Revista NOIZE #07 - Setembro de 2007

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fia e Bloodshy. É o sexto de J.Lo e segundo neste ano, sucedendo Cómo ama una mujer, divulgado em março, com canções em ritmo de salsa e produzido por seu marido, o também cantor e ator Marc Anthony. Antes dos dois, ela lançou On the 6 (1999), J.Lo (2001), This is Me… Then (2002), Rebirth (2005) e Como Ama uma Mujer (2005). Somadas as vendas de todos os álbuns, já foram mais de 35 milhões de cópias. Uma turnê beneficente deve reunir marido e esposa a partir do dia 29 de setembro. Ela terá início em Atlantic City e os levará aos 14 maiores palcos dos Estados Unidos. O casal também trabalha junto no filme The Singer. A obra retrata a trajetória de Héctor Lavoe, “pai da salsa”, e é protagonizada por Anthony e produzida por J.Lo. A trilha sonora e o filme foram lançados no início do mês passado nos EUA, e ainda não há previsão para pintarem por aqui.

Alice in Chains com disco novo Depois de 12 anos sem lançar nada, a banda grunge Alice In Chains está com disco novo no forno. Quem assume os vocais a partir de agora é William Duvall, substituindo Layne Stanley, que morreu em abril de 2002. O último CD de estúdio lançado pelo grupo foi batizado oficialmente de Alice In Chains. No entanto, o disco foi chamado por vários apelidos como “tripé” e “três”, devido à capa, que continha a foto de um cachorro de três pernas. Este era também o terceiro álbum completo do Alice In Chains. Mesmo antes da morte de Stanley, a banda já havia parado. O último show da formação original foi em julho de 96, logo depois 6

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do MTV Unplugged. Stanley se envolveu com drogas pesadas, se tornou esquivo e não tinha saúde estável para continuar com a rotina da banda. Ao ver que o Alice In Chains iria ficar parado por tempo indeterminado, o guitarrista Jerry Cantrell investiu em carreira solo. William Duvall, o novo vocalista, conheceu Cantrell e os dois ficaram amigos. Daí para o Alice In Chains voltar à ativa foi um pulo. A banda começou neste ano a fazer turnê com o Velvet Revolver. Agora, com Duvall oficialmente na banda, um novo disco está sendo produzido. Além deste, o MTV Unplugged vai ser relançado com três músicas a mais, que foram excluídas da versão original.

J.Lo em inglês de novo A cantora e atriz Jennifer Lopez já tem data definida para lançar mais um álbum. Intitulado Brave, o novo CD chega às lojas no dia 9 de outubro e simboliza o retorno de Jennifer às canções em inglês. A primeira música de trabalho será “Do it well”. O álbum contou com a produção de um quarteto: J.R. Rotem, Ryan Tedder, Midi Ma-


Ms. Polêmica Não é de hoje que sabemos sobre a personalidade difícil de Lauryn Hill. Não que isso seja ruim. Quem foi vê-la no Pepsi On Stage, em Porto Alegre, percebeu que Hill faz as coisas do jeito que bem entende. No show do Rio de Janeiro, ela entrou com três horas de atraso e sob vaias. Em uma entrevista para o site Allhiphop.com, o rapper Pras, ex-integrante do grupo de hip-hop Fugees, disse que a idéia de se reunir novamente com a musa está descartada. Para não deixar dúvidas, argumentou que seria mais provável Osama Bin Laden tomar chá com George W. Bush para discutir política externa. Pras não consegue suportar a personalidade da cantora norte-americana: “At this point I really think it will take an act of God to change her, because she is that far out there.” O showbiz rende (com) boatos. Corre solto que Lauryn gosta de ser chamada de nada menos que Ms. Hill.Vai que é tua, Taffarel.

festival no Auditório Ibirapuera e na Arena Skol Anhembi, e os curitibanos na Pedreira Paulo Leminski. O teatro da Universidade Federal do Espírito Santo acolherá o evento em Vitória.

Morrisey não quer mais saber dos Smiths

Tim Festival definido Foi divulgada a programação completa para o Tim Festival, que será realizado entre os dias 25 e 31 de outubro nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Vitória. Vão ser trazidos 39 nomes, entre os quais Arctic Monkeys, Björk, The Killers, Juliette and The Licks, Hot Chip, Anthony and the Johnsons, Girl Talk e as cantoras Feist e Cat Power. O Spank Rock, o DJ Diplo—além dos nacionais Vanguart, Montage e Del Rey e das cantoras brasileiras Cibelle e Katia B—também se apresentarão. O jazz será representado por Cecil Taylor, Joe Lovano Nonet, Conrad Herwig’s Latin Side Band, Sylvain Luc Quartet e o Stepano Di Battista Quartet. A Marina da Glória será o palco dos shows para os cariocas. Os paulistas conferem o

música que os meninos tocassem. Em sinal de protesto, podia a banda tocar enésimas vezes a mesma música que o povo acompanhava compreensivo e solidário. Um repertório anima-baile com Frank Sinatra, o tremendão Roberto Carlos, Tim Maia, Beatles e por aí vai (foi). Até música própria teve. Liderados pelo fornecedor da lã, Carlinhos Carneiro, eis que um dia tudo acaba sem aviso prévio e sem mágoas. Como quase tudo, tirando a parte das mágoas. Foi divertido nas semanas que imperaram e, quem sabe, um dia eles dão o ar da graça por aí. Mééééé…

O Império ruiu Antes cedo do que nunca. Alguém aí chegou a dar umas risadas nas chalaças promovidas pelo Império da Lã? Ao ver de fora, nem parecia um show de Porto Alegre. Todo mundo a dançar livremente qualquer

Morrisey recusou-se a se reunir com seus ex-companheiros de banda. O cantor divulgou à imprensa que não aceitou uma proposta de quase US$ 75 milhões para reunir os Smiths para uma turnê. A proposta era de realizarem 50 shows no ano que vem e no seguinte. Ele já havia recusado, no ano passado, o convite de tocar com os Smiths no Coachella. A reunião dos Smiths seria feita entre Morrisey e o guitarrista Johnny Marr, sem necessidade dos integrantes restantes, Andy Rourke e Mike Joyce. No ano passado, Joyce processou Morrisey e Marr pelos direitos autorais da banda; Joyce venceu. O processo não foi amigável, criando desavenças entre os integrantes. A banda inglesa, que surgiu em 1982 e se separou em 87, fez fama mundial com hits como “The boy with the thorn on his side”. Smith é o sobrenome mais comum na Inglaterra, e o objetivo no nome da banda era mostrar que seus integrantes eram pessoas comuns. Desde então, o único que conseguiu uma carreira solo notável foi Morrisey. Em setembro, o cantor se apresenta em Tijuana, no México, dando início à sua turnê pela América Central e do Norte. Ele comentou, em entrevista ao site do NME, que estes shows seriam os últimos em um “futuro próximo” e “o desejo é deixar ótimas memórias para todo mundo, porque ninguém sabe o que nos aguarda no futuro”. noize.com.br

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A suposta reunião do Guns’n’Roses Em entrevista para a rádio TK101 da Flórida, Slash, ex-Guns N’ Roses e atual Velvet Revolver, contou sobre o que o público achava ser uma possível reunião do grupo. Steven Adler, que tocava bateria no Guns, está voltando à ativa com sua nova banda, Adler’s Appetite, e Slash foi dar uma força para o amigo. Adler esteve envolvido com drogas durante muito tempo, e finalmente se encontrou mentalmente capaz. Slash comentou: “Steven é um cara empolgado, e ele tinha boas intenções quando falou, mas ele acabou dizendo que haveria essa reunião, e isso rapidamente alimentou esses rumores de reunião do Guns N’ Roses”. O público e a mídia caíram em cima de

Slash, com e-mails e telefonemas perguntando sobre o tal show de reunião do Guns. Slash foi ao show que seria essa possível reunião, onde a banda de Adler se apresentava. Não quis subir ao palco, para não alimentar mais as especulações de reunião do grupo. “Acho que o Duff subiu e tocou, o Izzy subiu e tocou… e foi o que foi, mas eu não vejo nenhuma reunião acontecendo”, disse Slash. Slash ainda comentou que não apóia, mas também não condena o novo rumo do Guns N’ Roses. Axl Rose, vocalista, continua utilizando o nome quando a banda já não mantém mais a mesma formação há anos.

Pete Doherty preso e solto Tá, ele está sempre aqui e não vamos negar. Mas é que ele pede, né? O ex-vocalista do Libertines e atual do Babyshambles está sempre metido em alguma confusão. A última envolveu uma passagem de 24h pela cadeia. Pete Doherty foi detido por suposta posse de droga ilegal (fato que foi desmentido) quando retornava de um show em Stafford. A prisão foi realizada no leste da capital britânica. A verdadeira acusação partiu da premissa que ele havia violado a condicional de ou8

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tra ocasião em que foi autuado por posse de drogas ilícitas. Segundo a juíza de turno Susan Williams, “qualquer detido por transgredir uma liberdade pagando uma fiança deve ser levado a um tribunal dentro de um período de 24 horas”. Pete faltou a esta audiência. No começo do mês passado, outra juíza aconselhou a Pete que largue a dependência de entorpecentes se não quiser ser preso. O músico já admitiu o uso de inúmeras drogas.


R.E.M. lança CD e DVD ao vivo Saem no dia 16 de outubro os primeiros registros ao vivo da banda R.E.M. Batizado apenas de REM Live, o disco foi gravado em fevereiro de 2005, em Dublin, na Irlanda. O CD sai em edição dupla, e o DVD, simples. R.E.M Live conta com vários sucessos do grupo ao longo de sua carreira.A banda, que está na estrada há 27 anos, teve seu álbum anterior, Around the sun, lançado em 2004. O DVD foi filmado pelo aclamado diretor Blue Leach, que já trabalhou com Depeche Mode e Snow Patrol. Leach acompanhou o

R.E.M em 116 shows em 33 países durante o ano de 2005. O CD/DVD traz, além de “I’m Gonna DJ” (que ainda não havia sido gravada) uma performance vocal do baixista Mike Mills na música “(Don’t Go Back To) Rockville”. Depois de ter gravado o REM Live em 2005, a banda retornou a Dublin em junho deste ano e passou uma semana ensaiando e testando novas músicas com o público local, em pequenas apresentações. Aparentemente, Dublin inspira os músicos a coisas boas.

Novo trabalho de Ben Harper Foi só acabar a turnê do duplo Both sides of the gun, em novembro passado, para começar a gravar o álbum Lifeline, que já está prestes a ser lançado. O novo trabalho foi mixado e gravado em Paris pelo californiano e sua banda,The Innocent Criminals, em apenas uma semana. O sucessor do duplo traz músicas centradas no soul acústico americano. Segundo Ben Harper, o objetivo do trabalho é “criar um diálogo com instrumentos e com os membros da banda, e, através desse diálogo, conectar-se a quem o ouvir”. É esperar para sentir.

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O New Order é uma banda que jamais será esquecida, e isso é inegável. Mesmo quem não gosta reconhece canções como “Bizarre Love Triangle”, “True Faith” e “Blue Monday”. Foram importantíssimos para os anos 80 e junto com outros, como os Smiths e o The Cure, compuseram algumas das melhores músicas do período (vale lembrar que “Regret”, outro hit da banda, é dos anos 90). Formada após a morte de Ian Curtis e o fim do Joy Division, o New Order se consolidou com os remanescentes da banda: Bernard Sumner (vocal, guitarra e sintetizadores), Peter Hook (baixo e bateria eletrônica) e Stephen Morris (bateria e sintetizadores). Nos mais ou menos 20 anos juntos (houve alguns hiatos), lançaram oito álbuns de estúdio e construíram uma reputação internacional, com fãs em todos os continentes. No entanto, a banda passa por uma turbulência cujo resultado fica difícil de prever. Não se sabe o destino do nome New Order e os últimos capítulos são tristes. Tudo começou no dia 14 de julho, quando Peter Hook declarou o fim do New Order ao semanário britânico NME. Nas palavras 10

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dele, “nós (Hook, Sumner e Morris) decidimos não trabalhar mais juntos. Estivemos indecisos por algum tempo e acabamos seguindo caminhos diferentes. Eles (Sumner e Morris) não ofereceram soluções”. Após a declaração do baixista, os outros músicos afirmaram terem sido pegos de surpresa pelas palavras de Hook, mas disseram que continuarão sem ele. “Estamos desapontados que Hooky tenha decidido anunciar a separação do New Order. Esperávamos que ele falasse conosco antes, pois não pode falar em nome da banda sem nos consultar. Com isso, podemos apenas concluir que ele não quer mais fazer parte da banda”, comunicaram. Hook reagiu, dizendo que seus ex-colegas não poderão usar o nome da banda sem ele. “Este grupo ACABOU! Vocês não são mais New Order do que eu. Não pensem que têm o direito de fazer qualquer coisa com este nome. Mas eu estou disposto a negociar. Vejo vocês no tribunal!”, sentenciou. A triste disputa que se anuncia pelo direito ou não de Sumner e Morris continuarem utilizando o nome New Order põe fim a um relacionamento iniciado em 1976, ainda no Joy Division.


