCCARTNEY, RODRIGO AMARANTE, YEASAYER, GRAFORREIA XILARMONICA
“Já os encontramos. Iremos processá-los até as calças. Depois, suas bundinhas serão encontradas numa cadeia, ao lado de alguém que está lá há anos e em busca de uma namorada nova.” Gene Simmons | Quando hackers invadiram seus sites GeneSimmons.com e SimmonsRecords.com
“Se fosse pra fazer algo que a pessoa ouvisse e não achasse nada de estranho, eu não faria.” Carlo Pianta | Graforréia Xilarmônica
“As pessoas escutam e pensam: tá errado. Tá errado dentro do cérebro ‘abostado’ de quem diz que está errado.” Alexandre Birck | E o “foda-se” ligado da Graforréia Xilarmônica, que tem matéria nesta NOIZE.
“Divirtam-se com o Smashing Pumpkins.” Stephen Malkmus | Pavement, atiçando rixa histórica com Billy Corgan depois de encerrar show no Planeta Terra. noize.com.br
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can a nerd have a soul? “Pode um nerd ter alma?”, perguntou o New York Times numa recente matéria. No caso, “alma” é tradução para “soul”, gênero musical cujas novas revelações, segundo o Times seriam em sua maioria jovens brancos e geekies que se apropriaram até da fala gingada de seus ídolos. O artista que abre e parece ser o mote principal do texto é Mayer Hawthorne, revelação do cenário que integrará, em 8 de janeiro, o line up do festival Summer Soul, o mesmo em que tocará Amy Winehouse e a talentosíssima Janelle Monae. Ao lado de gente como Kings Go Forth (que entrevistamos nesta edição), Aloe Blacc e Eli Paperboy Reed. Hawthorne é um artista de atividade recente.Vem do hip hop, mas foi a partir de A Strange Arrangement (2009), sua estreia soul no Stones Throw (selo referência em soul music e hip hop atuais) que o mundo passou a assimilar o rapaz branco como expoente da música negra. O Stones Throw, por sua vez, é uma bela amostra do movimento contrário que vem acontecendo do hip hop para a soul music – do qual, além de Hawthorne, é exemplo o colega Aloe Blacc. Depois de muito beber de uma época, o hip hop passa a retribuir a contribuição, dando origem a muitos artistas do gênero original. Ah, e Amy, claro. Ela também toca no Rio de Janeiro (10 e 11/1) e em São Paulo (15/1), mas não há de nos tirar do sério – todo cuidado é pouco quando quem se espera é Amy Winehouse. Hawthorne e Janelle Monae, esses não decepcionarão.
_ouca agora ´ NOSSOS preferidos de 2010
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Apanhador Só - Apanhador Só Nina Becker - Azul e Vermelho Mombojó - Amigo do Tempo Otto - Certa manhã acordei de sonhos intranquilos Superguidis - Superguidis Arcade Fire - The Suburbs Black Keys - Brothers M.I.A. - MAYA The Roots - How I Got Over Yeasayer - Odd Blood
beatles-bruce Mcbroom / © Apple Corps Ltd
__One more Beatles store | Não, não existe
iTunes Store no Brasil. Por algum motivo Steve Jobs e companhia só vendem aplicativos por aqui, mas os gringos que podem acessar a maior loja de downloads legalizados do mundo já estão transferindo seus dólares virtuais direto para o mundo mágico da maçã de Jobs. Isso porque os 13 discos dos Beatles entraram com tudo no site. Em menos de uma semana de lançamento, 2 milhões de músicas e 450.000 álbuns foram vendidos, com Here Comes The Sun e Abbey Road liderando as contagens. O preço é de US$ 12,99 por disco simples, US$ 19,99 pelos duplos e coletâneas e US$ 1,29 por músicas individuais. Os álbuns vêm ainda com o recurso iTunes LP, que traz letras, fotos e vídeos da banda. Também está disponível um pacote com os 13 discos oficiais mais a coletânea Past Masters por US$ 149,99. “Estou particularmente feliz porque não me perguntarão mais quando os Beatles entrarão no iTunes”, disse Ringo Starr em comunicado. Finalmente, se você quiser, pode tê-los virtuais sem tê-los físicos.
direto ao ponto O Public Enemy precisou abaixar seu preço, mas finalmente chegou em um valor considerável – US$ 75 mil – e fechou o crowdfunding para seu novo disco. Comentamos essa história aqui http://bit.ly/publicfunding
2011 é o ano do Rock In Rio voltar ao Rio. Isso se a cidade resistir à guerra entre polícia e traficantes, né? A programação do “dia metal”, “dia rock”, “dia pop” começa a se desenhar. Acompanhemos no site da NOIZE.
Fizemos um apanhado de covers de responsa feitos por artistas de diversas vertentes para músicas do Bob Dylan. Só faltaram as músicas natalinas. http://bit.ly/dylanversoes
Se você gostou da nossa seleção de melhores do ano, dê uma olhada na que realmente representa o gosto do povo: o Last.fm e seu Top 40 de 2010: http://last.fm/bestof
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__FENDER DE GRAÇA| Em 1967, Jimi Hendrix deixou muita gente estupefata ao queimar sua Stratocaster no icônico Monterey Pop Festival. Em 2010, a PlayTech faz o mesmo e ainda dá uma Fender Stratocaster Road Worn novinha para um sortudo. É assim: o pessoal botou fogo em uma guitarra semelhante – mas bem mais $imple$ – e marcou a temperatura máxima atingida pela ordinária enquanto queimava, além do tempo que levou para chegar ao pico. Quem acertar a temperatura e o tempo vai levar pra casa a Fender intacta. Quer dizer, intacta não: a Road Worn é um modelo meticulosamente desgastado, para aparentar e soar como um modelo dos 60s. É quase como se Hendrix tivesse tocado na guitarra. E com tanta homenagem, ele deve mesmo estar dando a benção.Te liga: http://bit.ly/guitaemchamas
__Strokes finaliza disco | Dentro de poucos meses devem ganhar os ouvidos de todos 10 novas músicas do Strokes. De Nova York para o mundo, Julian Casablancas anunciou no twitter (e poderia ser diferente?) que a etapa de gravações do novo disco foi finalizada em 15 de novembro. Restariam, para os próximos meses, os acertos finais: “O disco só sairá em alguns meses – [pela] mixagem, etc”. Albert Hammond Jr. disse então à Rolling Stone que o grupo está extasiado com as 10 músicas gravadas. O quarto disco da carreira do Strokes deve chegar 10 anos depois de o grupo remexer o cenário rock e pop com sua estreia Is This It?, produzido por Gordon Raphael (entrevistamos o produtor para a NOIZE #31). O quinteto vem trabalhando no novo disco, sucessor de First Impressions of Earth (2006) desde fevereiro.
Nixon Brasil - t. (11) 3618 8600
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lado a LADO B SITIOS
RATATAT | Neckbrace _Passarinho, que som é esse? O som é o Ratatat velho de guerra, o clipe é ainda mais uma possibilidade caleidoscópica de multiplicação de passarinhos, quer dizer, elementos. Tags: ratatat neckbrace
_rateyourmusic.com Por anos utilizamos o Metacritic para descobrir a avaliação dos discos que foram e serão lançados. O Rateyourmusic faz isso conectando os ouvintes em uma rede social e conferindo-lhes o papel de críticos.
Do Amor | Dar uma banda
_upadoseperdidos.com Quer conhecer música que quase ninguém conhece?
_No melhor clima Hermes & Renato, que deixou saudades, o Do Amor visita uma laje no Rio para seu freak show – todo mundo tem direito de dar uma banda.
posts http://bit.ly/grupoum Um post grandão sobre a trilogia do Grupo Um, banda de jazz-fusion que fez parte da vanguarda paulistana, nos anos 80.
http://tiny.cc/doamor
Whip My Hair @ Jimmy Fallon
http://bit.ly/paulgoesinde O #paulgoesindie foi uma bela iniciativa do blog Rock n Beats, que juntou um monte de bandas indie pra homenagear Paul com versões para composições do mestre.
_Antes que você pergunte, não é o Neil Young, mas uma imitação caprichosa que Jimmy Fallon leva ao ar, desta vez cantando o hit de Willow Smith, filha do Will. Tags: jimmy fallon whip my hair
tag yourself
mata a mae e xinga a imprensa primal scream screamadellica gil scott heron xx google beatbox lcd
soundsystem popload gig kings of leon cee lo green ok make me smile aloe blacc u2 muse brasil i know good day today foo fighters cake conan
paul mccartney tropeça you
david lynch
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o que voce viu e nao viu neste mes_
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Sabonetes | Hotel _Após relançar o primeiro disco pelos selos Cornucópia e Midas Music, de Rick Bonadio, o Sabonetes chega com esse clipasso muito bem produzido. Além da qualidade técnica, um ótimo roteiro em clima meio Mad Max.
Parteum | O Pouso O rapper Parteum soltou um EP de sete faixas intitulado A Autoridade da Razão provando que está na vanguarda da produção nacional do hip-hop.“O Pouso” é apenas um recorte das 7 faixas disponíveis pra download gratuito.
Tags: sabonetes hotel
Marina and the Diamons | Obsessions (oOoOO Remix) O drone do oOoOO (ufa) vestindo a música de Marina and the Diamonds, cuja versão original também vale a audição. Crazy...
Quem manda é Tim Maia _Apesar da qualidade ruim de imagem, este vídeo é uma jóia da música brasileira: Tim Maia insano e tomando de assalto o especial que a MTV fazia pouco antes de sua morte.
PJ Harvey | Written on the forehead Saiu no site oficial da moça (que também está ótimo) a primeira faixa de Let England Shake, seu oitavo disco, que sai em fevereiro.
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Tags: tim maia bruto mtv
Voce nunca ouviu
Notas do piano _Depois de uma simpática introdução explanatória, o velho Joaquin passa a tocar notas no piano e repeti-las com inejável precisão. Ou não. Tags: notas piano 19
TUMBLIN’ http://postpunk.tumblr.com O nome diz tudo, não? O pós-punk de ontem e seus filhos de hoje, em imagens, sugestões, vídeos e textos em louvor.
http://googlebeatbox.tumblr.com Saca a pequena febre que causou a descoberta de que o Google Translator é mestre no beat box? Aqui está toda sua obra.
Roggie Watts não gosta mais das panquecas que você faz, mas ainda tem A BASE de como criar músicas no iPhone NO ATO, mandando melhor no beat box que o Google Translator.... QUER OUVIR? NOIZE.COM.BR/nuncaouviu
follow up http://twitter.com/questlove Questlove dá dicas de música, posta fotos de bastidores do Jimmy Fallon e deixa a impressão que já conheceu (e provavelmente tocou com) todos músicos do mundo
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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Annie Powers
The Lonesome Duo Origem:
São Paulo, BRA Som:
Dos balcãs e dos norte-americanos vêm o folk, o bluegrass e o country. O Lonesome Duo se apropria disso em canções simples mas bem compostas. Escute:
myspace.com/thelonesomeduo
Mayer Hawthorne Origem:
Los Angeles, EUA Som:
O nerd que tem soul e toca no Brasil em janeiro é uma das apostas da Stones Throw. Pode não ter vozeirão negro, mas tem a alma. Escute:
myspace.com/mayerhawthorne
Cats in Paris Origem:
Manchester, UK Som:
Baixo, bateria, sintetizador, computador e a astúcia criativa de um cara que provavelmente sofria bullying na escola, e hoje cria pop alternativo e contagiante. Escute:
myspace.com/catsinparis
the pains of being pure at heart O amor é mesmo como um sintetizador: ora atua como um teclado a tuitar melodias, ora é ruidoso e escuro.As dores de se ter um coração puro foram expressas por muitos antes desses quatro nova-iorquinos formarem uma banda, em 2007, para cantar exatamente sobre isso. O fazem com a despreocupação e a transparência características de uma época em que falar em mistura é ser óbvio e raso; deve-se pensar em fusões. “O encontro de Smiths com o shoegaze, demorou”, diria ironicamente alguém sem o coração puro, sobre o amor e sobre o The Pains of Being Pure At Heart. A fusão do Pains é mesmo, por vezes, óbvia (shoegaze e doses maiores ou menores de pós-punk meloso), mas não se trata de uma banda cujo valor resida apenas nas singelas letras sobre anseios
e receios pós-púberes. O resultado de baladas levemente aceleradas, tocadas em guitarras—algumas limpas, outras carregadas de efeitos desnorteantes—é uma provocação saciada apenas ao vivo, quando as camadas de ruído asseguram-lhes peso e urgência. Um álbum e dois EPs mostram que o Pains tem a crescer. Evidenciam talento para a originalidade que beira o pastiche, mas ainda se espera algo mais autoral, que talvez venha com o próximo lançamento: o disco Belong, a ser lançado em 2011. É uma boa ideia ouvir “Everything with you”,“Stay alive” e “Contender”—todas do disco homônimo, de 2009—antes que virem mero ingrediente de uma nova mistura. Escute: myspace.com/thepainsofbeingpureatheart Fernando Corrêa
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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Divulgação
GobBle GobBle Origem:
Canadá Som:
Não sei se o pop do Gobble Gobble é electro, synth ou techno, mas eles blasfemam o Pixies no meio de um monte de faixas de instrumental ensandecido e vocal catchy. Escute:
myspace.com/leatherjowels
Take Off The Halter Origem:
São Paulo Som:
O hardcore melódico e técnico do Take Off The Halter é para os sedentos por riffs rápidos e nem tão diretos de guitarra.Veio para dar novo gás ao estilo no Brasil. Escute:
myspace.com/takeoffthehalter
DAS RACIST Origem:
Nova York, EUA Som:
Consegue algo muito difícil no rap: ser engraçado sem ser forçado, respeitado sem se envolver em nenhuma cena específica, possuir referências obscuras, estilo estranho e ainda agradar a crítica. Escute:
myspace.com/dasracist
nicki minaj Na balbúrdia do pop americano televisivo não basta ter talento, é preciso ter bons aliados também. Nicki Minaj foi ligeira nesse ponto, tanto quanto é em suas rimas. Descoberta por Lil Wayne, fez participações em diversas músicas de artistas como Drake, Usher, Mariah Carey, Rihanna,Trey Songz, Sean Kingston e a mais recente, “Monster”, no novo disco de Kanye West, ao lado de Jay-Z, Rick Ross e Bon Iver – que legitimou seu estouro na mídia. Nascida em Trinidad e Tobago, se mudou para o Queens, em Nova York, ainda com cinco anos, mas mantém até hoje um certo sotaque e estilo que misturam esses dois universos: a malandragem do subúrbio americano com a influência caribenha do seu país de origem. Até poucos anos atrás
ela era uma garota problema que não conseguia se manter nos empregos. Hoje, é quase um desenho animado: perucas cor de rosa, visual maluco e frases de efeito que qualquer Oprah adora. Andam até chamando-a de Lady Gaga do hip hop por aí. Seus vocais e rimas vão do bobinho aos timbres poderosíssimos, do melódico ao agressivo/escrachado, o que explica os alter-egos que usa. Para cada estilo e música, Nicki é uma rimadora diferente e tudo isso está no disco novo, Pink Friday – que se não é uma grande estreia, tem ótimos momentos. Um prato cheio pro pop e uma grande presença feminina que fazia falta ao hip hop. Escute: myspace.com/nickiminaj Bruno Felin
*Frete grátis válido apenas para o estado de São Paulo.
