Revista Noize #66 - Banda do Mar | Janeiro | Fevereiro | Março 2015

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“Andei por andar, andei E todo caminho deu no mar” Há séculos a vastidão deste mundão deixou de ser motivo pra temores. Pelo contrário: a consciência de que há tanto mundo no mundo e de que as fronteiras são convenções é um convite à coragem. Coragem pra desbravar, descobrir, navegar, voar, girar a maçaneta das portas que se abrem quando atravessamos a rua ou um oceano inteiro. A NOIZE #66 vem ensolarada dessa vertigem boa: celebra o encurtamento de distâncias que só a coragem, o afeto, a curiosidade e a internet podem proporcionar. A edição é carregada de sotaque português: na página 27B, mostramos como o encontro secular, mas crescente, entre as músicas portuguesa e brasileira dá novos sentidos à expressão “terra à vista!”. Nossa entrevista com Andro “Conductor” Carvalho, do Buraka Som Sistema, lembra que não existe linguagem mais universal do que um corpo em movimento. Se ainda há ressentimento de colônia, é com os vizinhos de cima:

Captive Brazilian Music engrossa o coro dos que querem recuperar uma das relíquias mais preciosas da história da música brasileira – as matrizes de quatro bolachões, pra ser mais exata – do exílio nos Estados Unidos. Mas a nossa maior epifania durante o preparo desta NOIZE foi compreender na prática o poeta brasileiro que define a vida como “a arte do encontro”. É o romance inspirador de Mallu, Camelo e Fredinho que dá o tom da edição. Além de assinar seções ao longo da publicação, o trio divide sua história conosco nas páginas centrais. O conjunto da obra ajuda a entender como o álbum que acompanha a revista foi possível. Um disco simples como os finais felizes, mas cheio de coragem na sua franqueza.Valeu a pena? Como diz o poeta lusitano em “Mar Português”, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Boa leitura e um beijo @mj8

EXPEDIENTE #66 // ANO 8 // out/nov/dez ‘14 NOIZE COMUNICAÇÃO

Diretora de Arte Luisa Severo

Direção Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha Leandro Pinheiro

Assistente de Arte Victoria Camaratta

Gerente Financeiro Pedro Pares

Vídeo Ádamo Ovalhe Emilia Abel Lucas Neves

Gerente de Planejamento Rafael Achutti Planejamento Cassio Konzen Lucas Kafruni

Produção Patrícia Garcia

Repórteres Ariel Fagundes Paula Moizes NOIZE FUZZ Coordenação de Projetos Andréia Sabino Carolina Barcelos Editor Pedro Jansen

REVISTA / SITE / RECORD CLUB

Editora Assistente Isadora Gasparin

Editora Maria Joana de Avellar

Redação Bernardo Alencastro

Caroline Michaelsen César Rocha Daniela Grimberg Leonardo Baldessarelli Luiz Henrique Escoppeli Renata Krás Uriel Gonçalves

Mídia Daniele Rodrigues

Social Media Cássio Cappellari Ingrid Flores Marcelo Pizollotto Rayla Carvalho

Planejamento Danielle Karnas

Planejamento Dionisio Urbim Juliano Mosena Leonardo Serafini Rafael Santos

GRITO Editora Lidy Araújo

NOIZE BOOST boost@boost.mn boost.mn


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NOIZE #66 COLABORADORES banda do mar

Gaía Passarelli

Além da entrevista central e das fotos assinadas por Marcelo nas Páginas Negras, os integrantes da Banda do Mar assinam as seções “24h em”, “Como Fazer”,“Música para ouvir”,“Pra ver” e “Pra ler” .

Escreve sobre música e viagens em seu blog, além de editar a versão brasileira da MatadorNetwork e apresentar o canal Gato&Gata no YouTube com o namorado.

BRUNA RIBOLDI

henrique tramontina

Jornalista formada pela UFRGS, viveu nos Estados Unidos, França e Portugal, onde cursa um doutorado em comunicação. Caída de amores pela lusofonia em todas as suas facetas.

Ilustrador por paixão e designer por formação. Apesar de entender o rumo das novas tecnologias, o sangue que corre nas veias ainda é analógico.

Demétrio Rocha

Leonardo Baldessarelli

Exprime a noção de próprio, de si próprio, por si próprio. Quando toca a narrar a vida, é vida de si, por si. E, se forem 150 as figuras, fica sendo uma autobiografia de 150 caracteres.

É Oxóssi em seu cavalo com seu chapéu de banda.

daryan dornelles

Mateus Frizzo

Daryan Dornelles é um fotógrafo de música e cultura pop. Lançou este ano o livro “Retratos Sonoros”, com mais de 160 retratos de personalidades do universo musical.

Mateus Frizzo é jornalista freelancer. Uma sombra que se estende ao decorrer do dia.

Fernando Schlaepfer

zé paiva

Ex-Seagullsfly, ex-Café e ex-Globo. Atual C.E.O. e sempre fotógrafo no I Hate Flash.

