NOIZE
#13 // ANO 2 // MAIO ‘08
ÍNDICE 4. News // 8. Road Trippin’ // 10. Mallu Magalhães // 12. Tropicalismo no RS // 16. Sem Destino World Tour // 18. Capa // 22. Fresno // 27. Agenda // 30. Estilo:Música // 34. Reviews // 42. Colunistas // 44. Fotos // 46. Jammin’
Foto da Capa: Ana Carolina Pan
EXPEDIENTE DIREÇÃO: Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha COMERCIAL: André Baeta Neves andre@noize.com.br Nicole Citton nicole@noize.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha
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Se Você Não Gostou da NOIZE Passe Adiante
EDITORIAL Número 13. Para os supersticiosos, é um presságio de azar. Para nós, é mais uma NOIZE nas ruas, fruto de muito trabalho e motivo de muita satisfação. A idéia para esta edição era trazer matérias mais ousadas, com um toque local, e acredito que atingimos esta meta. De certa forma, o localismo foi um pouco além do simples “toque”. A começar pela capa, que pode parecer apocalíptica, mas é, na verdade, uma interessante contextualização do rock gaúcho nesses tempos em que a Cachorro Grande bomba o país, coisa que “Cachorro Louco” não fez! E, não distante dos caras da Cachorro, em São Paulo, vive a Fresno. O vocalista Lucas fala sobre a caminhada do emocore para o pop, de Porto Alegre para a porta da MTV. Em tempos de aniversário do Tropicalismo, a NOIZE confere o “estrago” que esse causou na música do Rio Grande do Sul. E não podemos ignorar o hype: a nem tão pequena, mas jovem Mallu Magalhães e seu folk sincero que extrapola o cenário indie e que já tem chacoalhado o tal do mainstream, passou pelo Porão do Beco – e bate a ficha na sua NOIZE 13. Não
deixe que sua insatisfação vire birra, reclame, sugira, bote a boca no mundo.
abertas.
Fernando Corrêa
Nossas
caixas de email estão
Divulgação
news
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A (NOVA) INDÚSTRIA DA MÚSICA
A internet não respeita os mais velhos, e eles também estão vendo-se obrigados a encontrar alternativas para o lançamento de seus álbuns em função da pirataria. Com um retorno aos anos de ouro, Elvis Costello (foto acima) lançou o novo trabalho do Elvis Costello and The Imposters, Momofuku, apenas em vinil. Isso mesmo, o bolachão é a única forma física disponível do novo álbum. De brinde, quem comprar o LP ganha acesso ao disco em formato digital. Ou seja, como (quase) todo mundo compartilha mp3, as músicas de Momofuku já circulam nos sites de pirataria web afora. Enquanto isso, Costello e cia divulgam as novas músicas junto ao Police na parte final de sua turnê revival. Os lançamentos inusitados deram um novo gostinho para a espera daqueles que ainda pagam por música. Jack White e seus comparsas do The Raconteurs, mesmo negando que a pressa para lançar o novo trabalho fosse devida ao medo de que o álbum estivesse na internet antes de chegar nas lojas, não fizeram divulgação nenhuma a respeito do lançamento de Consolers of the Lonely (confira o review na página 35). Pegando todos de surpresa, apenas publicaram uma nota em seu site informando que o disco estava pronto e que seria lançado no dia 25 de março. “A pior coisa de um álbum que vaza é a baixa qualidade dos arquivos. É desanimador para quem cria as músicas, mas, de qualquer forma, é o ouvinte quem decide”, declararam. E o que vem por aí é o quarto álbum do The Strokes. O CD ainda não tem data prevista para chegar às lojas, mas a expectativa é grande. Afinal, desde 2006, os guris não apresentam novidades. Agora é ficar no aguardo: já se fala em um lançamento bem inusitado para o novo trabalho deles. > elviscostello.com - Site oficial do músico, com informações sobre Momofuku.
> oLIVER’S ARMY AO VIVO NO GLASTONBURY- Costello tocando Oliver`s Army na edição de 2005 do Glastonbury Festival. Tags: costelli glastonbury army
SAIBA MAIS
> RACONTEURS AO VIVO NO COACHELLA 2008 - Consolers of the Lonely, poucos dias atrás, no Coachella - quase
como estar lá. Tags: raconteurs coachella lonely
> STROKES EM Sp - Em 2005, os garotos de NY detonando Someday no Tim Festival. Tags strokes someday part2
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Foto: Isadora Lescano
Reprodução
Fotos: Nando Corrêa e R.R.
A ESTRADA PARA O INFERNO NÃO TEM FIM
É DU KARAL... E A VOLTA DO DEFALLA
Em uma entrevista para a rádio DC 101, de Washington D.C., o vocalista do AC/ DC, Brian Johnson, revelou que a banda acabou de gravar seu novo álbum. O registro foi descrito por Johnson como “absolutamente excelente”. O lançamento está previsto para o fim de 2008, porém um single deve sair até junho. Segundo o vocalista, Angus e Malcolm Young ainda estão no Warehouse Studio, em Vancouver, no Canadá, supervisionando a mixagem com os produtores Mike Faser e Brendan O’Brien. Uma turnê estaria nos planos de divulgação do trabalho, a estréia da banda pelo selo Epic Records, pertencente à Sony BMG. Será o primeiro álbum de inéditas do AC/DC em oito anos.
De todos os retornos de bandas finadas aos palcos, poucos seriam tão interessantes para os gaúchos como a volta do DeFalla. Pois andam dizendo por aí que isso pode acontecer. E a informação saiu da boca do próprio Edu K, fundador camaleônico e membro mais emblemático da banda. O paranaense, radicado e radicalizado em Porto Alegre, teria planos para a gravação de um DVD com dois shows do DeFalla, um por aqui e outro em São Paulo. Os shows, ainda não confirmados, contariam com a formação quase original da banda, com Castor, Edu K, Biba Meira e Fornazzo. Porém Edu, que no momento está na Europa, ressaltou que a volta não é certa. Seria a segunda volta do DeFalla nos anos 2000.
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> YOUTUBE.com Entrevista de Johnson para a rádio DC 101 Tags: ac/dc vancouver dc 101
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> produtorestoddy.com.br/blog/ edu_k.aspx - Blog do Edu K nos Produtores Toddy
>> A Identidade será a representante do RS no festival Bananada 2008, que rola nos dias 23, 24 e 25 em Goiânia.
>> A Comunidade Nin-Jitsu divulgou a capa de Atividade na Laje, disco a ser lançado na segunda metade de maio.
>> O Da Guedes está nos finalmentes para
>> Abril pro Rock:Wander Wildner foi des-
o lançamento de seus CD e DVD ao vivo no Opinião, que saem do dia 2 de junho. A publicidade para os lançamentos avisa: em breve, nas lojas, na internet e no camelô mais próximo de você.
taque do festival, com direito a toque de frevo em “Eu Tenho uma Camiseta Escrita Eu te Amo”. Superguidis fez o melhor show em português nos palcos secundários. Júpiter deu seu show e agradou à maioria.
estampa
do mês
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Onde Encontrar: REGENTAG Rua Alberto Torres, 88 - Cidade Baixa
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news
PAUL MCCARTNEY VAI SALVAR O MUNDO Paul McCartney não cansa de tornar o mundo um lugar melhor. Preocupado com o planeta moribundo em que vivemos, Macca veio a público aconselhar a população mundial a tornar-se vegetariana e deixar as vacas e ovelhas levarem suas vidas bucólicas em paz. Para ele, essa é uma medida urgente no combate ao aquecimento global. O ex-Beatle disse, em entrevista ao grupo Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais) divulgada pela agência Reuters, que a água e a terra demandadas pela pecuária em larga escala são fatores determinantes para as mudanças climáticas alardeadas nos últimos anos. O dado é comprovado por um relatório da ONU, de 2006, que coloca a criação de gado como mais responsável pelo efeito estufa do que os transportes. ”Exorto a todos que dêem esse passo simples para ajudar o ambiente e salvá-
Jimi Hendrix - The Sex Tape. Esse é o nome do DVD que a Vivid, famosa produtora de filmes pornográficos, lançou nos EUA. Com onze minutos de cenas de sexo explícito, o vídeo vem causando polêmica. Nele, Hendrix apareceria fazendo sexo com duas mulheres em um quarto pouco iluminado, em que o rosto do homem negro nu aparece por pouco tempo. De olhos fechados, o suposto Jimi tem o cabelo black power encoberto pela clássica bandana, aparentando ser alto e de uma magreza desengonçada, o que sugere que as cenas podem ser autênticas. A Vivid teria colocado detetives particulares trabalhando para comprovar a legitimidade das imagens. O mais engraçado é que, para não vender um DVD tão curto, o disco foi complementado com um pequeno documentário sobre a carreira de Hendrix, além de depoimentos de supostas amigas dele confirmando a identidade do homem em ação. Entre-
lo para as crianças do futuro”, disse McCartney, acrescentando que não compreende como “a maioria das grandes organizações ambientalistas deixe a opção de tornar-se vegetariano de fora das principais sugestões para frear o aquecimento global”. Outro ato bonito de Paul foi a inauguração, em Londres, da exposição de fotos tiradas por sua ex-mulher Linda McCartney, morta de câncer há dez anos. Divulgação
JIMI HENDRIX PELADÃO EM AÇÃO
Montagem: Rafa Rocha
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tanto, o biógrafo de Hendrix, Charles R. Cross, negou essa afirmação. É o segundo vídeo com cenas de sexo de famosos mortos de que se tem notícia nas últimas semanas. No início de abril, um colecionador pagou US$ 1,5 milhão por quinze minutos de imagens em que uma suposta Marilyn Monroe aparece fazendo sexo oral em um homem não identificado. Porém o cavalheiro assegurou que não vai divulgar as imagens da musa de Hollywood na rede.
Foto: Miranda
Rafa Rocha
Carlos Miranda
Produtor e Empresário
O DIA DAS LOJAS DE DISCO Há quanto tempo você não entra em uma loja de discos? Foi esse pensamento que norteou o lançamento do Record Store Day, no último dia 19. O evento, organizado por associações de lojas de discos independentes americanas, surgiu como uma tentativa de reanimar as vendas do nicho. Abatidas pela internet e pelas megastores, as lojinhas encontraram uma saída criativa para aumentar suas vendas, ao menos por um dia. Com o apoio de artistas do calibre de Death Cab For Cutie,Vampire Weekend e Nada Surf, além de depoimentos no site do evento, conseguiu lançamentos especiais, discotecagem e performances durante todo o dia nas lojas participantes. Infelizmente, só rolou nos EUA e em alguns pontos da Inglaterra. > recordstoreday.com - O site conta com
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uma interessante seção de depoimentos, de Paul McCartney a Nick Hornby (autor de Alta Fidelidade).
MARIAH NO TOPO Mariah Carey está com a bola toda. Seu álbum E=MC² fechou o abril encabeçando o Top 200 da Billboard. Era esperado: no dia do lançamento foram comercializadas 154 mil cópias do CD da cantora americana, superando a atual líder da parada, Leona Lewis. A estrela pop não apresentava novidades desde o álbum The Emancipation of Mimi, de 2005, também sucesso de vendas, alcançando 404 mil cópias em 1 mês. “Touch my Body” já toca direto nas rádios daqui.
NOIZE diz: ôpa, miranda, beleza? Miranda diz: falae velho, bora? NOIZE diz: primeiro conta o que tu anda fazendo, com que bandas tá trabalhando. Miranda diz: tô fazendo um projeto para a coca zero e mtv de encontros de grandes nomes da musica brasileira, começou com cbjr e vanessa da matta, depois vem dj marlboro e natiruts, chitãozinho xororó e fresno. especiais de tv. tm tb dois discos solo da nina becker e um do Ricardo Koctus, baixista do Pato Fu. e um programa ainda sem nome no SBT. NOIZE diz: cara, e essa facilidade que se tem de gravar e espalhar música hoje em dia tem um lado ruim? Miranda diz: perfeito. a melhor coisa que aconteceu. vai aparecer de tudo, e cada vez mais. se escuta o q quer, mas fica difícil saber o que ouvir. cada vez mais concorrência, então muita banda boa vai penar atrás de público. tem que se considerar empresa, nada de ser muito louco, louco só o som NOIZE diz: haha, acabou o glamour do rock n roll? Miranda diz: que conversa é essa de glamour? as groupies no camarim? as festas? isso não impede de trabalhar a serio no dia a dia, todas as bandas que se deram bem na historia fizeram isso. agora, tu acha que os stooges se deu bem na época? só se fuderam. NOIZE diz: e porque no brasil o pagode e o funk ruins são tão mais consumidos? Miranda diz: porque o povo gosta mesmo de fuleiragem, ou tu queria que curtisse júpiter, graforréia? nunca, povão quer música de acasalamento. e eles tão certos. nêgo vai em restaurante japonês e se entope de salmão, que é um bagulho tosco, sem graça. neguinho come kani e acha que é luxo. é lixo, salsicha feita com tranqueiras dos peixes e sabor artificial de caranguejo. é gosto, cariado mas é gosto hehehe. a boa musica sempre foi pra poucos, como a boa comida.