Para ler ouvindo: Planondas - Postal Song

Qual o seu estilo? Muita gente responderia que é a música. Apesar de não percebermos, o tão falado mundo da moda está diretamente ligado ao da música, numa sinergia onde seria impossível a existência de um sem o outro. E foi pensando nisso que decidimos convidar, a cada edição, uma personalidade do meio musical para um editorial de modaconceito e um bate-papo sobre estilo. Nossa primeira “vítima” não poderia ser outra além de Pedro Metz, vocalista da Pública e sócio da loja Rouparia (Fernandes Vieira, 656), onde trabalha desde os 14 anos de idade. Como surgiu a tua relação com a moda? Surgiu ainda criança, já pequeno eu me vestia de super-herói. Minha família é de comerciantes, então desde sempre a gente lida com moda. Mas a minha mãe, por exemplo, é uma socialista e tinha que passear comigo no calçadão de Santa Maria vestido de Super Homem! Isso pra ela era um negócio absurdo… mas ela fazia as minhas vontades. Lembro quando vi alguns filmes, eu sempre queria me fantasiar como os personagens. A tua maneira de entender moda modificou depois que passaste a trabalhar na loja? Sim, mudou. Porque tu passa a se interessar não só por uma parte estética, mas comercial também. Tu acaba adquirindo mais conhecimento, vai amadurecendo como pessoa, vai entendendo sobre as referências de épocas, suas distinções… observando cada estética e reconhecendo seus valores. E o trabalho com a música, nos últimos tempos, me fez abrir a cabeça pra muitas outras coisas. Te preocupas com estilo? Me preocupo, mas nada relacionado a marcas. Me visto muito com coisas de Texto e produção Helga Kern e Mely Paredes Foto Marco Chaparro (311 Label)

Veja mais fotos do editorial e do making of em www.noize.com.br

brechó. Já teve vezes que cheguei a insistir pra comprar roupas que algum amigo estivesse vestindo. Agora, tênis eu tenho um pouco de predileção por marcas e estilos, mas com roupas não. O fato de trabalhares diretamente com moda, na loja, não acabou por moldar o teu estilo para algo que fugisse um pouco do comercial? Acho que sim. O meu estilo é também influenciado pela bandas que eu gosto de ouvir. O lance da loja é algo que o cara precisa distinguir muito bem, porque

Porto Alegre é uma cidade que não aceita muito o conceitual ainda, e eu não sei se vai aceitar um dia. Então, tens que te focar muito no comercial e saber mesclar o conceitual. A minha maneira de vestir não reflete especificamente as araras da loja. O que achaste de ter participado do editorial? Gostei muito, me surpreendeu. Por coincidência eu vi o filme Maria Antonieta, da Sofia Coppola, no final de semana, que tem bastante a ver… gostei muito da mistura que foi usada. noize.com.br

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Buenos Aires por Fábio Grehs

A capital da Argentina é a capital do Tango, certo? Certo. Porém, se deixando levar pelos buenos aires das ruas de lá, você vai descobrir toques de modernidade misturados com antigüidade, rock misturado com milongas, América misturado com Europa. Foi dirigindo pela Avenida 9 de Julio (a mais larga do mundo) que percebi os contrastes que fazem de Buenos Aires a cidade mais visitada pelos turistas brasileiros. No centro, marcado pelo Obelisco, todas as esquinas tem um café ou um bar. O que mais se vê são livrarias (abertas 24 horas e com livros a preços baixíssimos), táxis e teatros gigantescos. Descendo pela mesma Av. 9 chegamos num bairro recentemente restaurado da cidade, Puerto Madero. Imagine o nosso Cais do Porto repleto de restaurantes chiques e caríssimos em vez de galpões. Mas Buenos Aires está longe de ser uma cidade cara; uma corrida de táxi longa custa uns 6 pesos. Agora, se você quer economia mesmo, procure a galeria Bond Street (Santa Fé, 1670), também conhecida como galeria do rock. Lá se encontram roupas de marcas famosas (ou “réplicas”, como eles dizem) por preços entre 10 e 80 pesos. As maiores barganhas estão na rua Florida, que impressiona os porto-alegrenses pela semelhança com a Andradas. No bairro La Boca, uma das melhores visitas que se pode fazer é ao estádio La Bombonera, e também às lojas do Caminito (onde quase tudo são “réplicas”). No clássico bairro de San Telmo, especificamente na Praça Dorego,

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todo domingo de manhã ocorre uma espécie de Brique da Redenção gigantesco, O passeio mais clássico que você pode fazer é conhecer o bairro Recoleta, uma mistura de Cidade Baixa e Moinhos de Vento. Cafés, parques, boates, shoppings e o cemitério. Um pouco mais afastado do centro turístico, o bairro de Palermo Viejo junta as casas antigas que lembram a Europa com a modernidade fashion atual. O simpático bairro está cercado de lojas de moda, bares, casas noturnas e, é claro, cafés. Clássicos cafés argentinos com media-lunas e empanadas baratas. A dica de noite é tomar uma gelada nos bares que rodeiam a Praça Cerrito, ou entrar em alguma “disco” ou “bolicho”. É difícil não se apaixonar por Buenos Aires. A cidade continua sendo a capital do tango, mas com pessoas andando com camisas do Oasis nas ruas, as palavras Beatles e Rolling Stones pichadas em muros, artistas tocando milongas nas esquinas e estilistas e cineastas famosos tomando café nos bairros clássicos. Não há como não notar o misto de modernidade e nostalgia que a cidade traz, e pra sempre querer voltar a respirar os buenos aires de lá.

O Melhor de buenos aires: Rádio – Kabul (FM 107.9) fmkabul.com Casa de Shows – Cavern Club Revista – Los Inrockuptibles Comida – Empanadas Lugar – Mod Rock Club


Biarritz

por Amanda Selbach

Sempre digo para quem vem à França que há lugares muito mais bonitos pra conhecer além de Paris; vale a pena se aventurar. Um trem de Paris a Biarritz dura 4h e custa em torno de €40 o bilhete. De avião é bem mais rápido, mas custa mais caro. Eu trabalho no restaurante de um hotel, na beira da praia. Quando saio, às dez e meia, o sol está se pondo. Subo os rochedos do farol para vê-lo se acabando dentro do mar. Na noite, o farol ilumina a Grande Plage, onde os jovens costumam se reunir na areia durante o verão. Nessa época do ano não existe final de semana: os bares e boates estão lotados diariamente. E como em qualquer canto do mundo, sempre existe um bar brasileiro. O Favelas Chic é o bar pra quem quer conhecer brasileiros, o que Biarritz tem em peso para uma cidade de 30 mil habitantes. Biarritz é a capital do surf na França. Situada na costa da região do Pays Basque, que liga a França com a Espanha, conta com quatro praias. A praia do Miramar está a dois passos da Grande Plage, a praia mais turística de Biarritz, cercada de monumentos históricos. Todos os sábados à noite, durante o verão, tem apresentação de fogos de artifício na beira da praia. É imperdível. Entre essas duas praias fica o Port Vieux, uma prainha calma onde desembarcam barcos e veleiros. A Côte des Basques é a ultima praia de Biarritz; é nela que nasceu o surf na França. As dimensões dessa praia geram ondas perfeitas e seguras. Cerca de trinta minutos ao norte de Biarritz

fica o trio de praias Hossegor – Capbreton – Seignosse. Hossegor é o paraíso dos surfistas, onde ondas gordas, com tubos perfeitos, quebram bem na beirinha da praia. Setembro é a melhor época para pegar ondas, tanto que é lá que ocorre o Quiksilver Pro France, etapa do WCT na França. Se for para lá, não deixe de passar no Rock Food e no Dicks Sand Bar, dois bares superbadalados. Na primeira semana de agosto, acontece a Festa de Bayonne. Bayonne é a cidade que separa Hossegor de Biarritz, 15 minutos distante de cada uma. Essa é uma das festas mais importantes da França e reúne mais de um milhão de pessoas. Durante cinco dias, as pessoas se vestem todas de branco e colocam um cinto vermelho na cintura e um lenço da mesma cor no pescoço. É incrível. Concluindo: dizem que em Biarritz o “soleil touche la mer” (o sol encosta no mar), portanto, venha logo e não deixe de ver o pôrdo-sol, que não cansa de ser admirado.

O Melhor de biarritz: Rádio – NRJ (FM 100.9) nrj.fr Casa de Shows – Les 100 Marche Revista – Revista revista.fr Comida – Gâteau Basque e Piperate Lugar – La Côte des Basques

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Texto Fernando CorrĂŞa

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hegavam os anos 60, e a Bossa Nova era lei no Beco das Garrafas, ruelinha emblemática do Rio de Janeiro boêmio. Havia ali os que tocavam a Bossa e os que a amavam. À frente de seu tempo, João Gilberto estourara anos antes com uma batida inovadora, extremamente brasileira, complexa e caprichada. Trazia o ritmo do samba para a batida do violão, para a alegria dos que buscavam atualizar a levada desgastada dos violões sambistas. Além disso, Joãozinho não cantava a métrica compassada e quadrada dos grandes vozeirões da época. Preferia a afinação perfeita de seu vocal sussurrado, que se adiantava ou atrasava no tempo conforme o feeling. Até os grandes conjuntos vocais, acostumados a interpretar sambas-canção e clássicos do jazz, arranjariam um jeito de cantar a música de João. João Gilberto saiu de Juazeiro, onde tinha pai rico e futuro garantido – caso optasse por ser médico ou advogado. Mas queria ser músico e provar que as garotas que paqueravam ele e seu violão tinham, antes de tudo, bom gosto musical. Então, trocou a rádio-poste pela promissora idéia de viver da (e na) noite fluminense. Tocou pro Rio.Viveu esmolando abrigo de seus novos amigos cariocas, até que o último disposto a lhe acolher entendeu porque os dez anteriores desistiram: o baiano passava dias trancado no banheiro, desenvolvendo sua técnica de tocar o baixo com o dedão e puxar os agudos com os demais dedos, num suingue que não condizia com sua atitude perante a vida. João era um deitado. Por sorte, chegava 1958, e a Bossa Nova estava prestes a se mostrar ao mundo nos acordes de Chega de Saudade. Logo, João seria uma estrela ascendente. Essa inventividade escancarada em batidas de violão difíceis de compreender e impossíveis de não admirar serviram de inspiração para boa parte dos músicos e protótipos de músico da época. E foi em 1962, no Bottle’s, um desses pequenos buracos do Beco, que um negro bonito chamado Jorge apresentou pro mundo sua singela canção “Mas que nada”. Com marcas da Bossa , auto-declarada samba com maracatu, a música transbordava negritude nas harmonias alegres e no balanço inédito até entao. Mas havia ali muito mais. Jorge

tocava o violão como fosse percussão de maracatu, de samba, de rock, de tudo junto; e cantava enlouquecido. Flamenguista e malandro, compunha com alegria e ingenuidade tropical. Um mosaico de influências em uma base puramente carioca, esse era Jorge Ben. Sai da minha frente que eu quero passar. Ben foi logo descoberto pela Philips e gravou seu primeiro álbum, Samba Esquema Novo (1963). Elementos eram incorporados na sua música com a mesma destreza que sua mão direita tocava as cordas do violão: num vai-e-vem aleatório, mas certeiro. Não demorou para que o blues e o jazz encontrassem seu espaço na mistura (Big Ben – 1965). Os alquimistas Em dez anos completou-se o primeiro ciclo da carreira do mago carioca com o psicodélico e acústico Tábua de Esmeralda (1974). Como ele mesmo definiu, o álbum é a própria alquimia musical. A inventividade de faixas como “Homem da gravata florida”, com uma levada no violão jamais sonhada só encontrava paralelos nos “enlouqüentes” anos 60 da turma que fala inglês. O Brasil nunca estivera tão fértil, e tudo atingia as pessoas como um turbilhao. Havia quem ouvisse o pianinho jazzy de “Que Pena”, do Jorge, e pensasse “Uau, samba com jazz”. Só que os grandões não acreditavam muito nessas denominações. Aliás, o herói João Gilberto sempre achou o termo samba-jazz uma bobagem. Se é samba, é samba, e não há limites quebrados que tenham que ser descritos com a adição de termos como jazz, rock ou o que seja. O samba em si (ou dó, ou ré...) é mistura, como um bolo - e cada confeiteiro tem sua receita. Ainda assim, a receita do samba que Joaozinho fez lá em 1958 foi nomeada Bossa Nova. João Gilberto criara o que músicos como Tom Jobim, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal e Newton Mendonça vinham a muito buscando. Se estes já exploravam os acordes dissonantes (herança do jazz) e as melodias mais elaboradas, foi só a batida sincopada de João que conseguiu sintetizar o que os outros vinham esboçando. As tardes no banheiro valeram à pena.Ao contrário de Jorge, que compunha letras ímpares com histórias fantásticas e tantas mulheres

