Lucie and Simon shoot the expected in unexpected ways. what do you do? converseallstar.com.br/linhapremium
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• COLABORADORES |NOIZE #36
DO UNDERGROUND AO MAINSTREAM
• EXPEDIENTE #36 // ANO 4 // AGOSTO ‘10_ DIREÇÃO: Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha
Ana Laura Malmaceda ana@noize.com.br Gustavo Foster foster@noize.com.br Maria Joana Avellar joana@noize.com.br
COMERCIAL: Pablo Rocha pablo@noize.com.br
REVISÃO: João Fedele de Azeredo jp@noize.com.br Fernanda Grabauska fernanda@noize.com.br
EDIÇÃO: Fernando Corrêa nando@noize.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha rafarocha@noize.com.br DESIGN: Douglas Gomes doug@noize.com.br ASSIST. DE CRIAÇÃO: Cristiano Teixeira cris@noize.com.br REDAÇÃO: Bruno Felin bruno@noize.com.br
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Júlia Alves julia@noize.com.br DISTRIBUIÇÃO: Marcos Schneider marcos@noize.com.br PROJETOS: Leandro Pinheiro leandro@noize.com.br SCREAM & YELL: Marcelo Costa www.screamyell.com.br
MOVE THAT JUKEBOX: Alex Correa Neto Rodrigues www.movethatjukebox.com RRAURL: Gaía Passarelli www.rraurl.com FORA DO EIXO: Ney Hugo Camila Cortielha Marco Nalesso Michele Parron www.foradoeixo.org ANUNCIE NA NOIZE: comercial@noize.com.br ASSINE A NOIZE: assinatura@noize.com.br
PONTOS: Faculdades Colégios Cursinhos Estúdios Lojas de Instrumentos Lojas de CDs Lojas de Roupas Lojas Alternativas Agências de Viagens Escolas de Música Escolas de Idiomas Bares e Casas de Show Shows, Festas e Feiras Festivais Independentes TIRAGEM: 30.000 exemplares CIRCULAÇÃO NACIONAL
AGENDA: shows, festas e eventos agenda@noize.com.br ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados
• EDITORIAL | Um Viva À Loucura. Agosto deveria ser o mês do cachorro louco, dizem. Por sorte, na música, a loucura está diretamente associada à genialidade. E “de louco todo mundo tem um pouco”, já dizia o outro. Então não há nada de pejorativo em elencar os grandes artistas que compõem a NOIZE #36 em meio a essas associações. Helio Flanders tem, na matéria-chefe da edição, um retrato digno da melancolia que exalavam gênios britânicos como Nick Drake e Syd Barrett. E, não por acaso, ele cita os dois gênios loucos, cujos corpos já viraram comida de minhoca, ao longo da conversa e das fotos registradas em uma tarde invernil.A Holger, por outro lado, não tem nada de melancólica, mas a efusividade anárquica de suas apresentações indica que eles bem que gostariam de estar em uma edição que fizesse menção à doideira—desejo atendido no ensaio de fotos lá para o fim da revista. O mestre psicodélico Plato Divorak é cachorro louco por excelência, e há quem coloque sua genialidade lado a lado com a do conterrâneo Júpiter Maçã. Por fim, o Damn Laser Vampires é um grande nome do psychobilly que junta nada mais do que três seres do capeta tocando guitarras e bateria endiabradas no limite entre o literal e o fantasioso. Eles a gente levou para o meio da lama, mas como eram muito bons, trouxemos de volta. E sob essa aura louca, a revista está cheia destes e de outros textos e fotos bastante sóbrios, coloridos, divertidos. Apenas leia.
• ARTE DE CAPA_ ALEXANDRE “SESPER” CRUZ Confira no site noize.com.br uma entrevista com o artista. sesper.com
• BÉÉÉÉ_ Não temos certeza, mas sim a impressão de que a edição passada passou sem grandes erros da nossa parte. Mesmo assim... Dicas, sugestões e reclamações: noize@noize.com.br
1. Alexandre “Sesper” Cruz_ im a mess but who cares sesper.com 2. Gaía Passarelli_ Jornalista, confunde-se com a própria história do rraurl.com, maior portal sobre cultura eletrônica do Brasil. 3. Nove_ do digital ao orgânico. www.digitalorganico.com 4. Cristiano Bastos_ Self Made-Man. Jornalista. Autor do livro Gauleses Irredutíveis. Colaborava com a revista Bizz. É repórter especial da Rolling Stone.Finaliza o doc Nas Paredes da Pedra Encantada, sobre o álbum Paêbirú (1975), de Lula Côrtes e Zé Ramalho. zuboski.blogspot. com 5. Fernando Schlaepfer_ Designer por formação, ilustrador por aptidão, D.J. por diversão e fotógrafo por paixão. 6. Marcelo Costa_ Editor do screamyell.com.br, trabalha na edição da capa do portal iG e escreve sobre cultura pop como conversa na mesa do bar. 7. Marco Chaparro_ theblackeyeddog.tumblr.com 8. Camila Mazzini_ Jornalista e fotógrafa morando em são paulo mas não sabe o que quer da vida. flickr.com/photos/ camila_mazzini 9. Guga Azevedo_ Jornalista e discotecário Curitibano na linha de bamba. Mantém o blog subtropicalia.wordpress.com e produções pela Lumen FM. 10. Fernanda Botta_ Jornalista, entusiasta do brechtian punk cabaret, eventualmente publica seus rabiscos em 8linepoem. devianart.com 11. Samir Machado_ Designer, escritor e um dos editores da Não Editora. www.naoeditora.com.br 12. Eduardo Guspe_ Membro fundador do Núcleo Urbanóide, ultimamente se dedica a produzir DONUTS. facebook.com/eduardo.guspe 13. Rayana Macedo_ Enquanto não está ocupada defendendo sua tese de que Mexico é o melhor país do mundo pelas ruas de Oxford, Rayana trabalha como fotografa. twitter.com/rayana 14. Gustavo Lacerda_ Estudante de jornalismo que enfim vai se formar, com um pé na literatura e o outro no ar. 15. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento. 16.Victor Sá_ Formado em comunicação social, trabalha como jornalista, roteirista e fotógrafo em diferentes mídias sociais. flickr.com/victor_sa 17. Henrique Lammel_ Jornalista e ator de filmes pornô tipo B. 18. Neto Rodrigues_ Morador de Minas há incontáveis anos, quase foi um engenheiro. Hoje ronda a publicidade e torce pela volta do Oasis. 19. Alex Correa_ Carioca, mas gosta mesmo é de São Paulo e acredita na genialidade do Kasabian até o fim. 20. Diego de Carlo_ Jornalista a serviço da publicidade. Já segurou a mão de Beth Gibbons e soltou lágrimas no Rio Danúbio. Hoje vive num quartinho de empregada. 21. Lidy Araujo_ Jornalista, baixista frustrada e louca por Ramones e Red Hot Chili Peppers. Seu site é lidyaraujo.com.br 22. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema, edita o freakiumemeio.wordpress.com
Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados
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• THIS IS NOIZE SUPERSTYLLIN’! Se Você Não Gostou da NOIZE Passe Adiante
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NOIZE
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_foto: Fernando Schlaepfer | flickr.com/anendfor
life is music
NOME_ Ronald Rios PROFISSÃO_ Escritor, produtor, locutor, comediante, apresentador de TV e ex-caixa da C&A (demitido em 8 dias) UM DISCO_ Weezer | Pinkerton
“Muito da minha personalidade, o jeito que eu vejo meninas, veio do Pinkerton. Fora que musicalmente é fantástico. Hoje em dia ouço muito mais rap, então destacaria o Eminem Show também, é um CD que eu ouço sempre que tô escrevendo. Acho ora engraçado, ora motivante. Clássico. Já escrevi jingles e também faço músicas com meus amigos.Tenho projetos de lançar algo.Torço para achar tempo para tacar ficha nisso! A música influencia na postura [ao trabalhar], creio. Confiança e tal, tiro isso muito da música.”
LEIA ISTO “Pra mim os Ramones foram transgressores em muita coisa, mas eles foram extremamente caretas ao se plagiarem a carreira inteira.” “Penso [nos grandes festivais] da mesma maneira que quando você vai a um restaurante e eles têm um cardápio enorme. Nunca sei o que comprar, sempre sinto que saí perdendo. Mais escolhas não são necessariamente uma coisa boa.” Jeff Tweedy | Wilco
Helio Flanders | Vanguart, na matéria que você lê logo mais.
“Pra virar SHEREK só tenho que infincar uma vuvuzela em cada oreia porque verde, gordo e nojento eu já sou (sic).” João Gordo
“O Beck me contou que, em Modern Guilt, ele trabalhou em algumas músicas por meses, escrevendo letras maravilhosas, e no fim das contas as músicas que saíram melhores foram as que ele gravou da boca pra fora.” Jamie Lidell
“Rapaz, eu achei que ela fosse chegar em um carro blindado ou algo assim.” Derek Millers | Sleigh Bells, sobre trabalhar com M.I.A.
“Sendo honesto, houve um determinado ponto [durante a gravação de Surfing The Void] em que eu pensei ‘Terá sido tudo apenas um momento passageiro que nós não conseguimos recriar? Será que nós um dia conseguiremos novamente?
“Miliquinhentos seguidores. Já dá pra montar uma igreja...” Paula Toller
James Righton | Klaxons
_JOAO GORDO, KLAXONS, SEX PISTOLS, OF MONTREAL, WILCO, KASABIAN
“No começo da banda, as pessoas se espantavam, achavam que a gente era vampiro.”
Tom Meighan | Kasabian
NOIZE.
“Acho que há menos talento original agora do que 30 anos atrás. É tudo muito mais fabricado. E a pena é que eu abri tantas portas para tanta gente, e eles, tolamente, as fecharam às suas costas. Então o que você tem agora é um monte de merda.” John Lydon | Sex Pilstols e PiL
“A situação da [seleção da] Inglaterra? Eu não dava a mínima. Vesti a camiseta por promoção e pela banda e os propósitos da nossa música, porque era algo bom, em termos promocionais, vestir a camisa da Inglaterra, mas a equipe simplesmente não deu certo. Foram péssimos. Sou um cara mais de time do que de seleção, sou um fã do Leicester City. E a Inglaterra é horrível, não vamos falar dela, é uma merda.”
Michel Munhoz
| Damn Laser
Vampires, em matéria nesta
“A gente ama filmes trash, pornografia... coisas escatológicas em geral. E a gente também gosta muito de fazer cocô.” Holger | que está nesta edição.
“Ao contrário da maioria dos artistas que se dizem libertários, eu não tenho muita coisa contra rótulos. O problema é que eles servem enquanto a garrafa está cheia, depois que você bebe tudo o que tem dentro, o rótulo não quer dizer mais nada, então é hora de abrir outra garrafa, beber outro líquido, indicado por outro rótulo.” Supercordas noize.com.br
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noize Nadir Hashmi / C.C.
as marcas pagam a conta Talvez seja novo para algumas pessoas, mas para quem cresceu tendo como maior revolução a internet, a discussão sobre Creative Commons e uma gigantesca indústria musical enfraquecida-quase-zumbi já são assuntos cotidianos. E cada um puxa para o lado que mais lhe interessa. O público descobriu que não precisava pagar R$ 40 por um disco, então, mesmo podendo pagar R$10, não paga. As gravadoras ficam indignadas e fazem diversos absurdos, mas agora são obrigadas a continuar o jogo. Mas isso não é assunto para este texto. Pelo contrário, o assunto aqui é uma hipótese de solução. Algumas empresas que ficaram distantes—tanto dos impactos causados pela internet quanto do público—estão com iniciativas que parecem solucionar algumas coisas. Sessions, faixas para download, rádios online e videocasts patrocinados por grandes empresas estão ganhando cada vez mais espaço e qualidade. Dentre várias iniciativas legais – como a Levi’s Pioneer Sessions (tiny.cc/levissessions), o Studio Hurley (tiny.cc/hurleystudio) e a Converse (tiny.cc/converse)–, uma brasileira se destaca: o projeto Compacto, da Petrobrás, que realiza encontros musicais inusitados entre artistas de diversas regiões. O blog com os vídeos e faixas é atualizado toda semana. Encantador e cheio de descobertas, o Compacto é um dos melhores registros de música brasileira dos últimos tempos. Então, a solução? Talvez agora alguém possa bancar a dívida da música e equilibrar os pesos.
