Revista NOIZE #34 - Junho de 2010

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• COLABORADORES |NOIZE #34

DO UNDERGROUND AO MAINSTREAM

• EXPEDIENTE #34 // ANO 4 // JUNHO ‘10_ DIREÇÃO: 
 Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha

Ana Laura Malmaceda ana@noize.com.br Gustavo Foster foster@noize.com.br Maria Joana Avellar joana@noize.com.br

COMERCIAL:


 Pablo Rocha pablo@noize.com.br

REVISÃO: João Fedele de Azeredo jp@noize.com.br 
 Fernanda Grabauska fernanda@noize.com.br

EDIÇÃO:
 Fernando Corrêa nando@noize.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha rafarocha@noize.com.br DESIGN: Douglas Gomes doug@noize.com.br ASSIST. DE CRIAÇÃO: Cristiano Teixeira cris@noize.com.br

 REDAÇÃO: Bruno Felin bruno@noize.com.br

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Julie Teixeira julie@noize.com.br DISTRIBUIÇÃO: Marcos Schneider marcos@noize.com.br PROJETOS: Leandro Pinheiro leandro@noize.com.br SCREAM & YELL: Marcelo Costa www.screamyell.com.br

MOVE THAT JUKEBOX: Alex Correa Neto Rodrigues www.movethatjukebox.com RRAURL: Gaía Passarelli www.rraurl.com FORA DO EIXO: Ney Hugo Camila Cortielha Marco Nalesso Michele Parron www.foradoeixo.org ANUNCIE NA NOIZE: comercial@noize.com.br

 ASSINE A NOIZE: assinatura@noize.com.br

PONTOS: Faculdades Colégios Cursinhos Estúdios
 Lojas de Instrumentos Lojas de CDs Lojas de Roupas Lojas Alternativas Agências de Viagens
 Escolas de Música Escolas de Idiomas
 Bares e Casas de Show
 Shows, Festas e Feiras

 Festivais Independentes TIRAGEM: 30.000 exemplares CIRCULAÇÃO NACIONAL

AGENDA: shows, festas e eventos agenda@noize.com.br

 ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados

• EDITORIAL | Muitas Variáveis. Aqui dentro, todo mundo sobrevive como pode. Festivais de música geram discussão, satisfação, reclamação, crescimento, estreitamento. Lá fora, uns vão tentar a vida, e poucos se dão bem. Alguma banda, que não o Cansei de Ser Sexy, conseguiu embolsar alguma fama e alguma grana em terra estrangeira nos últimos 5 anos? Nascer lá fora é outra história: você é só mais um músico local e dispõe dos mesmos recursos que toda a concorrência—mas, ainda assim, (sobre)vive com abundância de shows e, consequentemente, ganha o dinheirinho suficiente para pagar as contas do fim do mês. Enquanto isso, aqui dentro, você segue tendo muitas opções: entra pro circuito e se adapta como pode (e corre o risco de não dar certo, como em qualquer negócio); tenta ignorar o circuito e viver à margem—difícil!; ou, como bom brasileiro, veste a camiseta do bom humor e se lambuza na porcaria toda. A NOIZE #34 tem exemplos para essa lista inteira. Os dois meses que passaram foram de agito no cenário independente, com muitas divergências acerca das qualidades e problemas dos festivais independentes tupiniquins. Fizemos uma matéria diferente pra que qualquer um possa saber um pouco mais sobre questão e alguns pontos de vista envolvidos. Quem não viu nada disso foi Luísa Lovefoxxx, que morou anos com o CSS em Londres e dá a primeira grande entrevista desde que voltou. Kris Gruen, filho do lendário fotógrafo de rock Bob Gruen, passou de relance pelo Brasil e também bateu papo com a gente. Mas quem mais se diverte nessa história é o Fatnotronic, que lambuzou nossas páginas de catchup e mostarda. Lambuzemo-nos todos.

• ARTE DE CAPA_ PIGMALEÃO ESTÚDIO Dê uma conferida no trabalho dos caras, que tem forte influência da lowbrow art e do surrealismo pop. pigmaleaoestudio.com.br

• BÉÉÉÉ_ Esta revista está (quase) livre de erros há 30 dias. Dicas, sugestões e reclamações: noize@noize.com.br

1. Pigmaleão Studio_ Pigmaleão é um estúdio de arte que só faz o que gosta. www.pigmaleaoestudio.com.br 2. Gaía Passarelli_ Jornalista, confunde-se com a própria história do rraurl.com, maior portal sobre cultura eletrônica do Brasil. 3. Fernando Torelly_ flickr.com/photos/don_torelly/ 4.Victor Sá_ Formado em comunicação social, trabalha como jornalista, roteirista e fotógrafo em diferentes mídias sociais. flickr.com/victor_sa 5. Fernando Schlaepfer_ Designer por formação, ilustrador por aptidão, D.J. por diversão e fotógrafo por paixão. 6. Marcelo Costa_ Marcelo Costa é editor do screamyell.com. br, trabalha na edição da capa do portal iG e escreve sobre cultura pop como conversa na mesa do bar. 7. Marco Chaparro_ theblackeyeddog.tumblr.com 8. Ariel Martini_ ainda insiste em fazer fotos de show. flickr.com/arielmartini 9. Guga Azevedo_ Jornalista e discotecário na linha de bamba. 10. Marcelo Damaso_ produtor do Festival Se Rasgum, em Belém. Como jornalista freelancer, colabora com diversos veículos e cuida do blog cartasuruguais.com.br. 11. Samir Machado_ designer, escritor e um dos editores da Não Editora. www.naoeditora.com.br 12. Eduardo Guspe_ membro fundador do Núcleo Urbanóide, ultimamente se dedica a produzir DONUTS. facebook.com/eduardo.guspe 13. Diego de Carli_ jornalista a serviço da publicidade. Já segurou a mão da Beth Gibbons e soltou lágrimas no Rio Danúbio. Hoje vive num quartinho de empregada. 14. Henrique Sauer_ tem 29 anos de obsessão por música. Diretor de TV e fotógrafo, é facilmente encontrado pelas esquinas alternativas do RJ ou SP. 15. Livio Vilela_ Mezzo jornalista, mezzo funcionário de gravadora, Livio Vilela comanda o www.bloodypop.com, onde exerce aquilo que faz por inteiro: gostar de música desesperadamente. 16. Pedro Brandt_ Nasceu e mora em Brasília. É jornalista do Correio Braziliense. Produz e apresenta, juntamente com Fernando Rosa, o programa de rádio Senhor F 100, 9 (Cultura FM Brasília). 17. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento.. 18. Neto Rodrigues_ Morador de Minas há incontáveis anos, quase foi um engenheiro. Hoje ronda a publicidade e torce pela volta do Oasis. 19. Alex Correa_ Carioca, mas gosta mesmo é de São Paulo e acredita na genialidade do Kasabian até o fim. 20. Lucca Rossi_ é um recém-formado jornalista que implica com tendências e não entende porque uns são hype e outros, cool. twitter.com/lucca_rossi 21. Lidy Araujo_ Jornalista, baixista frustrada e louca por Ramones e Red Hot Chili Peppers. Seu site é lidyaraujo.com.br 22. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema, edita o freakiumemeio.wordpress.com 23. Ricardo Finocchiaro_ Jornalista, trabalha com produção cultural. Rock and roller de sangue e alma, vive de música 8 days a week. www.abstratti.com.br 24. Felipe Neves_ Fotógrafo. www.flickr.com/felipeneves


Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados

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• THIS IS NOIZE SUPERSTYLLIN’! Se Você Não Gostou da NOIZE Passe Adiante

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_foto: Fernando Schlaepfer | flickr.com/anendfor

life is music


NOME_ Rafael Ramos PROFISSÃO_ Produtor Musical UM DISCO_ The Mars Volta | De-Loused In The Comatorium

“Venho de uma família que trabalha no mercado fonográfico desde antes de eu nascer.Tentei todas as coisas que um jovem rapaz tenta quando se tem oportunidade: futebol, judô, natação... Mas nada foi tão forte quando aos 12/13 anos me apaixonei definitivamente por música. Vivo como um fã de música.Trabalho como um fã de música. Não sou técnico,trabalho usando o meu gosto e o ouvido, não os números do plugin… Todo mundo fala: “poxa, vc é tão sortudo, trabalha com o que ama”.Tem dia que é foda, mas passo por cima disso mole. Sou movido a minha paixão pela música e por todo tipo de arte.”


LEIA ISTO

“Eu não era um revolucionário político. Acho que a presença nas passeatas somadas aos cabelos grandes e às roupas estranhas deixavam as autoridades desorientadas.” Caetano Veloso

Miguel Sokol, produtor de TV

“Lá [na Inglaterra] o taxista descobria que eu era do CSS e falava “Ah, minha filha adora!”. Isso nunca aconteceria aqui. Mas, em compensação, aqui você pode comer um PF em qualquer esquina, porque a comida é incrível.” Luísa Lovefoxxx | CSS, na entrevista que você lê a seguir

“Penso que é justo: a Lady Gaga é a nova Madonna, mas a Madonna é uma babaca.” Joanna Newsom

“Eu, sinceramente, acho uma vitória eu ter uma carreira tocando numa banda que não tenha apelado pra bunda, pra maconha, pra política.” Tavares | Fresno e Esteban

“Nunca pensei que fosse dizer isso, mas deu saudade do emo. Pelo menos a camiseta era preta.”

“Depois de um show, eu jogo Halo, vejo um filme ou leio no Kindle. Eu ligo para as crianças e elas choram e perguntam, “Quando você volta, papai?”. É um trabalho, não é mais uma festa.” Scott Weiland | Stone Temple Pilots

“O Aerosmith é a droga mais forte que já tomei.” Steven Tyler | sóbrio


_SCOTT WEILAND, STEVEN TYLER, M.I.A., Charlie watts, courtney love.

anos mais tarde, John estava morto e eu ainda saía com Sean, eu lembro que seu ‘novo pai’, o cara que saía com a Yoko, não era tão legal…” Kris Gruen | Músico, filho do fotógrafo Bob Gruen, em papo publicado nesta edição.

“O novo video do Justin Bieber é mais ofensivo que qualquer coisa que eu fiz.” M.I.A.

“Ultimamente, nos ensaios, [Sérgio Dias] vinha tentando dar uma de professor. Fica dando ordem, bronca, parece uma escola de música, não um conjunto. Eu cansei de convidá-lo pra vir até a minha casa, mas ele nunca foi. A humildade pra ele é difícil de entender.” Arnaldo Baptista | Ex-Mutantes, sobre o irmão, em entrevista à +Soma.

Charlie Watts | Rolling Stones

pai’, E lembro de pensar ‘que pai legal!’. E aí,

“Todo mundo que eu admirava era ou junkie ou alcoólatra. Não é algo de que se orgulhar, mas é verdade...”

com Sean, eu lembro de John apenas como ‘o

“Não acho que [Velvet Underground e Leonard Cohen] sejam ícones, em nada.”

família, e quando eu era pequeno e brincava

Rick Bonadio | Empresário dos ícones brasileiros

“John Lennon e Yoko Ono eram amigos da

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noize Reprodução

m.i.a. grita A maior marca estabelecida pelo vídeo de “Born Free”—clipe dirigido por Romain Gavras que a cingalesa M.I.A. lançou no início de maio—não foi o banimento imposto pelo YouTube, tampouco a cena na qual, em câmera lenta, um menino de 12 anos tem os miolos destroçados por um tiro de pistola. Foi, sim, a violência com que o vídeo se choca contra o que se estabeleceu como videoclipe de música pop na última década. Esta vive um momento de rompimentos, de fato. Porque antes de M.I.A. lançar o vídeo, que corre por longos 10 minutos, Lady Gaga obteve números astronômicos de visualizações no YouTube com o vídeo de “Telephone”, de igual duração. Nem o kitsch glamourizado de Gaga, nem a violência gratuita que M.I.A. se esforçou em impor, são, no entanto, os símbolos desse momento, mas sim o resgate de uma crítica não-demagoga, gritada por Maya no mesmo momento em que o Arizona aprovou uma lei permitindo aos policiais locais prender qualquer suspeito de imigração ilegal. O vídeo em questão trata de uma minoria de jovens ruivos assassinados pela polícia. A ironia que nasce da contradição do título é, talvez, a chave do poder da artista. “Estou cansada de estrelas que dizem ‘Deem uma chance à paz’. A moral de ir ao Grammy foi falar, ‘Ei, 50.000 pessoas vão morrer no próximo mês, vocês têm aqui a chance de ajudá-las’. E ninguém fez nada”, afirmou em recente—e polêmica—entrevista ao New York Times.


_ouca agora ´

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Wilson Simonal - Jóia, Jóia Phoenix - United Pavement - Slanted and Enchanted The Who - Quadrophenia Elliott Smith - From a Basement on the Hill

Daniel Wabick / C.C.

