#17 // ANO 2 // SETEMBRO ‘08
EXPEDIENTE DIREÇÃO: Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha COMERCIAL: Pablo Rocha pablo@noize.com.br Arthur de Franceschi arthur@noize.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha rafarocha@noize.com.br Douglas Gomes doug@noize.com.br
ÍNDICE 6. Life Is Music // 8. News // 14. Road Trippin // 16. Forgotten Boys // 18. Tony da Gatorra // 20. Millencolin 22. Marcelo Camelo // 26. Reading Festival // 31. Agenda // 34. VizuPreza // 36. Estilo:Música // 40. Reviews // 48. Colunistas // 50. Fotos // 54. Jammin’
FOTO DA CAPA: Cia da Foto
assine a
noize assinatura@noize.com.br
REDAÇÃO: Lidy Araújo lidy@noize.com.br Fernanda Botta fernandab@noize.com.br Frederico Vittola fred@noize.com.br Carlos Guimarães carlos@noize.com.br Luna Pizzato luna@noize.com.br Carolina De Marchi carol@noize.com.br Maria Joana Avellar joana@noize.com.br Larissa Filappi larissa@noize.com.br
EDIÇÃO: Fernando Corrêa
nando@noize.com.br
REVISÃO: João Fedele de Azeredo jp@noize.com.br Fernanda Grabauska fernanda@noize.com.br FOTOGRAFIA: Tatu Felipe Kruse Felipe Neves Arlise Cardoso Anna Fernandes NOIZE TV: Bivis Tatu Johnny Marco Vicente Teixeira Rodrigo Vidal noizetv@noize.com.br COLUNISTAS: Double S. Gustavo Corrêa Dudu Brito Ana Laura Freitas Carol Anchieta Claudia Mello Ricardo Finocchiaro João Augusto
COLABORADORES: Marco Chaparro Mely Paredes Bianca Montiel Carlos Eduardo Leite Giuliano Cecatto Eduardo Dias Lucas Tergolina Vinícius Carvalho Zeh Palito Lidia Brancher Guilherme Dal Sasso Daniel Rosemberg Antônio Xerxenesky Samir Machado Marcela Gonçalves Cristal Da Rocha Guilherme Smee Eduardo Guspe ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados Rua Padre Chagas, 415/301 (51) 3333.0874 ANUNCIE NA REVISTA: comercial@noize.com.br AGENDA: shows, festas e eventos a genda@noize.com.br
CIRCULAÇÃO: Porto Alegre Canoas São Leopoldo Novo Hamburgo Caxias do Sul Gramado Lajeado Santa Cruz do Sul Santa Maria Passo Fundo Uruguaiana Pelotas Rio Grande PONTOS: Faculdades Colégios Cursinhos Estúdios Lojas de Instrumentos Lojas de CDs Lojas de Roupas Lojas Alternativas Agências de Viagens Escolas de Música Escolas de Idiomas Bares e Casas de Show Shows, Festas e Feiras
Todos os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
NOIZE
TIRAGEM: 15.000 exemplares
Se Você Não Gostou da NOIZE Passe Adiante
EDITORIAL | Primavera Festivals Não, não é o festival espanhol, são os brasileiros. A primavera de 2008 chega junto com uma turma de roqueiros, jazzistas, rappers e vozes da pesada. Dia 23 o TIM Festival vem com tudo: o mestre do jazz Sonny Rollins, as atuais e ex-febres do indie MGMT, Klaxons e Gogol Bordello, o Kanye West e a bela voz de Esperanza Spalding. Além disso, nosso artista de capa, Marcelo Camelo é uma das atrações brasileiras mais esperadas do evento (e voce DEVE conferir a entrevista que ocupa as páginas 22 a 25 da tua NOIZE 18). Isso tudo só para começar, porque mais uma galera recheia a programação do festival. Além do TIM, para quem é chegado em “indieada”, a pedida pode ser o Planeta Terra, em novembro. O concorrente traz Bloc Party, que promete não repetir o playback do VMB deste ano, e Kaiser Chiefs, que tem disco novo chegando. Não bastassem as duas bandas favoráveis ao dance floor, engrossam o molho os titios do Jesus And Mary Chain. Enfim, use o Google, faça uniduni-tê e escolha o seu festival. O show de Marcelo Camelo, você confere em Porto Alegre no dia 16. Los Hermano, que fazem da NOIZE 18 a edição mais foda de Mais entrevistas, muitas! O melhor é que, depois de ler nosso papo com o Millencolin, você confere show dos caras por aqui. Mas antes divirta-se e reflita com a singularidade de Tony da Gatorra, saiba mais do novo Forgotten Boys, veja Os Replicantes em uma situação bastante improvável, viaje pelo Reading Festival 2008 enquanto nossa repórter trabalha por lá. Enfim, delicie-se gratuitamente. Em tempo: descanse em paz, Rick Wright. O mundo perde um grande homem, Syd Barrett ganha companhia. E
há mais coisas, fora a super entrevista com o
todas.
Dir. Arte Rafael Rocha
Foto Felipe Neves Assist. de Fotografia Lucas Tergolina
:::
life is music
6
.: NOME _ Diego Medina .: PROFISSÃO_ Ilustrador e Músico .: UM DISCO_ Disco Volante | Mr. Bungle
“Amo música, até demais. O prazer nababesco de ouvir e fazer música é um troço que vou levar pro túmulo.”
Arte_ Sesper
news
8
PORTO ALEGRE ARTE
Porto Alegre sempre se destacou por ser uma das cidades brasileiras com os grafittis mais bonitos. Agora, a street art sai das ruas e ganha espaços fechados, já que uma série de exposições bacanas com esse tema estão surgindo por essas bandas. Uma das coisas mais significativas que passaram por aqui acabou recentemente. Quem foi à Transfer até o dia 26 de setembro teve a chance de conferir o apanhado amplo que a exposição fez, com intervenções que evidenciaram o caráter transgressor da arte urbana. Os que gostaram podem conferir até o dia 29 de novembro a exposição individual que um de seus curadores, o artista de São Paulo, Alexandre Cruz “Sesper”, ganhou na Galeria Adesivo. O nome da exposição, re-funcitional, tem tudo a ver com a personaiidade multi-função de Sesper. O cara é vocalista de uma das bandas mais clássicas do hardcore melódico nacional, o Garage Fuzz. Artista plástico e designer reconhecido, em re-functional, Sesper mostra suas obras de colagem, cheias de referências e “conceitualmente esquizofrênicas”. Além delas, estão expostos quadros em pranchas de skate – desenhados diretamente na parede da galeria – e outros experimentos gráficos. A galeria Adesivo fica no Beco Cultural, na avenida João Pessoa, 203. Enquanto isso, artistas gaúchos são prestigiados em São Paulo, na Galeria Choque Cultural, espaço que tem o intercâmbio de artistas de diferentes lugares como uma de suas características. A diversidade de técnicas e estilos daqui manifestados através de grafitti, tatuagem, comics e ilustração serão representadas por uma dúzia de artistas do Sul, incluindo Carlos Dias, o curador, da expo, e Trampo, que viaja até Sampa para grafitar na rua, próximo à galeria. > sesper.blogspot.com e fotolog.com/sesp Sesper.
-
Blog e fotolog com os trabalhos gráficos do multi-artista
-
> YOUTUBE.COM Para quem perdeu a Transfer, o pessoal da Qix fez um apanhado legal dos trabalhos que passaram pelo Santander Cultural. tags: rafael russo transfer.
SAIBA MAIS
> myspace.com/sesperproject e myspace.com/garagefuzz
barulho.
- Por que a arte de Sesper também faz
+
Reprodução
Montagem
Foto: Maria Joana Avellar
John Lydon vira garoto propaganda de manteiga
KIND OF BLUE GANHA EDIçÃO DE LUXO
Tudo bem que o Sex Pistols tenha sido uma jogada comercial desde o início, mas seu ex-líder John Lydon já teve uma postura mais respeitável. O vocalista da banda seminal do que viria a se convencionar como a estética e a atitude do punk rock deve ser o próximo rostinho a estampar a campanha publicitária da Country Life, famosa fábrica de laticínios britânica. Isso mesmo, John Lydon estampará propagandas de manteiga! “John Lydon é visto como um grande ícone britânico. Sua visão singular é parte de seu apelo comercial”, explicou um comunicado da empresa. Copiando a ironia de um site inglês, ficamos pensando se a Rainha não vai se importar de comer a manteiga do rapaz que cantou para o mundo todo ouvir “Deus salve a rainha, ela não é um ser humano”.
Homenagem merecidíssima. Kind of Blue, um dos discos mais influentes da história do jazz - e conseqüentemente da música - completa 50 anos e é re-lançado em edição de luxo, pela Columbia. O box inclui músicas que não entraram no LP original, takes alternativos (o que, em se tratando do jazz modal que Miles Davis comanda com seu trompete, pode significar músicas resignificadas) e um documentário em DVD sobre o álbum clássico. O time que acompanha Miles no disco é uma banda dos sonhos, com mestres como John Coltrane e ‘Cannonball’ Adderley nos saxofones, e Bill Evans no piano, só para começar. Embora tenha vendido “apenas” 3 milhões de cópias em 50 anos, Kind of Blue é o maior sucesso comercial da história do jazz. O disco teve resenha publicada na NOIZE 9.
>> Aprenda a Organizar um Show é um dos livros mais legais do ano. Quem toca ficará feliz ao encontrar no livro de Alê Barreto tudo que queria saber sobre as etapas que fazem um show acontecer. Mais detalhes em imaginaeditora.blogspot.com e o livro completo em overmundo.com. >> Nos dias 17, 18 e 19 de outubro acon-
tece o super bacana Morrostock, evento que reúne a nata do cenário independente nacional. Confere o line-up em morrostockopenair.blogspot.com. >> Nei Van Sória prepara um DVD em
comemoração a seus 40 anos. A gravação aconteceu dia 6 de outubro, no Ocidente, e deve ser lançada em março de 2009. 9 >> noize.com.br
news
AMARANTE, FABRIZIO MORETTI E CIA = LITTLE JOY O título faz referência a um bar em que o Stroke Fabrizio Moretti ia para relaxar, e a música saiu no mesmo clima. As primeiras faixas a aparecerem na rede mostram que o Little Joy, projeto de Moretti com a namorada Binky Shapiro e o Los Hermano Rodrigo Amarante, tem as pernas para o ar. Não se pode dizer que é surpresa o resultado do feliz encontro entre os dois brasileiros. “Conheci Rodrigo em um festival que tocamos juntos em Portugal. Então, ele veio para Los Angeles gravar com o Devendra Banhart, e começamos a sair juntos e a tocar. Conhecemos Binky nessa época e passamos a compor juntos”, explicou Moretti em entrevista ao site Entertainment Weekly. Amarante canta as três faixas que estão no myspace do grupo. O ar praiano marca a pop de nome sugestivo “Brand New Start” e o possível hit “No One’s Better”. E é nesta e na strokiana
Lauren Dukoff
10
com pé no freio “With Strangers” que aparece o traço mais autoral do trio, que visita ritmos antigos como o reggae jamaicano e o folk. Confira em myspace. com/littlejoymusic. O grupo não falou em passagem pelo Brasil. Enquanto isso, o ex-parceiro de Amarante, Marcelo Camelo toca seu primeiro trabalho solo, “Sou”, no Teatro do Bourbon Country em Porto Alegre, no dia 16.
Steve Jobs que se cuide, pois o MySpace está determinado a desbancar o iTunes do trono de principal loja virtual de música digital. O MySpace Music, lançado no último dia 25, integra em seu cardápio músicas das gravadoras Sony BMG, Universal, Warner Music, EMI e da indie The Orchard. O serviço, que chega ao Brasil no início de 2009, pretende incorporar os catálogos de todas as gravadoras às ferramentas de compartilhamento da rede. A interface do player do MySpace já foi alterada para adequar-se à nova proposta do site (e alguns usuários comentam que preferiam a antiga). A venda de canções deve ser feita em parceria com a Amazon.com, que cobrará a partir de US$ 0,79 por canção. Ainda assim, continuará sendo possível ouvir algumas músicas em formato streaming sem pagar por isso, e ficará mais fácil para as bandas tomarem iniciativas de lançamento
Divulgação
MYSPACE MUSIC PROMETE DESBANCAR ITUNES
gratuito de discos pelo site. Em compensação, o usuário recebe uma pequena descarga de anúncios de empresas como Sony Pictures e McDonald’s, dependendo da banda que escolher ouvir. O diretor-executivo do MySpace, Chris DeWolfe diz que “o projeto deve ser revolucionário e está em sua primeira fase”. O futuro, para ele, promete: “Construiremos o maior catálogo de música digital do mundo”.Te cuida, Steve.
Foto: Divulgação
Divulgação
Baze
MC do Da Guedes
O CIRCO MULHERIZADOR DE BRITNEY SPEARS Para celebrar a nova fase em sua carreira, Britney Spears lança no dia 2 de dezembro—data em que completa 27 anos—seu sexto álbum, Circus. O anterior, Blackout, mesmo cheio de sucessos, não convenceu quanto à sanidade da cantora. Um ano depois do catastrófico lançamento de “Gimme More” no Video Music Awards, ela ressurgiu magra e bonitinha para faturar três prêmios no VMA deste ano e anunciar o novo trabalho. Resta saber se sua intenção é retomar o posto de princesinha do pop ou distanciar-se de vez da imagem de santa. “Womanizer”, o primeiro single, é uma pista de que ela adotou definitivamente o estilo Britney bitch. A estréia do single nas rádios do mundo todo está marcada para 30 de setembro, mas a música já está disponível no bom e velho YouTube. METALLICA CRAVADO NO TOPO Death Magnetic está no topo da lista de discos mais vendidos da Billboard há duas semanas. Entre 12 de setembro, quando foi às lojas nos EUA, até o dia 25 do mesmo mês, 827 mil CDs foram vendidos, 337 mil na segunda semana de lançamento. Os números exorbitantes ganham importância nessa época de lançamentos virtuais, já que o Metallica foi uma das bandas que mais ofereceu resistência e entrou na guerra contra o mp3 desde os tempos de Napster.