SIga @playteChbraSIl e SaIba Como ganhar uma fender StratocaSter road worn ‘60S!
InStrumento muSICal também é preSente de natal preparamoS uma Seleção de produtoS para enCher Sua árvore de natal! Corra e aproveIte aS melhoreS marCaS Com oS menoreS preçoS
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CIDADÃO INSTIGADO Amanda Louzada
por Maria Joana Avellar
Escutar Cidadão Instigado é estar em uma praia paradisíaca nordestina, ao som de guitarras furiosas tocadas sem palheta, na companhia de dançarinos de forró que tomaram LSD e tendo os miolos fundidos por letras absurdas que fazem pleno sentido. O cearense Fernando Catatau trabalha com gigantes nomes da música brasileira enquanto faz shows pelo Brasil com este projeto de sua autoria. Conversamos com ele para tentar descobrir o segredo de tanto suíngue, paixão e instigação.
“Você não precisa fazer dez mil músicas por dia. fazendo uma por umtempão [...] sevocê faz decentemente,ela chega comverdade.”
Você procura instigar com a música da maneira que a música te instiga, ou sente que é natural? Acho que é natural... eu sou assim mesmo. E o que te inspira na vida? Rock, guitarras, meus amigos, minha família. Como começou a sua relação com o rock? Foi com 13 anos, quando ganhei uma fita cassete do Pink Floyd, aí depois continuou com Black Sabbath, Iron Maiden, essas coisas... E a influência jovem-guardiana? Aí é porque sou fã do Roberto Carlos. É ele, nem é Jovem Guarda, é Roberto Carlos, que eu escuto desde que me entendo por gente. E até hoje, do mesmo jeito que ainda escuto Iron Maiden. É verdade que a banda começou a escutar música brega sem inibição por causa sua? Tirando o Clayton, somos todos cearenses, então isso já existe dentro do que a gente vive. A gente nem pesquisa, nem vai atrás, porque já é inserido na nossa cultura. E você acha que é isso que faz a galera do nordeste ser tão criativa? Não sei de nada, não... É alguma coisa no leite de cabra? Talvez seja a questão do desapego mesmo. A galera é mais desapegada, ninguém está preocupado se vai fazer o rock tradicional, ou se vai fazer o
heavy metal puro. Lógico que tem os puristas, mas no geral é tudo bem misturado mesmo. Quando eu era mais novo, eu ia nas festas e tocava rock, música lenta e forró, e você tinha que saber dançar as três modalidades. Principalmente forró e música lenta porque era a hora que você ia agarrar as meninas, né? E você não tem dificuldade de encontrar novas melodias? Quando vem, vem. Toda a vez que eu vou compor é difícil mesmo. É lento, mas quando rola é ótimo. Você também não precisa fazer dez mil músicas por dia, fazendo uma por um tempão já é suficiente, porque se você faz decentemente ela chega com verdade, entende? Tem mais algum artista que vocês gostariam de fazer cover? Além do cover que fizemos hoje (“Bloco na Rua”, Sérgio Sampaio), tocamos “Andrea Doria” no StudioSP semana passada. Foi foda, a nossa geração é geração Legião Urbana total. Eu conheci o Dado, o Bonfá. É doido porque agora me sinto perto dos meus ídolos. Tenho a sorte de trabalhar com alguns deles, produzi o disco do Arnaldo Antunes... Por mais que eu seja trabalhador, quando tenho opção de escolher com quem trabalhar, escolho as pessoas que eu gosto para poder estar junto. Eu me sinto o maior felizardo, toco com Otto há nove anos, toco com a Karina Buhr, que eu adoro... tô toda a hora com os meus brothers, então tá tudo certo.
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move that jukebox
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__Gallaghers moving on | Mais de um ano após o desmanche do Oasis, os irmãos Gallagher finalmente mostram que a vida segue. Liam comanda o a, que tem em sua formação, basicamente, o Oasis, menos Noel, é óbvio. O quarteto já lançou a primeira música, a roqueira “Bring The Light”. Um disco completo, e cheio de influências de rock clássico, está previsto para ser lançado logo nos primeiros meses do ano que vem. Já o Gallagher mais velho ainda prefere o silêncio. No entanto, boas fontes indicam que Noel está trabalhando em seu primeiro trabalho solo – e que ele já tem canções do nível das clássicas “Live Forever” e “Don’t Look Back In Anger”. Recentemente, quem falou sobre Noel e seu possível disco foi Miles Kane, que tocou guitarra em uma das faixas que deverão compor o CD, ainda sem previsão alguma de lançamento. Por enquanto, Liam está na frente.
__Aaaah, essas listas | Chega dezembro e tudo o que move os blogs e sites sobre música são as famigeradas listas dos melhores do ano, que acaba de chegar a seus últimos dias de vida. Polêmicas, discussões, opiniões e injustiças divertem os mais despreocupados – e que só querem fazer uma listinha pessoal, sem interferir no gosto de ninguém – e atiçam a raiva dos inconformados, que não superam o fato de que banda X ou disco Y ficou de fora da seleção. Se a lista tem só coisa nova, você é um hipster ignorante. Se tem variedade de estilos, você é um sem-critério que gosta de tudo. Se rolam só medalhões, bem, você é um velho parado na era pré-Twitter. Como é impossível agradar a todos, e nem é essa a intenção, o negócio é colocar The Suburbs, do Arcade Fire, no topo dos discos e Paul McCartney como “o show nacional de 2010”. Além de serem escolhas merecidas, poucos hão de discordar.
“Goin’ Out West”, música de Tom Waits, virou um cover classudo e pesado com o Queens Of The Stone Age: http://migre.me/2ts1a
Pra dirigir o clipe da linda “The Suburbs”, o Arcade Fire chamou o renomado diretor Spike Lee. O resultado, que conta com linda fotografia, você vê aqui: http://migre.me/2tsyW
Fomos ao incrível Festival Planeta Terra e contamos o que rolou em vários shows no Playcenter. Teve pra todos os gostos: http://migre.me/2tsnC
Ao que tudo indica, os Strokes finalmente finalizaram seu esperado quarto disco. Quem deu a dica foi o próprio Julian Casablancas: http://migre.me/2tsH8
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BLOGS
__Com o nome de trabalho Strokes IV até o dia que eu estava escrevendo essa coluna, o novo disco da banda de Julian Casablancas aparentemente já foi gravado e segue em fase de mixagem e afins.
__2009 foi o ano do Animal Collective com seu Merriweather Post Pavilion e 2011 deve trazer o novo disco do seu principal criador, até agora batizado Tomboy.
Divulgação
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Reprodução
__Ao contrário do que dizem más línguas, segue firme o tradicional formato álbum na música. 2010 não mente: LCD Soundsystem, Caribou, Chromeo, Miami Horror, Salem… a lista de grandes álbuns lançados é extensa e muitas vezes justificada pela criação temática (The Suburbs, épico do Arcade Fire), cumprimento de enormes espectativas (Kanye e o elogiadíssimo My Beautiful Dark Twisted Fantasy), capacidade de contar uma história (Chemical Brothers) ou até embalagem cuidadosa (of Montreal e seus vinis vermelhos). 2011 já anuncia bons discos. O U2, por exemplo, pretende lançar não um, mas três álbuns (se isso é vantagem, não sei). Na mesma onda grandiloquente, Lady Gaga pode lançar dois novos trabalhos e o Aphex Twin anunciou nada menos que seis álbuns em sequência pela Warp. Uma seleção bem mais interessante saiu no Stereogum em novembro. O influente site fez a lição de casa pra gente e listou 100 álbuns que poderemos ouvir em 2011, entre confirmações já com data de lançamento e boatos. Estão lá os novos de Burial, Toro y Moi, Explosions in the Sky, Beck, Nick Cave, The Go! Team, M83 e Santigold.
__Prometido para o primeiro mês do ano, o terceiro álbum dos australianos vem psicodélico e veranil. Duas primeiras faixas (procure Cut Copy no rraurl. com para ouvir) mostram um som bem diferente do synth-pop de In Ghost Colours.
__A trilha-sonora de Tron: Legacy, feita pelo Daft Punk para os estúdios Disney, já vazou, mas só terá lançamento oficial em dezembro, o que a coloca desde já como um dos grandes do ano que vem.
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ON THE ROAD / SUMMER 11
E L E M E N T S K AT E B O A R D S { C O M } { FAC E BO O K . C O M / E L E M E N T S K AT E B O A R D S B R A S I L } @ E L E M E N T B R { T WIT T E R }
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SCREAM & YELL
SCREAM & YELL
Reprodução
Divuglação
BLOGS
__Parecia um domingo qualquer em São Paulo, mas não era. Em um intervalo de quatro horas, dois personagens icônicos da música mundial estenderam até o infinito os limites daquilo que se convencionou chamar de rock. No Sesc Pinheiros, Lou Reed praticou anti-música. No Estádio do Morumbi, Paul McCartney mostrou quantas melodias pegajosas são necessárias para fazer milhares de
pessoas chorarem. Dois gênios enclausurados num raio de sete quilômetros de distância física, e milhões de anos-luz de distância musical. Parece que desde o início dos tempos foi assim. Enquanto, em 1967, Lou Reed cantava “Venus in Furs”, Paul McCartney valsava “When I’m Sixty-Four”. Paul era mainstream. Lou era underground. Ambos deixaram suas bandas. Lou virou mainstream (por um curto período de tempo) enquanto Paul batia asas e fugia. Quarenta e tantos anos se passaram, e cá es-
tão os dois ostentando 68 anos e toda idiossincrasia que os tornaram míticos. Lou, visivelmente debilitado, orquestrou o barulho conduzindo uma plateia mezzo deslumbrada, mezzo irritada pelo caminho do noise jazz. Uma hora de sonoridade ensurdecedora, algumas raras linhas melódicas, e um presente especial no fim. Paul, impressionantemente em forma, deu ao público aquilo que ele sabe fazer melhor: entretenimento. Em certo momento da noite de domingo, sozinho no palco, frente a mais de 60 mil pes-
soas, ele tocou violão como se estivesse fazendo a coisa mais simples da face da Terra. Há uma interessante disparidade na apresentação destas duas personalidades da música pop que possibilita fincar bandeiras em territórios antagônicos do espectro musical, sem desmerecer ninguém. Lou Reed atravessa o fogo. Paul McCartney encontra bobos na colina. E é tudo... música. Entregue-se.
