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Fotógrafa da NOIZE realiza exposição A fotógrafa Danny Bittencourt, colaboradora da revista Noize, está realizando uma exposição no 8 e meio café (Rua da República, 58, Cidade Baixa). O tema da mostra é a “mulher dos anos 60”. Danny faz uma releitura do modo como essa mulher se arrumava. A exposição é composta por 10 fotos. Também está disponível um livro com 32 imagens.
Steven Tyler mostra as cordas vocais
apenas grava, elas ficam sem um destino.”, explicou o cara. Outra possibilidade para o Queens of the Stone Age seria lançar mais um álbum ao vivo. Para Homme, “seria um crime não fazer isso”. Em 2006, a banda lançou o CD e DVD ao vivo Over The Years and Through The Woods.
Tequila Baby em estúdio Queens of The Stone Age pensa em EP O Queens of the Stone Age está louco para voltar ao estúdio. Mesmo tendo lançado seu último trabalho, Era Vulgaris, neste ano, a banda de Josh Homme já pensa em registrar pelo menos um EP. “O Queens ao vivo está soando melhor do que nunca, mas estamos tentando descobrir como sair em turnê e compor ao mesmo tempo. Para todos nós, neste momento, a idéia de criar algo é ainda mais empolgante que fazer shows”, disse o vocalista. A idéia de gravar um EP, segundo palavras do próprio Homme, seria para ter onde “desovar” as novas composições sem precisar lançar um novo álbum tão cedo. “As músicas têm que ter uma casa. Se você 8
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Com previsão de lançamento para o primeiro trimestre do ano que vem, o novo álbum da Tequila Baby começou a ser gravado na metade do mês passado. Ainda sem nome, o disco será o quinto de inéditas e sétimo da carreira da banda. Terá 13 músicas que foram selecionadas entre mais de 30 composições. A produção ficará a cargo da própria banda, que trabalhou com o norte-americano Daniel Rey em seus dois álbuns anteriores. Quem irá auxiliar o grupo é Beat Barea. Além de baterista da Rosa Tattooada, o músico é engenheiro de áudio e já colaborou nos DVDs da Tequila e da Acústicos & Valvulados. Nos últimos anos, tem trabalhado nos shows da banda de punk rock.
O vocalista da banda Aerosmith, Steven Tyler, comprovou, mais uma vez, não ser muito bem da cabeça. O cantor mostrou nos programas Today Show, da rede NBC, e A Incrível Máquina Humana, do National Geographic—ambos exibidos nos EUA— uma cirurgia a laser feita em suas cordas vocais. Além de diversas imagens da cirurgia, os programas também vão mostrar um teste que avalia o nível de estresse aplicado nas cordas vocais durante uma performance.
acdc.com para todos O AC/DC finalmente limpou seu nome na internet. Depois de anos sendo usado por um site de pornografia, o acdc.com passou às mãos da banda. A alteração foi garantida em uma negociação envolvendo empresários dos australianos e detentores do endereço virtual. Um representante do selo do AC/DC explicou a um site de notícias que a decisão foi motivada pelo fato de muitos adolescentes irem procurar informações sobre a banda. O que acabava ocorrendo é que, em vez de lerem sobre os Young e sua trupe, a gurizada estava se informando sobre o fascinante mundo impróprio para menores de 18 anos (embora a maioria acesse em outros endereços). De qualquer forma, o AC/DC tirou o nome dessa “roubada”. Na nota para divulgar a novidade, os integrantes da banda tiraram um sarro. “Sintam-se à vontade para nos visitar do trabalho, da escola ou, para os visitantes de longa data deste site, da privacidade de seus porões”, disseram. Os músicos lançaram recentemente um DVD duplo intitulado Plug Me In, que consiste em 5 horas de material raro da banda e, até mesmo, uma apresentação nos tempos de high school. Um novo álbum está sendo preparado, mas ainda não tem data de lançamento definida.
início a uma turnê em 2 de outubro. O selo do artista colocou à venda primeiro o vinil de Magic; o CD só chegou às lojas uma semana depois. “Radio Nowhere” foi o primeiro single do álbum, muito bem recebido pela imprensa mundial. Magic foi o 24º álbum da carreira de Bruce Springsteen, de 58 anos, e o primeiro de estúdio com a
Boy e girl bands dos anos 90 em chamas
Bruce Springsteen é o mais vendido nos EUA Bruce Springsteen mais uma vez chegou ao topo dos mais vendidos nos Estados Unidos. Magic, novo álbum do músico, vendeu 335 mil cópias em uma semana e garantiu a oitava liderança de um álbum de Bruce entre os mais comercializados. A medição é realizada pelo instituto Nielsen Soundscan. Junto com sua banda, a E Street, Bruce deu
E Street Band após o lançamento de The Rising, há cinco anos. O novo álbum foi produzido por Brendan O’Brien e gravado no estúdio Southern Tracks Recording, de Atlanta. Bruce já recebeu vários prêmios importantes como quinze Grammys, quatro American Music Awards e um Oscar.
Os dois nomes mais importantes na cena boy e girl bands dos anos 90 estão de volta a todo vapor. Isso mesmo, meus caros: Spice Girls e Backstreet Boys sentiram falta de vocês e reuniram-se para ganhar mais uns pilas e criar passos de dança ousados. O Backstreet Boys acaba de lançar um novo álbum de inéditas, Unbreakable. O título, conforme os integrantes, deve-se ao fato de, apesar dos diversos problemas que enfrentaram nos últimos anos, se manterem juntos. Mesmo assim, o grupo tornouse um quarteto, já que Kevin Richardson abandonou a barca em 2006 para “explorar outros horizontes”. Os Backstreet Boys venderam mais de 75 milhões de cópias desde 1996, quando lançaram o primeiro álbum. Eles consideram a possibilidade de se apresentar no Brasil durante a turnê de divulgação de Unbreakable. O retorno mais poderoso, no entanto, é o das inglesinhas do espaço. As Spice Girls prepararam uma coletânea com 13 canções, sendo duas inéditas: “Voodoo” e “Headlines (friendship never ends)”. Intitulado Spice Girls: Greatest hits, o álbum chegará primeiro às prateleiras das lojas de lingerie da Victoria’s Secret, a partir de 13 de novembro. As lojas de discos só disponibilizarão os CDs em 15 de janeiro. A turnê começa em Vancouver (Canadá) no dia 2 de dezembro e não chega ao Brasil. Estão previstas apenas 15 datas. Para o primeiro show em Londres, demorou apenas 38 segundos para que os ingressos se esgotassem. As Spice Girls venderam mais de 55 milhões de discos nos anos 90. noize.com.br
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Jack White será Elvis Presley em filme Jack White, do The White Stripes, terá a honra de interpretar ninguém menos que o rei do rock, Elvis Presley. O filme Walk Hard: The Dewey Cox Story, que deve chegar aos cinemas em 2008, dará a White esse privilégio. O músico foi pego de surpresa pelo convite, feito apenas alguns dias antes das gravações. A princípio ele pensou que fosse algo menos vultuoso, para TV a cabo. No entanto, trata-se de um longa-metragem que gera muita ansiedade na crítica especializada. Dirigido por Jake Kasdan, o filme é uma paródia de momentos marcantes na história da música e de Walk The Line, longa que retrata a vida de Johnny Cash e de sua mulher June Carter. Escrito por Judd Apa-
tow e pelo próprio diretor, o subtítulo do filme é o seguinte “Life made him tough. Love made him strong. Music made him hard”. A história é contada por meio de um personagem chamado Dewey Cox, vivido por John C. Reilly. O líder do Pearl Jam, Eddie Vedder, também marca presença na história, apresentando um show. Os Beatles são interpretados por Jack Black (Paul), Paul Rudd (John), Justin Long (George) e Jason Schwartzman (Ringo). White achou o roteiro de Walk Hard bastante engraçado: “É uma paródia de biografias musicais, e o John C. Reilly interpreta um personagem que passa por vários períodos diferentes, e certo momento ele toca com o Elvis, que sou eu”.
Filhas de Vinícius de Moraes serão indenizadas As três filhas do poeta, compositor e diplomata Vinicius de Moraes conseguiram o direito de indenização contra a União por danos morais em razão da perseguição política que seu pai sofreu no final dos anos 60. A primeira instância havia negado o pedido de indenização com o entendimento de que ela seria direito personalíssimo do “Poetinha”, morto em 9 de julho de 1980. Com isso, não comporia o patrimônio herdado pelas autoras da ação. Na apelação, as filhas de Vinícius rebateram 10
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essa fundamentação, afirmando que seu pai não exerceu o direito porque teria sido impedido de fazê-lo. Elas argumentaram que a aposentadoria causou um grande abalo moral em Vinícius, que na época, teria até abandonado alguns parceiros, como Baden Powell e Tom Jobim. No julgamento ocorrido no Tribunal Regional Federal, o advogado das filhas do ex-diplomata declamou trecho do poema Pátria Minha, de Vinícius, que descreveria o seu desgosto com a situação política do Brasil.
Bandas unidas contra a CPMF Aconteceu no último dia 16, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, o show “Tributo Contra o Tributo”—uma forma de unir o maior número de pessoas possível para, juntos, pedirem o fim da CPMF, que estava prevista para acabar no dia 31 dezembro. Você já deve ter ouvido em algum lugar sobre a CPMF, certo? Ela foi criada em outubro de 1996, e tinha como objetivo financiar ações e serviços de saúde. Durante os últimos dez anos, a contribuição foi prorrogada três vezes, tendo arrecadado aproximadamente R$ 186 bilhões—ou seja, de
provisória ela só tem o nome! O show reuniu nomes musicais de diferentes estilos, mas com a mesma postura em relação à Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira—tal como a dupla Zezé di Camargo e Luciano, o trio KLB, Gabriel O Pensador, CPM 22, NX Zero e Fresno, além de outras atrações.
Hives lança novo CD Os suecos estilosos do The Hives chegam ao seu quarto álbum com The Black and White Album. O disco tem 14 faixas e foi lançado apenas na Grã-Bretanha até agora. O lançamento nos Estados Unidos e demais localidades está marcado para o dia 13 de novembro. O primeiro single do álbum é “Tick Tick Boom”, que já possui videoclipe e vem há algum tempo integrando propagandas de material esportivo. O álbum tem sido bem recebido pela crítica e é apontado como uma alteração nas fórmulas utilizadas pela banda, que estaria ousando mais sem abdicar da veia rock’n’roll característica. noize.com.br
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Para os amantes da música eletrônica que gostam de viajar e possuem tempo e dinheiro para tal, o mês de novembro e os primeiros dias de dezembro instigam muitas saídas de Porto Alegre. Poucas vezes houve tantas e tão diversificadas alternativas do estilo em um período tão curto de tempo. Depois de um final de outubro expressivo, que teve direito a Tim Festival, o Brasil irá receber nomes como Chemical Brothers, LCD Soundsystem, Infected Mushroom, 2 Many DJs e Booka Shade. Os primeiros a chegar serão os festejados ingleses do Chemical Brothers, em apresentação única no Credicard Hall, em São Paulo, no dia 7. O objetivo da turnê sulamericana é divulgar We are the night, mais recente álbum dos caras. Outra atração é o duo alemão Booka Shade. Formado por Walter Merziger e Arno Kammermeierong, se apresenta em Belo Horizonte no dia 9 e no Rio de janeiro um dia depois. Entre suas canções mais conhecidas estão “Body Language” e “Mandarine Girl”. Também no dia 9, os paulistas terão mais um nome de peso para conferir. Os irmãos belgas do 2 Many DJs se apresentam no Baccardi B-Life, com Iggor Cavalera como convidado. O duo é 12
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famoso no mundo todo por seus mash-ups com músicas de artistas famosos. O DJ norte-americano de house, Mark Farina, é outro nome que passa por São Paulo (11) e mais três cidades brasileiras: Campo Grande (14), Rio de Janeiro (15 e 16) e Maresias (17). Os nova-iorquinos do LCD Soundsystem, que você pode conhecer melhor nesta edição da NOIZE, são outro nome indispensável para quem puder conferir. A mistura de rock e música eletrônica feita por eles estará em São Paulo (13), Belo Horizonte (14), Rio (16) e Brasília (17). Os últimos três nomes são o DJ canadense Tiga, com seu electro pródigo em remixes, o prog-house do Deep Dish e os mestres do trance mundial, Infected Mushroom. Infected e Deep Dish encabeçam o Creamfields Brasil em suas duas etapas: BH (30) e Rio de Janeiro (1º/12). Tiga participa apenas da data carioca do festival, mas ainda irá a Curitiba (29) e SP (30). O Deep Dish também vai a Brasília (29). Para quem não puder conferir as atrações gringas, o Beco traz para a Orgasmo do dia 14 o DJ Phillip A e o live act do duo Killing on the Dance Floor, ambos de São Paulo.