NOIZE diz: oi Baze, tudo bem? Baze diz: fala ae Carol... Td certo NOIZE diz: quero te dar os parabéns, por que eu estive no bar Opinião na gravação do DVD acústico do Da Guedes, e adorei, mas o resultado pronto, que pude assistir em primeira mão, me surpreendeu! Baze diz: pode crê. a gente tbm curtiu, mesmo rolando o sentimento de que poderia ter ficado um pouco melhor, o resultado final agradou toda a banda e a equipe que fez o DVD, agora a gente tá na expectativa do que a massa vai achar. NOIZE diz: então, conta como foi a preparação o trabalho, por que é muito diferente do estúdio, além de ter incluído diversos músicos no palco. Baze diz: começamos essa história em 2006, pra gravar um CD especial, e no meio do Ano, fizemos 3 shows na Alemanha com toda essa rapaziada (12 no total). Já voltamos com a idéia de registrar mas batemos na falta de verba, por que fazer um DVD é complicado, tem captação de Áudio, de vídeo, cenário, depois mixagem, edição, capa e a finalização. Mas demos sorte de conseguir o apoio de uns camaradas: Marcelo Nunes, Rodrigo Pesavento, Vivi Fernandes, e o Rafael Moreira, que apostaram e entraram com toda a parte de vídeo, e a gente assumiu a parte de Audio, dae rolou beleza, marcamos a data, a rapaziada compareceu, e foi daquele jeito. NOIZE diz: a participação do Thaíde no momento “champanhe pros irmão” é bem legal, afinal ele é um dos grandes nomes da cena nacional, como nasceu essa parceira? Baze diz: quando fomos pra São Paulo mixar o disco “Morro seco mas não me entrego”, faltava uma estrofe da música ”Bem Nessa”, e como a gente sempre admirou a dupla Thaíde e DJ Hum, convidamos ele que aceitou na moral, foi no estúdio gravou o som. Fora isso, acho que a nossa parceria não é só no profissional, temos uma ami-
zade que ultrapassa isso, temos uma idéia muito parecida das coisas e essa cumplicidade ultrapassa qualquer sentimento. NOIZE diz: e legal que esse clima de cumplicidade está em todo trabalho desde a gravação até nos extras se vê este o clima. Baze diz: é verdade tinha muita gente conhecida, o povo da minha quebrada, do Deeley e do Gibbs, mais o pessoal das caminhadas do Rap. Tipo uma festa só pra convidados inclusive quando fomos fazer 3 músicas de novo que a produção pediu a rapaziada não arredou o pé e participou na moral. NOIZE diz: E aquele final “arrebatador” com a bateria do Imperadores do Samba a passistas da escola? Fecha com chave de ouro este trabalho? Baze diz: Claroo! A gente queria ter convidado a Bateria da Imperadores do Samba, pra a música “Jornada” no Cd, mas não rolou. Quando começamos a escolher as participações do DVD eles foram os 1ºs da lista, e temos que agradecer o “Mestre Brinco”e todos os percussionistas. As Sambistas já tinham participado do Vídeo Clipe da “Jornada” que concorreu no VMB da MTV em 2005, e elas foram lá pra deixar a rapa com água na boca! NOIZE diz: conta então a melhor parte do lançamento agora.... Baze diz: o mercado de disco tá muito ruim, a Rapa não compra, baixa na Net ou compra no camelô. Então o seguinte: bota pra rua de graça e não tem cão! CD, dia 12 de outubro, 100% liberado para Download através do nosso site e do Myspace (myspace.com/daguedes), e o DVD, no dia 12 de outubro no site (daguedes.com.br) a previsão de chegada nas lojas é novembro de 2008. NOIZE diz: então o que significou para o grupo este trabalho? Baze diz: a princípio o último disco do Da Guedes, fechando com chave de ouro toda a nossa história no Rap Nacional. NOIZE diz: hum, tomara que não seja... valeu Baze, muito obrigada e boa sorte! Baze diz: Valeu Carol, tamo Junto!!!
11 >> noize.com.br
12
news
A NOIZE+ é a divisão de projetos da Noize. Porque não basta falar de música, é preciso fazer.
REVISTA DO BECO Editada por Carol Teixeira e com projeto gráfico da NOIZE, foi lançada a Revista do Beco. A idéia surgida numa louca festa (leiam o editorial da revista!) e rapidamente veio à luz. Deu no que deu: uma publicação para o povo mega antenado do Beco, povo que cria estilo, consome cultura e entende. Pegue a sua por aí ou em beco203.com.br.
MORE DE BANDA Em parceria com a Rial, estamos lançando o More de Banda, um projeto voltado para o público jovem que paga aluguel ou quer sair de casa e não sabe o quanto é viável adquirir um imóvel próprio. Confere nas páginas 2 e 3 a primeira edição do More de Banda, e quem sabe você não resolve morar sozinho?
noize. com.br
O site da Noize não pára. Aqui, um pouco do que tem acontecido de novo no nosso QG virtual.
noize crew blogs
blogue
?
A partir de outubro entram no ar os blogs da equipe da NOIZE. Música, design, moda, tendências, urban art, bizarrices, literatura - tem blogueiro para todos os gostos. Te liga lá, por que essa galera tem muita coisa preza para apresentar e comentar.
SECRET SPOT Está escondido em algum lugar do site, em meio às notícias e os reviews, uma página secreta. Quem encontrar ela primeiro e seguir os passos indicados nela, ganha alguns brindes, incluindo ingressos para shows. Vá à busca.
road trippin’
14
NOVA IORQUE Nome: Matheus Minella Sgarioni Idade: 22 O que faz: Estuda Psicologia Motivo: Experiência de vida Trilha Sonora: All Tomorrow’s Parties The Velvet Underground Uma metrópole incrível, Nova York é perfeita pra quem busca explorar diferentes maneiras de viver. Manhattan, “The City”, agrega uma gama de bairros com variados ares, desde a conhecida Chinatown até centros de concentração cultural historicos, como o East Village, onde estudantes, artistas e intelectuais se encontram nas praças para discutir e tocar jazz. O Central Park é realmente lindo, assim como os prédios que o cercam, localizados em uma das áreas mais valorizadas da península, e é, frequentemente, palco para realizações cinematográficas. A cidade toda respira cinema e é muito comum vias estarem bloqueadas para a realização de alguma tomada. A oferta de serviços, devido a uma economia aquecida, permite que se viva na urbe de maneira original; existem muitos estabelecimentos abertos 24h, restaurantes de todos os tipos de culinária, lojas e bares diversos, quase o suficiente para que se exclame: “tem de tudo!”. A falta de espaço, que resulta em valores imobiliários altíssimos e na falta de locais de armazenamento de bens, cria uma estranha sensação de movimento e fluidez, onde cada dia é vivido com ênfase no presente, sem “estoques”, com lojas de conveniência em todas as esquinas fazendo as vezes de “despensa”. Com um sistema de transportes extremamente eficiente (metrô, onibus, taxis), ocorre intensa circulação de bens, capital, pessoas e idéias; a cidade ferve, a cidade pulsa. Nova York se divide em cinco “boroughs”, quase “sub-cidades”. São eles Manhattan, Brooklyn, Queens, Bronx e Staten Island. Manhattan é onde está o glamour, a elegância e o caos. O Brooklyn é surpreendente, palco de uma recente emergência cultural, frente a um suposto processo de “comercialização” da arte como estilo de vida, em Manhattan. O Queens comporta grande parte dos estrangeiros residentes em NY, com áreas cuja estética varia de acordo com a nacionalidade predominante. O Bronx choca, não pela estranheza de suas ruas, mas pela familiaridade com que vemos pela primeira vez prédios que, em seu estilo, já estão impressos no nosso inconsciente pelos filmes e pela cultura Hip Hop, o “ghetto”. Staten Island não merece uma visita. Uma ilhota com ar suburbano cuja maior qualidade poderia ser a vista que tem do extremo sul de Manhattan, o Distrito Financeiro, e seus arranha-céus. Uma dica de noite: Meatpack District e Lower East side (ambas em Manhattan). A primeira é mais “badalada” e a segunda, mais “cool”. Um bom programa: Cruzar a ponte do Brooklyn a pé, aproveitando pra dar uma caminhada pelo próprio. Dumbo e Brooklyn Heights esbanjam riqueza histórica em sua arquitetuta e moradores.
O Melhor de NYC: Rádio – Meu iPod Casa de Shows – Cafe Wha? Jornal – The Onion Comida – Restaurantes italianos Lugar – Washington Square Park
HAWAII Nome: Manoela Pezzi D`Almeida Idade: 23 O que faz: Jornalista e Fotógrafa (www.manuphoto.com.br) Motivo: Fotografar ação, lifestyle e surfar! Trilha Sonora: Slightly Stoopid Desde que fiquei de pé pela primeira vez em uma prancha e, mais tarde, quando defini aquele esporte como meu estilo de vida, já comecei a sonhar com o dia em que conheceria o famoso arquipélago havaiano. A idéia de surfar em um lugar histórico, a vontade de sentir o tão falado aloha spirit e a possibilidade de cruzar com meus ídolos e heróis, eram alimentados cada vez em que folheava as revistas de surfe. Acabei escolhendo o jornalismo e a fotografia de cultura surf como profissão, o que aproximou o Hawaii ainda mais de mim. O North Shore da ilha de Oahu, localizado no arquipélago havaiano, é um lugar único no mundo. Conhecido pelos americanos como “O milagre das sete milhas”, o lugar reúne em menos de 20 quilômetros as ondas mais potentes e fortes do planeta. Waimea Bay, Pipeline e Sunset Beach estão praticamente uma ao lado da outra. A entrada de grandes ondulações durante o inverno no Hemisfério Norte, fazem do North Shore, o destino mais procurado pelos surfistas do mundo todo durante os meses de novembro à março. Tive o privilégio de acompanhar todas as praias quebrarem em condições clássicas. Entendi por que o lugar segue sendo o destino obrigatório dos principais surfistas do mundo. É só neste pedaço de terra você tem a chance de acompanhar da areia, ondas monstruosas quebrando, enquanto surfistas são coroados com os melhores tubos da temporada, do dia e de suas vidas. Cada praia do North Shore tem sua peculiaridade e seu encanto. Neste pequeno trecho de terra existem ondas para todos os tipos de gostos, para os surfistas das mais diferentes idades e com os mais distintos interesses. Uma única rua principal, a Kamehameha Highway, liga e transporta toda esta gente e apenas um supermercado e uma padaria abastecem os surfistas vindos das mais diferentes partes do mundo. Este clima rural, tão almejado pelos nativos havaianos, traz esta aura mítica e histórica ao North Shore, tão diferente da populosa Honolulu, que está a poucos quilômetros dali. Nunca, em nenhum lugar, respirei tanto a cultura surf. Eu achava fantástico o fato de ao caminhar pela ciclovia que liga a baía de Waimea até a praia de Velzyland, cruzar com vários surfistas pedalando tranqüilamente com suas pranchas de baixo do braço. Podiam ser mulheres, jovens, senhores, crianças ou bodyboarders. Esta cena me emocionava tanto e revelava o verdadeiro estilo de vida havaiano. Outras cenas traduzem esta magia: as famílias chegando unidas na praia de Waimea quando “a gigante” desperta. Acompanhar a meditação dos surfistas antes de encaraO Melhor do hawaii: rem ondas gigantes com 6 metros de altura, enquanto os filhos esperam ansiosos Rádio – As de Hip-Hop na areia. Assistir ao pôr-do-sol em Sunset Casa de Shows – Casas emWaikiki Beach ouvindo o som do Ukelele tocado Revista – Heavy Water por nativos. Estas e tantas outras cenas haComida – Sushi com arroz integral vaianas marcantes são tão únicas como as bombas de água que surgem a cada nova Lugar – Waimea Bay temporada. Aloha! 15
x
noize.com.br
Texto Lidy AraĂşjo
entrevista :::
forgotten boys 16
Depois de 11 anos na estrada, o Forgotten Boys continua fiel ao rock sujo e direto dos anos 70. Em seu quarto disco de estúdio, Louva-a-Deus, porém, o som está mais pesado. Resultado da gravação ao vivo no estúdio e, principalmente, da parceria com Roy Cicala (que já trabalhou com nomes como John Lennon, AC/DC e Frank Sinatra), conforme conta o guitarrista Chuck Hypolitho nesta entrevista. Como foi o processo de composição e produção de Louva-a-Deus? Aproveitamos que tínhamos nosso próprio equipamento e deixamos tudo montado numa chácara no interior de São Paulo, onde podíamos ir quando quiséssemos, com liberdade, e ficar ensaiando e compondo. Em geral, eu e o Gustavo (Riviera, voz e guitarra. A banda ainda conta com o baixista Zé Mazzei e o baterista Flávio Cavichioli) fazemos as músicas isoladamente e trazemos para os ensaios, onde criamos “a música” a partir das idéias. Acho que o processo foi bem legal, criativo e produtivo também. Fizemos umas 24 músicas, e 14 entraram no disco. Dá mais tesão gravar ao vivo no estúdio? Olha, confesso que ficar experimentando também é muito excitante, mas nós optamos por gravar as bases (baixo, bateria e guitarra) ao vivo. Deu um gás na performance também pela velocidade. E como estamos acostumados a tocar juntos, foi fácil, as músicas estavam bem ensaiadas. Pra produção dos discos, vocês costumam convidar artistas de outras vertentes, como é o caso de Apollo 9, que trabalhou em Louva-a-Deus. Existe um motivo pra essas escolhas? Não queremos ficar na mesma história sempre. Pessoas diferentes trazem elementos diferentes para o trabalho, essa é a razão. Mas a característica mais legal veio da gravação e da mixagem de Roy Cicala. Embora tenha assinado com gravadoras e selos, a banda
