Revista NOIZE #24- Junho de 2009

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 EDIÇÃO:
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CONTEÚDO_ Life Is Music // Leia Isto // News // Bandas Que Você Não Conhece // Online // Move That Jukebox // Matt e Kim // O Vinil Vive // Leste Europeu // Holger // VizuPreza FFW & REW // Las Bibas From Bizcaya // Reviews // Cinema // Shows // Fotos // Jammin’

REDAÇÃO: Carolina De Marchi carol@noize.com.br Maria Joana Avellar joana@noize.com.br Brunna Radaelli brunna@noize.com.br REVISÃO: 
João Fedele de Azeredo jp@noize.com.br
 Fernanda Grabauska fernanda@noize.com.br

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EXPEDIENTE #24 // ANO 3 // JUNHO ‘09_

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CAPA_ CARLA BARTH EDITORIAL | Dê-me algo com gosto de novo.

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A música é um terreno que clama por todas as idades: criatividade, originalidade e, na mesma medida, diversidade. Infelizmente o mundo ocidental, e o Brasil está incluído aí, acostumou-se há anos apenas com o seu lado da cultura musical. Foram poucas as incursões de artistas do Oriente por aqui ao longo dos tempos, e só mais recentemente é que o rico repertório do leste europeu passou a frequentar com mais evidência o mundo desse

Queríamos A matéria de capa da NOIZE #24 apresenta o colorido mundo leste-europeu, de ciganos e acordeões, fanfarras e trompetes. Falando em colorido e em 24, há nas páginas que seguem um ensaio com o arraso electro Las Bibas From Vizcaya. Continuamos nossa viagem pelos sebos e lojas de discos da Europa para comprovar que o falatório em torno da ressurreição do vinil (se é que houve uma morte) é coisa séria. E para não esquecermos do indispensável mundo do pop – e do rock –, duas entrevistas bem ocidentais: de Nova York, o duo mais feliz do Brooklyn, Matt & Kim em entrevista inédita. De São Paulo, a competência da Holger traduzida em palavras. lado de

Greenwich –

logo eles que possuem em abundância aquelas três idades da primeira frase.

mostrar esses caras há tempos, e dessa vez não os deixamos escapar.

É tanta idade nesta edição – criatividade, originalidade, diversidade – que começamos a nos sentir velhos.


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_foto: raafel rocha

life is music


NOME_ Alexandre Matias PROFISSÃO_ Jornalista UM DISCO_ Acabou Chorare | Novos Baianos

“Descobriram que o cérebro gasta a mesma quantidade de energia - e mexe com as mesmas partes - tanto na hora em que você ouve música quanto na hora em que você lembra.Trocando em miúdos, quando você lembra de uma música, você a está tocado em sua cabeça. Nossos cérebros são os melhores players com que podemos contar. Não tem iPod que guarde tantas músicas - e é assim que eu vivo com música: meu cérebro nunca para de tocar.”

[+] Trabalho

Sujo, o blog: oesquema.com.br/trabalhosujo


“Eu acho que nós temos que deixar pra trás a coisa do “cool”. Who gives a fuck? Quanto mais eu envelheço, menos eu me importo com o que alguém de 16, 18 ou 21 anos quer ouvir.” Caleb | Kings of Leon

Natasha Khan | Bat For Lashes

LEIA ISTO “Eu me mudei para Nova York para tentar começar uma vida diferente, mas eu estava apaixonada por uma Nova York velha, do início dos anos 80, quando as coisas eram um pouco mais selvagens.Eu achei difícil estar constantemente na cidade. É tão cinza e opressiva.”

leia isto_

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“Os americanos têm idéias muito clichê sobre o Leste Europeu.” Eugene Hutz | Gogol Bordello

“Porque ingressar na marinha se você pode ser um pirata?” Steve Jobs

“Muitas pessoas pensam que músicos de Punk Rock não sabem o que eles estão fazendo.”

“Não me sinto parecida com todas as outras cantorazinhas pop perfeitas. Acho que pareço nova. Acho que estou mudando a percepção das pessoas sobre o que é sexy.”

Lady Gaga | se achando

“É preocupante ver tantos jovens por aí com celulares e iPods nos ouvidos e tão envolvidos com tecnologia. Rouba deles sua identidade. É uma pena vê-los tão alheios à vida real. É claro que eles são livres para fazer isso, como se isso tivesse alguma coisa a ver com liberdade. O preço da liberdade é alto, e os jovens deveriam entender isso antes de começarem a gastar suas vidas com todos esses cacarecos.” Bob Dylan

Travis Barker


_kings of leon, beirut, kate perry, depeche mode, bob dylan, bat for lashes

“Eu sou uma pessoa muito sincera, então estou sofrendo tendo que guardar segredos.”

Ida Maria | alvo fácil de jornalistas.

“Depositei todos os meus ovos num cesto muito cedo na minha vida. Eu teria que aprender todo o tipo de coisa e eu precisaria ficar assustado em alguns momentos, mas estava entendido que era por isso que eu ia passar.” Zach Condon | Beirut

“Eu não quero começar uma guerra, então não vou falar mal da Beth Ditto.” “Fui dormir com dois shows marcados e acordei com cinquenta” Michael Jackson

Dave Gahan | Depeche Mode

“Eu amo que bandas jovens como o MGMT nos citem como inspiração. Mas não tenho tanta certeza se escuto nossa influência neles - escuto um álbum com som cristalino, mas guiado por riffs.”

Kate Perry

Eu perguntei para o paramédico, “Eu tive uma overdose?” e ele respondeu “Dessa vez não, David. Você morreu”. Dave Gahan | sobre sua experiência de quase-morte 9 noize.com.br


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Rafael Rocha

piscou, tem novidade.

NEWS

_ORGULHO NERD, ARNALDO BAPTISTa, METALLICA, TIM MAIA, JIMI HENDRIX, PLASTIC ONO BAND, VINIL

geek pride! Embora o Dia do Orgulho Nerd, comemorado em 25 de maio último, reivindique direitos como o de não andar sempre no estilo, o panorama em uma festa rock cool revela que, atualmente, se os geeks não seguem as tendências, elas parecem seguir eles (confere o FFW mais adiante). Não é do feitio nerd chegar atrasado. Mas, pior do que lembrarmos com um certo delay, seria esquecermos dessas figuras tão injustiçadas pelos colegas na escola, que ainda assim foram as responsáveis por alguns hinos do rock noventista e são hoje referência não só na música, mas na moda e no comportamento de uma maneira beeem ampla. Talvez tudo isso faça parte do retorno dos 90, o que pode significar muita coisa boa: além de uma influência maior da década passada no indie rock, já abatido por uma overdose de sintetizadores, mostra para a molecada que existia vida antes do YouTube, e que os nerds, na era pré-internet, concentravam parte de sua “energia tecnófila” em gravar hits à guitarra. As bandas orgulhosamente geek são simbolizadas pelo Weezer, mas muitas se encaixaram no rótulo, ainda que poucos o tenham feito com hits da envergadura de “Buddy Holly” (ou tão nerds quanto “In the garage”). No site da NOIZE, publicamos um dossiê com o que foi feito de melhor no geek rock. Comentamos músicas capazes de tocar os corações mais científicos: o Nada Surf com o hit supernerd “Popular”; Ben Folds Five e o alternativo como destino de jovens rejeitados em “Underground”; o punk rock com óculos de grau do Descendents Será que o geek rock ainda vive? noize.com.br.


_Beirut - Gulag Orkestar :: Garage Fuzz - Turn The Page... The Season is Changing :: Passion Pit - Manners :: 311 - The Uplifter :: Golden Silvers - True Romance

_ouca agora ´

__VINIL-NIL-NIL-NIL!!! | Uma boa notícia para a música. A gravadora Deck Disc anunciou a compra da Polysom, única fábrica de vinil brasileira que estava desativada desde o ano passado. Localizada em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, a Polysom fechou as portas após uma série de protestos e promesas desfeitas do então ministro da cultura, Gilberto Gil. A reforma financiada pela

Deck Disk iniciou em maio deste ano. Representantes da nova proprietária da Polysom já estão na europa comprando peças para reposição da antiga fábrica. De acordo com o Twitter da Polysom, a meta é fabricar LPs e compactos de alta qualidade a partir do segundo semestre de 2009. Quem sabe o Brasil alcança Europa e EUA, onde o vinil é a lei? Confira matéria nesta NOIZE.

Divulgacão

Arquivo NOIZE

Reprodução

__QUEM MATOU JIMI? | James Wright, ex-rodie de Jimi Hendrix, acaba de criar uma nova polêmica ao redor da morte do músico. Segundo as revelações de Wright em seu livro Rock Roadie, o ex-empresário de Hendrix, Michael Jeffrey, seria o responsável pela morte do guitarrista. Wright disse que o próprio empresário confessou o crime a ele dois anos antes de falecer em um acidente de avião. De acordo com a nova versão, Jeffrey teria entrado no quarto de hotel de Jimi e entupido sua boca de comprimidos junto com algumas garrafas de vinho, tudo para receber o dinheiro do seguro de vida do músico. Muito suspeito, não?

__SE AINDA TIVESSE LENNON... | A Plastic Ono Band está de volta. Formada em 1969 por John Lennon, Yoko Ono, George Harrisson, Ringo Starr e Eric Clapton, a nova formação conta agora com o produtor musical Mark Ronson, Antony Hegarty e Sean Lennon, o filho do casal mais pop do mundo da música. O novo álbum, intitulado Between My Head And The Sky, deve ser lançado em setembro deste ano. Antes disso, Yoko ainda vai lançar o EP Don’t Stop Me, com quatro faixas: “The Sun Is Down!”, “Ask the Elephant!”,“Feel the Sand” e “CALLING”. Previsto para 9 de junho, o EP será lançado apenas via iTunes.

Divulgacão

ON THE ROAD | macaco bong _Melhor comida de turnê? Macarrão, feito pelo Kayapy, é rápido e funcional. _A pior e a melhor coisa de estar em turnê? A pior é não conseguir dormir nem acessar a net. A melhor é a conexão que rola com os envolvidos na cadeia da cultura. Assim ajudamos a construir o Circuito Fora do Eixo e buscamos ampliar essa rede.

5 Discos Para Se Ouvir Na Estrada: _MQN - Bad Ass Rock and Roll _Móveis Coloniais de Acaju - C_mpl_te _BDC - Life is a Big Holiday For Us _Guizado - Punx _Porcas Borboletas - Um Carinho com os Dentes 11 noize.com.br


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NEWS Reprodução

Divulgação

__CÊ TÁ PENSANDO QUE ARNALDO É LOKI? | Arnaldo Baptista é sem dúvida uma das mentes pulsantes da história da música brasileira. Em Loki, documentário de Paulo Henrique Fontenelle, é possível enfim ver através das lentes lisérgicas que pautaram a vida do mais criativo dos Mutantes. Produzido pelo Canal Brasil e com estréia prevista para 19 de junho, Loki é repleto de imagens de arquivo e depoimentos emocionantes que reconstituem a trajetória do homem e do artista. Está tudo lá: a era pré-Mutantes, a ascensão da banda, a paixão por Rita, as drogas, a depressão, a tentaiva de suicídio e a recuperação ao lado da segunda mulher e eterna fã, Lucinha. Uma bela homenagem ao eterno mutante.

Divulgação

__O SÍNDICO VAI AO CINEMA | Pipocou por aí: a produtora RT Filmes está com as contas em dia para filmar a vida de Tim Maia. O famigerado livro Vale Tudo O som e a fúria de Tim Maia, biografia de Tim escrita pelo jornalista, compositor e conhecedor das entranhas da

__R.I.P. BENNETT | Jay Bennett, ex-Wilco, foi encontrado morto em sua casa em Illinois, nos Estados Unidos. O músico, que fez parte da banda entre 1994 e 2001, tinha 45 anos e a causa de sua morte não foi revelada. Bennett participou das gravações de A.M. (1995), Being There (1996) e Summerteeth (1999) e estava processando a banda pelo pagamento de royalties. Divulgação

__METALLICA IN BRASIL | Aclamado por público e crítica em todo o mundo, o mais recente álbum dos caras, Death Magnetic, acaba de ultrapassar as 30 mil unidades vendidas no Brasil. Uma vitória para o Metallica, que sempre se mostrou contra os downloads musicais. Em Janeiro de 2010, a turnê de Death Magnetic chega à América Latina e promete passar por aqui.