Montagem

__VIGILANTE | A primeira novidade envolvendo a De-

__PISOU NA BOLA, ROGER WATERS | Pisou na bola

ckdisc é que a gravadora aboliu mão de metade do nome e agora se chama apenas Deck. A segunda é o selo Vigilante, novo pelas bandas que tem assinado e pelo formato no qual lança seu catálogo. Segundo o diretor artístico Rafael Ramos, gente como Volantes e The Name estão lá porque o selo enxerga neles talento não só como músicos—também “como artistas gráficos e produtores, que sabem ter muito a aprender, mas já começaram buscando fazer a diferença”. Os compactos coloridos em que seus trabalhos têm sido prensados são comuns no exterior, e chegam ao Brasil graças à crença do Vigilante no compacto como “forma mais eficiente e verdadeira de presentear o verdadeiro fã de música”— e à Polysom, única fábrica de vinis da América Latina, comprada pela Deck em 2009.

porque contratou uma equipe de grafiteiros para promover mais uma turnê comemorativas de “The Wall”. O pessoal desavisado, colou um cartaz com uma frase do ex-presidente Eisenhower na parede da loja de discos Solutions Audio, em Los Angeles.Trata-se da mesma parede na qual Elliott recostou-se para a foto que ilustra a capa de Figure 8, disco que ele lançou em 2000. Desde a morte do cantor, em 2003, o concreto fora tomado por mensagens de tributo— devidamente encobertas pela ação de marketing de Waters. O ex-baixista do Pink Floyd disse que tudo não passou de uma infeliz coincidência e ordenou que o material fosse retirado. Não a tempo de evitar o desgosto sentido pelos devotos fãs de Elliott, que em nossa imaginação, fala mal de Waters com Syd Barrett.

direto ao ponto Conversamos com Tavares, da Fresno, sobre seu projeto solo, o Esteban. A entrevista na íntegra você confere em tiny.cc/tavares

Essa foi ótima: Lou Reed vem para a Festa Literária Internacional de Paraty. Queremos show! Leia mais em tiny.cc/loureedflip

A bela Mary J. Blige encarará o desafio de interpretar Nina Simone no cinema. Confira mais detalhes em tiny.cc/ninasimone

Uma grande notícia do início do mês foi a regravação do clássico Umbabarauma, de Jorge Ben, com várias participações especialíssimas. tiny.cc/umbabarauma


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Divulgação

Reprodução

Divulgação

NEWS

__POPLOAD GIG| Em junho, desembarcam no Brasil duas das mais criativas bandas do novo cenário musical, MEN e Girls. É a terceira edição do Popload Gig, festival promovido pelo jornalista Lúcio Ribeiro, que acontece em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. MEN, banda criada no Brooklyn, é encabeçada por dois ex-membros do Le Tigre e consegue levar o espírito criativo do bairro novaiorquino para os palcos. Já os californianos do Girls, embalados pelo sucesso do single “Lust for Life”, chegam em terras brazucas com a agenda lotada e a previsão de um ano cheio de participações nos festivais mais importantes do mundo. Toda a função acontece no final do mês e as informações podem ser encontradas em poploadgig.com.br.

__TESOUROS PERDIDOS E CONFUSÃO | A lendária gravadora Death Row, do problemático e perigoso Suge Knight, decretou falência em 2008 e, após decisão judicial, foi comprada pela empresa canadense Wideawake Entertainment. Nos porões, em Los Angeles, tesouros que justificam os US$ 18 milhões investidos: masters nunca lançadas de artistas como Danny Boy (parceiro de 2Pac nos clássicos “I Ain’t Mad At Cha” e “Toss It Up”), diversos artistas de R n B esquecidos no tempo (os boatos incluem Beyoncé) e, além de todo o catálogo já lançado, várias músicas inéditas de Tupac Shakur—até hoje o carro chefe de vendas. O problema agora gira em torno da nova comandante, a autointitulada “judia mãe de jogador de futebol”, Lara Lavi. Se antes as coisas eram resolvidas por Suge, acompanhadas por posse de armas, drogas e violência— incluindo pendurar Vanila Ice pelos tornozelos no terraço um hotel para coagi-lo—, agora o selo batalha para mudar a imagem e principalmente para buscar novos artistas e estratégias de relançamentos com uma chefe fora de contexto. A verdade é que para ganhar dinheiro com inéditas de 2Pac, basta lançá-las.

__AO FUTURO, BRASIL| O Bloody Pop, blog musical dos mais bacanas, completou 2 anos de existência e coroou um trabalho super legal que vinha fazendo. O calendário de lançamentos mais aguardados do indie nacional em 2010 foi sonorizado com a coletânea Ao Futuro, que reúne 10 faixas inéditas desses artistas. A safra inclui Tulipa Ruiz, com “Efêmera”, a viagem conceitual do Burro Morto em “Foda do Futuro”, além de particulas de Cérebro Eletrônico, L.A.B., Do Amor, Inverness, Supercordas e mais coisa boa. Soa deliciosa e vale o download em bloodypop.com.


Dirigido por: Supercondensador

Foto: Lucas Cunha


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lado a LADO B SITIOS

STP | Between The Lines _Um dia na vida de Scott Weiland, do Stone Temple Pilots. Em primeira pessoa, o clipe passeia pelas ruas de uma cidade litorânea dos EUA, na companhia de uma amiga – aham! – do frontman dos Pilots.Vidão!

_songvote.com Plataforma democrática para criação de playlist daquela festinha em que vai desde a colega pagodeira até o colega headbanger. Cada um diz o que quer escutar e o SongVote faz uma lista bacana e, na medida do possível, coerente.

Tags: stp between lines

Creators Project | Karl Sadler _O Creators Project rendeu os vídeos mais interessantes da internet no mês de maio. Destacamos o que trata sobre Karl Sdler, artista que está produzindo uma instalação de iluminação dinâmica para o novo clipe do The XX.

_muzic.com “Descubra sons e artistas de que as pessoas estão falando”. Essa é a pilha trends que move o Muzic. Se for a sua também, a visita é válida.

http://creatorsproject.com

posts tiny.cc/plato Plato Divorack afirma que nunca está dormindo. Figura icônica do rock gaúcho, o líder das bandas Père Lachaise, Lovecraft e Momento 68 andava sumido e agora fala sobre a nova banda, Plato & Os Exciters.

Black Drawing Chalks |Don’t Take my Beer _Como as pauleiras que tocam, o clipe 3-D que o Black Drawing Chalks acabou de lançar é old school.. Tem que assistir com os antigos óculos vermelho-e-azul. Tags: dont take beer bdc

tag yourself

florence the machine cosmic love rick bonadio virgula familia restart get him to the greek mia born free video lost sublime day fumante black keys oficial rede

arctic monkeys josh homme creators

de dois anos

tv epic fail dilma oi internautas

project no followers festivais independentes


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o que voce viu e nao viu neste mes_

Karina Buhr | Nassíria, Najaf _A ideia não é em nada surpreendente, mas foi bem dirigida por Artur Louback. Karina canta uma das faixas mais legais de sua estreia solo, Eu Menti Para Você, enquanto foge de imagens apocalípticas nela projetdas. Tags: karina nassiria louback

Raul atropelado _No Leblon, um acidente causa aglomeração enquanto duas estrelas do universo pop, Glória Maria e Raul Seixas, batem um papo pé no chão. O Rei diz que o mar revolto está certo em ter virado seu carro.“E uma coisa profética”, falou e disse.

Flashover | Klaxons O Klaxons não virou uma banda de nu metal, mas ganhou um pouco mais de trevas na primeira faixa do aguardado segundo disco. California Gurls | Katy Perry ft. Snoop Dogg Um hino do verão californiano. No nosso inverno, a música não faz sentido. Mas impossível ouvir abaixo de 40º e não sair cantando “Ca-li-for-nia Girls!” Chalé | Do Amor A primeira faixa do novo disco da Do Amor, “Chalé”, está na coletânea Ao Futuro, do Bloody Pop. Música brasileira nova e divertida. Lights | Interpol O Interpol publicou em seu site uma música que deve estar no próximo disco. “Lights” é um teaser mais-do-mesmo e promissor ao mesmo tempo.

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Tags: raul atropelado

audio

Voce nunca ouviu

Mick Jagger é Desmond do Lost _O programa Late Night with Jimmy Fallon parodiou Lost e chamou Sir Mick Jagger para ser o Desmond. Sua função é ficar em uma sala gritando “Yeah! Alright! Come on! We can do this!”. Muito bom, brotha! http://is.gd/cqngj

TUMBLIN’ http://animatedalbums.tumblr.com/ O mundo não seria um lugar melhor se as capas de disco se mexessem? Talvez não, mas muitas delas ficariam bem mais... divertidas.

http://davidbowie.tumblr.com/ Uma foto de David Bowie por dia é praticamente uma dose de serotonina diária.Todas as fases de Bowie estão compiladas no tumblr.

Você nunca viu ninguém tocar violão desse jeito. Dá só o tempo de se impressionar e sair fora antes de a música ficar enjoativa. QUER OUVIR? NOIZE.COM.BR/nuncaouviu

follow up @joao_gordo_ - Mais direto e desbocado do que nunca, João Gordo não mede palavras em 140 caracteres.


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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Samuel Esteves

ALOE BLACC Origem:

Los Angeles, EUA Som:

Aloe Blacc é uma mistura de cantor soul multi-instrumentista com rapper “do bem”, fusão que é garantia de música boa, como prova o single “I Need A Dollar”. Escute:

myspace.com/aloeblaccmusic

JANELLE MONÁE Origem:

Kansas City, EUA Som:

Groovy, eletro, funky, soul, hip hop. Janelle Monáe mistura tudo e o resultado é uma das cantoras mais autênticas no meio de mais-do-mesmo. Escute e não deixe de dançar “Tighrope”. Escute:

myspace.com/janellemonae

LOCAL NATIVES Origem:

Los Angeles, EUA Som:

Uma banda claramente indie. A diferença é que o Local Natives é novo e respira. Escute “Airplanes” e “Wide Eyes”, de percurssão hiperativa e atmosfera de sinfonia. Escute:

myspace.com/localnatives

tulipa ruiz Tulipa Ruiz é tão familiar para quem se liga nos sambinhas venenosos que têm saído dos fornos paulistanos quanto para quem gosta de delicadeza e de música antiga. Seria estranho soar tão novo, não houvesse outros habitantes da “Paulicéia”, como Rodrigo Campos e Romulo Fróes, que compartilham da vocação. Ela concorda: “Interessante você chegar neles por meio da [música] ‘Pedrinho’. Sempre quis que algum amigo meu cantasse, mas ainda não conhecia o Rodrigo e o Rômulo na época”. As canções do seu recém-lançado Efêmera trazem esse veneno em medidas semelhantes às de uma tranquilidade sem fim, nas firulas de seu cantar despretensioso, comedido até o momento em que uma aparente

alegria vem das entranhas e explode numa firula aguda (a música que intitula o disco). Da boa parte da vida que passou em São Lourenço, ela traz o componente interiorano, mesmo que, de lá, cite o reduto boêmio Casa de Pedra como influência. Colaboradora inveterada de outros tantos artistas que passam por São Paulo,Tulipa chamou muitos desses amigos para cantar e tocar com ela. Mais do que isso: em um ato que corrobora qualquer adjetivação exagerada de sua afetuosidade, chamou muitos deles para desenhar tulipas (as flores) no encarte do disco. “Esse disco é uma celebração, quis juntar pessoas que eu amo ou que despertam em mim algum tipo de alumbramento.” Escute: myspace.com/tuliparuiz



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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Thiago Piccoli

DIAMOND RINGS Origem:

Toronto, Canadá Som:

Mais andrógeno que Bowie,é um canadense de voz grave que acompanha composições pop relaxadas. As melodias puxam a minidivas indie, a voz puxa a Ian Curtis, tudo puxa para a pista de dança. Escute:

myspace.com/diamondringsmusic

A BANDA DE JOSEPH TOURTON Origem:

Recife, PE Som:

Os quatro garotos têm muita influência de moleque, mas é a perícia ao tocar que leva seu som além. A música pega leve nos ouvidos, é certamente a mais “easy listening” das três. Escute:

myspace.com/josephtourton

AVEC SILENZI Origem:

Rio de Janeiro, RJ Som:

Produção bacana, som instrumental sem punheta, loungezão. Joga num time parecido com os Tourton, com post-rock e triphop ditando muitos movimentos. Escute:

myspace.com/avecsilenzi

loomer As influências não negam: “Nossos heróis são Glenn Branca e seus discípulos”. Amantes de guitarra alta e distorcida, os gaúchos da Loomer também podem ser incluídos como discípulos de Branca. E de J. Mascis, do Dinosaur Jr, Thurston Moore e Kim Gordon, do Sonic Youth, Kim Deal, do Pixies, e toda essa gente que gosta de barulho. Muito barulho. Com duas guitarras e um baixo, todos distorcidos por uma coleção de quase trinta pedais, a banda mostra se importar com a melodia das canções quando os vocais de Stefano e Liege se unem ao instrumental pesado. O primeiro EP, Mind Drops, foi gravado pelo guitarrista da Superguidis Lucas Pocamacha e lançado em 2009 por selos importantes no Brasil.

Apesar da homônima—e clássica— música do My Bloody Valentine, os caras explicam que o nome não se deve à banda irlandesa: “Eles são uma grande influência, mas a gente gosta de usar o significado da palavra, mesmo. Somos uma banda difusa, confusa, um vulto”. O som da Loomer é, sim, um vulto, mas seus componentes são claros: o baixo dita o ritmo, guitarras dão a ambiência ruidosa e a bateria raivosa junta tudo. A banda não se preocupa muito com o futuro: “O indie rock nos anos 90 era despretensioso e despreocupado. Não queria ditar moda, nem acertar escalas ou ter solos inesquecíveis”, completa a vocalista, “É isso que falta na música hoje em dia: sinceridade”. Escute: myspace.com/loomerband



soundcheck

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Gualter-Naves

RITA LEE

Rita Lee dispensa apresentações. Em meio a turnê ETC..., ela se dispôs a falar conosco. Reunimos dúvidas de colaboradores, excluímos as indesejáveis e mandamos as demais para ela. Pelo menos, em meio a muitos anseios pós-juvenis que a Sra. Lee se negou a solucionar, descobrimos que “Baila Comigo” foi compostas durante um sonho. Foi o ponto alto da entrevista, mas não foi tudo. Confira.