que não caberiam em uma vida (diz-se que aparecia no Beco com uma deusa a cada noite), Joãozinho edificou seu sucesso como intérprete. Seu primeiro LP, Chega de saudade, de 1959, traz dez canções de grandes compositores, como Jobim e Lyra, e apenas duas dele. Na seminal faixa título, implementou seus acordes complexos e lapidados e a batida que transformou a música de Tom Jobim no marco revolucionário da Bossa Nova. No encarte do disco, o maestro elogiava João, agradecido: “Ele acredita que há sempre lugar para uma coisa nova, diferente e pura [...] Eu acredito em João Gilberto, porque ele é simples, sincero e extraordinariamente musical”. (In)definições Da mesma forma que as harmonias complexas do jazz influenciaram o samba, a Bossa, o universo de Jorge, os jazzeiros americanos beberiam da música brasileira assim que tomassem conhecimento da nova efervescência brasuca. Pela metade da década de 60, quando Jorge já estava Ben difundido nas bocas e becos cariocas, a expressividade da Bossa Nova havia enfraquecido e cedia lugar para diversas variações do samba – todos profundamente influenciados pela Bossa. Há fortes semelhanças entre o legado de nossos personagens: a unanimidade como gigantes da música brasileira, que veio da habilidade de imprimir na batida de violão ritmos nada usuais. Só que Joãozinho era óculinhos e terninho, era Bossa Nova. E Jorginho era samba com maracatu, e cantava o Flamengo. João era profundo, cult, politizado. E Jorge era leve - chegou a ser chamado de superficial e alienado. E a batida, sim, a batida. Sejam os traseiros das lavadeiras que fazem “Bim Bom” na música de João, seja Jorge com seu “Homem da gravata florida”, fazendo nascer flores e amores por onde passa. Os rumos que os dois deram ao samba são responsáveis pela existência de bandas e estilos musicais que, hoje, chamamos de nossa música popular. Não haveria MPB, pagode, manguebit, se os alquimistas João Gilberto e Jorge Ben –entre alguns outros, é verdade- não decidissem que poderiam tocar o samba como quisessem. E fazendo isso, mostraram que, na música, (re)inventar(-se) é fundamental. Leia mais em noize.com.br noize.com.br

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Texto Carlos Guimar達es

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anguarda, maldito, alternativo, autodidata, referência, inovador, pioneiro, demo, revolucionário, indie. Hoje, em 2007, todas estas palavras que um dia caracterizaram um artista independente chegam a soar risíveis perto do que se pode fazer sem sair de casa, apenas com uma idéia na cabeça e uma banda larga na tomada. No entanto, até a chegada da internet, eram bem mais difíceis os caminhos de quem queria lançar sua música, mas não tinha espaço nem no escaninho mais escondido do almoxarifado de uma grande gravadora. Se nos anos 70 eles eram “malditos”, na década seguinte foram tachados de marginais. Nos anos 90, eram piratas; agora, são nerds. Queiram ou não, eles estão aí—agora nem tanto mais por ideologia, tampouco por necessidade, mas apenas por vontade própria. É impossível traçar um marco zero na história da música independente brasileira. Assim como é complicada a tarefa de estabelecermos um conceito exato do que é ser independente. Alguns acreditam que a quebra de paradigma, a subversão em cima de um movimento que ocorria em seu tempo, pode se encaixar nessa idéia. Assim sendo, é possível afirmar que os cariocas de voz baixa e acordes estranhos nos anos 50, cantando “Chega de Saudade” à beira do mar de Ipanema, seriam independentes— contrariando o espírito dos vozeirões que faziam sucesso nas ondas do rádio. Ou quem sabe os tropicalistas, que viraram de cabeça para baixo uma MPB meio combalida, encheram os violões de chuva, suor e cerveja, desorientando um carnaval, comandando a massa e incomodando as pessoas da sala de jantar? Talvez. Afinal, Tropicália ou Panis Et Circensis (1968) é a própria revolução estética e musical. Depois viriam os nordestinos, que como verdadeiros retirantes, invadiram o cenário musical do centro do país nos anos 70, como

Belchior, Ednardo, Fágner, Zé Ramalho e os Novos Baianos, colocando um sotaque diferente na nossa música. Revoluções feitas com o espírito punk—muito antes do punk existir, se reinventar, popularizar, e hoje, se pintar e chorar (sim, os emos). Com todas estas fragmentações na música brasileira, ficaria impossível um reconhecimento dentro do primeiro conceito de independente. Abstendose do “ideológico” da questão, é bem melhor ficar com a idéia mercadológica. Uma música independente é aquela lançada por um artista, distribuída por ele, vendida por ele e sem qualquer

participação de uma gravadora neste processo. A gravação é caseira, ou então bancada pelo próprio interessado. A mixagem e o acabamento final igualmente. O artista define (ou definia) o número de cópias, o destino de cada uma, o processo de comercialização. Ou seja, o artista bancava, por conta e risco, tudo. Absolutamente tudo. Nos dias atuais, o independente virou mainstream. Para finalizar uma música, é preciso um estúdio, um aluguel de algumas horas. O material já é gravado no próprio computador. Com um software razoável, em pouco tempo se tem o produto final, manjando um pouco de

mixagem e do manuseio do programinha (que já mixa, masteriza, edita e corrige). A música sai pronta. E com uma qualidade padrão. Se você estiver com pressa e não for tão exigente ou perfeccionista, da sua casa você baixa um programa, grava tudo plugado no computador e vai um abraço. Se hoje é fácil lançar uma música, há trinta anos as coisas não eram bem assim. Estudiosos consideram o pianista Antonio Adolfo como o autor do primeiro disco independente da música brasileira. “Feito em Casa” (1977) foi lançado com 500 cópias bancadas por ele, pelo selo Artezanal, criado pelo próprio. Um álbum instrumental com um time de primeira, como Chico Batera, Peninha, Danilo Caymmi e a presença da cantora Joyce. Antonio Adolfo misturou jazz, samba-rock, bossa nova e samba, num trabalho instrumental de uma fineza absurda. Relançado em CD quando completou 25 anos, o marco zero da música independente brasileira foi o precedente para que qualquer artista, mesmo rejeitado por uma grande gravadora, não tivesse que fazer concessões para ver sua música consumida. Ainda na década de 70, a maioria dos artistas que não tinham contrato com gravadoras acabavam sendo conhecidos por suas apresentações. Eram os chamados “malditos”, que cantavam para públicos médios em centros estudantis, universidades, pequenas reuniões e explodiam nos grandes festivais—de fato, a única vitrine para que eles pudessem mostrar o trabalho para o grande público.Volta e meia, eram apadrinhados por algum grandão da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Elis Regina. Foi assim que o Brasil conheceu, por exemplo, Belchior e Renato Teixeira (com Elis), Jards Macalé (com Gal) e Jorge Mautner (com Gil). Juntase a esta turma Itamar Assumpção, Tetê Espíndola, Arnaldo Batista, Luiz Melodia, Arrigo Barnabé e Oswaldo Montenegro.

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Os “malditos”. Os anos 80 foram a década da fita. A fita demo. O advento de recursos tecnológicos, a correria e a popularização dos chamados “combos” (TV + videocassete, som 3 em 1, walkman com fita e rádio, rádio-relógio que grava) facilitou a entrada destes produtos na prateleira da gurizada. Esta popularização diversificou o cenário independente: se o pioneiro foi um estudioso profundo de jazz e MPB, com a participação requintada de convidados especiais e um certo conhecimento de estúdio, gravação e uma erudição significativa, os adeptos da fita demo eram basicamente fiéis seguidores do que os Sex Pistols deixaram em seu pouco tempo de vida (e antes de sabermos que tinha um Malcom McLaren por trás de uma picaretagem do bem – pra música). Instrumentos baratos, equipamentos ruins e muita, mas muita vontade—e aí necessidade. E nenhuma possibilidade. Talvez esse gosto pelo improvável tenha motivado Ratos de Porão, Cólera, Inocentes e a turma do punk paulistano a produzir pilhas de fitas demo mal gravadas e distribuídas pela periferia da capital. O punk ensinou como fazer sem saber (muito). A onda chegou ao Brasil no início da década de 80. Logo, a plena identificação com uma garotada que não tinha como cenário o Circo Voador e as pedras do Arpoador. Eram os tempos das gangues, de uma década que já iniciara frenética, sem tempo a perder.

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Uma pressão por ser bem-sucedido, uma pressão por uma abertura, um favorecimento do lobby, a banalização da corrupção e a expectativa pelo fim de um regime que ninguém agüentava mais. Era a chance para que os punks surgissem. Com uma agenda de festivais considerável, no início da década eles lançaram diversas fitas demo, sem qualquer interferência de grande gravadora. Foi o suficiente para chamar atenção—a cena não era apenas paulistana: Os brasilienses colocaram em majors bandas como Legião Urbana e Capital Inicial. No Rio Grande do Sul, Replicantes, TNT e De Falla. Até os cariocas, estes com mais facilidade de penetração, lançaram suas sementes. O sucesso desse método foi tanto que algumas fitas demo são objeto cult hoje em dia, como a Demo Vórtex, dos Cascavelletes. Dois anos depois do lançamento, entraram em trilha de novela da Globo. E para começar, teria que ser assim, gravando fita demo e colocando a cara à tapa. A década de 90 entrou e houve o boom do independente. A sacada era tão genial e o caminho era tão bem delineado que até as grandes gravadoras criaram selos específicos para abrigar estas bandas. O Banguela, o Plug e o Rock It! são alguns exemplos. Todo o som que seria feito no Brasil na década teria um passado independente. Foram três estouros para que houvesse a consagração da marca. O Skank lança o primeiro disco pelo selo Chaos da

Sony, ganhando vaga para tocar, inclusive, no Hollywood Rock. Os Raimundos colocam “Puteiro em João Pessoa” para rodar e todo mundo sabe a letra antes do lançamento do primeiro disco. E do Recife chega o manguebit, capitaneado por Chico Science e Nação Zumbi. Paralelamente, um outro canal aparece para servir de veículo entre os independentes e o público. A MTV dá espaço para os chamados demo-clipes, vídeos que uma banda de qualquer lugar poderia enviar para a emissora. Os democlipes até tiveram um programa próprio no início dos anos 2000—quando apareceu, entre outras, a CPM 22. A década de 90 foi pródiga em surgimento de bandas. Skank, Raimundos, Chico Science, Mundo Livre, Boi Mamão, Pato Fu, Virna Lisi, Planet Hemp, Comunidade Ninjitsu, Rip Monsters, Sheik Tosado, Maria Bacana, Penélope Charmosa, Little Quail and the Mad Birds, Virgulóides, Os Ostras, Acabou la Tequila, Los Hermanos e mais uma centena de coisas que eram boas, péssimas, deram certo, nem tanto ou sequer saíram do lugar. Houve também a explosão das guitar bands, como Pin Ups, Wry, Second Come e Thee Butcher’s Orchestra. Inspirados nos alternativos norte-americanos, definiram o conceito de indie (simplesmente “independente”). Hoje, o termo é designado para caracterizar qualquer novo roqueiro pósmoderno, numa deturpação completa da nomenclatura. Sem qualquer pecha


de marginal, maldito ou com o estereótipo de bagaceiro ou sem dinheiro para a verba, eles acharam a saída mágica sem perder a ternura. Era clipe na MTV, contrato com algum selo importante ou com gravadora de médio porte e uma música para se trabalhar. A fórmula certa para o sucesso. No entanto, há de se destacar o boom ocorrido em qualquer gravadora ou selo. Em 1997, os Racionais MC’s venderam, informalmente, cerca de 2 milhões de cópias do CD Sobrevivendo no Inferno. “Informalmente” porque pelo menos 1 milhão foram cópias piratas. Era o primeiro passo para se estabelecer um certo pânico nas companhias. Os gravadores de CD chegavam ao mercado. O formato digital, implantado há uma década, sofria o primeiro impacto: se para produzir um vinil era necessária uma parafernália, se na fita demo a cópia da cópia da cópia tinha uma qualidade terrível, a tecnologia teria de passar a perna no mercado. Com o CD, um milhão de cópias sairiam perfeitas. Junte-se a isso um agravante: o preço do CD, que no início da década ainda era honesto, triplicava a cada ano, gerando uma combustão perigosa para o consumo. O pirata estava ali, com a mesma qualidade de som, uma procedência duvidosa, mas de apelo inegável para que a massa pudesse ter acesso a um produto que já não entrava no orçamento quando se visitava um shopping center. O sucesso de Sobrevivendo no Inferno