_ouca agora ´
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Blind Faith - Blind Faith Electric Light Orchestra - Balance Of Power MC5 - Kick Out The Jams Neil Young & Crazy Horse - Zuma Pulp - Different Class
Rafael Silveira
zaroio.com.br
__RESISTANCE | Olhe para as suas mãos. Com pou-
__DOM PEDRO, NOIZE E MÚSICA | Quem
cos dedos, você pode contar o número de músicos e produtores que ainda acreditam na era dourada da música, aquela em que o pessoal parecia ter todo controle e dinheiro do mundo. As causas para as mudanças são conhecidas: informação livre, compartilhamento. Não é difícil expandir a lógica para a indústria cinematográfica: séries e filmes mais vistos em casa do que no cinema. Pense em pilares do consumo: cinema, música, moda. Sobrevivente, o terceiro é o único que—por mais que queiramos—não pode ser baixado em formato zip. A moda sempre foi reflexo e síntese de qualquer fenômeno da indústria cultural. E ela é atualmente a exceção que, por sorte, permaneceu intacta.
acompanha a NOIZE há bastante tempo talvez tenha percebido que todo mês de setembro é motivo para conteúdo temático sobre o Brasil independente—tudo musical, claro. Em seu ano 4, a revista terá a edição de setembro mais brasileira e independente de todas: não apenas uma, mas todas as matérias de nosso número 37 serão voltadas para as bandas, os artistas, os produtores—as coisas e as pessoas—que fazem nosso cenário musical independente tão rico. Além disso, na medida do possível entupiremos as demais seções (reviews, blogs etc.) com conteúdo brasileiríssimo. Haja produção cultural, não é? Então, quem tiver sugestões de pauta pode mandar pro contato@noize.com.br. Aguarde.
direto ao ponto É NOIZE no Vírgula. A maior revista de música gratuita do País agora está em um dos maiores portais. A NOIZE vai para o Vírgula, e o conteúdo classe A só tende a melhorar nos próximos capítulos. noize.com.br
Karina Buhr tem feito muita coisa legal. Os lançamentos de Eu Menti Para Você, seu primeiro disco solo, e do clipe para a ótima “Nassiria e Najaf ”, nos motivaram a entrevistar a moça. Veja em tiny.cc/karinanoize
Lembra a entrevista que rolou com a Luísa Lovefoxxx na NOIZE #34? A íntegra do papo e várias fotos inéditas animais agora podem ser conferidas no novo site da NOIZE. Saca lá: tiny.cc/lovefoxxx
Mano Brown e os demais Racionais MC’s estão envolvidos numa parceria com o DJ Cia. Pelo menos é o que indica um vídeo em que Brown grava sua participação.Você confere no nosso site: tiny.cc/racionais
NOIZE
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__JUSTIÇA À BRASILEIRA | Mauro Mateus dos Santos tinha 29 anos quando foi assassinado, em 24 de janeiro de 2003. Demorou quase 1/4 do curto tempo de vida de Mauro, o Sabotage, para que seu algoz fosse finalmente jugado culpado pelo crime. Embora seja passível de recurso, a pena faz justiça pela morte de um dos grande nomes da história do rap nacional. Sirlei
Drew Goren
__PERRY | Lee Scratch Perry, o mestre dos magos do reggae, lança mais um disco em agosto—aos 74 anos. Após mais de 60 anos de carreira, consolidando-se como uma das mais importantes figuras da música jamaicana, hoje ele se refugia numa casa antiga, no topo de um monte suíço. O álbum, batizado de Revelation terá parcerias com
Divulgação
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Menezas da Silva foi condenado a 14 anos de prisão, por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima). A crueldade covarde dos quatro tiros que tiraram a vida de Sabotage enfim teve a devida resposta.
__SEM DRAMA | O Boss In Drama é mais uma das apostas do selo Vigilante, propriedade da Deck. Mas há muita gente antenada que se ligava no som de Péricles Martins anos atrás. Em processo de gravação do novo disco, que segundo
os guitarristas do Rolling Stones, Keith Richards, e do funkadelic George Clinton. Para a colaboração nas composições, Lee Perry está novamente ao lado do músico multi-instrumentista Steve Marshall, o mesmo com quem gravou The End of an American Dream, indicado ao Grammy em 2007, e Scratch Came, Scratch Saw, Scratch Conquered.
ele, deve ser uma mistura de “r&b, disco e house”, Martins falou com a NOIZE em uma entrevista rápida e interessante, adiantou que o disco sai no “comecinho de 2011”, revelou sua admiração por Van Halen e... e o resto, você confere acessando o link tiny.cc/bossindrama.
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lado a LADO B SITIOS
Mombojó | Papapá _Por enquanto, é o clipe brasileiro mais bacana do ano. Coreografias, animações, seriados japoneses dos anos 90—impossível não sorrir vendo. Tags: mombojo papapa
_brobible.com A leitura matinal obrigatória de basicamente qualquer homem que se preze.Teorias, colunas, listas e divagações sobre o mundo dos bróders. Garantia de, no mínimo, dois assuntos por dia para você comentar com seus amigos.
we.music _Prazer, internet. Com Xis, Dj Chernobyl, Holger, Thiago Pethit, Killer on The Dancefloor, o We.Music é visualmente impecável e tem a cara de uma geração. Difícil ver algo que faz tão jus às mudanças comportamentais causadas pela internet.
posts tiny.cc/discoposter O artista Noa Emberson criou 25 pôsteres que agregam ainda mais valor artístico a álbuns de músicos naturalmente inclinados para arte, como Fleet Foxes, Minus the Bear e Andrew Bird. Pura sensibilidade. tiny.cc/entregirls Lembram que o Girls ia fazer a trilha sonora de um filme pornô gay? O diretor do filme entrevistou o vocalista Chris Owens, como dá pra conferir nesse post do Stereogum.
www.wemusic.com.br
Flying Lotus | MmmHmm _Caleidoscópico como a música de Flying Lotus, o clipe de uma das faixas mais acessíveis e loungies de Cosmogramma traça o caminho obscuro entre padrões 8 bits, seres fantásticos e computação lisérgica, numa viagem mais surreal que psicodélica.
tiny.cc/chuvanovembro Quadrinhos geniais em torno do clipe de “November Rain”.“Nunca vi ninguém ser morto pela chuva...”, diz um dos homens com o semblante inalterável. Leia, por favor.
Tags: flying lotus mmmhmm
tag yourself
klaxons echoes video nevilton o morno planeta terra interpol interpol james murphy pitchfork drunk girls lou reed furou mia born free live paul mccartney macaco
jack white mother natures son black
bong shift fugazi piracicaba 1997
keys jay leno tighten up cachorro louco
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o que voce viu e nao viu neste mes_
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Gorillaz Live Sessions _ O Gorillaz ao vivo, sem os desenhos animados à frente, é sempre chocante. Nessa sessão, todos estão especialmente inspirados.Tudo é bom: da atuação de Damon Albarn como frontman ao acompanhamento fantástico da banda. http://tiny.cc/fadergorillaz
The Roots e John Legend | Hard Times _É um presente ver a musicalidade do The Roots no estúdio. A faixa é uma prévia do disco em parceria com John Legend, chamado Wake Up!, que tem data de lançamento prevista para 21 de setembro.
Slow Motion | Panda Bear As criações condensadas de um dos cérebros do Animal Collective são, por natureza, tão cheias de camadas, que dificilmente erram o alvo. O b-side do single Tomboy vale tanto ou mais que a faixa principal. I Can Change (LCD Soundsystem cover) | See Green A bela fez uma versão ainda mais pop para a ótima canção do maravilhoso This Is Happening, disco novo da turma de James Murphy.A música veio acompanhada de um clipe que dá um sentido ainda maior à versão.
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Tags: john legend roots studio
Where I’m Going | Cut Copy Depois de um segundo disco excelente, o Cut Copy disponibiliza uma nova faixa e mostra-se mais rock do que nunca. Diferente.
Voce nunca ouviu
Rick Bonadio ensina sua arte _Rick Bonadio remixa “Go Back”, dos Titãs, e passa alguns de seus segredos e preferências de regulagens na mesa de som. Para quem tem (ou não) interesse em produção é um prato cheio. Tags: bonadio go back
http://lightpainting.tumblr.com/ Um tumblr dedicado à longa exposição, luzes da cidade e movimento. “Inspiracional” é um adjetivo quase inevitável.
Se estiver em Nova York e avistar um caubói pelado, pare e ouça—deve ser o Naked Cowboy. QUER OUVIR? NOIZE.COM.BR/nuncaouviu
TUMBLIN’
follow up
http://dailydoseofaudio.tumblr.com/ “Do hipster ao hip hop”, avisa o tumblr, você estará sempre bem servido por aqui. Curadoria musical simples, para os menos preconceituosos.
@lajarex - A lenda do hardcore Mozine é Mozine também no Twitter e faz o feed do tosco lindo do Merda, Mukeka Di Rato, Os Pedrero, etc e etc.
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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Matthew Saville
AbraskadabrA Origem:
Curitiba, PR Som:
É possível fazer skacore com boas melodias vocais e sem ser apenas uma repetição? Estes garotos de Curitiba, vencedores do concurso ...Lost Band Search provam que sim. Escute:
myspace.com/abraskadabra
Zola Jesus Origem:
Wisconsin, EUA Som:
A aura fantasmagórica da música de Zola Jesus a coloca em uma cena da música eletrônica que valoriza os sintetizadores e as sonoridades da música industrial na busca por texturas narcotizantes. Escute:
myspace.com/zolajesus
Sleighbells Origem:
Brooklyn, NY, EUA. Som:
É explodido o presente-futuro do pop. Originado de uma banda de hardcore, o Sleighbells mantém o volume dos sintetizadores e guitarras no talo e conta com uma vocalista entre Ting Tings e M.I.A.. Escute:
myspace.com/sleighbellsmusic
tame impala Tente esquecer os clichês australianos. Aborígenes, cangurus, Mad Max, Midnight Oil ou cenas arriscadas de perseguições de carros. O país se mostra um verdadeiro decodificador de tendências e novidades musicais e na última década chamou atenção pela produção exportada. De tempos em tempos eles emplacam bons grupos com hits gurdentos—tão aí The Vines, Jet,Wolfmother e Empire of the Sun. O ano começou com os aussies surpreendendo a todos novamente, em uma grande revisão musical com uma cena toda organizada. O grande destaque vai para o Tame Impala, grupo que utiliza todas as formas e cores possíveis da psicodelia e consegue ir além disso com uma pegada bem inocente. Parecem crianças discer-
nindo sobre o legado passado até se firmarem com diferentes ferramentas sonoras, utilizadas à base de psicotrópicos. Lançaram o disco Innerspeaker e criaram uma verdadeira enciclopédia psicodélica, com referências que vão de Deep Purple a King Crimson; agitam em Madchester até tropeçarem no Portishead e, quem sabe, continuarem a noite com MGMT. Nem por isso soam estereotipados ou sem originalidade. Bem pelo contrário, assimilam o tal rock ’n’ roll com um frescor sonoro balanceado em letras introspectivas e místicas. Ouça “Solitude is Bliss” e “Alter Ego”, e não esqueça que Innerspeaker é um disco para ser descoberto aos poucos. Relaxe. Escute: myspace.com/tameimpala Guga Azevedo
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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Andrew Ogilvy
Cults Origem:
Nova York, EUA Som:
Parece bala de caramelo em forma de música. O Cults não tem myspace nem localização certa, mas tem voz feminina, xilofone e sentimento sessentista. Escute:
cults.bandcamp.com
Funeral Party Origem:
Los Angeles, EUA Som:
Eles dizem que, se não fizessem rock, venderiam drogas pros seus filhos. Adolescentes mexicanos entediados, fazem som de garagem com aura punk. Escute:
myspace.com/funeralparty
Pony Pony Run Run Origem:
França Som:
Música pop tão divertida quanto Cut Copy, impossível não querer estar numa festa na praia de Nice enquanto escuta. Escute:
myspace.com/ponyponyrunrun
charly coombes Devagar, mas constante, Charly Coombes & The New Breed tem mostrado que trabalho duro sempre paga bem no final. Reunida há pouco mais de um ano, a banda de Oxford, Reino Unido, tem um EP e uma turnê nos EUA na bagagem: “Ter um EP é uma maneira boa de atingir as pessoas, é difícil ter impacto na geração iPod; e também foi ótimo trabalhar com Gaz [Coombes, irmão de Charly e líder do Supergrass], ele é um produtor muito talentoso e conseguiu o melhor de nós”, diz Charly. O EP, intitulado Panic, contém quatro faixas que variam entre musicas que são perfeitas para o verão e musicas que seu pai mandaria você abaixar o volume. O disco, que tem a aparência de um vinil anos 60 do Bowie, mostra logo todo o cuidado envolvido
& the new breed no processo de criação: “Gravar um álbum é como construir uma casa, você não pode sentar depois e desejar que as coisas fossem diferentes, tudo precisa estar certo.” A banda acredita, também, que hoje em dia o sonho de ser descoberto por alguém muito poderoso é mais difícil e que a receita para o sucesso é o velho do it yourself. “Fomos colocados nessa posição, é a natureza dessa indústria. Agora você tem que ser o seu empresário e o seu agente, e isso te ensina muito, ao mesmo tempo que te estressa muito.” Jake, Rory, Charly e Dave encaram agora mais turnês e possivelmente um novo EP no inicio de 2011. Escute: myspace.com/charlycoombes Rayana Macedo
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SUPERCORDAS
Há quatro anos, o Supercordas movimentou o cenário musical brasileiro com o disco Seres Verdes ao Redor. A ambiência rural e as melodias hipnóticas surpreenderam. Em 2010, os caras voltaram com duas músicas que resgatam a qualidade do primeiro trabalho: “O céu sobre as cabeças” e “Índico de estrelas” fazem parte de A Mágica Deriva dos Elefantes, trabalho que deve sair ainda este ano. Conversamos com eles sobre tudo isso e muito mais.
“Não tenho muita coisa contra rótulos. O problema é que eles servem enquanto a garrafa está cheia. Depois que você bebe tudo o que tem dentro, o rótulo não quer dizer mais nada.”