FORA do eixo
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BLOGS http://musicalmenteplural.blogspot.com
__A 2ª edição do Festival Musical Mente Plural se aproxima: entre os dias 01 e 03/12, a Universidade Federal Fluminense, em Niterói/RJ, vai receber shows, oficinas de slackline e grafite, mostra de vídeos e o Observatório Fora do Eixo, que vai debater as alterações da Lei de Direitos Autorais, a Convergência Tecnológica e as Novas Mídias, e a Execução de Músicas Online. Todas as atividades são gratuitas. O palco reunirá atrações de destaque na cena independente nacional, como BNegão e os Seletores de Frequência, Emicida (lançando a mixtape Emicídio) e Tereza e Sobrado 112, além de uma excelente mostra de artistas da faculdade, como Giras Gerais, João Guarizo e Loçau e Rivotrio 2mg. Saiba mais: http://musicalmenteplural.blogspot.com
Divulgação
__Vinil Laranja é como se intitula a banda belenense formada por Andro Baudelaire, Bruno Folha, Saul Smith e Netto 2T. Com quase seis anos de carreira, a banda tocou em alguns festivais pelo Brasil e ainda a convite de Brent Grulke, apresentou-se no festival texano South by Southwest 2009. Com seu primeiro CD oficial, Unfacelesse Bride, a Vinil Laranja circulou em vários Estados brasileiros divulgando o som produzido, além disso, também teve o clipe que leva o nome do CD veiculado em programas e emissoras de TV, entre elas, a MTV Brasil. O final de 2010 vai marcar uma nova fase da banda, simbolizada pelo lançamento de seu novo EP, via selo Fora do Eixo Norte e Compacto.Rec, sendo produzido por Léo Chermont no Casarão Cultural Floresta Sonora (Belém – PA).
direto ao ponto Durante o período do Carnaval de 2011, serão realizadas dezenas de edições do Festival Grito Rock em todos os cantos do País! Acesse toquenobrasil.com.br e inscreva a sua banda!
Lançado em agosto, o CMFI já contou com 11 festivais realizados e chega ao fim de 2010 tendo ainda 4 festivais pra rolar em dezembro: Marreco (Patos de Minas), La Onda (Vespasiano), Novas Tendências (Uberaba) e #VaiSuldeMinas (Poços de Caldas).
O show #FUTURIVEL é igual a @GilbertoGil + @MacacoBong + DVJ Scan + Banda de Pife Princesa do Agreste + DJ Tudo. “Quisemos fazer um apanhado da música brasileira”, resumiu Gil. A boa é que outros #FUTURIVEIS virão.
De 14 a 17/11 São Paulo recebeu a programação do II Fórum de Cultura Digital, na Cinemateca Brasileira. O #CFE construiu e participou de mesas e debates, auxiliando na fundação da Universidade da Cultura, entre outros. Assista: http://bit.ly/d28S3G
_texto FERNANDO CORREA
PLANETA TERRA //035
Sentado em um flat paulistano, revejo em vídeo momentos marcantes do festival da noite anterior. O líder do Phoenix surfa sobre a multidão; o of Montreal comanda massas com funk puro e deliciosamente corrompido, dançarinos agitam o palco e eu me pergunto se Empire of the Sun e Mika levaram a tendência de coreografias on stage um tanto além. O Yeasayer faz o show mais orgânico e eletrônico, o melhor do palco indie. E mesmo com artistas sabiamente escalados de sobra, numa batalha entre o Smashing Pumpkins e a organização do Planeta Terra 2010, o vencedor é o Pavement.
Quer dizer, o público talvez tenha preferido a desmistificação positiva do Hot Chip, que se mostrou mais de carne e osso (e até rugas); ou o “mashowp”+1 de Girl Talk – no palco, pessoas da produção e do púbico em constante remix, sacudindo e pulando em volta do não menos saltitante Greg Gillis, e, no som, colagens de músicas infinitas que iam de Kelly Clarkson a Afrika Bambaataa em segundos. Parece que a mistura de rock com eletrônica atingiu o status de carne e osso. Parece que o Planeta Terra é um festival de carne e osso. Pelo lado figurativo, tem carne e osso porque é consistente. Quem está no festival pela primeira vez percebe que voltará nas próximas edições com a ideia de satisfação garantida. Os que foram à anterior viram Iggy Pop estriquinado convidar uma galera ao palco dos Stooges, que em tudo remetiam ao que devem ter sido um dia. Um vestígio da sensação de um ano atrás ainda resta em quem aguarda os shows – do Empire of the Sun e do Smashing Pumpkins, do Holger e do Pavement. É um festival, de fato. Não os que encantaram o Brasil durante a ditadura militar, nem a experiência
de vida de um Coachella, de um Glastonbury ou de um Woodstock, mas tem tanto a ver com a denominação quanto. Concentradas em uma efêmera tarde-noite, tocam bandas que trafegam entre dois extremos, e consolidam o Planeta Terra como um festival que equilibra festa e rock – e cerca tudo com um parque de diversões livremente acessível para quem tiver energia. Pelo lado biológico, a carne e o osso são o que falha. Falha um pouco a equipe de seguranças, que por menos tensionada que seja, sempre revela a truculência. O ser humano, seja ele o arrogante Billy Corgan, o desmotivado Stephen Malkmus, o cara da plateia que não sabe a diferença entre confraternização e confronto. E falha o tempo, que não se multiplica. Como todo bom festival, no Terra há momentos em que, para ver a coisa muito legal, é preciso abandonar a muito boa. De início, Mombojó, no palco Sonora Main Stage, e Hurtmold, no Gillette Hands Up Indie Stage, já causavam dúvida, ambos voltados – em diferentes medidas e abordagens – para o capricho instrumental e bem falados por quem pôde sentir seus estímulos. Em seguida
[+] Clicando em http://bit.ly/videosterra você assiste ao festival completo. A qualidade de som, embora satisfatória, compromete bandas que dependem mais de guitarras. [+1] Show de mashups.
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As 11 horas de música dependeram do trabalho de 1549 pessoas e contaram com público de 20 mil. Os sistemas de som somaram 600 mil watts de potência e o de iluminação consumiu outros 700 mil watts. Boa parte disso foi viabilizada por R$ 17,5 milhões em patrocínio.
[+2] Falando em of Montreal, Kevin Barnes e cia. lançaram um clipe bacana. No mundo de “Famine Affair”, dirigido pela mulher de Barnes, o homem leva o potinho de esperma e são as líderes mulheres que se viram na magia da procriação. http://bit.ly/famineaffair [+3]
[+4] Ou “aerobixa e ávida”, como sugeriu o corretor ortográfico do celular em que eu anotava as impressões do show. [+5] http://bit.ly/fisical [+6] http://bit.ly/ passionoglaston [+7]
ficou mais fácil: a inclinação para a canção dos Novos Paulistas não compete tanto por público com o menos econômico e mais anárquico Holger. A onipresença de São Paulo dentro do festival paulistano foi forte, como dá para ver.Talvez por isso, a essa hora a maior parte do público parecia estar ou na modesta fila do lado de fora, ou nas mais demoradas, que levavam à montanha russa, ao evolution e aos tíquetes para o bar. Não tardou a começar o of Montreal+2 e tudo mudar de figura. No palco principal, centenas de metros distante do palco indie em que o Holger causava boa impressão e divertia, Kevin Barnes e cia. repetiram o que têm feito na recente turnê de False Priest+3, disco que lançaram em 2010 e leva adiante a etapa funkeira vs. oitentista que Barnes adotou nos últimos álbuns. Adentram o palco seres fantásticos. “Serão galos gigantes?”, paira a dúvida. Seguem-se sons, ao que a banda começa a tocar “Black Lion Massacre”. A cena teatral não carece de enredo; Barnes entra no palco, começa “Coquet Coquette” e o contágio se estabelece. Ao som de grooves hipnóticos, a energia do show do of Montreal é física. Estivéssemos no Planeta Terra 2000 e ela seria ainda mais lisérgica, feito um chapeleiro maluco tocando folk. Em 2010, é aeróbica e ácida+4, e tem seu ápice com a explosão de “Gronlandic Edit”, quando os cérebros são abatidos por um falsete certeiro. Essa vibe “physical”+5 deve guiar quem se diverte, até porque o som no fim de tarde era cristalino, mas carecia de gordura para o baixo soar forçudo. Tivessem tocado no palco indie, talvez causassem um verdadeiro caldeirão, como fez o Yeasayer, que também dependia de sintetizadores e baixo presentes. Teclados analógicos, eletrônicos ou sintéticos foram
quase obrigatórios em todos os shows daquele recanto do PlayCenter. Mas no caso do Yeasayer, eles estão a serviço de texturas bem mais específicas: a pilha é festeira, no entanto a vibe é quase tribal e espiritual (ou será o contrário?). Extremamente pop, muito bonito, executado com excelência, o som do Yeasayer é fruto de um estofo que a entrevista publicada nesta edição da NOIZE ajuda a esclarecer. O Terra escurece. Se ele durasse vários dias, sugere a Lei de Murphy que a noite não seria tão bonita e especial, com a lua cheia a inspirar quase todo mundo – Stephen Malkmus e Billy Corgan devem ser míopes. Beneficiário dessa atmosfera, Mika fez sua dança para a lua, uivou como um lobo, floresceu no palco. Suponho tudo isso por relatos, porque continuei no palco indie – que, batizado pela Gillette, abriu espaço para trocadilhos e piadinhas preconceituosas daqueles que não gostam de teclados. O rock festeiro teve sequência. O Passion Pit provou errada a impressão que fica dos seus shows, em vídeo+6: a de que a voz de Michael Angelakos só funciona com intermédio do ProTools. Conseguiu, não sem muita língua de fora, perdigoto e contorcionismo. Talvez por isso a banda tenha apresentado um dos ótimos shows do festival, ao ponto de parecer “punk” cantar fino e “ligar o foda-se” pro conservadorismo roqueiro de ontem. Haja fôlego para manter com falsetes a base dançante e colorida, os beats negros para a voz rosa. E os sintetizadores, esses incansáveis. O show do Phoenix, o primeiro (e talvez o maior) a realmente bombar, consistiu numa mão cheia de músicas, lançadas pelos franceses em 11 anos de atividade, e no álbum Wolfgang Amadeus Phoenix+7 executado praticamente na íntegra, a começar pelo
_FOTOS: Fernando Schlaepfer
Fernando Schlaepfer
noize.com.br
ARIEL MARTINI
ARIEL MARTINI
Fernando Schlaepfer
STARTS WITH YOU
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_FOTO: Fernando Schlaepfer _FOTO FUNDO: ARIEL MARTINI
PLANETA TERRA //041
seu maior hit, a faixa de abertura “Lisztomania”. Foi um início avassalador. Durante a hora e meia de show, foram aplaudidos e retribuíram com o carisma esperado. Franceses que optaram por cantar em inglês já indicam uma certa simpatia, contrária ao senso comum. Musicalmente, trata-se de uma banda que transitou entre o rock e o eletrônico e acertou a mão em um disco de grande repercussão. O preço que o início apoteótico cobra: a empolgação da primeira música só foi retomada ao fim do show, quando dezenas de milhares de pessoas serviram de mar, em que o vocalista Thomas Mars pôde nadar como um rei. Alcançou um mastro no meio do público, escalou-o e levantou os braços, sendo ovacionado por cometer um dos mais antigos atos de cumplicidade roqueiros. Maestro, mastro e mestre têm raízes etimológicas parecidas, imagino eu. Mars juntou as três coisas e garantiu o lugar nas câmeras fotográficas que viam mais que os próprios olhos, como já é de praxe. O mar que sustentara Mars minutos antes agora parecia revolto. A corrente rumava para o show do Empire of The Sun, banda que surgiu como pastiche relativamente oculto do MGMT e acabou por ganhar atenção nas ondas do rádio e na cola do relativo fracasso de Congratulations+8, ignorado segundo disco dos garotos do Brooklyn. No Planeta Terra, o Empire brilhou com pequenos hits como “Walking on a dream” e “Half Mast”, tratando de marcar, com o visual star-wars-andrógino que deve acabar ocupando, na memória das pessoas, o espaço onde deveria estar sua música. Falo tudo isso sem razão, pois não os vi tocar. Em vez disso, aproveitei o fluxo do povo e, contrário a ele, me posicionei em frente ao palco principal para ver uma das bandas que legou o termo “indie” para o mundo corromper à vontade. O show do Pavement foi o que se esperava. O problema é que só um quinto do povo esperava. Este quinto (e talvez uma outra fração, convertida no ato) aproveitou o show, certamente mais do que o frontman Stephen Malkmus – que mais parecia um “rearman”, recluso ao lado do amplificador sempre que não precisava cantar. Seu comportamento largado refletiu pouco nas músicas, que entregaram um pouco da sujeira e
da melodia cuidadosamente desafinada e espalhada ao longo de 5 LPs, lançados entre 1992 e 1999. Até “Box Elder”, do EP Slay Tracks+9 (1989), teve vez no set list democrático executado pelos cinco comparsas. Perdeu velocidade e ganhou ares de Neil Young country folk, notável referência em boa parte do que se convencionou chamar de rock indie e alternativo no início da década retrasada. De pouca comunicação, suprida em parte pelo guitarrista Scott Kannberg e o percussionista Bob Nastanovich, o maior recado mandado por Malkmus foi para Billy Corgan. No meio do caminho, entre a abertura com “Gold Soundz” e a despedida com “Here”, Malkmus não suprimiu “Range Life”, causa de uma histórica rixa entre ele e o líder do Smashing Pumpkins por questionar, em sua letra, o significado da banda de Corgan para o mundo.+10 É que Malkmus não é fã. Estes entenderam tudo quando as ruínas da banda assumiram o papel de fechar a noite no palco principal. Quem era fã gostou da ênfase metaleira dada por Corgan na execução dos clássicos. O suspiro recente “Song for a Son” seria um dos momentos mais tragáveis dos novos esforços de Corgan, não tivesse ele cagado tudo e cuspido em cima ao questionar a plateia sobre o país em que estava e consertar, dizendo: “Garanto que vocês vão fazer festa pra caralho e depois assistir ao sol nascente na praia ouvindo Manu Chao”. Sim, Corgan, qualquer coisa menos seguir encarando sua cara de nádega. Do outro lado do parque, a invasão que faltou no palco principal (porque Corgan é um “coração gelado”+11) rolou no show do Girl Talk. Gente da produção, público e bandas subiram para uma festa super intensa, colorida e sob controle, dessas que combinam com... mashups. Munido de computador e pouco equipamento (quem precisa de mais?), o DJ Gregg Gillis garantiu o “vamopulá” da noite em misturas que, às 3h, faziam mais sentido do que no momento em que, sentado atrás da tela maldita, penso estas linhas. É claro, eu estava no festival de carne e osso. “Há um monte de bandas legais, obrigado por ficarem de pé e me verem fazer meu lance”, agradeceu Gillis. Havia. Houve.