precedeu um programa inventado por um norte-americano que subverteu as regras fonográficas. O Napster, depois abolido pelo Metallica, foi só o pontapé inicial para uma série de softwares que permitiam realizar o sonho de qualquer usuário de música.A partir dali, você poderia baixar, de graça e com segurança, qualquer música disponível no formato MP3 (outra considerável mola propulsora para o movimento independente). Era preciso deixar de pensar na música como formato e sim como produto, individual, lembrando a era dos compactos. Qualquer um poderia digitalizar e a idéia era se reinventar para não perder a carona. Outra alternativa buscada pelos artistas foi a criação de suas próprias gravadoras para a distribuição de seus discos. Lobão criou o Universo Paralelo, oferecendo o atrativo de combinar o CD com uma revista. Marisa Monte, Maria Bethânia e Lulu Santos já produziram seus discos com os direitos fonográficos próprios. No mundo, quando o single de “Crazy”, do Gnarls Barkley, e o disco Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not bateram recordes de downloads, a ficha caiu. Não caberiam mais lançamentos monstruosos de CDs à meia-noite em megastores. Não existiria mais parada de CDs vendidos. Um milhão de cópias já na primeira tiragem passaria a ser um suicídio comercial; a internet era o veículo a ser explorado. O surgimento

de sites como o MySpace faz com que qualquer usuário de PC consiga ouvir a mais distante novidade no sudoeste da Dinamarca. A divulgação não seria mais batendo na porta de rádios ou entregando para amigos uma fitinha gravada num fundo de quintal. Foi a reinvenção de tudo que o “faça você mesmo” pregava. O êxito se dá a partir disso, de fazer você mesmo. Sem passar por gravadora. Assim, depois de tantas batalhas e muito suor, o independente venceu; o independente virou o mainstream. LÁ FORA O mercado independente no exterior é bastante diferente do histórico traçado no Brasil. A partir da influência do punk, centenas de bandas formaram um cenário nos Estados Unidos e na Inglaterra vendendo um som chamado de “alternativo”. R.E.M, Sonic Youth, Pixies, Husker Dü, Fugazi, Pavement e Dinosaur Jr. capitanearam este movimento nos EUA. Na Europa, a cena shoegazer do final dos anos 80 lançou Happy Mondays, Blur, Stone Roses e Jesus Jones. Nos anos 90, o Nirvana e o movimento grunge já antecipavam o caminho. Amparados pelo selo SubPop, colocaram o chamado indie no topo das paradas. O independente chegava com música eletrônica, rap, world music, folk, blues, reggae. A tendência era o independente. Aliás, segue sendo!

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Arte Rafael Rocha

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NOIZE: As gravadoras fazem falta? Petracco: acho que para nós não vale a pena neste momento. Bocudo: sendo uma banda independente, nós não temos acesso a ferramentas de mídia de grande massa. Petracco: e somos conscientes disso. Bocudo: tu falou: “lançaram o disco no dia 18”. Tu saber disso, para nós, é uma repercussão. Em loja e tinha no primeiro mês; depois, não tinha mais. O que vende mesmo é na loja? A gente sabe que está quebrando distribuidora, as lojas estão fechando… Papel: estamos num momento de transição. O CD é um cartão de visitas e é um formato que ainda vai perdurar por mais um tempinho. Bocudo: é um CD que não mandamos para gravadora nenhuma. Nem pleiteamos ser contratados por ninguém. Sendo nós os donos dele, podemos praticar um preço que achamos justo. Conseguimos manter um preço num nível

clássicos do rock gaúcho. Ele curte a música do Bocudo, Sexy Experience, com a Cachorro Grande, curte uma música do Petracco, mas nem manja que existe Locomotores. Nós sendo uma jogada independente, mais um empecilho. Leães: Mas aí tu estoura lá para fora e aí tu é o máximo. Petracco: e tu tava aqui o tempo inteiro. www.locomotores.com

Texto Natália Utz Texto Gustavo Corrêa Foto Divulgação Nestor Grün Foto

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S e a nossa política se locomove através da corrupção, na música, o Sul tem salvação. Com uma grande bagagem musical nas costas, Jerônimo “Bocudo” Lima, Márcio Petracco, Maurício Fuzzo, Luciano Leães e Alexandre “Papel” Loureiro se juntaram. Experientes, sem precisar de papas na língua—enfim, independentes—, a banda de rock Locomotores trilha seu caminho. Entre um show e outro da turnê do primeiro disco homônimo, os Loco receberam a NOIZE para uma conversa sincera. NOIZE: Vocês lançaram, dia 18 de julho, o primeiro CD. Como está a repercussão do trabalho? Petracco: fazia horas que eu não entrava no perfil dos Loco no orkut; a comunidade está movimentada. Tem uns dizendo “onde baixa ‘Compositor’?”, e todo mundo baixa o pau no cara. Pô, vai comprar o disco! Leães: repercussão tem várias maneiras de ver como está rolando. Eu senti forte em comentários. A internet é um feedback legal, porque tu consegue ver o número de pessoas que entram em contato com site, com orkut e tudo mais. Número de pessoas pedindo e comprando o disco sem nunca ter feito uma divulgação em rádio e TV. Muita gente pedindo disco no Brasil inteiro. A gente recebe e-mail pedindo o CD de qualquer maneira. E nós mandando via correio.

decorrência de um show que tu viu ou ficou sabendo, está aqui fazendo essa entrevista, que vai atingir outras pessoas e vai ser a repercussão. A repercussão não se sente assim, ela vai vindo. Além de repercutir, ela reverbera. Aí vai da qualidade. Acreditamos na nossa qualidade. É por isso que, por enquanto, não temos interesse na gravadora. O modo que elas ainda operam ainda é de uma forma que não está satisfatório para um artista. Petracco: com toda a dificuldade que tem para fazer um disco, é punk, tu tem que bancar o lance. Mesmo com toda a força que tivemos de um bando de parceiros. E isso é muito doido, porque é facílimo de gravar o teu disco: chega ali no computador e grava. Mas também, fazer um lance como nós queríamos tem custo. Tem um clipe. De onde saiu isso? Não tem patrocínio nem da pizzaria. Na boa, faço questão de dizer que essa coisa dos ex-isso, ex-aquilo, somos uma banda independente e estamos ralando, indo para a estrada. Bocudo: temos orgulho do passado, mas não nos condenem nem nos vangloriem por isso. Leães: a vantagem de ter uma gravadora, pelo menos até um tempo atrás, é que ela fazia uma distribuição que, na verdade, não existia. Todas as vezes que trabalhei com gravadora, eu fui à

aceitável que coíba a própria pirataria. Maurício: tu tem 15 músicas no disco; um pila cada música. Bocudo: o cara me ajuda e eu posso fazer outro disco bom de novo.

NOIZE: Futuro independente dá certo… Petracco: se pintar um contrato internacional com a EMI é claro que os caras… mas acreditamos que é viável. Bocudo: a gravadora teria que me prover distribuição, clipes, mídia, transporte para um show importante, e isso não existe. Tenho que juntar os Locomotores com a NOIZE e fazer uma festa para levantar a grana e viajar. Se é para fazer mal feito e ficar preso lá com os caras, vamos ficar sozinhos para sempre. Costumo brincar: incorruptíveis até 1,5 milhão de dólares. (risos)

NOIZE: Você acha que o gaúcho tem a tendência a valorizar mais as bandas daqui que fazem sucesso lá fora? Petracco: santo de casa não faz milagre. Os caras estão descobrindo o mundo. É anos 80, som eletrônico, pagode, um zilhão de coisas para o cara curtir. O cara não pára para ver, não manja muito. Temos uma tendência a pensar na nossa turma. Lotamos o Garagem, o Jekyll, mas a maior parte dos pinta não tem noção para apreciar a parada. Porto Alegre tem essa coisa de cidade pequena, do interior, o cara tá deslumbrado com as coisas de fora e ele curte os

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Texto Gustavo CorrĂŞa Foto/Montagem Rafael Rocha e Douglas Gomes


Q

uando esta matéria foi escrita, a última notícia sobre Amy Wi‑ nehouse no semanário britânico NME tinha o seguinte título: ‑“Amy Winehou‑ se cancels V festival appearance”. Mes‑ mo para quem não entende inglês, mas conhece a protagonista e acompanha esporadicamente notícias de veículos especializados em música, tornou-se comum relacioná-la a esse tipo de fato. Nos últimos meses, ninguém cancelou mais shows que Amy. O que mais frus‑ tra, no entanto, é não estarmos falando de uma artista qualquer. Amy Winehou‑ se, londrina de 23 anos, é uma das mais aclamadas cantoras e compositoras de jazz, soul e R&B da atualidade. Famosa mais recentemente por canções como “Rehab” e “Back to Black”, Amy já havia chamado a atenção do público em 2003, ano em que lançou Frank, álbum de estréia indicado ao Mercury Prize, Oscar musical britânico. Escrever uma música sobre reabilitação e fazê-la chegar ao topo das paradas de diversos países é um triunfo que poucos conseguem obter, e ela o fez. “Rehab” chegou à sétima colocação na Grã-Bretanha e alavancou Back to Black (2006), álbum do qual faz parte, à liderança no mesmo ranking. Comparável ao seu talento, porém, há uma vocação inegável para estar sob os holofotes mordazes da crítica. Simultaneamente a essas conquistas, as pessoas foram se familiarizando com a vida pessoal agitadíssima de Amy—um banquete para os bisbilhoteiros tablóides ingleses. Pouco depois de receber o prêmio de Melhor Artista Feminina no BRIT Awards 2007, ela foi fotografada apresentando um “pó branco” suspeito no rosto. Antes disso, há inúmeros episódios relacionados a consumo de álcool. Em 2006, Amy participou do programa de Charlotte Church e, junto com ela, interpretou “Beat it”, de Michael Jackson, errando a letra, cantando com a fala arrastada e se atrapalhando com o ritmo. Também há relatos que indicam dois supostos assaltos realizados por Amy e casos de agressão depois de ingerir bebidas alcoólicas. Recentemente, ela suspendeu

participações em diversos shows. As faltas chegaram a ser aproveitadas até por uma casa de apostas londrina. A William Hill, uma das maiores, propôs aos clientes que apostassem se Amy iria ou não comparecer a um de seus shows no mês de julho. Enquanto a assessoria da música alegava que havia cancelado as datas por causa de uma “profunda estafa”, Amy era vista em pubs londrinos, onde, com certeza, não estava bebendo água. As letras de suas músicas acabam se tornando verdadeiros desabafos. Da insistência do pai e de seu antigo empresário para que fosse internada em uma clínica de reabilitação surge “Rehab”, a canção mais conhecida de Amy. “Me and Mr. Jones” teria como inspiração a convivência da cantora com o rapper Nas. A imprensa especializada supõe que muitas músicas de Back to Black foram baseadas no relacionamento com o marido Blake Fielder-Civil, com quem Amy casou-se em maio. A canção que intitula o álbum, de acordo com ela, é baseada inteiramente neste relacionamento. Frases como “We only said good-bye with words. I died a hundred times. You go back to her and I go back to us” aludem à separação do casal, que acabou reatando logo depois. A sinceridade é uma característica inegável de Amy. Ela não deixa de ser direta e exata em suas descrições, como em “Addicted”: “When you smoke all my weed man, you gotta call the green man. So I can get mine and you get yours”. Dona de uma personalidade ímpar, repleta de altos e baixos, ela alterna momentos de euforia com outros de depressão. Amy atribui à separação dos pais, quando tinha nove anos, o primeiro momento infeliz de sua vida. Depois disso, passou a fazer o que queria e não se isenta de admitir que era uma “pequena merdinha”. “Eu fazia tudo que queria. Matava aula para dar voltas com o meu namorado e levava ele lá pra casa. Minha mãe chegava do trabalho no horário de almoço, e nós estávamos rateando pela casa em vestidos de limpeza”, contou à revista britânica Q. Aos 14 anos, foi introduzida pelo irmão ao soul e ao jazz. Depois disso, vem a escola secundária, da qual

guarda a recordação de ser uma garota com baixa auto-estima, que disfarçava essa fraqueza projetando-se como alguém forte. A falta de concentração nas tarefas acadêmicas fez com que ela fosse expulsa. O diretor falou que seria melhor matriculá-la em uma escola só para garotas. Sobre isso, Amy descreve a reação de seu pai: “What is she – a slut or something?”. Na escola somente para meninas, a postura não mudou muito, pois ela continuou matando aula e usando esse tempo para dar voltas com o namorado. Esses acontecimentos, tidos em um contexto, mostram que Amy foi com o tempo desenvolvendo características singulares. Ela tende a admitir seus erros e excessos, mas não consegue reagir a eles, mesmo ciente do mal que lhe fazem. Quanto ao comportamento agressivo quando bebe excessivamente, Amy diz que “tem ótimos momentos em determinadas noites, mas exagera e acaba estragando a festa do marido”. E completa com sinceridade: “Eu sou realmente uma idiota bêbada”. Aos 16, passou a tomar pílula anticoncepcional. Segundo Amy, isso não lhe fez bem, pois logo em seguida engordou e se deprimiu. Entram em cena, então, os medicamentos antidepressivos, que a deixavam quase anestesiada. Mais um vício desagradável que ela precisou combater. Em seguida, é a vez de fumar incessantemente. Os vícios de Amy apenas se modificam, mas persistem e parecem apenas se encorpar cada vez mais. O último excesso foi devastador, resultando em uma overdose que quase levou a artista à morte. Ela acabou em um centro de reabilitação, de onde “fugiu” na metade do mês passado. As notícias são conflituosas e é complicado indicar com exatidão os passos de Amy. O mês de agosto, no entanto, teve todos os shows cancelados para que ela pudesse se recuperar. Daqui para frente, é impossível fazer qualquer tipo de previsão quanto a sua carreira e seus próximos passos. Mas se ela nos presentear com um álbum tão genial quanto Back to Black, certamente muitos intrometidos que condenaram os seus hábitos terão que torcer o nariz. noize.com.br

