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chuck taylor all star brit
• COLABORADORES |NOIZE #35
DO UNDERGROUND AO MAINSTREAM
• EXPEDIENTE #35 // ANO 4 // JULHO ‘10_ DIREÇÃO: Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha
Ana Laura Malmaceda ana@noize.com.br Gustavo Foster foster@noize.com.br Maria Joana Avellar joana@noize.com.br
COMERCIAL: Pablo Rocha pablo@noize.com.br
REVISÃO: João Fedele de Azeredo jp@noize.com.br Fernanda Grabauska fernanda@noize.com.br
EDIÇÃO: Fernando Corrêa nando@noize.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha rafarocha@noize.com.br DESIGN: Douglas Gomes doug@noize.com.br ASSIST. DE CRIAÇÃO: Cristiano Teixeira cris@noize.com.br REDAÇÃO: Bruno Felin bruno@noize.com.br
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Júlia Alves julia@noize.com.br DISTRIBUIÇÃO: Marcos Schneider marcos@noize.com.br PROJETOS: Leandro Pinheiro leandro@noize.com.br SCREAM & YELL: Marcelo Costa www.screamyell.com.br
MOVE THAT JUKEBOX: Alex Correa Neto Rodrigues www.movethatjukebox.com RRAURL: Gaía Passarelli www.rraurl.com FORA DO EIXO: Ney Hugo Camila Cortielha Marco Nalesso Michele Parron www.foradoeixo.org ANUNCIE NA NOIZE: comercial@noize.com.br ASSINE A NOIZE: assinatura@noize.com.br
PONTOS: Faculdades Colégios Cursinhos Estúdios Lojas de Instrumentos Lojas de CDs Lojas de Roupas Lojas Alternativas Agências de Viagens Escolas de Música Escolas de Idiomas Bares e Casas de Show Shows, Festas e Feiras Festivais Independentes TIRAGEM: 30.000 exemplares CIRCULAÇÃO NACIONAL
AGENDA: shows, festas e eventos agenda@noize.com.br ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados
• EDITORIAL | Co-Incidências. A casualidade é rainha na edição em que agora estamos. São o Girls, o Planet Hemp e o Thiago Pethit que a coroam. Cada um deles contribui para essa inexplicável tendência à unidade que parece guiar o universo—sempre com sua dose de confusão. Então a NOIZE #35 chega mais perto do Girls, do Planet Hemp e de Pethit apenas para mostrar que a aparente unidade é só uma feliz coincidência. De longe, muitas fotos em preto e branco—do teatral Pethit devidamente produzido, dos californianos Girls, cansados, em um exíguo camarim. De perto, o paulista perdendo e achando a si mesmo em sua caminhada por entre o teatro e a música; e os Girls Chris Owens e JR revelando como anda o repé do considerável hype em torno de Album, seu primeiro disco, de 2009. E falando em repé, o Planet Hemp bem que poderia ter deixado um maior com seu polêmico Usuário, álbum seminal que completa 15 aniversários com uma super matéria na NOIZE. Fomos atrás de boa parte da gente envolvida na gravação e repercussão deste clássico controvertido, e cavamos fotografias raríssimas daquele tempo bom que não volta mais.
• ARTE DE CAPA_ SAMUEL CASAL Confira no site noize.com.br uma entrevista com o artista. samuelcasal.com
• BÉÉÉÉ_ O site do Pigmaleão Estúdio, que desenhou a capa da edição passada, é: pigmaleaoestudio.com.br/ Dicas, sugestões e reclamações: noize@noize.com.br
1. Samuel Casal_ Quadrinista e gravurista, ganhador de diversos prêmios, colabora com publicações nacionais e internacionais, enquanto toca guitarra e procura coisas para pintar com spray. 2. Gaía Passarelli_ Jornalista, confunde-se com a própria história do rraurl.com, maior portal sobre cultura eletrônica do Brasil. 3. Bruno Kurru_ YATA-VÃK-KÃYA-MÃNASAH. brunokurru.com 4.Victor Sá_ Formado em comunicação social, trabalha como jornalista, roteirista e fotógrafo em diferentes mídias sociais. flickr.com/victor_sa 5. Fernando Schlaepfer_ Designer por formação, ilustrador por aptidão, D.J. por diversão e fotógrafo por paixão. 6. Marcelo Costa_ Editor do screamyell.com.br, trabalha na edição da capa do portal iG e escreve sobre cultura pop como conversa na mesa do bar. 7. Marco Chaparro_ theblackeyeddog.tumblr.com 8. Denison Fagundes_ O mar virou sertão! O sertão virou mar! flickr.com/denisonfagundes 9. Guga Azevedo_ Jornalista e discotecário Curitibano na linha de bamba. Mantém o blog subtropicalia.wordpress.com e produções pela Lumen FM. 10. Carlos Guimarães_ Jornalista. Apresenta o programa Sub Pop na Ipanema FM, de Porto Alegre. twitter.com/csguimaraes 11. Samir Machado_ Designer, escritor e um dos editores da Não Editora. www.naoeditora.com.br 12. Eduardo Guspe_ Membro fundador do Núcleo Urbanóide, ultimamente se dedica a produzir DONUTS. facebook.com/eduardo.guspe 13. Paulo Floro_ Jornalista no Recife. É editor da Revista O Grito!, especializada em cultura pop e música independente www. revistaogrito.com. 14. Leonardo Dias Pereira_ Editor-fundador da revista eletrônica Urbanaque, assina a coluna “Ouça Também” na revista Rolling Stone Brasil. 15. Livio Vilela_ Mezzo jornalista, mezzo funcionário de gravadora, Livio Vilela comanda o www.bloodypop.com, onde exerce aquilo que faz por inteiro: gostar de música desesperadamente. 16. Felipe Neves_ Fotógrafo. www.flickr.com/felipeneves 17. Gustavo Corrêa_ Jornalista e estudante de direito, tem um gosto musical crescentemente duvidoso. 18. Neto Rodrigues_ Morador de Minas há incontáveis anos, quase foi um engenheiro. Hoje ronda a publicidade e torce pela volta do Oasis. 19. Alex Correa_ Carioca, mas gosta mesmo é de São Paulo e acredita na genialidade do Kasabian até o fim. 20. Lucca Rossi_ Recém-formado jornalista que implica com tendências e não entende porque uns são hype e outros, cool. twitter.com/lucca_rossi 21. Lidy Araujo_ Jornalista, baixista frustrada e louca por Ramones e Red Hot Chili Peppers. Seu site é lidyaraujo.com.br 22. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema, edita o freakiumemeio.wordpress.com Gustavo Lacerda_ Estudante de jornalismo em trânsito prolongado pela Europa.
Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados
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• THIS IS NOIZE SUPERSTYLLIN’! Se Você Não Gostou da NOIZE Passe Adiante
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NOIZE
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35
_foto: Denison Fagundes | flickr.com/denisonfagundes
life is music
NOME_ MZK PROFISSÃO_ Artista, ilustrador e DJ UM DISCO_ Beastie Boys | Check Your Head
“Eu acredito que a música influencia não só a mim, mas à maioria dos artistas. No meu caso, também sou influenciado pelo universo das capas. Como exemplo eu cito capas estilo Exótica (gênero musical), que transportaram meus desenhos da cidade suja diretamente para a Polinésia. Música está sempre na cabeça, mesmo sem ouvir você acaba pensando. Eu acordo e logo uma música gruda na mente. Comecei a ouvir pequeno, naturalmente, é como estar vivo—quando me dei conta já estava rolando.”
LEIA ISTO “A música é uma mentira. A arte é uma mentira. Você precisa contar uma mentira tão maravilhosa que seus fãs a tornem verdade.” Lady Gaga
si | jogador argentino, que afirmou querer ressucitar o Oasis para tocar na festa da vitória, caso sua seleção vencesse a Copa do Mundo. Não foi dessa vez.
“Carlitos me falava sobre o quão bons eles eram e, no avião para a África, ouvi os dois primeiros discos do Oasis. Eles são absolutamente incríveis, com músicas excelentes.” Mes-
“Quando a indústria [da música] morrer não será uma grande perda para o mundo. Então eu aconselho, não se amarre a este navio naufragante, porque, acredite, ele está afundando.” Thom Yorke | Radiohead, depois de 12 anos de EMI.
antes de ser assassinado.
Morrissey
“Isso acontece comigo há anos, alguém diz para uma rádio ou um jornal que eu fui morto ou sofri um acidente. Então tenho que ligar para minha mãe, que tem problemas cardíacos, para tranquilizá-la.” El Shaka | Músico mexicano, horas
“A idade não deve afetá-lo. Você é ou maravilhoso ou um chato, independente da sua idade.”
“Eu penso que se duas pessoas se amam, então qual o problema? Acho que todo mundo deveria ter a chance de ser igualmente miserável.” Eminem | Sobre o casamento gay.
“Eu tenho o maior orgulho de Usuário porque ele foi muito sincero, e hoje em dia eu não vejo isso em lugar nenhum, parece que é uma coisa que acabou na música. Esse disco pra mim representa tudo isso, toda a vontade, todo o tesão que um adolescente pode ter em tocar, fazer música e poder mudar alguma coisa no mundo.” Rafael Crespo | Ex-Planet Hemp
Jack White | Aconselhando os jovens que desejam fazer música.
P: Qual sua melhor citação? R: Se alguma coisa fede, respire pela boca. Tame Impala
“Gosto que seja como um diário, que a música e a arte e o meu trabalho representem uma época específica da minha vida. É assim que você se mantém honesto consigo mesmo.” Flying Lotus | Revelação do eletrônico jazzy, que está nesta edição.
James Murphy | LCD Soundsystem
“Eles precisam parar de jogar videogames, jogar fora seu programa de auto-tune e arrancar três cordas de suas guitarras.”
“eu comprei Sex Pistols, Kraftwerk e Venom no mesmo dia, e pensei que fosse tudo punk. Só porque tudo era estranho. Tudo que não era Bruce Springsteen—que acabou se revelando bem mais punk do que eu pensava na época.”
_james murphy, tame impala, morrissey, eminem, flying lotus, messi
noize.com.br
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014\\
noize Mike Deal / C.C.
starts with you e os festivais em reciclagem Uma geladeira organizada ajuda a reduzir sua conta de luz. A dica tem pouco a ver com música, mas faz parte das ações que integram o Starts With You. Encarnação real do que seria o Woodstock Brasil, de que muito se falou por aqui, o SWU acontece na Fazenda Maeda, em Itu, a 70 km de São Paulo. De 9 a 11 de outubro, um mês antes do também gigante e empolgante Planeta Terra, para não repetir a zebra de 2009, em que os dois aconteceram no mesmo dia. O SWU é filho do Maquinária (The Groove Concept) e do Grupo Totalcom. Um entra com a experiência de festival sustentável no Brasil, o outro com todo o processo de ativação de marketing e estratégias de comunicação. Em entrevista coletiva realizada no início de junho, os diretores das duas empresas pincelaram o mapa do evento, que irá dispor de espaço para 20 mil pessoas acampadas, praça de alimentação orgânica e centro de reciclagem nas proximidades. A grande apreensão, no entanto, diz respeito somente à música. Paul McCartney, atração mais aguardada do line-up, e figura carimbada de festivais como o inglês Glastonbury e o californiano Coachella, ainda não garantiu a vinda. Kings of Leon, Incubus, “Sublime”, Regina Spektor, Dave Matthews Band, Pixies e Linkin Park, as atrações confirmadas até o fechamento da edição, garantem que a curadoria busca um equilíbrio entre gente do passado e do presente. São fundamentais as apostas em nomes atuais que têm se confirmado, para que uma ideia tão arejada não acabe com um cheirinho de naftalina.
_ouca agora ´
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De Falla - Kingzobullshitbackinfulleffect92 Charles Mingus - Mingus Ah Um Brian Eno - Here Come the Warm Jets The Name - Can You Dance, Boy? The Roots - How I Got Over
Thomas Hawk / C.C.
__Volta, Strokes? | De show-surpresa—com ingressos esgotados em 6 minutos—aos boatos de brigas e estrelismo, os Strokes tiveram uma volta complexa. O primeiro show—pretensamente secreto, no pub britânico Dingwalls —anunciava uma banda chamada Venison, com um logo chupado dos Strokes, descrita como “The shitty Beatles”. Até Chris Martin apareceu na plateia. No segundo show, no festival Isle Of Wight, houve boatos sobre um desentendimento entre Fabrizio Moretti e Julian Casablancas, supostamente pela bebedeira do vocalista durante o show. O distanciamento e a situação instável da banda já eram claros antes mesmo da turnê: Julian havia deixado os estúdios de gravação, para não interferir nas composições do resto da banda. Segundo ele, o novo trabalho parece o First Impressions Of Earth, porém mais funky.