MPB, Nelson Motta, vai ser uma das fontes para a adaptação cinematográfica da vida do músico. A direção do longa deve ficar a cargo de Mauro Lima, o mesmo diretor de Meu nome não é Johnny. Por ora, não existem mais detalhes sobre o filme. Mas, de saída, já é uma produção de peso.



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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Bicicleta Sem Freio

8 bit pipe Origem: São Paulo, BRA Som: Cheio de barulhinhos divertidos e referências aos 80s e seus games, com guitarras leves, synths, microfones, bateria, computadores. Uma mistura interessante e boa de ouvir. Escute: Bless America, Do it Slow, Pawn myspace.com/8bitpipe

EBONY BONES Origem: Londres, Reino Unido Som: Uma versão mais trincada da M.I.A.? Com remixes em meio a um ritual tribal, EE é som ousado e que cresce com percussão forte e guitarras, cheio de referência de um pós-punk energético. Excitante. Escute: We Know All About You e Warrior myspace.com/ebonybones

LIKKE LY Origem: Estocolmo, Suécia Som: A debutante sueca toca um indie com instrumentos diferentes sobre beats bacanas. Há uma suavidade em Likke Ly que a afasta das demais pretendentes a musas pop. Escute: Little Bit, I’m good, I’m gone, Tonight. myspace.com/lykkeli

black drawing chalks Bote o som da Black Drawing Chalks para tocar e uma avalanche de referências gringas roqueiras invadirá sua cabeça. “Tirando as mais óbvias, como Queens of the Stone Age, Hellacopters, Kings of Leon, MQN e as bandas dos anos 70, uma das grandes influências no começo da banda era o grunge, Stone Temple Pilots, Pearl Jam, Blind Melon”, explica o baterista do quarteto, Douglas de Castro. Seguramente uma das novas terras do rock, Goiânia deu aos garotos o devido amparo roqueiro (vide o MQN entre tantos nomes gringos acima) para que eles disparassem seus riffs e começassem a desbravar o mundo – a banda deixou boas impressões ao passar pelo Canadá no início de 2009. O resultado de uma receita tão variada confere ao som da BDC uma mistura de peso e melodia, assegurada pelo vocal

agudo e bem conduzido do também guitarrista Victor Rocha. O ritmo é ora frenético, ora moroso. A pegada metaleira de “Free from desire” remete ao Motorhead de “Ace of Spades”, que divide com o Pantera e o Megadeath a ala mais pesada das referências da BDC. Em tempos de domínio do indie pop, as distorções cruas dos goianos caem tão bem quanto a arte de capa do segundo disco da banda, Life is a big holiday for us (2009), que colocamos acima. Escute: Todas são canções do segundo álbum. “Free from desire” alia peso, velocidade e melodia como gente grande. “I’m a beast, I’m a gun” poderia muito bem ter entrado na matéria sobre o legado do grunge, na NOIZE #22. O mesmo pode ser dito de “Leaving Home”, que não faria feio ao lado de nomes como Faith no More, Incubus e STP.



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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Sacha Maric

river raid Origem: Recife, BRA Som: River Raid também é aquele clássico do Atari. Mas a junção das guitarras fortes e explosivas com os vocais rasgados dessa banda de Recife fica longe do clichê dos 80s. Escute: Time Up, Summer e 420 hora local myspace.com/riverraid

CHAIRLIFT Origem: Brooklyn, NY, EUA Som: Com dois discos nas costas, este trio mostra que a efervescência do Brooklyn não para. O indie-eletro que a banda faz é soturno, sussurrado e cheio de barulhos agradáveis. Escute: Planet Health, Dixie Gypsy e Bruises myspace.com/chairlift

BISHOP ALLEN Origem: Brooklyn, NY, EUA Som: Outra bem-falada do Brooklyn. Um indiefolk fofo e redondo, mas que dá pra dançar, se você quiser. Ótimo pra ouvir batendo a perninha no chão. Escute: Click Click Click, Rain e Things Are What You Make myspace.com/bishopallen

who made who Aviso a quem adora Hot Chip, LCD Soundsystem, Bloc Party e Justice: eis seu possível novo grupo de rock dançante favorito. Ou disco punk. Ou póspunk. Ou disco house. Ou funky pop. Ou... Bem, não importa do quê vamos chamá-los, porque nem eles mesmos sabem dizer o que são. O que importa é que WhoMadeWho te fará dançar. Formado em 2003, o trio dinamarquês é composto por Tomas Høffding (baixo e voz), Jeppe Kjellberg (guitarra e voz) e Tomas Barfod (bateria). Cada um deles trouxe ao grupo uma experiência musical diferente – Høffding veio do rock underground escandinavo, Kjellberg veio do jazz vanguardista e Barfod, da cena eletrônica emergente. Foi no Festival FIB Benicàssin 2007 que WhoMadeWho caiu mesmo nas graças do público. Obra do acaso: subiram no palco para substituir os Klaxons.

Com novo disco recém saído do forno - The Plot -, eles voltam mais frescos que nunca evocando a Bowie, Beny Benassi, Motown e muitos mais, o que faz do CD algo assim irresistível. E tem mais. Além de fazer boa música, os caras são um sarro. Não economizam bizarrices. Ora esqueletos, ora super heróis, pisam no palco com uma energia eufórica sem igual. Seus clipes performáticos são imperdíveis e os posts de seu blog, hilários (whomadewhomusic.wordpress.com). Escute: “TV Friend” (ver o clipe é obrigatório) tem introdução de filme de suspense e culmina num “todos na pista de dança agora” digno de LCD Soundsystem. Em “The Plot” o pódio é ocupado outra vez por um baixo extra groovy e sintetizadores, enquanto “Space For Rent” sugere uma visita saltitante a Scissor Sisters.



entrevistas por messenger sem maquiagem

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online _whosampled.com É tanto sample, tanto mash up, que a gente nem sabe mais que música é de quem, o que é citação e o que não é. Este site sabe. Desperte o rapper curioso que vive dentro de você.

gorillaz - bananaz _Durante uma hora e meia o documentário Bananaz mostra o dia-a-dia da banda virtual mais famosa do mundo. A construção desse universo único pode ser vista através das lentes do diretor Cery Levy.

_diditleak.com eis um site muito útil em tempos de internet e impaciência: Saiba se o disco pelo qual você espera já vazou...

babelgun.com

mp3 Never ForgetYou | Noisettes Quem ainda não conhece Noisettes está perdendo um dos discos quentes do ano.

sonic youth @ pitchfork _Déficit de atenção ou a superioridade do analógico sobre o digital? Nesse projeto novo do Pitchfork, A>D>D, dá para conferir o som do Sonic Youth todo gravado em fita e depois digitalizado. É a supremacia da fitinha cassete.

Bulletproof | La Roux Electropop de qualidade feito pela topetuda hype Elly Jackson.

tiny urls http://tinyurl.com/quebracara O fotógrafo Eric Myer criou um “gerador de esteriotipos”. Juntando a parte de cima de um punk com a parte de baixo de uma miss, o resultado é bem engraçado.Acredite.

pitchfork.com

BLUR REHEARSE “SOng 2”

http://tinyurl.com/marilynoculta Fotos de Marilyn Monroe que você nunca viu. http://tinyurl.com/tarsocadore É tanta gente seguindo o louquinho Tarso Cadore que ele fez um Twitter para ver se consegue ajuda. Mas a perseguição só aumentou.

magic numbers baby

youtube.com/officialblurchannel

mgmt kids bat for lashes pearls dream

lady gaga paparazzi autotune funny bebe song leroy

weezer x mgmt

_Se você ficava com um pé atrás quando ouvia falar no tal retorno do Blur, pode colocar o pé para frente. Nos vídeos que os caras liberaram em seu canal do YouTube, eles ensaiam para músicas como a tocada a exaustão “Song 2”.

stanley jordan stairway

news beatles rock band preview dvd garage fuzz

smith apple iphone 3gs stefhany cross fox entrevista dingo bells janta colher banho jonas brothers beyonce ba tche porto alegre



movethatjukebox.com

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move that jukebox

__Quais foram os melhores produtores do Arctic Monkeys? _Jim Abbiss e Alan Smyth, do primeiro álbum _James Ford e Mike Crossey, do segundo álbum _Ou serão Josh Homme e James Ford, do próximo álbum vote em movethatjukebox.com __Resultado da Enquete de Maio Oasis x Radiohead: Qual foi o melhor show? _Radiohead 54% _Não fui a ambos/não quero opinar 23% _Oasis 19% _Os dois foram ótimos 4%

__Indie Stoner | Dia 24 de agosto o mundo vai conhecer o terceiro disco do Arctic Monkeys, que deve ter uma pegada de stoner-rock atribuída à produção de Josh Homme, vocalista do Queens of the Stone Age. James Ford, que é praticamente um Monkey, também produziu o álbum, gravado integralmente nos Estados Unidos. Os quatro macacos até ficaram com uma pinta de bad-boys. Os Monkeys também aparecem em breve nos cinemas ingleses. A banda gravou uma ponta no filme Le Donk, de Shane Meadows, que será exibido pela primeira vez em junho, no Festival de Edimburgo. O longa é estrelado por Paddy Considine, que você deve conhecer do clipe de “Leave Before The Lights Come On”.

__SINTÉTICOS EDITORES | In This Light and on this Evening é o nome do próximo disco do Editors, que só deve ser lançado em setembro. Segundo a banda, as novas músicas são as mais “sintéticas e cruas” que já compuseram e, ao mesmo tempo, devem ter uma essência eletrônica inspirada na trilha de Terminator. Quem comanda essa salada é Flood, que produziu o último disco do Sigur Rós e atualmente trabalha em um novo álbum do 30 Seconds to Mars. Divulgação

enquete

__Coldplay poderoso | Entre David Letterman e Adam Sandler, o Coldplay foi considerado um dos nomes mais influentes de hoje pela revista nova-iorquina Forbes. A banda ocupou o 15º graças aos seus lucros equivalentes a cerca de R$135 milhões, somados à influência que a banda exerce sobre a mídia. O grupo é o primeiro no ranking britânico. Angelina Jolie, Oprah Winfrey e Madonna ocupam os três primeiros lugares do ranking geral.

Divulgacão

_Pura Sedução Anya Marina é uma cantora e compositora americana pouco conhecida no Brasil, mas que já lançou dois discos. O mais recente deles, o ótimo Slow & Steady Seduction: Phase II, foi lançado no começo de 2009 nos EUA. Anya faz um folk bem sincero, que ora é mais puxado pro rock, como na música “Afterparty at Jimmy’s”, ora é misturado a boas e discretas doses de jazz, como na sexy “All the same to me”, e até flerta um pouco com o pop e suas batidas sintetizadas. A cantora também arrisca uma releitura de “Águas de Março” que, apesar do clichê, conta com uma mistura de inglês com português que soa muito bem na sua delicada voz. Pra quem gosta de cantoras como Emiliana Torrini, Feist e até mesmo Cat Power, Anya Marina é uma recomendação obrigatória. Quem estiver interessado em conhecê-la, basta acessar o Myspace da cantora (myspace. com/anyamarina).