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Texto Luna Pizzato

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ardcore é o nome atribuído a uma variação extrema de algo. No contexto punk, refere-se à cena musical surgida internacionalmente no começo da década de 80, e mais comumente a um estilo de punk rock caracterizado inicialmente por tempos extremamente acelerados, canções curtas, letras baseadas no protesto político e social e revolta e frustrações individuais, cantadas de forma agressiva. A banda desse mês, a Grandma’s Grape, encaixa-se nesse perfil. Mesmo preferindo não se classificar em um estilo único, os guris, fãs de NOFX,

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Millencolin e Ramones, assumem seguir um caminho similar ao do hardcore e do punk. A Grandma’s Grape surgiu em meados de 2005 quando os amigos Matheus, Eduardo, Giuliano e Cunha resolveram se juntar e começaram a tocar, mais pelo prazer e pela diversão do que pelo sucesso. Nesses dois anos de história a banda manteve sempre a mesma formação e os guris atribuem isso à sintonia e, principalmente, à amizade que existe entre eles: “Somos muito amigos e é justamente esse o nosso principal diferencial”.

Para eles, não adianta reclamar da cena musical se não há esforço por parte da própria banda em melhorá-la.Acreditam que cada banda traça a sua história e o seu caminho, por isso é importante ensaiar e ir atrás dos seus objetivos—que para a Grandama’s Grape é continuar tocando e não sair nunca do meio musical. Se depender dos amigos, familiares e principalmente do “paitrocinador” do Eduardo, os guris vão continuar tocando por muito tempo.


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Esta arte foi feita inteiramente usando o Paint.

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Frederico Texto Texto Carol De MarchiVittola Souza


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inda não está bem certo se é um estilo, uma tendência ou apenas um simples apelido. Muitos consideram mais um rótulo diante de tantos outros que surgem e desaparecem no mundo da música. O fato é que desde o segundo semestre do ano passado o movimento New Rave vem gerando controvérsia—sempre ao som de música eletrônica, uma pitada de punk, sintetizadores, guitarras e muito colorido fluorescente. O termo surgiu de forma inusitada, no que mais parece uma fabulosa jogada de marketing do que um movimento cultural genuíno. Jamie Reynolds, do The Klaxons, auto-definiu o som da banda como “new rave”. O que era para ser uma piada despretensiosa ganhou força quando a revista semanal britânica New Musical Express passou a utilizar o termo em seus artigos.A NME incorporou o new rave como gênero musical para classificar bandas que estavam surgindo na onda do Klaxons. A expressão ganhou popularidade, mas ainda reluta em busca de uma identidade própria. A sonoridade que caracteriza o new rave é uma mistura de música eletrônica, new wave, punk e disco. Aí surge a primeira controvérsia, já que o estilo dance-punk (ou discopunk) já reunia estes elementos. A identidade visual, tanto nos clipes quanto nos figurinos dos new ravers é mais particular, mas também não chega a ser inédita. A mistureba de cores e as referências são, na maior parte delas, dos anos 80, com muito verde-limão, roupas coloridas, bastões de néon, além, é claro, de toda a atmosfera rave que embala o público até altas horas no ritmo de suas batidas compassadas. Há quem prefira não utilizar a denominação, uma vez que é complicado classificar uma banda como representante do movimento. Os próprios integrantes do Klaxons, considerados new ravers autênticos, não concordam com a classificação: “Somos uma banda de rock, mas o elemento rave vem do que as pessoas sentem em nossos shows. Elas têm a mesma excitação que havia nas raves do começo dos anos

90”. A banda declarou não só que o estilo não existia mais para seus integrantes, como também seu ódio em relação aos infames glowsticks (os bastões luminosos usados como pulseira em raves). O grupo chegou até a pedir para que seus fãs mandassem alguma história de acidente com o objeto para que o mesmo fosse abolido de vez de suas apresentações. O Arctic Monkeys também rechaçou a idéia de que seriam representantes do estilo. O produtor de Favourite Worst Nightmare, James Ford, que também produziu o álbum dos Klaxons, afirmou que “não há new rave –seja lá o que isso for – no disco”. Mas ao que tudo indica, agora é tarde demais para as bandas se incomodarem. A new rave está em pauta, seja nas revistas especializadas (é NOIZE!), nos manequins das lojas descoladas ou na trilha sonora das festas moderninhas. Alimentada pela voracidade da máquina da indústria cultural, a new rave já fez suas vítimas, colocando dentro do mesmo saco bandas com propostas e referências musicais bem distintas. Por outro lado, também ajudou iniciantes a alcançar o mainstream, afinal são bandas consideradas de vanguarda. Dentro dos principais nomes “enquadrados” pelo new rave estão The Klaxons, Shitdisco, Datarock, New Young Pony Club e Hadouken!. O grupo brasileiro mais comentado mundialmente nos últimos tempos é considerado também a franquia tupiniquim da new rave. Não é à toa que o sexteto paulista Cansei de Ser Sexy está causando furor nos palcos europeus, onde a cultura new rave já está mais difundida e melhor definida. “New” mesmo ou não, original ou não, releitura ou não, obra do mercado pop ou não, a new rave foi um dos estilos mais comentados, festejados e polêmicos das novas tendências musicais, e vem influenciando artistas, moda e público—fatos que por si só merecem alguma atenção. Mas fica aqui a dúvida se esta será apenas mais uma febre passageira made in UK, e que em breve será substituída por outro movimento… ou não.

O que tu defines como New Rave (principais caracteristicas, diferenciais para a Rave)? A new rave é a soma de uma estética “rave” dos anos 90 e o novo rock influenciado por elementos eletrônicos (e vice-versa), com pitadas do resgate do acid-house. Liderados pela banda Klaxons (inventora do termo), uma série de bandas foram enquadradas neste rótulo. Também se somam a isso a bagunça e a diversão como diferenciais da new rave: vamos nos divertir tanto com rock quanto com música eletrônica. Esse talvez seja o maior resgate do legado rave. O público ainda estranha essa novidade no sentido de moda, mas alguns já entraram na onda. Quanto aos efeitos, cabe a nós produtores providenciar os glow sticks, os panos fluorescentes e a luz negra. Onde tem em Porto Alegre? As principais bandas brasileiras no mercado mundial–o Cansei de Ser Sexy e o Bonde do Rolê–passaram por aqui trazendo essa novidade. Muitas outras bandas e DJ’s vieram, como Montage, Ditaria e, recentemente, Madame Mim. Basta o povo estar ligado nestes “live acts”. As festas que podem ser consideradas refêrencias no estilo são a Orgasmo, a I Love Diskorock e a Hype. As noites do Cabaret do Beco estão bem influenciadas por esse movimento. Qual é o futuro da New Rave? Não acredito que esse conceito estético permaneça por muito tempo. Como dizem, a moda é cíclica. Mas acredito na permanência do legado musical que essas bandas e produtores deixaram. Alguns jornalistas e formadores de opinião já acreditam no novo “rotulo” para esse ciclo como sendo o Maximalismo, um movimento ácido e barulhento oposto ao elemento minimalista, que tem dominado a cena eletrônica. Rafael Schutz é DJ e sócio da produtora 7thbeat, criadora da Orgasmo. que foi a primeira festa electro rock de Porto Alegre. Ele também produz festas do Cabaret Beco.

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É curioso quando alguém do Sri Lanka se inspira no funk carioca para definir seu estilo musical—e sinceramente, isso não me instiga, apesar de todo o hype em cima. Quando recebi o desafio de resenhar o novo CD da M.I.A, até tive um certo receio e já me preparava psicologicamente para o que poderia ser chocante. Sorte que me enganei. Kala é uma mudança de rumo louvável na carreira da música. Há elementos de ska e anos 80 (“Jimmy”), New Order e Pixies (“$20”) e crianças cantando (“Mango Pickle Down River”). Essa diversidade de temas e soluções dá à Kala uma imprevisibilidade interessantíssima. E para quem preferia a M.I.A do funk, também há remédio, pois ela não abandonou plenamente o estilo, como demonstra em “Boyz”.Vale. Gus Corrêa

Devo admitir que o novo álbum do ex-Audioslave Chris Cornell não é dos melhores. É o segundo trabalho-solo do cantor, que agora se sente livre (até demais) para se expressar nos discos. Algumas músicas, como “Your Soul Today”, “You Know My Name” e “Ghosts” até que são boas, mas o resto do álbum não é empolgante. Apesar da alta qualidade da produção, não é um CD que se escuta e se tem vontade de ouvir de novo em pouco tempo. A maioria das faixas, como “Arms Around Your Love”, “Safe and Sound” e “Finally Forever” soam arrastadas demais, daquelas que você se vê forçado a passar, sem ter escutado até o final. Para completar, Cornell tentou fazer um cover de “Billie Jean”, de Michael Jackson, mas não ficou bom. Deixou muito a desejar. Renata Crawshaw.

Seis anos depois de registrar dores pessoais com Vapor Trails, o novo disco do Rush reflete sobre as voltas da vida, fé e até meio-ambiente. Quem espera um disco pesado acaba surpreso com a profusão de violões de Alex Lifeson. O tom leve marca todo o álbum, com influências diretas do folk, sempre bem amparado pela bateria do “professor” Neil Peart e o baixo pulsante de Geddy Lee. Faixas como “Far Cry” empolgam logo de cara, além de “Working them Angels”, a “moda de viola” instrumental “Hope” e “Faithless” – com um refrão certeiro. Além das letras, fruto das boas reflexões de Peart durante as suas viagens de moto, a produção de Nick Raskulinecz chama a atenção. É um CD que pode não agradar nem mesmo aos fãs, ansiosos pela tradicional quebradeira, mas a bela produção o torna bonito – material em falta no mercado. Procure gastar mais e pegar a versão digipack importada, pois a nacional conta com sérios erros na impressão do encarte. André Pase

A banda inglesa The Magic Numbers, formada pelos irmãos Romeo (vocais e guitarra) e Michele Stodart (baixo), e Sean (bateria) e Angela Gannon (vocais e instrumentos diversos) apresenta ao público brasileiro seu mais novo trabalho, Those The Brokes. Nele, o grupo vem com a mesma sonoridade e característica sessentista que virou marca registrada em seu primeiro álbum, intitulado apenas de The Magic Numbers. Os destaques em TTB ficam por conta da tríade inicial do disco, “This is a song”, “You never had it” e “Take a chance”, sendo todas candidatas absolutas a hit. A banda esteve recentemente fazendo shows no Brasil, mas, como de costume, reservados apenas às cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. R.R.