[+8]
[+9]
[+10] Na última estrofe da música, Malkmus canta: “Em turnê com o Smashing Pumpkins/ Garotos da natureza, eles não tem função/ Eu não entendo uma palavra do que dizem/ E estou pouco me importando.” [+11] http://bit.ly/ corganfalou
_texto NICOLAS GAMBIN
GRAFORRÉIA XILARMÔNICA //043
Atonalismo radical, polirritmia livre, poesia escrachada e o verbo solto. Sobram definições quando se tenta classificar a obra da GraforréiaXilarmônica — uma vírgula no rock brasileiro, lapidado geralmente por clones, traduções e versões de artistas gringos.
“As pessoas escutam e pensam: tá errado.Tá errado dentro do cérebro ‘abostado’ de quem diz que está errado”, retruca, à altura, o baterista Alexandre Birck+1. Neste ano, comemoram-se 15 anos do álbum Coisa de Louco II+2, clássico nato. Sim, o de “Amigo Punk”. Quem nunca entoou junto ao coro que abre a epopeia em formato de milonga? Gravado no falecido estúdio Isaec, produção de Carlos Miranda, traz o que a banda tem de melhor e peculiar: beat acelerado, baixo marcado e estalando tríades, linhas caóticas de guitarra. “Se fosse pra fazer algo que a pessoa ouvisse e não achasse nada de estranho, eu não faria”, garante o guitarrista Carlo Pianta. Redundante explicar a expressividade da química musical alcançada pelo grupo, que liquidificou diferentes informações e influências da juventude pós-Roberto e Erasmo Carlos, para não citar Beatles e Beach Boys, e exprimiu sonoridade única. “O mundo tá cheio de bandas parecidas. A Graforréia não se encaixa em estilo algum”, antecipa Frank Jorge. A real é que ninguém levava a sério o som que eles criavam na década de oitenta, quando embalavam
pequenas festas e contavam ainda com Marcelo Birck na formação – fundador, que tempos depois deixou o projeto de lado para seguir carreira solo, contudo, continuando a participar das composições e se mantendo como pilar fundamental, intrínseco ao trabalho desde sua gênese. “O Marcelo tinha maestria única, ao montar uma espécie de colagem musical, unindo artes plásticas, cinema e vocabulário pop, ou duas canções inacabadas, como, por exemplo, ‘Patê’, que unia baião ao rock. Ele era o arquiteto desse tipo de coisa”, destacam. “Na verdade, o repertório total, que já deve estar numas 80 músicas, é, digamos, 80% ou do Frank ou do Marcelo ou dos dois, parte delas surgidas durante ensaios corriqueiros. Ideia, ideia, ideia... e ia saindo, como ‘Picardia’ e ‘Literatura Brasileira’”, diz Pianta. “Há outro [repertório], baseado numa parceria entre eu e Pianta, mas que não foi tão trabalhado ainda, apenas numa formação alternativa, com a Biba Meira (bateria)”, adverte Frank. A trajetória Xilarmônica “Conviver muito, andar junto, ‘trocar perna’, isto é, caminhar a troco de nada, como qualquer adolescente, dividindo alegrias, agonias, falando muita merda,
[+] myspace.com/ graforreia [+1] Confira o documentário sobre a banda “Erga-te”, disponível no Youtube [+2]
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“Se fosse pra fazer algo que a pessoa ouvisse e não achasse nada de estranho, eu não faria.” Carlo Pianta
[+3]
[+4] Participaram da compilação cinco bandas, como a Little Quail & The Mad Birds, de Brasília, que mais tarde se tornaria a Autoramas.
bobagens que nós nos mijávamos de rir, e às vezes, disso saía uma frase que geraria letra”, conta Frank, que possui visão deveras lúdica sobre o início. Ex-De Falla, Carlo Pianta se une à parceria de Frank e irmãos Birck. “A forma como o Pianta tocava era incrível, única”, garante Frank. “O Marcelo tinha formação com pé forte na música acadêmica do século 20. Quando convidado, eu vinha trabalhando com solos e abordagens que ele também estava ligado”, esclarece Pianta, que pode ser comparado a uma cruza do dodecafonismo do compositor Arrigo Barnabé e da atonalidade de Robert Fripp (líder do King Crimson, com quem estuda até hoje). Ou, como define Alexandre Birck, em linguajar próprio, “ele cacareja a guitarra, com toda a força de sua alma galinácea”. Poucos shows, entre 1986 e 1990, marcam a primeira fase da Graforréia, em que é gravada a fita demo +3, antes de interromperem as atividades. A fitinha, editada pela Vórtex, foi das mais vendidas do selo, junto de Cascavelletes. “Nessa época, tocamos apenas em Porto Alegre, digo tranquilamente que não tinha pretensão de estourar com a Graforréia, pois já estava inserido profissionalmente em outra banda”, explica Frank. “Estourar? E quem ia fazer isso pela gente? Não tínhamos produtor, nada”, exclama Pianta. A volta acontece dois anos depois, quando Pianta e Alexandre se instalam no litoral gaúcho e por lá passeava também Frank Jorge. Entre uma garrafa e outra de cachaça, decidem o retorno e realizam show na mesma noite. “Depois, o Frank vomitou por toda a praia!”, recordam. Marcelo Birck não demonstra interesse em continuar. Seguem em power trio, com apresentações esporádicas. “Foi inusitado e gerou os primeiros shows da Graforréia fora do RS, em Chapecó e Curitiba”, lembra Frank. “Foram importantes na história da banda, pois até então não havia noção nítida do alcance, já que era um período pré-internet total, e vimos que tínhamos muito público, começou a acontecer coisa bacana no
decorrer”, continua. “Tavam rolando cenas bem a ver entre si, no perfil alternativo, independente.” O vai-e-vem da demo entre fãs atrai olhares de plagas distantes. Morando em São Paulo e labutando com membros dos Titãs no recém-criado selo Banguela Records, filiado à major Warner, o jornalista e produtor Miranda recebe com empolgação a notícia da reunião xilarmônica e passa a antiga fitinha do grupo para todos ouvirem. Junto de Raimundos e Mundo Livre S.A., a Graforréia entra para o cast inicial da gravadora – um marco dos anos noventa. Antes, ainda no selo Eldorado, gravam a coletânea A vez do Brasil, com bandas de outras regiões+4. “Curioso que fomos uma das primeiras bandas do Brasil a ter CD”, diz Frank. “A coletânea foi gravada em São Paulo, a gente circulou por lá, gravamos na MTV, conhecemos bandas e começamos a ter uma realidade mais profissional, o que foi ponte para o convite de Miranda.” O lance era misturar música regional com rock e, numa visão cartográfica, a Graforréia acabou representando o sul. “O Miranda foi quem alavancou isso.” O tiro certeiro Em 150 horas, seguindo o padrão proposto pela Banguela Records, pariu-se Coisa de Louco II. “O objetivo era fazer uma coisa ‘profí’, mas sem viajar na maionese”, observam. Foram gravadas as bases e, em seguida, os overdubs. “O repertório tava bem afiado, ficou muita coisa de fora”, diz Frank. “Isso era o que caracterizava a Graforréia, a facilidade de compor material, rapidez em estúdio, mesmo com poucos discos lançados.” Da produção de Miranda, destacam: “Ele escolheu o estúdio, organizou tudo, já que se relacionava há tempos conosco. No grupo, cada um tinha sua visão. E ele era um cara que todos curtiam, o disco ficou afinadinho, com um sonzão.” Miranda havia representado papel importante na década anterior, quando criou a Urubu Rei e incentivou a cena local. “Ele costurou contatos e expandiu a coisa, emprestando discos, lembro
Marcelo Nunes
GRAFORRÉIA XILARMÔNICA //045
[+] A Graforréia na época da gravação de Coisa de Louco II: Pianta, Birck e Frank.
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Arquivo Pessoal
[+] Frank ao piano durante a gravação de “Nunca Diga”.
GRAFORRÉIA XILARMÔNICA //047
“Pianta cacareja a guitarra, com toda a força de sua alma galinácea.” Alexandre Birck de ir na casa dele e ficar bestificado com a quantidade que ele tinha, de punk, new wave, na minha vida foi muito importante, do ponto de vista musical, artístico e executivo, de elencar a Graforréia no projeto”, conta Frank. Fato inédito, desta vez tinham apoio e equipe auxiliar, técnicos, produção e estrutura para divulgar nacionalmente o resultado+5. “Primeira vez que gravamos com produtor em cima do jeito de tocar, ele cobrava muito nos takes, ‘toca com vontade’, ‘faz isso’, sempre implicando na interpretação vocal, passei a cuidar do registro de voz, que até hoje é problemático pra mim”, conta Frank. “Tá muito além de produtor, baita amigo, queridão, que teve convicção de nos mostrar ao Brasil.” O lançamento nacional ocorre em São Paulo, em esquema armado pela gravadora.Todavia, “a Banguela Discos já estava... banguela!” Assim que o álbum é registrado, o selo deixa de existir, acarretando precária distribuição. “Como a Banguela era um ‘selito’, a gente ia tocar e não tinham discos nas lojas, tínhamos que comprar na fábrica e vender, comprávamos um caixotão e levávamos nas cidades vizinhas, de carro”, observa Frank. “Chegou em alguns lugares, uns compraram, outros não. Certa vez, alguém foi num mercadão, lá em Itaguatinga-DF, e tinha o caixotão com uns discos nossos”, Pianta tira um sarro. A zebra com o selo Banguela entra para a “lista de azares” da banda, juntamente com outro episódio, no qual um diretor da ex-Polygram demonstrou interesse em contratá-los e... acabou falecendo, dias após, de ataque cardíaco. Coisa de Louco II não vendeu mais do que 5 mil cópias, número insignificante para o mercado massivo. Mas recebeu aura “cult” e fez com que se apresentassem em outros estados. Sobre a recepção do público ao redor do Brasil, brincam, entre gargalhadas: “Eles sempre são parecidos. A gente vai num lugar, o local enche. Um terço do público são fãs, outros que estão no bar curtindo, e o último terço, que foge correndo!”
Sonho eterno Depois da estreia nacional, ainda compuseram Chapinhas de Ouro+6 (1998), de forma independente, com equipamentos simples. “Fizemos com fita fina, tem um som mais... que não se encaixa naquele padrão de produção do Miranda”, contam. “No Coisa de Louco, gravamos com umas fitonas. Mas fizemos o Chapinhas com qualidade baixa mesmo, foda-se, entendeu? O único detalhe é que, na mixagem, o Alemão e o Frank já estavam mortos, dormiram o tempo inteiro (risos). Eu assumi”, acrescenta Carlo Pianta. “Existe a ilusão de que disco é ápice, que é só gravar e portas vão se abrir, não é, são mil problemas, um mundo extremamente competitivo, todos disputando espaço”, diz Frank. “Escolhemos um jeito nosso e conseguimos transitar numa boa, do fanzine mais alternativo ao mainstream.” Em 2000, tocando no bar Ocidente, anunciam que seria o último show. O segundo final da banda. E que, como da outra vez, não se consumou. Entre pausas e recomeços, gravam, em 2005, ao vivo, no antigo bar Manara, registro produzido por Kassin e disponibilizado pela SenhorF Discos. Sem pretensões megalomaníacas ou narcisismos torpes, ao contrário, como forma de resgatar e explorar algo prejudicado por motivos totalmente alheios, a Graforréia mantém esperança de que Coisa de Louco II possa ser relançado e divulgado de modo equivalente a seu peso histórico e influência. “É um projeto eterno, na verdade sempre tivemos várias ideias”, diz Pianta. “Não é algo consolidado, mas iniciei um diálogo desse teor com Charles Gavin, que tem um trampo na Warner, seria bacana, dignificante pra banda, pra geração nova que tá aí, gente que cresceu ouvindo Nirvana, outra que cresceu ouvindo Radiohead, mesmo que não estejamos estouradões na mídia, o pessoal não tem preconceito, acaba tendo curiosidade e aceita com naturalidade estilos diferentes, em função da internet, há abertura”, revela, para NOIZE, Frank Jorge. Quem sabe?