O que vocês fizeram nesse período entre-discos? Visitamos lugares para onde dificilmente iríamos se não tivéssemos a banda, e isso é muito legal. Talvez uma das melhores coisas dessa grande atividade roqueira. Também mudamos de formação, trouxemos o Kauê Ravaneda e o Digital Ameríndio. Em 2009 tivemos nosso próprio estúdio, no qual boa parte do disco novo foi gravada, e pudemos ensaiar bastante. Tudo isso deu um novo brilho para as apresentações. Pink Floyd, Zé Ramalho, Spiritualized, Júpiter Maçã: o Supercordas une influências aparentemente distantes. Qual é o denominador comum? Não sei exatamente o que esses artistas têm em comum ou o que nós tiramos disso. Deve ter algo a ver com o gosto pela experiência musical, inconsequente ou não, como parte do pulso das canções. Vocês parecem não gostar de rótulos... Ao contrário da maioria dos artistas que se dizem libertários, eu não tenho muita coisa contra rótulos. O problema é que eles servem enquanto a garrafa está cheia, depois que você bebe tudo o que tem dentro, o rótulo não quer dizer mais nada. Então é hora de abrir outra garrafa, beber outro líquido, indicado por outro rótulo. Uma constatação que vocês chegaram é a de que as músicas de Seres Verdes ao Redor eram
difíceis de serem executadas ao vivo. Como isso muda em A Mágica Deriva dos Elefantes? Não sei mesmo se as músicas são mais fáceis de serem executadas ao vivo ou se nós melhoramos muito e conseguimos executar melhor qualquer coisa. Talvez seja mais por aí. Certamente continuamos não limitando os arranjos por esse fator na hora de gravar. Quando tocamos “3000 Folhas”, por exemplo, ela soa bem diferente da que está no Seres Verdes…, mas é uma das nossas melhores execuções hoje em dia. Como foi o processo de gravação do disco novo? Ele já está finalizado? Ainda não. Tem sido um longo processo. Começamos com uma pré-produção em 2008, gravamos boa parte no nosso Estúdio Musgo em 2009 e, depois de um tempo com as sessões interrompidas, estamos recomeçando em casa. Nesse meio tempo finalizamos “Índico De Estrelas” e “O Céu Sobre As Cabeças” no Fábrica de Monstros e botamos no MySpace. Agora devemos ter cerca de 70% do disco pronto, e vamos acelerar porque não aguentamos mais segurar essas canções A mudança constante é um dos pilares da banda? “A mudança é uma constante” é uma boa frase. Para um próximo disco, queremos soar como os Flaming Lips tocando Tom Jobim da fase Matita Perê na garagem. Escute: myspace.com/supercordas
move that jukebox __E Confraria, você sabe o que é? | Conheço pessoas que trabalham em equipe há anos mas acham que sempre estão sozinhas, que é cada um por si, mas você sabe que não é assim que funciona. Já habituados a emprestar braços e pernas uns pros outros, o Urbanaque, o
Mixtape especial para o Dia Mundial do Rock conta com músicas inéditas de bandas brasileiras. Moçada nova e promissora reunida: bit.ly/bLITPL
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Scream & Yell (que também tem coluna na NOIZE) e a Agência Alavanca se juntaram para formar a Confraria Pop, esquema que vai criar um portal agregador de posts de toda essa galera. As ações da Confraria ainda vão parar em criação de conteúdo multimídia e, claro, festas fodonas (alô, modéstia!) espalhadas por todo o país. Quer acompanhar nossos passos? Siga no @confrariapop.
__Acompanha o sul, Brasil | A inquietude quase pueril do Monaco Beach; a mistura de post punk com new wave do Volantes; as composições e o folk algo etéreo do Rosie and Me; as mudanças de ritmo frenéticas e a produção de primeira do Wannabe Jalva; as guitarrinhas indie e a vibe dançante do Homemade Blockbuster. O sul está on fire e é o principal celeiro rock do país—e poucos irão discordar deste fato. O futuro das bandas citadas—e de outras dezenas
Vocalista do Queens of the Stone Age diz que novo disco será para mexer os quadris. Enquanto isso, rumores indicam a banda no Brasil em 2010: bit.ly/bG9Wtf
Foi muito tempo de folga, mas o Belle & Sebastian já voltou a fazer ao vivo com músicas inéditas. E eles ainda vão tocar aqui no final do ano! bit.ly/da1KJY
não mencionadas—é mais do que promissor: muitas já estão de contratos assinados com selos por aí e os débuts não devem demorar a sair. Com sorte e competência, serão tão bons quanto a estreia dos gaúchos do Gulivers. Vindo da prolífica Porto Alegre, o quarteto acaba de lançar o ótimo Em Boas Mãos, que exala o bom e velho rock ‘n’ roll sulista pra tudo quanto é lado. Na ativa desde 2005, o Gulivers lança mão de músicas com não mais de 4 minutos, uma sonoridade que lembra a de seus conterraêneos do Pública e influências de várias fontes. Mas a sacada é que a banda faz isso tudo soar fresco e, muito importante, tenta não ser, como eles mesmo dizem na segunda faixa do disco, “previsível como sempre”. Tá aí uma boa dica pras bandas que estão vindo na cola do Gulivers.
Pelo Twitter, Foo Fighters libera fotos de estúdio e diz que o sétimo disco da carreira já está sendo preparado: bit.ly/95HH4k
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__Enquanto escrevo o festivalzão SWU vai tomando contornos de um festival que não é pra mim ou pros meus amigos. Pelo perrengue (ida a Itu, camping, preço dos ingressos)–e o mais importante, a escalação musical (Capital Inicial, Cavalera Conspiracy, Jota Quest). E tudo bem.
__A sumidade Paul McCartney disse com todas as letras para o jornal O Globo que não vem ao Brasil, nem para o SWU e nem para festival nenhum. Algo como “não quero ir pro Brasil agora, me deixem”. Uma pena — os shows do sexagenário Macca em pleno verão europeu de 2010 têm sido emocionados e intensos.
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__Com uma sonoridade peculiar, bastante próxima ao que se convencionou chamar “chill wave”—ou seja, inspiração lo-fi para músicas calmas e ensolaradas, quase experimentais em sua preguiça e efeitos de eco—o Toro y Moi chama a atenção entre listas de melhores discos desse primeiro semestre de 2010. Procure no last.fm: vai estar ao lado dos amigos Washed Out e Caribou, vizinho do Neon Indian e Memoryhouse. Mas não é tão simples assim, e ainda bem. O festejado álbum Causers of This, lançado em janeiro pela Carpark, deve sucesso à capacidade de Chaz Bundick, jovem norte-americano que ouviu demais a coleção de fitas k7 dos pais, de renovar suas influências e criações a cada nova faixa sem diluir sua personalidade. É essa personalidade fresca e forte que tem feito a festa de críticos desde os lançamentos dos singles lá em 2009. Você encontra aqui ecos de shoegaze, house music, Flaming Lips e Miles Davis. Os vocais derramados e o microsampling da bela “Blessa” pode lembrar um Four Tet com muita maconha. Depois mude para o clima eletrônico preguiçoso de “Talamak” e para o rock bubblegum de “Leave Everywhere”. Escute: myspace.com/toroymoi
__Boatorama: entre os projetos gringos que você poderá (talvez, quem sabe) ver no Brasil no segundo semestre estão Miike Snow, Caribou, Nosaj Thing, Aeroplane, Carl Craig, Lemonade, Fuck Buttons, Javelin, Queens of the Stone Age, Phoenix, She Wants Revenge, Hot Chip.Talvez em agosto alguns se confirmem.
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__Antes que seja tarde, uma listinha de quem poderia vir, caso algum produtor precise de inspiração e esteja de saco cheio de lidar com a puxação de tapete que reina em época de festivais: Jamie Lidell, os já citados Memory Tapes e Neon Indian, Kate Nash, Moderat, Pantha du Prince, Beach Fossils, Major Lazer.
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SCREAM & YELL
SCREAM & YELL
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__Qual música define você? É uma pergunta simples, vai. Mas sua resposta pode dizer muita coisa.Vejamos por mim: a música que me define é “Rust”, faixa dois do álbum What Are You Going To Do With Your Life?, segundo disco do Echo & The Bunnymen após o retorno da banda, em 1997. O Echo foi um dos pilares do pós-punk inglês nos anos 80, e a banda se separou em 1989 quando estava prestes a virar estrela pop. The Cure e U2, que surgiram junto com o Echo, seguiram em frente e hoje lotam estádios. O Echo volta ao Brasil (pela sétima, oitava vez?) em outubro, e a chance de a banda não lotar o show em São Paulo é grande. Isso não importa (para mim). Em “Rust”, Ian McCulloch (o vocalista letrista) e Will Sargeant (o guitarrista) conseguiram traduzir em palavras e melodias muito daquilo que sou. Na letra, Ian conta que precisa de ajuda, precisa de alguém em que possa confiar, porque as cicatrizes de sua pele estão fazendo com que ele enferruje. A música começa com um órgão de tom melancólico
fazendo a cama para a voz—castigada pelos excessos—de Ian. Logo entra um violão, e a guitarra absurdamente mágica de Will só aparece no refrão, simulando as estrelas disparadas pelo coração do vocalista em meio a gotas de chuva. Na frase mais significativa da letra, Ian diz que carregamos nossas histórias escritas em nossa pele. E isso é o resumo de uma vida. Nas cicatrizes está a nossa história. Tudo o que vivemos é o que nos faz ser a pessoa que somos. Sua pele exibe tudo isso. E tudo isso é “Rust”, uma canção que também funciona como um recado: apesar de saber que viver é acumular tristezas, você não pode deixar que as cicatrizes enferrujem os seus sonhos. Quando “Rust” está chegando ao fim, Ian repete várias vezes: “Everything’s gonna be all right”. Acredito nele. Acredito na música. A propósito, qual música define você mesmo, caro leitor?
FORA do eixo
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BLOGS Reprodução
__Neste mês, o Compacto.Rec realiza o relançamento do CD Mula-Poney, da banda Leptospirose, de Bragança Paulista (SP). O disco foi gravado e produzido por Rafael Ramos (Deck) e possui uma sonoridade mais agressiva do que nos EPs anteriores -Leptospirose e Canções Precárias e Outras Pegadas, de 2002 e Invernada, de 2006-, partindo de cabeça para a música punk/hardcore americana anos 80, mas com a maioria das letras em português. Barulheira, peso, muita distorção e poucas faixas ultrapassando o limite do 1 minuto, é assim que é Mula-Poney, mais uma face desta banda que, dentro do que já fez, deixa claro que ainda tem muito a nos oferecer. No mínimo, curioso. Baixe em tiny.cc/leptospirose.
Caio Mota
_O Festival Quebramar aconteceu nos dias 08, 09 e 10 de julho, na cidade que é atravessada pela linha do Equador e é terra da banda Mini Box Lunar, Macapá-AP, extremo norte do país. Apontado como um dos cinco mais promissores festivais do gênero independente, sua terceira edição contou com 22 bandas, além de workshop, debates e mostra de cinema. A Fortaleza de São José—maior forte colonial da América do Sul—, às margens do Rio Amazonas, foi o cenário onde 4 mil pessoas assistiram, gratuitamente, aos shows de Mukeka di Rato (ES), Desalma (PE), Brown-Há (DF), The Baudelaires (PA), Godzilla (AP), Stereovitrola (AP), Mini Box Lunar (AP), SPS 12 (AP), entre outros. Acesse festivalquebramar. blogspot.com.
direto ao ponto Foi estabelecido o 1º ponto Fora do Eixo no exterior: o coletivo Sintomatica, de Buenos Aires, que reúne diversos artistas locais trabalhando segundo os mesmos preceitos de independência e auto-gestão que orientam o CFE. http://is.gd/d8RkI
O PCult é uma mobilização nacional que procura agrupar entidades e indivíduos do setor cultural em torno de um debate que identifique candidatos realmente comprometidos com as pautas estratégicas da cultura em nosso país. http://is.gd/dBc1o
O Circuito Fora do Eixo sela a parceria com a ONU através do lançamento do concurso “Valores Fora do Eixo”, que objetiva promover os valores enunciados na Carta de Princípios do CFE e da campanha “Mostre Seu Valor”. http://is.gd/dBc5V
Estão abertas as inscrições para as etapas regionais do III Congresso Fora do Eixo. Seis congressos regionais serão realizados entre agosto e setembro.A etapa nacional será realizada de 10 a 17/10 em Uberlândia (MG). foradoeixo.org. br/congresso
_texto Fernando correa
_FOTOS RAFA ROCHA
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Helio Flanders bateu o olho no Gol branco em que fomos buscá-lo no hotel e decidiu que queria guiar. Razões sentimentais: ele tinha um, modelo 97, quando morava na saudosa “Cuyabá”. “Você se importa se eu for dirigindo?”, perguntou. Não houve hesitação, e antes que fizéssemos trocadilhos infames com sua crença no “Semáforo”, ele já estava no comando.
Acariciou o painel e explicou: “Eu gosto disso aqui porque parece um tanque!” De outros tempos e de outra guerra: a que o Vanguart de Cuiabá travou para desbravar o caminho e aparecer, com inegável impacto, para o resto do país. Helio parece mesmo um comandante, não apenas pelo talento com que compôs as canções de Vanguart+1 (2007), disco homônimo e revelador da banda, mas pela inquietude corajosa, que ele deixa que guie sua vida. Trata-se de “um comportamento artístico por natureza”, afirma. É coerente com sua trajetória, que desabrochou após um período reflexivo na Bolívia, em 2002 — o que se pode chamar de “o primeiro momento decisivo para o Vanguart”. “Na minha cabeça, eu não ia mais ser músico, não ia fazer nada de arte, queria ser um empreendedor”, conta. Antes de
partir, registrou The Noon Moon+2 (2002), uma pretensa despedida da música que acabou se tornando seu registro preferido de quando Vanguart era apenas ele e o inseparável violão+3. “Eu acho que interpreto sinais e gosto muito de dar guinadas na minha vida. Foi assim quando resolvi largar tudo e ir pra Bolívia, foi assim quando resolvi largar tudo na Bolívia e voltar pro Brasil. Foi assim quando o pessoal estava [indeciso], ‘Ah, a gente vai pra São Paulo’. Eu falei, ‘meu, e aí, a gente vai ou eu vou embora, vou jogar bola, não vou ficar tocando aqui’.” Foi de São Paulo que o Vanguart capitaneou a onda folk que ainda corre no Brasil. Desde então, um novo disco é esperado. Enquanto isso, Helio e o resto da banda seguem vivendo do repertório que a estreia de 2007 e um ao vivo, de
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[+2]
[+3] Dessa época, há Ready to... (2002). Posteriormente, Before Valleygrand (2005).
