Revista NOIZE #12 - Abril de 2008

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NOIZE

#12 // ANO 2 // ABRIL ‘08

ÍNDICE 4. News // 8. Road Trippin’ // 10. Sem Destino World Tour // 12. Pixies // 16. Irom Maiden // 18. Capa // 22. doyoulike? // 27. Agenda // 30. Estilo:Música // 34. Reviews // 42. Colunistas // 44. Fotos // 46. Jammin’


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Se Você Não Gostou da Noize Passe Adiante

EDITORIAL É o segundo mês para retomar e consolidar. Retomar porque estamos em nosso segundo ano em Porto Alegre, onde o público nos conhece e se acostumou com a nossa presença, Consolidar porque o interior ainda está querendo entender o que é a NOIZE, embora a capa e o nome revelem bastante da nossa proposta. Começamos o serviço de assinatura em todo o Brasil, portanto aumenta demais a responsabilidade. Chega de enrolação. Na NOIZE de abril, conheça o funk que não tomou conta do litoral durante os meses de veraneio. Conheça o disco do Pixies que inspirou Kurt Cobain a criar Nevermind, o álbum mais importante dos anos 90. Acompanhe a marcante passagem do Iron Maiden por Porto Alegre e de Bob Dylan por Buenos Aires. Leia uma entrevista com a doyoulike?, banda que tem conquistado a gurizada ligada em rock com doses maciças de emoção. Tudo com a qualidade editorial e gráfica que fazem da NOIZE a revista especializada em música mais lida no Rio Grande do Sul. Agora, o Brasil que nos espere! Enquanto isso, esperamos ansiosamente o contato de vocês: seja para sugerir, reclamar, elogiar ou questionar. Somente com o seu retorno poderemos melhorar cada vez mais. Equipe Noize.

noize.com.br

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Jorge Bueno

news

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TENENTE CASCAVEL

Está definida uma reunião inédita que colocará no mesmo palco integrantes do Cascavelletes e do TNT, duas das bandas mais importantes da história do rock gaúcho. Com uma apresentação marcada para o dia 5 de junho, no Bar Opinião, a banda Tenente Cascavel irá relembrar as principais músicas dos dois grupos. Será formada por Alexandre Barea (bateria, ex-Cascavelletes), Luís Henrique “Tchê” Gomes (guitarra/voz, ex-TNT), Luciano Albo (baixo/voz, ex-Cascavelletes), Márcio Petracco (guitarra/voz, exTNT) e Frank Jorge (baixo/voz, ex-Cascavelletes). A idéia é que mais shows sejam marcados após o do Opinião. Em maio do ano passado, a formação original do Cascavelletes fez um show único na festa de 10 anos da Pop Rock. Agora em junho, porém, mesmo sem contar com integrantes importantes das duas bandas, o fato inédito a atrair a atenção é o de uma única formação executar as músicas de ambos os grupos. Barea afirma que os músicos já estão ensaiando há mais de um mês. No repertório, onze canções do TNT e onze do Cascavelletes. No entanto, outras músicas podem ser acrescentadas até a data do show, garantindo uma apresentação longa aos fãs. “O que vai ser interessante é que estamos fazendo alguns medleys emendando músicas das duas bandas”, completa. Ele garante que será um repertório consistente e capaz de tornar a ocasião especial e inesquecível para todos. É considerada a idéia de chamar músicos que foram influenciados pelos dois grupos a participarem do evento. Cascavelletes e TNT integram um grupo de bandas que tornou famoso o chamado rock gaúcho. Deixaram para a nossa música hinos como “Não sei” (TNT) e “Sob um céu de blues” (Cascavelletes). Fiquem ligados nas próximas edições da NOIZE para mais informações! > “Eu quis comer você” na TV - Apresentação inusitada dos Cascavelletes no Clube da Criança, com direito a um papo bizarro entre Flávio Basso e Angélica. Tags: cascavelletes quis comer angelica

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> “Ana Banana” no Dado Bier Comemorando o dia do rock antecipadamente, o TNT fez um baita show no Dado Bier, em 12 de julho de 2007. Confira! Tags: tnt ana banana dado

SAIBA MAIS

> “Sob um céu de blues” na Festa da Pop Rock

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O Cascavelletes, depois de 16 anos, realiza uma única apresentação em 12 de maio de 2007. No palco, a formação original da banda. Emocionante. Tags: sob blues pop rock

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Divulgação

Divulgação

Fotos: Arlise Cardoso

CHINESE DEMOCRACY = REFRI GRÁTIS

timbres nÃO MENTEM JAMAIS PARA Marcelo Birck

Paciência (não) tem limite. A lenda Chinese Democracy, disco que Axl Rose promete há anos, tem gerado atitudes tão absurdas quanto os adiamentos do álbum. A marca de refrigerantes Dr. Pepper afirmou que distribuirá uma lata de refri por cidadão dos EUA—com exceção dos ex-membros Slash e Buckethead —se o disco do Guns N’ Roses for lançado até o fim de 2008. A empresa explicou o desafio, alegando “entender a busca de Axl pela perfeição”. “Foi preciso paciência na mistura de 23 ingredientes que se tornaram conhecidos e amados por nossos fãs”, disse o diretor Jaxie Alt. Mr. Rose, por sua vez, disse estar muito feliz com o apoio. “No disco, há performances de Buckethead, então dividirei meu Dr. Pepper com ele”. Sacanagem com o Slash...

Marcelo Birck, fundador da Graforréia Xilarmônica, ícone do rock do Rio Grande do Sul, lançou no fim de março seu segundo álbum, intitulado Timbres não mentem jamais. O álbum tem o patrocínio da Petrobrás e parte do desafio de “aproveitar ao máximo os desafios que surgem no período atual, onde paradigmas são relativizados e no qual existe uma profusão de suportes, propondo reflexões e oportunidades inéditas para a prática musical”. A composição básica da banda é o guitarrista Bruno Alcalde, o baterista Alexandre Birck e os baixistas Pedro Porto e Valdi Dalla Rosa. Birck acaba de lançar um novo site, no qual disponibiliza toda a sua discografia (inclusive o CD novo). > marcelobirck.com - Muito mais sobre um

estampa

do mês

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dos músicos mais importantes do Rio Grane do Sul.

>> Júpiter Maçã, Wander Wildner, Superguidis e Pata de Elefante serão os gaúchos no Abril Pro Rock deste ano, em Recife. Todos se apresentarão no sábado, 12 de abril.

>> “A hora e a vez do cabelo da Marimoon

>> Nei Van Soria está recorrendo aos fãs para definir parte do seu repertório. Acessando www.neivansoria.com/blog, é possível escolher cinco músicas para integrar os shows.

>> A Stratopumas liberou duas músicas

apodrecer” é a faixa inédita da banda Os Nerds. Mais informações na comunidade da banda no orkut. novas no TramaVirtual. Ainda em versões demo, foram intituladas “Folha em branco” e “Guardião do sorriso vazio”.

Onde Encontrar: SPIRITO SANTO Rua 24 de Outubro, 513 - Moinhos de Vento

5 >> noize.com.br


news

INÉDITAS DOS BEATLES VÃO CONTINUAR INÉDITAS? Uma série de músicas supostamente gravadas pelos Beatles em 1962, durante um show na Alemanha, poderão permanecer às escuras para os fãs da banda. Isso porque a Apple Corps, empresa que zela pelo legado do grupo, é contrária à divulgação das faixas, que teriam baixa qualidade e foram feitas sem o consentimento do grupo. As informações são todas especulativas, pois não houve comunicado de dados oficiais sobre as faixas inéditas. O show teria sido realizado no Star Club, em Hamburgo. A Fuego Entertainment é a responsável pelo material descrito como clandestino pela Apple Corps, que se mobiliza judicialmente para vetar a sua distribuição. Ele seria composto por 8 músicas, dentre as quais uma em que McCartney canta “Lovesick Blues”, de Hank Williams, e outra em que Paul faz um dueto com Lennon em “Ask me

Reprodução

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why”. A apresentação simbolizaria a entrada de Ringo Starr na banda. De um lado, Paul LiCalsi, da Apple Corps, afirma que “mais parece uma gravação de fundo de quintal”. Do outro, Hugo Cancio, da Fuego Entertainment, diz que o motivo para o incômodo da opositora é o fato de não possuírem os registros. Caso venha a ser lançado, o material receberia o nome de Jammin com Beatles e amigos, Star Club, Hamburgo, 1962.

Ainda é cedo demais para afirmar com convicção, porém um passo importante para o retorno dos reis da surf music foi dado recentemente. Os três remanescentes da formação original da banda—Brian Wilson, Mike Love e Al Jardine—chegaram a um acordo judicial sobre o uso do nome Beach Boys, depois de muitos anos em litígio. A solução amigável foi tomada em um tribunal de Los Angeles. Conforme o advogado de Jardine, Lawrence Noble, foram esclarecidas diversas histórias negativas, e os olhos dos envolvidos estão voltados ao futuro para coisas boas que possam vir a acontecer. O acordo reafirma o direito exclusivo de Love sobre o nome Beach Boys. Jardine teria usado ilegalmente a marca em mais de uma ocasião, o que resultou em processos nos últimos anos. Durante a conferência que garantiu um desfecho cordial ao problema, Love e Jardine chegaram a se reunir em uma

Reprodução

BEACH BOYS SORRIEM NOVAMENTE

sala anexa para cantar músicas do grupo enquanto os advogados resolviam os desacordos legais. O Beach Boys tornou-se conhecido na década de 60 por álbuns como Pet Sounds, Smiley Smile e Surfin’USA, entre outros. Brian Wilson, principal compositor do grupo, é tido até hoje como um dos maiores artistas da história da música. Ele recebeu o prêmio Kennedy Center de 2007 ao lado de nomes como Martin Scorsese e Steve Martin.


Foto: Rubens Cerqueira

Roberta Ridolfi/Divulgação Sub Pop

Rafael Malenotti

Vocalista do Acústicos & Valvulados

CANSEI DE SER VISTO Um vídeo da banda Cansei de Ser Sexy – postado no YouTube em abril do ano passado – foi o mais visto da internet. No entanto, “Music is my hot hot sex”, que chegou aos mais de 90 milhões de visitas, foi tirado do ar. A primeira ação do Google foi removêlo da lista dos mais vistos no YouTube em todos os tempos. Segundo informações, a empresa estaria analisando se a audiência é legítima. O grande número de acessos foi explicado de várias maneiras, até mesmo a de que o YouTube estaria fazendo merchandise em favor do CSS. Uma possibilidade, segundo a banda, seria o fato de as pessoas buscarem o termo “hot sex”. Outra explicação pode ser a de um comercial da Apple, na qual a música foi usada como tema. “Music is My Hot Hot Sex” foi criado por um fã italiano. Consta no YouTube que o vídeo foi removido pelo usuário. SAI DOS MEUS TÊNIS, COBAIN. A Converse anunciou recentemente o lançamento de um modelo em homenagem a Kurt Cobain. O tênis tem estampadas letras das músicas compostas pelo líder do Nirvana. A idéia, porém, não agradou em nada alguns fãs da banda grunge. O site NME recebeu respostas nada amigáveis a respeito. Os fãs acreditam ser uma falta de respeito com o músico. Uma das réplicas diz o seguinte: “Kurt deve ser lembrado como músico talentoso, e não como ‘marca’”

NOIZE diz: E aí, rafa, beleza? Rafael diz: Tudo tranquilo !!! NOIZE diz: cara, o que a Acústicos tem feito? Ouço falar de shows, participações especiais, etc.Vocês tão gravando? Rafael diz: Estamos começando a fase de novas composições e nos preparando pra dar sequência ao Cd e Dvd Acústico , ao Vivo e a Cores ... a partir desse semestre já vamos ver o que acontece !!! É necessário dar andamento à história... NOIZE diz: cara, quando vcs começaram o mercado era diferente, porque as pessoas ainda compravam cds e a pirataria era bem menor. como tu acha que um artista deve se comportar nesse novo contexto? Rafael diz: Acho interessante o fato de cada banda poder pensar a respeito dos seus lançamentos ... teve a história dos Radiohead e mais uma penca de gente tentando se situar nesse novo momento , desde as bandas até as gravadoras, enfim, acho difícil ter algum plano porque mal e mal começamos a ver sons novos , mas garanto que vamos avaliar bem a situação e tentar fazer o melhor possível !!! NOIZE diz: no planeta atlantida, o nenhum de nós homenageou várias bandas aqui do sul, inclusive a acústicos. tu subiu ao palco principal como convidado. acha que a banda pode voltar ao palco principal em um futuro próximo como atração? Rafael diz: A intenção sempre é essa ... o que acontece é que o Planeta leva ao palco aquelas bandas que foram mais executadas na programação durante o ano , salvo as exceções como a Ivete , Inimigos da HP e coisas que são mais povão mesmo ... e nós, defendendo a bandeira do rock sempre temos que tentar tocar o máximo possível dentro da rádio para justificar o convite, mas participar nesse ano com o Nenhum foi muito legal !!! Poder cantar com eles foi mta honra mesmo NOIZE diz: 20 anos de estrada nao é pra

qualquer um... Rafael diz: ensinaram o caminho das pedras para muita gente, inclusive nós ... NOIZE diz: quantos anos vcs têm? hehe Rafael diz: começamos a tocar na noite de Natal de 1990, a long time ago, mas a banda passou a ter um reconhecimento de público a partir do lançamento do cd de 1999, que tinha Até a Hora de Parar , Fim de Tarde , O Dia D é Hoje... e nunca mais paramos de fazer shows, já estamos por volta dos 900 !!! Que beleza !!! NOIZE diz: 900 shows... muitas histórias... Rafael diz: Com certeza , e o legal é que muitas nem dá pra contar publicamente , hehehe ... mas numa mesinha de bar ... com umas cervejotas , já é capaz de todo mundo ir em cana na sequência!!! Depende de quem estiver na mesa ao lado !!! NOIZE diz: hehehe muito nervosismo na hora de conversar com o roberto carlos? Rafael diz: aos poucos vou me coordenando melhor , já foi a terceira vez que fiquei na frente dele , a emoção sempre é grande , o bacana é que desta vez fui convidado pela produção dele , pra poder fazer a homenagem e cantar junto com a banda ... um dia ainda vou chegar na frente dele sem desabar em emoção , mas não foi dessa vez ... Rafael diz: Mas que beleza esse modo de entrevista, né ô Batista (como diz o Paulo Brito ) ???!!!! NOIZE diz: gostou do esquema do msn? Rafael diz: Muito afú... não é o clima de email , fone ou gravadorzinho , vai o que se digita na hora mesmo, legal pracaralho ... NOIZE diz: é, tem seus altos e baixos... para encerrar, queria abrir o espaço para tu dar o recado que quiser ao pessoal que tah lendo. um abraço e valeu pela entrevista. Rafael diz: Valeu galera da NOIZE, pela oportunidade de entrarmos em contato com os leitores , e espero poder continuar na estrada do rock cada vez mais ... mandem recados pra nós no site www.acusticosevalvulados.com.br, baixem nossos sons , pintem nos shows, pra podermos seguir a máxima do AC/DC: It’s a Long Way To The Top If You Wanna Rock’n’Roll!!! E principalmente... se liguem na FODA!!! Abraço !!! x 7 noize.com.br


road trippin’