“não acho que na minha época o mundo era melhor, não escuto meus discos antigos nem de outros artistas, não tenho saudade de nada nem de ninguém...”

Morar no meio do mato te ajuda a compor? No mato eu medito, quando volto para o caos de São Paulo canalizo meus pensamentos para música. Você disse noutra entrevista pra a gente que o roqueiro era clichê pra caramba.Tem algum clichê do rock de que você não abre mão? Som bem alto! Acho que você é uma real apreciadora do sono, certo? Você já compôs alguma música dormindo, ou teve alguma ideia mirabolante durante o son(h)o? Componho muito em sonho, nem sempre me lembro da melodia ou da letra, tenho um bloquinho ao lado e quando a memória ainda está fresca anoto… Em sonho compus “Baila Comigo” de cabo a rabo, eu estava grávida e muito inspirada. Você acha a geração de hoje muito careta? Ser careta hoje não é a mesma coisa do que ser careta no meu tempo. As gerações mais velhas têm sempre essa mania de dizer que as mais novas são incompetentes e burras, eu não vejo assim. Em qualquer época ser jovem já é complicado, então vamos ficar no camarote apenas assistindo o desfile da meninada, sem julgamentos ou cobranças. Sendo uma roqueira honrada, o que você acha dessa onda super colorida do emo que tá ficando cada vez mais colorida e menos rock?

Meu, pra que perder seu tempo com rótulos? Deixa rolar, é proibido proibir! Você é saudosista em relação a música ou acha que a cena musical hoje equivale a que viveu nos anos 1960 e 70 em termos de representação da identidade dos jovens? Não sou saudosista mesmo, não acho que na minha época o mundo era melhor, não quero voltar no tempo, não escuto meus discos antigos nem de outros artistas, não tenho saudade de nada nem de ninguém—só da minha família antiga. Quem você apontaria como tua sucessora no trono de “rainha do rock”? Há tempos troquei o trono por uma boa rede, sou contra monarquias. Li uma declaração sobre você nunca aprovar tuas noras. Que qualidades você procura numa mulher a ocupar o cargo? Não foi isso que falei, minhas noras são gente fina, me referia ao protótipo da sogra, fiz uma brincadeira apenas, não leve ao pé da letra. Correm boatos de que Paul McCartney vem tocar no Brasil. Você gostaria de ir a um show dele? Se você tivesse que dizer que “gosta muito dos Beatles, porém...”, qual seria o porém? É claro que gosto dos Beatles, mas não fico mais suspirando de paixão e tenho coisas mais interessantes para fazer do que sair de casa para bocejar com o Sr. McCartney.



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move that jukebox BLOGS

__MúSICA DE CINEMA | A veia cinematográfica está em alta no mundo musical: primeiro veio o boato horrendo de que o vampiro teen Robert Pattinson faria as vezes de Kurt Cobain nas telonas. Courtney Love esbravejou e desmentiu tudo. Mas, enquanto não vemos Nirvana nos cinemas, duas produções sobre os Beatles estão gerando certa expectativa nos fãs: a primeira, na verdade, é sobre os bastidores de toda a loucura envolvendo os Fab Four. Liam Gallagher irá produzir um longa baseado no que rolava por trás dos holofotes que sempre privilegiaram Macca e cia. Já Martin Scorsese, em mais uma imersão nos documentários musicais, revelou que espera lançar, em 2011, um documentário sobre George Harrison. Este sim, imperdível.

Metric, Band Of Horses,The Black Keys e Vampire Weekend. Não. Nada de line-up de algum festival. É a trilha do novo filme da saga Crepúsculo: bit.ly/bMKxiL

O The Dead Weather apresentou seu novo disco, ao vivo e na íntegra, na gravadora de Jack White. E o resultado, pra variar, ficou digno de nota: bit.ly/9JDTlU

Reprodução

Depois do debut de sucesso, o Klaxons finalmente deve voltar em 2010 com disco novo - e, pra isso, chamou produtor consagrado do new metal: bit.ly/bNdXwN

Divulgação

Reprodução

__STONES FOR THE WIN |A época é boa para o Rolling Stones. Seu disco mais cultuado, o emblemático Exile On Main Street, acaba de ganhar versão remasterizada, com 10 faixas inéditas e um documentário sobre os caóticos dias que marcaram a banda. O relançamento do álbum de 72 rendeu uma semana especial no talk show de Jimmy Fallon. O apresentador chamou bandas como Green Day para tocarem algumas músicas de Exile. Enquanto isso, Keith Richards declarou, em recente entrevista, que já tem ideias para um novo disco. Nem precisava, mas reclamar é que eu não vou.

__POR TRÁS DO MGMT | O MGMT gosta de mostrar ao público o que faz por trás das câmeras – e, por isso, o making of do clipe de “Flash Delirium” – que ilustra bem a insanidade da música - foi disponibilizado na web. Enquanto em “Kids” os bastidores mostravam a técnica utilizada para fazer as crianças chorarem, o making of de “Flash” mostra a reação dos membros do MGMT ao verem os velhinhos gargalhando para as câmeras. Divertido.Agora só falta nos mostrarem os bastidores das gravações de Congratulations, para entendermos como eles foram parar nesse segundo álbum. Nels Cline virá ao Brasil! Não conhece? Ele é guitarrista do Wilco e se apresenta no país com sua banda, o The Nels Cline Singers, em junho: bit.ly/dB3PnI



RRAURL

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__Dois clube novos em São Paulo: o simpático Alberta#3 abriu em maio na Av. São Luiz. Cheio de madeira e néon, tem chope bem tirado e programação musical de Bob Dylan a indie-dance. O outro fica em Pinheiros e estará sob comando do empresário Chico Lowdes—criador, entre outras coisas, do Sonique.

__O produtor Mark Ronson, famoso por ter lapidado o som de Lilly Allen e Amy Winehouse, tem terceiro disco em fase de finalização. O primeiro single já tem clipe disponível na rede e é total 8bit: procure por “Circuit Breaker”.

__O mundo dando voltas: Shakira em cover do The xx (“Islands”/“Explore”), Kelis interpretando La Roux (“In for the Kill”) e o Hot Chip em cover da Shakira (“She Wolf ”).

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__Uma das boas novidades da eletrônica vinda da França, o Acid Washed está bem longe, musicalmente, de colegas famosos como os duos Justice ou Daft Punk. São fiéis a tags como electro, Detroit, soul e house, perto da tradição eletrônica francesa de Laurent Garnier e da melodia romântica de Sebastien Tellier, com dois pés anos anos 90. “General Motors, Detroit, America”, principal single do álbum homônimo lançado em 2010 pela Record Makers, é um claro exemplo da capacidade do Acid Washed de prestar homenagem a medalhões do techno—o som criado por nomes que se tornaram sinônimos tanto da cidade quanto do estilo como Derrick May e Juan Aktins—com frescor e apelo atualizados, próximo do também francês Kavinski. O disco, de onze boas faixas, conta com epopeias eletrônicas como “Change”, com melodia chupada de “The Chase”, clássico eletrônico do italiano Giorgio Moroder. Esse tema retrô vem dos equipamentos analógicos usados pela dupla. O disco tem bons momentos vocais e é cheio de nuances e detalhismo. Procure também o remix da dupla para a bela “Acapella”, da Kelis. myspace.com/weareacidwashed

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__Um dos melhores nomes do cast da DFA,The Juan MacLean está com disco novo na praça, assinando o mais recente lançamento da série DJ Kicks. Tem, claro, o hit “Happy House” e ainda “Shit Robot”, e “Danny Howells”, em 18 faixas. O projeto está em tour mundial que, dizem, pinga aqui no Brasil.


A LOJA DO SEU ARTISTA FAVORITO

WWW.7POLEGADAS.COM


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SCREAM & YELL

SCREAM & YELL

BLOGS

__A Indústria da Música respira por aparelhos, mas continua vivendo em uma bela mansão. Ela ainda sobrevive – e fatura milhões – em um mercado cujos dias estão contados, mas lamenta os dias de bonança que viveu décadas atrás, antes de a Internet democratizar a distribuição da música e o MP3 derrubar o comércio de discos. O disco de vinil surgiu em 1948, substituindo os obsoletos discos de goma-laca de 78 rotações, que até então eram utilizados para vender música em série. A década de 50 marca o início da popularização da música de massa, mas foi nos 60 que o cenário tomou proporções estratosféricas. O disco mais vendido dos anos 50, “Elvis’ Christmas Album”, totalizou 7 milhões de cópias. Na década seguinte, o “Álbum Branco”, dos Beatles, vendeu quase o triplo: 19 milhões. Porém, agora, vivemos uma revolução sem precedentes, e muitos ainda querem utilizar um método antigo e arcaico de comercializar e negociar música sem perceber que o mundo mudou, as ferramentas mudaram, e é preciso adaptar-se aos novos tempos. A Internet e

as novas tecnologias facilitaram o ato de fazer música e distribuí-la. A cada dia que passa, a Indústria perde poder. Adolescentes que desconhecem vinil, CD e K7 e acostumaram-se a baixar músicas pela web nunca vão comprar um disco, pois aprenderam a ter isso de graça. Mais do que um problema ético, estamos diante de um símbolo de liberdade. Agora, cada pessoa ouve a música que quiser. Um disco a um clique do mouse. “Como ganhar dinheiro com a minha arte?”, perguntam os músicos. Fazendo shows, caros amigos. Estamos voltando à Idade Média. Naquela época, os artistas não tinham suportes que os permitissem vender sua música em série, e mostravam sua arte apresentando-se de cidade em cidade. Novos tempos.Vivemos um momento extraordinário da história, um momento em que as novidades surgem todos os dias e qualquer coisa pode acontecer. Porém, se a Indústria está morrendo, a Música está cada vez mais viva. O Rei está morto.Viva o Novo Rei.



FORA do eixo

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__Formada por alunos da Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande, a Cabruêra está na estrada desde 1998, acumulando experiências para traduzir em música o que vive, sempre lembrando da maior influência: o cancioneiro popular nordestino. O grupo formado por Arthur Pessoa, Edy Gonzaga, Pablo Ramirez e Leo Marinho já lançou disco em selo gringo; teve música incluída em coletânea francesa, alemã e até japonesa; ganhou prêmio em Gramado por uma trilha sonora e fez mais de dez turnês pela Europa. Em 2010, Cabruêra lança Visagem, o quarto disco em estúdio, produzido por João Parahyba, e promete figurar entre os melhores do ano. Baixe o disco na íntegra e gratuitamente no http://is.gd/cqoM0 e acompanhe a banda aqui: myspace.com/cabrueramusic.

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__Sediado em Porto Velho, capital de Roraima, o Festival Casarão chega à décima primeira edição, em quatro dias de programação diversificada entre shows, debates, oficinas e palestras. Para o organizador Vinícius Lemos tudo faz parte de uma evolução, e para a edição 2010 “o diferencial é o formato, o jeito que o festival se mostra à cidade, deixando de ser algo fixo em 3 dias de evento num só local, para caminhar pela cidade e se mostrar para diferentes público”. De 16 a 19 de junho, 32 bandas das cinco regiões do Brasil se apresentam no Kabanas, no Mercado Cultural, na Escadaria da Unir e no Piratas Pub. Entre as atrações, Cidadão Instigado, Comunidade Nin-Jitsu, Móveis Coloniais de Acaju, Superguidis, Nevilton, Do Amor (foto) e muito mais. Programação completa em festivalcasarao.blogspot.com.

direto ao ponto Projeto de lançamentos virtuais do Circuito Fora do Eixo, o Compacto. REC inova e coloca no ar nove faixas de nove bandas gravadas ao vivo em participações no Grito Rock. compactorec.foradoeixo.org.br

A Casa Fora do Eixo durante anos recebeu shows, exposições, feirinhas, oficinas de teatro, mostras de vídeos e festivais expressivos. Recentemente reabriu as portas e inaugurou site: www.casaforadoeixo.com.br

Fabrício Nobre agora também é blogueiro, compartilhando as experiências da viagem de 30 dias que fez por festivais e conferências no exterior, confira no http://is.gd/cpWFv.

Agora todos os produtos feitos e distribuídos pelos 45 Pontos Fora do Eixo têm lugar reservado na Galeria do Rock, em São Paulo. Participe da comunidade e acompanhe: http://is.gd/ cpWGK



_texto MARIA JOANA AVELLAR _FOTOS Rafa rocha


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Quem pensa que Lovefoxxx já está morrendo de saudades de Londres se engana. Depois de três anos frenéticos em turnê, tudo que ela queria era comer uma coxinha e beber água de coco no seu país de origem, curtindo a rotina, para variar, e a segurança adquirida depois de tanta estrada. Ainda assim, é com um pouco de ansiedade que o novo álbum é preparado - e com a promessa de mais berros e menos romantismo. Enquanto no Reino Unido todos torceram o nariz para as férias do CSS, no Brasil, o público aproveita as discotecagens da vocalista nos finais de semana e torce para a banda fechar algum show por aqui.