Divulgação

moving

_ARCTIC MONKEYS, COLDPLAY, EDITORS, ANYA MARINA



matt & kim

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Matt & Kim “Os últimos shows que a gente fez foram na Austrália e na Nova Zelândia”, contou Matt Johnson do outro lado da linha que conectava o Brasil a Seattle. Triunfante, não só pelo fato de sua banda, Matt and Kim, estar prestes a conhecer mais um pedaço do mundo depois de cinco anos de estrada. Parece inerente ao estado de espírito do duo, que inclui, na mesma medida que sua música, a alegria constante do dance com a autenticidade direta do punk. Os shows que eles fizeram pelo Brasil em junho comprovaram isso e deixaram de lembrança os abraços apertados e sorrisos escancarados que a dupla distribuiu ao público, e a certeza de que o show pode valer tanto quanto a música.

_texto fernando correa

_foto: raafel rocha

Você disse em uma entrevista que sempre tinha duas camisas de flanela, uma vestida e a outra na cintura. O grunge teve esse lugar na sua vida? Sim, este foi o primeiro tipo de música em que eu realmente entrei de cabeça, bandas como o Nirvana, Pearl Jam… Eu acho que foi o último tipo de rock de qualidade mesmo que a gente teve nos Estados Unidos. E, sim, com certeza, eu tive umas boas camisas de flanela. E vocês se ligam mais nos clássicos ou nas bandas novas? O que tem tocado mais por aí? Eu acho que eu e a Kim, no momento, estamos escutando principalmente hip hop dos Top 40s+1, como T.I., Kanye West , principalmente esse hip hop bem popular. Embora achem que a gente tem influência de new wave, eu realmente não me ligo no som dos anos 80. Há quem considere vocês o “som do Brooklyn”. Vocês concordam? Existe um “som do Brooklyn”? Eu acho que, como uma banda que começou tocando em todo tipo de festa de apartamento, depósitos, vir dessa coisa do Brooklyn e das house parties, que é onde tocamos pelas primeiras vezes, tem uma grande influência

em tocar algo que faça as pessoas gostarem de dançar e se divertir. Acho que o Brooklyn tem todo tipo de som, é difícil falar de uma “música do Brooklyn”. Quer dizer, Kim e eu temos sido categóricos em tocar esse dance punk, e existem outras bandas em Nova York que fazem isso também. E o quanto a van de vocês já viajou por aí? Nós compramos uma van nova depois que matamos a outra. A gente comprou a primeira van em 2006, e em 2008 tivemos que comprar uma nova. A gente viajou por todo canto desse país, centenas de milhares de milhas. Como é dividir apartamento com sua parceira de duo? Funciona muito bem morarmos apenas nós dois, fazendo música juntos. Eu lembro de quando estava em bandas com cinco pessoas, de tentar juntar todo mundo para ensaiar… era um saco! Agora é assim, eu viro para o lado e falo “Kim, vamos tocar!”, e são tipo 11h da manhã. E você sabe, ficamos em turnê 9 meses por ano, chegamos em casa e passamos todo esse tempo juntos, você pensaria que a gente não aguenta mais olhar um para a cara do outro… você está errado! A gente se dá muito bem. Tem



matt & kim

24 épocas que a gente sai todos os dias, por que tocamos todas as noite. Mas quando a gente está em Nova York, a gente acaba muitas vezes resolvendo ficar em casa. O duo é melhor para o “business” da banda? Ah, sim, com certeza é mais fácil. É mais financeiramente viável para fechar os shows quando são só duas pessoas e mais uma equipe de um ou dois caras. É outra história quando são cinco numa banda, e aí tem mais uns quatro na equipe… ser dessa forma torna muitas coisas possíveis. A formação de teclado e bateria foi uma escolha essencial? Quando a gente começou a tocar juntos, não tinha essa idéia de ser teclado e bateria, era simplesmente de eu e Kim tocarmos, fosse o que fosse. Mas aí, acabou que nós conseguimos um som cheio, só nós e nossos dois instrumentos… Mas eu lembro da primeira vez que ouvi minha voz em uma dessas gravações de ensaio, e eu nunca tinha cantado em uma banda, eu só pensei “minha nossa, precisamos achar alguém para cantar!”. Aconteceu então que minha voz tornou-se parte do que a banda é. O tempo das house parties, de fazer shows até em cozinhas, acabou? A gente já não toca muito em cozinhas e tal. Na verdade é só porque chegou um ponto em que começou a ficar perigoso. Eu lembro de um show em particular no Brooklyn, no último andar de um daqueles depósitos. Devia ter umas 500 pessoas lá, tudo iluminado com velas, e tinha só uma saída. Eu pensava “isso vai ficar feio, não é seguro”. Lembro que uma torre de caixas de som quase caiu em cima de umas pessoas… era assim que as coisas eram (risos). [+1] Referência às paradas de sucesso americanas, muito frequentadas por astros do rap e do r’n’b. [+2] A Fader Label é um selo indie com poucas bandas e uma revista foda por trás. [+3] Isso quase aconteceu. Ler nesta edição o review do show deles no CocaCola PARC.

Como rolou de entrar para o cast seleto da Fader Label+2? A gente havia decidido gravar Grand por nós mesmos, financiar tudo, e só depois ir à busca de parcerias. Visitamos vários selos diferentes, indies, majors. Grande parte deles tinham um clima deprimente, grandes escritórios, ninguém na recepção, o velho jeito com que as coisas eram feitas. Finalmente, depois de passar por todas essas labels, nosso manager tinha contato com o pessoal da Fader Label e a gente fez contato. Fomos no escritório deles e tinha tanta energia, tanta gente trabalhando, pa-

recendo empolgadas, e a gente pensou: “isso aqui não é nem um pouco deprimente”. Eles têm novas idéias, pensam novas mídias e são práticos. Os meios tradicionais não funcionam muito bem hoje em dia, eles pensam outside the box, foi uma ótima escolha. Você tinha vontade de gravar 100% analogicamente. Com Grand, desistiu da idéia? Nosso primeiro disco foi gravado em fita de duas polegadas porque eu tinha uma teoria na minha cabeça de que isso resultaria em um som mais orgânico, quente. A gente usa instrumentos digitais, é disso que Matt & Kim se tratam, mas eu achava que o resultado ficava muito estéril. Quando a gente foi gravar o Grand, só queríamos poder trabalhar da maneira mais fluida possível, e na verdade foi mais tranquilo gravar digitalmente. Os clipes de vocês têm uma estética trash engraçada, tem algum filme que seja referência? É difícil dizer, tem um que eu amo, se chama Shaun of the Dead. Encaixa perfeito com isso… Sei lá, é um grande filme. “Lessons Learned” é um dos clipes mais legais do ano. A ideia de andar pelado em Manhattan tem algo a ver com a maneira como os brooklynites são vistos de fora? Eu acho que naquele vídeo, de uma maneira geral, a gente só queria passar aquele sentimento de quando você simplesmente não se importa mais com nada. Fazendo daquela maneira, indo ao lugar mais popular dos Estados Unidos, é tão auto-triunfante. A Kim não queria fazer de jeito nenhum, ela odiou a idéia, mas eu a convenci (risos). A gente tocou “Lessons Learned” pela primeira vez em Seattle. A gente provavelmente vai tocar no Brasil e, se o público tiver coragem de tirar suas roupas, talvez eu me junte a eles (risos)+3. Depois de passar por vários países, como a experiência de tocar fora de casa se compara com a dos shows nos EUA? O mundo é tão universal, você vai em uma dance party com as pessoas cantando junto, não importa onde, parece que você poderia estar em Nova York ou na Califórnia. É tudo apenas uma mesma “existência unida”, não importa onde você esteja. Eu tenho vivido cheio de expectativas.


_fotos do show: luis alberto fiebig jr. | tatu


_texto e foto: raafel rocha

o vinil vive II

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o vinil vive Parte II (Barcelona, Lisboa, Paris)

O vinil é a redescoberta do universo musical no fim desta década. Não são só os números do mercado consumidor que apontam para isso, embora caiba ressaltá-los aqui: foi de quase 90% o aumento na venda dos discos em terras estadunidenses, só entre 2007 e 2008. O negócio tende a crescer ainda mais. Em terras européias, a Associaçao Fonográfica Portuguesa, por exemplo, relatou aumentos extraordinários na venda dos bolachões. As bandas se ligaram que o nicho é quente. O público, também. E o mercado fonográfico não vai ficar de fora dessa, é claro.

CD DROME Quem lê a fachada se engana: a CD Drome é uma das principais lojas especializadas em vinil de Barcelona. Localizada nas imediações da Calle Tallers, destino certeiro de quem quer comprar bolachões, tem um estoque massa de eletrônica e indie, além de raridades - inclusive Jorge Ben e Ronnie Von - ocupando a parte de trás do balcão. Para o vendedor Alberto, no futuro o CD vai ficar só no nome da loja. “Achava que ia ver a morte do vinil, agora acho que o CD vai antes”. 27 >> noize.com.br


o vinil vive II

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EMBASSY SOUND Embassy Sound é uma pequeno paraíso localizado no Bairro Alto (bairro que concentra a maioria da bohemia de lisboa) dedicado ao reggae e ao dub, com clássicos dos 60’ aos 90’, mais lançamentos e remixes em vinil vindos diretamente da Jamaica.

Há uma parcela cada vez maior de bandas que lançam os álbuns em vinil e dão gratuitamente o download das música. Isso sem falar nos relançamentos. Recentemente foi o Oasis que anunciou: até o final de 2009, todo o catálogo dos ingleses sai em vinil, com o atrativo de novas capas. O povo quer arte além de um amontoado de bits. O Brasil está atrasado, e quem quis lançar material em vinil nos últimos dois anos teve que recorrer a fábricas no Exterior.

DAILY RECORDS Saindo da CD Drome e adentrando a Calle Tallers, encontra-se a maior concentração de lojas de vinil. Muitas fecharam nos últimos anos, mas algumas, como a Daily Records, sobrevivem. E nas paredes dela, a milhares de quilômetros de casa, encontrei até um vinil clássico do Ratos de Porão.


BOULINIER Em pleno Quartier Latin, em Paris, a Boulinier só pode ser uma das lojas mais incríveis do mundo: são quatro andares pelos quais a cultura encontra espaço de sobra. Há muitos vinis. A loja está sempre muito movimentada, mas é difícil dizer se foi assim desde sua abertura, em 1845. Se guardasse produtos fonográficos daquela época, as fitinhas K7 disponíveis por 1 euro nem seriam velharias das mais inusitadas.