Quando estava na faculdade de Jornalismo, entrevistei algumas pessoas para um programa de moda e comportamento de que participei na disciplina Projeto Experimental em TV. Entre tantas pessoas com quem conversei, lembro de um rapaz que afirmava cortar o próprio cabelo. O nome dele? Thiago Peduzzi, hoje guitarrista e vocalista da Stratopumas. Todos os integrantes da Stratopumas têm uma maneira muito própria ao se vestir, e ao mesmo tempo esses estilos acabam se complementando. Alguma vez a moda foi quesito para participar da banda? Sim. Eu estaria te mentindo se o visual não contasse para tocar nos Stratopumas. Lógico que tem que ser músico também; o ideal é unir o útil ao agradável. A tua maneira de vestir se modificou depois que passaste a fazer parte da banda? Sim… na verdade foi uma mutação do mod pra um estilo mais puxado pro indie e pro punk. Antes dos Stratopumas, eu tocava numa banda mod chamada Gabardines, com o Paulinho (também da Stratopumas), Beto (dos Efervescentes) e o Rodolfo (da Cachorro Grande). Com isso, os terninhos de brechó eram seguidos à risca, mesmo fazendo 40ºC lá fora. Hoje as roupas já são mais livres: calça justa, camiseta pequena e uma jaqueta, ou de couro ou jeans. Te garanto que são roupas mais limpas e cheirosas (risos). E como defines o teu estilo? Como escolhes as tuas roupas? É uma espécie de pós-modernismos. Se tu reparar em cada década, desde 60 até hoje, nota-se um pouco de cada influência, montando um conjunto. Produção Mely Paredes Texto Helga Kern
Foto Marco Chaparro (311 Label) Assistente de Fotografia Diego Furlani
Veja mais fotos do editorial e do making of em www.noize.com.br
A Stratopumas acabou de lançar o clipe da música “Bem-vindo à América”. Como foi a gravação do clipe? Foi sensacional. Pra quem já assistiu, pode notar que fizemos inúmeros planos em lugares bem variados. Na minha opinião, o que eu mais gostei foi da parte do Jockey Club, no bairro Cristal. Chegamos a apostar nos cavalos, pedimos dicas da velharada e, acima de tudo, diversão. O pessoal nos recebeu muito bem, conseqüentemente ficamos bem à vontade. De R$ 2 apostados, ganhamos 7, o suficiente pra mais uma geladinha.
Houve algum cuidado especial com a roupa que vocês estariam usando no clipe? Sim, o pessoal do figurino foi nota 10. A Amanda Schmitz, uma das produtoras, se puxou muito. Por outro lado, buscando um ponto de equilíbrio com os músicos, a Marianne Dillenburg, figurinista, soube vestir muito bem a banda, cada momento no seu contexto. No Jockey era uma roupa, no Pub enquanto tocávamos era outra, e assim por diante. Ficamos bem satisfeitos com o resultado. Só quero ver o que vai rolar no próximo!
Agradecimentos Cláudia Nunes noize.com.br
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Chile
por Lucas Corrêa
Geograficamente, o Chile é um país tão belo como diverso. Da imponência gélida dos Andes à aridez e calor do deserto de Atacama, são apenas algumas horas de carro. No sentido norte-sul, no entanto, o país se estende ad infinitum… A capital Santiago situa-se aos pés da cordilheira e encanta pela arquitetura e pela qualidade de vida, ainda que no geral não seja tão diferente das demais (boas) capitais ao redor do mundo. Viña del Mar, também situada na região central, é um balneário charmoso, sede de um festival anual de verão, com muita badalação, famosos e música popular latina. O norte do Chile atrai os mais aventureiros pelas paisagens lunares do deserto e pela junção deste ao Oceano Pacífico. Quase na fronteira com o Peru, Arica é uma ótima pedida para quem está atrás de ondas pesadas e perfeitas, tendo sediado com classe o Rip Curl Pro Search no início deste ano. Algumas horas mais ao sul, em Iquique, também é possível encontrar ondas épicas e uma atmosfera um pouco mais cosmopolita, além de praias bastante agradáveis para se curtir um pôr-do-sol no Pacífico. Aqueles que buscam refúgio ou “psicodelismo” se encontram (e se perdem) em San Pedro de Atacama, um vilarejo cercado por landscapes incredibles no coração do deserto. Em direção ao sul do país, os vales e contrastes de relevo se dissipam até a Patagônia chilena, que dispensa comentários. A noite no Chile rola regada a muito reggaeton, eletrônica, pisco (aguardente de uva)
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e piscola (pisco e Coca-Cola). Falando em trago, as botillerias espalhadas por todo país são garantia de variedade etílica. De mezcal a cachaça brasileira, passando pelos excelentes vinhos chilenos, não faltam boas opções para pisar com tudo na jaca. Uma dica para quem for se aventurar pela vida noturna do local e não quiser passar por maricón é ficar de canto, literalmente. Em uma boa parte das discos, a pista é das mulheres, e cabe aos homens ficar observando até o momento do bote— normalmente um convite para bailar junto. Homem dançando junto na pista é atestado de boiolice! No mais, o povo chileno nutre grande simpatia pelo Brasil, e os preços de acomodação e alimentação são bastante similares aos praticados aqui. Sem dúvida o Chile é um destino acessível e com grandes atrativos para qualquer um que queira se jogar sem medo em busca de latinidad e boas aventuras.
O Melhor do Chile: Compras – Zona Franca de Iquique Casa de Shows – La Batuta Bar – Chillout (Arica) Comida – Seviche Lugar – Lago Chungara
Lisboa
por Bibiana Xausa Bosak
“Pois...” Lisboa é um magrinho de óculos. É uma cidade para ser descoberta em uma conversa tranqüila, ao sabor de pastéis de Belém com canela; no pôr-do-sol, a beber uma “imperial” no Adamastor ou um Vinho do Porto à beira do Tejo; onde, em pequenos detalhes, acabamos por nos apaixonar. Um lugar que não combina com pressa, onde as direções são conquistadas, não indicadas. É um magrinho encantador, daquele tipo de gajo que nunca é o centro das atenções, mas que é capaz de manter a atenção de uma mulher, por horas, só com sua fala e seu olhar. Não por acaso, Lisboa são as pessoas de Pessoa, o coração quente e o sorriso acolhedor da latinidade européia de impecável correção gramatical, moldado pelo sotaque tão cômico que chega a ser doce; mesmo que seja falado por um Camões de roupas pomposas ou com a ranzinzice tipicamente lusitana de uma das demasiado humanas personagens de Queiroz. “É pá, tais a ver?” Na infinidade de bares do Bairro Alto alocamse os pontos de encontro da boêmia lisboeta de todas as idades—amores e desamores em bebericos e conversetes. Bares, restaurantes, lojas, estúdios de tatuagens, mais dezenas de bares, tapas, imperiais, um universo em ruelas apertadas em “sobes-e-desces” (com um odor de urina que já faz parte da paisagem) que de tão portuguesas deixam de ser inóspitas de se caminhar por. “Fixe. Muito giro!”
Mas tal magrinho conhece também o encanto de palavras eruditas, e nem tudo são miudezas. A arquitetura mesmo muito rica do Monastério dos Jerônimos (santuário que transborda paz), marcada pelo original Manuelismo e a herança de monarquias, se mistura com a tentativa do país de modernizar-se, o que se pode ver ao visitar a Videoteca de Lisboa, onde se assiste a filmes de graça; o CCB, lugar que acolhe grandes exposições de arte ou, ainda, em alguns dos concertos, que vão do fado ao rock, no Castelo de São Jorge. A cidade é um poeta e heterônimos. Uma personalidade e muitas: na delicadeza e acolhimento, não perdendo o brilho e genialidade que formam esta hoje moderna cidade secular. Correndo o risco de ser piegas ao parafrasear clichês, arrisco-me e digo: ao sentar-se nas ruínas do Castelo, no topo de uma das suas das 7 colinas e observar o Tejo encontrar o mar e o velho encontrar o novo, qualquer um diria que a não-pequena alma de Lisboa faz tudo valer a pena. “Tasse bém.Tasse muita bém!”
O Melhor de lisboa: Pra Sair – Lux Casa de Shows – Castelo de São Jorge Loja de CDs – Fnac Comida – Bacalhau com natas Lugar – Mirante de Santa Catarina
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Texto Nando CorrĂŞa
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s anos 60 foram época de bombas. Bombas literais, que dizimavam vietcongues; bombas ideológicas, irrompendo em ditaduras severas; e bombas de efeito moral, como o LSD. A explosão deste último causou um estrago tão grande que apagou estrelas. Os estilhaços lançados pela música de Syd Barrett, fundador do Pink Floyd, e do Mutante Arnaldo Baptista são de uma beleza tão rara que até hoje pairam sobre a música pop planetária. É uma pena que, para isso, eles tenham saído de órbita. Ficou a sensação do vôo que durou pouco. Soa satírico falar assim quando o assunto é Arnaldo Baptista. O “lóki” por excelência ainda compõe (lançou o Let it Bed em 2004), mas encerrou seu grande vôo musical no primeiro dia de 1982, quando percorreu em queda livre a distância entre o terceiro andar e o chão do Hospital do Servidor Público, em São Paulo. O incidente deixou seqüelas irreversíveis e pôs fim a um longo período de depressão que acometeu o “ex-marido de Rita Lee” depois da separação e de longas experiências com o LSD durante os anos 70. Males necessários? É difícil precisar quantos dos sucessos musicais da época (não) foram produzidos sob o efeito do “doce”, mas as figurinhas alucinógenas estavam na linha de frente do movimento artístico da sempre precoce Londres. The Piper at the Gates of Dawn (1967), a viagem inaugural do Pink Floyd, é fruto de doses consideráveis de LSD. Não que a imaginação de Syd dependesse da droga—sua cabeça era habitada por seres mágicos desde a infância. Porém, progressões tão distantes do modelo de música pop da época, como “Astronomy Dominé” e “Interstellar Overdrive”, devem muito de sua inusitada existência aos efeitos do ácido. O Gnomo Syd “É muita consideração de vocês pensarem em mim aqui, mas eu devo deixar claro que
não estou mais aqui. Nunca imaginei que a lua pudesse ser tão grande, e o mar, tão azul” (“Jugband Blues”, de Syd Barrett, 1967) A década de 80 se aproximava e Barrett já não cativava as pessoas com seu gênio brincalhão e inteligente. O uso constante do LSD tornara impossível o convívio com o diamante louco alguns anos antes. Sem suportar o peso de sua genialidade contaminada por atitudes esquizofrênicas, chegara ao ponto em que precisava mudar de vida. Abriu mão do apelido “Syd”. A partir de então, seria Roger Keith Barrett, um homem que vivia no seu canto, em Cambridge, onde pintava, assistia TV e cuidava da casa. O rockstar cuja fama veio acompanhada de tristeza e desencanto estava morto. Na segunda metade dos anos 60, a entrada em cheio do ácido na Inglaterra arrebatou os ravers—músicos, boêmios e freqüentadores dos clubs (nada de pirulitos de morango e fosforescências). O Pink Floyd— Syd, Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright—não foi exceção. Porém, para Syd, a enxurrada criativa que liberava os gnomos de sua mente logo se transformou em uma imensidão habitada por idéias confusas e desconexas. O lançamento de Piper anunciava o fim de 1967, e o estado mental de Syd piorava com as pressões do estrelato iminente. No palco, ao invés das canções mais pop (e não por isso menos psicodélicas), a Fender Squire de Barrett soava notas gritantes e dissonantes em improvisos intermináveis. “Interstellar Overdrive” extrapolava os 6 minutos da versão do disco para durar mais de 20 ao vivo. Mas não por muito tempo. Logo nos primeiros shows de divulgação, o comportamento de Syd tornou-se imprevisível. O divisor de opiniões Waters relatou um causo clássico do folclore barrettiano: durante a primeira turnê estadunidense, nas gravações do Pat Boone Show (programa musical da rede ABC), a banda ensaiava repetidamente o playback de “See Emily Play”. Sempre que o cameraman anunciava “ação”, Syd calava-se imediatamente e ficava com o olhar no horizonte.