Não adianta; quando escuto o cara, não consigo esquecer das minhas tias batendo palmas e cantando as músicas mais antigas. No entanto, isso não o tornou em nenhum momento um músico desprezível. Pelo contrário: ele sabe compor canções comerciais como poucos. Long Play não tem nenhum hit à altura de “Um Certo Alguém”, por exemplo, mas traz diversas canções ao estilo Lulu Santos. ”Boa Vida” e “Domingo Maldito” são bacanas. Talvez você não goste, mas a sua mãe, sim. Pode até acontecer de você ir a um aniversário de família e tocarem “Seu Aniversário” na versão karaokê. Imagina que massa! O Faustão não agradece. Gus Corrêa

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“Este é um disco ambicioso; nós definitivamente progredimos, não é o mesmo de antes”, declarou Tom Smith (voz, guitarra e piano) a respeito do novo trabalho dos Editors. Bem, há controvérsias. Apesar de ter agradado os fãs (estreou como número 1 na Inglaterra) e parte da crítica, An end has a start soa como mais do mesmo e não chega a se destacar. As guitarras de “Smokers outside hospital doors” nos lembram a eletricidade do primeiro álbum, mas o resto das faixas não chega a ser tão visceral quanto de The Back Room. Constantemente comparados ao Interpol e Joy Division, Editors agora se aproximam mais do Coldplay. Carol De Marchi

Dom, mais recente álbum do guitarrista Richard Powell, explora a criatividade e o virtuosismo do músico. Em 13 faixas, ele consegue comprovar o talento que sempre demonstrou e, ainda, arriscar passos mais ousados. Com produção de Veco Marques, do Nenhum de Nós, o álbum sabe alternar fórmulas e nos dá a oportunidade de apreciar os solos de Powell também no violão. As melodias são, freqüentemente, emocionantes. “In memorian”, que Richard dedicou ao pai, “Vive Le Rock”, e “Tierra Del Fuego” são os pontos fortes de um álbum excelente. R. R.

O Minus the Bear é de Seattle, berço do grunge. Eu recordo que quando ouvi Highly Defined Rates, primeiro álbum da banda, senti que havia muito potencial ali, apesar de as letras me desagradarem. Então veio Menos El Oso, e uma música em particular, chamada “The Fix”, me cativou totalmente. Mas Planet of Ice, mais recente trabalho dos caras, parece não ter agregado nada ao que eu já sabia. É math-rock consistente e melódico, com aqueles ruídos eletrônicos bem inseridos, mas não se sobressai. Um pouco desapontado, peço que ouçam “Knights” e “When We Escape”. Gus Corrêa

por Carol De Marchi

Em abril de 1997 os Chemical Brothers lançaram seu segundo álbum. Embora seu disco-debut (Exit Planet Dust) tenha sido bem recebido, foi com Dig Your Own Hole que a dupla inglesa entrou de vez para o hall dos grandes nomes da música eletrônica dançante ao lado de Underworld, Orbital e The Prodigy. Gravado no seu próprio estúdio na zona sul de Londres, o disco conta com participações influentes nos vocais como Beth Orthon e Noel Gallagher—este último em uma das faixas mais alucinantes do disco: “Setting Sun”. Descrito por um dos “irmãos” Ed Simons como uma “versão widescreen, technicolor do primeiro CD”, Dig Your Own Hole derruba fronteiras de estilos e demonstra que o leque musical do grupo foi ampliado. A seqüência de faixas vibrantes é encerrada em grande estilo com “The Private Psychedelic Reel”. A introdução com acordes de cítara tem um quê de místico para depois se tornar um fluxo quase embriagante de nove minutos de muita dança.

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O terceiro álbum de Ed Simons e Tom Rowlands vem com mais influências do house e menos do hip-hop, como nos trabalhos iniciais da dupla. Outra vez vocalistas de peso foram convidados a participar do disco, lançado em junho de 1999. Destaque para Noel Gallagher, Jonathan Donahue (ex-The Flaming Lips) e Hope Sandoval (ex-Mazzy Star). Com exceção da energética “Hey Boy Hey Girl”, considerada um clássico, a maioria das faixas mostra que Simons e Rowlands sabem fazer mais do que o big beat e ficaria bem tanto em uma pista de dança quanto em uma sessão chill out. Surrender também tem algumas músicas mais acessíveis—há quem chame de comerciais—, sem perder, no entanto, seu brilho experimental e o espírito raver. A pungente “Out of Control”, ao lado da velocidade frenética de “Under the Influence” e da impecável “Hey Boy Hey Girl”, são provas de que os irmãos levantam qualquer um.

Lançado em janeiro de 2005, Push the Button ganhou em 2006 o Grammy de Melhor Álbum Eletronic/Dance e coroou o grupo entre os melhores de todos os tempos no gênero. A fórmula essencial continua a mesma. No seu quinto disco, os Chemical Brothers gritam que não cansaram de buscar novos sons e novas fusões. Galvanize traz Q-Tip nos vocais, relembrando influências do hip-hop, e abre o CD com força para mais tarde virar hit internacional. Mais doçura na voz de Anna-Lynne Williams em “Hold Tight London”. “Preciso que você acredite em algo” é a urgência eminente na letra de “Believe” (com Kele Okereke do Bloc Party nos vocais), imprescindível nos clubs de Londres.


Nos horizontes do mundo é o registro em DVD do CD homônimo lançado pela intérprete Leila Pinheiro. Foi gravado em uma apresentação da cantora em São Paulo, no ano de 2006. O show realizado no SESC Pompéia conta com 21 músicas. Leila é considerada um dos expoentes da MPB brasileira, com interpretações fabulosas em seus 27 anos de carreira. Destacada na bossa nova, a grande atração neste registro é a voz da cantora e o entrosamento do grupo que a acompanha. O registro é simples, como a bossa acostumou-se a ser. Não faltam as principais canções da veterana, como as clássicas “Escravo da Alegria” e “Nuestro Huramento”, e as recentes “O amor e eu” e “A vida que a gente leva”. Gus Corrêa

Armin Van Buuren é um nome consolidado na cena eletrônica mundial. Vale lembrar que foi eleito o segundo melhor DJ do mundo pelo ranking da DJ Mag. Holandês, Van Buuren já recebeu diversos prêmios em sua carreira, entre os quais o de Melhor Radio Show e Melhor Compilação por A State of Trance 2004 no Miami Winter Music Conference Awards. No DVD Armin Only 2006, ele demonstra em 28 faixas o porquê de se destacar tanto no trance. O set foi extraído da apresentação do DJ na segunda edição do megaevento Armin Only, que atraiu mais de 12 mil pessoas ao estádio Ahoy, em Rotterdam, na Holanda.Van Buuren colocou som durante quase dez horas, resumidas em duas na edição. Integram o registro tracks como “If you should go” e “Shivers” (feat. Susana), “Burned with desiree” (feat. Justine Suissa) e “This world is watching me” (Vs. Rank 1, featuring Kush). Além da performance on stage, o DVD traz entrevistas com Armin Van Buuren e convidados, galeria de fotos, flyers e cinco videoclipes exclusivos. Uma boa pedida para assistir a todo o volume. K. K.

Há aquelas bandas que lançam DVDs enxutos, dando aos fãs apenas extras indispensáveis. No entanto, eventualmente surgem trabalhos com um “algo mais”, que se prestam não só a cumprir com as obrigações, mas dar ao fã a possibilidade de realmente possuir um registro extraordinário da banda que curte. Vídeo Capture Device: Treasures From the Vault (1991-2002), lançado em 2005, reúne tudo que o Weezer fez no período. Ou seja, não há apenas aquele material redondo e bem acabado. Pelo contrário, há muitas gravações com câmeras antigas e limitadas, cujas imagens captadas dão um quê de home video ao registro. Essa precariedade, combinada a trechos mais rebuscados e meticulosos, cria uma mistura capaz de revelar o que foi (e é) o Weezer. Uma banda que trafega pela suntuosidade do mainstream, mas parece não ter esquecido ou querer ignorar a simplicidade de sua essência: a garagem. O vídeo não traz nenhum registro de Make Believe, último álbum lançado pela banda. No entanto, contempla todos os demais no período Blue Album – Maladroit. Os videoclipes lançados neste período, como os de “Buddy Holly”, “Say It Ain’t So”, “Island in The Sun” e “Hash Pipe”, estão todos presentes. Há, ainda, diversas canções extraídas de apresentações ao vivo. Outros episódios destacados são as ocasiões em que a banda age naturalmente perante as câmeras, como quando ensinam a forma mais esdrúxula de se conceder uma entrevista. As primeiras gravações, provenientes de brincadeiras no estúdio, dão espaço a registros bem fotografados em camarins com ótimas condições. Um exercício curioso é reparar as alterações na aparência e vestuário dos integrantes. De um estilo “largadão” universitário, passam às jaquetas e calças bem ajustadas. Rivers Cuomo, vocalista do Weezer, passa da mufa sobre os olhos para o cabelo raspado e, até mesmo, por uma barba proeminente. Vídeo Capture Device é tudo que um fã poderia esperar de um DVD de banda. E aguardem, pois a volta do Weezer pode significar mais um DVD logo adiante.Vale a torcida. Gus Corrêa

Nada Pode Dar Errado é o álbum de estréia da PF2. A banda gravou 13 músicas, que foram produzidas por Ray Z (RPM e Os Ostras). As composições são acentuadamente pop, complementadas com alguns solos de guitarra. O som é bem comercial, com letras sobre amor, melodias fáceis de absorver e músicas cantaroláveis. As influências estão no pop brasileiro atual, especialmente Lulu Santos e bandas jovens. Destacam-se as faixas “Por que você partiu”, “Pode crer” e “Nada pode dar errado”, que oferecem bons refrãos, daqueles que custam a sair da cabeça.

O álbum do Piazitos Muertos, já na primeira faixa, me remete ao punk rock de bandas como Garotos Podres e Gritando HC. A gravação do CD foi muito bem feita e se adequa perfeitamente à calculada sujeira que o estilo requer. As faixas mais hardcore têm aquela capacidade elogiável de nos transportar para uma roda punk ensandecida, mesmo que apenas em pensamento. As letras são de cunho político e social, criticando a educação, os altos preços, a televisão. Destacam-se canções como “A culpa é do governo”, “Esse é o nosso mundo” e “Somente eu”.

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A mais nova receita de sucesso assinada pela dobradinha Disney/Pixar, a animação Ratatouille, embarca na romântica atmosfera da gastronomia e conta uma incrível e emocionante fábula dos sentidos. Pois as desventuras do ratinho Remy, ambientadas no coração de Paris, o berço da culinária universal, são embaladas pelas composições do norte-americano Michael Giacchino, que aposta suas fichas em um talento díspar: a voz de Camille Dalmais, expoente da cena independente francesa, que abre o disco com a faixa “Le Festin”. A trilha sonora multifacetada retoma elementos das tradicionais cantigas francesas, carregadas pelo toque charmoso do acordeon, além da magnificência das grandes composições orquestradas, marcas das produções dos Estúdios Disney. A opulência da trilha simboliza, acima de tudo, uma homenagem aos grandes feitos cinematográficos de todos os tempos, prestando-se a instigar emoções, rechear cenas com efeitos incidentais e glorificar a magia das grandes animações de nosso tempo, em um filme repleto de sutilezas e grandes lições. Marcela Gonçalves

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Se na primeira cena Homer levanta-se da poltrona do cinema (em uma sessão de Comichão & Coçadinha – o Filme), perguntando por que estão pagando pra ver no cinema algo que se tem de graça na TV, e que todos naquela sala são idiotas— especialmente você—, ele não deixa de ter certa razão; o filme dos Simpsons nada mais é do que um episódio duplo do desenho animado com qualidade de animação superior. Então, por que ver o filme no cinema? A resposta é simples: porque todos adoramos ver os Simpsons, seja onde for. E dada a longevidade da série, é um dos primeiros desenhos animados a ter uma campanha de marketing tão intensa, praticamente voltada para o público adulto. O filme encontra espaço para dar uma aparição a cada personagem de Springfield criado nos últimos anos, embora espertamente não crie a necessidade de dar uma piada a todos. Na trama, como sempre, um ato de estupidez incomensurável de Homer coloca toda a cidade em perigo, fazendo

Springfield ser isolada do mundo por um domo gigantesco—e cabe aos Simpsons consertar a situação. Ainda que seja apenas o equivalente a um episódio maior da série, é um bom episódio, e os fãs não vão se decepcionar. E, se você tiver a paciência, pode esperar até o final dos créditos para acompanhar diversas piadinhas feitas enquanto as letras sobem. Samir Machado

Napoleon Dynamite consegue ser tão engraçado que se tornou um cult em pouco tempo—o melhor filme sobre nerds desde A Vingança dos Nerds. Napoleon é um adolescente alienado e sem noção do ridículo, vivendo com um irmão de 30 anos pior ainda. No começo, a avó com quem moram viaja, e surge assim o Tio Rico, um sósia do Professor Girafales cuja cabeça não saiu dos anos 80. Não fosse pela presença da internet como um fator importante na história, o filme poderia ser situado em algum momento entre os anos 80 e 90, com seus figurinos, cenários high school e trilha saudosista.Tem até mesmo aquela típica “montagem de cenas anos 80”, ao som da trilha do Esquadrão Classe A. Entretanto, esta não é a história do adolescente excluído que quer se enturmar com os “populares”, a idéia sequer passa pela cabeça de Napoleon: ele é incapaz de se ver do modo como os outros o vêem, e nisto se esconde a simpatia do público com ele, um sem noção tão convencido de que está no caminho certo, que não pode ser atingido pela realidade. Em sua jornada para provar que não tem nada a provar, ele irá apoiar seu melhor amigo, o mexicano Pedro, na candidatura ao grêmio estudantil, e o filme atingirá seu clímax na cena de dança que se tornou um dos vídeos mais acessados do YouTube em todos os tempos. E quando o filme acabar, avance mais um pouco e espere pela cena escondida no final dos créditos. E vote for Pedro. Samir Machado


O blog do jornalista Lúcio Ribeiro é endereço obrigatório para qualquer um que se interesse por música—especialmente pop e rock. Lúcio escreve para a Folha de São Paulo, colabora para as revistas Bizz, Capricho e Superinteressante, e discoteca no clube Vegas e Studio SP. Escrevendo sobre tendências, festivais e novidades, tendo como um dos principais focos a cena indie, Lúcio é muito bem informado e uma fonte de “furos” jornalísticos relacionados a eventos musicais. Popload segue o padrão da maioria dos blogs, temperando os textos com arquivos de áudio e vídeo. O diferencial é a apresentação do conteúdo: sempre impecável. O blog também oferece atrações como a Rádio Poploaded, um guia de baladas (principalmente em São Paulo) e o Mapa do Rock, projeto itinerante que pretende descobrir novidades da cena pop rock pelo Brasil afora.