Daniel Wabick / C.C.
__MARUJO YORKE | Thom Yorke anda agraciando o público com diferentes manifestações. A última foi artística, quando surpreendeu o povo na 4ª edição do Glastonbury, com uma palhinha acompanhado do guitarrista do Radiohead Johnny Greenwood. A outra, mais impactante e com ares de “cuspida no prato em que comeu”, foi sobre as grandes gravadoras.Yorke afirmou, em entrevista à New Internationalist, que o negócio das gravadoras é uma barca furada, e aconselhou: “Não se amarre nelas, porque, acredite, estão afundando”. Os seis primeiros LPs do Radiohead foram lançados pela EMI. A guinada independente, com o lançamento, inusitado à época, de In Rainbows deu certo: teriam faturado mais pelos métodos indie do que com Hail to the Thief, último trabalho pela major.
direto ao ponto Conhece a Quarto Negro? Formada pelo ex-Ludovic Eduardo Praça, o grupo paulista ruma para a Espanha. Entrevistamos a turma para saber um pouco mais sobre seu universo. Check it out: tiny.cc/quartonegro
Punk rockers ficarão felizes em saber que o Millencolin, mais californiana das boas bandas suecas do gênero, vem ao Brasil para 4 apresentações de Pennybridge Pinoneers, disco clássico dos caras. tiny.cc/millenbr
Apresentamos Tulipa Ruiz na edição passada, mas não havíamos publicado o papo com a paulista de canto doce e seguro. Problema solucionado aqui: tiny.cc/tulipa
O mitológico e gigantesco festival Glastonbury completou 40 anos, e comemoramos selecionando 40 vídeos de grandes momentos do evento. tiny.cc/glaston40
016\\
NEWS
Manoela Miklos Divulgação
__GAROTAS SUECAS | Vem mais som groovy&funky por aí. Com o lançamento do disco Escaldante Banda previsto para setembro—por enquanto só na gringa—, o Garotas Suecas acaba de finalizar as gravações e já planeja turnês pela Europa, Estados Unidos e até um cruzeiro hipster. O vocalista Guilherme Saldanha, em entrevista à NOIZE, falou sobre a evolução do som no novo trabalho e a possibilidade de lançá-lo no Brasil: “Em termos de sonoridade, é um aprofundamento do que a gente tinha começado a fazer no EP Dinossauros—ou seja, tentar fazer música na tradição da canção brasileira com uma pegada atual. (…) No momento estamos nos preparando para lançar o disco em edição limitada, em formato vinil e CD, pelo nosso ‘selo’”. Sendo o Garotas uma banda que até hoje tem funcionado mais lá fora, Saldanha também contou sobre a maior turnê americana do grupo até agora, planejada para o final de agosto: “A ideia desta vez é cobrir tanto a Costa Oeste (Califórnia, Oregon e Washington) quanto a Costa Leste e chegar até o Sul, onde a gente nunca tocou”. A entrevista na íntegra—e uma faixa liberada do disco—tão no www. noize.com.br. Corre lá.
__PRÊMIO MULTISHOW| Os dez mais votados em cada categoria do Prêmio Multishow—melhor música, melhor álbum, melhor clipe e revelação, entre outros— passaram para a segunda fase da premiação, que vai até a véspera do evento, no dia 24 de agosto. Nesse dia, sobrarão cinco candidatos em cada categoria e, 24 horas depois, será anunciado o vencedor. Pratica-
mente todos os indicados são fi-gurinhas carimbadas da cena musical, girando em torno dos óbvios Ivete Sangalo, NX Zero, Pitty, Restart e Skank. As novidades ficam para o prêmio “Experimente”, que indica bandas como Moveis Coloniais de Acaju, Copacabana Club, Cidadão Instigado e Lucas Santtana.
018\\
lado a LADO B SITIOS
Pública | 1996 _A confessional “1996”, talvez a melhor música do ótimo Como Num Filme Sem um Fim, ganha um vídeo à altura. As locações, um cemitério e um parque porto-alegrense, colaboram com a bela fotografia e o roteiro sensível.
_thesixtyone.com O Sixtyone apresenta nova música de uma maneira diferente, que lembra os saudosos Dataclipes da MTV: a tela é preenchida por fotos e informações sobre a banda cuja música está sendo tocada.
Tags: pública 1996
Lady Gaga | Alejandro
_fubap.org/boombop Blog para quem quer ficar sabendo imediatamente o que rola no mundo musical. Mixtapes, vídeos, entrevistas e novidades ótimas.
_Com mais um curta de oito minutos, Lady Gaga reinventa Madonna: os cruxifixos de “Like a Prayer”, o soutien de cone transformado em duas armas. Impossível não cantar o refrão por uma semana. Inegável: Lady Gaga é o ícone pop da década.
posts tiny.cc/fenderdeouro O ótimo em cobertura musical The Guardian resgata fotos de clássicos instrumentos da Fender para celebrar o lançamento do livro Fender:The Golden Age.
Tags: lady gaga alejandro
Katy Perry | California Gurls _Oh, Katy. Enquanto o novo trabalho de Katy Perry é aguardado para agosto, haverá certamente muito marmanjo batendo o pé enquanto espia a cantora como veio ao mundo em clima Alice no país das delícias.
tiny.cc/mariojapa Qual japonês fã de Mario Bros é melhor: o que manda ver o tema do jogo no beatbox ou o que se veste de terno, vai pra frente da TV e toca a musiquinha no violino enquanto o jogo vai rolando?
Tags: katy perry california gurls
tag yourself
dia do rock mix brasil espelho tony da gatorra gruff rhys video guided by voices matador gorillaz lou reed glastonbury kia soul hamster comercial bdc red love josh homme in the butt phoenix
diamond rings show me your stuff ivo
mtv acoustic hey marseilles rio
mamona kol wheres my mind foals miami
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o que voce viu e nao viu neste mes_
audio
Moleques Maravilhosos _ Cristiano Bastos e Pedro Hahn foram a Salvador falar com amigos de Raul Seixas. O documentário, que seria encartado na revista Rolling Stone, foi disponibilizado na internet, no mês em que o Maluco Beleza completaria 65 anos. http://tiny.cc/raulzito
Banda Ritual | Senhor das Trevas _Em tempos de viralização, é de se desconfiar da Senhor das Trevas: metal gutural sobre religião e entrando em transe. Em determinado momento, o vocalista passa a pronunciar palavras ininteligíveis e você sente medo que o capeta entre pela janela.
Funk da Vuvuzela | Comunidade Nin-Jitsu Menos de quinze dias depois do início da Copa—e da febre infernal das vuvuzelas—a Comunidade lançou o Funk da Vuvuzela, com direito a desabafo de Fredi ‘Chernobyl’ Endres: “Para! Não aguento mais essa vuvuzela!” FuckYou Cupid | Mickey Gang O single da volta do MIckey Gang—e de seu contrato com o selo Vigilante—deixa synths de lado e resgata o pop-punk que alimentou os ouvidos adolescentes dos garotos de Colatina, Espírito Santo.
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Tags: banda ritual senhor trevas
Coquet, Coquette | Of Montreal Groovy, a nova do Of Montreal, que tem um toque espacial e sombrio e um final freak out épico, veio acompanhada da capa do disco, superlativa em elementos e cores.
Voce nunca ouviu
Filipe Catto | Vogue _C’mon, vogue. Filipe Catto, garoto prodígio da música, joga charme e faz de uma palhinha despretensiosa de Madonna uma nova versão, que, assim como o músico, é forte e autêntica. Tags: filipe catto vogue
TUMBLIN’ http://ihatemyparents.tumblr.com/ Assim que a página carrega, qualquer um se identifica: traumas de infância registrados e arquivados num tumblr.
http://aubzillatron.tumblr.com/ Há algum sentido que amarra a curadoria de Aubrey Stallard—no mínimo, sua impecável seleção de fotos é um exercício digno de nota.
As performances ensandecidas de Colin Huggins ao piano não seriam completas sem os shows de sapateado. QUER OUVIR? NOIZE.COM.BR/nuncaouviu
follow up @LILYROSEALLEN Resmungos, brigas com Perez Hilton, humor inglês e twitpics cotidianos.
020\\
bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Timothy Saccenti
PINBACK Origem:
San Diego, EUA Som:
O Pinback é uma banda múltipla. Fez seu melhor disco quando botou um pezinho em Seattle em Autumn of the Seraphs. Atualmente decide se vai pro time do Grizzly Bear ou do Phoenix. Escute:
myspace.com/pinback
BOSCO DELREY Origem:
Brooklyn, NY, EUA Som:
Amigo dos moderninhos Diplo, DJ Switch e Bonde do Role, o cara mistura garage rock, psicodelia, música eletrônica e pop de forma displicente e irônica. Escute:
myspace.com/boscodelrey
the futureheads Origem:
Sunderland, Inglaterra Som:
Não são exatamente novos, nem pro mundo, nem no som: como se o The Cure resolvesse tocar um pop-punk “indiezado pela inglezice”. Escute Heartbeat Song” e “Decent Days and Nights”. Escute:
myspace.com/thefutureheads
flying lotus “Fazer música para as pistas é uma coisa, mas fazer um álbum deve ser algo visual: ele deve fazê-lo viajar para algum lugar”. É assim que Flying Lotus (nome real Steven Ellison) caracteriza sua música. Responsável por o que muitos consideram uma revolução no cenário eletrônico, o californiano de 26 anos leva a seu último disco, Cosmogramma, camadas que mostram toda a sua gama de influências: uma camada de jazz, soul e hip hop, gêneros que aprendeu a gostar com sua família de músicos. Uma camada de sua paixão por videogame, cheia de barulhinhos 8-bit. Outra camada, talvez a mais importante, que lembra sua passagem pelo curso de cinema, que abriu sua mente e provavelmente criou o personagem da Lótus Voadora.
“Eu continuo sendo um estudante de cinema, estou sempre aprendendo”, ele explica. O último disco, gravado em Los Angeles (cidade que dá nome ao seu segundo CD), parece ser uma conquista pessoal de FlyLo. A ideia passada pelo artista é de que a música é, para ele, uma paixão. O disco acaba se transformando em um agradecimento. Ele gosta de lembrar a importância da música em sua vida: “Eu sou muito grato de poder recorrer a ela em tempos negros e ser capaz de me entender através dela”. E a conclusão a que se chega é que Flying Lotus decidiu usar seu talento para dar continuidade à música e sua função. Escute: myspace.com/flyinglotus Gustavo Foster
022\\
bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Caroline Bittencourt
rosie and me Origem:
Curitiba, Paraná Som:
Na primeira música, você pensa, “mais um projeto indie-folk?”. Em seguida, se surpreende porque, mesmo tendo essa aura, os arranjos fogem da mesmice e a execução é mais do que apenas bonitinha. Escute: C
myspace.com/rosieandme
M
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rafael castro
CM
Origem:
Lençóis Paulista, SP Som:
Rafael é como um Adam Green brasileiro, embora pelo seu rock ‘n’ roll venenoso seja mais fácil pensar em Arnaldo Baptista, Tropicália e o velho rock gaúcho dos 80s. Escute:
myspace.com/sabesp
aeroplano Origem:
Belém, PA Som:
Indicada principalmente para os saudosistas, a banda de Belém faz o som de Seattle como se fazia na década de 1990, mas em português. Parece que há uma cena noventista forte por esses lados. Escute:
myspace.com/aeroplanobr
MY
m. takara Hoje em dia são raros os artistas que circulam por diferentes esferas da música e conseguem tatuar sua personalidade por onde passam. Caso de Maurício Takara. Figura carimbada da cena musical paulistana, ele é um dos fundadores do Hurtmold e participa de uma meia dúzia de projetos bacanas, dentro e fora do país—além de dividir parcerias e participações com um time que reúne de Marcelo Camelo e Xis a Mallu Magalhães. Mas seu foco musical é contínuo. Multi-instrumentista que experimenta livremente, ele acaba de lançar o sexto disco solo, Sobre Todas e Qualquer Coisa. Mesmo sendo “ansioso” com o trabalho,Takara conseguiu relaxar no álbum. Coisa que não acontecia com os registros anteriores; avalanches de
CY
informações e sonoridades urgentes. Sobre Todas... demorou tanto tempo que nem foi marcado. Um trabalho depurado e curtido, que abraça o mundo e pode ser interpretado de forma mais estabanada. Abraça de qualquer jeito. Só não esqueça que “menos é mais”. Econômico—esse é o espírito do álbum. Orgânico e solto, ele experimenta sonoridades acessíveis, repetidamente, até se tornarem mantras pop. Melodias ganharam destaque e um conforto maior na assimilação de faixas esparsas como “Antícope”, “Apito” e a sugestiva “Repito”.Também cai na malandra “Rei da Cocada” e coloca para fora um lado que poucos esperavam: o de cantor. Escute: myspace.com/mtakara Guga Azevedo
CMY
K
soundcheck
024\\
Cia. da Foto
MOMBOJÓ
Quatro anos depois de Homem-Espuma, o Mombojó volta com seu terceiro disco, intitulado Amigo do Tempo. Seguindo a linha de músicas agradáveis e inventivas, os caras trazem onze novas faixas que vão da instrospecção em letras que falam de amor a ritmagens contidamente alegres. Falamos com o vocalista Felipe S. sobre as mudanças na formação da banda, o tempo sem gravar e a volta ao cenário independente.