e não é questão de elitismo. NOIZE diz: como é a banda que tem chance de dar certo hoje? Miranda diz: tem que ter algo novo e ir atrás do publico. no myspace tu tem que add friend, saca? artista e público no mesmo patamar. quando uma banda como o radiohead fica tão famosa, tem que ter especialmente firmeza com o publico, senão todo mundo abandona eles. NOIZE diz: galera acha que produtor só fica com o filé. tu já tomou mt tufo? Miranda diz: nada, só filé. hahahaha. a verdade é que não trabalho por grana, então nada é tufo. mas como gravadora sempre perdi dinheiro, na real as contas se pagavam e só. mas só trampo sem grana pra quem merece, quem faz som foda e se vira. poucas pessoas tem noção do que é batalhar de verdade. no sul então... chegam em sp e cagam nas calças. NOIZE diz: galera aqui é preguiçosa? Miranda diz: não têm a mínima noção do que é responsabilidade a sério. e não culpo a galera, é que as coisas aí se formaram meio assim e funciona. e isso não é ruim a nível regional. adoro isso. viver aí nesse esquema é uma vida muito melhor do que a dos que tão se fudendo em outros lugares... mas quando vinga compensa, aí a vida fica melhor do que de todos. NOIZE diz: ficar aqui é pra qm pensa pequeno? Miranda diz: não digo pequeno, é simplesmente um jeito feliz de se viver. um tanto ingênuo talvez, mas feliz. sp é maior esquema caipira também, todo mundo mega focado em fazer sucesso e ser alguém, depois rola muita porcaria hahaha. NOIZE diz: valeu cara, algo mais que tu acha que mereça ser dito! Miranda diz: o recado é o seguinte: compare a informação. não confie 100% em nada. bote pra fuder. faça esse mundo mais divertido. mas duvide sempre um pouquinho de vc mesmo, isso vai te fazer melhor. ah... e não existe pôr do sol mais lindo do mundo - o mundo é redondo e tem por do sol lindo em todo canto, o tempo todo hahahaha. abração!’’ x 7 noize.com.br
road trippin’
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ITÁLIA :: Turim Nome: Guilherme Padilha Idade: 21 O que faz: Estuda Engenharia Motivo da viagem: Foi fazer faculdade na Europa e acabou em Turim Trilha Sonora: Steven Miller Band Capital da região do Piemonte, primeira capital da Itália e sede dos últimos Jogos Olímpicos de inverno,Torino (Turim, em português) é bem localizada na Europa. Fica próxima à França e à Suíça, além de outras cidades mais turísticas da Itália, o que a torna uma boa opção para quem viaja de trem. Brasileiros não devem se espantar ao ouvir nosso português pelas ruas, já que cidadãos de fora da União Européia constituem quase 10% da população da cidade. A imigração pode não agradar muito alguns torineses, sempre tão bairristas e orgulhosos de sua história, mas garante grande variedade cultural (e principalmente gastronômica), como em outras grandes capitais do continente. Kebabs, sandubas turcos normalmente muito picantes, espalham-se por quase todas quadras do centro da cidade. Tradicionalíssimo também já é o aperitivo: ao pedir uma bebida, normalmente vinho, o buffet estilo “petiscos” é livre. Alguns bons exemplos são o Mulassano, na Piazza Castello e o Platti, no Corso Vittorio Emanuele II, além de todos que podem ser encontrados ao longo da Via Po (que termina no rio de mesmo nome) e no Quadrilatero Romano, parte muito antiga da cidade que hoje abriga uma ótima seleção de bares, restaurantes e festas sem precisar caminhar muito. No mesmo estilo nightlife à beira do Po fica a área do Murazzi, e o Imbarchino, já dentro do Parco Del Valentino, no qual ainda se pode passar a noite entre italianos e muitos estudantes estrangeiros no Chalet. Vale citar ainda o Centralino, na Via Delle Rosine, com festas para vários gostos em diversos dias da semana. Para os interessados, museus, palácios e prédios históricos, muitos dos quais em estilo Barroco, não faltam. O Museu Egípcio possui o maior acervo de artefatos fora do Cairo. O Palazzo Madama, na Piazza Castello foi uma legítima residência real e pode ser visitado em salas que misturam o medieval e o barroco. Cidade natal da FIAT, Torino não ficaria sem o seu Museu do Automóvel, com carruagens do século XVIII até esportivos atuais. Destaca-se (muito) pela sua altura, bem maior que os baixos prédios antigos da cidade, a Torre Mole Antonelliana, que abriga atualmente o Museu Nacional do Cinema e suas salas e coleções de objetos relacionados a grandes filmes. O Parco Del Valentino, onde fica o Castello Valentino, pode garantir bons passeios em dias ensolarados. Próximo à cidade, no alto de uma colina, fica a Basilica di Superga, que oferece uma vista fantástica da cidade com O Melhor de TURIM: a cadeia de montanhas nevadas ao fundo. Para os meses mais frios, a proximidade Rádio – Chalet dos Alpes permite aos visitantes de países Casa de Shows – Virgin Radio quentes arriscarem manobras (e tombos) Revista – Quattroruote de esqui e ainda ver como crianças de oito Comida –Spaghetti alla Carbonara anos podem fazer muito melhor sem esforço. Diversão garantida, sem precisar pagar Lugar – Parco del Valentino por caras estadias nas montanhas.
Dublin :: IRLANDA Nome: Maria Joana Avellar Idade: 20 O que faz: Estuda jornalismo Motivo da viagem: Estudos e experiência Trilha Sonora: Dropkick Murphys A República da Irlanda é marcada por certa resistência à dominação britânica e por recentes lutas pela independência. Hoje, mesmo com traços londrinos, o que mais diferencia Dublin da capital inglesa é o toque provinciano que os irlandeses fazem questão de evidenciar: é normal receber ajuda inesperada de um deles quando estamos distraídos tentando decifrar um mapa em alguma esquina do centro. Conversar com um irlandês bebendo Guinness em um pub é uma experiência indispensável, bem como bater um papo com os mendigos do Temple Bar (coração boêmio da cidade) e cantar ao ar livre de madrugada acompanhado dos músicos de rua e de irlandesas em clima de despedida de solteiro que, pelo vestuário, não parecem sentir frio nenhum, mesmo em temperaturas quase negativas. Mesmo que tudo isso possa ser feito em apenas uma noite, são tantas opções de festa só no Temple Bar que vale a pena aproveitar com mais tempo. Para os que gostam de rock, na cidade berço de bandas como Cranberries e U2, o Mezz conta com ótimos shows, principalmente às quartas e aos domingos. Fitzsimons, Porterhouse e Turks Head são boas opções, mas não mais comportadas, para os que preferem músicas pop. No fim da tarde do domingão, também vale a pena conferir os shows de reggae e ska no Foggy Dew, bar tradicionalíssimo e cheio de irlandeses. O Olivers St. Johns Cogartys, igualmente tradicional, tem mais turistas, mas conta com música típica irlandesa todas as noites—além de constar em seu cardápio um pesado e excelente café da manhã irlandês. Tem cara de after, mas aos sábados e feriados, bastante gente madruga pra chegar no White Horse Inn às 7 da manhã, horário em que começa uma das melhores festas de house da cidade. Normalmente, quem freqüenta acaba esticando para outros lugares que são descobertos na hora. Para quem prefere aproveitar o dia de outras maneiras e não se intimida pela constante chuva, um passe diário do trem Dart possibilita que quase todas as praias da costa sejam conhecidas com um pouquinho de pressa. Destaque para Howth, cheia de penhascos, e Bray, onde está localizado o castelinho da cantora Enya. Quem deseja visitar Bono Vox deve reservar um dia inteiro: o caminho até a casa dele é meio labiríntico, ninguém sabe direito como chegar e as explicações são divergentes. Apesar de um pouco irritante, o clima chuvoso presenteia Dublin com arco-íris quase diários e com a grama mais linda do mundo. A cidade é cheia de parques floridos de grama verde-fosforescente que lotam nos dias de sol, como o Merrion Square, o St. Stephens Green e o Phoenix Park, o maior parque urbano da Europa.
O Melhor de DUBLIN: Rádio – FM 104 Casa de Shows – Ambassador eTripod Revista – The Dubliner Comida – Colcannon ou Boxty Lugar – Trinity College Dublin
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Texto Fernando Corrêa
mallu magalhães 10
Em quatro meses, Mallu Magalhães trocou a obscuridade pelos holofotes do hype. Em outros tempos, acusariam-na de ser uma invenção de gravadoras gananciosas. Mas esse peso não lhe deve abater, pois foram seus os passos que lhe asseguraram o lugar de destaque que hoje ocupa. Além de compôr suas próprias canções, grande parte em inglês, deixou para trás seus 15 anos para encarar o sonho de ser um Johnny Cash - com a voz mais fina e o corpo mais puro. De gaitas, violões, pianos e risos faz-se o caminho da paulista que diz um dia querer viver em Porto Alegre e em tantos lugares quanto conseguir. Por enquanto, ela se habitua a abandonar as livrarias e lojas de disco onde descobriu, além da veia country de Cash, o estilo de vida dos Rolling Stones e a voz rasgada de Tom Waits. Quer um pouco de tudo - a agitação dos Stones, por gosto, a voz de Waits pela primeira seqüela da carreira de folkrocker: “eu não sabia que existia calo nas cordas vocais, e é irreversível. Eu achava o máximo ficar rouca [...] agora já foi, não posso mais cantar que nem um passarinho. Mas eu quero ser leão, e vou continuar rugindo”, falou a voz de guriazinha do outro lado da linha, alguns dias após sua passagem por Porto Alegre. Live @ Beco Poucas vezes o Porão do Beco esteve tão cheio quando no dia em que Mallu Magalhães passou por lá. Ainda assim, Dolly Parton e Bob Dylan saíam à vontade caixas de som afora. Entre as 9h, quando o show estava marcado para começar, e as 10h30min, uma longa fila estendeu-se na calçada da av. Independência, e seguia gigantesca quando a garota entrou no palco ovacionada pela platéía. Os habituados ao rostinho bonito do My Space certamente não imaginavam que Mallu fosse tão alta. Com um terno que lembrava Dylan, a garota disparou sua arma contra a ansiosa platéia pela primeira vez: riu, repetidas vezes. Mallu Magalhães não é filha do folk. É filha da internet, mais um membro da familia de músicos prodígios a causarem espanto não só pelo talento, mas por trazerem um repertório impressionante para os anos de vida que têm. Resgate-
mos alguns outros casos: os meninos do Arctic Monkeys, estourados aos 18 anos; ou mesmo o porto-alegrense Yoñlu que, tendo falecido aos 16, deixou uma obra rica, sensível e melancólica. Há algo novo acontecendo, estamos diante de uma geração na qual a idade deixou de ser indicativo de conhecimento. Sozinha no palco, já que sua banda não pôde vir, Mallu disparou sua primeira canção, “J1”. Os homens boquiabertos, e as mulheres decidindo se a amavam ou a invejavam, pareceram aprovar. Ela deu mais uns tiros de riso - ratatata - e arriscou um beat box tão bonitinho quanto desnecessário. Os já hits “Get to Denmark”, “Don`t look back” e “Tchubaruba” arrancaram mais suspiros que as leituras interessantes de “Folson Prison”(Cash), “I’ve Just Seen a Face” (Beatles) e “Anyone Else But You” (Moldy Peaches, mais famosa por aparecer no longa “Juno”). Sem ter assistido às vitórias de Ayrton Senna, nem aos milhares de caras-pintada nas ruas, no auge de sua efervescência adolescente, Mallu tinha à sua disposição o infinito da internet. Não é surpresa que idolatre Cash e Dylan. “Quando eu encano que a pessoa é um ídolo pra mim, não há escorregão que me faça pensar que a pessoa escorregou. Nem o Dylan, quando não cantou bem no show”, perdoa. Enquanto isso, no Porão do Beco, os risos persistiam e já ameaçavam perder o status de bonitinhos para tornarem-se levemente irritantes. Foi quando ela começou a contar a história do gato voador. Novas seqüências do seu riso maroto obrigaram-me a cortar o que habitava meu próprio rosto desde o início do show. Naquele momento, imunizei-
me e passei a prestar atenção apenas na artista cujos primeiros passos eu, de certa forma, presenciava. Se ainda não se desencantou com a fama, Mallu tem noção de que a mesma pode eventualmente colocá-la em situações que ela não idealizou. “Não quero vir a ser um ícone como a Avril Lavigne, mas sei que há sempre o risco de se tornar comercial. Na verdade, minha maior preocupação é em ser eu”, pondera, para completar que não se preocupa com as acusações de ser uma invenção: “Muita gente diz muita coisa. Se a gente ficar ligando pro que todo mundo diz, a gente não vai dizer nada”. Ela está mais para Dylan. Veio de um background muito mais sólido e adulto do que o pop-punk que cuspiu Avril no mainstream. E, apesar da tendência a encaixar-se no folk, suas músicas, com apelo tão pop quanto cool, indicam que ela não se deve prender a rótulos. “Sou fissurada (em folk), mas música é liberdade”, afirma. E, ainda que não reconheça a internet como seu vale encantado, sabe que a força da rede contará a seu favor:“por conta do meio musical mudar tanto devido à tecnologia, as gravadoras vão acabar se adequando aos meios alternativos, o que gera uma negociação que torna os artistas mais livres”. Talvez não estejamos prontos para idolatrar uma garota de 15 anos. Porém, a julgar pela sua rápida ascensão, isso não importa. Preparado ou não, quem assiste à jovem e esguia menina ao vivo corre sérios riscos de cair na sua graça. > MALLU AO VIVO NO PORão do beco - Mallu
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tocando cover de Moldy Peaches no Porão do Beco Tags: anyone mallu poa 11 x noize.com.br
Texto Natália Utz Ilustração/Flores Carla Barth
tropicalismo no rs 12
Há 40 anos era lançado o álbum Tropicália ou Panis et Circencis, um dos marcos do movimeno tropicalista. Em conseqüência disso, o que será que, musicalmente falando, aconteceu por estas bandas? Um texto do cantor, compositor e escritor Rogério Ratner, intitulado “O Tropicalismo Gaúcho”, desvenda como o movimento capitaneado por Caetano Veloso e sua turma influenciou parte da música feita no Rio Grande do Sul, desde aquela época até hoje. Quando se fala em Tropicália, a tendência que se tem é de voltar-se para o centro do país. Quase que automaticamente, na lembrança surgem nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Torquato Neto, Gal Costa, Os Mutantes, Rogério Duprat, Tom Zé, etc. A ressonância que o movimento teve no RS e os artistas gaúchos simpatizantes a ele são do conhecimento de poucos. Está certo que, por aqui, não houve o lançamento de um “disco-manifesto do Tropicalismo do RS” e muitos artistas não se declararam abertamente tropicalistas, ao contrário do que aconteceu lá para cima. Até porque, como contextualiza o texto de Ratner, a coisa estava preta. Eram os anos de chumbo do AI -5. Artistas eram perseguidos e até, como no caso de Caetano e Gil, exilados. O outro motivo é o fato do tropicalismo utilizar diferentes ritmos musicais e variados estilos. Era natural que “muitos músicos, embora tenham sido influenciados e atraídos pela proposta, não se sentissem inteiramente identificados ou totalmente contemplados por ela”, analisa Ratner. O assunto “tropicalismo gaúcho” veio à tona enquanto Rogério pesquisava a história do rock gaúcho dos anos 60 e 70 para escrever seu livro, “Woodstock em Porto Alegre”, ainda sem previsão de lançamento. O tema principal da obra é o programa “Mr. Lee”, transmitido pela Rádio Continental AM em 1975 e 1976, comandado pelo radialista Júlio Fürst, hoje na Itapema FM. Uma coisa levou a outra e “me flagrei que o buraco era mais embaixo, precisava puxar o fio da meada lá nos anos 60”, revela o músico. Com uma técnica de pesquisa anárquica, ele coleta tudo o que aparece, faz entre-
vistas, visita sebos de discos e de livros e tenta remontar o que aconteceu naquela época. Segundo o autor, o cenário musical gaúcho sempre esteve conectado ao que se passava no centro do país, assim como nas zonas “periféricas” (nordeste, sul, norte, etc). Mesmo conservando uma cena musical autônoma, nos anos 60, a música ouvida por aqui não distinguia tanto do que era escutado em outros pontos do Brasil. A bossa nova, a jovem guarda, o samba da “velha guarda”, o MPB, o rock e o Tropicalismo eram os ritmos da vez. Os festivais de música popular brasileira, transmitidos pela televisão, ajudaram a Tropicália a tornar-se conhecida por todo o país. Era durante essas competições musicais que diversos artistas, muitas vezes de diferentes estilos musicais, reuniam-se para defender suas canções. Por aqui, o “Festival Universitário da Música Popular Brasileira”, organizado e produzido pelos estudantes da arquitetura da UFRGS, ocorrido em 1968 e 1969, foi fundamental para a formação da cena tropicalista no RS. Era nos palcos do Salão de Atos da Reitoria da universidade que as competições aconteciam. A música “Por favor Sucesso”, de Carlinhos Hartlieb, acompanhada da banda gaúcha Liverpool, venceu o festival de 69. “A vitória valeu a viagem para apresentar a música na final do FIC (Festival Internacional da Canção), no Maracanazinho, e, a partir desta projeção, o Liverpool radicou-se no Rio”, conta Rogério. Hermes de Aquino e Laís Marques também participaram daquele FIC.