[+5] A equipe de gravação contou com a experiente assistência de Thomas Dreher e Egisto Dal Santo. Márcio Petracco auxiliou na timbragem e manutenção dos instrumentos. [+6]
_texto Fernando correa
_FOTOS Fernando Schlaepfer
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Não havia muito público quando Chris Keating, Anand Wildner, Ira Wolf Tuton, Jason Trammell e Ahmed Gallab subiram ao palco indie do Planeta Terra, prestes a fazer um dos melhores shows da noite. Como em uma versão humilde da velha tradição do rock—a de que grandes momentos são presenciados por poucos—, senti que estava vendo o primeiro show do Yeasayer. Fosse assim, eu seria o jornalista sortudo que conseguiu entrevistá-los dias antes de serem revelados para o mundo.
Por sorte, o Yeasayer atraiu atenção há tempos, e se ele foi convocado para o Planeta Terra, muito se deve aos dois discos (All hour Cymbals+1, de 2007, e Odd Blood+2, de 2010) que denunciam o passado eletrônico do comandante Keating e seus trampos com hip hop, além do interesse irrestrito de todos na banda pela música do mundo. Eu nunca havia usado a palavra “orgânico” até perceber, no show deles, que ela seria perfeita para descrever a fluidez com que canções como “Madder Red”, “2080” e “ONE” parecem ressonar em receptores específicos dentro da caixa torácica de quem os vê, e certamente deles mesmos, em uma experiência próxima do espiritual. O Yeasayer é o Brooklyn, e seu som é o som do distrito nova-iorquino que mais atrai seguidores por projetar a música que se tornou irrotulável. É verdade que também adquire detratores que veem o que acontece lá como obra de hipsters que engolem tendências e as vomitam em uma rasa superfície, na qual referências orientais têm a mesma profundidade que barulhos feitos com iPhone. Se é verdade que o Yeasayer não faz distinção entre música eletrônica e étnica, como revelou Keating na entrevista que você lê a seguir, há na banda um mojo, um inegável elemento aglutinante difícil de refutar. As entoações orientais e
hipnóticas, por exemplo, saem das competentes cordas vocais de Wildner, que em tudo lembra um indiano. Quando canta e toca guitarra, fica claro que o Yeasayer não é a banda de um só talento. Conversei apenas com Keating—um de cinco—para tentar revelar um pouco mais sobre todos. Como trabalhar em uma banda que depende tanto de eletrônicos no processo criativo se compara com o que você cresceu acostumado a fazer? Meu background: eu sempre consumi música eletrônica. Comecei a mergulhar na música com sintetizadores, samplers e atuando como DJ quando adolescente, então esse foi meu primeiro instrumento, eu nunca toquei guitarra ou algo do tipo, toquei só um pouco de bateria. Então, para mim, ter elementos eletrônicos em uma banda parece fazer perfeito sentido. A música do Yeasayer é ao mesmo tempo cheia de texturas e camadas, mas também econômica e precisa nos elementos que vocês adicionam. Como acontece esse processo de incrementar uma base que é, normalmente, pop e dançante? É tentativa e erro?
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“Penso que, escutando música africana, ou do Brasil ou do Oriente Médio, eu tenho ideias diferentes, são maneiras difíceis e desafiadoras de se pensar. Mas não sinto que nenhuma dessas músicas sejam mais significativas que a parte eletrônica.” Sim, sim, sim, acho que é tudo um pouco tentativa e erro, você tem uma ideia da qual gosta e trabalha em torno dela. Na maior parte do tempo você está apenas testando todas suas ideias, e a maioria delas não é muito boa (risos).Você apenas insiste e trabalha nelas. Em algumas músicas você trabalha por 3 ou 4 meses, e realmente não está acontecendo nada até a última semana de trabalho, então você finalmente tem a grande transformação. Muito como uma escultura, você começa com um grande pedaço de mármore e vai lapidando, apenas no fim do caminho é que a coisa começa a tomar forma.
[+3] Pode ser que ele tenha falado de outro nome, quem sabe Pantha du Prince, mas é bem provável que seja Prince, mesmo. [+4] O Zeitgeist significa, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo... Ou http://bit.ly/outrozeitgeist [+5] Vídeo de Madder Red: http://bit.ly/ crazyyeasayer
Então a música de vocês passa por muitas formas até se transformar no produto final? Sim! Uma vez li uma coisa sobre Prince+3 escrevendo músicas. Lembro de ler que ele—você sabe, suas músicas são mesmo perfeitas e tão minimalistas— adicionava muitas camadas de instrumentos, e eram camadas, e camadas e camadas, então ele passava a ouvir coisas que inicialmente não tinha planejado e começava a cortar tudo até que sobrassem apenas os elementos mais essenciais. Assim ele encontrava suas lindas melodias. É assim que trabalhamos. A base da sua música é pegajosa e pop, mas é recoberta com elementos lisérgicos. Que lugar ocupa a psicodelia na história de vocês? O termo psicodelia e rock psicodélico… este termo, ser “psicodélico”, para mim significa apenas tentar usar sons que não são familiares, que não são sons tradicionais. É isso que o movimento fazia—o movimento psicodélico surgido nos 60—você experimenta, pega um som e inverte, o tipo de coisa que os Beatles faziam. Quando leio textos nos rotulando de psicodé-
licos, sinto que eles o fazem não querendo dizer que nós tentemos referenciar os Beach Boys, os Beatles, o Strawberry Alarm Clock ou quem quer que seja. Acho que estamos tentando experimentar com o som, criar sons e usar sons que não são ouvidos tradicionalmente de instrumentos normais. E eu cresci fazendo isso. O contraste que resulta disso é parte da sua busca por originalidade? Sim, eu acho que estamos sempre tentando ser originais, mas quando você decide trabalhar em um formato pop, quero dizer uma música relativamente curta, com uns 4 minutos, e a melodia, o verso, um refrão, você está se limitando. E é bem legal, porque você precisa se colocar nessa caixinha e tentar ser original e criativo dentro dessa estrutura.Você sabe, acho que é divertido e dá às pessoas um ponto de acesso e uma familiaridade com a estrutura, e você trabalha dentro disso para ser original. A psicodelia é um gênero que está em constante atualização, mas recentemente viveu um inegável revival.Você acha que tem mais a ver com o zeitgeist+4 ou com uma exaustão das formas pop que leva a mais experimentação? Não tenho certeza, sinto que as pessoas estão sendo mais recompensadas por sua experimentação em termos de música pop desde o colapso do tradicional sistema de grandes gravadoras. Então não há tanta pressão ou as pessoas não se cobram tanta adequação, porque não esperam vender muitos discos. Pessoalmente, eu não espero nem que minha banda esteja no rádio. Então você faz o que dá vontade, e começa a explorar outros caminhos e a apenas tentar ser mais abstrato e psicodélico. Acho que há provavelmente um
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“Quando você decide trabalhar em um formato pop, você está se limitando. E é legal, porque você precisa se colocar nessa caixinha e tentar ser original e criativo dentro dela. É divertido e dá às pessoas um ponto de acesso e uma familiaridade com a estrutura.” ressurgimento do interesse na cultura psicodélica e de uso de drogas dos anos 60, particularmente nos Estados Unidos, porque passamos por duas guerras, e você pode traçar paralelos com o Vietnã; eu testemunhei tudo isso em Nova York, especialmente nos anos 2000. Você se mudou para aí anos atrás, o quão inspiradora é a música de Nova York de hoje e do passado para você? É definitivamente muito inspiradora. Nova York sempre foi um lugar muito criativo, seja pelo jazz ou pelo Velvet Underground, o Talking Heads, o hip hop da década de 80. Passa por altos e baixos. Quando me mudei para cá, achei tudo muito inspirador, eu toco muito e, estando em uma banda, conheci muita gente de outras bandas que tiveram algum sucesso. Sabe, gente do Dirty Projectors, MGMT,Vampire Weekend, bandas que estão rolando agora. E acho todos muito talentosos e é muito inspirador ver o que eles fizeram ao longo dos últimos 5 anos. Odd Blood tem algumas mudanças significativas em termos de composição. Elas vêm como uma necessidade natural? É importante para mim, como artista, tentar criar muita coisa diferente. Fica muito chato quando você para de se desafiar. Se você tenta fazer arte, e fazer algo interessante, você deveria tentar escrever músicas diferentes com abordagens diferentes. Os vídeos do Yeasayer são bonitos e originais, mas também muito estranhos+5. As ideias visuais correspondem às imagens que vêm a sua cabeça quando está compondo as músicas? São elementos visuais amplos que surgem quando
estamos trabalhando na música, como conceitos vagos. Quando estou compondo, tenho imagens na minha cabeça, e daqui a pouco você tem muitos sons que começam a tomar forma, como um cenário visual, e eu tento comunicar essa ideia para o nosso diretor de arte ou a equipe com quem trabalhamos, tentamos comunicá-los sobre nossa proposta. Então o resultado é uma ideia parcialmente nossa, parcialmente deles. De maneira que é juntos que tentamos sempre romper barreiras com os vídeos, oh yeah. Vocês gravam parte de seus discos em casa, certo? É a melhor forma que acharam para trabalhar? Gravamos All Hour Cymbals em casa. Para Odd Blood alugamos uma casa em Woodstock, distante duas horas subindo as montanhas a partir de Nova York, e construímos um pequeno estúdio temporário. Acho que trabalhar em casa é a melhor forma, com a qual me adapto melhor, porque é o que sempre fiz. Não gosto tanto de estúdios profissionais. Para nosso próximo disco estamos começando a pensar em construir um estúdio em Greenpoint, no Brooklyn, então será um estúdio, e será nosso—será muito legal. Vocês se ligam em música do mundo todo e isso reflete com peso nas suas composições. É como se prestassem alguma forma de tributo? Eu sinto que música está em constante diálogo e intercâmbio de ideias entre diferentes gêneros e culturas, e que, escutando música africana, ou do Brasil ou do Oriente Médio, eu tenho ideias diferentes, são maneiras difíceis e desafiadoras de se pensar. Mas não sinto que nenhuma dessas músicas sejam mais significativas que a parte eletrônica, são apenas outros ingredientes.
_texto MARCELA BORDIN
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Kings Go Forth é uma das bandas que simbolizam o retorno da soul music, ou soul revival. O grupo, originário de Milwaukee e composto por nove, às vezes dez, integrantes de faixas etárias e backgrounds variados, é notório por um som repleto de harmonias e produzido com técnicas herdadas do soul e funk. As particularidades da sua música levaram o Kings Go Forth a carregar o bastão de herdeiro e representante contemporâneo de um gênero musical tão aclamado quanto saudosista. E se de um lado isso vem ajudando o álbum The Outsiders Are Back+1 (lançado em abril deste ano) a se destacar aos olhos da crítica, de outro não passa de uma criação da mídia para vender discos. A opinião supracitada é do baixista e fundador do Kings Go Forth, Andy Noble, 34 anos, que concedeu entrevista durante o festival Austin City Limits, no Texas.
A rotulagem incomoda Noble, que, além de colecionador de vinis e ex-proprietário da extinta loja de discos raros Lotus Records, é também apreciador de ritmos e gêneros musicais herméticos— aqueles que, como ele explica, “não tiveram a chance de se desenvolver, pois não eram sempre vendáveis”. Muito carismático e habilidosamente pulando de assunto em assunto, Noble começou a conversa com trivialidades. Discorreu sobre clássicos da brasilidade, como Chico Buarque e Tim Maia, passando pela Jovem Guarda e Seu Jorge. Chegou a questões universais, dinheiro, drogas, fama, família, ambições e testamentos bem escritos—de acordo com ele, o legado mais importante que as pessoas com alguma fama podem deixar—e voltou novamente ao que sabe discutir: música. Noble mostrou-se aberto e até compreensivo durante toda a conversa, e disse gostar de dialogar com os repórteres, porque isso sempre leva a discussões diversas. “É algo que eu adoro quando faço entrevistas. Ir descobrindo coisas sobre as pessoas com quem eu estou falando, e sobre a suas
[+] kingsgoforth.com [+] myspace.com/ kingsgoforth [+1]
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“Alguns assuntos são temporais, mas escrever sobre acabar um relacionamento ou perder alguém, isso é perene. A essência da soul music é a dor e isso não é datado.”