“Está sendo um aprendizado para a banda conseguir andar com as próprias pernas. E essa liberdade não PERDEREMOS, mesmo se voltarmos para uma gravadora.”
Amigo do Tempo saiu depois de um bom período sem lançamentos da banda. De que forma esse tempo ajudou a banda? Que mudanças o tempo fez vocês realizarem? Foi legal, porque nós tivemos a chance de experimentar bastante as músicas ao vivo. Acho que isso nos deu uma segurança maior nos arranjos. E, como houve uma diminuição no número de integrantes, tivemos que tocar mais instrumentos. Isso para mim deu um charme legal à banda ao vivo. De que forma as perdas que vocês sofreram na formação da banda mudaram a sua sonoridade? Acho que tudo foi uma mudança natural. O disco passado foi muito feito em estúdio, agora queríamos ter uma cara mais animada, dançante e acabamos usando mais canções do que músicas construídas em estúdio. Amigo do Tempo parece um tanto introspectivo, mas fala de situações que podem acontecer com qualquer um. Em que são baseadas as composições do disco? As canções são de tempos muito diversos, algumas composições foram feitas há mais de cinco anos. Cada música tem uma história particular. O disco está soando coeso, é mais uma unidade do que disco “música por música”.
É um pouco inevitável perguntar: depois de trabalhar independentemente e sob contrato com gravadora, é reconfortante voltar a trabalhar de forma independente? Está sendo um aprendizado muito bom para a banda conseguir andar com suas próprias pernas. E essa liberdade não vamos perder mais, mesmo se voltarmos para uma gravadora. Há quatro anos, os modos de divulgação eram bastante diferentes.Vocês parecem estar investindo bastante na internet, inclusive liberando o download do disco. De que forma a internet ajuda na divulgação do trabalho de vocês? A internet foi fundamental na divulgação da banda. Foi ela que proporcionou ao público conseguir chegar ao nosso trabalho. E o público da internet faz muito o boca-a-boca, o próprio público se prolifera. É verdade que já há material pronto para o próximo álbum? Qual a previsão para próximos lançamentos? Até agora não temos nada, queremos fazer algum material para celebrar os dez anos de banda, em abril de 2011. Escute: Amigo do Tempo foi disponibilizado gratuitamente no site oficial da banda, www.mombojo.com.br.
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move that jukebox
026\\
Divulgação
BLOGS
__SUPEREM OS BEATLES, POR FAVOR. | Lembra daquela tal banda emo de 2005, o Panic! At The Disco, que adorava batizar suas músicas com nomes maiores do que você gostaria de ler? Ela não existe mais. Não daquela forma, pelo menos. Em 2008, com o folky Pretty. Odd., o quarteto passou a ser considerado cool, para a surpresa de todos – mais ou menos o que aconteceu no Brasil há pouco tempo, quando o Lucas Silveira, da
O Música de Bolso, versão brazuca do clássico La Blogotheque, convidou o Mini Box Lunar para algumas sessões. Se ainda não conhece a banda, essa é a chance: is.gd/dag6k
O Arcade Fire voltou, está fervendo e fez um show em uma garagem de Montreal.Thaís Viveiro estava lá e contou tudo pra gente: is.gd/dag9m
Fresno, despontou uma carreira solo (e ainda sem sal, na minha opinião) sob o pseudônimo Beeshop. Com a saída de Ryan Ross e Jon Walker, o Panic! (que tinha exclamação, perdeu exclamação e agora tem exclamação de novo) deve voltar a ser aquele mesmo de 2005. Ao lado de dois Nicks (o Murray, anônimo, e o White, músico de apoio do Bright Eyes e tecladista do Tilly and the Wall), Ryan e Jon antendem pelo nome de The Young Veins.Os primeiros singles do novo grupo eram animadores: “Change”, “Everyone But You” e “Take a Vacation!”, que leva o mesmo nome do álbum, mostravam um clima sessentista e dançante, feito aquelas músicas que a gente swinga estalando os dedos de um lado para o outro. O problema é que Take a Vacation! é formado por isso—e só por isso. A sensação é a mesma de um Beatles sem sal, fora de época, repetido, repetitivo. E, óbvio, sem a revolução que a trupe de Lennon e McCartney provocou décadas atrás. Por isso, fica o meu apelo para o The Young Veins e para todas as outras bandas que, um dia, já tentaram ser o fab four: façam a sua própria música, superem os Beatles e sejam felizes.
Depois de quatro anos no armário, Julian Casablancas e cia. voltaram a ativa. Entre meia dúzia de sortudos, um brasileiro se destacou e conseguiu ingresso para vê-los em Londres e teve de se conter: is.gd/dageJ
O Phoenix é bom em estúdio. O Phoenix é bom ao vivo. O Phoenix é bom fazendo trilha sonora. E fazendo acústico, o Phoenix é bom? É: is.gd/dagj5
A Zupi tem o prazer de apresentar
6ª
ORGANIZAÇÃO:
ÃO IÇ ED
INTERNACIONAL
SÃO PAULO SP 16 e 17 OUTUBRO 2010 LOCAL: FECOMERCIO CONFERÊNCIA INTERNACIONAL + FEIRA DE ARTE E DESIGN + EXPOSIÇÕES + FEIRA + PRÊMIOS + BRINDES + PALESTRAS + PAINEL DE ILUSTRAÇÃO & GRAFFITI + FESTIVAL DE MOTION
PALESTRANTES CONFIRMADOS
GARANTA JÁ SUA VAGA
BOBBY CHIU + KEI ACEDERA JASON MANLEY
(USA)
(CANADA)
+ INDIO SAN (BR)
DIMITRE (BR) + CISMA (BR) + DAN GOLDMAN (USA)
WWW.PIXELSHOW.COM.BR
INFO@PIXELSHOW.COM.BR 11 5084 9040 / 11 3926 0174 Apoio:
www.twitter.com/zupi www.flickr.com/zupidesign www.facebook.com/pixelshow
RRAURL
028\\
especial sónar 2010
__A viagem eletrônica cósmica, às vezes assustadora e às vezes de uma beleza de botar lágrimas nos olhos, do atual show do Chemical Brothers tem tudo a ver com a atmosfera psicodélica de fim de madrugada no Sónar. O novo disco, Further, é tocado na íntegra. Os muitos hits vêm depois.
__Não levou nem duas músicas para James Murphy lembrar que o Sónar foi dos primeiros festivais a apostar na mistura rock-disco que o LCD Soundsystem consagrou no começo dos ‘00. Daí em diante foi clima de festa com direito a roda de pogo e o hino “All My Friends” cantado por uma plateia eufórica.
__A banda-projeto de Dan Snaith cai como uma luva no mote “música avançada” do festival. Raro encontro harmônico entre o detalhismo caro à eletrônica e improviso orgânico inclassificável, o Caribou ao vivo faz valer o rótulo de melhor do ano que seu disco mais recente, Swim, tem recebido.
Divulgação
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__A 17ª edição do festival catalão Sónar agraciou Barcelona em meados de junho com shows de LCD Soundsystem, AIR, Flying Lotus, Roxy Music e Plastikman, entre (muito) outros. Mas o melhor muitas vezes está no desconhecido. Por isso voltamos as atenções para o SónarDome, espaço oferecido em parceria com a Red Bull Music Academy. O palco, coberto e com grama sintética, dá chance de ver ex-alunos e professores do encontro musical promovido todos os anos pela Red Bull em várias cidades do mundo. Braiden e Photonz, Caribou e Moodyman, entram como parte importante da programação, no Dome dedicado a DJ sets e pocket shows. Muitos, como a japonesa Tokimonsta, têm seus sets transmitidos ao vivo via internet e boa parte vai para o enorme arquivo que do redbullmusicacademyradio.com. A assustadora variedade musical do Sónar ganha contornos de absurdo se levamos em conta os eventos off-Sónar. Kode9, Steve Aoki, Crookers, Dave Clarke, Tiga, Boys Noise, Gui Boratto, Brodinski, Juan Maclean e Elen Alien enfeitam flyers e cartazes nas ruas, em festas que acontecem a todo o momento em uma cidade que, se não coloca o Sónar no pedestal de melhor festival de música da Europa, não nega que ele é o catalisador de uma temporada de intensa programação.
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BLOGS
__Raro representante do indie rock catalão, o Delorean tem figurado em vários festivais deste ano, como o Primavera Sound. O show justifica: animados, ótimos instrumentistas e cheios de boas músicas no set, fizeram uma bela apresentação no fim da sexta-feira do Sónar Village, ainda de dia. Dizem que vem ao Brasil neste semestre.
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SCREAM & YELL
SCREAM & YELL
BLOGS Arquivo Pessoal
__Uma quarta-feira qualquer, Museu do Louvre, Paris. Um brasileiro caminha para lá e para cá entre as salas observando algumas obras clássicas da pintura mundial. Exceto La Gioconda e a Venus de Milo, duas mulheres que, sozinhas, atraem mais gente que qualquer grande clássico do futebol brasileiro, as demais salas são aparentemente sossegadas (no que se espera de sossego em um dos mais importantes museus do mundo). Em uma delas, uma cena chama a atenção: três professoras conduzem um grupo de crianças cuja média de idade parece não ultrapassar meia década de vida. A professora para em frente a um quadro de uma sala repleta de pinturas italianas e começa a falar sobre ele com os pequenos adultos, que observam a cena com interesse. Corta. Dois anos depois, numa sexta-feira nublada e friorenta, os corredores da National Gallery, em Londres, estão tomados por grupos de crianças que vieram ter aula de arte nas salas do museu. Elas sentam em grupos de 10 a 20 miniaturas de gente, e tentam expor ao pro-
fessor o que no quadro à frente, um Monet, lhes chamou a atenção. Uma menina fala da cor do lago. Um menino descobre uma senhora observando a cena entre os arbustos. A aula parece interessante, mas essas cenas – que devem ser bastante comuns em Paris e Londres – atiçam o imaginário e provocam a lembrança: qual a primeira vez que você, caro leitor, entrou em museu? A minha, pacato cidadão do interior paulista, foi no Masp, e eu estava para completar 20 anos, e vendo aqueles meninos e meninas de 5 a 7 anos em Paris e Londres, penso que demorou um bocado de tempo para que as artes me encontrassem, e isso parece acontecer com um grande número de pessoas no Brasil. Olho a foto e imagino que teria sido divertido sair da sala de aula numa manhã de maio e ter ido a um museu. Teria sido... especial. Você já sentiu saudade de algo que nunca teve?
FORA do eixo
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__Puro e pesado. É assim que o trio gaúcho Rinoceronte se define. Dona de uma sonoridade que remete tanto ao hard rock setentista quanto ao stoner rock contemporâneo, a banda tem despertado atenção com shows arrasadores e letras que passam ao largo dos clichês do famigerado “rock gaúcho”. Nada de canções evocando uma rebeldia sem causa: ao invés disso, a crueza e a força elementar do rock n’ roll em seu estado quase bruto. Com um EP lançado, a banda já conquistou espaço nos principais festivais independentes como Calango, Goiânia Noise, Demosul e Bananada. O Rinoceronte acaba de passar uma temporada fora de casa, aproveitando para gravar o primeiro LP no estúdio Rocklab e uma turnê por quatro estados que culminou em show na Virada Cultural de São Paulo.