Foi no hall de entrada de um hotel, horas antes de subir ao palco como DJ, que conheci sua nova fase e descobri que, antes de ser Lovefoxxx, Luísa já foi até hansonmaníaca. Você parece aliviada dos três anos ininterruptos de turnê terem acabado... A maioria das nossas turnês foi uma coisa louca, a gente fazia tudo que aparecia na frente sem muito critério de escolha, só dizia sim, sim, sim, sim, sim! De um certo modo, isso é bom. De algum jeito na vida você tem que aprender, seja de um jeito bom, ou de um jeito estressante. Turnê sem parar é muito legal, mas você nunca tem casa, todas as suas roupas ficam sujas, você vai virando meio que um cachorro (risos). Também só é estressante por isso. Agora eu já estou louca pra fazer turnê de novo... Já estão ansiosos e cansados das férias? As férias já acabaram, né? A gente está trabalhando nas músicas novas, e eu começo a ficar muito empol-

gada pensando em tocar elas nos shows. Mas a gente está aproveitando o momento, a rotina. Eu e o Adriano vamos na academia todos os dias. É bom saber onde a gente vai estar nas próximas semanas, mas também é bom saber que vamos voltar a fazer turnê porque a gente fica muito ansioso. Ter uma visão de quando tudo vai começar de novo nos permite aproveitar com tranqüilidade, sem nos sentirmos uns adolescentes loucos. E de Londres? Não tem saudade? Não... (risos). Ai, eu gosto de Londres, é lindo, ainda mais na primavera, lá eles tem todas as estações, é lindo ver tudo florescendo. É uma vida boa, é legal. Eu gosto, mas, ao mesmo tempo, eu senti muita falta de morar em São Paulo. A banda parece ser muito família. Isso de Lovefoxxx ícone nunca foi um problema? Pelo fato de eu ser vocalista, é natural a atenção ficar mais voltada pra mim. Ao mesmo tempo, eu às vezes


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“a gente cobra preço de banda de fora porque toda a nossa equipe tá lá... E a gente não quer fazer um show meia boca para depois o povo falar mal de novo.” tenho um pouco mais de trabalho do que os outros membros porque sempre querem que eu esteja nas entrevistas. A gente fica alternando, mas eu sempre tenho que estar em todas. É um trabalho a mais. Você sempre foi muito artista, já trabalhou bastante com moda e desenho. Música fica em primeiro plano? A banda é uma coisa que existe. E é a coisa mais legal que eu já fiz parte. É onde eu dedico a maior parte do meu tempo porque é o que eu mais quero que dê certo e cresça. É muito mais legal do que ficar sentada fazendo estampa. Até hoje eu sinto como se eu nunca tivesse trabalhado porque sempre fiz só coisas que eu gostava. Nunca foi um esforço, uma coisa horrorosa, como o trabalho pode ser. Mesmo fazendo turnê, dá pra fazer várias coisas. Tem uma marca japonesa muito legal que chama Graniph+1, e eles só trabalham com colaboração. Muitas vezes vou lá, bolo alguma camiseta pra eles. Meu último emprego foi na Triton, eu fazia estampas. Na última coleção, a Karen [Fuke] me chamou, fiz várias coisas, foi bem legal. Também fiz parceria com a Melissa+2, vou fazendo vários trabalhos. Então uma coisa não impede a outra.

[+1] graniph.com [+2]

Você parece muito tranquila...Vocês não sentem uma ânsia? Mal anunciaram as férias todo mundo caiu em cima especulando o fim da banda. Isso foi culpa dos ingleses, a Inglaterra é uma ilha muito peculiar, especialmente em relação à música. Eles são muito fortes com isso, lançam muitas bandas, sensações, tendências. Só que eles têm uma obsessão com o novo, com a próxima... La Roux! Só que a La Roux acabou de lançar o primeiro CD! Eles sempre estão no próximo, até quando o mais novo acabou de surgir. As bandas lá são muito competitivas, o país

é muito pequeno.Você pode tudo com a música lá. Pode ter fama, pode namorar a Kate Moss sendo desdentado. E as pessoas se levam muito a sério. É meio estranho a gente ver isso de perto porque a gente era o contrário disso, a gente nunca teve ambição. E ter ambição é uma coisa boa. A gente não pode só zoar. Nossa sorte foi que deu certo. Ainda bem. Mas às vezes é chato porque lá eles montam uma banda só para dar certo. Então, quando eles escutam um grupo falando: “a gente vai ficar de férias um ano. E, agora, nesse momento, nesse mês um desse um ano, a gente não está afim de pensar em música porque ficamos fazendo turnê três anos, sem parar”, eles não entendem. Pensam que é um jeito de falar que acabou. E eu sou brasileira! Quero beber água de coco, quero fazer depilação a laser... Eu não quero pensar, quero comer uma coxinha, não me enche o saco. Mas não tem como combater. Eles gostam de fazer bafon, criar picuinha. É por isso que é o país do tablóide... E sempre te incomodaram muito por causa do Simon [guitarrista do Klaxons]? Quê? Sempre ficaram em cima de você, pra saber do Simon, do romance, casamento? Ah, de vida pessoal eu não falo “maish”. Beleza. Nunca incomodou vocês o sucesso ser maior lá na Europa do que aqui? É estranho... é meio estranho sim. Eu estou discotecando muito no Brasil e tem muito fã que me olha e diz: “ah, volta com a banda inteira” (risos). A gente quer tocar aqui. Às vezes eu sei que pode parecer resistência, mas não é. Eu acho que um dos fatores que complica nossa vinda é que a gente cobra preço de banda de fora porque toda a nossa equipe tá lá,


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“Você pode tudo com a música lá. Pode ter fama, pode namorar a Kate Moss sendo desdentado. E as pessoas se levam muito a sério” tem que trazer todo mundo, nosso equipamento... E a gente não quer fazer um show meia boca para depois o povo falar mal de novo (risos). Mesmo que vocês sintam uma conexão forte com a cena de lá, vocês sentem uma identificação com as coisas do Brasil, né? Tipo Olodum. (Risos) Eu não acho que a gente tem a ver musicalmente com essas coisas, mas temos o calor do coração brasileiro! É uma coisa que eles não entendem lá, e nunca vão entender, não adianta tentar explicar. O Brasil é o Brasilzão! É mó legal! Mas eu acho muito legal que a parada inglesa é muito avançada, tem muito espaço pra música. Eu estava falando meio com azedume em relação, mas é muito legal. Lá o Top 10 é muito independente, a Rádio One (da BBC) é muito boa. Lá eu chegava no aeroporto, pegava um taxi, começava a conversar e, quando o taxista descobria que eu era do CSS, falava “ah, minha filha adora!”. Isso nunca aconteceria aqui. Mas, em compensação, aqui você pode comer um PF em qualquer esquina porque a comida é incrível. Cada lugar tem suas coisas boas e coisas ruins. Vocês curtem bandas novas? O que acham de bandas brasileiras com influências de CSS? Acho legal. Prefiro uma banda com influências mais atuais, da gente ou não, do que quarenta mil com influências... sei lá de onde vem as influências de Restart, NX Zero, blérg. É muito a mesma coisa, uma modinha. Sinceramente, antes da banda ser bem sucedida, eu prestava muita atenção nas bandas novas de tudo quanto é lugar. Eu queria só ouvir o mais novo, o mais novo. Depois que você começa a fazer turnê, você começa a azedar com banda nova. Agora até estou ouvindo de novo, mas você fica com bode dessa coisa de banda nova porque você é uma banda nova, entendeu? Você começa só a escutar as pes-

soas velhas, que já acertaram, que estão lá, relaxadas, de boa... Mas agora eu escuto coisas recentes, embora não tenha muitos CDs baixados... Só de Drag Queen! De Drag eu gosto de saber tudo! Não precisa falar da vida pessoal, mas o Donkey+3 é um CD romântico, sua voz está bem doce e apaixonada. No próximo CD, vai continuar assim? Acho que vocal tem a ver com segurança. Eu nunca tive banda antes do Cansei. Tudo o que eu fui conseguindo fazer com a voz, eu gravei. As músicas novas estão muito legais porque eu estou gritando bastante. Pencas de berros! Bem fist bitch. E tá (nesse caso não é melhor tá?) bem legal. A gente vai se sentindo mais seguro... E isso reflete nos novos trabalhos (risos). A gente também não está com uma preocupação de como vai fazer ao vivo, vamos gravando um milhão de camadas de voz no foda-se, depois a gente se arranja pra ver como faz. Então está bem mais diferente. Eu me sinto mais confortável com as coisas que estou fazendo. Vai mostrar algo novo hoje? Não, mas assim ó, eu gravei uma música nova, faz um tempo, com uma banda japonesa chamada 80Kidz, a faixa se chama “Spoiled Boy”. Também gravei uma faixa chamada “Nightcall” com o Kavinski. E eu vou gravar uma faixa com o João Brasil também, que está fazendo um disco em Londres. Ele fez um remix de “Left Behind” que a gente adora. Hoje na playlist vai ter alguma coisa bizarrinha? Depende de como a festa tiver. Eu adoro tocar Gipsy Kings, “Volare”. Também gosto de tocar Kaoma, Lambada. Por mim, eu só tocaria coisa horrível. Antes de entrar no palco, temos uma playlist que se chama

[+3]




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“músicas que a gente gosta”. Tem Shakira, Beyonce... Lady Gaga infelizmente não aconteceu na época em que a gente fazia turnê porque a gente ainda não gostava dela. Agora gostam da Gaga? Na época de “Just Dance” eu não achava muito legal. Era só uma mulher meio “trava, tipo um monte que a gente já conhece, parecia invenção de gravadora. Aí eu vi ela fazendo sessão de rádio, tocando versões diferentes, e pensei: “Nossa, que bafo. Ela é boa”. Mas esse ritmo dela... Acho que ela vai ter um breakdown a qualquer momento porque não dá para seguir assim, não dá. Não dá! (risos) Mesmo que você tenha muito, muito luxo. Sei lá... eu pelo menos, né? Não estou me comparando, mas deve ser muito louco. E ela dá sempre tudo de si. Eu gosto muito das entrevistas e do jeito que ela trata os fãs. E da música, claro. Teve um jornal brasileiro que atribuiu todo o estilo new rave a você. Concorda? Nãããão.

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Ah, mas teve aquela febre dos macacões no Reino Unido... É, realmente... juro, toda vez que eu fazia fotos em alguma revista, os editores e stylists me falavam que adoravam meus macacões+4. E, sério, às vezes me dá um pouco de raiva. Tá, sei que não inventei o macacão, mas acho que dei uma popularizada nesse ítem. Mas, ai, esse negócio da new rave... (dá um longo suspiro) É uma invenção dos ingleses. Na época em que os Klaxons deram essa declaração, falando que eles eram New Rave, eles estavam zoando. E aí eles pegaram isso e fizeram uma febre. E eles lançam muitas febres mundiais. Mas... ai, na época a gente meio que queria zoar, sabe? (risos) A gente queria usar umas roupas horrorosas, às vezes de cansaço e de raiva. Sabe quando você é criança, e você vai pra escola com raiva de alguma coisa, aí você coloca uma roupa muito feia? Era mais ou menos assim. Mas se fazer de ridículo não é muito bom porque as pessoas não sabem o que passa na sua cabeça (risos). Mas não... óbvio que eu gostava de usar roupas coloridas, mas

depois enjoa mesmo.Você viaja com a mesma mala não sei quantos meses, chega uma hora que você não aguenta mais ver aquelas roupas. E é mais fácil se acostumar com coisa que não é tão marcante. Mas acho que esse jornal está meio errado. Culpa do Restart, puta falta de sacanagem! (risos) Fica assustada com essa geração nova? Nossa, muito. Sério, eu gostava dos Hanson. Eles eram tão bonitinhos. Eu conheci Restart porque eu vi na MTV, mas é bizarro, todos cantam. Se cinco meninas ficariam afim de um vocalista, cinco vezes vinte e cinco... vezes quatro milhões... É um fenômeno pop! Ivete Sangalo: tchau! No reveillon da Globo vai ser Restart (risos).Você vê... por isso que eu tenho orgulho dos fãs do Cansei. São umas meninas e meninos muito legais. Só existem essas bandas porque as meninas são loucas. As meninas de 11, 13 anos, querem arrumar marido. Eu era superafim dos Hanson, amava os Hanson, eu falava que o Isaac era meu preferido porque ele era o mais feio, então eu achava que tinha mais chance (risos). Na verdade era o Taylor (risos) Eu tinha até single japonês. Acho que eu já era meio indie porque gostava de Hanson, e não de Backstreet Boys. Os Hanson faziam as próprias músicas... eu queria fazer um fã clube... tá chega. Ah, mas isso é legal, porque todo mundo pensa no clichê do músico que nasce ouvindo rock... Nããão, o único CD que meu pai tinha em casa era um que você ganhava no Natal comprando trinta latas de molho de tomate Pomarola ao sugo. Tudo começou quando eu mudei pra São Paulo com 16 anos e fui morar com cinco meninas que conheci na Galeria Ouro Fino. Uma das meninas era total riot, gostava só de bandas de meninas, Bikini Kill, The Donnas... Ela tinha os discos, eu comecei a ouvir e fiquei “nossa, que legal, não sabia que existia isso, música assim”. Aí eu vendi meus CDs dos Hanson em um sebo que tinha lá na Rua da Consolação, morrendo de vergonha. Aí comprei uns CDs usados e a coisa começou a ficar legal. A vida mudou.