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vidas”. Sustentou ainda que prefere conversar com a imprensa sem a banda. “Eles sempre respondem às questões com ‘Esperamos que nossos fãs gostem do nosso trabalho’ e ‘Temos um carinho muito grande pelos fãs’. Achei melhor começar a vir sozinho”, riu. A trajetória do grupo é considerada incomum, ainda que Noble não entenda o porquê. Alguns elementos, porém, são dignos de menção e ajudam a compreender a atração pela fábula que retrata o início do Kings Go Forth. O vocalista, Black Wolf, 56 anos, por exemplo, é alfaiate e já integrou a banda regional Essentials. Ele ainda trabalha no ramo da alfaiataria. Além disso, o Kings Go Forth não é apenas multigerações, mas multiétnico também. Soma-se tudo e, como resultado, tem-se um arranjo musical que soa completamente inédito para as gerações nascidas depois dos anos 70. Noble explica que, no entanto, não é apenas uma retomada do que uma vez já foi feito e que, sim, existem elementos contemporâneos. Voltamos a falar sobre o rótulo que a banda legou, pelas referências nas quais se baseia. Nesse sentido, Noble declara que a imprensa funciona da mesma maneira que a Amazon, comparando uma obra com algo semelhante, para conseguir enquadrá-la ao repertório dos que a vão consumir, se tudo funcionar. “Alguém tem que manter a economia andando, e a imprensa faz esse papel.” Ele afirma que a realidade é mais complicada do que a ótica simplista e concatenadora do mer-
cado. Mas que, de fato, a produção dos anos 60 e 70 serve como inspiração. “Eu gosto de nadar nessa música todos os dias”. Contudo, é ilusório pensar que a estima é tão superficial como pode parecer. Microscopicamente, Noble analisa os aspectos de cada canção e tenta entender por que alguns envelhecem bem e se tornam clássicos, enquanto outros tantos são esquecidos. “É como se reduzissem carreiras inteiras de artistas mais antigos a um quadragésimo, que as pessoas apreciam agora”. É nas idiossincrasias sonoras que não prosperaram que reside o foco do baixista. “Alguns artistas tiveram uma produção mais ou menos, mas fizeram uma grande diferença, que se tornou memorável. Eu enxergo nisso um galho que nunca conseguiu crescer por inteiro. É como um grande diagrama com todos esses galhos subdesenvolvidos”. Noble afirma existirem equivalências desse fenômeno na literatura e no cinema. São minigêneros que nunca chegaram a florescer. Citou o conjunto texano The Relatives+2— trata-se de grupo gospel típico, com vocal masculino harmonioso, mas todo o pano de fundo composto por guitarras distorcidas e rock psicodélico. “Não faz sentido, mas soa incrível. Nunca se ouviu nada que soasse assim. Aquele tipo de justaposição de guitarra, naquele tipo de banda. E veio à luz quase que por engano, entende? Como se o guitarrista que eles contrataram não tivesse entendido que ele não deveria estar tocando daquela forma”. Noble
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“Existiram artistas com uma produção mais ou menos, mas que fizeram uma grande diferença. Eu enxergo nisso um galho que nunca conseguiu crescer por inteiro. É como um grande diagrama com todos esses galhos subdesenvolvidos.”
compara esses estilos com “acidentes de percurso”, como macacos que têm os olhos mais separados, que foram excluídos e não tiveram a chance de se integrar com o restante da sociedade. É na obscuridade dessas descobertas ocasionais que se encontra o entusiasmo criador de Noble. E tudo faz parte de um processo muito claro para ele. “Você está compondo uma música simples. Algumas palavras, uma idéia, notas musicais. Depois, você começa a enfeitar. E eu olho para essas coisas como inspiração”. Noble fala como se a música fosse um pacote e os arranjos e técnicas de gravação fossem os adornos. E ele explica que essas minúcias—como os condimentos de um sanduíche ditando o gosto—são muito do que, de fato, se escuta. Na análise do baixista, durante os anos 60 e 70, em função da busca por hits de rádio, a cereja do bolo era o vocal imponente e isso determinou uma composição específica, que marca aquela época. A geração atual gosta de baterias e baixos altos e a dance music acabou sendo integrada em quase todos os outros estilos musicais, como punk e rock. “As bandas não são nada sem essa batida disco”, pondera. É assim que acontece o processo de composição do Kings Go Forth: elementos clássicos do funk e soul, combinados com as sutilezas que garantem a contemporaneidade. E os temas também são herança, mas Noble defende: “Alguns assuntos são
temporais, mas escrever sobre acabar um relacionamento ou perder alguém, isso é perene. A essência da soul music é a dor e isso não é datado”. E é por isso que a superficialidade dos rótulos incomoda o criador do Kings Go Forth. “Essa idéia de ‘ei, vamos fingir que é uma coisa retrô’ banaliza aspectos que definitivamente não deveriam ser banalizados”. Mas Noble não guarda rancor e é conivente com o mercado. “Como Joe Strummer disse sobre o negócio da música: sem negócio, sem música”. Antes de embarcar em outro álbum, a banda ainda pretende ficar em turnê por mais um tempo. Os planos preveem rodar a Europa em janeiro, algo inédito para o Kings Go Forth. Mas as particularidades nem sempre trabalham a favor do grupo. “São tantas pessoas na banda. Muitos são mais velhos e integrados, bem, em suas vidas, e fica difícil de sair em turnê e seguir o repertório que geralmente as bandas seguem”. Mas Noble assegura que, dentro do possível, todos estão conseguindo conciliar a vida real com vida da banda. Sobre fazer do Kings Go Forth sua motivação principal, titubeia. “Eu adoro minha vida sossegada de colecionador. Também adoro estar na banda e na estrada, mas não é o que eu quero fazer o tempo todo. É divertido fazer um pouco disso, mas muito… é um jogo para os mais jovens”. Planos de vir para o Brasil? “Não existe nada formal. Nossa produtora tem contatos aí e, por enquanto é isso. Mas eu adoraria que acontecesse.”
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vizupreza
_por lidy araújo lidyaraujo. c om. b r
Café com rock_
Punk beach_
Mão fina_
O designer Marcelo Masili criou uma linha de canecas ilustradas com ídolos do rock, como Ramones, Elivis Presley, Rolling Stones, Beatles, Weezer e Jim Morrison. As peças são vendidas individualmente ou em kits com quatro.
O Green Day passou pelo país e deixou de lembrança uma bermuda. Criada em parceria com a Billabong, a peça é xadrez em preto e cinza e vem com o logo do álbum 21st Century Breakdown e a assinatura da banda em patch.
Se você pensa que já viu tudo quando o assunto é esmalte… Deborah Lippmann lançou o Today Was a Fairytale, esmalte prata que contém pó de diamante, e o Boom Boom Pow, versão dourada com pó de ouro 24 quilates.
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Preço: R$ 230 em billabong.com.br
Preço: US$ 20 em deborahlippmann.com
White Stripes de Natal_
Alfaiataria feelings_
Pele de croco_
Um toca-discos portátil, com dois estojos para LPs, vinil de 7 polegadas com o single “Merry Christmas From The White Stripes” e fones de ouvido customizados. Em edição limitada, este é presente que a dupla quer que seus fãs ganhem no Natal.
A Zoo York mostra que a alfaiataria pode ir mais longe e lançou um boné risca de giz. Disponível na cor preta, o modelo é fechado, em tecido 99% poliéster e 1% viscose, tem aproximadamente 57 centímetros e logo bordado.
Um notebook que cabe na bolsa, com TV digital integrada, tela de LED de 8 polegadas, 2 GB de memória… O que interessa mesmo para as meninas, porém, é que ele está disponível nas cores rosa e preto e tem textura de crocodilo.
Preço: R$ 499 em thirdmanrecords.com
Preço: R$ 160 em em urbanstore.com.br
Preço: R$ 4 mil em em sony.com.br
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estampa
do mĂŞs Marca: Billabong
Onde Encontrar: billabong.com/br
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_ilustra ANANDA NAHU | FLICKR.COM/ANANDA_NAHU
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CUIABÁ
_FOTO FERNANDO NOGARI | fernandonogari. c om
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reviews
_E aí, quer ver sua foto publicada nesta seção? Mande um email com uma foto em alta resolução (300dpi) que represente a sua visão da música para FOTO@NOIZE.COM.BR
WALVERDES
GIRL TALK
Breakdance
All Day
Os Walverdes se sustentam já faz algum tempo sobre dois pilares bastante perceptíveis: os refrães simples de poucas palavras e as guitarras mudhoneyísticas furiosas, tudo caramelizado com uns bons 20 anos de estrada. E é levantando o dedo do meio para os anos que o trio chega a 2010 com um disco que mantém o espírito ali, mas consegue inovar. Breakdance mostra (já na capa) a banda injetando seu peso em ritmos suingados, com o baixo marcado. A bateria vai da simplicidade de um chipô fechado à quebradeira total em faixas que fazem o ouvinte parar, pensar e puxar um pouco de fôlego para conseguir partir pra próxima. Ouça algumas—muitas—vezes, decore as letras, fique com os riffs grudados na mente.Volte a acreditar no rock. Gustavo Foster
Girl Talk é o perfeito retrato de um poeta do século 21, e suas ferramentas de trabalho—um cérebro insano e um laptop—ilustram isso da melhor maneira possível. Uma pena que All Day, o disco mais longo do cara, também seja o menos inspirado. Os remendos entre os samples não soam tão orgânicos quanto já foram, e uma dúzia de cicatrizes quebram o clima da festa. Sábio é quem diz que algumas cicatrizes vêm para o bem: como não amar alguém que emenda um refrão da Beyoncé com a guitarra do Phoenix, bota Willow Smith pra cantar em cima dos Stones, faz a Ke$ha andar de mãos dadas com o New Order e diz adeus com o piano choroso de “Imagine”, do John Lennon? Toda a piração está livre para download sob Creative Commons em illegal-art.net. Alex Corrêa
KANYE WEST
My Beautiful Dark Twisted Fantasy O perfeccionismo deu resultado e gerou um grande disco. Kanye West juntou sua megalomania, arrogância e talento para criar uma produção incrivelmente original. É o mais glamoroso e excessivo álbum do rapper: várias participações, músicas longas, efeitos, sons, camadas, detalhes, ele tenta tudo. Por isso, o trabalho representa muito bem sua personalidade. É como se a sua certeza de que é o melhor artista da atualidade transformasse o disco em algo massivo – se a capa pingasse ouro, o CD fosse de mármore e pago pela igreja, talvez ele finalmente estivesse satisfeito. O clima das produções é o mais “dark” da carreira de Kanye, como sugere o título, com bases obscuras e cheio de longas introduções e finais de música – manter tudo isso com sentido é a prova da sua capacidade criativa, seja na produção ou nas rimas. Bruno Felin
MARCELO JENECI Feito pra acabar
Compositor conhecido pelo hit “Amado”, com Vanessa da Mata, Marcelo Jeneci lançou um dos melhores discos brasileiros de 2010. Com composições maduras, letras e arranjos belíssimos, o álbum às vezes beira sem medo o clichê e se sai muito bem. Jeneci tem na sua composição uma leveza incomum, é singelo sem ser imaturo e inocente sem parecer ingênuo. No disco há parcerias com artistas como Arnaldo Antunes, Chico César e Zé Miguel Wisnik, além das eficientes participações de Edgar Scandurra e Curumin, tudo muito bem produzido por Kassin. Tanto a voz de Jeneci quanto os ótimos vocais Laura Lavieri reforçam a percepção de que Feito Pra Acabar busca uma inocência romântica quase primal, sem soar inexperiente ou falso. Grande estreia. Matheus Vinhal
Cee Lo Green The Lady Killer
“Excêntrico” é uma palavra imprecisa: pode ser entendida como algo bizarro ou extraordinário. Cee Lo Green sempre venceu a primeira possibilidade pela voz. Há muito tempo o soul não aparece assim, perspicaz e inofensivo, como na Motown. Depois de discos focados na criação de um híbrido de hip-hop, soul e R&B, The Lady Killer é feito de muito pastiche e almeja um lugar no mainstream. Quem permite e potencializa isso é o produtor Danger Mouse, que ao lado do cantor fez de “Crazy” um hit indiscutível. A voz rara de Cee Lo faz com que “Fool for You” chegue como “Let’s get it on”, de Marvin Gaye. Mas é “Fuck You” que transforma o disco no cavalo de corrida dos hits de 2010: a mistura de lamento e soul faz qualquer um xingar junto, dançando. Ana Laura Malmaceda
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WARPAINT The Fool
Escute também: MCCARTNEY, TUG OF WAR E MEMORY ALMOST FULL
Warpaint é um nome agressivo demais para um grupo que é exatamente o oposto. Quatro (lindas) garotas californianas com as músicas mais deliciosas do ano. Jogadas no estranho termo indie/psicodélico fazem um som cheio de texturas, violões dedilhados e boas guitarras. Bem climático, tranquilo e devagar—detalhe que parece não ser só musical. A banda existe desde 2004, mas The Fool é o primeiro disco. Antes tinham apenas o EP Exquisite Corpse de 2008, mixado por John Frusciante, forte influência delas. O destaque são os vocais lindos de Emily Kokal e Theresa Wayman, capazes de conquistar qualquer desavisado. O disco todo pode ser escutado no site warpaintwarpaint.com. Uma dica? Vá direto à faixa “Undertown”. Vinicius Felix
DiscografiaBásica
DINGO BELLS Dingo Bells
Investidas espaciais, ecletismo de bom gosto, harmonias de voz constantes que não pecam nem por pretensão, nem por preguiça. Quem ousar comparar Dingo Bells a Mutantes, parâmetro mais óbvio para o rock criativo e incrementado de brasilidade, pecará por preguiça. O trio de Porto Alegre até lembra o da Pompéia em certos aspectos: na inconfundível e entusiasmante jovialidade das vozes, nas letras que são pura sugestão, a incrementar as cores da sua música, na originalidade promissora de se estar aberto ao que der na telha. Tudo é sintetizado por “Frutos do mar” (que marca o acerto entre produção e composição, desencontradas nas duas primeiras faixas), “A parede roxa” (contágio puro) e “Lá vem ele”, melhor do disco e motivo suficiente para ouvir a banda. Fernando Corrêa
PAUL MCCARTNEY
por Daniel Sanes
RAM | Ser um ex-beatle não deve ser mole. Depois de ver seu primeiro álbum solo detonado
pelos críticos (nem tanto pelas composições, mas pela sonoridade crua), em 1971 Paul McCartney lançou Ram, em cuja bucólica capa ele aparece ao lado de um carneiro. A mídia continuou torcendo o nariz para a carreira de Macca, mas este disco acabou se tornando cult com o passar dos anos, e com méritos. Ram agrada logo na faixa de abertura, “Too many people”, mas tem seus grandes momentos em “3 Legs”, “Ram On” (dividida em duas canções), “Uncle Albert/Admiral Halsey” e “Monkberry Moon Delight”. A formação foi o embrião dos Wings, já que, além da esposa Linda, Paul convocou o baterista Denny Seiwell. BAND ON THE RUN | Se alguém ainda questionava a capacidade de Paul McCartney de
compor belas canções longe de John Lennon, este disco não deixa margem para dúvidas. Gravado na Nigéria e lançado em 1973, o terceiro trabalho do baixista à frente dos Wings é uma obraprima—comparável, para muitos, aos melhores discos dos Beatles. Talvez não seja um exagero: a genial faixa-título, dividida em partes distintas, lembra as suítes de Abbey Road. A seguir, o rockão “Jet” mantém o ritmo empolgante. Além dessas, permanecem no repertório de Macca “Mrs. Vandebilt”, “Let me Roll it” e “Nineteen Hundred and Eighty Five”. Sinal de que tanto ele quanto os fãs ficaram satisfeitos com o resultado de Band on the Run. FLAMING PIE | Oscilando bons e maus momentos (alguns terríveis), McCartney chegou ao final do século XX com a pecha de dinossauro, daqueles que só são lembrados quando tocam em concertos beneficentes e fazem músicas de elevador. Mas eis que, em 1997, o ex-beatle ressurge com Flaming Pie, seu melhor disco em anos e o primeiro a chegar ao top ten dos EUA desde o excelente Tug of War, de 1982. A faixa-título e “Calico Skies” ainda aparecem com frequência nas turnês de Macca, uma mostra de que o álbum sobreviveu ao teste do tempo. Resumindo, a importância de Flaming Pie foi mostrar a Paul que ele ainda era um grande compositor e aquele talento todo não havia evaporado com o passar dos anos.