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_texto maria joana avellar leste europeu

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Leste Europeu

A música cigana e balcânica invade o Novo Mundo.

mente e isso é um problema econômico e cultural. Tudo parece isolado de qualquer influência externa”. Com o caminho aberto para a diversidade embriagante de instrumentos e timbres existentes do outro lado do oceano, são descobertas bem mais bandas que misturam esse gênero musical com infinitos outros. Sátira Sonora A identidade musical balcânica é determinada por sua posição geográfica, uma encruzilhada de diferentes culturas. Na Idade Média, o Império Bizantino legou a tradição do canto sagrado cristão. Já durante a dinastia dos sérvios, os músicos assumiam um papel importante na realeza, e a diversidade de instrumentos era imensa. Ainda hoje, a Sérvia, que já constituiu a República da Iugoslávia, é uma das regiões mais importantes para a música balcânica. É de lá a célebre Boban Markovik Orkestar +3, que já ganhou inúmeros prêmios no Guca Trumpet, festival para bandas de metais. O evento existe desde 1961 e reúne cerca de 300 mil pessoas anualmente na área central do país. As guerras pela independência balcã tiveram início em meados do século XIX. No final da Segunda Guerra Mundial, a região ficou sob controle de governos comunistas apoiados pela União Soviética, mas o histórico de conflitos não cessou mesmo após a Guerra Fria. Durante toda a década de 1990, a Iugoslávia foi palco de uma das mais sangrentas guerras civis étnicas já existentes. O cineasta iugoslavo Emir Kusturica, considerado um dos mais criativos dos anos 1980 e 1990, atraiu olhos ocidentais para o lado de lá bem antes de Gogol Bordello e Beirut. Um dos marcos de sua carreira foi Underground – Mentiras de Guerra (1995), que se passa na Iugoslávia ˆ

O final da Segunda Guerra Mundial marcou o encerramento de um ciclo de desastres que deixou a Europa arrasada. Em meio ao caos, o lado cigano+1 da família de Evgeny Nikolaev se viu obrigado a abandonar o oeste da Ucrânia. Dispersaram-se rumo à capital e a outras cidades leste-européias e não mediram esforços para queimar seu passado e esconder sua identidade étnica. Somente em 1985, aos 13 anos, Evgeny, hoje conhecido como Eugene Hutz, teve contato com sua origem cigana. Com o acidente nuclear em Chernobyl+2 , Hutz deixou Kiev para proteger-se da radiação. Retornou ao oeste ucraniano, onde a convivência com ciganos abriu seus olhos para o mundo e para ele mesmo. “Quando voltei, minha cabeça estava em outro lugar. Foi aí que eu entrei no punk rock”. Décadas depois de tirar fotos de revistas pornôs para comprar discos do Dead Kennedys, contrabandeados em meio à censura soviética, Hutz fundou a banda de punk cigano Gogol Bordello. Zach Condon, natural de Santa Fé, no Novo México, esteve na Europa pela primeira vez aos 14 anos e surpreendeu-se com a obsessão dos jovens parisienses pela música balcânica. “Eu me dei conta de que aquele som podia ser ouvido por pessoas de todas as idades, de uma maneira nova e reciclada.” Quatro anos depois, ele largou a faculdade e se juntou a dois membros da banda A Hawk and a Hacksaw, Jeremy Barnes e Heather Trost. O resultado foi Beirut e seus dois primeiros álbuns, ambos recheados pela melancolia feliz do folk do leste europeu, hoje enaltecida no circuito indie mundial. Gogol Bordello e Beirut diferenciam-se em seus estilos, mas têm em comum o fato de levarem a energia milenar da música balcânica ao Ocidente. Nas palavras de Eugene “a civilização por aqui já se repetiu exaustiva-

[+1] Também conhecido como Romani, Romany, Roma , Roms e Gypsies, em inglês. [+2] Na década de 1970, foi construída pela União Soviética uma central nuclear a 20 quilometros da cidade de Chernobyl, situada no norte da Ucrânia. Em 1986, a explosão de um reator causou um dos piores acidentes da história. [+3] Bobam Markovic é considerado o melhor trompetista balcânico de todos os tempos.

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da Segunda Guerra e rendeu uma Palma de Ouro em Cannes. O filme foi a confirmação que faltava para colocar Goran Bregović, o responsável pela parte musical das maiores obras de Kusturica até então+4, entre os melhores compositores de trilhas sonoras de todos os tempos. O musical Underground explora de forma tragicômica os clichês do imaginário estrangeiro em relação àquela região. Em quase todas as cenas está presente uma imensa banda e, em meio ao clima de carnaval cigano, as canções assumem um caráter de segunda leitura. Parecem quase incoerentes com o que se passa na história, mas casam perfeitamente bem com o exagero de álcool, de brigas e de personagens caricatos. O músico e produtor Arthur de Faria conta que Emir e Goran se acharam porque eram amigos e nascidos em Sarajevo, antiga capital iugosláva “Kusturica - que eu conheço desde o comecinho dos anos 80, com o sensacional Papai Saiu em Viagem de Negócios (1985) - foi fazer um filme sobre ciganos, e chamou o Bregović. Só aí,

“Antigamente você só podia comprar vinis de música soviética. Os bootleggers descobriram uma forma de contrabandear discos com placas de raio-x que eram feitas de vinil. Eles conseguiam o equipamento para gravar os discos nas placas. Chamávamos de ‘music on the bones’” Eugene Hutz

[+4] Bregović já havia trabalhado com Kusturica nos filmes Vida Cigana e Sonho Americano, este protagonizado por Johnny Depp e com um Iggy Pop totalmente reinventado na trilha sonora. [+5] Goran Bregović era guitarrista e compositor da Bijelo Dugme, uma das bandas mais populares e engajadas da antiga Iugoslávia. Ela surgiu em 1974 e terminou em 1989, mas lotou shows comemorativos em 2006

já homens feitos e com carreiras estabelecidas, que eles foram cair na onda balcânica. Por isso souberam estilizar tão bem”, observa. Underground marcou também a ruptura entre eles, os dois artistas sérvios mais importantes dos últimos anos. “Foi realmente difícil. Foi uma catarse. Era um filme sobre guerra quando ainda havia guerra”, afirmou certa vez Bregović. “É bom lembrar que Kusturica era baixista de uma banda punk e Bregović, guitarrista virtuoso de um grupo de rock progressivo. Mundos opostos. Um vai de Emerson, Lake & Palmer, o outro vai de The Clash”+5, complementa Arthur. Hoje, ambos seguem fortes na música. Kusturica é baixista da cigano-roqueira Emir Kusturica and the No-Smoking Orchestra, ativa com o nome de Zabranjeno Pušenje desde 1984. Goran Bregović está na turnê de seu último álbum, o apológico Alkohol, com sua orquestra para casamentos e funerais (Wedding and Funerals Orchestra). O nome traduz bem a natureza da


foto:

Boris V Mukhin


[+8] Ezma está na trilha do filme Borat junto com Goran Bregović. Ela está processando a produção em quase um milhão de euros por não ter autorizado a utilização de suas músicas

música cigana, que vai da celebração mais alegre e veloz à melancolia triste da vida nômade. Vida Cigana No Brasil, uma das bandas que tem em seu trabalho influências da alegria circense e do acordeom triste balcânico é a Arthur de Faria e Seu Conjunto+6. O grupo também incorpora a seu som outros estilos e elementos, característica que confere aos integrantes uma aura ainda mais cigana. Por onde passavam, os roms – “ciganos” no dialeto original – assumiam um pouco da musicalidade do lugar para si, mas a base primordial, semelhante às canções típicas indianas, é anterior às migrações. A origem do povo é obscura. Pensa-se que vieram da Índia e foram obrigados a migrar para a Europa Central, mais ou menos em 1050, por serem considerados de uma casta inferior. Eram difundidas teorias de que descendendiam de Caim, ou de que haviam roubado o quarto prego na crucificação de Cristo, tornando sua morte mais dolorosa. Depois do assassinato de 200 a 500 mil ciganos em campos de concentração na Segunda Guerra Mundial, eles permanecem espalhados pelo mundo. Um dos países do Leste onde vivem mais roms é a Romênia, quem sabe por isso, uma região musicalmente tão rica. “As fanfarras do Bregović que levantam o povo e todos copiam são bem específicas de lá.Vi um grupo tradicional romeno tocando e é parecido demais com aquelas coisas dele, só que sem verniz”, conta Arthur. Uma dessas bandas mais famosas é a Fanfare Ciocarlia, uma orquestra de metais que mistura muito bem tradição balcã com arranjos abrangentes. Os 12 músicos se orgulham de ser, segundo os próprios, “os mais rápidos do mundo”. Outra big band romena é a Taraf de Haïdouks. Além dos metais, eles contam com abundância de cordas e nítida influência erudita. O som tem cara de trilha sonora clássica e bem ritmada. Já a Mahala Raï Banda, de Bucareste, ainda na Romênia, assume uma sonoridade mais contemporânea e mistura ritmos folclóricos com funk e jazz.

[+] Myspaces úteis: /romashkagypsy /gogolbordello /beirut /mahalaraibanda /balkanbeatbox /fanfareciocarlia /thenosmokingorchestra /goranbrego /redzepova /devotchkamusic /ehaidouksbandofgypsies /bobanimarko

Nova Iorque Nômade Como mostra mais uma vez Gogol Bordello e Beirut+7, o distrito nova-iorquino Brooklyn é ao mesmo tempo destino e berço da efervescência cigana com caráter de novidade. Mahala Raï ganhou recentemente algumas mixagens do Balkan Beat Box, banda de lá formada por ciganos, árabes, judeus e americanos que misturam suas influências leste-européias com hip hop. O grupo

[+] Outros brasileiros com influência lesteeuropeia: A carioca Brasov - myspace.com/ sitiobrasov O milongueiro Levitan - myspace.com/ levitaneostripulantes O sborniano Nico Nicolaiewsky - myspace. com/nicolaiewsky Os mashups de Fanfaroff - myspace. com/fanfaroff A circense Bandinha Di Da Dó - myspace.com/ bandinhadidado A giga Móveis Coloniais de Acaju - myspace. com/moveis [+7] Beirut mora no bairro de Williamsburg, no Brooklyn, onde foi formada a banda Gogol Bordello. Hoje, Eugene Hutz vive no Rio de Janeiro.

ˆ

[+6] myspace.com/ seuconjunto

mixa dub e eletrônico com melodias mediterrâneas, dando a timbres acústicos uma roupagem digital. Foi com integrantes do Balkan Beat Box que Eugene Hutz e o israelense Oren Kaplan, ambos do Gogol, se juntaram em 2001 para desenvolver o J.U.F. (Jewishe Ukrainishe Froindschaft), um projeto de música eletrônica com justaposições de grooves, framenco, dub, reggaeton e, claro, punk. Enganam-se os que pensam que o rótulo punk-cigano é exclusivo de Gogol. Um bom exemplo de banda do mesmo gênero é a Romashka. Também nova-iorquina e composta por imigrantes europeus, ela oscila entre o folclórico e o punk. A vocalista lituana se afasta dos berros de Eugene para aproximar-se de artistas balcânicas como a macedônia Esma Redzepova+8 – uma das mais célebres ciganas da história, seja por sua música, seus filmes ou suas ações humanitárias. Outra banda que mistura o punk norte-americano com elementos da música gypsy é a DeVotchKa. Foi de forma silenciosa que o quarteto multi-instrumental se tornou famoso nos Estados Unidos e ainda ampliou seu público com o sucesso do longa Little Miss Sunshine, no qual fizeram grande parte da trilha-sonora. Seu forte é o mesmo das demais bandas com influência rom e balcânica: as performances ao vivo. Nos shows ciganos é impossível ficar parado, o corpo se move instintivamente. Público e banda entram em sintonia, vivendo um momento de catarse completa. Até as mais tranquilas apresentações do Beirut de Condon são incansável e intensamente descritas como sublimes por quem as testemunha. Uma boa notícia é que os brasileiros estão perto de conferi-las ao vivo. Zach diz que é um grande fã da Tropicália, já fez aulas de português e está louco para visitar o país – daí pode nascer um disco com ares tupiniquins. Codon faz jus a seu lado cigano e não se prende em um só estilo. Em seu mais recente trabalho, distante do Leste e próximo do México e de sintetizadores, ele cogitou até mesmo mudar o nome da banda. Também não será surpresa se a temporada de Hutz no Rio render novidades para o Gogol. Com sorte, nada que afete o que há de melhor na banda, os tão aclamados shows. O ucraniano conta que seu objetivo principal é fazer o melhor espetáculo de rock-cigano do mundo. “Colocamos ênfase na performance. A proposta é ser o mais anti-convencional possível”. Parece que tudo que o Ocidente precisava era da anti-convencional e imprevisível invasão pop cigana. Resta torcer para que não a transformemos em Fast Food.


jesuspresley.net.

Greg Younger

Tammy Lo

Divulgação

se existe um ponto comum entre toda a diversidade multicultural das

˜ bandas ciganas e balcas e´ a intensidade das performances ao vivo.


_texto brunna radaelli holger

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A Holger é o filho pródigo de um coletivo musical chamado That’s All Folks, em que a música surgia da junção de amigos, vinho, vários instrumentos, laptops e microfones. Hoje a coisa ficou séria, e os caras são considerados uma das grandes promessas musicais de 2009. Em meio a listas de melhores do ano, festivais independentes e gravações, conseguimos um tempo para falar com Pedro e Marcelo Pata, integrantes dessa banda de São Paulo que não faz shows – toca em Bar Mitzvahs. Como rolou essa “evolução” do That’s All Folks para a Holger? 
 Pata: Algumas das músicas realmente nos agradavam, então resolvemos criar versões instrumentadas delas. Queríamos que tudo fosse feito com o mínimo de compromisso, já que eu, o Arthur (baterista) e o Pedro estávamos envolvidos com uma outra banda… Isso aconteceu no final de 2006.
 Pedro: Costumamos dizer que foi natural, que simplesmente aconteceu a partir de uma sugestão, mas eu acho mesmo que no fundo, todos ali estavam a fim de ter uma banda nova, de investir nas novas influências que estávamos ouvindo. 