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ESTADOS UNIDOS Nome: Gustavo Reis Idade: 23 O que faz: Estuda Administração Destino: Porto Alegre/Los Angeles Motivo da viagem: Experiência Pessoal Trilha Sonora: Dave Matthews Band Muitas vezes, conversando com amigos, eles me dizem que não seriam capazes de morar em uma cidade como Los Angeles, onde se precisa de carro para tudo, e as distâncias são eventualmente muito grandes. Eu também tinha essa impressão, mas depois de pouco tempo vivendo lá, percebi que em contraponto ao trânsito nas freeways, as grandes distâncias da cidade permitem acesso a infinitas opções de diversão, cultura e esportes. Da mesma forma, as freeways tornam-se extremamente eficientes uma vez que se compreende seu funcionamento, podendo assim evitar os horários e rotas de maior movimento. Somente através delas se faz possível a movimentação entre os diversos, variados e distantes bairros da cidade, como Santa Monica, Beverly Hills, Hollywood, Venice, Chinatown e Malibu, que estão entre os mais conhecidos. Vale lembrar que o tempo dirigindo se justifica. Dirigir uma hora para chegar à praia pode ser cruel, mas é bem mais gratificante se o destino for Trestles ou San Clemente. Mas se dirigir realmente te incomoda, você pode, em menos tempo, ir para Malibu, Huntington ou Venice Beach. Quanto à alimentação, em qualquer bairro, para todos perfis de público e diferentes faixas de preço, há restaurantes de cozinhas indiana, italiana, tailandesa, chinesa ou mexicana, entre tantas outras. Além disso, os shows de todas as grandes bandas passam e ficam por Los Angeles mais tempo que em qualquer outra cidade. O X-Games e as etapas do WQS e do WCT de surfe são alguns dos eventos que a cidade hospeda todos os verões. Para quem gosta de festa, todos dias da semana há algum bar ou club tocando qualquer música que se queira ouvir. Vale lembrar o last call, que ocorre pontualmente à 01:30AM e é a última chance de comprar bebidas, pois os bares fecham às 2 da madrugada. No entanto, é fácil de se acostumar à regra, que permite que se aproveite mais o dia.Além dos parques temáticos, L.A. oferece vários outros atrativos - são poucas as cidades onde se pode surfar e fazer snowboarding no mesmo dia. Além de ser uma cidade muito lembrada em letras de músicas, é a que mais serviu de locação para filmes no mundo. Isso causa uma sensação de “já vi isso antes” em qualquer lugar da cidade que se vá. É impressionante o número de atores, músicos e/ou comediantes entre seus moradores. Estes tentam lhe O Melhor de L.a.: convencer que o trabalho que eles fazem há dez anos é temporário, pois assim que Rádio – Star 98.7 uma próxima oportunidade chegar suas carreiras irão deslanchar. Ainda mais típica Casa de Shows – Hollywood Bowl é a pergunta: “Você se lembra de mim em Revista – LA Weekly algum filme?”. Eu, sem muita certeza, resComida – Tailandesa pondia que não. A réplica, normalmente, era Lugar – Venice Beach algo do tipo: “Eu participo da batalha final em Coração Valente, lembrou?”.


CANADÁ Nome: Martin Idade: 21 O que faz: Estuda Engenharia Destino: Porto Alegre/Vancouver Motivo da viagem: Life Experience Trilha Sonora: Thievery Corp. Não é à toa que Vancouver foi eleita a melhor cidade para se viver. Com certeza a cidade menos fria do país, está situada na província de British Columbia, na costa oeste do Canadá. Dotada de muitos parques e praias, Van é um dos únicos lugares no mundo onde o casamento gay é legalizado, além de ser uma cidade bastante liberal em diversos aspectos. Um dos primeiros lugares que todo mundo passa é a Granville St., a rua principal de Vancouver, que atravessa o centro da cidade. É onde fica toda a muvuca comercial e recreativa, tanto durante o dia como noite adentro. Em dia de Halloween, uma boa é sair pra caminhar pela rua e se deslumbrar com a criatividade dos canadenses no quesito fantasia. Em direção ao rio está a Hastings St., onde fica o restaurante/observatório Harbour e também uma loja bem interessante, a British Columbia Marijuana Party Bookstore, que trata sobre todos assuntos relacionados à cannabis. Tem como pilar Marc Emery, um grande ativista fundador da Cannabis Culture Magazine. Exatamente ao lado encontra-se um café um tanto peculiar: o famoso Amsterdam Café, que oferece um ambiente aconchegante com uma boa música para depois de um dia de trabalho. Vancouver é uma cidade bastante nublada, mas no verão uma boa pedida é desbravar o Stanley Park, o maior e mais belo parque da cidade—o que pode lhe tomar um dia inteiro. Para curtir a natureza, há ainda uma ilha (localizada a 30 minutos de ferryboat) onde fica Victoria, a capital de BC; uma cidade um tanto encantadora. Apesar do frio, pode-se curtir a praia sem sair da cidade. A UBC é a principal universidade da cidade; fica perto da costa sul. Atrás do campus está a Wreck Beach, onde rolam muitas festas universitárias e algum nudismo durante o dia. O Cambie é uma bar típico canadense onde pode-se pedir um pint (copo de cerveja) e uns chicken fingers. Conhecido por receber muitos brasileiros, é um bom lugar para descontrair e fazer alguns amigos. Por incrível que pareça, em Vancouver raramente neva. Se você atravessar o rio talvez encontre um pouco em North Vancouver. Mas o melhor mesmo é fazer uma viagem até Whistler, o point para prática de esportes radicais como esqui ou, ainda, fazer bungee jump de uma ponte sobre um rio congelado. Assim como a americana, a comida canadense é o fast food. Mesmo assim, não é muito difícil encontrar culinária de todo o mundo por lá. Se o problema for grana, as pizzas são uma boa alternativa: por um dólar leva uma bela fatia de pizza, que costuma ser feita na sua frente—e são bem apetitosas. Na madrugada a pedida é o Dennis, um restaurante 24h na Davie St. (a “gay street”). O prato favorito é o brownie de chocolate.

O Melhor de vancouver: Rádio – CJSF 90.1 FM Casa de Shows – Pacific Coliseum Revista – Canabis Culture Comida – Pizza Lugar – Stanley Park

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Nesse espaço em parceria com a Sem Destino, colaboradores falam dos maiores festivais de música do Planeta.

sem destino :::

world tour 10


Nome: Luciano Ahn Idade: 22 Melhor Show: John Digweed Bizarrice: Sorvete de Massa Estrutura:10 Line-up: 9

A expectativa que eu tinha para o Future Music Festival era muito grande e, felizmente, pude satisfazê-la em shows de alguns dos principais nomes da cena eletrônica mundial. Estiveram no Royal Randwick Racecourse, em Sydney, nomes como Chemical Brothers, John Digweed, Roger Sanchez, Sven Vath, The Shape Shifters, Chicks on Speed, Markus Schulz, Eddie Halliwell e Datarock, proporcionando 12 horas de intensidade inacreditável. Primeiro, vale destacar o local escolhido, um hipódromo enorme onde já foram realizados nos anos 70 desde show dos Rolling Stones até missa do Papa Paulo VI. O lugar é enorme, o que dificultou um pouco a locomoção. Combinando a distância ao povo que estava lá, era bem complicado trafegar entre os seis palcos à disposição, que iam do house ao hard trance. Chamou minha atenção uma tenda que era extremamente silenciosa, mas a galera pulava e dançava sem parar. Isso porque quem entrava lá ouvia música com fones de ouvido. Algo bem individualista e esquisito, eu diria. Essa tenda permaneceu lotada a festa toda. A estrutura não foi montada no centro da pista, mas sim em volta. O pessoal da ala VIP ficava nas arquibancadas, mas era no burburinho que valia a pena estar. Além dos quiosques vendendo comidas e bebidas convencionais, até sorvete de massa tinha! Para quem quisesse fugir um pouco dos shows, poderia curtir os brinquedos em um parque de diversões com roda gigante, autochoque e muitos outros brinquedos. Também é elogiável a preocupação com segurança, porque

havia muitos policiais espalhados pelo hipódromo. É inegável que eles sabem organizar eventos, como pude conferir no Future e também no Field Day, um festival que teve no primeiro dia de janeiro. Acabei perdendo alguns shows que queria ver por causa da quantidade de alternativas em horários semelhantes. O show do Roger Sanchez foi um dos mais legais. Não é a toa que o cara já ganhou um Grammy e é o responsável pela Stealth Records, que lança alguns dos artistas mais promissores da atualidade. House de primeira categoria. Também chamou minha atenção o som do Datarock, uma banda norueguesa que faz um som puxando para o electro-punk. Mas as duas atrações que mais desejava ver eram John Digweed e Chemical Brothers. O Digweed se apresentou na hora em que começava a escurecer. Certamente foi um dos que mais agitou a massa; quando se tem um set bom facilita bastante. Na minha opinião, a melhor apresentação do festival. Fiquei um pouco frustrado com o Chemical Brothers, Talvez tenham sido prejudicados pelo som baixo. Evidente que nas clássicas a galera era incendiada, mas conversando com amigos e pessoas que conheci lá, notei que muitos ficaram decepcionados com a apresentação. No fim, a galera empolgada gritando “salmon, salmon, salmon!!!”, e eles não voltaram para tocar “Salmon Dance”. Frustrante. Mesmo assim, só o privilégio de ter visto os caras num festival como esse é suficiente pra sair de lá com um sorriso de orelha a orelha. Se você tem interesse em estar presente nesses e em outros grandes eventos, além de aproveitar as inúmeras alternativas de cultura, entretenimento e estudo oferecidas nas melhores cidades da Austrália e da Nova Zelândia, consulte o quadro ao lado e o site da Sem Destino (www.semdestino. com.br), e conheça os pacotes de intercâmbio que a agência oferece. Você com certeza não vai se arrepender.

apresentações

clássicas

Ferry Corsten FutureMusicFestival 2007

O Future Music Festival é um evento recente, mas já tem alguns minutos guardados para a posteridade na cena eletrônica. No ano de 2007, o line-up tinha como headliners nomes como Carl Cox, Ferry Corsten e The Egg. Um dos ápices foi a apresentação do holandês Ferry Corsten, um dos maiores DJ’s e produtores internacionais. Corsten é um dos pioneiros na consolidação do trance, mesclando-o a estilos distintos como electro house e techno. O resultado dessa mistura é o L.E.F. (Loud Electronic Ferocious), considerado uma nova direção para a dance music. O DJ proporcionou momentos alucinantes no Future Music Festival 2007. Uma seqüência de vídeos dividida em cinco partes comprova a afirmação acima. Não perca tempo e acesse os registros no YouTube. tags: future music 2007 ferry corsten sydney

custos da viagem :: USD $4.145 16 semanas de curso de inglês 04 semanas de acomodação Material Didático Seguro Saúde