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_Acontece, de 16 a 21 de agosto, a 3ª edição do Festival Goma, em Uberlândia (MG). O festival – iniciativa do coletivo local homônimo – surgiu em 2008 dando ainda mais fôlego ao calendário da cidade, que conta também com edição do Grito Rock, sedia o badalado Jambolada e, durante todo o ano, é rota certa de bandas em turnê pelo centro do país. A edição deste ano já movimenta cenas de outras cidades. As bandas Veniversum (foto) e Lufordi já foram indicadas para o line up do festival pelas Prévias de Cuiabá. Nos dias 17 e 24 de julho, no Espaço Goma, é a vez das Prévias de Uberlândia indicarem mais quatro nomes para compor a programação.Também está prevista dentro do Goma’10 a Semana do Audiovisual, evento que vai percorrer vários Pontos Fora do Eixo no 2º semestre.
direto ao ponto Rolou em junho o Observatório Musical, para debater a Tropicália e o Modernismo. Para prosseguir o diálogo, a campanha “Em Busca do Elo Perdido” procura pesquisadores para desenvolver artigos sobre o tema. is.gd/d8Rca
Apresentamos aos argentinos o trabalho do programa radiofônico Independência ou Marte e do Massa Coletiva. A viagem gerou um relato recheado de fotos e áudios em seu blog, o Máquina Esquizofônica: is.gd/d8RkI
Em quatro meses, o portal Fora do Eixo ultrapassa o número de 1000 usuários e desenvolve estratégias para ocupar o espaço de maneira cada vez mais colaborativa. is.gd/d8RlB
Os Pontos Fora do Eixo têm aumentado a produção de programas de rádio, podcasts e entrevistas.A programação varia entre cultura pop, shows ao vivo e noticiários, sempre com muita música nova. foradoeixo.org.br/radio
_texto bruno felin
_AGRADECIMENTOS ELZA COHEN, DANIELA DACORSO
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Falar de maconha apenas dez anos após o fim da ditadura militar no Brasil não era uma tarefa fácil. O Planet Hemp disse “foda-se às leis e a todas as regras” e no ano de 1995 lançou um dos discos fundamentais daquela década. Revisitamos algumas histórias por trás do álbum mais enfumaçado da história desse país.
Por pouco eles não ficaram calados—e não era por motivo de polícia. Quando o vocalista Luis Antonio, o Skunk, faleceu em decorrência da AIDS, sua mãe fez um pedido irrecusável aos amigos que ficaram no planeta: eles deveriam seguir tocando e continuar o sonho do filho. A semente foi plantada, o mundo seguiu seu movimento de translação anual, alinhou-se com os astros e o “Planeta Maconha” cresceu e floriu. Como eles já fizeram, é preciso pedir licença para falar em nome de Bezerra e dizer que “de repente brotou um tremendo matagal”+1. O disco Usuário foi um marco da música brasileira por ter incomodado muita gente, algo que estava fazendo falta no cenário da época. Além de ressaltar (cientificamente, segundo eles) os “efeitos naturais” da erva, conseguia reunir todo o submundo envolvido ao redor de seu consumo: tráfico, corrupção policial, injustiça social e a própria liberdade de expressão. Ao quebrar as barreiras do rádio, o grupo conhecido no underground carioca tomou o Brasil, vendeu mais de 140 mil cópias, chegou ao
disco de ouro e conseguiu o incrível apoio do então Ministro da Justiça, Nelson Jobim+2, para a causa da descrimina-lização. Mas até isso acontecer, a história é longa. Então acende. Rio cidade desespero No Rio de Janeiro do começo dos anos 1990 havia um circuito de bares e shows onde as pessoas se encontravam e onde tudo acontecia. Circo Voador, Baixo Gávea, Bar do Cinema, Estação Botafogo, Dr. Smith, Kitinet, Garage. Por ali, o baixista Formigão e o guitarrista Rafael já haviam tocado juntos em outra banda e conheceram Skunk. BNegão, que mais tarde o substituiria, diz ter conhecido “Skunk e Formigão em 1988, um 15 minutos depois do outro”. O tempo passou e o destino colocou Skunk, então artesão e vendedor de camisas de bandas, frente a frente com Marcelo D2+3 nas ruas do bairro do Catete. Reza a lenda que uma camiseta do Dead Kennedys uniu a dupla. Marcelo não tinha nenhuma experiência musical e aos poucos conheceu a rua 13
[+1] Na letra de “Porcos Fardados” eles citam Bezerra da Silva: “Você com uma arma na mão é um bicho feroz, sem ele anda rebolando e muda até de voz”. [+2] Nelson Jobim hoje é o Ministro da Defesa. [+3] Procuramos D2 pela assessoria, e-mail, Facebook, Twitter, telefone e amigos, mas não conseguimos falar com ele. Fez falta Marcelo!
_FOTO DANIELA DACORSO
038\\ noize.com.br
“O Skunk [ex-vocalista] era o ponto de referência de todo mundo, foi o elo de ligação entre nós, a gente era a banda do Skunk” RAFAEL CRESPO
[+4] Difícil achar Formiga no formigueiro. [+5] O disco é uma inovadora mistura de MPB com funk, rap, metal extremo, música eletrônica e outros estilos do visionário Edu K e sua gangue. [+6] Nem a censura ao clipe de “Legalize Já”, limitado a ser exibido apenas após as 23h, impediu o single de virar hit.
de Maio (no centro da cidade onde se reuniam os camelôs de discos) e passou a despertar seu talento, além de trabalhar na mesma barraca do amigo. Resolveram montar uma banda para falar do assunto que mais entendiam: maconha. Rafael, na épo-ca, estudava comunicação e, através do amigo Carlos Rasta, conheceu Marcelo, que contou sobre a ideia. O guitarrista acabou chamando um ex-colega de banda, o baixista Formigão+4. O embrião estava formado. “O Skunk era o ponto de referência de todo mundo, foi o elo de ligação entre nós, a gente era a banda do Skunk”, explica Rafael. Com uma cultura musical muito grande, o vocalista foi o centro da mistura entre o punk e o hip hop que marcaria o som. O nome Planet Hemp veio de um anúncio de roupas, que D2 viu na revista especializada em cannabiscultura, High Times. “Naquela época eu vinha de uma escola do punk rock, do hardcore, som alternativo, de Seattle. Começou a surgir o lance do skate e o hip hop veio junto, então era uma época em que se escutava coisas diferentes, propícia pra surgir um som misturado”, recorda-se Rafael. Com o conceito do som formado, faltava um baterista, e Bacalhau, que já tocava no Acabou la Tequila e em outras bandas, foi chamado para um ensaio no estúdio Groove. “O objetivo era fazer seis músicas em quatro ensaios, além de tirar quatro covers, pois tinha um show marcado”, lembra o baterista. Além do Planet, havia uma turma muito influenciada pela mistura de um mutante grupo gaúcho. “Quando a gente viu, tinha três bandas de amigos que tinham muito a ver uma com a outra, cada uma fazendo com suas características únicas, mas com a mesma raiz de mistura do rap. Uma influência brutal do DeFalla”, conta BNegão, na época membro do Funk Fuckers e Juliete. Ele se refere também a
SpeedFreaks, que já havia recrutado o comissário de bordo Gustavo (Black Alien) para tocar com ele. “O Kingzobullshitbackinfulleffect92+5 foi fundamental para a nossa geração”, explica Bernardo. O Planet Hemp sempre foi uma banda cujo show era o ponto forte. Havia uma energia inexplicável quando aqueles cinco caras subiam no palco. Por algum motivo (talvez no ar) brotava uma vibração diferente quando estavam tocando, não só pelo ataque presente nas letras, mas pela atitude. “Eu, o Rafael e o Formiga, a gente era muito bom junto, na boa. A gente tinha uma vibe forte, bem diferente do que eu tenho no Autoramas hoje, por exemplo, se for analisar separadamente”, conta o baterista Bacalhau. Dispostos a fazer shows em qualquer lugar que surgisse, a banda foi crescendo e saindo do Rio de Janeiro. “A gente tinha essa disposição de sempre tocar, sendo roubada ou não, foi um período curto e intenso”, conta Rafael. Mas nem sempre Skunk estava presente. Quando começaram as complicações relativas a doença, ele—que não contou para ninguém que tinha AIDS—passou a chamar BNegão para substituí-lo. “A gente tocava junto pra caramba e todo mundo conhecia o repertório de todas as bandas”, explica BNegão. A situação passou a ser cada vez mais recorrente e Bernardo estava fazendo a maioria dos shows. “Brigamos porque eu falei ‘cara, a banda é tua, tu formou essa parada, eu tenho minhas outras coisas aqui, só estou fazendo aqui enquanto tu não tá’, essa era a ideia e sempre foi a ideia”, lembra BNegão. Para Rafael, “o Skunk tinha uma percepção muito grande das coisas e viu que o Bernardo era o cara que realmente poderia assumir a parte dele, já prevendo o que ia acontecer”.
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“O Usuário representa toda a vontade, todo o tesão que um adolescente pode ter em tocar, fazer música e poder mudar alguma coisa no mundo” RAFAEL CRESPO
Na última crise do ex-vocalista, Rafael e Marcelo Yuka—baterista do Rappa—tentaram conseguir tratamento e pela primeira vez souberam realmente o que acontecia. Luis Antônio se foi, mas a mãe manteve viva a vontade do filho, e o Planet seguiu apenas com o objetivo de fazer tributo ao amigo. A história de vida dele durante o ano e meio anterior ao Usuário vai ser contada pelo diretor Johnny Araújo no filme “O meu tempo é agora”, com roteiro dividido entre ele, Patrícia Andrade, Nelson Motta e Jorge Brennand. A previsão de lançamento é para 2012. Então puxa. A entrada na Sony Cinco doidões, falando de bagulho, com um som originalmente misturado e muita atitude nos shows como característica fundamental.Você contrataria? As gravadoras viviam um momento muito difícil em sua história naquela metade da década de 90. Seus consagrados artistas não vendiam mais como antigamente, algo estava saindo dos trilhos. A verdade é que não sabiam trabalhar as bandas da nova geração, acabavam gastando muito na produção e divulgação dos discos e depois precisavam correr atrás para recuperar o investimento. Pra piorar a situação e abrir definitivamente as portas para o que estava chegando, houve o “efeito Raimundos”. Lançado pelo selo Banguela dos Titãs, em 1994, o primeiro disco (autointitulado) dos brasilienses vendeu 150 mil cópias e deixou todos os executivos e olheiros das majors procurando um novo sucesso. A cena do Rio de Janeiro era fortalecida por um festival visionário chamado Super Demo, criação de Elza Cohen, ativista cultural e praticante de um “marketing de guerrilha” para novos artistas. Com edi-ções também em São Paulo, Brasília, Belo Hori-
zonte e Curitiba, promovia audições de fitas demo (muitas delas gravações de ensaio no estúdio Groove de Ronaldo Pereira – futuro empresário do Planet Hemp) com formadores de opinião, jornalistas e executivos das gravadoras, além dos shows. “Quando escutei a demo do Planet eu pensei, ‘agora eu tenho a banda que eu procurava pra ser o carro chefe das minhas ações e convencer as gravadoras a levar outras bandas junto’”, relembra Elza. Querendo sair do marasmo, a Sony se interessou pelo trabalho dela e propôs o lançamento de uma coletânea do Super Demo, com Planet Hemp, Jorge Cabeleira, Kongo e O Rappa, bandas novas e proeminentes. Mas o contrato previa apenas duas músicas por ano e iria deixar as bandas engessadas. Uma articulação do produtor Carlos Miranda e do jornalista da Folha de São Paulo André Forastieri acabou com essa estratégia da gravadora. Forastieri publicou uma crítica em sua coluna do Folhateen. “Detonei o negócio no jornal dizendo que era pau de sebo da gravadora e o tiro da Sony de estar querendo ser moderna e apostar em artistas novos saiu pela culatra”, conta. Por outro lado, Miranda fez um contrato falso do seu selo para o empresário Ronaldo Pereira apresentar em uma reunião. “O Banguela tinha interesse no Planet, mas a gente era um selo independente e não podia tirar ninguém da cadeia, não dava pra mandar uns doidões soltar outros loucos (risos)”, explica. A Sony decidiu abortar o projeto e criar um selo chamado Super Demo. “Essa especulação deles foi boa pra mim porque eu consegui fazer um contrato melhor na gravadora”, conta Elza. Ela passou a trabalhar buscando novos artistas, e o Planet Hemp foi o primeiro que conseguiu assinar um contrato – que resultaria em Usuário. Então prende.
[+6] Nem a censura ao clipe de “Legalize Já”, limitado a ser exibido apenas após as 23h, impediu o single de virar hit.
Mariana Vitarelli
[+] Almoço coletivo com as bandas que tocaram no Superdemo de1994 no Aeroanta. Marcelo D2, BNegão, Formigão, Bacalhau e Elza Cohen
Clori Ferreira
[+] Skunk e amigas na festa do festival Superdemo e da revista General na Dr. Smith, Rio de Janeiro.