A turnê foi um desastre: Barrett passava shows inteiros catatônico em frente à platéia, enquanto o resto da banda se esforçava em evitar o vexame. Assim, numa questão de meses, o líder de uma das bandas mais revolucionárias do cenário Londrino se tornou um estorvo. Os floyds retornaram a Londres com uma certeza: era hora de procurar um guitarrista que tocasse guitarra. E um vocalista que cantasse. Aos poucos, Barrett foi trocado por David Gilmour, um velho amigo seu que logo se tornou um algoz. O Floyd teve cinco integrantes por alguns meses, até que um dia os companheiros resolveram deixar o lunático de fora da nova banda. Nova porque um dos maiores grupos psicodélicos de todos os tempos acabou naquela transição de 1967 para 1968. Nova porque para se tornar a instituição majestosa que é até hoje, o Pink Floyd teve que enterrar a existência de Syd Barrett, seu fundador e gênio louco. Enquanto isso, no Brasil Tudo aconteceu muito rápido naquele 1968. Os Mutantes chegaram causando estardalhaço geral. Debochados, apareceram como renovação da música brasileira, tocando com Gilberto Gil em um festival da Record repleto de nacionalistas temerosos à corrupção da música tupiniquim pelos instrumentos eletrificados. Mas a hostilidade só durou até o dia em que o reconhecimento internacional os trouxe triunfantes da Europa, para um Brasil mais receptivo à música que “passara no teste de qualidade francês”. Da França, traziam também sua experiência inicial com o “doce”. Toninho Peticov, velho amigo da banda, estava morando em Paris para limpar sua barra no Brasil, onde tinha sido um dos primeiros presos por posse da nova droga. Numa noite de dezembro de 1970, foi ao encontro dos garotos que estavam se apresentando no Olympia. Tomaram LSD pela primeira vez e saíram para viajar pelas ruas da Cidade-Luz. noize.com.br
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Como Barrett, Arnaldo era a alma criativa, e seria atingido mais fortemente pelo ácido. Ele, que sempre fora debochado, passaria a ver o mundo com outros olhos. Com a aquisição de um sítio na Serra da Cantareira (SP) pelos irmãos Baptista, ácido e maconha passaram a compor a dieta básica da banda. Por um lado, houve uma mudança filosófica, o pensamento de “todos somos um”. Por outro, uma nova proposta musical: o rock progressivo, genuinamente “chapado”, ganharia espaço, escanteando o rock direto e despretensioso de antes. A folha de maconha estampada na capa de Jardim Elétrico marca o primeiro filho dessa nascente fase doidona. Porém, ao mesmo tempo em que, doidões, sentiam-se livres para criar, viver e amar, sóbrios eles tinham de agüentar os ciúmes e a mágoa conseqüentes. Arnaldo passou a dormir com garotas diversas—e Rita suportava, tentando levar os ideais de amor livre ao pé da letra, mas sendo dilacerada por dentro. Dizem os boatos que a filosofia acidulada de vida tornou-se uma obsessão para Arnaldo e que ele se considerava um Deus—para muitos, uma verdade. Seria ele, em meio a crises de agressividade e prepotência, o responsável pela expulsão de Rita antes das gravações do progressivo O A e o Z, rejeitado pela gravadora. Depois disso, viveu sua própria crise de consciência: perdeu a mulher e a companheira de banda; sem ela, a banda não tinha sentido. Foi embora xingando os parceiros. Fora dos Mutantes, entrou em uma das fa-
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ses mais conturbadas de sua vida. Algumas vezes, procuraria a ex-mulher em busca de consolo e tentativas inúteis de reaproximação. Nessa época, roubara a estátua de um anjo de um cemitério. Para Rita, o anjo era o responsável pelo momento de Arnaldo. Mas, talvez, um dos responsáveis pelo caos mental fosse bem menor, colorido e feito de papel. A volta dos que não voltaram Em 1969, na tentativa de compensar a expulsão de Barrett, Roger Waters, Gilmour e Richard Wright juntaram-se para produzir The Madcap Laughs, primeiro disco solo de Syd. O pop-artist Duggie Fields morava com Syd e se esforçava para lidar com as groupies e traficantes que o assediavam diariamente. A bagunça generalizada refletia o estado interior do músico. O trabalho em estúdio era tão difícil que Waters desistiu da produção de Barrett (1970), continuação de Madcap. Conta-se que, além do LSD, Syd aparentava estar sob o efeito de Mandrax (sedativo abusado pelos doidões) durante as gravações. Madcap e Barrett são dois discos belíssimos, psicodélicos e tristes até a alma. Acompanhado de seu violão (os outros instrumentos foram adicionados depois), Syd canta com a “boca mole palavras gozadas” (citando Júpiter Maçã, discípulo barrettiano dos mais honrados) e põe um fim à sua curta e importante carreira musical. Morreu recluso em julho de 2006 sem nunca ter voltado a gravar em quase 30 anos.
Em 1974, Arnaldo Baptista procurou Roberto Menescal, então diretor artístico da Philips, para gravar seu maior disco. Lóki não tem uma super produção, mas é carregado de mágoas do garoto que tenta construir uma espaçonave para voltar aos céus, onde tem sua namorada e seu rock’n’roll, e de onde nunca queria ter saído. É o Madcap Laughs brasileiro: de beleza e sinceridade singulares que brotam das letras mais ingênuas. Arnaldo ainda teve tempo de gravar dois discos com a Patrulha do Espaço e ser internado 5 vezes devido ao excesso de ácido e otras cositas más. A droga alucinógena foi apenas um catalisador em um período onde idéias de libertação da mente e do corpo estavam em alta. Arnaldo passou quatro meses entre a vida e a morte após o incidente de 82. Sobreviveu graças à atenção de pessoas como Lucinha Barbosa, sua companheira até hoje. Recentemente, Arnaldo participou da volta dos Mutantes. Os felizardos que assistiram aos shows puderam presenciar uma lenda viva do rock, que agora resolveu se recolher novamente. A vida de exageros nem sempre é fácil; que bom que Arnaldo foi também exageradamente talentoso e produtivo. “Suicida” é o lado A do compacto do O’Seis, conjunto embrionário para a formação dos Mutantes. A canção fala de um jovem que “cisma em querer se jogar do Viaduto do Chá porque a consciência pesada lhe mandava pular”.A letra não era de Arnaldo, mas escrevia no início da história do grupo a tragédia que sucederia seu fim.
Texto Carlos Guimar達es
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“Nós inventamos o punk. Nós dizemos como as coisas são.” — Johnny Rotten, vocalista do Sex Pistols Never Mind The Bollocks ainda vive! Lançado em 1977 pelo Sex Pistols, com 38 minutos e meio de duração e 12 faixas absolutamente espantosas para a época, a amplitude que este disco atingiu nos permite voltar a uma década curiosa e refazer todo o processo de produção do único álbum de estúdio oficial que a banda de Johnny Rotten, Sid Vicious, Glen Matlock, Steve Jones e Paul Cook conseguiu fazer. E não seria exagero nenhum se disséssemos que estamos comemorando 30 anos de punk rock. O cara nisso tudo se chama Malcom McLaren. McLaren funcionava para os anos 70 como Carlos Imperial para a Jovem Guarda ou o Carlos Miéle para a bossa nova. Era um malandro. Só que um malandro londrino. Produtor de médio porte, notório boêmio, fazia amizade rapidamente. No início dos anos 70, deixou de ser um “agiota” para ser de fato um “agente”. Bancou o figurino e deixou a rapaziada bancar o som com o New York Dolls. O resultado foi a combinação perfeita de extravagância visual com performance bombástica e um som que lembrava alguma coisa do MC5 e das bandas de garagem do final dos anos 60, com um toque de glam rock, que estava na moda em 1972. McLaren havia viajado para os Estados Unidos e era produtor de fato e de direito das “Bonecas de Nova York”. O NY Dolls não era glam, não era banda de garagem nem banda lo-fi, como por exemplo o Velvet Underground. Eram como os Stooges, de Iggy Pop. Na crueza sonora, estaria o futuro da música. No meio da década de 1970, esse movimento chamado “protopunk” já havia sido limado da mídia. Era necessário algo mais duradouro, mais potente, com mais força de ruptura de mercado e que deixasse cicatrizes no sistema. Se essa era a idéia, o clima estava perfeito. No Reino Unido, o disco do prisma (The Dark Side of the Moon) do Pink Floyd vendia milhões; a música esta-
va tomando o perigoso rumo acadêmico e catedrático. Tempos do rock progressivo, do Pink Floyd, do Genesis, do Yes, do King Crimson. Quem poderia fazer alguma coisa estava tentando se livrar de drogas, como Neil Young, Lou Reed e David Bowie. Restava o rock pesado de Led Zeppelin, Kiss e Black Sabbath—ou as boas novidades da América, como Queen, Aerosmith e Van Halen. McLaren sacou o espírito que viu quando estava produzindo (ou espionando?) o New York Dolls. Mais ainda: nos EUA, um lugar chamado CBGB dava espaço para uma garotada que não queria lá muito saber de política, de rock progressivo e, se bobear, nem tocar eles queriam muito. Era só gritar “1, 2, 3, 4” e soltar uns Hey Ho! para alguma coisa acontecer em Nova York. Eram os Ramones, já vivos, já existentes e já fazendo sucesso. Junte isso ao fabuloso disco Horses, de Patti Smith, e você tinha quinhentas sementes na mão brotando. Mas ainda faltava uma última regada para que a planta crescesse e fizesse estrago. A Londres dos anos 1970 vivia uma recessão violenta. Desemprego, protesto e desânimo conviviam em desarmonia absoluta, numa provocação imediata para chamar o caos. “Anarquia já!”, gritavam. Anarquia no Reino Unido. Explodiu uma gota de nitroglicerina num caldeirão de pólvora. O punk (“vagabundo”, literalmente) estava nas ruas, lutando por melhores condições. Convenhamos que a trilha sonora perfeita para casar com tudo isso não era o solo interminável de piano do Rick Wakeman. Era preciso mais fúria, mais garra, mais violência, gente mais desbocada; mais vagabunda, mesmo. McLaren, na época, era dono de uma loja chamada SEX e recrutou a vadiagem: o guitarrista Steve Jones e o baterista Paul Cook eram clientes. O baixista Glen Matlock era balconista. E o vocalista tinha que ser podre. Johnny Lydon, que nunca tinha cantado na vida, era um bagaceiro anti-social, com toda a ficha criminal de um arruaceiro de marca maior. Não precisava cantar bem. Nem tocar bem. Era só ter postura. Ter atitude. E no resto, “faça você mesmo”.
TRÊS DÉCADAS DE INFLUÊNCIA DOS PISTOLS 1980 O punk prolifera e se ramifica a partir do início da década, com bandas como Dead Kennedys, Circle Jerks, Exploited e Undertones. Uma vertente mais pop faz sucesso pelo mundo, como Talking Heads, Blondie e Pretenders. Gang of Four puxa o chamado pós-punk. Na Inglaterra, a influência explícita do Sex Pistols pega o colorido (new wave, como The B-52 ’s) e o obscuro (como Bauhaus). No meio da década, o underground norteamericano começa a explorar novos rótulos, como o hardcore, o crossover e o hardcore melódico (Minor Threat, Descendents, Bad Religion, Bad Brains, Suicidal Tendencies). O indie, através do Husker Dü, também bebe direto na fonte. 1990 Começa com o hardcore sendo a trilha sonora de skatistas e surfistas (NOFX, Pennywise, Fugazi), e o melódico cada vez mais pop. O primeiro boom depois do Pistols aparece em 1991, com Nirvana. Um revival do punk acontece na metade da década, com um acento mais pop (Green Day, Offspring, Rancid). 2000 Influência clara no trabalho do Strokes e das bandas de rock da década, como The Killers e The Libertines. Explosão do emo, uma espécie de tataraneto bastardo do punk (os Pistols teriam vergonha). Na árvore, filhos do emocore, netos do hardcore melódico, bisnetos do hardcore tradicional. Aclamação do White Stripes, banda só com guitarra e bateria, pegando todo o espírito de “do it yourself ” lançado há 30 anos.