 Na Holger, as influências do TAF se misturaram com o som de bandas que influenciam vocês. O som que a Holger faz hoje é uma versão melhorada do anterior?
 Pata: Acho que quando uma banda começa a fazer música as influências acabam moldando o som, mas com o tempo rola de achar um caminho próprio que acredito

que seja o que está rolando com agente.
 Pedro: Olha, na verdade eu não vejo mais essa influência folk nas nossas músicas. O Green Valley, nosso primeiro EP, foi sim influenciado pelo folk, o que foi natural depois da experiência do That’s All Folks, mas eu associo muito mais o indie-rock do que o folk nas músicas do disco. Hoje em dia, outras influências tomam conta das novas composições. Recentemente vocês tocaram nas hypadas festas que a Adidas promoveu pelo Brasil. Como foi?
 Pedro: Pelo o que eu sei, vinte pessoas foram escolhidas como “curadores de convidados”. E essas pessoas sugeriram bandas também, parece que ganhamos no mata-mata ali! O show foi muito massa, foi no chão e foi alto. Gostamos de tocar no chão, queremos romper a barreira banda/público e a falta de palco ajuda. 
 Pata: Parece que o Dago (Dagoberto Donato, da Neu Club) sugeriu a gente, e os organizadores do eventos nos selecionaram. Foi bem legal tocar na festa, rolou uma ce-

[+] myspace.com/myholger

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holger

36 lebração intensa. Acredito que o som da banda teve a ver com a proposta do evento, era uma festa voltada para um público alternativo. E a oportunidade de tocar no South by Southwest? Como foi essa experiência?
 Pata: O South by Southwest, até me provarem o contrário, é o festival mais foda do mundo. São mais de 1.500 bandas tocando no centro de Austin durante quatro dias. Todos os olhos da música estão voltados pra lá, produtores, agentes, bandas ótimas, bandas péssimas, gente que gosta de música, gente que só está lá pela festa. 
 Pedro: Esse festival é a coisa mais agressiva da história! Todos que gostam mesmo de música devem juntar uma grana e ir. Foi sensacional, em todos os sentidos. Claro que tocar foi demais, tocar para uma platéia de outro país é uma experiência e tanto. É uma loucura das boas. Então, palco ou de estúdio? Qual o melhor?
 Pata: Gostamos de dividir bem esses dois momentos. No estúdio temos grandes chances de explorar timbres e instrumentos, coisa que ao vivo não poderiam ter a mesma versatilidade. No entanto, nosso show sempre foi uma celebração. Até brincamos que não fazemos shows, tocamos em Bar Mitzvahs. 
 Pedro: Gostamos muito dos dois lados, mas o show é o carro-chefe da banda. Estúdio é bacana, gravar, pesquisar diferentes arranjos e timbres, brigar um pouquinho e tudo mais, mas é no palco que a música realmente acontece. Todo o trabalho de estúdio expande e atinge outras pessoas, que reagem também ao vivo, ali, aos nossos olhos. E isso é foda demais! A Holger gravou recentemente o EP The Green Valley. Só que ele foi lançado em vinil. Por quê?
 Pata: Acredito que quando alguém hoje em dia compra um disco, essa pessoa quer levar uma parte do artista. Hoje baixar música é muito mais fácil, sem falar que não risca. Então por que não, em vez de um CD, em que não há tanto espaço para a arte, não usar um vinil? Quem é colecionador sabe o prazer que é abrir um vinil novo.
 Pedro: O EP é uma coletânea das músicas criadas em quase dois anos em que ficamos só ensaiando, trancados no estúdio. Gravamos uma demo e com ela conseguimos marcar uns shows e acertar uma gravação com Sérgio Ugeda e Eduardo Ramos, que produziram o disco. Quan-

to ao vinil, puro charme! E esse lance do CD? Vocês acham que é uma mídia que vale a pena ou a divulgação pela internet é melhor?
 Pedro: Hoje a internet é a principal base de divulgação para bandas. Tudo o que acontece está online para quem gosta de correr atrás. O CD ainda vai durar um tempo, mas hoje eu vejo que essa mídia é mais um cartão de visitas do que realmente um item cultural. Quem quer vender CDs tem que fazer barato e com algum diferencial, feito à mão, limitado e tal. Não acho que seja um equívoco lançar em CD, mas só o CD não rola mais.
 Pata: Acreditamos muito na internet como meio de divulgação, seja pela Trama, Myspace, Last.fm ou qualquer outro veículo. Acreditamos em um mundo mais acessível e disperso no quesito música. É uma boa época para a cena independente do Brasil? 
 Pata: Acho que a música independente brasileira caminha a passos largos, e não são só as bandas—o número de festivais independentes e a qualidade deles só aumenta. A mídia tem aberto um espaço cada vez maior a programas relacionados à música independente.Tudo isso só acontece porque há um publico consumidor, que também tem crescido bastante. O nosso público é composto de gente que quer se divertir, celebrar de fato, em vez de ficar babando no que está rolando lá fora. 
 Pedro: Se você correr atrás, você consegue chegar em diversos lugares. Temos uma cena de festivais pelo Brasil, temos agências e produtoras organizando diversos projetos e temos a internet. Claro que tudo depende de onde você quer chegar. E quais os futuros passos da Holger?
 Pata: Estamos trabalhando pesado nas músicas novas. Queremos até agosto criar ao máximo. A idéia é que depois disso role uma série de shows ainda em agosto para testar as músicas novas. Em outubro vamos tocar no Pop Montreal, no Canadá, e ainda devemos tocar em alguns festivais por aqui.
 Pedro: Estamos em processo de composição para um disco novo, já temos três músicas novas no set dos shows que estarão nesse próximo lançamento. Em breve lançaremos o clipe de “The Auction”, música do Green Valley. Acho que vai ficar massa.



você não precisa, mas quer.

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Já faz um tempo que o mundo da moda sofre a “geek ivasion”. Está em todo lugar: camisetas, anéis, colares, casacos, todo tipo de acessórios. De Super Mario a Space Invaders, a moda nerd cresceu muito nos últimos tempos. Nesta edição você já viu que nerds e rock’n’roll podem ter, sim, muita coisa em comum. Sendo assim, não tem porque você esconder dos seus amigos que fazem Moda na faculdade que você curte Second Life. Quem sabe juntos vocês até podem criar algumas estampas descoladas para camisetas. Tudo com bastante neon, afinal você pode achar seu Gameboy a melhor companhia do mundo e mesmo assim curtir o Steve Aoki e o Cobra Snake. É claro que não é preciso ser nerd para curtir uma moda geek. O tempo em que moda nerd era sinônimo de protetor de canetas do bolso da camisa abotoada até o pescoço acabou. Hoje em dia os óculos de aro grosso estão no rosto dos fashionistas e o geek virou hype, o que quer que isso signifique.

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>> SE ISSO CHEGA NO EXÉRCITO...

Quem é antenado em sites de street style e look books com certeza já se deparou com as botas Dr. Martens. Muito populares na Europa, elas já estão há algum tempo nos pés da galera antenada em moda, que começou a incorporar o estilo rústico das botinas aos visuais modernos e atuais do lado de lá do oceano. Inicialmente as Dr. Martens eram usadas por trabalhadores populares do Reino Unido, como carteiros, policiais e até pedreiros. Nos anos 60, esses coturnos ganharam popularidade através da cultura skinhead, onde eram peça obrigatória do visual. Nos anos 70, punks e roqueiros passaram a incorporar as Dr. Martens ao estilo rebelde da época, tirando a aura negativa das botas. Depois disso as botinas caíram no gosto dos jovens, e desde então ocupam lugar no armário tanto de garotos quanto de garotas. O preto e o cereja, cores tradicionais, foram substituídos por cores vibrantes e chamativas, tornando as Dr. Martens um curinga divertido e moderno.

rewind << JAQUETAS PERFECTAS Sabe aquela jaqueta de couro que você viu o Marlon Brando usar em The Wild One? É a mesma que os rockers usavam ao se meter em suas clássicas brigas com os mods em Quadrophenia. Essa famosa jaquetinha se chama Perfecto, e é um clássico absoluto que ao longo da história da música tem acompanhado os corpos mais rebeldes e bem vestidos do rock. Toda de couro, com cinto na barra e muitos zíperes (até nos bolsos), essas jaquetas são uma versão “badass” das jaquetas de aviador. Apesar disso, você não precisa ser punk, nem ter uma moto que alcança altas velocidades—muito menos simpatizar com a rebeldia dos anos 50—para trajar a sua Perfecto. Com várias releituras, as jaquetas de couro voltaram do limbo dos anos 80 e prometem ser uma das certezas deste inverno. Pra quem gosta de revivais, as Perfecto são perfeitas.


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qualquer coisa

HÉLIO FLANDERS DO VANGUART FALA SOBRE...

PASSEIO MATINAL .: CACA V_

Vocalista do Copacabana Club

avassalador, irrecuperável, graças a deus. eu louvo é a coragem sem precedentes que me fez te cumprimentar, em lugar confuso, quatro garrafas 600 ml - este era eu.

Um dos meus discos prediletos, e que sempre ouço é oYoshimi BattlesThe Pink Robots, do Flaming Lips. É o disco pra todas as horas. Pra pegar estrada. Pra acordar. Pra dormir. Pra curtir uma deprê. Pra sair de uma deprê. Hahaha. Adoro. Gosto da produção. Gosto dos barulhinhos. Dos efeitos. Das letras. Ele é todo bom!

redescoberta

porque nada era mentira é sempre verdade e isso é a maior das verdades. agora que estou acordado, não me sinto só ok, confesso, existe certa desesperação mas até o sol enfrenta seus dias chuvosos alguns tão desgraçados que levam vidas por entre bueiros e desembestam riachos não devo tentar ser maior que a vida. para, fecha os olhos, prende, respira. ainda é de manhã.

.: NOVOS BAIANOS_ FAROL DA BARRA (1978)

Antes do sol dos Novos Baianos se pôr, eles gravaram o belo e eclético Farol da Barra. Beibe canta que “até o ano 2000 o Farol será o pôr-do-sol e o pôr-do-som”, mas o disco ficou bastante esquecido e, é claro, ofuscado pela eternidade de Acabou Chorare (1972).Talvez a saudade de casa os tenha influenciado a gravar “Lá vem a baiana”, de Dorival Caymmi, e “Isto aqui o que é?”, de Ary Barroso. Mas é a faixa-título o ponto alto do disco, uma parceria do letrista Luiz Galvão com Caetano Veloso em que a voz doce de Baby Consuelo era aquecida para momentos mais intensos. Em Farol da Barra os Baianos se aventuram, guiados pelo guitarrista Pepeu Gomes, nos campos do jazz e do progressivo com resultados interessantes, como em “Straight-flush” e na acelerada “Welcome”. Já sem Moraes Moreira, Farol da Barra foi a despedida dos Baianos, o fim do sonho. 41 noize.com.br


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LAS BIBAS FROM VIZCAYA A NOIZE deste mês traz uma dose a mais de glamour. Nas próximas páginas estão o charme e a irreverência de Dolores de Las Dores, do Las Bibas From Vizcaya, projeto de electropop que ainda conta com a diva Marisa Touch Fine e com o idealizador George M. O trio é responsável pelo que há de melhor e mais pop no irresistível universo gay brasileiro. O dicionário Aurélia confirma: a expressão “um beijo, me liga” foi criada e popularizada pelos próprios. Precisa mais? Claro que sim. Então corra para o MySpace, os Podcasts, o canal do Youtube - e para as próximas páginas.