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2009, consagraram. Por isso, ele estava a milhares de quilômetros de casa, conversando com estranhos enquanto dirigia aquele automóvel que, aos olhos do menino cuiabano fã de Beatles, parece um tanque de guerra. Drive My Car Acidentalmente, o primeiro assunto a surgir no trajeto é Bob Dylan. “Foram naquele show estranho dele?”, pergunta, sem saber que também assistimos a Bob (para os íntimos) em 2008. Helio deveria ser do tipo que acha o show polêmico de Dylan só maravilhas — afinal, foi por Dylan que ele, aos 15 anos, encontrou na guerra pacífica do folk a que mais lhe interessava dentre todas. Mas é precisamente pelo que a voz desgastada do ídolo deixou de cantar que ele guarda certo ressentimento. No show em São Paulo, Bob “não falou uma palavra”, nem tocou “Tangled Up In Blue”, do favorito de Helio, Blood on the Tracks+4.
um folk mais soturno.” Só anos mais tarde é que esbarrou em Tom Jobim e seu mundo caiu. Todos esses artistas representam pouco do que já tocou na cabeça de Helio, e muito do que se tenta associar a suas composições. “Eu sempre neguei minhas referências enquanto compositor. Você pensa ‘pô, eu já tô com um tique de Bob Dylan no cantar que é foda tirar, eu já tô escrevendo letras quilométricas — eu tenho que começar a negar o Dylan’. Então o tempo inteiro eu tô trabalhando em negar minhas influências porque eu acho que elas já tão em mim. Se eu ainda deixar rolar, eu gravo um disco voz e violão…” Novo homem, nova banda Flanders estava infeliz com a direção tomada pelo Vanguart. Desde 2008, um sucessor para o disco de estreia era aguardado e cobrado, a ponto
“Dentro de mim, na minha música, na minha arte o rock ‘n’ roll é uma linguagem ultrapassada. Eu senti isso aos 16 anos e hoje eu tenho certeza absoluta.”
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[+5] Wilson era líder do Beach Boys e foi a grande mente por trás de Pet Sounds, disco que inaugurou a era psicodélica. [+6]
“Eu ouvi [o Blood on the Tracks] e, cara, eu nunca mais fui o mesmo. Foi a maior mudança na minha vida, de todas”, conta. “Conceitualmente, é o grande disco do Dylan”. E é medida para mensurar um dos atributos do cérebro guardado sob os cabelos bagunçados: a memória. “Não tem amigo careta meu que tenha memória melhor. Sabe o que acho que foi? Bob Dylan. Pô, eu decorei o Blood On The Tracks quando eu era guri.” Os tempos de amor por Dylan foram seguidos por várias descobertas—a força de Neil Young, a psicodelia de Syd Barrett, Love e Beach Boys. Brian Wilson+5 despertou nele a paixão por discos, “Pet Sounds foi mais importante que qualquer disco dos Beatles”. E a delicadeza profunda de Nick Drake+6 — somada a uma improvável influência de Kurt Cobain — ajudou a moldar as melodias. “Drake foi fundamental entre eu sair de um folk mais tradicional para
de a banda considerar a possibilidade de gravar um trabalho novo que, julgamento dele, seria uma mera “emulação” do passado. Então surgiu a proposta de gravação do DVD ao vivo pelo Multishow—para Helio, o encerramento de uma etapa. “Falei ‘vamos fazer esse DVD, acabar com essas canções que não têm mais nada a ver com a gente e vamos começar do zero?’.” A nova etapa tem a ver com o cotidiano de São Paulo. Externamente, um mundo novo de referências, de gente com motivações artísticas diferentes, de possibilidades ao alcance. Internamente, forças musicais novas e outras nem tanto. Faz alguns anos que a música brasileira e, principalmente, a maestria de Tom Jobim passaram a palpitar novas sonoridades. “A harmonização do Tom quase acabou com a minha vida, porque eu tentei fazer aquilo… e dá pra fazer, mas não é a minha onda. Não tento mais compor assim, mas eu seria
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“Não quero ser os Titãs. Não quero ter vinte anos de banda. Uma banda que fica em turnê durante 30 anos é a mesma coisa que trabalhar na repartição [pública].”
[+7] myspace.com/ majorluciana [+8] tiny.cc/ majorluciana [+9] tiny.cc/vanguartex
um péssimo vocalista se não fosse a harmonização de bossa nova. Depois que você canta aquilo, rock é coisa de criança.” E se há contradições que valem a pena, são as contradições artísticas. Os motivos de Helio negar o rock são mais filosóficos do que os julgamentos daqueles que lhe assistem executando “O Mar”, de Dorival Caymmi, como se fosse Jerry Lee Lewis. Ele assegura que o show é um momento distinto, que goza de estado de espírito próprio: “Dentro de mim, na minha música, na minha arte o rock ‘n’ roll é uma linguagem ultrapassada. Eu senti isso aos 16 anos e hoje eu tenho certeza absoluta.” O que acabou por renovar o ânimo do compositor, no entanto, foram os encontros. Cinco anos depois de sair de Cuiabá, o mesmo esquema de fortalecimento da música “fora do eixo” que levou o Vanguart — ironia — ao “eixo” povoou a megalópole de músicos (e música) de todos os cantos. Entre pernambucanos, cearenses, cariocas e gaúchos, foi num quase conterrâneo que Flanders reencontrou a maior consonância criativa: Julho Nhanhá, primeiro baixista do Vanguart e hoje seu parceiro de banda no Major+7 Luciana. “A gente se encontrou como siameses pra compor. Ele tem uma pegada mais trabalhada harmonicamente, que eu não tenho, porque eu gosto de coisas muito simples. Mas ao mesmo tempo ele tem umas letras muito cerebrais, e eu trabalho no take 1”. No Major Luciana, Flanders exercita o novo aprendizado no trompete+8, e executa canções que não representam, de forma alguma, uma ruptura com a estética apresentada pelo Vanguart. Tampouco a po-
ética característica de suas canções, de longe, difusas, de perto, profundas. “As letras que eu mais gosto são as que você pode pegar qualquer verso, botar entre aspas e ser uma citação bonita pra caralho.” O todo e a citação, o cotidiano e o turning point. A arte de Helio sangra, não porque dramática, não porque sofrida, mas porque, intensa, escorre do cotidiano, das paixões, das contradições, das descobertas. “Na verdade o dia a dia é mais impactante que qualquer guinada. Acho que em nenhum momento eu me dei por satisfeito e pensei ‘pronto’, a última coisa que eu ia querer era uma fórmula.” Mas parecem ser a mesma coisa a força da mudança e a força da rotina: uma sustenta a outra—não fosse a reinvenção, o Vanguart talvez não existisse mais. A guerra continua O comandante do tanque em que agora estamos, deslizando com certa adrenalina entre a locação e uma estação de rádio, é o mesmo de Cuiabá, de La Paz, de São Paulo. Os ares, no entanto, são sulinos, enquanto ele se prepara para uma entrevista de rádio com seu novo velho grupo, o Vanguart. Nessa mesma noite, eles tocarão vários números, alguns indefectíveis Beatles, uma admirável versão de Júpiter Maçã+9, músicas antigas deles mesmos e, claro, canções de uma banda que se pretende renovada. “Hoje o Vanguart é um novo projeto. A gente está finalizando uma etapa para entrar em uma nova. Eu já falei pro pessoal, ‘ó, a gente tem que encarar todo disco como o último, porque a vida é muito curta pra a gente ficar a vida inteira… eu não quero ser os Titãs, sabe? Não quero ter vinte anos de banda mesmo. Uma banda que em 30 anos lança 20 discos e fica em turnê durante 30 anos é a mesma coisa que trabalhar na repartição [pública], sabe? Para mim, as coisas de uma maneira saudável, têm prazo de validade. Claro que a gente pode se reinventar, como o Vanguart está fazendo agora — e que é saborosíssimo — , mas fatalmente eu não estarei aqui e eles não estarão aqui pra sempre.”
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_texto GUSTAVO FOSTER
_FOTOS RAFA ROCHA
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Ao chegarmos no pântano alagado onde faríamos as fotos dessa reportagem, o único tranquilo em caminhar pelo lamaçal era o frontman Ron Selistre: “Eu posso ir flutuando daqui, eu não peso”. Nesse momento, entramos no mundo bizarro dos Damn Laser Vampires.
Um baterista que é, antes de qualquer coisa, um fã da banda. Uma guitarrista que costura suas próprias calças e toca guitarra pelo simples fato de não saber tocar baixo. E um vocalista influenciado pelos quadrinhos, pelo cinema de horror e pela igreja evangélica. Um mar de influências que se retroalimentam, três pessoas que sugam integralmente o que suas referências podem oferecer e regurgitam a mistura em shows pretensamente tridimensionais. Esse é o Damn Laser Vampires. Antes de ir para a entrevista, o baterista Michel Munhoz estava trabalhando em um personagem de Guitar City Underground, HQ criada por Ron em 2000 (ou antes disso, segundo Francis K, guitarrista da banda e esposa do vocalista). O livro, com mais de 200 páginas, deve ser lançado junto com o próximo disco—que sai ainda esse ano pela Devil’s Ruin. O selo é o mesmo do primeiro álbum da banda, Gotham Beggars Syndicate+1, lançado em 2008. Essas informações surgiram naturalmente, antes mesmo do início “formal” da entrevista: quadrinhos, rock e desenho se confundem
entre profissão e lazer na vida dos três músicos. A banda teve seu início em 2005, mas Ron suspeita que tudo começou muito antes: “Vendo nosso comportamento na infância, alguém muito esperto poderia concluir que nós faríamos algo juntos no futuro”. A afirmação do vocalista se explica quando Michel conta como assumiu as baquetas da banda: ele fazia parte da Patrulha do Inferno, grupo de fãs que vai a todos os shows da banda. O curioso é que os Damn Laser também admiravam o trabalho do ilustrador em zines e discos de hardcore. A banda precisava de um baterista, o baterista precisava de uma banda. O resultado é óbvio. Num tempo de vampiromania, em que Crepúsculo e True Blood—“nunca assisti a nenhum episódio, nem sei do que se trata”, afirma Francis—enlouquecem pré-adolescentes, os Damn Laser Vampires conseguiram se firmar em uma cena densa de festivais, histórias em quadrinhos, cinema, moda, faça-você-mesmo e punk rock. A banda vive em uma realidade atípica, quase subsistente, na qual produz praticamen-
[+] myspace.com/ damnlaservampires [+1]
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F.: Mas eu já costurava minhas calças desde o inicio da banda.
“Vendo nosso comportamento na infância, alguém muito esperto poderia concluir que a gente faria alguma coisa junto. Sintonia muito forte.” te tudo que a cerca. Seja desenhando, costurando, filmando ou tocando The Cramps+2 na Amazônia.
[+2] Em 2009, a banda fez uma série de três shows especiais só com músicas de The Cramps. Primeiro em São Paulo, depois em Porto Alegre e, por último, em Belém. Na primeira noite do show no Pará, a energia elétrica da casa caiu e a banda voltou na noite seguinte, com a casa ainda mais lotada. [+3]
[+4] ^III^, sinal da banda. [+5] Em 2009, a banda fez um versão para “Boom Shack-A-Lak, sucesso dos anos 90 na voz de Apache Indian: http://tiny.cc/boomshack
Como começou a banda? Vocês todos se conheciam antes? R: Eu não conhecia o Michel. A Francis conhecia. Ele era ilustrador de zines e de capas de disco, tocava em bandas de hardcore, ele era meio conhecido pelo pessoal de quadrinhos. Pessoalmente, eu só fui conhecer ele no Garagem [Hermética, clássica casa de shows de Porto Alegre], num show que a gente fez lá, com o antigo baterista, em 2006. E como ele entrou na banda? R.: O baterista anterior resolveu sair. Não tava contente, tinha um outro projeto de música que não tinha nada a ver com a gente e pediu pra sair. A gente ficou sem baterista e descobriu que ele tocava. F.: Nem chegamos a ficar sem baterista! R.: A gente ligou pro Michel e perguntou se ele queria fazer um ensaio com a gente. E ele foi pro ensaio e sabia tocar todas! Ele tinha o disco, já… Desde o primeiro dia da banda vocês têm essa ideia de personagens no palco? R.: Não, as primeiras apresentações eram de camiseta e calça (risos).
A caracterização de certa forma atrapalha a aceitação da banda pelo público? R.: Cara, não atrapalha! Porque é um elemento bizarro e, como todo elemento bizarro, desperta certa curiosidade. E as pessoas que nunca foram num show ou que não ouviram a música se deparam com uma foto daqueles três esquisitões e vão querer, pelo menos, saber do que se trata. Então, não atrapalha. E a gente tira proveito disso, sim! M.: No começo da banda, as pessoas se espantavam, achavam que a gente era vampiro. (risos) R.: Nesse show que o Michel viu, a gente usava um sinal luminoso, tipo um batsinal+3, com as exclamações e as asas em cima do palco+4. M.: Era fantástico! Era muita informação! Pra quem vem da cultura do cinema, dos quadrinhos, ver aquilo é a oitava maravilha do mundo! Como é possível unir referências tão fortes à cultura pop+5 com um som de certa forma tão restrito? R.: Talvez seja porque a gente não esteja preocupado com a aceitação. “Ah, agora a gente vai fazer um clipe pro público mais jovem, agora a gente fazer um tópico na comunidade do orkut perguntando qual capa as pessoas preferem”. Não! Não, não. F.: A gente não faz nada esperando a aprovação das pessoas. A gente faz o que a gente tá com vontade de fazer… M.: Imagina eu na capa de uma revista: “Aprenda a paquerar com Michel”. (risos) Tudo que é relacionado à banda são vocês mesmos que fazem. De que forma isso ajuda? R.: Ajuda muito. Primeiro porque a gente economiza uma boa grana. Segundo que fica tudo com a nossa cara. Mantém o controle estético da coisa toda. Isso não faz com que vocês fiquem com medo de largar alguma coisa na mão de outros?