Estudou Engenharia mas se dedica à fotografia há trinta anos com projetos autorais e editoriais. Já publicou os livros “Expedição Catarina”,“Natureza Gaúcha” e “Natureza Tocantins”.

bandadomar.com.br

conexaolusofona.org

daryandornelles.com

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gaiapassarelli.com

behance.net/henriquejt

zepaiva.com.br


para ler com os ouvidos.

o primeiro clube de discos de vinil da amĂŠrica latina // noize.com.br/recordclub


_TEXTO maria joana de avellar

_FOTOS daryan dornelles

Se fosse possível escolher um início para esta história de amor e mar, seria aquele que a gente já conhece. Quando Mallu tinha 16 anos e se transformou em um fenômeno na internet, ela também chamou a atenção de Marcelo Camelo, na época em vias de lançar seu primeiro disco pós-Los Hermanos, Sou (2008). Entre o eterno e o não dá, ao amor dos dois coube a primeira opção. E se eternidade é um período de tempo que não tem começo nem fim, a Banda do Mar é um episódio natural desse entrelaçamento de obras, inevitável à união. Em abril deste ano, quando o trio anunciou o grupo na internet, todos correram para saber quem era o terceiro integrante, anônimo por essas bandas (exceto no meio musical), mas bem conhecido em Portugal, especialmente por seu trabalho com Orelha Negra e Buraka Som Sistema. A Fred Pinto Ferreira, produtor e baterista lisboeta de olhar tímido e fala doce, não caberia o papel de coadjuvante: a centelha acendida no encontro entre Marcelo e Mallu foi semelhante ao reconhecimento de amizade imediata sentido por Fred e Marcelo quando toparam um com o outro.



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Quando o casal trocou a maresia do Rio de Janeiro pelo balanço do Tejo, em Lisboa, a intenção era justamente ficar mais perto de Fred, e a banda foi consequência. O papo que batemos um dia antes do primeiro show de sua história, em Porto Alegre, foi fluído. As canções do disco guiaram os caminhos, como um faixa-a-faixa. Pra entrar na conversa, basta colocar o disco pra rodar.

Marcelo: Quando decidimos fazer a banda, além de compor, a gente também olhou pra trás no repertório, e este é um caso. É uma música que fiz quando a gente mudou do Rio pra São Paulo, e se encaixou um pouco com esse momento. É sobre mudança, sobre sair de um lugar e chegar em outro. NOIZE: Essas suas mudanças constantes têm a ver com um desejo de se descontextualizar?

[+1] “Coragem de fugir é medo de ficar’, nome de um disco da banda Lorena Foi Embora. [+2] Vazio Tropical (2013), álbum mais recente de Wado, foi produzido por Camelo e Fred. [+3] O disco foi feito seguindo um cronograma que organizava os períodos de composição, ensaio e gravação, prevendo o lançamento em um ano. O atraso foi de apenas um mês além do planejado.

Marcelo: A primeira foi pra ficar perto da Mallu, que morava com os pais. Depois a gente foi pro Rio, e cada uma é motivada por uma coisa diferente. Em geral tem a ver com uma saturação dos sentidos, que estão entupidos ali daquele redor em que você tá, mas também de uma coisa que se antevê, de um desejo.Tem uma frase bonita que o cara fala, “coragem de fugir é medo de ficar”+1. É um pouco essa ambivalência, uma mistura dessas coisas. Mallu: Eu tenho a impressão que contribui, sim, poder se descolar, é muito construtivo. A gente vai meio que acumulando tudo que é externo. N: E o cultural. Mallu: Exatamente. A gente vira o que sobra, o que resiste, o que sobrevive. Marcelo: O nosso redor impõe um monte de escolhas

que a gente toma até inconscientemente. Acho que é por isso que o Wado+2 fala que mudar de cidade zera o karma. Porque você realmente se vê novo. Pode se reinventar de alguma forma. E tá ali no disco essa vontade. N: Marcelo, nos papos anteriores você já tinha mostrado uma certa rejeição à disciplina. Mas agora, vocês tiveram até um cronograma...+3 Marcelo: São eles dois, ó, o Fredinho e a virginiana. Mallu: O Fredinho e a mulher. Fred: Sendo uma banda e tendo cada um outras coisas, família, é preciso uma organização. Planejamos até aqui, contando com as coisas que não se pode planejar. Às vezes falam que eu era um carinha cético. Os portugueses são desconfiados por natureza, mas eu sou mais desconfiado que os próprios portugueses. Estava sempre na dúvida. E poderia não ter dado certo, né? N: Qual foi o momento em que vocês viram que tinha dado certo? Fred: Foi lá por abril. No estúdio, quando apertamos enter, os três ao mesmo tempo, anunciando a banda no Facebook. Estávamos os três nos computadores, com uma cerveja, “um, dois, três e já”. Deu certo. N: Mas quando vocês entraram no estúdio, se entenderam imediatamente? Fred: Acho que foi tudo meio natural, fomos tocando na boa, estávamos a experimentar, não queríamos assumir alguma coisa logo. Felizmente, os astros estavam alinhados para nos ajudar, mas não sabíamos como era trabalhar juntos, se tinham paciência pra me aturar, se eu tinha paciência para aturá-los... N: Não ficaram com medo que isso comprometesse a amizade? Fred: Ah, no dia em que isso acontecer... Marcelo: Antes acaba a banda! Mallu: Com certeza.