Fotos: Marco Chaparro Assistente de Fotografia: Lucas Tergolina Direção de Arte: Rafael Rocha Texto e Entrevista: Maria Joana Avellar Produção Executiva e de Moda: Mely Paredes Make Up & Hair: Mely Paredes Agradecimentos: Bianca Montial, Antonio Rabadan, Luciano, Michelle Fatturi e Beco203 Produtora.




Terno Spirito Santo; Camisa Carmim; T-Shirt Spirito Santo; Peruca e テ田ulos Escuros acervo LBFV.


Ser abduzido ou virar evangélico? Ser abduzido. Máximo de tempo que ficou sem dormir? Três dias. O que mandaria para o inferno? A banda Calypso. O que levaria para uma ilha deserta? Meus CDs. Mordida ou arranhão? Mordida no lugar certo. Um personagem? Capitão Caverna. Um ídolo? Paul Newman. Um fã? O Luca, de Porto Alegre. Um filme? Bonequinha de Luxo. Sonho de consumo? Um American Express ilimitado. Uma cor? Rosa. Onde encontra inspiração? Na noite. Motorista ou carona? Carona é mais divertido. Preferia morrer queimado ou afogado? Queimado. Cereja ou azeitona no Martini? Ai, por favor, né? Azeitona sempre. Bento XVI ou Saddam Hussein? Saddam Hussein! Beijo na Hebe ou na Suzana Vieira? Ai, na Hebe, fofa! Diarréia ou prisão de ventre? Prisão de ventre. Um gosto inusitado? Gosto de camisinha. Lã no Saara ou biquini no Alaska? Pelada no Alaska. Quem ri por último ri melhor ou é idiota? É tapado. Prefere que falte papel no troninho ou água quente no banho? Água quente no banho. Lennon ou McCartney? Ai, nenhum, detesto Beatles. Coisa mais estranha que já comeu? Carne de cobra. Preferia ser cego ou surdo? No meu caso, cego. Parte do corpo preferida? Pernas. Madonna ou Michael Jackson? Madonna. Qual musica própria melhor define você? “Song to the Siren”, com o This Mortal Coil. Lugar preferido no mundo? Paris. Melhor show da vida? No SESC Pompéia, em São Paulo. Álbum preferido? Um beijo, me liga. Vinil ou Cd? Vinil. Champagne ou cerveja? Champagne. 60, 70, 80 ou 90? 70. Fluor ou glitter? Glitter. Jogo preferido? River Raid, do Atari. Hábito que quer parar? Usar peruca. O que não falta na geladeira? Barrinha de proteína. Plumas ou paetês? Os dois. Sonho recorrente? Gravar um dueto com a Madonna. Sonho acordado? Me ver na capa da Caras. Onde quer estar daqui a 10 anos? Em Júpiter. O massacre da serra elétrica deveria acontecer em que lugar? No Planalto Central. Quem seria se não fosse você mesmo? Elisabeth Fraser, do Cocteau Twins. Você em uma linha? Luxo, riqueza, poder e sedução.


T-Shirt Antテエnio Rabadan; Luvas Casa de Tolerテ「ncia; Saia e Peruca acervo MissinScene; テ田ulos e Anel acervo LBFV.


reviews

_moveis coloniais de acaju, little boots, wilco, mos def, gallows, nando reis


GALLOWS

KASABIAN

Grey Britain

West Ryder Pauper Lunatic Asylum

Em seu terceiro disco, o Kasabian finalmente se estabelece como uma boa banda. Ao longo de West Rider Pauper Lunatic Asylum os garotos ingleses conseguem fazer uma bem dosada mistura de referências dos últimos 40 anos do rock. Tudo está lá, funk, disco, psicodelia, distorção... Na primeira e excelente faixa “Underdog”, com seu som sujo, porém delicioso, já podemos ver um Kasabian renovado, longe do marasmo do último disco. West Rider Pauper Lunatic Asylum é, antes de mais nada, empolgante. Para dançar, a hipnótica “Vlad The Impaler” e as guitarras swingadas de “Fast Fuse” se destacam. Para curtir o instrumental e o vocal bonito, “Thick as thieves” é a pedida. Para baixar o ritmo, “Fire”. E para tudo acabar bem, “Happiness”. Brunna Radaelli

A Inglaterra ecoa nas músicas de Grey Britain. Ainda assim os caras do Gallows parecem ter ouvido muito Black Flag e Rancid, dada a hegemonia estadunidense do gênero nas décadas de 1980 e 1990. “The Vulture” é um exemplo disso – hardcore melódico que flerta com o metal, repleto de acordes com terças, como fizeram o Strung Out e tantos outros californianos. A banda afasta esse papo com “London Is The Reason” e “I Dread the Night”, tão britânicas que só têm de americanas o que o punk de lá copiou do Reino Unido. Se ainda cai nas armadilhas da produção enlatada, a destrutividade de Grey Britain o livra do ranço do “emo” inventado pela imprensa. O Gallows brinca de dizer não para o punk rock comercial – que é justo onde o nihilismo tem feito mais falta. Fernando Corrêa

MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJU C_mpl_te

O segundo álbum dos brasilienses do Móveis Coloniais de Acaju traz a banda em excelente forma. Os bons arranjos somados aos vocais afinados de André Gonzáles ganham brilho em um produto mais bem acabado, mas que pouco inova em relação ao antecessor Idem. A bela “Adeus” abre o disco apontando para novos horizontes, o que não se confirma já na segunda faixa, com metais e guitarras atacando com força. “O Tempo” traz a mistura de elementos característica do grupo, acertando ao intercalar melodia e peso na medida certa. “Indiferença” encerra bem o disco, partindo do flerte com o indie para fechar no melhor estilo soul setentista. Com o pé no freio, C_mpl_te talvez chegasse ao posto de Bloco do Eu Sozinho do final da década. Lucca Rossi

LITTLE BOOTS Hands

Agora que o alternativo virou mainstream, o que se poderia esperar de uma cantora que esteve muito perto do sucesso como artista indie, mas preferiu apostar todas as fichas no pop? Em Hands, Little Boots não inova, mas também não decepciona. Trata-se de pop puro, impecável e futurista. A evidente influência das divas Madonna e Kylie Minogue, além das extintas Spice Girls, não ofuscou o espírito do it yourself da garota do sintetizador portátil, tampouco diminui a produção de Greg Kurstin e Joe Goddard. O tédio de sua voz aguda e uniforme é quebrado no jogo de vozes da excelente “Meddle”, no monólogo com sotaque britânico em “No Breaks”, e no dueto com Philip Oakey, do Human League, na oitentista “Symmetry”. Lady Gaga que se cuide. Maria Joana Avellar

WILCO The Album

O ironicamente intitulado The Album é uma eclosão de contrastes. Com canções agradáveis, mas pouco desafiantes, a marcante sonoridade western bucólica do sexteto está longe de ter a força de seu début A.M., de 1995. As febris “Wilco the Song“ e “One Wing“ transformam “You and I”, que deveria ser o hit—Feist dobra os vocais de Tweedy—no lampejo mais cafona da banda norte-americana. Os arranjos manjados e bem produzidos remetem a um misto sem sal de John Denver e Bruce Springsteen. Não se trata de um álbum caduco, porém o fã de longa data já viu tudo isso em Summerteeth. A genialidade do Wilco trava um duro embate com o tempo, gerando um disco de pérolas sem volume. Ou talvez seja só a tecnologia digital. Daniel Rosemberg 49 noize.com.br


VÁRIOS

NANDO REIS

Oi Novo Som

As 20 faixas de Oi Novo Som são representativas do que é o mercado independente no Brasil: heterogêneo, com as boas bandas escondidas em meio a várias opções medíocres. Entre as mesmices do drum and bossa e os descendentes de Los Hermanos (e de todo o tipo de artista carioca que adentrou o mainstream na última década), o processo de seleção da Oi conseguiu reunir coisas boas. A Samambaia Sound Club, com “Dançar”;Vulgo Qinho & Os Cara em sua funkeira “Galo”; a mineira Raquel Coutinho e a Mané Sagaz honrando o manguebit, o samba e o rock; o Bonde do Som arrematando com “Salsa Velha”. F.C.

Drês

O tom confessional de Drês pode tornar a assimilação do disco travada: músicas boas, como “Conta”, em que Nando saúda sua mãe, soam fracas comparadas às canções roqueiras que a precedem. Isso implica dizer que “Hi, Dri” abre o disco com classe e tem uma ótima pegada setentista, igualada pelo riff hendrixiano de “Mosaico Abstrato”. Para os habituados ao trabalho acústico do ex-Titã, sobram momentos tranquilos e felizes, ainda que as melodias vocais que identificam Reis sejam às vezes repetitivas em sua criatividade (“Ainda não passou”). Não é um disco para atrair novos fãs, mas agradará muito aos antigos. F.C.

Escute também: Strangeways Here We Come, The World Won’t Listen e Hatful of Hollow.

DiscografiaBásica

por Brunna Radaelli

RANCID

Let The Dominoes Fall

Outro grande remanescente da cena HC californiana dos anos 90 também decidiu dar as caras em 2009. O que esperar do veterano Rancid seis anos depois do último álbum? Simplesmente o diferencial de uma banda que conseguiu mesclar com maestria a cultura street-punk/ska com o HC melódico produzido no ensolarado estado americano. Está tudo nele: cantos que lembram hinos, vocais revezados e o som consagrado do órgão Hammond. Nota-se que as experiências solo serviram para aprimorar o estilo característico de Tim e Lars, ainda assim, a banda toda demonstra total entrosamento numa produção impecável. Thiago Marques

THE SMITHS

The Smiths

Formado em 82 em Manchester, na Inglaterra, os Smiths podem ser considerados a banda que devolveu as guitarras para o rock. Foram eles que deram novo fôlego àquilo que viria a se chamar de english-rock e a influenciar milhares depois deles. Foi justamente na união das guitarras precisas de Johnny Marr com as letras introspectivas de Morrissey que, em seu álbum de estréia, os Smiths encontraram o caminho para o 2º lugar no TopUK. Nesse disco de 1984, as letras de Morrissey já abordam aquele que será seu mote ao longo de toda sua carreira como músico: obsessão, angústia e depressão. Os clássicos deste 1º álbum são a dançante “This Charming Man”, a deprimida “Still Ill” e a animadinha, mas não menos obscura “Pretty Girls Make Graves”. Meat Is Murder

Meat is Murder é o segundo e mais politizado disco do Smiths. No auge de seu vegetarianismo ditatorial, Morrissey destila suas pesadas críticas sobre toda a Inglaterra. Faz graça da família real, despreza a MTV, o Live Aid e todo o universo da cultura pop. É neste álbum que está aquela que viria ser um dos clássicos absolutos dos Smiths, a já enjoativa “How Soon is Now”. Em um disco de canções menos conhecidas, Meat is Murder destaca-se pelas composições intricadas, boas guitarras e letras políticas e contundentes. Destaques para a ótima “The Headmaster Ritual”, a triste “I Want the One I Can’t Have”, e a faixa título do álbum, “Meat is Murder”, introduzida por longos mugidos de vacas indefesas implorando por socorro. The Queen Is Dead

Tido como uma superação em termos musicais e considerado por muitos o melhor disco dos garotos de Manchester, The Queen is Dead é, sem dúvida, sua obra mais popular. Em 86, perto do fim da existência dos Smiths (que viriam a se separar em agosto de 87), a banda acaba passando por diversas atribulações. Divergências entre Morrissey e Marr, o vício em heroína de Andy Rourke e outros conflitos figuram nas faixas de The Queen is Dead, disco nervoso e intimista. Nele, Morrissey sentencia: “I Know It’s Over”. Destaque para clássicos absolutos como a “meio otimista” “There Is a Light that Never Goes Out”, a dançante “Big Mouth Strikes Again”, e “Cemetery Gates”, de letra potencialmente depressiva.