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R.: Faz, faz, sim. A gente já viu uns cartazes “lindos”. Já vi um cartaz rosa, com uma foto em 30 dpi esticada, o fundo rosa e o nome da banda em amarelo, com a fonte do Homem-Aranha. F.: Muitas vezes as pessoas não entendem muito bem. Não sei o que se passa na cabeça delas. Pra nós, é muito simples, mas pra muita gente é bizarro. R.: Eu acho que as pessoas têm mais dificuldade pra definir do que a gente. Mas era pra ser algo simples: é simplesmente rock. M.: É o do it yourself na frente da pessoa. A gente é fanzineiro, nunca teve nada de internet, era pelo correio. Então a gente já tem o anticorpo preparado. E como foi a gravação do novo disco? R.: A gente inscreveu o disco no Funproarte e foi até a instância final, aí não foi aprovado. Um dos elementos que pesaram contra a gente—isso foi expresso pelo júri—foi que a gente fazia musicas em inglês. E a gente não tinha um plano B. Aí o Marco Butcher+6 falou, “Tá, então vou ver que que eu posso fazer aqui e já retorno pra vocês”. E conseguiu que a gente gravasse o disco todo no Caffeine+7. A gente foi pra usar o estúdio durante uma semana, em horários alternativos, e acabou fazendo tudo em quatro dias. Com produção do Marco e do Luis Tissot+9. E a gente ficou muito, muito surpreso, porque o disco saiu muito diferente do primeiro. Em que sentido? R.: Ele é mais sombrio. F.: As composições já são diferentes, o tipo de música que a gente compôs é diferente. M.: É um disco mais climático, ele privilegia texturas, é bem legal. O Marco captou bem a energia da banda e soube passar isso pra gravação. Soube entender cada música, uma por uma.Total. Em todos os quesitos. F.: É… E teve um amigo nosso, o Jonas Seródio+9, que gravou duas músicas conosco. Tocou sax em uma e piano em outra. E saiu como vocês queriam? Saiu melhor! (todos ao mesmo tempo)
R.: Tem uma música que tem dois terços do Thee Butchers’ Orchestra tocando com a gente. “Shiva Bop” é o nome da música. Tem o Jonas+10 no piano e o Marco fazendo um chocalho de bruxaria muito louco! E depois a gente, ouvindo a mix, pensava: “cara, o Butchers’ Orchestra!” É legal isso. Quando não são vocês que fazem as coisas, elas ficam na mão de quem entende muito bem vocês. R.: Exatamente! Vocês debitam tudo ao destino. Isso não é um pouco humildade demais? F.: Mas foi. (risos) R.: Rola um trabalho, lógico. Muito duro, pra manter as coisas bem feitas. Ao menos manter no nosso controle. Mas que, realmente, a fagulha foi natural, foi. E a gente não teve controle sobre isso, sobre encontrar um baterista que, além de ser ilustrador, tocava pra caramba e gostava do que a gente fazia e tava meio que esperando a hora de entrar. E a Francis ter o talento dela de figurinista que até então não tinha sido expresso com tanta liberdade. M.: Foi muito rápido, foi natural. Eu lembro que no ano que eu conheci a banda eu tava prestes a parar de tocar, ia dar um tempo. Até que um dia eu chego em casa, ligo a TV e vejo o Ronaldo. E eu pensei “porra, o Ronaldo!”. Fazia uns 8 anos que eu não via ele. Conhecia o trabalho dele, o da Francis, já tinha participado de algumas exposições com eles. Aí eu olhei e comecei a ir aos shows. Pra mim, a Damn Laser veio numa hora perfeita, aos 45 do segundo tempo. Uma banda que preza tanto por ser tudo seu, surgiu de uma coisa sem o menor controle. F.: Sim, sem a menor pretensão. R.: Todas as vezes que eu tentei compreender isso, concluí que isso vem da nossa infância.Vendo nosso comportamento na infância, alguém muito esperto poderia concluir que a gente faria alguma coisa junto. Sintonia muito forte. M.: “Vai dar problema!”
[+6] Vocalista e guitarrista do Thee Butchers Orchestra. [+7] Estúdio paulista: myspace.com/ caffeinesoundstudio [+8] Baterista da banda Human Trash e dono do estúdio [+9] Baterista do Thee Buthcers’ Orchestra e o vocalista do The Black Needles [+10] Jonas tocou sax em outra música do disco,“The Mo”.
_texto cristiano bastos
PLATO DIVORAK //051
Com dois discos para serem lançados e um tributo em sua homenagem em produção, Plato Divorak reforça seu status de herói cult da psicodelia brasileira
1966. O ano do “amanhecer psicodélico” – que, em 1967, culminou no summer of love – alvejou o rock ’n’ roll, até então uma musicalidade “p&b”, com sonoridades multicoloridas. Revolucionários álbuns lançados neste ano alteraram o curso histórico do rock: Revolver (Beatles), Pet Sounds (Beach Boys), Fifth Dimension (Byrds), Face to Face (Kinks), Freak Out! (Mothers Of Invention), The Psychedelic Sounds of The 13th Floor Elevators (13th Floor Elevators). Há 44 anos, o ventre do Planeta Terra também paria o ser (humano?) batizado Paulo Alexandre Paixão de Oliveira – o qual atende, porém, pela artística alcunha de “Plato Divorak”. Muito melhor do que apresentá-lo é deixar tais honrarias para a “epígrafe” que o compositor de mão cheia, que Plato é, escreveu na canção “Eu sou um ídolo pop”, que abre um de seus novos discos+1: “Hoje eu crio o ambiente das festas de minha juventude. Amanhã estarei de olhos vendados para a sua maldade. Que nasçam os frutos da bonança. Eu não vou compor a minha Yesterday, porque eu sou o Paul McCartney. Só que ele não sabe que ele sou eu… Na escuridão, eu atiro na tarântula. Não gosto de mulheres afetadas. E então, é nessa hora cósmica que proclamo: eu sou um ídolo pop!” O caminho de Plato para o “estrelato pop”, todavia, começa em 1988, ao integrar a banda Os Jaquetas e, depois, tocando com Edu K no power trio O.F.F. No mesmo ano, saiu-se com a cultuada Père Lachaise
e, em 1994, montou a Lovecraft. O duo Frank & Plato é de 93 e existe até hoje com o título de Frank Jorge & Plato Divorak e Empresa Pimenta. Plato Divorak & Os Sha-Zams foi seu primeiro projeto “combo-solo”. Com o Momento 68, Divorak gravou o Onde estão suas canções?, álbum de 1999, com Sandro Garcia (hoje no Continental Combo). Plato & Os Analógicos veio em 2004: “De 1996 a 2004, me dediquei quase que integralmente às gravações-solo — uma espécie de ‘Jovem guarda de expansão’: muita lisergia, ritmos brasileiros e rock”, Plato explica. Dono de vasta produção musical, Plato Divorak é persona essencial do underground não só porto-alegrense, como mundial e brasileiro, ao lado, por exemplo, de Jorge Amiden (da cultuada e esquecida banda carioca Karma) e—ousaria dizer—do mutante Arnaldo Baptista. A verdade é que Plato Divorak, usando de expressão de sua lavra, “nunca está dormindo”. Ele não para, ou melhor, nunca parou de compor. Em abril, o compositor gravou 18 músicas novas. Três delas estão no recém-lançado single virtual Psychodisk+1. Nele, Plato Divorak apresenta três novas canções, hits-instantâneos que farão parte de seu próximo álbum, Space Fusion, em fase de finalização. Para 2010, além de Space Fusion, Plato prepara suas cartas para o lançamento de Plato Divorak & Os Exciters+2, disco inédito pronto desde 2007 e, também,
[+] myspace.com/ platodivorak [+1]
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[+2] O álbum de Plato Divorak & Os Exciters teve capa desenhada por Diego Medina:
[+3] Cachorro Grande, Bidê ou Balde, Júpiter Maçã [+4] Principal parceiro de composições do cantor há alguns anos [+5] “Tyrannus nix”, a outra canção do novo single, foi criada ainda nos anos 1980 pelo então incipiente Plato, quando integrava um de seus primeiros experimentos, a banda Valentine Ray-o-vac e Os Asteroides Anabolizantes. Hoje, Plato diz que adora a melodia da canção ainda mais. “É o grande emaranhado de um cérebro fantástico, letras imagéticas. Há um olho delicado em que vários tipos de melodias podem se enredar”. [+6] Graforréia Xilarmônica, Cascavelletes, Cowboys Espirituais. [+7] Projeto paralelo do guitarrista Fábio Golfetti, da paulistana Violeta de Outono.
pelo tributo que vem sendo produzido a todo vapor pelo jornalista brasiliense Pedro Brandt. A NOIZE ouviu os três lançamentos com exclusividade. “Eu crio uma filosofia musical para os heróis deserdados de outras eras. Esse rock intransferível, uma abrupta paixão por autores, bandas e artistas dos espetaculares anos 60 fazem parte de nossa vida ainda hoje. Estou na terceira camada ou no subterranean sixties”, Plato diz, sobre sua arte lisérgica. Para os registros sonoros (tanto o disco com os Exciters, quanto os mais recentes), Plato, mais uma vez, contou com o abrilhantamento do produtor Thomas Dreher+3. No disco gravado este ano, Plato e o guitarrista Leonardo Bomfim+4 também contaram com o especial little help do guitarrista Julio Cascaes (Hipnóticos) e do Gésner Mess (Maria do Relento), um dos fieis escudeiros de Plato. Ambos “xamânicos”, ele conceitua os parceiros. Plato define as três faixas do single+5, que conta com “A mulher brasileira é a mais linda” e “Crematory Boys”, como “uma diversificada sugestão autoral”. A primeira canção é uma espécie de samba-rock psicodélico que remete a Jorge Ben fase Tábua de Esmeralda, e a segunda tem o clima The Who/Pink Floyd dos primórdios: “Coisas que saíram de moda em Porto Alegre, mas que ainda são ótimas para pegar emprestado”, observa Bomfim. Em Space Fusion, Leonardo toca baixo, os quais foram gravados todos num take, praticamente. Detalhe: as guitarras de Julio Cascaes foram registradas sem que o instrumentista tivesse ouvido as composições anteriormente. “O disco todo foi gravado de primeira”, conta Leo. O produtor Thomas Dreher, responsável pelas excepcionais gravações, por sua vez, entende-se exemplarmente com a “complexidade psicodélica” do Plato. “O disco foi gravado numa velocidade supersônica, porém, com qualidade. É cheio de detalhes nos arranjos, violões, percussão e guitarras”, continua o guitarrista. O resultado, de fato, atingiu a excelência. Além das experimentações costumeiras, está repleto de hits, como “Xenon Light”, sobre o amor de um homem por sua robô, e “Let shine on”, na qual Plato prova que sua lisergia não é só aquela batida anacrônica fincada
em previsíveis territórios dos imprevisíveis sixties. “Space Fusion viaja pelo krautrock, soul e funk. Tem as ‘Syd Barrett ballads’ e várias surpresas que as pessoas, com o tempo, irão aglutinar. Espero não estar sendo arrogante nesse caso”, desculpa-se Plato, que divide a psicodelia em três “camadas”. Ele, certamente, encontra-se na terceria delas, nada devendo a legendas psicodélicas da linhagem de Syd Barrett (Pink Floyd), Alexander “Skip” Spence (Moby Grape) e Rocky Erickson (13th Floor Elevators). Exceto por Erickson, nosso Divorak, que se afirma um “connoisser de rock, sixties e jazz”, gravou mais do que esses dois britâncos, os quais—muito diferente do que, comumente, supõe-se sobre o gaúcho—perderam-se na loucura. Plato segue firme com a sua “lucidez” criativa. Frank Jorge+6 não mais consegue precisar o ano, muito menos a data exata, em que conheceu Plato Divorak. A única lembrança certa, Frank examina a memória, é que o encontro entre eles rolou na segunda metade do anos 1980. Para Frank, a “mania sixtie” sulista de venerar Beatles e Stones, e o punk e a new wave do período fizeram com que Lou Reed e Jim Morrison ficassem esquecidos em Porto Alegre. “Passaram quase batidos”, afirma. O Plato era um destes outsiders que se ligavam nas outras vertentes estéticas. “Ele trazia essas outras influências, mas, obviamente, recicladas, abrasileiradas. Ou melhor, “aportoalegrezadas”. Se Dylan trouxe poesia para o rock, Plato trouxe o sadomasoquismo, a poesia de Rimbaud e o surrealismo para os nossos insistentes iê-iê-iês. Plato tem sempre alguma novidade escondida em algum bolso. Chegou a hora do mundo conhecer Plato Divorak. Atreva-se a não gostar. “Canaaaaaaaaaaaaaaalha!!!”. No tributo organizado por Pedro Brandt, participam bandas de diversos estilos, como a psicodélica Band of Pixies+7, que regravou “Antiglitter”. De acordo com o músico, a escolha do fonograma caiu como uma luva na sonoridade de seu novo acid trio. A música, que tem atmosfera de conto de fadas espacial, canaliza o encontro de Jimi Hendrix com os duendes do Planeta Gong. “Adicionamos uma seção final spaced-out, desconstruindo o espaço-tempo galático.