sempre manteve uma postura independente. Fica difícil se manter no mercado dessa forma? Fica mais fácil dormir tranquilo, mas é sempre difícil de qualquer jeito. Pensar que vai ser fácil de um jeito ou de outro é uma ilusão. Em ambos os casos, é preciso que se tenha uma consciência de autogestão, senão, não rola. Daí a independência nem vem de ter ou não ter uma gravadora, mas de saber cuidar da própria vida. Há cinco anos, vocês lançaram pela primeira vez um disco no exterior. Pretendem dar andamento na divulgação lá fora? Sim. Não sabemos exatamente como, pois estamos focados aqui, mas existe potencial lá fora. Temos que continuar tentando. Já estou enviando o disco pra algumas pessoas pra ver o que rola. O clipe de Quinta-Feira foi lançado com o patrocínio da Levi’s, dentro do projeto Levi’s Music. Acredita que grandes empresas e marcas poderiam fomentar o mercado da música de forma mais efetiva? Acredito sim, principalmente porque o público que consome os produtos deles é formado pelas mesmas pessoas que consomem a música de artistas como a gente. Uma coisa tem muito a ver com a outra. Mudando de assunto... Você continua atuando na cozinha? De que forma o rock influencia nas suas criações gastronômicas, e vice-versa? Eita. Hahaha. Sei lá. Eu continuo comendo
muito. Cozinhando, nem tanto. Só às vezes, em casa, mas profissionalmente, não mais. Música e cozinha têm muito a ver, mas para mim, não sei se para todo mundo. Em recente entrevista, você disse que o amor, a raça humana e a vida estavam te inspirando. Agora você vai ser pai. De que forma essa experiência está influenciando a sua arte? A gente vai amadurecendo e escrevendo sobre coisas mais próximas. Na real, acho que estou me tornando mais careta mesmo, mas para um lado bom. Aprendemos a não perder tempo com amenidades (que antes eram divertidíssimas!) e a se focar no aqui e agora… um certo senso de responsabilidade real, na verdade. Sua mulher, Débora Falabella, È uma atriz global e vocês já atuaram juntos em comerciais de TV, clipes e editoriais. Há um segredo pra manter a privacidade e evitar a superexposição num meio em que os paparazzi estão de olho em tudo? Olha, eu acho que de duas uma: ou a gente realmente é discreto e isso funciona, ou a gente não é interessante para esse tipo de mídia, o que é bom também. Eu e a Débora temos essa postura mesmo, não queremos que ninguém saiba a marca da nossa pia, nem da nossa privada, nem que livro estamos lendo. Chega uma hora em que isso é invasão. Tem gente que gosta disso, é questão de escolha e gosto. Nós dois preferimos ficar fora desses holofotes. Preferimos chegar depois e ir embora antes, sabe? Tem funcionado. 17 x noize.com.br
Texto Fernando CorrĂŞa Foto Rafael Rocha
tony da gatorra 18
“Eu não faço música pra alegrar ninguém, nem pra dançar. Eu faço é pra conscientizar, pra mandar um recado, dar uma mensagem. Os caras falam ‘ele é cantor’, eu não sou cantor coisa nenhuma, não tenho voz pra cantar. Eu sou instrumentista, cantor é Roberto Carlos, que tem voz boa. Eu quero é falar, né? Pra dar um recado, não precisa ter voz bonita.”, esclarece o homem na minha frente, Antônio Carlos Correia de Moura, um artista ímpar, um homem que não atende a expectativas. O mesmo homem anda pela sala enquanto mostra os recortes colados nas paredes - provas de que ele circula, também, nas páginas de revistas e jornais do mundo inteiro. A sala de Antônio, o internacionalmente reverenciado Tony da Gatorra, enche-se de gurizada, a vizinhança da vila Navegantes, em Esteio. Foi nessa casa que o técnico em eletrônica construiu o instrumento inusitado, misto de bateria eletrônica, sintetizador e amuleto hippie-punk da paz e do protesto, que agora leva ele longe. “Aqui em Porto Alegre, a maioria dos lugares, tu vai tocar e eles ainda querem que tu toque de graça. Lá pra cima eles valorizam, na Europa, então, nem se fala”. Sim, a Europa. De 26 a 28 de julho desse ano, “enquanto os Mutantes iam pra Escócia, eu ia pra Londres. Quando eles iam pra Londres, eu ia pra Liverpool. Pechei com eles no aeroporto, e com o Bonde do Rolê em Londres”, explica antes de pegar algumas fotografias na mão.“Aqui eu tô com o Nick McCarthy, da banda Franz Ferdinand. Foi na Escócia, com a gatorra número 7, que eu vendi pra ele. Toquei com ele em São Paulo, ele era amigo do Eduardo Ramos, que empresariava a CSS. Eles viram a gatorra número 4, que eu montei pro Bruno, meu empresário, irmão do Eduardo. Até tá aqui, ó, na revista. E essa gatorra aí em cima da porta foi a Lovefoxxx que fez pra mim depois que eu entreguei a gatorra dela”, aponta para uma versão fofa, de pano, do instrumento que a vocalista dos electro-rockers brasileiros mais internacionais desde o Sepultura confeccionou para ele, e que agora fica dependurada em cima da porta do seu quarto. Punk’s not Dead Tony é o hippie mais punk que Esteio já viu.“Desde os 7 anos eu era amarrado em
Beatles e nos sucessos dos anos 60. Mas eu fiz essa música no sentido de protestar contra exclusão social e as injustiças do Brasil. Minha idéia foi sempre ter acesso ao microfone pra detonar esses vagabundos ladrões, só exploram o cara e não dão nada de volta”. Ao escutar os protestos que acomapanham o ritmo instável da gatorra, fica claro quem são os ladrões. São os governantes, os políticos, a Ordem dos Músicos Brasileiros: todos que tentam regulamentar a vida de Tony. E ele, que poderia ter-se contentado em “construir um instrumento”, como canta na faixa “Meu Nome é Tony”, de seu 4º e último CD, resolveu “falar, se expressar e protestar”. Parece ser a combinação de tosquice e genialidade o que faz dele um ídolo. “A maioria dos caras só pensa em ganhar dinheiro, eu boto uma mensagem verdadeira, por isso que os caras gostam de mim, me procuram”. Marcelo Birck foi um que procurou. O resultado foi um show, idealizado pelo ex-Graforréia Xilarmônica. Birck fez acontecer a Festa da Gatorra, iniciativa que levou algumas centenas ao Porão do Beco em setembro, para assistir a Tony, Birck, Grosseria, Musical Amizade e Damn Laser Vampires. O ingresso ficava por conta to freguês, que podia pagar de R$ 5 a R$ 100. Ali pôde-se ver que, ainda que o portoalegrense valorize menos do que deveria o artista local, Tony já se tornou mitológico a ponto de as incongruências entre o ritmo da gatorra e as letras que ele canta tornarem-se motivo de vociferações entusiasmadas de seu nome como um grito de guerra. Mas o buraco é mais em cima, e é pra lá que Tony quer se mudar. “Já fui pra Rio de Janeiro, São Paulo, Curi-
tiba, Belo Horizonte, Santa Catarina, Recife... subi pela primeira vez pra São Paulo, em 2005. Procurei o Miranda e ele disse ‘vem pra SP’. Marcou hotel, agendou show. Conheci a Lovefoxxx no Milo Garage, um barzinho legal. O Miranda tá sempre discotecando lá, e por ele eu conheci muita gente. Acho que o Nick McCarthy, no CD novo dele, que é instrumental, botou bastante coisa da gatorra. A dele é bem mais completa que a minha”. Dez anos atrás, Tony jamais imaginava que sua inquietação o levaria tão longe. Super gatorra “Sou técnico em eletrônica, trabalhei 35 anos. Até 2005 eu trabalhava com manutenção. Nas revistas tem muita coisa sobre como funciona esse negócio de timbre. Demorei mais de um ano para ajeitar como eu queria, lá por 98. Cada timbre eu sintonizo, longo ou curto”, explica com sua gatorra de guerra em punho. “Essa aqui é a número um, eu chamo ela de protótipo, toda feita com peças usadas de televisor. Eu me acostumei, então eu faço as novas, aparece comprador, eu já vou vendendo”, fala enquanto segura o instrumento que mais parece a concepção sessentista de um eletrodoméstico futurista. “Isso aqui é piso de ônibus, tudo arrebitado. Aqui é de computador, aquelas teclas antigas, comprei no ferro velho. Depois que saiu uma matéria minha no Fantástico já recebi mais de 50 emails querendo saber quanto custa. Tenho mais de 20 shows para fazer no interior de São Paulo, tem coisa a confirmar na Argentina e já está quase fechada uma turnê no Japão”. Parece que a “guitarra dos Jetsons”, além de emitir sons, também voa. > tonydagatorra.blogspot.com: Escrito a mão e publicado com a ajuda de um fã paulista.
+
19 >> noize.com.br
Texto Arturo Garziera
entrevista :::
millencolin 20
Uma das poucas bandas da ótima safra de punk rock da década de 1990 que sobreviveram à saída de moda do estilo—os suecos do Millencolin—vem ao Brasil mostrar seu hardcore melódico em hinos como “No Cigar” e “Bullion”, no melhor estilo californiano. Falamos com o baterista Larre Thrash, que contou mais sobre o disco novo dos caras, Machine 15, e sobre a vinda dos caras para o Brasil e, mais precisamente, Porto Alegre. O que há por trás do título Machine 15? Todo esse tempo juntos esvaziou seus sentimentos? Não, não esvaziou nossos sentimentos de maneira alguma. Sempre que escrevemos um novo álbum, nos damos tempo para encontrar a inspiração e novas idéias. Se não conseguíssemos encontrar essas novas idéias, essa banda não existiria mais. Machine 15 refere-se a esta banda. Somos nós, na época que escrevemos o álbum, estávamos juntos há 15 anos, sempre os mesmos caras, como uma máquina forte. São 15 faixas no álbum também… e a máquina tem funcionado, nos divertimos mais do que nunca, então nos sentimos muito bem. A banda existe desde 92 com os mesmos membros. Como explicar uma carreira tão duradoura? Ainda dá para viver da música? Somos amigos há muito tempo, então conhecemos muito bem um ao outro. E trabalhamos duro também. Tem sido muito divertido e somos muito felizes por termos podido fazer isso. Mas fomos sempre muito focados e apaixonados. Ainda conseguimos viver do Millencolin e somos muito agradecidos por isso. O que vocês têm escutado? Ouvimos de tudo, mas acho que Foo Fighters, Bad Religion, Samiam, NOFX, Beatles e Operation Ivy são bandas que nos influenciaram pra caramba. Ultimamente temos escutado bandas como Cult Of Luna, Repoman, o disco novo do Metallica, Nightmarchers, Hot Snakes, Municipal Waste… muita coisa. Como você vê a forma que o som de vocês evoluiu desde os primeiros discos?
Quando gravamos Life On A Plate nós tínhamos uns 20 anos. Machine 15 foi gravado 13 anos depois—essa é a maior diferença. Hoje tocamos melhor e temos influências mais amplas. Para um adolescente, Machine 15 pode soar mais “maduro” que Life On A Plate, compreendemos isso. Na verdade, é ótima a maneira como nossos discos soam diferentes uns dos outros, ainda assim soando muito Millencolin. É importante trazer sempre novas idéias para o trabalho, nos orgulhamos muito de todos os nossos discos. E seus outros projetos, Franky Lee, Kvoeteringen? Não sei o que acontece com o Franky Lee nem com a carreira solo do Nikola (vocalista e baixista do Millencolin). Acho que devem gravar discos novos quando acabarmos a turnê, e sei que já tem muita coisa nova para o Millencolin também. Em janeiro devo entrar em estúdio com a Kvoeteringen (em que também é baterista), já temos o disco praticamente todo composto. O punk rock dos anos 90 tinha uma relação forte com o mar e o clima tropical. Como vir de um país frio mexeu com a música do Millencolin? Na verdade eu não sei. Nós somos tão influenciados por bandas de filmes de skate e esse tipo de som tinha uma ligação forte com a cena de skate da Suécia. Fomos sempre muito abertos a todo tipo de influência. A Suécia é muito influenciada pela mídia dos EUA e da Inglaterra, programas de TV, filmes e música. Então as pessoas são muito influenciadas por isso e acaba não havendo obstáculos por essas outras coisas.