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FESTIVAIS INDEPENDENTES EM DEBATE O que é preciso para se fazer um festival? Bandas, lugar, estrutura, equipe técnica, público—e dinheiro, muito dinheiro. Por causa deste último, durante muito tempo festivais de música estiveram restritos a grandes capitais, principalmente no eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Graças à ótima safra recente da música brasileira, a muito trabalho e organização, eventos de grande porte, com estrutura decente e público numeroso tomaram forma em recantos outrora inexistentes para a música independente. Não sem levantar uma discussão das brabas, tão complexa quanto necessária.

O cerne da questão é, também, o que desencadeou a recente discussão: pagar ou não pagar as bandas que tocam nos festivais? A questão eclodiu a partir de uma entrevista ao site O Inimigo, em que Pablo Capilé, vice-presidente da ABRAFIN (Associação Brasileira dos Festivais Independentes) afirma defender, dentro da instituição, o não-pagamento de cachê para artistas que toquem em festivais produzidos pelos afiliados da mesma. A afirmação é embasada pelo paradigma do Artista Igual Pedreiro+1 e pela crença de que um festival é como uma mostra, uma “feira de bandas”. Deveria basear-se nesse aspecto a aceitação do ponto de vista pela massa que, n’O Inimigo e em outros sites que ecoaram a polêmica+2, postou comentários discordando de Capilé. Para muitos, o fato de as bandas serem o primeiro elemento a aparecer na enumeração que iniciou este texto indica a prevalência dela sobre os demais na hora de se alocar dinheiro—ainda mais porque alguns festivais são realizados com verba pública. Um ponto de vista recorrente nos comments acusa a lógica de acabar com o valor artístico, numa espécie de analogia entre o contingente de bandas dispostas a tocar em festivais e o exército de reserva da primeira revolução industrial: os festivais triunfarão enquanto houver gente disposta a tocar por pouco. Para pensar de forma desbitolada, todos os

lados da discussão podem se beneficiar ao considerar que: (1) festivais não são a única modalidade de show para qualquer banda independente, pequena ou grande, (2) mas constituem, principalmente para as pequenas, um importante “empurrão”; (3) artistas grandes são necessários para qualquer festival que se preze (para além do “show de calouros”), ainda que a grandeza, passe por uma lente subjetiva; (4) todo mundo precisa sair ganhando de alguma forma. O que problematiza, dramatiza e engessa a discussão é a oposição apaixonada que se estabelece entre alguns músicos e produtores. Jornalistas dividem-se no entorno, mas o circo pega fogo pelas fagulhas que trocam quem afirma querer fomentar e quem afirma ser a parcela realmente digna de fomento de todo o processo musical. Mais ainda: há desde alguns meses uma outra discussão que diz respeito ao funcionamento interno das instituições envolvidas, a ideologia de seus membros e outras questões que não nos interessam. Nosso objetivo com este texto—e, principalmente, com o singelo infográfico que o sucede—foi apresentar para o público menos informado (e/ou interessado) alguns pontos da discussão presente em grandes sites e blogs de música brasileiros. Junto disso, nosso desejo de que, não sem muito debate, isso tudo se resolva numa boa, com muita música.

[+1] Artista Igual Pedreiro é o nome do primeiro disco da Macaco Bong e um conjunto de ideias endossadas por Capilé, Fabrício Nobre e diversas outras pessoas, ligadas ou não ao Circuito Fora do Eixo, segundo as quais vivemos um momento em que o artista deve se envolver em diversas outras etapas do processo de produção musical, e não apenas na elaboração de sua arte. [+2] No site screamyell.com.br, dois posts têm sido palco de grande repercussão pública em torno do assunto: o entrevistão com Romulo Fróes e a carta aberta de João Parahyba.


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1. Marcelo Costa, Scream & Yell | Um dos grandes problemas é que os festivais se fecharam em si mesmos, criando regras excludentes. Não importa se o artista é bom. Importa se ele se encaixa nessas regras. Com isso, algumas bandas são favorecidas (por estarem dispostas a seguir o pensamento da instituição) em detrimento de outras (que muitas vezes não têm condições para isso). O valor artístico não importa e a música fica em segundo plano. 2. Marcelo Costa | Todos nós já fizemos coisas na brodagem (acredito eu), e/ou pensando na “carreira”. Acho válido, mas defender uma posição de “não pago cachê” está errado. E está errado porque se festival está dando prejuízo alguma coisa errada está sendo feita. Então vamos gastar melhor esse dinheiro. O projeto todo é bacana, mas precisa atender a todos. 3. China, músico e produtor | Concordo que tocar em festivais é um investimento válido. É sempre bom se apresentar, para um grande público e mídia cobrindo o evento. Mas as bandas que não podem se bancar não vão para o festival? Às vezes as pessoas esquecem que as bandas são o principal produto de um festival. Elas precisam receber um cachê digno, não têm que ser faraônico, mas que dê para bancar os custos e apresentar um bom trabalho. 4. China | Poder contratar seu próprio técnico de som é fundamental. Esse papo de que os festivais têm ótimos técnicos não cola... Devem ser bons técnicos mesmo, mas nunca trabalharam com a banda, então não vão fazer um trabalho melhor do que um outro profissional que já opera o som da banda e sabe de cada necessidade da mesma.

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1. Pablo Capilé, vice-presidente da ABRAFIN | Com 1500 bandas que se apresentaram nos festivais em 2009, se 15 a 20 bandas tocaram em 3 deles em média, será que não é mérito delas e também uma prioridade que elas dão para rodar esse circuito? Será que uma banda articulada tem que tocar somente em um festival ou no máximo 2 senão ela corre o risco de ser tachada de participe da panela da ABRAFIN?

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2.Ynaiã Benthroldo, Macaco Bong e Fora do Eixo | Tenho certeza que em 4 ou 5 anos TODOS esses festivais estarão pagando cachê, mas ainda não dá, o mercado ainda não tá estruturado a esse ponto, ABRAFIN e Fora do Eixo ainda não têm 5 anos, é tudo muito recente. Não dá pra ficar com discursinho de ”Não me peça de graça a única coisa que tenho para vender”. Como assim de graça? Remuneração para um artista agora é so dinheiro? 3. Miranda, produtor musical | O que faz esse publico ir num festival? A promessa de diversão com cultura? Só novidade? São os nomes de artistas mais conhecidos que fazem isso. Usase os mais conhecidos pra atrair gente pra conhecer os mais novos. Para levar aos festivais os mais conhecidos, são concentrados neles a maior parte dos recursos. Aos novos, geralmente sobra ao menos uma ajuda de custo, na medida que o festival suporta.

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4. Fabrício Nobre, presidente da ABRAFIN | Os festivais da ABRAFIN sempre buscam a melhor equipe técnica e equipamento da região. No Goiânia Noise, por exemplo, 100% dos artistas tiveram cachê ou ajuda de custo para sua vinda ao festival nos últimos 4 anos, além de sempre hospedagem (a melhor que podemos oferecer), alimentação, traslado local, o melhor equipamento e equipe técnica, entre outras facilidades.


_texto FERNANDO CORREA

_FOTOS 1.. TOM ROGERS 2. Bob gruen / REPRODUcao


KRIS GRUEN //049

Em 20 minutos de conversa com Kris Gruen, ele poderia ter me surpreendido 20 vezes. Em vez de nos perdermos facilmente entre os causos da sua juventude—assistida em parte pelo pai, um dos maiores fotógrafos da história do rock, e pelo padrasto, guitarrista de jazz consagrado—, nós dois achamos por bem seguir outro caminho: o da música dele, um nova-iorquino que passou boa parte da vida entre a cidade natal e a casa, na interiorana Vermont.

Ao repassar a trajetória que culminou em seu segundo disco, Part Of It All+1 (2010, Mother West), inevitavelmente esbarramos nas noites da infância que Kris passou com seu progenitor, Bob, entre os Ramones no CBGB’s e o Kiss no Madison Square Garden. E mesmo ao passear pelo folk de letras poéticas, que trafega entre alternativas do indie e lugares comuns do pop, encontramos sutilezas jazzísticas herdadas de Joe Beck, primeiro guitarrista de Miles Davis e segundo marido da mãe de Gruen. Um outro caminho o trouxe a Porto Alegre, única escala do compositor em uma viagem de intercâmbio musical atípica. Tocou no lendário Bar Ocidente para uma plateia diferente das que está acostumado a encarar—predominavam as famílias e dava para adivinhar que poucas ali estavam familiarizadas com as baladas contemporâneas tocadas ao violão de aço, esbanjando cordas soltas e acordes abertos.

Eu não conhecia sua música até um amigo meu avisar que você estava no Brasil. Lembra coisas das quais eu gosto, um pouco Elliott Smith… Oh, that’s nice! Meu novo disco tem sido comparado com Arcade Fire, Andrew Bird… Se pegar só a voz, o cara com o qual sou mais comparado é Collin Meloy, do Decemberists, as pessoas dizem “Te ouvi nessa propaganda…”, e eu,“Não, aquele não era eu…” (risos) Seu primeiro disco é de 2006. O que você fazia nos anos que o antecederam? Eu me formei em 1997 e não tocava nada fora bateria. Aprendi a tocar violão em 1999/2000, apenas o bastante para aprender a compor—você não precisa de muitos acordes para começar. Inclusive acredito que algumas músicas daquela época eram mais interessantes, porque eu só conseguia apertar uma ou duas cordas, e todas aquelas cordas soltas criavam um

[+] myspace.com/krisgruen [+1]


050\\ noize.com.br

acorde muito mais interessante às vezes… Mas então, lá por 2002, juntei umas 15 músicas em um disco para vender meu trabalho para os selos. Eu gravei aquele disco em um estúdio do selo Mother West, em Nova Iorque, que é o selo em que eu estou até hoje. Nós compramos o tempo de estúdio e durante a gravação, o dono ouviu e gostou, e me contratou para o selo. Mas a gente não lançou aquele disco, lançou o próximo, Lullaby School+2. Então de 2002 a 2005, quando acabamos de gravar Lullaby, o dono do selo estava me desenvolvendo, me ensinando como fazer, porque demora para aprender a estar no estúdio e tocar com todos os tipos diferentes de músicos. Nessa época você estava morando em NY? Não, eu estava viajando.Vermont fica a 5 horas e meia de carro de Nova York. O selo está baseado em Los Angeles e Nova Iorque, então a maioria dos meus shows são nessas áreas, mais em LA do que em NY, porque há toda uma nova cena rolando em LA, de licenciamento (publicidade). Para compositores, LA é um lugar maior que NY. Para bandas, NY é ótimo. Em LA, compositores podem se envolver com muita coisa, programas de TV, filmes…

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Você tem uma música, “Nuschka”, sobre uma modelo fotográfica na Nova Iorque e Paris dos anos 1930. O quão importante é a cidade como fonte de inspiração? É uma boa pergunta. Eu estava caminhando por aqui [Centro de Porto Alegre], percebendo a arquitetura, e eu não havia passado por essa parte da cidade, com os quarteirões e os prédios antigos. Eu sou muito afetado pelo ambiente, sou movido pela história de uma cidade, não tanto pela sua aura ou energia do presente, mas pelo ambiente, as formas, as linhas, os visuais de um lugar e atmosfera que ele cria. Duas músicas do meu disco novo, “Memoirs” e “Red Doors”, falam sobre crescer em NY, os aspectos doces e sombrios; tento captar um pouco da cultura nova-iorquina, dos personagens com que meu pai se ligava naquela época. Você cresceu em Nova Iorque ou em Ver-

mont? Crescer em dois lugares diferentes também deve ser impactante… Depois dos 4 ou 5 anos, minha mãe se mudou para Vermont. Eu não tinha pensado nisso… Sim! Esse era o conceito que nós pensamos, originalmente, para o Part of It All, eu caminhando através da capa do disco, de NY para a floresta, e no verso, da floresta para NY. Porque são os dois lugares onde eu crio. Eu crio em Vermont, que é bastante rural, e então vou para a cidade, e crio lá. Então, sim, são dois extremos. Meu pai ainda mora em NY no mesmo apartamento em que eu nasci, então NY foi mais uma constante para mim do que qualquer outro lugar. E eu me sinto muito em casa lá, mas a cidade não é um bom lugar para se viver, não é saudável para o “humano animal”. É bom para o intelecto, há muita comunicação, mas você perde contato com a terra, com o solo, o céu. A natureza é mais saudável para mim, me sinto muito mais em casa. Seu pai foi amigo de muita gente lendária. Há algum episódio para o qual você olha hoje e pensa, “Isso foi fundamental para eu me voltar para a música”? Quando eu estava sempre no CBGB’s, eu não sabia do significado, era só um buraco na parede, um esconderijo descoberto com muita gente excitada e música muito poderosa. Mas o poder da música realmente marcou, bandas como Blondie e Talking Heads estavam acontecendo pela primeira vez no CBGB’s. As noites eram sempre muito longas, geralmente começavam com meu pai fotografando os shows maiores em estádios, no Madison Square Garden, vendo o Kiss ou os Rolling Stones. Mas aí, a sequência era CBGB’s, Max’s Kansas City.Ver o Blondie e os Ramones antes de eles serem gigantes; Johnny Thunders do New York Dolls tocou muito sozinho lá, David Johansen (também do NYD) era um amigo da família— lembro mais dele como um tio que como um músico. Só me dei conta depois que aqueles sons tiveram uma influência poderosa na minha música. E eu posso dizer isso quando toco com outras pessoas, elas não têm a tendência natural que eu tenho de mover em certas direções, porque é o que ouvi o tempo todo.