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Dobra espacial 5, Sr. Sulu.Viva Plato, já estamos em 2032!!!”, anima-se Golfetti, que estabeleceu o link com Plato ainda no final dos anos 1980, quando trocavam mensagens através da Radio Gnome Invisible. Brandt conta que começou a articular o tributo ao Plato—de quem é amigo há anos—escolhendo, primeiramente, as músicas de seu repertório. Depois os convites foram feitos às bandas. “Eu escolhi algumas bandas, o Plato, outras.Tocam bandas de Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, São Paulo, Aracaju e Florianópolis. Serão feitas versões para músicas de todas as épocas da carreira dele: Père Lachaise, Lovecraft, Frank & Plato e Plato solo”, explica o jornalista. Até agora, cinco gravações já foram entregues: “Volta às aulas em San Tropez”, com Marcelo Mendes+8, “Melô do Zé Bigorna”, com os Irmãos Panarotto+9, “Iluminados monstros do amor”, com os cariocas Do Amor e a já citada “Antiglitter. A gravação de
em viabilizar o projeto em CD. “O objetivo principal do tributo é prestar uma homenagem ao Plato e, claro, ajudar a popularizar a produção musical dele.” “Sobre o Plato, o melhor de tudo é conviver com a figura durante todos esses anos”, conta Leo Bomfim. “Importante ressaltar que ele não é um personagem, o Plato é o Plato, vinte quatro horas por dia. O que ele coloca nas músicas é o que ele vive. É a realidade dele mesmo. Porque há muitos ‘doidões’ por aí que são puro personagem.” A parceria de Leo e Plato nasceu para participar de um tributo virtual a Ronnie Von. O mais importante projeto, entretanto, é o disco de estréia de Plato Divorak & Os Exciters, ainda inédito, segundo Leo, por conta de uma sacanagem do selo Pisces Records+10. Causos e lendas sobre Plato Divorak, há centenas. Em Porto Alegre, todo mundo sabe pelo menos alguma história “absurda” relacionada a ele. Uma de
“Eu quero criar uma filosofia. Eu tenho a história do rock em minhas mãos.” “Pensa demais”, com os gaúchos Galãs da Menopausa, tinha sido gravada em 2008, nas nunca usada, e acabou entrando para o projeto. “Escolhemos ‘Romance mórbido’ porque está inclusa em um de nossos discos favoritos—senão, o favorito—de rock gravado nos Pampas, o Amnésia Global, de Frank e Plato”, sublinha Andrio Maquenzi, da Superguidis. “É uma canção pueril, desconexa, lasciva, como sempre foi qualquer obra-prima do Plato. Eu e o Lucas Pocamacha gastamos esse disco quando o conhecemos, no início dos anos 2000. Grata e bem-vinda surpresa. Obviamente, vamos fazer uma versão podreira, sentando a lenha com guitarras cortantes à la Dinosaur Jr. E, sim, é uma grande honra fazer parte desse tributo. ‘E quem vocês pensam que são?’”. A ideia, explica Pedro, é lançar como disco virtual, para download gratuito na internet. Mas o jornalista sonda, também, selos que possam se interessar
suas clássicas, destaca Bomfim, é sobre todo integrante novo que entra em suas bandas. O “batismo” dos neófitos músicos consiste em ser devidamente apresentado às suas “amiguinhas” numa legítima casa da luz vermelha no centro de Porto Alegre—o que, no fundo, não é nada mal... “O Plato tem uma tática sensacional pra não pagar pelo prazer. Ele começa a fazer as preliminares e depois de amassar bastante a menina, pergunta quanto é o anal. Ela diz o preço e ele diz que não tem essa grana. Aí vai pra outra salinha e faz o mesmo. Depois de umas cinco ele já se satisfez”, o amigo revela. “Acho que nosso novo hit, ‘A mulher brasileira é a mais linda’, resume um pouco essa vida que eu levo”, considera o lendário Plato Divorak. Sobre rock, sua maior especialidade, ele respira como um “filósofo pop”: “Eu quero criar uma filosofia. Eu tenho a história do rock em minhas mãos.”
[+8] Brasiliense com passagem pela banda catarinense Repolho. [+9] Projeto paralelo de Roberto e Demétrio Panarotto, da banda Repolho. [+10] Procurado pela reportagem da NOIZE, o selo não se pronunciou sobre o assunto. [+] Não deixe de conferir no noize. com.br muito material extra, incluindo faixas exclusivas dos discos ainda não lançados de Plato.
Rolla veste: CASACO VULGO CAMISETA King 55
HOLGER
Arthur veste: CASACO VULGO CAMISETA King 55
Tché veste: CAMISA KING 55 CAMISETA King 55
Pata veste: CASACO VULGO CAMISETA King 55
Pedro veste: CASACO VULGO CAMISETA King 55
HOLGER //059 Fotos e Direção de Arte: Marco Chaparro e Rafael Rocha Assistente de Fotografia: Lucas Tergolina Produção de Moda: Ana Laura Malmaceda e Thais Moro Texto e Entrevista: Maria Joana Avellar Agradecimentos: Thiago Piccoli, Beco 203 Produtora, Felipe Neves.
Além de música, mulheres, bebida e carne, o Holger tem como referência uma série de elementos tão escatológicos quanto impublicáveis. Mas não se deixe enganar, afinal, não se trata apenas de um bando de fanfarrões, e sim, de um bando de fanfarrões extremamente queridos+1. Entre todas essas influências, a que mais se destaca é a amizade, tão sobressalente que não se restringe aos integrantes, Pedro, Pata, Arthur, Rolla e Tché. Eles afirmam nunca trabalhar com profissionais, já que acabam virando amigos de todos com quem trabalham, e também não entendem como existem bandas com integrantes que não se dão bem. Antes que alguém reclame que ainda não falei de música, alerto: entender esse clima é fundamental para conhecê-los. Foi graças a essa atmosfera que Brian McOmber, baterista da enaltecida Dirty Projectors, passou um final de semana na casa de Pata em Ilha Bela, e indicou à banda o produtor Roger Paul Mason, direto do distrito mais efervescente artística e musicalmente dos Estados Unidos, o Brooklyn. Provavelmente pela mesma razão, Paul largou todos os seus projetos em Nova York para conhecer o Brasil e se dedicar ao álbum primogênito do Holger, que foi gravado quase por completo no homestudio, bem como uma banda tão família deveria fazer. “A gente não queria um produtor brasileiro no momento. Queria alguém de outro ambiente, com outra formação e outra visão. A gente nasceu aqui, é influenciado até indiretamente, e queria continuar como a gente é, mas com uma nova visão. Essa visão de fora agregou muito ao nosso som”, explica Tché.
A carreira internacional brilhando em letras neon no horizonte+2 contrasta com a despretensiosa história da banda. Eles ensaiam aos sábados, religiosamente, há oito anos, mas sem nenhuma intenção de gravar ou fazer shows. “Teve um sábado que a gente não tocou e ficou totalmente perdido, foi horrível”, conta Pata. Hoje, a realidade está mais séria, mas a prioridade continua sendo diversão. No novo e primeiro álbum, com data de lançamento marcada para o impactante dia 11 de setembro, a diversão aumenta justamente com o amadurecimento, que vem em forma de axé, afrobeats e pernas bronzeadas. Sim, o fim das coxas brancas é um símbolo do crescimento dos cinco. “O que acompanhou a transição da bermuda para a sunga tem a ver com isso, se libertar de fronteiras musicais e de fronteiras da vida em geral”, filosofa Pata, “E não ter vergonha de gostar de Luiz Caldas e Spice Girls”+3, completa Tché. Não é à toa que o disco foi batizado de Sunga por decisão unânime. “Não queríamos nada em inglês e precisava ser algo que soasse bem em qualquer língua. Quase que foi Bunda”, confessa Pedro. Embora afirmem que nos shows a pegada é sempre diferente, os arranjos do novo trabalho devem se aproximar da sonoridade que a banda adquire no palco, onde os cinco instrumentistas e vocalistas aceleram tudo, inclusive as músicas do EP. As performances são sempre consideradas ébrias e memoráveis, com direito a mosh, rodas punk e meninas mostrando os peitos. Sunga vai sair pela gravadora Trama, com duas versões de CD, uma virtual e outra real, e uma edição em vinil+4.
[+1] Não é a toa que o símbolo da banda é um urso, presente na capa do EP, The Green Valley (2008).
[+2] A banda já possui bagagem internacional. Tocou nos Estados Unidos e no Canadá e, inclusive, passou pelo festival de bandas novas South by Southwest, no Texas. [+3] Holger recomenda: Japandroids, Claudinho e Bochecha, Jorge Ben e o novo CD da Kylie Minogue (ou ao menos o novo single). [+4]
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vizupreza
_por lidy araújo lidyaraujo. c om. b r
180g de jorge_
FAZENDO FITA_
Quarteto fantástico_
Agora pegaram pesado: acaba de sair pela Polysom a reedição do clássico África Brasil, disco que fechou a fase mística de Jorge Ben em 1976. Detalhe: o produtinho vem em vinil de 180 gramas, ou seja, melhor, impossível.
Playlists armazenadas em fitas cassete parecem coisa do século passado? Não para a Make a Mixa, que transforma as lendárias fitas em USBs com 1 Gb de memória. O melhor: você cria o layout no site da marca, e ela entrega na sua casa.
Madonna, Michael Jackson, Beyoncé e Lady Gaga são as estrelas da coleção que a Keycaps acaba de lançar. Como o nome sugere, a marca produz capinhas para chaves, que encaixam na maioria dos modelos disponíveis no mercado.
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QUEM não tem colírio_
Diamond de pulso_
I (L) shoes_
Mestre em criar objetos de desejo, Alexandre Herchcovitch acaba de lançar uma linha de óculos em parceria com a Chilli Beans. Destaque para as peças em acetato com acabamento a laser, que confere textura de madeira e bambu.
Mike Diamond, do Beastie Boys, estampa o relógio que a Nixon lançou em homenagem à banda. Ele aparece vestido de marinheiro, com uma garrafa de champagne na mão, no marcador da peça, que foi desenhada por ele mesmo.
No verão, os clogs assumem o trono fashion. A volta dos tamancos com salto de madeira e tachas tem uma culpada: a it girl Alexa Chung. Bastou que ela aparecesse com um par para que o clog virasse item de primeira necessidade.
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estampa
do mĂŞs Marca: ...Lost
Onde Encontrar: lost.com.br
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_FOTO SAMUEL ESTEVES | samuelesteves. c om
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reviews
_E aí, quer ver sua foto publicada nesta seção? Mande um email com uma foto em alta resolução (300dpi) que represente a sua visão da música para FOTO@NOIZE.COM.BR
WAVVES
DElphic
King of the Beach
Acolyte
Nathan Williams recrutou novos baixista e baterista, reuniu inúmeras influências e entregou um dos trabalhos mais completos e divertidos do ano. Em King of the Beach, o Wavves encarna desde punk rock descomprometido até nuances de psicodelia chupadas do Animal Collective. No meio do caminho, você ainda esbarra no irresistível noise pop de “Idiot” e “Post Acid”. Já o Of Montreal aparece como referência na dupla de faixas que fecha o álbum. E essa esquizofrenia toda foi muito bem conduzida pelo grupo, que não só fez de cada música um hit em potencial, como também se despede após pouco mais de meia hora. Mas até parece que você não escutará tudo de novo quando descobrir, num misto de surpresa e tristeza, que o disco terminou. Neto Rodrigues
Quantos discos de bandas novas você consegue ouvir do início ao fim? Depois de dois singles fracos, o Delphic surpreende e consegue trazer um álbum autêntico e escutável-por-mais-de-um-ano para o escasso 2010. Mais uma vez, as maiores apostas do ano decepcionam e temos um grande disco não esperado em mãos. E não é só a alquimia entre rock e música eletrônica que torna a estreia dos britânicos impecável. Acolyte é um disco de estrutura equilibrada e hermética, as faixas se completam. Músicas como “Red Lights” e “This Momentary” lembram Klaxons, Cut Copy e, principalmente, New Order. O resultado é música longe do vazio habitual, synthpop perfeito. Não é mais um álbum para ouvir três músicas no repeat. Ana Malmaceda
ARCADE FIRE The Suburbs
Impossível não gostar das 16 boas novas do Arcade Fire. The Suburbs encaixa bem em qualquer ouvido: dos recém aos mais chegados. A expectativa pelo 3º álbum, que já não era pequena, foi extrapolada pela heresia da crítica que elevou o lançamento ao pedestal de OK Computer. Neste caso, The Suburbs é só OK. Mesmo sendo excelente. O sucessor de Funeral pode até parecer ameno, mas é um doce com recheio amargo. Os violinos nervosos e empolgantes dos arranjos disfarçam o obscurantismo das letras, capazes de carregar o bom entendedor às profundezas do limbo. Destaque para a abertura “The Suburbs”, que está lá para lembrar de onde viemos (e de onde nunca sairemos): um lugar chamado passado. Atenção também para “The Sprawl II”, que com um e outro ajuste passava desapercebida num disco do ABBA. Diego de Carli
FRESNO Revanche
Ouça os primeiros dez segundos de Revanche, novo disco do Fresno. E dê pause. Guitarras pesadas e bateria frenética dão um soco que chega a assustar os mais desavisados. O instrumental é um dos pontos positivos do disco. Não é surpresa: os integrantes da banda sempre foram bons músicos. Depois, começa a ficar difícil diferenciar um clichê de uma característica da banda copiada por 9 entre 10 bandas pós-Redenção, disco anterior do Fresno. A voz de Lucas por vezes soa forçada, mas em canções como a tensa “Die Lüge” e a indie “Se Você Voltar” o vocalista mostra que sabe o que faz. O som ainda é o mesmo, mas agora o Fresno parece tentar timbres mais pesados em determinadas músicas, levadas mais eletrônicas em outras. Um bom disco, enfim. Gustavo Foster
KYLIE MINOGUE Aphrodite
O fato de Kylie Minogue se manter presa a uma sonoridade pop considerada descartável e ultrapassada nunca foi um problema, e sim um ponto positivo. A cada novo álbum, pelo menos uma música se consagra como faixa confirmada (e sem prazo de validade) em pistas de dança, tanto nas baladas mainstream quanto nas alternativas. Infelizmente, a brega capa de Aphrodite revela a atmosfera uniforme que o álbum reserva. O primeiro single, “All the Lovers” antecipa a produção bem mais romântica e piegas do que dançante e envolvente. As faixas “Get Outta My Way” e “Too Much” cativam com facilidade, mas nada comparado à potência das antigas “In Your Eyes” e “Slow”. Ainda assim, junto com a criativa e sombria “Closer”, elas salvam o álbum. Maria Joana Avellar
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ALOE BLACC Good Things
DANGERMOUSE & SPARKLEHORSE Dark Night of the Soul
Escute também: A Terceira Lâmina, Antologia Acústica e Nação Nordestina
Impossível ouvir este disco sem buscar músicas no nível do single “I Need a Dollar”. Seja pela sacada da letra ou pela própria musicalidade, a faixa é o carro-chefe de Good Things e é inevitável não nivelar o resto por ela. Mesmo que “If I” (romântica), “Hey Brother” (funk) e “Take Me Back” (mais sombria) sejam ótimas, não são tacadas de mestre. Mais cantor que MC, Aloe Blacc representa bem o soul no sentido literal, seja isso o reggae na Jamaica ou o samba no Brasil. O disco é puro sentimento sem ser meloso—pelo contrário, tudo soa maravilhosamente bonito. A influência do hip-hop leva as letras para assuntos diferentes e melodias mais “alternativas”, sem deixar de ser um ótimo presente até mesmo para o dia das mães. Bruno Felin
DiscografiaBásica
Esta co-produção cheia de convidados tocando o som de dois dos mais criativos nomes da música indie já nasce com status de cult. As canções fabulosamente infestadas com o sofrimento do sombrio Mark Linkous só caem na mesmice por conta das participações dos figurões Julian Casablancas, Black Francis e Iggy Pop. A acidez dos Flaming Lips na inicial, “Revenge”, a delicadeza de Nina Persson do Cardigans em “Daddy’s Gone” e o surrealismo de David Lynch, em outras duas melancólicas composições, catapultam o projeto. A sinceridade brutal do começo ao fim torna o disco uma das partes mais valorosas do legado de Linkous, que cometeu suicídio no inicio do ano. É o retrato colorido da dor sublimada. Daniel Rosemberg
ZÉ RAMALHO
por Daniel Sanes
PAÊBIRÚ | Antes de virar o “Bob Dylan do Nordeste”, José Ramalho Neto cometeu, junto com
Lula Côrtes, esta pérola lisérgica. Gravado no final de 1974 e lançado no ano seguinte, o disco tornou-se raro graças a uma enchente – reza a lenda que as águas do rio Capibaribe invadiram a sede da gravadora Rozenblit, em Recife. Hoje, na era da internet, é mais fácil ouvir Paêbirú. Difícil é assimilar de imediato esta obra, feita por dois caras que curtiam baião e Pink Floyd e resolveram homenagear os quatro elementos da natureza em canções pra lá de experimentais. Se o destino não foi muito generoso com Lula, o mesmo não se pode dizer de Zé Ramalho, que depois engatou uma bem-sucedida carreira solo. ZÉ RAMALHO | Foi somente em 1978 que o trovador paraibano conseguiu lançar seu sonhado disco solo. São nove canções, que formam “uma unidade, mas não um estilo”, como definiu o próprio Zé Ramalho. Influências aparentemente incompatíveis (Jovem Guarda, Dylan e Luiz Gonzaga) e uma aura apocalíptica – que acompanha o cantor até hoje – dão o tom desta pouco valorizada obra-prima da MPB. “Avôhai” (com a participação de Patrick Moraz, ex-tecladista do Yes) abre o trabalho, seguida de clássicos como “Vila do Sossego”, “Chão de Giz” e “Bicho de Sete Cabeças”. “A Dança das Borboletas”, com guitarra do mutante Sérgio Dias, chega a dar calafrios. Zé começa a explorar sua inconfundível voz cavernosa...