:: USD $1.450 Passagem Aérea (ida e volta) Mais informações:

www.semdestino.com.br (51) 3019.4001

11 x noize.com.br


Texto Carlos Guimar達es

pixies 12


Há duas décadas, Kurt Cobain e o mundo conheciam Surfer Rosa, do Pixies, a divina inspiração que fez o Nirvana revolucionar a música três anos depois. Foram eles que quebraram paradigmas e criaram o atalho para os anos 90. Não era apenas o fim de uma década, mas a redefinição de uma forma de ser, se comportar e compreender a música. Surgia o contra-senso capaz de impelir uma revolução. Ou era tudo muito preto ou tudo colorido demais—ou demasiadamente certinho, como os yuppies no nascimento do politicamente correto. Os anos 80 corriam e a música se dividia entre a extravagância do new wave, o exibicionismo do rock farofa, o minimalismo do dark e a discrição dos artistas politicamente corretos. Dentro dessa dicotomia de cores, excentricidade e variações sonoras e visuais, faltava algo que pudesse apontar para um futuro que não aquele imposto pela megalomania da já moribunda Guerra Fria. O rumo não era a Era Espacial, com foguetes, capacetes, ausência de gravidade e estações orbitais. Não eram os sintetizadores do Kraftwerk ou Sigue Sigue Sputnik, nem os malabarismos sonoros de Peter Gabriel, por exemplo. O mundo estava mudando e a urgência era um pouco maior. Era preciso um alento para a nova década. Algo que fosse ouvido e alguém dissesse: “Ei! Chegaram os anos 90!”. Esta mudança foi assimilada pelo hip-hop, muito antes do pop rock encontrar a fórmula perfeita. Run DMC e Public Enemy fizeram seus melhores discos nos anos 80, no final da década, já flertando com o gangsta, forçando no discurso político e na implementação de sonoridades mais trabalhadas. O pop rock bateu o martelo em 1985, com a brusca ruptura que o Jesus & Mary Chain propôs no antológico Psychocandy. Ao invés de obscuridade ou de purpurina, a correção e a desarmonia que conviviam lado a lado. Por baixo de sussurros e melodias belíssimas, um atrolho de guitarras apontando para que finalmente os anos 90, tão distantes até então, estivessem logo atrás da porta. Nos EUA, o pós-punk juntou os pauzi-

nhos e assimilou perfeitamente o que o Jesus fez. Várias bandas surgiam no underground norte-americano, como R.E.M, Husker Dü, Replacements, Sonic Youth, Melvins, Jesus Lizard e Big Black. Desta última surgiu um nome fundamental para a construção da sonoridade das bandas no início da década de 90. O multimídia Steve Albini era líder da Big Black. Compositor, cantor, guitarrista, produtor, jornalista e engenheiro musical, Albini era uma espécie de Midas do underground norte-americano na virada da década. Em 1987, foi convidado para produzir o primeiro álbum de longa duração de uma banda de Boston chamada Pixies. Eles só haviam lançado um EP, de boa repercussão no meio alternativo, chamado Come on Pilgrim. Em dez dias de gravação, o produtor introduziu algumas técnicas peculiares para a época. Em “Where’s My Mind?”, a clássica canção de Surfer Rosa, os backing vocals de Kim Deal foram gravados num banheiro, para dar mais eco. Black Francis, o vocalista, teve sua voz em “Something Against You” amplificada num cubo de guitarra. Preciosismos e preferências de um produtor metódico e criativo, que deu ao Pixies o passo que eles precisavam para entrar no hall das grandes bandas de rock. Formados em Boston, em 1986, o Pixies era um quarteto. Black Francis, o vocalista que fugia aos padrões da época, tinha cara de gordinho simpático assador de churrasco. Kim Deal, a baixista carismática, reinventava a bula de como se tocava baixo. Com palheta, pegada forte, precisa e reta, surrava cada uma das quatro cordas numa batida pulsante para contrastar com sua voz adocicada.

O guitarrista era Joey Santiago, amigo de Francis, com um estilo próprio que flertava bastante com a surf music. Já o baterista era Dave Lovering, econômico em estilo e na batida. De fato, Surfer Rosa impressiona desde o início. Começa com “Bone Machine”, faixa em que o guitarrista Joey Santiago já dá uma pequena amostra de toda a sua potencialidade. A visceral performance de Black Francis segue nas três faixas “Break My Body”, “Something Against You” e “Broken Face”. As letras falam de mutilação e assinam embaixo com o humor negro presente na mente do principal compositor. O primeiro impacto se dá com “Gigantic”. A única faixa cantada por Kim Deal na obra do Pixies já nasceu clássica. Com uma repetição de baixo característica, um refrão esplêndido e um trabalho de guitarras inquietante, talvez tenha sido o primeiro hit underground dos EUA. “River Euphrates” faz a passagem para “Where’s My Mind?”, para muitos a melhor música do Pixies. Black Francis diz que compôs a canção num mergulho no Caribe, olhando para os peixes. A combinação de letra, violão, guitarras e refrão explodem numa música perfeita. “Cactus” é inspirada numa história de amor e sangue. “Tony’s Theme” faz referências a desenhos animados. “Oh! My Golly” e “Vamos” remetem diretamente à cultura portoriquenha—um fetiche de Francis, como se confirmou em seus álbuns solo. Aliás, o nome, “Surfer Rosa”, vem de um trecho de “Oh! My Golly”. Albini ainda registraria apanhados em estúdio como em “I’m Amazed”. O álbum acaba com “Brick is Red”, com influências da surf music. Surfer Rosa não fez tanto sucesso nos Estados Unidos. O único single é “Gigan13 >> noize.com.br


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14 STEVE ALBINI EM PORTO ALEGRE

Com calça rasgada, guitarra lascada presa à cintura e camiseta criticando os Estados Unidos, Steve Albini veio a Porto Alegre com sua banda, Shellac, em show que aconteceu no dia 28 de março. Minimalista e tímido, o produtor que prefere ser chamado de engenheiro de som é um músico focado em tocar, quase não exercendo comunicação com a platéia. Para um Garagem Hermética semi-vazio, o Shellac fez um ótimo show. Com muita pegada, a banda encarna a égide de power-trio à risca: guitarras em alto volume, baixo pesado e bateria forte. O show só não foi melhor pela interrupção que aconteceu na metade. A Brigada Militar invadiu o Garagem armada, parou o som e revistou todo mundo. Depois disso, Albini conduziu o concerto até o final, quando saiu de fininho. Rapidamente, falou com a reportagem da Noize. NOIZE - Surfer Rosa completa 20 anos. Como foi esse trabalho? ALBINI - Foi mais um disco. Não é o tipo de música que gosto. Foi um trabalho igual a outros. Gostei de trabalhar com a banda, mas não posso dizer que costumo escutar Surfer Rosa em casa. NOIZE - Você imaginava o reconhecimento que o álbum obteria? ALBINI - À parte da repercussão, me engajo da mesma forma para todas as bandas. É gratificante, mas mais importante que a recepção de crítica e público é eu sentir que fiz um bom trabalho. NOIZE - Você recebeu alguns CD’s. Isso acontece sempre? ALBINI - Sim. É uma pena que não tenho tempo para ouvir todos. NOIZE - Já teve algum show seu interrompido pela polícia? ALBINI - Desse jeito, nunca. No máximo, uma revista normal com alguns policiais. Mas tantos assim, nossa, nunca vi. E o Shellac seguiu para o hotel, sem escalas.

tic”, que não vendeu tão bem assim. Fez mais sucesso na Europa, que já tinha uma noção um pouco melhor do que poderia lhes trazer a década noventista. Já a crítica se derreteu para as canções de amor e morte do Pixies e para a melodia pop com infiltrações de guitarras e uma cozinha dinâmica. Uma década depois do Sex Pistols, o Pixies fez um “faça você mesmo” bem mais digno do que todos aqueles pós-punk que não entenderam bem o espírito calhorda do estilo e resolveram azucrinar, anarquizar ou avacalhar o conceito. Em 1989, Doolittle finalmente juntou êxito de crítica e público e deu de presente às paradas o hit “Here Comes Your Man”. A banda ainda lançou outros dois álbuns de estúdio antes de parar por um tempo, em 1993. Com Surfer Rosa, o Pixies foi elevado à banda de culto em todo o mundo. Sabia-se que era algo diferente, com um propósito maior do que seguir naquela lentidão arrastada, ora mórbida, ora efusiva, dos anos 80. A chegada de um álbum como este representou o fim de uma ressaca criativa. Se os Smiths já não estavam juntos, se o Cure passava a fazer músicas alegres, se toda a farofa do hard rock foi aspirada pelo Guns N’ Roses, se a África ainda passava fome mesmo depois do tributo organizado por Michael Jackson, sobrou para o Pixies dizer para todo mundo qual estrada pegar para a próxima década. Como nunca um fator é isolado, Daydream Nation, do Sonic Youth, Nothing’s Shocking, do Jane’s Addiction e Apple, do Mother Love Bone, entre outros belos trabalhos do final da década— como Document, do R.E.M., e The Real Thing, do Faith No More—ajudaram a firmar este novo conceito que fez a cabeça de toda a rapaziada no início dos anos 90. > “Hey”/ “Gigantic” live in London

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Maio de 1988. Ainda com cabelo na cabeça, Frank Black e o Pixies se apresentam em Londres. Sensacional. Tags: pixies hey gigantic london

> humsurfer.com- Boa entrevista com Black. O texto mostra o lado mais família do líder do Pixies. Fala sobre seu mais recente lançamento, o EP Svn Fngers.

SURFANDO NAS ONDAS DE SURFER ROSA NIRVANA Kurt Cobain não se cansava de dizer: “Fiz esse álbum pensando no Surfer Rosa do Pixies”. Ele se referia a Nevermind, o maior álbum dos anos 1990. Tanto que em In Utero Steve Albini foi o produtor. SMASHING PUMPKINS Billy Corgan afirma até hoje que nunca ouviu algo tão novo quanto em Sufer Rosa. Influenciou boa parte de seus primeiros trabalhos. Um dos elementos que mais impressionou Corgan foi o som da bateria de David Lovering. PJ HARVEY A cantora indie não acreditou no que

ouviu. Ficou tão emocionada que na hora pediu o telefone de Steve Albini para contratar os serviços do cara. SONIC YOUTH Eles surgiram antes do Pixies. Depois de Surfer Rosa, passaram a fazer um som mais acessível, mais parecido com o apresentado pelo álbum. RADIOHEAD Recentemente, Thom Yorke só confirmou a presença da sua banda em um festival depois que soube que o Pixies tocaria. YEAH YEAH YEAHS Deviam ser crianças quando o Pixies soltou o Surfer Rosa. Mesmo assim, virou o disco preferido da banda.



Iron ĂŠ Iron. Setenta e uma estampas diferentes. Apenas duas iguais. Consegue encontrar?

Texto Ricardo Finocchiaro Fotos Rafael Rocha

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Iron Maiden é um dos medalhões da história da música. Pode não ser popular como os Beatles, mas é um grupo que também tem um número respeitável de adeptos em todo o planeta. A vinda da banda para a capital gaúcha após quase 16 anos acabou tornando-se um marco no histórico de grandes eventos na cidade.Toda a movimentação dos fãs e mídia tornou este show algo que será lembrado por, no mínimo, mais 16 anos. Parecia um sonho quando a Opinião Produtora, em parceria com a Mondo Entretenimento, anunciava a vinda da Donzela de Ferro para Porto Alegre. Aliás, não um sonho, mas mais um daqueles boatos de grandes shows que prometem chegar aqui e acabam não ocorrendo. Qual não foi a surpresa quando, logo em seguida ao anúncio, os ingressos para o show (que só aconteceria em 2008) foram postos à venda. Em apenas três dias de vendas, mais de oito mil ingressos já estavam nas mãos dos fãs; o comentário geral que se iniciava era a possível troca de local do evento, marcado originalmente para o Ginásio do Gigantinho, palco de grandes shows internacionais, para um local maior. O Iron Maiden, que teve seu primeiro álbum lançado no distante ano de 1980, veio a Porto Alegre sem estar divulgando um álbum novo; a turnê (Somewhere Back in Time World Tour) é toda focada nos sucessos da banda nestes mesmos anos 80 em que ela surgiu para o mundo. O grupo conta em seu line up com Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers nas guitarras, Steve Harris no baixo, Nicko McBrain na bateria e Bruce Dickinson— um dos melhores e mais elétricos vocalistas em atividade. O dia do show é quarta-feira, 5 de março de 2008. Muitas pessoas sem ingresso— poderíamos dizer muitas centenas— se deslocaram ao local na tentativa de conseguir entrar no show. Muitos conseguem através de cambistas, que vendiam a R$ 250 ingressos comprados por R$ 100. Ao entrar no ginásio, logo notase que, realmente, este não era o lugar adequado para um show destas dimensões. O palco é enorme, maior do que o

normalmente utilizado em outros shows no mesmo local, e ocupa boa parte da pista, tomando lugares estratégicos do público. Também ficamos sabendo que a banda Hibria não iria participar do evento por questões de logística de palco da banda inglesa—contrariando, assim, uma lei municipal vigente desde 1998, que obriga shows com mais de duas mil pessoas presentes a ter uma atração local como abertura. São 19h30min quando Lauren Harris sobe ao palco com sua banda, apresentando um hard rock com chiclete na boca. Nem tão bom a ponto de entusiasmar nem tão ruim a ponto de receber vaias, Lauren sai do palco da mesma maneira que entrou: zero a zero. Próximo do horário divulgado, a música “Doctor, Doctor” da banda UFO soa nos PAs. Os fãs de carteirinha da Donzela de Ferro já sabem: é a música introdutória dos ingleses; mãos para o alto e gritos. A música termina, as luzes se apagam, isqueiros são acesos, e celulares são ligados. Surgem no telão imagens da turnê ao som de “Transylvania”, primeira música instrumental do grupo. Ela se encerra e começa a famosíssima narrativa de Winston Churchill, que precede “Aces High”—um dos maiores hinos da banda, que não era tocado no Brasil desde 1985! A partir de então, o Ginásio Gigantinho torna-se uma cápsula do tempo, nos transportando para a década de oitenta onde seis “jovens” animam uma multidão enfileirando seus sucessos um atrás do outro. Uma caldeira de urros, gritos, suor e lágrimas, muitas lágrimas dos headbangers presentes—inclusive

deste aqui que vos escreve. Primeiro ponto alto do show, “Revelations”, faz com que todos—sim, todos os presentes ergam suas mãos ritmadas com os riffs de guitarra, acompanhando com o tradicional “Hey! Hey!”. Segundo ponto alto com “Wasted Years”, onde a letra da música tem tudo a ver com a atual turnê do grupo; basta lembrar o verso do refrão, “…and realize you’re living in the golden years”. Terceiro ponto alto, ou melhor, epicentro deste show histórico: “Rime of the Ancient Mariner”. Um épico de 13 minutos, que se tornou a música mais rápida da história por toda a energia, todos seus climas e contrapontos e por sua letra intrigante e cheia de mistério. Com direito a Bruce alfinetar a produção local, dizendo que ano que vem ele volta a Porto Alegre não para jogar futebol, mas sim para fazer rock’n’roll naquele estádio “ali do lado” (em referência ao Beira-Rio). O carismático vocalista ainda teve tempo de bater um papo via celular com sua mãe (de mentirinha, claro), através de um aparelho jogado pelo público. Os próximos sons já não importavam. O show já havia sido encravado nas entranhas e na memória de cada um dos devotos de Eddie que se faziam ali presentes. Nem mesmo “Fear of the Dark”, uma música de 1992, deslocada do conceito do show, deixou de animar; muito pelo contrário. “Powerslave”, “Can I Play with Madness” e “Moonchild”, entre várias outras, transformaram este em um show histórico, praticamente inenarrável, inesquecível. > “Fear of the Dark” em Porto Alegre