KRIS GRUEN //051

Mas é uma coisa natural e boa? É, mas ao mesmo tempo pode ser um problema, porque eu não estou pensando de uma forma fresca.Você tem que usar isso de forma consciente, “OK, isso é o que eu sei, mas como o que eu sei pode me levar a algo novo?”. Este é meu objetivo agora, eu quero experimentar mais, explorar. Mas eu me lembro dessas pessoas fa-

mosas mais como amigos, porque é o que meu pai fazia: mais do que tirar fotos, ele era amigo dessas pessoas e as envolvia. Joe Strummer [do Clash] ficava com meu pai quando ia a NY, e meu pai foi amigo dele até sua morte. Tina Turner era uma amiga da família. John Lennon e Yoko Ono eram amigos, e quando eu era pequeno e brincava com Sean, eu

lembro de pensar, “Oh, o pai do Sean é realmente legal, que pai legal!”. Porque você sabe, quando é jovem tem medo dos pais dos amigos, “o pai é legal ou o pai é mau?”—John era realmente legal. E aí, anos mais tarde, John estava morto e eu ainda saía com Sean, eu lembro que seu “novo pai”, o cara que saía com a Yoko, não era tão legal… (risos)


FATNOTRONIC Não espere virar a página e se deparar com uma conversa normal. Para os DJs Gorky e Philip A.— do Bonde do Rolê e do Killer on The Dancefloor —, Carlinhos Brown é cheeseburguer com bacon, e Phill Collins, um anel de cebola frito. Partindo de associações como essas, o duo cria uma mistura sonora que une os dois elementos essenciais para ambos: música e comida. O resultado é o Fatnotronic. Numa conversa que parte do nonsense, os DJs ligam os pontos e falam sobre assuntos que vão de indigestão no palco a influências musicais.

Fotos e Direção de Arte: Marco Chaparro e Rafael Rocha Produção de Moda: Ana Laura Malmaceda Texto e Entrevista: Ana Laura Malmaceda Agradecimentos: Marcelo Weissbluth Frejman e Daniela Berton, Júlia Netz e Beco 203, e Tiago Gobbi.







Quanto bacon? Gorky: MUITO. SEMPRE. Philip A: AMO! Crispy Bacon! Descreva a maior gororoba que você já comeu na vida. G: Foi uma vez que inventei fazer chilli em casa, mas só sabendo que levava feijão e carne: todos os outros ingredientes acabaram na panela por achismo... P: Sloppy Joe, que é um hamburger molhado, com carne moída dentro... (risos) Vi entrevistas onde vocês falam que Fatnotronic é

Bonde do Rolê+Killer on The Dancefloor. As influências são inúmeras, vão de funk carioca a afrobeats. Como vocês conciliam, podem caracterizar o som de outra forma? G: Na base de muita briga na hora de tocar mesmo, um só sabe o que o outro vai tocar na hora que estamos com o fone no ouvindo, ouvindo um arrumando o cue point pra tocar a música... daí sempre rola uns vetos de ultima hora. P: A gente gosta misturar, da pra ouvir de tudo no nosso set. Quando vocês estão digitando, é difícil não deixar o teclado engordurado?


G: Meu problema não é nem muito com a gordura e sim com farelo de biscoito, chocolate granulado, tenho que limpar toda semana! P: Sempre tem um papel toalha do lado do meu notebook. Indigestão no palco, já rolou? G: Com o Fatnotronic não porque já vamos preparados sempre, mas com o Bonde… vááárias vezes. O povo teima em fazer a gente comer muito antes do show, daí acaba virando freak show, com a gente vomitando no palco, coisa linda de se ver! P: Nao, graças a Deus.

Ouvi uma história de hamburguer no show, expliquem isso pra gente. G: Então, todas as nossas apresentações no Bar Secreto são especiais, sempre temos uma hora lá que a gente pega duas bandejonas de hamburgeres e distribuímos pro pessoal, tem doces e balas espalhados por todo o lugar, tudo pro povo beber mais e ficar no grau certo. P: Em São Paulo temos a nossa residência no Secreto, que tem o melhor hamburguer do mundo. Então, na hora que a gente entra pra tocar rola uns na pista... é demais tocar comendo um hamburguinho!


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vizupreza

_por lidy araújo lidyaraujo. c om. b r

CUTUCA OU NÃO CUTUCA_

T-SHIRT QUERIDINHA_

PLANTA NO PESCOÇO_

A marca alemã Paper Design é especializada no desenvolvimento de estampas. Uma delas é esta, cheia de alfinetes, que foi aplicada num rolo de papel higiênico. Com 27 metros, é perfeito para fazer graça com as visitas.

As camisetas da Wildfox Couture já desfilam por aí nos corpinhos de Jennifer Lopez, Beyoncé, Gwen Stefani e Victoria Beckham. É que elas amam as estampas divertidas da marca, como esta com um coração acorrentado.

Não é a coisa mais comum do mundo, mas o designer italiano Hafsteinn Juliusson nem liga para isso. Tanto que criou um pingente com uma planta de verdade, que vive até um ano, se regada direitinho. A coleção tem anéis também.

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Preço: US$ 73 em wildfoxcouture.com

Preço: US$ 189 em gnr8.biz

PESO DE OURO_

DÉCOR POP_

MãO LIVRE_

Não basta ser iPad, tem que ter 22 quilates: o brinquedinho possui dois quilos de ouro e uma maçã coberta por diamantes. Chique e para poucos: existem somente 10 unidades disponíveis para venda, em ouro branco ou amarelo.

Quem curte decorar as paredes com pôsteres pira na All Posters, que apresenta uma infinidade de opções. Os temas são inúmeros e diversos, como moda, arte e cinema. De lançamentos a clássicos, como este do Laranja Mecânica.

O traço livre do carioca Filipe Jardim ilustra a nova linha da Converse. Os seis modelos de tênis possuem estampa minimalista, com aparência de canetinha, que parece ter saído diretamente de um caderno de desenhos.

Preço: £ 130 mil em stuarthughes.com

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estampa

do mĂŞs Marca: Vulgo

Onde Encontrar: vulgo.com.br

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nagulha.com.br


A Nova Música Brasileira

Galeria do Rock, loja 302 Rua 24 de Maio, 62 – República, São Paulo fdediscos@gmail.com


_FOTO luise malmaceda | flickr. c om/lu_malmaceda

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reviews

_E aí, quer ver sua foto publicada nesta seção? Mande um email com uma foto em alta resolução (300dpi) que represente a sua visão da música para FOTO@NOIZE.COM.BR


the black keys

THE DEAD WEATHER

Brothers

Dan Auerbach e Patrick Carney são dois caras que sabem usar as ferramentas que possuem. A dupla, que constitui o Black Keys, esbanja criatividade e competência. Com produção da banda, junto ao guru indie Danger Mouse, o novo disco—Brothers—segue a linha já clássica do duo. Ao unir baladas de pegada blues com rocks quase whitestripeanos, a banda aposta nos vocais marcantes de Auerbach. A bateria também é elemento principal na composição do som do disco, já que os pratos e a levada meio jazz, meio garage são praticamente 100% da “cozinha” da banda. Barulhinhos de teclados ou guitarras-base dão a ambiência. Grande disco, de uma ótima banda. Brothers—assim como grande parte do que a dupla faz—merece respeito. Gustavo Foster

Sea of Cowards

O Dead Weather se encontrou. Quando White, Alison, Fertita e Lawrence resolveram se embrenhar no pântano que era a sonoridade da banda nova, arriscaram. Em Horehound, pareciam—mesmo que confiantes—um pouco sufocados pela sonoridade densa que escolheram. Porém, no segundo disco, o objetivo inicial parece ter sido alcançado com extremo sucesso. Os riffs violentos são encaixados de forma perfeita com os vocais raivosos de Jack White e - principalmente—de Alison Mosshart. Tudo em Sea of Cowards é cru pela autenticidade, mas refinado pela qualidade. O ambiente do disco é tenso, mas essa tensão, por vezes, se transforma em ânsia por diversão. E é isso que faz de Sea of Cowards um grande disco. Gustavo Foster

STONE TEMPLE PILOTS Stone Temple Pilots

O que a saudade não faz, certo? O Stone Temple Pilots voltou depois de nove anos de separação, trabalhos solos, internações e escândalos de seu vocalista (ex-)adicto Scott Weiland. O sexto álbum, disco homônimo que traz 13 faixas inéditas, deve também ser o melhor de sua carreira. Deixou aquela bobagem de grunge para trás, trouxe um pouco da psicodelia de Tiny Music, de 1996, e das melodias boas e guitarras pesadas de Purple (1994) e Core (1992). Stone Temple Pilots, o disco, resgata velhas influências e incorpora algumas novidades, como a bossa “Samba Nova” (faixa bônus) e as ótimas “Dare If You Dare” (puro David Bowie) e “Cinnamon” (com ecos de New Order). Nada como a harmonia entre os músicos para matar a saudade de tocar junto. E nada como essa harmonia resvalar para matar a saudade dos fãs também. Marcelo Damaso

NAS & DAMIAN MARLEY Distant Relatives

Mesmo que não satisfaça toda a expectativa criada, graças a faixas fora de contexto como “In His Own Words” e “Count Your Blessings”, Distant Relatives é um ótimo disco. Nem rap, nem dancehall, a produção de Damian Marley consegue pinçar o melhor de cada um e criar algo novo, graças à gravação orgânica. Enquanto o filho de Bob possui as frases simples e a herança harmônica do pai, Nas soma com seu poder lírico afiadíssimo e a levada poderosa. As letras mostram o caráter “ativista” do álbum, abordando os problemas da África e valorizando suas raízes no continente. Com coral infantil e participação de Joss Stone e Lil Wayne, “My Generation” é boa, mas brilham mesmo as pesos pesado “Dispear”, “Strong Will Continue” e “Nah Mean”. Bruno Felin

GUIZADO Calavera

Guizado está comportado. Enquadrou todo discurso e audácia sonora ímpar em um modelo já usado por bandas e artistas de sua geração; ficou colorido, festeiro e palatável. Assim é Calavera, seu segundo disco e total oposto da estreia com Punx. Desta vez ele entrou em uma uniformidade sonora maçante, com letras pouco criativas e desfecho previsível. Mesmo assim é um álbum bem acima da média nacional, mas não faz jus ao potencial do músico. Lá estão Regis Damasceno, Rian Batista, Curumim, Karina Buhr e Céu. Além do próprio Guizado cantando, como já havia rascunhado nos shows. Destaque para o duelo de mariachis nas ladeiras de Olinda em “A Emanação dos Sonhos” e o final apoteótico-Punx-style com “Wow”. Ecos do bom e velho Guizado. Guga Azevedo

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New Pornographers Together

Escute também: AUTOMATIC, STONEd & DETHrONED E BARBED WIRE KISSES.

De todos os subgêneros do rock, as bandas de powerpop são as mais fáceis de se subestimar por “tocarem sempre a mesma música”. Mas quando a banda em questão tenta mudar, como fizeram os canadenses do New Pornographers em Challengers, as críticas aparecem por motivos opostos. A rigor, os New Pornographers nunca fizeram um disco ruim e Together não é muito diferente. Ainda que passe longe do brilhantismo de Twin Cinema e Mass Romantic, a banda mostra competência ao evoluir sobre os experimentos harmônicos do disco anterior, ao mesmo tempo em que retoma as guitarras dos primeiros álbuns. Quem já é fã, vai abrir sorriso com os singles “Your Hands (Together)” e “The Crash Years”, enquanto os neófitos terão uma boa introdução ao mundo porno. Livio Vilela

DiscografiaBásica

OS REPLICANTES Os Replicantes 2010

Os Replicantes são uma das poucas bandas na ativa há tanto tempo que seguem fazendo um som fiel às suas raízes—sem experimentalismos, bem como o punk de verdade deve ser feito. Mesmo não agradando aos saudosistas—desde a entrada da vocalista Julia Barth no lugar de Wander Wildner, muitos torcem o nariz—, o punk rock segue ali. É o mesmo, só que com outra voz, uma quase adolescente, mas com letras maduras. Destaques ficam para as composições “Hey Baby”, com um clima bem cadenciado e vocais que lembram a década de 1980; “‘Terrorismo Sem Bomba” com um timbre de guitarra bem característico; “Maria Lacerda” com refrão grudendo; e “De Sul a Norte”, que com certeza vai abrir muita roda punk por aí. Ricardo Finocchiaro