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com ele, levei os CDs com um presente, uma lembrança, e a partir daí começamos a falar mais, até eu ir para o Rio de Janeiro pela primeira vez. Fiquei na casa dele, vimos 11 shows em 10 dias, e pronto. Foi sempre a andar. N: E vocês se conheceram assim também, não? O Marcelo foi ver um show da Mallu e se apresentou. Foi isso? Marcelo: É, na verdade esse show que eu fui ver da Mallu a gente se cumprimentou rapidamente. Ela tava passando, assim, rock star. Mallu: Não era nada rock star! Marcelo: Aí eu chamei pra cantar no disco, fiz uma música pra ela cantar, fiquei mandando mensagem no Facebook pra responder e ela não respondeu, me ignorou... Mallu: Não é verdade!

Fred: Nossa relação já foi andando para familiar. N: Eu sei que vocês se conheceram nos bastidores. Foi Los Hermanos em Lisboa, isso? Fred: Eu como fã do Marcelo [risos]. Há uma pessoa lá em Portugal que é o Henrique Amaro+4, que é uma pessoa muito dinamizadora da música portuguesa. Eu tinha uns 18 ou 19 anos, estava produzindo um disco, e me convidava pra ir almoçar na casa dele pra ganhar umas lições, tipo “Hoje vou te mostrar esses 10 discos brasileiros”. Em um desses almoços ele me mostrou Los Hermanos, Ventura. E eu, “Pô, Los Hermanos? É o da Anna Julia, é pesado, não sei se vou gostar”. E ele disse “Não, toma esse disco que ele vai mudar a tua vida”. E realmente, eu ouvi e fiquei louco. Aí um dia Henrique disse “Olha, os Los Hermanos tão vindo, vão tocar no meu programa, se quiseres pode vir assistir”, e eu fui e falei com o Marcelo, “Desculpe interromper, mas sou muito fã da tua banda”, e o Marcelo disse “Sério? Que bom. Gostas de música brasileira?”, “Gosto, gosto, não sei o quê”, acho que disse alguns nomes pra impressionar, já nem me lembro. Marcelo abriu a mochila e disse “Então pega esta caixinha com CDs que eu tô a ouvir aqui na viagem, toma” – eu conhecia ele havia cinco minutos. No dia seguinte fui ter

Fred: Eu confirmo! Como amigo do Marcelo, ele disseme assim: “Cara, tô muito apaixonado por uma menina. E o pior, ela não me responde!” Não era nem Facebook, era MySpace. Mallu: Gente, eram 250 zilhões, não tinha como ler tudo. Marcelo: Era apenas mais um, né? O famoso apenas mais um [risos]. Mallu: Não é verdade, pequeno! Marcelo: Mas aí eu fiz a música pra ela cantar no disco. Acho que nos nossos encontros têm uma coisa de afinidade imediata, você sente mesmo uma empatia.Tem uma frase que diz que amigo você não faz, você reconhece. Acho que a gente reconheceu uma alma-gêmea um no outro. Muitas pessoas passam pela nossa vida, a gente encontra gente em todas as esquinas, as pessoas vêm e vão, e no nosso caso foi diferente, a gente escolheu um ao outro como companheiros, não à toa fomos a Portugal pra ficar perto do Fredinho e não à toa estamos aqui. A banda é muito mais uma realização nesse sentido do que musical, a música é um detalhe. Quer dizer, um detalhe importante no que a gente faz. Fred: Um pequeno grande detalhe.

[+4] Portugália é o nome do programa de música portuguesa de Henrique Amaro, que vai ao ar na rádio de Lisboa Antena 3.


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Marcelo: Mas ela é posterior à nossa vontade de estar junto, de viajar pelo Brasil, por Portugal. N: E o Marcelo é padrinho da sua filha Maria, certo?

Carlos Eduardo Ferreira, conhecido como Kalú, pai de Fred, é o baterista da Xutos & Pontapés, uma das principais bandas de rock portuguesas. Formado em 1978, o grupo permanece na ativa até hoje. [+6] “Tá aqui também uma senhora linda que é brasileira, foi pra Portugal muito nova e veio aqui ver esse show hoje. Ela tem 82 anos, se chama Amélia”. Assim Marcelo Camelo introduziu a versão da banda para “Ai, que saudades da Amélia”, samba de Ataulfo Alves e Mário Lago, no show da banda no Circo Voador, no Rio de Janeiro, em 11 de outubro.

Fred: Sim, e o Sebastião vem! Chega amanhã no Rio. O Sebastião é um carinha reservado, agora está menos reservado... Eu tenho uma relação com ele de amizade que eu não sei explicar, sendo que é meu filho. N: E você se tornou baterista por causa do seu pai... +5 Fred: Que também vai ao Rio amanhã! N: Sério? Marcelo: E a avó! Fred: A minha avó é carioca. Ela saiu do Rio e foi para o Porto, ao norte de Portugal, em 1940 e tal, de barco. Voltou ao Rio uma ou duas vezes, e só. Entretanto, ela já está com alguma idade e o meu sonho era poder trazer ela à cidade dela mais uma vez, pelo menos. Agora no nosso show vem Sebastião, minha avó e meu pai, que, também por estar ligado à música, não é tão presente na

minha vida, muitas vezes não nos encontramos. Mas agora vamos nos encontrar, e com o Sebastião e a minha avó, que é o principal+6. N: O Sebastião já te acompanha bastante em turnês, né? Fred: É, eu separei-me da mãe do Sebastião quando ele era muito pequenino. E eu tinha passado por isso com o meu pai porque ele também tocava muito. A banda dele é muito grande lá... Fiquei com essa ideia na cabeça de que quando tivesse um filho, seria possível levá-lo. Marcelo: Você viajava muito com o seu pai, também, não viajava? Fred: Cheguei a viajar um bocado, como o meu pai era separado da minha mãe, tinha fins de semana em que eu ficava com ele. N: E quando você teve filho, aos 18 anos, você já tinha banda? Fred: Já tinha, desde antes... Depois fui tocando e sendo pai, que é muito melhor do que tocar.