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Momento de coro generalizado. Gigantinho lotado e uníssono. Tags: fear dark porto alegre

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Texto Carlos Guimar達es

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O sol se pôs faz pouco e Mariana fecha a porta do banheiro para mais um sábado de festa. Separa as roupas mais novas, compradas no meio da semana, no centro de Porto Alegre. De luxo, apenas o perfume, presente de sua patroa, uma rica empresária do bairro Bela Vista. A rotina de Simone, Márcia e João Pedro é a mesma. É noite de baile funk em Porto Alegre. É dia de fechar o bailão, esquentar as pickups e mandar bem nas coreografias. Lucas apronta o cabelo, veste o tênis importado, afivela o cinto na calça de grife e pega as chaves do carro para mais uma noite de quinta. Em um bairro badalado da capital gaúcha, uma casa noturna cobra até 30 reais por pessoa. Lota. Nas pickups, algum DJ famoso roda os remixes de músicas cariocas. Ao seu lado, Matheus, Júnior e Renata. Nomes fictícios, realidades diferentes. Compromissos adversos, cotidianos separados abruptamente pela erosão social que corrói nosso país. Rotinas unidas em pelo menos uma noite, em que lá pelas duas da manhã, o Lucas da Bela Vista e a Mariana da Vila Maria da Conceição estarão dançando a mesma música. A popularização do funk carioca não é nenhuma novidade para quem tem, por exemplo, seus 25 anos e assistia, de cabo a rabo nos anos 1990, a qualquer programa de auditório da tevê brasileira. Ao som dos DJ’s Malboro e Tubarão e de MC’s como Doca, Júnior e Leonardo e Duda e de bandas como Sampa Crew (“Você nasceu pra mim/eu nasci pra você”, lembra?), aconteceu a primeira tentativa de coalizão social entre periferia e bairro, zona norte e zona sul, subúrbio e centro, rico e pobre. A oportunidade de ver na TV jovens que faziam sucesso nos morros cariocas e de incluir astros dos bailes de favela do Rio na frente das câmeras da TV e nas prateleiras de CD de jovens que nunca passaram perto de um barraco. Lulu Santos abraçou em “Eu e Memê, Memê e eu”, Xuxa acolheu no seu “Xuxa Park” e o ritmo explodiu na segunda metade da década, com a massificação dos bailes, a disseminação dos proibidões (bailes

com incentivo à violencia) e a pluralização dos temas (que iriam de Edmundo e Romário gravar o “Rap dos Bad Boys” até Claudinho e Buchecha fazerem música cult para a MPB, como “Assim sem você). Hoje, a presença do funk carioca é maciça, real e inescapável. É carro-chefe do maior fenômeno cinematográfico brasileiro, Tropa de Elite. É sinônimo de sucesso em casas noturnas badaladas no litoral gaúcho. É ritmo de verão. É hit europeu, através do CSS e do Bonde do Rolê. Um fenômeno parecido com o funk dos anos 1970, este bem menos poluído, mais genuíno ao que acontecia na origem da black music norte-americana e com uma sonoridade bem mais atraente. Na verdade, era funk.

No entanto, era preciso uma ruptura maior. Ela chega quando Roberto Carlos abandona de vez a sonoridade iêiê-iê ingênua da Jovem Guarda e decide ouvir os negões. Apoiado na inspiração da música da gravadora Motown e de nomes como Sam Cooke, Otis Redding e Marvin Gaye, o Rei entra na chamada “fase introspectiva”, valorizando mais as canções e os arranjos. Junto com a fase black de RC, em 1970, um grandalhão chamado Tony Tornado solta no Festival Internacional da Canção o hit “BR-3”. A figura imponente de Tornado chamou atenção e a música venceu o festival. Cabelo black power, Tornado já viajara pelos Estados Unidos, onde conhecera a soul music e o funk. Das boates em Copacabana ao êxito comercial em todo o Brasil foi um passo.

O que é feito atualmente vamos chamar de “funk carioca”. Uma (in) (re) evolução de todos os ingredientes básicos do funk, numa reinvenção criativa vinda do morro, subvertendo um pouco o conceito original da música, que tocava corações, arrepiava black powers, alargava bocas-de-sino e chacoalhava pistas das periferias muito antes de John Travolta pensar em se requebrar e de Nélson Motta conhecer as Frenéticas e a disco music explodir.

Também em 1970, Tim Maia lançou seu primeiro disco, estourando “Primavera” e “Azul da Cor do Mar”. Estava feito o estrago. O rei da música negra brasileira dominaria toda a década realizando os melhores suíngues de cada estação e formando uma geração que passaria os próximos dez anos lotando bailes, montando coreografias e gastando muito tempo para pentear os cabelos.

O ano é 1968. A música brasileira se ramifica após uma inevitável difusão de ritmos. Tropicália, Bossa Nova, Jovem Guarda, samba, rock universitário, MPB política, MPB apolítica... Alguns negrões cheio de charme estouram no país, com seus sons contagiantes e suingados. Wilson Simonal e Jorge Ben são a cara da black music brasileira.

O funk dos anos 70 era tão diversificado quanto o funk atual. Ainda não havia o rap no Brasil. Havia os ginásios, os bailões de subúrbio e as praças públicas, onde até 10 mil pessoas dançavam ao som de gênios que hoje estão sumidos, como Gérson King Combo, Lady Zu, Cassiano, Hyldon e Fábio. De diferentes realidades, uns da favela, outros do asfalto, esculpiram uma fusão rítmica riquíssima, incorporando elementos de samba, 19 >> noize.com.br


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rock e - dez anos antes - profetizando algo que hoje em dia poderia se chamar de rap.Ao invés de batidas eletrônicas, guitarras eletrizantes, baterias hipnóticas e vocais pomposos. Ao invés de um DJ, que hoje se limita em criar uma base para o desfile rimado de seus intérpretes, um poderoso disque-jóquei se encarregava em reproduzir as bases mais potentes vindas de fora. Ou em selecionar o repertório ideal para uma festa perfeita de sábado à noite. Quanto aos MC’s atuais. Bem, eles eram Tim Maia, Tony Tornado e Jorge Ben, por exemplo. Como todo movimento, o funk brasileiro dos anos 1970 logo recebeu um rótulo. Era o chamado Movimento Black Rio. Os nascidos em subúrbio que estudaram e escutaram as melhores influências do soul e apimentaram com um tempero brasileiro, genuíno e criativo. O movimento Black Rio foi impulsionado no final da década, quando Tim Maia decidiu deixar a seita Universo em Desencanto e voltar para a mídia. Depois, se descobriu que neste período o maior cantor de música negra do Brasil lançou alguns petardos memoráveis. Mas naquela época, o síndico não queria que ninguém ouvisse o que ele produziu enquanto esteve “sob o domínio do mal”. Tim era o rei. Os coadjuvantes eram Carlos Dafé, um paulistano sangue bom que aproximou o soul americano ao samba e à MPB; Paulo Diniz, que criou o hit “Pingos de Amor”, ótimo cantor, uma temática mais tropical; Hyldon, baiano que formou com Tim e Cassiano a tríade da soul music brasileira, autor de “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)”, regravada por Kid Abelha, e de “As Dores do Mundo”, sucesso na voz do Jota Quest; Cassiano, o autor de “Primavera”, um compositor de mão cheia; Lady Zu, a rainha das discotecas; Almir Ricardi, um mestre nas bases, utilizado bastante em samples de grupos de rap; além dos grupos como União Black e a Banda Black Rio. Estes últimos merecem uma consideração maior. Em 1977, lançaram Maria Fumaça, até hoje um dos maiores discos brasileiros de todos os tempos. Referência absoluta em qualidade musical, foram os responsáveis pela fusão perfeita entre o funk e a música brasileira, com uma criatividade musical acima da média, deixando como legado uma obrigatória referência em termos de modernidade sonora e invenção artística. Até Gilberto Gil homenageou os caras em “Refavela”, para depois homenagear também a disco em “Realce” (até alguém chegar a conclusão de que os tropicalistasbaianos tinham sempre que homenagear alguém). No final da década, o funk se fundiu com a disco music e perdeu um pouco do entusiasmo. As festas black passaram a conviver lado a lado com a aristocracia das discotecas. O fervor estilístico da música negra brasileira teria de conviver com o descompromisso estético do modismo das danceterias. Alguns ainda insistiam em manter acesa a chama que vinha do subúrbio, mas acabavam soterrados pelo realce que vinha das boates. Tim Maia continuava soltando o vozeirão, com sucesso comercial, mas agora seus temas estavam mais voltados para a dupla Sullivan e Massadas (responsáveis por nove de dez sucessos bregas dos anos 80) do que propriamente para Cassiano e Hyldon. Ganhava dinheiro, mas se distanciava artisticamente das raízes black-funk-soul que solidificaram sua carreira. Com o rock aparecendo com força nos anos 1980, só mesmo Sandra Sá e seus “Olhos Coloridos” deram algum brilho black à década do Rock Brasil. Outra figura importante que seguia arranjando para gente como Caetano Veloso, Gal Costa e+ Roberto Carlos era Lincoln Olivetti, um multi-instrumentista de mão cheia, que mer-


gulhou profundamente nos grooves dos baixos, nas bases de guitarra e nas quebradas de bateria para colocar uma pitadinha negra na moribunda fase mpbística dos anos 1980. As festas ficaram cada vez mais escassas. A cultura de clube foi definhando. Mas os funkeiros seguiam vivos. Na periferia paulista, saíram dos ginásios e tomaram as ruas. Assimilaram as batidas e rimaram os versos. Nascia o rap.

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O FUNK EM DEZ PASSOS

BRASILEIRO

Enquanto isso, na ponte aérea, a favela aglutinava os preceitos de Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros, misturava com Ed Motta e a Conexão Japeri, recebia Fernanda Abreu, passava de mão em mão fitinhas com o batidão de Miami e criava o que hoje chamamos de funk. Mas que eu prefiro rebatizar como funk carioca.

1963 ::: JORGE BEN - CHOVE CHUVA Com um violão e uma voz, mas sem um banquinho, cria o samba-rock, cheio de pegada black.

O funk carioca atual é como casa de vó: sempre tem lugar para mais um. Abriga falsários escancarados (Defalla com a Popozuda), enganadores de primeira viagem (Dança do Créu, Lacraia), proibidões (Tchutchuca), mensagens de paz para a favela (Rap da Felicidade) e apenas aqueles que seguem com a receita implementada nos anos 90 (Se ela dança, eu danço). Saíram da favela do Rio, ganharam o asfalto, tomaram a ponte aérea, chegaram em São Paulo, em caminhão de carga desembarcaram no Sul, foram de caravana para o Nordeste, visitaram o Planalto Central, aportaram na Amazônia. É o ritmo mais globalizado dentro do país. Em qualquer lugar que se vá, tem funk tocando. Além disso, influencia profundamente o comportamento de bandas que fazem sucesso fora do país. Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê são os exemplos típicos. As duas bandas com maior sucesso comercial na Europa têm uma pegada de funk carioca misturada com elementos eletrônicos.Viraram cult. Três décadas após a explosão do funk brasileiro, a cultura black power continua atenta. Resgata e faz justiça a nomes como Gérson King Combo e Tony Tornado. Venera Tim Maia e Jorge Ben. Redescobre Hyldon e Cassiano. Mergulha na Banda Black Rio. E respeita uma geração marcada pelo deboche e pela diversão. No meio do período político mais conturbado da história republicana brasileira, seguiam tudo o que o mestre Tim tinha para dizer. No fundo, os blacks só queriam chocolate. E sossego.

FUNK GRANDE DO SUL O Rio Grande do Sul não esteve alheio ao movimento black dos anos 70—particularmente por causa da excêntrica figura de Luís Vagner Dutra Lopes, guitarrista nascido em Bagé e um dos mais importantes expoentes da música negra na década. Depois de um bem-sucedido início com Os Brasas, Luís Vagner lançou seu primeiro disco solo em 1974, chamado Simples. Guitarrista de mão cheia, inovou ao misturar o funk com reggae, samba e ritmos gaúchos e latino-americanos como guarânia e chula.