JESUS & MARY CHAIN

por Marcelo Damaso

PSYCHOCANDY | Tudo começou aqui, quando dois irmãos tímidos e fãs de Love e Beach Boys

resolveram ter uma banda de rock. Jim assumiu o vocal e Willian Reid ficou na guitarra, por mais que tudo o que soubesse fazer fossem os quadrados acordes do pop, só que com uma distorção carregada. E completavam a banda o baixista Douglas Hart e o baterista Bob Gillespie— que depois trocou as baquetas pelo microfone do Primal Scream. Nesse clima nasceu o Psychocandy (1985), até hoje um de seus discos mais clássicos, conhecido pela barulheira provocada por efeitos de pedais e amplificadores (há quem diga que um amplificador quebrado com um som ainda mais distorcido foi o responsável pelo grande sucesso da banda em um de seus primeiros shows), aliados ao vocal e melodia doces das composições dos irmãos Reid. DARKLANDS | Em 1985, quando surgiu o Jesus and Mary Chain no Reino Unido, a imprensa

musical se dividiu em duas. Uma parte achou que a banda era um lixo e aquela barulheira toda não acrescentava nada demais ao rock da época. A outra parte não poupou jargões do tipo “a salvação do rock ‘n’ roll”. O fato é que Darklands (1987), segundo álbum da banda, provou que eles não eram apenas uma banda de ruídos ensurdecedores e transgressora do pop oitentista. Eles também soariam pop quando quisessem, um pop limpo, mas ainda sombrio, com músicas como “On the wall”, “April skies” e “Darklands”—não que não pudessem ser felizes como em “Happy when it rains”. Se faltava algum respeito ao Jesus and Mary Chain, ele veio com Darklands. MUNKI | Se dividir um quarto é difícil para dois irmãos, imagine para uma banda cultuada por

público e crítica. Em 1999 o Jesus and Mary Chain anunciou seu fim. Mas antes disso ainda deu ao mundo Automatic (1989), Honey’s dead (1992), The sound of speed (1993), Stoned & Dethroned (1994) e as coletâneas de b-sides Barbed wire kisses (1988) e Hate rock ‘n’ roll (1995). A banda encerrou suas atividades mesmo com Munki, de 1998, que foi onde os Reid recorreram a toda sua carreira com a produção de Alan Moulder, participações de Hope Sandoval (do Mazzy Star, que havia sido namorada de Willian) e Sister Vanilla, irmã mais nova dos dois. E estava tudo lá, as distorções louconas, as melodias bonitas, as baladas sombrias e declarações dualistas como a faixa “I love rock ‘n’ roll”, que abre o disco, e “I hate rock ‘n’roll”, que o fecha.


FOALS

Total Life Forever

Como um Foals amadurecido canta em seu mais recente trabalho, “o futuro não é como costumava ser”. Em Total Life Forever, existe espaço para que a ousadia de uma sonoridade tão contemporânea seja assimilada, o que não exclui a psicodelia e o experimentalismo. É possivel se sentir em um mundo de ficção cientifica, onde chiados e dedilhados sintéticos são confundidos com barulhos do fundo do oceano. Se por um lado é fácil sentir falta de músicas mais dançantes, por outro, são as lentas as que mais cativam, como adiantou o single “Spanish Sahara” e a efêmera “Fugue”. Ainda assim, recomendase ouvir com moderação. Os extremos, que começam no título e perduram por todas as faixas, podem enjoar quando estão no repeat. Maria Joana Avellar

VALENTINOS Avante

Após ter boa repercussão no underground porto-alegrense em 2009, os Valentinos fazem sua estreia discográfica com produção caprichada e canções que grudam na cabeça. Avante, lançado pela Beco 203 Discos, tem 11 canções assumidamente inspiradas no rock britânico, especialmente no dos anos 90. A maior influência, sem dúvida, é o Oasis. Às vezes, chega-se a pensar que Liam Gallagher aprendeu a cantar em português, tal a semelhança com o timbre e até a entonação de Jonts Ferreira. A faixa de abertura, “Mais que Nunca”, tem melodia marcante, mas é nas cadenciadas “Tardes frias” e “Verão” que os gaúchos conseguem fugir um pouco das comparações com o extinto quarteto de Manchester. Daniel Sanes

KEANE Night Train

Esqueça a imagem de banda-preferida-dos-seriados-americanos. Com mudanças tão drásticas quanto sem sentido, o Keane acaba de entrar para o grupo de bandas que querem mostrar algo completamente novo a qualquer custo. No caso de Night Train, o resultado é a perda total de identidade. Se antes o grupo britânico era conhecido pela fundamentação no piano ao invés de guitarra, além da voz inconfundível de Tom Chaplin, agora o que temos é um emaranhado de experimentações desastrosas que estão longe da sonoridade pop impecável de “Under the Iron Sea”. Da parceria com a artista asiática Tigarah, em “I-Shin Den-Shin”, ao duo com o rapper K’naan, em “Stop For a Minute” e “Looking Back”, a tentativa de reinvenção é tão explícita que se torna vergonhosa. Ana Malmaceda

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ta por vir .: Agosto de 2010_Cérebro Eletrônico | Deus e o Diabo no Liquidificador O vocalista Tatá Aeroplano avisou: “A produção quem assina é Alfredo Bello, que também produziu Pareço Moderno. Ficamos muito satisfeitos com as canções e os arranjos, aos pocos vamos colocar coisas novas do álbum no cerebroeletronico.com. O lançamento previsto é pra agosto—‘deus e o diabo no mês do cachorro louco’ ... Sai de baixo!”

confira Mini Box Lunar S/T EP ___O som incomum—considerando-se que a banda vem do Acre—parece a jovem guarda depois de lamber um sapo alucinógeno na floresta, somado a ritmos caribenhos, melodias do rock inglês sessentista e, claro, a chave do sucesso: tudo bem arranjado, com um vocal feminino querido.

Band of Horses Infinite Arms ___O terceiro disco dos caras de Seattle atingiu a melhor posição dos caras nos charts britânicos. Em stream.bandofhorses.com dá para ouvir o disco em um player que passa bem o clima de isolamento em que Ben Bridwell compôs boa parte do disco.

Crystal Castles S/T ___O novo disco do duo canadense mostra o aprofundamento da banda no próprio som. Cada vez mais ruidoso e menos abrangente, a sonoridade da banda é inegavelmente nova.Você pode achar revolucionário ou intolerável. Escute “Year of Silence”, que tem os vocais de Jónsi, do Sigur Rós.

redescoberta CAMEL

MIRAGE (1974)

Se existe alguém que ainda comete a bobagem de descartar o rock progressivo sem ao menos ouvir, Mirage é essencial. Belo cartão de visitas para descobrir que o gênero é um baú de momentos célebres.Tem tudo o que pede a cartilha prog—temas de longa duração, andamentos variados, excelência instrumental—, mas também o que às vezes falta: ótimas canções. “Freefall”, “Supertwister” e “Lady Fantasy” confirmam o encontro entre a simplicidade e a sofisticação, marca registrada do Camel. No disco, quem toma as rédeas é Andrew Latimer. Ele é o dono das melodias; das passagens viajantes de flauta aos solos de guitarra que ganharam culto ao longo dos tempos. Um dos discretos homens brilhantes da música britânica. Leonardo Bomfim


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cinema HOMEM DE FERRO 2

Diretor_ Jon Favreau Elenco_Robert Downey Jr, Mickey Rourke, Gwyneth Paltrow, Scarlett Johansson e Don Cheadle. Lançamento_ 2010

Como toda continuação de um blockbuster de sucesso, Homem de Ferro 2 aposta na fórmula do “mais”: tudo aquilo que funcionou no primeiro filme, aqui é aumentado. E no caso, o que mais ganha espaço não é nem mesmo o herói em si, mas a persona carismática de Robert Downey Jr., que caminha a passos largos para se tornar o novo Johnny Depp no papel de superstar fanfarrão do qual se espera tudo, menos o convencional. É graças a a ele que o personagem de Tony Stark se posiciona no imaginário masculino como uma versão rock’n’roll de James Bond: o sujeito que, além de milionário, piloto de seu próprio carro de Formula 1, freqüentador das melhores festas e dono dos

melhores gadgets, ainda é o centro das atenções de uma Scarlet Johansson ou uma Gwyneth Paltrow. Na trama, Tony Stark, ao mesmo tempo em que busca evitar que o governo americano confisque sua armadura, descobre que o equipamento que o mantém vivo também o está envenando. Somada à essa dificuldade, surge o milionário rival Justin Hammer (Sam Rockwell), espécie de Bill Gates ressentido com o sucesso do rival, que se alia a um rancoroso cientista russo (Mickey Rourke). Do elenco estelar ao ritmo rápido, o filme traz um alívio de diversão genuína e sincera em meio à temporada de superproduções insossas. Samir Machado

ROBIN HOOD

Diretor_ Ridley Scott Elenco_ Russel Crowe, Cate Blanchett, Max von Sidow e Mark Strong Lançamento_ 2010

Muito tédio desse novo Robin Hood. Se tem algo que se pode dizer do diretor Ridley Scott é que sempre manteve um olhar interessado pelos detalhes que compõem o mundo de seus personagens, mas aqui tanto ele quanto Russel Crowe parecem meio cansados e sem vontade, sem a intenção de trazer algo novo para um gênero que, de Coração Valente à Cruzada e Gladiador, já apresentou todo tipo de imagem marcante. O roteiro, seguindo a linha dos recentes reboots de franquias, mostra o personagem antes de se tornar a lenda, e nesse processo de “Robin Hood Begins” ficase com a impressão de que se buscou o mais burocrático roteiro genérico de filme de batalhas medievais, com

um apego desnecessário a todas as convenções do gênero, e que apenas ocasionalmente se batizou o filme de Robin Hood–o personagem quase não usa um arco e uma flecha ao longo do filme. Mesmo elementos clássicos da história, como o xerife de Nottingham, são deixados em segundo plano em prol de um vilão clichê (Mark Strong). Quando se chega ao ponto de se sentir saudades daquele senso de diversão leve de Kevin Costner atirando flechas ao som da música de Brian Adams no começo dos 90’s, o espectador sabe que algo nesse filme seguiu no sentido oposto do esperado. E convenhamos que chega de colocar espada e armadura nas mãos da Cate Blanchett, correto? Samir Machado


cinema

livros

CADILLAC RECORDS

WILD STYLE

Afluentes do Rio Silencioso de Hervé Bourhis (2010)

Cadillac Records é aquele tipo de filme biográfico que proporciona uma imersão com leveza no universo descrito. No caso, a Chess Records, gravadora fundamental para a música negra americana nas décadas de 1940, 50 e 60. Conseguir passar o sentimento da época em que artistas e figuras icônicas como Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Chuck Berry, Willie Dixon e Etta James produziam as músicas que gerariam todas as outras é o objetivo e mérito do longa. Com as melodias de uma era, o filme costura cenas incríveis, como a em que Muddy Waters conhece uma banda com nome inspirado em uma música sua, “Rolling Stone”, com clichê do narrador-personagem, tudo por meio de clássicos do R&B, rock’n’roll e blues. Ana Laura Malmaceda

Filmado em 1982, Wild Style conseguiu capturar o movimento hip hop em sua fase mais vibrante e inocente, quando o dinheiro ainda estava em segundo plano. Mesmo que o filme de Charlie Ahearn seja um drama (simples), os atores cumprem papéis que representam sua vida real. O personagem principal, Zoro, por exemplo, foi feito por “Lee” George Quinones, lendário grafiteiro. Pioneiros do hip hop como Fab Five Freddy (grafiteiro, ativista e depois apresentador do YO! MTV), Grand Master Flash (DJ criador do scratch), Busy Bee (MC) e a Rock Steady Crew (incluindo Crazy Legs) foram capturados fazendo o que sabiam, em registros históricos. Documento clássico de uma geração que mudou o rumo das coisas. Bruno Felin

A certa altura de Afluentes do Rio Silencioso, terceiro romance do cultuado escritor americano John Wray, o protagonista Will Heller lembra de uma história contada pelo avô de que um rio, chamado pelos indígenas de Silencioso, dividiria Manhattan ao meio. Conhecido como Lowboy,Will, garoto esquizofrênico de 16 anos que fugiu da clínica em que estava internado, perambula pelos túneis do metrô da cidade, despistando a mãe, a polícia e o detetive responsável por encontrálo. O rio silencioso é apenas um dos elementos do imaginário que guia o jovem pelo subterrâneo, por onde anda sem rumo à espera do fim do mundo, que acredita estar próximo. Narrando em terceira pessoa,Wray consegue com maestria transportar o leitor à mente perturbada de Lowboy sem torná-lo ininteligível e, ao dividir a história em dois núcleos, não tornar massivos os devaneios do personagem principal. Lucca Rossi

de Darnell Martin (2008)

de Charlie Ahearn (1982)

Redescoberta CUPIDO NÃO TEM BANDEIRA (1961) A Guerra Fria foi pano de fundo para um incontável número de filmes. Poucos tão geniais quanto esta obra menos badalada de Billy Wilder. Tudo se passa em Berlim, mesmo palco que rendeu em A Mundana, treze anos antes, a sátira aguda do encontro entre a Alemanha destruída e o “ombro amigo” dos Estados Unidos. Aqui, o alvo é a nação dividida pelo muro. É o caso do timing cinematográfico agindo em duas frentes: primeiro, com a leitura imediata daquele momento político conturbado; segundo, o timing da comédia. A alucinante meia hora final, com James Cagney desfilando sua genialidade, tem presença certa em qualquer antologia do humor. Leonardo Bomfim

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SHOWs

fotos: 1 | Felipe Neves 2 | Pedro Brandt 3 | Michael Paz Frantzeski 4 | Felipe Neves