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O primeiro show do Sex Pistols foi um desastre. Em 1976, a Inglaterra já contava com diversas bandas “do movimento”, como The Damned, Siouxsie and the Banshees e The Clash (esta, a mais politizada de todas). Em novembro de 1976 é lançado o single de “Anarchy in the UK”, o primeiro do Sex Pistols. Uma porrada no sistema, que virou um nocaute quando, na primeira apresentação televisiva da banda, Johnny Rotten solta um “FUCK OFF” olhando para a câmera. No dia 12 de novembro de 1977 sai nas lojas o álbum Never Mind the Bollocks – Here’s The Sex Pistols, àquela altura já aguardado e comentado pelos britânicos. Como um foguete, regado a drogas e deboche, o Sex Pistols realizaria o último show em 1978. Depois da gravação do absurdo The Great Rock N’Roll Swindle, que conta com a participação do assaltante exilado no Rio de Janeiro Ronald Biggs (aquele do trem pagador) e com versões satíricas de clássicos do cancioneiro norte-americano, a banda termina. Sid Vicious morre em 1979, vítima de overdose de heroína, aos 21 anos—um ano depois de sua namorada, Nancy Sungen, ter sido encontrada morta. O Sex Pistols durou, efetivamente, três anos.Três anos para construir um conceito, formar uma identidade e destruir tudo de uma forma avassaladora. A banda inglesa é a síntese do que é o punk rock. Não é só música. É som cheio de fúria. É fúria em forma de som. É rápido—sobe e se destrói em segundos. Essa foi a lição de Never Mind The Bollocks – Here’s The Sex Pistols. Volta e meia, eles reaparecem. Em 1996, o Sex Pistols promoveu uma turnê de retorno. Segundo seus integrantes, estavam falidos e precisavam de dinheiro. A tour se chamou Filthy Lucre e eles passaram pelo Brasil. Lotaram estádios, pegaram o dinheiro e voltaram para casa. No dia 8 de novembro de 2007, na Brixton Academy, em Londres, Never Mind the Bollocks – Here’s The Sex Pistols será relançado, numa edição comemorativa de 30 anos. Um show único será realizado pela banda, com a participação de Johnny Rotten, Glen Matlock, Steve Jones e Paul Cook. 24
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Se apurarmos a verdade de tudo isso, a gente até vai achar uma e outra picaretagem do senhor Malcom McLaren, que deve ter embolsado uma grana graúda enquanto Johnny Rotten e sua trupe se drogavam. Mas se o sistema estava errado, que mal há em usar o próprio sistema para balançar alguns alicerces? E no caso do Sex Pistols, o que eles fizeram há 30 anos foi bem mais do que dar uma chacoalhada no mundo musical. Eles simplesmente entortaram todo o caminho que o rock estava tomando, redefinindo conceitos e estabelecendo um padrão para todas as décadas dali para a frente.Talvez, na música, tenha sido o único exemplo que atingiu todas as esferas. Chocou o governo, feriu a sociedade, estimulou a juventude, abriu os olhos das classes baixas e influenciou pelo menos três gerações. A gente só agradece esses três anos de música e loucura. GABBA GABBA HEY! Antes do Sex Pistols aparecer, nos Estados Unidos quatro jovens que igualmente mal sabiam tocar agitavam o underground de Nova York. No lendário CBGB’s, os Ramones começaram com pequenos shows em 1974, ao lado de outros expoentes do punk rock norte-americano, como Television e Patti Smith. Ao contrário do conteúdo político-anárquico dos Pistols, as letras dos Ramones eram bastante diferentes. Geralmente compostas em primeira pessoa, como “Now I Wanna Sniff Some Glue”, “I Don’t Wanna Walk Around With You” e “I Don’t Wanna Go Down to the Basement”, o quarteto primava pela velocidade de suas músicas. Em 1976, lançaram o primeiro disco, o homônimo, considerado um clássico até hoje. A cena nova-iorquina era um pouco diferente da britânica. Enquanto no Reino Unido havia os vagabundos (Pistols) e os intelectuais (Clash), nos EUA a intenção era basicamente se divertir. E isso os Ramones faziam de sobra. A partir de 1976, um hino por disco, aglutinando uma legião de fãs que até hoje desfilam com a camisa
da banda. Um fenômeno diferente, talvez mais simpático, menos sinistro do que a fábrica de palavrões de Johnny Rotten. Cabelinho na cara, jaqueta de couro, calça grudada, instrumentos tocados abaixo do joelho e uma voz inconfundível de Joey Ramone. Letras juvenis e melodias rápidas. Não mais que três acordes. Baixo reto, bateria constante e uma vontade inigualável de promover a diversão. Dessa maneira, os Ramones lançaram discos até 1996, ano que escolheram para terminar a
banda. Com algum flerte em ritmos diferentes pelos anos 1980, sobreviveram bem ao anonimato que o punk rock tradicional teve em alguns momentos. Não pararam de produzir, inclusive soltando alguns clássicos como “I Believe in Miracles”, “Pet Sematary” e “Poison Heart”. Três de seus componentes originais já faleceram (Joey, Johnny e Dee Dee), mas a chama ramônica ainda está viva, na fusão perfeita do punk clássico com popularidade.
10 discos essenciais para entender o punk rock MC5 – Kick Out the Jams (1969) Guitarras desafinadas, vocais sobrepostos, gritos de guerra e alucinação coletiva em Detroit. Quase dez anos depois, aquela turma aprendeu direitinho como se fazia com os Motor City Five. THE STOOGES – Fun House (1970) A primeira selvageria do protopunk é um disco semi-ao vivo trazendo Iggy Pop no auge da loucura, em todos os sentidos. THE NEW YORK DOLLS – New York Dolls (1973) No auge da era glitter, um bando de bonecas pintadas senta o dedo nas guitarras. Malcom McLaren viu, gostou e passou pro Sex Pistols anos depois. RAMONES – Ramones (1976) Com menos de meia hora de gravação, o primeiro disco do Ramones é uma aula de como ser punk. Custou seis mil dólares, foi gravado em dois dias e não tocavam mais do que quatro acordes. SEX PISTOLS – Never Mind The Bollocks - Here’s The Sex Pistols (1977) O álbum que inventou o punk rock e mudou o mundo. Depois desse disco, as coisas nunca mais foram as mesmas no rock’n’roll.
TELEVISION – Marquee Moon (1977) Quando o punk rock conheceu as canções e os bons trabalhos de guitarra. Comercialmente, não foi lá essas coisas, mas tecnicamente talvez seja o melhor álbum punk da história. BUZZCOCKS – Another Music In a Different Kitchen (1978) O álbum de estréia dos britânicos é uma nuvem de guitarras melodiosas e letras românticas. A prova de que os punks também amam. THE CLASH – London Calling (1979) O punk abriria seus horizontes para misturas com rock tradicional, ska e reggae na obra-prima do Clash, até hoje reconhecido como um dos grandes álbuns da história. DEAD KENNEDYS – Fresh Fruit For Rotting Vegetables (1980) Um protesto magnífico contra os yuppies que iriam infestar o mercado norte-americano nos anos 1980. BLACK FLAG – Damaged (1981) A ensolarada Califórnia finalmente recebia o punk rock, com este álbum contestador, que abriu o caminho para o hardcore.
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Texto Carol De Marchi
DFA Records is playing at my house Já chamaram de punk-funk. De pós-punk. De dance rock. Tente colocar um nome; eu não me atreveria. Procure suas referências e se perca em estilos e cenas de uma Nova Iorque underground. Isso é DFA Records, uma festa que virou gravadora que produz, remixa, descobre e reinventa. Difícil mesmo é definir o perfil de um selo quando ele mesmo descreve suas bandas como difíceis. “São artistas com personalidade, são estranhos”, disse um dos fundadores da DFA Records, Jonathan Galkin. Death From Above, ou DFA, como são conhecidos, é uma gravadora independente formada, além de Galkin, por Tim Goldsworthy e James Murphy. Nascido na cena boêmia underground da zona Lower East Side de Nova Iorque no início dos anos 2000, hoje é um dos selos mais respeitados do mundo. Não existe receita ou filosofia muito clara: o negócio dos caras é difundir bandas-prodígio dentro de um gênero freqüentemente chamado de pós-punk (ou disco-punk), apesar de não gostarem do rótulo e terem declarado seu desejo de transcender esta função. “Cultura de massa é tão ruim, e cultura underground é tão underground, que é difícil as bandas serem realmente boas. Há muito mais para se conhecer”, afirma Murphy. A estréia em setembro de 2001 não causou grande surpresa, afinal, estamos falando de James Murphy e Tim Goldsworhy, uma dupla que já não era considerada novata nas funções de músico e produtor. Foi a partir do lançamento do primeiro single de The Rapture, “House of Jealous Lovers”, e “By The Time I Get To Venus”, de The Juan McClean, que o nome DFA começou a gerar impacto. Uma vez sob os holofotes, o trio não deixaria a peteca cair. A aposta em um formato já não muito comum (EPs digitais e em vinil 12”) deu certo. A fórmula foi mantida, mas LPs e CDs também passaram a ser lançados, pois o catálogo da gravadora crescia vertiginosamente. A subida feito um foguete foi impulsionada pelo surgimento de LCD Soundsystem, banda que traz James como vocalista e
líder compositor, além de Tim, também colaborando com produção. Pistas de dança do mundo inteiro balançaram com os hits “Losing My Edge” e “Daft Punk is Playing at My House”. Desde então, o selo não parou de crescer e firmou parceria com ninguém menos que EMI/Capitol e Astralwerks, por exemplo. Negociações dignas de aplauso, pois não é todo dia que uma multinacional investe em bandas pouco convencionais como Black Dice e seu noise experimental. No cardápio apimentado também estão Pixeltan, Delia Gonzalez & Gavin Russom, Shit Robot, Prinzhorn Dance School, Shocking Pinks e Hercules & Love Affair. O filhote mais bem-sucedido do momento, ao lado de LCD SS, é Hot Chip, cujo potencial surpreendeu os próprios produtores. “Over and Over”, melhor single de 2006 pela NME, abriu portas para que o grupo inglês atuasse em inúmeros festivais europeus importantes: Glastonbury (Inglaterra), Sónar (Espanha), FIB-Benicássim (Espanha), Lovebox (Inglaterra), entre outros. Ainda em 2006, seu segundo CD, The Warning (DFA/EMI), foi eleito álbum do ano pela respeitada revista Mixmag. A DFA Records é composta por quatro pessoas. James Murphy produz e remixa músicas com Tim Goldsworthy. Artistas como N.E.R.D., Gorillaz, Soulwax, Radio 4, Nine Inch Nails e The Chemical Brothers já passaram por suas mãos. Todo o resto fica por conta de Johnathan Galkin e seu assistente, que assumem a gestão do diaa-dia mais prático de longas horas de trabalho. As decisões, lógico, são tomadas em conjunto. O esforço parece recompensar. Death From Above, que preferiu ser apenas DFA Records em função dos ataques de 11 de Setembro, já lançou cinco coletâneas. As três primeiras incluem trabalhos de bandas da gravadora. Já os dois últimos são remixes de faixas de outros artistas feitos pela The DFA, ou seja, a dupla James e Tim. O futuro do selo é uma incógnita. “Nós seguiremos criando como sempre, e a esta altura só posso confiar nos meus instintos e acreditar que nós três iremos tomar as decisões certas juntos”, diz Jonathan Galkin.
LCD Soundsystem is playing at my house Um som com atitude roqueira e toques eletrônicos, despreocupado com originalidade, áspero, dançante e inclassificável. LCD Soundsystem é um quinteto composto por Pat Mahoney (bateria), Nancy Whang (teclados, voz), Tyler Pope (baixo), Phill Mossmsan (guitarra, percussão, teclas e baixo) e o onipresente James Murphy. Apesar de a primeira música (“Losing My Edge”) ter sido feita em 2002, o primeiro disco foi lançado só em 2005. O sucesso do homônimo LCD Soundsystem (DFA, 2005) desencadeou uma verdadeira montanharussa. Vieram as indicações a dois prêmios Grammy: melhor álbum eletrônico e melhor faixa dance por “Daft Punk is Playing at My House”. A quantidade de shows que fizeram e a visibilidade na mídia foram conseqüências diretas. Em 2007, LCD Soundsystem lança seu novo álbum, Sound of Silver. O segundo CD concretiza a tendência da banda em criar música viciante. Murphy é um tanto perfeccionista e obcecado com o analógico. Por isso, declara que a dedicação dos músicos foi maior neste segundo trabalho. Das dançantes “North American Scum” e “Time to Get Away” à balada final “New York I Love You, but you’re bringing me down”, passando pela sensacional “Someone Great”, o álbum tem um espírito jovem cuja energia vibrante é costurada com maestria por um compositor maduro no auge dos seus 35 anos. As letras de tom reflexivo emergiram em quartos de hotel e falam de perda, paranóia americana e saudosismo. Segundo Murphy, o álbum traz muito de Nova Iorque e de suas performances ao vivo. Cheias de vigor e espontaneidade, suas apresentações são verdadeiras versões de suas próprias músicas gravadas. “Eu não acho que sou um excelente compositor. Sou muito interessado em como o som afeta o meu corpo e em como afeta os corpos de outras pessoas”, declarou Murphy em uma entrevista à Pitchfork Media. É evidente a influência de sua música nos corpos alheios: difícil ver alguém parado. noize.com.br
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Texto Natรกlia Utz Foto Tatu
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ês passado, eles estavam no VMB 2007, concorrendo na categoria Aposta MTV com a bela fantasia presente no clip “Long Plays”. O Guri (guita) acha que este ano eles fizeram mais shows em São Paulo do que por aqui. A Pública é mais uma banda gaúcha que ganha espaço no centro do país. Enquanto desfrutam da boa aceitação do primogênito Polaris, o grupo já tem datas para o início das gravações de seu segundo CD, que deve sair da metade para o fim de 2008. O quinteto é composto por Pedro Metz, Guri Assis Brasil, Guilherme Almeida, João Amaro e Cachaça. Sentados numa vitrine, em frente a uma loja de roupas na barulhenta hora do rush, Pedro, Guri e eu conversamos sobre a evolução da banda, os feitos alcançados e os novos projetos. NOIZE: Qual a sensação de ser indicado a um prêmio do VMB? Pedro: foi como uma conquista mesmo, apesar de a gente não ter ganho o prêmio, só a indicação já vale, porque é uma grande emissora que está dando visibilidade para a banda. Acreditando no potencial, tanto musical, até a questão da parte estética dos vídeos da banda. Faz três anos que a gente manda um por ano para eles. Acreditamos que foi uma grande oportunidade para as pessoas conhecerem a nossa música. Guri: como nós sabíamos que não iriam ter muitas categorias de clipes, porque a MTV não passa mais clipe, mandamos o nosso no prazo e ficamos esperando para ver o que iria acontecer.Ver que categoria a gente iria ser indicado, ou não ser indicado. Quando veio a categoria Aposta, cara, que porra é essa, sabe? Nos surpreendemos. Foi ótimo para a banda. Apesar de não ter ganho, como o Pedro falou, acho que deu uma visibilidade bem boa. NOIZE: Com essa visibilidade, dá para ganhar um mercado fora daqui. Como está o CD Polaris com tudo isso? Guri: fizemos uma prensagem de mil quando lançamos, e acabou faz uns três, quatro meses. Nós prensamos outra, só que neste mês nós colocamos o disco na internet para