Compositor por excelência, flertou desde a Jovem Guarda até Jorge Ben, como baixista da Banda do Zé Pretinho. No Rio, conheceu Tim Maia, Cassiano, Hyldon e Paulo Diniz. Foi o guitarrista preferido de vários nomes da MPB na década. Luís Vagner voltou à ativa em 2001, com o surgimento do Clube do Balanço, que teve em seu disco de estréia diversas faixas de autoria do gaúcho, como “Saudade de Jackson do Pandeiro” e “Segura a Nega”. Tido por muitos como gênio, este pioneiro do samba-rock e das fusões de ritmos negros com outras doideiras fora de gênero atualmente vive em São Paulo e ainda toca.

1970 ::: TONY TORNADO - BR-3 Sem dúvidas, um dos maiores êxitos comerciais da black music brasileira. 1970 ::: TIM MAIA - PRIMAVERA Como um crooner norte-americano, Tim Maia lança “Primavera”, a música de Cassiano, num fraseado soul inesquecível.

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1971 ::: ROBERTO CARLOS TODOS ESTÃO SURDOS O rei concebe sua faixa mais black e mais poderosa. 1975 ::: GÉRSON KING COMBO JINGLE BLACK O rei do funk brasileiro dos anos 1970 lança o embrião do que se chamaria posteriormente de “Movimento Black Rio”. 1977 ::: BANDA BLACK RIO MARIA FUMAÇA A reinvenção do suíngue, numa perfeita fusão de ritmos. 1982 ::: SANDRA SÁ - OLHOS COLORIDOS Cantora de voz forte, entrega absoluta, acabou caindo posteriormente nas graças dos bregas (e da numerologia). 1987 ::: FAUSTO FAWCETT E OS ROBÔS EFÊMEROS - KÁTIA FLÁVIA Resgatou os preceitos básicos do funk brasileiro e impulsionou a favela para criar o funk carioca. 1993 ::: FERNANDA ABREU - RIO 40 GRAUS Com atitude funk e pegada dance, Fernanda Abreu mistura a favela e o asfalto. 2007 ::: BONDE DO ROLÊ OFFICE BOY O escracho do batidão carioca para os indies daqui e de lá. 21 x noize.com.br


Texto Alessandro Ferrony Foto Gustavo Vara

banda do sul :::

doyoulike? 22


A doyoulike? vem fazendo barulho há algum tempo na cena independente da capital. Formada por Z (guitarra e voz), Érico (guitarra e voz), Gulis (Baixo) e Neko (bateria e voz), viraram campeões de downloads em sites especializados em MP3 de bandas do gênero—e logo sensação entre o público mais jovem, o que resultou em vários shows e aparições na mídia especializada. Prestes a lançar o primeiro CD, conversamos com Érico e Z sobre a atual fase da banda e planos para 2008. NOIZE: Primeiro apresentem a banda para aqueles que ainda não a conhecem. Z: Somos quatro doidos fãs de Tim Maia. Que gostam de fazer muito barulho, ouvir música alta, caminhar na madrugada. E uma vez por semana a gente se reúne em algum estúdio para ensaiar algumas poucas músicas. NOIZE: Quais são os artistas que inspiram a sonoridade do grupo? Z: Deluxe Trio, Discoteque, Noção de Nada, Nirvana, só para citar alguns nomes. Hardcore californiano. Um pouco de outras bandas dos anos 90. Polara, Garage Fuzz, Saves the Day, CPM 22 e muitos que de alguma forma ou de outra serviram de influência. Érico: Dance of Days e um pouco do rock britânico chato das bandas que eu acho legais. É que na verdade a gente criou uma sonoridade tão nossa que não vejo muito das outras coisas em nós. NOIZE: A doyoulike? aparece com certa freqüência no topo de listas de downloads em sites tipo o Trama Virtual. Hoje, qual é a importância de lançar um álbum em CD? Érico: Ainda moramos em um país de terceiro mundo. Grande parte da população brasileira continua sem acesso à internet. Mesmo com pirataria, o CD continua sendo uma forma de chegar nessa parcela da população, que conhece as músicas através das rádios. NOIZE: O EP Até Onde Meus Pés Agüentarem, lançado no Trama Virtual, popularizou a banda e foi bastante aguardado pelos

fãs. Como vocês medem o sucesso alcançado com esse trabalho? Erico: Nós todos vínhamos de outras bandas que já tinham algum material gravado e lançado. Mas nenhum desses projetos conseguiu o que o Até onde os meus pés… conseguiu. Com esse EP nós fomos até o Rio de Janeiro, o que pra nós foi uma coisa muito legal e quase surreal, na verdade. NOIZE: Vamos, então, falar um pouco sobre Uncano, o disco que a banda está gravando. O que esse nome significa? Z: “Uncano” é muito mais que um nome ou um personagem. É uma criação nossa, como uma música, formada por elementos diferentes. É um personagem com cabeça de unicórnio (pela simbologia de pureza: mente e consciência puros), corpo de ser humano (devido à força, mas principalmente por causa do coração e a capacidade de amar) e asas (simbolizando a criatividade e a liberdade). Apenas o amor nos salvará. NOIZE: Como está a produção do álbum? Há previsão de lançamento? Será independente, ou vão contar com o apoio de algum selo? Z: O CD já está pronto. Já foi pra fábrica e agora é só esperar. Foi produzido por Diego W. Poloni. Gravado durante o mês de janeiro, em uma espécie de home studio, dentro do quarto do próprio Diego. Erico: A primeira prensagem será independente, contando com o apoio do selo Amplifica Records de São Paulo. Mas o futuro… é futuro. NOIZE: A doyoulike? já liberou

o primeiro single desse disco, “Não Foi Você”. Seria uma “música de trabalho”? Z: Não deixa de ser. Mas não usamos muito esse termo, pois como nosso principal meio de divulgação é a internet (e ali é tudo consumido com muita rapidez), volta e meia lançamos músicas novas para acompanhar esse ritmo frenético. NOIZE: Vocês pensam em gravar algum clipe e lançá-lo com o CD de estréia? Erico: Pensamos em lançar um clipe junto com o lançamento do CD. Seria de “Não Foi Você”. Mas ainda somos uma banda independente e os custos pra isso são realmente altos. NOIZE: Muitas bandas se focam em tocar na capital e região; outras miram o mercado do interior e de outros estados. Qual a estratégia de vocês? Z : Sem muita estratégia, na verdade. É tudo muito no feeling. Vamos indo conforme as oportunidades vão aparecendo. A nossa meta é tudo. Então a gente gosta de arriscar e sonhar alto. Quanto mais ousado melhor. NOIZE: Há a idéia no RS de que, para fazer sucesso no interior, é essencial que a banda faça sucesso no FM. O que vocês pensam disso? Z: Apesar da mão-na-roda que é a internet, ainda existem lugares que só se alcança com execução em FM. Infelizmente ainda existe muito dessa história de jabá e toda uma burocracia para se tornar uma banda de rádio e tocar no interior com uma estrutura legal. 23 x noize.com.br





29 noize.com.br


Abra. Destaque. E cole na parede.

Agenda THE DOORS Pepsi On Stage Porto Alegre terá uma oportunidade única nesse mês. O Riders On The Storm, espécie de revival que conta com dois membros originais do The Doors , vem tocar na capital no dia 12. Assistidos pelo vocal de Brett Scallions (ex-Fuel), o guitarrista Robby Krieger e o tecladista Ray Manzarek devem mandar clássicos como “Break on Through” e “Light My Fire”. Aí, todos poderão conferir se a alquimia dos abridores de portas da história do rock está mantida.





estilo:mĂşsica



A Make Up surgiu em setembro de 2005, com a proposta de sacudir a noite portoalegrense, que andava carente por festas de rock. O local que prontamente acolheu a idéia foi o antigo Beco 203, onde a festa acontecia uma vez por mês e contava com a discotecagem de Rosa Maria, Anne Fernandes, Carol Horn e Taís Kitty. A festa cresceu, recebeu dj’s convidados e teve até edição em Florianópolis, mas o tempo passou e surgiram outros projetos para as “Dj’s Rock Chicks”, como são chamadas. Algumas saíram da Make Up, como foi o caso de Carol Horn e Taís Kitty. Em meados de 2007, Helga Kern e Juliane Senna reforçaram o time, enquanto Rosa Maria partia para a Austrália. Agora em 2008, a Make Up retorna com força total ao Cabaret do Beco, sempre em alguma quinta-feira de cada mês. A próxima festa já está marcada para o dia 24 de abril, quando Anne Fernandes, Helga Kern e Juliane Senna irão apresentar a mais nova integrante da festa, Mely Paredes. Como surgiu a idéia da Make Up? Anne: A idéia inicial de formar a Make Up foi da Taís. Pra ser sincera, não sei bem como tudo começou, só que foi total idéia dela e do Rafael Ferretti (Dj da Pulp Friction). Apenas fui “comunicada” que tava dentro de um projeto de uma festa só de meninas no Beco 203 e que a proposta era rock. Não participei da escolha do nome.

Isso quem criou foi a Carol Horn, a Rosa Maria e a Taís. Desde 2005 até hoje, algo mudou na festa? Anne: Tirando o estilo musical, que continua o mesmo, mudou. Das veteranas que iniciaram, só resta eu. Mudaram os lugares também. A festa passou pelo Laika, Elo Perdido... enfim, a maquiagem peregrinou até retornar ao Beco novamente. Helga: O público também mudou. Na época do Beco 203, onde cheguei a discotecar como convidada, cada festa era mais uma “reunião de amigos lá em casa”. Agora, as edições da Make Up têm gente diferente, o que eu acho ótimo! Qual a característica do som que rola na festa? Anne: É uma diversidade grande de músicas, dos anos 60 aos 2008, mas tudo dentro do rock ou derivado dele. Toco o que acho legal no momento. Cada hora a pista tem uma energia, e tem música legal pra cada momento, de Velvet Underground a Thriller! Eu sou é rock! Juliane: Eu gosto muito de experimentar novidades como trilhas ouvidas em desfiles, filmes, vinhetas, bandas desconhecidas... e os clássicos que a gente nunca cansa de ouvir. Não acho bom restringir a música. Helga: Acho que sou a mais “xiita” da Make Up... (risos) adoro encontrar novida-

des desde os tempos do Napster e experimentar na pista, mas existem alguns modismos que me recuso a discotecar. A festa precisa manter sua identidade. Três integrantes da Make Up trabalham com moda, seria então uma festa voltada pro público que curte moda? Juliane: Sempre acreditei na união de moda e comportamento. Normalmente, as pessoas usam peças que as identifiquem e as façam se sentir seguras e bonitas. Nas festas isso é ainda mais especial. As pessoas que freqüentam a Make Up manifestam esse comportamento de moda claramente. São especiais na sua forma de vestir, o que deixa a festa ainda mais interessante. Helga: Eu vejo uma conexão muito forte entre a música e a moda. Quem trabalha com criação de moda sabe que o processo criativo é muito semelhante ao da música, logo, não há como negar a ligação. Mas não encaro a Make Up como uma festa puramente “fashionista”.

Fotos: Marco Chaparro - 311 Label Assistente de Fotografia: Diego Furlani Produção: Mely Paredes e Bianca Montiel Assistente de Produção: Helga Kern Make Up & Hair: Gabriela Guimarães Figurinos:Vovó Usava e Acervo MissinScene Texto e Design: Rafael Rocha Agradecimentos: Felipe Gonzalez e Maurício Capellari


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BLACK CROWES

DAFT PUNK

Warpaint

O Black Crowes dificilmente igualará By your side, álbum lançado em 1999 logo após terem assinado com a Columbia Records. Nele estavam algumas das melhores músicas da banda, como as eletrizantes “Kickin’ my Heart Around” e “Go Faster”. Antes disso, já haviam composto canções do quilate de “Hard to Handle” e “Remedy”, entre outras, mas é inegável que Warpaint não é uma tentativa frustrada de reerguer um gigante adormecido. É, isto sim, uma afirmação de talento. A mistura de blues, hard rock e pop está afiada e em boa forma. Basta ouvir o refrão de “Evergreen” e a introdutória “Goodbye Daughters of Revolution” para termos certeza de que são os Crowes, e que eles não perderam o jeito. É um som que já conhecemos, mas não cansamos de gostar. Gustavo Corrêa

Alive 2007

Tenho que admitir que não sou uma grande fã de discos ao vivo. Preferências à parte, tive que colocar Daft Punk Alive 2007 no hall das exceções. O disco foi gravado na apoteótica apresentação de Guy-Manuel e Thomas Bangalter em Paris, em meados de junho do ano passado. O disco é uma espécie de coletânea definitiva que celebra aquilo que todos já sabem - sim, Daft Punk é uma das melhores coisas já inventadas quando se fala em música eletrônica - e isso tudo acompanhado de algumas improvisações e um público muito empolgado . Uma das melhores novidades é a mistura de músicas, como no caso da colagem genial de “Around the World” com “Harder Better Faster Stronger” em faixa única, entre outras fusões divertidas dos clássicos da dupla francesa. Refrescante e altamente recomendável. Gabriela Lorenzon

NINE INCH NAILS

Ghosts I-IV

São tempos turbulentos para o Nine Inch Nails—no bom sentido. Ghosts I – IV, lançado 5 meses após o rompimento da banda com a Interscope, teve um sucesso estrondoso. Disponibilizado através do site oficial (em uma série de formatos), vendeu US$1.619.420 só na primeira semana. Não poderia ser diferente: as suas 36 faixas, todas instrumentais, provavelmente não agradariam qualquer gravadora—o que não quer dizer que não tenham qualidade, em absoluto. A “trilha sonora para sonhos diurnos” de Trent Reznor, construída com guitarras e sintetizadores, é deliciosa. As melodias, marcadas volta e meia por pianos e pelo som industrial que caracteriza a banda, indicam uma nova—e ótima—fase. Fernanda Botta