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Marcelo: Esta música maravilhosa foi feita por Mallu Magalhães. Mallu: No banjolão! Tipo um banjo, mas com seis cordas, com cordas graves. Na época o Marcelo tava pirando no Growlers e eu disse “Vou fazer uma música meio Growlers pra você ver” [onomatopeia com o som do banjolão]. Marcelo: Mais skazinho, assim. Mallu: Logo em seguida, a gente foi pra Lisboa e aquele trechinho ficou. A gente gostava muito da música, mas na hora que foi gravar tava faltando uma segunda parte. Eu ia pra casa, tentava trabalhar, e nada. Aí uma hora no estúdio, aquele “ou vai ou racha”, fiz o “Preciso de você pra me fazer feliz, não quero mais ficar aqui”.

Mallu: Eu acabo estudando mais o piano agora. Comecei com 16 anos, autodidata. Gosto muito de ter uma coisa que eu tenha que me dedicar muito, e depois os frutos que eu colho são incríveis, sabe? Gosto de pensar “putz, passei anos aprendendo a ler isso mas agora que eu tô tocando, valeu a pena”. N: E você sente a emoção da música quando é você que tá tocando? Mesmo com toda a técnica? Mallu: Certamente, sem sombra de dúvidas. Antes eu era um pouco preconceituosa, pensava que conseguia ir no feeling. Mas a combinação de técnica e sentimento é explosiva. Eu tenho esta vontade de aproveitar ao máximo o meu potencial, a minha inspiração, tudo que vem à tona. Aliás, é a única maneira de eu manter a sanidade, senão fico em fúria. Uma Mallu do mal surge em mim. N: E você se disciplina pra isso?

N: Vocês sempre dizem que compõem separados e depois se mostram, mas eu imagino que fiquem brincando juntos.

Mallu: Bastante. Eu estudo todos os dias. Música, francês, inglês e japonês. E balé! Mas isso é muito bom pra cabeça. Eu sou uma pessoa muito intensa, pro bem e pro mal. Também, quando é pra afundar, fossa...

Mallu: É engraçado, eu acho que a gente se mistura, assim, tem mais troca em outras coisas, sabe? A gente cozinha juntos e vai mais a restaurante do que toca.

N: Antes eu sentia mais forte no trabalho de vocês a melancolia, mas a Banda do Mar parece tirar um sumo da felicidade...

Marcelo: É verdade. A Mallu toca muito piano, ela toca piano lindamente, cara. Esse é um privilégio que eu tenho e que poucas pessoas conhecem, assim, esse lado da Mallu. Ela senta no piano, às vezes estuda umas músicas clássicas lindas, lindas, ou fica tocando umas músicas dela. Como compositora de piano ela tem uma coisa entre o [Erik] Satie e a Chiquinha Gonzaga...

Mallu: Da plenitude. Pode crer.

Mallu: Ó, como é coruja? Vê se pode. Marcelo: Uma vontade que eu tinha era produzir, encorajar, gravar, sei lá o que, um disco só dela no piano, instrumental. A Mallu como compositora tem um talento excepcional, né? Mas tem esse lado de compositora solista de piano, músicas simples, mas com melodias tão sinceras, tão bonitas. Quando ela faz isso, a casa se enche de coisa boa.

Marcelo: Acho que é cantar pra chamar as coisas, sabe? É mais isso do que declamar uma coisa que a gente sente. Mas tamos aí, tentando driblar os fantasmas. Mallu: [Apontando pra NOIZE de setembro de 2008 na mesa] Quando saiu esta, a gente namorava, lembra? +7 N: Então olhem que bonito este trecho: “Sou muito fã da Mallu, apostaria todas as fichas nela”. Apostou mesmo. Mallu: Você ganhou fichas! Marcelo: Comprei ações da Mallu. Brincadeira, tava falando profissionalmente, provavelmente. Mallu: Até porque pessoalmente é complicado. Esses