Nenhum deles chegou a ser premiado, mas a performance voltou os olhos de gravadoras nacionais para a cena gaúcha. A RGE lançou dois compactos de Hermes Aquino e a Equipe lançou o LP da banda Liverpool. A viagem tinha valido a pena. “Por favor Sucesso” era uma canção tropicalista, assim como as demais músicas presentes no disco de 1969 do Liverpool. A banda foi criada por Curruíra, o guitarrista residente no IAPI, o mesmo bairro onde a pimentinha Elis Regina nasceu e morou. “Olhai os Lírios do Campo”, “Voando” e “Impressões Digitais” são verdadeiros clássicos da música gaúcha que marcaram época. Nos anos 70, o grupo integrou-se a um núcleo de artistas que faziam o programa da Rede Globo, “Som Livre Exportação”, do qual também participaram “Os Mutantes” e os “O Terço”. O grupo voltou a Porto Alegre apenas em 1973. Embora o movimento no sul não tenha sido articulado como no centro do país, não lhe faltaram adeptos. É o caso de Laís Marques, Hermes Aquino e Carlinhos Hartlieb, que tiveram uma identificação tão grande com a Tropicália, que não demoraram muito para fazerem as malas e mudarem-se para São Paulo. Laís trabalhou num estúdio de jingles de Rogério Duprat, fez parcerias com Tom Zé e teve algumas de suas músicas gravadas pelo Liverpool que mais tarde transformou-se em Bixo da Seda. Fundada em 1974, vale ressaltar que a Bixo, com enfoque progressivo, foi uma das fundadoras do rock gaúcho e brasileiro e influenciou diversas bandas que surgiram por aqui. Após mudar de for13 >> noize.com.br
mação algumas vezes, a banda separou-se no início dos anos 80. Em 1998, no chamado Heróis do Rock, show realizado no Araújo Vianna, eles se reuniram e tocaram junto com a Tutti Frutti e Made in Brazil.
tropicalismo no rs
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Ao contrário do que muitos pensam, o que é bom não dura pouco, perdura.
“Caldeirão sonoro, de uma fusão incandescente onde diversos elementos circundantes são reputados válidos”: esta é a única definição musical possível que o escritor e músico Rogério Ratner utiliza para classificar o ritmo adotado pelos tropicalistas. Não é MPB, bossa nova, rock, samba, música erudita, psicodelia com guitarras elétricas, brasileiro ou estrangeiro. Não é um, nem outro. É tudo junto ou separado. Não há exclusividade e sim volatilidade. O Tropicalismo buscava justamente a união entre os estilos e ritmos universais (o rock no auge da beatlemania) e regionais (como o samba e o baião). Pode-se dizer que os músicos reuniram num mesmo disco a alta cultura e a cultura de massa. Ao romper com padrões da música popular brasileira, fizeram o que, naquela época, parecia inimaginável. Para quem nunca ouviu falar, a Tropicália foi um movimento não só musical, mas que envolveu as artes plásticas (Hélio Oiticica), o teatro e o cinema (Glauber Rocha). Desta forma, modernizou não só a música, mas toda a cultura vigente na época. Tudo aconteceu no final dos anos 60 e durou pouco mais de um ano. Seus maiores representantes foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Torquato Neto, Tom Zé, Rogério Duprat, Rogério Duarte, Nara Leão e Gal Costa. Em 1968 foi lançado o disco-manifesto intitulado Tropicália ou Panis et Circensis. Neste mesmo ano, o Brasil entrava no período mais duro da Ditadura Militar, com a edição do AI-5. Com um tom claramente de deboche nas suas letras, não demorou muito para que Caetano e Gil fossem passar uma temporada em Londres, após serem exilados do país. Era o fim do Movimento Tropicalista. Será?
Para Rogério, algumas bandas atuais deixam transparecer o prestígio em relação ao movimento. Ele cita alguns exemplos como Subtropicais, Fruet e os Cozinheiros, Os Arnaldos, Laranja Freak e Levitan e os Tripulantes. Numa visão mais abrangente, segundo Ratner, um traço marcante da influência dos tropicalistas está no fato de que,“pelo menos em grande parte da produção musical gaúcha, há por trás a filosofia do ‘vamos fazer o que achamos legal, ainda que seja considerado underground e não faça sucesso comercial’. É lógico que isso não se aplica a todos os trabalhos feitos aqui”, ressalta, “isso sem falar na iconoclastia, no anti-conservadorismo, no objetivo de ‘ser diferente de tudo e original’, que é uma preocupação de muitos artistas e grupos gaúchos”, completa Rogério. Além disso, no caráter mais estético, há muitos trabalhos que unem o regional e o universal, o mote máximo do movimento tropicalista. Os festivais de música foram fundamentais para o surgimento de novos grupos nas décadas de 60 e 70. Atualmente, eles não têm o caráter competitivo, com premiações, mas mantêm o importante papel de “apresentar” novas bandas a públicos de diferentes estados brasileiros. A diferença também está no fato de que, hoje, após tomar conhecimento dos grupos, o público pode resgatá-los sempre que quiser, por meio da internet. Passados pouco mais de 40 anos, em 2008, para promoverse e expor seu trabalho, as bandas têm a sua disposição esse espaço virtual que é interminável e que as permite estar em qualquer parte do globo. Ratner coloca que “grosso modo, [a internet] não deixa de ser um festival virtual que funciona 24 horas. Isso é ótimo para os músicos, pois, para mostrar o trabalho, não é preciso a mediação de uma comissão julgadora, que vai selecionar os concorrentes ou premiar os vencedores”. É através da web que alguns grupos são “descobertos” para, então, aparecer na televisão e se tornar, aí sim, conhecidos do grande público que continua por ali, na sala de jantar. Me passa o sal, por favor? No seu blog (http://rogerioratner.musicblog.com.br), Rogério está montando um “listão” das bandas gaúchas de todos os tempos e qualquer colaboração de nomes que ainda não constam é válida. Além do livro, “Woodstock em Porto Alegre”, o músico prepara o seu terceiro CD, estruturado a partir de poemas que ele musicou de Marta Medeiros, Letícia Wierzchowski, Paula Taitelbaum, Cíntia Moscovich, Celso Gutfreind, dentre outros. > bixo da seda hoje novo hamburgo
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A Bixo da Seda atualmente, tocando em Novo Hamburgo Tags: bixo seda abbey road
> DOCUMENTÁRIO TROPICALISTA- Documentário interessante da BBC sobre o movimento tropicalista. As outras duas partes também estão disponíveis no youtube.com. Tags: tropicalismo brazil 1
> Alegria, alegria festival hippie
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Caetano indo contra o vento no Festival da Canção, em 21/10/67. Tags: alegria tropicalia
> Gilberto Gil e Mutantes – Domingo no Parque
clássicas da tropicália. Tags: mutantes gilberto parque
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No mesmo festival, uma das apresentações mais
> TROPICALIA.UOL.com.BR - Um belo site, repleto de informações e imagens raras. Mais do que uma enciclopédia
ilustrada sobre o movimento.
Nesse espaço em parceria com a Sem Destino, colaboradores falam dos maiores festivais de música do Planeta.
sem destino :::
world tour 16
Nome: Cari Levi Idade: 20 Melhor Show: Los Campesinos! Bizarrice: White wine with lemonade Estrutura:10 Line-up: 8
Com a lista de shows nas mãos para escolher em que pub entrar, ou parados nas filas esperando a porta abrir e o show começar, estão quase todos com exageradas macheias de mousse no cabelo presumidamente despenteado. Vestem-se cada um do seu jeito e, assim mesmo, me parecem de alguma forma uniformes. Estamos todos usando uma pulseirinha vermelha de silicone transparente com pintinhas azuis, um pouco melhor do que aquelas fosforescentes que se ganham por ai. Eu caminho pelas ruas de Camden Town - a Cidade Baixa de Londres - pronta para uma das maiores reuniões de bandas indie da Europa. O Camden Crawl traz uma coleção de bandas novas em 130 shows e arrasta uma multidão de curiosos. Os ingressos agora valem ouro - 40 pounds nas mãos dos cambistas. Haviam esgotado-se semanas antes - é sempre bom reservar o ingresso com antecedência pra não perder o que se passa por aqui. Desde que cheguei, virei expert em matar a fome com enlatados, salvando as economias para gigs e pints. Quem toca em poucos minutos é The Wave Pictures. Li uma matéria sobre eles na Art&Music, uma dessas free-magazines que se encontram por aqui.Atribuíam ao compositor da banda o potencial pra ser um dos grandes nomes da musica britânica. O jornalista falou exatamente o que eu havia pensado quando conheci a banda: um tanto esquisita no início, mas sedutora de tal forma que nos obriga a ouvir mais vezes. Em outro pub toca Los Campesinos!. Se-
mana passada havia ido num baita show deles, com direito a uma gigantesca introdução pra musica“You!Me!Dancing!”, da parte da psicodelia electro-annoying. Alta gana e sintonia no palco! Desta vez conseguiu ser melhor, abriram a noite na Koko com grande maestria. Umas das atrações mais conhecidas para os brasileiros, The Fratelli’s, certamente foi um dos pontos altos da noite. A pegada rápida e a empolgação dos músicos fizeram a multidão na Koko pular alto, dando trabalho aos seguranças, que tentavam conter o empurraempurra na pista. Hadouken! foi outro grande momento, tocaram ainda de dia, e os timbres eletrônicos misturados com rock não deixaram ninguém parado. As filas ficaram gigantes nos pubs que fazem parte do festival. Fui atrás do próximo show com muita curiosidade: Johnny Flynn. O guri demonstrou muita confiança com um folk bonito e fez muita gente virar fã de carteirinha. Fanfarlo vai tocar no Bullet, e, para encerrar, tem Noah and The Whale no Bar Vinyl. Os arranjos dessa são trabalhados com inteligência e brio, fazendo uso de instrumentos não convencionais, com boas letras e melodias. Ano que vem tem mais, se pudesse, reservava agora. O Reino Unido tem uma grande concentração de festivais nessa época do ano. Em maio tem Great Escape, em Brighton. Os mesmos produtores fazem o Glastonbury, um dos maiores festivais da Europa, que acontece de 27 a 29 de junho. Ainda nos dias 24 e 25 de maio, os fãs de eletrônica podem curtir o Gatecrasher, com Prodigy, Chemical Brothers e Paul van Dyrk. Ficou afim? Então confira no box ao lado os pacotes da Sem Destino.