Elza Cohen Daniela Dacorso
[+] Festa do Superdemo e revista General, da esquerda para a direita: Miranda, Rafael Crespo, Skunk, SpeedFreaks e Marcelo D2
[+] Uma das primeiras fotos de divulgação do Planet Hemp em 1993, no espaço Sergio Porto, RJ
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Usuário 15 anos depois Sem nenhum produtor de seu interesse disponível, eles entraram no Discover Estúdio apenas com o engenheiro de som, Fábio Henriques. “A gente já estava com as músicas arranjadas, só precisava um cara pra colocar isso no disco”, lembra Bacalhau. Marcelo Yuka os convenceu de que seria uma boa aposta, pois tinham feito a mesma coisa em seu primeiro disco. “Ele deu esse incentivo e influenciou muito nossa decisão, tínhamos medo de entrar em estúdio sem produtor e acabar fazendo alguma cagada” revela Rafael. Último lançamento em vinil da Sony, o disco foi gravado num período de dois meses com a intenção de soar o mais cru possível. Em março de 1995 estava nas ruas e o resto é história. Tente começar a cantar “Mantenha o Respeito”, “Legalize Já”+6 ou “Dig Dig Dig (Hempa)” perto de alguém que viveu essa época e veja se essa pessoa não sabe a letra. “Até hoje a parada virou clássico nacional, não tem como fazer uma retrospectiva dos últimos 20 anos sem falar desse disco. Foi uma das bandas que mais influenciou no Brasil. Ele é bom demais pelo que representa”, comenta BNegão. O Usuário tem o mérito de tirar o assunto da descriminalização da maconha dos porões da sociedade e ainda cativar um público que não estava tão ligado na causa, mas na música. “Eu tenho o maior orgulho desse disco porque era pra ter sido uma coisa muito mais revolucionária do que foi, mas ele foi muito sincero e hoje em dia eu não vejo isso em lugar nenhum, parece que é uma coisa que acabou na música. Esse disco pra mim representa tudo isso, toda a vontade, todo o tesão que um adolescente pode ter em tocar, fazer música e poder mudar alguma coisa no mundo”, resume Rafael. A importância da atitude e da vontade de ser diferente é reforçada por Bacalhau: “Esse disco foi o começo de tudo pra mim, por ele que eu não parei até hoje, tenho minhas pilhas de viajar, fazer tour, tudo pelo Usuário. Ali foi o começo de tudo e essa vontade de mudar as coisas é ainda o que me mantém fazendo música. Ter feito parte de um disco que é obrigatório na prateleira me deixa muito orgulhoso”.
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Foto: Daniela Dacorso
_texto fernando correa
_FOTOS GIRLS RAFA ROCHA
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Chris Owens, equivalente ao coração do Girls, cortou o cabelo pouco tempo antes de vir ao Brasil. Adotou o topete do ídolo Elvis Presley e afastou-se da carga destrutiva que os cabelos longos e louros depositavam sobre seus ombros, como se fosse ele uma reencarnação de Kurt Cobain. Ficou mais exposto e, presume-se, mais vivo.
Sua figura pouco encorpada parece equilibrarse sobre uma navalha. Na música, o Girls é melodioso e soturno. Corre-se tanto risco de entrar por um ralo depressivo e confuso quanto de conhecer o sol de São Francisco, nas tardes em que Owens acordou de ressaca e traçou planos com o grandalhão Chet “JR” White—a outra parte essencial do Girls, o cérebro. Eventualmente os planos se concretizaram em Album+1, LP que o grupo lançou em 2009 e que rapidamente rompeu as barreiras da Califórnia. Não vão dominar o mundo, mas sonham compor um standard que soasse bem na voz de Elvis. O Girls é a plataforma de sustentação desse sonho, e a única coisa que Owens ama fazer. “É preciso exporse para que a vida faça sentido”, disse, em uma noite fria de junho. Estandarte e porta-voz da música e da vida desregrada que os dois dizem levar, Christopher Owens vem de um berço confuso, que serviu de prato cheio para a imprensa desde que sua banda ganhou holofotes indie. Ele mesmo contou ter crescido no culto Children Of God (“Meninos de Deus”), braço mais radical da onda free love que resultou em muitas hippies grávidas nos anos 70 e 80. Owens foi
nascer justo em meio à galera que tolerava a pedofilia e o incesto. O pai abandonou o barco depois de perder um filho, irmão de Chris, aos 2 anos. Hospitais não eram um local seguro para crianças tão “amadas”, mesmo com pneumonia. Restaram à mãe de Chris duas meninas e dois garotos para criar, e uma cartilha a seguir+2 que a estimulava a se prostituir sem remorso. Ficaria marcada como uma mulher complicada e sofrida. A história é tão incrível que houve gente, de fato, questionando sua veracidade+3. Se os Girls se reduzissem a folclore, pouco interessariam. No entanto, a passagem da dupla pelo Brasil, durante a realização do Popload Gig Festival 3, mostrou uma banda entrosada executando, vejam só, lindas canções que ficariam bem na voz de um topetudo folgazão meio século atrás. Foi quando houve a chance de entrevistá-los. Cansados, o cérebro JR ficou mudo, e Owens, o coração, falou pouco. Mas vivos, com jornalista, fotógrafo e banda em um diminuto camarim, não tiveram como evitar a exposição. Vocês dizem que o fato de Album ter resul-
[+1]
[+2] O “Flirty Fishing” era uma prática estimulada: as mulheres deviam conquistar homens e levá-los para a cama com o fim de passar a vontade de Deus e convertê-los ao culto.
[+3] tiny.cc/duvidando
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tado com esse som, ao mesmo tempo lo-fi e vintage, tem a ver com a (falta de) estrutura e os espaços inapropriados em que ele foi gravado. No entanto, a sonoridade parece toda muito intencional… Chris: Na verdade, não acho de maneira alguma que o nosso disco soe lo-fi, pelo menos a gente não teve essa intenção. É um disco simples, mas gostamos muito de como ele resultou—na verdade, ele soa como queríamos que ele soasse. Existiram algumas limitações impostas pelo espaço, mas ficamos satisfeitos com o resultado. E que limitações eram essas? Chris: Era um prédio em que muitas bandas tocavam ao mesmo tempo, um estúdio podreira, então quando a gente parava de tocar, podia ouvir as pessoas tocando na sala de cima. É difícil gravar quando você não pode cantar alto, quando o equipamento é ruim, quando você grava nos horários mais estranhos. E na verdade as outras bandas não gostavam muito da gente (risos). E em um próximo disco, com a estrutura melhor com que vocês deveram contar, a ideia é manter a simplicidade? Não vejo vocês como uma banda que se prende necessariamente a um conceito… Chris: Na verdade a gente já fez isso, acabamos de gravar um disco, e foi num estúdio muito melhor, muito mais tranquilos e relaxados.
Chris: Sim, acontece de eu fazer uns reggaes às vezes, quando a gente enche a cara de maconha (risos). Mas essa não entrou no disco. Não acho que o Girls esteja no clima de gravar um reggae, mas seria legal… aí teríamos que gravar na Jamaica, seria muito massa, com uns daqueles monstros do reggae, uns produtores e músicos jamaicanos… (risos) E essa banda que está com vocês, como rolou a aproximação? Eles podem ser chamados de Girls agora? Chris: Sim, com certeza. Temos tocado juntos por um bom tempo, acho que uns três meses. Matthew Kallman: Eu sou amigo de John há anos, e nós dois somos amigos de Chris há um bom tempo também. Nunca tocamos em banda juntos, mas ele já tinha me visto tocar em outras bandas. Garett: E eu sou amigo de JR, ele me convidou para tocar e… cá estou eu! No myspace de vocês, há aquele link para um site que identifica drogas+4. Se, em vez de Girls, vocês se denominassem um daqueles numerozinhos, qual seria? JR: (Risos) …Eu fiquei pensando… (murmura alguns números difíceis de entender)… É difícil escolher uma… Chris: Todas elas! A gente é muito eclético (risos).
Um disco full, LP? Chris: Ele é quase tão longo quanto Album… tecnicamente é um EP. Mas ele segue o que viemos fazendo, eu componho o tempo todo, as músicas são de épocas diferentes… Eu acho que tem uma parte dissociável, que vem de quem eu, nós, somos. O disco foi gravado em condições muito melhores, em um puta estúdio. O resultado é bem melhor e, mais que isso, foi muito, muito mais fácil gravar.
Tem uma música brasileira que diz que “Elvis na fase decadente é bem melhor que muita gente” (“Elvis”, de Frank Jorge)… Chris: Todo mundo gosta dele. Ele é uma dessas pessoas universais, um símbolo, e é disso que eu gosto nele. E significa gostar de tudo, do que ele significa, da sua dança, sua voz, sua música… As pessoas sempre vão procurar isso, alguém que entregue pra elas algo com que elas se conectem. E a música dele se conecta com todo mundo, consegue atingir a todos. E definitivamente não se vê muita gente fazendo isso hoje….
Vi um vídeo em que você, Chris, dizia que tinha acabado de compor um reggae…
E você busca isso, quer dizer, é uma motivação sua no Girls?
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Chris: Completamente, sim. As nossas músicas partem de sentimentos muito universais. A crueza da música de vocês deixa gritante a sinceridade dela, em um nível que me faz perguntar se você não se sente muito exposto… Chris: A Celine Dion também é sincera (risos). Uma pessoa precisa se expor para que a vida tenha sentido. Quer dizer, eu preciso estar exposto. Mas é claro que muitas vezes eu já me senti incomodado por estar em um ambiente cheio de gente. É algo com que tenho que conviver, porque ao mesmo tempo é parte do que mais gosto de fazer na vida. Enquanto boa parte do disco de vocês tem essa pulsação pop das antigas, músicas como “Morning Light” mostram muito das influências mais shoegaze e punk. Quando adolescente, Chris, qual era sua vivência nesse meio? Chris: Certamente, “Morning Light” se diferencia por
isso. Amarillo, no Texas, onde eu vivi essa época, era uma cidade relativamente pequena, então a maioria das bandas que tocavam eram bandas desconhecidas. Mas eu cheguei a tocar em algumas bandas de amigos nessa época, só que para mim não era muito legal nem muito interessante, porque não eram músicas minhas, eram músicas que os outros tinham criado. A música do Girls atingiu em cheio uma demanda. As publicações ligadas ao indie todas veem e falam de vocês como uma grande novidade. Foi algum plano? Chris: Não, a gente nunca pensou “vamos fazer assim, assado”. Aliás, tem muito a ver com isso, talvez. Sim, eu acredito que tem muito a ver com a simplicidade, com a nossa música dizer coisas para as pessoas. E é tão diferente do que a maioria dessas bandas faz. Eu poderia soar estranho, mas eu não quero soar estranho.Você pode soar estranho, por mim tudo bem, acho legal.
[+] Banda fixa: Garett (bateria), Matthew (teclado), JR (baixo) e Chris (guitarra e voz) e John (guitarra) formam o Girls em 2010.
[+4] No myspace.com/ girls há o link para o site drugs.com, em que um serviço identifica pílulas e comprimidos por sua forma, cor e inscrição numérica. [+] Junto à íntegra da entrevista, um vídeo da passagem de som dos caras em Porto Alegre estará disponível no noize.com.br durante o mês.