Falem um pouco mais sobre a Suécia, tem alguma dica de bandas de lá? Sim! Temos muitas bandas boas, confiram Nitad, Sista Sekunden, Skitkids, Fy Fan, The Accidente, The Pricks, Meanwhile, Victims, Switchblade, Christian Kjellvander, Kristoffer Åström, No Fun At All, Bombshell Rocks, Twopointeight, Repoman, Path Of No Return, Wolfbrigade, Social Pressure. E quais as lembranças que vocês têm do Brasil? Sim, nós amamos aí. É meio louco e os fãs brasileiros são irados.Têm sido muito divertidas todas as vezes que estivemos aí e na última vez fizemos shows bem grandes. É incrível que tanta gente goste da gente tão longe da Suécia. Quando estivemos em Porto Alegre em 98 foi demais, um baita show com uma baita atmosfera… dessa vez vai ser animal. O que vocês podem falar dessa tour? Será mais focada em Machine 15? Devemos tocar umas cinco músicas do Machine 15 e o resto serão músicas dos nossos outros discos, então será legal tanto para quem quer ouvir coisas velhas quanto para quem quer ouvir músicas novas. Para finalizar, vocês gostam de alguma banda brasileira? Sim, na maioria, grandes bandas de HC, crustcore e grindcore, como Sick Terror, Unidos Pelo Ódio, Another Day, Gritos de Alerta e Ratos de Porão. Quando estivemos aí, tocamos com bandas legais como White Frogs e Dead Fish. Estamos muito felizes com a tour pois o Brasil nos traz ótimas lembranças. 21 x noize.com.br
Foto Caroline Bittencourt Arte Noize
Texto Fernando CorrĂŞa Agradecimento Camila Mazzini
capa :::
marcelo camelo 22
Não tente compreender Marcelo Camelo—ele é o infinito. Não se trata de prepotência, de maneira alguma; você também é o infinito para ele. Em meio a tanta infinidade, conversamos com o homem que compôs sou, um disco de uma simplicidade que só as poesias mais belas possuem. Mas não espere de uma entrevista com Camelo explicações de sua obra; em vez disso, ouça e veja com sua própria alma o show que o “los hermano” apresenta no próximo dia 16 de outubro. Tua música está mais baixinha, tem momentos de silêncio, especialmente nas mais dedilhadas. Qual a importância de ficar em silêncio para ti? Ah, eu gosto, como eu mexo com música, com som, é uma contraposição importante na parada e aparece constantemente no diálogo. Não sei se do silêncio irrompem as mais belas melodias, a frase é bonita, pode ser. Agora começou a correria dos shows, mas como foi o clima de composição e gravação do sou? Cara, foi tudo tranqüilo, no maior sossego. Não teve nenhum atrito, foi totalmente pacífico. O disco tem umas músicas meio antigas, tipo “Liberdade” e “Santa Chuva”, mas boa parte do disco foi composta nesse período de recesso. Teve alguma canção do CD que saiu de uma vez só? Um pouco, “Saudade”, “Copacabana”, tem umas que vêm meio de rompante. “Liberdade” não, “Liberdade” demorou um pouco... Canções como “Passeando” se aproximam do erudito. Como um cara que não gosta de disciplina compõe essas músicas? Buscando o som, tateando. E por influência muito de Guiomar Novaes [brasileira, uma das principais pianistas do século XX], pensando no piano que eu tenho ouvido muito. É a tentativa de fazer parecido e curtir um som parecido. Vou tocando e as coisas vão abraçando umas às outras. É só não pensar muito, é difícil teorizar sobre isso. Se tentar descrever, a parada se esvai. Tem que estar distraído para a coisa.
Quando tu pega o violão, é para compor? É, o violão pra mim é meio que uma extensão do corpo, como se o corpo tivesse necessidade de emitir sons. Aí passa pelo violão e fica aquele “blemblemblem”, e você fica soprando esse “blemblem” até virar uma música. É uma relação intrínseca e natural mesmo. E as letras, quando tu compõe, cantarola e faz as letras depois? Bem isso, eu vou cantando um negócio… tem acontecido mais desse jeito, de as palavras entrarem mais pelo som delas do que por o que eu estou pensando ou querendo. Tu acha que tuas letras retratam o sentimento que originou a melodia? As coisas não são para se encerrar, o objetivo é que esses sinais, códigos e palavras apontem para um infinito de significados. Não é para representar o que eu estava sentindo, ou conjugar exatamente com a música. É para que música e letra apontem para o infinito, rodem uma em volta da outra, e o infinito é o máximo de compreensões. Que cada um veja de um jeito. E a história de que tu é a desgraça das rodinhas de violão? É verdade, mas eu aprendi que eu sou bom em tirar as músicas enquanto toco. É uma habilidade que eu não sabia que tinha e estou começando a exercer. Tem funcionado em algumas, em outras eu pago mico. As letras também, eu lembro de algumas, mas não sou virtuoso. O Los Hermanos acompanhou teu fascínio cada vez maior pela
música brasileira. O que tem nela que te encanta? Não sei, cara, mas tem alguma coisa. Acho que é a maneira que ela faz a mistura de harmonia com melodia e com ritmo. Mas pega Claudinho e Buchecha, MC Leozinho, tem algumas coisas que são tipicamente brasileiras e que ao mesmo tempo se aproximam de um negócio… um amigo meu me falou uma coisa que eu achei lindo, que o Sean Kingson, sabe [canta pedaço de “Beautiful Girls”], é o Claudinho e Buchecha. Não é demais essa comparação? É a mesma onda, mesma cara, mesmo jeito, é lindo para caramba. Não sei se é a música brasileira, necessariamente. Eu adoro Claudinho e Buchecha, adoro Sean Kingson, mas acho que tem alguma coisa com o Brasil que é diferente mesmo. A música para ti é uma coisa espiritual, expressa coisas tuas? Não, não tenho um lado espiritual… mas talvez a minha espiritualidade esteja toda na música mesmo. Acho que a própria música é um tipo de explicação. E de que maneira tocar resolve teus sentimentos? De alguma forma, o título sou reflete tu te voltando para a tua música? Eu acho que é uma tentativa de me aproximar cada vez mais da música. O negócio de tocar com uma banda de rock, tocando alto, exige uma transformação. Exige que você saia do seu estado de espírito tranqüilo. Quem cobra uma música mais agitada deveria entrar na estrada e fazer 30 shows por mês com esse espírito para ver o preço que isso cobra, do ser humano ter que se transformar no porta-voz da alegria desmedida toda noite. A minha busca, até inconsciente, é 23 >> noize.com.br
capa :::
marcelo camelo
24
me aproximar de mim, aproximar minha música de quem eu sou em casa, nos meus momentos mais relaxados, que é quando eu componho—na verdade, quando estou mais distraído de mim mesmo e em contato com o todo. Tentei aproximar a minha música disso para que o ritual de fazer um show seja compartilhado dessa sensação, e não da transformação. Esse é o momento em que eu estou agora. É leviano interpretar o poema da capa como o momento que você vive sendo o oposto do que você vivia com o Los Hermanos? Não, cara, o disco é um pouco sobre o poema. Nenhuma forma de interpretação sua seria leviana, fique à vontade para interpretar como você quiser. Mas o disco é sobre o poema, o Rodrigo é meu amigo, o disco é sobre as participações também, é sobre tudo que está acontecendo em torno dele. Não é o símbolo de uma outra coisa, é mais subjetivo do que isso. O poema me impulsionou a várias coisas, eu me voltei ao poema. O poema sugere um monte de coisas, e acho que o mais bonito é o movimento de rotação que ele sugere. Tu cita o filósofo Albert Anton Wilson e a Lógica do Talvez como importantes nesse momento em que tu compôs sou. Ele diz que a crença é a morte do saber... não devemos acreditar em nada? Hahaha. Não, quem me apresentou o Albert Anton Wilson foi o Nilsão, um amigo meu que não fala em inglês. Eu mostrei para ele um poema meu que dizia
“repórteres trabalham em nome de ter certeza a certeza trabalha em nome de ter sentido só que sentido é só apontar para outra coisa e o outro, por sua vez, é o infinito se duas coisas dão as mãos, não precisa ser verdade só bonito” que é uma parada de um outro filósofo que eu gosto, Emanuel Lévinas, que tem um conceito de alteridade, de que o outro é o infinito. Eu tinha ouvido na época que a percepção da outra pessoa sobre o mundo é o infinito. Aí o Nilson falou “pô, é totalmente Albert Anton Wilson”.Talvez esse negócio da crença que ele fala não seja a crença nos seus próprios mecanismos, não é a crença que você constrói. Muito pelo contrário, a própria Lógica do Talvez tem o exercício de usar a língua sem usar o verbo “ser”, e… até esqueci o que eu ia falar, mas tem muito da coisa de apontar a compreensão para um lugar maior do que a palavra. Aproveitando que tu falou em repórteres, que jornalista tu pretendia ser na faculdade? Tu voltaria a estudar jornalismo hoje? Eu fazia jornalismo para ser zineiro, cara, eu fazia muito zine. Acho que eu provavelmente estudaria outra coisa, já estudei de jornalismo o que me interessava estudar. Eu acho que o papel da universidade é em muita parte cumprido por ela, mas eu tenho dúvida com a idade que se faz a faculdade. Eu mesmo, com 18 anos, acho que foi meio cedo para estudar Marshal McLuhan [importante teórico da comunicação]. Eu não estava muito interessado, estava em outra. Os assuntos foram me interessar agora. Tira carteira, tem namorada, tem muita coisa do coração, da liberdade. O primeiro movimento de expansão para fora de casa. Uma pessoa que gosta de banda, na escola tem dois ou três amigos que também gostam. Na faculdade de comunicação,
todo mundo gostava de música. A experiência que você leva de dentro de um campus é 80, 90% de experiências emocionais e afetivas, e 10% é conteúdo acadêmico. É a lei da gostosura, uma coisa é muito mais gostosa que a outra. Mas o quanto tu achas que o jornalismo tem como se aproximar da arte de uma forma saudável? Essa discussão é eterna, se a crítica tem um papel ou não. Tem frases históricas engraçadas de tudo que é lado. Como banda eu promovo uma coisa, mas como espectador consumo todas as coisas. Às vezes leio coisas ótimas, que me aguçam a curiosidade e me tomam a atenção pra algo que eu não tinha notado, ou um artista que eu não conhecia, através de associações ou de um elogio muito efusivo. O que eu acho é que com a internet
fica cada vez mais claro, as pessoas vão saber ler isso melhor, todo mundo está se educando. Os bons escritores de críticas vão saltar aos olhos. Meu irmão, por exemplo, escreveu o release do disco, e é um crítico de arte impecável. Ele se aproxima do que está observando de um jeito que dá muito orgulho. Então é possível escrever um texto de arte interessante, legal. Assim como tem filmes incríveis sobre bandas, making ofs, jeitos bonitos de se observar uma coisa que vão sempre existir. O cara que senta e faz uma poesia sobre a parada. Agora, isso é talento, dedicação, trabalhar com o coração, não é pra qualquer um. Alguns têm, outros não têm. Outros têm o ego pequeno, precisam inflá-lo. Tem gente que só procura defeito, tem pra tudo que é gosto. Se todo mundo só elogiasse… acho que vai melhorar com o tempo. É difícil ser amparado como são os blogueiros, o cara escreve por que ama aquilo, ninguém tá
pagando uma grana, não tem jabá. Eles têm senso ético com a informação. Tu faz a música pensando em ti, e não num ouvinte final, e por isso as pessoas se identificam? O ouvinte final sou eu também, não é que eu não pense. Eu penso para caralho no ouvinte, eu toco a música para me deliciar com ela. Não toco para me deliciar tocando, toco para me deliciar ouvindo. Não acredito que ninguém faça uma música comercial, para vender.Todo mundo tenta fazer o seu melhor… A preocupação de o artista perder o que tinha para vender com a internet foi solucionada com iniciativas como o Sonora? O artista tem muita coisa para vender, né, sua alma hahahaha. Não, tô brincando. O disco continua vendendo, eu não quero atrasar o progresso, acho que a gente tem que se lambuzar com a internet e aproveitá-la com sua máxima potencialidade, usar de todos os jeitos que pode usar, acelerar o processo de difusão e divulgação de imagem, som, filme. Vai depurando, melhorando, o consumo da informação melhora. E como foi a experiência de produzir o disco? Foi bem tranqüilo, eu já tinha produzido o disco do meu tio Bebeto, tinha uma relação tranqüila com engenheiro de som e de gosto das coisas mesmo, de imaginar uma coisa e partir para gravar, essa parte prática também já não era muito difícil, de marcar um estúdio. Tu fala bastante em respeitar a natureza das canções. Que tipo de coisas tu fez em momentos mais afoitos que não fez agora? Talvez esse termo seja meio forte. Eu tentei fazer tudo com o mínimo de força possível. Usei toda a minha energia para resolver coisas práticas e deixei as coisas desse outro campo caminharem pela distração total. E foi bem fácil me guiar,
tocava as músicas no violão e pensava “poxa, aqui podia ser assim”; não fiz força de raciocínio para transformar as músicas em algo melhor do que elas são. As texturas que o Hurtmold imprimiu no disco resultaram diferentes do que tu esperaria? Não, pelo contrário. Eu nunca tive uma expectativa da música, sempre tive essa percepção de deixar ela livre. Cada vez que você tocar com uma pessoa diferente, a música sai diferente, muda uma tecla do jogo que é a música. As experiências se somam, se acumulam, se expandem. A melodia de “Janta” é especialmente bonita, como foi a parceria com a Mallu Magalhães? Ela vem tocar em Porto Alegre? Não, a composição fui só eu, inclusive a parte em inglês. Acho que ela não vai tocar aí. Seria ótimo poder levá-la, mas ela tem uma carreira. Sou muito fã da Mallu, apostaria todas as fichas nela. Tu tem muitas parcerias com meninas mais novas. O que isso traz para o teu trabalho? Cara, agora vou cantar no DVD da Ivete. Acho esse negócio de idade meio confuso. Eu me sinto parado no tempo desde que nasci, acho que vou morrer no mesmo lugar que eu estou vendo as coisas. Eu encontro a Clara Sverner, que é uma senhora, encontro a Mallu e pra mim não há nada que nos separe. Não considero essa entidade com a qual nego negocia. Quando existe consonância de vontade, não tem nenhuma distinção para mim. Acho inclusive que eu sinto meu coração mais tocado pelos idosos e jovens, mais do que adultos. Mas essa parada de idade é maior caô.Você encontra cara de 10 que fala como um velho, e cara de 10 que fala como um senhor de 80, bondoso, paciente. Uma pessoa em começo de carreira oferece uma visão distinta da sua, coloca você em outra perspectiva, mas o ponto chave, a luz interior que a pessoa já está ali e vai brilhar assim para sempre. 25 x noize.com.br