Outros festivais na inglaterra .: GLASTONBURY FESTIVAL 27 a 29 de Junho
Get Ready For Glastonbury Confira o teaser para a edição deste ano do Glastonbury Festival. Tags get ready glastonbury
.: Gatecrasher Summer SoundSystem 24 a 25 de Maio
Paul van Dyk @ Gatecrasher 2007 Registro de parte do set de 6 horas que o DJ alemão apresentou na edição do ano passado do festival. Tags gatecrasher 2007 may Paul
Os festivais de verão empregam milhares de jovens na Inglaterra, e com o visto de estudante, você pode trabalhar legalmente em Londres! Quem sabe você não se dá bem por lá, curte shows e ainda faz uma grana! Confira abaixo a dica de um curso da Sem Destino, viaje e curta os festivais que rolam por lá. 24 semanas de curso de inglês :: Carga Horária: 15 aulas/semana :: Escola: LSC London S. Center 04 semanas de acomodação :: Casa de Fámilia :: Refeições: Café da Manhã :: Quarto Individual Preço :: USD $2.800 :: Mais informações ::
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Texto Lidy AraĂşjo Foto Ana Carolina Pan
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Idolatrado. Renegado. Invejado. Rotulado, antes de tudo. Fato é que o “rock gaúcho” vem tentando ganhar o Brasil desde os anos 80, com Cascavelletes e TNT, e em seguida, com Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós, De Falla e Replicantes. Nos anos 90, porém, os artistas começaram a viver uma fase incrível em sua terra natal. O mercado gaúcho cresceu, o número de shows pelo interior aumentou. Nei Van Sória, Cidadão Quem, Nenhum de Nós e Harmadilha bombaram nas rádios. No rastro, bandas como Ultramen,Tequila Baby, Comunidade Nin-Jitsu, Acústicos & Valvulados e Papas da Língua tinham agenda lotada pelo interior e Santa Catarina, espaço garantido nas rádios, que até se arriscavam a lançar nomes. Havia nascido o mainstream gaúcho. Os olhos do Brasil voltaram-se para cá definitivamente. Gravadoras nacionais voltaram a interessar-se pelos artistas daqui, contratando alguns, e as bandas arriscaram-se no mercado nacional, passando temporadas no centro do país. Todas as tentativas, no entanto, não renderam mais que alguns discos mal divulgados, raras aparições na imprensa e um baita sentimento de renegação. “Uma coisa é verdade, gaúcho incomoda aonde vai. Obviamente, a gente encontra pessoas que abrem portas e nos tratam bem, mas no contexto geral, há preconceito”, declara o produtor Lelê Bortholacci, que trabalhou com boa parte destas bandas. Jonathan Corrêa, vocalista da Reação em Cadeia, conta qual foi um dos primeiros conselhos que ouviu ao investir no mercado nacional. “Disseram que eu tinha de mudar o meu sotaque. Ali, senti que havia uma grande barreira a ser rompida”, confessa. Em 2001, o Grupo RBS lançou a gravadora Orbeat Music, que contratou boa parte dos artistas com destaque no cenário pop rock, e as revistas “Eaí?” e “Atlântida”, que deram uma força na divulgação da música feita aqui. Nas páginas das revistas, entre os destaques, estavam as recém-nascidas Bidê ou Balde e Video Hits, que foram logo contratadas pela gravadora Abril Music e lançadas no Brasil inteiro. Receberam a etiqueta “rock gaúcho” e foram vistas como re-
presentantes de uma cena. Só que não tinham a bagagem que as outras bandas adquiriram com o mercado local, resultando em outra investida sem sucesso no mercado nacional. Na seqüência, o que se viu foi uma queda brutal no mercado de música local. Em menos de cinco anos, a realidade mostrou-se bem diferente daquela maravilha toda. Rafael Lemos, da TW & Carangacci, escritório de artistas há mais de 20 anos, lembra o momento, quando já trabalhava com Papas da Língua e Chimarruts. “De 2002 para cá, houve sim uma queda vertiginosa, levando muita gente ladeira abaixo. Todas as bandas, sem exceção, começaram a trabalhar com dificuldade.” Hoje, experientes e calejados, os profissionais conseguem analisar melhor os motivos que levaram o “rock gaúcho” a ir do céu ao inferno em pouco tempo. Tanto Rafael quanto Lelê, que viveram essa queda, acreditam que existem várias explicações, mas uma em especial: a superexposição levou à exaustão. As rádios pararam de tocar, o público perdeu o interesse e os fatores econômicos externos não se mostravam nada favoráveis, com as quedas da agricultura do interior do estado e das gravadoras, em função da pirataria. Nessa fase, porém, duas novas bandas obtiveram destaque: Reação em Cadeia e Cachorro Grande. Ambas foram contratadas pela Deck Disc e mudaram para São Paulo. A Reação em Cadeia voltou, mas a Cachorro Grande ficou. E foi aí que começou uma nova fase para o “rock gaúcho”.
É O FIM DO ROCK GAÚCHO? No sábado, dia 26 de abril, a Cachorro Grande compareceu ao programa “Altas Horas”, da Rede Globo. A primeira pergunta do apresentador Serginho Groisman foi: “Por que o rock gaúcho não acontece se vocês não morarem em São Paulo?” Beto Bruno respondeu que era comum atribuir o fato à distância geográfica. “A gente se mudou para ficar mais perto de vocês”, explicou o vocalista. Ou seja, viver próximo aos grandes veículos de comunicação é o que faz a diferença? Sim, esse é um dos fatores decisivos, afirma Lelê, que trabalhou com a banda Fresno. “Assim como a gente sai para tomar cerveja em Porto Alegre e encontra o pessoal da Zero Hora, da Pop Rock e da Ipanema, lá eles encontram o pessoal da MTV. É relacionamento. Se a MTV precisar de um entrevistado, vai chamar a Fresno e a Cachorro Grande, que estão lá perto. A Fresno, se quiser, vai a pé para a MTV.” Há, no entanto, exemplos de artistas que não precisaram mudar de cidade. Papas da Língua e Chimarruts continuam vivendo em Porto Alegre, mas tornaramse conhecidas em todo o Brasil. No caso do Papas da Língua, quem deu o grande empurrão para a banda acontecer foi a Rede Globo, que incluiu uma música na novela das oito. Questão de sorte? Sim, mas mais do que isso, resultado de planejamento. “Fomos cautelosos. Sempre quisemos conquistar mais mercado, só que é um joguinho de War”, afirma Rafael, que administra a carreira da banda, ao lado do sócio Ilton Carangacci. Para ele, mais importante do 19 >> noize.com.br
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que ir para São Paulo é chegar lá com estratégia e condições de continuidade. “Essas pingadas fora, só para voltar e aparecer na imprensa daqui, não levam a lugar algum.” O Papas da Língua foi aproveitando as oportunidades. “Incorporamos novos mercados aos poucos, e isso até ajudou a encarar o que está acontecendo agora com mais tranqüilidade”, finaliza Rafael. Outro Rafael, o Rossatto, empresário do fenômeno paulista Mallu Magalhães, também acredita que a geografia não atrapalha mais. “A Mallu surgiu através do MySpace, e a internet não tem fronteiras”, afirma. Impossível discordar, diante do grande case de internet, a Fresno. Desde o início, a banda usou a rede para divulgar seu trabalho. “A gente nunca se viu inserido nesse mainstream gaúcho. Então, foi preciso encontrar outro caminho”, explica o vocalista Lucas Silveira. “Quando resolvemos levar a música a sério, a Reação em Cadeia estava bombando mais que Charlie Brown Jr. no interior do estado. A gente começou a fazer contato com bandas de outros lugares e a conhecer esse underground brasileiro, pois não tinha prestígio aqui para fazer show. Em compensação tinha gente do Paraná e do Recife querendo ver a gente.” Só que quando o sucesso da Fresno alcançou a mídia local e a banda começou a ser convidada para shows no interior, os integrantes já estavam morando em São Paulo. Encarar a música como um trabalho de verdade é outro ponto fundamental. Lelê fala com orgulho do trabalho desenvolvido com a Fresno. “A banda bota a mão na massa. São trabalhadores, assim como outros artistas que estão aí, como Chimarruts e Acústicos & Valvulados”, elogia o produtor. Vontade de trabalhar é, realmente, o que não falta para a Chimarruts. A banda construiu uma base em cima do reggae e foi conquistando esse público, que é muito fiel. “Não tenho como dizer quem tem mais público, se a Fresno ou a Chimarruts, mas posso afirmar que a Chimarruts tem muito público. Só que a banda não está na MTV, o reggae não é um som cool, sobre o qual a imprensa costuma falar.” O jeito, então, é comer pelas beiradas. “Não estou reclamando, porque pode até ser bom, pois o artista se preocupa em ir lá e fazer o trabalho, não em ir lá, fazer e contar para todo mundo.” E o talento, onde fica? Bem, você gostando ou não das bandas citadas acima, a verdade é que todas, sem exceção, têm talento. Se fosse o contrário, não teriam atingido suas metas. E tudo isso, se aliado ao conhecimento cultural de cada artista, torna a história ainda mais promissora. Afinal, é fundamental estar ligado aos acontecimentos e às tendências, sempre procurando uma oportunidade dentro dos segmentos que mais têm a ver com o som que o artista produz. Conclusão: não há segredo para o sucesso nacional. Nada mais é do que a soma de alguns fatores e, claro, um pouco de sorte. E, se esses artistas conseguiram sucesso no resto do Brasil, pode-se dizer que o “rock gaúcho” acabou sim. As barreiras geográficas foram rompidas, basta seguir o caminho certo. O QUE VEM POR AÍ? Tem gente que entendeu a lição. Bandas como Cartolas, Identidade, Superguidis e Pública têm consciência de que é possível conquistar o mercado brasileiro encarando o desafio como algo natural, como bem descreve Alexandre Guri, guitarrista da Pública. “Já pensamos inúmeras vezes em ir para São Paulo, mas achamos que ainda não é o momento. O que, antigamente, era viável somente com o suporte de uma grande
gravadora, hoje vira rotina para diversas bandas do meio independente.” Otávio Silveira, baixista do Cartolas, mostra ainda que a nova geração se preocupa, sim, com a questão do trabalho.“Vamos continuar fazendo músicas, clipes, divulgando na internet e principalmente fazendo shows. Com todas as mudanças no mercado, só o trabalho contínuo e a geração constante de conteúdo das bandas fazem com que elas continuem no gosto do público. A banda sempre tenta crescer musicalmente e, assim, quem sabe um dia, alcançará o sucesso nacional. Temos mais facilidade hoje que na década anterior, pois não existem barreiras, e a Cachorro Grande, a Fresno, o Armandinho e o Papas da Língua podem confirmar isso.” Agora, a preocupação já é outra: chegar ao mercado internacional. Edu K já se apresentou na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos com seu novo trabalho. A cantora Lica levou seu R&B para a Alemanha, o Chile e Nova York. A Good Morning Kiss já passou temporadas em Londres. A Pata de Elefante foi convidada para tocar no South by Southwest, reconhecido como o principal festival de bandas novas do mundo, que rola no Texas, nos Estados Unidos. Aí, então, é só uma questão de visto.
ALGUNS PROTAGONISTAS DESTE ROCK .: Cascavelletes
.: Reação em Cadeia
Tocaram em trilha de novela e no programa da Angélica. Dali saíram Júpiter Maçã, Frank Jorge, Nei Van Soria e Alexandre Barea.
Uma das últimas bandas a acontecer em rádio, foi contratada pela Deck Disc e chegou a tocar no Domingão do Faustão. De volta ao estado, agora gravaram um DVD ao vivo.
.: Engenheiros do Hawaii
.: Cachorro Grande
A BMG lançou a banda nacionalmente.Teve EngHaw no Hollywood Rock e, em 2004, no Acústico MTV.
Lançou seu segundo disco pela revista “Outracoisa”, de Lobão, com repercussão imediata na MTV. Foi para a Deck Disc e mudou-se para SP, onde gravaram programas globais e o Acústico MTV Bandas Gaúchas.
.: Cidadão Quem Fizeram show no Rock in Rio II em 1991. Integraram o cast da Polygram e da Warner, e “Os Segundos” foi trilha de Malhação.
.: Ultramen Lançaram dois discos pela Rock It!, de Dado Villa-Lobos. Depois, independentes, participaram do Acústico MTV Bandas Gaúchas. Estão em recesso.
.: Comunidade Nin-Jitsu Integraram os casts da Rock It! e da Sony, o sucesso ocorreu efetivamente no RS. Depois de uma parada, estão de volta, com disco novo.