WANDER WILDNER Caminando y Cantando
Ele já foi hippie, rajneesh e punkbrega. Agora se traveste de milongueiro em seu sexto álbum solo, um disco que respira as passagens do bardo por Buenos Aires, Montevidéu e Berlim. “As Coisas Mudam”, cuja primeira versão surgiu meses atrás em um quarto na capital alemã, abre o disco revelando: “Os índios dizem vá em frente”. A belíssima “Dani” se preocupa: “E quando o espírito se libertar, quem tomará conta dos gatos?”. Há versões para canções de Belchior (o hino “A Palo Seco”), Sergio Sampaio (“Viajei de Trem”) e Julio Reny (“Amor e Morte”), além de uma parceria com Jimi Joe e Arthur de Faria, o tango punk “Calles de Buenos Aires”, que funcionam como trilha sonora para o livro “On The Road”, de Jack Kerouac. Pé na estrada e fone de ouvido. Marcelo Costa
Elliott Smith An Introduction to...
Ainda que sua morte esquisita chame mais atenção, é importante lembrar de Elliott Smith por suas músicas, sempre muito simples com seu modo peculiar de tocar violão (influenciado pelo disco branco do Beatles), e pelo talento para criar belas harmonias vocais. Sua obra é extensa e está espalhada por 7 discos oficiais, mais EPs e outtakes. Para simplificar a vida dos novos fãs, a coletânea An Introduction to… é perfeita. Quase metade do seu melhor disco, Either/Or, está presente. Já o hit “Miss Misery” aparece em versão demo. Para os velhos fãs a única novidade é a mixagem para “Last Call”. Mas não há enganação, o próprio release entrega: é um disco feito para os iniciantes. Sem oportunismo, cumpre bem esse papel. Vinicius Felix
A DAY TO REMEMBER What Separates Me From You
“My heart is filled with hate”. Assim Jeremy McKinnon abre o disco, no estilo peso pesado. É possível dizer que WSMFY é ao mesmo tempo o mais melódico e o mais pesado trabalho deles. “Sticks & Bricks”, “2nd Sucks” e “Out Of Time” seguem a linha que consagrou os caras, cheio de berros guturais e gang vocals que mais parecem uma torcida infernal. Na mais pop “It’s Complicated” é clara a influência da produção de Chad Gilbert, do New Found Glory. “This Is The House That Doubt Built” é uma das melhores do disco. A Day to Remember voltou com tudo que os fãs adoram: breakdowns tensos, melodias poderosas e letras ainda mais marcantes. Eduardo Brito
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ta por vir .: 11 ou 18 de janeiro_The Dedemberists | The King Is Dead Colin Meloy, a alma do Decemberists, tem no R.E.M. inspiração para faixas de King Is Dead, sequência para The Hazards of Love, de 2009. Talvez tenha sido por educação: o álbum contará com a guitarra do R.E.M. Peter Buck em três faixas. Deve ser mais econômico e com uma vibe Americana. “Este disco é um exercício de contenção”, contou recentemente Meloy. “Foi um dos discos mais difíceis de fazer.” Coisas boas não saem facilmente.
confira Matt & Kim Sidewalks ___O querido Matt & Kim lança seu segundo trabalho pelo selo FADER, e neste intento está a primeira canção composta pela dupla, “Silver Tiles”. Mais uma vez, insistem em mostrar que calçadas de Nova York também foram feitas para dançar.
Jamiroquai Rock Dust Light Star ___O sétimo disco de estúdio de Jay Kay e cia. foi gravado no homestudio do cara, tem parcerias inéditas com Charlie Russel e Brad Spence, e um som que, como o nome entrega, tem mais de rock (e funk) do que de disco, dance ou house.
Max B.O. Ensaio, o Disco ___O MC Max B.O. finalmente vai lançar o primeiro disco da carreira. Ensaio, o Disco chega depois de uma longa história no rap. O apresentador do Manos e Minas, da TV Cultura, já revelou que é inspirado em Wilson Simonal e Geraldo Filme.
redescoberta Buffalo Springfield Buffalo Springfield (1966)
Uma das preciosidades do folk-rock californiano, o Buffalo Springfield acabou um pouco eclipsado com o tempo. Ficou injustamente conhecido como o grupo que revelou os gênios Stephen Stills e Neil Young. Lançada no desfecho de 1966, a estreia mostra que a banda vai muito além da alcunha. Nas composições e nos arranjos, impressiona a maturidade. “For What it’s Worth”, de intensa mensagem política, virou hino instantâneo da geração. No entanto, quem realmente brilha é o discreto Richie Furay: sua voz límpida dá o tom exato em “Flying on the Ground Is Wrong”, “Do I Have to Come Right Out and Say It” e “Nowadays Clancy Can’t Even Sing”, algumas das primeiras obras-primas compostas por Young. Leonardo Bomfim
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cinema HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE PT.1
Diretor_ David Yates Elenco_ Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint e Ralph Fiennes. Lançamento_ 2010
A maior mágica da série Harry Potter foi ter acompanhado ao longo de uma década o crescimento dos atores principais. Neste novo filme, a divisão em duas partes permitiu um aprofundamento naquilo que mais fez falta aos anteriores: as sutilezas no desenvolvimento do relacionamento entre o trio de protagonistas. Os atores evoluíram: Daniel Radcliffe se esforça como nunca no papel de herói relutante, e Rupert Grint tem a primeira oportunidade de aprofundar a baixa auto-estima de Rony, mas é Emma Watson – como sempre – quem mais se destaca (sua cena inicial, em que Hermione apaga as memórias dos pais, já vale todo o filme). A produção carrega no tom melancó-
lico, da perda da inocência da infância que já se desenvolvia desde os dois últimos filmes. Isso se nota bastante durante o exílio na floresta, nas tomadas de poucos diálogos, quase um road-movie de tons apocalípticos. Da série, é o filme que mais se utiliza de tomadas externas, e curiosamente, isso dá certo tom paradoxal de claustrofobia e perigo iminente. Por outro lado, se faz falta a ação e um pouco dos momentos de magia que caracterizaram a série, isto acontece principalmente porque esses momentos se condensam mais na segunda parte do livro.Visto assim, é um filme incompleto, mas também uma grande base emocional para o verdadeiro clímax no próximo ano. Samir Machado
SCOTT PILLGRIM CONTRA O MUNDO
Diretor_ Edgar Wright Elenco_ Michael Cera, Alison Pill, Mark Webber Lançamento_ 2010
O gibi foi inovador por trazer o universo do mangá para dentro do mundo ocidental, e o filme termina esse trabalho com maestria. Para conquistar sua amada, um garoto deve derrotar seus ex-namorados malignos, normalmente com plateia e batalhas de bandas como trilha sonora. Imagine se a vida fosse um videogame? Scott Pillgrim Contra o Mundo faz jus ao sentimento fascinante provocado pela resposta a essa pergunta, mas também à parte frustrante de uma realidade imprevisível e de possibilidades infinitas.A priorização da narrativa e do conceito em detrimento do conteúdo pode ter tornado os personagens rasos, e o resultado reina na zona do trivial. O espectador se angustia, então, por desejar que existam
seres de verdade sob a fantasia, não apenas rasos heróis de HQs.A grande questão é que a falta de conteúdo nos jovens pode fazer parte da crítica de Edgar Wrigh, que brinca nitidamente com a banalização da violência e satiriza ao enaltecer a cultura pop, o que acaba por dizer muito, ainda que despretensiosamente, sobre a juventude contemporânea.Acompanhado de um elenco de jovens talentos que cativa com facilidade, o protagonista é interpretado por Michael Cera, que assume seu primeiro papel como partidor de corações e provoca sorrisos sinceros e torcida intensa no espectador. Scott Pillgrim é desconcertante e difícil de ser avaliado. É pura, simples e absolutamente original. Maria Joana Avellar
cinema
ARAÚJO VIANNA: TODAS HISTÓRIAS
SÍNDROMES E UM SÉCULO
O primeiro Araújo Vianna foi um compositor gaúcho que viveu na virada do século passado. O segundo foi um mítico auditório nomeado em sua homenagem e encravado até hoje no tradicional Parque Farroupilha. A Oi produziu este belo e interativo documentário que reconta as histórias de um dos mais importantes palcos de Porto Alegre e acende esse imaginário no momento em que reformas reativam o local. Somados aos causos mil, registrados e montados de maneira simples, mas bonita, há outros tantos relatos, fotos e vídeos acrescentados pelos espectadores à colcha de retalhos que se vai costurando. Quando você for assistir (e quem sabe contribuir), o doc de média duração já poderá ter virado uma trilogia. Fernando Corrêa
O nome de Apichatpong Weerasethakul parece impronunciável, mas não pode mais ser ignorado por quem gosta de cinema. A coroação da obra-prima Tio Boonmee Que Pode Recordar suas Vidas Passadas na última edição do Festival de Cannes carimbou uma trajetória que já vinha impressionando ao longo da década. Em poucos anos, o cineasta tailandês tornou-se figura central do cinema contemporâneo. Síndromes e um Século, seu quarto longa-metragem, é um assombro. Logo no início, um travelling que parece ter vida própria abandona os personagens e encontra um campo aberto. Surgem os créditos, mas o diálogo continua fora de quadro. É o convite para um mergulho profundo numa obra sem precedentes. Leonardo Bomfim
de Gustavo Tissot (2010)
de Apichatpong Weerasethakul (2006)
livros
JULIET, NUA E CRUA de Nick Hornby (2009)
O fracasso do nerd de meia-idade. Mais uma vez, Nick Hornby, autor de Alta Fidelidade (que virou filme clássico instantâneo dos anos 90) conta uma história a partir do pacto com a música. Annie e Duncan estão juntos há 15 anos e não fazem a menor ideia do porquê. Preguiçosos, vivem uma relação de tolerância triste, aceitando diariamente pouco amor. Há um terceiro complicador: a obsessão dele pelo músico Tucker Crowe, ícone lado B dos anos oitenta, desaparecido há 22 anos. Como um vulto, o cantor está sempre imposto, inerente em cada ação de Duncan. Previsivelmente, o casal enxerga o rompimento a partir de Tucker: depois do lançamento de uma versão acústica e inacabada de Juliet, o disco clássico do músico, Annie decide destruir o mito de Duncan ao escrever uma resenha sóbria sobre o álbum no fórum de “crowelogistas”, onde o parceiro publica palavras de fanatismo. Na caixa de e-mails dela, uma resposta confessional de Tucker Crowe; na vida dele, um caso com a nova colega de trabalho. Ana Malmaceda
Redescoberta VERA CRUZ (Robert Aldrich, 1954) Robert Aldrich entrou em Hollywood com os dois pés na porta. Em seus primeiros filmes, deu logo o protagonismo a apaches e bandidos. Não por acaso, foi a referência de Sergio Leone e Sam Peckinpah, aqueles que transformariam de vez o faroeste na década seguinte. A abordagem em Vera Cruz, de certa forma, antecipa Meu Ódio Será Sua Herança, clássico desconcertante de Peckinpah. Evidentemente, não há banho de sangue, mas Aldrich joga pela janela o maniqueísmo recorrente no gênero. Ninguém luta mais por uma honra, o conflito entre o bem e o mal se esvai. Querem apenas alimentar o próprio bolso. E salve-se quem puder. Leonardo Bomfim
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SHOWs
fotos: 1 | Franco Rodrigues/Divulgação RBS 2 | Victor Sá 3 | Eduardo Ramos
PAUL MCCARTNEY Porto Alegre, Estádio Beira-Rio, 07/11