download, por um lance muito legal, que foi uma iniciativa da Trama, que é o download remunerado. Para mim é fantástico, uma das melhores idéias que já tiveram. Eles pegam o apoio de uma empresa maior; este mês é a Kildare. Então, a Kildare deixou uma verba com eles para distribuir entre as bandas que ficam no site. Já está com uns 500 downloads do disco inteiro. Na verdade, vendemos mais em shows. Agora, nessa segunda prensagem, estamos fazendo muita promoção. Promoção em rádio para mandar para outros lugares, para produtores e casas. NOIZE: Como está o cenário de Porto Alegre para as bandas? Guri: aqui sempre foi meio efervescente, sempre tiveram muitas bandas de diferentes estilos. Cada vez surgem mais bandas. Mas eu acho que, na verdade, o cara acaba ficando meio preso, se tiver um pensamento muito bairrista de querer ficar em POA, de querer conquistar o público do RS.Acho que as bandas deveriam tentar sair um pouco para o centro do país. Até porque, lá para fora, a música do RS, as bandas gaúchas, são muito respeitadas musicalmente. A Cachorro Grande, que é uma banda de amigos nossos, abriu uma porta para os gaúchos, para as bandas que começaram independentes.A gente está cada vez mais indo para o centro do país. NOIZE:A própria gravadora de vocês é de São Paulo… Guri: acho que este ano nós fizemos mais shows em SP do que em POA. E é superlegal. Na verdade, o público lá é meio blasé, o que não é muito diferente daqui. Mas estamos conquistando aos poucos; os últimos shows têm sido ótimos na questão da resposta do público. NOIZE: Faz parte da turnê… Guri: Salve os Long Plays é o nome da turnê. NOIZE: Por que é importante salvar os LPs? Guri: o grave é mais bonito, a estética do Long Play é mais bonita, a qualidade sonora é melhor. Poder segurar o teu disco é muito bom. É um álbum, uma obra.Temos esta preocupação de álbum. Nosso disco é dividido em Lado A, Lado B. Gostamos que escutem
ele de cabo a rabo até para entender melhor o que a gente quis passar. NOIZE: De 2001, quando a banda começou, para cá, o que mudou? Pedro: mudou tudo. Cada vez mudando um pouquinho. Nós nunca demos um salto muito grande, mas estamos sempre subindo degraus.Acho que isso é o mais importante, porque solidifica, tu transforma numa coisa muito forte e verdadeira. Não tem como a gente cair, pois pensamos muito no que fazemos, nos envolvemos muito, gostamos do que fazemos. De 2001 para cá foram muitas mudanças. Desde formação até a sonoridade mesmo. Aprendendo bastante. Isso é uma das coisas que a gente nota, o quanto nós, não que fôssemos amadores no começo, mas o quanto a gente pensava que era alguma coisa. Depois de gravar um disco tu tem uma noção muito diferente de como a música pode funcionar. Cada vez ouvindo mais músicas e estilos, sendo influenciados por mais coisas. Cada vez crescendo mais, isso é uma das principais mudanças. Uma questão de mentalidade, de como encarar as coisas e valorizar o trabalho. Não se vender ou ser banal. NOIZE: Alguns novos projetos ou alguma coisa que vocês queiram falar? Guri: A gente ensaiou uma música para gravar para o DVD do Inter, acho que o da Tríplice Coroa, não sei direito. Sei que pediram uma música. Só que nem todos da banda são colorados. Eu sou do 14 de Julho, que é de Livramento, onde eu nasci. Mas eu sou neutro. Não torço nem para o Grêmio, nem para o Inter. Porém, o baixista se recusou a gravar, pois é gremista. Então, a gente chamou o Pedro e o Julio Porto, lá da Ultramen para tocar junto com a gente e o Carlinhos, da Bidê ou Balde, vai dividir os vocais junto com o Pedro. Depois, tem uma música que estamos fazendo para um filme. Vai ser a música original de um filme do sul, de um diretor gaúcho, não sei nem se posso falar o nome agora, mas estamos compondo e acho que vamos gravar semana que vem. Isso vai ser uma coisa bem bacana para a banda. Estamos pré-produzindo o segundo disco; ano que vem, fevereiro ou janeiro, já entramos para estúdio. noize.com.br
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Texto Luna Pizzato
A maioria das pessoas acredita que para uma banda decolar é necessário que haja uma boa divulgação, que a banda tenha bons contatos e que faça um som legal. Eu acrescentaria mais um item nessa lista: o incentivo. Não é fácil conquistar um espaço no mercado musical e, por isso, muitas bandas acabam desistindo de continuar na luta, por sentirem-se desestimuladas. É nesse momento que entra o incentivo, seja ele vindo de amigos, pais ou da escola. O colégio João XXIII vem executando esse papel de incentivador de seus alunos, promovendo o Festival Musical, onde bandas formadas por estudantes do
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colégio tem a oportunidade de mostrar o seu trabalho. A banda deste mês, The Nameless, é a grande vencedora do festival realizado no último dia 24. A banda surgiu no inicio deste ano, quando os amigos resolveram se juntar e se dedicar a um amor em comum: o rock’n’roll. Segundo o guitarrista Diego, o maior diferencial da The Nameless está justamente na amizade que há entre os guris: “Acho que nos destacamos pela amizade que temos. Toda banda, para dar certo, necessita trabalhar em grupo, e não individualmente.” Os guris consideram programas como o Festival Musical, promovido pela escola
em que estudam, importantes para que as bandas se sintam motivadas e para que novas portas sejam abertas. A The Nameless, que já havia participado anteriormente do festival, acredita que o prêmio veio na melhor época possível. O cantor Kevin Agnes disse que foi em março que eles resolveram assumir o formato de banda e começaram a investir e a ensaiar com maior disciplina. E que, por esses fatores, se consideram merecedores do primeiro lugar conquistado. Eventos como o Festival Musical do Colégio João XXIII merecem ser valorizados e divulgados para que, assim, estimulem outras instituições e pessoas a agir da mesma forma. Incentivar, valorizar e estimular a cena musical de Porto Alegre a crescer e passar a ser mais conhecida é essencial para que bandas como a The Nameless possam ser descobertas—e, quem sabe um dia, chegar ao topo das paradas musicais.
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Esta arte é uma homenagem ao mestre Antônio Dias. Obrigado pela sabedoria.
Texto Gustavo Corrêa
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m fã de Radiohead acordou na segunda-feira, primeiro dia do mês de outubro, pensando que mais uma semana de trabalho estava prestes a começar. Mal-humorado, ele entrou no carro e acionou OK Computer, para se animar um pouco (contraditório, dirá a maior parte da raça humana). Ouvindo “Exit Music (For a Film)”, ele lembrou que o Radiohead supostamente estaria em estúdio e deveria lançar no ano que vem um novo álbum. Chegou ao trabalho e ligou o computador. Entre os e-mails e notícias, ali estava uma surpreendente “boa nova”. O Radiohead vai lançar In Rainbows, seu novo álbum, no dia 10 de outubro. Somado ao (por si só agradável) fato de oferecer canções novas, a banda ousou como ninguém na estratégia de comercialização do novo produto. In Rainbows pode ser baixado no próprio site do grupo pelo preço que você quiser. Ou seja: você decide quanto quer pagar pelo álbum. Eu paguei o equivalente a R$ 14,05, fazendo uma alusão ao dia e ao mês em que nasci. A discussão que o Radiohead provoca ao conceder ao público a liberdade de avaliar sua obra é premente e tem deixado executivos da indústria fonográfica sem sono. Um exemplo dessa angústia foi dado por Rick Rubin, co-chairman da Columbia, um dos maiores conglomerados de música. Rubin admitiu o fim do modelo de negócio baseado na venda de CDs em lojas. Leia o que ele diz: “Acho que numa era com música digital, iPods e todas as ferramentas para pirataria, nosso modelo de negócios parece um dinossauro”. Para Rubin, a única forma de a indústria da música sobreviver é se “reinventar totalmente”. E eis que surge o Radiohead surpreendendo e permitindo que as pessoas simplesmente optem por pagar ou não pelo seu disco. “A música sempre foi uma commodity, mas agora ela tornou-se uma commodity quase gratuita”, refletia, ainda em 2006, Yorke. Cientes de que as vendas de CDs estão em queda vertiginosa e de que maioria das pessoas iria baixar In Rainbows na internet
de qualquer jeito, eles facilitaram as coisas de um modo inteligente, que acaba tornando o download algo lucrativo. A banda inglesa atraiu mais uma vez os holofotes da mídia para si. Where I End and You Begin O início foi repleto de desconfianças. “Creep”, que se tornaria o maior hit em toda a carreira do Radiohead, não foi bem recebido pela crítica inglesa. O ano era 1992. Pablo Honey fora lançado sem muito alarde, e nenhum dos singles do álbum se destacou na Grã-Bretanha. Mas o que não agradou aos ingleses, definitivamente agradou aos norte-americanos. “Creep” foi incensada e, com a ajuda da MTV, elevou o potencial do Radiohead à enésima potência—mesmo que neste momento, o início de 1993, a banda ainda ressentisse de uma identidade, de um disco capaz de afirmála. Depois de um período complicado (no qual o Radiohead padecia com a necessidade de satisfazer a expectativa para o segundo álbum e Yorke angustiava-se com o cerco da MTV e com o indesejado celebrity way of life), The Bends (1995) foi o álbum que passou o grupo de uma promessa para uma certeza. Canções como “Fake Plastic Trees” e “Street Spirit (Fade Out)” enfatizaram o talento dos músicos para compor melodias melancólicas e belas. Sobre a segunda, Yorke comentou: “‘Street Spirit’ é a nossa música mais pura, mas não fui eu que a compus. Nós fomos apenas os mensageiros, os catalisadores biológicos”. O componente espiritual é marcante na personalidade do vocalista do Radiohead. Para Yorke, as canções e suas letras devem ser como “um buraco na parede de um aposento completamente fechado”, permitindo que as pessoas não fiquem dando voltas e voltas pelo mesmo lugar, mostrando que há outras alternativas se elas se interessarem pelo que pode ser visto pela janela. E o ápice dessa habilidade de transportar o ouvinte para uma espécie de universo paralelo foi atingido em 1997, com OK Computer. Esse é o álbum que marca a consolidação do Radiohead perante o
público e a crítica. Repleto de canções de rock melódicas, complementadas com elementos eletrônicos e ambientes, o disco chegou ao topo das paradas britânicas e recebeu o Grammy de Melhor Álbum Alternativo do Ano. Depois de OK Computer, o ano de 1998 representou um período de indecisão quanto ao futuro da banda. Novamente, estavam exaustos da turnê anterior e passaram o ano separados. Yorke atravessava o mais trágico de seus bloqueios criativos. E então chega 1999, quando começa a ser preparado o álbum seguinte. Kid A só vem a ser lançado em outubro de 2000, quase um ano e meio depois. Este é mais um passo ousado na história do Radiohead, pois representa uma quebra de diversos paradigmas. Os formatos convencionais de verso-refrão são abandonados, cedendo espaço para canções muito mais rebuscadas e imprevisíveis. A inspiração da música eletrônica é definitivamente adotada, culminando até mesmo na ausência de guitarras em diversos momentos. Jonny Greenwood e Ed O’Brien, guitarristas da banda junto com o próprio Yorke, custam a digerir a nova mentalidade de composição do vocalista (que deixa em segundo plano o “ao vivo”), mas acabam concordando em função da qualidade do material. Kid A é, novamente, venerado pela crítica e recebe o Grammy de Melhor Álbum Alternativo. Das sessões do álbum também surge Amnesiac (2001), que segue por um caminho semelhante, embora menos coeso e com mais atribuições. Hail to The Thief é lançado em 2003 e aclamado por boa parte da crítica, embora alguns comentários negativos sejam ouvidos devido à imensa expectativa criada a cada novo álbum da banda. Culpa da fama de inovadores e vanguardistas. Depois disso, a banda realiza uma turnê e interrompe o trabalho por todo 2004, recomeçando em 2005. Só agora, em 2007, é que podemos conferir o resultado desse longo período alternando estúdios e shows. O review de In Rainbows pode ser conferido na página 37. Dica: nunca espere menos do que um ótimo álbum da autoria do Radiohead. noize.com.br
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Devendra Banhart é um americano riponga nascido em Houston, no estado do Texas. Seu som mistura folk, psicodelia e muito tropicalismo. Seu mestre supremo: Caetano Veloso. Se depois dessa introdução você se perguntar: “Tá, e o que eu tenho a ver com isso?”, você certamente deveria escutar o último álbum do cara, Smokey Rolls Down Thunder Canyon. Um álbum cheio de influências de décadas passadas, mas ainda atual, é o que você irá encontrar. Escute “Samba Vexillographica” e “Seahorse”, grande música com uma pegada mais roqueira e direta, “Rosa”, que conta com a parceria de Rodrigo Amarante (Ex-Los Hermanos) e é cantada em português, é uma belíssima canção. Um disco perfeito para ouvir em momentos calmos e viajantes. Rafael Rocha
A banda galesa/argentina segue com seu britpop de sempre, soando previsível. O álbum começa bem, com a forte “Soldiers Make Good Targets”. “Pass the Buck” mantém o bom nível, seguida pelo primeiro single, “It Means Nothing”, balada com a cara da banda. A quarta faixa é “Bank Holiday Monday”, que soa como as guitarras do Oasis com os vocais do Sex Pistols. Depois, o CD não empolga tanto, mas vale o destaque para a lentinha “Bright Red Star”. Se você curte britrock, vale escutar o CD inteiro. Se não curte, irá apenas cantarolar “It Means Nothing” pelas ruas, quando a música começar a tocar na rádio. Infelizmente, parece que Stereophonics está sentenciado a viver de coletâneas, mantendo a mesmice e a média de apenas um hit por álbum. Fábio Grehs.