.: Bidê ou Balde e Video Hits Contratadas logo no início pela gravadora Abril Music, tiveram boa exposição e foram pra SP. Por motivos diferentes, voltaram. A VH acabou, e a Bidê está ativa por aqui.
.: Papas da Língua Depois do boom no mercado local, a banda estourou no Brasil com “Eu Sei”, trilha da novela “Páginas da Vida”. O sucesso chegou à Europa e aos EUA.
.: Chimarruts Sucesso em vários estados brasileiros. Só em SP, já foram mais de 250 shows nos últimos anos. No Paraná, gravou um DVD ao vivo lançado pela EMI.
.: Fresno Conquistou o público pela internet e chegou à MTV. Grande representante do cenário teen, acabou de lançar Redenção pela Universal.
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Texto Fernando Corrêa e Luisa Kiefer Foto Divulgação/Arsenal Music
banda do sul :::
fresno 22
Redenção, da Fresno. Com ou sem vírgula, a frase anterior tem significados distintos, mas uma mesma origem. Com Redenção, o quarteto porto-alegrense finalmente atinge o que parece sempre ter sido seu destino: o mainstream. O vocalista Lucas Silveira falou à NOIZE sobre o antes, o durante e o depois do quarto album da banda. NOIZE – Até que ponto o hardcore foi uma influência para a Fresno? Lucas – Foi importante na formação da banda. Nos primeiros anos, eu queria ser igual ao Ataris. Mas, desde essa época, já tinha uma vontade de fazer um som diferente. Só que, até toda a banda ficar com a mesma cabeça, demorou três discos. No Ciano já tinha muito pouco de hardcore, era mais o timbre da guitarra. Eu curto muito post-hardcore, tipo At the Drive-In, e bandas emo antigas, Mineral, Sunny Day Real State. Por mais que não tenham a ver com o som que a gente faz, são bandas que são fontes muito ricas de referências, de informação. Eu curto música eletrônica quando ela é rock. Tipo Justice, Atari Teenage Riot. NOIZE – Vocês já pensavam em sair do HC e ir para o pop? Lucas – A gente sempre foi uma banda que saía do HC, mas voltava. O primeiro disco já tinha algumas músicas mais pop, mais rock. Só que sempre tinha alguma que remetia à coisa do hardcore. Às vezes o disco ficava até meio inconsistente. Agora a gente já faz o disco pensando: “Vamos transcender o lance do ‘baixo, guitarra, bateria! ‘ ”. NOIZE – No Planeta Atlântida, tu falavas de uma renovação no rock nacional. O que tu achas da cena atual e qual o papel de vocês nessa renovação? Lucas – Eu tô finalmente vendo essa renovação. E melhor do que isso, a gente tá fazendo parte disso, começando um negócio que a gente nem tem noção de onde vai dar. No Brasil, as bandas que surgem ficam engarrafadas no independente, e as pessoas acabam não conhe-
cendo esse monte de bandas novas. Por isso que é complicada essa renovação. Mas não tenho dúvida de que estamos fazendo parte e contribuindo pra mudar isso. NOIZE – Tu falaste que “Redenção” representa tocar pra uma galera que nunca ouviu vocês. Significa abandonar o som que conquistou os fãs mais antigos? Lucas – Isso era um medo que a gente tinha. Para a maioria das pessoas, daqui um ano ou dois, esse vai ser o primeiro disco da banda. E o fã mais antigo já via a gente sinalizando pra a mudança. Tem que pensar na tua realização pessoal também. O desafio tá em mostrar ‘Ó galera, que legal isso aqui!’, e causar esse choque, de preferência positivo, nas pessoas. E o público tem que envelhecer junto com a banda. NOIZE – Quais as dificuldades e as vantagens de lançar o primeiro disco por uma major? Lucas – As dificuldades são as mesmas e só acabam aumentando.Tu tem 40 pessoas trabalhando em sintonia. E as idéias que tu tinha com a banda independente, tu pode chegar lá e falar ‘vamos fazer um negócio assim?’ e os caras vão te ouvir! A gente deu uma ensaiada no meio do ano passado e mostramos “ó, são essas músicas aqui!”. Já temos a noção de que é um trabalho comercial, tu não vai lançar um disco completamente difícil de entender. NOIZE – E como foi a escolha do primeiro single? Lucas – Tu invade a casa das pessoas, mas não pode invadir pra incomodar. O cara que tá dirigindo no engarrafamento tem que ouvir e pensar ‘pô, que legal
essa música!’. Para mim, não é a melhor música do disco. Eu tenho minhas preferências, só que, para apresentar a banda pra quem não conhece, e para quebrar esse estigma de que ‘Fresno é aquela gritaria’, ela é a que mais serve. É suave, simples e fácil de decorar. Se isso der certo, no segundo single tu pode pirar. NOIZE –Compararam o disco a uma coletânea de jingles. Como tu recebeste essa crítica? Lucas – Eu acho que tu pode ouvir um disco de diversas formas. Se tu pegar um disco que tu sabe que não vai gostar e ouvir, tu vai falar “bah, que ruim isso aí!”. E um jornalista não deve fazer isso. Tiveram fãs que não gostaram do disco e fizeram críticas mais inteligentes do que as críticas que eu ouvi de jornais. Esse disco vendeu 8 mil cópias em 3 dias e tá esgotado nas lojas. Pra mim isso é importante, e não um jornalista dizendo que tu bebe na fonte de outras bandas! NOIZE – E o titulo do disco representa um pouco a saudade da terra natal? Lucas – A gente tava num domingo aqui em São Paulo, na Avenida Paulista, falando ‘bah, imagina agora a mina sendo levada para a Redenção e ela liga o rádio e tá tocando Fresno, e aí ela pensa: ‘que droga!’. O disco tem a melancolia bastante marcada em quase todo ele. Tem esse saudosismo de Porto Alegre, tem que rolar identificação com a galera de lá, porque a gente é gaúcho e fala isso em todos os lugares. Além de ter um significado muito maior da palavra Redenção, que é um significado muito bonito, dessa coisa de vencer, de finalmente conseguir o que tu quer. Isso também é um pouco essa redenção da Fresno. Para mim, não tem título mais apropriado do que esse. 23 x noize.com.br
na fita
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ome já próprio n , como o s anos te o d en d d en un ep ro d na underg u rock in ce o a andes , n gr ck o r ro id o Indie cal, surg nçadas p o que estilo musi não são la a, e m iv u u q at é rn , as iz d te d co de ban ora mais al ti n ís s do so er te a ct h en ra rt lin 90, ca guem uma e várias ve d se a s ci la n E tê s. gravadora dia, a exis na, hoje em proporcio asis, nomes tilo. onkey e O mesmo es M c ti arutos rc A mês, a Ch e Strokes, da deste an os por Th banda b ad a a ci , , io en ck íc u fl in In tilo. No na indie ro es ce o trada a tr d en u s o a clássico ia seguir ano, com rock não poder as, há um o m s, n , o o ir an ch b st ú u ve ga C lveram in rão rock so ad p re m u es seguia Pedro, el rista João do guitar ara que, te. ntribuiu p independen , o que co ca aram de si p ú ci m ti curtiram sical. Já par u re p m m o se ei aterista m s Os guri ssem no gundo o b tos que, se enos estive u da, um fa ca eq fi p a— si tr e d er es des usical div em orqu m m ra em ca ag to ag b corais e sicos uma am aos mú a. Tomás, der ais da band ci n rmam re s dife gaúcha, afi dos maiore da capital l as. O ca -l si u rá m cu a preciso pro to é a cen n é su e as u tivo, e q n o as, mas Quando e e de ince bandas bo ortunidad as p e que it o õ u e p m d ro a r p lt ti exis risca-se e a está na fa ar s m o le nos b an b ro só u p C o? “Ah, é principal Charutos andas. Com iz o b d ualidade.A q as e ”— ri d o p a eç n ró p não é um com surgir das Já . a aí ss r o o p p o r a soluçã mos a toca e começar juntarmos seus . o onard da um tem vocalista Le a, pois ca saio ad en lic p m m u m fazer é bem co da banda les procura zes, nos finais de E s. o -l liá A rotina nci ria das ve m é difícil co ande maio não fizera horários e s tempos corre, na gr o o im e ca lt u ti ú q rá s a, p o que n locar em por seman s ris assumem tendem co ca gu re si p ú s m O as r m a. o p s, seman ows, com s Cubano sh to s u ai ar h m r C a ze muito pel no papel. Fa s que estão deles. s n os projeto gu al o avá-las sã E como novas e gr potencial. no próprio um dia am e fi d n n co anos prete a gaúcha e b n u C ce s a n to nseguir u Acreditam um dia co za, a Char uem sabe q que se pre e a , mes do d o o h an n b al a es tod dos grand são em trab er m iv u d ar em transform sformar-se úsica e tran viver da m . o ir brasile indie rock
27 noize.com.br
Abra. Destaque. E cole na parede.
Agenda WHITESNAKE Teatro do Bourbon Country O Whitesnake, do vocalista David Coverdale, passa por Porto Alegre no dia 11. O show acontece no Teatro do Bourbon Country, e faz parte da turnê de divulgação de “Good To Be Bad”, lançado esse ano. Mas, como em todo bom show de dinossauros do rock, não devem faltar clássicos do hard rock e baladas como “Is This Love”, que ficaram famosos na voz de Coverdale. O vocalista teve uma passagem rápida pelo Deep Purple na décade de 70, mas foi no Whitesnake que se consagrou.
estilo:música
supersunnyspeedgraphic Fotos: Marco Chaparro - 311 Label Assistência de Fotografia: Lucas Tergolina - MissinScene Produção: Mely Paredes e Bianca Montiel - MissinScene Figurino:Vovó Usava e Acervo MissinScene Make Up & Hair: Gabi Guimarães Texto: Helga Kern Modelos: Adri Zanol e Bárbara Moser Arte: Rafa Rocha Locação:Vila Lina Agradecimentos: Carlos Felipe Vellinho e Daniel Tessler
Pode parecer pleonasmo, mas não há outra palavra que melhor defina a trajetória de vida de Marcio Petracco: música. Na infância extremamente cultural na casa dos pais, foi um cavaquinho o grande responsável por fazer do menino, que ouvia de canções folclóricas soviéticas a Chico Buarque de Hollanda, o músico visionário de hoje. Em abril deste ano, Márcio ganhou o Troféu Açorianos de Melhor Instrumentista na Categoria Pop. Quando que a música entrou na tua vida? Sempre rolou música na minha casa. Não que tivesse algum parente músico, mas minha mãe tocava piano e acordeon, e meu pai, gaita de boca quando rolava alguma festa. Tinha uma onda cultural forte, se ia a balé, a shows, tínhamos muitos discos..Na época eu não sacava a relação entre isso e o lance que me fissurou, que foi jogada do rock, mas com o tempo eu vi que existe uma relação, o lance do treino do ovido.
E a decisão de virar músico surgiu de que maneira? Tinha um cavaquinho que não funcionava atirado em casa, e eu entrei numas de ativar ele: comprei umas cordas, descobri como é que se afinava e andava pra todo o lado com ele fingindo que tocava. Aí, comecei a descobrir como tocar, tirei chorinho de ouvido… quando vi, eu tava numa roda onde os caras tocavam violão! Logo em seguida surgiu a oportunidade de tocar no TNT, daí comprei um baixo e fui tocar já na primeira formação da banda. Como foi fazer rock em Porto Alegre nos anos 80? Eu gosto de pensar que foi um golpe de sorte e não só de talento. É claro que tinha uma coisa super cool ali, o Flávio era um geniozinho e a coisa do Charles pequeninho cantando foi algo que chamou a atenção. Acho que, se eu não tivesse cruzado com esses caras, talvez eu não fosse músico hoje.
De lá pra cá, o que mudou? As coisas vêm mudando de uma maneira meio vertiginosa, esse lance de compartilhamento de arquivos… A gente sofre na pele um pouco isso, banca de fazer um disco, um CD, que é um formato que tá desaparecendo… mas sei lá, no momento é o que tem que se fazer e não há arrependimentos. Daí tu vai pagar os custos disso tudo com os shows, e se antes eram as gravadoras as grandes vilãs, hoje passa a ser o cara que agencia os shows. As tuas refêrencias musicais continuam as mesmas que as da época de infância? Sim, mas vão traçando-se paralelos… quanto mais tu pesquisa e estuda a música, mais vai se dando conta de que ela é a mesma no mundo inteiro. Tu tira um bandolim que tá fazendo a base e põe um pandeiro, de repente vira um chorinho!