GREEN DAY

21st Century Breakdown

É o Green Day do novo século. Mas é Green Day, quanto a isso não há dúvida. As guitarras fortes e os refrães ainda estão lá, assim como a inconfundível linha vocal do já maduro pai de família Billie Joe. 21st Century Breakdown segue a fórmula do antecessor American Idiot, só que agora conta a história de Christian e Gloria, um casal que enfrenta as dificuldades do mundo pós-Bush. São 18 faixas bem amarradas e divididas em três atos: “Heroes And Cons”, “Charlatans and Saints” e “Horseshoes and Handgranades”. Sim, mesma idéia e mesmo discurso político-social. A principal diferença em relação ao álbum anterior é a grande quantidade de arranjos e efeitos. Faixas ecléticas, 70 minutos de música e mais um disco conceitual do Green Day. Cristiano Lima

MOS DEF The Ecstatic

Mos Def achou os beats de que precisava para retornar à qualidade do clássico Black On Both Sides, o disco de estréia, de 1999. The Ecstatic mostra que ele está em grande forma, mesmo depois de quase três anos sem lançamentos. A produção é assinada principalmente por Madlib e Preservation, mas conta com um beat póstumo do mestre J Dilla, além de Chad Hugo, Oh No e Geórgia Anne Muldrow – que também canta muito em “Roses”. O álbum tem fortes referências na música indiana e oriental, mas cede espaço para sintetizadores nervosos no single “Life in Marvelous Times” e samples da banda Black Rio em “Casa Bey”. Sem autotunes e vocoders, apenas muito flow, The Ecstatic tem boas chances de ser o melhor do rap em 2009. Bruno Felin

MARS VOLTA Octahedron

Dosar experimentalismo, técnica e distorção – marcas registradas da obra do Mars Volta – é a maior qualidade de Octahedron, quinto disco da dupla formada por Cedric Bixler-Zavala e Omar Rodriguez-Lopez. A fusão do rock com elementos de fusion jazz, funk e punk rock segue forte, mas baladas como “Since we’ve been wrong” mostram um lado até então pouco explorado pela banda. Mais lapidadas, as faixas “Desperate graves” e “Cotopaxi” remetem às composições dos trabalhos anteriores, sem ultrapassar a marca dos 10 minutos. “With twilight as my guide” dispensa bateria e distorção, realçando os vocais de Zavala, com belos teclados e efeitos de guitarra. Uma ótima porta de entrada para os menos habituados à complexa sonoridade da banda. Lucca Rossi

ta por vir .: Julho_ Superguidis | (Sem título definido) “Esse disco é diferente porque nos permitimos experimentar mais nos arranjos... Mas não está irreconhecível, os refrães ainda estão lá!”, disse Lucas Pocamacha, guitarrista da gaúcha Superguidis, sobre o 3º álbum dos caras, aguardado para o fim de julho.

confira Grizzly Bear Veckatimest ___Você ainda aguenta mais uma banda indie folk? E se tiver uma boa pitada de psicodelia sessentista? Em alguns momentos de Veckatimest, Grizzly Bear entrega isso ao ouvinte. Sobra melancolia e bucolismo, mas sem as maravilhosas harmonizações de um Fleet Foxes.

Marilyn Manson The High End of Low ___Sombrio como tem que ser, Marilyn Manson declara em The High End of Low que todo mundo deve ir ao seu funeral para ter certeza de que ele permanecerá morto. Amém. Entre hinos pop e afrontas bem boladas à cultura norte-americana, THEOL se sai bem.

Iggy Pop Préliminaires ___Ao longo das 12 faixas de Préliminaires, o mestre dos graves Iggy Pop divide-se entre o francês e o inglês. E é na língua mãe que ele canta a versão que tem tocado nas rádios de Insensatez, do maestro Tom Jobim. Préliminaires é trilha perfeita para o hibernar a dois,.

DVDS LEGIÃO E PARALAMAS Juntos

Gravado em 1988, no Teatro Fenix, Rio de Janeiro, o show contido neste DVD reuniu em um mesmo palco duas das bandas mais evidentes no cenário pop nacional da época. Porém cabe destacar que o “juntos” do título se concretiza efetivamente em apenas dois momentos: o início da apresentação, com Paralamas do Sucesso e Legião Urbana tocando juntos diversos clássicos do rock misturados; e o final, em que Renato Russo entoa “Ainda é cedo”, com direito a inserções estranhas de “Jumpin’ Jack Flash”, dos Stones. Gravado para um especial da maior rede de TV do país, não é novidade que a captação das imagens não seja muito empolgante – vale pelo registro do momento, quando as bandas estavam no auge, e pelo áudio, devidamente remasterizado para fazer o disco valer a pena. Ricardo Jaggard

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cinema STAR TREK

Diretor_ J. J. Abrams Lançamento_ 2009 Atores_ Chris Pine, Zachary Quinto, Karl Urban, Zoe Saldaña, Eric Bana Nota_ 4 de 5

Trinta anos de filmes e inúmeras séries, com uma base de fãs tão fiéis que se tornou obcecada pelos detalhes que compõe seu “cânone”, a franquia Jornada nas Estrelas parecia moribunda já havia uns bons anos. Entra em cena J. J. Abrams (criador de Lost, produtor de Cloverfield e diretor de Missão Impossível III) com a ingrata função de reintroduzir a série nos moldes de Batman Begins e Cassino Royale – atrair o público jovem, sem comprometê-la aos olhos dos fãs antigos –, a franquia ganha novo fôlego. O recurso é engenhoso: uma viagem no tempo provoca um evento que altera o curso da série, dando a possibilidade de se retomar a história de Star Trek desde o início – fazendo assim um reboot e ao mesmo tempo mantendo-se na continuidade dos dez filmes anteriores. O grande charme de Star Trek sempre

foi seus personagens, e o filme se vale de uma escalação de elenco acertada: Chris Pine como Kirk e Zachary Quinto (o Sylar de Heroes) como Spock precisam lidar com uma ameaça básica de vilão-que-destrói planetas, o vingativo romulano Nero (Eric Bana), e com a própria rivalidade e competição entre os dois, a bordo da Enterprise (cujo visual luminoso e clean de Ipod-do-espaço nos faz esperar ver o logo da Apple em algum canto). Há também um equilíbrio raro em blockbusters – cada vez mais padronizados e impessoais – entre o tom de ação-realista-câmera-na-mão, que parece indispensável às releituras de filmes de ação, e o humor leve dos filmes de aventura, fazendo deste Star Trek rejuvenescido uma raridade em meio à ação burocrática de Wolverines e similares. Samir Machado

O EXTERMINADOR DO FUTURO: A SALVAÇÃO

Diretor_ McG Atores_ Christian Bale, Sam Worthington, Anton Yelchin, Moon Bloodgood, Michael Ironside e Helena Bonham-Carter Lançamento_ 2008 Nota_ 3,5 de 5

Não é fácil a tarefa de McG – diretor de As Panteras e produtor da serie The O.C. – de convencer crítica e público de que seria capaz de suceder um diretor como James Cameron. Em grande parte, não é: falta à McG a habilidade que Cameron sempre teve – rara em diretores de ação - em desenvolver personagens, mas ao menos consegue compensar com boas cenas de ação e efeitos especiais eficientes, fazendo deste quarto filme infinitamente superior ao fraco terceiro episódio. Aqui, Christian Bale, que precisa urgentemente relaxar e fazer uma comédia ou drama intimista, é John Connor, o líder da resistência ao domínio das máquinas no futuro próximo de 2018. Paralelo à sua jornada de derrotar o supercomputador SkyNet, está Marcus Wright (o novato Sam Worthington, despontando como

novo astro de ação), um condenado à morte em 2003 que desperta no futuro sem saber o que aconteceu consigo, e acaba encontrando Kyle Reese (Anton Yelchin, de Star Trek), que os fãs da série sabem ser o pai de John Connor. O filme traz um grupo de coadjuvantes interessantes, e é uma pena que não sejam suficientemente desenvolvidos, mas apontar essas falhas seria injusto com os méritos que o colocam acima da média dos blockbusters recentes: há uma visão de futuro interessante, que parece mesclar a desolação de Filhos da Esperança com o clima de pânico de Guerra dos Mundos, e um bom número de cenas empolgantes que valem o ingresso (a queda de helicóptero no início, e toda a seqüência que se inicia no posto de gasolina são particularmente angustiantes). Samir Machado


cinema

FUNNY GAMES de Michael Haneke (1997)

VALSA COM BASHIR

Violência Gratuita (Funny Games, do original de 1997) poderia soar clichê como mais um filme de terror produzido em série pela atual indústria cinematográfica, não fosse o brilhantismo do diretor austríaco Michael Haneke. Na obra em questão, o realizador recém-premiado com a Palma de Ouro em Cannes questiona a banalização da violência e apresenta sua estética em grau máximo. O desenrolar da história de dois jovens que expõem uma família a circunstâncias extremas é apresentado na forma de espetáculo. O filme tem por intenção provocar o espectador e questionar sobre essa violência que diariamente ganha ares de destaque nos mais diversos veículos. Além disso, retoma uma reflexão acerca dos meios de comunicação, transformados em máquinas reprodutoras do caos e incentivadores da degradação humana. Marcela Jung

Em certo momento de Valsa com Bashir, um personagem diz que muito do que nos lembramos nunca aconteceu, são momentos criados para preencher lacunas. Momentos muitas vezes surreais e absurdos, como uma alucinação. Essa é uma das justificativas dadas pelo diretor Ali Folman para um documentário em animação: mostrar as sensações e os pensamentos. O filme é composto por depoimentos de ex-combatentes, reconstituições talvez não tão fieis à realidade e cenas delirantes, como a do soldado que toca sua guitarra imaginária, um rifle, enquanto ao fundo uma batalha desenrolar-se em fast forward. Valsa com Bashir ganhou 17 prêmios em todo o mundo, e foi a primeira animação a concorrer ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. É um filme cru, que vai direto ao ponto: a guerra destrói a todos, para sempre. Maurício de Lima

de Ali Folman (2008)

livros

VIDA DE ESCRITOR de Gay Talese (2009)

Na década de 1960, ao lado de Norman Mailer, Tom Wolfe e Truman Capote, Gay Talese criou o novo jornalismo, estilo que insere elementos de ficção à reportagem. Em seu 11º livro, lançado em 2006 nos Estados Unidos e recém chegado ao Brasil, Talese conta algumas das histórias vividas nos mais de 50 anos de profissão. Mais do que a autobiografia do descendente de italianos nascido em Nova Jersey, formado na então pouco influente Universidade do Alabama – a única a aceitá-lo – que se torna um dos maiores escritores de nãoficção norte-americanos,Vida de Escritor é a reflexão do autor sobre seu processo criativo. Desde o início da carreira no jornal da faculdade, passando pelos anos no New York Times, até a consolidação como autor de livros-reportagem, Talese não apenas narra episódios da biografia dos personagens e dos lugares que o fascinam, mas expõe as agruras da vida de repórter-autor. Uma aula de jornalismo em quase 500 páginas. Lucca Rossi

games X-Men Origins: Wolverine Brutalidade, carnificina e muito sangue. X-Men Origins:Wolverine convence pela diversão. Sem inovações na jogabilidade, mantendo a receita que vem dando certo em tantos outros games de aventura, gráficos e sonorização são os pontos fortes. A dublagem do próprio Hugh Jackman ajuda a inserir o jogador no universo do game e do filme. Em alguns momentos o jogo se torna repetitivo, principalmente nos combates aos “chefes”. Em contraponto, há uma grande variedade de golpes e de inimigos, o que proporciona a utilização de diferentes combos. Por Wolverine possuir poder de cura – seu “life” aumenta com o tempo – morrer tornou-se uma tarefa quase impossível. Eduardo Dias 53 noize.com.br


fotos: 1 | Inma Varandela

2 | Luis Alberto Fiebig Jr. (Tatu)