Texto Bruna Rangel Foto Robin Ball
reading festival
26
Fui parar no Reading Festival muito por acaso. Meses antes, eu tinha acessado o site do festival e os tickets estavam esgotados - trata-se de um dos maiores festivais do Reino Unido. Um belo dia, acabei entrando em um site que oferecia vagas para emprego temporário em um festival, e as inscrições seriam no dia seguinte. Resolvi ir ver o que era. Cheguei no endereço dado no site e logo que peguei o formulário vi que o trabalho era no Reading. Me inscrevi sem muita esperança porque tinha muita gente lá, mas na mesma semana me ligaram e dez dias depois eu já estava na van da empresa, indo pra cidade do festival. Nós fomos para lá na quarta-feira, levando tudo que era necessário pra acampar pelos três dias de shows. O nosso camping era separado de todo o resto, ficava num cantinho perto do palco principal, com banheiro e chuveiro ecológico. Montamos as barracas, ganhamos a pulseirinha que dava acesso a todas as áreas, e fomos conhecer a estrutura. O lugar era imenso: oito campings enormes separados por cores, e a arena, uma área circular onde estavam dispostos os cinco palcos, e onde havia também uma “rua” com muitas banquinhas de comida e lojas de roupas e tudo que pudesse ser necessário para os despreparados. Na quinta-feira o pessoal começou a chegar na cidade de mochilão, barraca e as tradicionais botas de chuva estampadas. Ao longo do dia os extensos gramados começaram a ficar cheios de barracas de todas as cores e tamanhos, muitas customizadas com spray com nomes de bandas, frases, desenhos. De noite, no nosso camping particular, todo mundo se reunia pra beber vinho e, também, as dezenas de latinhas de cerveja que nós encontrávamos pelo caminho durante o dia. A grande maioria do pessoal que foi assistir o Reading era daqui mesmo, mas os que foram pra trabalhar eram de várias nacionalidades. No primeiro dia de festival os shows iniciaram cedo, com as bandas menores abrindo, e já pelo meio da tarde algumas das mais esperadas começaram a tocar. Nos palcos alternativos, varias bandas
inglesas reuniram bastante gente, como Late of The Pier e Does It Offend You, Yeah?. Já no NME Stage, o segundo maior, teve Babyshambles, Vampire Weekend, e MGMT, entre outras. No palco principal, os shows mais esperados começaram no fim da tarde, com The Fratellis, que alternaram bem as músicas do primeiro e segundo álbuns em um dos shows mais animados do dia. Depois deles, subiram Queens of The Stone Age, que tiveram que dividir o público com o hypado MGMT, que tocava no palco ao lado. No fim da noite, a arena definitivamente encheu para o show mais esperado da sexta-feira: Rage Against The Machine. E eles não deixaram a desejar. A banda entrou vestida como os prisioneiros iraquianos de Guantánamo e com sacos pretos na cabeça, com a enorme estrela vermelha no fundo do palco, e fez um show enérgico e forte de uma hora e meia, com pausas para os discursos políticos do Zack de La Rocha, fazendo criticas pesadas a Tony Blair e George Bush. Sábado tive mais um dia de bastante trabalho, e acabei com o rosto ardendo e queimado do sol quando fui dar uma “descansada” na grama. O segundo dia de show deu espaço principalmente a bandas indie, com algumas exceções. No meio da tarde subiram no NME Stage Bullet For My Valentine, Manic Street Preachers, Justice e a dupla pop do momento The Ting Tings. No palco principal, tocaram The Subways, Dirty Pretty Things, We Are Scientists, e Editors, que antecederam os três shows mais esperados do dia. Já escurecia quando Jack White veio ao palco com a sua banda paralela The Raconteurs e fez um show
incrível, lotado de fãs. Depois deles, foi a vez do Bloc Party mostrar que também tinha sua legião, e tocaram tudo que o público queria ouvir, como Hunting For Witches. Mas o show mais esperado e que ia encerrar a noite era The Killers. Foi a segunda vez que eu assisti a eles, e sem dúvida não foi a última. Mesmo com o som que aumentava e diminuía o tempo inteiro, o pessoal pulava sem parar ao som de “Read My Mind”, “When We Are Young”, “Bones”, “Mr. Brightside”… O última dia, como sempre na história do Reading, deu lugar ao rock mais pesado no palco principal, com Dropkick Murphys, Tenacious D, e encerrando o festival, nada menos que Metallica. O show foi indescritível, fogos de artifício vermelhos saiam dos lados do palco nas melhores músicas. Dispensa comentários a performance e o profissionalismo de décadas de experiência, que resultou num show perfeito de duas horas, com direito a todos os clássicos: “Enter Sandman”, “One”, “Sad But True”, “Nothing Else Matters”, “Master of Puppets” e “Seek And Destroy”. No NME Stage tocaram Pendulum, Hadouken!, The Cribs e a nova The Last Shadow Puppets, banda paralela do Alex Turner (Arctic Monkeys) e do Miles Kane (The Rascals). Com uma orquestra londrina incrível de 16 integrantes, a dupla fez um show intenso e diferente de todos os outros que passaram pelo NME Stage. Outro show que merece ser comentado foi do CSS, que faz muito mais sucesso entre os ingleses do que eu imaginava. O show foi em uma tenda menor, que ficou simplesmente lotada, com gente do lado de fora vendo pelo telão, e a Lovefoxx pulando sem cansar. 27 x noize.com.br
Agradecimentos Music Box Estúdio www.musicboxestudio.com.br (51) 3325.1154
Texto Luna Pizzato
na fita
30
r Basta junta ma banda. u , r to ta n en o m m ru refa fácil r um inst sam ser ta e se saber toca d en o s, p p o s ig já o it am u cê M ores pronto: vo sim. seus melh ensaios e simples as alguns dos r para os ga , não é tão lu m m ré u am a d Po ar . tu tr ck es n e ro co o al en tro d integr róximo as espaço em turno tornar o p trabalham , encontram H re C liv N o PA p a m d te s o ri rt gu cu s O mo mesmo co música. noite, mas comum: a em ão x ai classip a m u a ar ndos, eles p s e Raimu ke estilo o St m u e h T não terem r Ramones, o r p o , p o al o s iv o n at Altern o difere ci Influenciad como Rock avo, a banda tem com y. m tr n so u u co se s ficam ista Gust batida mai ndo o baix rock uma k n u p ao exato. Segu az ado, que tr tecladista uso do tecl l Lucas e o ca vo am a/ st ri m, resolver o o guitar que tocava rgiu quand desu em as s d H o C p te u N n gr A PA eles, difere s com os r o to p ei ael a sf af ti R ad sa David, in a, consider baterista m uma band Lucas - e ra ar o ra d p rm m ão fo co m e , sair o tempo a eles o ir r e la o, b -s rt ri m d cu ra a ta mais. Jun onseguiram e do, aind Gustavo. C orgulham-s je ta o is h x ai e b s eo mento s os instru aos pouco eto. aj tr o ais ad alh am ser m porém bat ris acredit gu s “A o e: a, d b an aí cidade gr io de Gu bém” l em uma do municíp m s ca si ta re u o te d m n ra a Mo a cen pelo difere as colocar n aceitação itas pesso fácil de se r, porém a o ta que mu ai en m sc é re a o moci ac d in E ên . rr gu id se co av n co ta D , acabam o tecladis da PANe, para isso – queixasse r sucesso ão é o caso ze n fa e u e q d a a de O . sc o u sário, acim tilo própri estão em b rto, é neces os ndo um es ce te rm ri ar p ão d n m a e cu dinhas am que, par to, se não it n d le ão re ta m r ac ir s te ra do pelo ão adianta CH.Os ca é completa ilidade: “N b go sa lo n e o u sp Q tudo, re o Lucas. saios”, diz ncial”. shows e en ento é esse im et vim ro p m o “C os sobre Rafael: perguntad o s d to an je u q ro ia, tem p o realistas hoje em d cal”, s guris sã s, si O u co ? m si ú ro o m tu ei s E o fu os ao m aioria do ente ligad sica: “A m continuar ver da mú necessariam pretendem o e sã u q ão m n ta e u en . E quem q sc ro s, re o tu ac paralel ntia de fu ra grantes. E ga te a in m s u o Rock. o mas com s astros d concordam verdadeiro m a banda, m co : re o se tã e es d como o sonho ia realizar sabe um d falta ão n e o qu Atitude é
Abra. Destaque. E cole na parede.
Agenda R.E.M. Dia 6 de novembro - Estádio do São José Pela primeira vez em sua carreira, o R.E.M. toca em Porto Alegre no dia 6 de novembro. Talvez o mais interessante da passagem dos norte-americanos por aqui não seja nem o show, parte da turnê de Accelerate - último disco dos caras, lançado no início do ano. Legal mesmo é o lugar em que eles devem desfilar seus hits desde a época de Murmur (1983): o estádio de São José, o querido e velho Zequinha.
ver as horas é mais divertido Tudo indica que os “Toy-Watches”, como foram apelidados, vão se tornar os novos “Ray Bans Wayfarer”. Oprah Winfrey e londrinos moderninhos já circulam com os seus.
Preço: US$ 195,00 em www.bloomingdales.com
Tênis Art O artista Bobsmade pinta tênis e algumas outras vestimentas com perícia. Diz-se que pintar sapatos não é tarefa fácil, mas este (ou esta) estudante de artes faz o inverso do seu sabão em pó favorito, e deixa tênis brancos lindamente desenhados.
Preço: £80,00 em www.dawanda.com/shop/bobsmade
BLUSA E COLETE KING 55
A dupla bonita de colete e blusa da King 55 são uma ótima opção não só pelo bom gosto estético e a estampa bonitona do Pluto, mas pelo material: a blusa ecologicamente correta é feita de fibra de bambu.
Preço: Blusa R$ 89,00 Colete R$ 130,00 Showroom King 55 :: (51) 3022-2553
porta-copos iphone
Preço: R$ 96,00 em www.meninos.us
GRAVE CDS E DVDS BONITÕES A DYMO DiscPainter é uma ferramenta para você imprimir a arte que quiser nos discos de música, fotos ou arquivos que você queima em casa.
Preço: US$ 279,00 em www.dymo.com
minha colecao
Contrariando o senso comum de se falar sobre o gadget mais sonhado de nerds e não-nerds, fãs e não-fãs de música, optamos por mostrar essa invenção massa de toyartists brasileiros: os 16 porta-copos que imitam os ícones do supertelefone da Apple.
redescoberta RED HOT CHILI PEPPERS The Uplift Mofo Party Plan Em 1987, Anthony Kiedis e Hillel Slovak lutavam contra o vício que os levara para debaixo da ponte - inspiração para o posterior sucesso “Under The Bridge”. Mas antes disso, o Chilli Peppers ainda lançaria dois álbuns. O funk rock de The Uplift Mofo Party Plan, lançado naquele mesmo ano, é envolto em morbidez: o mesmo disco que contém a interessante versão de “Subterranean Homesick Blues”, de Dylan, e colocou o RHCP na Billboard, é o que antecede a overdose que matou Hillel e quase acabou com a banda.
.: FREDI “CHERNOBYL” ENDRES_ Comunidade Nin-Jitsu, Dj e Produtor
Jimi Hendrix_ Axis: Bold as Love “Nos anos 80, quando comecei a tocar, guitarrista bom era metaleiro de palhetada rápida. O Hendrix me mostrou o groove e o feeling, e minha vida mudou.”
estampa
do mĂŞs Marca: Sean John Onde Encontrar: Elite Fashion
x
os replicantes
estilo:mĂşsica
Fotos: Marco Chaparro Assistência de Fotografia: Lucas Tergolina Produção: Mely Paredes e Bianca Montiel Make Up & Hair: Gabi Guimarães Dir. Arte: Rafael Rocha Texto: Maria Joana Avellar Locação: Lojas França Figurino: Spirito Santo e Acervo MissinScene Agradecimentos: Fernanda Teixeira
Os maiores dinossauros do punk no Brasil são Os Replicantes, andróides idênticos aos humanos, porém mais espertos e fortes. Para quem não acredita na precisão da referência ao clássico filme oitentista “Blade Runner”, a entrevista a seguir tenta decifrar os segredos da longevidade da banda, que completa 25 anos no ano que vem. Como surgiu o convite para a Julia entrar? Cleber: A gente queria um bebê que tivesse assistido algum show. (Risos) Brincadeira... Julia: Reza a lenda que eu estava no primeiro, dormindo em duas cadeiras juntas num cantinho. Eu gosto muito deles, sempre fomos amigos. É uma responsa, tua banda preferida e, quando tu vês, tu estas nela. Heron: Quando o Wander saiu achamos que seria legal dar um choque ao invés de substituir. A gente pensou: não estamos substituindo, estamos botando uma pessoa que é baita cantora, que tem banda e nem tem como comparar. Estamos acrescentando, não compensando. Julia: Eu já cantava com os Alcalóides e aprendi a cantar querendo cantar que nem o Wander. Sempre tive um certo pé atrás com bandas com mulher. Rock de mulher é de mulherzinha, sempre quis cantar que nem homem. Dá pra viver só dos Replicantes? Cleber: Se tu quiseres passar mal, dá. (Risos) Cláudio: Tem altos e baixos. Então é mais seguro ter outra fonte de renda e levar a música como um hobbie. Heron: Eu acho que esse é um dos principais motivos pelos quais a banda existe há 24 anos, sempre foi muito mais uma diversão. Cleber: Se não é assim tem que achar uma maneira de estar sempre produzindo, gravando. Às vezes as bandas acabam perdendo seu estilo porque tem que se moldar. Heron: Isso permitiu que a gente nunca fizesse o que a gente não queria. Muitas bandas que começaram conosco que apostaram e foram para Rio ou São Paulo acabaram. E nós não. É um dos motivos da durabilidade, a gente nunca se deixou estressar pela banda, foi justamente algo para não nos dar estresse. E vocês encarnam personagem em show ou é natural? Julia: Como cantora eu sou uma grande atriz. Quer dizer, sou mais performer que cantora. Cláudio: É um personagem que existe dentro de mim, eu ponho
para fora aquele meu lado guitarrista. Cleber: É claro que tu não precisa ficar preso em um estilo.Todos nós freqüentamos outro meio, temos outro trabalho. Aí às vezes os caras perguntam: “Tu gosta de música? Qual tua banda?” Quando eu respondo “Replicantes” os caras se chocam. Heron: Um estagiário meu ficou sabendo que eu era músico, e perguntou se minha banda tinha algum CD. Quando eu falei que era dos Replicantes o cara ficou morrendo de vergonha, mas ninguém tem obrigação de saber. As pessoas fazem uma imagem de artista com vida glamurosa, sexo, drogas e rock ‘n’ roll. Vocês tem planos para a comemoração dos 25 anos no ano que vem? Heron: Agora a gente gravou nove músicas para funcionar como uma demo, divulgar, mandar para a Europa. O nosso primeiro show foi no Ocidente, em maio de 1984, e a gente já fez dois aniversários em turnê pela Europa. Se depender de nós, vamos estar lá. Cleber: Também queremos divulgar o CD pelo Brasil, pelo Rio Grande do Sul. Cláudio: Até o fim do ano que vem, a gente tem planos de fazer um show e gravar um DVD dos 25 anos.