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SUPERGRASS
RACONTEURS
O Supergrass reinventa-se em Diamond Hoo Ha. Não que isso seja uma novidade; quem conhece a discografia deles sabe como gostam de mudar de um álbum para outro. Depois da briga entre o vocalista Gaz Coombes e o baterista Danny Goffey, e do ataque de sonambulismo que fez o baixista Mick Quinn cair do primeiro andar, DHH traz o vigor de que alguns sentiram falta em Road to Rouen (que eu acho um álbum fantástico). Um disco com audíveis referências a Bowie, Dylan e T-Rex. Músicas como “Bad Blood”, “Ghost of Friend” e “Rebel in You” (poderia citar o album na íntegra) mostram que quem fala que o Grass deveria ter acabado há algum tempo, ou nunca gostou da banda ou não envelheceu tão bem quanto eles. Obra! João Augusto
Para o grande público, The Raconteurs é o projeto paralelo de Jack White, e Brendan Benson, uma incógnita. Consolers of the Lonely não deve mudar essa concepção. Sem desmerecer Benson, que também é frontman e assina as composições, o álbum transborda White. Ou seja, é mais rápido, intenso e frenético que o antecessor, Broken Boy Soldiers (2006). O primeiro single, “Salute Your Salution”, segue essa linha e tem tanto poder de fogo quanto “Steady as She Goes”. No entanto, as inovações param por aí. Afora isso e o lançamento apressado que, controvérsias a parte, pôs todo mundo para correr, Consolers, de maneira geral, só consolida o que a banda faz de melhor: o bom e velho rock, com raízes fincadas nos anos 60 e 70. Já está mais que bom. Fernanda Botta
Diamond Hoo Ha
Consolers of The Lonely
MADONNA Hard Candy
O novo álbum da rainha do pop parece um pouco confuso em meio ao excesso de personalidades escaladas para sua produção. Por outro lado, o álbum prima por conciliar a incursão ao hip-hop com um revival da música que celebrizou Madonna. Em “Candy Shop” e em “4 Minutes”, gemidos e batidas mirabolantes subtraem parte do potencial dançante das músicas. As ótimas “Heartbeat”, “Spanish Lessons” e “She’s Not Me” remetem ao que há de melhor e de mais empolgante em True Blue e em American Life. Destaque também para a faixa que fecha o disco, a profunda “Voice”. Mesmo com a falta de coesão, o disco agrada tanto a fãs que queriam algo de novo quanto aos que queriam de volta um pouco das antigas facetas da diva. Fernanda Grabauska
PANIC AT THE DISCO Pretty.Odd.
Tal como o Fall Out Boy em Infinity on High (2007), o Panic At The Disco demonstra em seu novo disco ambição e talento suficientes para colocar-se um degrau acima da mesmice emorock atual (aquela das melodias previsíveis e da estética extrapolada). Sim, eles têm o visual de cartilha, mas o que realmente quero destacar—pois é o que mais importa aos ouvidos—é a música. Pretty Odd, como o próprio nome diz, não é um álbum convencional. Trata-se de uma grande mistura de estilos, vertentes e referências, que começam no emo, mas passam por folk, Beatles, jazz, desenhos animados… A facilidade para criar excelentes melodias, como comprovam “Nine in the Afternoon” e “That Green Gentleman”, persiste. Gustavo Corrêa
MOBY Last Night
Moby é conhecido por criar climas extremamente dançantes. Nesse sentido, Last Night deixou a desejar. Dá para perceber uma mudança de percurso na carreira do cara desde Play (1999). Last Night parece uma longa e cansativa rave nova-iorquina, cheia de referências a hip-hop e disco music. O que sempre admirei no Moby é a capacidade de mixar as mais diferentes tendências e conseguir um ótimo resultado. Não que o experimentalismo tenha sido deixado de lado; pelo contrário. Batidas eletrônicas pesadas, MCs, pianos e violinos são a base de todo o disco. O problema é que, mesmo com algumas músicas muito boas, como “Disco Lies”, não dá para passar da quarta faixa sem que algo soe muito repetitivo. Gabriela Lorenzon 37 noize.com.br
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PORTISHEAD
THE KOOKS
cds :::
reviews
Third
O primeiro trabalho do Portishead em dez anos não decepciona, mas sim desconcerta. “Silence”, a primeira música, é estonteante: inicia com frases em bom português e termina bruscamente, justo quando parecia possível entendê-la melhor. A batida está mais rápida do que nunca, combinada com os vocais sempre lentos e angustiados de Beth Gibbons, que volta a cantar como no primeiro CD, Dummy. As passagens inesperadas, com faixas mais crescentes que mudam radicalmente do início para o fim, marcam o álbum. Uma das maiores surpresas está no toque vintage, violão e backing vocals, de “Deep Water”. Maria Joana Avellar
Konk
O pop ingênuo e dançante do The Kooks está de volta, tentando açucarar os ouvidos alheios. O mérito de Inside in, inside out, lançado dois anos atrás, era o frescor e a habilidade de empilhar hits de karaokê britânico. No segundo disco, no entanto, o buraco é mais embaixo. Konk é que nem aquela comédia romântica que você achou “legalzinha”, mas é obrigado a ver de novo. Inevitavelmente, lá pela terceira vez ou até mesmo na segunda, vai preferir mudar de canal. Faltam novas idéias e, principalmente, novos hits, que são essenciais para garantir a sobrevivência de uma banda pop. Gustavo Corrêa
DiscografiaBásica Rocket To Russia
Esse é o disco que definiu como o punk rock deve soar. Está tudo ali: guitarras sujas, baixo reto, bateria rápida como o habitual, porém agora mesclados com elementos da surf music, como teclado, meia lua e coros de vocais. Rocket to Russia agrupa o maior número de hits da banda, como “Rockaway Beach” e “Sheena Is A Punk Rocker”, e foi reproduzido quase na íntegra nos shows da banda, mesmo duas décadas após seu lançamento. O disco foi gravado em três semanas, e os custos não chegaram a 20 mil dólares - em uma epoca em que era comum gastar-se 500 mil dólares em um álbum. Pela primeira vez, um LP do Ramones teve boa receptividade na crítica e grande exposição na mídia. Vale também ressaltar que, em 2007, o clássico completou 30 anos de existência, e continua arrecadando novas gerações de fãs - e arrepiando os pelinhos dos braços das gerações antigas.
por Davi Pacote
GOLDFINGER
Hello Destiny...
Uma coisa que eu gosto no Goldfinger é essa singularidade nas músicas. Hello Destiny não traz grandes novidades, mas é recheado com canções bacanas do seu poppunk inconfundível. “Without Me” e “How Do You Do It” são ótimas de ouvir. Entre elas, um pouco do reggae (“The Only One”) e do ska (“Get Up”) de costume. O quarteto mantém a linha dos trabalhos anteriores. Continuam mesclando as músicas de amor com letras mais políticas. Dessa vez, aparecem figuras como Dean Butterworth (Good Charlotte) e Bert McCracken (The Used). Quem não deixou o Goldfinger com os últimos álbuns, não vai deixar agora. Cristiano Lima
RAMONES
Pleasant Dreams
No começo dos anos 80, a banda sofria a maior crise de sua carreira: Tommy, líder musical e profissional, abandonara a barca; Johnny e Joey não se falavam mais; Dee Dee estava no auge de seus problemas com drogas, e Marky, com a bebida. E a banda começava a se sentir frustrada por ainda não conseguir emplacar hits nas rádios. Mesmo com o mundo caindo, eles conseguem entrar em estúdio e gravar este que é talvez o mais bonito - e injustiçado - de seus álbuns. Quase todas as composições são de Joey. No auge da depressão, mas também da criatividade, compôs clássicos como “We Want The Airwaves” e “The KKK Took My Baby Away” - ambas autobiográficas. Porém, novamente, o disco não alcançou boas colocações nas paradas, e os próprios Ramones praticamente não executaram seus temas ao vivo no decorrer da carreira. Mondo Bizarro
O começo dos anos 90 foi marcado pela saída do baixista e fundador, Dee Dee Ramone, que foi dedicar-se a outros projetos, como um disco de rap. Em seu lugar, eis que o jovem CJ Ramone entra em cena, injetando a dose de vitalidade que a banda precisava na sua fase final. Seu disco de estréia é uma obra de arte, e já conta inclusive com duas músicas cantadas por ele. Dee Dee continuou contribuindo com composições, como “Poison Heart” e “Strength to Endure”, que fazem boa companhia a músicas como “It’s Gonna Be Alright” e “I Won’t Let It Happen”, de um Joey inspiradíssimo. Três anos e dois discos depois, a banda declararia seu fim, consagrando-se como a mais influente banda da história do rock. Agora, para saber o que foram os Ramones, ligue o Loco Live no último volume.
VITOR ARAÚJO
Dono de cacoetes que apontam para uma renovação do erudito, Vitor Araújo não se intimida diante do Teatro de Santa Isabel lotado. A magreza do jovem caminha até o piano de cauda aberto, toca as cordas e bate nas paredes internas do instrumento. Sua performance intensa subverte a noção tradicional do pianista: sobe no instrumento quando sente vontade e aproxima o rosto das teclas como um velho míope fazendo palavras cruzadas. O bom compositor de “Valsa pra Lua” ainda confunde-se com o garoto polêmico de releituras ofensivas de tão interferentes. Falem mal se quiserem, mas TOC evidencia a grande promessa do piano brasileiro. Fernando Corrêa
MATANZA
MTV Apresenta
Mais uma banda vivida a receber o reconhecimento que só um lançamento com o selo da MTV pode proporcionar—e já era hora. Dispostos a dar um basta na caretice da cena rock, o Matanza legitima a porrada veloz de sua música com uma presença de palco tão marcante que chega a ser perceptível com os olhos fechados. Somada ao impacto da bateria hardcore e ao vocal rasgado, a interação com o público é o que mais convence. Os berros de Jimmy só não levam as fãs exaltadas a nadar nuas num mar de uísque por falta de mar. “Meio Psicopata” abre com fúria os precedentes do countrycore, que “Pé na porta, soco na cara” atenua para um punk rock tranqüilo— sem perder a temática, tão agressiva que chega a ser caricata. Ziguezagueando entre o Megadeth e os Ramones, a eventual mediocridade é ofuscada por grandes momentos de rock’n’roll vividos num Hangar 110 visceral, que por pouco não vai abaixo com a saideira, “Interceptor V-6”. De extras, uma boa entrevista com a banda. Fernando Corrêa
PEARL JAM Immagine in Cornice
Coloca o DVD no aparelho. Aperta Play. Ajeita-se na cadeira pensando no que está por vir. Tudo bem que o Pearl Jam já lançou 1009xxz403324 registros ao vivo de suas tours mundiais (exagerando um pouco, é claro), e, talvez, esse seja apenas mais um. Mas, mesmo assim, a expectativa é grande, pois se tem uma coisa que estes caras sabem fazer, é “metê-le o roque” em todos os lugares em que se apresentam (Porto Alegre que o diga). Immagine In Cornice: Picture in a Frame não deixa, de maneira alguma, a desejar. Tanto nos momentos ao vivo quanto nos da banda na estrada (o vídeo registra a turnê da banda na Itália em 2006), o material audiovisual é muito rico. O diretor, Danny Clinch, fez um magnífico trabalho e soube como dosar os momentos em que usava câmeras de alta definição e câmeras Super 8, deixando o documentário com uma sutileza estética impecável. Momentos introspectivos são alternados com imagens da banda na estrada, depoimentos engajados sobre guerra, filas de shows, tours pela cidade, passagens de som, tudo enquadrado numa união visual perfeita. Podemos dizer que ele é muito mais que um simples vídeo de banda, é um filme - no sentido mais artístico da palavra. Quanto ao show, que mistura registros das cinco apresentações que a banda realizou em diferentes cidades italianas, vemos o velho Pearl Jam de sempre, que, com o passar dos anos, consegue renovar-se sem perder a sua característica principal: o bom e velho rock. Os pontos altos das apresentações ficam para “Corduroy”, numa noite belísssima, de chuva intensa, em uma antiga arena de Verona; ”Porch”, com direito a introdução calminha, com um Eddie Vedder sozinho no palco; as “novas” “World Wide Suicide” e “Comatose” e as “clássicas-que-arrepiam-todos-os-pelos-docorpo”, “Alive” e “Rockin’in the Free World”, essa última do mestre Neil Young. Não podia deixar de comentar o magnífico encarte do DVD que, como todos os trabalhos do Pearl Jam, é impecável. Fotos bonitas de momentos dessa turnê estão ali registradas, dando um toque a mais para o produto final. E como não podia ser diferente, impressas em papel reciclado. Rafael Rocha
::: dvds
TOC
FULL PLATE Temos Um Futuro pra Viver
O début da Full Plate, uma das poucas bandas a ainda marcar presença no cenário HC porto-alegrense, é um disco para fãs do estilo. Mesmo porque agradar a todos nunca foi uma pretensão de tantos grupos jovens que se ajuntam para tocar hardcore melódico. Para os que buscam a diversão que a batida acelerada e as guitarras simples de bandas como Face to Face (e seus filhos, CPM 22) proporcionam, Temos Um Futuro pra Viver é um “prato cheio”, uma produção legal reunindo boas composições, com destaque para “Mike”, “Outro Alguém” e “Desabafo”. Certamente uma banda em evolução.
FLUTUANTES Vol. 1
“Rock’n’roll honesto” é a melhor definição para o som dos Flutuantes. Em Volume 1, os caras oferecem dez faixas sem muitas surpresas, mas com bons momentos. São canções que vão desde o rock para dançar, com ares de jovem guarda, até a balada perfeita para ouvir pensando na pessoa amada. Lançado em 2006, o álbum obteve boa repercussão e levou a banda a diversos programas de TV e revistas. Vale a pena prestar atenção em faixas como “Novos Tempos” e “Vou sair por aí”, duas das melhores do disco.