THIAGO PETHIT
Thiago veste: Camiseta SpiRIto Santo calรงa jeans King 55
Thiago veste: CAMISA RETRÔ BRECHÓ Colete King 55 Calça King 55
Fotos e Direção de Arte: Marco Chaparro e Rafael Rocha Produção de Moda: Ana Laura Malmaceda e Thaís Moro Texto e Entrevista: Maria Joana Avellar Agradecimentos: Ricardo Lage e Retrô Brechó - (51)3332-4948
Thiago veste: Colete SPIRITO SANTO Calรงa King 55
Thiago veste: CAMISA RETRÔ BRECHÓ Calça King 55
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Sob luzes avermelhadas, garçonetes em pequenos e rendados trajes servem boêmios de coração partido. As mesas são organizadas ao redor de um palco, onde músicos tocam—mais para si do que para o público—, e entre eles se destaca um jovem e apaixonado cantor. Essa foi minha idealização ao entrar em contato com o primeiro álbum de Thiago Pethit, Berlin, Texas+1, com sua aura brechtniana+2, seus ares franceses e suas influências de tango e música balcânica. Tal foi a minha surpresa ao conhecê-lo, na vida real, e constatar que, em um palco bem iluminado e com roupas casuais, sua música mantém o charme. Berlin, Texas, é mesmo um lugar surpreendente. O recém lançado álbum chama a atenção pela identidade plural—é cantado em três idiomas—e por ser retrô e cosmopolita. Formado em Artes Cênicas, mas autor de letras confessionais, Thiago teve o material devolvido três vezes antes de serem prensadas as mil primeiras cópias, sob alegação de não estar limpo e polido o suficiente. A exploração do vazio e os pequenos erros e ruídos, sejam eles da respiração, das cordas ou dos pedais e teclas do piano, constituem um conceito, compreendido impecavelmente pelo produtor Yuri Kalil, e composto pelo que Pethit via de melhor em sua arte de origem, o teatro. As recentes descobertas musicais também tiveram um papel importante nessa idealização. “Eu aprendi a trabalhar e me entender musicalmente na raça, já fazendo shows, me expondo. Eu descobri, por exemplo, que diminuindo a formação, minha voz ficava melhor, as letras ficavam mais presentes. Quando eu fui gravar o disco, já tinha essa percepção, de que coisas me interessavam nesse vazio, e comecei a pensar no conceito de um pequeno cabaret, com coisas acontecendo pertinho do palco. O som mais cru se afina muito bem com o fato de que as letras são muito verdadeiras, têm um sentimento… Eu acho uma delícia quando escuto alguém que faz trabalhos mais intimistas e ouço a respiração da pessoa, parece que ela está ali, viva.”
Thiago Pethit fazia parte do seleto grupo de atores que lucra com teatro no Brasil quando se viu tão envolvido com a música a ponto de abrir mão da segurança. Apostou todas as fichas do bolso na gravação de seu EP, um voo que o levaria a novos palcos. Mas isso foi em 2008, quando o terreno era tão inexplorado que o paulista ainda carecia da ajuda de outros músicos para compor e de outras personas para se apresentar. “No EP eu brincava, cantava com voz de personagens, imitava Tom Waits... Isso tinha a ver com o meu processo de composição. Eu tinha a prática de escrever, mas não de criar harmonias. Então, eu usava muito ‘lalala’, visualizava na minha cabeça e pedia para alguém tirar para mim. No fundo, isso é um pouco antimusical”, lembra. Depois de uma crise de criatividade, com o apoio da vizinha Tiê+3, Thiago começou uma amizade com o violão e viu um novo mundo surgir. “A cada dois, três acordes era uma coisa ‘oh, a música!’, e foi ficando muito natural. Tanto que o mais natural foi falar de mim mesmo. Sem intenção nenhuma, saiu meu primeiro trabalho autoral”. Despido da dramaticidade, Thiago descobriu como dar vida (e voz) a um novo personagem, ainda inexplorado. “No primeiro show de lançamento do disco, eu não sabia como me portar. Fiquei intimidado. Se eu não inventasse, o que seria? Onde ficariam as armadilhas, as carapuças? Você tem que contar com um certo carisma também, e não sendo um personagem, é preciso acreditar muito no próprio valor”. No palco, além das referências a Leonard Cohen, Beirut e Lou Reed, pode-se encontrar trejeitos de um Mika pianista, em especial no cover de “Bad Romance”, de Lady Gaga. No centro de seu cabaret bretchniano e cigano, mas também cru e clean, Thiago tem medo de ser conceitual demais, pois também quer ser pop.
[+1]
[+2] Berthod Brecht (1898-1956) foi um dramaturgo, poeta e ator alemão que influenciou fundamentalmente o teatro contemporâneo. Desenvolveu o chamado teatro épico, uma síntese de diversos experimentos teatrais da época, mas com cunho de protesto. Thiago fez seu trabalho conclusão do curso de Artes Cênicas sobre ele. [+3] Tiê, cantora e compositora de São Paulo, lançou seu primeiro trabalho, Sweet Jardim, inteiramente autoral, em 2009. Este ano, ela fez turnê nacional e internacional, o que incluiu uma data no Rock in Rio Lisboa.
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vizupreza
_por lidy araújo lidyaraujo. c om. b r
Pipoca no vinil_
Com a caixa no pescoço_
Item de colecionador_
Jeff Davis transforma vinis em bowls criativos para a pipoca básica da sessão DVD. Detalhe para o selo original do vinil, que ganha proteção e fica intacto. Entre os artistas disponíveis, há Nat King Cole e Frank Sinatra.
A corrente com pingente de caixa de som faz parte da coleção Darkcloud Silver, da Oye Modern. Dedicada a DJs e fãs de música, a edição é limitada e ainda tem pingentes e anéis em forma de aparelho de vinil, case e fones.
Esgotado há quase 40 anos, o livro The Autobiography and the Sex Life of Andy Warhol ganha reedição com mais de 120 imagens, incluindo inéditas, além de depoimentos de amigos do artista, como Lou Reed e Nico.
Preço: US$ 25 em inhabitatshop.com
Preço: US$ 394 em oyemodern.com
Preço: US$ 30 em andywarholsexlife.com
AGASALHO_
3 em 1_
PIMP MY RIDE_
Inverno bombando, iPod quentinho. A proteção para o aparelho tem forro de lã e vem em dois tamanhos: LG para iPod Classic e Touch e iPhone, SM para Nanos. A graça toda, no entanto, está no detalhe fofo do capuz.
Um mix de toy art, MP3 player e USB, o Mugo ganha novas versões a cada seis meses. Todas as coleções são assinadas por designers e artistas, como Shin Tanaka, que assina o da foto. A capacidade de armazenamento é de 2 GB.
Preço: US$ 20 em fredflare.com
Preço: US$ 60 em mugoplayer.com
O MS-8 é uma opção poderosa para otimizar o som do carro: um equalizador automático, que maximiza as frequências certas em dez minutos. E ainda vem com monitor LCD, wireless, controles de préamplificador e equalizador gráfico com 31 bandas.
Preço: US$ 800 em jbl.com
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estampa
do mĂŞs Marca: King 55
Onde Encontrar: king55.com.br
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nagulha.com.br
A Nova Música Brasileira
Galeria do Rock, loja 302 Rua 24 de Maio, 62 – República, São Paulo fdediscos@gmail.com
_FOTO EDUARDO GABRIEL | flickr. c om/eduardo_gabriel
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reviews
_E aí, quer ver sua foto publicada nesta seção? Mande um email com uma foto em alta resolução (300dpi) que represente a sua visão da música para FOTO@NOIZE.COM.BR
MOMBOJÓ
paul weller
Amigo do Tempo
Wake Up The Nation
Começa assim, “torno sempre a estimular, o alcance / por novas sensações / quem agrada não descansa…”. Os versos iniciais da faixa “Entre a União e a Saudade” já cantam a bola do que te espera em Amigo do Tempo, terceiro disco da Mombojó. Algumas pistas indicavam que seria um trabalho maduro e com uma riqueza sonora superior ao début Nadadenovo. Na mosca. Mesmo com a pouca idade dos integrantes e quase uma década de carreira, a banda pernambucana está nostálgica. Amigos que se foram, os tempos no bairro Casa Caiada e a displicência juvenil, tudo isso contribuiu para o que era esperado: a renovação da fórmula criada por eles, recheada de surpresas e brechas para diferentes interpretações. Tipo essa que você acaba de ler. Guga Azevedo
À frente do The Jam, Paul Weller ficou conhecido como modfather, o pai dos mods, responsável, nos anos 70, pela segunda onda do movimento capitaneado por The Who e Small Faces na década anterior. Mod dispensa explicação, certo? Ao disco: Wake up the nation, mais recente álbum da carreira solo iniciada nos 90, traz o expoente de um estilo usando outros vários em 16 faixas nada nostálgicas, tão comuns a quem um dia foi chamado de pai de algo. Misturando metais, guitarras e sintetizadores funkeados (“Aim High”), punk (“Fast car, slow traffic”), blues (“Grasp and still connect”) e experimentalismo (“Whatever next”) à crueza setentista (“Wake up the nation”),Weller entrega produto fresco aos ouvidos acostumados com pretensas inovações. Lucca Rossi
M.I.A. /\/\/\Y/\
Em seu terceiro disco, M.I.A. enfim alcança o máximo de seu potencial criativo, crítico e experimental. Sucessor de Arular (nome usado por seu pai, quando militante no Sri Lanka) e de Kala (que leva o nome da mãe), /\/\/\Y/\ é, simbolicamente, o fruto dos dois primeiros. No primeiro, a cantora trouxe elementos do funk carioca, unindo-os a hip hop, eletrônico e punk. Em Kala, tornou-se um dos maiores ícones pop dos anos 2000. Tudo isso parece ter sido um treinamento planejado para /\/\/\Y/\. Nada no álbum é excessivo e nada parece faltar. A furadeira, o auto-tune exageradíssimo em “Tell Me Why”, e a letra da (obra-prima) “Lovalot” (ou “Love Allah”) são artifícios para mostrar algo ao mundo. “Eu jogo essa merda na sua cara, porque eu tenho algo a dizer”. Algo está acontecendo e ninguém parece se importar. Gustavo Foster
DRAKE
Thank Me Later
O disco de estreia de Drake tem um objetivo na ponta da mira: o pop. Difícil chamá-lo de hip hop quando se lembra de Afrika Bambaataa e seus cinco elementos, mas de qualquer forma ele traz novos sabores ao saturado mainstream americano. Isso enquanto Drake está sozinho, pois na maioria das faixas ele é acompanhado de alguém de peso—peso de caça-níquel. Lil Wayne, Alicia Keys, TI,Young Jeezy, Swizz Beatz e Jay-Z em “Light Up”—que parece ter sido resolvida em algumas horas. As letras exaltam seu talento de chegar ao nível de popularidade da lista acima. “Show Me a Good Time”, “Over” e “Find Your Love” têm o poder grudento para ir ao topo das paradas, mas não de acrescentar muito além de ótimas melodias no refrães. Bruno Felin
CHEMICAL BROTHERS Further
“Snow” é o intenso e instigante pouso, e “Wonders of Deep” é a melancólica e catártica despedida, da recém lançada nave espacial de Ed Simons e Tom Rowlands. Entre as duas, existe uma sinfonia de beats e notas com indescritível poder de abdução. O álbum é crescente (como revela o primeiro single – e segunda faixa, “Escape Velocity”), com canções singulares, mas que dialogam e se complementam. Further é um tributo à música eletrônica que bebe em sagradas fontes de inspiração: passa pela psicodelia, pelo pós-punk e flerta com o rock indie contemporâneo e com a crueza futurística do pioneiro Kraftwerk. Ao lembrarem os tempos de Dig Your Own Hole, os Chemical Brothers provam que estão mais vivos do que nunca. Foram além. Maria Joana Avellar
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WOLF PARADE Expo 86
Escute também: Bossanova, Pixies At the BBC, The Purple Tapes: Complete B-Sides
Talvez por ser um grupo com uma trajetória tão singular - é uma “banda principal” que só “acontece” no hiato dos projetos paralelos de Dan Boeckner e Spencer Krug não é nada difícil entender por que o Wolf Parade continua soando tão vital quanto há cinco anos. Longe do barulho do hype, mas próximo o suficiente para ser ouvida, a banda opera num universo próprio, onde são os únicos que controlam seu tempo e sua arte. Como os anteriores, Expo 86 é uma espécie de rádio setentista underground tocando em loop, cujo dial passa da fritação dos Stooges à fúria contida do Black Sabbath, da elegância dândi de Bowie ao pré-rock-de-estádio do Led Zeppelin – só que tudo mais vivo e brutal graças à gravação sem firulas desse registro. Livio Vilela
DiscografiaBásica
we are scientists Barbara
Em Barbara, o We Are Scientists retoma o pop objetivo e simples de With Love and Squalor, primeiro e mais aclamado álbum da banda. Não há nenhum momento particularmente criativo e diferenciado. Ainda que a abertura com “Rules don’t stop” e músicas como “Nice Guys” e “You should learn” resgatem a energia do álbum lançado em 2005, notadamente, a inconsistência continua sendo a principal característica da banda. Barbara é facilmente digerível e traz aquele formato comercial verse-bridge-chorus, colando algumas melodias na sua mente. É cantarolável em inúmeros momentos, porém não se consubstancia. Em suma, está aí um álbum para se ouvir e gostar, porém para esquecer em poucos meses. Gustavo Corrêa
PIXIES
por Carlos Guimarães
SURFER ROSA | Depois da promissora estreia independente com o EP Come On Pilgrim, Black Francis e banda sedimentaram a base de todo o rock alternativo e do grunge que assolaria o mundo anos depois. Com a produção de Steve Albini (o mesmo de In Utero, do Nirvana), o álbum é uma síntese de toda a autenticidade e inovação do Pixies. Unindo a destruição de “Where’s My Mind”, a elegância de “Gigantic” (cantada pela baixista Kim Deal) e frescor de “Bone Machine”, passando por influências latinas e referências de surrealismo, voyeurismo e morte, Surfer Rosa é a perfeita fusão de uma banda no ápice da criatividade com a instigante participação de seu produtor. O disco de cabeceira para a década seguinte. DOOLITTLE | Antes de “Losing My Religion”, do R.E.M., e da explosão do rock universitário dos anos 1990, coube ao Pixies lançar o primeiro super hit alternativo de que se tem notícia. “Here Comes Your Man” alçou a banda ao estrelato. No entanto, Doolittle não é só isso. Com uma produção mais sofisticada, a banda agregou o pop à sua sonoridade. O disco mostra uma banda em constante evolução, produzindo um manancial de grandes canções, como “Hey”, “Debaser”, “Wave of Mutilation”, “La La Love You” e “Monkey Gone to Heaven”. Com a guitarra inspirada de Joey Santiago e o baixo preciso de Kim Deal, a banda consolidou uma identidade. O cartão de visitas do Pixies estava pronto e era o que se ouvia em Doolittle.