OK, Paul McCartney esteve mesmo em Porto Alegre – e isso não precisa nem ser verdade, uma vez que crível dificilmente será. Quase 50 mil neo-órfãos estiveram no Beira Rio lotado, dividindo a descrença, o choque, o encanto, a boca aberta. McCartney parece, ele próprio, tocar para crer que existe. E a cada apresentação, se eu fosse ele, duvidaria mais disso. Para o público, a incredulidade que culminou nas 3 horas de histeria coletiva em solo gaúcho vinha desde bem antes. Desde que cada um ali ouviu um “Help!”, um “Penny Lane” ou mesmo um “Hey Jude” e pensou, “Nunca vou ver esses caras ao vivo”. Não há muito que não tenha sido constatado nos milhares de shows que Paul fez ao longo das últimas cinco décadas. Depois de todo esse tempo, clássicos dos Beatles e de sua carreira solo ainda soam com intensidades semelhantes às que marcaram as canções a suas épocas. As dos Beatles parecem sempre poucas, mesmo que tenham sido maioria, e as de Paul e do Wings, encantadoras e ousadas como os anos 70, deixam muitos desconhecedores tristes por terem as descoberto só ali, no ato. A banda de Paul veste a ingenuidade reinante nas composições do iê-iê-iê de um tom vermelho, de sentimentos à flor da pele e imortalidade. “All My Loving” brotou na sequência de “Jet”, mais emocionante do que em 1963. Que banda, quanto público! Para que tudo fizesse sentido, necessidades técnicas mais que atendidas: telões verticais
gigantescos, som cristalino na maioria das zonas do estádio. Apesar das proporções gigantescas, um espetáculo sem frescuras que parecia um show na década de 70 – até que “Live and Let Die” explodiu junto de dezenas de fogos de artifício em um espetáculo catatonizante. Feito um namorado malvado, Paul derreteu a todos com “My Love” (dedicada a John), “Something” (para George), “Eleanor Rigby”, “A Day in the Life”; reenergizou-os com “Drive my car”, “I’ve just seen a face”, “Band on the Run”, “Day Tripper”; e nocauteou sobreviventes com “Helter Skelter”. Mas o nocaute maior, de que inutilmente se quer fugir, veio anunciado pela mesma música com que os Beatles se despediram do mundo: o fim do show, “The End”. A linda canção que encerra Abbey Road deveria ser o momento em que, às lágrimas, eu lamentaria a derrocada da efêmera visão de Paul como um ser humano. Mas, mais do que nunca, ele me deixava em dúvida sobre sua humanidade. Reciprocidade, disposição e correspondência às expectativas (em se tratando do “maior artista vivo”) fizeram Paul deixar o show ainda como mito, cujas generosas palavras – a maioria em “portuguéss” – foram singelas o bastante para nos fazer crer que ele era mesmo um beatle, mas não fortes o bastante para que acreditássemos que era, de fato, um homem. Sua música transcende a linguagem, como se isso fosse possível. Paul costumava dizer que queria ser lembrado como um sorriso. Será lembrado por mim como 50 mil deles. Fernando Corrêa
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LOU REED
MACONDO CIRCUS
São Paulo, SESC Pinheiros, 20 e 21/11
Santa Maria (RS), Estação Férrea, 26/11
Lou Reed não precisava fazer muito para manter a fama de esquisitão do rock. Mas heroína, sadomasoquismo, eletrochoques, escatologia e transexuais ainda eram pouco. Ele queria mais e gravou o que muitos chamaram de “pior álbum de rock da história”, Metal Machine Music. E como se não bastasse a sucessão de ruídos e distorções lançada em 1975, 35 anos depois ele retoma o tema em uma excursão por São Paulo. O SESC Pinheiros recebeu a visita do ícone e mais uma vez o artista ousou, e até ofendeu alguns desavisados que esperavam ouvir clássicos. Em comparação a Paul McCartney, que tocava quase ao mesmo tempo no Morumbi, as coisas ficam bem antagônicas. Se o bom menino não se arriscou, recorrendo a mais de 20 hits dos fab four, Lou ignorou hits, canções e qualquer tipo de convenção musical. Em vez disso, ruptura, desconstrução, minimalismos, sátira, excentricidade. Importante lembrar que Metal Machine Music não foi tocado a rigor. O que se ouviu foi improvisação contínua que partia do álbum. Um saxofonista e um programador de som acompanharam o artista na empreitada. Poucos acordes, muito barulho e espécies de mantras levaram os que permaneceram na plateia a um estado reflexivo particular. Reed levanta questionamentos sobre o que é a música e a arte de maneira prática. Enquanto os melhores apenas podem ser considerados radicais, é provável que ele seja o único artista realmente revolucionário atuante.Viva a estranheza revolucionária! Victor Sá
“O produto será o processo, sem hierarquia e verticalização”, vaticinou a organização do Macondo Coletivo. O recado que o festival traz é claro: o velho esquema de suporte para cultura já era. Pioneiros no trabalho realizado nacionalmente a partir de redes de gestão coletiva, o festival integra o Circuito Fora do Eixo e o núcleo da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes). Neste ano, ao lado de oficinas e debates, a música ocupou apenas parte da programação, que contemplou diferentes manifestações artísticas (intervenções, teatros e exibições audiovisuais). O Macondo Circus ajuda a legitimar o novo modelo de relacionamento entre artistas, produtores, comunicadores e casas noturnas, baseado em parcerias e interdependência mútua. A mistura de sotaques tomou conta do palco principal, armado no Largo da Estação Férrea – propondo revitalização à área histórica de Santa Maria. Na sexta-feira, tocaram bandas paulistas (Comma), pernambucanas (Babi Jaques & Sicilianos) e cariocas (Tereza). Conterrâneos, a Rinoceronte fechou a noite. Bastante cultuada na cidade, e que já rodou por festivais como o Calango, Goiânia Noise e Bananada, o grupo destacou a importância do cenário autossustentável que se forma a partir de esquemas colaborativos. “É a essência da coisa, em que vão se agregando cada vez mais pessoas, gente inteligente, interessante, que faz a roda girar”, exalta o vocalista Paulo Noronha. Nícolas Gambin
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SHOWs
fotos: 4 | Stephan Solon/Divulgação 5 | Rafa Rocha
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BELLE & SEBASTIAN
MILLENCOLIN
São Paulo, Via Funchal, 10/11
Porto Alegre, Bar Opinião, 11/11
Sutil, bonitinho, delicado. Difícil fugir de tais adjetivos quando o assunto é Belle & Sebastian. Realmente, a música dos escoceses é tudo isso. Mas não se engane, não há nada de ingênuo ali. Com fina ironia, a banda mostrou que mesmo sem Isobel Campbell, que deixou o grupo em 2002, ainda segura a onda. Principalmente quando recorrem aos velhos hits, coisa que não faltou na noite de 10 de novembro. “Fox in the Snow”, “Get Me Away From Here I’m Dying” e “Judy and the Dream of Horses”, do segundo álbum, e “The Boy with the Arab Strap”, do terceiro, foram momentos emocionantes. Mesmo com o som bastante aquém da expectativa, o clima era de uma celebração indie. Casaisinhos apaixonados e corações solitários dançavam lado a lado músicas ora melancólicas, ora dançantes, mas principalmente as duas coisas ao mesmo tempo—marca inconfundível da banda. Stuart Murdoch, bastante à vontade, quebrou o típico protocolo blasé da cena alternativa. Falou português, chamou um grupo para dançar em cima do palco, atirou pequenas bolas autografadas aos fãs e, ignorando a desnecessária pista VIP, se misturou com a platéia e foi cantar com os “menos privilegiados” do fundão. Se para muitos o Belle & Sebastian não traz mais novidades ao universo pop—seu último CD Write About Love confirma isso—, para os presentes isso pouco importava. Cantando em coro todas as músicas, os paulistas mostraram que a banda ainda é uma das mais amadas e, por que não, sutil, bonitinha e delicada. Victor Sá
Suor, cansaço, calor e pogo.Ver o Millencolin tocar em comemoração aos 10 anos do clássico disco Pennybridge Pioneers—executado de ponta a ponta—foi assim, uma pancadaria. Enquanto para a maioria bastava soar alguns acordes para o enlouquecimento e extravaso do espírito adolescente—alguns também voltaram a ser—, para outros que conseguiram ouvir bem, deu para se desapontar. Parecia que os suecos não se viam há tempos e estavam meio fora de forma, ou a churrascada gaúcha não caiu bem. Erik Ohlsson dava aquelas esquecidas nos solos, emendadas em outro tom, Nikola parecia cansado, mais do que a galera que fazia as paredes do Opinião pingar. Os vocais originalmente em tom alto soavam meio desanimados. Por mais que tenham interagido bastante com a plateia e demonstrado interesse, algo estava estranho. O repertório da banda faz com que tudo isso seja apenas um detalhe, afinal, como ouvir a sequência “No Cigar”, “Fox” e “Material Boy” sem se emocionar? “Penguins & Polarbears” foi o ponto alto da noite e da muvuca. Os fãs de todas as idades (que vão ficar revoltados comigo) com certeza saíram satisfeitos, mesmo sem nenhuma dos últimos três discos no set, com exceção de “Black Eye”. As músicas foram escolhidas justamente para essa nostalgia—o que pode ter influenciado na execução—e o objetivo foi cumprido: estava lá o sentimento de relembrar os bons tempos aos órfãos do hardcore melódico, sem que importasse qualquer outra coisa. Bruno Felin
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Qualquer coisa Arquivo Pessoal
MOZINE FALA SOBRE... __ÓSSE|Em 2007 o
Mukeka di Rato fez uma divertida tour pelo Japão. Foram 10 shows estilo sonho de criança sendo realizado. Obviamente eu como roqueiro fanfarrão profissional, fiquei uma semaninha a mais por lá. Dentre as diversas atividades típicas de um turista idiota qualquer, estavam incluídas as orgias gastronômicas, que me renderam algumas caganeiras. Num dos meus últimos dias em Tokyo, fomos a um bairro bastante tradicional: Konenji. Um amigo me conduzia pelos labirintos de ruas com letrinhas de
Jaspion e me enchia de informações relevantes e históricas que eu esqueceria em segundos. Ao chegar em um dos bares, senti um mau estar entre os japas e fomos logo saindo. Diz meu amigo que naquele bar era proibido sentar “pessoas de cabelo amarelo” ou punks. E esse cara estava com o cabelo lindíssimo dessa cor. Por um segundo duvidei se era realmente o cabelo amarelo dele ou a minha “brazileirisse” estampada na cara. Apesar de até então não ter sentido nenhuma forma de preconceito (muito pelo contrário), fui informado que isso existe em alguns bares. Porém, optei por acreditar que era o cabelo punk oxigenado o problema. Encontrando um outro Izakaya – nome desse tradicional tipo de boteco no Japão – sentamos para uma nova ceia misteriosa. Eu parecia uma criança de 5 anos: tudo que dava na minha mão eu colocava na boca e comia, e hoje não seria diferente. No meio de sakês e cervejas boas chegou um pratinho com um sashimi diferente. Bem vermelhinho, forte, encorpado. Fui logo degustando e perguntando o que era. Recebi
um “ósse” como resposta. Porra! Pode crer... Ósse, seja lá o que for isso. Mas aquele peixe fortíssimo tinha um gosto diferente. Tão diferente que não parecia peixe. Então resolvi insistir, pedindo que ele me falasse em inglês o que seria Ósse.Yuki Takahashi me responde: Hm! Ósse is engrish. Porra, como assim? Mas eu não sei o que é isso em inglês. Ele me explicou melhor, no estágio dois da comunicação Brasil x Japão: mímica. Bateu as duas mãos na mesa de madeira e repetiu o som que isso gerava com a boca: - Pocotó, pocotó, pocotó... Sim, eu estava comendo carne de cavalo crua. Com alho. Como já havia comido duas peças, então comi logo mais umas cinco, pra não fazer desfeita.