NAÇÃO ZUMBI Fome de Tudo

A suavização das percussões e os vocais mais melodiosos de Fome de Tudo afastam a Nação Zumbi do defasado rótulo de maracatu. No entanto, não significam um disco menos brasileiro até o osso—a começar pela temática da fome. O tom de manifesto das canções é atenuado por um Jorge du Peixe de canto mais suave do que marcado, que ao fazer esse movimento, torna a música mais fresca. Fome de Tudo está ainda mais samba e rock do que o manguebeat genuíno de Chico Science. Mesmo assim, o experimentalismo que une cítaras, berimbaus e distorção em “Onde Tenho Que Ir” denunciam: por trás da roupagem em geral mais pop, pulsa a velha força motriz do seminal Da Lama ao Caos. Escute antes do almoço pra ficar pensando melhor. Fernando Corrêa

BAUHAUS Go Away White

Desde 83 os fãs esperam pelo último suspiro dos mestres do pós punk. Pois bem, esperavam. Go Away White é a despedida definitiva do Bauhaus. Mais redondo do que os discos que marcaram a trajetória da banda, pode até decepcionar fãs mais exaltados. Decepção aceitável quando nos deparamos com um Bauhaus com ares de indie rock, com músicas que lembram uma mistura de Love and Rockets, banda formada posteriormente por Peter Murphy, e sonoridades de bandinhas moderninhas influenciadas pelo trio. O disco é razoável. Confirma o lugar dos britânicos como referência indiscutível na história da música, mas soa mais como uma saída pela porta dos fundos. Mesmo sendo mais nostálgico que surpreendente, Go Away White pode sim ser uma boa forma de relembrar e dar adeus aos pais do gothic rock. Gabriela Lorenzon 39 noize.com.br


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STEPHEN MALKMUS

R.E.M.

cds :::

reviews

Accelerate

O substantivo “saturação” vem sendo atribuído freqüentemente ao R.E.M desde que entramos no século XXI. Injusto, no entanto, é acusá-los de passividade. Depois do morno Around the Sun (2004), a banda parece ter encontrado um caminho seguro, onde mesmo sem hits da envergadura de “Losing my Religion”, conseguem produzir um disco convincente e bom de se ouvir. “Supernatural Superserious”, primeiro single do álbum, não é o hit impecável, apenas uma boa canção. Para os fãs “das antigas”: a velocidade e a concisão do álbum às vezes nos remetem a Murmur e Green, símbolos dos anos independentes do R.E.M: the eighties. Gustavo Corrêa

Real Emotional Trash

No quarto álbum pós-Pavement, Malkmus enfileira longos solos de guitarra sem entediar, e a sonoridade ganha peso comparada aos trabalhos anteriores. Numa medida impecável, beira a psicodelia e o rock progressivo. Os melodiosos backing vocals da nova baterista, Janet Weiss, e o piano de “We Can’t Help You” reforçam o tom setentista presente em algumas canções. Lirismo e vigor marcam as músicas, como na faixa-título: mais de dez minutos juntam riffs distorcidos ao refrão lento e reflexivo (“Easy said but less often done / Point me in the direction of your real emotional trash”). Malkmus arrisca e segue encantando. Ricardo Romanoff

DiscografiaBásica The Doors

The Doors saiu no começo de 1967, e a música de abertura é de cara um dos maiores sucessos da banda: “Break on through”. Há outros grandes hits, como a suave “Cristal Ship”, o blues “Backdoor Man”, e a alucinante “The End”, além de “Light my fire” - uma das músicas mais tocadas nas rádios americanas naquele verão. Rapidamente, The Doors passou a ser indicada como uma das principais bandas da contra-cultura norte-americana. O grupo, formado por Jim Morrison (voz), Ray Manzarek (teclado), Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria), já fazia apresentações em importantes programas de TV, incluindo o Ed Sullivan Show (programa de auditório muito popular na época). Nessa ocasião, Jim escandalizou ao gritar higher (“mais loucos”) durante “Light my fire”, deixando produtores e o próprio Ed furiosos. Os escândalos de Jim logo se tornariam marca registrada da banda.

por Guilherme Dal Sasso

BANDAS GAÚCHAS

Colêtanea Rock

O grande mérito da Coletânea do site bandasgauchas.com. br é oferecer bandas pouco conhecidas de diversas vertentes do rock. Se nem todas irão vingar, ao menos podemos dizer que nenhuma está abaixo da média. A qualidade das gravações é inegável. São 14 músicas de grupos diferentes que trafegam por estilos como rock ‘n’ roll, pop rock, rock emotivo, pop punk etc. Os melhores momentos ficam por conta da banda Calibre, com a melodiosa “Dois corpos”, os bons riffs de “Porque” (Stagna) e “Ego” (Duahlen) e o gran finale belíssimo e progressivo de “Avenidas” (CsD). O disco está à venda na Multisom e na LED CDs. Gustavo Corrêa

THE DOORS

Waiting For The Sun

Mesmo com o sucesso de The Doors e Strange Days, a banda só emplacou o 1º lugar da Billboard com o terceiro disco: Waiting for the Sun. Lançado em 1968, o álbum foi considerado mais fraco pela crítica, devido à sonoridade mais macia e poética. Ainda assim, emplacou uma série de hits nas paradas norte-americanas, como “Hello, I love you”, “Love Street” e “Five to one”. Entretanto, uma das principais músicas do CD,“Unknown Soldier”, não chamou muita atenção, provavelmente pelo tema controverso: a guerra no Vietnã. A canção criticava a guerra e como a mídia americana tratava o tema. Além das polêmicas nas músicas, o comportamento de Jim nos shows era cada vez mais descontrolado, assim como seu vício pelo álcool. Considerado um ídolo da juventude, ele queria mais reconhecimento como artista e menos como sex symbol. L.A. Woman

Os problemas dentro e fora dos palcos continuavam. Após ofender toda a platéia e supostamente mostrar seu pênis em um show em 69, Jim teve colapsos nervosos durante uma apresentação em Nova Orleans, em dezembro de 1970. Foi o último show da banda com seu formato original. Esse foi o ritmo do lançamento de L.A Woman (1971), último disco da banda antes de Jim morrer. Com os vocais cada vez mais bêbados, o disco traz mais blues à poesia do Doors. Foi o primeiro produzido por Bruce Botnick ao invés de Paul Rothchild. O álbum traz faixas que consagraram a banda, como “Riders on the Storm”, “Love her Madly” e a música que dá nome ao LP. Jim morreu apenas quatro meses após o lançamento do disco. A banda ainda lançou três álbuns, mas é praticamente um consenso que The Doors morreu com Morisson.


MIKA

Live in Cartoon Motion causa reações adversas: ao mesmo tempo em que é inegavelmente contagiante, a performance efervescente do franco-americo-libanês gera desconfiança: não seria Mika mais um fruto de produtores atinados? Ao que tudo indica, não. Para quem gosta dos falsetes melodiosos e animados à la Freddie Mercury que caracterizam o som de Mika, Live in Cartoon Motion é uma boa pedida. Principalmente o show, ótimo pano de fundo para festas animadas. Além dessa apresentação em Paris, há extras como filmagens das bandas do cantor pela Europa e versões acústicas que humanizam a estrela que queria ser como a atriz e Princesa de Mônaco Grace Kelly. Ricardo Jaggard VELHA-GUARDA DA MANGUEIRA Ao Vivo

Uma garfada já é suficiente para comprovar que o prato é saboroso e será digerido com extrema facilidade. Assim é o samba de terreiro da Velha Guarda da Mangueira, a grande atração desse DVD. Mas não são só eles, pois em agosto de 2005 – lá se vão quase 3 anos – Tia Zélia, Soninha da Pedra, Zenith, Erivá, Sapoty, Ary, Quincas, Jurandyr, Mocinho, Genuíno, Siqueira e Rody receberam convidados pra lá de especiais durante a gravação dessa hora e tanto de alegria e celebração. “Sei lá, Mangueira” traz ao palco a madrinha do samba, Beth Carvalho, que apesar do conflito no carnaval do ano passado, sempre será mangueirense de coração. O Teatro Municipal de Niterói e a quadra da escola chegam a parecer pequenos demais para comportar a animação das 32 canções. Em “Agoniza, mas não morre”, Nelson Sargento, o compositor de mais de 400 músicas, sobe ao palco para honrar a verde e rosa. Para completar o DVD, extras como a viagem da Velha Guarda à Alemanha, entrevistas, homenagens e galeria de fotos. Danton Jardim

HEAVY METAL Louder Than Life

Heavy Metal: Louder Than Life é um documentário que traça a história do gênero a partir de depoimentos e imagens de momentos importantes para o seu surgimento e desenrolar. Dirigido por Dick Carruthers, responsável por DVDs sobre Led Zeppelin e Aerosmith, e produzido por Jim Parsons, do programa Headbanger’s Ball, da MTV norteamericana, Louder Than Life acerta e erra proporcionalmente. Os acertos estão presentes principalmente na construção histórica de qualidade e na escolha de nomes representativos para os depoimentos entremeados no documentário. Estão ali teses e fatos do genial Dee Snider (Twisted Sister), do sábio Geezer Butler (Black Sabbath), de Ian Paice (Deep Purple), Bruce Kulick (Kiss) e outros. Somados a eles, ícones de diversas gerações e vertentes diferentes do heavy metal, de bandas como Thin Lizzy, Rainbow, Dio, Scorpions, Judas Priest, Whitesnake, Motörhead, Metallica, Anthrax, Testament, Overkill, LA Guns, Ratt (Stephen Pearcy), Napalm Death e Kittie. O que acaba prejudicando o resultado final do filme é uma certa preferência ao que foi feito nos Estados Unidos, significando, essencialmente, desrespeito a bandas européias que não poderiam ser simplesmente citadas. Com todo respeito ao Judas Priest, que definitivamente teve sua parcela de contribuição ao metal, mas não seria o Iron Maiden também merecedor de um espaço significativo no vídeo? Outra dificuldade é a discussão sobre o polêmico nu metal, centrada na figura de Jonathan Davis, do Korn. Estranha a ausência de algum membro do Rage Against the Machine, que antecedeu o estilo, por exemplo. Independentemente dos defeitos citados acima, é indispensável para qualquer amante do metal ou mesmo de outros estilos. Didático e animado, não entedia como outros documentários que vemos por aí. Traz dois DVDs: um com o filme em si e outro com extras. Estão ali as “forçadas” Confissões de um headbanger, a maravilhosa Entrevista com Dee Snider, a bobagem Metal Skool, a Linha do tempo do metal e os Testemunhos de quem conhece para os melhores álbuns da história do Heavy metal. Gustavo Corrêa

::: dvds

Live in Cartoon Motion

BARATA ORIENTAL Volume 10!

Volume 10! é uma homenagem ao rock’n’roll em toda a sua essência. A Barata Oriental preparou um disco que poderia muito bem ser lançado no século passado, pois estaria em casa. As faixas se destacam pelas boas letras e os ótimos riffs. O vocal agudo e direto de Nenung é acompanhado com destreza e inteligência por Carlos Panzenhagen (guitarra), Milton Sting (baixo) e Luciano “Sapiranga” (bateria). Destaque para a abertura com “Sala de Espera” e o excelente refrão da segunda faixa, a genial “Big Nose Hero”.

ANDINA Escadanova

Escadanova sucede O Mérito do Caos e Eu, álbum de estréia da Andina que foi lançado em 2006. Se anteriormente a banda já havia demonstrado uma capacidade ímpar em construir belas melodias vocais e instrumentais, o novo álbum escancara a qualidade e criatividade dos músicos. Definitivamente, souberam captar o que há de melhor em influências como Sonic Youth, Los Hermanos e Radiohead. Escadanova forma uma unidade que alterna melancolia e peso sem tornar-se repetitivo. Ouça do começo ao fim e aprecie o que será um dos melhores álbuns independentes de 2008.