3 | Ricardo Romanoff 4 | Cauê Borella

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shows

_PRIMAVERA SOUND, COCA-COLA PARC, YO LA TENGO, THA SKATALITES


COCA-COLA PARC Porto Alegre, 5 a 7 de Junho

O Coca-Cola PARC reuniu, ao longo de três dias, programação para todos que tivessem um mínimo de curiosidade por música pop, de pré-adolescentes a velhos fãs de rock, de gente que só queria curtir o embalo hype do electro a pensadores do mercado independente. Além de shows muito bacanas, um ciclo de palestras sobre música levou produtores e envolvidos com o mercado fonográfico ao auditório do Museu Iberê Camargo, de frete para o Lago Guaíba, cartão postal da cidade. A produção trouxe gente de peso como o músico e produtor Benjamin Taubkin, o presidente da MTV Brasil, Zé Wilson, e o produtor Carlos Eduardo Miranda. Cada sessão relacionava música a outros temas, como tecnologia, economia, sociedade e internet. Ao contrário do que se poderia temer, cada um dos participantes soube trazer, dentro de seus conhecimentos, propostas para o novo mercado em transição da música. Como é o caso do Espaço Cubo, criado na cidade de Cuiabá, que desenvolveu uma série de estratégias visando o desenvolvimento do mercado cultural no Mato Grosso, onde a cena independente era inexistente na década de 1980. Após os debates, a melhor coisa a se fazer era curtir os shows que rolaram no Circuito Noturno: o californiano No Age, o nova-iorquino Matt and Kim, o cuiabano Vanguart e o curitibano Copacabana Club foram algumas das bandas que, na sexta feira à noite, ocuparam diversos bares da cidade. O som do No Age é rápido, tosco e direto. Randy Randall toca guitarra como um adolescente, Dean Spunt canta com um ar niilista, um tanto geek, enquanto espanca sua bateria. O som transita entre o Descendents, o Black Flag e o indie rock. Por pouco tempo, já que o show explosivo dos caras não durou muito mais que meia hora. Donos de músicas bacanas, de veia punk pulsante por trás da estética eletrônica

dos teclados, não é a veia musical, no entanto, que impulsiona a performance dos nova-iorquinos Matt and Kim. É a alegria, tão intensa nos sorrisos constantes da dupla, que faz do show deles uma experiência tão empolgante. Ao fim dos curtos 40 minutos em que enfileiram canções como o hit “Yeah Yeah” e a contagiante “Daylight”, ainda sobrou muita energia. No melhor estilo “free hugs”, a paz e amor cool do Brooklyn acolhe a todos em abraços calorosos. Antes do fim com gosto de prematuro, Kim surfou em cima do público ao som do riff clássico de Sweet child o mine. Foram seguidos pelo Copacabana Club. Enquanto fãs do CSS podem implicar com a performance inspirada em Lovefoxxx da vocalista Caca V, basta tomar isso como uma característica positiva e o show se torna uma surpressa muito boa. O que falta no CSS e sobra no Copacabana? Uma pegada brasileira escondida por trás do som super contemporâneo do quinteto. Por vezes lembra mais Jorge Ben, noutras, mais soul, e muita gente nem deve se dar conta disso. Intencional ou não, a caracterísitca torna o som dançante mais acessível aos ouvidos menos habituados ao electro rock. O Vanguart, representante folk do festival, fez uma apresentação grandiosa num palco diminuto. Cada vez que uma canção era executada, era entoada como fosse um hino. Se destacaram “Cachaça” e “Robert”, que tiveram a participação de Arthur de Faria na gaita, “O Mar”, obra prima de Dorival Caymmi e, como jamais poderia faltar, a fina ironia de “Semáforo”. Sem contar o encerramento primoroso com um cover de “Dig a Pony”, dos Beatles. Talvez a estrela do PARC tenha sido o palco Underage, voltado para o público de 12 a 18 anos. A galera de espinha na cara pôde conferir bandas de renome daqui e de fora, como Pitty, Cachorro Grande, os franceses The Teenagers e os ingleses The View. Foi música demais. Ana Luiza Bazerque e F. Corrêa

PRIMAVERA SOUND Barcelona, 23 a 31 de Maio

Com um total de 171 shows, o line-up do Festival Primavera Sound 2009 foi capaz de reunir mais de 80 mil pessoas, batendo seu próprio recorde histórico de público. O povo se dividiu entre os 14 palcos do evento, seis deles situados no Parc del Fòrum e outros oito espalhados pelo centro de Barcelona com o Primavera a la Ciutat. O dia 23 de maio foi o marco inicial, com shows em diversas estações de metrô.A partir do dia 25, salas como a Apolo, La [2] e Sidercar entraram no circuito, que também incluiria o Parc Joan Miró até o fechamento do festival. Mas o quente mesmo rolou no Fòrum, à beira mar, onde a Noize concentrou suas forças. Quinta-feira A tarde do primeiro dia começou com cheiro de maratona musical no ar. Yo La Tengo abriu com uma barulhenta catarse sonora, gritando bem alto we’re back! O show fluiu com mais delicadeza e fechou com a otimista “Mr.Tough”. Já era hora de Phoenix, no palco Rockdelux. Dançante e bonitinho como sua música, que deu uma animada legal e abriu a noitada. No clímax da noite, os shoegazers do My Bloody Valentine mostraram pela segunda vez consecutiva no festival que sua volta não é um simples reencontro comemorativo. As distorsões e reverberrações digitais encheram o ar e chegaram a doer no ouvido de muitos, que cobriam as orelhas com as mãos. Não menos barulhento foi Aphex Twin, proclamado novo deus da eletrônica. A massa ia à loucura. Já eram 3 da manhã. O fôlego durou só até Ebony Bones, no palco Vice-Rayban. O grupo é inclassificável, um um verdadeiro circo (ou carnaval). Com esse encontro entre M.I.A., Björk e Cirque du Soleil encerrei a quinta de Primavera. Sexta-feira Spiritualized foi a pimeira grande banda a tocar. O grupo de Jason Pierce apresentou “Songs in A&E” com maestria, num 55 noize.com.br


show quase conceitual. Art Brut entrou no palco Estrella Damm às 21h20min. Simpático, um Eddie Argos contador de histórias não se cansou de bater papo com o público. O indie-punk-arty apagou a luz do dia, mas a noite é uma criança e o Primavera sempre reserva umas surpresas pra gente. Foi o caso de The Mae Shi, um punk cortante de uns meninos californianos que está dando o que falar. Pouco depois, Jarvis Cocker veio sem medo de ser roqueiro. Menos melodrama, mesmas esquisitices típicas. O dandy proletário jogou charme pra lá e pra cá com o recém lançado Further Complications. O rock dançante de Bloc Party caiu como uma luva às 2h. A multidão cantou em coro hits como “Banquet” e “Helicopter”, e recebeu bem o novo Intimacy. Sábado O encerramento do festival começou com ninguém menos que Neil Young. Um verdadeiro clássico conforme o esperado, enquanto “Hey hey My My” estampava nostalgia nas caras ao meu redor. No bis, Young voltou com “A Day in the Life” dos Beatles e uma manta do Barça, para delírio geral. Memorável também o show do Sonic Youth. Desde baladas melosas até o punk afiado, o grupo fez um set representativo de vários momentos da sua história. (*Foram oito horas de festival na quinta, nove na sexta e mais oito no sábado. Um total de mais de 24 horinhas zanzando pelos palcos. A cobertura completa você confere no blog da NOIZE: tinyurl.com/primaveranoize). Carolina De Marchi

YO LA TENGO Berlim, Babylon Mitte, 8 de Junho

A turnê The Freewheeling Yo La Tengo encontrou em Berlim um lugar muito adequado para as recentes apresentações do grupo, marcadas por longas conversas da banda com a platéia: o acolhedor auditório do cinema Babylon Mitte, com cerca de 500 poltronas, espaço voltado para a exibição de películas que estão fora dos grandes circuitos comerciais. O prédio se salvou dos bombardeios da Segunda Guerra e está

localizado no que já foi o lado soviético da cidade. Assim é Berlim, a arte convive com memórias trágicas e com as ruínas do muro que por décadas dividiu o mundo. Por parte da banda, que também tem seus pólos ensolarado e melancólico, predominou a leveza das músicas e o bom humor nos bate-papos. Ao subir no palco, o guitarrista Ira Kaplan, que nessa turnê toca violão, avisou que as sugestões do público seriam avaliadas e talvez atendidas. Realmente, os pedidos de músicas mais conhecidas como “Let’s Save Tony Orlando’s House” e “Today Is The Day” foram rejeitados. Em vez delas, raridades como “Dreaming” (versão de uma música do compositor de jazz Sun Ra), cantada docemente pela baterista Georgia Hubley e trilha de um curta-metragem americano Ode (1999), uma das incursões cinematográficas da banda. O show foi o paraíso para os fãs mais curiosos. Do disco Fakebook (1990), surgiram “Can’t Forget”, “Yellow Sarong”, “Griselda” e “What Can I Say”, em que Georgia canta “I don’t know why/ You run and hide/ I don’t know what/ You feel inside”. Valiosa também a execução de faixas de I Can Hear The Heart... (1997) como “Deeper Into Movies”, “Shadows” e a belíssima “Stockholm Syndrom”, na voz do baixista James McNew. Do recente I Am Not Afraid Of You... (2006), o trio apresentou “Black Flowers” e os agudos de Ira e James em “Mr. Tough”. De Popular Songs, previsto para setembro, foi antecipada somente uma das faixas, “I’m On My Way”, duo do casal Ira e Georgia. Um dos presentes perguntou a Ira qual o seu cantinho no mundo, em referência à canção “My Little Corner Of The World”. Ele disse que não seria um lugar, mas os momentos em que está com Georgia e James nos ensaios, quando surgem versões e covers inesperados. Ao que o público aplaudia, os três trocaram olhares e riram, talvez pela frase ter soado tão bem, quase como uma resposta pronta. Ira então brincou que se aquilo fosse dito em francês e

prolongado por uma hora, poderia ser a entrevista de um filósofo a um programa de televisão que ele assistira dias antes em Paris. Mais aplausos para uma banda com 25 de estrada que não quer ser levada a sério demais. Ricardo Romanoff

SKATALITES

Porto Alegre, Bar Opinião, 7 de Junho

Domingo, um dia de sol e uma noite de ska. Novamente Porto Alegre demonstrou sua vocação cultural ao receber pela primeira vez a orquestra Skatalites, criadores do mais influente ritmo jamaicano, semente original de toda musicalidade oriunda da pequena e famosa ilha caribenha. Presentes no palco, três “dinossauros” integrantes da quadragenária formação original. Lester “Ska” Sterling abriu a contagem regressiva e “Freedom Sound” foi a primeira música a libertar o público presente, relativamente pequeno em relação ao porte do evento. “James Bond Theme” foi tão dançante que faria até o agente britânico 007 perder a classe. As clássicas “Latin Goes Ska” e “Guns of Navarone” também foram apresentadas na parte puramente instrumental do show. A entrada da Doreen Shaffer foi aclamada e forneceu ao espetáculo uma voz à altura da qualidade técnica dos instrumentistas. “Simmer Down”, música que revelou a voz de Bob Marley enquanto o reggae ainda engatinhava, e “You´re Wondering Now”, cover da também genial banda Inglesa The Specials, são os destaques da participação da “Rainha do Ska” Doreen. Mesmo a baixa temperatura não foi suficiente para esfriar os ânimos da platéia, que clamava por mais música cada vez que a apresentação esboçava o seu fim, sendo atendida com o retorno da banda ao palco por duas vezes. Skatalites prova que a música é o verdadeiro elixir da juventude, com uma turma de “velhinhos” dando show de vitalidade, técnica e carisma. Thiago Aita Marques











_ilustra lĂŠo lage, sobre stencil de cauan F.

flickr.com/bahqteto

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