2 OU A PELEJA DO DIABO COM O DONO DO CÉU | Lançar um disco de estreia cheio de clássicos tem um porém: a pressão para que o sucesso se repita no segundo álbum. Mas A Peleja..., de 1980, é antológico desde a capa, com o cantor posando entre a atriz Xuxa Lopes e o cineasta José Mojica Marins (devidamente caracterizado como Zé do Caixão), em uma imagem típica da literatura de cordel. “Admirável Gado Novo” mostra outro lado do compositor, o da crítica social, o qual passaria a conviver harmoniosamente com o místico. Também são deste disco “Beira-mar” e “Garoto de Aluguel”, esta com letra de uma sinceridade atordoante. “Frevo Mulher”, a faixa de encerramento, dispensa maiores comentários.
SCISSOR SISTERS Night Work
Funcionalidade não é objetividade. É com uma afirmação tão cafona quanto os anos 80 que começo a falar sobre o novo trabalho do Scissor Sisters. Partindo da época que construiu a nossa imagem de pista de dança, você sabe o objetivo de Night Work a partir da primeira faixa. Talvez este seja o único problema do disco: sonoridade muito óbvia para atingir o patamar de clássico do pop. Apesar do sentimento de “já-ouvi-antes” inerente, o Scissor mudou. Está cada vez mais afastado de qualquer som underground, cada vez mais pop. Night Work não traz nada novo, mas é uma transição inevitável para o grupo. Ouvir “Harder You Get” é como ver uma parada gay. E é maravilhoso, é a dedicação total às pistas de dança. Ana Malmaceda
Amanda Palmer
Performs the popular hits of Radiohead
Amanda Palmer gosta de instrumentos e formações pouco convencionais—sua (ex?) banda, o Dresden Dolls, é um duo de piano e bateria. No novo disco, ela une seu amor pelo Radiohead à recente fascinação pelo ukulele. E mais uma vez não decepciona. Seu vocal grave e rouco dá densidade às canções de Yorke, enquanto o ukulele, pequeno violão de quatro cordas, comum e equivocadamente chamado de guitarra havaiana, lhes confere simplicidade. Destaque para a bela versão de “Exit Music (For a Film)” no piano, e para o cover emocionado de “Creep”, gravado durante uma passagem de som em Berlim. A única ressalva fica com a versão ao vivo deste cover. Os gritos e agudos, longos e forçados, tornam a sua audição uma espécie de tortura. Fernanda Botta
WILSON DAS NEVES Pra gente fazer mais um samba
Wilson das Neves é uma lenda da bateria. Embora já tenha tocado com muito bamba e o faça na Orquestra Imperial, como cantor e compositor que lança trabalhos autorais ele ainda é um garoto. Antes tarde do que nunca. Em Pra gente fazer mais um samba, das Neves se mostra um compositor de sambas gostosos, a exemplo da faixa-título. Frutos de parcerias grandiosas – Arlindo Cruz e Paulo Cesar Pinheiro, para citar algumas —, os sambas são como as suculentas e cacti que ilustram a contracapa: sem muita diferenciação, sua beleza está na alma que não se esgota. Como um avô, Wilson enfileira sabedoria, suportada por um time de primeira que faz mais um, dois, três sambas sem perder o tempo da canção–nem desperdiçar o do ouvinte. F. Corrêa
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ta por vir .: 24/08/2010_Klaxons | Surfing the Void Além dos bons singles e do épico clipe de “Echoes”—com contas devidamente prestadas ao Pink Floyd de Live at Pompeii—, o disco dos Klaxons já tem uma grande capa. E é aí que reside a preocupação dos caras da banda, já que haverá um grande outdoor na beira de uma estrada londrina estampando a capa do disco, com seu gato-astronauta bizarro e chamativo. “Não queremos causar nenhum acidente”, afirmou o guitarrista Simon Taylor-Davis. Eles avisaram...
confira Major Lazer Lazers Never Die EP ___Mais uma leva de pancadas dançantes do Major Lazer. Uma parceria com M.I.A., um remix de seis minutos do Buraka Som Sistema que racha ao meio qualquer pista de dança e “Can’t Stop Now”—que começa reggae eletrônico e termina rap badass—são os destaques.
Big Boi Sir Lucious Left Foot: The Son Of Chico Dusty ___Metade do Outkast, Big Boi lança finalmente seu trabalho solo adiado diversas vezes. Reunindo elementos extra-pop com produções que fogem desse universo, o cara mostra um potencial tão grande quanto do parceiro Andre 3000.
Korn Korn III: Remember Who You Are ___O nono disco de estúdio dos americanos, gravado completamente livre de Pro Tools e afins, indica a vontade de voltar às raízes já no título. Faz jus nas músicas, mais simples e com menos camadas, que remetem aos primeiros trabalhos.
redescoberta SUPREMES
where did our love go? (1967)
Antes de 1964, o girl group comandado por Diana Ross era conhecido nos corredores da Motown como as No-hit Supremes. Depois de Where Did Our Love Go, a piada perdeu a graça: nada menos que seis das doze canções entraram nas paradas norte-americanas. Surpreende que o disco não seja uma coletânea, tamanha a quantidade de hits. As músicas escritas por Smokey Robinson não podem ser ignoradas, mas quem realmente segura o álbum são os compositores Brian Holland, Lamont Dozier e Eddie Holland. O trio de ouro da Motown é responsável por oito pérolas, entre elas a faixa-título, “Baby Love”, “Come See About Me” e “When the Lovelight Starts Shining Through His Eyes”. A cartilha da canção pop perfeita. Leonardo Bomfim
068\\
cinema À PROVA DE MORTE
Diretor_ Quentin Tarantino Elenco_ Kurt Russel, Zoe Bell, Rosário Dawson e Vanessa Ferlito Lançamento_ 2007 EUA / 2010 no Brasil
Lançado no Brasil com três anos de atraso, À Prova de Morte fazia parte do projeto Grindhouse, em parceria com Robert Rodriguez—dois filmes de gênero pelo preço de um. Mas enquanto o filme de Rodriguez, Planeta Terror, exauria o tema “filme de zumbis” nos excessos estéticos e falta de conteúdo, Tarantino se dá melhor com o gênero de “filme de psicopata” e faz de seu filme uma pequena joia perdida. Kurt Russel, o astro resgatado do ostracismo da vez, interpreta o dublê Mike, dono de um muscle-car envenenado e literalmente “à prova de morte”—mas apenas para o motorista. Escolhe suas vítimas em pontos na beira da estrada e joga seu carro com tudo
para cima delas. Mas, ao mesmo tempo, o filme é uma revanche de gênero. Se na primeira metade é o dublê Mike quem controla o jogo, na segunda parte do filme as mulheres partem para a revanche—e é quanto Tarantino inverte toda a misoginia típica dos filmes de serial killers, colocando o controle nas mãos delas. O próprio ritmo do filme surpreende, construído na maior parte em torno de longos diálogos que culminam nas espetaculares sequências de ação. Como não pode deixar de ser, a trilha sonora é fantástica, em especial na já antológica cena de lap dance ao som de “Down in México”, do The Coasters. Samir Machado
PREDADORES
Diretor_ Nimrod Antal Elenco_ Adrien Brody, Alice Braga, Topher Grace e Laurence Fishburne Lançamento_ 2010
O maior mérito do filme vem do esforço do produtor Robert Rodrigues em fazer com que o público esqueça que existiram dois filmes de Aliens vs. Predador, na tentativa de se reconectar com o filme original de 1987, um dos grandes sucessos de Schwarzenneger. Está lá a ambientação na selva, a trilha original e vários momentos chave dos filmes originais (a continuação, Predador 2, de 1992, com Danny Glover, também era digna de nota). Na trama, um grupo heterogêneo de “caçadores” – soldados, mercenários, assassinos da máfia e um condenado – caem, literalmente, de pára-quedas numa selva. Logo percebem não apenas que estão sendo caçados, mas que não estão na Terra. Surpreendentemente, Adrien
Brody (O Pianista) convence no papel de herói, mas o destaque fica para a brasileira Alice Braga (Cidade de Deus), como uma atiradora sniper, única mulher no elenco. O filme sabe ser contido na exposição das criaturas, conseguindo trazer algo de novo para um universo de personagens – os alienígenas predadores – à beira de cair no ridículo. Ao mesmo tempo, os fãs do original vão gostar das referências indiretas – como o soldado brucutu com uma minigun, o salto da cachoeira. O cinema de ação americano parece ensaiar um retorno aos divertidos filmes de ação casca-grossa dos anos 80. Se Predadores puder ser considerado como um primeiro passo, foi um passo bem dado. Samir Machado
cinema
HERBERT DE PERTO de Roberto Berliner e Pedro Bron (2009)
livros
UNDER GREAT WHITE NORTHERN LIGHTS
CACHALOTE
Em três cores (duvido você adivinhar quais), Jack e Meg White entram no palco. Ela pega as baquetas. Ele, a guitarra. 1, 2, 3. Uma nota. Largam os instrumentos e vão embora. Assim começa o único documentário do duo preto, branco e vermelho. Under Great White Northern Lights costura cada um dos territórios por onde o White Stripes passou durante sua primeira turnê canadense com conversas quietas e enigmas sinceros que constroem a dinâmica de criação da banda. Não é mais um clichê, com depoimentos de artistas, legenda e tudo aquilo que acaba com qualquer encanto que se possa ter sobre a união do cotidiano com a música. É uma apresentação única, forma justa de mostrar parte de tudo aquilo que só se pode perceber ao vivo. Ana Malmaceda
Em seis histórias que se alternam sem se cruzar—um astro chinês decadente acusado de assassinato, um playboy perdido na Europa, um escultor interpretando a si mesmo em um filme, um escritor tentando manter laços com a ex, e um jovem adepto de bondage apaixonado por uma garota fisicamente frágil—Galera e Coutinho unem histórias diferentes sob o mesmo subtexto: a crueldade emocional oculta, sob pessoas aparentemente normais, a solidão e isolamento afetivo. A graphic novel não só é a estreia de Galera nos quadrinhos, como marca o primeiro trabalho de fôlego de Rafael Coutinho, antes mais conhecido como o filho de Laerte. É no seu traço detalhista e expressivo que os personagens escondem o desespero de emoções travadas, gigantescas e imóveis como a baleia encalhada que abre e encerra a graphic novel. Samir Machado
de Daniel Galera e Rafael Coutinho (2010)
de Emmett Malloy (2009)
O trunfo do documentário está na proximidade que Roberto Berliner tem com a família Vianna e com Os Paralamas do Sucesso. Ele põe Herbert frente a uma televisão que passa vídeos de um jovem compulsivo por fazer música, segundo Dado Villa Lobos, antes do acidente de ultraleve. O artifício, utilizado já no início do documentário, dá o tom de crônica de uma tragédia anunciada. Enquanto vêem-se imagens de arquivo raras, espera-se a hora do acidente. Ela chega contada por diversos amigos e familiares. A mãe de Herbert explica como a banda e os amigos se revezaram em ajudá-lo. Ao final, através de cenas como na qual ele pede para que lhe alcançassem um violão ainda no hospital, entende-se como a música o mantém vivo. Gustavo Lacerda
Redescoberta Belíssima (1951) Em Belíssima vemos uma Itália que se permite novamente sonhar. Faz belo par com o lúdico Milagre em Milão, de De Sica, do mesmo ano. Mas o foco do filme de Luchino Visconti é o cinema, ou melhor, os sonhos—e consequentemente os pesadelos—com o cinema. Há a famosa cena em que a personagem de Anna Magnani, encarando o espelho, pergunta o que é representar. E o que Visconti nos responde? A representação, ao contrário do que se convencionou sobre o Neo-Realismo, ainda está lá, forte, bem construída. Pulsa em Belíssima uma câmera que adora o que filma, um cinema feito no diálogo intenso entre dois atos criadores—o do cineasta e o do ator. Leonardo Bomfim
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SHOWs
fotos: 1 | Victor Sá 2 | Gabriela Mo 3 | Guilherme Santos 4 | Fernando Halal
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ANDRÉ ABUJAMRA
SHY CHILD
São Paulo, Choperia do Sesc Pompéia, 10/07
Porto Alegre, Beco, 17/07