O principal atributo do site do White Stripes é a qualidade visual. São ilustrações de caveiras, estátuas e pingüins. O conteúdo também não deixa a desejar: as informações sobre a banda são acessadas com facilidade, permitindo uma navegação rápida e objetiva. O site traz a discografia completa e as letras de todas as músicas, além de fotos dos encartes. Detalhes dos shows e notícias também são disponibilizados. A seção de vídeos oferece todos os videoclipes gravados pela banda. Há ainda uma série de links para páginas de fotógrafos, artigos e reviews e outros sites de temáticas variadas. Todos os contatos da banda estão listados, caso você queira trazer o White Stripes para Porto Alegre (hehe). Está ali também a loja virtual, que vende CDs, vinis, flash drives USB, camisetas, pôsteres e muito mais.

A Rockstar Games agrada novamente o público em geral e lança Bully. Nele, você é Jimmy Hopkins, um “adolescente-problema” que acaba de chegar a Bullsworth e tem como objetivo virar o rei da sua nova escola, a Bullsworth Academy. Para isso, você terá que mostrar aos diversos grupos de alunos, que seguem o típico modelo da escola americana (nerds, atletas, badboys, riquinhos), quem é que manda. O enredo e os diálogos são extraordinários, e, quanto aos gráficos e à jogabilidade, o jogo segue fiel ao GTA, porém: em vez de carros e motos, há skates e bikes; em vez de armas, são estilingues e bombas de fedor. Sempre mantendo o humor, marca registrada da Rockstar. Dudu D.

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The Donnas

Bar Opinião, 22 de agosto

Luiz C. Munhoz

A primeira escala da turnê brasileira da The Donnas foi em Porto Alegre. O público, que enfrentou mais uma noite gelada deste inverno que parece interminável, foi compensado com um show intenso, que manteve a energia lá em cima da primeira à última música do bis. Em uma quinta-feira de muito rock, o quarteto de gurias de Palo

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Marcelo D2

2 de agosto, Bar Opinião

Nada melhor que uma apresentação que te surpreenda logo no início. Foi justamente assim o último show do Marcelo D2 no Bar Opinião; Marcelo D2 e Falcão, do Rappa, levando “Hey Joe” já na abertura! Com este início que D2 manteve a platéia quente em uma noite fria e úmida! Particularmente, esperava um show com os tradicionais b.boys que acompanhavam D2 desde que ele se entregou para o rap. 38

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Alto mesclou alguns dos maiores sucessos com faixas do novo álbum, Bitchin’, que tem lançamento previsto para este mês. A noite começou com abertura das bandas gaúchas Blasé e Los Vatos, dando o tom da atração principal. À meia hora de sextafeira a baterista Torry Castellano, a baixista Maya Ford e a guitarrista Alison Robertson sobem ao palco e fazem a intro de “Love Gun” para em seguida tocarem a faixatítulo do novo disco. “Are you guys ready for Rock’n’noll?”, evocava Brett Anderson antes de “Don’t wait up for me”, outra do novo CD. Para surpresa das Donnas, o público do gargarejo já estava com a letra das novas canções na ponta da língua, arrancando elogios de Brett. Durante a terceira canção, problemas com a guitarra de Allison interromperam a execução de “Skinthigh”, e obrigaram a troca de sua Gibson Explorer. Enquanto a correria dos roadies não resolvia o problema, Donna A. e Donna C. se encarregaram de entreter o público para não deixar o show esfriar, confessando que tinham gostado muito dos drinks brasileiros. De volta

à ação, o quarteto demonstrou que sabe levantar uma platéia. Fosse no biquinho à la Mick Jagger de Alisson, nos olhares de Torry ou no rebolado de Brett, elas conseguiram ser as “Donnas” da noite. Alguns fios de cabelo a menos depois, as quatro seguiram alternando novas músicas com antigos sucessos. Destaques para “40 boys in 40 nights”, “Who invited you” e “Girl Talk”. Entre uma canção e outra, Brett Anderson arriscou um português bem ensaiado, mandando muitos “obrigadas” e conquistando definitivamente a simpatia do público. Para o bis “You make me hot”, “Living after midnight”, do Judas Priest e, finalmente, o maior sucesso delas: “Take it off”. Para o público fiel, a melhor surpresa ainda estava por vir. Cerca de 20 minutos depois de encerrado o show, já com as luzes do Opinião acesas, as quatro saíram do backstage para atender os fãs, tirar fotos e distribuir autógrafos, atendendo um a um dos remanescentes. Uma demonstração de carinho e agradecimento, ao melhor estilo de damas do rock. Fred Vittola

Mas da maneira que veio, ele se manteve com o que o segue desde o início neste estilo: o inesperado! Um artista que veio do rock, foi para o rap (e no rap trouxe o samba) e agora une tudo isso a muitas guitarras, com certeza é marcado pelo “e agora, o que ele vai fazer?”. Foi um show com sucessos dos três álbuns solo, Eu Tiro É Onda (1998), À Procura da Batida Perfeita (2003) e Meu Samba É Assim (2006). Marcelo D2 é bem acompanhado pelos músicos Maurinho, no baixo; Vais, na guitarra; Lourenço, na bateria; e nos teclados, Pablo—que, segundo D2, é o argentino mais brasileiro que ele conhece. E é claro, a linda e muito competente batida forte de Layse Sapucahy na percussão. Um show muito rock, talvez até demais… mas o hip-hop se fez presente com a mais pura vertente do rap nacional: DJ Will, que não poderia ter uma herança melhor (é filho de KL Jay, DJ do Racionais MC’s), e

Fernandinho Beat Box, ex-integrante do grupo de rap Záfrica Brasil. Este, que há 2 anos, desde o Acústico MTV, acompanha D2 nas rimas, na ótima performance no palco e não deixa nada a desejar aos instrumentos da banda, pois mil sons saem da boca dele. O sul foi representado por Jacksom, exPlanet Hemp, que com o hit “Motel” foi fielmente acompanhado pela platéia. Infelizmente, ela era um dos únicos MC’s da capital na casa, o que é comum nos shows do D2 aqui. Mas isso é outra história… Com as devidas homenagens a alguns nomes da história do rap nacional (como Thaíde e DJ Hum), D2 fez um show com muitas guitarras, um público com as tradicionais mãos pra cima dos shows de rap e se mostrou um MC com um flow cada vez melhor. Agora, é só esperar o que ele vai fazer nessa interminável busca pela batida perfeita. Aceito apostas! Carol Anchieta


Bar Opinião, 12 de agosto

“Aumenta, aumenta que essa é demais.” “Nah, passa porque eles nem vão tocar!” “Então, tem que pular as que eles vão tocar!” Três jovens de mais de 20 anos prestes a assistir ao show de uma banda que idolatravam quando tinham pouco mais de 15. É difícil ser profissional, não se empolgar, não deixar a paixão falar mais alto e sufocar pensamentos críticos antes que eles se tornem conscientes. Sei que daqui a uns meses vou olhar pra trás e pensar: o show do No Use for a Name está entre os melhores do ano. A abertura ficou a cargo das bandas locais Culpados Inocentes e Ideal Stereo. Eu, sinceramente, não prestei atenção nos caras; esperava ansioso pela banda da noite. E eis que ela sobe ao palco no tunt-tunt de uma música eletrônica. Gritinhos de groupies histéricas foram abafados quando “Invincible”—que poderia ter sido “Unforgettable”, para fazer jus à noite—abriu o show. Um show tão memorável que qualquer anotação seria limitante para o review que segue. A lembrança mais forte é a de os californianos começarem a tocar o petardo “Exit” e alguém do público lar-

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No Use For a Name

gar a sábia frase “agora quebrou tudo”. A apoteótica “Justified Black Eye” justificaria não apenas olhos roxos, mas cotoveladas nas costas e copos voadores. Mas logo em seguida a calmaria de “Friends of the enemy” deixava todo mundo tranqüilo—e alguns descontentes. É, shows costumam dividir opiniões. Enquanto uma parte do público só agitava durante as canções mais novas, outra parecia ter ido esperando um show “só de velhas”. O No Use tocou pras duas, como sempre faz, e em troca, a galera só gritou “fuck you” na clássica intro para a não menos clássica “The Answer is Still No”. Tony Sly não parece se incomodar em cantar daquele jeito mais “leve”. Façamos justiça: ao contrário dos últimos dois CDs (onde, às vezes, a impressão é de que Sly quis ninar sua filha e gravar os vocais ao mesmo tempo), no show do Opinião ele estava cantando até bem demais, deixando as melodias “ainda mais melódicas”, sem poupar agudos e subidas de tom inoportunas para uma voz cansada. Um indicador de que ou a banda estava tão contagiada quanto o público, ou eles estavam não só felizes, mas também muito alegres. A performance foi impecável. É difícil errar quando o setlist é o mesmo há anos. Eventualmente uma música mais nova entra no lugar de uma um pouco mais antiga, mas os superhits estão quase todos lá. “Soulmate” é uma que eles dizem já nem perder tempo ensaiando. A superpop “Blackbox”, do último álbum de estúdio, evidencia a competência do grupo no palco. Outras canções, como “Not your savior” e “Coming too Close” permitiriam que a banda parasse de tocar enquanto a galera, hipnotizada, continuaria a cantar em uníssono. E eu quase acabo o texto livre daquele ranço da galera “old school” que sempre reclama da falta de músicas velhas. Para os chorões pararem de chupar o dedo, passadas 27 músicas, Sly entrega a guitarra ao roadie, e a banda temporariamente reformulada toca a “Super Old School” “Feeding the Fire”, lá de 93. Os insatisfeitos que se tranquem em casa com seus discos velhos. I’m not feeding this fire. Nando Corrêa

Abril + Beeshop, Doyoulike?, Decifre, Vettoratos

Manara, 19 de agosto

Depois de uma tarde ensolarada, a chuva tomou conta de Porto Alegre. Domingo, tempo ruim, mas isso não parece ter inibido a gurizada que lotou o Manara para assistir a Vettoratos, Decifre, Beeshop, Doyoulike? e Abril. Enquanto aguardava o começo dos shows, tive a oportunidade de ver uma mãe trazendo dinheiro para a filha. Impressionante como o cara se sente velho em um show desses… Mas voltando ao que interessa, consegui entrar no Manara quando a primeira banda, Os Vettoratos, já se apresentava. O público ainda não era definitivo, mas curtia bastante o show dos caras. Até rolou um cover de Billy Idol, com a clássica “Dancing with myself”. A última foi a música própria “Agora você pode ir”, acompanhada integralmente pela galera do burburinho. Encerrado o show dos Vettoratos, é a vez da Decifre. Com dois vocalistas, a banda também tinha presença acentuada de fãs. A movimentação dos músicos foi intensa, e podemos mencionar Linkin Park como inspiração para o som dos caras. A Beeshop, projeto de Lucas Paraíba e Tavares, ambos da Fresno, subiu ao palco em seguida. O repertório acústico segue a escola de bandas como Dashboard Confessional. Destaque para as belas composições e inquietas máquinas fotográficas. Belo visual. A Doyoulike? foi a responsável pelo penúltimo show da noite e saiu-se muito bem. Assim como as demais bandas, teve a platéia à mercê e soube aproveitar a animação do público. O encerramento da noite coube à banda Abril, que fez um ótimo show. As canções têm melodias muito legais, remetendo a Los Hermanos e bandas emo. E é o que temos para o momento! Gus Corrêa noize.com.br

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Rap de Porto Alegre!