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dias uma entrevistadora tava falando, “Nossa, que bom estar com você, Mallu” e o Marcelo disse “É porque você só ficou uma hora” [risos]. Marcelo: É que ela disse algo tipo “Ah, você é super fácil”. Uma horinha, né? Mallu: Você foi mais difícil pelo jeito. Marcelo: Sou um cara sério. N: O Marcelo intimida um pouco o jornalista... Marcelo: Eu tenho um histórico de mau humor que é injusto comigo, sou um cara tranquilo, tenho uma família muito conversadora, achei sempre que sou uma pessoa divertida, de fácil trato, sabe? Mas talvez não seja tanto. N: Essa entrevista de 2008 me levanta vários questionamentos... Marcelo: Não precisa ter medo, não, pode fazer! N: Nas entrelinhas tem uma certa exaustão de tanto tempo levando uma alegria desmedida pras pessoas com os Hermanos. O Sou veio mais meditativo, com silêncios, e no Toque Dela eu senti que já levantou de novo. A Banda do Mar é um pouco de retorno à alegria mais exacerbada? Marcelo: Mais simples, né? É verdade, eu sempre tento fazer as coisas um pouco por alternância, pra desentupir um pouco os sentidos. No Los Hermanos já era assim, a gente fez o primeiro disco e era hardcore, o show era catártico, depois veio o Bloco do Eu Sozinho, melancólico. A gente faz um disco, depois vive ele na prática, fica viajando com ele. Em seguida fizemos o Ventura, um disco franco, a banda explodiu com algo que se lançava na direção das pessoas. Depois o 4 era um disco ensimesmado, pra dentro de novo. Com o Sou, fiz a antítese de um disco de banda. Fiz só eu comigo mesmo, com meus interlocutores. No Toque Dela tentei buscar novamente um ponto de oposição. N: Tem uma frase sua que diz que o rock matava um pouco a sua tranquilidade.

Marcelo: Acho que, durante muitos anos, subir no palco e cantar o que eu cantava era um movimento de transformação muito grande da minha personalidade. E isso me cansou, me saturou.Tentei fazer uma música que fosse mais irmã do meu estado de espírito cotidiano. Mas não era o rock, é mais o que o Los Hermanos se transformou durante um período. Uma banda muito grande, shows sempre muito cheios, as pessoas sempre muito doidas, com um carinho muito grande, aquela intensidade. E eu acho que o movimento de estar em uma carreira sozinho vem um pouco em consequência disso que eu vivi. E sem nenhum desgosto, só amor, né, cara? Foi um momento lindo da minha vida, que eu tenho o maior orgulho.

Fred: Eu gosto. Gosto mais ao vivo. Mallu: É minha preferida. Eu adoro tocar ao vivo porque eu me sinto má. “Olha meu veneno aqui, ó”. Marcelo: No começo da carreira eu fazia letras específicas, para situações específicas, e aos poucos eu fui transformando esse método: ao invés de ter uma intenção e escrever sobre algo que tá na minha cabeça, eu deixo que a música chame, melodias e letras, e paro depois pra observar o que foi aquilo que eu disse.Tenho notado que esse método ajuda a trazer à tona coisas que tão mais profundas no nosso inconsciente do que quando a gente mistura um jogo de intenções no meio do caminho. N: E isso tem a ver com o seu método de se manter distraído... Marcelo: Exatamente. Cê tá preparada, hein? N: Minha ideia era justamente bater um papo com vocês distraídos. Marcelo: Pode crer. É isso aí mesmo. Existe essa sensação de que a concentração, a tensão e o foco trazem à tona um lado da nossa persona que não interessa muito ali, naquela situação. Que é mais interessante tentar revelar coisas de mim que eu mesmo não conheço direito.


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N: Essa me faz pensar na Wanderléa, jovenguardiana... Marcelo: O Wado sai com umas incríveis, disse que o nosso disco era pós-Jovem Guarda. Mallu: Eu acho que a música já é tão autoexplicativa. Marcelo: É um grito de liberdade como “Velha e Louca”, né? Assim, mais ou menos. Mallu: Exato. Acho que é um grito da decisão de procurar o prazer, sabe? É quase que casar com o prazer. “Ó, prazer, é com você que eu quero passar a minha vida.” N: “Fora desse quarto o mundo tanto faz” é um estado de espírito além da música?

importa, e o significado você vai significando. E a Mallu realmente faz um pleito em favor dos burros de Miranda...

Mallu: Acho que é meio isso. A gente não consegue ir muito longe. Resolver o nosso próprio quarto já é um enorme desafio. Eu, pelo menos, não tenho muita ambição de melhorar nada além da minha própria existência.

Mallu: Eles são muito fofinhos, é só por isso. Não é político, ambientalista, nada. Eles são fofos, eu gosto deles e quero que eles vivam. Marcelo: Quando você gosta de uma pessoa você gosta das coisas dela assim, né? Tentando decifrar, assim, as razões disso. Pode ser tanta coisa. Por tantos motivos.

Marcelo: É uma canção bonita. De amor. Mallu: Tem os burros de Miranda! Marcelo: Que são os burros lá do norte de Portugal. A Mallu adotou um Burro de Miranda. Mallu: Pelo site! Você tem que adotar! E pode ir lá fazer carinho, eles mandam fotos…+8 N: Onde ele entra na canção mesmo? “Pode ser o seu apelo...” Marcelo: Isso, antes era “apego”, eu decidi cantar “apelo” e ficou mais bonito. É dessas coisas, que o som da palavra

Fred: Essa música foi das que deu mais trabalho, e pensávamos que não seria das que dariam mais trabalho. Quando estávamos escolhendo o repertório do disco, quando Mallu começou a tocar essa música nós começamos logo a fazer um ritmo. Eu acho que os filmes do Walt Disney têm um lado psicodélico e imaginei a música com uma batida assim, aquelas batidas da selva. Desde a primeira vez cantamos a música meio desse jeito.Tanto que uma vez, sem o Marcelo no estúdio, eu e a Mallu pusemos o rugido de um leão.