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CAT POWER

BANANADA

Porto Alegre, Bar Opinião, 20/05

Goiânia, 19/05 a 23/05

Ela tem aquele rosto sereno, decorado por fios de cabelo acastanhados que naturalmente se estendem até a altura da sobrancelha. As costas da mão esquerda apoiada sobre o cóccix, como quem levemente induz a curvatura da coluna, ressalta a beleza de uma silhueta madura, por onde algumas mãos já passaram, e muitas outras anseiam a oportunidade do afago. Sem menção à voz, que desculpem os outros seres humanos, não brota das cordas vocais como a de qualquer outro, mas sim de algum canto entre as profundezas do coração e o lado mais doce da alma. E foi com tudo isso que ela tentou nos convencer de que sofre por amores não correspondidos. Ah, conta outra, Chan Marshall. Não adiantou a voz de veludo e os trejeitos encantadores. Nem trazer o que de melhor toca na sua Jukebox. Cat Power voltou a Porto Alegre mais minimalista e fingida do que nunca. Entoou sua sequência de falsidades ao longo de duas horas sobre o palco, atingindo o ápice com os delírios “Woman Left Lonely”, “She’s Got You” e “Lost Someone”. Não venha com lorotas. Nós não nascemos ontem, Cat Power, e não nos rendemos às suas lamúrias mentirosas. Bebemos bastante e rimos alto, como protesto à dissimulação. Não vimos beleza nos seus devaneios melancólicos. Não contemplamos a delicadeza dos ruídos únicos emitidos entre o fim e o início de cada palavra, porque somos seres humanos, daqueles com cordas vocais, e com elas enforcamos a sua farsa sobre o palco. Diego de Carli

Há alguns anos, o Bananada virou um evento voltado, principalmente, para bandas novatas de todo o país. Leonardo Razuk, diretor de marketing da Monstro Discos e um dos organizadores do Bananada, define o evento como um festival de apostas: “As bandas que passam pelo Bananada podem ser os próximos grandes nomes do rock brasileiro.”
Se alguma das 45 atrações que tocou em Goiânia fará sucesso já é outra história. Mas não será nada estranho encontrar muitas delas em outros festivais nacionais.
Sexta e sábado, os teatros Pyguá e Yguá, no centro Cultuiral Martim Cererê, receberam o grosso da programação (15 bandas por dia) da 12º edição do Bananada. Coincidência ou não, os destaques do festival foram bandas instrumentais. Interessante notar que essa nova não se prende aos gêneros com os quais geralmente se associa o som instrumental. Na sexta, isso ficou evidente nos shows da Camarones Orquestra Guitarrística (RN) e da Procura-se Quem Fez Isso (RS)—esta, com algumas inserções vocais nas músicas. Além da sonoridade (do easy listening à psicodelia), os gaúchos chamaram a atenção pelo figurino mascarado. No sábado, a Vendo 147 (BA) injetou peso na equação instrumental. O trio Caldo de Piaba (AC) mostrou que o rock com influências amazônicas, com o perdão do trocadilho, ainda dá caldo. Única atração estrangeira do Bananada, o trio chileno La Hell Gang, com um som barulhento, garageiro e espacial, merecia mais atenção da plateia. Cerca de 4 mil pessoas passaram pelo Bananda 2010. Pedro Brandt


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AEROSMITH

ZZ TOP

Porto Alegre, FIERGS, 27/05

Porto Alegre, Pepsi On Stage, 23/05

Depois de quase perder seu vocalista—novamente— para uma clínica de reabilitação, com possibilidade até da contratação de um novo frontman, a confirmação de uma nova turnê da banda pegou todos de surpresa. Mais surpresa ainda foi quando, faltando pouco mais de um mês para a vinda do Aerosmith ao Brasil, confirmou-se a apresentação em Porto Alegre. Mesmo com uma chuva chata que não deu trégua o dia inteiro, a gauchada compareceu ao estacionamento da FIERGS em algum número perto de dez mil pessoas. Entrando de cara com “Love in an Elevato”—de maneira estranha, com impressão de algo estar errado—já mostraram que o show seria recheado de hits. Mesclando bem sua fase setentista com as novas composições, a banda se mostrou ainda muito afinada e não teve medo de vir para a parte descoberta do palco, pegando chuva em quase todo o show, principalmente Steven Tyler, que praticamente ficou grudado aos fãs. Com “Mama Kin”, “Livin on the Edge”, “Sweet Emotion”, “Cryin” entre várias outras, além de um final dedicado a músicas gravadas nos anos setenta pela banda “Draw the Line”, “Walk this Way” e “Train Kept a Rollin” confirmaram o bom gosto na escolha do set list, agradando novos e antigos fãs. O som, baixo para um show deste porte, desagradou os presentes. Ao menos a qualidade estava boa—não mais que isso—, e a chuva deu uma esfriada nos ânimos, mas não nas emoções expressadas pelo público, que assistiu a tudo petrificado e emocionado. Ricardo Finocchiaro

O ZZ Top é uma banda curiosa: vendeu milhões de discos, mas você não conhece três pessoas que tenham unzinho sequer. O que é uma pena, levando em consideração a qualidade da música do trio texano. Pois se alguém em Porto Alegre ignorava a existência do grupo, o show do mês passado foi mais do que um belo cartão de visita. Já na abertura, “Got me Under Pressure”, deu para ver que os caras não brincam em serviço. Alguns problemas técnicos prejudicaram o início do show, mas a situação logo se normalizou e a banda mostrou a que veio. Entre clássicos como “Cheap Sunglasses” e “Just Got Paid”, houve espaço para homenagear Jimi Hendrix, com “Hey Joe”. O visual dos barbudos Billy Gibbons (guitarra) e Dusty Hill (baixo) é um show à parte—o batera Frank Beard, com cara de ator de seriado dos anos 80, chega a ser um exemplo de discrição. O dono do palco, sem dúvida, é Gibbons, que ainda responde pelos vocais na maioria das músicas. Carismático, ele provocou muitas risadas ao protagonizar um diálogo hilário—em português—com uma assistente e ganhou definitivamente o público ao mostrar, nas costas da guitarra, uma inscrição onde se lia “cerveja”. A mistura de blues pesado e sintetizadores do ZZ Top foi bem resumida em duas sequências de hits no final: “Gimme All Your Lovin’, “Sharp Dressed Man” e “Legs”, e, já no bis, “Viva Las Vegas” (imortalizada por Elvis), “La Grange” e “Tush”. Um grande show, mesmo que com 40 anos de atraso. Daniel Sanes


072\\

SHOWs

fotos: 5 | Priscilla Vilariño / FFW 6 | Victor Sá

5

6

WE HAVE BAND

MUDHONEY

São Paulo, Hot Hot, 25/04

São Paulo, Clash Club, 21/05

O buzz britânico de 2009, We Have Band, tocou na ultima terça-feira na casa paulistana Hot Hot para menos de dois terços da pista (incrível) da casa—muito provavelmente pelo inicio pouco depois das duas da manha num dia de semana. Alheios ao cenário, Darren Bancroft, Dede W-P e o marido Thomas W-P abriram com o hit “Divisive” do álbum de estreia Honeytrap. Nao precisava mais que isso para que ganhassem os presentes. Cantando e dançando junto, o que se viu foi uma private party até o fim da noite. Durante todo o show, o trio se alterna nos vocais num clima meio Hot Chip. Na sequência tocaram “Heart in the Cans” e “How to make friends”. As caixas de som nao seguraram bem as fortes linhas de baixo de “Love, what you doin’”, música com sabor de New Order e irresistível ao vivo. Depois de “Buffet”, com Dede em seu momento Nico, Darren anuncia: “se voces quiserem dançar, essa é a hora”. E lá veio “We came out”. “WHB”, “Centerfolds & empty screens”, “Hero knows” e “Oh!”—trazendo o público para, mais perto, cantar junto— foram as próximas. Ainda deu tempo para a faixa título “Honeytrap”, e terminaram já taaaarde com “Time after time”. A banda é uma simpatia só, o show é uma delicia, o set teve todas as musicas que alguem podia querer e mesmo com o som meio duvidoso nessa noite o Hot Hot ainda é um dos lugares mais legais de Sao Paulo pra show de pequeno porte. Mas mesmo assim ficou uma sensacao de que faltou algo no final. Obvio que foi o publico. @HenriqueSauer

Camisas de flanela, cabelos ensebados, calças rasgadas. A casa noturna paulistana Clash Club recebeu uma típica noite grunge. Em sua quarta passagem por solo nacional, a banda norte-americana Mudhoney provou que o movimento nascido em Seattle pode sobreviver à maturidade. O grupo, que comemorava 20 anos de existência, encarou um público, em muitos casos, mais jovem do que isso. Apesar da idade, a performance dos quarentões continua de tirar o fôlego e o show foi digno dos áureos tempos da cena de Seatle, com violentos moshs e muito bate-cabeça. Bem-humorado, Mark Arm (vocal, guitarra) conversou com a plateia em diversos momentos, e mostrou jogo de cintura quando um cara derrubou seu microfone, “Thank you all, except for the last guy”. Os hinos “Touch Me I’m Sick” e “Suck You Dry” foram os pontos altos, deixando a plateia enlouquecida. E as músicas do último trabalho The Lucky Ones, de 2008, foram bem recebidas, mas não chegaram a empolgar. Pontual, a banda de abertura,Vespas Mandarinas, tocou para uma desatenta platéia que ainda entrava na casa e não chamou atenção. Em seu primeiro show, a banda do ex-Forgotten Boy, Chuck Hipolitho estava bastante emocionada. “Abrir para o Mudhoney é...abrir para o Mudhoney!”, resumiu o vocalista. Contrariando um dos precursores do movimento, Kurt Cobain— que chegou a afirmar “grunge is dead”—os tiozões do Mudhoney parecem ter vitalidade para mais duas décadas de muito barulho. Victor Sá


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6ª ÃO IÇ ED

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SÃO PAULO SP 16 e 17 OUTUBRO 2010 LOCAL: FECOMERCIO + EXPOSIÇÕES + FEIRA + PRÊMIOS + BRINDES + PALESTRAS + PAINEL DE ILUSTRAÇÃO & GRAFFITI + FESTIVAL DE MOTION

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ABRA. DESTAQUE. E COLE NA PAREDE.

Sao paulo junho 2010









_ilustra FERNANDO TORELLY flickr.com/photos/don_torelly/

jammin’



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Qualquer coisa Bia Campelo

DENGUE DA NAÇÃO ZUMBI FALA SOBRE... __A VOLTA DOS QUE NUNCA FORAM | Gente amiga e

bonita! Hoje escreverei sobre um assunto muito relevante, mas pouco explorado: os casos das pessoas que não morrem nunca, nunquinha. Sempre pensei e divaguei tendo em vista esta questão: para onde foram todos estes seres que, dizem por aí, morreram? Qual o paradeiro de Elvis? Bob Marley?Tancredo Neves? John Lenon? Ayrton Senna? E, recentemente, Michael Jackson? Dentre outros tantos de igual importância? Sinceramente tenho a certeza e afirmo com veemência: eles estão todos vivinhos da silva! Vou exemplificar. Tâncredo Neves passou por mim e minha esposa na semana passada dirigindo um táxi aqui na cidade de São Paulo.

John Bonham continua no mesmo lugar, tocando e batendo carteira no Led Zeppelin.Ayrton Senna já é rico! Eu quero é o que é meu! Assim já dizia o pai de Helder (grande amigo de amigos meus), tem uma franchising e está vendendo sorvetes “rochinha”, por sinal, deliciosos hummmm... Jimi Hendrix tem uma banca de jornal aqui na Lapa (SP) e vende bastante jornais e figurinhas da copa. Jim Morrison está na Bahia e tem uma banda que toca todo o espectro da musica baiana. Janis Joplin está no Rio de Janeiro, mais especificamente falando em Saquarema e hoje em dia é mais conhecida como Serguei. Marylin Monroe é dona de um salão de beleza lá em Fortaleza e dizem que ela arranca cada bife! Peter Sellers, aquele mesmo da “pantera cor de rosa” e “um convidado trapalhão”, tem um oficina mecânica em Campina Grande e conserta carburador como ninguém. Elvis ganha a vida como Elvis cover e canta igual a Elvis. Michael Jackson tem uma barraca de coco na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, e quem compra acima de 2 (dois) cocos ganha de grátis uma execução de qualquer um de seus sucessos. Bob Marley não faz nada a não ser fumar maconha e está com um barrigão daqueles. Mora em Olinda, no bairro de Maranguape I.AlceuValença está nos alegrando até hoje. Com a comemoração do seu centenário, Recife ferve e ele virou um boneco gigante de Olinda. Chico Xavier nunca esteve entre os vivos e está bombando com seu primeiro filme. Roy Orbinson ganha a vida como Chico Xavier cover.

Dominguinhos está no mesmo lugar assim como Jimi Page (não no Led Zeppelin) mas tocando a mesma sanfona veia do fole furado. O rei Roberto Carlos está melhor do que quando estava vivo, mas devo informar que Lady Laura morreu mesmo. Ulisses Guimarães se garantiu e abriu uma escola de mergulho no arquipélago de “abrolhos”. Agora que vocês já sabem a verdade sobre este polêmico assunto podem me ajudar procurando e identificando pessoas antes dadas como ”mortas”. Lembrem-se que a grande mídia jamais publicará algo sobre o tema, mas nós (povo brasileiro) podemos ajudar muito nesses casos “perdidos”. Bom, entre mortos e feridos, estamos todos vivos! Beijos em todos. Dengue das olinda.


STUDIO KING55

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