In Rainbows é a seqüência mais consistente de Hail to the Thief (2003)—isso porque eles se parecem, apesar de terem propsósitos diferentes. Um exemplo é a batida de “15 Step”, que abre o recém lançado álbum. Inegável aludir a “Where I end and you begin”, do antecessor, com uma levada comum, porém a segunda é mais densa. Ouvindo atentamente, há outras semelhanças. Mas isso não é demérito—muito pelo contrário. In Rainbows é a consolidação de uma idéia que a banda vem aprimorando e reciclando de um álbum para outro: nunca soar repetitiva, mesmo quando os álbuns possuem elementos em comum. A doce melodia de “Nude” e o melancólico desfecho de “Videotape” são canções que não enjoam e invadem até mesmo o mais impermeável dos corações. O rock artístico do Radiohead está em seu auge. Mesmo que não tenhamos singularidades como “Karma Police”, temos uma obra de arte formada a partir de um conjunto. Gustavo Corrêa
Depois do fracassado álbum Como Ama una Mujer, cantado todo em espanhol, Jennifer Lopez preferiu não arriscar mais. No seu quinto álbum em inglês, Brave, a hispânica retoma o estilo que sempre a consagrou como cantora. Com uma mistura de hip-hop, funk e R&B, o novo CD de J. Lo não muda muito dos primeiros álbuns da cantora. Brave, lançado em outubro, traz músicas fracas, priorizando mais as batidas do que o vocal, fazendo com que o disco não alcance o sucesso esperado e J. Lo tenha que, mais uma vez, apelar para a sua sensualidade. Destaque apenas para as músicas “Be Mine” e “Do It Well”, que já estão tocando nas rádios. Luna Pizzato
As baladas para seriados americanos e filmes hollywoodianos estão de volta. Chris Carraba traz em The Shades Of Poison Trees um seguimento—melhorado—do álbum anterior, Dusk and Summer. Dashboard Confessional soa como Dashboard Confessional, sem novidades, longe das composições geniais que fizeram a banda se tornar um ícone alguns anos atrás. Entre uma e outra música chata aparecem faixas como “Thick As Thieves”, “These Bones” e “Little Bombs”, que mostram a qualidade do melodramático Carraba. Destaque também para a divertida “Fever Dreams”, com uma batida meio eletrônica, e “The Shades Of Poison Trees”, a faixa-título, balada para se ouvir num dia chuvoso com o coração partido. Cristiano Lima noize.com.br
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Não ouça Trees Outside the Academy pensando em microfonias e guitarras uivantes, pois o álbum solo de Thurston Moore, vocalista do Sonic Youth, tem como regra as cordas limpas e sem distorção. A presença de peso é rara (“Wonderful Witches”) e as belas melodias predominam. Moore demonstra a inspiração que se desprende do experimentalismo e adota uma postura mais sintética. Os solos existem (“The Shape is in a Trance”), mas o verdadeiro elixir são as melodias (“Honest James”, “Silver Blue” e “Never Light”). O resultado é um álbum esplendidamente bucólico. Gus Corrêa
Com a produção assinada por Butch Vig (baterista do Garbage e produtor de Nevermind, do Nirvana), o apelo pop e as melodias grudentas do vocalista Jim Adkins ganharam ainda mais presença neste disco. O Jimmy Eat World parece estar cada vez mais longe da pegada de Clarity e Bleed American, primeiros discos da banda, para se encaixar no mainstream sem perder muito a classe. Refrães como os de “Big Casino”,“Let it Happen” e “Always Be”, três primeiras faixas do álbum, vão fazê-lo bater o pezinho sem perceber. Cabe ainda uma pegada meio 80’s em “Here it Goes” e uns acordes mais punk em “Electable“. Pop para quem ainda o tolera. Bruno Felin
Ritmo, Ritual e Responsa é, desde a primeira música, um álbum do Charlie Brown Jr. Impossível ouvir “Pontes Indestrutíveis” sem recordar “Zóio d’ Lula”. Mesmo que Chorão insista em melodias idênticas nas faixas menos inspiradas (o que acaba deixando muitas músicas semelhantes entre si), o álbum tem, pelo menos, 5 músicas com apelo comercial. Mérito para as participações especiais, como as de MV Bill e João Gordo, e também para o passeio por gêneros: hardcore, rap, funk, psy. Forfun participa de uma das melhores do álbum: “O universo a nosso favor”. Ouça também a hilária “O que ela gosta é de barriga”. Gus Corrêa
por Gabriela Lorenzon
É o primeiro disco de Miles Davis como líder de banda, e com certeza um dos mais significativos. Depois de tocar cerca de três anos na banda de Charlie Parker, Davis decide reinventar (ou contrariar) o ritmo jazzístico que esquentava clubs e estúdios na época, o bebop—estilo quase frenético tocado de forma virtuosa e com figuras rítmicas complexas. Em 1948, Davis reúne nove músicos para compor a Miles Davis Band, dentre eles o espantoso saxofonista Gerry Mulligan. Quem também se destaca é o arranjador Gil Evans, que trabalha peças com timbres e influências das mais diversas, dando espaço a toda a expressividade do trompetista. Já em 1949 o grupo assina contrato com a Capitol Records para gravar 12 temas em 79 rpm, que mais tarde virariam o espetacular Birth of the Cool. Já nesse disco Davis mostra sua capacidade de reinventar e criar estilos, pois Birth of the Cool é o precursor do cool jazz, ritmo de solos mais lentos e melodias mais cerebrais.
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Kind Of Blue é um dos mais influentes álbuns da história do jazz. Obra mais importante da carreira de Davis, o disco conta com uma escalação de músicos de primeira categoria, como o então jovem John Coltraine e o saxofonista Cannobal Adderley. Kind of Blue é um dos marcos do modal jazz, estilo que prioriza improvisação e criação de novas escalas. É só ouvir a primeira faixa, “So What”, que logo entendemos a proposta: pianos elegantes, percussão discreta e o trompete de Davis desenhando um ritmo fluido completamente original para a época. Kind of Blue foi por certo tempo mal recebido por alguns músicos, que só conseguiram entender a genialidade de Davis depois de executarem eles mesmos algumas das canções do disco. É esse o álbum que coloca Miles Davis como um dos mais inovadores e conturbados jazzistas de todos os tempos.
No final dos anos 60, Miles Davis engatinhava para outra mudança expressiva de estilo. A novidade já mostrava a cara em discos como Files de Kilimanjaro (1968) e In a Silent Way (1969), mas é no álbum duplo Bitches Brew que ela explode e traz à tona o jazz rock, mais tarde batizado como jazz fusion. O disco tem um caráter experimental muito forte, flerta com experiências elétricas e mistura o jazz com levadas de rock e funk. Alguns críticos consideram Bitches Brew um dos discos mais revolucionários da carreira do jazzista, fazendo dele passagem obrigatória para quem pretende conhecer um pouco mais de Miles Davis.
2.00.7 é o registro de três shows realizados pelo Replicantes entre março e maio de 2007. O DVD não oferece extras e é basicamente uma seleção de 17 músicas de três apresentações: no Hangar 110, em São Paulo, e no Opinião e no Garagem Hermética, em Porto Alegre. A gravação é crua e faz jus à assinatura da Tosco Produções. Entre as músicas há registros de momentos aleatórios da banda, desde a espera no aeroporto até a descontração no boteco. O mérito de 2.00.7 é oferecer ao fã a possibilidade de ter um registro da nem tão nova assim formação dos Replicantes (com Julia Barth no vocal) em ação. A tosqueira, no caso de um dos ícones do punk nacional, é plenamente aceitável. Gustavo Corrêa
Não é um velho amigo meu, mas fez muito pela música que eu amo. Baden Powell é mais um elemento fundamental na MPB. Um poço de influências, capaz de se relacionar com o erudito e com o popularesco através de sua mistura única de técnica e feeling. Seu universo musical é mesmo amplo, e aqui temos uma passada super rápida pela longa vida do compositor. Percorre os passos do garoto que estudou a fundo o violão clássico, para mais tarde unir-se a nomes como Billy Blanco e Vinícius de Moraes, misturas que deram tanto no samba quanto no jazz. Trata-se de um documento bastante pessoal. Canto de Ossanha, um dos belos Afro-Sambas compostos em parceria com o poeta Vinícius, é cantado por Baden para crianças do século XXI, mas falta material histórico - talvez nem seja a proposta. É a ligação com as raízes cariocas que é valorizada no DVD, como se inconscientemente os diretores agradecessem por Baden Powell ser nosso, e não dos americanos ou dos franceses, que tanto o cultuaram. Na verdade, é um velho amigo meu, teu e de todos que gostam de música brasileira. Nando Corrêa
O primeiro registro ao vivo de Pitty, gravado em julho deste ano em São Paulo, mostra as principais virtudes de sua música, que acabaram levando a cantora ao status de revelação do rock nacional de alguns anos trás. Num ambiente lotado de fãs inquestionáveis (na grande maioria adolescentes), são eles que fazem a diferença nesse registro, contagiando a atmosfera rock do show. “Nenhum tipo de maquiagem, camuflagem ou esconderijo foi usado na pós-produção deste DVD. O que se ouve e o que se vê é real. Nada foi concertado. Um {des}concerto por si só”. O aviso no encarte define o que são as 18 faixas do disco. Junto dos músicos Joe, Duda e Martin, a cantora apresenta suas principais canções como “Anacrônico”, “Admirável Chip Novo” e “Semana que vem” (na seqüência que abre o show), além das inéditas “Malditos Cromossomos” e “Pulso”—todas (incluindo as inéditas) cantadas na ponta da língua pela platéia. Logo de cara, dá pra sentir o ritmo frenético do DVD. A própria Pitty revela que “está cantando como se fosse a última vez”. Para tanto, a edição das imagens é fundamental e dá o tom certo a cada música. Se por um lado a cantora “garante” que o que está ali não foi retocado, a atenção dada às imagens é minuciosa. Numa fração de segundos as câmeras já percorreram o palco, o público, deram close nos instrumentos e voltaram aos músicos novamente. O mesmo tratamento é dado à iluminação, ressaltando o clima melancólico e sombrio de algumas músicas e a quebradeira de outras. O DVD {Des}concerto mostra por que Pitty já está em seu terceiro disco e o sucesso junto ao seu público fiel permanece. Sua atitude em cima do palco já reflete algumas centenas de apresentações nesses anos de estrada. Pitty é performática sem ser a caricatura da “rocking girl”. Ela dança, às vezes até com uma certa sensualidade, toca guitarra, se atira nos braços do público e, principalmente, berra bastante. Nos extras, fotos da cantora e um breve making of: “Exposé”. {Des}concerto é um DVD bem produzido, de um show empolgante, capaz até de entusiasmar aqueles que não são fãs da cantora—desde, claro, que estes ainda sofram das angústias pré-adolescentes. Frederico Vittola
A doyoulike? preparou um EP com seis músicas, materializando um trabalho muito bacana que vem fazendo na cena emocore gaúcha. A inspiração é o rock distorcido e emotivo de bandas como Jimmy Eat World e Noção de Nada. A produção é impecável e fica evidente o talento para compor canções melódicas insinuantes, daquelas que levarão o público a repetir incessantemente os refrãos. Os pontos altos são “Primeiro dia” e, especialmente, “Sem letra, sem refrão”, que pode tranqüilamente fazer companhia para Fresno e outras bandas do gênero na MTV e nas FMs.
A Proveitosa Prática traz no álbum auto-intitulado uma gostosa aula de funk em sua melhor forma. A escola que eles seguem é a de Parliament & Funkadelic, sutilmente abastecida com doses de samba-rock e rock’n’roll. Em “Mato Maravilha”, ficam claras as intenções do grupo: “Deixe o funk te levar”. E é exatamente isso que o álbum consegue com louvor: fazer as pessoas dançarem do início ao fim. “Silêncio” vai timidamente preenchendo os espaços para apenas no final se explicar: “Prefiro o silêncio às palavras, pois o silêncio contém e está grávido do som”. A Proveitosa Prática vai “Assim mesmo”, e vai bem.