[+8] É possível adotar um Burro de Miranda no site aepga.pt/ apadrinhamentos


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Mallu: E um Tarzan! O Fred baixou uns samples de leões, o rugido da MGM. Fred: Ficou aquele “wraw!” [e faz uma onomatopeia com o início da música enquanto Mallu imita um grito de Tarzan]. Mas depois acabou por não ficar. Marcelo: Por causa de quem? [Risos] Fred: A Mallu fez um solo bem louco, aquele solo final. Mallu: Eles tão me botando uma moral só porque é um dos meus únicos solos no disco.

própria, foi relativamente simples de fazer no estúdio. A base do violão era bem clara, já chamava as outras coisas, tinha aquela linha do assobio, que eu queria. Agora, a bateria que o Fred fez eu nunca tinha imaginado e achei que foi perfeita. N: E o “me sinto ótima” ficou um bordão, né, Mallu? Mallu: Já aconteceu de me falarem andando na rua. Marcelo: Uma minha que virou que eu acho inacreditável é “ai, querida, aponta pra fé e rema, tá?”+9. E é uma música melancólica.

Fred: Não, esse solo tá demais. Pra mim é bem aquela parte do filme de Walt Disney que é pros pais curtirem.

N: Esta, no final, tem a Mallu fazendo um canto da sereia, chamando pra vida. Marcelo: Esse disco foi uma grande tentativa de simplificação da nossa linguagem. O Fred falou uma coisa no início sobre os Beatles, sobre a próxima nota ser aquela que a gente antevê, a nota que a gente quer ouvir. Então isso guiou um pouco as nossas escolhas, a gente queria fazer um disco franco, direto, e esta música é uma das que simboliza um pouco isso, é uma música gostosa, fácil de cantar e tudo.Várias pessoas vem me falar que ela é linda. E eu nunca esperava isso porque é um tipo de composição, de linguagem, tão simples. Como uma coisa quase primitiva dentro desse nosso repertório de possibilidades tem o potencial de encantar tão profundamente pessoas de pensamentos complexos? Isso me faz pensar um pouco mesmo.

Marcelo: Eu tentei terminar ela de algum jeito, mas ela tinha aquele início, primeiro verso, a gente não sabia pra onde ia. Aí eu terminei, fiz o refrão, mas ela entrou mais pro final do repertório.Tava ali meio no banco de reserva. Foi chamado pra campo nos 40 do segundo tempo. Mallu: Chegou só pra brilhar.

Marcelo: Essa lembra nossa casa na Barra, com os ratos e baratas. A gente se mudou pra uma casa meio isolada... Mallu: Só que a gente se mudou no dia da turnê dos Hermanos.

[+9] O trecho é da música “Dois Barcos”, do disco 4 (2005), Los Hermanos.

N: Também é um grito de liberdade... Mallu: E um grito de simplificação. Fala muito por si

Marcelo: Era no meio do mato. A primeira noite que eu dormi na casa a Mallu tava deitada assim, aí pulou um negócio por cima da minha perna e saiu, só vi uma bundinha correndo... um rato DESTE TAMANHO.


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Fred: Passando pela sua perna tipo, com licença? Marcelo: Isso, tipo “Valeu, mestre!” [risos]. Aí eu pensei, vou nem avisar a Mallu. No outro dia, já de mala pra ir embora, “Pô, amor, ontem aconteceu um troço meio chato, meio delicado, passou uma coisa que parecia um bichinho assim, eu acho que era um rato”. Aí ela “Ah, como é que era? Era grandinho? Era um saruê isso aí!”. A Mallu abria a tampa de esgoto com barata, dedetizava...

bairro do Rio um pouco afastado do mar, mas essa cultura do surfe tomou conta da minha juventude. Acho que o surf e o skate têm uma analogia à dança. Expressões pessoais que se dão a partir de um movimento físico. Surfista, skatista, têm um jeito particular de andar, de fazer as manobras, que revela um pouco da personalidade da figura. É uma música que circula por esse universo.

Mallu: Cansei de limpar a nossa fossa. As pessoas fazem um drama quando entope a fossa, mas você sabe o que é uma fossa? É o esgoto. As pessoas são muito frescas, impressionante.Você não morre limpando a fossa. N: E a casa foi tomando jeito? Mallu: Sim, os gambás foram embora depois que eu parei de dar comida pra eles.

Marcelo: Solar é uma música com essa estética mais de surf music, um negócio muito presente nos anos 1980. Sou de 1978, morava em Jacarepaguá, que é um

Marcelo: É uma música de despedida de algum lugar. Mas é difícil falar das músicas especificamente porque elas surgem por um lampejo inicial que depois você sopra um pouco, pra fazer daquela fagulha uma fogueira. Dificilmente ela é filha de uma coisa só, sabe? Você lança mão dos artifícios, dos recursos que você acumulou ao longo da vida, usa as suas emoções como mapa pra circular e pra criar algum objeto, mas eu, por exemplo, procuro tirar da equação um lado meu que seja consciente de todas aquelas forças. Procuro, ao contrário, tentar me embeber dessa referência inconsciente.