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reviews cinema :::

ACROSS THE UNIVERSE

de Julie Taymor (2007)

de Todd Haynes (2007)

Não é documentário, mas também não é ficção. Não é Bob Dylan que está lá, mas suas personas. Um menino negro de 11 anos (Marcus Carl Franklin) que foge de um reformatório e pega carona acompanhado de um violão onde se lê “esta máquina mata fascistas”. Um cantor folk de consciência política (Christian Bale), que se converte em cantor gospel. Um ator de NY interpretando Larry Clark (Heath Ledger). Um poeta rebelde (Ben Wishaw) recitando máximas de Dylan à imprensa. Um cantor no auge do sucesso (Cate Blanchett) perseguido pela crítica que cobra dele uma explicação por suas músicas, e hostilizado por um público como um traidor de sua própria consciência política. Por último, um velho Billy the Kid (Richard Gere) personifica o Dylan exilado, num velho oeste surreal e utópico. Todos são Dylan em diferentes fases, numa narrativa fragmentada e entrelaçada que visa a emular o estilo narrativo poético de suas próprias músicas, mesclando estilos e estéticas. Partes do filme são em cores; outras, tem aparência de

16mm, com entrevistas fictícias (Julianne Moore interpreta a “Joan Baez”). Os segmentos do Dylan-Cate, em p&b, remetem ao Fellini de 8½. É na relação entre personagens que são todos o mesmo espírito—e na multiplicidade estética e de linguagem que o diretor tenta pintar um quadro da abrangência da obra de um músico sempre em conflito com o desejo de público e imprensa em lhe rotular. Eu não estou lá é um quebra-cabeças— que os fãs de Dylan saberão montar, e que os não familiarizados podem sentir como uma imagem abstrata do conjunto de sua obra. Samir Machado

GAROTOS INCRÍVEIS

Divulgação

Sem sombra de dúvidas a diretora estadunidense Julie Taymor acertou a mão resgatando canções inesquecíveis dos Beatles para compor o seu novo musical, Across the Universe. Com um elenco jovem e pouco conhecido, o longa-metragem faz a leitura de uma época em que o mundo assistiu à Guerra do Vietnã, e na qual os Estados Unidos enfrentavam uma série de crises internas. Quem ilustra o quadro de personalidades famosas são Salma Hayek, encarnando uma multiplicação de enfermeiras em “Happiness is a warm gun”, clássica faixa do álbum branco dos Beatles, enquanto Bono Vox dá vida a uma espécie de guru psicodélico, interpretando “I´m the walrus”. No entanto, o grande destaque da trilha fica por conta da versão de Joe Cocker para “Come Together”. O filme celebra os grandes movimentos musicais numa menção a Janis Joplin (Sadie) e Hendrix (JoJo), bem como relembra as descobertas lisérgicas do ácido e as transgressões da juventude que procurava romper alguns valores. A trilha sonora de Across the Universe não é nem de perto comparável às versões criadas por grandes artistas para o belíssimo I am Sam (Uma Lição de Amor), mas valem a pena ser ouvidas considerando o contexto poético, alucinógeno, político e criativo proposto por Julie Taymor ao contar uma história de amor universal e atemporal. Tanto quanto os Beatles! Marcela Gonçalvez

Divulgação

NÃO ESTOU LÁ

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de Curtis Hanson (2000)

Adaptado do livro de Michael Chabon, Garotos Incríveis foca o universo dos cursos de escrita criativa em uma universidade de Pittsburgh. Num único dia, o professor Graddy Tripp (Michael Douglas) é abandonado pela mulher e descobre que sua amante (Frances McDormand) está grávida – e ela é a diretora da faculdade, casada com o reitor. Um aluno brilhante e depressivo (Tobey McGuire) cruza seu caminho, ao mesmo tempo em que seu editor (Robert Downey Jr.) vem pressioná-lo para que entregue seu novo livro. O problema é que Tripp passa por um bloqueio criativo, sofre de apagões provocados pela maconha e é assediado por uma aluna (Katie Holmes). O resultado é uma das

comédias mais espertas e originais dos tempos recentes, embalada pela ótima atuação de Douglas, pelos bons roteiro e diretor e uma boa trilha, repleta de músicas de Dylan—incluindo “Things have changed”, composta para o filme e vencedora do Oscar. Samir Machado


Foto Games: Reprodução

music.for-robots.com

MUSIC FOR ROBOTS

PITTY

Para quem quer estar sempre à frente, sintonizado com as tendências musicais mais vanguardistas e com as bandas que realmente importam no plural (e muitas vezes descartável) universo musical, é importante conhecer sites como o Music For Robots. Conduzido por oito pessoas, o que garante posts freqüentes e diferenciados, trata-se de um dos melhores endereços na web para ter acesso a MP3, vídeos e streaming de bandas legais. Um fator interessante para o sucesso do Music For Robots são os gostos musicais diferenciados de seus integrantes. Estão presentes artistas de hip-hop, indie rock, techno, post-punk, industrial e muitos outros gêneros e vertentes. Junto às MP3 e vídeos sempre há a opção de compra. O MFR faz listas mensais com suas músicas preferidas e oferece uma miniloja de CDs e camisetas com artes de Luísa Lovefoxxx, do Cansei de Ser Sexy.

O site da roqueira baiana Pitty está entre os melhores dos artistas brasileiros. Não chega a ser revolucionário ou inovador, mas se destaca pela suficiência de informações e pelo bonito layout. Além dos ícones na forma de um menu convencional, também posiciona os atrativos em uma casa desenhada no centro da tela. Você pode clicar nos desenhos de uma jukebox para ter acesso às músicas, em uma TV para os vídeos ou em um quadro para as fotos, entre outras seções escondidas em desenhos no site. A página também sobressai por ser mais completo que a média, com um blog, uma loja e uma seção para baixar ringtones. A rádio permite ouvir canções de bandas que Pitty gosta, como Dead Kennedys, Black Sabbath, The Beach Boys, Aretha Franklin, Cachorro Grande, e muitos outros. Uma seleção de extremo bom gosto, diga-se de passagem.

pitty.com.br

Games SILENT HILL ORIGINS Anteriormente lançado somente para PSP, Silent Hill Origins vem, agora no PS2, ajudar a esclarecer como pôde aquela pequena cidade tornar-se o lugar mais horripilante já visto no mundo dos games. Como nas versões anteriores, possui traços característicos da série: a diversidade de finais, o “outro mundo” e os vários “puzzles” que o jogador tem que desvendar ao longo do game. A variedade de armas é imensa. Apesar de apresentar apenas cinco armas de fogo, o jogador também pode utilizar navalhas, máquinas de escrever (!), tacos de sinuca, pás, luminárias e muitas outros objetos para se defender. O game peca nos gráficos e na jogabilidade, já que o segundo analog stick que o controle do PS2 possui não pode ser utilizado para rotacionar a câmera, mantida fixa em determinados momentos para manter a idéia cinematográfica do jogo. Entretanto, a trilha sonora é de tirar o fôlego e cria o clima aterrorizante perfeito para essa nova aventura. Eduardo Dias

internet ::: games

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BAIXE

musicas do mes >> Counting Crows You can’t count on me Single bonitinho de Saturday nights & Sunday mornings, novo álbum dos caras. >> The B-52’s Funplex Eles estão de volta! “Funplex” já é forte candidata a hit retrô do ano. >> Panic at the Disco! Nine in the afternoon Emos circenses de Las Vegas lacrimejam Pretty odd em abril. Boa canção. 
 >> Moby Alice Primeiro single de Last Night. O talentoso Moby flerta com o hip-hop.

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reviews shows :::

BOB DYLAN

Estádio Velez Sarsfield, Buenos Aires - 15 de março.

Robert Allen Zimmerman é um personagem tão complexo que recentemente Todd Haynes recrutou seis atores diferentes para representá-lo no cinema. Seis atores no mesmo filme—e todos são Bob Dylan. Sendo assim, o que esperar do show de um dos principais divisores de águas do rock, no auge de seus 66 anos? Após revisar a discografia e assistir ao material cinematográfico disponível, moldei minhas expectativas, que poderiam ser resumidas em uma frase: não saiba o que esperar do homem que reinventa a si mesmo a cada disco; “um homem que morreu e renasceu várias vezes”, conforme escreveu Peninha. A própria cidade de Buenos Aires não parecia querer dizer muito sobre o ilustre hóspede: vimos apenas um prédio ostentando um cartaz que anunciava “BOB DYLAN AND HIS BAND”. Estaria a metrópole duvidando do homem que outrora encarara multidões munido apenas de um violão e suas gaitas de boca mal tocadas? O sábado do show já começou de maneira atípica. O duelo futebolístico que ocorreria entre o time que hospedaria Dylan, o Vélez Sarzfield, e o San Lorenzo, que hospedaria a partida, não aconteceu: um torcedor do Vélez havia sido morto a tiros horas antes. O fato lamentável propiciou cenas de ambivalência de sentidos—quiçá polivalência—típica de uma canção bobdylanesca: fãs de todas as idades, visivelmente ansiosos, ostentavam os mais variados Dylans estampados em suas camisetas; aposto uma Quilmes que nenhum deles tinha sequer idéia de quem Robert Zimmerman encarnaria naquela noite. No sentido contrário, vinha uma legião azul e branca, retornando ao lar com um caminhar melancólico e vingativo, cientes de que o co-irmão não era a primeira e não seria a última vítima dos comportamentos viscerais que a paixão cisplatina pelo futebol, quase doentia, suscita. Não nos abalemos, porém. A noite era de Bob Dylan. León Gieco, que abriria o show, pelo menos em estética remetia àquele que viria depois: violão em punho e gaita de boca pendurada no pescoço. O show de abertura contou com alguns convidados e teve no repertório canções de artistassímbolo da América Latina, como Violeta Parra. A surpresa, no entanto, estava por vir: os últimos convidados do cancioneiro argentino eram ninguém menos que Charly García, que dispensa apresentações, e Gustavo Santaolalla, vencedor de dois Oscar na categoria de trilha original. O trio despertou de vez a multidão que estava imersa num angustiante silêncio, aguardando a grande atração da noite. Charly García, numa frase típica de seu feitio, justificou a reunião: “Todo por Bobby…”. Eis que, pontualmente, o bom velhinho, trajando um terno preto e um chapéu de abas retas e largas, surgiu tocando guitarra em uma enérgica “Rainy Day Women #12 & 35”. O hit teve seu refrão entoado em coro pela multidão. Dylan, porém, já

Nadia Rivero :: myspace.com/bizarrephotography

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mostrava o que seria seu principal artifício para a constante reinvenção naquela noite: parecia se divertir ao modificar o tempo da voz, fazendo sempre com que os milhares de espectadores cantassem milésimos de segundos antes ou depois de sua rouca voz preencher o estádio. Duas canções depois, Dylan trocou a guitarra pelo teclado, instrumento que o acompanhou o resto do show. “Masters of War” tratou de remeter ao Bob Dylan que escrevia canções de protesto. Mostrando que ainda é um camaleão, o homem fez com que canções quase saturadas, como “Just Like a Woman”, ficassem irreconhecíveis até o refrão. Esta canção, a segunda em que ele tocou gaita de boca (mostrando que agora consegue fazer solos mais pontuados, soprando em um buraquinho de cada vez), foi o divisor de águas do concerto. A partir daí, os amplificadores pareciam estar mais regulados, e a banda mais entrosada. O show, fundamentado no disco Modern Times, não teve mais hits além de “Highway 61” e “Like a Rolling Stone” (à exceção do bis). Dessa maneira, seu show assemelha-se ao de outro gênio da composição, que tocara um ano atrás em Porto Alegre: Chico Buarque. Ambos são homens com autoridade artística suficiente para fazer um show com poucas músicas que constam no seu Top 10, e ainda assim propiciar ao público uma experiência memorável. Terminada a primeira parte, a multidão clamava por mais, apostando qual seria o bis. Pois o homem voltou ao palco com “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again” e depois “All Along the Watchtower”. Apresentou a banda (que parecia ter como pré-requisito o uso de ternos de jogador de poker e chapéus), e quando as luzes se focaram sobre o time, eles não conseguiram ir embora. Possivelmente tocado (e olha que não é qualquer um pra “tocar” Bob Dylan) pelo clamor quase futebolístico de “Olê, olê, olê, olê, Dylan, Dylan!”, Robert Allen Zimmerman, que àquela altura já havia sido vários durante a noite memorável, voltou e tocou “Blowin’ in the Wind”, com solinho de gaita e tudo, enquanto o vento regia os telões num ritmo lento, mostrando ao fundo uma noite de lua cheia. Final apoteótico para um show inesquecível. Gabriel Resende


Arlise Cardoso

::: shows

Martha Reichel

FERNANDA TAKAI Teatro do Boubon Country, 14 de março.

ORQUESTRA IMPERIAL

Bar Opinião, 20 de março.

A Cidade Baixa oferece diversas opões para os que curtem ouvir o velho CD de samba-rock “João Alfredo Hits”. Porém são raras as alternativas para quem quer, além do lugar, variar a música. Uma delas, o show da Orquestra Imperial no último dia 20. A big band carioca veio apresentar seu repertório repleto de “sambas de gafieira” que são na verdade bem mais que isso: de sambas-rock a jazzeiras brasileiras e sambinhas de caixinha de fósforo, o som da Orquestra reúne um leque tão eclético quanto seu plantel de músico. As meninas estavam com um pezinho na decepção. Isso porque Rodrigo Amarante – para muitas, o único motivo de se pagar até R$ 40 pela noitada – não estaria presente. Eu também não fiquei feliz – na voz do barbudinho estão duas das canções que eu mais esperava ver ao vivo. A principal delas, “Obsessão”, samba da década de 50 que fazia parte de um poutporri no EP que a Orquestra lançou em 2007. Para minha alegria, Moreno Veloso abriu os trabalhos com “Sem Compromisso”, do mestre Chico Buarque, que abre o poutporri. Aí, o ar se encheu de feromônios e as pessoas embriagaram-se nesse clima tropical. A certa altura um amigo segurou meu ombro e falou “como é bom ser brasileiro” com cara de quem recebia um cafuné na alma. Erupções etílicas à parte, não é uma tarefa fácil por os gaúchos pra mexer. Em cima do palco se travava uma competição amigável de canções quase infalíveis, a maioria proveniente do EP e do debut Carnaval Só Ano Que Vem. “Ereção”, das mais fraquinhas do CD, ao vivo tornou-se um belo dueto entre a nova e a velha guarda de Max Sette e do dinossauro Wilson das Neves, “um dos maiores bateristas da música brasileira”. Se o som do Opinião não estava dos melhores, o entrosamento da banda compensou. Thalma de Freitas e Nina Becker agraciavam o público com suas vozes delicadas – principalmente quando cantaram juntas, e em francês, a sensual “Rue de Mes Souvenirs”. A bossa de “Jardim de Alah” enganaria os que estivessem de costas pro palco. Seria Caetano quem cantava? Moreno Veloso se parece com o pai até nas letras aliteradas (“adoro ornar o adro dela, ode no altar de outro”), e assumindo a frente da banda em boa parte do show. Ao fim da primeira parte do set list, os artistas retornam ao palco com os metais quebrando tudo na instrumental “Pop Corn”. Por fim, o som da voz de Nina com “Me deixa em paz” deixou todo mundo assim mesmo, tranqüilo. Quem ficou por ali ainda pôde conversar com Kassin e Moreno, que deixaram a segurança do camarim para confraternizar com seus amigos sulinos. Enquanto isso, num raio de um quilômetro, o “João Alfredo Hits” seguia sendo tocado à exaustão. Fernando Corrêa