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Por ocasião dos 40 anos da morte do líder revolucionário Che Guevara, completos em 9 de outubro passado, a trilha sonora deste mês rememora os feitos de Ernesto Guevara de La Serna em sua trajetória pela América Latina. Dirigido com preciosidade de detalhes pelo brasileiro Walter Salles, Diários de Motocicleta prima pela simplicidade e pelo tom intimista e despretensioso da trama, que resulta na belíssima adaptação dos registros de Che Guevara ao lado de seu amigo e co-piloto Alberto Granado. Escolhido para compor a música que acompanha a metamorfose do mito, o produtor argentino Gustavo Santaolalla esbanjou da musicalidade latina e criou o clima perfeito para o filme. Santaolalla serviu-se da originalidade de sonoridades primitivas, abusando de instrumentos como o charango (pequeno instrumento de cordas da família do alaúde, feito da carcaça de tatu), o ronroco (parente próximo do charango, porém um pouco maior), e o cajón (instrumento percussivo inventado pelos escravos no Peru colonial). A tônica universal fica completa com o uso dos violões e da guitarra de Santaolalla, dividindo a cena com flautas e violinos. Além disso, há espaço para o mambo, o brega saloon e a delicadeza na derradeira e melodiosa “Al Otro Lado Del Río”, canção que consagrou e deu o Oscar ao uruguaio Jorge Drexler. Marcela Gonçalves
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Para o bem ou para o mal, o vazamento de Tropa de Elite em cópias piratas colocou o filme em destaque na imprensa brasileira de forma que nem mesmo os maiores blockbusters americanos deste ano conseguiram. A superexposição faz com que exista uma ânsia, em certos meios culturais, em rotular o filme como fascista—como se isso pudesse evitar que o público tenha simpatia pelas práticas brutais mostradas na tela. O filme não esconde os elementos fascistas do BOPE, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (em que pese o peso simbólico da marca da caveira, em certo momento, sobreposta à bandeira nacional), mas a parte assustadora é que o público, saturado pela violência e insegurança do dia-a-dia, parece apoiar os métodos mesmo assim. Em última instância, a grande denúncia do filme é a morte da argumentação pelo peso dos fatos. Quanto ao filme como filme, o que se acompanha é a busca do capitão Nascimento (Wagner Moura, praticamente elevado ao posto de Herói do Brasil) por um substituto à sua altura. Com o filho prestes a nascer, percebe que já passou da hora de largar a vida intensa como capitão de uma unidade do BOPE. A possibilidade surge através de dois aspirantes da PM, Neto e Matias. Neto, interpretado com intensida-
de por Caio Junqueira, é impulsivo e gosta de ação. Matias, interpretado pelo estreante André Ramiro, é o racional idealista. O filme se divide em duas partes: a primeira, retratando a vida dos dois como ilhas de correção dentro da corrupta polícia carioca, enquanto a vida pessoal do capitão Nascimento desmorona; a segunda, mostrando o treinamento para se tornarem “caveiras” e o combate ao traficante Baiano. No meio de tudo, muito tapa na cara, torturas dignas de Jack Bauer, tiroteios feitos com qualidade ímpar, e a sensação de que nossa sociedade já afundou—só não admitimos por hipocrisia. Samir Machado
Primeiro longa-metragem da auto-intitulada “maior banda de rock do mundo”, que aqui no Brasil chega direto em vídeo, traz Jack Black e Kyle Gass interpretando… Jack Black e Kyle Gass, dois fãs de rock que se conhecem em Venice Beach e formam o duo Tenacious D. Juntos, os dois decidem roubar a Palheta do Destino do título original, para se tornarem, de fato, a maior banda do mundo. Recheado de participações especiais (Ben Stiller, Tim Robbins, Ronnie James Dio e Dave Grohl, do Foo Fighters, interpretando ninguém menos do que Satã, com quem a dupla faz um duelo final de rock), o filme soma uns bons vinte minutos de diversão, garantidos pelas músicas da dupla. Deve agradar aos fãs, mas o resto do filme é feito de piadas e gags com pouco timing (por vezes se delongando demais), e que parecem mais uma versão menos elaborada (e menos divertida) dos filmes de Bill & Ted. Samir Machado
O Seeqpod tem um formato muito parecido com o de outros sites para se ouvir música, mas se diferencia por unir diversas facilidades oferecidas separadamente pelos demais. Nele, você tem à disposição uma ferramenta de busca que vasculha a internet atrás do som que você deseja escutar. Mas não pára por aí, pois você pode também submeter o nome de uma banda e o site indicará outras semelhantes. Então, além de um acervo com inúmeros grupos, há também a possibilidade de conhecer outros sem perda de tempo. O Seeqpod tem outros diferenciais, dos quais um deve ser salientado: não é preciso abrir uma janela diferente para cada música que for ouvir, pois ele lhe dá a possibilidade de ir construindo um playlist da mesma forma que no Winamp. A única dificuldade ocorre em relação aos links quebrados que o player eventualmente localiza. Mesmo assim, é uma ótima alternativa de site musical.
Os canadenses do The Arcade Fire estão longe de ser convencionais. Se isso já havia sido comprovado na música, nas idéias e na própria imagem dos músicos, o site não poderia desobedecer essa característica de inovação e originalidade. Para começar, há três alternativas logo que você acessa o link: um website oficial, um criado pelos fãs e outro destinado a Neon Bible, mais recente álbum da banda. O site oficial é todo desenhado com imagens de objetos que remetem ao passado, como um gramofone. Alguns desses desenhos são ferramentas do website. A pomba, por exemplo, aciona o player de canções do AF. Todos os integrantes possuem o próprio espaço, e você pode navegar por cada um deles utilizando duas mãos. Através delas também se chega às belas artes das capas e encartes dos álbuns da banda. Tudo isso com animações muito divertidas. Um belo site para uma ótima banda.
Gabe Logan terá que novamente salvar o mundo? Sim! O já costumeiro herói da série para PS2 terá que enfrentar uma organização criminosa e eliminar centenas de inimigos para alcançar seu objetivo. Como? Rifle com dardos, AK-47, granadas e MUITAS outras armas. Syphon Filter: Dark Mirror vem para levantar a fama da série que, ultimamente, estava por baixo devido à péssima repercussão de suas últimas versões. A idéia, dessa vez, não foi inovar mas sim aperfeiçoar a cinética já apresentada há tantos anos para a plataforma PS. O game, também lançado para PSP (PlayStation Portable), teve sua “miniversão” aclamada por todos os sites especializados no assunto. Mais aclamada, até mesmo, do que a própria versão para PS2, onde o jogo já é considerado um clássico. Eduardo Dias
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Fernando de Oliveira Polanczyk Caeser Cezar de César
Outubro foi metal Fazenda Up Date, dias 1 e 16 de outubro
Mathisas Puentedura
O décimo mês do ano trouxe grandes expectativas para o povo headbanger da capital gaúcha. Dois grandes nomes do metal mundial fizeram apresentações no Bar Opinião. Os primeiros a colocar os pés por aqui foram os alemães do Ham���� merfall, grupo que corre na vertente do
Israel Vibration
Bar Opinião, 18 de outubro
Wiss e Skelly estiveram mais uma vez em Porto Alegre trazendo o reggae do Israel Vibration. Originários de Kingston, na Jamaica, os dois se conheceram em um centro de reabilitação para vítimas de pólio e formaram uma das mais expressivas bandas de reggae nos anos 70. Os 22°C da quinta-feira tornaram a noite ainda mais 42
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power / melódico, com suas letras falando de bravos guerreiros medievais e contos fantasiosos. Não se apresentavam em Porto Alegre fazia seis anos. Dia 1º de outubro foi a data marcada para este reencontro, onde os chamados ‘Templários de Aço’ faziam a turnê de divulgação de seu mais recente álbum,Threshold. Com um som reto e sem firulas, os alemães subiram ao palco com vontade, liderados pelo seu excelente e carismático vocalista, Joacim Cans. Com o som embolado no início da apresentação (mas logo corrigido), foi possível notar claramente a inferioridade técnica do novo baixista em relação a seu antecessor, Magnus Rosén. Com um repertório que variava antigas e novas canções, a banda fez um show coerente mas, mesmo assim, uma apresentação inferior à de 2001 nos quesitos repertório, presença de palco e energia passada ao público. Destaque ao já tradicional coro dos camisas pretas gaúchos cantando o hino rio-grandense quase ao fim da apresentação. Destaque negativo para a falta de um dos grandes sucessos do grupo no repertório do show: “Legacy of Kings”. O dia 16 de outubro proporcionou outro reencontro: desta vez, foram os aficionados pelo metal extremo que puderam
rever uma das maiores bandas do gênero, os norte-americanos do Cannibal Corpse. Já fazia três anos desde sua primeira apresentação por aqui, e o show não era necessariamente da turnê de algum álbum específico, já que seu último lançamento data de 2005 (álbum Kill). Talvez exatamente por isso o show começou direto com sons antigos e já conhecidos pelos fãs. A grande técnica da banda se mostrou na alta qualidade sonora que se ouvia no Bar Opinião, mas talvez o vocal tenha ficado um pouco prejudicado. O grupo, como é característico das bandas de death metal, bateu bastante cabeça no palco, mas mesmo assim não convenceu: pouca interação dos músicos com o público, muitas paradas entre as músicas e, para piorar, um show curto, de exatos 80 minutos—que não se converteram todos em música propriamente dita. O ponto alto do show foi o bis com o hit da banda, “Stripped, Raped and Strangled”; este realmente fez com que todos presentes urrassem de satisfação quando o vocalista George “Corpsegrinder” Fisher o anunciou. Outubro de 2007 ficará durante um bom tempo na memória do headbangers gaúchos. Ricardo Finocchiaro
convidativa, e o público praticamente lotou o Opinião. A abertura ficou por conta dos argentinos da Nonpalidece, que acabou sendo a melhor surpresa da noite. Essa big reggae band portenha subiu ao palco com dez músicos e fez um reggae de extrema elegância, com um requinte sonoro que só mesmo com uma dezena de instrumentistas para reproduzir. A participação especial ficou por conta dos gaúchos da Pure Feeling, que deram uma palhinha. Formada nos arredores de Buenos Aires e com dez anos de estrada, a Nonpalidece está acompanhando a turnê de lançamento do DVD Stamina, da Israel Vibration. O DVD foi gravado em dezembro do ano passado aqui mesmo em Porto Alegre, também no Opinião. Detalhe: a turnê é de lançamento do DVD, mas nem sinal dele para vender na noite do show. Passada a apresentação da banda de abertura (e com o último CD
deles na mão), chegou a vez da dupla jamaicana se apresentar. Depois de todo peso da Nonpalidece demorou um pouco até acostumar os ouvidos no reggae mais light do Isra. Mas ali estavam duas lendas vivas, balançando pra lá e pra cá apoiados em suas muletas, fazendo suas dancinhas e falando um inglês no qual a única coisa possível de se entender era “Porto Alegrêêê”. A dupla mesclou músicas do novo álbum, que tem como responsável pela sua produção o famoso tecladista dos Wailers, Tyronne Downie, e clássicos como “We a de rasta”, “Cool and calm” e “The same song”. A base da apresentação foi a mesma do show registrado no DVD. Uma bela noite, na batida da nova e da velha guarda do reggae.Frederico Vittola
Manara, 14 de setembro
Noite de muito punk rock no Manara. De uma só vez, o público que compareceu em bom número teria a oportunidade de conferir duas das mais expressivas bandas do gênero no Brasil: Replicantes e Dead Fish. A primeira, com seu punk old school, e a segunda, com um hardcore que alterna e combina melodia e peso. Para mim, a primeira oportunidade de assistir aos gaúchos com Julia Barth como vocalista. Os pernambucanos, por sua vez, são reconhecidos por promoverem shows memoráveis. A abertura coube à Ideal Stereo, que tocou para um público ainda pequeno. Aos poucos, foi aumentando e tendo a oportunidade de conferir uma apresentação cheia de energia da banda de Porto Alegre, influenciada por Queens of The Stone Age e Foo Fighters. Faltando 15 minutos para as 21h, Heron, Cláudio, Cléber e Julia sobem ao palco para dar início a mais um show na longa carreira dos Replicantes. A energia, no entanto, é a mesma de antes, porque o punk definitivamente não morreu no coração desses veteranos do rock. Julia (que ainda não entrou na turma dos colegas), muito
Pablo Ordenes
Tatu
Dead Fish
à vontade, consegue berrar e levantar o público tal como seus antecessores. E com um repertório de clássicos como o que eles têm, fica fácil de agradar ao povo, embora a maioria estivesse ali para ver Dead Fish. A primeira parte do show é composta por músicas como “Sandina”, “Hippie, Punk & Rajneesh”, “Pra ver se eu conseguia” e “Boy do Subterrâneo”. A parte final é animada, abrindo a roda punk em músicas como “Surfista Calhorda”, “África do Sul” e “Festa Punk”, que deixa o público em chamas. Belo show. Por volta das 22h15min, Dead Fish é recebido com o coro de “Hey, Dead Fish, vai tomar no c*!”—tradicional demonstração de carinho às avessas destinada à banda. Logo na partida, a pedrada “Sonho Médio” incendeia o público do burburinho. A gurizada está doida, e Rodrigo, vocalista do DF, chuta e soca para impedir que invadam o palco e atrapalhem o show. A seqüência inicial é devastadora, com algumas das melhores e mais conhecidas músicas do grupo: “Bemvindo ao clube”, “No chão” e “Afasia”, responsável por mais um momento insano em frente ao palco. O entusiasmo é mantido alternando antigas e novas, passando por ”Proprietários do 3º Mundo”, “Zero e um”, “Old boy” e “Siga”, entre outras. Encerram a primeira parte do show com “Você” e “Canção para amigos”. Como de costume, a banda atende a pedidos quando finaliza o set list. Presenteiam o público com mais quatro músicas: “Molotov”, “Mulheres negras” (durante a qual quase fechou o pau entre Rodrigo e um cara que tentou invadir o palco), “Fragmentos de um conflito iminente” e “Iceberg”, coroando mais uma apresentação impressionante. Quem foi com certeza não se arrependeu. O cansaço e as expressões de satisfação comprovavam isso na saída do Manara, quando já passava da meia-noite. Gustavo Corrêa
Incubus
Luna Park (Buenos Aires), 11 de outubro
Uma coisa ja haviam me dito: Argentino é tudo louco. Ainda mais quando o assunto é rock, ou futebol, é claro. Mas eu não imaginava que fosse tanto assim... Cheguei ao Luna Park ás 20h. Cambistas metendo a faca no pessoal na fila, ingressos esgotados, muita gente circulando em volta dos portões. Aquela velha coisa de sempre. Na entrada, o local me impressionou. Uma espécie de quadra de futebol de salão transformada em um grande palco e pista, e arquibancadas confortáveis com excelente visão de palco e som impecável. Não sei se era a semelhança com um estådio de futebol, mas momentos antes de começar o show, eu me sentia em uma grande torcida organizada. Empurrões e ondas de pessoas piradas para lá e para cá, gritos de torcida exaltando o nome Incubus, ao invés dos nomes dos times locais (um belo exemplo para nós gaúchos, não?). E, foi só ouvir as primeiras notas de “Nice to Know You”, abre-alas do espetáculo, que eu entrei no mesmo clima. A banda fez uma execução perfeita, sem uma nota fora do penico, levando os presentes a outro estado físico. Logo em seguida veio “Wish You Were Here”, grande clássico do Incubus, que, por ironia ou não, muito bem podia ter sido chamada de “Wish You Were There” (assista ao vídeo no site noize.com.br). Depois disso, foi pedrada atrás de pedrada, com destaque para a pauleira “das antiga” “Vitamin”, “Sick, Sad, Little World” e a dobradinha “Dig” e “Warning”, duas belíssimas canções que exaltam a fase atual da banda. Pra finalizar, “A Kiss To Send Us Off”, do último disco dos caras. Um laço tremendo. Rafael Rocha
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“Baixo público em grandes shows de metal?” Saudações, amigos headbangers! Outubro passou e nos trouxe duas pérolas do metal mundial, Hammerfall e Cannibal Corpse. Supostamente, dois shows para encher a casa, certo? Errado! Em ambos os eventos o público foi abaixo do esperado, o que nos deixou todos intrigados. O que seria isso? Má divulgação? Bandas decaindo? Ingressos caros? Quanto ao valor do ingresso, acho que não se pode reclamar, afinal, pagar quarenta reais por um evento internacional onde no centro do país estão pagando o dobro não é de todo mau. Chamar estas bandas de decadentes também acho errado, afinal, seguem fazendo shows em todo o mundo. Talvez a resposta
esteja na divulgação; vamos abrir os olhos, senhores produtores, os camisas pretas não vivem apenas no Arco da Redenção ou na Cidade Baixa! Somos uma das cidades com mais adeptos ao metal no país, temos representantes nas escolas, faculdades, bares e muitos outros lugares. Façam os shows chegarem até nós! Por falar em shows, a novidade neste mês de novembro fica por nada mais, nada menos que PAUL DIANNO—isso mesmo, leitores desta coluna, o primeiro vocalista da maior banda de metal do mundo, IRON MAIDEN, está de volta à província no domingo, dia 18 de novembro no Manara Bar. Fiquem ligados! Horns Up!!!