reviews o que entra por uma orelha e n達o sai pela outra
METALLICA
OASIS
Death Magnetic
Dig Out Your Soul
A primeira pergunta ao terminar de ouvir este álbum é “onde esses caras estavam este tempo todo?”, parafraseando um amigo. O que temos em Death Magnetic é o que o Metallica nunca deveria ter deixado de ser: uma banda com uma pegada fortíssima e uma técnica fora do comum.Todos os sons lembram a melhor fase criativa da banda com Ride the Lightning, Master of Puppets e …And Justice for All. Sons como “The End of the Line”, “Cyanide”, “Broken Beat and Scarred” e o single “My Apocalypse” prendem a atenção do ouvinte a cada acorde— pesados e marcantes—, onde os integrantes mostram que estão com tudo! Não será um sucesso comercial pela longa duração de suas faixas, mas é a prova viva de que o velho Metallica está de volta. Welcome back Lars, James, Kirk and Rob! Ricardo Finocchiaro
Nem o mais aficionado dos fãs de Oasis arriscaria dizer que os últimos anos da banda chegaram aos pés daquele período em que ela consolidou o britpop na metade dos 90. Bom, eu também não desconsideraria os méritos de Be here now, que, para mim, além de ter videoclipes legais, é pop e gostoso de ouvir do começo ao fim. Daí vieram os 2000 e tudo tornou-se muito previsível, inclusive os riffs e melodias vocais. Em meio a esses altos e baixos, chega Dig out your soul. Mais um punhado de melodias que conhecemos e alguns bons momentos, pois o talento dos Gallagher nunca acaba—é inerente. Recomendaria a seqüência “I’m outta time (Get off your)”, “High horse lady” e “Falling down”. Bacana também é a abertura: “Bag it up”. Não surpreende, mas convence. Gustavo Corrêa
KINGS OF LEON Only by the Night
O Only by the Night veio para consolidar o Kings of Leon como uma das grandes bandas da atualidade. O disco mostra diversas virtudes: a banda amadureceu, as músicas são ricas, têm arranjos melhores e a voz de Caleb soa ainda mais maravilhosa. No entanto, repleto de baladas, em nada lembra os tempos de Youth and Young Manhood, que mostraram ao mundo uma banda que fazia rock como ninguém. Seria cruel dizer que esse é o pior álbum do grupo - trata-se de um grande disco -, porém enquanto Because of the Times (2007) mantinha a sonoridade única e apontava um caminho mais promissor, o que se vê agora é uma excelente banda, mas que tomou um rumo já trilhado por outros grupos. Guilherme Dal Sasso
OF MONTREAL
Skeletal Lamping
Da série “álbuns irregulares repletos de altos e baixos e genialidade eventual e impressionante”: essa é a síntese de Skeletal Lamping. Da mesma forma que a dance-indie-pop “Nonpareil of Favor” apresenta-se com o brilho que se espera de uma música composta por Kevin Barnes, “Wicked Wisdom” é uma seqüência exigente ao ouvinte, fundindo melodias e ritmos incessantemente. A boa letra de “For our elegant caste” não é suficiente para tornar essa um ponto positivo, mas em seguida vem a excelente “An Eluardian Instance”—pop com direito a solo instrumental ao estilo das bandas marciais norte-americanas. Só não desista de um álbum do Of Montreal nos primeiros 30 minutos, pois o extenso e psicodélico “Plastis Wafers” é o décimo primeiro diamante. Gustavo Corrêa
DAMN LASER VAMPIRES Gotham Beggars Syndicate
O álbum de estréia da Damn Laser Vampires, Gotham Beggars Syndicate, certamente é um dos melhores lançamentos independentes de 2008. Nas 13 faixas do disco, a banda consegue mostrar as guitarras sujas, o vocal por vezes grave e soturno e por vezes rasgado e estridente, os riffs melódicos e a bateria potente e precisa que compõem seu som singular. A euforia que sentimos ao acompanhar um show da DLV é equivalente, na medida do possível, às sensações percebidas enquanto ouvimos as polkas infernais de Gotham Beggars... O destaque para a diabolicamente bela “The devil is a preacher”, a pedrada instrumental “House of flying bottles”, a melodiosa “Bracadabro” e a seqüência “Gotham beggars syndicate”, “I wanna be an old bitch” e “Graveyard polka”. É ouvir para tremer. Gustavo Corrêa 45 noize.com.br
46
THIEVERY CORPORATION
MOGWAI
The Hawk Is Howling
cds :::
reviews
Radio Retaliation
Para a alegria de muitos fãs, o sexto disco (excluindo EPs e trilhas sonoras) da banda escocesa representa um retorno à forma. Apesar do lado eletrônico desenvolvido nos últimos anos estar presente em faixas como “The Sun Smells Too Loud”, o Mogwai voltou a trabalhar com timbres ásperos e uma sonoridade raivosa e crua que até aproxima a banda do metal em alguns momentos, como em “Batcat”, o primeiro single. De resto, pode-se dizer que a banda segue aperfeiçoando a fórmula do post-rock que ajudou a solidificar, alternando passagens singelas com outras explosivas. Antônio Xerxenesky
Em seu quinto disco, o duo mais cool da world music bota na roda um soundclash étnico irretocável. Além dos brethrens & sisthrens sempre metidos com a “corporação”, participam deste álbum nomes como Seu Jorge, Anoushka Shankar e o rei do afro-beat nigeriano, Femi Kuti. Ouvintes antigos, com tímpanos condicionados pelas voltas ao mundo anteriores, certamente conhecem bem o trajeto apresentado em Radio Retaliation. Ainda assim, este continua sendo um vôo delicioso, temperado com uma mensagem política sutilmente espraiada pelas faixas, mesmo quando se trata de puro gozo instrumental. Lucas Corrêa
DiscografiaBásica Murmur
O disco de estréia da banda formada por amigos de Athens, Georgia - causou alvoroço na crítica e no público por uma fundamental razão: ali se estavam estabelecendo os primeiros diálogos entre o rock alternativo e o valoroso mainstream. As obscuras letras de Stipe e o jeito largado de tocar guitarra de Buck causaram tamanho impacto em 1983 que a revista Rolling Stone escolheu Murmur como o álbum do ano, deixando para trás os indiscutíveis War, do U2, e Thiller, de Michael Jackson. Músicas como “Radio Free Europe”, “Catapult” e “9 - 9” demonstram prematuramente a complexidade que o REM iria desenvolver ao longo da carreira. Indo contra a onda da época, a banda recusou-se a gravar solos de guitarras e a utilizar sintetizadores. Alguns afirmam que se Murmur não tivesse sido lançado, a importante cena musical de Seattle, no início dos anos 90, poderia nunca ter ocorrido.
por Daniel Rosemberg
ARMIN VAN BUUREN
A State of Trance 2008
Em A State of Trance 2008, Armin Van Buuren apresenta duas propostas de set. O primeiro CD, “On the Beach”, promete uma seleção de músicas mais lounge, coisa que fica na promessa, pois com um set carregado de vocais longos e repetitivos e uma misturança de estilos, o clima praia é deixado de lado. No segundo CD, “In the Club”, a idéia é um set com mais pegada, e neste Armin esquece um pouco dos vocais e deixa o set mais sério - e previsível. Do feijão-com-arroz, sabemos que Armin é capaz, ele deveria fazer valer seu título DJ número 1 do mundo, segundo a DJ Mag inglesa. Cristal da Rocha
R.E.M.
Out of Time
Interligando a trilogia composta pelos excelentes Green e Automatic for the People, Out of Time é o mais bem sucedido álbum do REM. Com uma sonoridade amadurecida, harmonias aprazíveis, mandolins e pencas de prêmios Grammy, os rapazes aumentaram consideravelmente sua popularidade. Out of Time, lançado em 1991, alcançou o posto máximo nas paradas, vendendo cerca de doze milhões de cópias. As primeiras notas de “Radio Song” introduzem uma das mais belas composições do rock contemporâneo. No desenrolar da gravação surgem as incansáveis “Losing My Religion”e “Shiny Happy People“. O fechamento proporcionado por “Me In Honey” dá vontade de colocar o disco para tocar de novo. Ainda influente, forte e sincero, o álbum é a pedida certa para um contato inicial com a banda. Monster
Em 1994, após uma série de trabalhos concisos e de ampla aceitação, o REM renovou-se ao lançar Monster, um disco repleto de guitarras distorcidas e arranjos de rock. Ironicamente, num álbum nomeado “Monstro”, Stipe assume em suas letras o papel de diversas celebridades. Monster foi dedicado aos recém falecidos Kurt Cobain e River Phoenix, estreando em primeiro lugar na Billboard. A banda foi alvo tanto de elogios quanto de críticas em razão de sua radical mudança estética e sonora. Independente do posicionamento, todos concordam que o REM foi ousado ao lançar um disco tão diferente dos demais, os quais vinham dando muito certo para a indústria fonográfica. Dos diversos hits, destacam-se a instigante “What’s the Frequency, Kenneth?” e as barulhentas, porém melodiosas, “Crush with Eyeliner” e “I Took Your Name”.
NINA SIMONE
É difícil estragar um DVD quando a artista em questão é uma das maiores intérpretes da história da música. Os 63 minutos dos dois shows presentes neste disco, na Holanda, em 1965, e na Inglaterra, em 1968, mostram bem o espectro ocupado por Nina Simone na música do século XX. Seja ao piano, seja cantando, ela transita com facilidade entre o terreno do jazz e do folk, e interpreta músicas que, na intensidade de sua voz, ganham vida nova. É o caso de “The Ballad Of Hollis Brown”, de Bob Dylan. O lado ativista de Nina é lindamente expressado em “Mississippi Goddam”. Esteja preparado para descargas massivas de emoção. Mas, afinal, não é isso que buscamos em Nina? Fernando Corrêa
DA GUEDES Acústico
Um trabalho que marca para sempre a história do rap gaúcho: o DVD acústico do grupo de ponta do estado, Da Guedes. No palco do bar Opinião, Dj Deeley e 12 músicos, incluindo guitarrista, baterista e violinista, além de três das melhores vozes da capital gaúcha. Na rima, Baze e Gibbs, que em duas horas recebem muitos convidados. Destacam-se canções com a musicalidade renovada: “O Tempo Passa” começa com um dance hall e passa para um drum and bass. Ganha espaço também o melhor elemento da música brasileira: o samba. Como em “Jogo da Vida”, que tem muita cuíca e os MCs sentados nos tradicionais banquinhos dos acústicos. A “Jornada” tem a inusitada presença da bateria da Imperadores do Samba e as mulatas, que participaram do clipe que concorreu no VMB da MTV em 2005. O único problema é que o DVD, segundo Baze, pode marcar o fim do Da Guedes. Mas se for assim, não poderia acabar melhor a história do grupo, que contribuiu muito para a história do hip hop nacional. Carol Anchieta
JOBIM, VINÍCIUS, TOQUINHO E MIÚCHA
::: dvds
Live in ‘65 & ‘68
Live @ RTSI
No ano em que a bossa nova completa seus polêmicos 50 anos de existência (há quem diga que são mais, há quem diga que são menos), e no mês em que Miúcha faz turnê nacional passando por Porto Alegre, o resgate deste show vendido a menos de R$ 10 em lojas de departamento é uma tentação. Explico: este DVD já foi motivo de briga judicial entre familiares dos músicos e a produtora que o lançou, na época, em bancas de revista. Agora ele volta a ser vendido por preço de banana. Nessa apresentação histórica e etílica, um quarteto da elite musical tupiniquim apresenta-se em um especial de TV diante de uma platéia de italianos desconfiados. O repertório é abrangente a ponto de a memória de Miúcha não acompanhar as letras das línguas soltas de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. A festa começa com “Samba de Orly” e “Tributo a Caymmi”, belamente executadas por Toquinho e passa pelas parcerias com Tom Jobim, quando o maestro adentra o recinto para tocar “Desafinado”. Por vezes aparentando estarem quase todos bêbados, enfileiram hits. Parece uma alucinação oitentista, mas é um show repleto de bossa nova e tijolos da MPB. Estão lá também, em espírito, boiando no clima etéreo do acontecimento, Baden Powell, Dorival Caymmi e tantos outros deuses da nossa música. Baden recebe uma homenagem especial, um dos melhores momentos do DVD, com a trinca “Berimbau”, “Consolação” e “Canto de Ossanha”, os famosos Afro-Sambas compostos em parceria com o poetinha. O clima festivo no palco rende alguns momentos engraçados, como quando o poeta diplomata, de certa forma mestre de cerimônias da noite, sai do palco e, quando volta, se dá conta que está falando em inglês com a platéia. Mas a fala mais significativa dentro do contexto da noite acontece quando o mesmo poeta, ao anunciar que a próxima música seria “Água de Beber”, deixa claro que a água de beber não é a água normal, mas a amarelada que banha os cubos de gelo em seu copo. Fernando Corrêa
SUCO ELÉCTRICO Suco Eléctrico
A linha de baixo electro de “Oh, yeah!” e a progressão de acordes que remete aos mentores Os Mutantes mostram que o primeiro álbum da Suco Electrico vai ser do caralho. Mesmo quando o som aponta para outros caminhos, a expectativa é raramente frustrada. As melodias vocais passeiam entre o rock e a MPB com a mesma leveza que os timbres alternam entre os amplificadores valvulados e a ambientação oitentista das guitarras e sintetizadores dos anos 2000. Tudo isso numa mistura pop saborosa para ser apreciada sem moderação.