É fato que a voz suave de Fernanda Takai transmite uma paz de espírito. Mas esta sensação aumenta ainda mais quando se assiste ao show de seu primeiro trabalho solo, Onde Brilhem os Olhos Seus, uma recriação de diversas canções gravadas por Nara Leão. Acompanhado de um show de luzes que te fazem entrar no clima de cada canção, o repertório escolhido por Fernanda é daqueles que fazem cantarolar pelo resto da semana. A abertura do show garantiu gritos e aplausos com a mais que clássica “Ta-hi”, de Carmen Miranda. Depois de arrepiar o público com “Diz que Fui Por Aí”, de Zé Kéti e H. Rocha, e “Com Açúcar, Com Afeto”, do nosso querido Chico Buarque, Takai revelou que o show era dedicado a uma “anjinha” especial, e logo depois tocou “There Must Be an Angel (Playing with My Heart)”, do Eurythmics. Clássicos da nossa MPB, de autoria de Roberto e Erasmo Carlos, Tom e Vinícius ganharam destaque na noite—sem contar com a versão em japonês de “O Barquinho”, responsável pelo encerramento do show. Além das músicas do disco, foram apresentadas também canções que Fernanda disse gostar de cantar em casa, ou que lembravam a sua infância, como “Sinhá Pureza”, interpretada por Eliana Pittman, “Ben”, de Michael Jackson, e “Ordinary World”, de Duran Duran. Com um show memorável, Fernanda Takai e sua trupe conquistaram um grande número de novos admiradores, além de manter seu público antigo. Todos saíram do teatro do Bourbon Country satisfeitos. Afinal, não é sempre que podemos apreciar uma homenagem a grandes nomes da música brasileira com uma pitada de melodias inteligentes. Renata Crawshaw 45 noize.com.br


GAÚCHO METAL

Saudações, amigos headbangers!!! Ressaca, ressaca e ressaca… e não é de cerveja—é de IRON MAIDEN. Que showzaço, quem dera tivéssemos mais shows deste nível aqui na capital. Mas sobre isso vocês podem conferir na cobertura que publicamos nesta mesma edição. Dizem que pra curar ressaca o melhor é manter-se bêbado, certo? Pois então: nada melhor que se curar dessa ressaca no show do OZZY! Isso mesmo, o madman em pessoa. Estaremos embarcando em uma excursão levando mais de 150 malucos pra este show HISTÓRICO em São Paulo. Também contaremos tudinho que rolou, juro que não vou me gabar… hehehe. Falando das bandas locais, se liguem: dia 11 de abril tem no

Manara o Metal Battle. Vão participar Hibria, Magician, Unmaker, Apocalypse e Tierramystica, além da Distraught como convidada por ter vencido em 2007. Quero ver esse povo das camisetas pretas prestigiando, hein? Só banda de gabarito, shows que não ficam devendo em NADA às gringas… vamos valorizar o que é nosso, gauderiada. Falando nisso, cada vez mais as bandas nossas se puxando; a Magician é sucesso de vendas no Japão—aliás, que banda brasileira não é sucesso lá? A Lápide lançou petardo novo também mas ainda não tive a oportunidade de conferir; dizem que é bom. Outros vários grupos finalizando novos álbuns, profissionalismo acima de tudo galera! Horns up!!!

NOVAS PELEIAS

Foram quatro discos de estúdio: Ultramen (1998), Olelê (2000), O Incrível Caso da Música que Encolheu e Outras Histórias (2002), Coletânea MTV Acústico Bandas Gaúchas (2005) e Capa Preta (2006). Formado por Tonho Crocco, Zé Darcy, Pedro Porto, Julio Porto, DJ Anderson, Marcito e Malásia, o grupo criado em 92 se separa, alegando motivos mais pessoais do que profissionais; talvez se aventurem fora do Brasil. A despedida foi no Bar Opinião dia 6 de março, com um show lotado e quente em todos os sentidos! Tonho não é muito dado aos “protocolos” que exige a gravação de um DVD, mas o talento compensa qualquer música que precisou ser repetida (quatro, no caso).

PARA OUVIR SENTADO

TERRITÓRIO DO REGGAE E DA PAZ

Vamos a um “remember” da cena reggae de Porto Alegre. Em meados de 2001 surgiu a primeira e única casa de reggae que deu certo por aqui. Mas o que ela podia ter de diferente dos outros lugares que foram abertos especialmente para tocar o ritmo e que acabaram fechando as portas? Será que o público levou o reggae a entrar nessa situação ou será que as próprias bandas carregam esta “culpa”? É a velha e boa discussão pra ver quem é o culpado. Muitas vezes, em passagens de som no Território da Paz ouvi seus proprietários falarem: não reclamem, porque quando a gente resolver fechar, vocês não vão ter pra onde correr. E tiveram toda a razão. No entanto, ne-

nhuma banda ganhava mais o que sonhava, a divulgação foi ficando cada vez mais escassa, os ingressos mais altos e o público foi sumindo—receita ideal para dizer chega! Mas pode-se dizer que um fator foi conseqüência do outro e todos juntos não deixaram de pé o que hoje nós, regueiros, chamaríamos de sonho. Único lugar que a gente podia ouvir o reggae jamaicano dos anos 70, sempre com cheirinho de incenso na porta e uma galera do bem, que estava lá só pelo som e pelas “positivas vibrações”. Bandas nasceram e cresceram pelo espaço e reconhecimento que tinham nesta casa acolhedora, no legítimo território da paz. Saudade desse tempo que o próprio reggae deixou para trás.

A volta não é certa, mas foi uma surpresa quando a imprensa divulgou o “fim da Ultramen”. Tonho Crocco disse no palco do Opinião: “Teve jornalista que me ligou pela primeira vez agora, porque achou que a banda ia acabar. Acho que vou acabar com uma banda toda semana, é o único jeito de conseguir a capa do Segundo Caderno!”. Não foi por falta de mídia que decidiram dar este tempo, e não será preocupação com ela que voltarão, quem peleia por tanto tempo, não se “entrega de jeito nenhum”! Nome de super-herói não é à toa! * Em noize.com.br entrevista exclusiva com Tonho Crocco! Vida longa à Ultramen!

Zapeava eu pela insossa televisão brasileira até chegar ao Canal Brasil (o único possível), que exibia o DVD Passo de Anjo ao vivo, da Spok Frevo Orquestra, lançado pela Biscoito Fino. Olhos e ouvidos atentos me detiveram ali até o último aplauso. O inusitado não é apenas sonoro, mas também visual. Três naipes de metais (trombones, saxofones e trompetes), percussão, baixo elétrico e guitarra unidos para tocar frevo. No Carnaval pernambucano enquanto os foliões dançam o passo? Não. De terno e gravata, no Teatro Santa Isabel, de Recife, com o público acomodado em poltronas vermelhas. A proposta da orquestra segue a linha de Felinho, músico pernam-

bucano que, ainda na década de 30, sob severas críticas, imprimia a prática da improvisação ao frevo—gênero que, orquestral, nasceu escrito na partitura. E Spok e seu grupo sabem mesmo improvisar, daquela maneira simpática, que não é cansativa e nem te chama de ignorante quando tu te perdes. De uma forma bastante similar ao que o Quartchêto, aqui de Porto Alegre, faz a partir do vanerão dos fandangos, a Spok Frevo Orquestra se apropria do frevo de rua—mas se investe de tamanha liberdade de expressão que coloca, ao contrário do bloco carnavalesco, a música na frente da dança. Atento aos contornos musicais, o corpo pára.


DE OUTRO NORTE

Mais uma NOIZE nas ruas revelando o que de melhor aconteceu no mundo da música em março. Em abril, teríamos Funeral for a Friend em Porto Alegre, mas a banda cancelou sua apresentação alegando questões “não materializadas” pela organização. De outro norte, Está se formando em Porto Alegre um novo conceito sonoro, no qual os estilos de música populares e refinados se encontram, objetivando uma completa e perfeita reconstituição da noite nos rádios, MP4 players e computadores. Inspirados no mistério e ousadia de Francisco José de Goya y Lucientes (pintor espanhol extremamente versátil e admirador de diversas vertentes da pintura), a banda “Loucos por Goya”, procura, através

de sua música, traduzir o ambiente noturno para dentro do local onde a música é executada. Dona de uma mistura ousada de música eletrônica com o bom e velho rock, passando pelo rap e subgêneros alternativos, LPG se constitui em uma nova e diferente proposta musical, que visa ao entretenimento e a diversão dos ouvintes. Preparem-se, pois o insólito está chegando a suas mãos. Dica do Mês: Todos os episódios de Scrubs que foram dirigidos pelo Zach Braff—“My Last Chance, My Best Laid Plans, My Way Home, My No Good Reason, My Growing Pains”. O cara, além de ser ator, é diretor, roteirista e produtor. XO

O FIM DOS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE

Não tem público, então não tem noite. Ou não tem noite porque não tem público? A quantidade de adeptos da música eletrônica diminuiu? Eles mudaram seus hábitos? Fato é que a noite de eletrônica em Porto Alegre está bem estranha. Para começar, a “prostituição” está acabando com a noite estabelecida. Produtores cobram R$50 de ingresso masculino e liberam vodka importada a noite toda, mulher entra de graça. Isso nivela a noite por baixo e vem desde os domingos liberados no Dado Bier. Lembremos nosso governo, que também nivela tudo por baixo: estamos indo bem. Bem mal. “Festa boa tem bebida liberada”—é o que pensam as

CALIFORNIA DREAMIN’

Dias agitados para quem curte hardcore californiano. Duas das principais bandas que conhecemos muito bem (pois já estiveram em Porto Alegre) lançam álbuns extremamente aguardados e ansiados pela massa. O Pennywise lançou Reason to Believe no MySpace (método cada vez mais freqüente). Além de disponibilizá-lo para ser ouvido no site, quem quiser pode baixar o álbum em alta qualidade até o dia 8 deste mês—basta tornar-se amigo da banda e da Textango, empresa especializada em venda de música para celulares. Sobre o álbum, é semelhante aos outros que Jim e trupe lançaram neste século e não deve desapontar os fãs. “Something to live for”, “All we need” e “The Western

World” são as faixas que mais me cativaram. No Use for a Name também está com disco novo. The Feel Good Record of the Year foi lançado oficialmente em 1º de abril (não é trova), embora tenha vazado uma semana antes. A primeira música divulgada no MySpace, “Biggest Lie”, me fez voltar mais de 10 anos, porque tem um jeito Making Friends e Leche con Carne, ainda que com traços de More Betterness e do que veio depois (inevitável). Um lamento, para finalizar. Bad Brains vem pela primeira vez ao país. Tocam em São Paulo, Recife e Rio de Janeiro. Suicidal Tendencies vai em maio apenas para SP, por enquanto. E nós, hein?

pessoas em geral. O que vale é encher a cara, passar mal. Aliás, pra que DJ? A maioria nem sabe o que o cara está tocando. Na Porto Alegre das festas, se não tem festa no sábado, onde vai quem gosta de escutar um bom DJ? Ok, a Chairs investe numa noite de eletrônica. Louvável. Mas numa capital com praticamente 1 milhão e quinhentos mil habitantes, não é pouco? Poucas festas grandes têm foco na música. Se perdem no “trago free”. Assim, acho que não há mais “o público” de música eletrônica—ou existiria uma boa noite fixa aos sábados, como a E.Session às sextas no Kimik. Enfim, estamos protagonizando O fim dos Embalos de Sábado à Noite.

TOKYO POLICE CLUB

Prometo, prometo que vou me esforçar pro Tokyo Police Club ser a banda mais indie de todas as colunas que vou fazer, daqui até me mandarem embora. TPC surgiu em 2005 no Canadá que, desde o boom causado pelo Arcade Fire, se tornou um país que todo ano tem alguma(s) surpresa(s) massa(s). Não, o TPC não é a minha aposta, até porque o meu bom senso controla minha euforia (naquelas). Com lançamento marcado pro dia 22 de abril, (o já vazado) Elephant Shell, álbum de estréia do TPC, é o meu álbum do mês. Fazendo jus a um dos meus selos prediletos, Saddle Creek (lar de artistas como Bright Eyes e os MESTRES Cursive), Elephant Shell é álbum pra ouvir na ínte-

gra. Com menos de 39 minutos, me fez ter a sensação boa que me dá quando escuto um bom álbum curto—aquela coisa de terminar o disco e pensar “p... da onde isso, já acabou? Mas tava o bicho, bróder!”. Indico 3 músicas pra vocês: “Your English is Good” (que tem um vídeo foda no YouTube), “In Cave” e “Listen to the Math”. Se com um EP o TPC já viajou boa parte do mundo (incluindo o Brasil, onde tocaram no festival Planeta Terra, junto com Cansei de Ser Sexy, The Rapture, Devo e por aí vai), agora com Elephant Shell eles prometem—só não sei o que, mais prometem. Myspace das crianças: myspace. com/tokyopoliceclub Abraço!

47 x noize.com.br



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Ilustra Gareth Stranks :: Blur Forum

jammin’ 50




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