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reviews cinema :::
SHINE A LIGHT dos Rolling Stones e outros (2008)
de Doug Liman (2008)
Só a falta de filmes-pipoca melhores justifica o sucesso de público que Jumper teve no Brasil. A premissa é boa: um adolescente que descobre o dom de teletransportar-se para qualquer lugar que consiga visualizar, e o faz para fugir dos abusos de um pai agressivo. No caminho, rouba um banco e passa os anos seguintes, já na pele do ator Hayden Christensen (o Anakin de Star Wars) levando uma vida de luxo ocioso, só alterada quando decide procurar pela paixão de sua adolescência (Rachel Bilson, de The O. C.) e, no caminho, esbarra em uma organização secreta empenhada em matar pessoas com o mesmo dom, lideradas pelo fanático Roland (Samuel L. Jackson, de cabelos brancos). Com a ajuda relutante de outro jumper, decide enfrentar a tal organização. Conceito demais para filme de menos. Não chega a haver um momento excepcional, e mesmo as cenas de ação não empolgam. Em meio ao desfile de paisagens famosas soma-se a cara de paisagem do casal principal. A impressão é que, no meio de um conceito bacani-
nha, não houve grande preocupação em gerar conflitos que tornassem a trama minimamente interessante, nada que vá além do salve-a-mocinha-indefesa. O filme é dirigido pelo mesmo Doug Lyman que fez o bom Vamos Nessa! e deu início a série de filmes de Jason Bourne com A Identidade Bourne. Quando a história praticamente já se encerrou, o vício de querer criar franquias é tão grande que se cria um novo conflito, pontas soltas para uma continuação que, se vier, poderia ao menos ser mais interessada em contar uma história. Samir Machado
THE ROCKY HORROR PICTURE SHOW
Divulgação
Considerada uma das grandes surpresas da Berlinale, noite de abertura do Festival de Berlim deste ano, o documentário Rolling Stones – Shine a Light, de Martin Scorsese, registra a histórica apresentação do grupo no Beacon Theatre de Nova Iorque, durante a turnê A Bigger Bang. Atribuir comentários positivos à trilha sonora da produção soaria redundante, não fossem trechos como a execução de “As Tears Go By”, relembrando a atmosfera de outros tempos ou belas canções comandadas por Jagger e encabeçadas por Jack White (“Loving Cup”), o hino de Muddy Waters revivido por Buddy Guy, “Champagne & Reefer” e até mesmo a dispensável Christina Aguilera, no duo de “Live With Me”. Claro que, em muitos momentos, a trilha presta-se para um bom disco ao vivo dos Stones, com versões bem gravadas de clássicos como “Jumpin Jack Flash”, “Sympathy for the Devil”, “Start me Up” e “Paint it Black”. Imagens históricas, acervos guardados a sete chaves e muita irreverência são ingredientes fundamentais para o êxito de Scorsese na elaboração do documentário. Mesmo porque os elementos de suas primorosas produções não estão em questão dessa vez. A trilha sonora é apenas um aperitivo do registro em que Martin Scorsese parece preocupado em se divertir e captar, como todo fã que se preze, os melhores ângulos de um magnânimo show de rock à altura dos Stones. Marcela Gonçalves
Divulgação
JUMPER
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de Jim Sharman (1975)
Fracasso de bilheteria e critica (que, em 1975, considerou-o “muito sexualizado”), a adaptação do musical homônimo acabou convertendo-se num dos maiores cults de que se tem notícia. Na bizarríssima história (daí vem muito do apelo do filme), o casal de noivos Brad e Janet buscam abrigo, numa noite de tempestade, no castelo do Dr. Frank-en-Furter (Tim Curry, no papel mais marcante de sua carreira). Ele é um “travesti da Transilvânia Transsexual” que pretende, naquela noite, criar um homem perfeito para si, Rocky, e seduzir ambas as partes do casal – que não sabem que todos os habitantes do castelo são, na verdade, alienígenas do planeta Transexual, na galáxia de Transilvânia (!). A ação é interca-
lada por intervenções didáticas e hilárias de um criminologista inglês, que explica formalmente para o público até mesmo os passos de dança. Algumas músicas são antológicas, como “Science Fiction Double Feature”, que abre o filme. Samir Machado
Foto Games: Reprodução
bbc.co.uk/radio1/onemusic/studio
BBC VIRTUAL STUDIO
INTERPOL
Difícil imaginar que, escondido entre inúmeras seções de praxe para o site de uma rádio, esteja um estúdio de gravação virtual. Mas a BBC teve essa ótima idéia e publicou na página de sua estação Radio 1 o Virtual Studio. Qualquer pessoa com conhecimentos mínimos de inglês pode acessar o site e começar a brincar de fazer música. São três os recursos disponíveis, compondo uma espécie de passo a passo para aprender a gravar. No Mixer, o usuário escolhe entre diversos tipos de música para mixar e mexer com equalização, reverb e compressores. No Sequencer, há bancos de ritmos e melodias para que o visitante construa suas próprias músicas. Por último, quem se sente pronto para migrar do site básico a programas de computador mais avançados dispõe de diversos samples para incrementar suas gravações caseiras.
O site da Interpol faz jus ao timbre cool e misterioso do vocalista Paul Banks. O site é melhor visualizado com o hit “No I in Threesome” tocado ao fundo. De cara, as imagens de veados deitados já causam estranhamento. Seguem a mesma linha do encarte do disco Our Love to Admire. Ao clicar no item Live, o pano de fundo muda para um veadinho trucidado por hienas famintas. Sobreposto ao animal sendo comido, estão as datas de shows do grupo. Sugestivo? Já na bela seção de vídeos, que conta tanto com clipes quanto com apresentações ao vivo, um bode com cara triste se equilibra à beira de um precipício. O tour pela África continua nas outras seções do site, e pode ser estendido pro computador do internauta através da série de papéis de parede disponíveis para download. O visitante até esquece que está em um site de banda.
interpolnyc.com
Games OBSCURE: THE AFTERMATH Quase três anos após seu último lançamento, Obscure: The Aftermath traz os sobreviventes do primeiro game começando a vida na faculdade. Novamente, o grande diferencial do jogo está na possibilidade de jogá-lo tanto com um como com dois jogadores, o que torna a aventura duas vezes mais divertida. A sonorização do game, como de costume, quando falamos de horror games, é fantástica, e a trilha sonora cria a atmosfera perfeita. Os gráficos não comprometem, e a câmera, apesar de atrapalhar em alguns combates, tornou-se mais flexível. Cada um dos seis personagens possui habilidades próprias, no entanto o jogo não dá pistas de qual personagem será necessário para ultrapassar o próximo desafio. Isso, muitas vezes, resulta numa gigantesca jornada de volta para buscar o personagem correto, uma perda de tempo no mínimo desnecessária. Infelizmente, a pobre Inteligência Artificial – no 1 player mode – enaltece a possibilidade de dois jogadores humanos atuarem. Eduardo Dias
internet ::: games
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musicas do mes >> Weezer Porks and Beans O Weezer retorna com surpresas eletrônicas neste single suave. >> Detonautas O Retorno de Saturno Os cariocas apresentam músicas do seu novo disco no hotsite da banda. >> Coldplay Violet Hill Entre no site dos caras, faça o cadastro e baixe essa violeta melancólica. >> Mutantes Mutantes Depois Um pouco carente de inspiração, soando a Sérgio Dias solo.
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reviews shows :::
SEAL
Fabiano Panizzi
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Pepsi On Stage, 03 de Abril.
Seal lembra minha pré-adolescência. O ano era 1991, o relógio despertava por volta das 06h30min e a música que tocava, durante quase um ano inteiro, no mesmo horário, era “Crazy”. Dezessete anos após essa época da minha vida, presenciar o show desse vocalista era, no mínimo, nostálgico. Não tinha idéia de como seria um show com ele, vê-lo ao vivo, pois tive poucas oportunidades de ver vídeos de shows do Seal. Sendo assim, não obtinha muito parâmetro para comparações e a expectativa era neutra em relação ao evento. Já imaginava que a casa estaria cheia, afinal, Seal é popular, nunca havia se apresentado em Porto Alegre, e seu novo álbum, System, estava recebendo excelentes comentários da mídia especializada. A surpresa ao chegar ao Pepsi On Stage ficou por conta da enorme quantidade de cadeiras à frente do palco, resultado de ingressos diferenciados para quem optasse por ficar mais próximo do artista. Acompanhado por uma banda eficiente no palco, com destaque ao baixista que desde o início do show mostrava muita energia e animação, Seal teve uma performance sublime, digna de sua voz que, por sinal, foi a mais limpa e clara que já ouvi em um show ao vivo em toda minha vida. Com um palco de muito bom gosto montado e um enorme telão de fundo (que refletia imagens dando a impressão de estarmos inseridos dentro de um videoclipe da década de noventa), Seal interagia com o público à frente do palco, instigando todos os que estavam sentados nas cadeiras VIP a assistir ao show de pé, dan-
Divulgação/Marcelo Rossi
OZZY OSBOURNE
çando e pulando. Sua simpatia era natural, falando nos momentos apropriados e animando todos com as novas composições, com um ritmo contagiante, mistura de dance com disco dos anos setenta, de extremo bom gosto, passando a sensação de estarmos em uma grande festa. Obviamente, os pontos altos do show ficaram por conta dos dois grandes sucessos do cantor: “Crazy” e “Kiss from a Rose”, essa última tocada em uma versão bem mais lenta do que a da gravação original. Destaque também para “My Vision” e “Killer”. Seal, mesmo não sendo um cantor de muitos hits, consegue fazer um show marcante e de ótima qualidade. É prazeroso assistir a um artista que não depende só de sucessos para animar o público. Seal o fez com classe. Ricardo Finocchiaro
Estádio Parque Antartica, São Paulo, 05 de abril.
Algo que é completamente inimaginável em outros estilos musicais são fãs viajando por mais de 1.500km de distância, em um ônibus, para ver seus ídolos. Tire como exemplo 150 gaúchos que foram para São Paulo assistir ao super show de Black Label Society, Korn e do mestre Ozzy Osbourne. A NOIZE estava lá também e tem história para contar. O local do show foi o Palestra Itália, com quarenta mil pessoas presentes, rugindo e sedentas pela presença de seus ídolos. Não conseguimos assistir ao show do Black Label Society (do guitarrista Zakk Wylde), mas estávamos lá no Korn, que fez um show pegado, pesado e com competência. Com uma excelente banda de apoio formada por Rob Blasko no baixo, Mike Bordin (ex-Faith no More) na bateria, Adam Wakeman (filho de Rick Wakeman, do Yes) no teclado e o guitar hero Zakk Wylde na guitarra, Ozzy começa o show com a melhor faixa do seu novo álbum, Black Rain, chamada “I Don’t Wanna Stop”. Em seguida, três clássicos de sua carreira solo na seqüência “Bark at the Moon”, “Suicide Solution” e “Mr. Crowley”—nesta última, a choradeira rolou solta por parte do que vos escreve. Um momento de frisson dos 40 mil rockers presentes foi no primeiro clássico do Black Sabbath executado na noite: “War Pigs”! Energia pura ouvir a
multidão cantando. Ainda houve tempo para “No More Tears”, “I Don’t Wanna Change the World” e mais clássicos do Sabbath, como “Iron Man” e “Paranoid”, que encerrou o show. Zakk ainda aparece com as mãos sangrando no telão - conseqüência de ter quebrado o camarim antes do show -, fazendo o público delirar. Ozzy não pára quieto, incentivando os headbangers a gritar, jogando baldes de água na platéia em um verdadeiro batismo rock’n’roll. Nós estávamos lá; fomos batizados pelo mestre Ozzy Osbourne. Ricardo Finocchiaro
::: shows
Felipe Neves
Isadora Lescano
RED BULL MUSIC ACADEMY Porão do Beco, 22 de abril.
RIDERS ON THE STORM
Pepsi On Stage, 12 de abril.