_FOTOS marcelo camelo

_TEXTO marIA JOANA DE AVELLAR

eo felipe e eduardo araĂşjo


Os bastidores do

“Estão nervosos para amanhã?”, perguntei, na véspera. “Só o necessário”, definiu Mallu, para que Marcelo completasse “Não é pra me gabar, mas a gente junto soma uns 30 anos de experiência, né não?”. E foi em clima de tranquila expectativa que os três mataram o tempo antes do primeiro show da turnê brasileira – e da história da Banda do Mar –, no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre. Quem registrou em filme TX 400 com uma câmera Praktica LTL o primeiro episódio dessa temporada foi Marcelo Camelo. Se a música é expressão artística,

mas também ofício, a fotografia é um hobby encarado com tanta leveza quanto curiosidade. Em uma tarde nublada com gosto de começo, Camelo aceitou o convite da NOIZE de experimentar e dividir conosco seu olhar, tentando a sorte com uma câmera com a qual não tinha familiaridade. O resultado você vê nestas páginas.


A SAUDADE

A turnê brasileira passa por 14 estados e tem duração de quase três meses. No dia do show em Porto Alegre, Fred adaptava-se ao temperamento mais efusivo e afetuoso do brasileiro, já com uma pontinha de saudade de casa. A sensação foi aliviada com a chegada da família no dia seguinte, para o show do Rio.

A BANDA

No palco, o trio se transforma em quinteto: ganha a guitarra de Bubu, ou Bubuzinho (Gabriel Mayall, do Do Amor, que já tocou no Los Hermanos), além do baixo de Marcos Gerez, ou Marcão, que faz parte do Hurtmold e acompanhou a turnê do Sou (2008) com Marcelo. À direita, o detalhe da guitarra de Bubu.


O UNIFORME

O vestido azul marinho com estampa de flores escolhido como figurino acabou ficando no cabide. Na hora de subir ao palco, optaram pelo uniforme, como mostra Mallu, orgulhosa.



O SHOW

“Como tá o som?”, pergunta Camelo na passagem, “é boa a acústica aqui?”, “Tem muito reverb!”, grita o interlocutor. “Ótimo. Assim que a gente gosta”. Horas mais tarde, a estreia teria um público oscilante entre timidez, estranhamento, maravilhamento e empolgação: as canções, a plateia e os músicos ainda adaptavam-se à novidade do ao vivo. Logo no início, Mallu convidou os presentes a se desprenderem das inconvenientes cadeiras do auditório: – Quem quiser ficar de pé, pode ficar! Quem quiser dançar, pode dançar! Pode fazer tudo o que quiser!


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“O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome”, eternizou João Cabral de Melo Neto. Difícil de explicar, mas fácil de sentir, o amor é definido pela Bíblia como sinônimo da divindade em si (João 4:8), e é isso que Gal Costa canta na última faixa do seu disco de estreia solo em uma música que Jorge Ben compôs, chamada “Deus é o amor”.

Por quase três anos, Jorge Ben foi seminarista (ou seja, postulante a padre), mas não quis encarar o voto de celibato e se tornar sacerdote. Ama demais as mulheres para isso, basta ver o número de músicas que devotou a musas como Jesualda, Dorothy, Rita Jeep, Bebete e Magnólia. O grande amor de sua vida, porém, é Domingas Menezes, com quem é casado desde o fim dos anos 60 e para quem dedicou canções como “Maria Domingas” e “Dumingaz”.

__ por Ariel Fagundes

Reprodução (Força Bruta)

Dizem que Jorge Ben teve um caso com Rita Lee – ele nega, ela nem comenta. Desde que casou com Roberto de Carvalho, a cantora não tem olhos para mais ninguém. Juntos, são um dos casais mais produtivos da música brasileira: 16 discos já nasceram como fruto dessa união. E logo em Rita Lee (1979), o primeiro álbum lançado depois de romperem com o Tutti Frutti, está presente uma faixa que Rita nunca deixou de tocar, “Doce Vampiro”.

Reprodução


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Drácula (1931) / Reprodução

De uns anos pra cá, o fetiche por vampiros cresceu, impulsionado pela trilogia Crepúsculo e por séries como True Blood. O tema vem se entranhando na cultura pop desde que Bram Stoker lançou o romance Drácula (1897) – Vampire Weekend que o diga –, mas o mito dos vampiros é mais antigo. Na Grécia, séculos antes de Cristo, já se temiam os vrykolakas: mortos-vivos de hábitos noturnos cuja alimentação consistia em sangue humano. Homero, o poeta mais famoso da Grécia Antiga, pode nem ter existido, mas suas obras serão eternamente relevantes. O protagonista da Odisseia, Ulisses, inspirou até o Franz Ferdinand, que lançou a faixa “Ulysses” no álbum Tonight: Franz Ferdinand (2009). É curioso que, na história de Homero, o heroico Ulisses cria o Cavalo de Troia, consegue cegar o ciclope gigante Polifemo, mas se vê obrigado a amarrar-se no mastro do seu navio para não sucumbir à tentação das lindas e fatais sereias.