Os Mulheres Negras, Karnak, e mais de 40 trilhas de filmes no currículo. O que mais esperar de André Abujamra? Felicidade, que em Zimbabwe se diz Mafaro, nome de seu terceiro disco solo. Para divulgar a obra, o workaholic Abujamra apresentou um belíssimo show na noite de 10 de julho, na Choperia do Sesc Pompéia, São Paulo. O “showfilme”, como ele mesmo classifica, segue um script fiel ao trabalho sem deixar nenhuma canção de fora. São 4 telões sabiamente distribuídos atrás e nas laterais do palco. Neles, diversos artistas convidados como Evandro Mesquita, Luiz Caldas e Zeca Baleiro aparecem entre inúmeras imagens, construindo, assim, um diálogo sincronizado entre banda e projeções. Metais, bateria, percussão, baixo e guitarras, ajudam a criar uma verdadeira salada rítmica. Seguindo a linha de trabalhos anteriores, Mafaro traz referências de diversos lugares do mundo, mas desta vez o mergulho em sonoridades africanas, caribenhas, jamaicanas, e tantas outras, é mais fundo. O carro-chefe do álbum, “Imaginação” relembra os melhores momentos do Karnak com letra que mistura simplicidade e sofisticação; a esperta “Lexotan” é divertidíssima; e “A Pedra Tem Vida” coloca todo mundo para dançar. Abujamra se firma como um dos caras mais originais da música brasileira. Diferentemente de shows megalomaníacos que apenas camuflam deficiências musicais, a superprodução de Mafaro só enaltece todo o potencial da obra e cria assim um novo conceito, o Showfilme.Aplausos. Victor Sá
A persistência do sorriso no rosto de Pete Cafarella enquanto cantava transformou-se no contraste perfeito para um quadro um pouco decepcionante: plateia escassa para o único show do duo novaiorquino no Brasil. Breve demais, porém impecável, a apresentação do Shy Child foi como um show de synthpop deve ser: música focada em fazer dançar, sem os adornos do pop. Electro passion, como alguns dizem. Ao vivo, eles são uma banda de rock. Qualquer preconceito vindo daqueles que não conseguiam associar o gênero à musica eletrônica tornou-se pequeno durante a apresentação: mesmo sem a guiboard (aquele teclado/ guitarra, característico das apresentações), a fundamentação em sintetizadores e bateria e a completa sintonia entre os dois conseguiram preencher não só o palco, mas a plateia. Bem acabadas, as mais conhecidas “Drop the phone”, “Disconected” e “Liquid Love” trouxeram um caos gentil à pista do Beco. A iniciativa de trazer o Shy Child para Porto Alegre foi corajosa. Assim que o show acabou, o local abriu para festa e o vazio tornou-se multidão. O público inverteu: os que estavam lá pelo show foram para o lado de fora, os que estavam pela festa, entraram. Nada de errado, apenas um sintoma: talvez não exista público para boas iniciativas e bandas na capital gaúcha. Ana Malmaceda
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JORGE DREXLER
HOLGER E WANNABE JALVA
Porto Alegre, Teatro do Bourbon Contry, 25/07
Porto Alegre, Beco, 22/07
A apresentação de Jorge Drexler tornou-se algo quase obrigatório em se tratando de Festival de Inverno. O uruguaio apresenta-se anualmente em Porto Alegre há oito anos, e a plateia já se porta como uma velha amiga. Mas, velha amizade à parte, o cantor comprovadamente consegue inovar a cada edição do Festival. Em 2010, ele trouxe, pela primeira vez, sua banda de apoio, formada principalmente por músicos espanhóis. E foi assim, acompanhado de mais sete músicos, que Drexler passeou pelas músicas de Amar la Trama, lançado este ano. Passando por sucessos dos trabalhos anteriores, o cantor tocou “Polvo de Estrellas”, “Soledad”, “Mi Guitarra y Vos” e atendeu a todos os pedidos do público, inclusive dando espaço a milongas como “Milonga de Ojos Dorados” em uma “sessão milonga”. Galanteador, ele também homenageou a amiga Branca Ramil com “Salvapantallas”, música originalmente escrita para seus irmãos. Mas o destaque foi todo do último trabalho. As novas músicas ganharam versões animadas, em sua maioria com a marimba de sons praianos como protagonista absoluta e simpático charme. “Las Transeuntes”, “Aquiles por su talon es Aquiles” e a faixa título “Amar la Trama”, foram as mais aplaudidas pelo público, que ganhou um bis de três músicas, com direito a “Sea” - acompanhada pelo público com as castañuelas sempre pedidas por Jorge —para encerrar a apresentação. Obrigada, amigo, e volte sempre. Fernanda Grabauska
O rock brasileiro vive um momento de internacionalização — as bandas estão, de fato, cruzando fronteiras continentais para tocar em grandes festivais americanos e europeus, e a música independente daqui já não traduz suas letras na hora de absorver o indie de lá. Nesse contexto, o porto-alegrense Wannabe Jalva e o paulista Holger são grupos com potencial inquestionável. Este é um veredito que só pode ser emitido durante a noite em que dividiram o palco do Beco, em Porto Alegre. Era a primeira vez que a Wannabe tocava para os conterrâneos, e a segunda que executava suas canções em público. Bordões conhecidos dos gêneros de que a banda mais aparenta beber, como “sex is on fire” e “on the dancefloor”, dançam sobre melodias e harmonias bem boladas e — mais importante — muito bem resolvidas ao vivo. O Arctic Monkeys não tem instrumentistas capazes de circular entre os instrumentos ao vivo sem deixar a peteca cair. A Wannabe Jalva tem. E a Holger também. Após um set autoral, porém curto, que reflete a pouca idade, a Wannabe deu tchau e longos minutos se passaram até que os Holger subissem ao palco. Quem conheceu a banda em seu primeiro EP, transeunte do folk ao indie 90’s, pouco reconhece da estrada pavementosa na nova pegada, mais indieelectrofuckingpop, impressa nas composições do disco a ser lançado. Anárquicos, tiveram uma apresentação difusa, porém capaz de divertir todos que estivessem no mesmo estado de consciência que eles. Fernando Corrêa
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SHOWs
fotos: 5 | Guilherme Santos 6 | Camila Mazzini
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REPLICANTES
NÓS PELO NORDESTE
Porto Alegre, Beco, 15/07
São Paulo, Comitê Club, 14/07
Em frente ao Beco, garotos corte moicano calça jeans rasgada confirmavam o local onde logo mais seria lançado— oficialmente—o novo disco dos Replicantes. Lá dentro, nada de cabelos espetados. Eram as madeixas brancas dos antigos fãs que chamavam a atenção em meio a uma turba de jovens apoiados em seus cigarros e copos de cervejas. Cerca de 200 pessoas resistentes ao frio e à chuva compareceram à apresentação, que iniciou quando Cleber Alexandre desferiu contra a bateria as primeiras batidas de “Terrorismo Sem Bomba”. Jorrando aos ouvidos da plateia como querosene, o público só explodiu em uma enorme roda de pogo em seguida, após a execução de “Hippie, Punk, Rajneesh”. Os destaques ficaram com a sequência “Papel de Mau”, “Sandina”, “Só Mais Uma Chance” e “Astronauta”, executada entre gritos da plateia de “Julia, casa comigo!”, e “Sai Daqui”, recebida até pelos mais antigos com batidas frenéticas de cabeças e pés. Mas a bem-humorada “Sai Daqui” foi uma exceção. Talvez pela falta de familiaridade com as músicas do Replicantes 2010, a apresentação contou com vários altos e baixos. Os bons momentos eram motivados pelas clássicas. Nem mesmo “Maria Lacerda”—cujo clipe repetiu inúmeras vezes nos monitores do Beco antes do show—e a nova versão de “Rock Star” tiveram uma resposta empolgante do público. Após 23 músicas, “Verdadeira Corrida Espacial” e “Boy do Subterrâneo” encerraram a apresentação em grande estilo. Henrique Lammel
Este ano, as chuvas castigaram o Estado do Nordeste e deixaram as regiões de Pernambuco e Alagoas em estado de calamidade pública. Ao perceber que a Copa do Mundo vinha tirando a atenção dos brasileiros para esses lamentáveis acontecimentos, o produtor Daniel Ganjaman, da banda e selo Instituto, e Ale Youssef, dono do Comitê Club, resolveram criar o “Nós pelo Nordeste”. A iniciativa reuniu músicos, que sem cobrar cachê, se apresentaram no dia 14 de julho, no palco do Comitê Club, em São Paulo.Tendo como banda de apoio nomes de peso como Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, e Pupilo, da Nação Zumbi, artistas como Pitty, Karina Buhr, Curumin,Anelis Assumpção, Emicida e Kamau se revezaram no palco. Entre as atrações mais aguardadas da noite, estava Otto. Vivendo um dos grandes momentos de sua carreira, ele demonstrou que voltou a cair no gosto popular. Prova disso foi a empolgação da platéia, que cantou do início ao fim a música “Crua”, de seu último disco. Aproximadamente 680 pessoas estiveram na casa e toda a renda arrecadada com os ingressos foi revertida para a causa. “O show foi um exemplo de engajamento da cena musical em torno de uma causa tão urgente”, empolgou-se Ale. “Acho que conseguimos não apenas realizar um ato de solidariedade relevante, como também relembramos, através da enorme repercussão do projeto, que ainda há muita gente que precisa de ajuda naquela região”, completou. Sabrina Feijó
_ilustra NOVE | digitalorganico.com.com
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Qualquer coisa Renato Prada
LUCAS SANTTANA FALA SOBRE... __Música + máquina vai parar na cabeça via palma da mão | A música é uma necessidade humana e existencial? Ecos dos nossos antepassados? Um calmante para o cotidiano feroz e barulhento das grandes cidades? Ou uma compulsividade atrelada à tecnologia? Me arrisco a dizer que tudo ao mesmo tempo e muito mais. No carnaval, no elevador, na sala de espera do dentista, e toda hora e sempre, sua presença é tão onipresente que entendo quando o poeta Antônio Cícero reclama da falta de um pouco mais de silêncio. Mas mesmo o “silêncio é grávido de som”, como pregou John Cage. O compositor Erik Satie, já no século 19, considerava os sons
ambientes a nossa volta como música. A questão que se coloca nos dias de hoje é que nunca foi tão fácil e barato (para não dizer de graça) o acesso à música. A audição é feita sobretudo em aparelhos portáteis. As pessoas agora ouvem música dentro de suas cabeças. O que era fácil para a indústria fonográfica, se tornou mais complexo.Todos os meninos sabem de cor todos os códigos da cultura digital, o conhecimento musical deles explodiu. Pense na quantidade de artistas e estilos que você teve acesso nos últimos anos e quanto tempo demoraria para isso acontecer de dependêssemos apenas de lojas e discos. As músicas que nos seduzem não precisam mais ser hits de mercado, elas estão cotidianamente passando de blog em blog, e-mail em e-mail, twitter a twitter, e vão invariavelmente desaguar num aparelho na palma da mão. Uma música para ser um hit só precisa ser boa. E rodar e rodar e rodar dentro da sua cabeça e do seu coração. Os médicos reclamam que tantas horas com fones no ouvido causam danos a audição. Mas assim como o ar que respiramos, a comida que comemos e o trânsito que fazemos, também somos produto das merdas que criamos. E não desfrutamos apenas do lado negativo disso não é mesmo? Felizmente a música não vive só de merda. Muito pelo contrário, com o acesso fácil, a deusa roda o mundo. Hoje é comum ouvir o Buraka Som Sistema tocar Kuduro
(música eletrônica angolana) em qualquer boate de Lisboa; ouvir Hiplife (mistura de Highlife e Hip hop), espécie de Dance hall africano, no Canadá ou Reino Unido. O Afrobeat da banda Nomo, composta por jazzistas brancos do Michigan-U.S.A, ou baixar os mp3 da gravadora alemã Man recordings, especializada em funk carioca. Hoje o som chega primeiro que a imagem, que a indústria, que o marketing. É só um amigo dar um copy e paste e é você que irá decidir sozinho se aquela música vai para o trono do seu itunes ou para a lixeira. Hoje é assim, máquinas fazem cópias, fones nos ouvidos, música fazendo a cabeça e a imaginação indo longe... Ou como diz uma letra minha: “Get out of hand/ it’s all mixed up/ free copy machine/ count me in/ go go go go go/ who can say which way”.
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