TROMPE LE MONDE | Sucessor de Bossanova (1990), Trompe Le Monde foi o último álbum
da banda antes da parada de mais de uma década e dos trabalhos solo de Black Francis e do Breeders, a boa banda de Kim Deal. Menos inspirados que os arrebatadores Surfer Rosa e Doolittle, o disco marca a presença exclusiva de Francis nas composições. É quase um avant-premiére de sua carreira solo. Entretanto, ainda se sente a velha energia do Pixies, principalmente em “Planet of Sound” e “Alec Eiffel”. Em uma das melhores faixas, “Letter to Memphis”, a influência do que se fazia no mundo em 1991. Embora irregular, é responsável por uma dos covers mais incríveis da década. A versão de “Head On”, do Jesus & Mary Chain, é antológica.
teenage fanclub Shadows
Os mais fiéis herdeiros do Big Star, legendária banda norte-americana dos anos 60 e 70, pioneiros do chamado power pop, os escoceses do Teenage Fanclub estão de volta com álbum inédito depois de cinco anos de hiato. A receita é a mesma que consagrou a banda em pérolas como Bandwagonesque e Grand Prix: belas melodias, lindas frases de guitarras e a doce voz de Norman Blake. Sem permitir concessões de apelar para a falsa modernidade que infesta o rock atual, Shadows é legítimo e coerente com as tradições da banda. Não é o melhor trabalho do quarteto (esse posto ainda está com o belíssimo Bandwagonesque), mas ainda assim um membro respeitável na dinastia de grandes álbuns da banda de Glasgow. Carlos Guimarães
HOT HOT HEAT Future Breeds
O Hot Hot Heat é sempre uma banda que tenta, mas inevitavemente não consegue. Seu O lançamento mais carismático aconteceu em 2003, com Make up the Breakdown, que arrebanhou alguns fãs de momento (quem não lembra de “Bandages”?), mas os canadenses de Victoria não conseguiram se manter no topo por muito tempo. Então, se você pensa que eles haviam se aposentado, não é o caso, ainda. Future Breeds empolga, pero no mucho. “JFK’s LSD” é daquelas faixas que arrasta até um dinossauro para a pista de dança, e “Nobody’s Accusing You (Of Having A Good Time)” tem algo de energia adolescente que lembra um pouco o “Fluorescent Adolescent” dos Arctic Monkeys. Fora isso, nada demais. Jogamos como nunca, perdemos como sempre. Fernanda Grabauska
FINO COLETIVO Copacabana
Diz muito a presença oficial de Donatinho nos teclados de Copacabana. Se o disco não tem a magnitude do que Donato, o pai, fez no Beco das Garrafas, demonstra intenção semelhante de inovar. Grooveando música essencialmente negra, o Fino Coletivo se esforça em beber do passado sem entregar uma repaginação nascida morta—poderiam estar revivendo Lenines ou eletrificando bossas, mas desde 2007 apontam noutra direção. Não precisaram sair do Rio para encontrar os Novos Baianos na bonita versão de “Swing de Campo Grande”, faixa que os colocou no selo Oi Música. No entanto, passagens como a visita à Copacabana nostálgica e o malandro de “Fidelidade” não escapam do gostinho de repeteco. Fernando Corrêa
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ta por vir .: 14/09/2010_Of Montreal | False Priest “Há uma influência pesada de R&B, sons muito dançantes e funky”, contou ao hypante Pitchfork Kevin Barnes, frontman do Of Montreal, sobre False Priest. Gravado por Barnes em casa, o fruto de mais uma de suas aventuras DIY pode ser uma referência à criação católica que Barnes recebeu, e que não surtiu muito efeito no mundo lofi multicolorido do excêntrico compositor.
confira Uffie Sex Dreams and Denim Jeans ___Depois de uma lacuna de 3 anos, Uffie, musa dos DJs e da música eletrônica francesa, finalmente lança seu primeiro álbum. Sem muitas surpresas, músicas como “Pop The Glock” e “First Love” são ótimas, para quem ainda não ouviu.
Jack Johnson To The Sea ___Sem arriscar, Jack Jonson apresenta mais 13 peças de seu soft rock praiano em clima de jam session. Nada de novo—mesmo a embalagem de papel reciclado—, mas nada fora do lugar. Difícil resistir ao clima de despreocupação que permeia quase todo seu trabalho.
The Roots How I Got Over ___O The Roots lançou How I Got Over, sucessor de Rising Down (2008) com muita aclamação e surpresa— haviam anunciado que o disco anterior seria o último. Mestres do hip hop da Filadélfia, seguem investindo em grooves jazzísticos, pitadas de rock e soul. Inovação é com eles mesmo.
redescoberta BEACH BOYS
Wild honey (1967)
Qual banda consegue sair de tamanha crise—um disco abortado e um gênio surtado—com uma obra desse nível? Brian Wilson teve o famoso colapso durante as intermináveis gravações de Smile, mas nunca deixou de produzir. Em Wild Honey, gravado logo depois, nove das onze músicas são assinadas pela dupla Brian e Mike Love. É o disco soul dos Beach Boys, com direito a regravação de “I Was Made to Love Her”, de Stevie Wonder. “Darlin’” se tornou hit, festejada pelos fãs do grupo até hoje. Mas são canções de beleza discreta como “Aren’t You Glad”, “I’d Love Just Once to See You” e “Let the Wind Blow” que revelam como a banda, após a turbulências de 1967, conseguiu manter o rumo e ainda surpreender. Leonardo Bomfim
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cinema KICK-ASS
Diretor_ Matthew Vaugh Elenco_Aaron Johnson, Chloe Moretz, Nicolas Cage, Christopher Mintz-Plaase e Mark Strong. Lançamento_ 2010
A premissa de Kick-Ass, de certa forma, não difere muito da de Dom Quixote: de tanto ler quadrinhos, o adolescente Dave Lizewky (Aaron Johnson) perde a noção e decide sair combatendo o crime vestido de super-herói. Uma de suas incursões acaba sendo filmada via celular e vai parar no Youtube. Não tarda a descobrir que já existem outros tão malucos quanto ele, mas com mais preparo: Big Daddy (Nicolas Cage, excelente no papel) um ex-policial vestido de Batman genérico, e sua filha Hit-Girl (Chloe Moretz), uma meiga super-assassina de 11 anos. Os dois movem uma vingança pessoal contra um chefão do tráfico (Mark Strong, vilão de quase todo filme de
ação lançado esse ano). O filho deste (Christopher Mintz-Plasse, o McLovin de Superbad), por sua vez, quer impressionar o pai, e também passa a se vestir como um super-herói. Adaptado de uma HQ de Mark Millar (autor também de Procurado, que deu origem ao filme homônimo com Angelina Jolie), Kick-Ass redime o diretor Matthew Vaughn (do pavoroso Stardust) com um filme que não se preocupa em fazer concessões à classificação etária – qualquer cena com Hit-Girl é um banho de sangue tão violento quanto hilário, numa fusão quase tarantinesca de paródia e homenagem ao gênero. Samir Machado
O ESCRITOR FANTASMA
Diretor_ Roman Polanski Elenco_ Timothy Hutton, Ewan McGregor, Olivia Williams, Tom Wilkinson, Pierce Brosnan, James Belushi, Kim Cattrll Lançamento_ 2010
Nas cenas iniciais de O Escritor Fantasma um autor desempregado vivido por Ewan McGregor ouve a proposta tentadora de seu agente literário de terminar as memórias do exprimeiro-ministro inglês Adam Lang, após a morte repentina do ghostwriter contratado para a tarefa. Mesmo desconfiado de que algo cheira mal, ele aceita o trabalho. A caminho dos Estados Unidos, onde Lang (Pierce Brosnan) vive exilado e cercado de seguranças em uma mansão numa ilha isolada, seus pressentimentos se comprovam: pela imprensa, ele descobre que o passado do político, que envolve suspeitas de tortura praticadas pelo exército britânico no Iraque à época de seu mandato, está
sendo investigado. Em meio às entrevistas com Lang (e ao acirramento da pressão popular e da imprensa contra o político), o novo ghostwriter inicia uma investigação paralela da vida do biografado, que o leva a descobertas mais comprometedoras do que as que comporão o livro. De forma brilhante, Polanski imprime uma tensão contínua às cenas à medida que a trama em que o personagem de McGregor se insere começa a se desenrolar. Mesmo como fio condutor, o tema político fica em segundo plano quando se pensa na condição atual do diretor (que acompanhou a montagem do filme à distância, no chalé onde vive exilado na Suíça), tão parecida com a de Lang. Lucca Rossi
cinema
O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR.PARNASSUS
TOY STORY 3
O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus foi pensado para quem vive um pouco longe da realidade.À parte da viagem lisérgica que é o filme como um todo, dois pontos devem ser destacados. Primeiramente, a capacidade de desdobramento em edição, que amarrou logicamente a história. Grande parte do material foi filmado após a morte de Heath Ledger, que vive George, filantropo corrupto que dá sentido à trupe circense de um mezzo bêbado Dr. Parnassus.Além disso, Tom Waits abala toda e qualquer noção de genialidade em sua representação de um diabo apostador.Vale a pena acompanhar o doutor de vida eterna, que, através de um espelho em ruas aleatórias da Inglaterra, permite a entrada de outros em um mundo imaginário, onde o subconsciente se manifesta e tudo é possível. Fernanda Grabauska
Quinze anos depois, o terceiro Toy Story vem coroar tudo o que fez a Pixar se destacar no cinema de animação por computador: sentimento, ação e humor, com a sutileza de emoções tão característica do estúdio.Andy está com 17 anos, prestes a ir para a faculdade, e precisa decidir o que fazer com seus antigos brinquedos. Por acidente, acabam doados a uma creche, cujos brinquedos são mantidos pelo urso de pelúcia Lotso num regime injusto, e dali, precisam organizar uma fuga que parodia os filmes de prisão. Roubando a cena, o metrossexual boneco Ken (Michael Keaton) dá mote às melhores piadas. Toy Story 3 encerra a série com provavelmente seu melhor episódio, e é esse tom de despedida que garante as lágrimas ao final, tanto entre crianças quanto adultos. Samir Machado
deTerry Gilliam (2010)
de Lee Unkrich (2010)
livros
EXTremamente alto & incrivelmente perto de Jonathan Foer (2006)
Em 11 de setembro de 2001,Thomas Schell estava no restaurante do último andar de um dos prédios do World Trade Center. Ele morre e deixa órfão Oskar. Mesmo dois anos após a morte do pai, o menino ainda não a superou. Mexendo em suas coisas, encontra um vaso azul, com um envelope escrito Black e uma chave dentro. Decide, então, ir em busca da fechadura. O livro relata a trajetória, apresentando também a relação de seus avós e dos bombardeios de Dresden como pano de fundo. A história é trágica, angustiante. Inquietante. Entretanto, possui a dose ideal de humor. Com a narrativa feita—em sua maior parte—por Oskar, Foer consegue traduzir a imaginação da criança, que mesmo com um nível de inteligência superior às outras, não perde as peculiaridades infantis. O autor lança mão de grafismos e imagens que deixam a criativa obra ainda mais interessante. Lara Mizoguchi
Redescoberta A Cidade das Tristezas (1989) Nas últimas décadas, o cinema oriental se tornou uma coqueluche entre críticos e cinéfilos. Há sempre uma novidade de olhos puxados. Hou Hsiao-hsien, filmando desde o início dos anos 80, é o nome mais importante dessa onda de grandes cineastas: muita coisa que se tornou referência do cinema contemporâneo vem do seu olhar. Na Ásia, como nos mostra a obra dos badalados Wong Kar-wai e Jia Zhang-ke, ele é rei. Em A Cidade das Tristezas, o grande personagem é um terror silencioso, as entrelinhas de um momento político conturbado da história de Taiwan. Uma lição de como usar as elipses para evidenciar o irrepresentável. Leonardo Bomfim
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SHOWs 1
fotos: 1 | Victor Sá 2 | Victor Sá 3 | Divulgação 4 | Felipe Neves
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POPLOAD GIG São Paulo, Studio SP, 10/06