“Metade busto de uma deusa maia, metade um grande rabo de baleia”, como diz Gil em “A Novidade”, as sereias estão no folclore de muitos povos, do Japão à Escandinávia, passando por aqui. No Brasil, temos a lenda de Iara, uma índia que matou seus irmãos por legítima defesa, mas por isso foi jogada para morrer no encontro entre os rios Negro e Solimões. Lá, foi salva por peixes que a transformaram em uma vingativa sereia.Vivendo nos rios, Iara é uma exceção: sereias adoram o mar.

Rainha do mar na cultura afro-brasileira, Iemanjá simboliza a beleza e o poder infinito dos oceanos. De Vinicius de Moraes a Chimarruts, muitos músicos se inspiraram nela, mas ninguém foi tão longe quanto Pepeu Gomes quando lançou a faixa “Sexy Yemanjá” em 1993, uma declaração de amor explícita. Poderia soar como heresia, mas se explica: com suas ondas feitas de um doce sal, o mar é lindo e furioso, profundo e arrebatador, lar do perigo e do êxtase... assim como é o amor.

Nelson Boeira Faedrich / Reprodução


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Divulgação

MAS DEVERIa_


_Por Gaía Passarelli //09B

leo cavalcanti leocavalcanti.com.br Quem é e de onde vem Leo Chaib Cavalcanti: cantor, compositor, arranjador e instrumentista paulistano. Com 13 anos, começou a tocar pandeiro em shows do pai, o músico Péricles Cavalcanti. Hoje, com 27, está no segundo disco. Se descreve como “Cosmopolita, pop e vibrante.” Comece com “Sem (Des)esperar”, com delicada participação de Tulipa Ruiz, “Despertador”, primeiro single do disco de mesmo nome, e a bela “Inversão do Mal”. Para ouvir Curtindo o fim de tarde na Praça Pôr do Sol, em São Paulo. Num rolê no sítio de amigos em dia de sol. Na cozinha comunitária da república. Num piquenique no Arpoador. Item essencial no guarda-roupa Algo com flores e cores: camisa, calça, vestido, arranjo de cabeça... tanto faz. O álbum mais recente Chama-se Despertador e é pop sintetizado e dançante. Segundo o próprio, é “pop intergaláctico”,

contrastando com o “pop transcendental” do disco de estreia Religar, de 2010, que foi elogiado por Caetano Veloso e Arnaldo Antunes. Dizem por aí “Um projeto fechado em um cenário próprio, mas que manifesta uma composição ilimitada de possibilidades.” (Miojo Indie, que considerou Despertador um dos grandes discos nacionais de 2014) Pra quem gosta de A nova MPB brasileira, shows na Casa do Mancha, festa esquema ocupação no Parque Augusta, música pra cantar junto e dançar. Toca onde? No MIS paulistano, no Aterro do Flamengo carioca e em eventos culturais como o lançamento do documentário sobre a cartunista Laerte. Mas o ambiente ideal é fácil: onde der pra dançar.

É possível ouvir os álbuns Religar (2006) e Despertador (2014) em rdio.com/artist/ Leo_Cavalcanti


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Marcelo Camelo

CARTÃO DE PASSARINHO POR MALLU MAGALHÃES mais que musicista, mallu é artista. desenha capas de discos (como o novo do tom zé), interpreta nara leão no cinema, assina coleção de marca chique de moda, pinta, borda, costura. Autodidata discípula do “faça você mesmo”, ela nos ensinou a fazer um cartãozinho querido que nem ela. O tutorial completo virou timelapse e está no nosso site.

MATERIAL NECESSÁRIO 2 folhas de papel, cola, tesoura, canetas coloridas, lápis e borracha. 1. Cor te uma folha pela metade. Dobre esta par te ao meio e faça, na dobra, um cor te perpendicular de aproximadamente 1,5 cm. 2. Com um dedo levantando a fenda e o outro marcando o final da dobra, forme um triângulo com duas dimensões para fora. Faça o mesmo com o outro lado do cor te, formando o bico. Dobre ao meio novamente, agora para o lado oposto.

3. Desenhe o pássaro e decore a parte interna do cartão. 4. Marque o espaço interno da boca do pássaro na outra metade do papel, posicionando o trabalho já feito dobrado em cima da nova base aberta. 5. Desenhe a garganta e a língua do pássaro. 6. Cole as duas partes com as pinturas para cima. 7. Corte a outra folha de papel pela metade e decore, esta será a “capa” do cartão. Dobre, cole e finalize.



_foto zĂŠ paiva

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NOME_ Getúlio Manoel Inácio O QUE FAZ_ Pescador, ensina música na praia do Campeche, em Florianópolis (SC) UMA BANDA_ Orquestra Tabajara “O folclore que nós temos em todo o litoral do Brasil está relacionado a algum tipo de atividade com música. Temos boi de mamão, os bailes domingueiras, as festas religiosas… A pesca também faz parte desse contexto. A inspiração do mar é muito presente nas letras, ele traz a paz que se precisa pra ser um bom músico, traz inspiração. No volume da onda do mar há uma nota musical escondida. Quando a gente tem um mar bem revolto, a nota é mais duradoura, mais grave. Quando você vai numa lagoa, o barulho das ondas é bem fino.”





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