Shows, headbangers, shows!!! Saudações, amigos headbangers! Setembro está aí, e mais alguns bons shows internacionais confirmam presença aqui na província, todos no Bar Opinião. O primeiro é dos grupos Gorgoroth e Belphegor, no dia 17/09, dois ótimos representantes da cena extrema. Dia 1º/10 os alemães do Hammerfall voltam para Porto Alegre após seis anos e, no dia 16 do mesmo mês, um dos maiores expoentes do death metal, o Cannibal Corpse, também nos visita mais uma vez. Além desses, a nossa cena local proporciona um evento bem bacana: ainda dentro das comemorações dos 25 anos de lançamento do álbum The Number of the Beast. Uma banda formada por integrantes

de vários grupos locais de metal irá apresentar este álbum na íntegra, no dia 28/09 no Garagem Hermética. Os fãs de Iron Maiden não podem perder esta! Falando em Iron Maiden, crescem os rumores do show da donzela de ferro em fevereiro de 2008 no Brasil. Pra melhorar mais ainda o ‘disse-que-me-disse’, parece que os ingleses estarão divulgando a segunda parte do seu DVD The Early Years e, por causa disso, o show seria focado nas músicas dos álbuns Powerslave, Somewhere in Time, Seventh Son of a Seventh Son e No Prayer for the Dying. E aí, Maiden Maniacs, gostaram? Horns Up!!!

Dub: o lado B do reggae Na década de 70, os produtores de reggae tiveram uma sacada genial, que surgiu com o objetivo de minimizar os custos na gravação dos discos de 7 polegadas dos músicos e bandas jamaicanas. O estilo dub apareceu como a saída do lado B dos disquinhos. Sem muito dinheiro para gravar dos dois lados do vinil, o single das bandas se transformava em grandes instrumentais cheios de efeitos e com muita criatividade; aparecia, assim, mais uma tendência e mais um filho do estilo reggae. Os dubs começaram a ter proporções maiores e acabaram tendo o seu reconhecimento como música e arte, e seus criadores passaram de simples produtores musicais a artistas.

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Com muita honra assumo esta coluna, que antes era da minha amiga Lica, principal nome feminino do rap gaúcho. Justamente por representar muito bem e poder alçar vôos maiores, faltou a ela tempo para esta seção. Então, cá estou—mas outra hora me apresento melhor; agora, prefiro fazer uma proposta: conhecer de verdade o rap de Porto Alegre! Como? Olhando para onde ele verdadeiramente acontece! Porque saber o que é feito na tua terra é o primeiro passo para entender o resto do mundo. Então estou oferecendo, aqui, acesso aos sons genuinamente gaúchos (e em cada endereço há outros mais). Escuta com calma, põe o fone, entende,

relaxa… veja que o rap de Porto Alegre pode te oferecer bem mais: Lica myspace.com/licatito Da Guedes myspace.com/daguedes Sevenlox myspace/sevenlox Dependentes myspace.com/dependentes Profeta myspace.com/profetars MP4 myspace.com/emepequatro

E confira também os produtores que estão sendo apontados como os melhores do país, dá licença: Edinho do estúdio De Kebrada myspace.com/edinhodk Riztocrat myspace.com/riztocrat DJ Martins myspace.com/djmartins82

Pai de Todos Alguns de seus precursores foram Lee Perry, Bunny Lee, King Tubby, Scientist e Augustus Pablo. O dub se traduz em uma nova roupagem para uma música que já existe, e por este motivo ele sempre contagia o público quando é tocado. Hoje, o estilo se expandiu para festas não só de reggae, mas também está presente em raves e nas diversas ramificações da música eletrônica. Aqui no nosso estado, temos de referência bandas como Pure Feeling, Profetas de Zion, King Tie Band, Ultramen e Traidores da Babilônia. Se você ainda não conhece o dub, melhor se preparar quando ouvir a frase “Inna Rub a Dub Style style tyle tyle…”

A primeira vez que o nome de Hans-Joachim Koellreutter chegou aos meus ouvidos foi em setembro de 2005, quando ele faleceu. Com o alvoroço da mídia e do meio musical em torno de sua morte, conheci a importância desse músico alemão naturalizado brasileiro. Soube que Koellreutter fora o líder do movimento Música Viva, alvo de críticas de nacionalistas como o compositor Camargo Guarnieri por pregar, entre outras coisas, o dodecafonismo de Schoenberg, e que deixara inúmeros discípulos na música erudita. Precisei de dois anos para descobrir que os rastros deixados por Koellreutter na música brasileira vão mais longe. Este ano, lendo biografias

de vários músicos populares, percebi que muitos deles têm em comum o fato de terem sido alunos do compositor alemão. Entre eles,Tom Jobim, que o teve como professor de música ainda na infância, e Tom Zé, que foi seu aluno de composição na UFBA. Parece curioso que a música dos alunos do defensor de uma prática composicional tão amaldiçoada pelos nacionalistas evoque coisas tão nitidamente brasileiras quanto o Corcovado ou os abacaxis de Irará. No entanto, isso não é mais que reflexo do método educativo de Koellreutter, que perseguia a liberdade de expressão e o desenvolvimento de personalidade musical.


Metrópole “A primeira coisa que me veio à mente foi de escrever algo com as idéias que eu tinha sobre o funcionamento das cidades, das suas relações, de como elas nos afetam emocionalmente e como isso se reflete no cotidiano. Eu acredito intensamente que, para se entender como vivemos, é imprescindível compreender como nos relacionamos com a cidade e com a política do dia-a-dia da vida. Entendermos como ela funciona e seus aspectos mais subjetivos— as entrelinhas, os segredos.”
 “Todo segredo é explosivo e se intensifica em seu próprio calor interno. A cidade é um emaranhado de lugares e espaços que despertam lembranças, significados, segredos. A paixão pelos segredos urge quando se percebe um imenso mapa em nossas mentes sobre cada lugar, cada esquina, cada rua que passamos, que vivemos. É quando tudo indica tudo e uma avenida não é apenas uma avenida, e sim uma combinação de histórias e relações secretas; de idéias e espaços que nos moldam através do tempo.”
 “A cidade, como os sonhos, é feita por desejos e medos. Sua imagem é enganosa; suas regras, absurdas; seu discurso, um mistério. Seu passado não nos é contado: ela o tem como traços do rosto, escrito nas curvas das vielas, nas ruas sem saída, em cada entalhe, em cada desgaste. Podemos dividi-la em duas ao perceber que com o passar dos anos e de suas mutações ela continua a moldar os desejos e ao mesmo tempo os desejos conseguem moldá-la. Ou ainda geograficamente, com a grande divisão entre asfalto e morro. A cidade é um jogo ambíguo, onde somos jogadores e, ao mesmo tempo, peças. A sobreposição das histórias e mitos de um lugar é uma das conseqüências da coexistência de papéis entre os personagens do cotidiano—e isso inclui eu e você. Que em cada momento do dia podemos representar um papel diferente com uma história diferente, sendo vários em um corpo só.”
Escrito pelo meu grande amigo de infância: Yuri K. Gama

17 anos evoluindo Quando começou, aqui, rave era coisa de viado; hoje, é coisa de bombado. O techno pop era techno gay. Também, pudera: com Pet Shop Boys, Erasure e Depeche Mode, qualquer gaúcho no auge do seu tradicionalismo deveria achar um tanto estranha a atitude dessa turma, que deixava as reboladas de Elvis parecendo coreografia da Xuxa. O clubber que usava roupa flúor, cores vibrantes, botas e plataformas, mudou para marcas esportivas. Everlast e Puma são “grito” e Nike Shox também. Boate virou Club. O pirulito continua o mesmo, só que agora se prefere o de coraçãozinho ao de bolinha. O techno—que nos idos dos anos 90 era o preferido para festas maiores (no quesito público, open air, etc.)—inexiste e deu lugar ao psy. Porque somente isso cabe ao desesperado pedido de “acelera DJ”, que alguns acham moderno e bacana, mas que a maioria dos DJs odeia. A droga ainda era herdada de outras épocas, associada ao rock’n’roll, era marca de refrigerante e hoje é uma simples vogal. Um papel xerocado e muitas vezes cortado à mão, com tesoura mesmo, divulgava a festa. Hoje, os flyers, filipetas de divulgação, são verdadeiras obras de arte. DJ era DeeJay e Live era nome de banda (ou ainda é?). Pick Up era carro; hoje, é toca-disco ou player. Eu ergui a bandeira de que “os verdadeiros DJs tocam com disco de vinil”, mas depois me dei conta de que não adianta fugir da tecnologia. O que antes era disco de vinil agora é simplesmente CD. O case deu lugar à bag e o investimento deu lugar ao lucro, porque um disco de vinil para DJ custa R$ 50,00 e uma boa mídia de CD custa R$ 1,20. E finalmente, o DJ deixou de ser funcionário do Club e ganhou status de super star; muita coisa gira em torno do seu nome e da sua imagem. Este ano estarei comemorando 17 anos de carreira. Consegui acompanhar toda esta evolução e participei diretamente dela. Aguardem: vem aí uma superfesta para ilustrar esta data.

Pink Punk Quantas oportunidades à nossa disposição hoje, hein? Queremos muito, muito mais... Queremos ótimos equipamentos, conexão rápida e segura, queremos mais, muito mais. Querer ter todas essas facilidades para ser um Pink Punk é totalmente gay! Um estupro para a inteligência simples e prática do verdadeiro Punk. Exigir dos seus parentes a condição ideal, exigir das pessoas ao seu redor a cama e o tapete estendido para você passar com seus pensamentos vagos e sem base é totalmente Pink. Com sua má interpretação essas pessoas nos envolvem com suas competições de estilo, inteligência, comprando e poluindo com egoísmo superficial. Querem mais, muito mais, e isso é totalmente Anti-Punk. Onde ficou a insatisfação com o mundo ao redor, fogo nas lixeiras! Faça você mesmo! Grite! Talvez assim você aprenda um dos princípios do punk real, não apenas a moda. Ouse ser feio, Ouse ser punk e a música irá segui-lo Competição punk já! A única coisa punk que vejo até agora nessas pessoas é o que estão roubando dos outros. Punk inside ou apenas um Punk, mas nunca um Pink Punk....isso é totalmente gay! Em São Paulo, agora:Witchcraftt sendo gravada no Ferradura. Rodrigo Deltoro e Marcel van der Zwam. Have a nice day!

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Setembro Negro O Opinião cederá espaço a três da melhores bandas de metal extremo da atualidade na segunda-feira (17). Belphegor (Áustria), Gorgoroth (Noruega) e Tortharry (República Tcheca) são as bandas escolhidas para fazer parte do projeto Setembro Negro, criado em 2001 com o objetivo de reunir nomes do black e death metal mundiais. O Belphegor, que já lançou sete discos de estúdio, tem como último trabalho o álbum Pestapokalypse VI (2006). Os noruegueses do Gorgoroth, conhecidos pela série de bizarrices que protagonizam (o vocalista foi preso por agredir um homem e ameaçar beber o seu sangue), e o Tortharry, que divulga Reborn (2006), completam o festival. Ingressos antecipados a R$ 30 podem ser adquiridos na Loja Aplace (Voluntários da Pátria, 323 - Loja 57). Na hora, o preço é R$ 40.

+2 O projeto de Alexandre Kassin, Moreno Veloso e Domenico Lancellotti, que já lançou três discos (cada um tendo um dos músicos à frente da banda), chega a Porto Alegre no dia 20. Alterando as características de acordo com a liderança, já teve minimalismo e voz (Moreno+2), batidas e programação eletrônica (Domenico + 2) e uma mistura dos dois, chegando a uma espécie de bossa nova contemporânea (Kassin +2). O show será realizado no Bar Opinião.

Indepen.dance Festival O Indepen.dance Festival promete quatro dias de muita música eletrônica para os gaúchos. Entre 6 e 9 de setembro, em Viamão, na Fazenda Up Date, será oferecido um line-up repleto de nomes internacionais e nacionais, com mais de 20 lives e 70 DJs. O site é www. independancefestival.com.br. 42

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Fotos Tatu Ronald Zanardi Daniela Bittencourt Felipe Kruse Luiz Munhoz

The Donnas

No Use For a Name

Marcelo D2

Abril + Beeshop, Doyoulike?, Decifre,Vettoratos

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Ultramanos

Coca-Cola Vibezone

Dibob

Psytronic

Carne de Panela


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Foto: Rafael Rocha

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