Empress Até que enfim!!! Dia 12 de dezembro Porto Alegre vai receber a empress do roots reggae. Uma voz lindíssima e letras maravilhosas de uma mulher que luta pela igualdade entre as pessoas através da música. Dezarie, cantora do reggae VI (Virgin Islands), começou na música ainda pequena, cantando na igreja e na escola. É levada a escrever suas letras por seu Deus rastafári e pela missão de ajudar as pessoas. Ela lançou dois CDs: Fya, em 2001, e Gracious Mama Africa, em 2003. A musa de St. Croix tem no instrumental dos dois a maior banda da ilha. Ron Benjamin, baixista do Midnite, produziu Gracious, que traz a influência e o “peso” do reggae moderno.
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Lembra? Quem nunca ouviu aquele comentário saudoso sobre os bailes dos anos 70, “No meu tempo não era tudo tão violento”? Além disso, as meninas faziam vestidos novos, arrumavam o cabelo com bóbis e laquê. Hoje, além da segurança, a produção é bem diferente. Acho que toda essa elaboração só continua existindo para as “pattys” e debutantes “catalogadas” do Juvenil. As lembranças dessa época, no rap, se voltam aqui na cidade para os bailes no Sindicato dos Metalúrgicos (o “Metal”). Mas o que dá mais saudade são os lugares para curtir o swing que só a música negra tem! Era o momento da comunidade negra se reunir em um dos poucos locais onde o
olhar de “o que essa negrada faz aqui” não existia. E temos agora o privilégio de nos sentir como se estivéssemos naqueles bailes, pelas mãos do DJ que melhor representa a black music no estado: Gê Power! Está reaberto, na cidade baixa, o Gê Power’s Black Music Bar! Não tenho espaço para contar a história dele, mas vai por mim: ele merece todo nosso respeito! Tu não é negro? Tudo bem, talvez só tenha que se esforçar mais na pista, mas vai lá, com certeza vai se sentir em casa, o Gê recebe todos de braços abertos. E convenhamos: no Brasil, somos todos negros afinal! O Gê Power’s fica na José do Patrocínio, 873, bairro Cidade Baixa. Informações: (51) 32867293
Simples assim Hoje, ela e a banda Ikahba tocam com a banda Afrikan Roots Labs, produtora de Ron (que tem ainda Edmund na guitarra e Sly na bateria), compondo a atual formação do Midnite. Um dos trabalhos mais conhecidos de Dezarie é no CD Talkin Roots Volume1, onde artistas conhecidos de St. Croix cantam com a banda Bamboo Station. Ela canta a música “Woe!”. O reggae das Ilhas Virgens é uma das correntes do roots reggae, porém Dezarie consegue unificar a palavra, o som e o poder da música como um todo, independente de estilo. Este show não será apenas mais um; será único. Mais informações em www.dezarie.com/tour.html
O encontro de Ná Ozzetti e José Miguel Wisnik com a Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro no mês passado foi uma coisa ao mesmo tempo sofisticada e simples. Os arranjos de Vagner Cunha estavam longe de ser banais, mas eram delicados. Da mesma forma, a interpretação de Ná era extremamente sólida e autoral, ainda que contida, sutil. O alicerce do espetáculo, as composições de Wisnik (maior parte do repertório), seguia o mesmo caminho. Ferrenho opositor das críticas do pesquisador José Ramos Tinhorão à bossa nova, Zé Miguel é um herdeiro da linha jobiniana. Suas músicas emanam o gesto de decantação bossa-novista de
que o estudioso Luiz Tatit fala no livro O século da canção. Assim como a obra de Jobim, as canções de Wisnik são resultado de formação musical erudita e domínio lírico da língua portuguesa trabalhados com simplicidade, sutileza, delicadeza e inteligência. “É sobre-humano amar sentir doer // gozar // ser feliz”, declara Zé Miguel Wisnik em “Mais Simples”. Depois completa: “a vida leva e traz // a vida faz e refaz // será que quer achar // sua expressão mais simples”. O show dele com Ná Ozzetti em Porto Alegre foi justamente sobre-humano e simples. Na ausência de exageros, maneirismos e virtuosismos, encontrou a sofisticação.
Oliver Sykies Bring Me The Horizon (ou BMTH) é uma banda de deathcore de Sheffield, Reino Unido. Foi formada em 2004 por Oliver Sykies junto com seus amigos de infância. Oli, o assunto da hora no hardcore britânico, está esticando o movimento para outro lado: o da morte. A Inglaterra pesada só fala nesse moleque de carinha de anjo, corpo todo tatuado e que não tem um show em que não vomite no palco, de tão bêbado (e nojento). Nos shows, Oli odeia os fãs que aparecem com lagriminhas pintadas na bochecha. Na cara-dura, manda todos os emos embora para ouvir My Chemical Romance em casa. O cara não é fácil, mas tem que se admitir: o número de fãs cresceu muito com a adoção de sua banda pelos emos mais radicais. “Fico feliz de ver que as pessoas estão começando a gostar da minha banda e não só do meu cabelo”, diz. E ele não sossega. Paralelo ao Bring Me The Horizon, o rapaz de 19 anos tem uma marca de roupas chamada Drop Dead Clothing e uma banda de… rap. Além disso, liderou um projeto de música eletrônica. A banda já fez turnês headliner com Lost Prophets, Killswitch Engage e Funeral For a Friend. Em 2005, fizeram a sua primeira headline junto da banda australiana I Killed The Prom Queen. Os caras ganharam em 2006 o prêmio de Best British Newcomer pela revista Kerrang, e são considerados um fenômeno teen na Inglaterra, ainda mais se tratando de um som tão pesado.
Caminhando contra o vento Adoro todas as críticas que recebo falando da minha coluna. Sinal de que está tocando os leitores. Uma dos últimas que eu recebi falava (num certo tom de indignação) a respeito do meu “bicha” citado para dizer que, no início da e-music aqui em POA, havia uma grande discriminação com este estilo musical e era algo capaz de definir a sua opção sexual. Tanto que o termo “tecnogay” quase entrou para o Aurélio. Não sou preconceituoso e nunca fui, mas a nossa cena está preconceituosa—ou, no mínimo, separatista. Sim. Você é gay? Só vai ao Ocidente e afins. Você se acha baladeiro “afu”? Só vai ao Kimik. Você acha que faz parte de um certo grupo socialite? Então vai ao Madras. E assim por diante. Ridiculamente. Estes locais não delimitam ou escolhem esse ou aquele para ser cliente. É o público que está preconceituoso com ele mesmo. Dane-se se tem DJs e música boa. Ficam os comentários que eu escuto por aí: 1 – Eu não vou ao Ocidente na sexta porque só tem gay. 2 – Eu não vou ao Kimik na sexta porque só tem gente estranha e louca. 3 – Eu não vou ao Madras na quinta porque só tem mauricinho e patricinha. Tudo isso mostra que a nossa cultura eletrônica (refiro-me ao estilo musical) está na berlinda. Estamos retrocedendo com este pensamento. Pedro Mello, que sempre montou casas noturnas que se tornaram ícones, reconhecidas no Brasil inteiro, sempre me repete a fórmula do sucesso, quando estamos conversando a respeito da noite. Aqui está ela: “Você tem um bom DJ, junta lindas mulheres, homens de ‘plin’, baladeiros que sabem ou fingem que sabem o que o DJ tá tocando, o pessoal da moda, gays e garante a champanhe para a imprensa e você tem a melhor festa do mundo e com a única intenção que é: a diversão.” * Plim: quando o sujeito tem grana.
Ladrões de galinhas... ... e de guitarras. Fiquei de cara com essa história de roubarem a guitarra do Gross, da Cachorro Grande. Pelo amor de Deus— se é que existe amor em um elemento que espera o momento certo para roubar uma guitarra do palco de um festival—, acabou a noção, o respeito e a organização. Mas não entraremos nesse mérito. Uma semana depois, o mesmo elemento (ou alguém que gostou da idéia) roubou não uma, mas duas guitarras do camarim de uma casa de shows em Porto Alegre. De uma pessoa que, como o Marcelo Gross, também vive de seu instrumento de trabalho. O Coelho, como é chamado, é um dos guitarristas que menos merecia essa chinelagem de ladrão de galinha. Pior ainda é que o cara deve entender do assunto, porque não anda roubando pouca coisa. Só quer guitarra boa: Fender, Rickenbacker. Só quer equipamento vintage. Quem sabe esse magrão não acaba compondo algumas músicas, agora que tem a oportunidade de ter um instrumento tão caro no Brasil. Espero que, quando essas guitarras aparecerem, alguém denuncie. Fim da seção “Lasier Martins”. Obrigado aos milhares de fãs que adotaram a coluna punk da NOIZE como o seu canal predileto para exaltar ansiedades e reflexões. Continuem enviando emails para mibandarocks@gmail.com que, na medida do possível, vou atendendo aos pedidos de temas para a coluna. Os textos que vocês enviam também são muito bem-vindos, afinal o que seria desta coluna sem vocês? E mais: o que seria desta coluna sem as pessoas que têm vontade de rasgar a revista por causa dela? Faça um myspace ou algo que tenha um player e um endereço nítido. Lá fora: Jimmy Eat World - “Chase the Light” Essas bandas querem que você ouça a música deles: myspace.com/shmox myspace.com/fullplatehc Aos verdadeiros, um abraço.
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Music Box
Wander Wildner
Fresno e doyoulike?
The Australian Pink Floyd
XXXperience
Estúdio Coca-Cola
Dead Fish e Replicantes
Cannibal Corpse
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