CINE DISCO
Baile de Gramofone
Embora com uma proposta menos “adolescente”, Baile de Gramofone é um daqueles discos que já vem ao mundo precisando provar não ser mais do mesmo. O “mesmo”, nesse caso, é o emo que voltou à tona em pleno século XXI.A Cine Disco diferencia-se, na medida do possível, ao incorporar barulinhos diferentes com a técnica de circuit bending, mas pára por aí. Sendo o mais interessante o tratamento dado ao encarte (em forma de livro e com belo design, que na edição de luxo vem acompanhado de um pote de Lego), Cine Disco é mais do mesmo, com algo especial.
47 noize.com.br
de Fernando Meirelles (2008)
reviews cinema :::
Divulgação
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
48
CANÇÕES DE AMOR de Christophe Honoré (2008)
só se materializa à sua frente depois de ter esbarrado nela, recriando visualmente a sensação de cegueira. A fotografia do também brasileiro César Charlone reforça o branco e o cinza do cenário e a sensação de isolamento conseqüente. Na segunda parte, em que os personagens exploram as sobras do mundo exterior (parcialmente filmado em São Paulo), é onde o filme dialoga com um conjunto recente de obras nascidas na esteira do 11 de setembro, um cinema pós-sociedade, de filmes como Guerra dos Mundos ou O Nevoeiro. Samir Machado
O NEVOEIRO
Divulgação
A nova obra de Christophe Honoré, o filme-musical Canções de Amor, recria preceitos da nouvelle vague e encanta, não coincidentemente, pelos seus temas de amor. Vencedora do prêmio César no quesito trilha sonora, a produção retrata a história de três jovens vivendo um triângulo amoroso na Paris de Nicolas Sarkozy, que culmina em uma tragédia repentina e sugere uma provocante relação homossexual. As agruras deste amor acabam por resultar em um manifesto sincero musicado pelos personagens. Estas belas canções de amor, executadas pelos atores em cena, têm autoria do compositor Alex Beaupain (o mesmo de Em Paris, também dirigido por Honoré), e estão carregadas de sentimentalismo, tanto na sonoridade evocada quanto nas frases muito bem construídas. Canções de Amor é um filme para ser apreciado em doses homeopáticas, atentando para as múltiplas citações a grandes mestres do cinema e para as deslumbrantes locações da capital francesa. Em tempo: vale conferir Ensaio sobre a Cegueira, prestando atenção na trilha sonora - assinada pelos mineiros do Uakti, grupo instrumental que utiliza equipamentos nada convencionais construídos por eles e que têm por base tubos de PVC, pedras, vidros e água. Marcela Gonçalves
Adaptar uma obra que trata, justamente, da falta de visão, para um meio essencialmente visual como o cinema já é um desafio e tanto, mas Fernando Meirelles soube encontrar soluções inteligentes para transmitir na tela a sensação de isolamento e descida ao inferno vivida pelos personagens de Ensaio Sobre a Cegueira, adaptação do livro homônimo do português José Saramago. Quando uma epidemia de cegueira branca assola uma cidade anônima, um grupo de pessoas é isolado num manicômio abandonado, tendo como líder a única pessoa capaz de ver (uma interpretação visceral de Julianne Moore). O filme se divide em dois momentos: o primeiro, com o isolamento dos personagens anônimos num microcosmo de sociedade onde a autoridade formal é banida, e—como sempre—o abuso de poder se impõe ao caos na forma do personagem de Gael Garcia Bernal. E é nos pequenos detalhes que Meirelles mostra sua inventividade: uma cena banal mostra um menino cego caminhando por uma sala, até esbarrar numa mesa—mas a mesa
de Frank Darabont (2007)
Filmes baseados em livros de Stephen King são tão freqüentes e oscilantes de qualidade, que quando surge uma boa adaptação, deveria soar um alerta a fãs do autor e de bom cinema. É o caso do excelente O Nevoeiro, dirigido por Frank Darabont (que adaptou do autor Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre). Na típica cidade de interior, um nevoeiro surgido após uma noite de tempestade isola os clientes de um supermercado dentro da loja. Do lado de fora, há criaturas que matam quem sai e, da mesma forma como em Ensaio sobre a Cegueira, não demora a surgir uma ameaça interna, a Sra. Carmody (Marcia Gay Harden): conforme o fanatismo religioso dela conquista adeptos, cresce a dúvida
de quanto tempo o vidro da fachada do supermercado irá agüentar. Herdeiro de clássicos do suspense como Os Pássaros ou O Enigma de Outro Mundo, é um filme que não tem medo de trazer um dos finais mais corajosos e impactantes do cinema recente. Samir Machado
Mamma Mia! é a adaptação para o cinema do musical baseado nos sucessoa do ABBA. A comédia conta a história de uma garota (Amanda Seyfield) que cresceu sem conhecer seu pai e, às vésperas de seu casamento, convida os três possíveis genitores (entre eles o desafinado Pierce Brosnan) para passarem a festa no hotel de sua mãe (a afinada Meryl Streep). Todas as cenas musicais envolvem elementos que beiram o pastelão - mulheres saltitam em direção à praia em “Dancing queen”, surfistas dançam com pés de pato em “Lay all your love on me”. As músicas aparecem adequadas ao roteiro, e quem as desconhece acharia que foram feitas para o filme. Quem conhece, lá pelas tantas sentirá falta de “Waterloo”; mas ela está presente e garante boas risadas. Guilherme Smee
Sete diferentes mostras, todas gratuitas, com 98 filmes em 70 sessões. Isso é só um pouco do que vai rolar de 11 a 17 de outubro no CineEsquemaNovo 2008, que apresenta uma seleção com o melhor da produção audiovisual brasileira atual. Entre as quatro categorias das mostras não competitivas, o destaque fica com as Sessões da Meia Noite e com a Mostra Mão Dupla, que mostra a relação entre cinema e outras formas de arte. Já as mostras competitivas estão divididas em três categorias e contam com um júri oficial, outro popular e mais um composto por alunos da oficina de crítica cinematográfica. Os filmes vão rodar no Cine Santander Cultural, na Sala PF Gastal e nos auditórios das universidades Ulbra, ESPM, Famecos e Fabico.
em Porto Alegre, de 11 a 17 de Outubro
BAIXE
Games BATMAN LEGO Batman LEGO segue a linha dos anteriores da série, mantendo os mesmos defeitos de jogabilidade – como a dificuldade para se executar certos pulos, alguns enigmas sem sentido e uma péssima I.A. – e o mesmo divertimento. Ele apresenta uma história própria, com todos os vilões que fizeram parte dos filmes do homem-morcego, o que torna a obra característica por si só. Quem o joga deve esperar um jogo simples, que proporcione um momento agradável ao jogador. Os gráficos são bons, levando em conta que os personagens são bonecos LEGO. Nas cutscenes, chama a atenção a inexistência de diálogo – o que ao torna a cena menos inteligível – e o humor bem trabalhado.Trata-se de um jogo com defeitos repetidos nas seqüências do estilo LEGO, mas, por outro lado, é um game que esbanja divertimento e beira perfeição em sua simplicidade. Eduardo Dias
cinema ::: internet ::: games
CINE ESQUEMA NOVO
de Phyllida Lloyd (2008)
Foto Games: Reprodução
Divulgação
Divulgação
MAMMA MIA!
ASSISTA videos do mes
musicas do mes >> Britney Spears Womanizer Como todos os singles estreiantes de Britney, “parece” estranho à primeira ouvida. >> The Killers Human Uma mistura de Johnny Cash e Pet Shop Boys, como o próprio Brandon Flowers a definiu. >> Zeca Baleiro Toca Raul Zeca entra na onda e se junta aos marmanjos da platéia nessa homenagem a Raulzito.
>> Justice Electric Feel (MGMT) A versão remix já é mais ouvida que a original, do MGMT, no last.fm.
Agradecimentos à JP Eletrônica – Assistência Técnica :: www.jpeletronica.com.br Pça. XV De Novembro, 66 – Sala 1010 - Porto Alegre :: Tel: (51)3012.8721 | 9129.9399 49 noize.com.br
reviews shows :::
BEN HARPER
Pepsi on Stage, 30 de Setembro
São 22h no painel do carro. Eu entro no Pepsi On Stage pela porta da imprensa, bem do lado do palco. Os aplausos chamam Ben Harper & The Innocent Criminals muito antes de o show começar. A banda dos criminosos inocentes entra em cena, um integrante por vez. Ben Harper caminha em direção ao microfone. Dedilha a guitarra. Eu olho para o lado e só vejo dedos e mais dedos, todos com o maior desejo do mundo de dedilhar aquela mesma guitarra. É Ben Harper, a cinco metros de mim, e o show acaba de começar. Muita gente grita e outras aparentemente perdem o controle quando “Brown Eyed Blues” começa a soar. Leon Nobley está atrás dos companheiros de banda, mas seu solo de percussão invade o galpão lotado. Será que Harper vai cantar alguma música sem microfone hoje, como no ano passado? O mais instigante é que ele faz em média 150 shows por ano, fico pensando quantas vezes ele já tocou “Diamonds On The Inside”. E “Burn One Down”? A iluminação é toda vermelha, verde e amarela, e neste momento a banda introduz o solo de “With My Own Two Hands”. É o refrão, e Ben Harper joga as mãos pra cima repetidamente, assim como todo o Pepsi On Stage. Todos saem do palco. Ben Harper, sem a banda, retorna. Ele está tocando “Power of The Gospel” no violão. Ele está enlouquecido e transmite uma energia incrível, a cinco metros de mim, com as veias do pescoço saltadas, a testa suada, a voz alterando tons do grave para o mais agudo. E mais agudo ainda. A banda volta, Harper vira os microfones
para a platéia e diz “I know there are singers here. Who wants to sing?”, e começa “Boa Sorte, Good Luck”, que gravou com Vanessa da Mata. O público está delirando. Foi a última música. Estará alguém decepcionado por ele não ter cantado “Sexual Healing”, ou sem o microfone? Agora, a banda está reunida no centro do palco, um ao lado do outro. Já faz dez minutos que Ele está falando e agradecendo. Eu estou pensando sobre o porquê do nome “The Innocent Criminals”. Concluo que eles cometem crimes contra as nossas barreiras. Convidamnos para mudar o mundo, inocentemente. Uma camiseta voa no palco. Ben Harper amarra-a na cabeça. Encerra seus agradecimentos. Sai do palco como que dizendo “I can change the world with my own two hands”. Fernando Ribeiro H. Giuliano Cecatto
MIDNITE
Arlise Cardoso
50
Bar Opinião , 11 de Setembro.