O Girls é formado por meninos, e o Men, liderado por uma menina - de bigode, é verdade, mas uma mina. Foi assim a terceira edição do Popload Gig: questões de gênero ficaram um pouco confusas. O festival, organizado pelo jornalista Lúcio Ribeiro, rolou no dia 10, no Studio SP e contou com um line-up de altos e baixos. A primeira banda, os curitibanos do Homemade Blockbuster fizeram parte do time dos “altos”. Com uma sonoridade típica dessa nova e interessante safra de bandas indies, os caras trouxeram um rock rápido e dançante, com guitarras afiadas e uma batida que obriga o público a se mexer. Pena que pouca gente ouviu, já que a casa ainda estava vazia ao fim do show. De qualquer forma, os jovens mostram que têm futuro. Na sequência, o projeto cover White Strippers tocou inúmeros hits do famoso duo de Detroit. Contando com a baterista Claudia Bukowski (do hypado Copacabana Club), os também curitibanos não mostraram nada de excepcional, mas cumpriram seu papel: aqueceram o público para a maior atração da noite, Girls. A dupla californiana fez, sem dúvidas, o melhor show da noite. Com a casa cheia, emocionaram com belas canções repletas de sutileza e dor. O primeiro trabalho da banda, simplesmente intitulado Album, foi esmiuçado. A temática de términos de relacionamento, disfunções emocionais e rompimentos em geral permeia todo o disco. Como na comovente “Laura”, que foi cantada com devoção por
Christopher Owens (vocal) e público. A barulheira distorcida à moda Sonic Youth, somada a uma melodia praiana, foi um dos pontos altos na espetacular “Morning Light”, melhor canção da banda. O som do Girls muito se assemelha ao físico do vocalista Chris Owens. Magrelo e frágil, o artista tem um olhar distante e ao mesmo tempo intenso, como sua música - que, por trás de aparente leveza, carrega dores e sensibilidade profundas. A última canção, o hit “Lust for life”, contou com a frustrante participação da cantora Stephanie Toth. O vocal da menina mal pode ser ouvido diante do coro extasiado da plateia. Contrastando com essa fragilidade, JD Samsom apareceu cheia de atitude com o MEN. Infelizmente, a banda nem de perto se compara ao seu mais famoso projeto, o Le Tigre. Com figurinos pra lá de extravagantes, o trio deixou a desejar. O público assistiu a tudo indiferente aos esforços da cantora, sempre simpática e enérgica.Talvez por conta do horário, ou pela intensidade da atração anterior, as batidas rápidas do MEN não animaram e, aos poucos, a galera foi embora. Para encerrar a noite, o anárquico Bonde do Rolê não apresentou nada de muito relevante. É tipo quando um jogador de futebol entra em campo faltando menos de cinco minutos para o fim do jogo e não recebe nota. Para pouco mais de 10 gatos pingados, a trupe fez o que sabe: bagunça despretensiosa e caos. E encerrou, assim, uma noite marcada pela dicotomia entre a sutileza e a agressividade. Nessa noite, a sutileza levou a melhor. Victor Sá
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CONEXÃO VIVO
MADELEINE PEYROUX
Belém, Píer das Onze Janelas, 11/06 a 13/06
Porto Alegre, Teatro do Bourbon Country, 13/06
Resultado das conexões entre ritmos tradicionais e uma forte indústria de música eletrônica, Belém tem audiência para bandas novas e começa a despontar suas primeiras crias para o resto do país. Foi este novo panorama que norteou a etapa do Conexão Vivo na cidade, em junho. O maior exemplo desse cenário, a cantora paraense, Gabi Amarantos, é a estrela maior. Diva das aparelhagens, instrumento-ícone da explosão do tecno-brega, ela desfilou hits do batidão e músicas próprias, como “Beba, doida”. Na população de cantoras desse ritmo, Gabi dá um passo à frente por ter recebido a bênção de públicos mais “alternativos”. Chamada de “Beyoncé do Pará”, Gabi condensa as referências kitsch do gênero, como dançarinos em tecido lamê, com um apurado conhecimento pop. “Sou a Lady Gaga ribeirinha”, disse. Também parece conhecer as engrenagens e macetes do mercado musical. Por toda essa dedicação, deve estourar logo. No âmbito das musas, outro destaque foi Nina Becker, que faz do festival seu laboratório para seu primeiro trabalho solo. Descontraída, se revelou como uma das cantoras mais interessantes de sua geração e fez dueto com Gabi. O Eddie, que está na estrada há anos, também surge no festival como uma espécie de revelação, na esteira de seu melhor trabalho, Carnaval no Inferno. Eles encerraram o festival como uma banda grande que sonham (e merecem) ser. Outras boas surpresas foram o MiniBox Lunar, do Amapá e o paraense Pio Lobato. Paulo Floro
A plateia foi o espelho do show: sentados, a luz baixa só atingia os olhos, que observavam quase hipnotizados, traçando uma linha reta em direção ao rosto de Madeleine. O único movimento permitido era o dos pés e dedos— estralados com o mesmo prazer e ritmo de um baterista de jazz. O show tinha dona. E, quase sem querer, quando ela concedia o silêncio, todos os anestesiados pela voz não conseguiam conter as palmas. Se existia algum receio sobre o material autoral de Bare Bones, último disco da cantora, a apresentação mostrou—com elegância e quase deboche—a falta de sentido em tentar comparar covers com músicas próprias. Tudo é autoral. Ao contrário do que o senso comum pensa, uma banda não precisa de identidade visual, nicho ou segmentação: precisa de repertório. E foi exatamente isso que foi passado: música, sem demais comprometimentos. Os covers que fazem parte da trajetória da cantora, como “Dance me to the end of love” e “La Javanaise” ficaram em sintonia com “Instead” e “You can’t do me”, composições novas. Algumas inéditas também foram apresentadas, esboçando um novo disco na mesma linha de Bare Bones. Madeleine é uma artista completa: se apresenta e compõe de formas distintas entre si, porém impecáveis como sua voz. Calma, não silêncio. Com uma apresentação sincera, Madeleine Peyroux não precisou impor encantamento: apresentava-se como uma artista de rua, a plateia tornavase um chapéu cheio de moedas. Ana Laura Malmaceda
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SHOWs
fotos: 5 | Gustavo Lacerda 6 | Laya Lopes/Vice
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SUPERGRASS
CURVAS SONORAS
Paris, La Cigale, 11/06
São Paulo, Estúdio EMME, 26/06
As 1,2 mil pessoas que foram à última apresentação do Supergrass presenciaram algo raro: três dos quatro irmãos Coombes no palco, e o quarto na plateia. Gaz atacava com fúria os vocais, impondo-se como o grande frontman que é. Rob ficou escondido no fundo do palco sem tirar os olhos de seu teclado. Charly animou o público com sua banda, Charly Coombes & The New Breed, e ainda tocou guitarra, meia lua e percussão com o Supergrass. O quarto irmão, Ed, assistia ao concerto no antigo cabaret construído em 1887. Junto com Gaz, o baterista Danny Goffey manteve o palco em chamas. O contraste da postura dos dois com a pouca animação de Rob e do baixista, Mick Quinn, ilustra as palavras que anunciaram o fim do grupo: “Ainda nos amamos, mas, sem clichês, nossas diferenças musicais nos levaram a seguir adiante”. O show foi feito em retrospectiva, do último disco ao primeiro. Se o público parecia pouco conhecer os dois últimos, Diamond Hoo Ha e Road to Rouen, bastou que se entrasse no período de Life on Other Planets para começar a pular e não parar mais. Foi em “Brecon Beacons” que o chão começou a tremer.“Grace”, então, foi logicamente uma das mais cantadas. Após mais de uma hora e meia de apresentação, chegou-se ao início de tudo:“I Should Coco”. O Supergrass teve a morte ideal, no ventre do seu primeiro single,“Caught by the Fuzz”.A música que Gaz escreveu após ser pego com maconha pela polícia foi, naquele instante, o réquiem de um dos grupos mais importantes do britpop. Gustavo Lacerda
A gravadora inglesa Curve Music vem se notabilizando por recrutar ao seu cast artistas interessantes e de sonoridades diversas da recente boa safra de bandas independentes nacionais. E a noite Curvas Sonoras, promovida pelo selo, é uma excelente oportunidade para ver seus pupilos em ação no palco. Já na sua segunda edição, o evento desta vez aconteceu no estiloso Estúdio EMME, lugar dotado de um palco amplo e estrutura aconchegante, e trouxe na escalação artistas que refletem a diversidade da gravadora inglesa como o DJ carioca Lucio K, que cuidou de entreter a plateia entre os shows com sua discotecagem repleta de latin jazz, os cearenses d’O Jardim das Horas, os curitibanos do Rosie and Me e os gaúchos do L.A.B. Os cearenses abriram os serviços instrumentais para um público ainda em formação, mas ignoraram este fato e injetaram energia nas músicas de seu recém-lançado álbum de estreia, O Quarto das Cinzas, como na pulsante “Amarelolilas”. O Rosie and Me veio em seguida para defender a condição de “a banda mais quente surgida na última semana” e, apesar do visível nervosismo da vocalista Rosanne Machado, saiu-se muito bem. O folk bucólico apresentado no EP de estreia Bird and Whale ganha peso no palco, com destaque para a habilidade harmônica do guitarrista Thomas Kossar. A noite acabou no clima de balada com o trio gaúcho L.A.B. disparando seu rock movido a batidas eletrônicas geladas e colocando vários esqueletos cansados para chacoalhar já na alta madrugada. Leonardo Dias Pereira
_ilustra BRUNO KURRU | brunokurru.com
jammin’
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Qualquer coisa Renato Prada
LULINA FALA SOBRE... __MUNDO INTERIOR |
Enquanto escrevo, milhões de partículas de matéria escura do universo perfuram o meu cérebro sem eu nem sentir. Aprendi isso assistindo a mais um capítulo do meu programa de TV preferido, “O Universo”, todas as quartas à noite no History Channel. Essa tal matéria escura ocupa mais de 90% do universo, é invisível e não interage com a matéria comum. Ou seja, para ela, é como se não existíssemos. Passa por nós como um fantasma passaria por uma porta. Até suspeito de que seja feita das mesmas partículas que as almas—se você visse os cientistas tentando provar
sua existência, se lembraria na hora dos caça-fantasmas. Tão bom quanto programas que lembram o quanto você é insignificante são os que mostram o quanto você é moralmente primitivo. É também na quarta que frequento, de vez em quando, um templo budista e, às vezes, até palestra em centro espírita. Nada de ir pedir a Deus ou a Buda isso ou aquilo. Conforto é uma coisa que você definitivamente não encontra nesses tipos de abordagens religiosas. O ensinamento aqui é quase o mesmo da matéria escura, só que o que se mostra insignificante não é a matéria, mas sim os valores relacionados a ela. Ciência ou religião, dá no mesmo: o importante é ter algo para tirar você da bolha da rotina, que, se não tomarmos cuidado, torna-se nosso único mundo possível. De repente, nossa história se resume a ir ao trabalho, ter preocupações, colecionar reclamações e entrar na corrente de ambição da idéia de vida perfeita que nos é vendida, nos transformando em um buraco negro ambulante. Abro os olhos, é segunda-feira. Pisco, é sexta. Onde foi parar a minha semana? O que aconteceu comigo enquanto isso? Perigo é se acostumar à realidade que construímos, onde
não sentimos nada além do que é requisitado pelos fantasmas da sociedade. Conhecer é se machucar, é quebrar as pernas das nossas crenças e perceber o tempo todo o quanto somos previsíveis. Que sentimos raiva, inveja, que traímos e passamos por cima dos outros quando as coisas não acontecem do nosso jeito, aceitando esse padrão de comportamento humano. Mas todo dia é uma chance de reconstruir o nosso mundo interior. Uma batalha que poucos travam, pois o prêmio é tal como a matéria escura: invisível, não interage com nossas mãos e até agora ninguém conseguiu provar que existe.
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