Sem sombra de dúvida, uma das maiores bandas de rock’n’roll de todos os tempos foi The Doors, formada por Jim Morrison (voz), John Densmore (bateria), Robby Krieger (guitarra) e Ray Manzarek (teclado). O que pensar agora de um grupo formado pelos dois últimos integrantes citados, apresentando em um show os maiores clássicos da banda californiana que nunca se apresentou no Brasil em seu auge nos anos setenta? Muitos torceram o nariz, dizendo que era picaretagem, que era uma fraude, mas a grande verdade é que tanto Manzarek quanto Krieger foram responsáveis pela criação daqueles clássicos e têm todo o direito de apresentá-los quando lhes convier. Para os fãs saudosistas, o simples fato de ouvir os riffs do guitarrista e as melodias do tecladista já deveria bastar para romper qualquer barreira. Quem esteve no Pepsi On Stage naquele sábado compreendeu a magia do rock’n’roll e sua imortalidade. Com a casa cheia—mais de cinco mil pessoas—o Riders on the Storm sobe ao palco enfileirando clássicos como “Love me Two Times”, “Break on Through” e “Strange Days”. O vocalista Brett Scallions, com um timbre muito próximo ao do cantor original, interpreta fielmente as canções com uma presença de palco precisa, porém exagerando nos trejeitos de Jim Morrison, algo que era desnecessário. Ray Manzarek foi brilhante em seus arranjos; dava gosto ouvir cada acorde do tecladista, visivelmente emocionado com a reação do público. Falando em público, ele estava em catarse coletiva. As pessoas respondiam prontamente a qualquer gesto dos músicos, e as músicas eram cantadas em uníssono, muitas vezes abafando a voz do próprio vocalista.Você via a emoção explícita no olhar de cada um dos presentes, visualizando dois músicos que marcaram a história do rock’n’roll. Os outros músicos não se destacavam, mas também não comprometiam; a batata quente estava na mão de Ray, Robby e Brett, que surpreenderam ao tocar alguns sons não tão esperados como “Peace Frog”, “Waiting for the Sun” e “Blue Sunday”. Faltou alguma produção de palco, um backdrop (pano de fundo) ou um cenário elaborado, pois as luzes não surtiram tanto efeito. Alguns dirão que o que importa é a música. Têm toda razão, mas um show de rock and roll é um espetáculo e deve ser conduzido como tal. Além disso, os dois telões passavam o tempo todo a logomarca da produtora do evento. Claro, é bom para reforçar a marca dos organizadores, mas desnecessário utilizar deste artifício durante o show. Acabou sendo algo mais negativo do que positivo. O show finaliza com o maior clássico da banda, “Light My Fire”—e como esse som é melhor ao vivo! No estúdio é quase uma bossa; ali tinha pegada, tinha alma. Faltou “Roadhouse Blues”, mas essa a gente cobra na próxima tour. Ricardo Finocchiaro
O workshop “Quer fazer música? Pergunte-me como “, com os gabaritados Arthur de Faria, Edu K e o DJ Fabrício Peçanha, movimentou o Porão do Beco no último dia 22. O evento foi uma prévia do Red Bull Music Academy, que ocorre em Barcelona em setembro e outubro desse ano, e reúne, anualmente, apaixonados por música do mundo inteiro para discutir, detectar e explorar novos ritmos e tendências sonoras. Fabrício Peçanha iniciou a reunião criando uma faixa ao vivo, demonstrando o passo a passo do funcionamento da groovebox. O DJ foi seguido pelo radialista e produtor Arthur de Faria, que surpreendeu ao iniciar sua conversa com o público mostrando a existência implícita de teoria musical clássica no trabalho de Peçanha e das máquinas com que ele trabalha. O compositor centrou sua palestra na análise e na composição de trilhas de filmes, exemplificando com suas produções. Edu K explicitou a idéia dos palestrantes anteriores: o computador é muito importante no processo de composição, mas nada substitui os instrumentos verdadeiros e os botões das mesas de som. Edu também mostrou que, por meio da internet, ele faz parcerias com artistas do mundo todo e recebe um retorno rápido do público e da crítica. Sem prejuízo para o lado criativo, o encontro desmistificou o processo de composição com uso exclusivo do computador. O enfoque ficou na produção musical e em como a era eletrônica desenvolve-se e cria novas possibilidades, mesmo que, como citou um dos participantes, os anos 80 sejam tratados pejorativamente como a década sem fim. Maria Joana Avellar 43 noize.com.br
VI O MESTRE
Saudações, amigos headbangers! E esse tal de 2008, hein? Caramba! Sinto-me honrado com os shows que estou presenciando. Quando essa edição da NOIZE for às ruas, estará completando um mês que 150 bravos gaúchos encararam a estrada para ver o mestre Ozzy Osbourne em São Paulo. Que fantástico cruzar o país para assistir a um show daqueles; sentíamo-nos como em uma cruzada (com a cruz invertida, claro), guerreiros indo ao embate, onde a nossa maior arma era uma boa e gelada cerveja! Que beleza! Eu literalmente troquei o Black Label (Society) por uma farta distribuição de cervejas Heineken do lado de fora do estádio onde aconteceu o show,—isso mesmo, cerveja
de graça! Fomos “obrigados” a beber o líquido dourado da cevada. Além disso, vimos o mestre, e ele disse que nos amava: “we love you all”—não precisávamos de mais nada. Falando em shows locais, rolou o Metal Battle em Porto Alegre, e quem ganhou (e vai representar o RS na final em São Paulo) foi a Hibria—merecido! A torcida aqui será grande para que eles vençam lá e representem o Brasil no Wacken Open Air da Alemanha. Fiquem atentos, pois dia 16 de maio acontece, no Manara Bar, a décima edição do Zeppelin in Concert, maior festival de metal do estado. São dez bandas divididas em dois palcos, com direito a tributos ao Avantasia e Metallica. Todos lá e horns up!
NOVAS PELEIAS PARTE II
Na última coluna, escrevi sobre o fim da Ultramen, mas agora já trago boas novas. Não, ainda não é a volta da banda, mas é o trabalho novo de um dos integrantes, totalmente voltado para o rap. DJ Anderson comanda as pickups da TR.O.PA – Trovadores Originais de Porto Alegre, grupo que conta com sete MCs e dois DJs que já são nomes conhecidos da cena local: DJ Madruga, DJ Anderson, B.I.G, Divox, Dom Diego, Estorvo e Mayron Rec-Play, Currumin e Leandro. A idéia foi juntar vários MCs, DJs e produtores musicais da capital para fazer um trabalho inédito. Os caras já estão tocando nas rádios do país, com a música “Destino”, que conta com a participação de
MOVIMENTO REGGAE
Em alguns estados do Brasil, o público do reggae não se contenta em ficar parado: quer participar e agir. Para isso, esses seguidores da música e músicos locais se reúnem para formar os “Movimentos”. Em Porto Alegre tivemos esta experiência há alguns anos. Uma galera do bem, que queria fazer ações em prol de pessoas carentes, necessitadas de uma ajuda que não vem do governo. O Movimento Reggae Porto Alegre, como ficou conhecido, teve como objetivo inicial, além das ações sociais, fazer a união dos músicos para encontrar facilidades para ensaios, shows e até gravação de trabalhos próprios. Porém os interesses foram ficando cada vez mais centrados
nas ações sociais, e a música foi sendo, aos poucos, deixada em segundo plano. Tive a oportunidade de estar presente em algumas ações, e o mais importante foi entender que nós exacerbamos nossos problemas sem ao menos tê-los; que crianças e idosos são abandonados; que existem milhões de pessoas precisando da comida que colocamos no lixo todos os dias. A partir disso, entendi que reggae não é só música, é atitude. Muitas vezes, nossas letras são criticadas, mas talvez, lendo esta coluna, alguém possa entender por que chamamos tanto Deus para ajudar a minimizar as desigualdades de nosso país.
Malásia, da Ultramen. Os TR.O.PA se concentram agora em estúdio para as gravações do álbum que irá chamar -se Seja qual feira que for, que na verdade será duplo: um dos discos será uma mixtape do trabalho solo de cada integrante, ou seja, o público poderá diferenciar bem o trabalho de cada um dos MCs. A história, segundo eles, começou despretensiosa, com encontros semanais para trocar idéias. No fim, mais parceiros surgiram, e firmou-se a TR.O.P.A. Quem conhece as produções do DJ Anderson sabe que ele nunca se distanciou do rap. Com certeza, surge mais um trabalho de qualidade no rap gaúcho. Curioso? Vai lá: myspace.com/tropars
Inclassificável
Na marcha lenta da saída do show do Ney Matogrosso, no teatro do Bourbon Country, mês passado, abateu-me súbito estranhamento quanto ao perfil do público que esgotara com antecedência os ingressos da terceira noite da apresentação na cidade: casais de 60 anos. Uma sensação que era fruto do gritante contraste entre a postura vibrante e provocativa do personagem incorporado por Ney no palco e a faixa etária do público e do próprio cantor (que completa 67 anos em agosto). O megashow Inclassificáveis trouxe de volta o Ney Matogrosso ousado e rebelde dos anos setenta. Espetáculo de luz, cenário, figurino e repertório impecáveis, tem como protagonista um can-
tor que esfrega o pedestal do microfone entre as pernas, troca de roupa no palco, anda pela platéia e exibe sua coreografia bem à moda “dance like no one is watching”. Coisas de um contraventor maduro, tal qual a faixa etária do público que, percebo agora, deve acompanhá-lo há, pelo menos, 30 anos. Um músico que, do alto de uma carreira consolidada, infringe as regras da indústria fonográfica: nega a banalização, sai em turnê antes de ter o disco lançado e mantém-se um fenômeno de sucesso perene, mesmo com poucas aparições midiáticas. Um artista que, em todos os sentidos, desliza entre os dedos da convenção, inclassificável.
MOVE YOUR BODY
É comum nos pegarmos pensando sobre quais serão as novas tendências a cair na graça do povo. A cada minuto, surgem diversas bandas e subgêneros que, na verdade, são os mesmos que já existiam, com uma abordagem ou um nome diferentes. Muitos acham a maior besteira classificar uma banda. “Música é sentimento, não pensamos nisso quando estamos criando, flui naturalmente”—balela! Outros fazem questão de dizer que o estilo do som que estão fazendo é esse ou aquele; auto-rotulamse, podendo, assim, atingir um público mais rapidamente. Minha opinião é simples: quem tenta ter uma banda, independente do gênero e do subgênero, comercial ou não, já está fazendo algo dife-
rente do normal e não está em casa ficando bitolado ou jogando videogame o dia inteiro. Dane-se se a intenção dos caras é fazer sucesso. “Toda ação gera reação” - faça alguma coisa nessas tardes desocupadas, daqui a pouco não sobrará tempo pra nada. Talvez uma nova tendência: SONNY – myspace.com/sonnysound Mudando de assunto… Quanto mais eu debulho o Fruity Loops, mais eu descubro que gosto de sons eletrônicos. Os timbres bem dosados e distribuídos com guitarras e outros instrumentos podem fazer a diferença em uma gravação caseira. Dica: baixem o FL7 e façam suas músicas em casa!
DESPERTAR DO REPÚDIO
O ano é 2008. A cidade é Porto Alegre. Sete casas noturnas revezam-se para propagar a música eletrônica, e umas quatro produtoras encarregam-se das festas grandes, open air etc. Eleito por uma revista, o melhor DJ do Brasil é gaúcho e, além disso, a província oferece uns 5 candidatos que, se tivessem, pelo menos, apoio da mídia local, estariam entre os 10 melhores do Brasil. A efervescência é tanta que a gente se engana, acha que está tudo OK. Mas o que acontece é que não temos mais um lugar aonde as pessoas vão pela música, pelo DJ, por identificação com o que rola referente ao estilo musical. Precisamos, urgentemente, que o underground volte, para o re-
ANTI-FLAG PARA AS MASSAS
“Sinto que fomos uma voz no deserto por tempo demais”. A frase é de Justin Sane, vocalista e guitarrista da Anti-Flag, banda punk de Pittsburgh, a “Cidade das Pontes”, no estado da Pensilvânia, centro-atlântico dos Estados Unidos. Formada em 1993 (apesar de breve existência entre ’88 e ’89), trata-se de um dos melhores exemplos de como uma banda pode aliar mensagens significativas a ótimas músicas. O punk, por seu caráter político contestatório, sempre teve uma acolhida difícil nas rádios FM e emissoras de TV. Da mesma forma com as majors, que raramente permitem às bandas disseminar condutas que possam prejudicá-las, salvo ocasiões em que consista de uma bela estra-
tégia de marketing, como foi o caso da parceria relâmpago Sex Pistols–EMI. Em 2005, o Anti-Flag foi criticado por assinar contrato com a RCA Records, pertencente à Sony BMG. Fãs mais radicais questionaram a atitude do grupo, alegando que ideais por eles defendidos (postura anticapitalismo) foram violados. Sane defendeu a iniciativa, dizendo que o acordo entre o grupo e a gravadora garante à banda plena autonomia sobre as letras. “Nós não seremos censurados. É a chance de transmitirmos nossas mensagens para uma grande audiência”, concluiu. The Bright Lights of America, novo disco do Anti-Flag, saiu em março.
púdio repousar. Precisamos de um novo Fim de Século, porque a música eletrônica foi ingerida pelo comercial, tão estúpido quanto alguém que joga uma criança do sexto andar. Das sete casas acima mencionadas, metade investe na e-music porque gosta. O resto está nessa porque AINDA vende. Nesse “vamo-que-vamo”, ali na frente a máquina emperra, e vai tudo por água abaixo. Precisamos de mais verdade, menos cópias, mais atitude.O Beco, lugar que melhor abrigaria uma noite under de e-music, não tem projeto fixo que sirva de referência para tanto, uma pena. Estou à disposição e convicto de que alguma coisa é preciso fazer. Fim de Século needs to return.
MGMT (e um pouco de Dave Fridman)
Foi difícil escolher a banda deste mês porque esse ano tá foda, cheio de álbuns bons. O MGMT (banda do mês da minha coluna — uau, depois desse fato eles vão ficar famosos!), formado pela dupla Andrew Van Wyngarden e Ben Goldwasser, lançou seu álbum de estréia, Oracular Spectacular, em janeiro desse ano. Um álbum pop, tocante e (também) lúdico em toda sua extensão, que não poderia ter acertado mais na escolha de um produtor. Esse produtor é Dave Fridmann, que produziu praticamente tudo do Flaming Lips (poderia acabar o curriculum dele por aqui), de Café Tacuba e de Thursday (e também de Delgados, que é lindo!). Afirmo, com toda a certeza, que o MGMT conseguiu,
com seu Oracular Spectacular, algo MUITO foda de conseguir, que é fazer um álbum soar moderno sem cair na armadilha que isso pode trazer. Oracular Epectacular é um álbum sem prazo de validade, que, daqui a 10 anos, pessoas vão descobrir e ainda achar o máximo... mas quanto antes tu descobrires, melhor! As 3 músicas (tenho que ser mais original, assumo) que aconselho para conhecerem o MGMT são: “Time To Pretend”, “Kids” (que demorou pra virar hit no porão, hein...?)” e “The Youth”. O cósmico myspace deles é http://myspace.com/mgmt. Até logo ali!
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Ilustra Carla Barth flickr.com/photos/preza/
jammin’ 48