Dia 11 de setembro, em Porto Alegre, teve show do Midnite, banda de reggae das Ilhas Virgens. O objetivo do show foi o lançamento do novo álbum de 2008, Live 94117. Apesar de ser a apresentação deste novo CD, tocaram diversas músicas já bem conhecidas do público. Abriram com a música “He is Jah”, do álbum de 2003 com mesmo nome. Clássicas como “Ras to the bone”, do álbum Jubilees of Zion de 2000, “Is Real”, do CD Rule The Time de 2007, entre outras que fizeram o público delirar, como “New Life”, “I Chant” e “Proceed”. Formada por Vaugh Benjamin no vocal, Ron Benjamin no baixo e backing vocal, Sly na bateria, Edmund na guitarra base, Kenny Byron na guitarra solo e Ankh Watep nos teclados, a banda surpreendeu o público com “No Rest for the Weary”, tocada pela primeira vez no Brasil e que só é mostrada ao vivo. O Midnite fez um show hipnotizante; não acho outra palavra para resumir o som que fizeram no Opinião. O estilo de reggae da banda de St. Croix é cada vez mais admirado, criando uma corrente de fãs muito grande, que pode ser vista em uma noite de bar lotado. O show teve aproximadamente 3 horas de duração. Comparando com o show anterior de Porto Alegre,
achei a banda muito em cima, sincronizada—fora a simpatia e carinho que tiveram com o seu público. Esperamos mais reggae roots desta qualidade por aqui. É sempre bem-vindo. Claudia Mello >> Eu
Fui
“Não mandaram muito as antigas, mas a galera estava em transe total, mesmo sem conhecer as novas” Giovanni Franceschetto_ Publicitário
Felipe Neves
::: shows
THE HIVES
Teatro do Bourbon Country, 8 de Setembro
Classificados como a oitava melhor banda do mundo ao vivo pela revista Spin, a impressão após o show do Hives é outra: eles são os melhores. No Teatro do Bourbon, o suspense torna-se insuportável quando as caixas de som começam a tocar “A Stroll Through Hives Manor Corridors”, música do álbum mais recente da banda. A estranha música inquieta o público, mas nada da banda no palco. Então entra Nicholaus Arson. Ele abana para a platéia, pega a guitarra, analisa-a um pouco e bota a correia. Sopra seus dedos e só então rasga o sinistro som das caixas com os efeitos de seu instrumento que introduzem “Hey Little World”. As luzes começam a piscar freneticamente, o resto da banda entra e começa um show explosivo. A música que abre o show parece não ser o suficiente para esquentar a fria noite de segunda-feira. Parte do público é contagiada na hora pela vibração da banda, porém a maioria das pessoas observa com desconfiança o início do show. Para incendiar o espetáculo, tocam em seguida um de seus maiores hits: “Main Offender”. E acertam em cheio. O show parecia ter chegado ao clímax logo na segunda música, mas talvez seja impossível falar de clímax quando se trata de uma apresentação do Hives. A cada música, uma nova onda de energia e euforia toma conta dos fãs. Intercalando as músicas estavam as palavras de ordem do megalomaníaco vocalista Pelle Almqvist. Claramente inspirado em frontmen históricos, como Iggy Pop e Mick Jagger, Almqvist é estupendo. Seus pulos e gestos ganham a simpatia do público com extrema facilidade, e como se não bastasse, Pelle ainda fez questão de aprender frases em português, como “GRITA AÍ” e “TIRA O PÉ DO CHÃO”, proferidas de cima das caixas de som. O guitarrista Nicholaus Arson também é um show à parte. Descrito por algumas pessoas como o “Jerry Lee Lewis da guitarra”, Arson possui um repertório de caretas e gestos que se equiparam ao repertório musical. Se parecia impossível falar de clímax do show, na verdade ele existe: “Return the Favor”. Anunciada como a última música da noite, o coro “ooo oooo” era cantado com grande empolgação, tanto pelo público como pela banda, inúmeras vezes. Quando parecia que ia acabar, Pelle dizia: “Querem mais uma? Vamos mais uma?”, e lá ia mais uma vez o refrão. Quando finalmente saíram do palco, era óbvio que voltariam, pois não haviam tocado “Hate to say I told you so”. Para espanto geral, a banda volta e toca, mais uma vez, o refrão de “Return the Favor”. Genial. Para fechar o bis, “Bigger Hole to Fill”, a enlouquecedora “Hate to say…” e para finalizar a noite em que o Hives deu aula de como se faz rock’n’roll explosivo, “Tick Tick Tick Tick… Boom!” Guilherme Dal Sasso 51 noize.com.br
ATRAÇÕES METÁLICAS
Saudações, amigos headbangers!!! O que nos espera em termos de shows pesados este ano ainda? Por ora só novembro mesmo, com Judas Priest e Nightwish (com nova vocalista) estão confirmados. O primeiro no Teatro do Bourbon (melhor casa de shows da cidade) e o segundo ainda sem local definido. Fora isso, o que está por vir de bom mesmo é só em 2009, quando o mega festival metálico Wacken Open Air, originário da Alemanha, virá fazer uma edição no Brasil em maio, lá em Sampa. Prometem trazer atrações de peso e já se fala em bandas como Metallica ou AC/DC. Vamos aguardar e torcer os dedos; o país está carente de grandes festivais assim. A última tentativa foi o Live n’
Louder que só teve edições em 2005/2006. Falando em shows, ouvi muitas reclamações a respeito de preços de ingressos dos shows e festas pesadas da capital. Parei para pensar se as pessoas estão com razão—é natural querer proteger o seu bolso. Por outro lado, é reclamação demais, galera! Comparei com ingressos de jogos de futebol e cinema aos finais de semana, na proporção que eles ocorrem, tendo em vista o custo-benefício, pagar em média uns R$60,00 para assistir a um show gringo não é de se reclamar. Afinal, você está adquirindo cultura ao ir a um espetácul. Valorizem, não é apenas a música, é todo um contexto. Na próxima coluna falarei mais sobre isso. Horns up!!!
ELE RIMA... E RIMA MUITO.
Peço licença ao rap gaúcho para falar do que não é feito aqui. Muita gente (ou todos) no rap conhece Marcus Vinicius Andrade, o Kamau, talvez mais conhecido aqui no Sul pelo trabalho com o grupo Conseqüência, ou com o Simples, que tocou aqui no Garagem Hermética no ano passado. Kamau rima—e sinto muito, mas ele rima muito, alguém discorda? Duvido muito. Mas ele também escreve e ele também produz. Quer mais? Ele também anda de skate, e aproveita o talento na rima para narrar campeonatos. Fora dos palcos Marcus Vinicius fez faculdade de matemática, morou fora de casa para poder estudar e põe a mão em tudo que diz respeito ao trabalho produzido por ele, desde as letras até a
THE ROCKERS STORY
“The Mystic World Of Augustus Pablo: The Rockers Story”—este é o título da caixa que contém 4 CDs e um DVD que conta a trajetória do músico que inseriu a escaleta no reggae. Horacy Swaby, mais conhecido como Augustus Pablo, nasceu em 1953 e começou sua carreira musical em 71, quando gravou o single Iggy Iggy. Descoberto pelo produtor Chin Loy, que denominava todos os instrumentais que gravava de Augustus Pablo, resolveu designar este nome a um só artista. Foi desde então que o nome Horacy Swaby deixou de existir para o meio musical. A homenagem da gravadora Shanachie, que tem os direitos autorais de todas as obras de Augustus Pablo, foi feita através
desta caixa que traz mais de 60 faixas de músicas, algumas mostrando o desempenho de Horacy e outras que ele produziu, de músicos como Hugh Mundell, Junior Delgado e Delroy Williams. O DVD tem 20 minutos de duração, mas já traz uma bela noção do que era este mestre que tornou um instrumento de criança em um instrumento hipnotizante para o reggae. Este tributo foi um dos trabalhos mais bem feitos da cena reggae jamaicana. Podemos, ainda, saber um pouco mais da vida e obra deste artista que morreu em 1999 através de um livreto contendo fotos e histórias de Augustus Pablo. Aqui no Brasil a caixa pode ser adquirida através de sites especializados.
divulgação. Mas a última conquista é o primeiro disco solo chamado NON DUCOR DUCO, que é o lema da Cidade de São Paulo (em latim) e significa “Não sou conduzido, Conduzo”. Com 17 faixas e muitos convidados tão interessantes quanto ele, como Thalma de Freitas e a última grande perda do rap nacional, DJ Primo, falecido em setembro deste ano. O lançamento é outro detalhe interessante: não foi em balada ou em show, mas com uma audição pública! É assim: o público ficou até o final ouvindo e “avaliando” o resultado do disco. Bom, não tem opinião melhor, não é? Avalie você em myspace. com/kamau76.
EM CENA, COM MÚSICA
Dizem que a canção é a educação sentimental dos brasileiros, e eu acho uma boa maneira de expressar o que certos compositores representam para nós. No mês em que Cartola – nascido em 11 de outubro de 1908 – completaria 100 anos, especialmente, faz todo o sentido. Homem simples, Cartola trabalhava como pedreiro e, apesar de ter concluído apenas o primário, fazia questão de falar bonito em tempos em que ser poeta era mais digno que ser letrista. Foi um dos responsáveis pela consolidação do que chamamos de canção brasileira, com duração em torno de três minutos, relação indissociável entre letra e música e uma presença marcante na história da cultura do país.
Neste universo, Cartola se insere como um professor que, do alto de sua experiência de vida, explica ao interlocutor sobre a ordem natural das coisas do amor em “Acontece”, analisa as implicações da união matrimonial em “Nós dois” e ainda escolhe as palavras mais profundas para aconselhar a filha prostituta sobre as desventuras da vida em “O mundo é um moinho”. Se, enquanto vivo, Cartola passou por período de obscurantismo absoluto, em que o julgavam morto, depois de falecer, ganhou vida em suas linhas melódicas que são parte do imaginário musical dos brasileiros que, em seu centenário, ainda têm sua sensibilidade à disposição dos ouvidos.
EMPÓRIO
Sexta–feira, 12 de setembro de 2008. Sem acreditar muito, encontrava-me na Rua Maria Quitéria, 37, Ipanema, Rio de Janeiro, em um lugar clássico alternativo do nosso Brasil: o Empório. Recebi um telefonema do meu irmão às 23h do dia 10 de setembro, dizendo que tinha comprado uma passagem de ida e que eu não poderia recusar o convite de passar essa semana na cidade mais do que maravilhosa. Fiz questão de ir ao Empório, ponto de encontro dos fãs de rock, de blues e de música eletrônica. No térreo, as noites são animadas por DJs de vários estilos musicas. No andar de cima acontecem eventualmente shows, na sexta e no sábado, com cobrança de ingresso entre R$ 8 e R$ 10.
Os fregueses aproveitam a trilha sonora beliscando a porção de lingüiça acebolada ou a tábua de frios com cesta de pães e molhos de alho ou ricota. O chope e a cerveja especial são consumidos em larga escala. Falando nisso... Com referências acentuadas de Incubus, MUSE, The Mars Volta e Taking Back Sunday, a carioca R.Sigma persegue um som próprio, com um repertório agressivo que traz embutida a visão crítica de uma geração injustamente taxada de alienada. Na bagagem, uma série de shows e festivais, incluindo o concorrido TIM MADA 2007, que gerou o clipe de F.E.S.T.A. myspace.com/rsigma
THE BIG BLACK COX
Carl Cox vem aí! O mito das pistas de dança desembarca em Porto Alegre dia 14 de novembro, 4 anos depois da sua última tour pelo Brasil, que havia passado por Curitiba (onde eu tive o prazer de participar), Maresias e Rio de Janeiro. O DJ é uma espécie de Deus e seu contato com a música é desde muito pequeno, quando ao invés de brincar com carrinhos, preferia o contato com os discos de vinil do seu pai. Hoje Carl já passou dos 50 e continua com o espírito muito jovem, associando toda a sua experiência à frente de pistas enlouquecidas pelo mundo inteiro para se manter como um dos principais DJs do mundo. Dono de um carisma impressionante,
NIRVANA E Michael Azerrad
Mês interessante para quem gosta não só de ouvir, mas também de ler sobre punk e derivados. Anos atrás, muito ouvi que o melhor livro sobre o Nirvana não foi traduzido para o português. Um que li, chamado Mais pesado que o céu, uma biografia de Kurt Cobain, dividiu opiniões em virtude de um certo exagero no caráter ficcional da obra, na qual o escritor Charles R. Cross permitiu-se supor determinadas emoções e sentimentos baseados nas ações de Kurt. Agora, finalmente chega ao Brasil a tradução de Come as you are – A História do Nirvana, do escritor, jornalista e músico Michael Azerrad. Apontado como a mais fidedigna de todas as obras que abordam a banda de Seattle, o livro tem
como maior credencial o fato de reunir depoimentos de Kurt, de Dave e de Chris.Vale, no mínimo, alguns pontos nos critérios fidelidade e veracidade, especialmente quando abordadas questões polêmicas como o vício de Kurt em heroína e seu suicídio. Sobre Michael Azerrad, ressalto que o cara tem no currículo um livro chamado Our Band Could Be Your Life: Scenes from the American Indie Underground, 1981-1991. Na obra, capítulos sobre as principais comunidades underground dos EUA e suas bandas. Estão ali, por exemplo, Fugazi, Sonic Youth, Minor Threat, Hüsker Dü, The Replacements, Dinosaur Jr., Mudhoney e Black Flag. Instigante, porém, infelizmente, para esse não tem tradução.
muito inteligente e articulado, Cox é sempre muito acessível. Em uma recente entrevista para uma revista inglesa e questionado sobre os SuperStarDJs ele diz que é muito feliz, ama o que faz e deixa transparecer isso quando está tocando. Cox elogia a Pacha de Ibiza e diz que ali foi um passo importante para muitos DJs tornarem-se pop stars, inclusive ele. A casa tornou-se referência e os DJs que ali tocavam apareceram para o mundo, pois o mundo passa por Ibiza. Freqüentador desde 1984, o DJ diz que a ilha é fator importante para a música eletrônica, mas que devemos cuidar da cena Club, pois é ali que tudo se desenvolve. Que venha o Mito!
CAGANDO NA PRÓPRIA CABEÇA
Não teve pra ninguém. Não teve pro Cold War Kids (com o novo Loyalty to Loyalty, vazado na internet há algumas semanas) e nem pra todos os outros álbuns bacanas que saíram. Escolhi um que também poderia ser resenhado pela minha colega da coluna “MPB”: o aguardado álbum solo de Marcelo Camelo, intitulado sou. Sinto-me no direito de escrever sobre esse álbum porque falar que é um disco de MPB, nova MPB ou qualquer rótulo com essa sigla é pouco, pois Camelo vai além e faz um álbum super contemporâneo, sem ser chato/ pedante e conseguindo ultrapassar as barreiras destes rótulos. Claro que eu não vou ser besta e deixar de dizer que há influên-
cia da paulistana Hurtmold, sua banda de “apoio”, que ultrapassa o termo rock, caminhando no post-rock e onde mais quiserem encaixá-los. As faixas “Tudo Passa”, “Janta” (dueto com a “myspace-star” Mallu Magalhães) e “Copacabana” já dizem bastante sobre o álbum, que pode ser baixado na íntegra em sonora.com.br/marcelocamelo. Ah, e falando em integrante do Los Hermanos, procurem no Myspace por “ Little Joy”, BAITA projeto do Amarante com o Fabrício Moretti (que, se alguém não conhece, não vou explicar quem é). O myspace desse projeto: myspace.com/littlejoymusic
53 x noize.com.br
quer mais? noize.com.br
x
Ilustra Lídia Brancher www.flickr.com/huanita
jammin’ 58